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Fonseca, Graziela
Martins, Arsélio
Um.
Cada uma das versões do ajustamento postas à discussão permitiram aferir a
adequação de cada uma das grandes opções tomadas e as modificações que
foram sendo introduzidas são o espelho do debate travado entre a equipa
técnica e os parceiros, considerados como verdadeiros parceiros. É evidente
que não foi possível estabelecer consensos em todas as questões e a equipa
técnica foi escolhendo e tomando decisões. Mas, em volta da última versão,
é possível dizer que há grande unidade de pontos de vista em relação às
questões fundamentais e que se mantêm divergências de fundo em questões
que caem fora do âmbito de um ajustamento.
De qualquer modo, convém salientar que a unidade de pontos de vista e o
acordo com a terceira versão do ajustamento considera as limitações
impostas ao trabalho e fica condicionada à concretização das medidas
complementares que os autores do ajustamento foram apresentando.
Dois.
O principal problema que vinha sendo levantado desde os princípios da
experimentação dos novos programas diz respeito à extensão. Os relatos dos
experimentadores, primeiro, e da generalidade dos professores, depois,
confirmam que, no que respeita a conteúdos, os programas de cada ano não
foram leccionados na sua totalidade. Apesar de se ter verificado que as
escolas atribuíram uma carga horária semanal superior à prevista em lei, os
programas não foram cumpridos, como não tinham sido cumpridos com a
carga horária excepcional do período da experimentação. Ao mesmo
tempo que se podia verificar que muitos itens de conteúdo não eram
leccionados, concluía-se que os professores que abordavam mais itens de
conteúdo eram aqueles que menos se preocupavam em cumprir os
programas do ponto de vista das suas intenções metodológicas. Este
problema estava (e está) a ser agravado pela falta de uma visão do programa
por grandes temas que fez com que, a nível nacional, mesmo do estrito
ponto de vista dos conteúdos, se tenham leccionados versões reduzidas do
programa — radicalmente diferentes e, em muitos casos, radicalmente
pobres, pois aprofundamentos excessivos de alguns itens de conteúdo
resultaram em prejuízo da abordagem de temas fundamentais.
Com este ajustamento pretende-se, mantendo o espírito da reforma dos
planos de estudo e as referências fundamentais do programa em vigor,
construir um programa que seja exequível nas condições definidas em lei de
uma carga horária semanal de 4 horas e possa conformar uma formação
secundária, digna para os cidadãos que entram na vida activa com 12 anos
Ajustamento — Opções fundamentais
Outra forma que acabou por ser escolhida, para evitar a armadilha dos
exercícios que exigem tempo e permitem que cada item de conteúdo se
transforme em capítulo, consistiu em romper com a operacionalização
mecanicista que o enunciado dos objectivos (específicos, comportamentais)
tão bem representava no corpo do programa. Olhando para os manuais mais
procurados, lá estavam transcritos o par objectivos/conteúdos do programa e
uma artilharia de acções referidas aos verbos da 2ª coluna dos objectivos,
revelando-a como a "quinta coluna". Se é certo que estas
operacionalizações permitem organizar o pensamento dos professores e
ajudar às planificações, obrigando a diversificações dos tipos de exercícios,
não é menos certo que elas vieram desqualificar os conceitos propriamente
ditos, substituindo-os por técnicas secundárias e exercícios rotineiros. Por
exemplo, não é raro encontrar estudantes que calculam limites utilizando
técnicas complicadíssimas e não sabem minimamente o que é o limite.
Tornar exequível o programa não podia passar só por cortes estritos de itens
ou por cortes ditados pelo tipo de abordagem imposto a este ou aquele
conteúdo. Uma das opções fundamentais consistiu em considerar, em cada
ano, a divisão em três grandes temas a que foram atribuídas localizações
temporais mais ou menos rígidas. Deste modo, procura influenciar-se a
planificação da leccionação, deslocando-a para a qualificação de grandes
blocos temáticos, mesmo que à custa da desqualificação deste ou daquele
item de conteúdo. A abordagem por grandes temas é ligada a uma
recolocação no tempo dos diversos blocos temáticos, considerando as
características dos diferentes períodos lectivos, relativamente ao rendimento
dos estudantes e aos constrangimentos organizacionais das escolas
diferentes de período para período, ao longo do ano escolar.
Esta opção não levanta grandes objecções, depois de ser compreendida a
flexibilidade admissível. Mas há também aqui alguma relutância na
abordagem temática por parte de alguns, especialistas nos temas de
matemática em que os professores, por formação e por tradição, insistem
particularmente.
Cinco.
Ajustamento — Opções fundamentais
Seis.
Uma outra opção fundamental tem a ver com as questões de lógica e dos
tipos de raciocínio ou da resolução de problemas e da modelação
matemática em geral. O programa ajustado considera que essas questões
(lógicas, raciocínios, etc) não devem constituir capítulos em si mesmos e
devem embeber toda a leccionação. Sempre que for oportuno e necessário,
essas questões devem constituir-se em cimento das aprendizagens, mas não
devem substituir-se aos temas cuja reflexão e organização suportam. Do
mesmo modo, muitas questões relativas à Álgebra devem ser introduzidas só
na medida em que estão a ser necessárias, embora a aprendizagem a respeito
dessas questões possa e deva ser significativa. A este respeito, não há uma
unanimidade de pontos de vista, embora a maioria dos pareceres não vá
contra a corrente de retirar como itens (em si) de conteúdo do corpo dos
programas. As dúvidas levantadas têm também muito a ver com as
diferenças de opinião sobre a necessidade e a possibilidade de "fazer
matemática" e, se é consensual encarar os problemas como a força motriz
da Matemática já não é consensual que isso deva ser transferido para o
ensino e que se possa dizer, sem problemas, que os problemas podem ser a
força motriz do ensino da Matemática.
Sete.
Finalmente, uma opção fundamental tem a ver com a obrigatoriedade de
utilizar tecnologias com capacidades gráficas no ensino da Matemática. O
que os autores propoem é uma simples adequação à evolução da ciência e
Ajustamento — Opções fundamentais