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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Ele está no meio de nós!

Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento,


Tempo do Natal e Tempo Comum
Ano B - São Marcos

Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental

Coições CNS?
C748r Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Ele está no meio de nós!:
Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento - Natal - Tempo Comum —- Ano B - São Marcos
Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012. Brasília, Edições CNBB. 2011.

104 p.:14x21 cm
ISBN: 978-85-7972-107-6
Advento — Palavra de Deus — Jesus Cristo — Natal - Maria Mãe de Jesus;
Preparação -— Liturgia — Sagrada Escritura — Jesus Cristo — Sagrada Família;
on

Natal — Festividades — Epifania do Senhor — Liturgia — Igreja Católica;


Festas — Sagrada Família — Solenidade Maria Mãe de Deus — Batismo de Jesus.

CDU: 264-041.1

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Mons. Jamil Alves de Souza
Revisão Doutrinal:
Pe. Hernaldo Pinto Farias, SSS
Revisão:
Lúcia Soldera

Projeto Gráfico, Capa e Diagramação:


Raul Benevides dos Santos Silva

1º Edição - 2011

Todos os direitos reservados

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecâni-
co, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor - CNBB.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO. .......... eee 7

1º DOMINGO DO ADVENTO
27 de novembro de 201 . . . . . . . . . . e ssceeseeereeseereereaeeerenanros 9

2º DOMINGO DO ADVENTO
4 de dezembro de 2011... iieeeerrrsanes emeeereeseeneereo 16

IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA


8 de dezembro de 2011... rrssrsssreserersseeessereesanerando 22

3º DOMINGO DO ADVENTO
11 de dezembro de 2011............... res reeeerereereresarereraaeão 27

4º DOMINGO DO ADVENTO
18 de dezembro de 201 . . . . . . . . . e ereeereseerererereresererreaanos 34

NATAL DO SENHOR
25 de dezembro de 2011... eeseerreeeseeeesseerssenrerando 40

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA


30 de dezembro de 201 . . . . . . . . . e eerreeeererreeeeresecerraanes 46

SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS


1º de janeiro de 2012.........................
rs rrreeeerarreererararaaranaa 51

EPIFANIA DO SENHOR
8 de janeiro de 2012........................
err rrereererererereereerecereraranas 57
BATISMO DO SENHOR
9 de janeiro de 2012... iereeerrerereeararareereneaceanada 63

2º DOMINGO DO TEMPO COMUM


15 de janeiro de 2012.........................
rr rrrrerrererarerareeerereeararanada 67

3º DOMINGO DO TEMPO COMUM


22 de janeiro de 2012... errerrerareeeererereenerarataaões 72

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM


29 de janeiro de 2012.....................
e rrrarereerererarerareererararaças 77

APRESENTAÇÃO DO SENHOR
2 de fevereiro de 2012..............iieseeereceserareererareesaernesserenceneesaesenesa 81

5º DOMINGO DO TEMPO COMUM


S de fevereiro de 2012................seresrrseeresreeererereesereeseceraneraneda 86

6º DOMINGO DO TEMPO COMUM


12 de fevereiro de 2012... rrrerererererererereeeereeaerereranos 92

7º DOMINGO DO TEMPO COMUM


19 de fevereiro de 2012. . . . . . . . . e rereerererereeeereeareererereanerranão 97
E - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

APRESENTAÇÃO
Ele está no meio de nós! Tomado da liturgia, esse é o tema escolhido
para os atuais Roteiros Hlomiléticos, que contemplam o mistério do
Ciclo do Natal e dos primeiros domingos do Tempo Comum.
À liturgia nos revela que “a Igreja nada considera mais venerável,
após a celebração anual do mistério da Páscoa, do que comemorar o
Natal do Senhor e suas primeiras manifestações, o que se realiza no
Tempo do Natal” (NALC, n. 32). Nesse período, as comunidades
valorizam o Iempo do Advento, especialmente os dias entre 17 e
24 de dezembro, quando a piedosa e alegre expectativa da vinda do
Senhor vai chegando ao seu ponto alto: o Natal. São dias particular-
mente importantes para a leitura da Bíblia e, juntamente com Maria,
Mãe de Deus e nossa, entoar as Antífonas do “Ó”, dentro da Novena
do Natal.
O Concílio Vaticano II afirma na sua Constituição sobre a
Liturgia, Sacrosanctum Concilium, n. 7, que Cristo, para conti-
nuar na história sua obra de salvação, está no meio de nós! Ele
“está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações li-
túrgicas”. Além de sua presença eucarística, muito arraigada em
nossas comunidades, Cristo “está presente na sua Palavra, pois
é ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura”. E está
presente também na comunidade reunida em seu nome, confor-
me sua promessa de estar no meio dos que se reunissem em seu
nome (cf. Mt 18,20).
Ele está no meio de nós! 8]

As atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no


Brasil transformam essa consciência da fé eclesial em um apelo exis-
tencial: encontro — encontrar o Senhor! É um encontro “mediado pela
ação da Igreja” (37) e se realiza por meio de um “mergulho gradati-
vo no mistério do Redentor. Daí a importância da iniciação à vida
cristã, a qual não acontece plenamente se não se tem contato com a
Escritura” (29). Transformados por esse encontro, os discípulos for-
mam comunidades “em estado permanente de missão” e “a serviço
da vida plena para todos”, especialmente dos que são “abandonados,
excluídos e ignorados em sua miséria” (66), que são também presen-
ças do Senhor (cf. Mt 25,31-46). Esse compromisso com os pobres
encontra uma dimensão profundamente eclesial na coleta nacional
da Campanha para a Evangelização, sempre no 3º Domingo do
Advento. Este ano, dias 10 e 11 de dezembro.
Agradecemos fraternalmente a contribuição valiosa e generosa
dos padres Danilo César Lima e Márcio Pimentel, que muito se de-
dicaram na elaboração do conteúdo deste subsídio.
É nosso desejo que estes Roteiros Homiléticos sejam um auxílio
eficaz para que você, discípulo(a) missionário(a), possa “redescobrir
o contato pessoal e comunitário com a Palavra de Deus como lugar
privilegiado do encontro com Jesus Cristo” (Diretrizes, n. 45), e nos-
sas homilias alcancem uma qualidade sempre maior.

+ Edmar Peron
Membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
1º DOMINGO DO ADVENTO
27 de novembro de 2011

O QUE VOS DIGO, DIGO À TODOS: VIGIA"

Leituras: Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7 / SI 78(80),2ac.3b.15-16.18-19 (R/. 4)


| Cor 1,3-9 / Mc 13,33-37

Situando-nos brevemente
O início do ano litúrgico nos convoca a exercitar uma das grandes
virtudes cristãs: a esperança. Mas embora estejamos no seu começo,
a liturgia, qual uma bússola, nos faz olhar para as realidades do fim,
coma que nos ensinando a direção, apontando a meta e orientando a
nossa existência para Deus. Os cristãos são o povo da esperança, pois
a espera, a confiança e o otimismo em relação ao reinado de Deus e
sua definitiva instauração com a segunda vinda de Jesus tem, para
nós, sabor de realização, plenitude e salvação. Jesus, convocando à
vigilância, nos alerta para que, por desatenção, não sejamos surpre-
endidos enquanto dormimos. O sono, imagem da morte e da noite
do pecado, conota falta de comunhão com o Senhor, o Vigilante por
excelência, que não foi tragado pelo sono da morte.
Mas como fazemos o exercício da espera? Como a esperança
acontece em nós e por quê? À quem aguardamos? Todas essas ques-
tões nos ajudam a compreender a comunidade e a nossa própria vida,
como existência pautada pela expectativa. A vigilância é a couraça
da esperança. Vigia quem espera confiante e alegre, pela vinda do
Senhor, quem trabalha pela construção de um mundo melhor, quem
exercita o amor pelo próximo, sobretudo o mais desvalido, quem
“sintoniza” sua vida na frequência do Evangelho e do Espírito de
Deus, quem promove a paz e a justiça e quem não descura da vida de
Ele está no meio de nós! ENS)

oração e de busca pelo Senhor. Desde a sua origem a Igreja repete a


súplica pela vinda dele — Maranatha! — e pelo Reino, na oração do Pai
nosso. À Igreja nasceu suplicando e desejando o Reino porque expe-
rimentou e vive da Páscoa de Jesus, penhor das realidades definitivas.

Recordando a Palavra
O trecho do evangelho, marcado por insistentes alertas, focado,
sobretudo no imperativo “vigiai”, é a parte final do capítulo 13 de
Marcos, que antecede a narração da páscoa de Jesus. Neste mesmo
capítulo, Jesus fala da destruição do Templo, dos falsos profetas e
tribulações, das perseguições e até dos sinais da natureza (figuei-
ra, sinais cósmicos). Esses outros trechos, que incluem muitos fatos
“pós-pascais”, bem como o trecho deste domingo, estão em relação
com os acontecimentos sucessivos narrados a partir do capítulo 14:
perseguição, morte e ressurreição de Jesus. Por isso, podemos dizer
que, com a glorificação de Jesus, o final dos tempos já fora inaugura-
do e a comunidade estava sendo convidada a se manter alerta para a
hora da “crise messiânica” de Jesus. Os tempos finais se delinearam
como tempos difíceis, exigindo uma atenção permanente por parte
dos discípulos. Neste contexto o verbo vigiar recebe sentido muito
vinculado à oração e à prática das boas obras. Diante da instabilidade
da situação, o que fazer? Continuar a missão de Jesus: como empre-
gados a quem ele confiou os cuidados da casa, exercendo cada um sua
tarefa. Destaque se dê ao porteiro, imagem da comunidade que está
de prontidão para o retorno do Mestre.
À oração e a missão também comparecem nos demais textos
como desdobramentos da atitude de vigilância. Na primeira leitura,
no salmo, na aclamação ao evangelho e na antífona de entrada, so-
bressai o tom de súplica, muitas vezes marcado pelo arrependimento
e reconhecimento das fragilidades, da necessidade de Deus e da con-
fiança. Também se verifica uma insistência nos temas da prática alegre
da justiça, da fidelidade ao caminho de Deus (12 Leitura) e da graça
EEE PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

que Deus concede para que a comunidade persevere testemunhando


até o fim (2º leitura). Em outras palavras, vigiar é estar em comunhão
com Jesus, por meio da oração e da missão, no mesmo pensar, sentir
e agir. Esse dom concedido à comunidade que, entre as contradições
da vida, os desafios da história e as turbulências do percurso, foi cha-
mada a viver orientada para as coisas que não passam (oração depois
da comunhão). Quando vive assim, ela acorre ao encontro do Cristo
que vem, confiante de ser contada entre os que serão reunidos à di-
reita de Deus (oração do dia) e de contar com as suas bênçãos neste
mundo.

Atualizando a Palavra
Mas realizar coisas, boas ações ou orações, não diz tudo a respeito da
vida cristã. Existem tantas pessoas que oram e realizam boas coisas
e talvez sejam até melhores do que nós naquilo que fazem... Nossa
experiência de fé é pautada na vida em Jesus Cristo. Mais do que
esperar Jesus, nós esperamos nele (antífona de entrada e 12 leitura)!
As boas ações e a oração que fazemos são frutos de uma comunhão
com ele, índice de nosso vínculo batismal com o Senhor, antecipa-
ção da vida futura que ele nos garante e nos reserva. É por isso que
somos povo da esperança, pois o fato de estarmos tão intimamente
ligados a ele, não só prolonga a sua ação salvadora no mundo, mas
antecipa aquilo que para nós está reservado na vinda do Filho de
Deus. Na aurora de um novo dia, como porteiros, nos postamos no
limiar desse novo tempo que Jesus inaugurou. Vigiar é esperar com
alegria e confiança as realidades futuras que já vivemos, permitindo
que chegue ao mundo pela porta do nosso agir e da nossa oração o
Desejado das nações.
Embora os tempos continuem difíceis e desafiadores, quiçá mais
complexos, não está nos faltando a atenção aos crucificados de hoje,
às perseguições e injustiças, mas também à vida que insiste e resiste,
bem como aos sinais que nos anunciam a chegada do Filho de Deus?
Ele está no meio de nós! 4

O mandato do Senhor continua válido: “o que vos digo, digo a todos:


Vigiai!”. Entendemos isso a partir da nossa comunhão com ele, sem-
pre perseverantes na oração e no bem que devemos fazer por causa
dessa comunhão, sem perder a alegria e a confiança que marcam nos-
sas vidas e a nossa missão.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À Igreja guarda em seu tesouro litúrgico e espiritual um rito mui-
to eloquente: o lucernário. Neste rito se celebra a oferenda da luz
de Deus, Jesus Cristo, à humanidade. O rito, celebrado ao entar-
decer, consiste em bendizer a Deus depois de acender a vela, pela
luz que ele fez brilhar para nós. Saúda-se também a luz da chama
como sinal que nos recorda aquela luz maior, o Cristo, que brilhou
na escura noite da morte e do pecado. Este rito, ainda resiste nas
celebrações da Vigília Pascal e retorna, cada vez mais frequente no
tempo do Advento, quando acendemos as velas da coroa. À chama
nos recorda nossa vocação vigilante: como participantes da vitória de
Cristo sobre a morte, simbolizada pela escuridão da noite, vigiamos
com ele na escuridão do mundo e da história. Esperando por novos
tempos e proclamando o reinado de Deus, iluminamos com nossas
obras, quais pequenas chamas a clarear o caminho ao encontro do
Noivo que virá.

Sugestões para a celebração


1. Neste primeiro domingo é importante que a comunidade faça a
experiência da reserva simbólica recomendada pelas normas da Igreja. Os
elementos festivos como as flores e o canto do hino de louvor, bem como
a moderação no uso dos instrumentos são fatores pedagógicos decisivos
para nos preparar para a festa do Natal, que o Advento espera e prepara.
2. E muito importante que a comunidade se aplique na exe-
cução dos cantos do Hinário Litúrgico da CNBB. Boa parte desse
LEA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

repertório já se encontra gravada nos CD's da coleção “Liturgia”,


disponíveis nas editoras católicas.
3. Quem preside pode saudar a comunidade, após o sinal da
cruz, com a fórmula “d” do missal (Rm 15,13). Esta saudação ajudará
a evidenciar o sentido litúrgico do advento.
4. Após a saudação e a motivação para a celebração, alguém se
dirige à coroa do Advento para acender a primeira vela pronunciando,
em seguida, a bendição:
“Senhor Deus, realizador das promessas, em Jesus toda a humanidade
exulta pela salvação realizada. Acendei a luz do nosso coração, para que
caminhemos ao seu encontro em meio à noite, sempre seguros e confiantes
da vossa companhia. Bendito sejais, Senhor”.
5. Advento é tempo de sermos fecundados pela Palavra de
Deus. O empenho dos leitores e salmistas será uma colaboração im-
portante para que as leituras comuniquem o Verbo da Vida, Jesus, a
quem esperamos. O canto do salmo conduza a comunidade a uma
resposta orante e envolvente.
6. Nos quatro domingos do Advento, as preces podem ser can-
tadas na forma da Ladainha do Advento, do CD “Luz do Universo”
- Mosteiro da Anunciação do Senhor, cidade de Goiás:

Ó Senhor... Aleluia!
Vem Messias... Maranatha!
Ó Justiça... Aleluia!
Mora entre nós... Maranatha!
Misericórdia... Aleluia!
Vive entre nós... Maranatha!
Nossa Força... Aleluia!
Dentro de nós... Maranatha!
Liberdade... Aleluia!
Salva teu povo... Maranatha!
Nossa cura... Aleluia!
Tira a dor... Maranatha!
Ó conforto... Aleluia!
Ele está no meio de nós! EI

Dá esperança... Maranatha!
Nossa alegria... Aleluia!
Nos preenche... Maranatha!
Sabedoria... Aleluia!
Vem, nos renova... Maranatha!
Nosso desejo... Aleluia!
Nosso anseio... Maranatha!
Ó prometido... Aleluia!
Nosso messias... Maranatha!
Voz dos profetas... Aleluia!
Ó Esperado... Maranatha!
Luz das nações... Aleluia!
Luz nas trevas... Maranatha!
Ressuscitado... Aleluia!
Senhor da Glória... Maranatha!
Ó Desejado... Aleluia!
Ó Amado... Maranatha!
Entre nós... Aleluia!
Dentro de nós... Maranatha!”

(Para conseguir a melodia gravada, mp3: contato Pcalbh.com.br)

7. Neste primeiro domingo do Advento a CNBB nos convida à ora-


ção pela evangelização, culminando na Campanha para a Evangelização,
a realizar-se no terceiro domingo do Advento. Para a sensibilização de
todos, ao final da Ladainha do Advento, seja feita a seguinte oração:
Ó Cristo, revestido da fragilidade humana,
vtestes ao mundo em nosso auxílio.

Apressai-vos em curar nossos males


e tornar nossa comunidade ardorosa na evangelização,
enquanto, vigilantes, aguardamos o Reino definitivo.
8. À Eucaristia como sacramento dos que rumam para o Reino
tenha este aspecto ressaltado por uma oração eucarística executada
de forma piedosa, pausada e participada pelo canto das intervenções,
sobretudo da aclamação memorial.
ER] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

9. “Texto para ser publicado no I domingo do Advento, para a


Campanha para a Evangelização:

O que quer dizer solidariedade na Evangelização?


É preciso dispor-se a ser evangelizado. Quem está em processo de
Evangelização se torna evangelizador. O encontro com o Verbo en-
carnado impulsiona a anunciar a outros a feliz experiência.
À corresponsabilidade na obra evangelizadora deve suscitar nos
batizados a percepção das necessidades na sustentação dessas ativi-
dades, levando-os à solidariedade através da contribuição para que
a Igreja tenha recursos para evangelizar e manter seus organismos e
pastorais nos níveis: paroquial, diocesano e nacional (CNBB e suas
subsedes Regionais - 17). À solidariedade de todos contribuirá para
que a evangelização possa atingir as regiões mais desprovidas de re-
cursos financeiros, como a Amazônia ou as periferias das grandes
cidades.
Seja você também corresponsável na evangelização.
2º DOMINGO DO ADVENTO
4 de dezembro de 2011

“EIS QUE EU ENVIO MEU MENSAGEIROÀ TUA FRENTE, PARA PREPARAR O TEU CAMINHO”

Leituras: Is 40,1-5.9-11 / SI 84(85),9ab-10.11-12.13-14 (R/.8)


2Pd 3,8-14 / Mc 1,1-8 |

Situando-nos brevemente
Um conhecido canto das comunidades por ocasião do Advento diz:
“Uma voz clama no deserto com vigor, preparai hoje os caminhos do Se-
nhor. Tirai do mundo a violência e a ambição, que não nos deixam ver no
outro o nosso irmão”. O tema da Palavra de Deus que irrompe na his-
tória humana pela boca de homens e mulheres em todos os tempos
é central no cristianismo. Diz respeito ao coração da nossa profissão
de fé.
À teologia conhece uma expressão muito feliz recuperada pelo
Papa Bento XVI em sua última Encíclica, Verbum Domini: a Vox Verbi,
a voz do Verbo. Muitas são as vozes da Palavra de Deus, é uma verda-
deira sinfonia (cf. VD, n. 7). Participam, então, da mesma Palavra de
Deus toda uma variedade de vozes. São como “harmônicos” do mes-
mo som que sai da boca do próprio Deus. Vibrações várias da única
Palavra que os cristãos reconhecem encarnada em Jesus de Nazaré,
confessado como Senhor e Messias.
No tempo de João Batista, precursor do Messias, as pessoas sou-
beram reconhecê-lo em sua relação com a Palavra de Deus, a ponto
de o identificarem com ela. Na verdade, João Batista é uma das “vo-
zes” do Verbo de Deus. Quando o povo de Deus celebra reunido em
assembleia, é educado na percepção destas “variantes” da voz divina,
enraizadas, porém, na única Palavra de Salvação. Em tudo e todos
EKA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

se escuta a voz de Cristo. Tudo quanto colabora para preparar um


ambiente propício à sua manifestação é bem vindo e bem quisto. Seja
de dentro da Igreja ou de fora dela. Não importa, pois o mais impor-
tante é “o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar” (51 84) .

