Sie sind auf Seite 1von 95

CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Jesus: presença reveladora


da Justiça do Reino

Roteiros Homiléticos para


Domingos e outras solenidades do Tempo
Comum
Ano À - São Mateus
Junho / Agosto 2011

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental

Ep
“ções od
C€748; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Jesus: presença reveladora
da Justiça do Reino. Roteiros Homiléticos para Domingos e outras
solenidades do Tempo Comum Ano A - Junho / Agosto 2011.
Brasília: Edições CNBB. 2011.

80p.: 14x 21 cm
ISBN: 978-85-7972-087-1

1.Liturgia 2. Igreja Católica


CDU - 264.941.6

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Revisão:
Lúcia Soldera
Capa e Diagramação:
Henrique Billygran da Silva Santos
Projeto Gráfico:
Fábio Ney Koch dos Santos

12 Edição - 2011

Todos os direitos reservados

Nenhuma pane desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor - CNBB.

Edições CNBB
SE/Sul, Quadra 801, Cj. B,
CEP 70200-014 Brasília-DF
Fone: (61) 2193-3019 - Fax: (61) 2193-3001
vendaswedicoescnbb.com.br
www.edicoescnbb.com,br
Sumário
Apresentação... resorts 7
Introdução... rrenanerearieeneii 9
12º DOMINGO DO TEMPO COMUM SOLENIDADE
DA SANTÍSSIMA TRINDADE
19 de junho de 2011... iiricrrereeneereeneerreneanarernanto 10

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO


E SANGUE DE CRISTO
23 de junho de 2011... rerrenrenreneereenecerenreareners 15

NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA


24 de junho de 2011... rrerrereerrererearerareneneereeeerarararo 22

13º DOMINGO DO TEMPO COMUM


26 de junho de 2011.....................n
rr reenearererenerarenranareneenanno 27

SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


01 de julho 2011... err rrrreirrereneeererrerarenerenerneernnanaro 33

SÃO PEDRO E SÃO PAULO, APÓSTOLOS


03 de julho 2011... iirneerereneesrerermeeearreneesarrreneeneenaas 39
15º DOMINGO DO TEMPO COMUM
10 de julho de 2011... ceerrneneerenenenarrenennera 45

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM


17 de julho 2011.....................e
rise rrrerereceereerererenseneeneereensonacareranansess 51

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM


24 de julho de 2011.............riiietenererrereerererereeeeeererrenseeeeeeraeristo 58
18º DOMINGO DO TEMPO COMUM
31 de julho 2011... sir ierreererseenerrrenreeenseereerreneenerenenerenaereos 65
19º DOMINGO DO TEMPO COMUM
07 de agosto de 2011......................
sr rereeerrerrenerenserarereneerenarenanenenas

20º DOMINGO DO TEMPO COMUM


14 de agosto de 2011... serrirereaesmerrereaaseeneerenerenarenreneanetes

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA


21 de agosto de 2011... rir rrerrererereeerareneararennrenaees

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM


28 de agosto de 2011... ireereerrenrenerereenrecrrereenrearenanaso
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Apresentação
Retomamos a 2º parte do Tempo Comum do ano litúrgico, como
um tempo propício para o crescimento da comunidade cristã, como
discípula missionária de Jesus Cristo, o Messias e Mestre da Justiça
do Reino. “Olhando para o centro de nossa fé, o Mistério Pascal
de Jesus Cristo, nele encontramos o sentido ou, se preferirmos, os
fundamentos que proporcionam uma atmosfera e uma realidade de
santificação de nosso tempo, saboreando a ação em favor de toda a
Igreja: Corpo Místico de Cristo, Povo de Deus, Templo do Espírito
Santo e Sacramento Universal de Salvação”.
Em alguns domingos e dias da semana, presentes neste rotei-
ro, celebramos as solenidades do Senhor que ocorrem neste tempo.
Assim contemplamos, com a Santíssima Trindade, a comunidade
perfeita em sua relação — ela é a melhor comunidade. Em Corpus
Christi, o discernimento da comunidade ao alimentar-se do Corpo
e Sangue de Cristo, o que significa alimentar-se de sua totalidade,
assimilar seu destino, para testemunhá-lo até o fim. No Coração de
Jesus, o amor preferencial de Deus pelos pequenos, humildes e fra-
cos. Com São Pedro e São Paulo, a edificação da Igreja sobre o tes-
temunho de fé dos apóstolos, discípulos missionários exemplares.
Na Assunção de Maria, a antecipação de nosso destino definitivo
— a glória do céu que jamais se acabará. Os evangelhos dos demais
domingos deste tempo nos apresentam, através de Mateus, a diná-
mica da justiça do reino, que exige despojamento e doação da vida;
semear a Palavra reveladora do reino no 'chão dos corações”, sem-
pre com alegria e convicção; não ter pressa para a colheita e estar
sempre atento às demoras de Deus, nós que somos tão imediatis-
tas. O importante é cultivar a certeza de que, quando se trata do
reino, vale a pena investir tudo, afinal de contas trata-se de uma

1 CF. Eclesiologia do Vaticano II”- (Liturgia em Mutirão II — Subsídios para a formação — Edições
CNBB, 2009), p. 66.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

preciosidade. Aprendendo a partilhar com Jesus o pouco que temos,


vamos percebendo a abundância dos bens, que são para todos e não
para uns poucos privilegiados. As resistências nos acompanham e
tentam retardar a revelação do Reino. É preciso caminhar, na força
do Espírito Santo, com irmãos e irmãs da comunidade e anunciar
que o Reino não conhece fronteiras e é dom oferecido a todos. Ser
fiel, resistir sempre, olhar em frente e alimentar a certeza da vitória,
como foi vitorioso o mestre Jesus.
Que este subsídio atinja realmente seu objetivo: tornar a Boa
Notícia do Reino de Jesus mais conhecida, amada e testemunhada
em nossa terra e em todo o nosso continente.
Agradecemos o trabalho do irmão Fr. José Ariovaldo da Silva,
frade menor, grande mestre e apaixonado pela liturgia que possibi-
litará às Comunidades, melhor “qualificação” das celebrações e vi-
vência do Mistério Pascal.

+ Sérgio Aparecido Colombo


Bispo de Bragança Paulista — SP
Membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Introdução
Terminado o Tempo Pascal, iniciamos a segunda parte do Tempo
Comum. Este fascículo contempla do 13º ao 22º domingos, corres-
pondentes aos meses de junho, julho e agosto. Os domingos subse-
quentes estarão em outro livrinho,
Em alguns domingos, celebramos as solenidades do Senhor ou
dos Santos: no 12º domingo (dia 19 de junho), temos a solenidade
da Santíssima Trindade: no 14º domingo (dia 3 de julho), a soleni-
dade de São Pedro e São Paulo e no 21º domingo, a solenidade da
Assunção de Nossa Senhora.
Neste período do Tempo Comum, há também três solenidades,
celebradas dia de semana: Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
(dia 23 de junho); Natividade de São João Batista (dia 24 de junho);
Sagrado Coração de Jesus (dia 1º de julho).
Dando continuidade à leitura do evangelho de Mateus, con-
templamos e celebramos o mistério de Cristo, revelador da justiça
do Reino, que supõe e exige “um discipulado comprometido com a
justiça que faz o reinado de Deus acontecer”.
O gesto simbólico que caracteriza o domingo como dia memo-
rial da páscoa é a reunião da comunidade em torno a Palavra e da
Ceia do Senhor. A fim de ressaltar a dimensão pascal do domingo
e lembrar o Batismo pelo qual entramos no discipulado do Senhor,
é bom que se valorize, no rito penitencial, o rito da aspersão da
água.
“A melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia
bem celebrada”, afirma Bento XVI, apoiando-se numa proposição
do Sínodo sobre a Eucaristia.” Assim sendo, com o objetivo de con-
tribuir para qualificar sempre melhor nossas celebrações, sobretudo
as eucarísticas, acrescentamos, ao final de cada roteiro homilético,
oportunas “orientações para celebrar bem” em qualquer ocasião.

2 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Anos A, B, C. Festas e Solenidades. São Paulo: Paulus, p; 128.
3 Bento XV. Exortação apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 64.
12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA
TRINDADE
19 de junho de 2011

"BENDITO SEJA DEUS, UNO E TRINO”

Leituras:
Ex 34,4b-6.8-9; Salmo responsorial: Dn 3,52.53.54.55.56;
2Cor 13,11-13;
Jo 3,16-18

Situando-nos

Domingo passado, celebramos o dom do Espírito Santo sobre cada


um de nós. Concluímos assim os cinquenta dias de solenidades pas-
cais (Pentecostes!) Na Páscoa de Jesus e em nossa páscoa n'Ele, pu-
demos experimentar como Deus foi bom para conosco.
Hoje, buscando vivenciar ainda mais a beleza de Deus, celebra-
mos sua própria intimidade de amor e vida a desabrochar dentro da
história da humanidade.
Que bom estarmos reunidos novamente, nesta solenidade da
Santíssima Trindade. Neste ano, precisamente no contexto das fes-
tas juninas, pelas quais admiramos e celebramos alguns irmãos
nossos, especialmente santificados pelo Espírito do Senhor: ama-
nhã, Santo Antônio e, depois, São João, São Pedro e São Paulo.
Deus acabou de nos falar pelas leituras bíblicas proclamadas.
Deixemos, agora, que o Senhor nos explique o que nos foi dito: pri-
meiro vamos recordar o que Ele nos falou. Depois, vamos mergu-
lhar mais fundo no mistério da festa de hoje. Por fim, vamos tirar
alguma conclusão para nosso viver cristão.
1] Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

Recordando a Palavra

O evangelho de hoje testemunha o imenso amor que Deus tem por


nós, a ponto de nos enviar seu próprio Filho, para que através dele
tenhamos vida plena. Vida eterna! Por Jesus fomos salvos da morte
e introduzidos na vida. De nossa parte, só nos resta crer nele.
Já no Antigo Testamento, Deus era experimentado como um
Deus amoroso. Por isso, Moisés, lá no monte Sinai, o invoca como
“Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bon-
dade e fiel”. A partir desta intuição mística, Moisés arrisca um pe-
dido: “Senhor, caminha conosco! Embora este povo seja um povo
de cabeça dura (cabeçudo), perdoa nossas culpas e nossos pecados e
acolhe-nos como propriedade tua”.
De fato, Deus foi sentido pelo povo eleito como um Deus que
caminha com seu povo. Não é um Deus distante, como outros po-
vos imaginavam, mas é um Deus muito próximo; tão próximo que
se propõe a agir em parceria e faz aliança com o povo. Tal aliança
entre Deus e o ser humano ficou, posteriormente, selada em de-
finitivo na morte-ressurreição de seu Filho Jesus Cristo que, pela
doação de seu Espírito, transformou nossos próprios corpos, nossa
comunidade, em sua morada, seu santuário, seu templo (cf. 1Cor
3,16; 6,19; 12,125: G1 2,20; Ef 2,21: Cl 1,27). |
Toda essa experiência de comunhão divino-humana transfor-
mou-se em conteúdo de saudação entre os cristãos, como testemu-
nha o apóstolo Paulo e como nós o fazemos em nossas liturgias:
“A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
Espírito Santo estejam convosco” (2Cor 13,13).

Atualizando a Palavra
Quem é Deus? De que jeito Deus é Como podemos deduzir da
Palavra que ouvimos, Deus é eminentemente relação. Usando uma
linguagem de hoje, podemos dizer que Deus nunca age sozinho;
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino 12

ele só trabalha em equipe. Ele mesmo é (digamos assim!) uma equi-


pe básica perfeita, formada por três pessoas: Pai, Filho e Espírito
Santo. Trata-se de uma equipe tão coesa, tão unida que, mais do
que equipe, ela é uma verdadeira comunidade, a mais perfeita co-
munidade de vida e ação que se possa imaginar. A perfeição de seu
amor unitivo é tão intensa que extravasa para dentro da história da
humanidade por ele criada.
De fato, Deus é assim. Ele mesmo faz questão de agir em par-
ceria com os seres humanos por ele criados, a favor da qualidade
de vida destes mesmos humanos. Moisés teve o imenso prazer de
entender o sentido deste Deus que se faz presença amorosa: “O
Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés”, diz a Palavra,
“e este (Moisés) invocou o nome do Senhor”, chamando-o de “mise-
ricordioso, clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (Ex 34,5-7).
Profundamente surpreso e extasiado por sentir Deus assim tão pró-
ximo, Moisés curva-se até o chão, prostra-se por terra e a ele con-
fia um pedido: “Caminha conosco, Senhor! Perdoa-nos! Acolhe-nos
como propriedade tua!” (cf. v. 8).
Séculos mais tarde, este pedido de Moisés foi plenamente rea-
lizado, na pessoa do próprio Filho unigênito que nos foi dado: “E a
Palavra se fez carne e habitou (fez tenda) entre nós” (Jo 1,14). “Deus
enviou seu próprio Filho ao mundo, para que o mundo seja salvo
por ele”, proclama o evangelho de hoje.
“Quem nele crê, não é condenado”. A saber, quem nele confia
plenamente e assume pra valer entrar em parceria (aliança) com ele
em favor da qualidade de vida do mundo, este terá também uma
vida plenamente saudável. “Mas, quem não crê, já está condenado”.
Isto é, quem não confia e rejeita tal parceria (aliança) entregando-
se ao egoísmo, além de prejudicar os outros, mergulha na própria
insanidade e se autodestrói.
Por isso, a Palavra hoje assim nos exorta, através do apóstolo
Paulo, na segunda leitura: “Alegrai-vos, trabalhai no vosso aper-
feiçoamento, encorajai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, e o
Deus do amor e da paz estará convosco”. Por quê? Porque Deus é
HEM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

assim: perfeição no amor, concórdia, paz. Trindade eterna e santa


em indivisível unidade: Santíssima Trindade, o modelo mais perfei-
to de comunidade.
Faz sentido, pois, o pedido que fizemos no início desta nossa
reunião cultual, ao concluirmos os ritos iniciais: “Ó Deus, nosso
Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santifi-
cador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando
a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a
Unidade onipotente”.
Que nada nos impeça, pois, de viver, em nossa vida pessoal,
comunitária e social, aquilo que Deus é em sua essência.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Daqui a pouco, meus irmãos, vamos nos achegar ao altar para ce-
lebrar a liturgia eucarística. Aí apresentamos os dons do pão e do
vinho. Sobre estes dons proclamamos a grande ação de graças pelo
mistério da Trindade e por toda a sua obra salvadora em favor da
humanidade. Em seguida, o próprio corpo do Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo é partido, repartido e consumido por
nós todos, a fim de sermos, também nós, Corpo de Cristo bem uni-
do. Renova-se e se fortalece, assim, em nossa assembleia, a aliança
eterna e definitiva entre Deus e nós, no corpo entregue e no sangue
derramado do Senhor Jesus.
Depois de saciados por tão grande dádiva, podemos rezar com
confiança: “Possa valer-nos, Senhor nosso Deus, a comunhão no
vosso sacramento, ao proclamarmos nossa fé na Trindade eterna e
santa e na sua indivisível unidade”.
Nesse mundo dilacerado por discórdias, nossa comunhão no
mistério da Santíssima Trindade, expresso por nossa participação
nesta Eucaristia, nos faça, cada vez mais, missionários de unidade e
de fraternidade entre os seres humanos. Amém.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino | R4]

Sugestões para a celebração “ATNHHHHHH


e “Tudo na liturgia começa com o sinal da cruz, no qual proclama-
mos a nossa fé, na qual fomos batizados: Deus é Pai, Filho e Espí-
rito Santo. Ao Pai nos voltamos através do Filho e na comunhão
do Espírito Santo (ou movidos pelo Espírito). São invocados assim
os três protagonistas da liturgia cristã, ou melhor, da sua fonte, o
mistério pascal. Este sinal da cruz, procure traçá-lo solenemen-
te, de maneira ampla, não apressado, não de maneira superficial.
Deve ficar evidente que com ele você imprime no seu corpo a cruz
de Jesus, a fim de dar forma cristã a toda a sua pessoa, e que essa
cruz esteja presente em seus pensamentos e sentimentos, em todo
o seu agir”.
* À oração do Pai-nosso, ore com a assembleia de forma compene-
trada, sem pressa, pausadamente, consciente de que está orando
ao Pai com as próprias palavras do Senhor Jesus. “Mantenha os
olhos fechados ou voltados para o céu. Evite fixar os olhos na
assembleia, menos ainda voltados para alguma pessoa em par-
ticular. Todos deveriam ter os olhos, e talvez também as mãos,
voltados para o alto (cf. Tm 2,8), já que a posição do corpo e os
gestos devem mostrar a nossa fé”.
* “A liturgia teve início com o sinal da cruz, e com o sinal da cruz
se conclui. Que as palavras da bênção que sobem até Deus, e a
bênção que dele desce sobre a assembleia, sejam proferidas por
você com autoridade, assim, os fiéis compreendem que também
a bênção que você invoca e anuncia é uma graça que desce do
antecipado amor gratuito de Deus. E você, trace com a mão a
cruz, com texto autorizado e palavras bem pronunciadas, por-
que a bênção é dada com exousia (com autoridade moral) por al-
guém que é pastor da comunidade a ele confiada pelo Senhor”.

4 E. Bianchi. Presbiteros: Palavra e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2010, p. 15,


5 Ibid, p.30.
6 Ibid, p. 34.
SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO
E SANGUE DE CRISTO
23 de junho de 2011

DEUS ALIMENTA SEU POVO

Leituras:
Dt 8,2-3.14b-16a; Salmo responsorial: Sl 147(147B),
12-3.14-15.19-20; 1Cor 10,16-17; Jo 6,51-58

Situando-nos

Lembramo-nos ainda do que vivenciamos há pouco mais de um


mês, no dia 21 de abril. Era quinta-feira santa. Iniciávamos o Tríduo
Pascal com a celebração memorial da Ceia do Senhor. O mistério
que naquele dia celebramos é tão sublime e intrigante que, termi-
nadas as festas pascais, fazemos questão de vivê-lo e contemplá-lo,
mais uma vez, com uma solenidade própria, a solenidade do Santís-
simo Corpo e Sangue de Cristo.
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, anunciou
uma vez o profeta João Batista (cf. Jo 1,29), cujo nascimento celebra-
mos amanhã, dia 24 de junho. “Eis o Cordeiro de Deus” é o que tam-
bém a liturgia anuncia hoje, como sempre, quando participamos do
memorial da morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
“Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”, procla-
mamos no início desta celebração. Sim, bendito seja Deus que nos
reúne de novo, para nos alimentar com sua Palavra, Palavra essa
que se faz corpo entregue e sangue derramado a serem assimilados
por nossos corpos, sob as espécies e pão e vinho.
Deus nos falou através das leituras bíblicas há pouco procla-
madas. Retomemos brevemente, meditemos, contemplemos essa
Palavra, a fim de vivê-la intensamente na celebração e na vida.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Recordando a Palavra
A Palavra nos conduz hoje, em primeiro lugar, a uma significati-
va exortação de Moisés ao povo, no livro do Deuteronômio. Ele
lembra o zelo com que Deus conduziu o povo pelo deserto afora,
durante 40 anos. Deus, como verdadeiro pedagogo e pai, provou e
testou o povo, para ver se era cumpridor ou não da divina Palavra.
Deus “te humilhou — lembra Moisés — fazendo-te passar fome e
alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conhecíeis,
exatamente para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas
de toda a palavra que sai da boca do Senhor”.
Deste Deus não se pode esquecer, jamais. “Não te esqueças —
continua Moisés — não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez
sair da escravidão do Egito, ele que depois foi teu guia no vasto e
terrível deserto, infestado de serpentes venenosas e perigosos escor-
piões, numa terra árida e sem água. Foi ele que fez jorrar água para
ti da pedra duríssima, e te alimentou no deserto com maná, que
teus pais não conheciam”.
Hoje vemos também Jesus, qual novo Moisés, falando às mul-
tidões dos judeus. Mas com uma novidade: Ele mesmo se apresenta
como pão vivo descido do céu. Pão que é a sua própria carne para
a vida do mundo. Quem comer deste pão viverá eternamente. Sua
própria carne? Isso causou estranheza aos ouvintes: “Como é que
esse homem se atreve a dar sua carne a comer?!”
Diante de tal reação dos ouvintes, Jesus adverte: “Se não comer-
des a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós. Mas quem comer a minha carne e beber o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a mi-
nha carne é verdadeira comida, e o meu sangue, verdadeira bebida”.
Não se trata, pois, de um pão como aquele que os antepassados
judeus comeram lá no deserto, pois eles, no entanto, morreram.
Trata-se aqui de um pão “que desceu do céu” e, por isso, “aquele que
come este pão viverá para sempre”, diz Jesus.
Enfim, o mestre acrescenta: “Quem comer a minha carne e
beber o seu sangue permanecerá em mim e eu nele”. Em outras
IM Roteiros Homitéticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

palavras, quem assim o fizer, terá comunhão com Jesus e, conse-


quentemente, com o próprio Pai que o enviou.
O apóstolo Paulo, mais tarde, escrevendo à comunidade de
Corinto, lembra que, na ceia cristã que celebramos, “o cálice da
bênção, o cálice que abençoamos” é “comunhão com o sangue
de Cristo”. E “o pão que partimos” é “comunhão com o corpo de
Cristo”. Consequentemente, uma vez que há um só pão (Cristo),
nós, embora muitos, somos em Cristo um só corpo”.

