Sie sind auf Seite 1von 9

O Vazio Existencial e a Esperança

D. Abade Joaquim de Arruda Zamith, OSB


Encontro de Formadoras Beneditinas
(Instrumento para trabalho em grupo)

"O futuro da humanidade está nas mãos daqueles


que souberem dar, às gerações de amanhã,
razões de viver e de esperar (GS 31).

Introdução

Entre os objetivos dos nossos estudos, para estes dias, foi escolhido pela
coordenação, ao lado da consideração geral sobre a Esperança, o seu
relacionamento com os temas presentes na Constituição "Gaudium et Spes"do
Concílio Vaticano II, tal como foram relembrados na alocucão do Santo Padre João
Paulo II na primeira reunião do Congresso comemorativo do Trigésimo aniversário
daquela mesma Constituição. (cf.L'Osservatore Romano, ed.em português, 18
nov.1995).
Nesta alocução o Santo Padre reconhece a não pequena alteração do cenário
mundial, entre os anos decorridos da elaboração da GS até os dias de hoje. E
pergunta, se após estas mudanças que nem sempre foram para o melhor, algo
ainda permanece da perspectiva histórica adotada pela GS Responde da seguinte
maneira:

"Hoje relemos aquelas páginas num cenário mundial decisivamente mudado.


Quantas transformações - políticas, sociais, culturais - sobrevieram a partir daquele
7 de Dezembro de 1965 ! Terminou a guerra fria, a ciência e a técnica realizaram
progressos inauditos: dos vôos no espaço à alunagem, dos transplantes cardíacos à
engenharia genética, da cibernética à robotização, das telecomunicações às mais
avançadas tecnologias telemáticas. Aos fatores de mudança conexos com a
urbanização e a industrialização, acrescentou-se o enorme incremento dos mass
media, que influenciam cada vez mais a vida quoditiana dos homens, em todos os
cantos da terra.
Diante de tantos elementos de novidade a respeito da situação dos anos 60, poder-
se-ia perguntar quanto permanece da perspectiva histórica adotada pela GS. Na
realidade, se se vai ao âmago dos problemas, permanece na sua incisividade e
adquire atualidade até maior o interrogativo fundamental, que na época a
Constituição apresentava: as transformações ocorridas na idade contemporânea são
todas úteis para o verdadeiro bem da humanidade (GS 6)? Em particular, pode-se
ter "uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um progresso
espiritual proporcionado"(cf.GS,4)?

É portanto legítimo, já no limiar do terceiro Milénio, voltar a refletir sobre as análises


e sobre as indicações oferecidas pela Gaudium et Spes, para verificar o seu valor e
colher dela a sabedoria"
Igualmente significativo para nós é também o testemunho de um outro texto, de dez
anos atrás, que se encontra na "Relatio finalis"do Sínodo extraordinário dos vinte
anos após o Concílio Vaticano II. Ao se referir à missão da Igreja no mundo (D.l) faz
explícita referência à Constituição GS, à sua importância e atualidade, mas não
deixa também de se referir às muitas mudanças ocorridas no mundo, já naquele
espaço de tempo de dez anos:

"A Igreja como comunhão é sacramento para a salvação do mundo. Por isso, os
poderes na Igreja foram conferidos por Cristo para a salvação do mundo. Neste
contexto afirmamos a grande importância e a grande atualidade da Constituição
pastoral "Gaudium et Spes". Ao mesmo tempo, porém, advertimos que os sinais do
nosso tempo são em parte diversos daqueles do tempo do Concílio, com angústias e
ansiedades maiores. Com efeito, aumentam hoje em toda a parte a fome, a
opressão, a injustiça e a guerra, as torturas e o terrorismo e outras formas de
violência de toda a espécie. Isto obriga a uma reflexão teológica nova e mais
profunda, que interprete tais sinais à luz do Evangelho"

E para não deixar de oferecer ao menos alguns elementos para esta nova e mais
profunda reflexão teológica, prossegue ainda o mesmo documento:

"Parece-nos que nas dificuldades atuais Deus quer ensinar-nos, de maneira mais
profunda, o valor, a importância e a centralidade da Cruz de Jesus Cristo. Por isso,
deve-se explicar, à luz do mistério pascal, a relação entre a história humana e a
história da salvação. Sem dúvida, a Teologia da Cruz não exclui de modo algum a
Teologia da Criação e da Encarnação, mas, como é óbvio, pressupõe-na. Quando
nós cristãos falamos da Cruz, não merecemos o apelativo de pessimistas, pois nos
baseamos no realismo da esperança cristã".