Recordando a Palavra
O trecho evangélico da liturgia deste domingo na Bíblia é o prólogo
do evangelho de Marcos. Nele encontramos as informações funda-
mentais para compreender com maior profundidade o anúncio da
boa nova do Reinado de Deus (= evangelho, em grego) que se desen-
volverá ao longo da narrativa de Marcos. Segundo esta ótica, Jesus
deverá ser visto como “Kyrios”, aquele que traz consigo o Governo de
Deus. Mas, o enquadramento que a Lecionário traz com as leituras
de Isaías 40, do Salmo 84, da segunda carta de Pedro e o contexto
litúrgico orientam nossos ouvidos para escutar a Palavra de Deus que
aponta também noutras direções.
Na primeira leitura, temos a citação do Profeta recolhida no
Evangelho de Marcos e assumida na aclamação do Evangelho: “Pre-
parai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada do
nosso Deus (...) endireitai o que é torto.” (Is 40,3-4). Este mesmo ver-
sículo é aproveitado na Aclamação ao Evangelho, mas com a versão
de Lucas: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Toda
carne há de ver a salvação de nosso Deus” (Lc 3,4.6). Este se converte
em chave de leitura do Evangelho deste domingo. Não se trata ape-
nas da iminência do Reinado de Deus na pessoa de seu Cristo num
momento histórico preciso, mas na percepção de sua chegada por
parte dos que o aguardam e estão atentos à sua palavra permanente-
mente. Sintoniza-se, assim, com a espiritualidade típica do Adven-
to, consignada na vigilância conforme a liturgia do 1º Domingo do
Advento. Isso é confirmado pelo Salmo Responsorial que nos traz
como refrão: “Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação
nos concedei”, coincidindo com o teor do versículo aleluiático.
Ele está no meio de nós! RES

Aos que esperam com anseio a vinda do Dia de Deus (cf. 2Pd 3,12)
cabe uma vida reta e não tortuosa. O caminho aplainado anunciado
pelo profeta é a própria existência no mundo. À medida que Deus vem
no seu Cristo, a vigilância nos insere numa maneira diferente de se
portar diante da vida. Ouvidos e olhos — os sentidos de recepção e aco-
lhida — tornam-se mais atentos para captar os rumos pelos quais Deus
quer orientar-nos, de modo que façamos a experiência do cumprimento
de suas promessas e sejam inaugurados “novos céus e uma nova terra”
QPd 3,13). João Batista é ícone desta personalidade vigilante que exige
a conversão perante o Dia de Deus. Evidentemente, o cumprir-se das
promessas de Deus não está limitada a uma ordem social e política
que se possa conceber numa ou noutra época e neste ou naquele espa-
ço geográfico. Tem muito mais a ver com a nova condição existencial
dos que são vigilantes quanto à visita de Deus em qualquer tempo
e lugar. Assim, a conclusão do trecho do Evangelho deste domingo
alude o mergulho no Espírito de Cristo — o batismo (cf. Mc 1,8).

Atualizando a Palavra
Os batizados em Cristo são novíssimas criaturas. Irazem consigo o
seu Espírito, o que significa compartilhar de seu modo de vida, de
sua palavra, de seus sentimentos e ações. Como discípulos e discípu-
las que são, têm os ouvidos abertos e os olhos atentos. Captam toda
palavra de paz dita por Deus fazendo-a reverberar nos confins da
terra de modo que ela produza frutos que possam ser colhidos e de-
gustados (cf. Salmo). São também filhos e filhas da glória de Deus,
visibilidade de seu esplendor. Sentem-se manifestação do Cristo na
fidelidade a seu Evangelho.
O Tempo do Advento, da expectativa pelo Dia de Deus, nos faz
assumir um itinerário de conversão, de modo que “nenhuma ati-
vidade terrena nos impeça de correr ao encontro” do seu Filho
(cf. Oração do Dia). No mundo em que vivemos, o trabalho dos
cristãos se insere no contexto de consolidação de ambientes capazes
14 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

de acolher e manifestar a presença do Senhor. Toda obra que coopera


para a paz e para a justiça, portanto, se enquadra como manifestação
da bondade de Deus aos olhos fiéis ao Evangelho (cf. Salmo Responsorial).
São ecos da Palavra do Senhor, vozes que se encontram em sinfonia no
cumprimento das promessas messiânicas de “novos céus e nova terra”
(cf. 2Pd 3,8-14).

Ligando a Palavra com a Eucaristia


Para os Santos Padres, a união das vozes evoca o mistério da co-
munhão com a única Palavra de Deus. São João Crisóstomo assim
se expressava: “Desde que o salmo cai no meio de nós, ele retne as vozes
diversas e forma de todas elas um cântico harmonioso (...) fomos arrastados
em uma só melodia”. Qual seria esta melodia, senão o próprio Verbo
de Deus, do qual somos expressão encarnada? Os cristãos e cristãs,
as várias vozes do Verbo da Vida, quando se reúnem para celebrar,
experimentam aquela unidade e comunhão próprias de ser ecos da
única Palavra de Deus. São no mundo vozes precursoras, conforme a
imagem do Batista e, na celebração, transformam-se em sacramento
da própria Palavra que é Jesus, pois na voz da Igreja habita o Cristo.
Assim, quando a assembleia se põe a caminho do altar para
participar do único pão e cálice se estabelece aquela consonância
entre a voz da Igreja e a Palavra encarnada que se dá em alimento
espiritual e transforma a vida, convertendo-a em ocasião e ambiente
propício para a manifestação do Dia de Deus (cf. Oração depois da
comunhão).
Depois de harmonizar sua voz com a Palavra de Deus, a Igreja é
despedida para que volte à vida cotidiana impregnada pela presença
de Deus. À glorificação de Deus que ora foi vivida na forma cultual
será disseminada por meio da atuação dos cristãos e cristãs no lugar
onde residem, trabalham, convivem: “Glorificai a Deus com a vossa
vida” é a palavra do ministro quando do envio da assembleia. Somos
reenviados ao mundo para continuar o trabalho de Jesus, dando-lhe
Ele está no meio de nós! Eau

voz e vez onde estivermos, para que se cumpra a promessa do Salmista:


4 verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra
brotará a fidelidade e a justiça olhará dos altos céus”.

Sugestões para a celebração


1. A antífona de entrada deve ser bem aproveitada na cele-
bração deste 2º Domingo do Advento. Extraída do capítulo 30 do
profeta Isaías faz menção à majestosa voz de Deus que ressoa no
coração da Igreja. À versão do Hinário Litúrgico da CNBB é a se-
guinte: “Eis que de longe vem o Senhor, para as nações do mundo julgar.
E os corações alegres starão, como numa noite em festa a cantar, e vem
acompanhada do Salmo 80 para as estrofes. Pode-se, também uti-
lizar o texto do missal metrificado com a melodia do Pe. Gelineau
“Alegrai-vos”: “Ó Sião, o Senhor já vem! Sim, já ressoa majestosa voz”.
2. O Evangeliário tem sido redescoberto e sumamente valo-
rizado no Brasil. Trazê-lo em procissão de entrada depositando-o
sobre o Altar até a proclamação do Evangelho é um rito que deve ser
cada vez mais comum aos domingos. Após a conclusão do Evange-
lho (Palavra da Salvação), a equipe de música pode retomar o Ale-
luia, enquanto o ministro toma o Evangeliário nas mãos e traça o
sinal da cruz diante da assembleia.

3. Na antiguidade, era comum concluir a homilia com uma


breve oração. O silêncio previsto pela IGMR e pelo ELM depois
dela visa à meditação da Palavra de Deus proclamada, a fim de que
“seja acolhida interiormente e se prepare uma resposta por meio da oração”
(ELM, n. 28). Neste sentido, um breve momento de silêncio, se-
guido de um responso pode ajudar a assembleia a sintonizar sua voz
com a Palavra de Deus, de modo que favoreça sua resposta orante
mediante a profissão de fé e a oração dos fiéis. Uma boa opção, em
sintonia com o mistério celebrado neste domingo é “A Palavra de
Deus se espalha”. A partitura encontra-se disponível no Caderno de
Partituras do Ofício Divino das Comunidades (Paulus).
EE PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

4. O prefácio do Advento IA é preferível por nomear a


expectativa pelo novo céu e nova terra, em consonância com a
II leitura. Os anjos, também nomeados explicitamente como
“mensageiros” nos fazem pensar na voz de Deus que chega até
nós (cf. conclusão do Prefácio do Advento IA).
5. No Tempo do Advento é sempre benvinda a saudação à Vir-
gem Maria, como forma de orientar a devoção popular para os con-
teúdos mais genuínos da fé da Igreja. Por isso, antes da bênção final,
todos podem se voltar para a imagem de Nossa Senhora e entoar um
canto mariano em consonância com o tempo litúrgico. Por exemplo:
Salve Maria, mãe de Deus na versão opcional do Ofício Divino das
Comunidades.

Texto para ser publicado no II domingo do Advento, para a Campa-


nha para a Evangelização:

A coleta

As ofertas são contribuições espontâneas e devem ser realizadas


como gratidão a Deus, à exemplo da entrega do dízimo. Elas têm
uma finalidade específica e data determinada: para a manutenção das
ações de evangelização da Igreja no Brasil, a ser realizada no terceiro
domingo do Advento, próxima semana.
Jesus revela nos Evangelhos que os bens materiais devem ser
meios para a construção do Reino de Deus (cf. Lc 8,3). Este ensina-
mento foi assimilado na prática pelos Apóstolos. São Paulo organi-
zou uma grande campanha de doações nas comunidades fundadas
por ele em prol da comunidade de Jerusalém (cf. Rm 15,26). E, reco-
mendava generosidade nas doações, pois Deus ama quem oferta com
alegria (cf. 2Cor 9,7).
Seja fraterno e participe da coleta para a evangelização no
próximo domingo!
IMACULADA CONCEIÇÃO
DE NOSSA SENHORA
8 de dezembro de 2011

"NÃO TENHAS MEDO, MARIA, PORQUE ENCONTRASTE GRAÇA DIANTE DE DEUS”

Leituras: Gn 3,9-15.20/ Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4 (R/. la)


Ef 1,3-6.11-12 / Lc 1,26-38

Situando-nos brevemente
Como compreender a festa que celebramos? Seria Maria uma pessoa
privilegiada dentre todos os seres humanos e criaturas de Deus? Tal
“posição” poderia encontrar respaldo na saudação do Anjo a Maria,
onde ela é chamada de “cheia de graça”. “kecharitoméne”, palavra grega
que a Vulgata traduziu por “gratia plena”, poderia ser livremente tradu-
zida por “Favorecida, agraciada”. Este termo deriva de “charis”, de onde
vem a palavra “eucaristia”, Seu sentido mais preciso tem a ver com aber-
tura a Deus e se articula com outros conceitos como eleição e aliança.
Estar cheia de graça é condição para responder aos apelos de Deus,
que deseja desposar a humanidade, o que realiza no Filho Jesus. Por
estar “cheia de graça”, Maria acolhe o convite divino e se torna Mãe do
Senhor; simultaneamente, como “Nova Eva”, se faz “esposa” de Deus:
“Es mãe, esposa e filha do Deus que é uno e trino";' consequentemente, faz-
-se também sinal daquilo que a humanidade inteira é chamada a ser, o
que se exprime na prece vespertina: “Deus, autor de tantas maravilhas,
que fizestes a imaculada Virgem Maria participar de corpo e alma da glória
celeste, conduzi para a mesma glória o coração dos vossos filhos”?

1 Hino das 1 Vésperas na Solenidade da Imaculada Conceição.


2 Preces das I Vésperas na Solenidade da Imaculada Conceição.
PR] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Recordando a Palavra
O Lecionário precede cada leitura da Liturgia da Palavra com um
breve versículo retirado do próprio texto bíblio-litúrgico, no intuito
de apontar por onde deve se orientar a interpretação do mesmo. É
uma maneira de assegurar a perspectiva hermenêutica da Liturgia,
que tem seu polo de atração no Evangelho. No caso da I leitura desta
solenidade, extraída do livro do Gênesis, temos o caso da inimizade
entre a serpente e a mulher. À tradição de Israel, ao comentar este
episódio, explica o castigo da serpente pelo seguinte motivo: “Por-
que você pretendia matar Adam (Adão) e tomar Chava (Eva) por espo-
sa, Eu a castigarei estabelecendo ódio entre você e ela”? Evidentemente,
este dado não está presente no texto das Escrituras, mas pertence à
Tradição oral de Israel, que como as Igrejas cristãs, reconhece seu
valor como proveniente da mesma fonte que é a Revelação. Conta
a Hagadá, que a serpente instrui Eva porque quer usurpar o lugar
de Adão, no desejo de ocupar seu posto junto a Eva, elevando por si
mesma sua dignidade em relação a todas as outras criaturas. Ela age
diabolicamente — isto é, separando Adão e Eva e ambos de Deus —
cobiçando sua união com Eva, a despeito dos planos de seu criador
e da sua própria natureza. Não será a serpente a desposar com Eva,
isto é com a humanidade, mas o próprio Deus.
Eis a razão da inimizade entre Eva e a serpente, que no rela-
to se torna figura da perversidade e da inclinação para o mal/pe-
cado. Esta “inimizade” se articula com a proclamação de Maria
como “cheia de graça” no relato evangélico. É uma descendente
de Eva que traz consigo a plenitude da graça — como dom de
Deus — e aí reconhecemos que a sua promessa nela se cumpre.
Ser preservada do pecado das origens — pois é isso que signifi-
ca o título “Imaculada Conceição” — não é apenas “exceção” a
uma regra divina, mas configura-se o anúncio da fidelidade do

3 O CASTIGO DA SERPENTE. In KLAPHOLTZ, Rabbi. Tesouro de Agadot da Torá.


São Paulo: Colel, 1997, p. 67.
Ele está no meio de nós! ES

Senhor que em Maria, “recordou seu amor sempre fiel pela casa
de Israel”.

Atualizando a Palavra
É em vista da Páscoa de Jesus e seus frutos que a Virgem de Nazaré
foi reservada” do pecado, pois conforme dirá Paulo na segunda leitura:
“Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos
santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. (...) Nele nós recebemos a
nossa parte”? O amor de Deus por nós é a razão última da inimizade
entre a “serpente” e “Eva”, entre o “pecado” e a “Nova Eva” pois seus
pés esmagam “a vil serpente, repele o tentador”.
Segundo a Antífona de Entrada, Maria foi revestida de jus-
tiça e salvação” e é neste fato que radica sua alegria. Júbilo que é
também nosso, pois a mesma graça que a reveste nos alcança pela
encarnação* e a tornamos manifesta por nosso louvor e ação de gra-
ças. À oração depois da comunhão que recolhe os frutos da celebra-
ção eucarística dispondo-os diante dos fiéis, para que o assumam
na vida, suplica para que as “feridas do pecado original, do qual
Maria foi preservada de modo admirável”? sejam curadas. Ão ce-
lebrar o Mistério Pascal de Cristo, por ocasião da comemoração
da Imaculada conceição de Maria, admiramo-nos ao contemplar
o cuidado extremo com que Deus estende “sua mão e o seu braço
forte e santo”? e buscamos reconhecer em nós os traços do Filho
Bem-Amado de Deus.!º

S197,3ab.
OtaR

Ef1,4.11.
Hino do Ofício de Leituras na Solenidade da Imaculada Conceição.
Cf. Is 61,10 e tb. S1 45.
IJ

Cf. Ef 1,6.
O

Cf. S197,1.
"ND

10 Cf. Ef 1,5.
E] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Não se pode esquecer que o tempo do Advento é o contexto litúrgico da
Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Ao esperarmos confian-
tes a manifestação do Senhor, admiramos solenemente os efeitos de sua
passagem por entre suas criaturas. Neste sentido, tem razão Santo Anselmo
quando escreve:
“O céu e as estrelas, a terra e os rios, o dia e a noite, e tudo quanto obedece
ou serve aos homens, congratulam-se, ó Senhora, porque a beleza perdida foi,
de certo modo, ressuscitada e dotada de uma graça nova e inefúvel”!
Sendo a Eucaristia sacramento que melhor manifesta nossa espera pela
vinda de Cristo, quando a comunidade de fé apresenta ao Pai os motivos
de sua ação de graças, o faz em nome de toda a criação que se vê livre das
consequências do pecado. Com razão, os prefácios são introduzidos com
a expressão “é justo e necessário, nosso dever e salvação dar-vos graças”.
Ão reconhecer os prodígios de Deus acontecendo no mundo, as feridas do
mundo, da história e da humanidade são postas em evidência. Feridas que
surgiram da violência e da corrupção daqueles que devem ser portadores da
paz e da integridade, porque em Cristo todos somos beneficiados pela graça
e a imaculada conceição de Nossa Senhora é lembrete permanente disso.!
Quando vamos à mesa comer e beber do Corpo e Sangue do
Senhor, dirigimo-nos à sede de toda beleza, que a perversidade ainda
presente no meio de nós procura encobrir e degenerar. Dela tomando
parte, alimentamos em nós a imagem do verdadeiro e original ser
humano, tal e qual Deus o quis quando o plasmou.

Sugestões para a celebração


1. Neste dia festivo, a Igreja pode retomar alguns sinais que foram
reservados durante o tempo do Advento: flores e alfaias brancas, bem
como outros sinais festivos que ressaltam a importância desta solenidade.