Atualizando a Palavra
Talvez também nós tenhamos dificuldade de entender o que Jesus
hoje nos diz, a saber: que ele próprio é o pão verdadeiro descido do
céu; que temos de comer sua própria carne e beber seu sangue para,
assim, termos comunhão com ele e, consequentemente, com o Pai;
que temos de comer sua carne e beber seu sangue para, assim, ter-
mos a vida eterna, vivermos para sempre. O que será que Jesus está
querendo dizer com tudo isso?
Todos entendem quando, entre nós, usamos a expressão 'carne
e osso, significando a totalidade da pessoa. Ora, a expressão 'carne e
sangue”, na cultura semita, quer dizer a mesma coisa. Denota totali-
dade, integralidade. Assim, comer a carne e beber o sangue de Jesus
“significa alimentar-se do Filho do Homem inteiro, sem divisões”.
“Sabemos que tudo o que comemos e bebemos se torna nos-
sa carne, sangue, energias. É isso que as comunidades joaninas
queriam recuperar numa época de descaso para com a Eucaristia.
Comer a carne e beber o sangue de Jesus... é uma espécie de en-
carnação do Filho do Homem em nossa vida, de modo que nossas
ações, palavras, sentimentos..., se tornem suas ações, palavras senti-
mentos... Ou, em outra perspectiva, que ele aja, fale e sinta em nós
e por meio de nós”.

7 J.Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 743.


8 Ibid.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Sabemos que nosso organismo assimila os nutrientes de tudo o


que comemos e bebemos. “Assimilar significa 'converter em subs-
tância própria e também “tornar-se semelhante”. As duas acepções
cabem aqui e confirmam o que estamos expondo. E é nesse sentido
que Jesus afirma: A minha carne é verdadeiramente comida e o
meu sangue é verdadeira bebida”?
Mas, quem é esse Jesus? É a Palavra viva de Deus que se fez car-
ne, habitou entre nós (Jo 1,14) e, morto-ressuscitado, fez de nossos
corpos sua morada (cf. 1Cor 3,16; 6,19; Gl 2,20; Ef 2,21; Cl 1,27), seu
próprio Corpo (cf. 1Cor 10,14-17; 12,125).
Não só as palavras de Jesus falam, também seus gestos e ações
são uma fala. Toda a sua vida é uma imensa fala, sobretudo sua
morte, ressurreição e o dom do Espírito falam muito alto. Seu cor-
po entregue e seu sangue derramado são 'a' fala. A presença viva e
ativa do Crucificado ressuscitado, na força do Espírito é “a fala. Sua
pessoa inteira é 'a' Palavra viva do Pai.
Como nos ensina o papa Bento XVI: “No discurso de Cafarnaum
[do qual faz parte o evangelho de hoje] aprofunda-se o Prólogo de
João: se neste o Logos (= a Palavra) de Deus Se faz carne, naquele a
carne faz-Se 'pão' dado para a vida do mundo (cf. Jo 6,51), aludin-
do assim ao dom que Jesus fará de Si mesmo no mistério da cruz, .
confirmado pela afirmação acerca do seu sangue dado a “beber” (cf.
Jo 6,53). Assim, no mistério da Eucaristia, mostra-se qual é o verda-
deiro maná, o verdadeiro pão do céu: é o Logos (= Palavra) de Deus
que Se fez carne, que Se entregou a Si mesmo por nós no Mistério
Pascal”.!º
Comer a carne de Cristo feito pão e beber o seu sangue feito
vinho, significa assimilar em nossos corpos essa Palavra viva que
Ele é. Não é só uma questão piedosa de “receber Jesus no coração”.
Trata-se de, na ação de comer e beber, assimilar em nós a fala maior,

9 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 743.


lo Bento XVI. Exortação apostólica “Verbum Domini” sobre a Palavra de Deus na vida da Igreja
Brasília: Edições CNBB, 2010, n.54, p. 80.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comúm - Ano A - Junho / Agosto 2011

a saber, o nutriente maior que é a doação total do Senhor Jesus,


para sermos também nós uma entrega a serviço dos irmãos. Comer
deste Pão quer dizer aceitar identificar-se com esse Cristo, tornar-
se como Ele, e com Ele formar um só corpo. Comungar o corpo
de Cristo quer dizer aceitar identificar-se com esta Palavra viva do
Pai que é Ele mesmo, Jesus Cristo. Caso contrário, não temos vida,
tudo desmorona, a sociedade vira um caos. -
Assimilar o Corpo-Palavra de Cristo e identificar-se com Ele
significa, ao mesmo tempo, comungar o corpo de Cristo eclesial,
comprometer-se com ele. Não dá para separá-los. “Não se comun-
ga o corpo de Cristo sem comungar o corpo do irmão, sobretu-
do o fraco, pelo qual Cristo morreu”. Caso contrário, fazemos da
Eucaristia uma idolatria e nos tornamos cúmplices da morte. É bom
pensar nisso!

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Logo mais, depois de professarmos nossa fé e elevarmos a Deus
nossas preces, vamos realizar o que Jesus expressamente pediu na
última ceia. Vamos celebrar sua memória, ou melhor, a memória de
sua total entrega por nós até a morte: o sacrifício da Nova Aliança.
Unidos aos anjos do céu, às mulheres e homens da terra e a
todas as demais criaturas, elevamos ao Pai a soléne ação de graças
pelo grande mistério da nossa fé. De fato, ao Pai seja toda a gló-
ria e ação de graças pelo seu Filho Jesus, cuja carne, imolada por
nós, é o alimento que nos fortalece na comunhão eclesial. Seu san-
gue, por nós derramado, é a bebida que nos purifica (cf. prefácio da
Santíssima Eucaristia 1).
O Pai vai nos alimentar, sim, com o Pão descido do céu, não
restando mais senão pedir, ao final, “Dai-nos, Senhor Jesus, pos-
suir o gozo eterno da vossa divindade, que já começamos a sabo-
rear na terra, pela comunhão do vosso Corpo e do vosso Sangue.

11 J. Bortolini, Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 744.


Jesus: Presença reveladora da Justica do Reino

Vós, que viveis e reinais para sempre”. A assembleia toda responde:


“Amém”.
Então, fortalecidos pela comunhão com o Corpo de Cristo e,
consequentemente, com todos os membros deste Corpo, partimos
para a missão em favor de uma sociedade sempre mais fraterna e
solidária: em favor da vida!

Sugestões para a celebração +


e Na missa, cuide-se especialmente do rito da fração do pão. Que
ele seja sempre “uma ação ritual visível, acompanhada medita-
tivamente pela assembleia com o canto do Cordeiro. Este canto
pertence à assembleia e por isso não seja entoado nem recitado
por quem preside...”.” Se houver o abraço da paz, quem preside
espere todo o povo se acalmar para, só então, proceder ao rito,
de maneira “visível”, sem pressa, de forma que todos possam de
fato acompanhá-lo contemplativamente através do olhar e do
canto do Cordeiro. É o corpo do Senhor que se parte e se reparte
para nós!... Seria bom que o rito bem expressasse este mistério.

e Tanto o presbítero como os ministros da comunhão eucarística,


ao distribuírem a comunhão, evitem fazê-lo de qualquer jeito, às .
pressas, mecanicamente, de maneira meramente funcional. Pri-
meiro, porque se trata de uma ação relacional profundamente
humana: dar e receber um presente. E que presente! Mais ainda,
trata-se de um rito sagrado, de uma ação litúrgica, um verdadei-
ro gesto memorial, celebrativo. No gesto de dar a comunhão,
de entregar o Pão da vida, você torna presente o próprio Cristo
que se dá. Ou melhor, no gesto de distribuir a comunhão é o
próprio Cristo que se doa. A essa doação a pessoa que recebe
diz: Amém! Portanto, no sagrado rito de distribuir a comunhão,
celebre, vivencie este mistério!

12 Cf. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. 2º edição. Brasília: Edições CNBB, s.d., p. 28-29.
BAN Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

*- “Após a comunhão, deixe ainda algum espaço de silêncio. Silên-


cio para você e para a assembleia. Silêncio de adoração. Silêncio
para todos se conscientizarem de que são o verdadeiro corpo do
Senhor. É este o momento de cada um se questionar com o após-
tolo Paulo: “Será que reconhecemos o Cristo em nós? Sim ou
não?” (cf. 2ZCor 13,5). Momento de perceber, com os sentidos es-
pirituais, que a comunhão eucarística é fonte da comunhão ecle-
sial, que somos 'comunicantes in unum' [comunhão na unidade)”.”
Talvez a assembleia ainda não esteja habituada com este espaço
de silêncio. Motive-a com breves e piedosas palavras para este
momento silencioso, de profunda contemplação da maravilha
que Deus fez por nós nesta celebração.

13 E. Bianchi. Presbíteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 33..


NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA
24 de junho de 2011

JOÃO É SEU NOME

Leituras: Is 49,1-6; Sl 138(139),1-3.13-14ab.14c-15;


At 13,22-26; Lc 1,57-66.80

Situando-nos brevemente

Vejam como João Batista é importante para os cristãos! O próprio Je-


sus proclamou que, “entre os nascidos de mulher, não há um maior
do que João; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele” (Lc
7,28). Ele é tão importante, a ponto de ser o único santo (com exce-
ção de Maria) que tem seu nascimento celebrado pela Igreja.
Assim como celebramos o nascimento de Jesus, no dia 25 de
dezembro, hoje, dia 24 de junho, celebramos o natal de João Batista.
Congregados pela Palavra, aqui estamos, nesta solenidade, para.
contemplar e celebrar, acima de tudo, o mistério d'Aquele que se
fez o menor no reino de Deus, e por isso é o maior: Jesus.
Ouvimos a Palavra de Deus, alusiva ao evento de hoje, que traz
uma mensagem de alegria e esperança para todos nós. Ela, através
de João Batista, nos conduz para dentro da verdadeira Luz de todos
os povos, o Salvador, Jesus, do qual nem merecemos desamarrar as
sandálias.

Recordando a Palavra
Nasceu o menino, filho de Isabel e Zacarias. A vizinhança toda tam-
bém festejou, pois Isabel, não podia ter filhos, porém foi agraciada
pela misericórdia do Senhor. Zacarias continuava mudo, sem poder
BEM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

falar, pois não havia acreditado na mensagem do anjo, de que sua


mulher, estéril, ia ter um filho..
Oito dias depois, no dia da circuncisão do menino, queriam
dar-lhe o nome de Zacarias. Zacarias Júnior, diríamos hoje! Mas a
mãe propôs outro nome, João, o que causou estranheza a algumas
pessoas. João?!... Um nome que nem consta nos anais da família!...
O pai, ainda sem poder falar, escreveu numa tabuinha: “João é o seu
nome”. Na mesma hora, a voz de Zacarias se soltou e ele começou
a louvar Deus.
A notícia se espalhou pela vizinhança e por toda a região.
Espantados e até com medo, todos pensavam consigo: “O que não
vai ser deste menino?!”. Diz o evangelho que, “de fato, a mão do
>

Senhor estava com ele”, que “crescia e se fortalecia em espírito”.


Quando cresceu, passou a viver nos lugares desertos, “até ao dia em
que se apresentou publicamente a Israel”.
Cumpria-se, assim, o que já proclamava o profeta Isaías, como
ouvimos na primeira leitura: “O Senhor chamou-me antes de eu
nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu
nome”, João, filho de Isabel e Zacarias, era destinado a ser também
ele um profeta, mas um profeta com uma missão bem específica e
muito importante: a de fazer a ponte entre o antigo e o novo testa-
mento inaugurado por Jesus.
O próprio apóstolo Paulo, mais tarde — como vimos na segunda
leitura —, testemunha que, antes de Jesus vir a público, “João pregou
um batismo de conversão para todo o povo de Israel”. Ele o fazia,
avisando a todos: “Não sou eu, não, o messias que estais esperando.
Depois de mim, sim, virá aquele, do qual nem mereço desamarrar
as sandálias”.

Atualizando a Palavra
Deus tem seus caminhos, Deus tem seus planos para a salvação da
humanidade em Jesus Cristo. Depois que Jesus morreu e ressusci-
tou, a comunidade cristã primitiva logo percebeu: a mão misteriosa
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

de Deus já estava ali, na pessoa de João Batista, desde sua concepção


e de seu nascimento até sua pregação de um batismo de conver-
são para acolher a grande novidade do Reino que em Jesus estava
para irromper. Foi Deus que enviou João para “dar testemunho da
luz e preparar para o Senhor um novo povo disposto a recebê-lo”
(cf. Jo 1,6-7; Le 1,17).
Celebrando hoje o nascimento de João Batista, contemplamos,
ao mesmo tempo, a figura do Salvador do mundo presente entre
os seres humanos. Contemplamos a figura do Filho de Deus que,
descendo do céu, mergulhou (foi batizado) no oceano de nossa exis-
tência humana para fazer de cada um de nós, n'Ele, também filhos
e filhas do Altíssimo Senhor do céu e da terra. Contemplamos e ce-
lebramos o divino Cordeiro que, por sua morte e ressurreição, tirou
o pecado do mundo e nos garantiu a salvação e a paz.
Como João Batista, também nós, agora na qualidade de cristãos
renascidos nas águas do Batismo, somos destinados a uma missão, a
saber, a missão de anunciar o Salvador, que fez de nossos corpos sua
morada. Como faremos isso? Por nossas palavras e ações, por nossa
postura ética cristã em um mundo que, muitas vezes, aberta ou dis-
farçadamente, opõe resistência à Palavra libertadora de Deus.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


No início da missa de hoje, ao Deus que suscitou São João Batista “a
fim de preparar para o Senhor um povo perfeito” fizemos este pe-
dido: “Concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos
passos no caminho da salvação e da paz”,
Logo mais, em torno do altar, proclamando as maravilhas ope-
radas em João Batista, vamos também nós, com Zacarias, soltar
nossa voz e começar a louvar o Senhor, Pai santo, Deus eterno e
todo-poderoso. Vamos fazê-lo unidos aos anjos, a São João Batista e
a todos os santos, cantando aquele hino que eles cantam sem cessar
no céu, diante do trono do Cordeiro: Santo, santo, santo...
BASE Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

Em comunhão com toda a Igreja do céu e da terra, nesse mes-


mo clima de ação de graças, fazemos memória da Páscoa do Senhor
e nossa páscoa, pela qual oferecemos ao Pai o corpo entregue e o
sangue derramado de Jesus. O Pai nos entrega em alimento o Pão
do céu, a fim de sermos também nós Corpo de Cristo bem unido a
serviço da salvação e da paz.
Restaurados à mesa do Cordeiro divino, nós pedimos a Deus que
a Igreja, ao festejar o nascimento de São João Batista, de fato “reco-
nheça no Cristo, por ele anunciado, Aquele que nos faz renascer”.
Partimos para a missão, junto com São João Batista! Abençoados
por Deus, partimos dispostos a colaborar com São João Batista para
que nossa sociedade seja de fato uma sociedade justa e fraterna.
Que assim seja. Amém!

Sugestões para a celebração


* “Não chegue na última hora para a celebração da missa. Chegue
com certa antecedência, porque é bom que você domine o tem-
po, em vista do que é prioritário no seu ministério. Assim po-
derá ter alguns minutos de silêncio para encontrar calma, para
interromper seu trabalho às vezes frenético, para tornar-se bem
consciente do que está se preparando para celebrar: o mistério
da fé, da esperança e do amor”.*”
« “Quando chega o momento... (para) começar a celebração, você
faz o ingresso. Entre na paz, disposto, sem pressa, sabendo que
você, com esse ingresso, deve mostrar o Cristo que está chegan-
do. Você há de ser um “sinal” da vinda do Kyrios [Senhor] em
nosso meio. Sim, Cristo continua invisível, mas é ele quem re-
almente preside a liturgia. E a liturgia acontece na comunhão
entre a igreja na terra e a assembleia das criaturas celestes e dos

14 E. Bianchi. Presbiteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 11.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

santos ao redor dele, o Cordeiro que está diante do trono


(cf. Ap 5,6-14; 7,9-17)".5
e João Batista lembra o batismo de Jesus no rio Jordão. Assim, pois,
seria bem expressivo no ato penitencial aspergir a assembleia
com água, como memória do nosso Batismo.

* À quem preside: após a oração eucarística, “quando você come-


ça a proclamar que o pão posto no altar é o corpo do Cordeiro
de Deus e quando parte, não esqueça que “partir o pão” era o
nome com que os cristãos primitivos designavam a eucaristia
(cf. Lc 24,35; At 2,42). Portanto, ao parti-lo, faça-o de tal forma
que a assembleia veja você partindo-o com arte e solenidade,
para narrar com esse ato a vida doada por Cristo, o seu corpo
partido em nosso favor: não é mera ação funcional, embora seja
narração icônica, é gesto que mostra o sacrifício de Cristo na
cruz, uma vida partida e partilhada por amor ao Pai e às criatu-
ras humanas, uma vida com que Jesus amou os seus “até o fim”
(Jo 13,1), até o extremo, Com igual atenção e solenidade, coloque
no cálice o pequeno pedaço do pão, pronunciando em voz baixa
as palavras que dão significado ao ato; se você cumprir bem esse
gesto, não mecanicamente, também os fieis compreenderão o-
significado”.!é

15 E. Bianchi. Presbíteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 12-13.


16 Ibid,, p. 31-32.
13º DOMINGO DO TEMPO COMUM

26 de junho de 2011

DESPOJAMENTO DO MISSIONÁRIO CRISTÃO E HOSPITALIDADE PARA COM ELE

Leituras: 2Rs 4,8-11.14-16a; Sl 88(89),2-3.16-17.18-19;


Rm 6,3-4.8-11; Mt 10,37-42

Situando-nos brevemente

Na última sexta-feira, dia 24 de junho, celebramos a solenidade do


natal de São João Batista, o profeta escolhido por Deus para procla-
mar a presença do Salvador no meio do povo, profeta com a missão
de preparar o povo para acolher o Novo que estava chegando na
pessoa de Jesus, do Filho de Deus, inclusive colocando em xeque os
esquemas egoístas e opressores deste mundo.
No quinta-feira anterior, dia 23, celebramos a solenidade do
santíssimo Corpo entregue e do santíssimo Sangue derramado de
Cristo, expressão e modelo máximo de amor a ser assimilado por
nós, para que todos tenham vida plena, vida eterna.
Ao falar em doação total, vale lembrar que, no domingo pas-
sado, celebramos o modo próprio de ser de Deus em sua intimida-
de que extravasa para dentro da nossa história: Ele é uno e trino,
Santíssima Trindade, no amor que ele mesmo é em plenitude.
Neste mesmo amor, Deus nos reúne aqui hoje, mais uma vez,
para um contato com sua Palavra viva, na escritura proclamada e,
depois, na ceia memorial da Páscoa, da qual participamos. “Bendito
seja Deus, que nos reuniu no amor de Cristo”, proclamou esta as-
sembleia logo no início.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Recordando a Palavra
Encontramos Jesus falando a seus apóstolos, ou, em outras pala-
vras, aos discípulos missionários por ele enviados. A eles se dirige
com estas significativas palavras: “Quem vos recebe, a mim recebe;
e quem me recebe, recebe aquele que me enviou... Quem der, ainda
que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos,
por ser meu discípulo... receberá a sua recompensa”.
No fundo, Jesus faz notar que há (e deve haver!) profunda iden-
tificação entre Ele e seu discípulo missionário, e vice-versa. Tal qual
Jesus vivia a vontade do Pai como valor máximo, assim entre o
discípulo missionário e Jesus há (e deve haver!) em tudo (na vida
simples, despojada, pobre, e até mesmo na cruz), uma comunhão
tal que ultrapasse os próprios laços familiares. Caso contrário, nem
discípulo é: “Quem ama seu pai, sua mãe, seu filho ou filha mais do
que a mim, não é digno mim. Quem não toma a sua cruz e não me
segue, não é digno de mim”.
O discípulo missionário cristão é aquele(a) que colocou Jesus no
centro de sua vida. Por isso, ele se identifica com o Mestre. Assim,
quem acolhe esse discípulo está acolhendo o próprio Jesus e, n'Ele,
o próprio Deus e Pai de todos e terá também sua recompensa por
isso.
Isso faz lembrar aquela mulher que acolheu e hospedou em
sua casa o profeta Eliseu, percebido por ela como um “homem de
Deus”. Ela era rica, mas, ao mesmo tempo, sofrida, pois não podia
ter filhos. Era estéril e seu marido já era idoso. Então, por ter aco-
lhido o “homem de Deus”, ela foi agraciada com o dom da vida por
ela tão sonhado: “Daqui a um ano, neste tempo, estás com um filho
nos braços”, anuncia-lhe o profeta.
De fato, o amor de Deus manifesta-se fecundo na hospitalida-
de dada aos pequeninos, profetas e pregadores identificados com a
justiça de Deus, deste Deus que é nosso escudo, nossa proteção. Por
isso hoje cantamos com Salmo 88: “Ó Senhor, eu cantarei, eterna-
mente, O vosso amor”.
PASB Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Este amor de Deus se manifestou de maneira plena, séculos


mais tarde, na plenitude dos tempos, na pessoa de Jesus e, sobretu-
do em sua morte e ressurreição. Batizados (mergulhados, sepulta-
dos) em Jesus Cristo, isto é, em sua morte, passamos a viver uma
vida totalmente nova, por isso o apóstolo Paulo hoje nos exorta:
“Sepultados com ele pelo batismo, vivamos uma vida nova!”

