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“ções od
C€748; Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Jesus: presença reveladora
da Justiça do Reino. Roteiros Homiléticos para Domingos e outras
solenidades do Tempo Comum Ano A - Junho / Agosto 2011.
Brasília: Edições CNBB. 2011.
80p.: 14x 21 cm
ISBN: 978-85-7972-087-1
Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Revisão:
Lúcia Soldera
Capa e Diagramação:
Henrique Billygran da Silva Santos
Projeto Gráfico:
Fábio Ney Koch dos Santos
12 Edição - 2011
Nenhuma pane desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor - CNBB.
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Sumário
Apresentação... resorts 7
Introdução... rrenanerearieeneii 9
12º DOMINGO DO TEMPO COMUM SOLENIDADE
DA SANTÍSSIMA TRINDADE
19 de junho de 2011... iiricrrereeneereeneerreneanarernanto 10
Apresentação
Retomamos a 2º parte do Tempo Comum do ano litúrgico, como
um tempo propício para o crescimento da comunidade cristã, como
discípula missionária de Jesus Cristo, o Messias e Mestre da Justiça
do Reino. “Olhando para o centro de nossa fé, o Mistério Pascal
de Jesus Cristo, nele encontramos o sentido ou, se preferirmos, os
fundamentos que proporcionam uma atmosfera e uma realidade de
santificação de nosso tempo, saboreando a ação em favor de toda a
Igreja: Corpo Místico de Cristo, Povo de Deus, Templo do Espírito
Santo e Sacramento Universal de Salvação”.
Em alguns domingos e dias da semana, presentes neste rotei-
ro, celebramos as solenidades do Senhor que ocorrem neste tempo.
Assim contemplamos, com a Santíssima Trindade, a comunidade
perfeita em sua relação — ela é a melhor comunidade. Em Corpus
Christi, o discernimento da comunidade ao alimentar-se do Corpo
e Sangue de Cristo, o que significa alimentar-se de sua totalidade,
assimilar seu destino, para testemunhá-lo até o fim. No Coração de
Jesus, o amor preferencial de Deus pelos pequenos, humildes e fra-
cos. Com São Pedro e São Paulo, a edificação da Igreja sobre o tes-
temunho de fé dos apóstolos, discípulos missionários exemplares.
Na Assunção de Maria, a antecipação de nosso destino definitivo
— a glória do céu que jamais se acabará. Os evangelhos dos demais
domingos deste tempo nos apresentam, através de Mateus, a diná-
mica da justiça do reino, que exige despojamento e doação da vida;
semear a Palavra reveladora do reino no 'chão dos corações”, sem-
pre com alegria e convicção; não ter pressa para a colheita e estar
sempre atento às demoras de Deus, nós que somos tão imediatis-
tas. O importante é cultivar a certeza de que, quando se trata do
reino, vale a pena investir tudo, afinal de contas trata-se de uma
1 CF. Eclesiologia do Vaticano II”- (Liturgia em Mutirão II — Subsídios para a formação — Edições
CNBB, 2009), p. 66.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino
Introdução
Terminado o Tempo Pascal, iniciamos a segunda parte do Tempo
Comum. Este fascículo contempla do 13º ao 22º domingos, corres-
pondentes aos meses de junho, julho e agosto. Os domingos subse-
quentes estarão em outro livrinho,
Em alguns domingos, celebramos as solenidades do Senhor ou
dos Santos: no 12º domingo (dia 19 de junho), temos a solenidade
da Santíssima Trindade: no 14º domingo (dia 3 de julho), a soleni-
dade de São Pedro e São Paulo e no 21º domingo, a solenidade da
Assunção de Nossa Senhora.
Neste período do Tempo Comum, há também três solenidades,
celebradas dia de semana: Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
(dia 23 de junho); Natividade de São João Batista (dia 24 de junho);
Sagrado Coração de Jesus (dia 1º de julho).
Dando continuidade à leitura do evangelho de Mateus, con-
templamos e celebramos o mistério de Cristo, revelador da justiça
do Reino, que supõe e exige “um discipulado comprometido com a
justiça que faz o reinado de Deus acontecer”.
O gesto simbólico que caracteriza o domingo como dia memo-
rial da páscoa é a reunião da comunidade em torno a Palavra e da
Ceia do Senhor. A fim de ressaltar a dimensão pascal do domingo
e lembrar o Batismo pelo qual entramos no discipulado do Senhor,
é bom que se valorize, no rito penitencial, o rito da aspersão da
água.
“A melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia
bem celebrada”, afirma Bento XVI, apoiando-se numa proposição
do Sínodo sobre a Eucaristia.” Assim sendo, com o objetivo de con-
tribuir para qualificar sempre melhor nossas celebrações, sobretudo
as eucarísticas, acrescentamos, ao final de cada roteiro homilético,
oportunas “orientações para celebrar bem” em qualquer ocasião.
2 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Anos A, B, C. Festas e Solenidades. São Paulo: Paulus, p; 128.
3 Bento XV. Exortação apostólica pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 64.
12º DOMINGO DO TEMPO COMUM
SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA
TRINDADE
19 de junho de 2011
Leituras:
Ex 34,4b-6.8-9; Salmo responsorial: Dn 3,52.53.54.55.56;
2Cor 13,11-13;
Jo 3,16-18
Situando-nos
Recordando a Palavra
Atualizando a Palavra
Quem é Deus? De que jeito Deus é Como podemos deduzir da
Palavra que ouvimos, Deus é eminentemente relação. Usando uma
linguagem de hoje, podemos dizer que Deus nunca age sozinho;
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino 12
Leituras:
Dt 8,2-3.14b-16a; Salmo responsorial: Sl 147(147B),
12-3.14-15.19-20; 1Cor 10,16-17; Jo 6,51-58
Situando-nos
Recordando a Palavra
A Palavra nos conduz hoje, em primeiro lugar, a uma significati-
va exortação de Moisés ao povo, no livro do Deuteronômio. Ele
lembra o zelo com que Deus conduziu o povo pelo deserto afora,
durante 40 anos. Deus, como verdadeiro pedagogo e pai, provou e
testou o povo, para ver se era cumpridor ou não da divina Palavra.
Deus “te humilhou — lembra Moisés — fazendo-te passar fome e
alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conhecíeis,
exatamente para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas
de toda a palavra que sai da boca do Senhor”.
Deste Deus não se pode esquecer, jamais. “Não te esqueças —
continua Moisés — não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez
sair da escravidão do Egito, ele que depois foi teu guia no vasto e
terrível deserto, infestado de serpentes venenosas e perigosos escor-
piões, numa terra árida e sem água. Foi ele que fez jorrar água para
ti da pedra duríssima, e te alimentou no deserto com maná, que
teus pais não conheciam”.
