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Povo de Deus a
caminho da Páscoa
Ano
3 - Nº [12
CDições CNS?
Povo de Deus a
caminho da Páscoa
12 Edição - 2016
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C748r Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/ Roteiros Homiléticos para a Quaresma. Ano À - São
Mateus. Brasília, Edições CNBB. 2016.
p.56:14x21cm
ISSN: 2359-1935
1. Domingo da Quaresma - Cinzas;
2. Domingo de Ramos — Quaresma;
3. Quaresma - Paixão do Senhor,
CDU: 264-041.1
As citações bíblicas dos textos da celebração são do Lecionário Dominical, À, B, €, Paulinas, Paulus 1994.
Somente as citações que são para reforçar o sentido do texto foram retiradas diretamente da tradução bíblica
da CNBB e assim já citadas.
: Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios :
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO... eee 5
A LITURGIA NO TEMPO DA QUARESMA
Considerações e sugestões gerais............cccesesersesenreseneesenenencenenero 7
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
1º de março de 2017...........ccccccres
erre rerereerrerare rea rrnan erra en enenenena 12
1º DOMINGO DA QUARESMA
5 de março de 2017... ires erere rea renreneareneanenda 19
2º DOMINGO DA QUARESMA
12 de março de 2017 .............ccecccee
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3º DOMINGO DA QUARESMA
19 de março de 2017...............ceccecec
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4º DOMINGO DA QUARESMA
26 de março de 2017.............cecce
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5º DOMINGO DA QUARESMA
2 de abril de 2017............eee
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DOMINGO DE RAMOS E DA
PAIXÃO DO SENHOR
9 de abril de 2017... ren re r ee cereerara ra n 50
APRESENTAÇÃO
A Quaresma é o tempo que nos encaminha para a Páscoa. É tempo
forte de penitência e de mudança de vida, em especial, pela experiência
da misericórdia. “O mistério da misericórdia divina desvenda-se ao
longo da história da aliança firmada entre Deus e o seu povo” (Papa
Francisco). Deus revela-se sempre rico em misericórdia. “Miseri-
córdia eu quero, não sacrifícios” (Mt 9,13). A misericórdia de Deus
transforma o coração do ser humano, o faz experimentar o amor fiel e
o torna, por sua vez, capaz de misericórdia.
“A Quaresma (...) é um tempo de graça e de bênção, marcado pela
escuta atenta da Palavra de Deus; de reconciliação com Deus e com os
irmãos. Tempo de oração, de jejum como disponibilidade, entrega e
docilidade à vontade do Pai, de partilha de bens e de gestos solidários,
- . . . . » 1
de atenção misericordiosa com os pobres e necessitados”.
A Quaresma deste ano de 2017, no ciclo do ano À, tem como
pano de fundo a temática sacramental e batismal, que permite-nos
compreender a realidade da nossa vida de fé: iniciação à vida cristã.
Junto com os catecúmenos de nossas comunidades que se preparam
para a celebração dos sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal,
somos todos convidados a fazer da Quaresma um tempo de renovação
de nossa vida de batizados.
A própria Campanha da Fraternidade constitui uma “iniciação à
fé e à sua prática”. O enfoque da iniciação à vida cristã da Quaresma
ressalta que a conversão e a adesão à vida de fé em Jesus Cristo implica
uma nova atitude diante dos diversos biomas brasileiros. Como
poderemos celebrar a Páscoa e renovar nossa vida cristã, alheios à
realidade da criação que nos cerca, alimenta e sustenta?
Desejamos que o presente Roteiro Homilético da Quaresma,
elaborado pelo Padre Thiago Faccini Paro, alimente a caminhada
rumo às celebrações pascais de nossas comunidades e paróquias. Seja
1 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 14.
ca Povo de Deus a caminho da Páscoa
Leituras: Jl 2,12-18
S150(51),3-4.5-6a.12-13.14 e 17
2Cor 5,20-6,2
Mt 6,1-6.16-18
Situando-nos
Quaresma é o tempo que nos encaminha para a Páscoa. “À liturgia
quaresmal prepara para a celebração do mistério pascal tanto dos catecú-
menos, fazendo-os passar por diversos degraus da iniciação cristã,
como os fiéis que recordam o próprio Batismo e fazem penitência”.