Atualizando a Palavra
Que vida nova é essa? Paulo a resume com esta exortação, ouvida
na segunda leitura: “Considerai-vos mortos para o pecado e vivos
para Deus, em Jesus Cristo”.
O evangelho de hoje se insere bem no contexto do capítulo 10
de Mateus, que tem como tema central “a missão dos discípulos
numa sociedade conflituosa que defende o acúmulo da riqueza, o
prestígio e o poder. São justamente as tentações que Jesus venceu
para inaugurar o Reino da Justiça (cf. 4,1-11). Cabe, agora, aos segui-
dores do Mestre da Justiça enfrentar e vencer esses “demônios”.
Assim como Eliseu era um homem simples, despojado, um
pregador ambulante, porta-voz de Deus em defesa do direito dos
pobres, também os missionários cristãos “são gente simples, os 'pe-
quenos”, que deixaram tudo e que já não têm lugar na sociedade (Mt
10,37-39). Impulsionados pela urgência de levar o evangelho a todas
as nações (Mt 28,16-20)... percorrem campos e cidades, vivendo em
extrema pobreza, como foram depois os primeiros franciscanos”.
Como certamente era difícil, no tempo de Jesus, “acolher esses
estropiados missionários errantes que eram os profetas cristãos”!
Tão parecidos com o Mestre — inclusive no sofrimento — que Jesus
mesmo se vê identificado com eles: “Quem vos recebe, é a mim
mesmo que recebe... e aquele que me enviou”. Por isso, a recompen-
sa também é certa para quem acolhe tais pessoas, nem que seja com
um simples copo de água.

17 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 174.


18 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 159.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

No seguimento do Mestre, como já aludimos, “os profetas e


missionários são pequenos, despojados como ele; e ele se identifica
com o homem despojado, pobre, pois esta é a medida de nossa bon-
dade gratuita. O pobre nada pode retribuir. E na atitude adotada
face ao pobre (missionário ou não), mostramos a verdadeira gene-
rosidade de nosso coração”. A recompensa, enfim, será agraciada
pelo Deus que se fez pobre com os pobres: com a alegria eterna
(Mt 25,31-46).
A Palavra de Deus hoje nos ensina também a “importância da
acolhida dos pobres missionários itinerantes. Aos olhos do mun-
do, eles “perdem a vida”, mas, na realidade a ganham, a realizam. E
quem se solidariza com eles, solidariza-se com o próprio Cristo”? e,
como consequência, também ganha a vida.
Todos os “pequenos, pelo fato de serem 'pequenos/, já são por si
mesmos uma fala de Deus para nós. Assim testemunha um irmão
nosso, teólogo e biblista: “Nós é que tendemos a dar mais valor à
palavra de um graúdo do que à de uma criança ou de uma pessoa
simples. Por isso, é bom ouvi-la da boca de alguém que não tem im-
portância. Como me aconteceu, certo dia, em São Paulo, quando,
distraído, joguei um papel na rua e um adolescente mo devolveu,
pedindo que colocasse no lixo”.?!
Para concluir, como seguidores de Cristo, discípulos missioná-
rios seus, “num tipo de sociedade que considera “justo” o acúmulo
da vida nas mãos de poucos em prejuízo de uma maioria sofredora
que enfrenta situações de morte a cada dia”, deixemo-nos guiar pe-
los ensinamentos do Mestre da Justiça, que “nos mostra que o sen-
tido da vida não está em reservá-la, mas na doação pela justiça do
Reino”.”* Renovemos nossa adesão a Ele acontecida no dia do nosso
Batismo, comunguemos com Ele numa vida abnegada e simples,

19 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 159.


20 Ibid., p. 160.
21 Ibid.
22 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 175.
BH Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

acolhamos seus evangelizadores como sendo Ele mesmo vindo ao


nosso encontro.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


No início desta celebração nós fizemos este pedido: “Ó Deus, pela
vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos
envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da
vossa verdade”.
Logo mais, ao redor do altar, vamos celebrar a total doação de
Jesus por nós, pedindo, ao mesmo tempo, que nossa vida corres-
ponda à santidade desta Eucaristia que celebramos. Nela se torna
presente a pobreza absoluta de Jesus que se faz corpo entregue e
sangue derramado por nossa salvação.
Alimentando-nos desta santa Ceia, assimilemos em nós tal ab-
negação divina e assim sejamos sempre mais parecidos com Jesus,
em vista de uma sociedade mais justa e fraterna.
Como conclusão da liturgia eucarística, o sacerdote faz este im-
portante pedido: “Ó Deus, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo que,
oferecemos em sacrifício e recebemos em comunhão, nos trans-
mitam uma vida nova, para que, unidos a vós pela caridade que
não passa, possamos produzir frutos que permaneçam. Por Cristo,
nosso Senhor”. Toda a assembleia assina embaixo com um sincero
“Amém”.

Sugestões para a celebração


* “Antes de tudo, para celebrar a eucaristia, você deve preparar-se,
orando. O que quer dizer? Que no dia anterior já deve, com uma
oração de escuta, aproximar-se da liturgia que irá celebrar ama-
nhã. Pegue o Lecionário e leia com atenção os textos bíblicos pre-
vistos para o dia seguinte. Trata-se de ficar na escuta do Senhor,
ciente de que precisa ser ouvido e acolhido por você mesmo o
que deverá anunciar. De fato, se você não estiver evangelizado,
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

não poderá evangelizar, se a Palavra não mora em você, não po-


derá comunicá-la para a assembleia que você vai presidir”?
- “O lugar próprio da lembrança dos falecidos, especialmente de
7º dia, é nas intercessões da oração eucarística (memento dos
mortos). Não se exclui a possibilidade de rezar pelos defuntos
também na oração dos fieis, especialmente em missas pelos fa-
lecidos. Deve-se evitar fazer a leitura de uma lista de intenções
antes da missa, menos ainda antes da oração do dia (coleta), após
€ 23» 24
o oremos .

- “O Glória não é um hino trinitário, mas cristológico. Deve-se


estar atento a este fato na escolha dos cantos para o momento
do Glória. Ideal seria cantar o texto mesmo, tal como nos foi
transmitido desde a antiguidade, que se encontra no Missal
Romano"?

e Para quem faz a homilia: terminada a homilia, convide a as-


sembleia para, em um momento de profundo silêncio orante,
meditar e contemplar tudo o que Jesus nos ensinou no dia de
hoje. Sobretudo quem preside, entre em silêncio profundo. O
seu exemplo motiva e ajuda a assembleia a mergulhar no misté-
rio do silêncio litúrgico.

23 E. Bianchi. Presbiteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 9.


24 CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Op. cit., p. 35.
25 CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Op. cit, p. 35.
SOLENIDADE DO SAGRADO
CORAÇÃO DE JESUS
01 de julho 2011

OS PENSAMENTOS GENEROSOS DO CORAÇÃO DE DEUS

Leituras:
Dt 7,6-11; Salmo responsorial: Sl 102(103),1-2.3-4.6-7.8.10;
1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30

Situando-nos brevemente
Não faz muito tempo, celebramos, durante cinquenta dias, as so-
lenidades pascais. Hoje, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, é
como se entrássemos de novo naquelas solenidades e revivêssemos
o imenso mistério do amor de Deus manifestado em Cristo. E o
fazemos pela via simbólica do coração, do coração de Jesus.
A devoção ao Sagrado Coração provém de tempos bastante remo-
tos. Grandes santos medievais, como São Bernardo e São Boaventura,
teceram “profundas considerações sobre o amor de Deus manifesta-
do em Cristo Jesus, sobretudo em sua sagrada Paixão”.
Foi, no entanto, o realce dado à humanidade de Jesus Cristo
que “fez brotar a devoção ao seu Coração sagrado, simbolo do amor
de Deus transformado em amor humano. A devoção como tal tem
início nos fins do século 13 e inícios do século 14, sobretudo em
regiões da França e Alemanha. Sua festa começou a ser celebrada a
partir do século 16, sobretudo na França”.
Vários papas deram sua chancela ao novo culto, desde Pio IX
que, em 1856, estendeu a festa a toda a Igreja, passando por Leão

26 Cf. A. Beckhãuser. Viver em Cristo. Espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis: Vozes, 1992, p.
161.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino era

XIII que consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus, até Pio


XII que, mais uma vez, recomendou esta devoção mediante uma
carta encíclica.
O que nos diz a Palavra de Deus nesta solenidade e qual o mis-
tério de Cristo que nela celebramos?

Recordando a Palavra

Vemos hoje Jesus louvando o Pai, Senhor do céu e da terra, porque


revelou “estas coisas”, isto é, a novidade do amor de Deus na pessoa
de Jesus, aos 'pequeninos”, ficando escondidas aos que, cheios de si,
já se consideram sábios e entendidos. “Sim, Pai, porque assim foi do
teu agrado”, completa ele em sua oração de louvor.
Em seguida, Jesus apresenta-se em total sintonia com o Pai que
tem um amor de predileção para os humildes e fracos. Ele conclui
com estas palavras cheias de ternura para com o povo sofrido e po-
bre, subjugado pelos poderosos de então: “Vinde a mim todos vós
que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu
vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descan-
so. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. |
De fato, neste Jesus se manifesta e se torna vivo e humana-
mente presente o amor misericordioso de Deus que, já no Antigo
Testamento, se havia manifestado ao povo por ele escolhido e con-
sagrado para viver e observar este amor: “O Senhor se afeiçoou a
vós e vos escolheu... porque vos amou e quis cumprir o juramento
que fez a vossos pais. Foi por isso que o Senhor, com mão poderosa,
vos fez sair e vos resgatou da casa da escravidão, das mãos do Faraó,
rei do Egito... Por isso, ponde em prática este mesmo amor” (Dt 7,6-
11). Foi o que ouvimos hoje, na primeira leitura.
Como se vê, este amor de Deus já vem de longe e atravessa os
tempos, como proclamamos com o salmo 102: “O amor do Senhor
Deus por quem o teme, é de sempre e perdura para sempre”.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

Perdura para sempre, pois Deus mesmo “é amor”, como con-


clui o evangelista João, depois de ter ouvido, visto, contemplado e
apalpado pessoalmente o Verbo da vida, Jesus Cristo (cf. 1Jo 1,1-3).
O evangelista continua: “Foi assim que o amor de Deus se manifes-
tou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que
tenhamos vida por meio dele. Nisto consiste o amor: não fomos nós
que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou em enviou o seu
Filho... como Salvador do mundo” (4,9-10.14). Como consequência,
exatamente porque Deus é amor, só teremos comunhão com ele
se, pelo Espírito que ele nos deu, “nos amarmos uns aos outros”
(4,12-13). Numa palavra: “Deus é amor: quem permanece no amor,
permanece com Deus, e Deus permanece com ele” (4,16). Assim
Deus nos falou na segunda leitura de hoje.

Refletindo sobre a Palavra e atualizando-a


Solenidade do Sagrado Coração de Jesus! Na verdade, quando fala-
mos deste coração, referimo-nos a todas as manifestações do amor
de Jesus que passou por este mundo fazendo o bem (cf. At 10,38).
Referimo-nos ao amor de Deus que se encarnou em Jesus Cristo.
Referimo-nos a toda a “personalidade de Jesus, personalidade deter-
minada pelo amor de Deus que nele vibra: a revelação do amor de
Deus em Jesus Cristo”.”
“Deus quis revelar-se aos pequenos. Esse amor de predileção
para os humildes e fracos, Jesus o assume e nos chama para nele en-
contrarmos o alívio que um Deus assim significa para nós. Assim, a
bondade do coração de Jesus não é coisa sentimental, mas o fato de
assumir plenamente o íntimo ser de Deus”,” como vimos na soleni-
dade da Santíssima Trindade.
Mas que amor é este? Trata-se de uma realidade hoje, por ve-
zes, tão banalizada. “A festa de hoje nos propõe um critério para o

27 J. Konnings. Liturgia dominiical. Op. cit., p. 130.


28 Ibid.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino 36

amor: Jesus mesmo, Jesus na sua personalidade humana, com seus


sentimentos humanos, com sua coragem humana, com a fidelidade
humana do compromisso com os amigos e com o povo. Não um
amor platônico”, mas um amor realmente humano, mola propulso-
ra da existência. O novo povo o sabe bem: quem não mais consegue
amar, deixa de viver. Mas nem sempre se consegue amar bem. A
festa de hoje nos propõe um modelo e um legado: o amor autenti-
camente humano de Cristo. Neste, se realiza Deus mesmo. Amar
é dar a vida, é entregar-se... Mas importa que o amor tenha seu
objeto adequado: meu irmão, filho do mesmo Pai, irmão de Jesus
Cristo”?

Ligando a Palavra com a ação eucarística


O modelo e o legado do amor misericordioso de Deus merecem
toda a nossa consideração e meditação, para que assim “possamos
receber, desta fonte de vida, uma torrente de graças”, como expres-
samos em oração no início de nossa celebração.
Ao consagrar toda a nossa vida a esse Cristo com um coração
tão humano, manso, humilde, suave e grande, possamos mostrar-
lhe como lhe somos gratos por nos ter salvo do jugo do pecado e da
morte e, assim, nos garantido o verdadeiro descanso.
Ao Pai santo, eterno e todo-poderoso, toda nossa ação de gra-
ças, sempre e em todo lugar, sobretudo por este Cristo que “elevado
na Cruz, entregou-se por nós com imenso amor”. Por este Cristo,
de cujo lado aberto nasceram os sacramentos da Igreja, “para que
todos, atraídos ao seu Coração, pudessem beber, com perene ale-
gria, nesta fonte salvadora” (prefácio).
Ao pensar que, logo mais, beberemos nesta fonte, isto é, na san-
ta Eucaristia, corpo entregue e sangue derramado do Senhor Jesus,
não resta senão mais um último pedido: “Ó Deus, que este sacra-
mento da caridade nos inflame no vosso amor e, sempre voltados

29 J. Konnings. Liturgia dominiical. Op. cit., p. 131.


Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

para o vosso Filho, aprendamos a reconhecê-lo em cada irmão”


(Oração depois da comunhão). Amém! Assim seja!

Sugestões para a celebração


*« Em muitas comunidades, costuma-se, neste dia (como em ou-
tros dias), dar destaque especial à imagem do Sagrado Coração
de Jesus. Seja, contudo, de tal forma que não “roube a cena” da
mesa do Senhor (altar da celebração) nem da mesa da Palavra
(ambão). O altar, por ser “o centro da ação de graças que se re-
aliza pela Eucaristia”, lugar “onde se torna presente o sacrifício
da cruz sob os sinais sacramentais..., a mesa do Senhor na qual o
povo de Deus é convidado a participar por meio da Missa”, deve
ser “o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de
toda a assembleia dos fiéis”.” Igualmente o ambão, por causa da
dignidade da Palavra de Deus proclamada, é o “lugar condig-
no... para onde se volta espontaneamente a atenção dos fiéis no
momento da liturgia da Palavra”
- No momento da liturgia da Palavra, entre uma leitura e outra,
ou após a homilia, “reserve um lugar para o silêncio. A Palavra
precisa ser acompanhada do silêncio, a fim de que seja possível
interiorizá-la, '“ruminá-la', guardá-la e assumi-la como memória
Dei (memória de Deus) em nosso coração. Silêncio habitado, si-
lêncio eloquente, silêncio que não deve ser preenchido de mo-
vimento do corpo, da cabeça, dos olhos, mas apenas do louvor
e da tranquilidade (cf. Sl 65,2). Aliás, você bem o sabe, existem
silêncios impacientes que são piores do que o rumor”. Para tan-
to, nada custa antes uma pequena motivação, principalmente
quando, neste tempo de tanto barulho, a assembleia ainda não
está habituada a silenciar e aquietar o coração.

30 Cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, Brasília: Edições CNBB, 2009, n. 296, 299.
31 Ibid., n. 309.
32 E. Bianchi. Presbíteros, Palavra e Liturgia. Op, cit., p. 20.
Jesus: Presença reveladora da Justica do Reino

e O presidente proclame a Oração Eucarística como quem, de fato,


está em diálogo profundo e verdadeiro com o mistério de Deus.
Isso aparece pela postura do corpo, pelo olhar que se volta para
o alto, pela convicção e unção com que se proclamam as santas
palavras da ação de graças (eucaristia). Para o povo, isso faz dife-
rença. Percebendo a postura orante do presidente, a assembleia
começa a sentir outra vibração, outra mística, exatamente pelo
clima orante que se estabelece. Possibilita-se sua participação in-
terior e, ao mesmo tempo, vibrante nas aclamações que lhe são
próprias.
SÃO PEDRO E SÃO PAULO,
APÓSTOLOS
03 de julho 2011

SÃO PEDRO E SÃO PAULO, FUNDADORES DA IGREJA E AMIGOS DO SENHOR

Leituras:
At 12,1-11; Sl 33(34),2-3.4-5.6-7.8-9;
2 Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19

Situando-nos brevemente
Solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, a celebramos em
pleno domingo, dia do Senhor. Por serem os fundadores da Igreja e
especiais amigos do Senhor, não convém que sejam celebrados num
dia simples, mesmo quando o dia 29 cai durante a semana. Eles me-
recem um domingo!
Nesta solenidade, o que celebramos não são os méritos destes
apóstolos. Celebramos, sim, o Senhor mesmo que os escolheu e os
enviou para serem seus principais parceiros no grande mutirão em
favor da vida, inaugurado pelo mistério pascal de Cristo e assistido
pelo dom do Espírito Santo.
São Pedro e São Paulo, ao lado São João Batista e de Santo
Antônio, são santos muito estimados pelo povo brasileiro. Eles são
alegremente festejados pela religiosidade popular, compondo as tra-
dicionais festas juninas de nosso país.
Trata-se, ao mesmo tempo, de uma feliz chance que nos é dada
de nos achegarmos à fqnte da vida cristã, isto é, à Palavra de Deus e à
Eucaristia que estes apóstolos viveram e nós hoje aqui celebramos.
Vejamos, pois, mais de perto o que nos ensina o próprio Senhor
Deus por sua Palavra, neste dia tão importante para a vida da Igreja
e de toda a humanidade.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino ANO

Recordando a Palavra
O evangelho de hoje nos apresenta Jesus, junto aos discípulos, fa-
zendo uma espécie de sondagem de opinião a respeito de sua pes-
soa. Os discípulos informam-lhe que a opinião, em geral, se divide:
o povo está confundindo Jesus com João Batista, Elias, Jeremias ou
outros profetas... |
Então Jesus dirige-se diretamente aos discípulos: “E vós, quem
dizeis que eu sou?” Simão Pedro, prontamente, responde: “Tu és o
Messias, o Filho do Deus vivo!”. Ao que Jesus responde: “Feliz és tu,
Simão..., porque isso que estás dizendo te foi revelado por meu Pai
que está nos céus: é coisa de Deus! Fundamental, portanto, como
uma rocha. Por esse motivo, agora eu vou passar a te chamar de
Pedro (que quer dizer pedra, rocha), em memória desta verdade de
fé que professaste. Sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e O
poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do
Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
Sabemos que este Jesus, que Pedro professa como Messias e
Filho do Deus vivo, teve de enfrentar perigosas resistências, sobre-
tudo por parte das autoridades religiosas e políticas. Inclusive, foi.
morto numa cruz.
Com Pedro, depois, não foi diferente. Como discípulo des-
te Jesus que, depois de morto, apareceu vivo, ressuscitado, Pedro
teve de enfrentar ferozes resistências em seu trabalho missioná-
rio. Passou, por exemplo, pela dura experiência de horas na cadeia,
como ouvimos na primeira leitura. Ele foi, porém, milagrosamente
libertado por um anjo. Sinal de que o Senhor, então ressuscitado,
estava com ele. Como Pedro mesmo exclamou ao se dar conta que
estava livre: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo
para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu
esperava!”.
Assim como Pedro, também Paulo testemunha como o Senhor
esteve ao seu lado, dando-lhe forças em sua luta apostólica: “Quanto
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

a mim”, escreve já no final de sua vida, “aproxima-se o momento


de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida,
guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça que
o Senhor me dará... Ele esteve ao meu lado e me deu forças, ele fez
com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e
ouvida por todas as nações, e eu fui libertado da boca do leão. O
Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino ce-
leste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos. Amém!”,
Por isso faz sentido cantarmos hoje o Salmo 33: “Bendirei o
Senhor Deus em todo o tempo!... Comigo engrandecei o Senhor
Deus!... Pois de todos os temores Ele me livrou”.