Hoje vemos também Jesus, qual novo Moisés, falando às mul-
tidões dos judeus. Mas com uma novidade: Ele mesmo se apresenta
como pão vivo descido do céu. Pão que é a sua própria carne para
a vida do mundo. Quem comer deste pão viverá eternamente. Sua
própria carne? Isso causou estranheza aos ouvintes: “Como é que
esse homem se atreve a dar sua carne a comer?!”
Diante de tal reação dos ouvintes, Jesus adverte: “Se não comer-
des a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós. Mas quem comer a minha carne e beber o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a mi-
nha carne é verdadeira comida, e o meu sangue, verdadeira bebida”.
Não se trata, pois, de um pão como aquele que os antepassados
judeus comeram lá no deserto, pois eles, no entanto, morreram.
Trata-se aqui de um pão “que desceu do céu” e, por isso, “aquele que
come este pão viverá para sempre”, diz Jesus.
Enfim, o mestre acrescenta: “Quem comer a minha carne e
beber o seu sangue permanecerá em mim e eu nele”. Em outras
IM Roteiros Homitéticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
Atualizando a Palavra
Talvez também nós tenhamos dificuldade de entender o que Jesus
hoje nos diz, a saber: que ele próprio é o pão verdadeiro descido do
céu; que temos de comer sua própria carne e beber seu sangue para,
assim, termos comunhão com ele e, consequentemente, com o Pai;
que temos de comer sua carne e beber seu sangue para, assim, ter-
mos a vida eterna, vivermos para sempre. O que será que Jesus está
querendo dizer com tudo isso?
Todos entendem quando, entre nós, usamos a expressão 'carne
e osso, significando a totalidade da pessoa. Ora, a expressão 'carne e
sangue”, na cultura semita, quer dizer a mesma coisa. Denota totali-
dade, integralidade. Assim, comer a carne e beber o sangue de Jesus
“significa alimentar-se do Filho do Homem inteiro, sem divisões”.
“Sabemos que tudo o que comemos e bebemos se torna nos-
sa carne, sangue, energias. É isso que as comunidades joaninas
queriam recuperar numa época de descaso para com a Eucaristia.
Comer a carne e beber o sangue de Jesus... é uma espécie de en-
carnação do Filho do Homem em nossa vida, de modo que nossas
ações, palavras, sentimentos..., se tornem suas ações, palavras senti-
mentos... Ou, em outra perspectiva, que ele aja, fale e sinta em nós
e por meio de nós”.
12 Cf. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. 2º edição. Brasília: Edições CNBB, s.d., p. 28-29.
BAN Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
Nasceu o menino, filho de Isabel e Zacarias. A vizinhança toda tam-
bém festejou, pois Isabel, não podia ter filhos, porém foi agraciada
pela misericórdia do Senhor. Zacarias continuava mudo, sem poder
BEM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011
Atualizando a Palavra
Deus tem seus caminhos, Deus tem seus planos para a salvação da
humanidade em Jesus Cristo. Depois que Jesus morreu e ressusci-
tou, a comunidade cristã primitiva logo percebeu: a mão misteriosa
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino
26 de junho de 2011
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
Encontramos Jesus falando a seus apóstolos, ou, em outras pala-
vras, aos discípulos missionários por ele enviados. A eles se dirige
com estas significativas palavras: “Quem vos recebe, a mim recebe;
e quem me recebe, recebe aquele que me enviou... Quem der, ainda
que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos,
por ser meu discípulo... receberá a sua recompensa”.
No fundo, Jesus faz notar que há (e deve haver!) profunda iden-
tificação entre Ele e seu discípulo missionário, e vice-versa. Tal qual
Jesus vivia a vontade do Pai como valor máximo, assim entre o
discípulo missionário e Jesus há (e deve haver!) em tudo (na vida
simples, despojada, pobre, e até mesmo na cruz), uma comunhão
tal que ultrapasse os próprios laços familiares. Caso contrário, nem
discípulo é: “Quem ama seu pai, sua mãe, seu filho ou filha mais do
que a mim, não é digno mim. Quem não toma a sua cruz e não me
segue, não é digno de mim”.
O discípulo missionário cristão é aquele(a) que colocou Jesus no
centro de sua vida. Por isso, ele se identifica com o Mestre. Assim,
quem acolhe esse discípulo está acolhendo o próprio Jesus e, n'Ele,
o próprio Deus e Pai de todos e terá também sua recompensa por
isso.
Isso faz lembrar aquela mulher que acolheu e hospedou em
sua casa o profeta Eliseu, percebido por ela como um “homem de
Deus”. Ela era rica, mas, ao mesmo tempo, sofrida, pois não podia
ter filhos. Era estéril e seu marido já era idoso. Então, por ter aco-
lhido o “homem de Deus”, ela foi agraciada com o dom da vida por
ela tão sonhado: “Daqui a um ano, neste tempo, estás com um filho
nos braços”, anuncia-lhe o profeta.
De fato, o amor de Deus manifesta-se fecundo na hospitalida-
de dada aos pequeninos, profetas e pregadores identificados com a
justiça de Deus, deste Deus que é nosso escudo, nossa proteção. Por
isso hoje cantamos com Salmo 88: “Ó Senhor, eu cantarei, eterna-
mente, O vosso amor”.
PASB Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
Atualizando a Palavra
Que vida nova é essa? Paulo a resume com esta exortação, ouvida
na segunda leitura: “Considerai-vos mortos para o pecado e vivos
para Deus, em Jesus Cristo”.
O evangelho de hoje se insere bem no contexto do capítulo 10
de Mateus, que tem como tema central “a missão dos discípulos
numa sociedade conflituosa que defende o acúmulo da riqueza, o
prestígio e o poder. São justamente as tentações que Jesus venceu
para inaugurar o Reino da Justiça (cf. 4,1-11). Cabe, agora, aos segui-
dores do Mestre da Justiça enfrentar e vencer esses “demônios”.
Assim como Eliseu era um homem simples, despojado, um
pregador ambulante, porta-voz de Deus em defesa do direito dos
pobres, também os missionários cristãos “são gente simples, os 'pe-
quenos”, que deixaram tudo e que já não têm lugar na sociedade (Mt
10,37-39). Impulsionados pela urgência de levar o evangelho a todas
as nações (Mt 28,16-20)... percorrem campos e cidades, vivendo em
extrema pobreza, como foram depois os primeiros franciscanos”.
Como certamente era difícil, no tempo de Jesus, “acolher esses
estropiados missionários errantes que eram os profetas cristãos”!
Tão parecidos com o Mestre — inclusive no sofrimento — que Jesus
mesmo se vê identificado com eles: “Quem vos recebe, é a mim
mesmo que recebe... e aquele que me enviou”. Por isso, a recompen-
sa também é certa para quem acolhe tais pessoas, nem que seja com
um simples copo de água.