Compreendemos agora por que motivo o Santo Padre insiste em convidar toda a
Igreja a uma nova leitura da Constituição "Gaudium et Spes", justamente agora,
trinta anos depois, diante de um quadro de acontecimentos mundiais, pode-se-dizer,
cada vez mais pessimista.
É que a Igreja, continuadora da missão do próprio Jesus Cristo, Filho de Deus e
Salvador dos homens, não tendo em si mesma as respostas ou soluções para todos
os problemas dos homens, continua, no entanto, sendo capaz de apresentar com
verdade, pelos seus ensinamentos evangélicos, mas, ainda mais por sua vida, a
mesma mensagem de vida e de esperança que brota da Boa Nova do Evangelho.
Se os homens sempre estiveram necessitados desta mensagem de vida e de
esperança, talvez, nunca como nos dias de hoje se encontraram tão ameaçados de
desconhecerem ou mesmo, de esquecerem qual seja esta única vida verdadeira que
anseiam por viver, e qual também a verdadeira esperança, aquela única que poderá
liberta-los de tantas falsas esperanças, quer materiais quer espirituais, que através
de capciosas ideologias poderão levá-los à escravidão aos poderes deste mundo ou
ao desespero que ja é a morte.

Segundo as belas palavras do Santo Padre João Paulo II, nenhum outro documento
do Vaticano II e até mesmo de todo o magistério da Igreja até hoje, foi tão atento em
descobrir, analisar e iluminar com a luz de Deus, os problemas concretos do
homem, como a Constituição GS. E, por isso também, nehum outro foi tão capaz de
levar aos homens este realismo de uma esperança que se faz presente no meio das
situações e condições mais estremas da vida humana. Diz o Santo Padre na
alocução já mencionada (L'Oss.Rom.18.02.96).

"Como jovem bispo de Cracóvia, com efeito, fui membro da subcomissão


encarregada de estudar os "sinais dos tempos" e, em Novembro de 1964, fui
chamado a fazer parte da subcomissão central, encarregada de prover à redação do
texto. Precisamente o conhecimento íntimo da gênesis da Gaudium et Spes
consentiu-me apreciar a fundo o seu valor profético e asssumir amplamente os seus
conteúdos no meu magistério, desde a primeira Encíclica, a Redemptor Hominis.
Nela, recolhendo a herança da Constituição conciliar, eu quis reafirmar que a
natureza e o destino da humanidade e do mundo não podem ser definitivamente
desvendados, senão na luz de Cristo crucificado e ressuscitado.
É esta, em suma, a grande mensagem que a Gaudium et Spes enviou "a todos os
homens"(GS,2), como anúncio de vida e de esperança. É a mensagem que faz da
Constituição pastoral sobe a Igreja no mundo atual - último dos documentos
promulgados pelo Concílio Vaticano II, e de todos o mais extenso - de algum modo o
ápice do itinerário conciliar. Com este documento os Bispos do mundo inteiro, unidos
em torno do Sucessor de Pedro, quiseram manifestar a solidariedade amorosa da
Igreja para com os homens e as mulheres deste século, marcado por dois conflitos
terríveis e atravessado por uma profunda crise dos valores espirituais e morais,
herdados da tradição...Longe de se limitar a considerações históricas e sociológicas,
os Padres conciliares enfrentaram amplamente, em visão teológica, os interrogativos
fundamentais que desde sempre afligem o coração humano: "Que é o homem? Qual
o sentido da dor, do mal, e da morte que, apesar do enorme progresso alcançado,
continuam a existir? "(GS,10). É portanto legítimo, já no limiar do terceiro Milênio,
voltar a refletir sobre as análises e sobre as indicações oferecidas ".