11 Meditações de Santo Anselmo (séc XII), Ofício de Leituras na Solenidade da Imaculada


Conceição.
12 Cf. Prefácio da Imaculada Conceição.
Ele está no meio de nós! HS

2. Convém assumir com mais empenho o repertório litúrgico


proposto pela CNBB. Os hinários litúrgicos e a coleção de CD'S
“Festas Litúrgicas” oferecem boas opções para este dia.
3.Durante a incensação do nos ritos iniciais, inclua-se a incen-
sação da imagem de Nossa Senhora.
4. Maria é imagem da Igreja que atentamente escuta e acolhe
a Palavra de Deus. Sua “graça” maior é sempre ouvir e responder a
€« » º 4 .

Deus conforme sua vontade. Por isso, as leituras, proclamadas por


ministros leitores bem preparados(as) contribuirá de modo especial
para que se opere, pela força do Espírito, a configuração a Maria
enquanto ouvinte e discípula fiel.
5. Às preces, como resposta orante à Palavra de Deus, devem consi-
derar o aspecto memorial como parte essencial da oração cristã. O esque-
ma para a preparação de cada prece, que deve ser breve, inclui: invocação,
memória dos feitos de Deus, pedido. Um exemplo: “Ó Pai, da mesma for-
ma que enviastes o Espírito Santo sobre Maria, a cheia de graça, concedei
à vossa Igreja abertura para acolher a força que vem do alto e que nos ajuda
a vos dizer sim. Rezemos..”. Que as preces sejam bem preparadas.
6. Esta solenidade tem prefácio próprio. Por isso, as orações
eucarísticas que admitem outros prefácios são a III, a I, que não pos-
suem prefácio, ou a II, que possui um prefácio que pode ser mudado.
Às demais não admitem uso de prefácio próprio.
7. Para ressaltar ainda mais o caráter festivo deste dia, e apro-
veitando para habituar a comunidade nessa prática, sugerimos a co-
munhão em duas espécies. Uma breve orientação antes de iniciar a
distribuição da comunhão muito ajudará. Não seja a comunhão em
duas espécies um motivo para retomar a comunhão na boca que as-
sim é administrada somente aos fiéis que desejarem.
8. Cairia muito bem uma breve homenagem à Mãe do Senhor
ao final da celebração.
9. O elenco de bênçãos oferece um formulário para as festas e
solenidades marianas. Seria bom aproveitar.
3º DOMINGO DO ADVENTO
11 de dezembro de 2011

"ELE NÃO ERA A LUZ, MAS VEIO PARA DAR TESTEMUNHO DA LUZ”

Leituras: Is 61,1-2a.10-11 / Lc 1,46-48.49-50.53-54 (R/. Is 61,10b)


ITs 5,6-24 / Jo 1,6-8.19-28

Situando-nos brevemente
Por tradição, o terceiro domingo do Advento é denominado “Domin-
go Gaudete”, que significa “Domingo da Alegria”. Isso, porque a an-
tífona de entrada começa com esta expressão: “Alegrai-vos sempre no
Senhor” (em latim “Gaudete in Domino semper”). Esta, portanto,
será a chave para a compreensão dos textos bíblico-litúrgicos e eucológi-
cos, assim como dos ritos e símbolos do terceiro domingo.
À alegria de que trata a Liturgia deste domingo liga-se à proximi-
dade da festa da Natividade do Senhor. À percepção de que já atravessa-
mos mais da metade do caminho rumo à noite Santa do Natal ilumina a
celebração da comunidade de fé. Com razão a Oração da Igreja assim se
exprime: “Levantai vossa cabeça, pois a vossa redenção se aproxima”. Por-
tanto, o júbilo não se dá somente por que já se aproxima uma “data
memorável”, mas, sobretudo, porque as consequências do Mistério
que nela se celebra já podem ser sentidas pela Igreja peregrina.

Recordando a Palavra
O texto da primeira leitura é um trecho do livro de Isaías. A compi-
lação de versículos põe no centro da profecia a “exultação do profeta

13 CF. Graduale Romanum.


14 Antífona do Invitatório, LH, III Domingo do Advento.
Ele está no meio de nós! 26]

— que é símbolo do povo de Deus, porque Ele lhe reveste de salvação.


Sabemos que este é o “pólo de atração” da primeira leitura exata-
mente porque o Salmo Responsorial, que traz por conteúdo o texto
evangélico do Magnificat, assim o confirma: 4 minh'alma se alegra
em Deus (...) Ele viu a pequenez de sua serva (...) o poderoso fez por mim
maravilhas”. Se, no contexto bíblico a alegria credita-se à restauração
de Sião por parte de Deus que proporcionará ao povo reedificar as
ruínas antigas, conforme o versículo 4 excluído pelo Lecionário, na
celebração as razões do regozijo ligam-se visceralmente a outro fato.
O mesmo papel de testemunha assumido pela persoriagem
profética da primeira leitura é desempenhado por João Batista no
evangelho: “Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. Ele
veio como testemunha, para dar testemunho da luz .* Seu testemunho
relaciona-se àquele de Isaías, citado explicitamente pelo Batista. Seu
trabalho consiste em reconhecer e apontar o advento do Messias, que é
maior do que João Batista ou qualquer outro profeta com quem possa
ser confundido: Elias ou aquele que deveria suceder Moisés, lembrado
pela expressão “o Profeta”, Dessa forma, João é testemunha do que há de
vir, cuja presença e identidade superam todas as expectativas. É rebento
completamente novo, plantado por Deus no dizer de Isaías.!é
Curiosa a conclusão do trecho evangélico com o versículo 28:
“Esso aconteceu em Betânia, além do Jordão, onde João estava Batizando”,
dem qualquer prejuízo no que concerne a compreensão da narração
sobre João Batista, o trecho poderia terminar no versículo 27: “eu não
mereço desamarrar a correia de suas sandálias. Mas, teríamos o ápice
da narrativa centrada na pessoa do Batista. Com a inserção do versí-
culo 28, a figura do profeta não aparece em primeiro plano, mas sim,
a sua atuação junto ao Jordão.
À nova Bíblia de Jerusalém, a despeito da tradução antiga, ver-
te Bethânia por Bethbara. Uma opção exegética interessante, pois

15 Jo 1,6.
16 CE Is 61,11.
Ha PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Bethbara se encontra em documentos menos importantes do que


aqueles que trazem a palavra Betânia.” O fato é que esta cidade não
é a mesma onde, no mesmo evangelho, se dá a unção de Jesus antes
de sua morte — onde moravam Lázaro, Maria e Marta. Esta “Betânia”
está perto do monte das Oliveiras, enquanto a “Betânia” do texto deste
domingo está mais distante de Jerusalém. O que se quer indicar? Uma
aproximação possível e que é rica para o contexto litúrgico entende que
a frase “aconteceu em Betânia, elém do Jordão” relacionada ao lugar em
que João exerce seu ministério batista, quer insinuar o episódio narrado
em Js 3 — a passagem do Jordão no fim do Êxodo, um evento pascal,
portanto.!” Assim se explicaria a variante da nova Bíblia de Jerusalém
(Bethbara) que significa: “Lugar de passagem”.

Atualizando a Palavra
Tomando os elementos acima descritos, uma leitura litúrgica das Es-
crituras entende que este terceiro Domingo do Advento é momento
de passagem ou transição para a comunidade que celebra, como o
fora para os contemporâneos do Batista. Nós, como eles, somos atra-
ídos para a “beira do Jordão”, a fim de permanecer de prontidão, à
espera da travessia pascal que se inaugura com a revelação de Deus e
se plenifica com a encarnação do Verbo.
Neste sentido, nosso olhar recai sobre o que se augura com a
celebração da Eucaristia: “que estes sacramentos nos purifiquem dos peca-
dos e nos preparem para as festas que se aproximam”. À preparação para
a celebração da natividade e manifestação do Senhor na carne exige
transpor o Jordão, passando pelas águas que nos liberam da maldade,
da corrupção, da morte. Dito de outro modo, ao celebrar o terceiro Do-
mingo do Advento, a Igreja se alegra por estar à “beira” do Jordão, emN

17 Bethania tem uso justificado, por exemplo, em documentos do século III (Papiro 66.75,
sinaítico, etc.), enquanto Bethbara está presente em textos bem mais tardios.
18 Cf. Bíblia de Jerusalém, (nova edição revista e ampliada), nota e de Jo 1,28.
19 Oração depois da comunhão.
Ele está no meio de nós! EM

poder levantar a cabeça e vislumbrar seu destino,? que é a comunhão de


vida com o Messias, cujas vozes proféticas de todos os tempos e lugares
apontam e prenunciam, segundo a inteligência da fé.
O Apóstolo, na segunda leitura, escrevendo à comunidade de
Tessalônica, é enfático: “Estai sempre alegres, rezai sem cessar! Dai gra-
ças em todas as circunstâncias, porque essa é, A VOSSO respeito, a vontade de
Deus em Jesus Cristo”. Dar graças, fazer eucaristia, corresponde de fato
ao “nosso dever e salvação”,*! porque é no ato de buscar e reconhecer
a presença de Deus, que nos percebemos salvos, mergulhados em sua
vida. Damo-nos conta o quanto o Espírito do Senhor está sobre nós
empurrando-nos para que demos testemunho da visita do Messias no
mundo, alegrando os tristes, devolvendo a dignidade aos empobre-
cidos.?” À ação de graças recomendada por Paulo nos faz reconhecer
que tudo quanto fora dito por Deus em promessa, cumpriu-se em seu
Filho e se desdobra naqueles e naquelas que o servem e lhe são fiéis.
Em suma, nossa fidelidade torna evidente aquele que nos chamou e
é fiel no cumprimento de sua Palavra.”

Ligando a Palavra com a Eucaristia


A Liturgia é a “irrupção” do Tempo de Deus no tempo da gente. É ca-
minho de reconhecimento do seu Advento. Em particular, a celebração
Eucarística, por meio de seus ritos e preces, nos proporciona a experi-
ência do adentrar de Deus nos diversos contextos humanos, penetrando
em profundidade cada espaço. Uma visita que passa pelo reconheci-
mento e acolhida do Verbo da Vida que se mostra nas modulações da
voz humana, na simplicidade e caducidade do pão e vinho. Mas, em
ambos os casos, foi necessária a transição operada pelo Espírito Santo,

20 Cf. Antífona do Invitatório no Ofício Divino: Levantem a cabeça, a vossa Redenção está
próxima.
21 Invitatório da Oração Eucarística.
22 Cf. Aclamação ao Evangelho.
23 Cf. Il leitura.
51] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

que converte a voz dos ministros da Igreja, homens e mulheres, em voz


de Cristo, o pão e vinho em Corpo e Sangue do Senhor. À celebra-
ção da comunidade conforma-se “lugar de passagem”, o “além do Jordão”,
às margens do qual auspiciamos a visita de Deus e nos alegramos por
contemplá-la já em andamento. Assim o fazemos simbólica e ritual-
mente (sacramentalmente, portanto), para que na vida cotidiana em que
estamos submergidos em nossos afazeres, ocupados com nossos inte-
resses simples e frágeis, colhamos o Mistério de Deus nos visitando,
humanizando-nos, publicando nossa dignidade perante um mundo que
se deteriora em humanidade ao nosso redor. Com toda certeza, muito
bem caberá em nossa boca o Hino daquela por quem Deus fez grandes
coisas e que, no Advento, recordamos com todo carinho, Maria de Na-
zaré: “O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é seu nome”.

Sugestões para a celebração


1. Fiéis à tradição litúrgica, esta celebração deve começar com
a Antífona “Gaudete”, A versão do Pe. Gelianeau é muito oportuna
e pode ser encontrada no Hinário Litúrgico da CNBB (Liturgia,
Advento anos Be C, faixa 5 — Paulus).
2. Nos ritos iniciais, pelo importante significado do Jordão já
exposto na reflexão homilética, sugerimos a bênção da água com
aspersão recordando o batismo. À seguir, uma proposta de bênção
adaptada ao tempo do Advento:?
Irmãos e irmãs, invoquemos o Senhor nosso Deus neste tempo de ale-
gre expectativa da sua visita à nossa casa, para que se digne abençoar a
água que vai ser aspergida sobre nós, recordando o nosso batismo. Nesta
oportunidade, supliquemos que ele nos auxilie na passagem de uma vida
displicente aos sinais de sua vinda, à ação de graças própria de quem o
reconhece atuando na Flistória.
(silêncio)

24 Texto do Missal com inserção de algumas expressões e idéias próprias do Advento.


Ele está no meio de nós!

Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que pela água, fonte de


vida e princípio de purificação, as nossas almas fossem purificadas e
recebessem o prêmio da vida eterna. Abençoai + esta água, para que
nos proteja neste dia que vos é consagrado, concedendo-nos passar
da morte para a vida, da tristeza para a alegria, da corrupção para a
integridade. Assim, livres de todos os males, possamos nos aproxi-
mar de vós com o coração puro e receber vossa salvação. Por Cristo,
nosso Senhor.

Amém.
3. Para abrir a Liturgia da Palavra, o responsório “À voz de
Deus se espalha” (ODC, Caderno de Partituras II, Paulus — sete:
www.calbh.com.br) é muito oportuno.
Após a homilia, como conclusão da mesma, pode-se entoar a
Litania do Advento, igualmente disponível no site acima.
4. “Texto para ser publicado no III domingo do Advento, para a
Campanha para a Evangelização:
Hoje é o dia da coleta para a Campanha da Evangelização da CNBB.

Agradecimento pela doação na coleta para a evangelização.


Desde o início, a obra de evangelização e o trabalho da Igreja conta-
ram com o apoio espiritual e material de todos os batizados. Moti-
vados pela fé recebida e pela gratidão a Deus, todos os membros da
Igreja são chamados a colaborar, de várias formas, para que o dom do
Evangelho também chegue a outras pessoas.
Além de vivenciar concretamente sua corresponsabilidade de ba-
tizado pelas obras de evangelização e do sustento de irmãos e irmãs
empenhados nestas atividades, a sua participação o tornará mais dis-
ponível ao Senhor.
Esta será a destinação de sua coleta: 45% para a sua Diocese;
20% para as 17 Subsedes da CNBB; e 35% para a CNBB Nacional.
Deus lhe pague pela contribuição nesta importante coleta.
EEI PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

5. O canto de comunhão para este domingo pode ser o


Magnificat. Embora não retome “literalmente” o Evangelho pro-
clamado, insere-se na perspectiva da alegria e ação de graças de
quem já vislumbra a realização das promessas de Deus em Cristo,
pelo Espírito.
4º DOMINGO DO ADVENTO
18 de dezembro de 2011

"O SENHOR ESTÁ CONTIGO"

Leituras: 2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16 / Sl 88(89),2-3.4-5.27.29 (R/.2a)


Rm 16,25-27 / Lc 1,26-38

Situando-nos brevemente
Já no quarto domingo do Advento e às portas da solenidade do Natal
do Senhor, a liturgia dirige o nosso olhar para o anúncio do Anjo fei-
to a Maria e para sua própria pessoa enquanto imagem da Igreja que
aguarda a chegada do Natal. Para sublinhar em que ponto a celebra-
ção nos situa, recordemos nosso trajeto realizado: nos dois primeiros
domingos do Advento, chamados de Advento escatológico, nossa
expectativa foi reacendida em vista das realidades futuras e dos últi-
mos tempos que Jesus inaugurou a partir de sua vinda histórica e sua
glorificação. A acolhida do anúncio da Palavra de Deus nos preparou
na direção desse evento derradeiro, que o povo da Primeira Aliança
viu realizar na Igreja, como já participante das realidades futuras.
No terceiro domingo, com o olhar mais voltado para a vinda
histórica, a Igreja se alegrou, como que antecipando aquilo a que
se prepara e no canto de Maria, proclamou as maravilhas que Deus
realizou por seu povo e continua a realizar por meio de Jesus e de
seu Espírito. Nesse mesmo período iniciamos a novena do Natal do
Senhor, intensificando a nossa espera e vigilância, enchendo nossas
lâmpadas com o azeite da oração, adentrando no festim do noivo que
veio ao nosso encontro. Cada domingo, como luz a iluminar nossos
passos, nos conduziu a este momento, onde contemplamos a Vir-
gem como a um espelho, onde podemos ver a imagem daquilo que a
EBI PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Igreja é chamada a ser: casa preparada por Deus, arca da Aliança e


receptáculo do Mistério outrora escondido e que Deus, por imensa
bondade, revelou a todos (2º Leitura).

Recordando a Palavra
O texto da anunciação do anjo a Maria, muito conhecido de todos,
pode sugerir duas interpretações: ele fala da vocação de Maria ou de
Jesus e de sua concepção no seio da Virgem, como Filho do Altís-
simo e Messias esperado pelo povo da Primeira Aliança? À segun-
da opção parece ser a mais correta, embora isso não desqualifique o
papel de Maria na história da salvação. De fato, sua participação é
fundamental, por ser a. Mãe do Senhor. Mas sua maternidade deve
ser compreendida para além da linhagem carnal, pois os evangelhos
valorizam a familiaridade com Jesus a partir da obediência à vontade
de Deus, expressa pela sua Palavra.?” Maria é Mãe de Jesus pelas duas
vias: como primeira discípula e como aquela que o concebe em seu seio.
À aclamação ao evangelho, como que antecipando a narração, orienta
nosso olhar para o mesmo foco: “eis a serva do Senhor, cumpra-se em
mim a tua palavra!”. O que Maria diz de si mesma não é outra coisa
senão sua dependência em relação ao Mistério que abriga. Ela se auto-
denomina “serva do Senhor” e obediente se sujeita à ação de Deus.
Mas o anúncio do anjo, de fato, só pode ser entendido em pauta
cristológica. Uma “chave” de compreensão nos é dada pela oração
do dia que, num belo paralelo, vai ao cerne da leitura messiânica do
texto: “para que, conhecendo pela mensagem do Anjo a encarnação
do vosso Filho, cheguemos por sua paixão e cruz, à glória da ressur-
reição”. Os dois verbos: conhecer e chegar oferecem a mesma idéia:
entrar em comunhão, participar. Conhecer, no próprio texto da
anunciação, tem significado de contato íntimo, neste caso, conjugal:
comunhão de corpos que viabiliza a fecundação. O questionamento

25 Cf. Mc 3,31-35; Lc 8,19-21; Mt 12,46-50.


Ele está no meio de nós! EIJ

de Maria ao Anjo comprova e elucida o sentido da palavra. Em


contrapartida, conhecer, pela anunciação do anjo, a encarnação do
Verbo significará, em sentido espiritual e teológico, estar em íntima
comunhão, participar do acontecimento nuclear do Natal: o fato de
Deus ter se feito humano. Neste caso, porém, é Deus que faz comu-
nhão com a vida humana. O segundo verbo, “chegar”, nos recorda
o percurso e a meta para a qual tendem todas as ações da Igreja:
a participação na vida divina, viabilizada pelo mistério de Cristo.
Usando as mesmas palavras, significa alcançar a comunhão, ou a
participação na morte e ressurreição do Senhor. Ao encontro da co-
munhão de Deus com a humanidade, a Igreja entra em comunhão
com a natureza divina.
À íntima conexão, entretanto, não se dá apenas pelos verbos
apresentados, mas também pelos mistérios da encarnação e da re-
denção. Para Leão Magno, o Natal era verdadeiro sacramento (mis-
tério), pelo qual se possibilitou a redenção, pois o que havia sido
anunciado só poderia ser realizado com a vinda de Cristo. É a
encarnação que inicia a salvação do homem: “Nosso Senhor Jesus
Cristo, nascendo como verdadeiro homem, (...) iniciou em si uma
nova criatura”.?”

