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FELIPE A. S. TAVARES
2019
Copyright © 2019 Felipe Tavares
T231c
ISBN 978-85-94461-13-1
www.bambualeditora.com.br
conexao@bambualeditora.com.br
Este livro é um convite à transformação – um cho-
– Eduardo Galeano
QUEM ESCOLHEMOS SER?
1 O mundo mais bonito que nossos corações sabem ser possível é o título de
um belo e importante livro do autor Charles Eisenstein onde ele explora
a mudança de perspectiva do ”Mundo da Separação” para o “Mundo
do Interser”.
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SOMOS FEITOS DE HISTÓRIAS
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TEMOS A OBRIGAÇÃO DE JOGAR UM
JOGO DIFERENTE
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SEJA INSUBSTITUÍVEL
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MUDANÇA2
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nossa visão de mundo. É o reconhecimento da lente através da qual
fazemos sentido do mundo e que nos permite abordar a questão
por um novo ângulo. É a possibilidade de habitarmos o diferente,
é o exercício da visão expandida.
A transformação do jeito que as coisas são feitas depende
da transformação do jeito que as coisas são entendidas. Então,
antes de corrermos para a mudança podemos desacelerar e nos
perguntar: Quais os meus condicionamentos? O que eu sou inca-
paz de ver? Quais outros entendimentos podem existir?
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O LIVRO QUE MUDOU A MINHA VIDA
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grandiosidade das menores coisas da natureza, e o quanto po-
demos aprender com elas, como quando descreve em detalhes
os padrões das bolhas de ar presas no lago congelado. Thoreau
possui um amor infantil pela vida e nos empresta o seu olhar es-
pecialmente atento. Ele descreve com detalhes aquilo que jamais
notaríamos.
Sem perceber a real importância deste momento, passei
pela primeira grande transformação da minha vida. Comecei a
realizar extensas caminhadas em ambientes naturais com o cora-
ção aberto. Passei a investigar os padrões que se formam na natu-
reza e me apaixonei pela ecologia. Nesse desenrolar, pela vontade
de viver a paisagem, me tornei montanhista.
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DECLARAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO
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Outro mundo não só é possível como já está a caminho.
Nos dias calmos posso ouvi-lo respirar.
– Arundhati Roy
UM MUNDO VIVO
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AYNI, A RECIPROCIDADE ANDINA
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ENTRE DOIS MUNDOS
Dois mundos coexistem. Um, aquele com o qual estamos
mais acostumados, é pautado pela dominação. Podemos chamá-
-lo de mundo da separação, pois este acredita que todos os seres
são separados e operam a partir do autointeresse. Desta forma, o
que existe é um ambiente ferrenho de competição.
O outro, embrionário mas latente, é um mundo pautado
pela integralidade e respeito à vida. Este reconhece que todos fa-
zemos parte de uma grande teia e que somos interdependentes.
Por isso, podemos chamá-lo de mundo do interser4. Nele, acre-
ditamos que só é possível existir porque todas as outras coisas
existem. Assim, temos um ambiente de cooperação rumo à coe-
volução dos sistemas vivos.
O agente de regeneração habita estes dois mundos.
Quando olhamos para as tristezas do mundo da separação
podemos ficar desesperançosos. É fácil sentir-se pequeno diante
de um mundo-monstro. Mas, mesmo assim, somos chamados a
trabalhar neste lugar.
O trabalho que a liderança regenerativa desempenha no
mundo da separação é o de resistência, reparo e cura. É a tentati-
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va de impedir que um mal maior seja feito. É uma dura luta para
frear a destruição.
A realidade do mundo da separação, no entanto, não inva-
lida os avanços do mundo do interser. Coexistindo com todas as
mazelas, há grandes líderes e iniciativas que são a materialização
de um mundo melhor.
Viver entre dois mundos é aceitar a incerteza, a ambiguida-
de e a contradição da caminhada. É realizar o “trabalho de bom-
beiro” do ativista e ao mesmo tempo desempenhar o “trabalho de
visionário” que constrói novos caminhos.
Trabalhar no mundo do interser é fazer o impensável. É
operar a partir dos nossos corações e cultivar uma mente ampla
e amorosa o suficiente para cuidar e nutrir iniciativas transfor-
madoras.
Te convido, humildemente, a assumir o seu lugar. Nem lá
nem cá, entre dois mundos, abrindo trilhas desconhecidas, mos-
trando o caminho para um mundo mais bonito ao mesmo tempo
em que cura e repara os danos já causados.
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Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.
– León Gieco
VAMOS CONSEGUIR?