Em vista deste insistente convite que nos faz o Santo Padre, pensamos que após a
constatação dos muitos males que afligem os homens de hoje, tentando-os com a
desesperança, pensamos ser oportuna uma reflexão nossa, para descobrirmos,
como pessoas e como membros de uma comunidade monástica, que para nós
também se torna urgente redescobrirmos os valores que são como o fundamento da
nossa esperança, a esperança da Igreja de todos os tempos. Só assim poderemos,
"estar sempre prontos a responder, com doçura e respeito, a todo aquele que
perguntar, a razão da vossa esperança"(1Pd 3,15).

Primeira Parte: A base humana da esperança: o sentido da vida

I. A imprescindível busca de significado

O Santo Padre João Paulo II, ao se referir a alguns problemas atuais que afligem a
pessoa humana bem como a sociedade, mencionava em primeiro lugar a crise de
sentido ou significado da vida humana.
O homem não pode deixar de sentir-se envolvido na necessária busca de respostas
para várias perguntas fundamentais que brotam naturalmente de sua própria razão:
qual a nossa origem?, qual a finalidade da vida?, como explicar a presença do mal,
do sofrimento e a inevitabilidade da morte? (cf.Alocução n.5 e GS 4, 10, 21, 41). E
afirma com clareza a gravidade e intensidade deste problema ao manifestar a sua
constância e universalidade: "em todos os tempo e lugares esses interrogativos
interpelam o coração humano e impelem-no a buscar uma resposta plena e
definitiva"

Hoje em dia, sem dúvida alguma, há milhões de homens que são tentados a perder
a própria razão e esperança de viver por estarem privados das condições materiais
mínimas de existência, pela fome, pela indigência imposta pelo condições injustas
da vida social, pela falta de trabalho, de recursos indipensáveis da educação, da
assistência médica e social etc.
Mas, diante deste quadro, infelizmente hoje tão frequente, tanto em nações pobres
como ricas, não se poderá deixar de reconhecer que ainda mais gravemente pesa
sobre a pessoa humana, necessitada não apenas dos bens materiais, o fato de não
estar conseguindo encontrar, frequentemente, as razões e o significado da própria
existência.

Pode-se verificar, e de fato, várias pesquisas têm-no comprovado, que mais


angustiante para o homem moderno, especialmente para os jovens, é a crise
provocada pela falta de sentido e de significado da vida, o sentimento de vazio, do
que a carência ou dificuldades para a consecução de outros bens. O vazio
existencial mostrou-se bastante evidente em um levantamento feito entre cem
alunos de Harvard, todos eles provenientes de famílias abastadas; uma quarta parte
desses alunos duvidava de que suas vidas tivessem algum sentido e as revistas
psiquiátricas da Tchecoslováquia informaram que este mesmo fenômeno ocorria em
todos os paises comunistas [cf. Joseph B. Fabry, A busca do significado. Viktor
Frankl - logoterapia e vida. Ed.ECE, São Paulo, 1984, p.53. Citamos alguns textos e
recorremos, frequentemente, a esta obra para apresentar e sintetizar o pensamento
de V.Frankl.].

Neste linha de estudo são bem conhecidos hoje os trabalhos do psicanalista de


Viena, Victor Frankl e os de sua escola. Para estes, "o homem é fundamentalmente
um ser em busca de um significado. Se existe alguma coisa que o possa preservar,
mesmo nas mais extremas situações, é a consciência de que a vida tem um sentido,
não obstante nem sempre imediato" [cf. Joseph B.Fabry.o.c. p. 35-54.].
Pode-se dizer por isto que a existência humana depende da autotranscendência, a
sobrevivência depende de um sentido.E não apenas a sobrevivência dos indivíduos,
mas a própria sobrevivência da humanidade.
A profunda experiência de V.Frankl no campo de concentração de Auschwitz levou-o
a ter como certo que cada pessoa é um ser único que pode reter uma última reserva
de liberdade para tomar uma posição, ao menos, interior, mesmo sob as mais
adversas circunstâncias. Nesta profunda dimensão do seu eu, nós sabemos que
"não apenas somos, mas a cada momento devemos decidir o que seremos".
"Quando somos despojados de tudo o que temos - família, amigos, influência, status
e bens - ninguém nos pode tirar a liberdade de tomar a decisão do que nos devemos
tornar, porque esta liberdade não é algo que possuímos, mas algo que somos. Por
isso mesmo todo homem tem o poder e a liberdade de elevar-se acima do seu
próprio eu e tornar-se um ser humano melhor.