Atualizando a Palavra
À celebração do quarto domingo, como último domingo do Advento
histórico, na mesma dinâmica do terceiro domingo, antecipa a reali-
dade festiva que se desabrocha no Natal. Nesta celebração a Igreja é a
receptora do anúncio do Anjo, participando da encarnação do Verbo
ao acolher a Palavra proclamada, exercendo seu discipulado na escuta
e na obediência e deixando realizar em seu seio a salvação esperada.

26 Cf LEÃO MAGNO, Sermão IV do Natal (4275), in. Antologia Litúrgica. Textos litúrgi-
cos, patrísticos e canônicos do Primeiro Milênio. Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia,
2003, p. 1020.
27 Ipem, Sermão VII do Natal (4289), in. Antologia Litúrgica, p. 1022.
EJA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Contudo, a chave messiânica da compreensão dos textos nos convida


a perceber que a salvação principiou neste mistério e se completa na
páscoa do Senhor, para a qual rumamos. Nós, que também já des-
frutamos da vida divina em Cristo pela participação em sua páscoa
(oração da comunhão), não deveríamos fazer o seu caminho de en-
contro com as realidades carentes de vida nova? Prolongar o anúncio
do Anjo ao mundo, descobrindo a semente do Verbo nas realidades
mais sofridas, não seria nossa resposta obediente, discipular e atenta
à vontade do Pai? O Natal do Senhor se orienta e se aprofunda tam-
bém na páscoa do mundo que anseia por vida nova e por salvação.
O mistério da encarnação, iniciado hoje com a anunciação do
Anjo à Virgem, é aprofundado pelo mistério da cruz que nos leva à
ressurreição. Segundo uma mensagem de Natal, “Para quem cons-
ciência ainda tem, o Natal é dura cruz na casa de alguém”,? podere-
mos nos encaminhar mais ligeiramente para o acontecimento natali-
no, se estivermos mais atentos e solícitos aos sofrimentos e cruzes que
carregam os outros...

Ligando a Palavra com a celebração


O período de preparação para o Natal se finda com a imagem de Ma-
ria, a Virgem grávida pela ação do Espírito e fiel ouvinte da Palavra
de Deus. No tempo do Advento, a comunidade deixou-se fecundar
pelo mesmo Espírito, na escuta dócil da Palavra que foi anunciada
nas leituras, no canto, na homilia, nas preces e nos ritos da Igreja.
Também ela está grávida, à espera do Salvador e na noite de Natal,
desentranhará da celebração e da vida, a Luz que tanto esperava.
Maria, protótipo da Igreja, é seu modelo e inspiração. Por isso, o
olhar atento à Virgem, fará compreender aquilo que a Comunidade é
chamada a ser como vigilante à espera do seu Senhor.

28 Cartão de Natal do CEBI, Centro de Estudos Bíblicos.


Ele está no meio de nós! EI

Sugestões para a celebração


1. Neste quarto domingo, seria bom valorizar a imagem de
Maria, , com uma vela acesa ou um arranjo discreto (poucas flores ,

para não ferir a reserva simbólica, própria do tempo.


2. Embora neste domingo a figura de Maria, a Mãe do Se-
nhor, seja muito marcante, o enfoque da celebração da Igreja é sem-
pre cristocêntrico. À escolha dos cantos conforme o repertório do
Hinário Litúrgico da CNBB garantem essa marca cristológica da
reunião da comunidade. Isso não impede que, ao final da celebra-
ção, se faça uma homenagem à Mãe do Senhor com algum canto
breve de saudação.
3. O acendimento da quarta vela do advento pode ser feito se-
guindo o mesmo esquema do primeiro domingo, mas com a seguinte
bendição:
Deus Pai de bondade, vós enviastes vosso Filho ao mundo por
meio de Maria, vossa serva. Vossas promessas se cumpriram naquela
que é a imagem da Igreja e sua maternidade nos inspira no discipu-
lado, na esperança e na alegria da proximidade do Natal. Por ela
brilhou para nós a luz da salvação, Jesus, nosso irmão. Bendito sejais,
Senhor!

4. A proclamação das leituras seja realizada com a consciên-


cia de que a comunidade acolhe o Verbo da vida, como Maria o
acolheu em seu seio. Os leitores e salmista se empenhem e se pre-
parem para o momento da proclamação, cientes da importância do
seu ministério.

5. O canto do prefácio ficará mais participado adotando-se a


forma cantada que o Hinário 1 da CNBB oferece. São versões po-
pulares que aproximam a liturgia da piedade do povo, envolvendo
e promovendo maior participação e foco na oração eucarística. Às
melodias estão gravadas no CD “Ação de Graças no Dia do Senhor”,
disponíveis nas editoras católicas.
EXA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

6. O último domingo deste tempo seja marcado com a bênção


solene do Advento que o missal oferece.
7. Seria bom que a comunidade ou paróquia oferecesse uma
oportunidade de celebrar durante a semana a misericórdia do Se-
nhor através do sacramento da Reconciliação, conforme orientam as
normas da Igreja e as formas rituais desse sacramento.
NATAL DO SENHOR
Missa da Noite

25 de dezembro de 2011

"NÃO TENHAIS MEDO! EU VOS ANUNCIO UMA GRANDE ALEGRIA"

Leituras: Is 9,1-6 / S1 95(96),1-2a.2b-3.11-12.13 (R/. Lc 2,11)


Tt 2,11-14 / Lc 2,1-14

Situando-nos brevemente
“Hoje, nasceu o Salvador do mundo!” Com este anúncio feliz tem
início a celebração da Natividade de Jesus. É uma festa antiga. Esta
celebração deita suas raízes na veneração da gruta em que o Senhor
nasceu. No rito romano, como liturgia orgânica e já instituída so-
mente tem-se notícia a partir do século IV, quando aparece pela pri-
meira vez a data de 25 de dezembro, segundo os testemunhos de um
antigo documento chamado Cronógrafo Romano.
O que se celebra nesta liturgia é bem mais do que o aniversário
do nascimento histórico de Jesus. É, em suma, a celebração de sua
Páscoa vista sob a perspectiva de sua entrada no horizonte da história
humana de modo inaudito e admirável, como sugere a bucólica cena
do nascimento narrado no Evangelho de Lucas. Logo, o “hoje” da
antífona de entrada nos insere na perspectiva sempre atual da mani-
festação de Deus. Embora se possa (e deva!) localizar os feitos ma-
ravilhosos do Senhor no âmbito da história humana, que o ocidente
convencionou consignar em “passado — presente — futuro”, a ação di-
vina sempre precede e supera os nossos limites temporais e espaciais.
Por isso, a liturgia divina quando celebrada se torna uma espécie
de parêntesis no tempo cronológico, como momento da história da
GAR PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

salvação que nos alcança aquie agora, um acontecimento que deve


ser lembrado em todo tempo e lugar.
A celebração da Natividade do Senhor é festa de sua manifesta-
ção na carne, isto é, Deus vindo ao encontro da humanidade como
pessoa humana: “sob véus de humildade podemos ver”o Deus invisível e
de eternal grandeza (deste Fidelis — Cristãos, vinde todos).

Recordando a Palavra
Segundo o Apóstolo, “A graça de Deus se manifestou trazendo a
salvação para todos os homens” (Tt 2,11). Cumpre-se o que o Profeta
anunciou: “nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele
traz aos ombros as marcas da realeza” (Is 9,5). O recém-nascido en-
volto em faixas outrora encontrado pelos pastores é sinal deste acon-
tecimento: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador
que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11).
A harmonia dos textos do Lecionário salta à vista. Tudo con-
verge para a compreensão exata e experiência daquela que é a con-
sequência — e fundamento - da iniciativa amorosa de Deus em vir
ao encontro de suas criaturas, revestido de sua fragilidade: “Ao cele-
brarmos com alegria o Natal do nosso Salvador, dai-nos alcançar por
uma vida santa seu eterno convívio” (Oração depois da comunhão).
Deus nos quer com ele, como planejara deste o início dos tempos.
Por essa razão, a palavra “hoje” pulula em diversos textos. É o
“hoje” de Deus. Um termo técnico mais do que um simples advér-
bio temporal que a bíblia e a liturgia empregam para evidenciar a
contemporaneidade da salvação. É como se disséssemos: “Deus nos
alcança”. Não é tanto o esforço humano, mas a total gratuidade e o
interesse divinos que estão em evidência.
Fiel ao espírito profético de Isaías, que na Bíblia está relacionado
com os assuntos políticos de seu país, na luta para que o Reino de
Judá não sucumba perante os interesses estrangeiros, o Lecionário
Ele está no meio de nós! EM

interpreta a Escritura pondo em relevo o desejo salvador de Deus


que se realiza em Cristo. Deste modo, a experiência de quem andava
nas trevas — expressão usada pelo profeta para falar da decadência
ético-moral de seus contemporâneos — e que agora contempla uma
grande luz e é transportado da morte à vida (cf. Is 9,1) vê-se possível
para toda pessoa de qualquer tempo e lugar. O Salmo nos dará esta
chave de leitura: “Cantai ao Senhor um canto novo (...) ó terra inteira
(...) dia após dia anunciai sua salvação” (51 95,1.2b).
No trecho do Evangelho de Lucas, que retorna cada ano, as cir-
cunstâncias que abrigam o anúncio da glória de Deus derramando-se
sobre os que Ele ama podem ser descritas com o primeiro versículo da
profecia de Isaías. O detalhe do recenseamento que só Lucas informa
em seu relato é um dado precioso. Cita-o 4 vezes em cinco versículos.
Maria e José são membros daquele povo que era oprimido pelo jugo
estrangeiro e andava na escuridão: “a carga sobre os ombros, o orgu-
lho dos fiscais” (Is 9,3). Para eles, a salvação anunciada pelo Profeta
se faz contemporânea, irrompe o tempo de Deus: “Enquanto estava
em Belém, completaram-se os dias para o parto” (Lc 2,6). À alegria
e a felicidade descritas pelo Profeta alcançam o povo de Deus: “Não
tenhais medo, eu vos anuncio uma grande alegria que o será para todo
o povo” (Lc 2,10).

Atualizando a Palavra
Quando, em sua Carta a Tito, Paulo fala da Salvação que alcança to-
dos os homens, temos o desdobramento mais preciso da celebração da
Natividade do Senhor. Nós, hoje, aqui e agora somos testemunhas da
generosidade com que Deus nos trata e podemos, responsavelmente
abandonar a impiedade e as aspirações mundanas (cf. Tt 2,12). Não
se pode esquecer o fato de que a consequência da manifestação e rei-
nado do “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros,
Príncipe da Paz” (cf. Isaías 9,5) cancela a cobiça em quaisquer de suas
formas, pois ela é fonte de opressão e escravidão. À segunda leitura
45, PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

nos interpela para que abracemos a sobriedade na vida, a justiça nos


posicionamentos e a piedade nas relações. Estas são características do
Cristo Senhor nascido para nós, hoje.
O evangelho confirma esta postura perante a existência quando
fala do “sinal”: o recém-nascido envolto em faixas. Maria o repousa
numa “manjedoura”, pois nas hospedarias não havia lugar para eles.
Este é outro detalhe importante. Porque não haveria de ter lugar para
uma mulher grávida, quando um filho é para o povo judeu bênção
divina? Mais uma vez a ênfase na total gratuidade do desejo salvador
de Deus: sua glória resplandecerá num espaço destituído de “huma-
nidade”. Neste lugar, será a sua presença que transformará o estábulo
em lar. Deus o transforma em “katalymate” - palavra grega traduzida
ao português por hospedaria (cf. Lc 2,7), isto é, “quarto de visitas”
para os que são por ele amados.

Ligando a Palavra com a Eucaristia


Para Agostinho, no século V, a celebração do Natal do Senhor não
tinha sentido de sacramento, era a recordação da natividade de Jesus.
Para o bispo de Hipona, o único sacramento era a Páscoa, pela qual
os seres humanos e a criação inteira tinham sido reintegrados à sua
origem, que é o próprio Deus, sumo bem. Será Leão Magno, no
mesmo século e alguns anos mais tarde quem encontrará o sentido
mistérico e por isso, sacramental, do Natal do Senhor. Para ele, a
Natividade, celebração da encarnação do Verbo, está intimamente
ligada à Páscoa. É seu início, pois, quando a Igreja celebra esta sole-
nidade, comemora o aspecto do novo nascimento dos fiéis para uma
vida redimida: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza,
a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se um
de nós, nós nos tornamos eternos”. Fica evidenciado o aspecto sacramental
e pascal do Natal do Senhor.

29 Prefácio do Natal II.


Ele está no meio de nós! [44]

É tão interessante a ligação entre o Natal e a Páscoa, que houve


lugares em que a leitura do primeiro domingo do Advento, em pre-
paração ao Natal do Senhor, era a entrada de Jesus em Jerusalém. É
preciso que a comunidade de fé se pergunte, movida pelo Espírito
de Cristo que atua nesta solenidade, o quanto ela tem consciência e
manifesta no mundo esta nova condição — de povo salvo, gerado para
Deus a partir da páscoa de seu Filho, conforme reza a antífona de
entrada: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. O dia do nascimento de
Cristo é dia da Redenção: “nasceu para nós o dia da redenção nova (...)
faz-nos outra vez presente o mistério da nossa salvação”. É dia, portan-
to, em que se comemora o nascimento do novo ser humano, da nova
criatura em Cristo, Senhor. Isso nos faz recordar as sábias palavras
do Apóstolo: “Se alguém está em Cristo é nova criatura”. À luz que
se vislumbra na terra por ocasião desta solenidade, conforme reza a
oração do dia, é a mesma que rebrilha quando é aceso o Círio Pascal.
Finalmente, sobre a “pascalidade” deste dia não se pode deixar
de mencionar q que Cristo entra na “morte” — pois torna-se mortal, fi-
nito — quando nasce de mulher. E nós, pelo vínculo batismal, atrela-
dos a ele na morte, bebendo do seu cálice, nascemos para Deus como
muito bem se canta nas 1 Vésperas da Tempo Pasca 1,2

Sugestões para a celebração


1.Os cantos para esta celebração podem ser aqueles do Hi-
nário Litúrgico da CNBB (Liturgia V, Paulus). Destaque para três
peças: a) o Salmo 2, recuperando a Antífona de Entrada do missal:
“O Senhor me disse: És meu Filho, eu hoje te gerei” b) À versão
em português de Adeste Fidelis (Cristãos, vinde todos) como canto de
apresentação das oferendas; c) O canto de comunhão, com o texto de
Isaías 11: “Da cepa brotou a Rama”.

30 Leão Magno. Sermões para o Natal. Sermão 2.


31 1Cor 5,17.
32 Cf. “Bebendo deste sangue, nascemos para Deus.”
Gel PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

2. Imprescindível a “Proclamação do Natal” prevista no Diretório


Litúrgico da CNBB, à p. 40. A CNBB sugere que se faça logo após
a saudação presidencial, antes do Hino de Louvor. À Igreja pode
permanecer na penumbra até que se proclame “Eis o Natal de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana”, Para evidenciar a
dimensão Pascal desta solenidade, o Círio Pascal pode ter lugar junto
ao Ambão quando se diga: “JESUS CRISTO, DEUS ETERNO
E FILHO DO ETERNO PAT”. O anúncio do Natal é tanto mais
interessante porque situa o nascimento do Senhor dentro da História
da Salvação e nela insere a comunidade dos fiéis em celebração.
3. Sobre o Hino de Louvor (Glória), nunca é demais salientar so-
bre sua importância na Liturgia, sobretudo no Tempo do Natal. Para
o Rito Romano, foi nesta ocasião em que ele começou a integrar aos
Ritos da Missa, passando, com o tempo, a fazer parte do Ordinário.
4. Antes da Liturgia da Palavra, um refrão meditativo pode ser
oportuno para dilatar o coração que deverá acolher o Verbo da Vida que
“hoje” nasce para nossa santificação. Por exemplo: “A Palavra de Deus
é luz, que nos guia na escuridão, é semente de paz, de justiça e perdão”.
5. Um costume louvável ligado à religiosidade popular é a visita
ao presépio. Após a homilia, guardados alguns instantes de silêncio
para meditação da Palavra de Deus, pode-se proceder com a venera-
ção da imagem do Menino Jesus. Logo depois, antes do Credo, uma
criança, mãe ou pai de família pode levá-la até o presépio, enquanto
a comunidade entoa o refrão do canto de comunhão: “Da cepa brotou a
rama” ou o refrão meditativo: Após espera tão longa, irrompe a noite que
é dia. Até palácios se apagam diante da estrebaria” (Partitura disponível
no livreto “Suplemento do ODC”, Apostolado Litúrgico).
6. O Prefácio do Natal III coaduna melhor com a linha homi-
lética desenvolvida. Seu conteúdo pode servir de elemento mistagó-
gico durante a homilia ou de inspiração para alguma monição que se
faça necessária durante a celebração como, por exemplo, no convite
ao Pai Nosso.
FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
30 de dezembro de 2011

“MARIA E JOSÉ LEVARAM JESUSA JERUSALÉM, A FIM DE APRESENTÁ-LO AO SENHOR"

Leituras: Gn 15,1-6;21,1-3 / SI 104(105),1b-2.3-4.5-6.8-9 (R/. 7a.8a)


Hb 11,8.11-12.1719 / Lc 2,22-40

Situando-nos brevemente
A Solenidade do Natal do Senhor se prolonga e se desdobra em
várias comemorações que ajudam a aprofundar o mistério da encar-
nação. Todas essas, em íntima conexão com o nascimento do Filho
de Deus, revelam aspectos importantes de um único acontecimento:
Deus se fez um de nós. É dentro deste horizonte que situa-se a festa
da Sagrada Família. No Evangelho, Maria e José se encaminham
para Jerusalém a fim de cumprir os preceitos da lei: apresentar o pri-
mogênito, oferecer sacrifícios, purificar a mãe... O Filho de Deus
nasceu sujeito à lei, para resgatar aqueles que estavam submetidos à
lei (cf. Gl 4,4). Significa dizer: Deus vem ao encontro da vida huma-
na por inteiro, não se isentando de participar de nada, somente do
pecado, para, em contrapartida conceder a todos a participação na
vida divina. Os antigos chamavam isso de sacrum comercium, isto é,
sagrado comércio, ou divina troca: Deus entra em comunhão com a
vida humana para possibilitar aos seres humanos entrar em comu-
nhão com a vida divina.
Maria e José, os pais de Jesus, levam ao templo, lugar do encon-
tro religioso com Deus, duas pombinhas. É a oferenda dos pobres,
a expressão religiosa de sua condição e pequenez. É no meio dessa
situação onde se situa o Filho de Deus. Na comunicação de dons a
4/| PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

humanidade oferece aquilo que tem: fagilidade, pobreza, pequenez...