“É um tempo em que fazemos caminho para a Páscoa, motivados pela
Palavra e unidos aos sentimentos de Jesus Cristo, cultivando a oração,
o amor a Deus e a solidariedade fraterna”
A Quaresma como caminhada rumo à celebração pascal, da morte
e ressurreição de Jesus Cristo, é marcada pelo espírito penitencial e de
conversão. Por esta razão, o início da caminhada quaresmal é marcada
pelo rito da imposição das cinzas sobre a cabeça dos fiéis. Um antigo
ritual com o qual os pecadores arrependidos de seus pecados manifes-
tavam seu arrependimento e penitência. O gesto de cobrir-se de cinzas
expressa o reconhecimento da própria condição humana (Lembra-te
que és pó e em pó te hás de tornar), que necessita ser redimida pela
misericórdia de Deus. Longe de ser um gesto meramente exterior, a
Igreja o conservou como símbolo da atitude do coração penitente que
cada pessoa é chamada a assumir no itinerário quaresmal.
Recordando a Palavra
No começo da caminhada quaresmal, Jesus nos dirige sua palavra
convidando-nos a seguir com ele o caminho em direção à Páscoa. Sua
Palavra, que chega até nós pelo Evangelho de Mateus, situa-se no centro
9 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, Objetivo
geral, p. 16.
10 Oração da Campanha da Fraternidade 2017. In CNBB. Campanha da Fraternidade 2017.
Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, p. 135.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa
Atualizando a Palavra
“Deus não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de
pedir perdão!”. Esta afirmação, repetida tantas vezes por parte do Papa
Francisco em suas catequeses ao longo destes meses, acabou escandali-
zando muitas pessoas devotas e pias, e — paradoxo ainda maior! — não
poucas pessoas que não acreditam em Deus e não praticam a religião,
mas veem na ideia de um Deus que “faz justiça” punindo quem infringe
a lei, um baluarte para garantir a boa ordem na sociedade!
15 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 20.
1º DOMINGO DA QUARESMA
5 de março de 2017
EM CRISTO, VENCEREMOS O TENTADOR!
Leituras: Gn 2,7-9.3,1-7
SI 50(51)
Rm 5,12-19
Mt 4,1-11
Situando-nos
O primeiro domingo da Quaresma é tradicionalmente conhecido
como o “domingo das tentações de Jesus”. “Nesse domingo celebramos
a memória daquele que venceu a tentação do acúmulo, prestígio e poder,
e se tornou pão da vida para que todos possam viver. Sua obediência ao
Pai até o fim trouxe para nós a justificação”!
Este primeiro domingo da Quaresma nos coloca diante do
mistério do bem e do mal que nos habita, até as raízes mais profundas
da nossa pessoa, e nos deixa vislumbrar a saída desta contradição:
caída de Adão/Eva frente o tentador no Jardim do Éden (primeira
leitura), e vitória de Cristo que derrota o diabo no deserto (Evangelho),
e antecipa sua vitória final na cruz e ressurreição. Cristo Ressuscitado
é o novo Adão que no jardim da ressurreição, dá início a uma nova
humanidade, à qual nós pertencemos por graça, pelo Batismo que nos
faz participar da sua morte e ressurreição.
Cada Quaresma nos faz realizar em maneira nova e mais profunda
esta passagem da sujeição ao pecado para a vida nova em Cristo,
participando das suas lutas e da sua vitória.
Recordando a Palavra
A narrativa da criação do ser humano proposta pela primeira
leitura (Gn 2,7-9; 3,1-7), com sua linguagem simbólica e altamente
poética, destaca o cuidado carinhoso com o qual Deus chama à
existência a criatura humana, e a torna partícipe da sua mesma vida
e dignidade, e sua parceira no cuidado da beleza e da fecundidade da
criação inteira, que é “um jardim a ser cultivado”. No centro do jardim,
como no centro da existência humana, o Senhor faz brotar a “árvore da
vida “e a “árvore do conhecimento do bem e do mal”? (Gn 2,9).
Vida em abundância e conhecimento na intimidade recíproca,
são os dons com que o Senhor enriquece a existência e a missão de
Adão e Eva. À cena encantadora que apresenta o Senhor “passeando
à brisa da tarde no jardim”, à procura de Adão e Eva para deter-se
em amável conversa para com eles, como com seus íntimos amigos
(Gn 3,8), irradia toda a beleza e o dinamismo da relação que o Senhor
tem estabelecido entre si mesmo e o ser humano, ao criá-lo à sua
imagem e semelhança (Gn 1,26).
O diabo, o inimigo da vida, o atrapalhador que engana o homem
com a ilusão da falsa promessa e perspectiva de tornar-se fonte
totalmente autônoma da vida e do conhecimento, insinua com astúcia
a possibilidade de tornar-se alternativo a Deus: “Vossos olhos se abrirão
e vós sereis como Deus conhecendo o bem e o mal” (Gn 3,5).