É fundamental também para V.Frankl a certeza de ser a básica motivação para


viver, não a busca de satisfações, poder ou riquezas materiais, mas o encontro de
um significado. Aqueles podem apenas contribuir para o nosso bem estar, mas são
simplesmente meios utilizados para atingir um fim, quando usados de forma
significativa.

Será esta concepção sobre nós mesmos e sobre o lugar que ocupamos na vida que
nos poderá ajudar a dar-lhe sentido, não obstante as tragédias pelas quais devamos
passar. Essa concepcão antropológica exige pois que estejamos convictos de que,
além de nossas dimensões físicas e psicológicas, possuimos uma dimensão
espiritual ou noética, especificamente humana ( espiritual, não no sentido religioso,
mas no de vida mental ou intelectual que supõe um princípio de ação transcendente
à materialidade do ser). O homem, na sua integralidade, compreende as três
dimensões, mas é a dimensão propriamente humana que permitirá à pessoa
transcender a si mesma e fazer dos significados e valores uma parte fundamental da
sua existência.Neste sentido, cada pessoa é um ser único, vivendo através de
infinitos momentos únicos e insubstituíveis, cada um deles oferecendo um
significado em potencial (isto é, aberto também para o futuro). Se reconhecermos
este potencial e formos capazes de corresponder a eles, nossa vida terá um sentido
e a conduziremos de forma responsável.
Para V.Frankl, unicamente quando nos elevamos à dimensão do espírito (mente)
tornamo-nos um ser completo. A dimensão humana é a dimensão da liberdade: não
a liberdade proveniente das condições, quer sejam elas biológicas, psicológicas ou
sociológicas; nem a liberdade de alguma coisa, mas liberdade para alguma coisa, a
liberdade de tomar uma atitude concernente às condições. E somente nos
tornaremos seres humanos completos quando atingimos esta dimensão de
liberdade. Somos prisioneiros da dimensão do corpo; somos conduzidos pela
dimensão psiquico-afetiva, mas na dimensão do espírito somos livres. Nós não
apenas existimos, mas podemos exercer influência sobre a nossa existência.
Podemos não só decidir sobre que espécie de pessoas somos, mas que espécie de
pessoa poderemos vir a ser. Dentro da dimensão noética somos nós que fazemos a
escolha.

Ignorar a dimensão espiritual é reducionismo, e aí está a origem do nosso mal-estar,


da sensação de vazio e de que a vida está desprovida de significado. O perigo de
semelhante reducionismo nunca foi tão grande como agora. Frankl não nega que as
forças biológicas, sociais e psicológicas exerçam grande influência sobre nós; mas,
como declarou, "o homem é determinado, porém jamais pandeterminado". Sob as
mais restritas circunstâncias, possuimos uma área na qual podemos determinar
nossas ações, nossas experiências, ou no mínimo nossas atitudes, e esta liberdade
de auto-determinação repousa em nosso domínio noético.

A liberdade oferece ao homem a oportunidade de mudar, de renunciar ao seu eu e


inclusive de enfrentá-lo. Desta constatação pode-se tirar uma importante conclusão,
de extensas consequências práticas que poderia ser formulada da seguinte maneira:
"é fundamental admitir que, sob circunstâncias normais, o homem tem condições de
resolver, por si mesmo, seus problemas de consciência e conflitos de valores e que
a função da logoterapia consistirá simplesmente em ajudar o paciente a enxergá-los,
reconhecendo não ser ele uma vítima indefesa da sua educação, do seu meio e dos
seus impulsos interiores, mas que é capaz de resistir às suas influências como
qualquer pessoa sadia o faz.