Atualizando a Palavra

Deus nunca trabalha sozinho. Ele trabalha sempre em parceria.


Hoje, celebrando São Pedro e São Paulo, os celebramos como os
dois primeiros e principais parceiros do Senhor na edificação da co-
munidade cristã, Igreja, no imenso mutirão suscitado pelo Espírito,
em favor da verdadeira qualidade de vida para a humanidade.
Celebrando São Pedro, celebramos o mistério da Igreja que se
edifica sobre aquela verdade de fé por ele proclamada, a saber, que
Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo.
A morte-ressurreição de Jesus (mistério pascal) é a prova con-
tundente desta verdade que, por isso mesmo, tornou-se fundamen-
to, rocha firme sobre a qual a comunidade cristã, Igreja, se edifica. O
nome “Pedro” (que significa “pedra”, 'rocha”) dado por Jesus a Simão
tornou-se, então, um verdadeiro sacramento desta verdade eterna
e invencível, enraizada no seio da Igreja: Jesus é o Messias, Filho do
Deus vivo. Isto significa que o reino do mal e da morte não é todo-
poderoso frente a este mistério da Igreja, que Pedro é chamado a
representar: “O poder do inferno nunca poderá vencê-la”. Podem
perseguir e matar os discípulos missionários de Jesus, mas a raiz (o
fundamento) da Igreja... isso ninguém mata!
Jesus: Presença reveladora da Justica do Reino PAO,

Pedro torna-se, assim, referencial (a chave!) daquilo que Cristo


é: Messias, Filho do Deus vivo. Por isso mesmo, ele se torna tam-
bém o responsável último da comunidade cristã, no que diz respeito
à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.
Celebrando São Paulo, celebramos o fundamento da Igreja que
se torna corpo eclesial (cf. 1Cor 12,12-30), ao qual todos (também
os não judeus) são chamados a se agregar pelo Batismo, para que,
unidos em Cristo num só corpo, lutemos pelo reino da vida (reino
de Deus), no meio da sociedade em que vivemos.
Celebrando São Paulo, celebramos o mistério da Igreja que, fei-
to corpo de Cristo, é uma Igreja eminentemente missionária, isto
é, que procura por todos os meios expandir a justiça do evangelho
dentro da sociedade humana. Por esta justiça, Paulo combateu o
“bom combate” até o fim.
Qual é hoje o bom combate? “Como no tempo de Pedro e Paulo,
é a luta pela justiça e a verdade em meio a abusos, contradições e
deformações. Por um lado, a exploração desavergonhada, que até se
serve dos símbolos da nossa religião; por outro, a tentação de largar
tudo e dizer que a religião é um obstáculo para a libertação. Nossa
luta é, precisamente, assumir a libertação em nome de Jesus, sendo
fieis a ele; pois, na sua morte, ele realizou a solidariedade mais radi-
cal que podemos imaginar”?
Na alegria de festejarmos hoje São Pedro e São Paulo, fizemos
a Deus, no início desta celebração, este pedido: “concedei à vossa
Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes Apóstolos que nos
deram as primícias da fé”. Eis a missão da Igreja hoje: seguir em
tudo os ensinamentos deixados por estes apóstolos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Logo mais, nos achegaremos ao altar para a celebração da liturgia
eucarística. Isto fazemos em comunhão com São Pedro e São Paulo.

33 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 490.


ARE Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Colocadas as oferendas sobre o altar para serem consagradas, pedi-


mos a Deus que elas sejam acompanhadas pela oração destes após-
tolos e, ao mesmo tempo, que esta mesma oração nos ajude a cele-
brar este sacrifício com o coração totalmente voltado para Deus.
Com o nosso coração voltado para o alto, damos graças a Deus
por nos conceder a alegria de festejar os apóstolos São Pedro e São
Paulo.
Damos graças a Deus porque “Pedro, o primeiro a proclamar a
fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel”.
Damos graças a Deus porque “Paulo, mestre e doutor das na-
ções, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação”.
Damos graças a Deus porque “por diferentes meios, os dois
congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do mar-
tírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração”.
Nesse clima de ação de graças, unidos num só coro com todos
os anjos e santos, cantamos alegremente a santidade de nosso Deus
e fazemos memória da Páscoa de Jesus e nossa páscoa.
Nesse clima de ação de graças, oferecemos ao Pai o sacrifício
de Cristo e, santificados pelo Espírito para sermos um só corpo,
oramos por toda a Igreja peregrina rumo ao céu.
Nesse clima de ação de graças, acolhemos e assumimos o corpo
entregue e o sangue derramado do Senhor Jesus, concluindo com
este pedido: “Concedei-nos, ó Deus, por esta Eucaristia, viver de
tal modo na vossa Igreja que, perseverando na fração do pão e na
doutrina dos Apóstolos, e enraizados no vosso amor, sejamos um só
coração e uma só alma”.
Que assim seja! Amém!

Sugestões para a celebração


* Deus não é apressado. Ele é calmo, sereno, pacífico, a medida
certa de todas as coisas. Todos os gestos na missa (caminhar em
procissão, caminhar de um lado para outro, dirigir-se ao am-
bão etc.) devem expressar, de alguma maneira, isso que Deus
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

é: serenidade, calma... Sem pressa, portanto, sem correria, sem


afobamento. Precisamente por serem expressão do rosto sereno
de Deus, nossas celebrações adquirem um tom eminentemente
orante.
« Opresbitero, “chegando à frente do altar, ciente de que está dian-
te do altar do único sacrifício perfeito (cf. Hb 9,11-28) e diante da
mesa do banquete do Senhor (cf. Mc 14,22-26 e par.); Lc 24,30-
31), faça profunda inclinação, plena veneração, e beije com amor
essa pedra que é sinal de Cristo (cf. Sl 118,22-23; Mc 12,10-11 e
par.; ICor 10,4), que é o altar da aliança do Sinai (cf. Ex 24), que
é o Gólgota, sobre o qual foi estipulada a definitiva aliança entre
Deus e o seu povo (cf. Jo 19,17-37). E, assim, venere também as
relíquias dos mártires e dos santos colocados no altar e que são
memória dos que na própria carne viveram o sacrifício de Cristo
nos vários lugares e séculos”*
e Na liturgia eucarística “é que são mais frequentes os gestos que
você deve cumprir, sem esquecer que fazem parte da oração.
Você, no corpo, na voz, no olhar, na postura, no ritmo das pa-
lavras, não deve jamais atrair para si mesmo as atenções, mas
que tudo seja 'sinal' para a assembleia, orientando-a sempre
para o Senhor Jesus Cristo e para o agir dele. A questão é fazer
memória”, é celebrar uma anamnese do mistério pascal, morte e
ressurreição de Cristo, mistério acontecido uma única vez para
sempre (ephápax: Hb 7,27; 9,12; 10,10). Lembre-se: fazer memória
não é “imitar”, não é nem mesmo reproduzir a última ceia; é tor-
nar sacramentalmente atual o evento da salvação acontecido na
cruz e na ressurreição: não é mimesis (imitação), e sim andmnesis
(memorial)".*

34 E. Bianchi. Presbíteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 14-15.


35 Ibid,, p. 22-23.
15º DOMINGO DO TEMPO COMUM

10 de julho de 2011

A PALAVRA A SER OUVIDA E ASSIMILADA

Leituras: Is 55,10-11; Sl 64(65),10.11.12.13.14;


Rm 8,18-23; Mt 13,1-9

Situando-nos

Domingo passado, celebramos a solenidade de São Pedro e São Pau-


lo, fundadores da Igreja e amigos do Senhor. Ambos, cada qual à
sua maneira, foram os grandes missionários e testemunhas da Pala-
vra viva do Pai, isto é, do Senhor Jesus Cristo.
Amanhã, dia 11, a Igreja celebra a memória do pai dos monges
no ocidente, São Bento; no dia 15 (quinta-feira), celebra-se a memó-
ria do grande bispo e mestre franciscano São Boaventura; no próxi-
mo sábado (dia 16), temos a festa da Mãe do Senhor, sob o título de
Nossa Senhora do Carmo.
Que bom estarmos reunidos novamente, neste 15º domingo do
Tempo Comum, para ouvir e assimilar a Palayra que acabou de se
comunicar conosco, quando, nesta celebração, foram proclamadas
as leituras bíblicas. Agora vamos nos aproximar ainda mais dela, a
contemplando e assimilando, através destas breves considerações.

Recordando a Palavra
t

É precisamente da Palavra que Jesus nos fala hoje. Ele o faz con-
tando uma parábola. Diz o evangelho que “Jesus saiu de casa e foi
sentar-se às margens do mar da Galileia”. Uma multidão se reuniu
em torno dele. Como estavam à beira do mar, Jesus entra numa
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

barca para, de lá, falar âquele povo todo. Fala em parábolas. Entre
elas, conta a parábola do agricultor fazendo a semeadura.
A parábola conta que parte da semente caiu à beira do cami-
nho, outra caiu em terreno de muita pedra, outra caiu no meio de
espinhos e ainda outra caiu em terra boa.
As sementes que caíram à beira do caminho foram comidas
pelos passarinhos. As que caíram em terreno pedregoso, depois de
nascidas, acabaram queimadas pelo sol, porque não tinham raiz
suficiente. As que caíram no meio de espinhos, depois de nascidas
e crescidas, acabaram sufocadas pelos espinheiros. As que caíram
em terra boa nasceram sadias, cresceram e produziram abundante
semente.
Ao contar esta parábola, Jesus está se referindo à Palavra de
Deus. Já no Antigo Testamento, como ouvimos na primeira leitura,
Deus usa, através do profeta Isaías, a mesma figura de linguagem
para se referir à sua Palavra: “Assim como a chuva cai do céu e faz
frutificar a terra, assim é a Palavra que sai da minha boca. Ela não
volta vazia. Antes, ela realiza tudo o que planejei e produz os efeitos
que sonhei”.
Por isso, com razão cantamos hoje o Salmo 64, com este signi-
ficativo refrão: “A semente caiu na terra boa e deu fruto”.

Atualizando a Palavra

O que será que Deus está a nos dizer, ao insistir sobre a importância
de sua Palavra?
Em primeiro lugar, é bom lembrar que, para a linguagem bí-
blica, “essa Palavra é muito mais que um som vocálico, pois ma-
nifesta a própria essência de Deus: ele fala libertando. De fato, a
Palavra (em hebraico: dabbar... é bem mais que a pronúncia de sons;
esse termo significa o que está por trás, ou seja, O coração, a força,
a essência de quem fala. A Palavra de Deus, portanto, é a própria
essência de Deus que age nos acontecimentos, transformando tudo
AM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

em libertação e vida. Ele é capaz de, mediante sua Palavra, criar o


mundo, pondo ordem no caos (cf. Gn 1). Muito mais quando o povo
vive uma situação de morte, bem pior que a terra árida, sua Palavra
fecundará novamente a vida desse povo, resgatando-o da situação
de não-vida em que se encontra”.
Quando Jesus conta a parábola do semeador, ele está4 falando
de si mesmo. Ele é a própria Palavra viva do Pai, agora encarna-
da (cf. Jo 1,14), ou seja, ele é o verdadeiro acontecimento divino de
salvação no meio de nós, a presença viva do mistério salvador do
Pai. Por isso, Jesus diz a seus discípulos: “Felizes vós, porque vossos
olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Muitos profetas e justos dese-
jaram ver e ouvir o que vedes e ouvis, e não viram nem ouviram”
(Mt 13,16-17).
Acontece que a própria Palavra, que é Jesus, nos leva pela pa-
rábola a constatar uma triste situação: diante deste acontecimento
de salvação que ele é, existem pessoas que ouvem e veem exterior-
mente, mas não percebem interiormente o que este acontecimento
significa. São os de “coração insensível”, gente tão fechada, travada,
cheia de máscaras e couraças criadas pelos apegos e pelas preocupa-
ções deste mundo, que ouve de má vontade e fecha seus olhos, para
não ver nem ouvir, nem compreender com o coração, perdendo a
chance de se converter e ser curada pela Palavra (cf. v. 15). A Palavra
não cria raízes em tais pessoas. E as causas de tudo isso, onde estão?
Jesus mesmo as expõe no evangelho de hoje: é “o “maligno” (isto é,
as forças contrárias a Jesus e ao Reino de Deus), a superficialidade,
a desistência na hora da dificuldade, as preocupações do mundo e a
ilusão da riqueza”. Tais causas, ainda hoje são as mesmas: “a estraté-
333

gia das forças antievangélicas, consumismo, idolatria da riqueza”.


Graças a Deus, há, entretanto, gente que “ouve a Palavra e a com-
preende”. São as pessgas, cujo corpo é um “chão aberto, generoso,
preparado... num coração acessível e profundo ao mesmo tempo”.

36 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 183.


37 Ibid., p. 165.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino 48

Pessoas simples que, por serem assim, acolhem e assimilam facil-


mente e em profundidade a Palavra (isto é, o acontecimento salva-
dor chamado Jesus) e produzem abundantes frutos de solidarieda-
de, justiça, paz. Até que ponto somos tais pessoas?...
“Importa, pois, prepararmos o chão dos corações para que pos-
sam receber a Palavra: combater os fatores de 'endurecimento” (do-
minação ideológica, alienação, consumismo, culto da riqueza e do
prazer etc.). Em vez do fascínio dos sempre novos (e tão rapidamen-
te envelhecidos) objetos do desejo, a formação para a autenticida-
de e simplicidade, a educação libertadora com vistas ao evangelho.
Então a Palavra, que desce como a chuva do céu, poderá penetrar
no chão e fazer a semente frutificar”;”
Ao Deus que, pela Palavra, mostra a luz da verdade aos que
erram para retomarem o bom carinho, fizemos no início desta cele-
bração este pedido: “Dai a todos os que professam a fé rejeitar o que
não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome”.
Vale a pena todo esse trabalho de conversão e assimilação da
Palavra que é Jesus, o Cristo, ressuscitado, em nossos corpos. Vale a
pena sermos assíduos nesse trabalho, pois, como ouvimos na segun-
da leitura, “os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser
comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. De fato,
junto conosco toda a criação “espera ser libertada da escravidão e,
assim, participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus”. Com
a graça de Deus, um dia vamos chegar lá!

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Logo mais, após professarmos nossa fé e dirigirmos a Deus nossos
pedidos para vivermos de fato a Palavra e darmos abundantes fru-
tos, nos aproximaremos do altar para celebrar o sentido mais pro-
fundo desta Palavra: Cristo doando-se totalmente para a salvação
da humanidade.

38 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 165.


Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum --Ano À - Junho
/ Agosto 2011

Após a colocação do pão e do vinho sobre o altar, para serem


consagrados, o presbítero conclui com este pedido: “Ô Deus, fazei
crescer em santidade os fieis que participam deste sacrifício”.
“Isto é o meu corpo entregue, isto é o meu sangue derramado”,
nos diz Jesus em meio à nossa grande ação de graças junto com to-
dos os anjos, os santos e todas as demais criaturas. É a Palavra feita
carne que agora se faz pão e vinho para ser assimilada em nós e as-
sim, transformados em corpo de Cristo, possamos dar abundantes
frutos de salvação dentro da sociedade em que vivemos.
Terminada a santa ceia, o presbítero conclui com esta belíssi-
ma oração: “Alimentados pela vossa Eucaristia, nós vos pedimos,
ó Deus, que cresça em nós a vossa salvação cada vez que celebra-
mos este mistério. Por Cristo, nosso Senhor”. E todos respondem:
“Amém”.
Façamos nossa profissão de fé! Creio em Deus Pai...

Sugestões para a celebração


e “Os ritos iniciais atingem o cume na coleta dirigida ao Senhor
Deus onipotente, mediante Jesus Cristo, na unidade do Espíri-
to Santo. Na sua concisão e brevidade, típicas da liturgia lati-
na, fará você orar de acordo com a loghike latreia (cf. Rm 12,1:
Culto espiritual), o culto conforme o Logos, a palavra de Deus.
As coletas são fontes inexauríveis de oração... Procure rezar a
coleta do dia, fazendo-a sua, e após alguns momentos de silêncio
procure pronunciá-la sem cantilena, sem pressa, de tal maneira
que a assembleia possa seguir suas palavras e unir-se com você
nessa oração. Assim, todos sentirão que não é simples fórmula
para encher vazios, e sim a oração do dia, do domingo, da festa,
e que tem lugar preciso no ano litúrgico, que vivemos espiritual
e liturgicamente”?

39 E. Bianchi. Presbiteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 17-18.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

* “O altar está pronto e é “a mesa do Senhor” (1ICor 10,21), e nela


estão as ofertas, o pão e o vinho necessários para celebrar o me-


morial da nossa salvação. Por isso, a apresentação que você faz
das oferendas tomando nas mãos o pão e o cálice do vinho, é
um gesto carregado de solenidade, capaz de atrair a atenção dos
fieis. Você está apresentando essas oferendas ao Senhor, e não à as-
sembleia. Por isso, está orando voltado para o Senhor, não para a
assembleia. Então, eleve para Deus esta bênção: “Bendito sejais,
Senhor, Deus do universo, por este pão... e por este vinho...” São
criaturas vossas, frutos da terra e do trabalho e cultivo humano.
No pão e no vinho se apresenta a Deus o mundo todo, crendo
que são dons dele e que ele, no poder do seu Espírito, irá trans-
formá-los em alimento e bebida de vida eterna para você e para
todos. Tudo isso em vista da transfiguração cósmica a ser reali-
zada por Deus no final dos tempos, na hora da vinda gloriosa de
Cristo, quando todas as criaturas serão restauradas em Cristo
(cf. Ef 1,10). Por isso, essa mesa do Senhor, o pão dos homens se
torna pão de Deus, o pão da terra se torna pão do céu, o alimento
terrestre se torna alimento de vida eterna”.

* Após um intenso momento de silêncio depois da comunhão, o


presidente proclame a oração post communionem devagar, pau
sadamente, com solenidade, dando ênfase aos verbos e às pala-
vras mais fortes que a compõem. Ela é como um eco gratamente
suplicante, depois da experiência de comunhão com o mistério
celebrado na divina liturgia.