De fato, os olhos deles se abrirão, mas irão fazer uma triste
descoberta, a descoberta da própria “nudez”, isso é da radical incapaci-
dade de realizar de verdade a vocação à autentica dignidade e liberdade,
e a missão de construir um mundo capaz de espelhar a beleza divina
(Gn 3,7). À narração do pecado segue-se a promessa e esperança. A
voz do Senhor, à procura dos seus amigos escondidos pela vergonha e
Roteiros Homiléticos para a Quaresma
o sentido de culpa, ressoa no jardim, “Onde estás?” (Gn 3,9). Pode soar
como uma ameaça. Na verdade, ela prepara a promessa de um resgate
da armadilha da serpente enganadora: “Porei inimizade entre tie a
mulher, entre tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3,15).
O Salmo responsorial (Sl 50/51), é o salmo penitencial por
excelência. Resume em si os sentimentos mais profundos do pecado, do
arrependimento, da conversão, da alegria e do agradecimento pela vida
renovada pela misericórdia e o perdão de Deus. Exprime com intensi-
dade a consciência da própria fragilidade e do próprio pecado, e ao
mesmo tempo a confiança extrema no Senhor que pela sua misericórdia
perdoa e tudo renova. “Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos
contra vós!”. O Salmo alimenta o caminho da conversão, a passagem
para a vida nova da Páscoa, através da purificação interior da Quaresma.
Na segunda leitura (Rm 5,12-19), Paulo desenvolve em profundi-
dade a relação que Deus tem estabelecido entre a aventura negativa de
Adão e a resposta de obediência e de amor, realizada por Cristo, “novo
Adão”, início da nova humanidade, redimida por Cristo. O Filho de
Deus assume sobre si nossa condição humana de pecado e, com sua vida
de dedicação filial, e sobretudo com sua Páscoa, revira a situação abrindo
caminho para voltar ao projeto original de Deus e realizá-lo em plenitude.
O Evangelho (Mt 4,1-11). “Naquele tempo, o Espírito conduziu
Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. O “deserto”, lugar da
esterilidade e da provação, contraposto ao “jardim”, lugar da vida e
da comunhão, no qual Deus tinha colocado o ser humano, para que
cuidasse e gozasse da sua beleza e fecundidade.
O deserto, como o jardim do primeiro Éden, não é simples-
mente um lugar geográfico, mas indica a sofrida situação existencial
do homem “desertificada”, como repetia Bento XVI, ao descrever a
condição do homem pós-moderno, fechado em si mesmo e interior-
mente corroído pela pretensão de ser o centro do mundo, sem relação
com Deus e em competição com os outros.”
17 BENTO XVI. Homilia na santa Missa da abertura do Ano Santo da Fé, 11/10/2010.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa
Atualizando a Palavra
O caminho dos discípulos, em todo tempo, é o mesmo de Jesus.
Somente seguindo Jesus, se pode lutar com sucesso contra o egocen-
trismo e a procura de falso sucesso mesmo na vida pessoal e mesmo
no exercício dos ministérios na Igreja, e chegar à intimidade do jardim
da ressurreição. À Quaresma nos indica o caminho certo e as etapas.
O Batismo nos introduziu no caminho do próprio Jesus e nos fez
participar à mesma ação do Espírito que o conduziu e sustentou na
luta com o diabo no deserto e na vitória sobre a morte na ressurreição.
Animados pelo Espírito temos a graça de viver com a liberdade dos
filhos e filhas de Deus. Temos a graça, como diz Paulo, de viver como
Leituras: Gn 12,1-4a
SI 32(33),4-5.18-19.20.22 (R/ 22)
2Tm 1,8b-10
Mt 17,1-9
Situando-nos
Neste segundo domingo da Quaresma, somos convidados a subir
a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para contemplarmos o
mistério da glória de sua transfiguração. Por instantes, a eles é revelado
que Jesus glorificado é o salvador esperado e que transformará nossa
condição humana em realidade glorificada.
À visão da transfiguração de Cristo, através da voz que vem do
alto, nos revela: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada.
Escutem o que Ele diz”. É a sua acolhida e escuta que nos dará forças
no discernimento das ações que edificam o mundo segundo o projeto
do Pai. À Palavra de Deus, nesse dia, nos desvela o grandioso plano
salvador de Deus.
À Palavra de Deus deste domingo nos oferece uma mensagem
convergente, que abre para os olhos da nossa fé o sentido profundo do
caminho quaresmal e da grande celebração da Páscoa, que já se deixa
vislumbrar de longe. À Páscoa é o evento central da história de amor
em que Deus transfigura e renova a existência e toda pessoa. Jesus
passando através da paixão, morte e ressurreição, primeiro cumpre em
si mesmo esta “transfiguração radical”.