Entretanto, deve-se reconhecer também ser possível, em casos concretos, que os


conflitos de valores ou a "frustração existencial"possam subjugar o indivíduo e
conduzí-lo até à neurose".

II. Qual o Sentido da Vida?

Antes de se refletir sobre o próprio sentido da vida, parece ser oportuno enunciar
três princípios que podem ser postos à prova e que são fundamentais para o
esclarecimento do sentido.
1. Sob quaisquer condições a vida tem um sentido.
2. Temos o "anseio por um sentido"e tornamo-nos felizes somente quando sentimos
que estamos realizando este sentido.
3. Temos a liberdade, dentro de certas limitações óbvias, de realizar o sentido de
nossas vidas.

O problema do sentido da vida, quer se apresente expressamente ou não, cumpre


defini-lo como um problema caracteristicamente humano. Só ao homem, como tal, é
dado - a ele exclusivamente - ter a vivência da sua existência como algo
problemático; só ele é capaz de experimentar a problematicidade do seu ser.

A procura de sentido para o homem é uma força primária na sua vida e não uma
"racionalização secundária" de tendências instintivas. Este sentido é único e
específico nisto que deve e pode ser realizado por ele somente; somente então
encontrará ele um significado que irá satisfazer a sua própria vontade de sentido.
Para alguns autores, sentidos e valores nada mais são do que "mecanismos de
defesa, reações formativas e sublimações". Mas, de modo nenhum alguem estaria
disposto a morrer por causa do seu "mecanismo de defesa" ou por suas "reactions
formations". O homem, no entanto, é capaz de viver e até mesmo de morrer por
causa de seus ideais e valores !
Uma pesquisa de opinião pública foi efetuada, há alguns anos, na França. O
resultado mostrou que 89% das pessoas consultadas admitiram que o homem
necessita de "algo" pelo qual possa viver. Aproximadamene 61% admitiram que
havia algo ou alguém, em suas vidas, por quem estariam dispostos a dar a vida.
Frankl repetiu esta pesquisa em sua clínica em Viena, e o resultado foi praticamente
o mesmo, com uma diferença de apenas 2%. Em outras palavras, a vontade por um
sentido, na maioria das pessoas, é um fato e não apenas suposição.

A Logoterapia é uma terapia existencial baseada em experiências reais. Ajuda-nos a


observar a nós mesmos através de outra perspectiva, a conhecer tanto nossas
limitações como nossos potenciais, nossos erros e visões, a perceber como
encaramos as nossas experiências totais, como nos relacionamos com os demais,
de que forma superamos nossos desapontamentos, como realizamos nossas
aspirações e cumprimos nossas tarefas.

Esta percepção é baseada no conhecimento intuitivo de que a vida tem sentido, por
mais obscuro que em certas ocasiões isto possa parecer. Cada um de nós é
motivado por aquilo que Frankl chama "o anseio por um sentido". Ainda que esteja
reprimido dentro de certos limites, somos livres para descobrir o significado de nossa
própria existência. A fé no sentido, o anseio de sentido do homem e sua liberdade
para encontrá-lo, são os princípios fundamentais da logoterapia. A maioria das
pessoas não precisa ser persuadida de que o sentido existe e de que anseiam por
ele. Somente é necessário torná-las conscientes do que, nas profundezas de seu
inconsciente, sabem ser verdade.

A logoterapia abre as portas, mas cabe a nós escolher a porta pela qual desejamos
passar em nossa busca. O ignorado e reprimido anseio por um sentido pode ser a
causa da sensação de vazio, mas longe de constituir-se no sintoma de uma doença,
é antes de tudo, uma prova de sua humanidade: unicamente o ser humano busca
sentido, duvida e se sente frustrado quando não pode encontrá-lo. Resignar-se ao
vazio e à frustração apenas irá agravar esses estados.
A logoterapia vê o sentido em dois níveis.