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FREAR É O PRIMEIRO PASSO
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SEJA A RESISTÊNCIA
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O GRITO
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DIREÇÃO
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O ESPECTADOR, O PARTICIPANTE E O
SALTO MORTAL
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LIDERANÇA REGENERATIVA
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A jornada da liderança regenerativa começa nas profun-
dezas do lugar mais temeroso que podemos acessar. Ela começa
dentro de nós mesmos. Guiados pela premissa de que não é pos-
sível realizar a transformação que queremos para o mundo sem
antes realizarmos a transformação interior de como pensamos
e de quem somos capazes de ser, a liderança regenerativa cruza
limiares obscuros e caminha no fio da navalha da consciência
humana.
A transformação pessoal inspira a transformação coletiva. E
tudo o que nós queremos é estar com pessoas que nos inspiram a
ser a melhor versão de nós mesmos.
O mundo precisa de lideranças regenerativas e te convida
a realizar o seu maior potencial: o de servir às necessidades da
Terra e inspirar outras pessoas a fazer o mesmo.
Você é importante demais para não ser você mesma.
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Al fin y al cabo, somos lo que hacemos
para cambiar lo que somos.
– Eduardo Galeano
APRENDER A DESAPRENDER
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Desacelerar abre espaço para o desaprender. Desaprender
abre espaço para melhores perguntas que, por sua vez, geram res-
postas condizentes com os desafios de nosso tempo.
Partindo do ensinamento de Bayo, podemos dizer: o conhe-
cimento é a maior riqueza da humanidade, vamos desaprender.
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DISTÚRBIO GENERATIVO
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Talvez não seja possível escolher se queremos ou não res-
ponder a um evento, mas sempre será possível escolher como res-
ponder. Qual aprendizado é possível incorporar a partir disso?
Como este evento pode me levar a novos rumos?
O Brasil vive hoje5 um grande e profundo distúrbio estrutu-
ral, uma afronta inimaginável aos rumos de um país pautado no
respeito, inteligência e integralidade.
Um desrespeito à sua própria história.
Estamos escolhendo responder de que forma?
Desejo que este momento faça florescer em nós a vontade e
a consistência necessária para trabalharmos as nossas habilidades
enquanto agentes de mudança.
Desejo que comecemos a construir ou ampliar o nosso lega-
do orientados pela nossa visão mais energizante. Agora.
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A NOVA ZONA DE SEGURANÇA
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Algo mais generoso, mais humano, mais atento e mais
profundo.
Com intenção e coragem podemos transformar o nosso tra-
balho em legados inspiradores – em contribuições significativas
que são essenciais para a vitalidade do nosso local de interação.
Nessa jornada precisamos de duas coisas: de uma menta-
lidade de aprendizagem por toda a vida e de uma comunidade
de apoio.
Juntos podemos nos tornar indispensáveis e insubstituíveis.
Uma boa avaliação que podemos fazer é nos perguntar: se
eu me retirar agora quem verdadeiramente sentirá a minha falta?
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LUGAR DE CONTROLE
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Estar ciente de que somos responsáveis pelas nossas expe-
riências nos permite escolher como iremos reagir com o que está
acontecendo à nossa volta.
Pode parecer contraintuitivo, mas podemos reconhecer no
outro a nossa própria limitação. Ao apresentarmos uma ideia a
alguém, por exemplo, é comum que ela não entenda exatamen-
te o que queremos dizer. Pode mesmo existir uma limitação no
outro, mas ela também reflete a nossa própria incapacidade de
comunicar de forma clara e eficiente.
Assim, quando nos pegarmos culpando os outros, remoen-
do o fato de que eles nos fizeram sentir mal, devemos nos lembrar
que estamos operando através do lugar externo de controle. Tra-
zendo para nós a responsabilidade, podemos ter escolhas criati-
vas e autênticas sobre como reagir em determinada situação.
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SEU PROJETO É A SUA REVELAÇÃO
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CRISE DE PERCEPÇÃO
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ria, mas completamente inadequada para outros, como os proble-
mas complexos da vida.
Nos apaixonamos tanto pelas máquinas e acreditamos tão
cegamente na ciência reducionista que em todo lugar que olha-
mos só conseguimos ver máquinas. Pessoas, organizações, co-
munidades e ecossistemas são vistos como tipos particulares de
sistemas mecânicos.
O lado mais perverso dessa história é o assassinato da
agência e intencionalidade de um mundo que é vivo. O pensa-
mento cartesiano fundamentou uma sociedade que acredita que
o mundo é um baú de recursos a serviço do “desenvolvimento”
econômico. Um rio intocado ou uma floresta milenar são recursos
não aproveitados. Essa crença orienta o desenvolvimentismo que
é cego por só saber ou só querer olhar para fragmentos tortos da
realidade, como o PIB.