Cada ano e cada dia, o cristão é chamado a interiorizar o caminho
de transfiguração de si mesmo junto com Jesus, até deixar-se conformar
plenamente a ele. Pois Jesus nos revela, mediante a transfiguração, a
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa
plena realização daquilo que o Pai planejou para o ser humano. Escutar
o Filho amado é, na Quaresma, criar espaço para que o clamor de
tantos seres humanos e da obra da criação, seja atendido. Na celebração
comunitária prestemos atenção ao convite: “Escutem o que meu Filho
amado diz”, e aprendamos a nos solidarizar com os sofredores, a fim
de que a Boa-Nova do Reino fermente um novo céu e uma nova terra.
Recordando a Palavra
Ás três leituras destacam que a iniciativa no processo de transfi-
guração e de renovação é fruto da livre e gratuita escolha e do chamado
de Deus. Não é resultado dos nossos esforços. Somos filhos e filhas da
graça do Pai!
Deus, por livre escolha de amor, chama Abraão e lhe pede que
abandone sua família e sua terra. Revela-lhe que será abençoado
e fecundo, sinal de esperança para todos os povos. Abraão acolhe o
chamado de Deus. Inicia a caminhada na fé que o faz “pai de todos
os que acreditam no Senhor e se entregam a Ele” (Rm 4,11). Abraão,
passando do abandono das suas raízes vitais para a fecundidade que
vem de Deus, vive primeiro a “páscoa” de morte de si mesmo e de
adesão a Deus. Experiência que cada um de nós, na Quaresma, é
chamado a viver para aderir a Cristo (Gn 12,1-4).
O Salmo responsorial
P (Sl 32/33), , destaca a confiança que, com
ça que,
Abraão, ,
somos chamados a pôr na fidelidade de Deus. Nele estão
nossa força e nossa paz. “No Senhor nós esperamos confiantes, porque
ele é nosso auxílio e proteção! Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!”
Atualizando a Palavra
O evento da transfiguração se encontra no centro da vicissitude
humana e messiânica de Jesus, quase síntese do dinamismo do seu
mistério pascal. Define a sua identidade de filho amado do Pai e de
Messias sofredor, solidário com a condição humana, que derrama a vida
nova na ressurreição. Nesta maneira indica e abre também para nós o
caminho a seguir. Para o discípulo não se dá um caminho diferente
daquele do mestre, seja no desafio da fé, seja na partilha da glória.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa
Leituras: Ex 17,3-/
SI 94(95),1-2.6-7.8-9
Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42
Situando-nos
No Ano À, a partir do terceiro domingo da Quaresma, a Liturgia
da Palavra assume uma vertente mais claramente batismal, acompa-
nhando passo a passo os catecúmenos a celebrar a iniciação cristã na
grande Vigília Pascal, e toda comunidade a redescobrir e renovar a
graça da própria iniciação.
À partir do terceiro domingo, as leituras, e em particular os textos
do Evangelho iluminam os vários aspectos do processo interior que a
participação à Páscoa de Jesus, através da iniciação cristã, ativa em nós.
No diálogo com a mulher de Samaria, Jesus revela a si mesmo
como a água viva que alimenta a existência da pessoa, e desvela que
a nascente desta água perene se encontra dentro do poço profundo e
obscuro da mesma, pela presença e a energia vital do seu Espírito.
A Quaresma, com o dinamismo interior que se exprime na estrutura
ritual, constitui um precioso itinerário espiritual. As celebrações dos
domingos, com a sucessão das características próprias, desenvolvem
uma pedagogia espiritual capaz de sustentar o crescimento pessoal de
cada um, e o caminho de toda comunidade do povo de Deus.
Na celebração memorial da morte e ressurreição de Cristo,
unamo-nos a todos aqueles que, sensíveis “aos gemidos da criação
(Rm 8,19-22) (retratada nos biomas brasileiros) especialmente das
fontes de água, empenham-se solidariamente no cuidado da vida.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma
Recordando a Palavra
Os textos bíblicos apresentam uma situação de vida na qual cada
um pode facilmente, reconhecer seu próprio caminho. Uma surpreen-
dente pedagogia divina acompanha e estimula o crescimento à plena
libertação de toda humana ilusão.
Israel desconfia das promessas de Deus, diante da aridez do deserto.
Queixa-se da insuportável fadiga, relembra a água e a carne que lhe
garantia o Egito, embora em condição de escravidão. Contudo, o Deus
de Israel, é o Deus que constrói o futuro, não somente do passado; é
o Deus da libertação, não o Deus da escravidão. Ele ordena Moisés a
caminhar em frente, e promete que ele mesmo estará lá, pronto a operar
novas maravilhas. “Passa adiante do povo (...). Toma a tua vara com que
feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo (...).
Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber” (primeira leitura:
Ex 17,5-6). Jesus estará sempre à frente dos discípulos no caminho para
Jerusalém, renovando seu compromisso com a missão recebida do Pai, e
pedindo aos discípulos de “segui-lo”, sem voltar atrás (Lc 9,51-62). Ele
está sempre diante de nós e nos convida a segui-lo.
O Salmo responsorial (81 94/95), constitui a clássica reflexão sobre
a peregrinação de Israel no deserto, marcada por inúmeras oportuni-
dades de experimentar a fidelidade e a potência de Deus e por repetidos
endurecimentos do coração do povo, incapaz de abrir-se às promessas
de Deus. No contexto da Quaresma, o salmo constitui um convite
vigoroso a valorizar este tempo de graça, como tempo rico de novas
oportunidades de conversão e de crescimento na relação com o Senhor.
Na Carta aos Romanos (segunda leitura), Paulo destaca a gratuidade
da iniciativa com a qual Deus estabeleceu conosco uma relação de autêntica
renovação, em Cristo Jesus, derramando nos nossos corações seu Espírito,
princípio de vida nova, fundamento da esperança e penhor da plena
participação em sua vida. “Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na
qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. É
a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,2.5).
Jesus, no seu encontro com a mulher samaritana junto do poço
de Jacó (Evangelho), revela a absoluta liberdade com a qual ele se doa
A Povo de Deus a caminho da Páscoa
Atualizando a Palavra
À sociedade moderna se torna sempre mais secularizada e espiri-
tualmente árida. Para muitas pessoas Deus é o “ausente”. Uma recente
análise sobre a situação da pessoa na sociedade atual, destaca que o
homem contemporâneo, todavia, mesmo no drama de suas situações
existenciais, espera em maneira confusa conhecer e encontrar o Deus
dos viventes e que dá a vida. Ele sente nostalgia da presença de Deus.
Sofre a sede do infinito, embora muitas vezes não consiga dar este
nome à água que está procurando para saciar sua sede.
À nostalgia nasce das desilusões deixadas pelo que foi imaginado
e seguido como “deus”, capaz de satisfazer a sede de sentido da
existência, tão frágil e quase desertificada interiormente. “Em mim
desfalece o meu espírito, meu coração se consome. (...) À ti estendo
minhas mãos, como a terra seca, anseio por ti” (S1 143/142,4.6).
O Batismo mergulha o cristão na nascente da água viva, que
continuará a fecundar a sua inteira existência.
Experiência de plenitude, e ao mesmo tempo urgência de uma sede
insaciável, expressão de uma fé às vezes incipiente, que cresce com o
progresso do amor, e leva consigo a força para perseverar na esperança.
“Ao pedir à samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom
de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do amor”.” A
esperança, ao longo do caminho, não decepciona na sua tensão rumo à
plenitude, pois “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado” (segunda leitura, Rm 5,5).
28 CNBB. Campanha da Fraternidade 2017: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2016, n. 94.
29 Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, n. 160-166.
30 Ibidem, n. 154.
4º DOMINGO DA QUARESMA
26 de março de 2017
“EU SOU A tUZ DO MUNDO!
Leituras: Sm 1b.6-7.10-13a
SI 23(24)
Ef 5,8-14
Jo 9,1-41
Situando-nos
“Alegra-te, Jerusalém!”?. Com o nome derivado da primeira palavra
latina da antífona de Entrada, este quarto domingo da Quaresma, é
conhecido como o “Domingo Laetare”, dia de alegria e de luz que antecipa
a grande alegria da Páscoa. “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos
que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a
abundância de suas consolações” (Antífona de Entrada — Is 66,10-11).
A comunidade se alegra pela proximidade da Páscoa da Ressur-
reição de Cristo. É bom que nos alegremos nesta certeza. Fomos salvos
pela ressurreição de Cristo e esta celebração festiva anual está próxima.
Nós cristãos nos alegramos, porque Cristo nos salvou pela doação de
sua vida.
Reunidos em comunidade, fazemos memória do gesto de Jesus
que abre os olhos do cego e o faz passar das trevas à luz. Curando
o cego de nascença, Ele se revela como “luz do mundo”. Nós pelo
Batismo, também nos tornamos luz do mundo com Cristo.
À liturgia deste domingo faz-nos percorrer um verdadeiro
caminho batismal. Leva-nos a mergulhar em nossa própria escuridão,
para podermos perceber a claridade da luz que nos vem de Jesus que
venceu as trevas do pecado.