Leituras:
Dt 7,6-11; Salmo responsorial: Sl 102(103),1-2.3-4.6-7.8.10;
1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30
Situando-nos brevemente
Não faz muito tempo, celebramos, durante cinquenta dias, as so-
lenidades pascais. Hoje, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, é
como se entrássemos de novo naquelas solenidades e revivêssemos
o imenso mistério do amor de Deus manifestado em Cristo. E o
fazemos pela via simbólica do coração, do coração de Jesus.
A devoção ao Sagrado Coração provém de tempos bastante remo-
tos. Grandes santos medievais, como São Bernardo e São Boaventura,
teceram “profundas considerações sobre o amor de Deus manifesta-
do em Cristo Jesus, sobretudo em sua sagrada Paixão”.
Foi, no entanto, o realce dado à humanidade de Jesus Cristo
que “fez brotar a devoção ao seu Coração sagrado, simbolo do amor
de Deus transformado em amor humano. A devoção como tal tem
início nos fins do século 13 e inícios do século 14, sobretudo em
regiões da França e Alemanha. Sua festa começou a ser celebrada a
partir do século 16, sobretudo na França”.
Vários papas deram sua chancela ao novo culto, desde Pio IX
que, em 1856, estendeu a festa a toda a Igreja, passando por Leão
26 Cf. A. Beckhãuser. Viver em Cristo. Espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis: Vozes, 1992, p.
161.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino era
Recordando a Palavra
30 Cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, Brasília: Edições CNBB, 2009, n. 296, 299.
31 Ibid., n. 309.
32 E. Bianchi. Presbíteros, Palavra e Liturgia. Op, cit., p. 20.
Jesus: Presença reveladora da Justica do Reino
Leituras:
At 12,1-11; Sl 33(34),2-3.4-5.6-7.8-9;
2 Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19
Situando-nos brevemente
Solenidade dos apóstolos São Pedro e São Paulo, a celebramos em
pleno domingo, dia do Senhor. Por serem os fundadores da Igreja e
especiais amigos do Senhor, não convém que sejam celebrados num
dia simples, mesmo quando o dia 29 cai durante a semana. Eles me-
recem um domingo!
Nesta solenidade, o que celebramos não são os méritos destes
apóstolos. Celebramos, sim, o Senhor mesmo que os escolheu e os
enviou para serem seus principais parceiros no grande mutirão em
favor da vida, inaugurado pelo mistério pascal de Cristo e assistido
pelo dom do Espírito Santo.
São Pedro e São Paulo, ao lado São João Batista e de Santo
Antônio, são santos muito estimados pelo povo brasileiro. Eles são
alegremente festejados pela religiosidade popular, compondo as tra-
dicionais festas juninas de nosso país.
Trata-se, ao mesmo tempo, de uma feliz chance que nos é dada
de nos achegarmos à fqnte da vida cristã, isto é, à Palavra de Deus e à
Eucaristia que estes apóstolos viveram e nós hoje aqui celebramos.
Vejamos, pois, mais de perto o que nos ensina o próprio Senhor
Deus por sua Palavra, neste dia tão importante para a vida da Igreja
e de toda a humanidade.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino ANO
Recordando a Palavra
O evangelho de hoje nos apresenta Jesus, junto aos discípulos, fa-
zendo uma espécie de sondagem de opinião a respeito de sua pes-
soa. Os discípulos informam-lhe que a opinião, em geral, se divide:
o povo está confundindo Jesus com João Batista, Elias, Jeremias ou
outros profetas... |
Então Jesus dirige-se diretamente aos discípulos: “E vós, quem
dizeis que eu sou?” Simão Pedro, prontamente, responde: “Tu és o
Messias, o Filho do Deus vivo!”. Ao que Jesus responde: “Feliz és tu,
Simão..., porque isso que estás dizendo te foi revelado por meu Pai
que está nos céus: é coisa de Deus! Fundamental, portanto, como
uma rocha. Por esse motivo, agora eu vou passar a te chamar de
Pedro (que quer dizer pedra, rocha), em memória desta verdade de
fé que professaste. Sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e O
poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do
Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
Sabemos que este Jesus, que Pedro professa como Messias e
Filho do Deus vivo, teve de enfrentar perigosas resistências, sobre-
tudo por parte das autoridades religiosas e políticas. Inclusive, foi.
morto numa cruz.
Com Pedro, depois, não foi diferente. Como discípulo des-
te Jesus que, depois de morto, apareceu vivo, ressuscitado, Pedro
teve de enfrentar ferozes resistências em seu trabalho missioná-
rio. Passou, por exemplo, pela dura experiência de horas na cadeia,
como ouvimos na primeira leitura. Ele foi, porém, milagrosamente
libertado por um anjo. Sinal de que o Senhor, então ressuscitado,
estava com ele. Como Pedro mesmo exclamou ao se dar conta que
estava livre: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo
para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu
esperava!”.
Assim como Pedro, também Paulo testemunha como o Senhor
esteve ao seu lado, dando-lhe forças em sua luta apostólica: “Quanto
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
Atualizando a Palavra
10 de julho de 2011
Situando-nos
Recordando a Palavra
t
É precisamente da Palavra que Jesus nos fala hoje. Ele o faz con-
tando uma parábola. Diz o evangelho que “Jesus saiu de casa e foi
sentar-se às margens do mar da Galileia”. Uma multidão se reuniu
em torno dele. Como estavam à beira do mar, Jesus entra numa
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino
barca para, de lá, falar âquele povo todo. Fala em parábolas. Entre
elas, conta a parábola do agricultor fazendo a semeadura.
A parábola conta que parte da semente caiu à beira do cami-
nho, outra caiu em terreno de muita pedra, outra caiu no meio de
espinhos e ainda outra caiu em terra boa.
As sementes que caíram à beira do caminho foram comidas
pelos passarinhos. As que caíram em terreno pedregoso, depois de
nascidas, acabaram queimadas pelo sol, porque não tinham raiz
suficiente. As que caíram no meio de espinhos, depois de nascidas
e crescidas, acabaram sufocadas pelos espinheiros. As que caíram
em terra boa nasceram sadias, cresceram e produziram abundante
semente.
Ao contar esta parábola, Jesus está se referindo à Palavra de
Deus. Já no Antigo Testamento, como ouvimos na primeira leitura,
Deus usa, através do profeta Isaías, a mesma figura de linguagem
para se referir à sua Palavra: “Assim como a chuva cai do céu e faz
frutificar a terra, assim é a Palavra que sai da minha boca. Ela não
volta vazia. Antes, ela realiza tudo o que planejei e produz os efeitos
que sonhei”.
Por isso, com razão cantamos hoje o Salmo 64, com este signi-
ficativo refrão: “A semente caiu na terra boa e deu fruto”.
Atualizando a Palavra
O que será que Deus está a nos dizer, ao insistir sobre a importância
de sua Palavra?
