Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Trataremos aqui, com a ajuda de D’us ()בס"ד, sobre o antigo costume de nossa
comunidade em recitar uma benção antes e depois da reza hallel, que significa louvor
em hebraico. Traremos uma breve introdução para que todos possam compreender do
que se trata.
Introdução
Nos dias festivos, costumamos acrescentar em nossa reza o hallel, que é dito
depois da amidá. Seu intuito é acrescentar louvores ao Eterno, nosso D’us, que nos
abençoou neste dia especial. Os dias em que dizemos hallel são: o primeiro dia de
pessach, em shavuot, nos oito dias de chanucá, nos oito dias de sucot.
Os dias em que dizemos o hallel pequeno são: rosh chodesh (início do mês),
chol hamoed (dias intermediários) de pessach e no sétimo dia de pessach.
A Gemará relata que Aivu [...] disse: "eu estava em frente ao rabino Elazar
bar Tzadok e um certo homem o trouxe uma aravá [ramo de salgueiro] para
cumprir a mitsvá. Ele pegou e balançou; balançou e não recitou uma benção.
Isso indica que ele sustenta que a mitsvá da aravá é um costume dos profetas
e, portanto, é realizada sem uma benção2.
Aqui temos uma prova fortíssima do Talmud que não se recita benção para
costumes.
As fontes do costume
O Rif, rabino Isaac ben Yaakov Alfasi ha-Cohen, ensina que não se recita a
benção antes do hallel de rosh chodesh quando não há minyan (Rif Shabbat, 11b).
Portanto, devemos recitar se tivermos minyan. Assim também escreve rabi David
Abudarham em seu comentário sobre a tefilá (1927, p. 194), confirmando que se deve
recitar a benção de hallel em rosh chodesh.
1
Moshe Maimônides (1135-1204) foi um filósofo, religioso, grande codificador rabínico e médico.
2
Do original:
אמר אייבו הוה קאימנא קמיה דר"א בר צדוק ואייתי ההוא גברא ערבה קמיה שקיל חביט חביט ולא בריך קסבר מנהג נביאים הוא
אייבו וחזקיה בני ברתיה דרב אייתו ערבה לקמיה דרב חביט חביט ולא בריך קא סבר מנהג נביאים הוא
3
Em hebraico: מִ נְי ָן. O quórum de dez judeus adultos necessário para certas obrigações religiosas.
Em Halachot Hallel, Rabi Ytschak Ben-Giat ensina que devemos recitar a
benção antes de ler o Hallel pequeno em rosh chodesh e nos demais dias de pessach. O
siman 226 do Machzor Vitri (p. 192) diz que é costume recitar a benção likrô et
hahallel antes do hallel pequeno:
Abraham ben Isaac disserta sobre as leis de rosh chodesh em Sefer Haeshkol
(1986) e concorda que se deve recitar a benção likrô et hahallel nessa data. Avraham
ben David (Ra'avad), em seu comentário sobre Mishne Torá (Berachot, 11:16), comenta
à respeito da benção de hallel em rosh chodesh: “nosso costume é recitá-la4”. Em Sefer
Haitur (1608), Isaac ben Abba Mari ratifica que o costume é recitar a benção likrô et
hahallel e assegura que assim também ensinava rabenu Amram Gaon. Sobre recitar
hallel em rosh chodesh de pessach, Rashba (Rabbi Shlomo ben Avraham) afirma que
recitamos com benção ao lê-lo na sinagoga, mas não no seder em casa (Berachot,
11:16).
Rabi Yehuda Halevy escreve no terceiro diálogo de sua grande obra O Cuzarí
(2010) que se recita a benção likrô et hahallel em rosh chodesh, mas durante as festas se
deve recitar a benção ligmor et hahallel:
Rabi Zarchia Halevy, autor de hamaor hakatan, discorda de Rif (Shabbat, 11a)
e sustenta que deve-se recitar a benção do hallel em rosh chodesh mesmo sem minyan.