Imploremos, nesta celebração, que o Senhor nos cure de todas as
nossas cegueiras, que nos tire da sonolência da noite, que nos levante
Roteiros Homiléticos para a Quaresma
Recordando a Palavra
“Irmãos: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei
como filhos da luz” (segunda leitura — Ef 5,8). O apóstolo destaca que,
com o Batismo não só gozamos da luz do Senhor para conduzir uma
vida certa, mas também, em força desta relação vital para com ele,
“somos luz” no Senhor, participamos do seu ser, da sua vida. Desta
participação nasce a possibilidade e o chamado a viver como “filhos da
luz”, isto é, a atuar e agir com seu mesmo estilo.
Viver como filhos da luz, significa viver segundo o Espírito filial
e os critérios de avaliação da vida que correspondem à energia vital e
a sabedoria do Espírito Santo. À situação da vida é, por sua natureza,
sempre ambígua. Precisamos da luz interior para discernir o que vale
de verdade, e o que tem somente a aparência. “Discerni o que agrada
ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada;
antes, desmascarai-as” (Ef 5,10-11).
O espírito da Quaresma nos convida a passar das aparências para
a verdade profunda, em relação a nós mesmos, e na relação com o
Senhor, bem como para com os irmãos. Esta passagem interior para
a autenticidade é a Páscoa a viver cada dia mais, como diz a própria
palavra “páscoa”.
O Salmo responsorial (Sl 22/23), conhecido como o Salmo do
Bom Pastor, destaca como o caminho para a Páscoa feita vida é um
longo caminho. Encontra desafios e riscos, mas o próprio Senhor
cuida de nós, nos orienta, nos alimenta, nos sustenta nos seus braços,
nos momentos de cansaço e de perigo. “O Senhor é o pastor que me
conduz; não me falta coisa alguma. (...) Mesmo que eu passe pelo vale
tenebroso, nenhum mal eu temerei. (...) Na casa do Senhor, habitarei
pelos tempos infinitos” (Sl 22/23).
a Povo de Deus a caminho da Páscoa
Atualizando a Palavra
Nas catequeses dos Padres da Igreja, o Batismo era indicado como
“iluminação”, e aqueles que tinham recebido o Batismo, eram chamados
de “iluminados”. Ainda hoje um significativo rito complementar da
Roteiros Homiléticos para a Quaresma E
31 Ibidem, n. 265.
Oo Povo de Deus a caminho da Páscoa
Leituras: Ez 37,12-14
SI 129(130)
Rm 8,8-11
Jo 11,45
Situando-nos
Ressuscitar e viver é a mensagem do quinto domingo da Quaresma.
Na caminhada quaresmal de jejum, penitência e de oração, vamos
contemplar hoje a Ressurreição e a Vida.
Este quinto domingo da Quaresma era conhecido pelos antigos
como o “Domingo da Paixão” — resultado pelo acontecimento da
ressurreição de Lázaro. Realidade que suscitou o ódio das autoridades
civis daquele tempo contra Jesus, que assinalava como deveria ser sua
própria ressurreição.
Jesus está a caminho e próximo de Jerusalém. É sua última viagem.
Em Betânia, chama Lázaro à vida, à doação da plenitude da vida. O
próprio Cristo anuncia: “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25),
ligando com a liturgia do quarto domingo: “Eu sou a luz do mundo,
quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da Vida”.
À catequese de Iniciação à Vida Cristã ressalta a sintonia existente
entre estes três últimos domingos da Quaresma. No terceiro domingo
da Quaresma, no acontecimento da Samaritana, falou-se em água viva,
em água que jorra para a vida eterna, e Jesus apresentou-se como quem
é capaz de dar de beber esta água salvadora. No quarto domingo da
Quaresma, Jesus revelou-se como luz do mundo. À água e a luz fazem
crescer, vivificam os seres vivos. Sem água e sem luz, conhecemos a
morte. À partir da água e da luz, Jesus reafirma sua divindade e seu
poder de dar a vida, e a vida plena, que não se acaba.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma FR
Recordando a Palavra
O profeta Ezequiel, na primeira leitura, deixa vislumbrar que o
processo de ressurreição atuando no presente, por impulso do Espírito
de Deus, não somente toca os indivíduos, mas atinge o inteiro povo e
a sua triste história, destinada a uma luminosa renovação. O povo de
Israel está sepultado como morto na experiência do exílio, desarraigado
da sua terra, despojado da sua cultura e da sua liberdade civil e religiosa,
oprimido pela convicção de estar sofrendo pela punição do Senhor,
motivada por ter abandonado a aliança. O profeta anuncia que, além
de toda expectativa razoável, o Senhor vai tirá-lo da trágica situação
histórica, dando-lhe uma nova inesperada oportunidade de vida.
A volta para a terra dos pais, a recuperação da liberdade política e
a restauração do culto no templo reconstruído, são acompanhados por
uma ressurreição ainda mais radical: a renovação interior, realizada
pela efusão do seu Espírito na consciência deles. “Ó meu povo, vou
abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; (...)