Já Deus escolheu se encontrar com a humanidade no seio da família,
é esse o lugar do encontro, profundamente humano e existencial,
com a obra preferida de suas mãos. À nós ele oferece o seu Filho. A
humanidade, figurada por Maria e José, Simeão e Ana, acolhe Jesus,
que na economia da Nova Aliança vai salvar a humanidade do pecado
e da morte.

Recordando a Palavra
As leituras e o salmo orientam a interpretação do evangelho da apre-
sentação do Menino. Abraão, Sara, Isac são personagens centrais
que perpassam os textos e guardam características muito comuns
ao velho Simeão e à Profetiza Ana. Dois homens e duas mulheres
idosos, todos justos diante de Deus, irmanados pela esperança: um
casal esperando a descendência e outro pela realização das promessas
messiânicas. Mas Abraão, Sara que em Isac veem perdurar a descen-
dência, são retomados na segunda leitura na perspectiva tipológica,
isto é, são figuras que preanunciam a realização na economia neo-
-testamentária. São typos de Simeão e Ana, que no contexto litúrgi-
co, ao seu modo, são os “novos Abraão e Sara”. Eles veem no menino
trazido por Maria e José, realizar a salvação, a luz que alcança a todos
Os povos.
À vida futura, que na Antiga Aliança era compreendida na base
da descendência, tem então nestas perícopes escolhidas para esta li-
turgia, apresentado nestes dois casos, a evolução sofrida ao longo da
história da salvação: Abraão é desafiado a provar sua fé nas promes-
sas divinas, sacrificando sua última esperança, seu próprio filho Isac.
O sacrifício não se efetua, mas a fé se confirma. Tal compreensão
e experiência da vida eterna se amadurece no longo percurso entre
Abraão e a chegada do Menino ao Templo. Neste último se entre-
vê um novo sacrifício a ser realizado e a vida eterna não mais fun-
damentada na descendência, mas na entrega oferente, voluntária e
Ele está no meio de nós! EIS

amorosa de Jesus, gerando a vida eterna para todos com sua ressurreição.
Outrora Deus, para provar a fé do seu servo, pede o sacrifício do seu único
Filho. Na nova economia, Deus aceita a oferenda livre de Jesus, que
gera a fé e confirma a esperança da humanidade.

Atualizando a Palavra
Mas é o contexto litúrgico que se torna decisivo para a compreensão
dos textos bíblicos: a sagrada família é a “lente hermenêutica” pro-
posta pelos textos eucológicos desta festa. À ela acorrem os pastores
(antífona de entrada). É ela modelo de amor e de virtude para as
nossas famílias (orações do dia e da comunhão), bem como interces-
sora em favor das famílias que celebram o sacrifício de reconciliação
(oração sobre as oferendas). Mas a virtude e a piedade conduzem
ao mistério da Igreja. As famílias terrestres, valor inestimável para
as nossas comunidades, são sinais de outras realidades: a comunhão
entre os irmãos e a comunhão com Deus que nos foi alcançada por
Jesus. Os laços de amor aqui vividos no ambiente familiar, conduzem
os fiéis às alegrias da casa de Deus (oração do dia). As famílias são
firmadas na graça divina, e por intercessão de José e da Virgem, con-
servadas na paz de Deus (oração sobre as oferendas).
À graça e a paz nos foram comunicadas no mistério de Cris-
to. Por sinal, esta é uma das saudações mais frequentes do início de
nossas celebrações (cf. 1Cor 1,3). As comunidades celebram perio-
dicamente pedindo, como família cristã, pelas mesmas coisas que a
liturgia desta festa suplica para as nossas famílias. À comunhão da
Igreja encontra seu reflexo nos lares e vice-versa. Não é por acaso que,
por longa tradição, os fiéis se nomeiam “irmãos” e “irmãs” uns dos
outros, pois todos foram irmanados em Cristo, aquele que conviveu
com os homens (antífona da comunhão). A comunhão sacramental
nos refaz para os embates da vida e nos associa à Sagrada Família
(oração depois da comunhão).
EA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Antes da comunhão sacramental, os irmãos são convidados a exprimir
sua comunhão fraterna, existencial através de sinais do cotidiano trans-
portados para o âmbito celebrativo: saudação da paz, para só depois
partilhar da mesa comum. À paz que se suplica nas orações agora é
compartilhada nos abraços, apertos de mão, olhares e sorrisos, ma-
nifestando a comunhão deste momento.
Cristo é o doador da paz. Por sua ressurreição a paz foi-nos ga-
rantida de modo ímpar e irrevogável, não obstante os limites huma-
nos que ainda insistem machucar a vida... No simples gesto da sau-
dação, para além das simpatias e antipatias que até podem ocorrer,
o rito transporta a comunidade para outra situação mais profunda e
verdadeira: no seu Corpo, a Igreja, é Cristo o doador da paz. Nela
se prolonga o “Shalon” do Ressuscitado que supera as noções de paz
deste mundo. Na paz que recebo é Cristo ressuscitado que me diz
pelo irmão: “À paz esteja convosco”, na paz que doo, o mesmo su-
cede... Na plenitude que a paz alcança em Cristo e no seio da Igreja
encontra-se a meta para a qual tendem a família humana e as famí-
lias todas. Se nossos lares se constituem como lugar da paz, onde
todos encontram respiro, sossego, segurança e reconhecimento, mais
ainda o deve ser a comunidade cristã. Ela, como que, da própria fon-
te, estabelecida como sinal de Cristo para todas as nações (cf. SC, n.
2), não guarda a paz para si, mas a promove e espalha em sua missão
de anunciar o reino à toda a família humana.

Sugestões para a celebração


1. À celebração da Sagrada famíliaé ocasião de aprofundamen-
to do mistério do Natal. Por isso, é muito conveniente manter o re-
pertório natalino proposto pelo Hinário Litúrgico 1 que está gravado
no CD “Liturgia Vº.
2. Os ministérios continuem sendo exercidos pelas pessoas
preparadas para isso. Outras formas de valorizar as famílias nos são
Ele está no meio cle nós! By

dadas pela liturgia sem ter de sacrificar os serviços essenciais, como


proclamação das leituras e o canto do salmo, ou a distribuição da
comunhão. As procissões de entrada e do ofertório são ritos que não
exigem uma “competência” específica. Seria muito significativo que
um pai, uma mãe e os filhos levassem a cruz processional, ladeada
pelas velas e flores até o altar, ou os dons para a liturgia eucarística:
esposo e esposa, filhos e filhas levando o pão e o vinho que serão
abençoados e partilhados.
3.Às preces sejam cuidadosamente elaboradas, suplicando por
todas as famílias, seus desafios e suas conquistas. À atenção aos tex-
tos oracionais (eucológicos) será fundamental para que as preces não
repitam as mesmas petições das orações presidenciais.
4. No momento da bênção final pode-se convidar as famílias
presentes a se aproximarem do presbitério. A mesma fórmula solene
da benção do Natal, com essa aproximação das famílias ajudará a
perceber o nexo entre o mistério celebrado e a vida das pessoas: é na
família que Deus toma feições humanas.
SOLENIDADE DE SANTA MARIA
MÃE DE DEUS

1º de janeiro de 2012

"QUANTO A MARIA, GUARDAVA TODOS ESSES FATOS E MEDITAVA SOBRE ELES EM


SEU CORAÇÃO”
Leituras: Nm 6,22-27 / Sl 66(67),2-3.5.6.8 (R/. 2a)
Gl 4,47 / 1c2,16-21

Situando-nos brevemente
A celebração da Solenidade de Santa Maria, sob o título de Mãe
de Deus — para a tradição Oriental “Theotokos” — é a festa mariana
mais antiga para o rito romano, de que temos notícia. Nasceu como
celebração da oitava do Natal e a reforma conciliar lhe preservou,
recuperando seu sentido mais genuíno.
Uma das antífonas previstas para este dia, presente no Graduale Ro-
manum e mantida pelo Missal, nos concede o tom desta memória solene,
que se centra na manifestação do Filho de Deus como pessoa humana,
isto é, a Encarnação. Esta antífona oincide, inclusive, com a antífona de
entrada da Missa da Aurora do dia 25 de dezembro: “Hoje surgiu a luz
para o mundo: O Senhor nasceu para nós. Ele será chamado admirável,
Deus, Príncipe da Paz, Pai do mundo novo e o seu reino não terá fim”.*
O calendário civil reconhece neste dia a comemoração da paz
universal. Os cristãose cristãs assumem na celebração de 1º de ja-
neiro este aspecto, entendendo que a paz é a nota característica do
Reinado que Cristo Jesus inaugurou por sua natividade.

33 Cf Is 9,2.6; Lc 1,33
Ele está no meio de nós! PH

Recordando a Palavra
Nenhum dos textos bíblico-litúrgicos centra-se na figura de Maria,
mas nos conduzem à percepção da glória de Deus que se manifesta
no recém-nascido deitado na manjedoura a quem foi dado o nome de
Teshua (Jesus = Deus salva).**
O primeiro texto, tirado do livro dos Números com o Salmo
Responsorial (66) estabelece o eixo da Liturgia da Palavra em torno
da bênção. Deus pronuncia uma Palavra de bênção sobre os filhos de
Israel, mediante seu servo Aarão. O detalhe aqui é importante: o tex-
to hebraico reza “O Senhor falou a Moisés, dizendo: ' fala a Aarão e a
seus filhos, dizendo”.** No hebraico falar e dizer tem raízes diferentes
e podem ser empregadas como sinônimas, dependendo do contexto
em que aparecem. Em nosso caso, trata-se do uso simultâneo de duas
raízes verbais distintas. Temos certamente duas informações precio-
sas, dois enfoques que se enriquecem: a) “Deus fala”, ele enuncia, isto
é, se manifesta, comunica-se no que profere e tem uma linguagem,
uma maneira própria de se voltar para fora de si mesmo em direção
aos outros, em nosso caso, Israel; b) “Deus diz”, isto é, ele pronuncia
algo, cujo conteúdo é em si mesmo, importante para quem ouve. No
primeiro caso (falar), o enfoque está na ação, e no segundo caso
(dizer), o enfoque está no conteúdo do que é proferido.
O que Deus diz, segundo o texto de Números é uma fórmula de
bênção. Nesta fórmula que deve ser repetida ritualmente** por seus
ministros (Aarão e filhos) é o próprio Nome de Deus — Ele mesmo,
portanto — que será invocado.” A bênção (fórmula) é reveladora da
presença (Nome). O Salmo que segue à leitura esclarece isso com o
primeiro versículo em paralelismo: “Que Deus nos dê a sua graça e a sua
bênção — que sua face resplandeça sobre nós.

34 Cf. Lc 2,16.21 (Evangelho).


35 Este último “dizendo” é omitido pelo Lecionário.
36 Dizemos ritualmente porque esta fórmula será “repetida” cada vez que Aarão e seus filhos
tenham que se dirigir a Israel para invocar a Deus.
37 Cf. Nm 6,27.
PRI PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

A bênção, tema predominante da I Leitura e do Salmo pode ser


identificada no Evangelho: é o próprio Jesus. Isto comporta dizer que
Deus fala em seu Filho, nos abençoa por sua natividade. O versículo da
aclamação ao Evangelho dirá exatamente isto: “De muitos modos, Deus
outrora nos falou pelos profetas; nestes tempos derradeiros nos falou pelo seu
Filho”. O que se vê e o que se conta do menino recém-nascido é assumido
pelos pastores e por Maria como revelação, isto é, como experiência da
Palavra de Deus: os pastores voltam glorificando e louvando a Deus pelo
que tinham visto e ouvido; Maria guardava e meditava tudo no coração.
A segunda leitura precisa melhor em que consiste a graça e a
bênção de Deus: em sermos chamados de filhos e filhas de Deus a
partir da encarnação**. Os frutos que nos chegam pela bênção de
Deus dita em seu Filho no fato-Mistério de sua encarnação tem a
ver com a filiação divina que recebemos por gratuidade e que o texto
exprime em termos de “adoção”. É como se disséssemos: pela encar-
nação a humanidade está tão impregnada de Deus que é chamada
também de “filha de Deus.”

Atualizando a Palavra
O que tudo isso significa para nós e para o mundo no qual vivemos?
A bênção que descrevemos acima, mudando toda a nossa compre-
ensão e atuação, preside nossa consciência e dirige nossas ações. À
salvação eterna é conferida à humanidade inteira, conforme reza a
Oração do dia. O caráter mariano desta celebração liga-se a este fato.
Uma vez habitando o ventre de uma mulher e dela nascendo, a salva-
ção nos alcança e transforma por dentro, elevando à mais alta digni-
dade a nossa humanidade. Por isso se poderá dizer que quanto mais
humanos formos, mais divinos estaremos nos tornando. Mas não por
mérito nosso ou razões humanas, mas pelo querer de Deus. Afinal, é
do seio de uma “Virgem” que nos vem tão grande evento.

38 Cf. Gl4,5-7.
Ele está no meio de nós! pu

O mundo novo que nos vem pelo Príncipe da Paz” é constituído


por homens e mulheres novos, humanizados por Deus, por sua Palavra,
por seu agir, por sua presença. No início do ano civil, dia dedica-
do a honrar a paz, é salutar nos deixar interpelar por um Deus que
pergunta a quantas anda nossa humanidade. Num tempo em que é
tão propício e comum exteriorizar votos de prosperidade, cai bem
verificar se o centro vital do homem e da mulher de hoje estão novos,
resplendentes. Se são capazes de fato, do “canto novo” que o versículo
da antífona de entrada recorda: “Cantai, cantai ao Senhor, um canto
novo um louvor!”.*0

A Palavra e a Eucaristia
Maria, lembrada nesta solenidade como Mãe de Deus porque o Ver-
bo nela fez morada, é imagem da Igreja que traz consigo a Palavra de
Deus e a apresenta ao mundo. Assim, é Mãe de Deus, mas também
da Igreja, conforme reza a Oração depois da comunhão. À comu-
nidade dos fiéis, qual Corpo de Cristo, é gerada sempre e de novo
quando celebra a Eucaristia. O que se diz em mistério da Mãe do
Senhor, se cumpre na Igreja em oração.
Quando na ação de graças os olhos dos fiéis se voltam para
Deus e suas mentes nele são postas — Corações ao Alto! O nosso
coração está em Deus — significa que, olhando ao redor, contem-
plando o mundo, esses mesmos olhos reconhecem nele a Palavra de
Deus. Seu falar habita tudo o que é dito como sinônimo de bênção.
À paz proclamada no interior de um mundo cada vez mais violen-
to; a fraternidade afirmada numa sociedade que progressivamente
cultua o individualismo; a solidariedade exercitada em contextos de
severa opressão; a tolerância praticada em situações em que impera

39 Cf. Antífona de Entrada.


40 À CNBB propõe como canto de Abertura a Antífona do Missal Romano segundo a versão de
Reginaldo Veloso (Nasceu-nos hoje um menino), que traz os versos do Salmo 97 agrupados
em estrofes métricas.
HI PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

o desrespeito cultural e religioso são todas linguagem de Deus, seu


falar, sua epifania. Quando a Igreja celebra, experimenta isso em
modo simbólico, sacramental. Se nutre dessa verdade, para que,
incorporada, transforme o mundo, o humanize a partir de Deus.
A bênção, dita em fórmulas várias, se desdobra em existência, em
modo de ser e se relacionar. O que se exercita ritualmente no Ano
litúrgico se cumpre existencialmente no ano civil. E a paz pode so-
breviver mais um dia, quando é honrada com toda pompa e circuns-
tância. É o tempo de Deus.

Sugestões para a celebração

1. Para se criar um ambiente orante, é oportuno cantar o se-


guinte refrão meditativo: “Deus te salve casa santa, onde Deus fez a
morada. Em teu seio encontrou abrigo a Palavra encarnada”.

2. À celebração da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus


pode começar com a Antífona de Entrada na versão do Hinário Li-
túrgico da CNBB (Nasceu-nos hoje um menino) que aproveita e am-
plia a proposta do Gradual Romano para esta ocasião.
3. O Ato penitencial seja feito segundo o formulário c, n. 1 do
Missal. A seguir, apresentamos uma versão metrificada para o canto:

Senhor, Filho de Deus


Nascido de mulher
Irmão e Redentor,
De nós tem compaixão!

Senhor tem piedade, Senhor tem piedade.

Cristo, Filho do homem,


Conheces a fraqueza,
De todos os mortais,
De nós tem compaixão

Cristo tem piedade, Cristo tem piedade.


tle está no meio de nos! PAY

Senhor, Filho do Pai


Primeiro e Derradeiro
Em ti nós somos filhos
De nós tem compaixão.

Senhor tem piedade, Senhor tem piedade.


A melodia pode ser encontrada no site: www.calbh.com.br

4. O canto de Comunhão “Da Cepa brotou a rama” está em


perfeita sintonia com o mistério celebrado e coopera para uma frutu-
osa participação na Eucaristia.
5. Nos ritos finais, lembre-se de fazer uma saudação à Virgem
Maria com um canto apropriado.
6. À bênção solene para o início de ano é muito propícia. Mas
também aquela denominada “Bênção de Aarão”, que é proposta no
Missal para o Tempo Comum, é uma boa escolha, sobretudo porque
coincide com o texto da primeira leitura.
EPIFANIA DO SENHOR
8 de janeiro de 2012

AO VEREM DE NOVO A ESTRELA, OS MAGOS SENTIRAM UMA ALEGRIA MUITO GRANDE”.

Leituras: Is 60,1-6 / S171(72),1-2.7-8.10-11.12-13 (R/. cf.11)


Ef 3,2-3a.5-6 / Mt 2,1-12

Situando-nos brevemente
“O de casa, ô de fora! Maria vai ver quem é!” Quem não conhece e
não se empolga com estas primeiras linhas da cantiga de reis? Em
muitas partes do Brasil, nesta época do Natal pipocam folias, que
percorrem presépios visitando o Menino-Deus nascido. O costu-
me dos reisados veio para o Brasil com os portugueses. Sua origem
tem a ver com o anúncio feliz, de porta em porta, do nascimento do
Messias.
Como festa litúrgica, a Epifania deita raiz na tradição das Igrejas
do Oriente, onde se identificava com a celebração da Natividade de
Jesus, firmada no Ocidente (Roma) no dia 25 de dezembro. Com o
passar do tempo, entrou para o calendário romano sob o título “Epi-
fania” e também “Teofania”. O aspecto ressaltado, porém, não é mais
a natividade, mas a manifestação da divindade de Cristo a todos os
povos. Assim, entra em jogo a figura dos Reis Magos. Como vere-
mos, a Liturgia da Palavra, a eucologia e demais elementos da prece
litúrgica enfocarão claramente este aspecto.