Em primeiro lugar, é bom lembrar que, para a linguagem bí-
blica, “essa Palavra é muito mais que um som vocálico, pois ma-
nifesta a própria essência de Deus: ele fala libertando. De fato, a
Palavra (em hebraico: dabbar... é bem mais que a pronúncia de sons;
esse termo significa o que está por trás, ou seja, O coração, a força,
a essência de quem fala. A Palavra de Deus, portanto, é a própria
essência de Deus que age nos acontecimentos, transformando tudo
AM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
17 de julho 2011
DEUS É PACIÊNCIA
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
De novo, como fez no domingo passado, Jesus vem nos revelan-
do os segredos do Reino dos Céus por meio de parábolas. Hoje ele
compara o Reino a um homem que semeou boa semente em seu
campo. O que aconteceu? Apareceu o joio crescendo no meio do
trigo. E agora? O que fazer? Arrancar o joio? Não dá, pois o trigo
corre o risco de ser arrancado também. Então o homem ordenou
que ambos, joio e trigo, crescessem juntos, até a colheita. Daí sim,
primeiro será arrancado o joio para ser queimado e, depois, o trigo
será recolhido limpinho e colocado no celeiro.
Em seguida, Jesus comparou o Reino dos Céus com um grãozi-
nho de mostarda que, plantado, pode tornar-se uma árvore grande.
Assim é o Reino dos Céus. Jesus comparou o Reino dos Céus tam-
bém ao fermento que uma mulher pega e mistura com a farinha
para fazer o pão. A massa fermentada avoluma-se, cresce. Assim é
o Reino dos Céus.
Voltemos, porém, à história do joio. Depois que o povo todo foi
embora, os discípulos pedem para Jesus lhes explicar a parábola do
joio. Jesus os atende prontamente: “Quem semeia a boa semente é
o Filho do Homem (Jesus mesmo). O campo é o mundo. A boa se-
mente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem
ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o
fim dos tempos. Os que fazem a colheita são os anjos”. Jesus conti-
nua: “Como acontece com o joio que é jogado ao fogo, assim todos
os que fazem outros pecar e os que praticam o mal serão no final
dos tempos retirados do Reino e serão lançados na fornalha onda
haverá choro e ranger de dentes”. E o trigo nos celeiros? Serão os
“justos que brilharão como o sol do Reino de seu Pai”.
Como aquele homem, assim é Deus. Ele tem muita paciência.
Como vimos na primeira leitura, do livro da Sabedoria, ele acredita
na possibilidade de arrependimento e de conversão dos joios que,
muitas vezes, somos nós mesmos. Ele dá tempo para que as pessoas
se arrependam. Não arranca o joio antes do tempo!...
BJBR Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011
Por isso, com razão cantamos com o Salmo 85: “O Senhor, vós
sois bom, sois clemente e fiel!”.
Deus tem tanta paciência que, como vimos na segunda leitura,
seu Espírito vem continuamente “em socorro da nossa fraqueza”.
Em outras palavras, ele faz tudo para nos convertermos enquanto
é tempo!
Atualizando a Palavra
A Palavra viva de Deus, que é Jesus mesmo, vem iluminar uma série
de questões que nos colocamos com frequência e que, com certeza,
eram propostas no tempo em que foi escrito o evangelho: “Por que
o bem e o mal se apresentam juntos? Por que é que Deus permite
que haja a imperfeição, o mal, o pecado, mesmo nas Comunidades
mais perfeitas? Com todos os meios deixados por Cristo para atingir
a perfeição, por que tantos maus discípulos?”.*!
“Basta olhar um pouco a realidade que nos cerca: injustiças,
corrupção, violência, miséria, fome, doença, morte, para sentir logo
os desafios que a vida apresenta. E mesmo que nos joguemos com
toda generosidade no trabalho pastoral, constatamos que nossos
esforços tantas vezes trazem poucos frutos e muitas desilusões. E
acabamos perguntando: Por quê? Vale a pena? Por que Deus não
se manifesta de forma mais incisiva? Se a causa do Reino é justa €
válida, porque é tão difícil mudar as estruturas? Será que nossos
planos pastorais são estéreis, frutos de nossa ilusão? A Palavra de
Deus deste domingo poderá ajudar-nos a ver, julgar e agir melhor,
fortalecendo nossas opções em favor da liberdade e vida. O Espírito
vem socorrer nossa fraqueza, tornando-se a súplica de quantos lu-
tam por um mundo melhor”.*
Quando Jesus fala do joio semeado pelo inimigo no meio do tri-
gal, ele se refere às “pessoas e estruturas injustas que crescem junto
41 A. Beckhãuser. Viver em Cristo. Espiritualidade do ano litúrgico. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 180.
42 J. Bortolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 187.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino
desta Ceia do Senhor, somos fortalecidos pelo Pão da vida para vi-
vermos as lutas do dia a dia imbuídos da paciência de Deus!
Ao final, não resta mais senão ainda suplicar: “Ó Deus, perma-
necei junto ao povo que iniciastes nos sacramentos do vosso reino,
para que, despojando-nos do velho homem, passemos a uma vida
nova. Por Cristo, nosso Senhor”. E todos respondem: “Amém”,
Sim, que assim seja!
Tea
e
* Uma palavra para os(as) leitores(as) e salmistas: lembrem-se e to-
mem consciência do que vocês fazem e do que acontece quan-
do vocês sobem ao ambão para proclamar a Palavra do Senhor.
Diz o papa Bento XVI: “A proclamação da Palavra de Deus na
celebração comporta reconhecer que é o próprio Cristo que Se
faz presente e Se dirige a nós para ser acolhido”. Podemos en-
tão dizer, leitor(a), que, ao dirigir-se ao ambão, os seus passos,
embora seus, já não são mais só seus passos. São os passos do
próprio Mestre que, na pessoa de você, dirige-se ao ambão para
pôr em comum com a assembleia os segredos de seu coração.
Como consequência, seus passos devem assumir o ritmo calmo,
sereno e comedido do Espírito que permeia o seu corpo moven-
do-se para o ambão. Uma vez no ambão, seu corpo, seu rosto,
seus olhos, seu contato com o livro, embora sendo seus, não são
mais só seus: são o corpo, o rosto, os olhos, os gestos do próprio
Mestre que, em você, apresenta-se com carinho e compaixão
diante de uma assembleia toda ouvidos para ouvir, toda corpo
para acolher a Palavra. Ao proclamar a leitura, sua voz, embora
sendo sua voz, não é mais só sua voz: é a voz do próprio Mestre
que, suave e pausadamente, com firmeza, clareza e convicção,
comunica (põe em comum com a assembleia) sua presença de
salvação e consolo. Disso tudo você precisa estar consciente para
24 de julho de 2011
O MELHOR INVESTIMENTO
Situando-nos
Recordando a Palavra
Hoje Jesus compara o Reino dos Céus, isto é, tudo aquilo que
”
Atualizando a Palavra
“O Reino é o resultado de duas profundas aspirações: de Deus e das
pessoas. O desejo de Deus, tantas vezes expresso na Bíblia, é que
a humanidade viva em harmonia e paz. O desejo das pessoas é ter
vida em abundância, numa sociedade em que as relações humanas
tragam a marca da justiça, fraternidade e bem comum. O que Deus
quer é aquilo a que o ser humano aspira”.