40 E. Bianchi. Presbiteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 23-24.


16º DOMINGO DO TEMPO COMUM

17 de julho 2011

DEUS É PACIÊNCIA

Leituras: Sb 12,13.16-19; Sl 85(86), 5-6.9-10.15-16a;


Rm 8,26-27; Mt 13,24-30

Situando-nos brevemente

Nesta semana entrante, dia 20 (quarta-feira), recordamos o padri-


nho do povo nordestino, Padre Cícero do Juazeiro. No dia 22 (sexta-
feira), a Igreja faz memória da discípula e primeira anunciadora da
ressurreição do Senhor, Santa Maria Madalena.
A celebração litúrgica, sobretudo a Eucaristia, é uma verdadei-
ra escola da fé. Podemos até dizer: a melhor escola da fé. Por quê?
Porque nela, celebrando o mistério pascal de Jesus Cristo, acontece
um encontro pessoal nosso com a própria Palavra viva do Pai, isto
é, com o Ressuscitado entre nós, na assembleia que se reúne, na
Palavra que se proclama, no pão e vinho consagrados. Sua presença
solidária de entrega e doação nos fala muito alto!
Eis que estamos novamente aqui para revivermos esta experi-
ência de fé e de crescimento na fé. É o Senhor que nos reúne. Por
isso todos proclamaram, em alto e bom som, no início deste encon-
tro: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!”.
Ele mesmo, o Senhor, nos falou quando foram feitas as leitu-
ras bíblicas. Ele continua a nos falar, também quando meditamos,
refletimos, contemplamos e assimilamos esta Palavra. Sigamos
pois, atentos ao que o Senhor nos diz também nesse momento de
meditação.
u
Jesus; Presença reveladora da Justiça do Reino

Recordando a Palavra
De novo, como fez no domingo passado, Jesus vem nos revelan-
do os segredos do Reino dos Céus por meio de parábolas. Hoje ele
compara o Reino a um homem que semeou boa semente em seu
campo. O que aconteceu? Apareceu o joio crescendo no meio do
trigo. E agora? O que fazer? Arrancar o joio? Não dá, pois o trigo
corre o risco de ser arrancado também. Então o homem ordenou
que ambos, joio e trigo, crescessem juntos, até a colheita. Daí sim,
primeiro será arrancado o joio para ser queimado e, depois, o trigo
será recolhido limpinho e colocado no celeiro.
Em seguida, Jesus comparou o Reino dos Céus com um grãozi-
nho de mostarda que, plantado, pode tornar-se uma árvore grande.
Assim é o Reino dos Céus. Jesus comparou o Reino dos Céus tam-
bém ao fermento que uma mulher pega e mistura com a farinha
para fazer o pão. A massa fermentada avoluma-se, cresce. Assim é
o Reino dos Céus.
Voltemos, porém, à história do joio. Depois que o povo todo foi
embora, os discípulos pedem para Jesus lhes explicar a parábola do
joio. Jesus os atende prontamente: “Quem semeia a boa semente é
o Filho do Homem (Jesus mesmo). O campo é o mundo. A boa se-
mente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem
ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o
fim dos tempos. Os que fazem a colheita são os anjos”. Jesus conti-
nua: “Como acontece com o joio que é jogado ao fogo, assim todos
os que fazem outros pecar e os que praticam o mal serão no final
dos tempos retirados do Reino e serão lançados na fornalha onda
haverá choro e ranger de dentes”. E o trigo nos celeiros? Serão os
“justos que brilharão como o sol do Reino de seu Pai”.
Como aquele homem, assim é Deus. Ele tem muita paciência.
Como vimos na primeira leitura, do livro da Sabedoria, ele acredita
na possibilidade de arrependimento e de conversão dos joios que,
muitas vezes, somos nós mesmos. Ele dá tempo para que as pessoas
se arrependam. Não arranca o joio antes do tempo!...
BJBR Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

Por isso, com razão cantamos com o Salmo 85: “O Senhor, vós
sois bom, sois clemente e fiel!”.
Deus tem tanta paciência que, como vimos na segunda leitura,
seu Espírito vem continuamente “em socorro da nossa fraqueza”.
Em outras palavras, ele faz tudo para nos convertermos enquanto
é tempo!

Atualizando a Palavra
A Palavra viva de Deus, que é Jesus mesmo, vem iluminar uma série
de questões que nos colocamos com frequência e que, com certeza,
eram propostas no tempo em que foi escrito o evangelho: “Por que
o bem e o mal se apresentam juntos? Por que é que Deus permite
que haja a imperfeição, o mal, o pecado, mesmo nas Comunidades
mais perfeitas? Com todos os meios deixados por Cristo para atingir
a perfeição, por que tantos maus discípulos?”.*!
“Basta olhar um pouco a realidade que nos cerca: injustiças,
corrupção, violência, miséria, fome, doença, morte, para sentir logo
os desafios que a vida apresenta. E mesmo que nos joguemos com
toda generosidade no trabalho pastoral, constatamos que nossos
esforços tantas vezes trazem poucos frutos e muitas desilusões. E
acabamos perguntando: Por quê? Vale a pena? Por que Deus não
se manifesta de forma mais incisiva? Se a causa do Reino é justa €
válida, porque é tão difícil mudar as estruturas? Será que nossos
planos pastorais são estéreis, frutos de nossa ilusão? A Palavra de
Deus deste domingo poderá ajudar-nos a ver, julgar e agir melhor,
fortalecendo nossas opções em favor da liberdade e vida. O Espírito
vem socorrer nossa fraqueza, tornando-se a súplica de quantos lu-
tam por um mundo melhor”.*
Quando Jesus fala do joio semeado pelo inimigo no meio do tri-
gal, ele se refere às “pessoas e estruturas injustas que crescem junto

41 A. Beckhãuser. Viver em Cristo. Espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 180.
42 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 187.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

com a semente do Reino”. Sobre este ponto, as primeiras comunida-


des cristãs ficavam perplexas e continuamente se perguntavam: “Se
de fato Jesus é o Deus-conosco, o Mestre da justiça, como se explica
o crescimento da injustiça da sociedade? Por que ele não intervém,
arrancando tudo de uma vez? Daí nasce o desejo de “fazer justiça
com as próprias mãos”: Quer que arranquemos o joio?”.º
O dono do campo, no entanto, manda deixar o joio e o trigo
crescerem juntos... No fundo, é uma crítica que Jesus faz “à pressa
dos discípulos e das comunidades cristãs em querer logo separar
bons e maus, justos e injustos... A resposta do dono da colheita é cla-
ra: só a Deus cabe fazer a triagem. Essa triagem não acontece agora,
mas depois... Só Jesus tem o direito de ordenar a seleção final, cujo
critério de distinção serão os frutos (prática da justiça ou prática da
injustiça). Por ora a comunidade deve esperar. A parábola, portan-
to, quer transmitir esta mensagem: a justiça que faz surgir o Reino
de Deus se decide num campo de lutas, numa sociedade conflitu-
osa. Aos discípulos de Jesus não cabe fazer justiça com as próprias
mãos... A eles compete semear...”.“
Temos muito a aprender com a paciência de Deus. Ele não é
apressado. Ele é calmo, tranquilo, não se estressa. Ele dá um tempo.
Nós é que somos impacientes, intolerantes, dominadores para com
os outros, cobrando resultados imediatos. Deus é diferente. “Deus
tem tanto poder, que ele domina a si mesmo... Não é escravo de seu
próprio poder. Sabe governar pela paciência e o perdão. Seu 'reino'
é amor, e este penetra aos poucos, invisivelmente, como o fermen-
to. Impaciência em relação ao Reino de Deus é falta de fé. O cresci-
mento do Reino é 'mistério”, algo que pertence a Deus”.*”
Hoje a Palavra nos mostra “o grande respeito que Deus ma-
nifesta pela liberdade das pessoas. Deus semeia o bem no campo
do mundo. Mas não força ninguém a receber o presente. Deixa

43 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 188.


44 Ibid,, p. 188-189.
45 J. Konings. Liturgia dominical, Op. cit., p. 167.
BR Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

conviver o mal com o bem. Existe um desenvolvimento, um cres-


cimento. Este fenômeno verifica-se não só dentro da Comunidade.
Existe também dentro de cada pessoa. Importa que cultivemos com
paciência o bem. Ele não se impõe. É como o grão de mostarda.
Pequenino, vai se desenvolvendo e aparece como arbusto vistoso.
O bem é comparado ainda ao fermento que, invisível, acaba trans-
formando toda a massa. Assim é o Reino de Deus. Não se impõe de
fora, mas age a partir de dentro, pela ação do Espírito Santo”.*
Com razão, fizemos no início desta celebração este importante
pedido ao Senhor: “Ó Deus, sede generoso para com os vossos fi-
lhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que,
repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos
mandamentos”. Guardemos fielmente os vossos mandamentos! Em
outras palavras, vivamos fielmente a essência do vosso Reino que se
resume no amor, no perdão, na paciência.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


“Deus reina por seu amor, e o amor não força ninguém, mas cativa
a livre adesão”. Esse amor cativante de Deus, nós o viveremos da-
qui a pouco, ao redor deste altar. Teremos sobre o altar, na frente de
nossos olhos, o maior gesto de amor de nosso Deus, a saber, o pró-
prio Cristo feito corpo entregue e sangue derramado, na forma de
pão e de vinho. Comungaremos do amor cativante de Deus. “Ma-
ravilhoso metabolismo: nós nos tornamos aquilo que comemos,
tornando-nos o corpo do Senhor!”.**
Há motivo para muita ação de graças, porque nesta Eucaristia,
juntamente com o pão e vinho, somos consagrados pelo Espírito
que ora em nós com gemidos que as palavras não conseguem ex-
plicar! Há motivo para muita ação de graças porque, participando

46 A, Beckhãuser. Viver em Cristo.... Op. cit., p. 18-181.


47 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 167.
48 E. Bianchi. Presbíteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 32.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

desta Ceia do Senhor, somos fortalecidos pelo Pão da vida para vi-
vermos as lutas do dia a dia imbuídos da paciência de Deus!
Ao final, não resta mais senão ainda suplicar: “Ó Deus, perma-
necei junto ao povo que iniciastes nos sacramentos do vosso reino,
para que, despojando-nos do velho homem, passemos a uma vida
nova. Por Cristo, nosso Senhor”. E todos respondem: “Amém”,
Sim, que assim seja!

Sugestões para a celebração

Tea
e
* Uma palavra para os(as) leitores(as) e salmistas: lembrem-se e to-
mem consciência do que vocês fazem e do que acontece quan-
do vocês sobem ao ambão para proclamar a Palavra do Senhor.
Diz o papa Bento XVI: “A proclamação da Palavra de Deus na
celebração comporta reconhecer que é o próprio Cristo que Se
faz presente e Se dirige a nós para ser acolhido”. Podemos en-
tão dizer, leitor(a), que, ao dirigir-se ao ambão, os seus passos,
embora seus, já não são mais só seus passos. São os passos do
próprio Mestre que, na pessoa de você, dirige-se ao ambão para
pôr em comum com a assembleia os segredos de seu coração.
Como consequência, seus passos devem assumir o ritmo calmo,
sereno e comedido do Espírito que permeia o seu corpo moven-
do-se para o ambão. Uma vez no ambão, seu corpo, seu rosto,
seus olhos, seu contato com o livro, embora sendo seus, não são
mais só seus: são o corpo, o rosto, os olhos, os gestos do próprio
Mestre que, em você, apresenta-se com carinho e compaixão
diante de uma assembleia toda ouvidos para ouvir, toda corpo
para acolher a Palavra. Ao proclamar a leitura, sua voz, embora
sendo sua voz, não é mais só sua voz: é a voz do próprio Mestre
que, suave e pausadamente, com firmeza, clareza e convicção,
comunica (põe em comum com a assembleia) sua presença de
salvação e consolo. Disso tudo você precisa estar consciente para

49 Bento XV. Exortação apostólica “Verbum Domini”, n. 56.


BWM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

proclamar bem a Palavra do Senhor, pois ela merece. O povo fica


por isto agradecido.
Isso que foi dito vale igualmente para todos os demais agentes da
celebração litúrgica (presidente, acólitos, animadores, músicos e
instrumentistas, sacristães, ministros da comunhão eucarística,
a própria assembleia) e para cada ação ritual, por mínima que
seja. Cada qual deve expressar, em seu corpo e ação corporal, o
mistério em torno do qual nos congregamos. O povo só tem a
agradecer pela qualidade melhorada da celebração.
17º DOMINGO DO TEMPO COMUM

24 de julho de 2011

O MELHOR INVESTIMENTO

Leituras: 1Rs 3.7-12; Sl 118(119),57.72.76-77.127-128.129-130;


Rm 8,28-30; Mt 13,44-52

Situando-nos

Domingo, dia do Senhor! É do Senhor este dia, no qual os cristãos


fazem questão de se reunir para ouvir a Palavra e celebrar o memo-
rial da Páscoa. Que bom que estamos aqui, reunidos pelo mistério
da Santíssima Trindade. Abençoados por este sagrado dia, inícia-
mos mais uma semana. Semana esta em que lembramos o apóstolo
Tiago, cuja festa se celebra amanhã, dia 25. No dia 26 (terça-feira),
fazemos memória de dois santos muito queridos na vida do povo:
Santa Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora; é o dia dos avós.
No dia 29 (sexta-feira), celebramos a memória de uma simpática
santa, dona de casa, discípula do Senhor: Santa Marta.
Estamos no 17º domingo do Tempo Comum. A Palavra viva
do Pai, que é Jesus, continua a nos falar dos segredos do Reino dos
Céus. O Senhor nos falou quando foram proclamadas as Escrituras
pela boca dos leitores. Paremos agora para contemplar o que ele nos
revela e para reforçarmos nossas opções pelo Reino.

Recordando a Palavra
Hoje Jesus compara o Reino dos Céus, isto é, tudo aquilo que

diz respeito ao Deus de Jesus Cristo, a um tesouro escondido no


campo e a pérolas preciosas. este Reino significa, portanto, uma
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

preciosidade de valor máximo. Para poder adquiri-lo, é preciso se


desfazer do que se tem.
Logo em seguida, Jesus compara este Reino a uma rede que,
lançada ao mar, apanha todo tipo de peixe. Os peixes bons vão para
os cestos e os que não prestam são jogados fora. É o que vai acon-
tecer no final dos tempos, quando os que praticam a injustiça serão
separados dos que praticam a justiça do Reino. O destino dos in-
justos é a insanidade e o desespero total. Por isso, toda pessoa que
se torna discípula do Reino dos Céus aprende a viver dos segredos
deste tesouro.
Estes fatos fazem lembrar o rei Salomão que, inseguro no início
do seu mandato, soube escolher o melhor. Ele pediu a Deus “sabe-
doria para governar com justiça”. Sabedoria que se expresse num
coração compreensivo e numa nítida clareza (discernimento) entre
o bem e o mal. Note-se que Salomão não pediu longos anos de vida,
nem riquezas, nem a morte dos inimigos, mas apenas a “sabedoria
para governar com justiça”! Por isso, Deus atendeu o pedido: “Dou-
te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual
antes de ti, nem haverá depois de ti”. Foi o que ouvimos na primeira
leitura.
Onde está a fonte da sabedoria? Está no próprio Deus; é o pró-
prio Deus. A sabedoria de Deus, testemunhada por suas obras ma-
ravilhosas, tornou-se, para quem o ama, o mandamento, a lei, a pa-
lavra de ordem, de valor mais precioso que o ouro mais fino. Assim,
cantamos com o Salmo 118: “Como eu amo, Senhor, a vossa lei,
vossa palavra!”.
A sabedoria de Deus é tão amorosa que, como vimos na segun-
da leitura, ele teve a suprema bondade de projetar para os que a
amam, a graça de serem “conformes à imagem de seu Filho”. Para
tal ele chamou a todos. Todos foram chamados para serem justos
no Justo (Jesus) e, por isso, também glorificados. Que justiça é esta?
De que sabedoria se trata?
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Atualizando a Palavra
“O Reino é o resultado de duas profundas aspirações: de Deus e das
pessoas. O desejo de Deus, tantas vezes expresso na Bíblia, é que
a humanidade viva em harmonia e paz. O desejo das pessoas é ter
vida em abundância, numa sociedade em que as relações humanas
tragam a marca da justiça, fraternidade e bem comum. O que Deus
quer é aquilo a que o ser humano aspira”.
Mas não é bem isso que muitas vezes vemos. “A história da hu-
manidade é frequentemente caótica porque não há discernimento e
opção pela vida que o Reino quer comunicar. Constatamos, então,
que o poder, a riqueza e os bens em geral servem para aumentar o
caos, a dor e a morte. Como encontrar, de novo o caminho da vida
à qual todos aspiram e pela qual Jesus veio ao mundo, morreu e res-
suscitou? Eis a proposta da Palavra de Deus para este dia”
A Palavra nos mostra qual é o valor supremo sobre o qual vale
a pena 'investir' tudo. Jesus nos ensina a escolher o que vale mais:
o Reino de Deus. “Para participar dele, vale colocar tudo em jogo,
como faz um negociante para comprar um campo que esconde um
tesouro, ou para adquirir uma pérola cujo valor resiste a qualquer
inflação...”
Para Deus, os pobres e desprotegidos são seu tesouro. Por este
tesouro ele “investiu” o melhor de si, isto é, seu próprio Filho que se
fez pobre com os pobres. Aí está o tesouro da sabedoria de Deus, o
segredo de seu Reino, infinitamente mais valioso do que todos os
poderes e riquezas deste mundo. Felizes os que se aventuram neste
“investimento, como Jesus mesmo o fez! Serão glorificados, como
Jesus foi glorificado.
Entrar nesta aventura (que vale a pena!) só é possível desfazen-
do-se de muita coisa, desprendendo-se de muitas joias falsas que

50 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 191.


51 Ibid.
52 Ibid,, p. 169.
GN Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

enfeitam nossa vida. Para tanto é preciso aprendizado, exercício, vi-


gilância e treino constantes. Difícil, talvez, sobretudo nestes tempos
em que os reinos do poder, da riqueza, do prestígio, do jogo sujo da
corrupção, dos sonhos de vida fácil, de tantas máscaras e aparências
são assimilados e vividos como valores absolutos. Difícil, sim, mas
vale a pena.
Então, qual é o Reino de Deus hoje? “Aquilo que queremos ter
em nosso poder, aquilo que com tanta insistência agarramos e pro-
curamos segurar? Nossas posses, privilégios de classe, status etc.?
Ou não será antes a participação na comunhão fraterna, superar O
crescente abismo entre ricos e pobres e transformar as estruturas
de nossa sociedade, para que todos possam participar da construção
do mundo e da História que Deus nos confia? “Os pobres, nosso te-
souro”, Queremos investir tudo, os nossos bens materiais, culturais
etc., para uma sociedade que encarne melhor a justiça de Deus?”.*
Cabe aos discípulos do Reino renunciarem de maneira absoluta
ao pecado. Aliás, essa é uma das promessas do nosso Batismo. Para
servir melhor o Reino, os discípulos devem aprender a se desfazer
também dos próprios bens e de si mesmos, pois o Reino vale mais
do que tudo. Feliz de quem se treina no espírito de desapego e assim
se molda no segredo deste Reino, a saber, na sabedoria de Deus.
A verdade é que cada pessoa, mais cedo ou mais tarde, em al-
gum dia, terá, obrigatoriamente, que se desfazer de tudo, até mes-
mo da vida. É o dia em que vamos morrer. Naquela hora derradeira,
faremos a experiência de total pobreza: experiência de não sermos,
de fato, donos de nada, nem mesmo da vida. Suprema hora em que
todo poder, orgulho, vaidade, apego necessariamente caem por ter-
ra. Hora, portanto, da suprema e bem-aventurada chance de, no
vazio de nós mesmos, Deus ser tudo em nós.
Faz sentido, portanto, o que pedimos no início desta celebra-
ção: “O Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso
auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para

53 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 170.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens
que passam, que possamos abraçar os que não passam”.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Daqui a pouco, ao redor deste altar, em clima de ação de graças
por Deus ter-nos revelado os maravilhosos segredos do seu Reino.
Vamos celebrar o mistério de Cristo Jesus que, por amor de nós,
desapegou-se de tudo, fez-se igual a nós, exceto no pecado, tornou-
se servo de todos, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente
até à morte e morte de cruz. Aí está sua grandeza, por isso Deus
o exaltou e seu Nome agora está acima de todo nome. Diante dele
tudo e todos caem de joelhos e o reconhecem como o Senhor
(cf. Fl 2,6-11): Reino de Deus em nosso meio, celebrado neste altar!
Humilde, ele hoje se nos apresenta feito pão e vinho, alimento
de nossa fé. Desta forma, ele se faz aqui corpo entregue e sangue
derramado para nossa salvação. Felizes de nós que fomos convida-
dos para esta santa Ceia do Senhor! Dela participando, assimilamos
em nossos corpos a pobreza e o desapego do nosso Mestre, a fim de
que o Reino possa crescer em nós e, por nós, em toda a sociedade
em que vivemos.
Ao final desta Ceia memorial permanente (da paixão do Filho
de Deus), o presbitero faz este importante pedido: “Fazei, ó Deus,
que o dom da vossa inefável caridade possa servir à nossa salvação”.
E a assembleia toda responde: “Amém”.
Sim, que assim seja!

