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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Povo de Deus a
caminho da Páscoa

Ano
3 - Nº [12

Roteiros Homiléticos para a Quaresma


Ano À - São Mateus

março / abril de 20177

CDições CNS?
Povo de Deus a
caminho da Páscoa

12 Edição - 2016

CVRD RU SA CO A E US MA O ER Sa E E a SA O O O A A O CS O EO AS O DE O A a O OD O a ES AU O aU O O O a A DA On O RC sa ra O DD a 04

Diretor Geral: Capa:


Mons. Jamil Alves de Souza Edições CNBB
Coordenação: Projeto Gráfico e Diagramação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão:
Leticia Figueiredo

C748r Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/ Roteiros Homiléticos para a Quaresma. Ano À - São
Mateus. Brasília, Edições CNBB. 2016.
p.56:14x21cm
ISSN: 2359-1935
1. Domingo da Quaresma - Cinzas;
2. Domingo de Ramos — Quaresma;
3. Quaresma - Paixão do Senhor,

CDU: 264-041.1

As citações bíblicas dos textos da celebração são do Lecionário Dominical, À, B, €, Paulinas, Paulus 1994.
Somente as citações que são para reforçar o sentido do texto foram retiradas diretamente da tradução bíblica
da CNBB e assim já citadas.

DDD ED ss OOo Ls ESA ns nO CCR ovas o Us 004

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO... eee 5
A LITURGIA NO TEMPO DA QUARESMA
Considerações e sugestões gerais............cccesesersesenreseneesenenencenenero 7

QUARTA-FEIRA DE CINZAS
1º de março de 2017...........ccccccres
erre rerereerrerare rea rrnan erra en enenenena 12

1º DOMINGO DA QUARESMA
5 de março de 2017... ires erere rea renreneareneanenda 19

2º DOMINGO DA QUARESMA
12 de março de 2017 .............ccecccee
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3º DOMINGO DA QUARESMA
19 de março de 2017...............ceccecec
cesso cerrererrarenenrarenenenraranenta 30

4º DOMINGO DA QUARESMA
26 de março de 2017.............cecce
sec eceererererrenerrenenen rare nencrcana 36

5º DOMINGO DA QUARESMA
2 de abril de 2017............eee
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DOMINGO DE RAMOS E DA
PAIXÃO DO SENHOR
9 de abril de 2017... ren re r ee cereerara ra n 50
APRESENTAÇÃO
A Quaresma é o tempo que nos encaminha para a Páscoa. É tempo
forte de penitência e de mudança de vida, em especial, pela experiência
da misericórdia. “O mistério da misericórdia divina desvenda-se ao
longo da história da aliança firmada entre Deus e o seu povo” (Papa
Francisco). Deus revela-se sempre rico em misericórdia. “Miseri-
córdia eu quero, não sacrifícios” (Mt 9,13). A misericórdia de Deus
transforma o coração do ser humano, o faz experimentar o amor fiel e
o torna, por sua vez, capaz de misericórdia.
“A Quaresma (...) é um tempo de graça e de bênção, marcado pela
escuta atenta da Palavra de Deus; de reconciliação com Deus e com os
irmãos. Tempo de oração, de jejum como disponibilidade, entrega e
docilidade à vontade do Pai, de partilha de bens e de gestos solidários,
- . . . . » 1
de atenção misericordiosa com os pobres e necessitados”.
A Quaresma deste ano de 2017, no ciclo do ano À, tem como
pano de fundo a temática sacramental e batismal, que permite-nos
compreender a realidade da nossa vida de fé: iniciação à vida cristã.
Junto com os catecúmenos de nossas comunidades que se preparam
para a celebração dos sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal,
somos todos convidados a fazer da Quaresma um tempo de renovação
de nossa vida de batizados.
A própria Campanha da Fraternidade constitui uma “iniciação à
fé e à sua prática”. O enfoque da iniciação à vida cristã da Quaresma
ressalta que a conversão e a adesão à vida de fé em Jesus Cristo implica
uma nova atitude diante dos diversos biomas brasileiros. Como
poderemos celebrar a Páscoa e renovar nossa vida cristã, alheios à
realidade da criação que nos cerca, alimenta e sustenta?
Desejamos que o presente Roteiro Homilético da Quaresma,
elaborado pelo Padre Thiago Faccini Paro, alimente a caminhada
rumo às celebrações pascais de nossas comunidades e paróquias. Seja

1 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 14.
ca Povo de Deus a caminho da Páscoa

um subsídio para as equipes de liturgia que se empenham na qualifi-


cada preparação das ações celebrativas.

Dom Edmar Peron


Bispo de Paranaguá — PR
Membro da Comissão Episcopal Pastoral
para a Liturgia da CNBB
A LITURGIA NO TEMPO DA QUARESMA

Considerações e sugestões gerais


Quantas vezes tivemos já a oportunidade de celebrar a Páscoa
com alegria e com um sentido de novidade na nossa vida! Contudo,
sentimos que esta Páscoa de 2017 se apresenta ainda como um aconte-
cimento novo e importante para a nossa vida. Por quê?
O apóstolo João, aquele que Jesus tanto amava e que pousou com
afeto sua cabeça no peito de Jesus na última ceia, nos abre o caminho para
entender esta surpreendente constatação. “Vede que grande presente de
amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!
(...) mas nem sequer se manifestou o que seremos" (1Jo 3,1-2).
Ser “filhos e filhas de Deus” pelo seu amor, é o grande dom que
recebemos do Pai em Cristo Jesus. Esta é a graça que a Páscoa traz
consigo e que nos habita. Tornarmos aos poucos em plenitude, o que
por enquanto somos em maneira limitada e imperfeita: esta é a grande
vocação que acompanha o precioso dom recebido no Batismo.
Estamos caminhando, para crescer cada dia e cada ano um pouco
mais como filhos e filhas de Deus, seguindo o impulso interior da
Páscoa de Jesus e atualizando a graça do nosso Batismo.
Na vida espiritual, está acontecendo algo parecido com o processo
de desenvolvimento biológico de uma criança para tornar-se adulto. A
vida de uma criança é cheia de potencialidades, mas exige muito amor
e cuidado constante por parte dos pais, para que ela possa enfrentar
incessantes desafios e riscos, e desenvolver suas potencialidades,
através das passagens de criança para a adolescência e a juventude, até
tornar-se adulto, capaz de assumir as escolhas adequadas para viver em
maneira saudável e sábia.
São Pedro destaca que o dinamismo do Espírito que anima todo
batizado é parecido: “Como criancinhas recém-nascidas, desejai o leite
legítimo e puro que vos vai fazer crescer na salvação” (1Pd 2,2).
A Quaresma e a Páscoa têm entre si uma relação parecida.
a Povo cle Deus a caminho da Páscoa

Mediante o Batismo, participamos à vida nova de Jesus ressus-


citado. Iniciamos a viver a Páscoa de Jesus. Mas na vida de cada dia
experimentamos a violência do pecado que nos afasta do caminho
pascal junto com ele. À Quaresma, com suas características de
penitência, conversão e redescoberta da graça do Batismo, estimula e
acompanha o processo do nosso crescimento na vida cristã, secundo as
potencialidades e a vocação recebidas no Batismo.
Tal crescimento é antes de tudo fruto da ação do Espírito Santo em
nós e da sua graça, mas exige também um renovado compromisso por
parte nossa, a caminhar em maneira mais coerente com nós mesmos,
com a nossa condição de “filhos e filhas de Deus, (...) como de fato o
somos”, segundo a bela expressão de São João!
Experimentamos a inquietação do coração diante dos desvios
que nos atrapalham, mas, às vezes, não temos a coragem de reverter o
caminho e voltar para a casa do Pai.
Na parábola do “filho pródigo”, ou do “Pai amoroso e misericor-
dioso”, que será proclamada durante a Quaresma (sábado da segunda
semana), Jesus nos revela o misterioso dinamismo que atua nos corações
do filho fugitivo e do pai paciente e cuidadoso. O pai fica vigilante e
aberto à acolhida e atrai de volta o filho para a casa paterna. O pai
oferece a festa, e para o filho se reinicia uma nova história, quase um
novo nascimento (Lc 15,11-24). O irmão mais velho, aparentemente
mais bonzinho, na realidade mostra não ter jamais morado na casa do
pai. Fica longe do seu sentir.
À atitude misericordiosa do pai e a volta confiante do filho
pródigo, deveriam ser nossa maneira de celebrar e viver em sentido
autêntico a Quaresma e a Páscoa deste 2017!
A Quaresma é tempo oportuno de penitência e de conversão.
A palavra conversão significa ao mesmo tempo radical mudança de
direção do caminho e radical transformação interior que acompanha
a mudança de direção da vida. Segundo a imagem da parábola do
filho pródigo, a conversão marca o nosso retorno, da dispersão para a
nascente inesgotável da vida que é a Páscoa de Jesus, nossa verdadeira
“casa paterna”.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma H

Os Padres da Igreja e a liturgia chamam este misterioso movimento


de procura recíproca entre Deus e o homem, evidenciado na parábola,
de “sacramento da Quaresma”, ou mesmo, de “sacramento pascal”.
Este dinamismo pascal atravessa e anima todas as expressões da vida
de cada um, bem como das famílias e das comunidades. O convite de
Jesus, repetido pela Igreja, ao acompanhar o gesto da imposição das cinzas
no primeiro dia da Quaresma, “Convertei-vos e crede no evangelho”
(Mc 1,15), é o insistente convite a tomar consciência que nossa identidade
de discípulos é um incessante processo de conversão ao Senhor.
A Quaresma exprime e alimenta, ao mesmo tempo, a consciência
de pertencer desde já ao mundo novo nascido na morte e ressurreição de
Jesus, e a necessidade de acompanhar com perseverança e humildade o
processo ainda incompleto da nossa conformação a Cristo, o homem novo.
Contrariamente ao sentido erroneamente difundido entre o povo,
a alma profunda da Quaresma, mesmo na sua dinâmica de penitência
e de conversão, não é a “tristeza”, mas uma “sóbria alegria”, alimen-
tada pela esperança, como afirma a liturgia.? À grande Vigília Pascal
tem viva esta perspectiva, no caminho com Cristo. “Vós concedeis aos
cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa”?
Cada ano é uma nova espera e uma nova esperança de crescimento
no Senhor. Por isso, cada Quaresma — Páscoa é uma nova alegria e
um novo empenho. Uma espiral que nos acompanha, até celebrar na
Páscoa eterna a nova criação, alcançando sua plenitude definitiva.
Enfim, a perspectiva da Igreja, através do caminho da Quaresma,
é a de nos ajudar a tornarmos em plenitude, o que já somos em raiz, e
a nos tornarmos em nossa existência o mistério pascal que celebramos.
A Quaresma sem a Páscoa fica incompreensível. Mas também a
Páscoa, sem ter percorrido com seriedade o “itinerário quaresmal”,
não poderia ser celebrada e vivenciada como “vida nova” que brota no
coração convertido.

2 Hino de Laudes da 1º Semana do Tempo Comum.


3 Missal Romano. Prefácio da Quaresma, I, p. 414.
4 Missal Romano. Prefácio da Páscoa, IV, p. 424.
mo Povo de Deus a caminho da Páscoa

A estrutura do Ciclo pascal sustenta este dinamismo interior.