Mas não é bem isso que muitas vezes vemos. “A história da hu-
manidade é frequentemente caótica porque não há discernimento e
opção pela vida que o Reino quer comunicar. Constatamos, então,
que o poder, a riqueza e os bens em geral servem para aumentar o
caos, a dor e a morte. Como encontrar, de novo o caminho da vida
à qual todos aspiram e pela qual Jesus veio ao mundo, morreu e res-
suscitou? Eis a proposta da Palavra de Deus para este dia”
A Palavra nos mostra qual é o valor supremo sobre o qual vale
a pena 'investir' tudo. Jesus nos ensina a escolher o que vale mais:
o Reino de Deus. “Para participar dele, vale colocar tudo em jogo,
como faz um negociante para comprar um campo que esconde um
tesouro, ou para adquirir uma pérola cujo valor resiste a qualquer
inflação...”
Para Deus, os pobres e desprotegidos são seu tesouro. Por este
tesouro ele “investiu” o melhor de si, isto é, seu próprio Filho que se
fez pobre com os pobres. Aí está o tesouro da sabedoria de Deus, o
segredo de seu Reino, infinitamente mais valioso do que todos os
poderes e riquezas deste mundo. Felizes os que se aventuram neste
“investimento, como Jesus mesmo o fez! Serão glorificados, como
Jesus foi glorificado.
Entrar nesta aventura (que vale a pena!) só é possível desfazen-
do-se de muita coisa, desprendendo-se de muitas joias falsas que
conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens
que passam, que possamos abraçar os que não passam”.
torna corpo de Cristo. A imposição das mãos que você faz sobre
os dons, o seu gesto de traçar sobre eles o sinal de cruz, seja tudo
solene, e volte o seu olhar contemplativo sobre o pão e o cálice.
Tudo deixe transparecer quais são os verdadeiros sujeitos da li-
turgia: o Pai, que manda o Espírito santificador, o Filho, que se
torna presente com seu corpo e sangue””
31 de julho 2011
VINDE E COMEI
Situando-nos
De novo é domingo, páscoa semanal dos cristãos. É do Senhor este
dia. Por isso, aqui estamos reunidos e, abençoados pela Palavra e
pela Eucaristia, iniciamos mais uma semana. Semana esta em que
celebramos a memória (festa) de três santos importantes na vida da
Igreja: do bispo e mestre Santo Afonso de Ligório, (amanhã, dia 1º
de agosto); do apóstolo da Eucaristia, São Pedro Julião Eymard (ter-
ça-feira, dia 2); do padre humilde e simples São João Maria Vianney
(quinta-feira, dia 4). Igualmente celebramos, no dia 5 (sexta-feira), o
dia mundial da saúde e, no dia 6 (sábado), a festa da Transfiguração
do Senhor.
Ao falar em saúde, lembramos que uma das doenças mais acen-
tuadas hoje em dia, nas sociedades ditas desenvolvidas, é a obesida-
de. Doença que também no Brasil está se acentuando, sobretudo
porque se come demais. Por outro lado, no entanto, há agrupamen-
tos humanos em que pessoas literalmente passam fome. Elas fica-
riam felizes se pudessem se saciar com as migalhas caídas debaixo
da mesa dos ricos. Entretanto, nem a isso os milhares de pobres têm
acesso. |
Neste contexto, podemos sentir o eco da Palavra que ouvimos
da boca do Senhor, descrevendo-nos os dons de Deus sob a metáfo-
ra da comida e da bebida. É o Senhor mesmo que nos fala quando
os leitores proclamam as leituras.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino
Recordando a Palavra
Jesus ficou sabendo da morte de João Batista. Pegou então um bar-
co e foi para um lugar deserto e afastado. O povo ficou sabendo e
foi até lá. Diz o evangelho que era muita gente: uma multidão! Je-
sus, ao ver toda aquela gente pobre, explorada, doente, estropiada,
faminta, “encheu-se de compaixão para com eles e curou os que
estavam doentes”.
Chegava a tarde. Os discípulos, preocupados, sugerem a Jesus
mandar todos embora para comprar comida nas vilas próximas.
Jesus, porém, não quer que o povo vá embora com fome. Manda
os discípulos mesmos alimentarem a multidão com uma reserva
disponível de apenas cindo pães e dois peixes. “Mas como?... Cinco
pães e dois peixes para tanta gente?!”, indagaram os discípulos com
ar de espanto.
Jesus mandou o povo sentar ali sobre a grama. Pegou aqueles
pãezinhos e peixes e, com os olhos voltados para o céu, pronunciou
uma bênção. Em seguida partiu os pães, passando-os aos discípulos
que os repassaram à multidão.
O milagre, cujo sentido é evidente, aconteceu: partindo e re-
partindo, partilhando o pouco que tinham, foi possível saciar cinco
mil homens, sem contar mulheres e crianças... A partilha faz mila-
gres! Eis mais um segredo de Deus que se revelava em Jesus para
um povo faminto!
Dá para lembrar o que Deus anunciou pelo profeta Isaías, lá
no Antigo Testamento, como vimos na primeira leitura. Ao povo
de Israel exilado na Babilônia, passando fome, lutando pela sobre-
vivência, sem condições de satisfazer as necessidades básicas, a este
povo Deus anunciou pelo profeta uma esperança futura: “Apressai-
vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro. Inclinai vosso ou-
vido e vinde a mim, ouvi e tereis vida”.
Deus tem um plano alternativo de vida para o povo faminto,
diferente dos planos ditos normais dos poderosos que se julgam os
donos deste mundo. Por isso, a Ele nos dirigimos hoje com o Salmo
144: “Vós abris a vossa mão e saciais os vossos filhos”.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
Atualizando a Palavra
“Deus destinou os bens da criação para todos. Mas uns poucos se
apoderaram deles, conservando os demais sob férrea dependência,
incapazes até de ter acesso aos bens básicos da vida. O banquete da
vida se tornou privilégio de poucos, que vivem às custas do sangue
dos pobres explorados. Deus subverte essa situação, convidando os
pobres explorados a sair da dependência e a saborear o banquete
da vida, na liberdade e fraternidade, onde o comércio é substituído
pela partilha dos bens da criação. Dessa forma inicia o novo êxodo
do povo de Deus em direção ao mundo novo. Jesus deu a esse mun-
do novo sua forma definitiva, convidando as pessoas a lutar para
que ele se concretize no meio de nós”.*
Para longe de todos os poderes de morte, dos Herodes que, com
seus banquetes de morte, buscam ter vida, matando a esperança
do povo, como fizeram com João Batista, Jesus vai para um lugar
deserto e afastado. É das cidades, isto é, do espaço onde impera o
domínio de Herodes e de seu sistema explorador, que o povo sai
(= êxodo!), indo ao encontro do Messias libertador, precisamente no
espaço da aliança, no deserto. E qual a reação de Jesus? “Encheu-se
de compaixão”, isto é, sofreu com aquela gente sofrida.