Porei em vós o meu espírito, para que vivais (...). Então sabereis que eu,
o Senhor, digo e faço” (Ez 37,12-14).
Esta fé e esta experiência nos fazem cantar com o salmista: “Das
profundezas eu clamo a vós, Senhor, escutai a minha voz! Vossos ouvidos
estejam bem atentos ao clamor da minha prece! No Senhor ponho a
minha esperança, espero em sua palavra. À minh'alma espera no Senhor
mais que o vigia pela aurora” (Salmo Responsorial — 81 129/130).
O Espírito é o novo impulso vital que impele os discípulos de Jesus
a viverem, de fato, como já partícipes da energia divina da sua ressur-
reição. Homens e mulheres, embora atravessados ainda pelas dores do
parto da nova criação, são animados pela esperança do seu cumprimento
e, na totalidade da sua experiência humana aqui indicada com o termo
“corpo”, guardam já o fermento da ressurreição futura e definitiva.
Ao Povo de Deus a caminho da Páscoa
Atualizando a Palavra
Na atitude de Jesus para com Marta e Maria, e na pedagogia
que ele usa para com os discípulos e com o povo, somos convidados
a reconhecer a constante pedagogia com a qual Deus acompanha o
caminho pessoal de cada um, e o orienta a crescer na fé e na liberdade
do amor. “Senhor, se tivesses estado aqui...” (Jo 11,32). Quantas de
nossas leituras apressadas dos acontecimentos se refletem nestas
palavras de Marta e de Maria! Quantas de nossas queixas apaixonadas
e doloridas elas interpretam!
36 Ibidem, p. 489.
RH Povo de Deus a caminho da Páscoa
seu grito animador para cada pessoa. Nosso nome está no seu coração
e vibra no seu grito silencioso.
O encontro com Jesus faz da “ressurreição” uma experiência que
anima já o presente dos que acreditam nele. Experiência que ressoa
como canto cheio de esperança na voz da Igreja: “Nele brilhou para
nós a esperança da feliz ressurreição. (...) Senhor, para os que creem em
vós, a vida não é tirada, mas transformada”.
“Desatai-o e deixai-o caminhar!” (Jo 11,44). Esta é a missão
4,
eterna. Por isso, a Eucaristia dada aos que estão gravemente doentes se
chama de “viático”. O exercício deste ministério nas casas particulares
e nos hospitais, constitui um grande exercício de caridade e um grande
anúncio da Páscoa do Senhor para os enfermos e para os familiares.
À consciência da força da ressurreição nos impele a abrir as portas
da vida às surpresas de Deus, e ao “futuro e ao amanhã” de Deus.
Muitas vezes, ao invés, submetidos mais à mentalidade mundana
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9 de abril de 2017
BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR!
Leituras: Mt 21,1-11
Is 50,4-7
S121(22)
Fl 2.6-11
Mt 26,14-27,66
Situando-nos
“Na hora conveniente, reúne-se a assembleia num lugar
apropriado fora da igreja, trazendo os fiéis ramos nas mãos. O
celebrante abençoa os ramos. É proclamado o Evangelho da
entrada de Jesus em Jerusalém. Precedida pela cruz, a assembleia
se dirige em procissão, cantando salmos e hinos de louvor a
Cristo-Rei, para a igreja na qual se celebra a Eucaristia”.
Gesto simples. Aparentemente óbvio e previsto nas normas do
missal para organizar a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão
do Senhor. Na realidade, com a linguagem simbólica própria da
liturgia, este rito nos introduz, de maneira espontânea, no Mistério
Pascal de Cristo, e nos faz vislumbrar nossa participação vital ao
mesmo. O rito, abrindo a celebração do Domingo de Ramos e de toda
a Semana Santa da Páscoa, de fato, marca o seu movimento interior.
O primeiro ato é a proclamação e escuta do Evangelho da entrada
messiânica de Jesus em Jerusalém, cumprimento da aliança de Deus
com seu povo, segundo as profecias dos profetas de Israel. Em resposta,
o povo se põe a caminho, seguindo a cruz do Senhor. Continuará
seguindo Jesus no seu caminho pascal, através de cinco significativos
Recordando a Palavra
As primeiras comunidades cristãs de Jerusalém, movidas pela
devoção e pelo desejo de partilhar de perto, com amor, os passos
de Jesus no seu caminho de paixão e de glorificação, organizaram,
sobretudo a partir do século IV,*! celebrações especiais em cada lugar
onde Jesus tinha vivido seus últimos dias de presença física no meio
dos seus discípulos, dias tão decisivos no plano de Deus e para a nossa
salvação: da entrada de Jesus em Jerusalém e da última ceia no cenáculo
à paixão no horto das Oliveiras, da Morte no Calvário à Sepultura e
Ressurreição no jardim, até a Ascensão na colina perto de Jerusalém.