A Quaresma constitui a primeira parte do ciclo pascal que, no seu
conjunto, abrange: Tempo da Quaresma — Tríduo Sagrado — Tempo
de Páscoa/Pentecostes.
A Quaresma oferece um rico patrimônio de textos bíblicos e
litúrgicos, e de gestos rituais, capazes de alimentar uma profunda
formação espiritual e uma sábia pastoral. E preciso valorizá-lo:
à Os textos litúrgicos destacam com frequência as dimensões
batismal e penitencial do caminho cristão: nas leituras bíblicas,
nos salmos responsoriais, nas antífonas de entrada e de
comunhão, nas orações, nos prefácios etc.
à À Liturgia das Horas propõe uma abundante mesa da palavra
bíblica e de reflexões espirituais de numerosos homens e
mulheres de Deus, iluminados pela sabedoria do Espírito.
à Os Evangelhos dos domingos do ano À, aos quais estão claramente
conexas a primeira e a segunda leitura, destacam o itinerário
batismal. É preciso valorizar nas homilias a conexão intrínseca
que une os domingos em um itinerário coerente e progressivo.
A grande Vigília Pascal, com o anúncio da Ressurreição de Jesus
e com suas etapas, constitui o oceano divino no qual deságua o
caminho quaresmal, para uma nova experiência de liberdade filial.
à Á oração, pessoal, bem como na família e na comunidade,
mais intensa e alimentada pela Palavra do Senhor, junto com
o jejum e a solidariedade para com os necessitados, constituem
três expressões de uma mesma atitude interior: desapego de si
mesmo e atenção ao Senhor, fonte e meta da nossa vida, e ao
irmão com que partilhamos o mesmo caminho de fé.
» Neste ano 2017 a Campanha da Fraternidade promovida pela
CNBB, nos propõe um especial itinerário do cultivo e do
cuidado comunitário e social: “Fraternidade: biomas brasileiros
e defesa da vida”, com o lema inspirado no livro do Gênesis
2,15: “Cultivar e guardar a criação”,
à O silêncio, hoje o grande ausente, é condição essencial para
colocar-se na escuta sincera do Senhor, da sua voz que sobe
Roteiros Homiléticos para a Quaresma Hm

do íntimo da consciência, da sua Palavra meditada e rezada,


bem como através dos acontecimentos. Momentos de silêncio
durante as celebrações: ao início, para entrar bem na celebração,
depois das leituras, depois da comunhão. Evitar excessivas
explicações durante a celebração. Deixar falar o rito. Não se cria
silêncio interior, se não se cultiva também o silêncio fora de nós.
Neste tempo, seria útil praticar uma tomada de distância dos
instrumentos sem número que invadem nosso espaço vital: TV,
internet, rádio, iPod etc. É uma forma inteligente e atualizada
de praticar um “jejum” verdadeiramente saudável.
à De um coração silenciado e atento, brota a exigência e a capaci-
dade de olhar com humildade dentro de nós, reconhecer as
ambiguidades do pecado que nos ocupa, e celebrar a reconciliação
para com o Senhor e com os irmãos, através da celebração do
sacramento da reconciliação ou outras celebrações penitenciais.
à À cor roxa, tradicionalmente usada na Quaresma, não é sinal de
tristeza, mas de sobriedade. O ambiente litúrgico tem que fique
simples e sem ornamentações nem flores durante a Quaresma.
Seria pura formalidade se o “tom da sobriedade” ficasse
relegado ao ambiente litúrgico e não determinasse, ao invés,
também o estilo global da maneira de viver: comida, palavra,
despesas, vestuário etc. Mortificar as aparências para alimentar
a interioridade.
à Não podemos ainda nos esquecer, que a liturgia quaresmal do
ano À, oferece um itinerário catecumenal por excelência, onde
a cada domingo a Palavra e comunidade, orientam, preparam
e acolhem os que serão batizados na grande Vigília Pascal. As
celebrações estão indicadas e orientadas no Ritual de Iniciação
Cristã de Adultos (RICA) que consta neste tempo do “rito
de eleição” que poderá acontecer no primeiro domingo da
Quaresma e dos escrutínios realizados no terceiro, quarto e
quinto domingos da Quaresma.

5 Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), n. 21-26.


QUARTA-FEIRA DE CINZAS
1º de março de 2017
CONVERTEI-VOS E CREDE NO EVANGELHO!

Leituras: Jl 2,12-18
S150(51),3-4.5-6a.12-13.14 e 17
2Cor 5,20-6,2
Mt 6,1-6.16-18

Situando-nos
Quaresma é o tempo que nos encaminha para a Páscoa. “À liturgia
quaresmal prepara para a celebração do mistério pascal tanto dos catecú-
menos, fazendo-os passar por diversos degraus da iniciação cristã,
como os fiéis que recordam o próprio Batismo e fazem penitência”.
“É um tempo em que fazemos caminho para a Páscoa, motivados pela
Palavra e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo, cultivando a oração,
o amor a Deus e a solidariedade fraterna”
A Quaresma como caminhada rumo à celebração pascal, da morte
e ressurreição de Jesus Cristo, é marcada pelo espírito penitencial e de
conversão. Por esta razão, o início da caminhada quaresmal é marcada
pelo rito da imposição das cinzas sobre a cabeça dos fiéis. Um antigo
ritual com o qual os pecadores arrependidos de seus pecados manifes-
tavam seu arrependimento e penitência. O gesto de cobrir-se de cinzas
expressa o reconhecimento da própria condição humana (Lembra-te
que és pó e em pó te hás de tornar), que necessita ser redimida pela
misericórdia de Deus. Longe de ser um gesto meramente exterior, a
Igreja o conservou como símbolo da atitude do coração penitente que
cada pessoa é chamada a assumir no itinerário quaresmal.

6 Normas universais do Ano Litúrgico e do Calendário Romano Geral, n. 27.


7 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 11.
8 Diretório sobre Piedade Popular e Liturgia, n. 125.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma EB

Receber as cinzas, neste dia, significa confirmar nossa fé na Páscoa


de Cristo, na reconciliação, na esperança de um dia estar na comunhão
do Ressuscitado. Participar do rito da imposição das cinzas expressa o
compromisso com a prática das virtudes cristãs.
Nesse dia, a Igreja Católica no Brasil abre a Campanha da Frater-
nidade: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, tendo como
lema: “Cuidar e guardar a criação” (Gn 2,15). A CF 2017 tem como
objetivo: “Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros,
dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos
povos, à luz do Evangelho”:
O que suplicamos ao Pai pela Oração da CF 2017, aconteça em
nossas comunidades e em terras do Brasil:
“Deus, nosso Pai e Senhor,
nós vos louvamos e bendizemos,
por vossa infinita bondade.
Criastes o universo com sabedoria
e o entregastes em nossas frágeis mãos
para que dele cuidemos com carinho e amor.
Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum.
Cresça, em nosso imenso Brasil,
o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas,
e da beleza e riqueza da criação,
alimentando o sonho do novo céu e da nova terra
que prometestes.
Amém!”.1º

Recordando a Palavra
No começo da caminhada quaresmal, Jesus nos dirige sua palavra
convidando-nos a seguir com ele o caminho em direção à Páscoa. Sua
Palavra, que chega até nós pelo Evangelho de Mateus, situa-se no centro

9 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, Objetivo
geral, p. 16.
10 Oração da Campanha da Fraternidade 2017. In CNBB. Campanha da Fraternidade 2017.
Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, p. 135.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

do “discurso da montanha” (cap. 5-7), o primeiro dos cinco grandes


discursos de Jesus, assinalados por este evangelista. Esta passagem tem
como conteúdo o anúncio inicial da proclamação do Reino de Deus.
Ela deve ser lida na perspectiva da constituição do novo povo de Deus,
da nova aliança que se cumpre em Jesus, o Salvador.
Pela escuta da palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia
divina revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade,
constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos
compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração
da Quarta-feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a
assumirem, com fidelidade, as obras de justiça no relacionamento com
o próximo: a esmola; para com Deus: a oração; para consigo mesmo:
o jejum.
À esmola, a oração e o jejum são antigos exercícios da ascese espiri-
tual. Eles sempre foram retomados e recomendados pelos mestres a
seus seguidores. Contudo, ao longo dos tempos, estas prescrições
foram perpassadas pelo formalismo exterior, ou se transformaram em
um sinal de superioridade social (Lc 18,9-14). Jesus também retoma
tais exercícios e, para que respondam à sua finalidade essencial, os
enquadra na relação de intimidade com o Pai e com os discípulos.
O evangelista ressalta o contraste entre a prática sugerida por Jesus
e a dos fariseus e escribas. Para estes, tais práticas eram expressão da
observância da Lei em vista da recompensa, mesmo que não corres-
pondam a uma atitude interior. Para o Jesus, a esmola, a oração e
o jejum simbolizam a fidelidade e a comunhão do novo povo com
Deus. Sua prática deve, contudo, evitar a busca de privilégios, poder e
recompensas. Isto, além de bloquear a relação filial com Deus, torna-se
fonte de conflitos entre as pessoas. À recompensa anunciada por Jesus
não é a correspondência entre prestação de serviço e pagamento. Ela é
dom divino, salvação. Ela é o reino prometido e oferecido a quem, na
obediência, abre-se às exigências de sua novidade.
O profeta Joel, diante das plantações devastadas pela praga
dos gafanhotos, reflete com o povo sobre a exigência de uma nova
vida. À devastação era um sinal da proximidade do dia do Senhor.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma RB

O profeta incentiva o povo ao cuidado da terra devastada e convoca


todos à conversão, à penitência e à mudança de vida. Isto não pode ser
algo apenas exterior, aparente e sem consequências práticas, mas deve
significar uma transformação radical rumo a Deus.
O Salmo 50(51) constitui uma grande súplica pela libertação da
desgraça pessoal e social causada pelos pecados. O canto desse salmo
reflete a consciência contrita do pecador e sua confiança na ação
misericordiosa de Deus. É ela quem gera um coração novo é imprime
o espírito de santidade.
Na segunda leitura de hoje, o apóstolo Paulo interpela a comuni-
dade: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar
com Deus” (2Cor 5,20). Este esforço de conversão não é somente uma
obra humana, é deixar-se reconciliar pela graça. À reconciliação entre
nós e Deus é possível graças à misericórdia do Pai que, por nosso amor,
não hesitou em sacrificar o seu Filho unigênito.!
Uma pessoa de fé que faz sua caminhada quaresmal rumo à Páscoa,
ao tomar consciência da realidade do como são tratados os biomas
brasileiros, não poderá ficar indiferente. A Campanha da Fraternidade
é uma verdadeira iniciação à fé e à sua prática. “À conversão quaresmal
é, ao mesmo tempo, um voltar-se para Deus, para o próximo e para a
vida da criação que nos cerca”!

Atualizando a Palavra
“Deus não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de
pedir perdão!”. Esta afirmação, repetida tantas vezes por parte do Papa
Francisco em suas catequeses ao longo destes meses, acabou escandali-
zando muitas pessoas devotas e pias, e — paradoxo ainda maior! — não
poucas pessoas que não acreditam em Deus e não praticam a religião,
mas veem na ideia de um Deus que “faz justiça” punindo quem infringe
a lei, um baluarte para garantir a boa ordem na sociedade!

11 FRANCISCO. Homilia da Quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015.


12 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 21.
no Povo de Deus a caminho da Páscoa

Mas este é o âmago da Boa-Nova proclamada por Jesus, concreti-


zada em todos seus gestos para com os pecadores e os marginalizados
da sociedade e da estrutura religiosa. Acreditar nesta Boa-Nova e
entregar-se com confiança ao Pai, exige a coragem ingênua das crianças
e dos simples de coração. É o próprio Jesus a sublinhar isso: “Se não
vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no
reino dos Céus” (Mt 18,3).
Precisamos coragem, para reconhecermos pecadores na situação
concreta, específica que estamos vivendo um determinado momento,
e não somente em maneira genérica. Esta coragem nasce da humildade
que reconhece e aceita lidar com a verdade profunda de nós mesmos
sem fingimentos. Esta coragem e esta humildade são dons do
Espírito Santo. Precisamos ter confiança de pedi-los. Deixar cair as
máscaras, viver a verdade: este é o convite libertador de Jesus. Pois é
quando acolhemos a verdade, que se curam as feridas, se libertam as
energias escondidas, se constrói a casa sobre a rocha, e sobre tudo, se
constrói aquela relação autêntica com Deus, que se torna a verdadeira
recompensa e a alegria da existência.
“Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz
a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. É o teu pai,
que vê o que está oculto, te dará a recompensa” (Mt 6,3-4). A mesma
indicação de discrição e silêncio, aberta somente ao diálogo interior
com o Pai, Jesus a repete em relação à oração e ao jejum.
Que contraste com nossa mentalidade corrente, segundo a qual
tudo há de ser mostrado em público, tudo enfatizado. Quem não aparece
na mídia, não existe. Se você, pessoa ou comunidade, não tem seu site,
uma conta pessoal no Facebook e no Twitter, não vale, não existe. Todo
mundo corre atrás desta justificativa. Mesmo nossas comunidades
paroquiais e religiosas vivem a urgência de se adequar, sem muita
discrição. É tudo expressão de zelo missionário e do compromisso
para testemunhar Cristo, evangelizar a Boa-Nova da misericórdia
de Deus, que está presente em toda situação, e pretende curar com
carinho cada pessoa como filho e filha? Acho que deveríamos fazer
a nós mesmos muitas perguntas com honestidade e aceitar responder
Roteiros Homiléticos para a Quaresma BR

com igual honestidade. A Quaresma nos ajuda a abrir este diálogo


com nós mesmos, o exige. Morrer aos enganos e renascer à verdade de
nós mesmos, é fazer Páscoa na vida.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Com a celebração da imposição das cinzas, iniciamos o tempo
quaresmal, ouvindo o convite do Senhor: “Convertei-vos! O Reino de
Deus está no meio de vós”, À proclamação e escuta da Palavra de Deus,
as orações, as ações simbólicas nos possibilitam experimentar a bondade
infinita de Deus, como reza a antífona de entrada: “Ó Deus, vós tendes
compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais nossos
pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus”!