Primeiro, como sentido último da existência, uma ordem universal onde cada um de
nós tem um lugar. Esta ordem pode ser percebida tanto do ponto de vista religioso
como secular, dependendo de nossa visão do mundo. A busca de sentido suscita a
pergunta: "Que lugar ocupo na totalidade da existência? " Mas a busca de sentido é
também a busca da própria identidade, de um propósito, um destino, uma missão e,
por isso mesmo, propõe as seguintes perguntas complementares: "Quem sou eu?
"Quais os meus objetivos?" "Para onde estou indo? ""O que devo fazer? "
A existência do sentido último é algo que não se pode provar, exceto na experiência
de vida que não se repete. Uma pessoa pode viver como se existisssem o sentido, a
ordem, o propósito, o destino e a missão, ou pode viver como se tudo fosse
arbitrário e ver quais as alternativas mais satisfatórias. Mas o sentido da existência
tampouco se pode demonstrar em virtude de um esforço constante em alcançá-lo e
retê-lo, o que seria tão impossível como alcançar e reter o horizonte. A prova reside
na satisfação que acompanha a busca.
Este sentido de vida é tamém chamado supra-sentido.

A convicção de que existe algo superior à existência humana foi expressa de


diversas formas, desde a observação de Nietzsche de que o homem deve superar-
se à si mesmo e esforçar-se para chegar ao super-homem, até à insistência de
Tillich e Barth de que o homem não é a base do seu ser.
Frankl convenceu-se, através de suas experiências clínicas, de que a existência
humana está sempre direcionada para um sentido, não importa quão diminuta seja
sua consciência deste sentido. Em um de seus ensaios Frankl escreveu: "Existe algo
como o pressentimento de um significado, e esta precognição é também o
fundamento do que a logoterapia chama de "anseio por um sentido". Quer
desejemos ou não, acreditamos neste sentido enquanto houver um sopro de ar
dentro de nós. As observações de Frankl foram comprovadas por Elisabeth Kübler-
Ross de que os agnósticos, em seu leito de morte, manifestaram uma serenidade e
tranquilidade estranha que não se podia explicar em função de suas crenças
agnósticas, mas se podia atribuir à sua confiança em um sentido maior - uma
confiança que ultrapassava o marco da racionalização de seu ateismo [cf.o.c.p.59].

Qualquer tentativa para se infundir uma força interior, em alguem que perde a
esperança, deverá anteriormente conseguir que ele aceite algum futuro objetivo.
Apropriada é a sentença de Nietzsche que dizia: "Aquele que possui um "porque"
pelo qual viver, poderá suportar qualquer "como" deve viver".
Que conselho se poderia dar a um homem desesperado que, a toda tentativa de
encorajamento responde simplesmente: "eu nada mais tenho para esperar algo da
vida" ?
O que se torna necessário é uma fundamental mudança em nossa atitude em
relação à vida. Deveremos aprender, primeiramente nós mesmos, para que
possamos ensinar aos desesperados que "realmente não importa tanto o que nós
esperemos da vida, mas sim, o que a vida mesma espera de nós" ! Devemos parar
de nos perguntar continuamente: "qual o significado da vida?" - e em lugar disto
começarmos realmente a pensar que "somos pessoas a quem a vida interroga
contínua e incessantemente" [cf. com muita semelhança diz também Abraham
J.Heschel: "A Bíblia é uma resposta à pergunta: "o que Deus espera do homem?
Mas, para o homem moderno, esta pergunta foi anulada por uma outra: "O que o
homem exige de Deus"? O homem continua a se perguntar: "o que poderei
conseguir da minha vida? Mas, o que escapa à sua atenção é a pergunta
fundamental, no entanto, tão esquecida: O que a vida conseguirá de mim?
Absorvidos na luta pela emancipação do indivíduo, concentramos nossa atenção na
idéia dos direitos humanos, mas nos esquecemos de considerar a importância das
obrigações do homem". The insecurity of freedom,Schocken Books, New York 1972,
p.4; cf.Who is Man? Stanford University Press, Stadford, 1965, p.70. 109-110,etc.].