E neste lugar deserto e afastado, que se aprende, na prática, o
segredo do Reino de Deus em oposição ao reino de Herodes. Não é
indo comprar nas vilas, isto é, deixando-se explorar pelos que têm
para vender, que os pobres terão comida em abundância, mas par-
tilhando aquilo que possuem. Aí “se concentra uma das ideias revo-
lucionárias do ser cristão: encontrar formas alternativas capazes de
quebrar os mecanismos de dependência das estruturas iníquas que
mantém o povo submisso e algemado”.*
Note-se que Jesus mandou o povo sentar-se sobre o gramado.
Sentar para comer juntos tem tudo a ver com pessoas livres. O que
se vê ali, portanto, não é mais um povo dependente e submisso,
mas um povo livre, na experiência da partilha fraterna. O próprio
pão comido é sentido então como puro dom de Deus, “deixado de
ser objeto de lucro e exploração para se tornar gesto de partilha e
fraternidade, gesto gratuito”. Foi por isso que, antes de partir o
pão, Jesus fez uma oração de bênção.
Sobraram ainda doze cestos. O número doze representa as doze
tribos de Israel, isto é, o povo todo, como a dizer que o verdadeiro mi-
lagre aí acontecido é o da partilha capaz de saciar um povo inteiro.
Podemos, pois, dizer que “a solução para o problema da fome
não está em si num milagre (econômico ou religioso), pois Jesus mes-
mo rejeitou essa tentação (cf. Mt 4,4). O verdadeiro milagre é o da
distribuição e partilha dos bens da criação. Esse “milagre” não é difi-
cil nem impossível, pois os pobres e Jesus já o estão realizando!”.*!
6 Introdução geral ao Lecionário n. 37. Estão incluídos aqui os folhetos litúrgicos e as liturgias
Mw
diárias publicados pelas diversas editoras ou dioceses. Eles foram feitos não para serem usados
na liturgia, mas para prepará-la ou meditá-la em casa.
63 Cf. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Op. cit., p. 28-29.
19º DOMINGO DO TEMPO COMUM
07 de agosto 2011
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
Domingo passado estivemos com Jesus em um lugar deserto e afas-
tado, onde ele nos ensinou, na prática, um importante segredo do
Reino de Deus, a saber: partilhando o pouco que se tem, todos terão
até de sobra.
Depois da multiplicação e da partilha da pequena reserva de
pães e peixes, Jesus forçou os discípulos a irem à sua frente mar
adentro, dirigindo-se de barco, para o outro lado. Ele, porém, ficou
ainda por ali, se despedindo do povo. Depois que o povo foi embo-
ra, Jesus foi orar sozinho, lá no alto do morro. A noite chegou e ele
continuava lá, sozinho, a dialogar com o Pai.
Enquanto isso, a barca dos discípulos já se perdia de vista, lá
longe, mar adentro. Ondas muito fortes, ameaçadoras amedrontam
os discípulos. Pela madrugada, eles avistam o vulto de alguém an-
dando sobre o mar agitado. “Um fantasma”, cochicham entre si. O
pavor toma conta deles, a ponto de gritarem de medo.
O estranho personagem então lhes brada: “Coragem! Sou eu.
Não tenhais medo!”. Desconfiando que podia se tratar do próprio
Jesus, Pedro lhe pede uma prova: “Senhor, se és tu, deixa-me ir até
aí, ao teu encontro, caminhando também sobre a água”. “Podes
vir”, disse Jesus. Pedro vai, mas, por causa do vento forte e das on-
das, começa a ficar com medo e sente que vai afundar. Num grito,
pede socorro a Jesus que, imediatamente, o segura pela mão e o sal-
va. Jesus, afável e compreensivamente, questiona: “Homem fraco
na fé, porque duvidaste?”.
Há um detalhe importante no evangelho: “Assim que os dois
subiram ao barco, o vento se acalmou”. Então os discípulos caíram
de joelhos diante de Jesus, confessando: “Verdadeiramente, tu és o
Filho de Deus!”
Este acontecimento traz à lembrança a figura do profeta Elias
que, longe da fúria de Jezabel, no monte Horeb faz uma profunda
experiência da presença de Deus. Não a faz em meio à violência,
nem do vento, nem do terremoto, nem do fogo, mas no murmúrio
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
de uma brisa suave. Nesta experiência, ele sente que Deus vence
com as armas da paz.
Faz sentido, então, o que nós pedimos mediante o Salmo 84.
Do meio de violências estarrecedoras, imploramos: “Mostrai-nos, 6
Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!”
Quem dera que os violentos entendessem que a vida não se
consegue pela violência, mas pela paz de Deus revelada em Cristo
Jesus!
Atualizando a Palavra
“Deus vem ao encontro do homem especialmente nos momentos
de necessidade... O Deus dos profetas e de Jesus é aquele que toma a
defesa dos pobres e dos fracos. Ele não está nos fenômenos naturais
grandiosos e violentos, mas no sopro leve da brisa, como que sig-
nificando a espiritualidade e intimidade das manifestações de Deus
ao homem.
A comunidade cristã vive uma existência atormentada pela hos-
tilidade das forças adversas, que se manifestam nas perseguições e
dificuldades internas e externas. Unicamente com suas forças, ela
não chegaria ao fim do seu caminho. Mas Jesus ressuscitado está
presente no meio dos seus; embora invisível, ele os assiste”.“
Os discípulos fazem uma travessia. Eles a fazem de barco. É noi-
te. Ventos contrários. Mar agitado. Estamos diante de uma imensa
simbologia.
O mar era visto na época como o lugar onde habitavam mons-
tros terríveis e ameaçadores. Mar agitado e ventos contrários, à
noite, eram sentidos como sinais da fúria dos pavorosos monstros,
ávidos por engolir os navegantes.
O barco é simbolo da própria Igreja nascente, as comunidades
cristãs se expandindo em missão. Nesta travessia, para o outro lado,
isto é, nesta expansão rumo à pátria definitiva, as comunidades
68 Cf. Bento XVI. Instrução pós-sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 42;J. Fonseca (Org). Princípios
teológicos, litúrgicos, pastorais e estéticos. In: Revista de Liturgia, São Paulo, n. 194, p. 21-23.
69 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2008-2010), n. 76.
70 Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 53.
Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano À - Junho / Agosto 2011
71 Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 56; cf. Introdução geral ao Lecionário, n. 28.