Na caminhada quaresmal, somos convidados a experienciar o


Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós
incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça de
sermos nós também misericordiosos.
Hoje, na celebração da Eucaristia, nós nos oferecemos com Cristo
ao Pai, pelo Espírito Santo. Que o sacramento pascal recebido na mesa
da Palavra e na mesa Eucarística nos ajude a fazermos de nossa vida
uma oferta agradável a Deus, especialmente pela vivência do jejum,
do amor fraterno e da oração. “Ó Deus, assisti com vossa bondade a
penitência que iniciamos, para que vivamos interiormente as práticas
externas da Quaresma”.!
Nos passos de Jesus, caminhando rumo à Páscoa, revivemos a
experiência daquele que a partir do batismo do Jordão caminha para
o “batismo da sua morte” (Me 10,38; Lc 12,50). Contemplamos o
mistério do Coração trespassado e aberto do Redentor do qual nasce
a Igreja e provém toda a eficácia dos sacramentos; e de onde procede
sangue e água (Jo 19,34), símbolos da Eucaristia e do Batismo. No
Mistério Pascal, o testemunho concorde do Espírito, da água e do

13 Missal Romano. Antífona da entrada da Quarta-feira de Cinzas, p. 175.


14 Missal Romano. Oração do dia da sexta-feira depois das cinzas, p. 179.
18 Povo de Deus a caminho da Páscoa

sangue (1Jo 5,5-8) manifesta o “renascer da água e do Espírito” para


entrar no Reino de Deus (Jo 3,5).
A Quaresma é o período forte da Campanha da Fraternidade.
“Nesse tempo litúrgico a prática da esmola, da oração, do jejum, a
conversão e a Campanha da Fraternidade tornam-se oportunidades
de experimentar a espiritualidade pascal capaz de gerar, ao mesmo
tempo, a conversão pessoal, comunitária e social”!

15 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 20.
1º DOMINGO DA QUARESMA

5 de março de 2017
EM CRISTO, VENCEREMOS O TENTADOR!

Leituras: Gn 2,7-9.3,1-7
SI 50(51)
Rm 5,12-19
Mt 4,1-11

Situando-nos
O primeiro domingo da Quaresma é tradicionalmente conhecido
como o “domingo das tentações de Jesus”. “Nesse domingo celebramos
a memória daquele que venceu a tentação do acúmulo, prestígio e poder,
e se tornou pão da vida para que todos possam viver. Sua obediência ao
Pai até o fim trouxe para nós a justificação”!
Este primeiro domingo da Quaresma nos coloca diante do
mistério do bem e do mal que nos habita, até as raízes mais profundas
da nossa pessoa, e nos deixa vislumbrar a saída desta contradição:
caída de Adão/Eva frente o tentador no Jardim do Éden (primeira
leitura), e vitória de Cristo que derrota o diabo no deserto (Evangelho),
e antecipa sua vitória final na cruz e ressurreição. Cristo Ressuscitado
é o novo Adão que no jardim da ressurreição, dá início a uma nova
humanidade, à qual nós pertencemos por graça, pelo Batismo que nos
faz participar da sua morte e ressurreição.
Cada Quaresma nos faz realizar em maneira nova e mais profunda
esta passagem da sujeição ao pecado para a vida nova em Cristo,
participando das suas lutas e da sua vitória.

16 BORTOLINI José. Roteiros Homiléticos. Anos À, B, C. Festas e Solenidades. São Paulo:


Editora Paulus, 2006, p. 56.
o Povo de Deus a caminho da Páscoa

A Quaresma é convite para uma autêntica e renovada conversão


ao plano do Criador que, com sabedoria, criou todas as criaturas e
as entregou em nossas frágeis mãos para que delas cuidássemos com
carinho e amor.

Recordando a Palavra
A narrativa da criação do ser humano proposta pela primeira
leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7), com sua linguagem simbólica e altamente
poética, destaca o cuidado carinhoso com o qual Deus chama à
existência a criatura humana, e a torna partícipe da sua mesma vida
e dignidade, e sua parceira no cuidado da beleza e da fecundidade da
criação inteira, que é “um jardim a ser cultivado”. No centro do jardim,
como no centro da existência humana, o Senhor faz brotar a “árvore da
vida “e a “árvore do conhecimento do bem e do mal”? (Gn 2,9).
Vida em abundância e conhecimento na intimidade recíproca,
são os dons com que o Senhor enriquece a existência e a missão de
Adão e Eva. À cena encantadora que apresenta o Senhor “passeando
à brisa da tarde no jardim”, à procura de Adão e Eva para deter-se
em amável conversa para com eles, como com seus íntimos amigos
(Gn 3,8), irradia toda a beleza e o dinamismo da relação que o Senhor
tem estabelecido entre si mesmo e o ser humano, ao criá-lo à sua
imagem e semelhança (Gn 1,26).
O diabo, o inimigo da vida, o atrapalhador que engana o homem
com a ilusão da falsa promessa e perspectiva de tornar-se fonte
totalmente autônoma da vida e do conhecimento, insinua com astúcia
a possibilidade de tornar-se alternativo a Deus: “Vossos olhos se abrirão
e vós sereis como Deus conhecendo o bem e o mal” (Gn 3,5).
De fato, os olhos deles se abrirão, mas irão fazer uma triste
descoberta, a descoberta da própria “nudez”, isso é da radical incapaci-
dade de realizar de verdade a vocação à autentica dignidade e liberdade,
e a missão de construir um mundo capaz de espelhar a beleza divina
(Gn 3,7). À narração do pecado segue-se a promessa e esperança. A
voz do Senhor, à procura dos seus amigos escondidos pela vergonha e
Roteiros Homiléticos para a Quaresma

o sentido de culpa, ressoa no jardim, “Onde estás?” (Gn 3,9). Pode soar
como uma ameaça. Na verdade, ela prepara a promessa de um resgate
da armadilha da serpente enganadora: “Porei inimizade entre tie a
mulher, entre tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3,15).
O Salmo responsorial (Sl 50/51), é o salmo penitencial por
excelência. Resume em si os sentimentos mais profundos do pecado, do
arrependimento, da conversão, da alegria e do agradecimento pela vida
renovada pela misericórdia e o perdão de Deus. Exprime com intensi-
dade a consciência da própria fragilidade e do próprio pecado, e ao
mesmo tempo a confiança extrema no Senhor que pela sua misericórdia
perdoa e tudo renova. “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos
contra vós!”. O Salmo alimenta o caminho da conversão, a passagem
para a vida nova da Páscoa, através da purificação interior da Quaresma.
Na segunda leitura (Rm 5,12-19), Paulo desenvolve em profundi-
dade a relação que Deus tem estabelecido entre a aventura negativa de
Adão e a resposta de obediência e de amor, realizada por Cristo, “novo
Adão”, início da nova humanidade, redimida por Cristo. O Filho de
Deus assume sobre si nossa condição humana de pecado e, com sua vida
de dedicação filial, e sobretudo com sua Páscoa, revira a situação abrindo
caminho para voltar ao projeto original de Deus e realizá-lo em plenitude.
O Evangelho (Mt 4,1-11). “Naquele tempo, o Espírito conduziu
Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. O “deserto”, lugar da
esterilidade e da provação, contraposto ao “jardim”, lugar da vida e
da comunhão, no qual Deus tinha colocado o ser humano, para que
cuidasse e gozasse da sua beleza e fecundidade.
O deserto, como o jardim do primeiro Éden, não é simples-
mente um lugar geográfico, mas indica a sofrida situação existencial
do homem “desertificada”, como repetia Bento XVI, ao descrever a
condição do homem pós-moderno, fechado em si mesmo e interior-
mente corroído pela pretensão de ser o centro do mundo, sem relação
com Deus e em competição com os outros.”

17 BENTO XVI. Homilia na santa Missa da abertura do Ano Santo da Fé, 11/10/2010.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

Jesus adentra este deserto, conduzido pelo Espírito, para partilhar


a dura condição humana (Jo 1,14) e vencer com o amor e a obediência
o poder obscuro do maligno. Com três tentações, o tentador procura
afastar Jesus do projeto do Pai. Propõe-lhe o caminho do sucesso obtido
com o milagre fácil (mudar as pedras em pão para satisfazer a fome), com
gestos que produzem prestigio espetacular e fácil consenso (jogar-se do
templo diante do povo), prometendo poder (adorando o poder).
Jesus, animado pelo Espírito, rejeita com a força da Palavra de
Deus as seduções e manifesta sua verdadeira condição de Filho de
Deus, assumindo até as últimas consequências a escolha da humildade
e da dedicação ao Pai. Jesus, “novo Adão”, com a luta no deserto,
reestabelece a verdadeira relação de obediência no amor com o Pai, que
o “primeiro Adão” no Éden não soube guardar e valorizar. Jesus, com
sua luta de quarenta dias e sua vitória, vence as provações que Israel, na
sua peregrinação de quarenta anos no deserto, não tinha conseguido
superar, abandonando-se à murmuração contra Deus e à idolatria.
Jesus rejeita ser o messias da abundância, do prestígio, do poder.
Vencidas as tentações, ele está pronto a proclamar e instaurar a justiça
do Reino através da partilha, do cumprimento da vontade de Deus e
do serviço até a doação da vida.!é

Atualizando a Palavra
O caminho dos discípulos, em todo tempo, é o mesmo de Jesus.
Somente seguindo Jesus, se pode lutar com sucesso contra o egocen-
trismo e a procura de falso sucesso mesmo na vida pessoal e mesmo
no exercício dos ministérios na Igreja, e chegar à intimidade do jardim
da ressurreição. À Quaresma nos indica o caminho certo e as etapas.
O Batismo nos introduziu no caminho do próprio Jesus e nos fez
participar à mesma ação do Espírito que o conduziu e sustentou na
luta com o diabo no deserto e na vitória sobre a morte na ressurreição.
Animados pelo Espírito temos a graça de viver com a liberdade dos
filhos e filhas de Deus. Temos a graça, como diz Paulo, de viver como

18 BORTOLINI]. op. cit., p. 58-59.


Roteiros Homiléticos para a Quaresma RB

já “ressuscitados” (Cl 3,1-4), enquanto participes da vida nova em


Cristo, e não permitindo mais que o pecado determine nossa maneira
de sentir, de pensar, de agir.
Com a fé e o Batismo, passamos por uma transformação radical,
que nos acompanha toda a vida. Pois a vida nova no Espírito Santo é
semente que nos impele de dentro, mas que nós devemos favorecer no
seu crescimento. À graça não é magia, nem o desenvolvimento das suas
potencialidades é algo de automático. Cada dia o Senhor solicita nossa
disponibilidade no amor e nosso compromisso de obediência filial.
A vida do discípulo irradia a luz e a fecundidade da Páscoa, ao
mesmo tempo que continua a luta contra as contradições do pecado
que sobem do coração, até que não seja reconstituído na sua integri-
dade, como o da criança.
O “homem velho” e o “homem novo”, ainda convivem dentro de
nós, às vezes em um conflito que nos dilacera. Nossa salvação, afirma
Paulo, é ainda objeto de esperança e de luta (Rm 8,24).
Temos ainda a necessidade de cultivar a dinâmica de conversão e
penitência, enquanto vivemos da energia vital e da luminosidade da Páscoa.
Com sábia pedagogia, cada ano a Igreja nos oferece novamente a
luz da Páscoa e a sóbria alegria da Quaresma, com suas exigências de
penitência e conversão.
O tempo da Quaresma se apresenta como o tempo mais propício
para celebrar a purificação do coração e fortalecer a caridade, mediante
várias formas de ascese e de oração íntima, e em maneira especial com
a celebração do sacramento da Reconciliação, em forma individual ou
comunitária.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À celebração da Eucaristia nos oferece a graça de celebrar a vida
como um caminho partilhado em comunidade. Ela nos tira da solidão
dos nossos vários desertos, nos quais ficamos prisioneiros de nós
mesmos, por presunção ou por medo.
A Povo de Deus a caminho da Páscoa

“Na celebração eucarística Jesus é a árvore da vida que o Pai


plantou no centro de nossa existência. Com ele nascemos para uma
vida nova, baseada na partilha e na fraternidade”.
Pedimos perdão repetidas vezes, desde o início da celebração até
o momento de nos aproximarmos à mesa do corpo e do sangue de
Cristo. O sentido penitencial se desdobra do ato penitencial ao início,
até a proclamação de fé: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em
minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.
À presunção de nos auto-orientarmos na vida, sem relação ao
Senhor, cede lugar
8 à humilde invocação q que a Quaresma nos ajude
) a
“progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor
por uma vida santa”.?

À participação à dupla mesa da Palavra de Deus e do pão eucarís-


tico, nos sustenta na longa caminhada do deserto da vida, com suas
lutas e suas experiências de fome e de fraqueza. Estamos expostos à
tentação de suprir por nós mesmos nossas supostas necessidades —
como o diabo sugere a Jesus —, quando a espera do tempo de Deus, nos
aparece insustentável.”
A Igreja, neste primeiro domingo da Quaresma, inicia dentro
do itinerário catecumenal, o tempo da purificação e iluminação,
com o “Rito de Eleição”? dos catecúmenos, no qual a Igreja admite
baseada na eleição de Deus, em cujo nome ela age, aqueles que vão
celebrar os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã na noite da Vigília
Pascal.” Assim, o catecumenato, como “um espaço de tempo em que
os candidatos recebem formação e exercitam-se praticamente na vida
cristã”,/ imprime e marca toda a Quaresma, de forma que, mesmo para
os já batizados, ela apresenta-se como uma oportunidade de renovação
do caminho do discipulado e um itinerário de escuta da Palavra de Deus.

19 BORTOLINI]J. op. cit., p. 57.


20 Missal Romano. Oração do dia do Primeiro Domingo da Quaresma, p. 181.
21 Missal Romano. Oração depois da Comunhão do Primeiro Domingo da Quaresma, p. 182.
22 Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 133-151.
23 Ibidem, introdução, n. 22.
24 Ibidem, introdução, n. 19.
2º DOMINGO DA QUARESMA
12 de março de 2017
JESUS É O FILHO AMADO DE DEUS!