A nossa resposta não deverá consistir em palavras e reflexões, mas em correta


ação e correta conduta. Viver significa assumir responsabilidades em encontrar a
resposta certa para os seus problemas e realizar as tarefas que constantemente nos
são pedidas. Tais tarefas e, portanto, o significado da vida de cada indivíduo será
diferente de um para outro e de momento a momento. Torna-se assim impossível
definir o sentido da vida, de uma maneira geral.

O segundo nível, o sentido do momento, é o reconhecimento de que existem


sentidos que podem e necessariamente devem ser descobertos, se se deseja
preencher o vazio existencial. Assim como é impossível para nós descobrir a
verdade em si, e somente somos capazes de descobrir uma multiplicidade de
conceitos verdadeiros, também não podemos descobrir o sentido, senão somente
uma multiplicidade de experiências significativas.
A logoterapia postula uma concepção audaz: cada pessoa é um indivíduo único e
singular que atravessa uma série de situações, únicas, que oferecem em cada caso
um sentido específico potencial que deve ser reconhecido e realizado. Responder à
oferta de sentido que cada um destes momentos nos apresenta é levar uma vida
expressiva.
Frankl previne que não podemos inventar significados arbitrariamente; podemos
apenas descobrir o sentido inerente a cada situação. Frequentemente vemo-nos
obrigados a basear nossas decisões numa informação insuficiente, e não
poderemos esperar conhecer todos os fatos que configuram uma situação.
Deveremos confiar não só no nosso conhecimento consciente e em nossa intuição
inconsciente, mas também na voz de nossa consciência, por mais frágil e falível que
esta possa ser.
Assim como a vida de cada pessoa é inteiramente diferente da vida de outra pessoa,
assim também, nossas tarefas, nossos objetivos são inteiramente pessoais.
Nenhuma situaçao se repete e pode-se dizer que cada situação nos pede uma
resposta única e diferente de qualquer outra [cf.B. Fabri, o.c.p.17].

Sentido e Valor
"Se os homens nem sempre podem conseguir que a história tenha sentido, sempre
podem atuar de tal forma que suas próprias vida o tenham" (Albert Camus).

A palavra sentido refere-se "àquilo que é significativo" para o indivíduo em cada


situação particular da sua vida. O sentido é único e pessoal, como também a busca
de sentido. Porém as situações humanas se repetem, e um grande número de
indivíduos responde a elas da mesma maneira. Em muitas das situações típicas da
vida, portanto, os sentidos únicos válidos por um longo período de tempo para
muitos indivíduos foram suficientemente similares para que se criassem sentidos
universais. De acordo com a definição de Frankl, são estes sentidos universais que
conhecemos com o nome de "valores" [cf. id. o.c.p. 79. Note-se porém que a
definição de "valor"dada por Frankl, é apenas descritiva, na medida em que se refere
ao comportamento de muitas pessoas em relação a determinado sentido, no
decurso de longo período de tempo. Em um aspecto mais objetivo, pode-se dizer
que "valor" designa um determinado "bem", isto é um determinado objeto da nossa
vontade, capaz de garantir (justificar) a retidão moral da nossa ação, sempre que
orientada para a sua busca].
Pode acontecer que o sentido único de uma situação não tenha sido captado a
tempo e perdeu-se irrevogavelmente. No entanto, em cada caso este sentido
poderia ter sido descoberto com a ajuda de alguns dos valores.

Compreende-se a grande importância prática desta doutrina, fonte de verdadeiras e


eficientes técnicas terapeuticas, para todos os que exercem funções relacionadas
com a educação, aconselhamento espiritual, terapia médica ou psicológica.

Algumas obras de Viktor Frankl :


Psicoterapia e Sentido da Vida, Editora Quadrante, São Paulo
El Hombre en busca de Sentido, Herder, Barcelona, 1987
Ante el Vacio Existencial, Herder, Barcelona, 1984
A presença ignorada de Deus, Imago.Sinodal.Sulina, 1985

Sobre o pensamento de Viktor Frankl:


Joseph B. Fabry, A busca do significado. Viktor Frankl - logoterapia e vida. Ed.ECE,
São Paulo, 1984

Mosteiro de São Bento


São Paulo - SP

Das könnte Ihnen auch gefallen