20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
14 de agosto de 2011
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
Hoje acompanhamos Jesus que se retira para a região de Tiro e
Sidônia. Aí ele se encontra com uma mulher diferente, não judia,
cananeia, estrangeira, que vinha gritando: “Senhor, filho de Davi,
tem piedade de mim”. E ela explica o motivo do seu clamor: “minha
filha está cruelmente atormentada por um demônio!”. Talvez um
sério problema neurológico, ou psíquico, ou emocional.
FASE Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
Então vem a cena enternecedora. Jesus parece não lhe dar aten-
ção. Os discípulos sugerem mandá-la embora, pois “vem gritando
atrás de nós”. Jesus, no entanto, diz a ela que veio “somente às ove-
lhas perdidas da casa de Israel”. Mas a mulher insiste implorando
socorro. Jesus, para testá-la, serve-se de uma linguagem preconcei-
tuosa própria dos judeus. Diz a ela que não convém “tirar o pão dos
filhos para jogá-lo aos cachorrinhos”. E a mulher? Submetendo-se a
pecha de “cachorra” dada pelos judeus aos estrangeiros, argumenta:
“Sim, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas
que caem da mesa de seus donos!”. Por aí se vê o quanto ela ama-
va a filha e acreditava em Jesus! Então Jesus, cheio de admiração,
declara-lhe em solene e bom tom: “Mulher, grande é a tua fé! Seja
feito como tu queres!”. Na mesma hora a filha ficou curada.
O fato de incluir os estrangeiros no plano salvador de Deus já
fora proclamado no Antigo Testamento. Deus mesmo o prometeu
pelo profeta Isaías, após a experiência de exílio dos israelitas, como
vimos na primeira leitura: “Dia virá em que os estrangeiros, que
honram a Deus e praticam os seus mandamentos, serão acompa-
nhados até o templo do Senhor. Lá oferecerão os seus sacrifícios e
farão as suas orações. Na casa de Deus ninguém mais se sentirá estranho.
O templo será um lugar de oração para todos os povos (cf. Is 56,6-7)".”º
Portanto, a salvação de Deus não pode ser exclusiva de uma raça, no
caso, a judaica. Ela é universal.
Por isso, cantamos hoje com o Salmo 66: “Que as nações vos
glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem”,
Paulo, dedicando-se de corpo e alma aos estrangeiros, constata,
com satisfação, que a desobediência dos judeus produziu até um
efeito positivo: “permitiu a entrada dos pagãos na comunidade cris-
tã. De fato, se os judeus tivessem aderido a Cristo, o que teria acon-
tecido? Tendo uma mentalidade mesquinha e fechada, com os pre-
conceitos que ainda mantinham em relação aos estrangeiros, muito
dificilmente teriam permitido a estes serem admitidos na Igreja”.
72 F. Armelini. Celebrando a Palavra. Ano A — São Mateus, São Paulo: Ave-Maria, 1995, p. 302.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino E
Mas “a recusa de Cristo por parte do seu povo não durará sempre.
Dia virá em que também os israelitas reconhecerão em Jesus de
Nazaré o Messias anunciado pelos profetas. O que acontecerá então?
Paulo parece explodir de alegria: se a desobediência deles produziu
um resultado tão positivo, o que acontecerá quando eles também se
tornarem discípulos de Cristo? Será uma autêntica ressurreição dos
mortos (v. 15)" Foi o que vimos na segunda leitura de hoje.
Atualizando a Palavra
Jesus, normalmente, desenvolvia sua atividade missionária só no
território de Israel. Em algumas ocasiões, no entanto, foi também
para as fronteiras de países não judeus, pagãos. Hoje o acompanha-
mos em território fenício, no norte da Galileia, atual Líbano. Aí ele
beneficia uma mulher estrangeira, curando a filha dela e, além do
mais, louva-lhe sua imensa fé.
Jesus mostra, com isso, que a salvação não é privilégio exclusi-
vo de um povo, uma etnia, uma nação como usualmente pensavam
os judeus. Estes chegaram a se considerar como os puros, os possui-
dores exclusivos da bondade e da misericórdia de Deus. Os outros,
os que não eram judeus, chegaram a ser considerados como 'cães”.
Tal mentalidade exclusivista foi contestada por Deus através do
anúncio profético de Isaías, como vimos na primeira leitura, que
afirma taxativamente que também os estrangeiros podem entrar
no Templo e obter os favores de Deus. Com Jesus não foi diferente.
Ele mostrou que os pagãos estavam tendo mais fé no Messias do
que os israelitas... Os 'cães' estavam sendo melhores que os “donos.
Numa palavra, “a graça é de graça, ela não pode ser apropriada em
exclusividade. Ela pode ser dada a todos aqueles que a ela se abrem,
e essa abertura se chama fé”?
73 P. Armelini. Celebrando a Palavra, Ano A — São Mateus. São Paulo: Ave-Maria, 1995, p. 302.
74 J. Konings. Liturgia dominical. Op. cit., p. 177.
ER Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 201
21 de agosto de 2011
Situando-nos brevemente
Recordando a Palavra
O evangelho nos fala de Maria, grávida, fazendo uma visita a Isabel,
também grávida, daquele que será São João Batista. Bastou Isabel
ouvir a saudação de Maria e, dentro dela, a criança começou a dar
pulos de alegria. Respondendo à saudação, Isabel, aos gritos de júbi-
lo, prorrompeu em louvores a Maria por sua fé e em exaltação pelo
fruto salvador prometido que nela vinha se gestando: “Bendita és tu
entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!”.
Maria desdobra-se num emocionante hino de enaltecimento
pelas maravilhas que o Deus santo e todo-poderoso, cheio de mise-
ricórdia, estava operando nela, humilde “serva” do Altíssimo. Nela
e dentro dela, toda soberba começa a cair por terra. Nela e dentro
dela, todos os poderosos começam a perder seu trono. Nela e den-
tro dela, toda riqueza começa a ser partilhada com quem não tem
nada. Nela e dentro dela, o que Deus prometeu a Abraão começa a
ser realidade.
Ê a vitória do Ressuscitado que já se anuncia neste canto do
Magnificat. Bem mais tarde, a partir da experiência desta vitória,
a visão do Apocalipse proclama que o terrível dragão, isto é, todo
poder opressor e assassino, não atingiu seu objetivo de destruição.
Teve que se render diante do trono do Filho daquela “mulher vesti-
da de sol, tendo a lua debaixo dos pés, e sobre a cabeça uma coroa de
doze estrelas”, Então se ouviu uma voz forte no céu, proclamando:
“Agora se realizou a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o
poder do seu Cristo”. E quem é esta mulher? Maria, que “sintetiza
em si, por assim dizer, todas as qualidades do povo prenhe de Deus,
aguardando a revelação de sua glória”.º! Maria assunta ao Céu, sín-
tese da Igreja como no Céu será e como no Céu já é: vitoriosa pelo
sangue do Cordeiro!