Leituras: Gn 12,1-4a
SI 32(33),4-5.18-19.20.22 (R/ 22)
2Tm 1,8b-10
Mt 17,1-9

Situando-nos
Neste segundo domingo da Quaresma, somos convidados a subir
a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para contemplarmos o
mistério da glória de sua transfiguração. Por instantes, a eles é revelado
que Jesus glorificado é o salvador esperado e que transformará nossa
condição humana em realidade glorificada.
À visão da transfiguração de Cristo, através da voz que vem do
alto, nos revela: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada.
Escutem o que Ele diz”. É a sua acolhida e escuta que nos dará forças
no discernimento das ações que edificam o mundo segundo o projeto
do Pai. À Palavra de Deus, nesse dia, nos desvela o grandioso plano
salvador de Deus.
À Palavra de Deus deste domingo nos oferece uma mensagem
convergente, que abre para os olhos da nossa fé o sentido profundo do
caminho quaresmal e da grande celebração da Páscoa, que já se deixa
vislumbrar de longe. À Páscoa é o evento central da história de amor
em que Deus transfigura e renova a existência e toda pessoa. Jesus
passando através da paixão, morte e ressurreição, primeiro cumpre em
si mesmo esta “transfiguração radical”.
Cada ano e cada dia, o cristão é chamado a interiorizar o caminho
de transfiguração de si mesmo junto com Jesus, até deixar-se conformar
plenamente a ele. Pois Jesus nos revela, mediante a transfiguração, a
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

plena realização daquilo que o Pai planejou para o ser humano. Escutar
o Filho amado é, na Quaresma, criar espaço para que o clamor de
tantos seres humanos e da obra da criação, seja atendido. Na celebração
comunitária prestemos atenção ao convite: “Escutem o que meu Filho
amado diz”, e aprendamos a nos solidarizar com os sofredores, a fim
de que a Boa-Nova do Reino fermente um novo céu e uma nova terra.

Recordando a Palavra
Ás três leituras destacam que a iniciativa no processo de transfi-
guração e de renovação é fruto da livre e gratuita escolha e do chamado
de Deus. Não é resultado dos nossos esforços. Somos filhos e filhas da
graça do Pai!
Deus, por livre escolha de amor, chama Abraão e lhe pede que
abandone sua família e sua terra. Revela-lhe que será abençoado
e fecundo, sinal de esperança para todos os povos. Abraão acolhe o
chamado de Deus. Inicia a caminhada na fé que o faz “pai de todos
os que acreditam no Senhor e se entregam a Ele” (Rm 4,11). Abraão,
passando do abandono das suas raízes vitais para a fecundidade que
vem de Deus, vive primeiro a “páscoa” de morte de si mesmo e de
adesão a Deus. Experiência que cada um de nós, na Quaresma, é
chamado a viver para aderir a Cristo (Gn 12,1-4).
O Salmo responsorial
P (Sl 32/33), , destaca a confiança que, com
ça que,
Abraão, ,
somos chamados a pôr na fidelidade de Deus. Nele estão
nossa força e nossa paz. “No Senhor nós esperamos confiantes, porque
ele é nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!”

Paulo lembra a Timóteo (2 Tm 1,8b-10), que Deus nos chamou


à salvação e à santidade, não por nossos méritos, mas por sua livre
e gratuita escolha, manifestada em Cristo. É Deus que, na sua
liberdade e condescendência, escolhe e chama as pessoas para fazê-las
seus parceiros na aventura da história. É ele que inicia e permanece
o primeiro protagonista do caminho de renovação pascal em que o
cristão entrou, por graça, por meio do Batismo.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma

No Evangelho (Mt 17,1-9), Jesus, por livre escolha de amor, chama


os apóstolos Pedro, Tiago e João. Sobe com eles a uma alta montanha,
para que se tornem testemunhas da sua realidade de messias sofredor e
glorioso, que haverá de transformar o mundo através do amor crucifi-
cado. Jesus antecipa, assim, diante dos discípulos a sua Páscoa. Eles
são introduzidos no mistério de Jesus, e são iniciados no caminho que
não será diferente da sorte do mestre.
Mateus ressalta que Jesus atua como o “novo Moisés”. Moisés
guiou o povo de Israel rumo à terra prometida e mediou a aliança
entre Deus e o povo. Jesus guia o novo povo de Deus, peregrino na
história, para uma relação com Deus mais autêntica na fidelidade e
na liberdade, estabelecendo no sacrifício de si mesmo a aliança nova e
definitiva.
À presença, ao lado de Jesus, de Moisés e de Elias, o legislador e o
primeiro dos profetas de Israel, está a indicar que o Ântigo Testamento
agora encontra seu cumprimento em Jesus morto e ressuscitado.
À voz do Pai proclama Jesus “o Filho amado no qual eu pus todo
o meu agrado”. À ele é preciso “escutar” (Mt 17,5) e seguir. À voz
do Pai confirma a proclamação da condição divina de Jesus feita no
batismo no Jordão (Mt 3,17), e antecipa sua glorificação através da
cruz na ressurreição e a sua vinda gloriosa no fim dos tempos. Jesus é o
primeiro a percorrer o caminho que todos os discípulos são chamados
a percorrer. À narração de sua transfiguração nos faz vislumbrar a
meta para a qual nos está conduzindo o caminho da Quaresma.

Atualizando a Palavra
O evento da transfiguração se encontra no centro da vicissitude
humana e messiânica de Jesus, quase síntese do dinamismo do seu
mistério pascal. Define a sua identidade de filho amado do Pai e de
Messias sofredor, solidário com a condição humana, que derrama a vida
nova na ressurreição. Nesta maneira indica e abre também para nós o
caminho a seguir. Para o discípulo não se dá um caminho diferente
daquele do mestre, seja no desafio da fé, seja na partilha da glória.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

A Igreja se põe diante de Jesus transfigurado na atitude de adoração


e de temor, como os três discípulos, e nos convida a permanecer
nesta mesma atitude desde o início do caminho quaresmal, que nos
conduzirá a entrar mais profundamente, junto com o próprio Jesus, na
graça da nossa transfiguração pascal. Este processo de transfiguração
nos acompanhará até a morte, alimentado pela dupla mesa da Palavra
e da Eucaristia, pela oração confiante e a purificação do nosso coração,
e pela esperança suscitada pelo Espírito Santo.
São Leão Magno observa que a principal finalidade da transfi-
guração era afastar dos discípulos o escândalo da cruz: “Segundo
um desígnio não menos previdente, dava-se um fundamento sólido à
esperança da santa Igreja, de modo que todo o corpo de Cristo pudesse
conhecer a transfiguração com que ele também seria enriquecido, e
os seus membros pudessem contar com a promessa da participação
naquela glória que primeiro resplandecera na cabeça”.?
O convite de Jesus aos discípulos a levantarem-se, a tomarem
novamente o caminho da vida sem medo — embora não consigam ainda
entender — e a guardarem em silêncio no próprio coração a excepcional
experiência, sublinha a fragilidade humana escolhida por Deus como
hábito cotidiano para si e pelos seus.
É a exigência do silêncio adorante diante do mistério de Deus, que
penetra nossas vidas, e nos doa uma capacitação de ver, de julgar e de
escolher, diferente da mentalidade comum. O que nos é doado por graça
é inexprimível, fruto de sabedoria divina, e loucura para o mundo. “O
Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está
aqui”, ou “Está ali”, porque o Reino de Deus está entre vós” (Lc 17,20-21).
Pelo contrário, ao viver na mentalidade da imagem e da aparência,
muitas vezes temos urgência para que o que apenas iniciamos a
descobrir ou a operar pela graça de Deus, alcance logo seu cumpri-
mento. Temos pressa de fazer que “todo mundo veja” o que estamos
fazendo. Essa inquietação, é verdadeiro desejo de crescer no Senhor e
autêntico zelo apostólico? Deixemos a Palavra de Jesus e esta pergunta
descer na nossa consciência!

25 Sermão 51, 3; LH, Segundo Domingo da Quaresma.


Roteiros Homiléticos para a Quaresma

Os tempos de Deus não são os tempos dos homens. A inquie-


tação dos homens para esclarecer o que acontece, dominar, possuir,
acaba por empurrá-lo a queimar as etapas, a acelerar os tempos. As
irrupções de Deus, porém, na vida de Abraão, de Moisés, de Elias, de
Jesus, de Maria, surpreendem com suas novidades, abrem gestações
que amadurecem segundo tempos e passagens escolhidos pelo próprio
Deus, até chegar à plena entrega na liberdade do amor.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À antífona de entrada da missa exprime esta tensão que marca o
coração de cada pessoa, consciente ou inconscientemente à procura do
sentido profundo da vida, através da fé ou através de outras formas de
busca espiritual. “Meu coração se lembra de ti: “Buscai minha face”.
Tua face, Senhor, eu busco. Não me escondas teu rosto!” (51 27/26,8-9).
Esta antífona dá o tom profundo da celebração do domingo e de toda a
Quaresma. O canto de entrada hoje deve valorizar esta tensão interior
que caracteriza a liturgia e o caminho espiritual cristão.
Igual anseio constitui a alma central da invocação da Igreja, na
Oração do dia: “O Deus, que nos mandastes ouvir o vosso Filho
amado, alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que, purifi-
cado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória”.
A atitude de escuta é constitutiva da vida do cristão, enquanto
“discípulo de Jesus”, Palavra vivente que o Pai nos convida a escutar
e seguir: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!”. O cuidado de
aplicar-se com abertura de coração e perseverança deve ser elemento
ainda mais fundamental no tempo da Quaresma.
À celebração eucarística é encontro de irmãos que caminham pela fé, a
exemplo de Abraão, para a posse das promessas de Deus. Essas promessas
cumpriram-se em Jesus, Messias, Servo, Profeta e Filho amado do Pai.
Com o apóstolo, cantemos a nossa esperança: “Todos nós, porém,
com o rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor e, segundo esta
imagem, somos transformados, de glória em glória, pelo Espírito do
Senhor” (2Cor 3,18).

26 Missal Romano. Oração do dia do Segundo Domingo da Quaresma, p. 188.


3º DOMINGO DA QUARESMA
19 de março de 2017
JESUS CRISTO, ÁGUA VIVA QUE SACIA TODA A SEDE!

Leituras: Ex 17,3-/
SI 94(95),1-2.6-7.8-9
Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

Situando-nos
No Ano À, a partir do terceiro domingo da Quaresma, a Liturgia
da Palavra assume uma vertente mais claramente batismal, acompa-
nhando passo a passo os catecúmenos a celebrar a iniciação cristã na
grande Vigília Pascal, e toda comunidade a redescobrir e renovar a
graça da própria iniciação.
À partir do terceiro domingo, as leituras, e em particular os textos
do Evangelho iluminam os vários aspectos do processo interior que a
participação à Páscoa de Jesus, através da iniciação cristã, ativa em nós.
No diálogo com a mulher de Samaria, Jesus revela a si mesmo
como a água viva que alimenta a existência da pessoa, e desvela que
a nascente desta água perene se encontra dentro do poço profundo e
obscuro da mesma, pela presença e a energia vital do seu Espírito.
A Quaresma, com o dinamismo interior que se exprime na estrutura
ritual, constitui um precioso itinerário espiritual. As celebrações dos
domingos, com a sucessão das características próprias, desenvolvem
uma pedagogia espiritual capaz de sustentar o crescimento pessoal de
cada um, e o caminho de toda comunidade do povo de Deus.
Na celebração memorial da morte e ressurreição de Cristo,
unamo-nos a todos aqueles que, sensíveis “aos gemidos da criação
(Rm 8,19-22) (retratada nos biomas brasileiros) especialmente das
fontes de água, empenham-se solidariamente no cuidado da vida.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma

Recordando a Palavra
Os textos bíblicos apresentam uma situação de vida na qual cada
um pode facilmente, reconhecer seu próprio caminho. Uma surpreen-
dente pedagogia divina acompanha e estimula o crescimento à plena
libertação de toda humana ilusão.
Israel desconfia das promessas de Deus, diante da aridez do deserto.
Queixa-se da insuportável fadiga, relembra a água e a carne que lhe
garantia o Egito, embora em condição de escravidão. Contudo, o Deus
de Israel, é o Deus que constrói o futuro, não somente do passado; é
o Deus da libertação, não o Deus da escravidão. Ele ordena Moisés a
caminhar em frente, e promete que ele mesmo estará lá, pronto a operar
novas maravilhas. “Passa adiante do povo (...). Toma a tua vara com que
feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo (...).
Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber” (primeira leitura:
Ex 17,5-6). Jesus estará sempre à frente dos discípulos no caminho para
Jerusalém, renovando seu compromisso com a missão recebida do Pai, e
pedindo aos discípulos de “segui-lo”, sem voltar atrás (Lc 9,51-62). Ele
está sempre diante de nós e nos convida a segui-lo.
O Salmo responsorial (81 94/95), constitui a clássica reflexão sobre
a peregrinação de Israel no deserto, marcada por inúmeras oportuni-
dades de experimentar a fidelidade e a potência de Deus e por repetidos
endurecimentos do coração do povo, incapaz de abrir-se às promessas
de Deus. No contexto da Quaresma, o salmo constitui um convite
vigoroso a valorizar este tempo de graça, como tempo rico de novas
oportunidades de conversão e de crescimento na relação com o Senhor.
Na Carta aos Romanos (segunda leitura), Paulo destaca a gratuidade
da iniciativa com a qual Deus estabeleceu conosco uma relação de autêntica
renovação, em Cristo Jesus, derramando nos nossos corações seu Espírito,
princípio de vida nova, fundamento da esperança e penhor da plena
participação em sua vida. “Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na
qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. É
a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,2.5).
Jesus, no seu encontro com a mulher samaritana junto do poço
de Jacó (Evangelho), revela a absoluta liberdade com a qual ele se doa
A Povo de Deus a caminho da Páscoa

a todos e a cada pessoa. Ao mesmo tempo, com delicada pedagogia,


ele faz a mulher passar da procura de solução insuficiente às exigên-
cias mais elementares da vida, como a água, para a atenção aos mais
profundos anseios de verdade, de beleza e de vida, que estão no seu
coração, escondidos dela mesma.
O próprio Jesus se faz mendicante e companheiro de procura.
“Dá-me de beber”. O gesto de proximidade guia a mulher a descer nas
profundidades do poço que se encontra nas entranhas da sua própria
experiência. “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede:
Dá-me de beber”, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”
(Jo 4,10). Ela, com surpresa, descobre que o sedento estrangeiro está,
de fato, lhe oferecendo uma água que não se pode recolher dentro do
balde, sim no seu coração. “Mas quem beber da água que eu lhe darei,
esse nunca mais terá sede. (...) Senhor, dá-me dessa água..” (Jo 4,14-15).
Tal invocação recebe, em resposta, a abertura de uma perspectiva
ainda mais inesperada: participar do novo culto a Deus em Espírito
e verdade, superando toda divisão e redução aos critérios religiosos
humanos: “Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jo 4,23).
Os discípulos serão conduzidos a percorrer um caminho de
abertura e conversão aos critérios de Deus, parecido com o caminho
feito pela mulher de Samaria. Com o estranhamento ao encontrar
Jesus falando com a mulher estrangeira, porém solicitam que o mestre
coma algo depois da fadiga da viagem, eles são conduzidos por Jesus
a mudar de horizonte: “Eu tenho um alimento para comer que vós
não conheceis. (...) O meu alimento é fazer a vontade daquele que me
enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,32.34).
Esta mudança de horizonte, constitui a passagem/Páscoa que os
discípulos terão dificuldade a cumprir em si mesmos, até que o Espírito
converterá o coração deles, e o próprio Jesus abrirá sua mente depois
da ressurreição. Os discípulos, iluminados e fortalecidos pelo Espírito,
conseguirão dar testemunho de Jesus, somente depois da Páscoa.
À mulher samaritana, ao contrário, parece mais disponível a
deixar-se guiar pela novidade extraordinária encontrada em Jesus, e inicia
Roteiros Homiléticos para a Quaresma RB

imediatamente a dar testemunho dele. Muitos samaritanos daquela cidade


abraçaram a fé em Jesus, por causa da palavra da mulher que testemunhava:
“Ele me disse tudo o que eu fiz” (Jo 4,39). Ela se torna a “primeira evangeliza-
dora”, antecipando profeticamente o alegre anúncio da ressurreição, dado por
Maria Madalena e pelas mulheres aos discípulos, na madrugada de Páscoa.

Atualizando a Palavra
À sociedade moderna se torna sempre mais secularizada e espiri-
tualmente árida. Para muitas pessoas Deus é o “ausente”. Uma recente
análise sobre a situação da pessoa na sociedade atual, destaca que o
homem contemporâneo, todavia, mesmo no drama de suas situações
existenciais, espera em maneira confusa conhecer e encontrar o Deus
dos viventes e que dá a vida. Ele sente nostalgia da presença de Deus.
Sofre a sede do infinito, embora muitas vezes não consiga dar este
nome à água que está procurando para saciar sua sede.
À nostalgia nasce das desilusões deixadas pelo que foi imaginado
e seguido como “deus”, capaz de satisfazer a sede de sentido da
existência, tão frágil e quase desertificada interiormente. “Em mim
desfalece o meu espírito, meu coração se consome. (...) À ti estendo
minhas mãos, como a terra seca, anseio por ti” (S1 143/142,4.6).
O Batismo mergulha o cristão na nascente da água viva, que
continuará a fecundar a sua inteira existência.
Experiência de plenitude, e ao mesmo tempo urgência de uma sede
insaciável, expressão de uma fé às vezes incipiente, que cresce com o
progresso do amor, e leva consigo a força para perseverar na esperança.
“Ao pedir à samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom
de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do amor”.” A
esperança, ao longo do caminho, não decepciona na sua tensão rumo à
plenitude, pois “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado” (segunda leitura, Rm 5,5).

27 Missal Romano. Prefácio do Terceiro Domingo da Quaresma, p. 197.


Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

Jesus dá testemunho do amor de Deus para com todos os homens e


as mulheres, qualquer que seja a condição deles. Mesmo os “samaritanos”,
os diversos, os problemáticos, os excluídos, segundo as categorias sociais
e religiosas vigentes, são destinatários deste amor divino que “tem sede
e. “ = . 2. ... « »

de todos, e a todos oferece a possibilidade de encontrar a “água que dá


vida”, aquela que no fundo eles estão procurando mesmo em seus desvios.
Ão pedir água à mulher de Samaria, para saciar sua sede, é o próprio
Jesus a se aproximar, partilhando a mesma fraqueza e necessidade dela e de
todo homem e toda mulher. Com seu gesto desperta a consciência dela para
a procura mais profunda que ela traz consigo, e acaba oferecendo à sua fé o
manancial perene do Espírito que brotará dentro dela mesma (Jo 4,13-15).
De maneira especial, aos catecúmenos Jesus é apresentado como fonte de
água vida da qual os “eleitos” devem se aproximar. À água mostra-se nesse
contexto, como veículo de graça e renovação em suas vidas.
“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos,
e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos
meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso
para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).
Esta mesma atitude de Jesus está ao centro dos gestos e da
cotidiana pregação do Papa Francisco, impelindo a Igreja inteira a
assumi-la com os homens e as mulheres do nosso tempo, para que eles
possam encontrar-se com o coração de Jesus. Alguns bem-pensantes
ficam escandalizados, achando que assim se vai enfraquecer a força
das leis da Igreja como acontecia com Jesus.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Na preparação das oferendas para a Eucaristia, há um pequeno
rito quase despercebido pela assembleia, sobretudo no seu significado
simbólico. É o gesto com que o ministro derrama algumas gotas de
água no cálice, misturando-as com o vinho. À água representa nossa
frágil realidade humana que se abre ao Senhor, como no mistério da
encarnação. O vinho e a água misturados, são apresentados ao Senhor,
para que pela força vital da sua Palavra e do Espírito Santo, sejam
transformados no sangue vivo de Cristo que sacia a sede do seu povo.
Pois é a Páscoa do Senhor a nascente perene da água viva.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma B

O salmista, porém, interpreta com esperança o que permanece


ao fundo do coração, e que pode abrir novos caminhos: “A minh'alma
tem sede de Deus, e deseja o Deus vivo. Quando terei a alegria de ver
a face de Deus?” (Sl 42/43,3).
De onde estamos atingindo nossa água: do manancial vital do
Espírito que fica jorrando dentro de nós, ou das “cisternas rasgadas”
que o mundo nos proporciona?
À sede da posse sem medida, a cobiça de desfrutamento dos recursos
ambientais, estão desertificando a vida do homem, as relações entre as
pessoas e os povos, e ameaçando o desenvolvimento sustentável. O que
dizer da água em nosso país? “Grande parte das águas tem sua origem
na Amazônia, sendo recebidas e acumuladas no Cerrado, que funciona
como uma grande 'caixa d'água”. Daí as águas são redistribuídas pelo
território nacional, confirmando assim a grande importância deste
bioma no ciclo das águas, com sua consequente preservação. Como
podemos perceber, o Rio São Francisco recebe suas águas, quase em
sua totalidade, do Cerrado e as distribui em outras regiões”.
Se no início do tempo quaresmal a comunidade eclesial acolheu
os catecúmenos com o “rito de eleição”, neste terceiro domingo da
Quaresma lhes são proporcionados o primeiro escrutínio,? ? com a
finalidade de “purificar os espíritos e os corações, fortalecer contra
as tentações, orientar os propósitos e estimular as vontades, para que
os catecúmenos se unam mais estreitamente a Cristo e reavivam seu
desejo de amar a Deus”.
Com o primeiro escrutínio, a figura da samaritana que no poço
se encontra com o Cristo, e no diálogo com ele, toma consciência de
estar no pecado, e o acolhe. À samaritana, assim, muda de direção e
torna-se apóstola. Assim, também, o Espírito de Jesus é invocado sobre
os eleitos ordenados ao novo culto de que já começaram a participar
pela fé, para transformá-los em templos vivos, onde se presta ao Pai, o
verdadeiro culto espiritual.

28 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 94.
29 Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 160-166.
30 Ibidem, n. 154.
4º DOMINGO DA QUARESMA
26 de março de 2017
“EU SOU A tUZ DO MUNDO!

Leituras: Sm 1b.6-7.10-13a
SI 23(24)
Ef 5,8-14
Jo 9,1-41

Situando-nos
“Alegra-te, Jerusalém!”?. Com o nome derivado da primeira palavra
latina da antífona de Entrada, este quarto domingo da Quaresma, é
conhecido como o “Domingo Laetare”, dia de alegria e de luz que antecipa
a grande alegria da Páscoa. “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos
que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a
abundância de suas consolações” (Antífona de Entrada — Is 66,10-11).
A comunidade se alegra pela proximidade da Páscoa da Ressur-
reição de Cristo. É bom que nos alegremos nesta certeza. Fomos salvos
pela ressurreição de Cristo e esta celebração festiva anual está próxima.
Nós cristãos nos alegramos, porque Cristo nos salvou pela doação de
sua vida.
Reunidos em comunidade, fazemos memória do gesto de Jesus
que abre os olhos do cego e o faz passar das trevas à luz. Curando
o cego de nascença, Ele se revela como “luz do mundo”. Nós pelo
Batismo, também nos tornamos luz do mundo com Cristo.
À liturgia deste domingo faz-nos percorrer um verdadeiro
caminho batismal. Leva-nos a mergulhar em nossa própria escuridão,
para podermos perceber a claridade da luz que nos vem de Jesus que
venceu as trevas do pecado.
Imploremos, nesta celebração, que o Senhor nos cure de todas as
nossas cegueiras, que nos tire da sonolência da noite, que nos levante
Roteiros Homiléticos para a Quaresma

do meio dos mortos para que possamos ver a claridade de Cristo.


Deixemo-nos curar por Cristo, que pode nos doar a luz de Deus.
Assim, curados de nossas cegueiras e miopias, nos disponhamos cada
vez mais para o mistério de Deus.

Recordando a Palavra
“Irmãos: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei
como filhos da luz” (segunda leitura — Ef 5,8). O apóstolo destaca que,
com o Batismo não só gozamos da luz do Senhor para conduzir uma
vida certa, mas também, em força desta relação vital para com ele,
“somos luz” no Senhor, participamos do seu ser, da sua vida. Desta
participação nasce a possibilidade e o chamado a viver como “filhos da
luz”, isto é, a atuar e agir com seu mesmo estilo.
Viver como filhos da luz, significa viver segundo o Espírito filial
e os critérios de avaliação da vida que correspondem à energia vital e
a sabedoria do Espírito Santo. À situação da vida é, por sua natureza,
sempre ambígua. Precisamos da luz interior para discernir o que vale
de verdade, e o que tem somente a aparência. “Discerni o que agrada
ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada;
antes, desmascarai-as” (Ef 5,10-11).
O espírito da Quaresma nos convida a passar das aparências para
a verdade profunda, em relação a nós mesmos, e na relação com o
Senhor, bem como para com os irmãos. Esta passagem interior para
a autenticidade é a Páscoa a viver cada dia mais, como diz a própria
palavra “páscoa”.
O Salmo responsorial (Sl 22/23), conhecido como o Salmo do
Bom Pastor, destaca como o caminho para a Páscoa feita vida é um
longo caminho. Encontra desafios e riscos, mas o próprio Senhor
cuida de nós, nos orienta, nos alimenta, nos sustenta nos seus braços,
nos momentos de cansaço e de perigo. “O Senhor é o pastor que me
conduz; não me falta coisa alguma. (...) Mesmo que eu passe pelo vale
tenebroso, nenhum mal eu temerei. (...) Na casa do Senhor, habitarei
pelos tempos infinitos” (Sl 22/23).
a Povo de Deus a caminho da Páscoa

Nas homilias mistagógicas dos Padres da Igreja, bem como nas


imagens que ornavam as paredes das igrejas antigas, a cena de Jesus
que cura o cego de nascença (Evangelho), ocupava um lugar central.
No pano de fundo da narração evangélica, é fácil vislumbrar o
caminho que na Igreja faz o catecúmeno, para chegar a celebrar, no
Batismo, aquele encontro pessoal com Jesus, que muda seu coração
e lhe dá uma luz interior que ilumina, de maneira radicalmente
nova, a vida. É conveniente que, durante a Quaresma, a comuni-
dade acompanhe com muita atenção, seguindo as etapas indicadas
pelo Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA), os adultos que
eventualmente se preparam para celebrar o Batismo na Vigília Pascal.
Esta atenção pastoral para os catecúmenos adultos, pode ser
facilmente valorizada para animar também as famílias das crianças
que, na mesma noite, vão celebrar o Batismo.
No relato encontramos dois processos interiores que vão em sentido
contrário. O cego passa através de um caminho de iluminação interior
que o conduz a penetrar sempre mais profundamente o mistério de
Jesus e sua relação pessoal com ele. Ao contrário, as autoridades se
envolvem em uma progressiva cegueira. Não querem reconhecer a
manifestação de Deus em Jesus. À aceitação ou a recusa de Jesus se
torna critério autêntico para avaliar as obras de cada pessoa e da sua
real escolha entre a luz e as trevas.
O oposto dinamismo, que encontramos na relação do cego e das autori-
dades judaicas com Jesus, se torna um critério permanente para avaliar a
relação de cada um com Jesus. Na minha vida de cristão(ã), Jesus ocupa
verdadeiramente o centro e se torna critério para orientar minhas escolhas
cotidianas? Ou me deixo determinar pelo costume e a conveniência social,
por critérios de aparência, orgulho, até mesmo de medo?