Outras fontes são: Rosh, Meiri, Orchot Chaim, Col Bô, Shevile Hleket, Tur
(Orach Chaim, 422), Rabi David Abudarham, Haran, Magid Mishnê (Chanuká, 3:7),
Haribash, Migdal Oz e Rabi Refael Clafon.
4
Do original: “”ואנו מנהגנו לברך בכולן.
Simplificando:
A Gemará relata que Aivu [...] disse: "eu estava em frente ao rabino Elazar
bar Tzadok e um certo homem o trouxe uma aravá [ramo de salgueiro] para
cumprir a mitsvá. Ele pegou e balançou; balançou e não recitou uma benção.
Isso indica que ele sustenta que a mitsvá da aravá é um costume dos profetas
e, portanto, é realizada sem uma benção6.
Será que podemos usar o exemplo da aravá para concluirmos que não se deve
recitar benção por qualquer costume? Ora, com todo o respeito, bater uma aravá ao
chão não é nenhum louvor a D’us. Nem se pode comparar, em termos de importância, o
minyan completo cantando junto na sinagoga os salmos de David em louvor (hallel) ao
Eterno nosso D’us. No judaísmo, o hallel é considerado um costume kadosh (santo), por
isso é recitado nas mais importantes ocasiões. Já a aravá, como diz rabênu Tam, é
“somente bater na terra7” (Tossafot em Suká, 44b).
Rabbi Eliezer ben Yoel HaLevi (Ra'avyah) argumenta que a aravá era apenas
um costume dos profetas ()מנהג נביאים, e que esses não ordenaram ao povo que adotasse
tal costume. Aprendemos o mesmo princípio no Talmud, onde está escrito que “trata-se
apenas de um costume dos profetas e por isso não se recita benção” (Tossafot em Suká,
5
( ראשוניםos pioneiros) é o nome dado aos rabinos e estudiosos judeus que viveram durante os séculos XI
a XV E.C. e que foram os primeiros comentaristas do Talmud.
6
Do original: אמר אייבו הוה קאימנא קמיה דר"א בר צדוק ואייתי ההוא גברא ערבה קמיה שקיל חביט חביט ולא בריך קסבר
מנהג נביאים הוא אייבו וחזקיה בני ברתיה דרב אייתו ערבה לקמיה דרב חביט חביט ולא בריך קא סבר מנהג נביאים הוא.
7
Do original: טלטול בעלמא
44b:1). Por isso se recita qualquer benção em costumes instituídos pelos profetas (יסוד
)נביאים, mas deve-se recitá-las nos costumes em geral.
Simplificando:
Pelos motivos explicitados, o costume de bater a aravá não pode servir como
modelo para outros costumes. Portanto, a fonte do Talmud trazida por Rambam
(Halachot Berachot, 11:16; Megillah vChanukah, 3:7) foi questionada e refutada por
vários sábios tão relevantes quanto ele.
Segundo dia O Talmud deixa bem claro que não há motivos para fazermos
de festival dois dias de yom tov hoje em dia (Rosh Hashaná 2:2; Rosh
)יום טוב שני של Hashaná 22b), senão pelo fato de já termos assimilado como
(גלויות costume, e mesmo assim continuamos a fazer todas as
bênçãos do festival, inclusive o Hallel
8
Do original: אמר אביי לא שנו אלא לאחריה:מקום שנהגו לברך יברך
9
Do original: מקום שנוהגים להדליק נר בליל יום הכפורים מדליקין מקום שנהגו שלא להדליק אין מדליקין
das velas de recita-se a benção. Vale lembrar que o Rambam não citou em
chanuká na nenhum lugar esse costume, porém, assim nos é legislado
esnoga pelo Shulchan Aruch (Orach Chayim, 671)
Na Babilônia
Conclusão
Referências
ALFASI, Isaac. Riff Shabbat 11b. In: The William Davidson Talmud. Adin Steinsaltz
(trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
<https://www.sefaria.org/Rif_Shabbat.11b.2?lang=bi&with=all&lang2=en>. Acesso em
29/12/2017.