Recordando a Palavra
A Liturgia da Palavra (LP) se abre com o texto profético de Isaías
(60,1-6). No contexto bíblico, é uma poesia de consolo à comunidade
Ele está no meio de nós! 6.

que retorna do cativeiro. O versículo 4 nos traz uma referência clara


a esta situação: “Levanta teus olhos ao redor e vê: todos se reuniram e
vieram a ti; teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas carregadas
nos braços.” Jerusalém acolhe os seus que foram deportados e resplan-
decente vibra pela justiça de Deus. Os demais textos da LP nos dão
uma moldura que desenvolve o teor da profecia de Isaías numa dire-
ção muito precisa, a saber, pelo versículo da aclamação ao evangelho:
Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor! Vejamos:
O Salmo Responsorial conduz nossa atenção para a adoração
que as nações todas devem tributar a Deus que se fez presença em seu
Rei. Obviamente, um salmo messiânico. O refrão nos dá o mote: 4s
nações de toda terra hão de adorar-vos, ó Senhor”; também os versículos
10 e 11 apontam nesta direção: “Os reis de Tarsis e das ilhas hão de vir
(...) e também os reis de Seba e de Sabá (...) os reis de toda a terra hão de
adorá-lo.” Agrupados numa estrofe pela liturgia, temos um paralelis-
mo (procedimento poético próprio da literatura oriental, dentre elas
a hebraica) que em forma crescente aponta para o reconhecimento,
por parte de todas as nações, da soberania de Deus. Mas, não se trata
de uma soberania abstrata. Ela é dada a conhecer no Rei, a quem o
Senhor Deus conferiu seus poderes (cf. 81 71,1).
Guiados pela meditação provocada pelo Salmo, voltamos à pri-
meira leitura e descobrimos no versículo 3 o pólo de atração de toda
a poesia de Isaías: “Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua
aurora”. À luz é de Jerusalém, mas sua origem é o próprio Deus, pois
sobre ela apareceu a glória do Senhor (cf. Is 60,1). Como no caso do
Salmo em seu primeiro versículo, temos no texto de Isaías um aceno
à sacramentalidade do Rei e de Jerusalém, respectivamente, nos quais
se reconhece o resplendor divino.
No trecho do Evangelho escolhido para a ocasião, uma luz paira
sobre o lugar do nascimento de Jesus. Lendo-o a partir da primeira
leitura com seu salmo, é-nos possível perceber como se cumpre em
Jesus o que se anuncia acerca de Jerusalém e do Rei-Messias, con-
forme exposto acima. O Messias é a própria “aurora” de Deus, seu
EX PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

despontar, sua revelação. É este resplendor divino que atrai e guia


os Reis Magos. Não há como negar uma evidente relação com a ex-
pressão “Sol Nascente” do Benedictus, entoado pela Igreja sempre ao
amanhecer de cada dia no Ofício Divino. Sem falar que a tradição
judaica se refere ao Messias como “estrela” de extraordinário fulgor
(cf. Nu 24,17). De fato, como imagem de Cristo, “essa estrela vence
o sol em fulgor e em beleza e nos diz ter vindo à terra Deus em nossa
natureza” (Hino de Laudes).

Atualizando a Palavra
Para esta solenidade, o versículo que abre a Oração da Manhã, quan-
do a esta precede o invitatório, diz exatamente: “A Jesus que se revela,
vinde todos, adoremos”. O que se diz acerca dos Reis de toda terra e
de todas as nações (I leitura e salmo responsorial) se aplica à comu-
nidade dos fiéis em celebração, como sinal do que se espera e deseja
para a humanidade inteira. Com as palavras de Leão Magno, grande
teólogo deste tempo litúrgico, podemos dizer: “Entrem, pois, todos
os povos, entrem na família dos patriarcas, e recebam os filhos da
promessa a bênção da descendência de Abraão (...) que todos os po-
vos, representados pelos três Magos adorem o Criador do universo”.
Seguindo esta perspectiva, podemos citar São Paulo em sua carta
aos Efésios quando afirma: “Este mistério, Deus não o fez conhecer
aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora, pelo
Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos, membros do
mesmo corpo” (II Leitura). Assim como a glória de Deus paira so-
bre Jerusalém e os poderes de Deus se tornam evidentes no governo
justo do Rei, atraindo a atenção e o reconhecimento de todos os reis
e nações da terra, na Igreja, comunidade dos fiéis e corpo de Cristo,
rebrilha a ação majestosa do Senhor. À imagem que a Igreja tem de
si mesma, segundo o Concílio Vaticano II é exatamente esta: de ser
como que “sacramento da união íntima com Deus e da unidade de
todo o gênero humano” (Lumens Gentium, n. 1). Cristo é a Lumen
Ele está no meio de nós! Jeiy)

Gentium (a Luz dos Povos) e a Igreja participa desta sua condição.


Mas não em um sentido espetaculoso e triunfante, como muitos ain-
da procuram abordar. O esplendor de Cristo se dá a conhecer, sobre-
tudo, quando é dada a liberdade ao indigente que suplica e ao pobre
que ninguém quer ajudar e se presta o auxílio (cf. Salmo). Quando
as pessoas são arrancadas das trevas da morte e passam à luz de uma
nova vida. Certamente é assim que “todos os povos serão neles aben-
çoados” (Responsório Breve — II Vésperas).

Ligando a Palavra e a Eucaristia


Trazendo, mais uma vez à lembrança a folia de Reis em seu canto mais
tradicional e conhecido, unem-se duas perspectivas: a do nascimento
e da morte na cruz. É surpreendente como a religiosidade popular
manteve unidos estes dois pólos que regem a vida cristã. À dimensão
pascal do Natal fica assegurada: “O de casa, ô de fora... São José tam-
bém cantou neste dia de alegria, mas depois de muito tempo, São José
também chorou. Quando viu seu filho morto pregado numa cruz por
nosso amor”. Mesmo sendo Natal, celebramos a Páscoa. Embora es-
tejamos jubilosos com o nascimento não omitimos a paixão. À oração
sobre as oferendas alude a este fato claramente: “Olhai com bondade
a vossa Igreja que já não vos apresenta ouro, incenso e mirra, mas o
próprio Jesus Cristo, imolado e recebido em comunhão nos dons que
o simbolizam”.
No século VIII, o Ordo Romanus XV que recolhe os costumes ro-
manos quanto à celebração da liturgia, nos fala da celebração do Batismo
por ocasião da solenidade da Epifania, como herança ainda do costume
grego, mais tarde transferido para a Páscoa. O interessante é perceber
o quanto se entende da perspectiva da participação da Igreja na luz de
Cristo. Pelo batismo, os homens e mulheres iluminados pelo Evangelho
se tornam “teofanias” vivas. Na Eucaristia, alimentam esta luz da qual
devem dar testemunho. Assim, esta celebração se torna a ocasião em que
o Filho é revelado (cf. Oração do Dia). Entende-se que por Ele e n'Ele a
[E PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Igreja também é revelada, pois fomos chamados das trevas à luz admirável
para ser luz para os irmãos (cf. Bênção Solene da Epifania).
É muito bem-vindo o costume de se anunciar a data da Páscoa
e demais festas do Senhor por ocasião da solenidade da Epifania. O
Ano Litúrgico é uma das maneiras privilegiadas da Igreja manifestar
a luz de Cristo na qual está mergulhada. Aos fiéis que escutam com
atenção a publicação dos mistérios a serem celebrados em datas pre-
cisas do ano civil, segundo o tempo cronológico, deveria ficar patente
a alegria de poderem “acolher com fé e viver com amor o mistério”
que celebram. Afinal, será nas lutas de cada dia do ano que deverão
reconhecer o esplendor da face de Cristo manifestando-se.

Sugestões para a celebração


1. O canto de abertura previsto no Missal é: “Eis que veio o
Senhor dos senhores, em suas mãos o poder e a realeza”. O Hinário da
CNBB nos oferece uma boa versão, gravada no CD Liturgia V.
2. À fim de ressaltar o caráter pascal desta Solenidade, pode ser
oportuno o acendimento solene do Círio Pascal, que pode permanecer
junto à Pia Batismal ou ao Ambão. Logo após o sinal da cruz e sau-
dação, um ministro/a acende o Círio e depois recita a seguinte oração:
Bendito sejas tu, ó Cristo,
Luz que vem do Pai
Para retirar-nos das trevas da morte
E guiar-nos para o Reino de Paz.
3. Ao final, enquanto são acesas as demais velas (altar, apósto-
los — onde houver ) retoma-se o canto de entrada.
4. Prepare-se, de maneira solene, a proclamação das Calendas,
conforme o Diretório Litúrgico da CNBB? cf. página. Pode ser feita
como conclusão à homilia ou em seguida à oração depois da comunhão.
5. Substitua-se o Ato Penitencial pela bênção da água e asper-
são para evidenciar a participação da assembleia na vida de Cristo,
Ele está no meio de nós! BOA

que pelo batismo é enviada ao mundo para ser sinal do Cristo-Luz.


A oração de bênção da água está prevista no Missal Romano.
6. Seguindo a mesma lógica do Graduale Romanum que traz
como Antífona do Canto das Oferendas o Salmo 71,10-11, focando
o convite às nações para que adorem o Senhor, sugerimos o canto
Adeste Fidelis, cujo refrão insiste neste no mesmo convite, que se es-
tende aos cristãos de todos os tempos.
7. Aproveite-se a bênção solene para esta ocasião, prevista no
Missal Romano.

8. Depois da bênção final, um grupo da comunidade pode


entoar o Canto de Reis, enquanto a comunidade se dirige para o
presépio, antes de deixar a igreja. Para esta folia pode-se preparar
instrumentos musicais populares (pandeiro, tamborim, chocalhos),
indumentárias festivas e dança. As crianças da catequese e os jovens
podem ser envolvidos, de modo que valorizem este traço de nossa
cultura e religiosidade.
BATISMO DO SENHOR
9 de janeiro de 2012

"BATIZADO POR JOÃO NO RIO JORDÃO... AO SAIR DA ÁGUA, VIU O CÉU SE ABRINDO”

Leituras: Is 55,1-11; Is 12; 1Jo 5,1,9; Mc 1,7-11

Situando-nos brevemente
A Festa do Batismo do Senhor situa-se entre o Tempo do Natal e
o início do Tempo Comum. De um lado, vemos o final do ciclo da
Encarnação, período em que a manifestação do Senhor aprofunda o
sentido das comemorações natalinas; de outro, vislumbramos a che-
gada dos primeiros domingos do Tempo Comum, tempo em que a
manifestação do Senhor se prolonga, mas apresentando laços com a
missão de Jesus e o chamamento dos discípulos. Essa primeira parte
do Tempo Comum também nos introduz no mistério da Páscoa. O
Evangelho de João nos ajuda a compreender melhor isso: “A Pala-
vra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela — mas o
mundo não quis conhecêla. Veio para o que era seu, e os seus não a
acolheram” (Jo 1,10-11). É neste contexto que devemos considerar
as leituras e orações da liturgia, aproximando-nos do mistério que
celebramos nesta festa.

Recordando a Palavra
O batismo de Jesus no Jordão narrado pelo evangelista Marcos tem
como base Is 63,11.19, onde se evoca a figura de Moisés, da páscoa
judaica, e a abertura do céu como imagem da desejada ação divi-
na em favor do seu povo. Em Marcos, Jesus é apresentado como
o novo Moisés e pastor que vai conduzir o povo na nova páscoa a
Ele está no meio de nós! [cu

ser realizada com o seu verdadeiro batismo: a cruz e ressurreição


(cf. Mc 10,39). Neste sentido, o evangelista chama atenção aos
dois movimentos: Jesus que se faz batizar (mergulhar, submergir
como sinal de sua kênose, a morte) e que sai da água (emergir como
sinal da sua glorificação, a ressurreição). Os céus se abrem com a
proclamação da filiação divina de Jesus. É o testemunho maior
de que fala a segunda leitura (v. 9). Por um lado, ele é mais que o
servo Moisés (cf. Is 63,11) e mais que o rei (cf. 812,7); por outro, o
contraste com o homem de Nazaré da Galileia (v. 9), que se solidari-
za com os demais ao se submeter ao batismo de João, reforça o cará-
ter pascal do evento narrado. São as duas faces do mesmo aconteci-
mento salvífico: aprofundamento da encarnação (Natal) que aponta
na direção da Páscoa que aqui se anuncia nas imagens batismais.
À inspiração de Isaías 63,19 dada ao trecho evangélico ressoa na
primeira leitura: os céus se abriram e Deus enviou sua Palavra para
a missão de fecundar a terra. À Palavra que desceu e se encarnou,
cumpriu a sua missão e voltou ao seio do Pai na glorificação. O salmo
chama a atenção para a intervenção divina, sua presença na história:
“é grande em vosso meio o Deus santo de Israel”,

Atualizando a Palavra
O testemunho de João, mencionado na antífona da comunhão, confes-
sa Jesus como Filho de Deus. Tal afirmação, que também é a síntese do
Evangelho de Marcos (cf. Mc 1,1; 15,39), retoma a proclamação celeste
no evangelho desta festa. À filiação de Jesus é modelo e princípio da filia-
ção dos crentes, chamados a perseverar na sua vocação filial, cumprindo o
mandamento do amor (oração do dia). À segunda leitura insiste neste as-
pecto: crer em Jesus significa fazer fielmente a vontade de Deus, prova de
amor por aquele que nos qualificou como filhos. Guardar o mandamento
do amor é viver a vida em Cristo, razão do nosso batismo e da nossa fé.
Tal comunhão, concedida pelo sacramento primordial que re-
cebemos, faz a comunidade ouvir junto a ele a solene proclamação:
09) PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

“Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”. Os


cristãos são filhos amados de Deus, pois em Jesus são contempla-
dos pelo Pai com o mesmo amor e bem-querer. Os cristãos são
filhos de Deus no Filho Jesus. Sobre eles também se abrem os
céus: Deus continua sua ação salvadora na vida da comunidade e
por meio dela. No exercício do amor comunitário e missionário
prolonga-se o bem-querer divino pelo mundo.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


No rito da missa dominical, o ato penitencial, quando substituído pelo
rito da aspersão, faz-nos recordar o nosso próprio batismo, manifestan-
do mais claramente a vocação de todo cristão: filhos e filhas de Deus, no
Filho Jesus. Somos participantes do mistério pascal que nos fez morrer
para o pecado e a morte e renascer para uma vida nova. Homens e mu-
lheres chamados a prolongar o amor de Deus manifestado em Jesus. Na
celebração do rito da aspersão temos a oportunidade de retomar a des-
cida de Jesus no Jordão (sua morte) e sua subida do Jordão (glorificação).
Mas não só. Recordamos também a nossa própria morte e ressurreição
como processo que se iniciou no nosso batismo. O cristão, renascido
das águas, é chamado a viver sob o signo pascal toda a sua existência.
Ele deve reconhecer não somente na água, no círio, na cruz, nos cantos
e na liturgia o núcleo da sua fé, a morte e ressurreição do Senhor. Deve
também reconhecer na sua história pessoal, familiar e comunitária o
prolongamento da morte e ressurreição de Jesus: sua descida e mergulho
na vida humana e sua subida e emersão para a vida divina.
Em cada sofrimento, angústia, dor e limitação que se vive, é o Cris-
to que prolonga sua paixão e morte em nós e em nossos irmãos. Em
cada vitória, conquista e superação é a sua ressurreição que continua a
arrancar dos sepulcros as nossas vidas e as vidas daqueles que se encon-
tram ameaçados pela violência, fome, doenças e pelo pecado. Esse pro-
cesso pascal é afirmação contínua do amor e bem-querer que Deus nos
tem. No rito da aspersão esse amor se faz manifesto e acessível a todos.
“pa
Ele está no meio de nós!

Sugestões para a Celebração a


1. O Canto de Abertura, pode ser o Salmo 2, “Reis e nações”,
gravado no CD “Liturgia V”, que além de ligar ao mistério do Natal
com o refrão (Glória ao Senhor, nas alturas sem cessar...) manifesta
em um dos versículos aquilo que se proclama no evangelho: “Tu és
meu Filho, meu Filho a ti hoje eu gerei...”.
2. À saudação presidencial “f” do Missal, tirada da Primeira
Carta de Pedro, manifesta a qualificação da assembleia para o culto
cristão, pois foi mergulhada e emergida no mistério da Páscoa de
Cristo.
3. Neste dia, seria muito conveniente substituir o ato peniten-
cial pelo rito da aspersão que faz recordar o batismo. O rito pode ser
acompanhado por um canto apropriado (“Banhados em Cristo”, ou
c
Quem não renascer da água”).
e 2 3»

4. Às leituras, são verdadeiro anúncio do bem-querer de Deus.


Na liturgia da Palavra, os céus se abrem e Deus nos fala por meio do
seu Filho, pois é ele mesmo quem fala quando na Igreja se proclama
as Escrituras (cf. SC 7). Este é o motivo de uma acurada preparação
espiritual e treino para o ministério dos leitores.

5. À festa tem prefácio próprio. Por isso, as orações eucarísticas


a serem usadas só podem ser a 1, IL ou III. As demais sejam preserva-
das em sua integridade para outras celebrações dominicais do tempo
comum.
2º DOMINGO DO TEMPO COMUM
15 de janeiro de 2012

“RABI, ONDE MORAS? JESUS RESPONDEU: “VINDE VER”.

Leituras: ISm 3,3b-10.19 / Sl 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10 (R/.8a.9a)


ICor 6,13c-15a.17-20 / Jo 1,35-42

Situando-nos brevemente
Findou-se o tempo do Natal, mas a sua luz continua a clarear a ex-
periência de Deus que a comunidade é chamada a fazer. O Tempo
Comum se abre como tempo transitório entre o Natal e a Quaresma,
recordando-nos o mistério da revelação de Deus e da rejeição por
parte da humanidade. À luz “veio para os seus, mas os seus não a
acolheram” (Jo 1,11). Este versículo do quarto Evangelho apresenta
bem o caráter desses domingos comuns que antecedem a Quaresma.
Mas o período revela mais coisas do Mistério de Deus: como tempo
que, de certo modo, prolonga a luz do Natal. O mistério de Cristo
vai se manifestando (epifania) à humanidade na pessoa do homem de
Nazaré. Tal manifestação acontece na história da humanidade (era
por volta das quatro da tarde), entre os mais simples (pescadores) e de
modo inteiramente acessível (vinde ver).
Mas a manifestação de Deus nem sempre é clara aos nossos olhos
ou direta: Deus não se impõe! A revelação passa pela mediação das
pessoas, dos sinais e dos acontecimentos. Jesus é o primeiro desses
sinais: um homem da aldeia de Nazaré (igual na raça, na cultura, na
história...) que é apresentado como “Cordeiro de Deus” e Messias. “De
Nazaré pode sair algo de bom?”, nos dirá o Evangelho (cf. Jo 1,46).
Na relação mediada pelos sinais, muito daquilo que se revela, pode
permanecer oculto e o processo de reconhecimento de Deus acaba
Ele está no meio de nós! pes

se confundindo com o reconhecimento do homem. Nesta relação de


revelação e ocultamento fica a pergunta: “o que realmente estamos
buscando?”