Atualizando a Palavra
Nas catequeses dos Padres da Igreja, o Batismo era indicado como
“iluminação”, e aqueles que tinham recebido o Batismo, eram chamados
de “iluminados”. Ainda hoje um significativo rito complementar da
Roteiros Homiléticos para a Quaresma E

celebração do Batismo, põe em evidência sua dimensão iluminadora,


que abre o caminho para seguir a Jesus e partilhar seus critérios de
julgamento, que não olham as aparências enganadoras, mas a verdade
profunda das coisas e das pessoas.
É a entrega da vela batismal, acesa no Círio Pascal e entregue ao
batizado adulto ou aos pais e padrinhos da criança, com as palavras:
“Recebe a luz de Cristo. Caminha sempre como filho da luz, para
que perseverando na fé, possas ir ao encontro do Senhor com todos os
santos no reino celeste”!

À luz/vida recebida no Batismo é uma potencialidade divina a


desenvolver. É preciso deixar-se guiar pela luz interior do Espírito,
procurando viver coerentemente segundo os impulsos interiores do
mesmo. Ele conduz a um estilo de vida no qual se manifesta e resplan-
dece a luz do mesmo Cristo. “Vívei como filhos da luz. E o fruto
da luz chama-se: bondade, justiça, verdade. Discerni o que agrada ao
Senhor. Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada;
antes desmascarai-as. (...) Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre
os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5,8-11;14).
Na linha da conformação progressiva a Cristo, realizada pela sua
luz transformadora, o caminho do discípulo, ao longo da vida, se torna
um duro combate espiritual entre a luz de Cristo e as trevas do mundo
que em nós habitam e nos circundam, e que tendem a nos ocupar
novamente. É preciso fortalecer-se do poder de Deus e revestir-se
da armadura do Espírito e de todos seus instrumentos (Ef 6,10-17).
Aos catecúmenos, o Evangelho convida a entrar no Reino da Luz,
rejeitando todo o pecado, recordando aos eleitos que também eles
serão iluminados pela graça batismal.
Desde o início, a sorte do Verbo, que é a vida e a luz, é a de
brilhar nas trevas, de encontrar oposição, mas as trevas não conseguem
apreendê-la. Pois ela é a verdadeira luz que ilumina todo homem ao vir
ao mundo (Jo 1,4-5; 9).

31 Ibidem, n. 265.
Oo Povo de Deus a caminho da Páscoa

Jesus proclama: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não


caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Mas a luz
encontra sempre oposição.
À saída de Judas da sala da última ceia de Jesus com os discípulos,
marca o cume da prepotência das trevas: “Depois do pedaço de pão,
Satanás entrou em Judas. (...) Depois de receber o pedaço de pão,
Judas saiu imediatamente. Era noite” (Jo 13,27.30). Mas a entrega
aos inimigos em plena liberdade por parte de Jesus, se torna a raiz
da liberdade dos discípulos frente à violência das trevas ao longo da
história.
Jesus afirma que também os discípulos, na medida em que
se deixam envolver na sua experiência de total dedicação ao Pai, se
tornarão eles mesmos luz irradiante da luz de Cristo para o mundo:
iluminados e iluminadores. “Vós sois a luz do mundo. Uma cidade
construída sobre a montanha não fica escondida” (Mt 5,14).
Como Jesus, também os discípulos, exatamente por causa do
contraste com o mundo, são destinados a enfrentar oposição e
perseguição: “O servo não é maior que seu senhor. Se me perseguiram
a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a minha palavra,
também guardarão a vossa” (Jo 15,20).
À crônica dos nossos dias confirma infelizmente esta palavra de
Jesus. Quantos cristãos e cristãs estão pagando um preço muito alto a
motivo da sua fidelidade a Cristo? Mas as feridas deles se tornam luz
que sustentam também nossa fé e nossa esperança.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À Eucaristia atualiza o evento pascal, em seu dinamismo transfor-
mador pelo Espírito derramado por Cristo, e recebido na sua palavra e
no seu corpo e sangue.
Iluminada por esta fé, a Igreja, depois da comunhão, experiência
de encontro com cristo luz, reza: “O Deus, luz de todo homem que
vem a este mundo, iluminai nossos corações com o esplendor da vossa
Roteiros Homiléticos para a Quaresma Bm

graça, para pensarmos sempre o que vos agrada e amar-vos de todo o


coração”?
O encontro com Cristo, pela fé e o Batismo, na Eucaristia é
aprofundado e atualizado, cada vez mais, e instaura um dinamismo de
iluminação e transformação progressiva, que nos conduz a “pensarmos
sempre o que vos agrada”,** como acontece em toda autêntica relação
entre as pessoas que se amam. O coração se torna sempre mais
unificado no Senhor. O mandamento do Senhor: “Amarás o Senhor,
teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o
teu entendimento” (Mt 22,37), não é mais um dever ou uma fadiga,
mas uma verdadeira alegria, livre de todo medo e de toda conveniência
religiosa, como se convém a filhos e filhas.
O Prefácio de hoje proclama o louvor ao Pai, estruturando as
razões específicas do seu canto a partir do evento do Evangelho e da
sua relação intrínseca com o Batismo. “Pelo mistério da encarnação,
Jesus conduziu a luz da fé à humanidade que caminhava nas trevas. É
elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os
renascer das águas do Batismo”.
A Eucaristia é luz e força para a nossa vida cotidiana no mundo.
O Batismo é a corrente de água viva que nos conduz à vida na luz que
é Jesus Cristo!
Neste quarto domingo da Quaresma, a liturgia reserva ainda lugar
para o processo catecumenal com realização do segundo escrutínio.**
No segundo escrutínio, tendo o Evangelho de Jesus que restitui a vista
ao cego de nascença se quer revelar ao catecúmeno, que a fé é um dom
de Deus, que recebe aqueles que se mostram receptivos. Assim, a luz
da fé faz o eleito reconhecer e confessar a messianidade de Cristo. O
cristão é iluminado, converte-se em luz, o que implica a séria respon-
sabilidade da Igreja de ser luz do mundo com Cristo.

32 Missal Romano. Oração depois da Comunhão do Quarto Domingo da Quaresma, p. 206.


33 Idem.
34 Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 167-173.
5º DOMINGO DA QUARESMA
2 de abril de 2017
JESUS, RESSURREIÇÃO E VIDA!

Leituras: Ez 37,12-14
SI 129(130)
Rm 8,8-11
Jo 11,45

Situando-nos
Ressuscitar e viver é a mensagem do quinto domingo da Quaresma.
Na caminhada quaresmal de jejum, penitência e de oração, vamos
contemplar hoje a Ressurreição e a Vida.
Este quinto domingo da Quaresma era conhecido pelos antigos
como o “Domingo da Paixão” — resultado pelo acontecimento da
ressurreição de Lázaro. Realidade que suscitou o ódio das autoridades
civis daquele tempo contra Jesus, que assinalava como deveria ser sua
própria ressurreição.
Jesus está a caminho e próximo de Jerusalém. É sua última viagem.
Em Betânia, chama Lázaro à vida, à doação da plenitude da vida. O
próprio Cristo anuncia: “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25),
ligando com a liturgia do quarto domingo: “Eu sou a luz do mundo,
quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da Vida”.
À catequese de Iniciação à Vida Cristã ressalta a sintonia existente
entre estes três últimos domingos da Quaresma. No terceiro domingo
da Quaresma, no acontecimento da Samaritana, falou-se em água viva,
em água que jorra para a vida eterna, e Jesus apresentou-se como quem
é capaz de dar de beber esta água salvadora. No quarto domingo da
Quaresma, Jesus revelou-se como luz do mundo. À água e a luz fazem
crescer, vivificam os seres vivos. Sem água e sem luz, conhecemos a
morte. À partir da água e da luz, Jesus reafirma sua divindade e seu
poder de dar a vida, e a vida plena, que não se acaba.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma FR

Em sintonia com os catecúmenos que se preparam para a


celebração dos sacramentos da Iniciação à Vida Cristã na Vigília
Pascal, renovemos em nós a experiência cristã de morte e ressurreição.

Recordando a Palavra
O profeta Ezequiel, na primeira leitura, deixa vislumbrar que o
processo de ressurreição atuando no presente, por impulso do Espírito
de Deus, não somente toca os indivíduos, mas atinge o inteiro povo e
a sua triste história, destinada a uma luminosa renovação. O povo de
Israel está sepultado como morto na experiência do exílio, desarraigado
da sua terra, despojado da sua cultura e da sua liberdade civil e religiosa,
oprimido pela convicção de estar sofrendo pela punição do Senhor,
motivada por ter abandonado a aliança. O profeta anuncia que, além
de toda expectativa razoável, o Senhor vai tirá-lo da trágica situação
histórica, dando-lhe uma nova inesperada oportunidade de vida.
A volta para a terra dos pais, a recuperação da liberdade política e
a restauração do culto no templo reconstruído, são acompanhados por
uma ressurreição ainda mais radical: a renovação interior, realizada
pela efusão do seu Espírito na consciência deles. “Ó meu povo, vou
abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; (...)
Porei em vós o meu espírito, para que vivais (...). Então sabereis que eu,
o Senhor, digo e faço” (Ez 37,12-14).
Esta fé e esta experiência nos fazem cantar com o salmista: “Das
profundezas eu clamo a vós, Senhor, escutai a minha voz! Vossos ouvidos
estejam bem atentos ao clamor da minha prece! No Senhor ponho a
minha esperança, espero em sua palavra. À minh'alma espera no Senhor
mais que o vigia pela aurora” (Salmo Responsorial — 81 129/130).
O Espírito é o novo impulso vital que impele os discípulos de Jesus
a viverem, de fato, como já partícipes da energia divina da sua ressur-
reição. Homens e mulheres, embora atravessados ainda pelas dores do
parto da nova criação, são animados pela esperança do seu cumprimento
e, na totalidade da sua experiência humana aqui indicada com o termo
“corpo”, guardam já o fermento da ressurreição futura e definitiva.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

Quem fica atuando assim vive segundo o Espírito do Senhor


ressuscitado. O Espírito habita nele e lhe faz experimentar uma
profunda relação pessoal com Cristo, superando o “impulso instin-
tivo” a afirmar si mesmo, que o apóstolo chama de “carne” (segunda
leitura, Rm 8,9).
O Evangelista João, neste quinto domingo da Quaresma, relata
a ação de Jesus que devolve a vida a Lázaro. O pano de fundo é a
comunidade dos discípulos angustiados perante a perspectiva da morte.
Ainda não se deram conta da força messiânica de Jesus, por estarem
apegados aos velhos esquemas. À preocupação com a morte demonstra
a fraqueza da fé dos que não compreenderam ainda a qualidade de vida
que Jesus comunica.”
Os primeiros versículos da narrativa de João apresentam os
personagens (Lázaro, Marta e Maria), a localidade onde vivem e a
condição de enfermidade de Lázaro (v. 1-2). Marta e Maria informam
a Jesus que seu amigo está doente. Ele demora e comenta: “Esta doença
não leva à morte, ela serve para a glória de Deus, para que o Filho
de Deus seja glorificado por ela” (v. 4). Alguns dias mais tarde, Jesus
decide ir à Judeia. Os discípulos, querendo protegê-lo, opôem-se com
medo dos judeus. O Mestre censura o medo dos discípulos, em uma
clara demonstração de que, enquanto a “hora” não chegar, ele precisa
realizar as obras do Pai, sem temer os perigos (v. 7-10). Jesus recebe a
informação da morte do amigo Lázaro e convida os discípulos para
irem com ele até Betânia. “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou
acordá-lo” (v. 11). Despertar Lázaro será um gesto revelador da força
dos desígnios do Pai. Jesus fala de Lázaro como se estivesse vivo. Tomé
reage em tom pessimista: “Vamos nós também para morrermos com
ele” (v. 16). Jesus e os discípulos chegam a Betânia e recebem a notícia
que Lázaro já estava há quatro dias no túmulo (v. 17). Judeus numerosos
estava ali, solidários, para oferecer consolo às irmãs. Jesus chega para
despertar o amigo Lázaro e depara-se com a reação de Marta. Ele será
o verdadeiro consolador (v. 18-20). Marta sai ao encontro de Jesus e