As celebrações da Semana Santa, porém, não são somente
comovidas maneiras de colocar em cena os trágicos eventos dos últimos
dias de Jesus em Jerusalém. Elas nos proporcionam a graça de nos
mergulhar com fé na sua relação de amor com o Pai e para conosco, o
que nos transforma e salva.
A palavra proclamada e acolhida com fé, não fala ao passado, não
lembram histórias de outrora, ela continua a realizar-se em cada um de
nós pela potência do Espírito.
“Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 21,9). Com esse
refrão acompanhamos a procissão até a porta da igreja. À entrada
messiânica de Jesus em Jerusalém, no júbilo e na alegria (Evangelho
que precede a procissão, Mt 21,1-11), é inseparável da proclamação da
sua Paixão, centro da liturgia eucarística deste domingo (Evangelho
da missa, Mt 26,14 — 27,66).
A leitura do profeta Isaías, que delineia a figura e a missão do
Servo do Senhor sofredor, salvado por Deus e por ele escolhido
41 Vale a pena a leitura do texto da peregrina Etéria, que ao visitar os lugares santos nos legou
em seus diários um quadro sobre a liturgia hirosolimitana do IV século. BECKHAUSER, A.
Peregrinação de Etéria: Liturgia e Catequese em Jerusalém no século IV. Petrópolis: Vozes, s.d.
Roteiros Homiléticos para a Quaresma
Atualizando a Palavra
A força narrativa dos acontecimentos da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus proclamados nas leituras bíblicas, e o intenso
esquecer que somos povo de Deus a caminho, “povo santo e pecador, dai
força para construirmos juntos o vosso reino que também é nosso”.*
Ão canto jubiloso do Salmo cantado pela assembleia em procissão,
“Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas
portas, a fim de que o Rei da glória possa entrar” (51 23/24,9 — Procis-
sional), faz eco o grito sofrido e confiante de Jesus na cruz: “Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonastes? (...) Vós, porém, ó meu
43 São Bernardo, Sermão 61, 3-5 sobre o Cântico dos Cânticos, LH Monástica, Segunda Semana da
Quaresma, quarta-feira.
44 Missal Romano. Prefácio da Paixão do Senhor, I, p. 419.
45 Missal Romano. Oração do dia do Domingo de Ramos, p. 230.
46 Missal Romano. Oração Eucarística V, p. 499.
a Povo de Deus a caminho da Páscoa
Senhor, não fiqueis longe, ó minha força, vinde logo em meu socorro!”
(S121/22,1.20 — Responsorial).
O canto do Hosana e de glória e louvor a Cristo, rei e redentor, durante
a jubilosa procissão, se entrelaça com a sóbria meditação sobre o extremo
exemplo de humildade dado por Cristo ao se tornar homem e morrer na
cruz. Foi o caminho pascal de Cristo. É o caminho da Igreja, seu corpo
e sua esposa amada. É o caminho de fé e de amor de todo discípulo e
discípula, através a sua adesão a Cristo. É seguindo ele que nos é doado
penetrar, junto com ele, na intimidade do coração do Pai, como destaca
Mateus ao comentar a morte de Jesus, como início do novo mundo: “E
eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes,
a terra tremeu e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos
corpos dos santos falecidos ressuscitaram!” (Mt 27,51-52).
Com a Páscoa de Jesus, caem definitivamente todas as barreiras
que nos separavam de Deus. Às estruturas sagradas, como o templo
de Jerusalém, e todas as estruturas religiosas humanas deram lugar ao
templo vivente, que é o próprio Cristo, morto e ressuscitado, e a vida
de cada um de nós pela nossa união com Ele.
Nossa vida unida a Cristo é a verdadeira oferta que hoje é colocada
sobre o altar, junto com o pão e o vinho, para que não somente o que está
contido na patena e no cálice, mas toda a vida, e até a criação, seja oferecida
ao Senhor e transformada no culto espiritual agradável ao Pai, como
invocamos ao celebrarmos a Eucaristia: “Olhai com bondade, o sacrifício
que destes à vossa Igreja e concedei aos que vamos participar do mesmo
pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo,
nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória”.*”
À liturgia do Domingo da Paixão (de Ramos) nos convida: “vinde,
subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de
Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para
aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa
salvação. Agitando os nossos ramos espirituais, aclamemos a Jesus
todos os dias, proferindo estas santas palavras: Bendito o que vem em
nome do Senhor, o rei de Israel”.*8