Sugestões para a celebração “O


e Sobre a liturgia da palavra e os leitores, escreve o papa Bento
XVI, citando a Instrução Geral sobre o Missal Romano n. 29:
“Peço que a liturgia da Palavra seja sempre devidamente prepa-
rada e vivida. Recomendo, pois, vivamente que se tenha grande
cuidado, nas liturgias, com a proclamação da Palavra de Deus
JEM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

por leitores bem preparados; nunca nos esqueçamos de que,


“quando na igreja se lê a Sagrada Escritura, é o próprio Deus que
fala ao seu povo, é Cristo presente na sua Palavra que anuncia o
Evangelho”.** Mais adiante, insiste: “É necessário que os leitores
encarregados de tal serviço... sejam verdadeiramente idôneos e
preparados com empenho”, através de uma boa formação “bíbli-
ca e litúrgica mas também técnica”.”
e Sobre a preparação das oferendas: “Não se trata simplesmente
de uma espécie de “intervalo” entre a liturgia da palavra e a li-
turgia eucarística, o que faria, sem dúvida, atenuar o sentido de
um único rito composto de duas partes interligadas; realmente,
nesse gesto humilde e simples, encerra-se um significado muito
grande: no pão e no vinho que levamos ao altar, toda a criação é
assumida por Cristo redentor para ser transformada e apresen-
tada ao Pai. Nessa perspectiva, levamos ao altar também todo o
sofrimento e tribulação do mundo, na certeza de que tudo é pre-
cioso aos olhos de Deus. Esse gesto não necessita ser enfatizado
com descabidas complicações para ser vivido no seu significado
autêntico: o mesmo permite valorizar a participação primeira
que Deus pede ao homem, ou seja, levar em si mesmo a obra
divina à perfeição, e dar assim pleno sentido ao trabalho huma-
no que, através da celebração eucarística, fica unido ao sacrifício
redentor de Cristo”.

* Um lembrete ao presidente: “Ao proclamar a oração eucarísti-


ca... Preste atenção na epiclese (invocação do Espírito Santo): seja
ela uma verdadeira invocação ao Pai, para que envie o Espírito
Santo sobre as oferendas e sobre a assembleia. É o Espírito Santo
quem santifica os dons, e é no poder dele que o pão e o vinho se
tornam corpo e sangue de Cristo, e que também a assembleia se

54 Bento XVI. Exortação apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 45.


55 Bento XVI. Exortação apostólica pós-sinodal “Verbum Domini”, n. 58.
56 Bento XVI. Exortação apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 47.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

torna corpo de Cristo. A imposição das mãos que você faz sobre
os dons, o seu gesto de traçar sobre eles o sinal de cruz, seja tudo
solene, e volte o seu olhar contemplativo sobre o pão e o cálice.
Tudo deixe transparecer quais são os verdadeiros sujeitos da li-
turgia: o Pai, que manda o Espírito santificador, o Filho, que se
torna presente com seu corpo e sangue””

57 E. Bianchi. Presbíteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 27.


18º DOMINGO DO TEMPO COMUM

31 de julho 2011

VINDE E COMEI

Leituras:Is 55,1-3; SI 144(145),8-9.15-16.17-18;


Rm 8,35.37-39; Mt 14,13-21

Situando-nos
De novo é domingo, páscoa semanal dos cristãos. É do Senhor este
dia. Por isso, aqui estamos reunidos e, abençoados pela Palavra e
pela Eucaristia, iniciamos mais uma semana. Semana esta em que
celebramos a memória (festa) de três santos importantes na vida da
Igreja: do bispo e mestre Santo Afonso de Ligório, (amanhã, dia 1º
de agosto); do apóstolo da Eucaristia, São Pedro Julião Eymard (ter-
ça-feira, dia 2); do padre humilde e simples São João Maria Vianney
(quinta-feira, dia 4). Igualmente celebramos, no dia 5 (sexta-feira), o
dia mundial da saúde e, no dia 6 (sábado), a festa da Transfiguração
do Senhor.
Ao falar em saúde, lembramos que uma das doenças mais acen-
tuadas hoje em dia, nas sociedades ditas desenvolvidas, é a obesida-
de. Doença que também no Brasil está se acentuando, sobretudo
porque se come demais. Por outro lado, no entanto, há agrupamen-
tos humanos em que pessoas literalmente passam fome. Elas fica-
riam felizes se pudessem se saciar com as migalhas caídas debaixo
da mesa dos ricos. Entretanto, nem a isso os milhares de pobres têm
acesso. |
Neste contexto, podemos sentir o eco da Palavra que ouvimos
da boca do Senhor, descrevendo-nos os dons de Deus sob a metáfo-
ra da comida e da bebida. É o Senhor mesmo que nos fala quando
os leitores proclamam as leituras.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Recordando a Palavra
Jesus ficou sabendo da morte de João Batista. Pegou então um bar-
co e foi para um lugar deserto e afastado. O povo ficou sabendo e
foi até lá. Diz o evangelho que era muita gente: uma multidão! Je-
sus, ao ver toda aquela gente pobre, explorada, doente, estropiada,
faminta, “encheu-se de compaixão para com eles e curou os que
estavam doentes”.
Chegava a tarde. Os discípulos, preocupados, sugerem a Jesus
mandar todos embora para comprar comida nas vilas próximas.
Jesus, porém, não quer que o povo vá embora com fome. Manda
os discípulos mesmos alimentarem a multidão com uma reserva
disponível de apenas cindo pães e dois peixes. “Mas como?... Cinco
pães e dois peixes para tanta gente?!”, indagaram os discípulos com
ar de espanto.
Jesus mandou o povo sentar ali sobre a grama. Pegou aqueles
pãezinhos e peixes e, com os olhos voltados para o céu, pronunciou
uma bênção. Em seguida partiu os pães, passando-os aos discípulos
que os repassaram à multidão.
O milagre, cujo sentido é evidente, aconteceu: partindo e re-
partindo, partilhando o pouco que tinham, foi possível saciar cinco
mil homens, sem contar mulheres e crianças... A partilha faz mila-
gres! Eis mais um segredo de Deus que se revelava em Jesus para
um povo faminto!
Dá para lembrar o que Deus anunciou pelo profeta Isaías, lá
no Antigo Testamento, como vimos na primeira leitura. Ao povo
de Israel exilado na Babilônia, passando fome, lutando pela sobre-
vivência, sem condições de satisfazer as necessidades básicas, a este
povo Deus anunciou pelo profeta uma esperança futura: “Apressai-
vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro. Inclinai vosso ou-
vido e vinde a mim, ouvi e tereis vida”.
Deus tem um plano alternativo de vida para o povo faminto,
diferente dos planos ditos normais dos poderosos que se julgam os
donos deste mundo. Por isso, a Ele nos dirigimos hoje com o Salmo
144: “Vós abris a vossa mão e saciais os vossos filhos”.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Este plano alternativo de vida, nós o vemos encarnado na pes-


soa do próprio Filho de Deus, Jesus Cristo no meio de nós. Nele se
manifesta plenamente a honrosa saída para que todos tenham vida
e vida em abundância. Ele é a Palavra de ordem de um amor que a
todos sacia e liberta. Esta Palavra não está longe de nós. Pelo con-
trário, está agora dentro de nós, está em nós, pois nossos próprios
corpos se tornaram seu espaço, sua morada. Por tal razão, o apósto-
lo Paulo, hoje, nos lembra oportunamente que “nada nos separará
do amor de Deus manifestado em Cristo”.
Logo no início desta celebração, fizemos este caloroso pedido
ao Senhor: “Manifestai, ó Deus, vossa inesgotável bondade para
com os filhos e filhas que vos imploram e se gloriam de vos ter
como criador e guia, restaurando para eles a vossa criação, e conser-
vando-a renovada”. Pela vivência da Palavra que é Jesus, é possível
restaurar a criação e conservá-la renovada. Os doentes e famintos
serão os primeiros a agradecer.

Atualizando a Palavra
“Deus destinou os bens da criação para todos. Mas uns poucos se
apoderaram deles, conservando os demais sob férrea dependência,
incapazes até de ter acesso aos bens básicos da vida. O banquete da
vida se tornou privilégio de poucos, que vivem às custas do sangue
dos pobres explorados. Deus subverte essa situação, convidando os
pobres explorados a sair da dependência e a saborear o banquete
da vida, na liberdade e fraternidade, onde o comércio é substituído
pela partilha dos bens da criação. Dessa forma inicia o novo êxodo
do povo de Deus em direção ao mundo novo. Jesus deu a esse mun-
do novo sua forma definitiva, convidando as pessoas a lutar para
que ele se concretize no meio de nós”.*
Para longe de todos os poderes de morte, dos Herodes que, com
seus banquetes de morte, buscam ter vida, matando a esperança

58 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 195-196.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

do povo, como fizeram com João Batista, Jesus vai para um lugar
deserto e afastado. É das cidades, isto é, do espaço onde impera o
domínio de Herodes e de seu sistema explorador, que o povo sai
(= êxodo!), indo ao encontro do Messias libertador, precisamente no
espaço da aliança, no deserto. E qual a reação de Jesus? “Encheu-se
de compaixão”, isto é, sofreu com aquela gente sofrida.
E neste lugar deserto e afastado, que se aprende, na prática, o
segredo do Reino de Deus em oposição ao reino de Herodes. Não é
indo comprar nas vilas, isto é, deixando-se explorar pelos que têm
para vender, que os pobres terão comida em abundância, mas par-
tilhando aquilo que possuem. Aí “se concentra uma das ideias revo-
lucionárias do ser cristão: encontrar formas alternativas capazes de
quebrar os mecanismos de dependência das estruturas iníquas que
mantém o povo submisso e algemado”.*
Note-se que Jesus mandou o povo sentar-se sobre o gramado.
Sentar para comer juntos tem tudo a ver com pessoas livres. O que
se vê ali, portanto, não é mais um povo dependente e submisso,
mas um povo livre, na experiência da partilha fraterna. O próprio
pão comido é sentido então como puro dom de Deus, “deixado de
ser objeto de lucro e exploração para se tornar gesto de partilha e
fraternidade, gesto gratuito”. Foi por isso que, antes de partir o
pão, Jesus fez uma oração de bênção.
Sobraram ainda doze cestos. O número doze representa as doze
tribos de Israel, isto é, o povo todo, como a dizer que o verdadeiro mi-
lagre aí acontecido é o da partilha capaz de saciar um povo inteiro.
Podemos, pois, dizer que “a solução para o problema da fome
não está em si num milagre (econômico ou religioso), pois Jesus mes-
mo rejeitou essa tentação (cf. Mt 4,4). O verdadeiro milagre é o da
distribuição e partilha dos bens da criação. Esse “milagre” não é difi-
cil nem impossível, pois os pobres e Jesus já o estão realizando!”.*!

59 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 197.


60 Ibid.
61 Ibid., p. 198.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

A Palavra que é Jesus em sua totalidade já está em nosso meio,


nada nos separa dela (cf. Rm 8,35.37-39). Esse Jesus-Palavra é o pri-
meiro alimento a nos fortalecer com seu segredo, a saber, a alterna-
tiva de uma sociedade de partilha fraterna, capaz de saciar a fome
de todos. Ouvir, assimilar e colocar em prática esta Palavra que é
Jesus, eis o desafio que temos pela frente. O que dizia o Senhor,
através do profeta Isaías, vale também para nós cristãos: “Ouvi-me
com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento
do vosso corpo. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis
vida”.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Ouvimos que, lá naquele lugar deserto e afastado, Jesus “ergueu os
olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães,
e os deu aos discípulos, e os discípulos os distribuíram as multi-
dões”. Alusão à Eucaristia que celebramos!
Daqui a pouco, Jesus vai fazer o mesmo para nós. Na pessoa e
na voz do presbitero, pela oração eucarística, o próprio Jesus, ago-
ra ressuscitado, vai erguer os olhos para o céu e pronunciar uma
grande bênção ao Pai. Com uma diferença porém: nesta oração, ele
mesmo se coloca como pão vivo a ser repartido e vinho da salvação,
corpo entregue e sangue derramado pela salvação da humanidade.
Assim, como aquela multidão se saciou de cinco pães e dois
peixes, nós nos alimentamos do Pão dos pães, da origem do mila-
gre da partilha. Nós assimilamos a força deste Pão do céu, a fim de
transformar nossos corpos em gestos de partilha, numa sociedade
de fome, e merecermos a vida eterna.

Sugestões para a celebração


e Veja a orientação da Igreja a respeito da proclamação da Pala-
vra de Deus: “Os livros das leituras que se utilizam na celebra-
ção, pela dignidade que a palavra de Deus exige, não devem ser
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino 70

substituídos por outros subsídios pastorais, por exemplo, pelos


folhetos que se fazem para que os fiéis preparem as leituras ou
as meditem pessoalmente”. Ainda existem assembleias litúrgi-
cas, até mesmo em igrejas paroquiais, nas quais as leituras são
proclamadas diretamente de folhetos ou de outros subsídios des-
cartáveis. A Palavra viva do Senhor, é Palavra de salvação. Por
sua imensa dignidade, sempre mereceu ser proclamada do livro
litúrgico apropriado. Trata-se da Palavra celebrada e um de seus
melhores símbolos é o livro.
O presidente proclame a Oração Eucarística como quem, de fato,
está em diálogo profundo e verdadeiro com o mistério de Deus.
Isso aparece pela postura, pelo olhar que se volta para o alto, pela
convicção e unção com que se proclamam as santas palavras da
ação de graças (eucaristia). Para o povo, isso faz a diferença. Perce-
bendo a postura orante do presidente, a assembleia começa a sen-
tir também outra vibração, outra mística, exatamente pelo clima
orante que se estabelece. Possibilita-se sua participação interior e,
ao mesmo tempo, vibrante nas aclamações que lhe são próprias.
Nunca é demais repetir e insistir: na missa, cuide-se especial-
mente do rito da fração do pão. Que ele seja sempre “uma ação
ritual visível, acompanhada meditativamente pela assembleia
com o canto do Cordeiro. Este canto pertence à assembleia e por
isso não seja entoado nem recitado por quem preside...'?. Se hou-
ver o abraço da paz, quem preside espere primeiro todo o povo
se acalmar para, só então, proceder ao rito, de maneira visível”,
sem pressa, de forma que todos possam de fato acompanhá-lo
contemplativamente através do olhar e do canto do Cordeiro. É
o corpo do Senhor que se parte e se reparte para nós!... Seria bom
que o rito bem expressasse este mistério.

6 Introdução geral ao Lecionário n. 37. Estão incluídos aqui os folhetos litúrgicos e as liturgias
Mw

diárias publicados pelas diversas editoras ou dioceses. Eles foram feitos não para serem usados
na liturgia, mas para prepará-la ou meditá-la em casa.
63 Cf. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Op. cit., p. 28-29.
19º DOMINGO DO TEMPO COMUM

07 de agosto 2011

NÃO TENHAM MEDO, O SENHOR NAVEGA CONOSCO!

Leituras: 1Rs 19,9a.11-13a; Sl 84(85),9ab-10.11-12.13-14;


Rm 9,1-5; Mt 14,22-33

Situando-nos brevemente

Como é bom estarmos juntos e sentirmos que conosco está o Se-


nhor. “Ele está no meio de nós”, repetimos sempre durante a cele-
bração. Ele está no meio de nós, animando-nos com sua Palavra e
fortalecendo-nos com o Pão da vida. Assim, fortalecidos hoje pelo
Cristo-Palavra e pelo Cristo-Pão, iniciamos uma nova semana de
convivência e serviço fraterno: na família, na escola, no trabalho, no
lazer, no repouso, em cada passo de nossa vida.
Viveremos esta semana, festejando vários irmãos nossos que se
destacaram por uma vida santa exemplar: dia 8 (segunda-feira), o
grande pregador do século 13, São Domingos; dia 9 (terça-feira), a
grande filósofa judia e depois monja cristã, mártir em Ausschwitz
(Polônia), em 1942, Santa Edith Stein; dia 10 (quarta-feira), o diá-
cono dos pobres, mártir do século 3, São Lourenço; dia 11 (quinta-
feira), a companheira de Francisco de Assis, consagrada ao Senhor,
do século 13, Santa Clara de Assis.
Cristo está no meio de nós e nos fala. Ouvimos sua voz quando
foram proclamadas as leituras. Continuemos a ouvir sua voz, medi-
tando e refletindo sobre o que ouvimos.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino 72

Recordando a Palavra
Domingo passado estivemos com Jesus em um lugar deserto e afas-
tado, onde ele nos ensinou, na prática, um importante segredo do
Reino de Deus, a saber: partilhando o pouco que se tem, todos terão
até de sobra.
Depois da multiplicação e da partilha da pequena reserva de
pães e peixes, Jesus forçou os discípulos a irem à sua frente mar
adentro, dirigindo-se de barco, para o outro lado. Ele, porém, ficou
ainda por ali, se despedindo do povo. Depois que o povo foi embo-
ra, Jesus foi orar sozinho, lá no alto do morro. A noite chegou e ele
continuava lá, sozinho, a dialogar com o Pai.
Enquanto isso, a barca dos discípulos já se perdia de vista, lá
longe, mar adentro. Ondas muito fortes, ameaçadoras amedrontam
os discípulos. Pela madrugada, eles avistam o vulto de alguém an-
dando sobre o mar agitado. “Um fantasma”, cochicham entre si. O
pavor toma conta deles, a ponto de gritarem de medo.
O estranho personagem então lhes brada: “Coragem! Sou eu.
Não tenhais medo!”. Desconfiando que podia se tratar do próprio
Jesus, Pedro lhe pede uma prova: “Senhor, se és tu, deixa-me ir até
aí, ao teu encontro, caminhando também sobre a água”. “Podes
vir”, disse Jesus. Pedro vai, mas, por causa do vento forte e das on-
das, começa a ficar com medo e sente que vai afundar. Num grito,
pede socorro a Jesus que, imediatamente, o segura pela mão e o sal-
va. Jesus, afável e compreensivamente, questiona: “Homem fraco
na fé, porque duvidaste?”.
Há um detalhe importante no evangelho: “Assim que os dois
subiram ao barco, o vento se acalmou”. Então os discípulos caíram
de joelhos diante de Jesus, confessando: “Verdadeiramente, tu és o
Filho de Deus!”
Este acontecimento traz à lembrança a figura do profeta Elias
que, longe da fúria de Jezabel, no monte Horeb faz uma profunda
experiência da presença de Deus. Não a faz em meio à violência,
nem do vento, nem do terremoto, nem do fogo, mas no murmúrio
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

de uma brisa suave. Nesta experiência, ele sente que Deus vence
com as armas da paz.
Faz sentido, então, o que nós pedimos mediante o Salmo 84.
Do meio de violências estarrecedoras, imploramos: “Mostrai-nos, 6
Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!”
Quem dera que os violentos entendessem que a vida não se
consegue pela violência, mas pela paz de Deus revelada em Cristo
Jesus!