35 MATEOS]J.; BARRETO J. O Evangelho de São João, p. 462-465.


Roteiros Homiléticos para a Quaresma BH

estabelecem um diálogo sobre morte, vida e ressurreição, culminando


na profissão de fé: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o
Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (v. 27). É a essa
profissão de fé que o evangelista projeta conduzir os ouvintes. É perfeita
profissão cristã. Jesus também se encontra com Maria, expressão da
comunidade sofrida e sem esperança (v. 28-32). Ante a comoção dos
presentes, Jesus contém-se, não compactua com o pranto desolador de
uma morte sem esperança. Marta e Maria conduzem Jesus ao túmulo e
ali ele chora serenamente, demonstrando o carinho pessoal pelo amigo
depositado no túmulo. Revela-se solidário com a dor, não, porém, com
a desesperança. Junto ao túmulo, ordena que tirem a pedra. Ante a
reação de Marta, para quem a morte é o fim, Jesus reage: “Não te disse
que, se creres, verás a glória de Deus?” (v. 40). Em um grito que brota
da ação de graças, Jesus ordena: “Lázaro, vem para fora!” (v. 43). Os
destinatários desta ação são os presentes: “para que acreditem que tu
me enviastes”. O que estava morto sai do túmulo, ostentando todos os
atributos de morte, mas ele próprio sai, porque está vivo.*º Jesus não
devolve Lázaro à comunidade, deixa-o partir, livre (v. 41-44)! Muitos
acreditaram nele. Em meia às trevas da incredulidade e da desespe-
rança, Jesus faz brilhar o sol da esperança. À morte não detém a última
palavra. Jesus é a ressurreição e a vida (Evangelho).

Atualizando a Palavra
Na atitude de Jesus para com Marta e Maria, e na pedagogia
que ele usa para com os discípulos e com o povo, somos convidados
a reconhecer a constante pedagogia com a qual Deus acompanha o
caminho pessoal de cada um, e o orienta a crescer na fé e na liberdade
do amor. “Senhor, se tivesses estado aqui...” (Jo 11,32). Quantas de
nossas leituras apressadas dos acontecimentos se refletem nestas
palavras de Marta e de Maria! Quantas de nossas queixas apaixonadas
e doloridas elas interpretam!

36 Ibidem, p. 489.
RH Povo de Deus a caminho da Páscoa

O “silêncio” de Deus, frente às injustiças, aos mal-entendidos, aos


perigos extremos, continua fazendo parte do drama e das esperanças
do homem e da mulher de todos os tempos. Razão de escândalo e de
possível ressurreição, de rebelião e de passagem do nível humano ao da
misteriosa sabedoria de Deus.
É preciso lembrar que a narração da morte e da ressurreição de
Lázaro, introduz diretamente na narração da paixão, morte e ressur-
reição de Jesus. O próprio Jesus vive o grande silêncio de Deus no horto
das oliveiras e na cruz, e encontrará resposta somente na misteriosa
remoção da pedra do sepulcro, no terceiro dia. Nas últimas palavras de
entrega confiante ao Pai, pronunciadas na cruz, ele abraça todos nós, e
nos entrega à espera da ressurreição junto com ele: “Pai, em tuas mãos
entrego o meu espírito ” (Lc 23,46).
No dia do Sábado Santo, a Igreja celebra somente a Liturgia das
Horas, jejuando, rezando e meditando em silêncio. É o dia consagrado
à meditação silenciosa do mistério de Jesus “descido à mansão dos
mortos”, extremo limite da experiência humana da morte. Somente na
solene vigília da noite, chegaremos a cantar com renovada fé e alegria
que Jesus venceu a morte e renovou a vida: e junto com ele, também
em nós a sua vida vence nossa morte! Agora, vence a morte do coração,
depois até a morte do nosso corpo!
Ao ver chorar a amiga Maria, Jesus estremece interiormente, fica
profundamente comovido e chora (11,33-34.38). Que estupor e que
consolo suscita este Jesus! Ele é o Verbo de Deus que habita na luz
inacessível do Pai, e ao mesmo tempo, se torna tão próximo a todas as
nossas paixões, sofrimentos e alegrias!
Papa Francisco nos estimula sem cessar, a nos deixarmos envolver
por essas atitudes de misericórdia, compaixão e solidariedade de Jesus,
para com os mais pobres e necessitados, e a assumi-las como estilo de
vida pessoal, sobretudo por parte dos ministros do Evangelho.
Jesus deixa transformar sua compaixão e seu pranto, e o das
amigas Marta e Maria, em um grito de amor que chama os mortos
para reviverem. “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43). Ele fica repetindo
Roteiros Homiléticos para a Quaresma Fa

seu grito animador para cada pessoa. Nosso nome está no seu coração
e vibra no seu grito silencioso.
O encontro com Jesus faz da “ressurreição” uma experiência que
anima já o presente dos que acreditam nele. Experiência que ressoa
como canto cheio de esperança na voz da Igreja: “Nele brilhou para
nós a esperança da feliz ressurreição. (...) Senhor, para os que creem em
vós, a vida não é tirada, mas transformada”.
“Desatai-o e deixai-o caminhar!” (Jo 11,44). Esta é a missão
4,

fundamental que Jesus entrega a seus discípulos de todos os tempos.


Partilhar com Jesus a missão de desamarrar as pessoas dos empeci-
lhos que as impedem de viver e caminhar com as próprias pernas, na
dignidade e na liberdade autêntica dos filhos e das filhas de Deus.
Libertar das correntes do pecado e das injustiças, mesmo quando elas
estão escondidas sob o manto das observâncias religiosas, libertar dos
pesadelos impostos pelos homens, que escravizam ao invés de transmitir
a energia libertadora da Palavra do Senhor. Jesus foi terrivelmente
crítico com os falsos religiosos de todos os tempos (Mt 23,4), que
põem fardos inúteis e pesados sobre os ombros das pessoas, enquanto
pelo contrário seu jugo é leve e fonte de felicidade (Mt 11,29-30).
O Papa Francisco não se cansa de repetir que a Igreja tem necessi-
dade de voltar ao essencial do Evangelho, em sua vida e em seu serviço
de animação espiritual do povo. Não serve transmitir um acervo de
doutrinas desligadas entre si, que não tocam o coração. É preciso
anunciar e fazer experimentar a alegria da ressurreição: “A sua ressur-
reição não é algo do passado; contém uma força de vida que penetrou o
mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o
lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. (...) Cada dia,
no mundo, renasce a beleza, que ressuscita transformada através dos
dramas da história. (...) Esta é a força da ressurreição, e cada evangeli-
zador é um instrumento deste dinamismo”.?*

37 Missal Romano. Prefácio dos Fiéis Defuntos I, p. 462.


38 FRANCISCO. Evangelli Gaudium. Documentos Pontifícios 17. Brasília, Edições CNBB,
2013, n. 276.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa

O Evangelho da ressurreição de Lázaro deve mostrar ainda de


modo especial aos catecúmenos a vida nova em Cristo, a qual os torna
partícipes de sua ressurreição. Com a ressurreição de Lázaro, contem-
plamos o mistério de Cristo, que, além do odor de nossa morte e de
nossa decomposição, é capaz de infundir-nos o sopro vivificante do
Espírito que anuncia a ressurreição definitiva. Lázaro é o personagem
emblemático da humanidade libertada da morte pela vitória da ressur-
reição e que se faz presente, agora nas águas do novo nascimento.
Ser batizado significa possuir o Espírito de Jesus e estar destinado
à ressurreição e à vida plena em Cristo. Assim, é preciso que o eleito
se deixe escrutar a mente e o coração por este Cristo ressuscitado e
ressuscitador.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Com bela e significativa expressão, os Padres da Igreja chamavam
a Eucaristia de “remédio que produz a imortalidade”. Pois ela nos faz
participar à experiência atualizada da morte e da ressurreição de Jesus,
como proclamamos na grande Oração Eucarística: “Anunciamos,
Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde,
Senhor Jesus
p?

Conscientes que se não nos alimentarmos do pão da vida, não


conseguiremos sustentar o caminho da fé, com imensa gratidão acolhemos
o convite de Jesus a participar à mesa da Palavra e da Eucaristia.
Sendo peregrinos rumo à casa do Pai, a Igreja tem um especial
cuidado maternal pelos filhos que mais se aproximam à meta do caminho,
e oferece a eles o corpo vivo de Cristo como “pão de viagem” para a vida
“ “ «oi- . » º

eterna. Por isso, a Eucaristia dada aos que estão gravemente doentes se
chama de “viático”. O exercício deste ministério nas casas particulares
e nos hospitais, constitui um grande exercício de caridade e um grande
anúncio da Páscoa do Senhor para os enfermos e para os familiares.
À consciência da força da ressurreição nos impele a abrir as portas
da vida às surpresas de Deus, e ao “futuro e ao amanhã” de Deus.
Muitas vezes, ao invés, submetidos mais à mentalidade mundana
Roteiros Homiléticos para a Quaresma RB

que aos critérios do Evangelho, ficamos prisioneiros do que achamos


importante no “hoje, no aqui e no agora”, Fracos na fé e na esperança.
A ressurreição de Lázaro é o ponto alto da catequese batismal. A
escuta atenta da Palavra de Jesus conduz as pessoas à profissão de fé
em Jesus-Vida. Assim como fez com Marta, Jesus hoje nos convida a
crescer na fé madura, passando da presença física à adesão à sua pessoa,
pois, se possuímos o Espírito de Jesus, estamos também destinados à
ressurreição e à vida,
Neste sentido, a liturgia do quinto domingo da Quaresma reserva
aos catecúmenos o terceiro escrutínio.” Com o Evangelho de Lázaro,
o eleito é colocado no drama da morte. Aquele que o criou do barro,
que infundiu o alento da vida, o recria em suas mãos, anunciando uma
vida imortal e gloriosa. Com a conclusão do terceiro escrutínio, o eleito
se encontra com esses três personagens e realidades, é orientado a não
buscar a água viva da felicidade fora de Cristo, a não buscar o sentido
de sua vida fora do que é a luz, e a não ter medo da morte, porque
Cristo é a ressurreição e a vida.

39 Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 174-180.


DOMINGO DE RAMOS E DA
PAIXÃO DO SENHOR

9 de abril de 2017
BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR!

Leituras: Mt 21,1-11
Is 50,4-7
S121(22)
Fl 2.6-11
Mt 26,14-27,66

Situando-nos
“Na hora conveniente, reúne-se a assembleia num lugar
apropriado fora da igreja, trazendo os fiéis ramos nas mãos. O
celebrante abençoa os ramos. É proclamado o Evangelho da
entrada de Jesus em Jerusalém. Precedida pela cruz, a assembleia
se dirige em procissão, cantando salmos e hinos de louvor a
Cristo-Rei, para a igreja na qual se celebra a Eucaristia”.
Gesto simples. Aparentemente óbvio e previsto nas normas do
missal para organizar a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão
do Senhor. Na realidade, com a linguagem simbólica própria da
liturgia, este rito nos introduz, de maneira espontânea, no Mistério
Pascal de Cristo, e nos faz vislumbrar nossa participação vital ao
mesmo. O rito, abrindo a celebração do Domingo de Ramos e de toda
a Semana Santa da Páscoa, de fato, marca o seu movimento interior.
O primeiro ato é a proclamação e escuta do Evangelho da entrada
messiânica de Jesus em Jerusalém, cumprimento da aliança de Deus
com seu povo, segundo as profecias dos profetas de Israel. Em resposta,
o povo se põe a caminho, seguindo a cruz do Senhor. Continuará
seguindo Jesus no seu caminho pascal, através de cinco significativos

40 Missal Romano. Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, p. 220.


Roteiros Homiléticos para a Quaresma EB

movimentos ao longo das celebrações da Semana Santa. Estes cinco


movimentos marcam quase que as etapas de todo caminho de fé, que
no itinerário pascal encontra seu modelo.
O primeiro movimento é a procissão dos Ramos atrás da cruz do
Senhor: em Jesus crucificado a assembleia reconhece e proclama o
vencedor da morte e o guia do seu caminho.
O segundo movimento acontece na Sexta-feira Santa, quando, ao
celebrar a Paixão do Senhor, a assembleia desfila em procissão para honrar
e beijar com devoção e amor a cruz que está elevada diante de si: a cruz é
transformada de patíbulo em árvore da vida e trono da glória de Cristo.
O terceiro movimento anima o início da solene Vigília Pascal. A
assembleia se põe a caminho atrás do Círio Pascal, única luz nas trevas da
noite e, ao acender as próprias velas do mesmo Círio, se deixa iluminar
pela luz de Cristo Ressuscitado. É na luz de Cristo que os fiéis aprendem
a enfrentar os desafios da vida e por ela se deixam guiar.
O quarto movimento acontece no cume da Vigília Pascal, quando
a assembleia irá aproximando-se, cheia de alegria e agradecimento, à
mesa do Senhor, juntamente com os neobatizados, que pela primeira
vez vão receber o corpo e o sangue do Senhor.
O quinto movimento acontece quando os neófitos inseridos
como membros vivos do seu mesmo corpo que é a Igreja, visível na
assembleia celebrante, recebem o convite solene e cheio de alegria do
diácono, para sair da celebração, retornando como portadores da luz e da
paz de Cristo, em direção àquela mesma realidade ambígua do mundo,
da qual saíram no início, para mergulhar-se na Páscoa transforma-
dora de Jesus. O movimento interior de adesão a Cristo, iniciado no
Domingo dos Ramos e alimentado pelas várias passagens rituais, dá
lugar ao movimento da vida animada pelo Espírito.
Ássim, o primeiro gesto ritual com o qual, no Domingo de
Ramos, o povo de Deus se reúne para iniciar a celebração da Páscoa
do Senhor, exprime em síntese a totalidade do Mistério Pascal de Cristo e o
profundo envolvimento nele, na fé e no amor, de cada pessoa e da Igreja
inteira. Desde sempre a Igreja é o povo de Deus a caminho, impelido
pelo Espírito, em movimento através das vicissitudes da história, rumo
à plenitude do reino de Deus.
Povo de Deus a caminho da Páscoa
Ho.