Recordando a Palavra
Quando Jesus passa diante de João e de seus discípulos, a apre-
sentação “eis o Cordeiro de Deus!” parece supor uma preparação,
única coisa que pode justificar o fascínio e a atração imediata. Já
falavam do Cordeiro de Deus? Já estavam à sua espera? À passa-
gem de Jesus deixa de ser assim casual, tornando-se narrativa sin-
tética de uma preparação mais profunda por parte dos discípulos,
para acolhê-lo. Jesus ao perceber que está sendo seguido, pergunta
o que buscavam? À resposta, mais que um interesse pelo endere-
ço do homem que seguiam, tinha um valor que assim poderia ser
descrito: “qual é a tua vida, o teu modo de existir, o mistério da
tua pessoa?”.'! À resposta de Jesus “vinde ver” responde à demanda
dos discípulos. O verbo “ver” tem significado especial no Evangelho
de João, e o texto deste domingo situa-se entre dois relatos onde o
mesmo verbo ocorre de forma marcante: “e nós vimos a sua glória”
(Jo 1,14), “Verás coisas maiores que estas” (Jo 1,50b). Mas a vida de
Jesus, seu modo de existir e o mistério de sua pessoa se revelam na
medida em que seus discípulos permanecem com ele (cf. v.39). No
quarto Evangelho, os sinais que principiam com as bodas de Caná,
são reveladores da sua pessoa: passam pela visão física e transportam
para uma realidade maior que confirma a fé dos discípulos (visão es-
piritual) e manifesta a glória de Deus. É tal experiência que suscita o
encantamento e a atração por Jesus, pois produzem uma transforma-
ção do discípulo e da comunidade dos seus seguidores.

41 R.FABRIS, B.MAGGIONI, Os evangelhos


II, Col. Bíblica 2, São Paulo: Loyola, 1992, p. 296.
IS PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Atualizando a Palavra
À primeira leitura narra o chamado de Samuel. O insistente chamado
por parte de Deus reforça a dificuldade do jovem em identificar quem o
chama. De fato, o versículo 7 afirma que Samuel ainda não conhecia o
Senhor, muito embora ele estivesse dormindo junto à arca, no Templo.
Aqui está a chave da questão: não o chamado em si, mas o reconheci-
mento de Deus que se dá por meio de outro. Só depois é que o jovem
responde já iniciado pela percepção de Eli. O mesmo se dá com os
discípulos: os primeiros só reconhecem Jesus quando João afirma,
“eis o Cordeiro de Deus”. Em seguida são eles que apresentam Jesus
a Pedro, o conduzido ao Mestre. O anúncio aos demais discípulos
aparece no canto de aclamação ao evangelho: o foco recai sobre quem
é Jesus e não sobre o chamamento ou o seguimento.
A Palavra de Deus nesta celebração chama a atenção para as-
pectos importantes da vida cristã. Nosso encontro com o Messias, o
Cordeiro de Deus, se dá pelas mediações da comunidade, nos ami-
gos, dos sinais e ritos da celebração. Eles nos introduzem no caminho
do seguimento e nos revelam quem é Jesus. Por isso, é importante
avaliar qual a revelação de Deus que a comunidade cristã, a partir da
sua vida e da sua missão, está levando para os outros.
Uma vez inseridos nos caminhos de Jesus, e tomando parte no
seu convívio, o que e a quem buscamos realmente? Como Jesus não
está mais visível entre nós, o reconhecimento da glória de Deus no
sacramento dos irmãos, sobretudo entre os mais sofridos, torna-se
uma exigência do seguimento. O convite de Jesus permanece: “Vinde
e vede”. Não sejamos nós aqueles a dizer: “E algo de bom pode vir
daí?”

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


O rito da apresentação do pão e do vinho é acompanhado pelas pa-
lavras “Felizes os convidados...”. Quem preside pode substituir esta
Ele está no meio de nós! KAU

fórmula mais usual por outra opção. Entre as demais opções propostas,
consta aquela que retoma o salmo 33(34)9, o mais antigo canto de co-
munhão da Igreja: “Provai e vede como o Senhor é bom, feliz de
quem nele encontra o seu refúgio”. O cálice e a patena com o pão são
sinais humildes e simples da glória de Deus. Mas sua simplicidade
nos remete a uma realidade mais profunda e importante: a glória de
Deus continua a se manifestar em nossa história, onde Jesus nunca
passa casualmente. Na fragilidade do pão partido e do vinho com-
partilhado, ele prolonga seu convite a conhecer sua morada, isto é:
seu modo de viver, o mistério da sua vida. “Provai e vede...”, quase
igual à resposta de Jesus no evangelho (vinde e vede!), tem então no
altar sabor de intimidade e de reconhecimento. Resposta ao nosso
interesse de buscá-lo, segui-lo, conhecê-lo. À visão que contempla o
pão reconhece, pela fé, o Cordeiro de Deus.

Sugestões para a celebração


1. À celebração pode iniciar fora do espaço sagrado com uma pe-
quena procissão para o interior da Igreja. O canto de entrada pode ser
o salmo 98(97), na versão do Ofício Divino das Comunidades: “Entoai
ao Senhor novo canto”. O refrão “então os povos viram” vai manifestar,
já desde o início o convite de Jesus nos evangelhos, “Vinde e vede”.
2. Após a saudação de quem preside e o sentido litúrgico expos-
to pelo animador da celebração, o presidente convida a comunidade
a recordar a vida com palavras semelhantes a estas: “Meus irmãos e
irmãs, a glória de Deus se manifesta diante dos nossos olhos em cada
acontecimento das nossas vidas e na história da humanidade. Recor-
demos os fatos que nos fazem vê-la brilhar em nosso meio”. Com o
convite, a comunidade pode estar recordando fatos reveladores da
glória de Deus em seu meio.
3. Oato penitencial será substituído pela procissão de entrada.
4. O prefácio do Tempo Comum IX, com a oração eucarísti-
ca Il ou terceira, ajudará a revelar o sentido da celebração. Note no
FAN PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

prefácio as expressões “ver o dia sem ocaso” e “contemplaremos vossa


face”, que realizam e fazem ressoar em forma laudativa o que foi
anunciado pelo Evangelho (“Vinde e vede”).
5. À apresentação do pão e do vinho deve usar a fórmula do
salmo 33(34),9 que ajuda a ressaltar o mistério que celebramos, con-
forme exposto no comentário homilético acima.
6. A bênção solene do Tempo Comum 1, ao invocar que Deus
nos mostre a sua face, na verdade confirma o desejo dos discípulos de
conhecer mais Jesus e Deus que ele revela.
3º DOMINGO DO TEMPO COMUM
22 de janeiro de 2012

ELES, DEIXANDO IMEDIATAMENTE AS REDES, SEGUIRAM A JESUS

Leituras: Jn 3,1-5.10 / SI 24(25),4ab-5ab.6-7bc.8-9 (R/. 4a.5a)


ICor 7,29-31 / Mc 1,14-20

Situando-nos brevemente
O Ano Litúrgico é Cristo, afirma Bergamini. Bem mais do que um
calendário que coleciona festividades, é uma realidade sacramental,
símbolo do Cristo que se faz, Ele mesmo, caminho de conversão.
Assim, começamos o Tempo Comum com um apelo firme e exigente
de conversão ao Reinado de Deus.
Vislumbramos durante todo o Ano Litúrgico as passagens de Je-
sus por entre as pessoas, atravessando cidades e povoados, percorrendo
seu país de uma extremidade a outra rompendo fronteiras e criando la-
ços apoiados na fé do Deus a quem chama de Pai. Deste modo, diante
de nossos olhos, o tempo cronológico vai sendo vivido na perspectiva
litúrgica e se torna itinerário para conformar a nossa existência ao Es-
pírito de Jesus no qual fomos mergulhados pelo Batismo.
À cada semana, o Domingo quer ser esta “brecha” de acesso ao
Mistério que impregna tudo e todos, mas que nos escapa em meio às
tribulações cotidianas. Por isso, no intuito de sermos reintroduzidos na
dinâmica do Reinado de Deus ao celebrarmos o Dia do Senhor, a Igre-
ja, através dos ritos iniciais da Eucaristia nos exorta: “No dia em que
celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, também nós
somos convidados a morrer ao pecado e ressurgir para uma vida nova”.

42 Primeira fórmula de convite ao ato penitencial.


LEI PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Aclvento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Recordando a Palavra
À Tleitura (Jn 3,1-5.10) pode ser lida em chave tipológica: aquilo que
se diz de Jonas se realiza em Jesus. Jonas, a mando de Deus põe-se
a caminho para anunciar a palavra de conversão que lhe é confiada;
Jesus se põe a caminho na Galileia para anunciar a plenitude dos tem-
pos, a iminência do Reinado de Deus e a conversão. Temos, assim,
estabelecido o enfoque da Liturgia da Palavra e o elo entre 1 Leitura
e Evangelho. O Salmo Responsorial aprofunda esta relação quando
insiste no conhecimento das estradas do Senhor, que dão acesso à ver-
dade e à justiça. Mas, a ligação fica mais obvia ao afirmar a misericór-
dia e compaixão divinas que conduzem o pecador ao bom caminho.
A I leitura (1Cor 7,29-31) encaminha o nosso olhar para a noção
do tempo e sua relação com a realização do Reinado de Deus. Por
isso, São Paulo comunica à comunidade de Corinto a urgência da
conversão. Resumiríamos suas preocupações em duas afirmações que
emolduram seus conselhos: irmãos, “o tempo está abreviado (...) pois
a figura deste mundo passa”. Examinando melhor a primeira expres-
são, descobrimos que Paulo não está falando do tempo cronológico, pois
não usa seu equivalente grego “chronos”, mas “kairós” que significa, nos
escritos paulinos, uma relação entre o mundo presente e o seu destino
aos olhos de Deus, isto é, a salvação. À afirmação “o tempo está curto”
refere-se à proximidade da salvação que exige a relativização de todo e
qualquer “esquema” de vida. Neste sentido, nossa atenção recai sobre a
segunda expressão — “a figura deste mundo passa”. À palavra grega usada
para “figura” é “schema”, que pode ser traduzida por esquema, forma mas
também por atitude.** E uma palavra rara no NT, aparece só duas vezes.
Tendo em conta a primeira leitura em que se reconhece a acolhi-
da da palavra de Deus anunciada por Jonas e a conversão dos ninivi-
tas, o mesmo se espera-da comunidade cristã perante a iminência do

43 1Cor 7,29.31
44 Cf. BALZ Horst. SCHNEIDER, Gerard. Diccionario Exegético del Nuevo Testamento.
Volumen II. Salamanca: Ediciones Sigueme, 2002, p. 1630.
Ele está no meio de nós! Es

Reinado de Deus e da manifestação de sua Palavra salvadora. E uma


maneira de afirmar a necessária relativização do mundo, que deverá
ceder lugar a um outro mundo pautado no Governo de Deus.
No Evangelho, o anúncio do Reinado de Deus ao qual se tem
acesso pela conversão, exige a destruição de um tipo de existência
para dar lugar a outra; aquela que o seguimento de Jesus exemplifi-
ca e antecipa: os pescadores deixam as redes, os pais e empregados,
leia-se, abandonam um “esquema” de vida em função da salvação
contemplada em Jesus.

Atualizando a Palavra
À leitura tipológica dos textos bíblicos nos ajuda a perceber a boa
ação de Deus na história, oferecendo por sua palavra a oportunidade
de regeneração, na qual os seres humanos poderiam voltar à sua con-
dição original, ao “esquema” primordial intuído pelo Criador. Ho-
mens e mulheres de outras épocas souberam captar o interesse divino
de sermos cuidados por Deus e esta percepção os levou a assumir
mudanças fundamentais na maneira de conduzir suas vidas. E isto
se tornou mais claro, pleno e disponível para nós em Jesus Cristo e
sua Páscoa.
À aclamação ao Evangelho, pelo vocativo “irmãos”, nos indica
que esta experiência situada no passado é também uma possibilidade
para nós que estamos no limiar da plenitude dos tempos: “O Reino de
Deus está perto! Convertei-vos, irmãos, é preciso! Credes todos no Evan-
gelho”, À Liturgia deste domingo, nos faz pensar que toda ordem
deve ser posta em crise perante o Evangelho. Todo esquema deve ser
posto sob suspeita, a fim de que se verifique se sua direção está con-
forme o amor de Deus que, de diversas formas se mostrou na história
e em Jesus se tornou tão óbvio que é capaz de modificar nossa vida,
frutificando em boas obras.”

45 Cf. Oração do Dia.


9] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Ligando a Palavra com a celebração


Antes do Concílio Vaticano II não havia um “Ato Penitencial” da
assembleia. Tinha-se um rito penitencial particular, feito pelo pa-
dre ao pé do altar e consistia, basicamente, no uso de fórmulas de
contrição, como o Confiteor (Eu confesso). Com a reforma da Litur-
gia, incrementou-se o Rito Penitencial com três formulários, trans-
formando-o numa ação ritual de toda a assembleia e não apenas do
padre. Sua colocação antes da Liturgia da Palavra (ou antes da Litur-
gia Eucarística, como se pretendia em alguns esquemas da reforma)
visa que os fiéis tenham em conta a necessária crise de sua existência
perante o Mistério Pascal de Cristo. Favorece que se experimente
ritualmente o que se anuncia com as narrativas e profecias bíblicas
para que se desdobre na vida: por em debate os nossos esquemas e
atitudes vaidosos perante aquele que é único em majestade e beleza.“
Só se pode celebrar “dignamente” os Mistérios, conforme nos lembra
um dos convites do Ato Penitencial, se vislumbrarmos no horizonte
da celebração a transformação de nós mesmos segundo o Evangelho.
Com isso, se espera a certeza de que “tendo recebido a graça de uma
nova vida, sempre nos gloriemos dos vossos dons”.”

Sugestões para a celebração


1. Nos ritos iniciais, sugere-se valorizar o Ato Penitencial, de
modo que a assembleia tenha presente o horizonte para o qual deve
encaminhar seu louvor e ação de graças: a transformação de sua vida
à altura do Evangelho. Neste caso, o primeiro ou segundo formulá-
rios se apresentam melhores opções para este domingo. O CD Can-
tar a Liturgia (Paulus) traz uma proposta de melodia para o segundo
formulário (Tende compaixão de nós).

46 Cf. Antífona de Entrada.


47 Oração depois da comunhão.
Ele está no meio de nós! WI

2. Aproveitando a deixa da oração do Dia que fala em ter a vida


dirigida por Deus, como resposta e assentimento à Palavra procla-
mada, a profissão de fé poderia ser feita com a assembleia voltada
para a cruz e, se for oportuno, estendendo para ela as mãos.
3. O prefácio para o Tempo Comum I mostra-se em sintonia
com o Mistério celebrado, sobretudo por afirmar: “Por ele (Cristo)
vós nos chamastes das trevas à vossa luz incomparável, fazendo-nos
passar do pecado e da morte à glória de sermos vosso povo...”
4. O Pai nosso poderá ser entoado por toda a comunidade, des-
de que se tenha uma melodia conhecida por todos e que respeite o
texto litúrgico, bem como a forma literária do mesmo. Uma melodia
tipo “cantilação” ou recitativo, com poucas cadências, seria de bom
º nã: , - . . A . .

grado.
5. Nos ritos finais, faça-se a oração sobre o povo n. 9 seguida da
bênção final, conforme possibilita o Missal Romano.
4º DOMINGO DO TEMPO COMUM
29 de janeiro de 2012

UM ENSINAMENTO NOVO, DADO COM AUTORIDADE.

Leituras: Dt 18,15-20 / SI 94(95),1-2.6-7.8-9 (R/.8)


ICor 7,32-35 / Mc 1,21-28

Situando-nos brevemente
O evangelho narra o início das atividades de Jesus depois do chamado
dos discípulos. Seu ensinamento ressoa de modo diferenciado aos
seus contemporâneos que o reconhecem com admiração e espanto.
O próprio espírito impuro reconhece Jesus como “o santo de Deus”
que veio para destruí-los (os espíritos impuros). Mas sobressai no
pequeno relato a autoridade com que Jesus ensina, expressa pelos seus
admiradores ao fim e ao início desse trecho. À autoridade de Jesus é
colocada em contraste com a autoridade dos mestres da lei, identifi-
cado como ensinamento novo que não repete as coisas do passado, ao
modo dos outros mestres.
Também a figura do homem possuído por um espírito mau, so-
bressai ao relato. É aí que se demonstra a autoridade de Jesus, pois
até ele obedece a Jesus, isto é, Jesus tem poder sobre ele. Seu ensi-
namento produz a libertação do homem e decreta o final do reinado
do mal. Não é um ensino inócuo, vazio, sem frutos, mas um ensino
que se demonstra totalmente novo, realizando a novidade messiâni-
ca. De fato, o messias, segundo a esperança judaica, teria atribuições
apotropaicas. À inauguração desse novo tempo se realiza em Jesus e
o reconhecimento de Jesus por parte do povo se espalha. Contudo,
Jesus rejeita o falso testemunho do espírito impuro, ordenando que
ele se cale.
Ele está no meio de nós! KA

Recordando a Palavra
À primeira leitura torna mais claro o sentido do ensinamento
feito com autoridade: Jesus é o profeta enviado por Deus e por
ele autorizado a falar em seu nome. À profecia o diferirá dos
demais notáveis do povo, pois o situará em atitude não condi-
cionada e livre para ser o legítimo porta-voz de Deus. À leitura
do Deuteronômio ainda diz que tal profeta é uma atenção à so-
licitação do povo que não desejava mais passar pela experiência
do Horeb, quando temia morrer. O profeta, afirma o texto, será
como Moisés (cf. v.15), o legislador soberano de Israel. Toman-
do em consideração o precioso versículo da aclamação ao evan-
gelho (Is 9,1), que recorda a primeira leitura da noite de Natal,
tem-se a exata noção de quem vem a ser esse profeta: o próprio
Filho de Deus. Tais informações concorrem para reforçar o en-
sino autoritativo de Jesus.
Também a oração após a comunhão ajuda a compreender a ex-
tensão do ensinamento autorizado de Jesus: ele nos alcança na cele-
bração por meio dos sacramentos da redenção, produzindo a fé. De
fato, a fé é fruto da escuta da Palavra de Deus (cf. Rm 10,17). Mas
também os sacramentos são frutos da mesma Palavra. É a Palavra
revestida de sinal, ensinamento em gesto, realização e manifestação
do anúncio da salvação. O alimento de que fala a oração é o ensina-
mento autorizado de Jesus que se converte em pão e vinho, alimen-
to da fé autêntica da comunidade cristã. Nesse sentido, o evangelho
narrado prolonga-se na Eucaristia, pois o reconhecimento da auto-
ridade de Jesus demonstrada pela libertação do homem possesso,
isto é, ensinamento que se traduz em fato, que produz vida e liber-
dade, mais uma vez se converte em salvação, renovação, progresso
na fé.
EMA PNt - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Atualizando a Palavra
Aderir a Jesus tem a ver com o reconhecimento dos sinais que
seu ensinamento produz. À comunidade é continuadora desse
anúncio, mas deve se empenhar para que não seja um anún-
cio vazio, ou desautorizado. Por isso, a volta ao Evangelho
deverá ser uma atitude constante para definir essa conexão
com o Mestre. E o empenho deve também estar direcionado
para a realização da libertação e da cessação do mal: tudo o
que desfigura a vida humana, convertendo-a em prisioneira
e vítima dos atuais “espíritos impuros”, deve ser cessado pela
força do Evangelho. Ações que minimizem a fome, a violên-
cia, o egoísmo e a indiferença, bem como todos os efeitos do
mal, são ações do Cristo libertador que continua a expulsar
de nosso meio o fermento da maldade. São concretizações de
seu ensino, comprovam sua eficácia e revelam a autoridade do
Evangelho.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Toda a ação celebrativa é manifestação do ensino autorizado de Je-
sus. Se, por contraste, pensamos que a cultura e a sociedade atuais
promovem o individualismo, a reunião da comunidade demons-
trará que esse mal foi banido pelo Evangelho de Jesus. Também
foram banidos a indiferença, quando na oração suplicamos pelas
necessidades do mundo; o egoísmo, quando partilhamos do mes-
mo pão e do mesmo vinho, nos esforçando de tornar nossa vida
verdadeiramente partilhada pela salvação do mundo; a violência
e a inimizade vencidas pelo gesto simples, mas significativo da
saudação de paz; a tristeza convertida em alegria nas aclamações
e confissão da nossa fé, no canto, no credo; a falta de fé vencida
pela reconciliação com Deus em torno do altar da Nova Aliança
na busca sincera do seu amor que se manifesta na celebração da
Igreja.
, . , 0
Ele está no meio de nós! SU

A antífona de entrada, revela esse caráter performativo da


celebração que realiza o anúncio evangélico quando afirma que
o povo vai se gloriar no louvor de Deus. “A glória de Deus é o
homem vivo”, dizia Irineu de Lião. À celebração concorre para
essa vida, para essa glória.