Por isso, cantamos hoje a Deus com o Salmo 44: “À vossa direi-
ta se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir”.
Atualizando a Palavra
A partir da gloriosa vitória da Páscoa sobre o pecado e a morte, nós
hoje contemplamos Maria toda gloriosa no céu. O próprio evange-
lho coloca em sua boca palavras que proclamam a beleza de Deus
que, na vitória de Jesus, “realizou uma tríplice inversão das falsas
situações humanas, para restaurar a humanidade na salvação, obra
de Cristo.
No campo religioso, Deus derruba as autossuficiências humanas,
confunde os planos dos que nutrem pensamentos de soberba, er-
guem-se contra Deus e oprimem os seres humanos.
No campo político, Deus destrói os injustificáveis desníveis hu-
manos, abate os poderosos dos tronos e exalta os humildes; repele
aqueles que se apoderam indevidamente dos povos, e aprova os que
os servem para promover o bem das pessoas e da sociedade, sem
discriminações...
No campo social, Deus transforma a aristocracia estabelecida
sobre ouro e meios de poder, e cumula de bens os necessitados e
despede de mãos vazias os ricos, para instaurar uma verdadeira fra-
ternidade na sociedade e entre os povos”.
A festa de Nossa Senhora da Glória representa uma injeção de
ânimo para todos que, em meio a tantas dificuldades, peregrinamos
86 J. Fonseca. Cantando a missa e o ofício divino. São Paulo: Paulus, 2004, p. 19-20.
22º DOMINGO DO TEMPO COMUM
28 de agosto de 2011
Situando-nos
Recordando a Palavra
Fazia pouco tempo, Pedro havia proclamado Jesus como “o Mes-
sias, o Filho do Deus vivo” (cf. Mt 16,16). Parece, porém. que a cabe-
ça de Pedro ainda não tinha mudado. Como era comum na cultura
judaica, todos aguardavam um Messias de sucesso, poderoso e rico,
intocável. Pedro não pensava diferente: julgava que Jesus devia ser
bem assim... Mas hoje ele fica meio intrigado com Jesus; sente uma
espécie de decepção em relação ao mestre.
Ir até a sede do poder, Jerusalém, era o objetivo de Jesus. Sentia-
se na obrigação de ir. Pelo que ele já observara sobre a tirania do
poder central injusto (político, econômico, religioso), em Jerusalém,
Jesus não teve dúvidas: sua vida corria perigo; sentia-se marcado
para morrer. Fugir? Impossível! Tinha que enfrentar e assumir as
resistências que se lhe oporiam, inclusive com muito sofrimento e
até com a morte; mas para ressuscitar ao terceiro dia.
Sofrer? Morrer? O Messias, sofrer e morrer? Ah!, isso não, jamais!
“Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça 1
3
repreendeu Pedro. Jesus reagiu, sendo duro com Pedro: “Vai para
longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não
pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!”, “Satanás”
tem a ver com adversário, que busca forçar Jesusa assumir outro
rumo, o rumo de um messianismo de riqueza e poder temporal, em
total descompasso com a lógica de Deus... Pedro ainda não havia
entendido em que sentido Jesus era o Messias.
Jesus então explica qual é o rumo de seu messianismo. Pensa
no Servo Sofredor de Deus, que liberta o mundo por sua dedicação
até a morte... Mas ninguém é obrigado a segui-lo. “Se alguém qui-
ser me seguir”, diz Jesus. Portanto, trata-se de uma escolha pesso-
al. Optar por segui-lo significa assumir a mesma sorte e o mesmo
destino que ele: renunciar a si mesmo e tomar a cruz... O resultado
final de tal opção é: 'encontrar a vida”. Toda a riqueza, poder e suces-
so do mundo não são garantia de qualidade de vida plena, eterna, e
sim a justiça do Reino de Deus: quando o Filho do Homem vier na
OBM Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho/ Agosto 2011
Atualizando a Palavra
“Nós podemos desconfiar de uma Igreja que não conhece o mar-
tírio. Por quê? Porque o caminho dos cristãos não é diferente do
caminho de Jesus. É feito de incertezas, mas também de coragem e
esperanças; de lutas, mas também de vitórias; de cruz, mas também
de ressurreição e vida; de não-conformismo, mas também de com-
promisso com o projeto de Deus. Disso nos falam Jeremias, Jesus e
Paulo. Pedro, no evangelho de hoje, representa o medo que temos
das consequências do cristianismo que enfrenta as forças contrárias
à vida; Jeremias é a voz dos que sofrem fortemente os apelos da Pa-
lavra irresistível; Jesus nos mostra o caminho da vitória; Paulo nos
fala do verdadeiro culto agradável a Deus. A Palavra de hoje, em
síntese, nos encoraja no testemunho cristão, evitando que a medio-
cridade nos conduza a um beco sem saída”.**
Todos nós, “como Jeremias e como Pedro, passamos pela ten-
tação de querer apossar-nos apenas do aspecto glorioso do mistério
pascal, negando sua dimensão de renúncia à própria vida. A ten:
tação do ser humano moderno é a realização humana através das
próprias forças. Esquece-se de que a pessoa humana transcende-se a
si mesma a partir de Deus. É só perdendo-se a si mesmo pela doação
da própria vida ao próximo por causa de Cristo que ele se realiza de
verdade”,
O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser diferente
do destino do mestre. O evangelho de hoje é claro. “Para estar com
ele são exigidas duas condições: Renunciar a si mesmo é deixar de
lado toda ambição pessoal. Em outros termos, temos aqui a repe-
tição da primeira bem-aventurança: ser pobre (cf. Mt 5,3). Carregar
/
90 J. Botolini. Roteiros homiléticos. Op. cit., p. 215.
91 J. Konings. Liurgia dominical. Op. cit., p. 182.
Jesus: Presença reveladora da Justiça do Reino
92 Cf. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Op. cit., p. 106. Mais informações, p. 105-106.
93 Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 309.
ONA Roteiros Homiléticos para Domingos e outras Solenidades do Tempo Comum - Ano A - Junho / Agosto 2011
irradie a beleza de Cristo, 'o mais belo entre todos os homens” (Sl
45,3), e a beleza da sua esposa, a Igreja, que junto ao Espírito o
aguarda e invoca (cf. Ap 22,17). E que se preste atenção: a beleza
de uma celebração cristã não consiste principalmente no canto,
nos ornamentos, nas arquiteturas, mas na consciência da assem-
bleia e de quem celebra com simplicidade e singeleza de gestos,
com adequada alternância entre palavra e silêncio, embora seja
também verdade que luz, arquitetura e paramentos litúrgicos
concorrem para a beleza. Em todo caso, não a beleza do luxo,
dos acessórios, da sobrecarga, e sim a beleza da austeridade e da
intensidade”.