Toda comunidade que celebra com fé a Páscoa do Senhor, da catedral


à mais simples capelinha da periferia das grandes cidades, e até a comuni-
dade ribeirinha da Amazônia, vive seu momento forte e profético de povo
de Deus a caminho, gerado de maneira sempre nova pela Páscoa de Jesus.

Recordando a Palavra
As primeiras comunidades cristãs de Jerusalém, movidas pela
devoção e pelo desejo de partilhar de perto, com amor, os passos
de Jesus no seu caminho de paixão e de glorificação, organizaram,
sobretudo a partir do século IV,*! celebrações especiais em cada lugar
onde Jesus tinha vivido seus últimos dias de presença física no meio
dos seus discípulos, dias tão decisivos no plano de Deus e para a nossa
salvação: da entrada de Jesus em Jerusalém e da última ceia no cenáculo
à paixão no horto das Oliveiras, da Morte no Calvário à Sepultura e
Ressurreição no jardim, até a Ascensão na colina perto de Jerusalém.
As celebrações da Semana Santa, porém, não são somente
comovidas maneiras de colocar em cena os trágicos eventos dos últimos
dias de Jesus em Jerusalém. Elas nos proporcionam a graça de nos
mergulhar com fé na sua relação de amor com o Pai e para conosco, o
que nos transforma e salva.
A palavra proclamada e acolhida com fé, não fala ao passado, não
lembram histórias de outrora, ela continua a realizar-se em cada um de
nós pela potência do Espírito.
“Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 21,9). Com esse
refrão acompanhamos a procissão até a porta da igreja. À entrada
messiânica de Jesus em Jerusalém, no júbilo e na alegria (Evangelho
que precede a procissão, Mt 21,1-11), é inseparável da proclamação da
sua Paixão, centro da liturgia eucarística deste domingo (Evangelho
da missa, Mt 26,14 — 27,66).
A leitura do profeta Isaías, que delineia a figura e a missão do
Servo do Senhor sofredor, salvado por Deus e por ele escolhido

41 Vale a pena a leitura do texto da peregrina Etéria, que ao visitar os lugares santos nos legou
em seus diários um quadro sobre a liturgia hirosolimitana do IV século. BECKHAUSER, A.
Peregrinação de Etéria: Liturgia e Catequese em Jerusalém no século IV. Petrópolis: Vozes, s.d.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma

a tornar-se Salvador não somente de Israel, mas de todos os povos


(primeira leitura — Is 50,4-7), destaca a mesma intrínseca conexão
entre sofrimento e salvação.
O apóstolo Paulo proclama a mesma mensagem proclama Paulo, ao
apresentar Cristo como modelo inspirador da nova maneira de viver na
comunidade dos discípulos. A comunidade dos Filipenses, ainda nova na
experiência da fé, vive uma situação de competição e de conflitos entre seus
membros. Paulo oferece a ela a única saída, coerente com o Evangelho que
receberam e que os fez crescer como comunidade de irmãos e irmãs. Paulo
convida os membros da comunidade a voltar às origens, à nascente da vida
cristã: é a relação estabelecida com Jesus no Batismo e seu exemplo. Jesus,
o Verbo de Deus, despiu-se voluntariamente da sua dignidade divina, para
assumir nossa condição humana de extrema humilhação até a morte de
cruz, a morte reservada para os escravos, aos quais a sociedade e a lei
não reconheciam a dignidade de pessoa humana. Pelo paradoxo do amor
do Pai, porém, em razão desta humilhação ele foi glorificado pelo Pai e
constituído Senhor e Salvador de todos (segunda leitura — F1 2,6-11).
À lógica da Páscoa se torna o sangue divino que corre nas veias do corpo
da comunidade, irrigando-a com sua vida. Esta reviravolta nas atitudes
interiores e no estilo das relações recíprocas, passando da competição à
solidariedade, não é fruto do empenho ético do homem, mas da graça de
Deus que orienta em nós a vontade e os comportamentos (F1 2,13).
Aqui emerge a graça da Páscoa que nos renova interiormente e nos
impele a atuar em maneira coerente com o mistério celebrado. Nisto
consiste a verdadeira “participação ativa, consciente, plena e frutuosa”, à qual
temos direto e possibilidade, graças ao nosso Batismo, e que é favorecida
pela estrutura ritual das celebrações, renovada pelo Concílio Vaticano I[.*

Atualizando a Palavra
A força narrativa dos acontecimentos da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus proclamados nas leituras bíblicas, e o intenso

42 CONCÍLIO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium, n. 14.


Ao. Povo de Deus a caminho da Páscoa

envolvimento emocional que as celebrações destes dias conseguem


realizar, mesmo em pessoas que raramente participam nas liturgias, não
devem nos fazer esquecer seu profundo sentido espiritual, e a exigência
de participar às celebrações com intensidade de fé e de amor ao Senhor,
Na celebração litúrgica da Igreja se torna presente e atuante, pela ação
permanente de Cristo e do seu Espírito, o amor infinito do Pai, manifes-
tado no amor sacrifical de Jesus até a morte, e se renova o dom da vida
divina que nos faz viver como filhos e filhas do Pai e irmãos uns dos outros.
Os emocionantes ritos destes dias vão muito além de uma devota
reconstrução cênica da Morte e Ressurreição de Jesus como aconte-
cimentos do passado. Eles nos proporcionam o encontro vivo com
o Cristo vivente. Doam-nos a energia transformadora do seu amor,
fazendo-nos viver desde agora, de antemão, as primícias da sua
plenitude na relação filial com o Pai e na relação fraternal entre nós.
Tendo presente esta perspectiva sacramental das celebrações,
é possível e muito oportuno valorizar em maneira fecunda a grande
riqueza de expressões da religiosidade popular, que foi muito criativa
na capacidade de fazer reviver os acontecimentos pascais, na dimensão
trágica e na de alegria jubilosa que os caracterizam.
Ão nível pastoral, tendo em consideração a possibilidade concreta que
a maioria do povo tem de participar às celebrações da Semana Santa, o
Domingo de Ramos constitui de fato a conclusão da Quaresma e o início
da semana pascal decisiva. Seria por isso conveniente coligar a experiência
do Domingo de Ramos — celebração da realeza messiânica de Jesus na
humildade e no despojamento da cruz, e o chamado dos discípulos a segui-lo
no mesmo caminho — com o caminho espiritual de toda a Quaresma.
Jesus nos precede e abre a estrada da obediência e da fidelidade ao Pai: do
combate vitorioso com o demônio no deserto, até a experiência da ressur-
reição, vislumbrada na ressurreição de Lázaro e realizada plenamente na
sua ressurreição do próprio Jesus que será celebrada no dia de Páscoa.
Fazer próprios os sentimentos de Cristo, como Paulo pede aos
filipenses, para viver a Páscoa de Jesus, superando os impulsos do
egoísmo e da cobiça, exige que aprendamos a nos “despojar do homem
velho e a nos revestir de Cristo ou do homem novo”, como o mesmo
Paulo vai repetindo nas suas cartas.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma

E assim que a narração da Páscoa de Jesus se torna nossa mesma


experiência, nossa Páscoa. À Palavra de Deus continua a “fazer-se
carne” na nossa carne, isso é na nossa vida.
Deixamo-nos guiar neste apaixonado caminho rumo às entranhas
do Senhor, por alguém que viveu profundamente esta experiência.
“Onde podemos encontrar repouso tranquilo e firme segurança
para a nossa fraqueza, a não ser nas chagas do Salvador? (...) Na
verdade vou buscar confiantemente o que me falta nas entranhas
do Senhor, tão cheias de misericórdia que não lhe faltam fendas
por onde se derrame. Perfuraram suas mãos e seus pés e transpas-
saram seu lado com a lança; por essas fendas é-me permitido (..)
provar e ver quão suave é o Senhor... Mas o cravo penetrante
tornou-se para mim a chave que abre para que eu veja a vontade
do Senhor. Clama o cravo, clama a chaga que verdadeiramente
Deus está em Cristo, nele reconciliando o mundo”.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A Páscoa de Jesus realiza a passagem de um mundo para outro. Como
canta o Prefácio deste domingo: “Pelo poder radiante da cruz, vemos com
clareza o julgamento do mundo e a vitória de Jesus crucificado”.
À renovação que contemplamos realizada em Cristo, pedimos possa
tornar-se também experiência de graça para nós: “Concedei-nos aprender o
ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória”. Não podemos
,

esquecer que somos povo de Deus a caminho, “povo santo e pecador, dai
força para construirmos juntos o vosso reino que também é nosso”.*
Ão canto jubiloso do Salmo cantado pela assembleia em procissão,
“Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas
portas, a fim de que o Rei da glória possa entrar” (51 23/24,9 — Procis-
sional), faz eco o grito sofrido e confiante de Jesus na cruz: “Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonastes? (...) Vós, porém, ó meu

43 São Bernardo, Sermão 61, 3-5 sobre o Cântico dos Cânticos, LH Monástica, Segunda Semana da
Quaresma, quarta-feira.
44 Missal Romano. Prefácio da Paixão do Senhor, I, p. 419.
45 Missal Romano. Oração do dia do Domingo de Ramos, p. 230.
46 Missal Romano. Oração Eucarística V, p. 499.
a Povo de Deus a caminho da Páscoa

Senhor, não fiqueis longe, ó minha força, vinde logo em meu socorro!”
(S121/22,1.20 — Responsorial).
O canto do Hosana e de glória e louvor a Cristo, rei e redentor, durante
a jubilosa procissão, se entrelaça com a sóbria meditação sobre o extremo
exemplo de humildade dado por Cristo ao se tornar homem e morrer na
cruz. Foi o caminho pascal de Cristo. É o caminho da Igreja, seu corpo
e sua esposa amada. É o caminho de fé e de amor de todo discípulo e
discípula, através a sua adesão a Cristo. É seguindo ele que nos é doado
penetrar, junto com ele, na intimidade do coração do Pai, como destaca
Mateus ao comentar a morte de Jesus, como início do novo mundo: “E
eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes,
a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos
corpos dos santos falecidos ressuscitaram!” (Mt 27,51-52).
Com a Páscoa de Jesus, caem definitivamente todas as barreiras
que nos separavam de Deus. Às estruturas sagradas, como o templo
de Jerusalém, e todas as estruturas religiosas humanas deram lugar ao
templo vivente, que é o próprio Cristo, morto e ressuscitado, e a vida
de cada um de nós pela nossa união com Ele.
Nossa vida unida a Cristo é a verdadeira oferta que hoje é colocada
sobre o altar, junto com o pão e o vinho, para que não somente o que está
contido na patena e no cálice, mas toda a vida, e até a criação, seja oferecida
ao Senhor e transformada no culto espiritual agradável ao Pai, como
invocamos ao celebrarmos a Eucaristia: “Olhai com bondade, o sacrifício
que destes à vossa Igreja e concedei aos que vamos participar do mesmo
pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo,
nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória”.*”
À liturgia do Domingo da Paixão (de Ramos) nos convida: “vinde,
subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de
Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para
aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa
salvação. Agitando os nossos ramos espirituais, aclamemos a Jesus
todos os dias, proferindo estas santas palavras: Bendito o que vem em
nome do Senhor, o rei de Israel”.*8

47 Missal Romano. Oração Eucarística IV, p. 492.


48 Dos Sermões de Santo André de Creta, Bispo. Domingo da Paixão do Senhor. Ofício das Leituras.

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