O nosso tempo pede a superação do modelo mental redu-
cionista. É necessário entender a sua limitação e mergulhar pro-
fundamente em um novo tipo de percepção e conhecimento in-
formados pelos sistemas vivos.
Olhando para as máquinas e para os detalhes deixamos es-
capar a vida e o todo. Agora, precisamos redescobrir o todo e a
linguagem da vida.
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Pessoas, organizações, comunidades e ecossistemas são
sistemas vivos complexos e assim devem ser tratados. O todo é
mais do que a soma de suas partes. É a expressão emergente de
fenômenos que se dá no relacionamento e que não se encontram
nas partes.
É necessário apaixonar-se pela vida. Reconhecer a beleza e
a inteligência dos sistemas naturais porque neles estão a expres-
são de bilhões de anos de evolução. Aí está a resposta para per-
guntas que ainda nem sequer sabemos fazer.
Reconhecer o valor intrínseco de todas as formas de vida
e ter a humildade de nos colocarmos como participantes de um
sistema inteligente e não como os seres inteligentes do sistema,
como diz o botânico e agricultor Ernst Göstch, é um passo funda-
mental para superarmos a crise de percepção – a crise última da
humanidade.
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Eu vivo na Terra, no presente, e não sei o que sou.
Eu sei que não sou uma categoria. Eu não sou uma
coisa – um substantivo. Eu pareço ser um verbo,
um processo evolucionário – uma função integral
do universo.
― Buckminster Fuller
HÁ DUAS FORMAS DE SE TRABALHAR
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MEIOS E MOTIVAÇÃO
8 systematics.org
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Toda atividade emerge a partir de um fundamento. É crucial
que a equipe compartilhe esta mesma base. Podemos nos pergun-
tar: qual potencial serve ou serviu como fonte de motivação inicial
para o engajamento nesta atividade? Temos as mesmas motivações
e enxergamos os mesmos potenciais? A falta de um fundamento
sólido é motivo para a dissolução de muitas equipes e projetos.
Depois é necessário definir objetivos condizentes com a vi-
são destacada no ponto anterior. Este par fundamento-objetivo
forma o eixo da motivação. Para que haja uma boa motivação é
necessário uma correta tensão deste eixo. Assim, podemos pensá-
-lo como um elástico. Frouxo demais, com objetivos fracos e não
aspiracionais, há uma baixa na motivação. Tensionado demais,
com objetivos impossíveis, o eixo se rompe. O desafio é alcançar
a tensão correta: um destino inspirador o suficiente para manter
as pessoas animadas e palpável o bastante para que se continue
caminhando diante os desafios. Outro ponto crucial é o instru-
mento. Quais recursos, habilidades, práticas e conhecimento serão
necessários para realizar a transformação desejada? Quais instru-
mentos são capazes de manter a integridade do fundamento e al-
cançar os objetivos? Quem e o que será necessário nesta jornada?
Quem e o que devemos deixar para trás?
Por fim, o quarto ponto da tétrade é o da direção. Junto com
o instrumento forma o eixo dos meios ou o eixo operacional. A di-
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reção talvez seja o ponto mais incompreendido e negligenciado.
Fato curioso por este talvez ser o ponto mais importante. Esta é
a estrela-guia que irá orientar e reorientar a atividade em relação
aos seus ideais e objetivos. É também a referência de qualidade e
de aderência a princípios éticos. É o que garantirá que o projeto
alcance os seus objetivos sem que haja desvios no caminho.
Além dos dois eixos principais, motivação e meios, podemos
inferir outras conexões importantes. Olhando para a conexão fun-
damento-direção olhamos para a governança. Ao tratar da relação
objetivo-instrumento tratamos da integridade da atividade. Fun-
damento-instrumento nos diz sobre habilidades. Objetivo-direção
diz sobre entendimento e direção-instrumento sobre a operação.
Estas relações secundárias são leituras avançadas da tétrade.
Assim, temos que este quadro conceitual dinâmico e sis-
têmico serve como uma poderosa ferramenta de avaliação e de-
senho de projetos. Podemos olhar para uma atividade passada
e identificar qual ponto foi mais negligenciado e assim obter li-
ções valiosas. Podemos utilizar a tétrade na mesa de projetos e
garantir que todas as fontes sejam exploradas e validadas com a
equipe. Com isso aumentamos não só o entendimento geral como
também as chances de termos um projeto capaz de realizar a mu-
dança de ordem que necessitamos.
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PROJETOS QUE SE TORNAM LEGADOS
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regenerativos teremos que entender os sistemas em que eles estão
aninhados, pois são estes sistemas que iremos regenerar.