BEN ABBA MARI, Isaac. Sefer Haitur. Veneza: Zuan Di Gara, 1608. Disponível em
< http://hebrewbooks.org/44331>. Acesso em 10/01/2018.
BEN AVRAHAM, Shlomo. Rashba Al berachot. In: The William Davidson Talmud.
Adin Steinsaltz (trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
<https://www.sefaria.org/Rashba_on_Berakhot?lang=he>. Acesso em 10/01/2018.
BEN ASHER, Yakov. Orach Chayim. Disponível em
<https://www.sefaria.org/Shulchan_Arukh,_Orach_Chayim.611?lang=bi>. Acesso em
10/01/2018.
BEN DAVID, Avraham. Blessings. In: Hasagot HaRaavad on Mishneh Torah.
Disponível em
https://www.sefaria.org/Hasagot_HaRaavad_on_Mishneh_Torah,_Blessings?lang=en.
Acesso em 17/01/2018.
BEN ISAAC, Abraham. Halachot Rosh Chodesh. In: Sefer Haeshkol. Yekutiel Zalman
Cohen (ed.). Jerusalém: Mekhon Harry Fischel, 1986.
BEN MEIR, Yakov. Tossafor em Sukkah 44b:1. In: The William Davidson Talmud.
Adin Steinsaltz (trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em <
https://www.sefaria.org/Tosafot_on_Sukkah.44b.1.1?lang=bi>. Acesso em 15/02/2017.
HALEVY, Yehuda. O Cuzarí. São Paulo: Sefer, 2010.
MAIMONIDES, Moshe. Halachot berachot. In: _____. Mishneh Torah. Eliyahu
Touger (trad.). Nova York: Moznaim, 1989. Disponível em:
<www.chabad.org/library/article_cdo/aid/682956/jewish/BerachotChapterEleven.htm>.
Acesso em 29/12/2017.
_____. Megillah vChanukah. In: _____. Mishneh Torah. Eliyahu Touger (trad.). Nova
York: Moznaim, 1989. Disponível em
<www.chabad.org/library/article_cdo/aid/682956/jewish/Megillah-vChanukah-Chapter-
Three.htm>. Acesso em 29/12/2017.
MISHNAH. Tractate of Berachot. In: The William Davidson Talmud. Adin Steinsaltz
(trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
<https://www.sefaria.org/Mishnah_Berakhot.4?lang=bi>. Acesso em 15/02/2018.
MISHNAH. Tractate of Rosh Hashanah. In: The William Davidson Talmud. Adin
Steinsaltz (trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em <
https://www.sefaria.org/Mishnah_Rosh_Hashanah.1?lang=bi>. Acesso em 15/02/2018.
TALMUD. Tractate of Sukkah. In: The William Davidson Talmud. Adin Steinsaltz
(trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
www.sefaria.org/Sukkah.44b.5?lang=bi. Acesso em 29/12/2017.
TALMUD. Tractate of Berachot. In: The William Davidson Talmud. Adin Steinsaltz
(trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
www.sefaria.org/Sukkah.44b.5?lang=bi. Acesso em 29/12/2017.
TALMUD. Tractate of Meguilah. In: The William Davidson Talmud. Adin Steinsaltz
(trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
<https://www.sefaria.org/Megillah.21b.3?lang=bi>. Acesso em 29/12/2017.
TALMUD. Tractate of Rosh Hashanah. In: The William Davidson Talmud. Adin
Steinsaltz (trad.). Jerusalem: Koren publishers, 2010. Disponível em
<https://www.sefaria.org/Megillah.21b.3?lang=bi>. Acesso em 29/12/2017.