Atualizando a Palavra
“Deus vem ao encontro do homem especialmente nos momentos
de necessidade... O Deus dos profetas e de Jesus é aquele que toma a
defesa dos pobres e dos fracos. Ele não está nos fenômenos naturais
grandiosos e violentos, mas no sopro leve da brisa, como que sig-
nificando a espiritualidade e intimidade das manifestações de Deus
ao homem.
A comunidade cristã vive uma existência atormentada pela hos-
tilidade das forças adversas, que se manifestam nas perseguições e
dificuldades internas e externas. Unicamente com suas forças, ela
não chegaria ao fim do seu caminho. Mas Jesus ressuscitado está
presente no meio dos seus; embora invisível, ele os assiste”.“
Os discípulos fazem uma travessia. Eles a fazem de barco. É noi-
te. Ventos contrários. Mar agitado. Estamos diante de uma imensa
simbologia.
O mar era visto na época como o lugar onde habitavam mons-
tros terríveis e ameaçadores. Mar agitado e ventos contrários, à
noite, eram sentidos como sinais da fúria dos pavorosos monstros,
ávidos por engolir os navegantes.
O barco é simbolo da própria Igreja nascente, as comunidades
cristãs se expandindo em missão. Nesta travessia, para o outro lado,
isto é, nesta expansão rumo à pátria definitiva, as comunidades

64 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 199-200.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino pg!

sentem-se ameaçadas por ventos contrários e pelo mar agitado, isto


é, pelas violentas resistências dos poderosos (= monstros) ao projeto
de Deus.
No entanto, alguém caminha soberano sobre as águas, isto
é, domina estes ameaçadores poderes de morte, está acima de-
les. Inseguros, os discípulos pensam ser um apavorante fantasma,
monstro também. Não conseguem ver outra coisa além. Precisam
ouvir sua voz para entender que se trata do próprio Jesus o qual,
inclusive, segura a mão de Pedro.
Sentindo depois a presença de Jesus ali dentro da barca (comu-
nidade, Igreja), não veem nem sentem outra coisa mais, senão cal-
maria. Podem respirar tranquilos. Fazendo a experiência da pre-
sença viva do Senhor, do verdadeiro e próprio Filho de Deus na
comunidade (Igreja), os discípulos podem enfrentar com coragem
a difícil travessia. Conscientes de que Deus, na pessoa de seu Filho
vivo, está presente nas lutas da comunidade (Igreja), os discípulos
sentem-se seguros para lutar com as armas da paz.
O apóstolo Paulo, como vemos na segunda leitura, é figura do
cristão autêntico. Também ele “percebe que o projeto de Deus sofre
resistências, e por isso sofre. Mas sua dor não é passiva. Está dispos-
to a perder a própria vida e ser amaldiçoado, a fim de que o projeto
de Deus seja aceito por todos”.é
Hoje, que tempestades e que escuridão angustiam a Igreja? Às
vezes, tem-se a impressão que Cristo está longe, não se percebe sua
presença. “A Igreja como poderosa instituição está sendo atingida
pelo desmantelamento da força política que durante muito tempo
lhe serviu de sustentáculo: o ocidente europeu e suas extensões co-
loniais. Morreu a Cristandade”, o regime no qual Igreja e Sociedade
se identificavam. Sociologicamente falando, a Igreja aparece sempre
mais como o que ela era no inicio: uma mera comunidade de fieis,
sem maior peso civil que as sociedades culturais, círculos literários
e clubes de futebol (e olhe lá!). Quem ainda não acostumou seus

65 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 203.


FAS Roteiros Homitéticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho
/ Agosto 2011

olhos a esse apagamento sociológico, tem dificuldade de enxergar a


presença de Cristo”.“
“As dificuldades que a Igreja enfrenta hoje devem nos fazer
enxergar melhor a presença de Cristo em novos setores da Igreja,
sobretudo na população empobrecida e excluída da sociedade do
bem-estar globalizado. De repente, Jesus se manifesta como calma-
ria no ambiente tempestuoso das 'periferias” do mundo, na simplici-
dade das comunidades nascidas da fé do povo. Temos coragem para
ir até ele ou duvidamos ainda, deixando-nos “levar pela onda?”

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A travessia é difícil. Muitas vezes, apavorante. A impressão, às ve-
zes, é de sucumbir. Isso tanto do ponto de vista individual, no que
diz respeito a cada um de nós, como do ponto de vista eclesial.
Eis que hoje, de novo, nesta nossa reunião celebrativa, o Senhor
nos aparece. Invisível, mas aparece, dizendo: “Coragem! Sou eu.
Não tenhais medo!” Ele aparece na Palavra que acabamos de ouvir
e, igualmente, logo mais, no momento de partir do pão, como acon-
teceu com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35).
Por esta “visão” do ressuscitado, pela experiência de comer com
ele e sentir que ele navega conosco, podemos partir com coragem
em missão, enfrentando ventos contrários e mares agitados, rumo
a um destino feliz. Que esta Eucaristia que vamos receber nos traga
a salvação e nos confirme na verdade que é Jesus.

Sugestões para a celebração “O


e A fé e espiritualidade da comunidade dependem, em grande
parte, da música litúrgica. Assim a comunidade se manifesta
mais ou menos comprometida com o projeto de Deus; mais ou
. í . . ,

66 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 175.


67 Ibid.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino /6

menos alienada dele; mais ou menos unida neste projeto; mais


ou menos dividida por interesses egoístas. Daí a necessidade de,
nas celebrações, o canto e a música serem criteriosamente es-
colhidos, correspondendo ao sentido do mistério celebrado, às
várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos.” Como
parte integrante e significativa da ação ritual, “ela tem a espe-
cial capacidade de atingir os corações e, como rito, grande eficá-
cia pedagógica para levá-los a penetrar no mistério celebrado...
Vale dizer, sua função ritual deve estar organicamente inserida
no contexto da grande tradição bíblico-litúrgica da Igreja, bem
como da vida e da cultura da comunidade celebrante”. Daí ser
“urgente atentar para a qualidade de nosso cantar litúrgico, para
a importância dos vários ministérios litúrgico-musicais e, mais
que urgente, para a formação e capacitação de todos, especial-
mente das pessoas e equipes que os exercem”.º
- Ao falar em música, lembramos que “o Glória é um hino anti-
quíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito
Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro. O texto (in-
tegral) deste hino não pode ser substituído por outro. Entoado
pelo sacerdote ou, se for o caso, pelo cantor ou o grupo de canto-
res, é cantado por toda a assembleia, ou pelo povo que o alterna:
com o grupo de cantores ou pelo próprio grupo de cantores. Se
não for cantado, dever ser recitado por todos juntos ou por dois
coros dialogando entre si”.”
* O silêncio na liturgia da Palavra é importante: “A liturgia da pa-
lavra deve ser celebrada de tal modo que favoreça a meditação;
por isso deve ser de todo evitada qualquer pressa que impeça o
recolhimento. Integram-na também breves momentos de silên-
cio, de acordo com a assembleia reunida, pelos quais, sob a ação

68 Cf. Bento XVI. Instrução pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 42;J. Fonseca (Org). Princípios
teológicos, litúrgicos, pastorais e estéticos. In: Revista de Liturgia, São Paulo, n. 194, p. 21-23.
69 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), n. 76.
70 Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 53.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

do Espírito Santo, se acolhe no coração a Palavra de Deus e se


prepara a resposta pela oração. Convém que tais momentos de
silêncio sejam observados, por exemplo, antes de se iniciar a pró-
pria liturgia da palavra, após a primeira e segunda leitura, como
também após o término da homilia”.”

71 Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 56; cf. Introdução geral ao Lecionário, n. 28.
20º DOMINGO DO TEMPO COMUM

14 de agosto de 2011

A FÉ NÃO TEM FRONTEIRAS

Leituras: Is 56,1.6-7; Sl 66(67),2-3.5.6.8;


Rm 11,13-15.29-32; Mt 15,21-28

Situando-nos brevemente

É uma imensa graça podermos estar aqui reunidos. Logo no início


da missa, somos saudados por quem a preside: “A graça de nosso
Senhor Jesus Cristo, o amor do Paie a comunhão do Espírito Santo
estejam convosco”. Ao que respondemos todos com alegria: “Ben-
dito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. Imensa graça es-
tarmos reunidos neste dia do Senhor, em que também celebramos
o dia dos pais.
Estamos reunidos junto ao Pai maior que é nosso Deus, para
ouvir sua Palavra e celebrarmos o memorial da páscoa de seu Filho
Jesus que nos salvou, no Espírito Santo nos santificou. A Palavra
que ouvimos hoje revela-nos de que jeito Deus é: um Pai que, em
sua misericórdia, é capaz de acolher a todos sem distinção, para ele,
a fé não depende de raças, fronteiras ou culturas.

Recordando a Palavra
Hoje acompanhamos Jesus que se retira para a região de Tiro e
Sidônia. Aí ele se encontra com uma mulher diferente, não judia,
cananeia, estrangeira, que vinha gritando: “Senhor, filho de Davi,
tem piedade de mim”. E ela explica o motivo do seu clamor: “minha
filha está cruelmente atormentada por um demônio!”. Talvez um
sério problema neurológico, ou psíquico, ou emocional.
FASE Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Então vem a cena enternecedora. Jesus parece não lhe dar aten-
ção. Os discípulos sugerem mandá-la embora, pois “vem gritando
atrás de nós”. Jesus, no entanto, diz a ela que veio “somente às ove-
lhas perdidas da casa de Israel”. Mas a mulher insiste implorando
socorro. Jesus, para testá-la, serve-se de uma linguagem preconcei-
tuosa própria dos judeus. Diz a ela que não convém “tirar o pão dos
filhos para jogá-lo aos cachorrinhos”. E a mulher? Submetendo-se a
pecha de “cachorra” dada pelos judeus aos estrangeiros, argumenta:
“Sim, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas
que caem da mesa de seus donos!”. Por aí se vê o quanto ela ama-
va a filha e acreditava em Jesus! Então Jesus, cheio de admiração,
declara-lhe em solene e bom tom: “Mulher, grande é a tua fé! Seja
feito como tu queres!”. Na mesma hora a filha ficou curada.
O fato de incluir os estrangeiros no plano salvador de Deus já
fora proclamado no Antigo Testamento. Deus mesmo o prometeu
pelo profeta Isaías, após a experiência de exílio dos israelitas, como
vimos na primeira leitura: “Dia virá em que os estrangeiros, que
honram a Deus e praticam os seus mandamentos, serão acompa-
nhados até o templo do Senhor. Lá oferecerão os seus sacrifícios e
farão as suas orações. Na casa de Deus ninguém mais se sentirá estranho.
O templo será um lugar de oração para todos os povos (cf. Is 56,6-7)".”º
Portanto, a salvação de Deus não pode ser exclusiva de uma raça, no
caso, a judaica. Ela é universal.
Por isso, cantamos hoje com o Salmo 66: “Que as nações vos
glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem”,
Paulo, dedicando-se de corpo e alma aos estrangeiros, constata,
com satisfação, que a desobediência dos judeus produziu até um
efeito positivo: “permitiu a entrada dos pagãos na comunidade cris-
tã. De fato, se os judeus tivessem aderido a Cristo, o que teria acon-
tecido? Tendo uma mentalidade mesquinha e fechada, com os pre-
conceitos que ainda mantinham em relação aos estrangeiros, muito
dificilmente teriam permitido a estes serem admitidos na Igreja”.

72 F. Armelini. Celebrando a Palavra. Ano A — São Mateus, São Paulo: Ave-Maria, 1995, p. 302.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino E

Mas “a recusa de Cristo por parte do seu povo não durará sempre.
Dia virá em que também os israelitas reconhecerão em Jesus de
Nazaré o Messias anunciado pelos profetas. O que acontecerá então?
Paulo parece explodir de alegria: se a desobediência deles produziu
um resultado tão positivo, o que acontecerá quando eles também se
tornarem discípulos de Cristo? Será uma autêntica ressurreição dos
mortos (v. 15)" Foi o que vimos na segunda leitura de hoje.

Atualizando a Palavra
Jesus, normalmente, desenvolvia sua atividade missionária só no
território de Israel. Em algumas ocasiões, no entanto, foi também
para as fronteiras de países não judeus, pagãos. Hoje o acompanha-
mos em território fenício, no norte da Galileia, atual Líbano. Aí ele
beneficia uma mulher estrangeira, curando a filha dela e, além do
mais, louva-lhe sua imensa fé.
Jesus mostra, com isso, que a salvação não é privilégio exclusi-
vo de um povo, uma etnia, uma nação como usualmente pensavam
os judeus. Estes chegaram a se considerar como os puros, os possui-
dores exclusivos da bondade e da misericórdia de Deus. Os outros,
os que não eram judeus, chegaram a ser considerados como 'cães”.
Tal mentalidade exclusivista foi contestada por Deus através do
anúncio profético de Isaías, como vimos na primeira leitura, que
afirma taxativamente que também os estrangeiros podem entrar
no Templo e obter os favores de Deus. Com Jesus não foi diferente.
Ele mostrou que os pagãos estavam tendo mais fé no Messias do
que os israelitas... Os 'cães' estavam sendo melhores que os “donos.
Numa palavra, “a graça é de graça, ela não pode ser apropriada em
exclusividade. Ela pode ser dada a todos aqueles que a ela se abrem,
e essa abertura se chama fé”?

73 P. Armelini. Celebrando a Palavra, Ano A — São Mateus. São Paulo: Ave-Maria, 1995, p. 302.
74 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 177.
ER Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 201

Atualizando esta ideia, “num mundo cada vez mais pluralis-


ta, mas ao mesmo tempo tentado pelo particularismo egoísta, vem
bem a propósito este chamado da Palavra à universalidade, à catoli-
cidade, imitando o estilo de Deus e do próprio Cristo Jesus”.”
Tal espírito universalista que vem de Deus, vivido por Jesus e
expandido pelo apóstolo Paulo, está embutido no próprio título que
damos à Igreja. Somos Igreja 'católica'. Esta é uma palavra grega
que significa “universal”, isto é, aberta para todas as pessoas e povos.
Esta qualificação da Igreja contém, portanto, uma missão, que vem
de Deus, que vem do exemplo de Jesus e do apóstolo Paulo: trata-se
de abrir as portas do coração para todos, indistintamente, “especial-
mente os distantes, os que não creem, os afastados, os viciados, os
pecadores. Sua conversão a Cristo há de revigorar a fé, a esperança
e a caridade dos membros da Comunidade eclesial, pois a misericór-
dia de Deus se manifesta especialmente neles”.
“Como Jesus, somos chamados a sair de nós mesmos, a ir para
outras regiões, a fim de partilhar pela palavra e pelo exemplo.
Como Paulo, teremos que servir aos de fora para que a ação da mi-
sericórdia de Deus neles se reverta em benefício para os de dentro.
Para isso devemos pedir a graça de reconhecer que a misericórdia
de Deus quer atingir a todos igualmente. Que o Senhor nos dê a
graça desta abertura”?

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Logo mais, depois de professarmos nossa fé, elevaremos a Deus
nossas preces a partir da Palavra que ouvimos. Hoje rezaremos de
modo especial pelos pais, em seu dia.
Depositaremos então nossas oferendas sobre o altar. O pão e o
vinho, frutos da terra e do trabalho humano, nos quais apresentamos

75 J. Aldazábal. Enseúiame tu caminos 8: Domingos ciclo A. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica,


2004, p. 380. (Dossiers CPL 104),
76 A. Beckhãuser. Viver em Cristo. Op. cit., p. 185.
77 Ibid.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

a Deus o mundo todo, serão transformados pelo Espírito Santo, em


alimento e bebida de vida eterna para nós e para todos.
Em clima de ação graças a Deus por sua misericórdia para com
todos, bendigamos o Senhor também por toda ação missionária da
nossa comunidade e de toda a Igreja.
Que todos nós, unidos a Cristo por esta ceia santa, nos asseme-
lhemos cada vez mais a Ele no espírito sereno de inclusão de todos
na mesma fé. Assim, possamos um dia participar no céu, todos jun-
tos, da glória e da vitória do Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo.
Que assim seja! Amém!

Sugestões para a celebração


« Quando você “preside a liturgia da Palavra, deve lembrar que ela
é liturgia das leituras”, e por isso deve realizar-se através de uma
ritualidade, mediante gestos e ações a cumprir conscientemente:
ir ao ambão é necessário; abrir o Livro é eloquente; fazer que a
assembleia receba uma Palavra que vem de outro lugar, Palavra
que lhe é dirigida por Deus, é determinante! O culto cristão é
loghike latreia (cf. Rm 12,1), isto é, segundo o Logos, culto ofere-
cido a Deus através da palavra de Deus”.”
e “O presbítero deve estar revestido de autoridade, não só ao fa-
lar, mas também ao 'ser sinal” diante do pão e do vinho que se
tornam corpo e sangue do Senhor, através da ação e palavras
do presbítero, tornadas orações do Pai. Pôr em relevo a epiclese
(invocação do Espírito), com a qual o Espírito é invocado sobre
os dons e sobre a assembleia; narrar com palavras e gestos a Ins-
tituição, memorial eterno da Páscoa de Cristo; partir o pão, ação
que deu também nome à eucaristia (cf. Lc 24,35; At 2,42; 20,7).
São ações que devem mostrar a exousia (autoridade) de quem as
cumpre e devem ser “narradas com eficácia” para a assembleia.

78 E. Bianchi. Presbiteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 103.


Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

De fato, se não há o Amém preventivo do presbítero, se ele não


afirma convicto: 'Assim é! Eu dou minha adesão”, torna-se muito
difícil o Amém da assembleia, pois esta responde ao que lhe vem
proposto como mistério ao qual aderir”.”
« “Desejo retomar um assunto que surgiu no Sínodo: a ligação en-
tre forma eucarística da vida e transformação moral. O Papa João
Paulo II afirmara que a vida moral “possui o valor de um culto
espiritual (Rm 12,1; cf. Fl 3,3), que brota e se alimenta daquela
fonte inesgotável de santidade e glorificação de Deus que são os
sacramentos, especialmente a Eucaristia: com efeito, ao partici-
par no sacrifício da cruz, o cristão comunga do amor de doa-
ção de Cristo, ficando habilitado e comprometido a viver essa
mesma caridade em todas as suas atitudes e comportamentos
de vida” (João Paulo II. Enc. Veritatis splendor, n. 107). Em suma
no próprio culto”, na comunhão eucarística, está contido o ser
amado e o amar por sua vez os outros. Uma Eucaristia que não
se traduza em amor concretamente vivido é em si mesma frag-
mentária' (Bento XVI. Enc. Deus caritas est, n. 14)".ºº

79 E. Bianchi. Presbíteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p 103-104.


80 Bento XVI. Exortação apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”... Op. cit., n. 82, p. 120.
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

21 de agosto de 2011

AURORA E ESPLENDOR DA IGREJA TRIUNFANTE,


CONSOLO E ESPERANÇA DA IGREJA PEREGRINA

Leituras: Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Sl 44(45),10bc.11.12ab.16;


1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56

Situando-nos brevemente

Celebramos hoje uma das festas mais populares e consoladoras de-


dicadas à Virgem Maria: Nossa Senhora da Glória. Oficialmente,
Assunção de Nossa Senhora. Antigamente, entre nós, era celebrada
no dia 15 de agosto. Por se tratar de uma festa de colorido intensa-
mente pascal, agora a celebramos no domingo, possibilitando inclu-
sive maior afluência de fiéis.
Eis, pois, que estamos reunidos com Maria para proclamar as
maravilhas operadas em nós pela morte e ressurreição de Jesus.
Desta forma, iniciamos mais uma semana que, com a graça de Deus
e a proteção de Maria, será uma semana de paz, abençoada.
No dia 23, (terça-feira), celebramos a festa da jovem leiga, con-
sagrada ao Senhor, do século 17, Santa Rosa de Lima. No dia 24
(quarta-feira), celebramos a festa do apóstolo São Bartolomeu. No
dia 27 (sábado), fazemos memória de Santa Mônica, extraordinária
mulher dedicada à conversão do marido e do filho Agostinho.
Ouçamos o que a Palavra de Deus tem a nos dizer neste dia
solene da Assunção de Nossa Senhora ou Nossa Senhora da Glória.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

Recordando a Palavra
O evangelho nos fala de Maria, grávida, fazendo uma visita a Isabel,
também grávida, daquele que será São João Batista. Bastou Isabel
ouvir a saudação de Maria e, dentro dela, a criança começou a dar
pulos de alegria. Respondendo à saudação, Isabel, aos gritos de júbi-
lo, prorrompeu em louvores a Maria por sua fé e em exaltação pelo
fruto salvador prometido que nela vinha se gestando: “Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”.
Maria desdobra-se num emocionante hino de enaltecimento
pelas maravilhas que o Deus santo e todo-poderoso, cheio de mise-
ricórdia, estava operando nela, humilde “serva” do Altíssimo. Nela
e dentro dela, toda soberba começa a cair por terra. Nela e dentro
dela, todos os poderosos começam a perder seu trono. Nela e den-
tro dela, toda riqueza começa a ser partilhada com quem não tem
nada. Nela e dentro dela, o que Deus prometeu a Abraão começa a
ser realidade.
Ê a vitória do Ressuscitado que já se anuncia neste canto do
Magnificat. Bem mais tarde, a partir da experiência desta vitória,
a visão do Apocalipse proclama que o terrível dragão, isto é, todo
poder opressor e assassino, não atingiu seu objetivo de destruição.
Teve que se render diante do trono do Filho daquela “mulher vesti-
da de sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de
doze estrelas”, Então se ouviu uma voz forte no céu, proclamando:
“Agora se realizou a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o
poder do seu Cristo”. E quem é esta mulher? Maria, que “sintetiza
em si, por assim dizer, todas as qualidades do povo prenhe de Deus,
aguardando a revelação de sua glória”.º! Maria assunta ao Céu, sín-
tese da Igreja como no Céu será e como no Céu já é: vitoriosa pelo
sangue do Cordeiro!
Por isso, cantamos hoje a Deus com o Salmo 44: “À vossa direi-
ta se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir”.