Desta perspectiva, o potencial que emerge do lugar advém
do relacionamento entre o que torna este lugar único e o valor
que esta singularidade pode levar para o sistema maior em que
ele está aninhado.
Assim, a busca primordial do desenvolvimento regenera-
tivo é criar projetos que assumam um papel capaz de contribuir
para a realização do potencial do lugar que o projeto ocupa.
Desta forma, somos capazes de criar projetos que se tornam
indispensáveis para a comunidade de vida local. Projetos que se
tornam legados e fonte de inspiração.
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A PONTE
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e prática são complementares indissociáveis. Assim, um nunca
estará completo sem a presença do outro. Precisamos, então, de
uma ponte que os conecte.
Esta ponte precisa estar ancorada no solo fértil das ideias e
no solo rochoso da prática. Ela deve ser robusta, generosa e testa-
da. Deve existir uma via de mão dupla onde as ideias fluam para
a ação e a ação esteja fundamentada em uma boa teoria.
É aqui que o desenvolvimento regenerativo se mostra indis-
pensável e fascinante. Este é um método de concepção e execução
de projetos capaz de internalizar as teorias mais avançadas do
pensamento ecológico e transformá-las em princípios e quadros
conceituais capazes de orientar a prática. É a ponte que conecta o
pensar e o fazer.
O praticante familiarizado com esta metodologia é capaz
de enxergar e captar os princípios básicos de organização da vida.
É capaz, também, de transformar estes princípios em diretrizes
que vão materializar esta visão inovadora no projeto em que se
está trabalhando.
Além de pensar de forma holística é necessário trabalhar de
forma holística. Para tanto, precisamos de um método coerente,
honesto e robusto. E esta é a contribuição única do desenvolvi-
mento regenerativo.
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SIGNIFICADOS
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REGENERAÇÃO
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O CAMINHO DAS ORGANIZAÇÕES
REGENERATIVAS
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derando o caminho da regeneração para os demais agentes que
estão ao seu alcance.
A busca pela participação apropriada nos leva ao terceiro
passo. Só é possível trabalhar em uma teia viva com responsabili-
dade e consciência quando caminhamos da fragmentação em dire-
ção à integralidade. A fragmentação é sintoma de uma mentalida-
de ultrapassada – a visão de mundo reducionista-cartesiana. Esta
não é suficiente para lidar com as questões complexas da vida.
A integralidade faz as pazes com a complexidade. E operar
a partir deste princípio faz com que estejamos atentos aos efeitos
sistêmicos de nossa atividade – passo crucial para nos tornarmos
catalisadores da saúde planetária.
Outra mudança necessária nesta jornada é ir da reparação
para a coevolução. Nos acostumamos a resolver problemas, mas
o foco na resolução de problemas nos prende ao velho enquanto
o foco no potencial nos leva a novos patamares de possibilidades
e motivação.
Para participarmos de forma apropriada em um contexto
vivo e complexo precisamos buscar uma compreensão integral do
sistema socioecológico do qual fazemos parte. Só assim é possível
nos engajar em um processo de coevolução, ou seja, trabalhar por
um desenvolvimento que promova a evolução das pessoas e da
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ecologia local juntos, sem concessões. Interiorizar a coevolução é
reconhecer que nós somos a natureza e que a nossa evolução de-
pende da evolução dos sistemas naturais e vice-versa.
Por fim, a regeneração sistêmica só é possível quando
aprendemos a trabalhar em cooperação. É preciso abandonar o
hábito do não-envolvimento que possui origem no paradigma da
dominação e competição e incorporar a cooperação como uma
abordagem essencial à coevolução.
Organizações Regenerativas são catalisadoras de redes de
cooperação para a regeneração local. São organizações que ins-
piram outras organizações e pessoas a trabalharem por um pro-
pósito comum maior do que elas todas: um mundo viável, belo
e justo.
Em síntese:
• Da conformidade para a autorresponsabilidade;
• Do autocentramento para a participação apropriada;
• Da fragmentação para a integralidade;
• Da reparação para a coevolução;
• Do não-envolvimento à cooperação.
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FLUXO
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INSPIRARAM ESTE TRABALHO
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SUMÁRIO
14 Seja insubstituível
15 Mudança
19 Declaração de participação
22 Um mundo vivo
28 Vamos conseguir?
30 Seja a resistência
31 O grito
32 Direção
34 Liderança regenerativa
38 Aprender a desaprender
40 Distúrbio generativo
47 Crise de percepção
53 Meios e motivação
58 A ponte
60 Significados
61 Regeneração
65 Fluxo
ISBN 978-85-94461-13-1