81 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit,, p. 493.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Paulo proclama hoje, na segunda leitura, que “Cristo ressusci-


tou dos mortos como primícias dos que morreram”. Todos morrem.
Inclusive Cristo morreu. Como Cristo venceu a morte, também to-
dos os que, pela fé, nele se acoplam, serão vitoriosos sobre a morte.
Chegará o dia em que todo principado e todo poder e força serão
destruídos. Conclui Paulo: “É preciso que ele reine até que todos os
seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser
destruído é a morte. Com efeito, 'Deus pôs tudo debaixo de seus
pés, 233

Atualizando a Palavra
A partir da gloriosa vitória da Páscoa sobre o pecado e a morte, nós
hoje contemplamos Maria toda gloriosa no céu. O próprio evange-
lho coloca em sua boca palavras que proclamam a beleza de Deus
que, na vitória de Jesus, “realizou uma tríplice inversão das falsas
situações humanas, para restaurar a humanidade na salvação, obra
de Cristo.
No campo religioso, Deus derruba as autossuficiências humanas,
confunde os planos dos que nutrem pensamentos de soberba, er-
guem-se contra Deus e oprimem os seres humanos.
No campo político, Deus destrói os injustificáveis desníveis hu-
manos, abate os poderosos dos tronos e exalta os humildes; repele
aqueles que se apoderam indevidamente dos povos, e aprova os que
os servem para promover o bem das pessoas e da sociedade, sem
discriminações...
No campo social, Deus transforma a aristocracia estabelecida
sobre ouro e meios de poder, e cumula de bens os necessitados e
despede de mãos vazias os ricos, para instaurar uma verdadeira fra-
ternidade na sociedade e entre os povos”.
A festa de Nossa Senhora da Glória representa uma injeção de
ânimo para todos que, em meio a tantas dificuldades, peregrinamos

82 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 769.


SW Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 201 1

na fé e na caridade rumo à pátria definitiva. Nela celebramos a es-


perança de estarmos todos juntos, um dia, com Maria, participan-
do da festa que no céu nunca se acaba, a festa da total e definitiva
libertação.
Por isso, podemos cantar hoje com jubilosa esperança aquele
canto tão popular (Podemos cantar?): “Com minha Mãe starei / na
santa glória, um dia, / junto à Virgem Maria /no céu triunfarei. / No
céu, no céu, /com minha Mãe starei! / No céu, no céu, /com minha Mãe
stareil”
“Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a
Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria também é Mãe da
Igreja. Na “mulher vestida do sol” confundem-se os traços de Maria
e da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos
na fé”.”
Para os tempos de hoje, no “momento histórico em que vive-
mos, a contemplação da 'serva gloriosa” pode nos trazer uma luz
preciosa. Que seria a “humilde serva” no século 21, século da pu-
blicidade e do sensacionalismo? Sua história é: serviço humilde e
glória escondida em Deus. Não se assemelha a isso a Igreja dos po-
bres? A exaltação de Maria é um sinal de esperança para os pobres.
Sua história joga também uma luz sobre o papel da mulher, espe-
cialmente da mulher pobre, “duplamente oprimida'. Maria é 'a mãe
libertadora”.
“Assumindo responsavelmente o projeto de Deus, Maria é fi-
gura e esperança de quantos aspiram por liberdade e vida. Ela vem
reforçar a confiança dos pobres, ao mostrar que neles o Poderoso
opera maravilhas de libertação. Serva fiel, bem-aventurada porque
acreditou nas promessas, solidária com os necessitados, é mãe das
comunidades que lutam contra os dragões que procuram roubar-
lhes as esperanças. Associada intimamente a Jesus por sua mater-
nidade e mais ainda pela prática da Palavra, participa
da vitória de

83 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 495.


84 Ibid.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino Sto:

Cristo, primícia da vida em plenitude. O canto de Maria nos esti-


mula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de
Jesus. Esse mundo novo irá se tornando realidade concreta se for-
mos cidadãos conscientes e responsáveis”.”

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Significativo o que o presbítero, na oração eucarística, proclama
como grande motivo de ação de graças a Deus: “Senhor, Pai santo,
Deus eterno e todo-poderoso, hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus,
foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante,
ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois
preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de modo ine-
fável, vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”.
Eis que o bendito fruto da Virgem Maria, hoje Ressuscitado e
vitorioso, se apodera do pão e do vinho que trazemos para o altar
e, então, identificado radicalmente com estes elementos, ele se dá a
nós, comunicando-nos sua própria vida eterna.
É o céu que se une à terra neste banquete sagrado, a fim de que,
possamos um dia, depois de viver na terra o espírito mariano de
humildade e serviço, gozar com Maria da vitória definitiva. Como.
expressa a oração após a comunhão: “Ó Deus, que nos alimentastes
com o sacramento da salvação, concedei-nos, pela intercessão da
Virgem Maria elevada ao céu, chegar à glória da ressurreição”.

Sugestões para a celebração MNENRININNNNHES


* Aos domingos e em outras solenidades, bem como em dias festi-
"vos, cantamos, no início da missa, um antiquíssimo e venerável
hino chamado “Glória”. Seu conteúdo e verdadeiro sentido nem
sempre foi bem compreendido entre nós. O músico e liturgista
Fr. Joaquim Fonseca nos orienta com uma boa explicação:

85 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 774.


Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011

“O “Glória” é um hino que remonta aos primeiros séculos da


era cristã. Na Instrução Geral do Missal Romano, lemos que o
"Glória" é um “hino antiquissimo e venerável, pelo qual a Igreja,
congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao
Cordeiro” (n. 53).

Esta definição nos deixa claro que o “Glória” é um hino doxológi-


co (de louvor/glorificação) que canta a glória e Deus e do Filho.
Porém, o Filho se mantém no centro do louvor, da aclamação e
da súplica. Movida pela ação do Espírito Santo, a assembleia en-
toa esse hino, que tem sua origem naquele canto dos anjos que
ressoou pela primeira vez nos ouvidos dos pastores de Belém,
na noite do nascimento de Jesus (cf. Lc 2,4)...

O “Glória” pode ser dividido em três partes:


O canto dos anjos na noite do nascimento de Cristo: Glória a
Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados”;
Os louvores a Deus Pai: “Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-
poderoso: nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos,
nós vos glorificamos, nós vos damos graças por vossa imensa glória”;
Os louvores seguidos de súplicas e aclamações a Cristo: Senhor
Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de
Deus Pai. Vos que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Vos
que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica. Vós que estais
à direita do Pai, tende piedade de nós. Só vós sois o Santo, só vós o
Senhor, so vós o Altíssimo Jesus Cristo”.
O “Glória” termina com um final majestoso, incluindo o Espírito
Santo. E importante lembrar que esta inclusão não constitui, em pri-
meira instância, um louvor explícito à terceira pessoa da Santíssima
Trindade. O Espírito Santo aparece relacionado com o Filho, pois é
neste que se concentram os louvores e as súplicas. Em outras pala-
vras: o Cristo se mantém no centro de todo o hino. Ele é o Kyrios, o
Senhor que desde todos os tempos habita no seio da Trindade.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

Estas dicas certamente nos ajudarão a discernir na escolha do


“hino de louvor” mais adequado para as celebrações eucarísticas.
Sabemos que em muitas de nossas igrejas há o costume de execu-
tar, no lugar do verdadeiro “Glória” pequenas aclamações trinitárias,
ou seja, simples aclamações dirigidas ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo. Pudemos ver que o “Glória” é bem mais do que isso: nele está
contido o louvor, a aclamação e a súplica. E mais: a pessoa de Jesus
Cristo aparece no centro desta grande doxologia”.**

86 J. Fonseca. Cantando a missa e o ofício divino. São Paulo: Paulus, 2004, p. 19-20.
22º DOMINGO DO TEMPO COMUM

28 de agosto de 2011

A SORTE DO DISCÍPULO: À MESMA DO MESTRE

Leituras: Jr 20,7-9; Sl 62(63),2.3-4.5-6.8-9;


Rm 12,1-2; Mt 16,21-27

Situando-nos

Por primeiro, uma saudação cordial e carinhosa aos catequistas e


servidores da comunidade pelo seu dia, A todo(as), o reconhecimen-
to e a gratidão da comunidade por todo seu trabalho abnegado em
prol da formação cristã de nossas crianças, jovens e adultos. Deus
abençoe a todo(as).
Hoje, dia 28, é o dia do grande bispo e mestre Santo Agostinho,
que viveu no século 5. Amanhã, dia 29, celebramos a memória do
martírio de São João Batista. É também o dia internacional de com-
bate ao fumo. No dia 3 (sábado), celebramos a memória do gran-
de mestre e papa, dedicado à renovação litúrgica no século 6, São
Gregório Magno.
Mais uma semana que temos pela frente: de trabalho, estudo,
convivência familiar e social, compromisso ético, dedicação ao bem
comum e aos mais necessitados, cuidados com a saúde, sempre
apoiados nos ensinamentos de nosso mestre Jesus.
Hoje, por exemplo, ele tem muito a nos ensinar. Ouvimos a
sua Palavra, nas leituras que há pouco foram proclamadas. Vejamos
agora mais de perto e contemplemos o segredo de vida que ele nos
transmite.
Jesus: Presença reveladora da Justica do Reino RB

Recordando a Palavra
Fazia pouco tempo, Pedro havia proclamado Jesus como “o Mes-
sias, o Filho do Deus vivo” (cf. Mt 16,16). Parece, porém. que a cabe-
ça de Pedro ainda não tinha mudado. Como era comum na cultura
judaica, todos aguardavam um Messias de sucesso, poderoso e rico,
intocável. Pedro não pensava diferente: julgava que Jesus devia ser
bem assim... Mas hoje ele fica meio intrigado com Jesus; sente uma
espécie de decepção em relação ao mestre.
Ir até a sede do poder, Jerusalém, era o objetivo de Jesus. Sentia-
se na obrigação de ir. Pelo que ele já observara sobre a tirania do
poder central injusto (político, econômico, religioso), em Jerusalém,
Jesus não teve dúvidas: sua vida corria perigo; sentia-se marcado
para morrer. Fugir? Impossível! Tinha que enfrentar e assumir as
resistências que se lhe oporiam, inclusive com muito sofrimento e
até com a morte; mas para ressuscitar ao terceiro dia.
Sofrer? Morrer? O Messias, sofrer e morrer? Ah!, isso não, jamais!
“Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça 1
3

repreendeu Pedro. Jesus reagiu, sendo duro com Pedro: “Vai para
longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não
pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”, “Satanás”
tem a ver com adversário, que busca forçar Jesusa assumir outro
rumo, o rumo de um messianismo de riqueza e poder temporal, em
total descompasso com a lógica de Deus... Pedro ainda não havia
entendido em que sentido Jesus era o Messias.
Jesus então explica qual é o rumo de seu messianismo. Pensa
no Servo Sofredor de Deus, que liberta o mundo por sua dedicação
até a morte... Mas ninguém é obrigado a segui-lo. “Se alguém qui-
ser me seguir”, diz Jesus. Portanto, trata-se de uma escolha pesso-
al. Optar por segui-lo significa assumir a mesma sorte e o mesmo
destino que ele: renunciar a si mesmo e tomar a cruz... O resultado
final de tal opção é: 'encontrar a vida”. Toda a riqueza, poder e suces-
so do mundo não são garantia de qualidade de vida plena, eterna, e
sim a justiça do Reino de Deus: quando o Filho do Homem vier na
OBM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011

glória do seu Pai... então ele “retribuirá a cada um de acordo com


a sua conduta”.
Não é fácil optar pelos rumos de Deus, isto é, por sua Palavra
de vida. O profeta Jeremias, num momento de crise pessoal, que
o diga! Como ouvimos na primeira leitura, ele confessa ter sido
seduzido por Deus: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir...”
“Entrou numa fria”, se diria hoje, pois sua opção pela justiça de Deus
custou-lhe muito sofrimento. Teve que suportar zombarias por
todo lado. Sentiu que a palavra do Senhor tornara-se para ele “fonte
de vergonha e de chacota o dia inteiro”. Pensou até em fazer greve
como profeta (cf. Jr 20,9). “Mas a voz de Deus era como um fogo
ardente no seu peito. Não conseguia reprimi-la... Tal é a sorte do
profeta. Quando ele tem uma mensagem desagradável e sempre de
novo deve ferir os ouvidos, Deus não o deixa em paz”.”
Deus, no entanto, não nos deixa em paz. Dentro de cada pessoa
há sempre um “fogo ardente a penetrar.o corpo todo”. Isso se ex-
pressa no Salmo 62 que cantamos hoje: “A minh'alma tem sede de
vós como a terra sedenta, ó meu Deus!”.
Não tem outra saída para cultivar esse Deus, senão oferecermos
a nós mesmos em sacrifício vivo, santo e agradável: este é verdadei-
ro culto a Deus. É o que ouvimos na segunda leitura. Em outras pa-
lavras, o que melhor se ajusta ao plano de Deus, sendo o culto que
mais lhe agrada, é, acima de tudo, colocar nossos corpos a serviço
da justiça do Reino, contra toda injustiça. Distinguir qual a vontade
de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito, sem
nos conformarmos com os esquemas deste mundo, mas transfor-
mando-nos e renovando nossa maneira de pensar e de julgar, eis o
grande desafio para o discípulo e discípula do mestre Jesus.
Pensam que tal opção não acarretou e acarreta ferozes resis-
tências? Os profetas, Pedro, Paulo, os apóstolos todos e tantos se-
guidores de Jesus que o digam! Uma coisa, porém, é exata: a vitó-
ria deles é certa! Assim como Jesus com sua morte e ressurreição

87 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 181.


Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

destruiu o inimigo, assim é certa a vitória dos que o seguem no


caminho da cruz.

Atualizando a Palavra
“Nós podemos desconfiar de uma Igreja que não conhece o mar-
tírio. Por quê? Porque o caminho dos cristãos não é diferente do
caminho de Jesus. É feito de incertezas, mas também de coragem e
esperanças; de lutas, mas também de vitórias; de cruz, mas também
de ressurreição e vida; de não-conformismo, mas também de com-
promisso com o projeto de Deus. Disso nos falam Jeremias, Jesus e
Paulo. Pedro, no evangelho de hoje, representa o medo que temos
das consequências do cristianismo que enfrenta as forças contrárias
à vida; Jeremias é a voz dos que sofrem fortemente os apelos da Pa-
lavra irresistível; Jesus nos mostra o caminho da vitória; Paulo nos
fala do verdadeiro culto agradável a Deus. A Palavra de hoje, em
síntese, nos encoraja no testemunho cristão, evitando que a medio-
cridade nos conduza a um beco sem saída”.**
Todos nós, “como Jeremias e como Pedro, passamos pela ten-
tação de querer apossar-nos apenas do aspecto glorioso do mistério
pascal, negando sua dimensão de renúncia à própria vida. A ten:
tação do ser humano moderno é a realização humana através das
próprias forças. Esquece-se de que a pessoa humana transcende-se a
si mesma a partir de Deus. É só perdendo-se a si mesmo pela doação
da própria vida ao próximo por causa de Cristo que ele se realiza de
verdade”,
O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser diferente
do destino do mestre. O evangelho de hoje é claro. “Para estar com
ele são exigidas duas condições: Renunciar a si mesmo é deixar de
lado toda ambição pessoal. Em outros termos, temos aqui a repe-
tição da primeira bem-aventurança: ser pobre (cf. Mt 5,3). Carregar

88 J. Botolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 212-213.


89 A. Beckhiuser. Viver em Cristo... Op. cit., p. 187.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

a própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o


sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça que provoca
o surgimento do Reino... É a última bem-aventurança, a dos perse-
guidos por causa da justiça (cf. 5,11). Ser discípulo de Jesus, portanto,
é reviver a síntese das bem-aventuranças””
“A lição que Pedro recebe ensina-nos a olhar para Cristo, para
ver nele a lógica de Deus; a olhar para os pobres, para ver neles o
resultado da estratégia do Adversário... Pois o sucesso e a ganân-
cia produzem os porões de miséria. Devemos analisar o sistema
de Deus e o sistema do Adversário hoje. O sistema de Deus proí-
be ao homem dominar seu irmão, porque Deus é o único “dono;
os sistemas contrários são baseados na dominação do homem pelo
homem. Quem quiser ser mensageiro do Reino de Deus experi-
mentará na pele a incompatibilidade com os sistemas deste mundo.
O mensageiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela socie-
dade como 'corpo alheio”. Tomando consciência disso, vamos rever
nossa escala de valores e critérios de decisão. A mania do sucesso,
o prazer de dominar, de aparecer, de mandar... já não valem. Vale
agora o amor fiel, que assume a cruz, até o fim”?

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Logo mais, na liturgia eucarística, entraremos em contato direto
com a presença viva da lógica de Deus na pessoa de Jesus Cristo
feito pão e feito vinho, feito alimento. Seu corpo entregue e seu
sangue derramado pela vida do mundo, sobre este altar, eis o sacri-
fício vivo, santo e agradável a Deus, culto espiritual... e nós vamos
participar deste sacrifício.
“Tomai e comei... tomaie bebei...” é o convite de Jesus. Para quê?
Exatamente para assimilar, em nossos corpos, a entrega de Jesus
e, assim, sermos nós também em Cristo uma entrega constante a

/
90 J. Botolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 215.
91 J. Konings. Liurgia dominical. Op. cit., p. 182.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino

serviço dos irmãos, sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, culto


espiritual agradável a Deus.
Terminada a ceia, o presbítero a conclui com esta significativa
oração: “Restaurados à vossa mesa pelo pão da vida, nós vos pedi-
mos, ó Deus, que este alimento da caridade fortifique os nossos co-
rações e nos leve a vos servir em nossos irmãos e irmãs. Por Cristo,
nosso Senhor”. Ao que toda a assembleia responde afirmativamente:
“Amém!”
Que assim seja! Amém!

Sugestões para a celebração -


* Oaltar simboliza o próprio Cristo. Ao vê-lo, visualizamos e con-
templamos o sacrifício de Cristo. ele deve, por isso, permanecer
sempre visível, nada se sobrepondo a ele. Pode “ser realçado com
a toalha, as velas, a cruz processional, as flores. Todos estes ele-
mentos devem enfatizar a sua nobreza e sobriedade, sem escon-
dê-lo ou dificultar as ações litúrgicas. Os castiçais, as velas, a cruz
processional, as flores sejam preferivelmente colocados ao lado,
deixando a mesa livre para que apareçam os sinais sacramentais
do pão e do vinho”, Exatamente para garantir a visibilidade do
altar, coloque-se a toalha caindo somente nas suas laterais, sem
escondê-lo totalmente.”
« “Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo respon-
sorial e o precônio pascal; também se podem proferir a homilia e
as intenções da oração universal ou oração dos fieis. A dignidade
do ambão exige que a ele suba somente o ministro da palavra”.”
Pela dignidade da Palavra aí proclamada, convém não pendurar
cartazes no ambão, pois desviam a atenção de sua centralidade,
- “Há uma estética litúrgica a respeitar, porque o belo pertence
à essência da celebração, e esta deve sempre ser a norma que

92 Cf. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Op. cit., p. 106. Mais informações, p. 105-106.
93 Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 309.
ONA Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011

irradie a beleza de Cristo, 'o mais belo entre todos os homens” (Sl
45,3), e a beleza da sua esposa, a Igreja, que junto ao Espírito o
aguarda e invoca (cf. Ap 22,17). E que se preste atenção: a beleza
de uma celebração cristã não consiste principalmente no canto,
nos ornamentos, nas arquiteturas, mas na consciência da assem-
bleia e de quem celebra com simplicidade e singeleza de gestos,
com adequada alternância entre palavra e silêncio, embora seja
também verdade que luz, arquitetura e paramentos litúrgicos
concorrem para a beleza. Em todo caso, não a beleza do luxo,
dos acessórios, da sobrecarga, e sim a beleza da austeridade e da
intensidade”.

94 E. Bianchi, Presbiteros: Palavra e Liturgia. Op. cit., p. 95-96.

Das könnte Ihnen auch gefallen