Sugestões para a celebração


1. Como canto de entrada, sugere-se o canto proposto pelas
antífonas do Missal e ricamente musicadas pelo Hinário Litúrgico
da CNBB. Mas a comunidade tem a liberdade de variar sua escolha,
desde que isso manifeste o mistério celebrado e seja fiel aos princí-
pios que regem a escolha de uma música adequada para a celebração.
Uma sugestão, para entender bem o que significaria isto, seria cantar:
“Nossa alegria é saber que um dia” (Ofício Divino das Comunidades,
p. 387) ou “Vence a tristeza” (Zé Vicente).
2. Após a saudação inicial, todos são convidados a recordar os
acontecimentos da semana, sobretudo aqueles que revelam a vida e a
libertação que Jesus nos trouxe.
3. Preserve-se a aclamação ao Evangelho cantando o texto pro-
posto pelo Lecionário. Ela ajudará a manifestar o sentido litúrgico da
celebração, conforme exposto acima.
4. Para a Oração Eucarística sugere-se o formulário VI-C, “Je-
sus, caminho para o Pai”, que ajudará a clarear a conexão entre mesa
da Palavra e mesa da Eucaristia.
5. À mesma orientação dada para o canto de entrada vale para
o canto da comunhão. Mas na mesma liberdade e bom senso, su-
gerimos a versão da “Oração de São Francisco”, “Cristo, quero ser
instrumento”.
APRESENTAÇÃO DO SENHOR
2 de fevereiro de 2012

"MEUS OLHOS VIRAM À TUA SALVAÇÃO”.

Leituras: MI3,1-4/Sl23
Hb 2,14-18 / Lc 2,22-40

Situando-nos brevemente
À Igreja celebra neste dia uma festa de origem oriental hipapante
(encontro). Já no século IV a peregrina Egéria, uma monja espanho-
la em Jerusalém, dá a descrição mais antiga desta festa: “Aqui (em
Jerusalém) se celebra com grande solenidade o quadragésimo dia após a
Natividade. Nesse dia se faz uma procissão da Anástasis (Igreja do Santo
Sepulcro em Jerusalém) à qual todos vão, e se faz tudo segundo o rito, com
máxima alegria, como na Páscoa. Além disso, todos os sacerdotes pregam o
mesmo que o bispo, comentando a passagem do evangelho em que se conta
que no quadragésimo dia, Maria e José levaram o Senhor ao templo, e que
a ele vieram Simeão e a profetiza Ana, filha de Fanuel, e as palavras que
disseram ao verem o Senhor, e a oferenda que fizeram seus pais. E, depois
de terem feito de forma ordenada todas estas celebrações como se costumava,
se celebravam os mistérios e terminavam a função com a despedida”**
A festa assimilada pela Igreja latina, se acomodou ao contex-
to romano, sobretudo ao substituir as antigas procissões pagãs cha-
madas de “lupercalias”, de caráter lustral (purificatório), tornando-se
grande ocasião de evangelização e de inculturação. Posteriormente,

48 “Itinerário de Egéria” 25,26. À descrição não descreve o ponto de partida e de chegada da


procissão. Sabe-se que muitas celebrações da antiguidade eram chamadas de estacionais, pois
incluíam ritos processionais e lugares de paradas (estações). Em português a obra se encontra
em diversas edições e versões, razão pela qual optamos em apresentar apenas a numeração do
parágrafo, suficiente para se localizar o texto.
L « É e
Ele está no meio de nós! EM

na Gália, se solenizou a procissão com o rito do lucernário, evidenciando


o sentido epifânico da festa que adentra no Tempo Comum. No Brasil,
muito conhecida do povo é a devoção a Nossa Senhora das Candeias ou
da Candelária. Tais devoções marianas trazem a mesma origem. Seja
como for, no relato da peregrina Egéria entrevemos o pano de fundo
pascal quando narra que a festa era feita com igual alegria que a pás-
coa e na Igreja da ressurreição (anástasis).

Recordando a Palavra
À vinda do Senhor ao Templo de Jerusalém, narrado como apresen-
tação e purificação da mãe, dois ritos não necessariamente conexos
na tradição judaica, tem na nossa liturgia um “sabor” de manifesta-
ção de Jesus ao povo da Antiga Aliança. Simeão e Ana são os últimos
que “esticam o pescoço”, já na economia do Novo Testamento, para
testemunhar a realização das promessas. No hino de Simeão (“Ago-
ra, Senhor...”) ressoa o hino angélico e o relato da noite de Natal.
Mas é sobretudo a sua profecia que revela o significado do menino:
sinal de contradição, causa de queda e de soerguimento, revelação do
íntimo dos corações e espada a atravessar o coração da Mãe. Estes
aspectos todos desenham de forma muito específica o perfil messiã-
nico de Jesus. Junto à esperança, alegria e revelação que o encontro
produzem, se apresentam, de forma embrionária a cruz e as durezas
da sua missão, sua paixão e morte.
Mas o menino apresentado é enviado por Deus, chamado na pri-
meira leitura de anjo (mensageiro), ao qual não se pode resistir. Não
se pense aqui, porém, em força militar, embora o salmo pareça suge-
rir isso, pois no dizer do salmo 8, as crianças são de Deus a força que
dobra os seus rivais. É da sua pequenez que emana tal força de atra-
ção e se faz brilhar a sua luz: infância e cruz, neste texto sinalizado,
como aspectos do mesmo mistério da encarnação, revelam por onde
Deus começa a salvar: no meio dos pobres. Dentre os pequenos, para
confundir os sábios e entendidos (sinal de contradição), derrubando
Eee] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

os poderosos e exaltando os humildes (causa de queda e soerguimento).


É ele que em tantos episódios perceberá as intenções malvadas de seus
adversários e como consequência de sua missão, enfrentará a cruz, fato
que Maria acompanhará até o fim, na fidelidade e no discipulado. À “luz
para iluminar as nações” se fará brilhar no interior das trevas, sobretudo
em sua ressurreição, quando de dentro da morte sai vitorioso, fazendo
morrer a própria morte (segunda leitura).

Atualizando a Palavra
O encontro com o Senhor tem ainda outra nuance apontada pelo
Salmo responsorial que convida a abrir as portas para a entrada do
Rei da glória. É a própria comunidade que respondendo se abre ao
Salvador, acolhendo como Simeão e Ana, a luz esperada e a glória de
Deus que retorna ao Templo. As portas do “local” visitado por Jesus
é a própria humanidade, onde a salvação espera ser acolhida. Aquele
que se fez igual para salvar a todos, fez brilhar a glória de Deus ao
edificar o ser humano com sua ressurreição. Essa é a sua glória que
espera ter portas abertas para a sua solene entrada.
Simeão e Ana são imagens de todos os homens e mulheres que
aguardam e reconhecem a chegada de Deus nos sinais pequenos,
onde Deus prefere operar sua revelação. São imagem da Igreja que,
corajosa e profeticamente, entoa o louvor de Deus confessando sua
salvação para todos. São os cristãos que tomam, não só nos braços,
mas acolhem na sua vida inteira, a luz do evangelho que o Menino
Deus nos traz.

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À ação litúrgica que chama a atenção nesta celebração, sem dúvida,
é o lucernário realizado fora da Igreja e a procissão em direção a ela.
É a expressão ritual que prolonga o acontecimento celebrado. Como
povo iluminado pelo batismo, adentramos na noite, qual vigília dos
Ele está no meio de nós! EI

que esperam o Salvador, com nossas velas acesas. Proclamamos nas


pequenas chamas que ele iluminou nossas vidas e há de iluminar toda
escuridão e treva que ainda grassa neste mundo. Adentrando no re-
cinto da celebração somos seu próprio corpo reluzente, que nas mãos
da Mãe Igreja é introduzido diante do altar de Deus para oferecer
não duas rolinhas, mas a nossa vida inteira junto à dele em adoração
ao Pai. Nossa oferenda, ainda pobre, expressa tudo o que Deus quer
e que José e Maria outrora representaram. Sobre nós ressoa a profecia
de Simeão: prolongamos em nossa vida e missão a tarefa de iluminar
o mundo, sendo também sinal de contradição, queda dos poderes que
oprimem e soerguimento dos abatidos e humilhados. Nossas ações
nos conduzem ao mesmo destino do Menino: cruz e glória que não
cessamos de proclamar: “anunciamos, Senhor a vossa morte...” Nos-
sa luz tem sua fonte na luz dele. A luz dele reluz em nossas vidas...

Sugestões para a celebração


1. Os ritos propostos no Missal são riquíssimos e devem ser
bem preparados para que a celebração deixe transparecer o mistério
que se celebra. Por isso, além de uma abordagem dos textos eucológi-
cos e bíblicos, seria interessante dar especial atenção ao rito de acen-
dimento das velas (lucernário) e à procissão, buscando aprofundar seu
significado e sua importância para a vida espiritual da comunidade.
2. Preparar o que for necessário para uma boa ritualização: ve-
las para o povo, água benta para a bênção das velas, itinerário da
procissão, cantos adequados para a celebração (ver o que propõe a
coleção de CD's “Festas Litúrgicas”), além da boa preparação das
leituras e dos demais ministérios.
3. Sugerimos que o rito de acendimento das velas tenha como
fonte o próprio círio da páscoa, ressaltando o valor pascal da celebra-
ção e manifestando com este símbolo que o Cristo é a fonte da luz
que ilumina a vida dos cristãos. O círio pode ir à frente recordando a
vigília pascal. O uso do círio, via de regra, restrito ao tempo pascal,
65. PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

é aceso fora desse tempo somente nas celebrações do batismo e das


exéquias. A liberdade de usá-lo nas celebrações eucarísticas domi-
nicais e nas festas e solenidades é uma iniciativa que ressalta o valor
pascal das celebrações mais importantes da comunidade cristã.
4. Na apresentação do pão e do vinho, no lugar de “felizes os
convidados...” a fórmula escolhida pode ser “eu sou a luz do mundo..”,
5.À bênção final, pode ser feita na forma de oração sobre o
povo. Sugere-se a fórmula 7 do Missal.
5º DOMINGO DO TEMPO COMUM
S de fevereiro de 2012

“CUROU MUITAS PESSOAS DE DIVERSAS DOENÇAS.

Leituras: Jó 7,1-4.6-7/ Sl 146 (147),1-2.3-4.5-6 (R/. cf.3a)


ICor 9,16-19.22-23/ Mc 1,29-39 (Curas na Galiléia)

Situando-nos brevemente
Nestes primeiros domingos do Tempo Comum, somos convidados a
contemplar Jesus anunciando o Reinado de Deus mediante palavras
e sinais de salvação. À Liturgia relaciona, então, sua Páscoa com o
pleno desenvolvimento humano, ao qual Jesus ordena seu ministério.
Para ele, a glória de Deus é, de fato, “o ser humano de pé”.
À Liturgia da Palavra e a eucologia deste domingo conduzem o
olhar dos fiéis para reconhecer em Jesus o auxílio do Pai. Emblemá-
tico, neste sentido, o prefácio da Oração Eucarística para as diversas
circunstâncias VI-D: “Com a vida e a palavra anunciou ao mundo que
sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas”.

Recordando a Palavra
Se a sinagoga, no domingo precedente, foi o ambiente para a atividade
exorcista de Jesus — com a autoridade da Palavra de Deus ele faz calar
a maldade que habitava um homem presente à reunião da comunida-
de — agora, seu ministério se dá em clima doméstico. Numa breve re-
trospectiva destes três domingos, somos testemunhas do trabalho de
Jesus em três ambientes diferentes: à beira do mar da Galileia (lugar

49 Célebre expressão de Irineu de Lião.


ESTA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

de trabalho); na sinagoga de Cafarnaum (lugar de culto e estudo da


Palavra de Deus); na casa da sogra de Pedro (lugar de convivência
familiar). Salta à vista o fato de estes dados sobre a abrangência da
atividade de Jesus serem apresentados em um único capítulo do Evan-
gelho de Marcos, lido de maneira contínua nestes três domingos.”
Num único capítulo, portanto, já reconhecemos a intensidade e am-
plitude de seu ministério: ele entra na Galileia, vindo da região do
Jordão, vai a Cafarnaum, sai em segredo e percorre “toda” a Galileia.
As demais leituras da Liturgia da Palavra nos dão a “moldura”
para compreender esta intensa e ampla atividade de Jesus. À primei-
ra leitura e o Salmo responsorial, lidos numa perspectiva antitética
nos dão uma linha de compreensão quanto ao ministério de Jesus.
Enquanto Jó apresenta uma perspectiva realista e crua da existência
humana, caracterizando-a como uma “luta” comparada à vida sofrida
de um mercenário”! que vive na instabilidade, o Salmo 146 vai noutra
direção confessando a bondade de Deus que reconstruiu Jerusalém
e juntou os dispersos. Angústia e dissabor estão lado a lado com o
contentamento e o prazer de ser cuidado por Deus. É exatamente
neste ponto que encontramos a síntese oferecida pela Aclamação ao
Evangelho: “O Cristo tomou sobre si nossas dores, carregou em seu corpo as

NOSSAS fraquezas
O ministério de Jesus é a resposta fiel e confortadora de Deus à
dimensão mais sofrida da existência. Por meio de palavras e sinais,
se ocupa de expandir o Reinado daquele que o enviou, conforme
escutamos no terceiro Domingo do Tempo Comum. Assim, Je-
sus não se contenta nem com o ambiente sinagogal ou familiar,
mas dilata seus cuidados, assumindo-os sob o aspecto da missio-
nariedade: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo
pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. É andava por toda
a Galileia..”. Aonde houver “Jós”, é para lá que Jesus se dirigirá,

50 À conclusão o capítulo será lida no sexto domingo do tempo comum Ano B.


51 Mercenário, aquele que ganha a vida por jornada diária de trabalho.
Ele está no meio de nós! pes

proporcionando-lhes entoar a benignidade e o conforto que vêm de


seu Pai, do qual é sinal eficaz.

Atualizando a Palavra
À Igreja conhece profundamente o coração de seu Senhor e assume
seu fardo. Por isso, vemos Paulo assumir com liberdade a “imposi-
ção” de anunciar o Evangelho?. Parece contraditório, mas não é. Sua
liberdade consta de abraçar o encargo sem pretender honras, porque,
como ele próprio afirma “por causa do Evangelho faço tudo, para ter
parte nele”,
À comunidade cristã — a Igreja — existe para dilatar o trabalho
de Cristo Jesus. Como ele, não mede distâncias para transmitir a Boa
Nova. Quem vive num país de dimensões continentais como o nosso,
consegue compreender o esforço e a dedicação de milhares de ho-
mens e mulheres em fazer notável a páscoa de Cristo, mediante seu
apostolado pastoral. Gente anônima, oculta da mídia, mas que — ao
exemplo do Senhor — carrega sobre si as dores dos irmãos, para que
respirem aliviados. À Igreja preconizada pelo Concílio Vaticano II
entende desta forma sua atuação no mundo contemporâneo:
“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos ho-
mens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são
também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos
discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente hu-
mana que não encontre eco no seu coração”.

Ligando a Palavra com a celebração.


À oração com a qual a Igreja abre a celebração deste Domingo diz
o seguinte: “Velai, ó Deus, sobre vossa família, com incansável amor, e,

52 Cf. 1Cor 9,16.


53 Gaudium et Spes. Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de Hoje. Concílio Vaticano II.
Eb PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

como só confiamos em vossa graça, guardai-nos sob a vossa proteção”. À


prece litúrgica se exprime como profissão de fé - Deus é incansável
no amor - e, depois como uma súplica pela experiência deste mesmo
amor, sob o aspecto de proteção. A comunidade reunida e presidida
por Cristo está sob o seu olhar, sob sua vigilância. Não está sozinha e
desamparada, mas sente-se beneficiária da mercê de Deus.
É gozoso lembrar dos espaços sagrados que abrigam a comuni-
dade de fé em assembleia, e que trazem em suas absides ou cúpulas
o Cristo Pantocrator”” (as construções contemporâneas em painéis
ao fundo do santuário/presbitério). É uma imagem (ícone) padrão
do Cristo muito divulgada na Igreja Oriental, que traz olhos de
quem vigia, voltados para quem ocupa o espaço sagrado. Como não
sentir-se acariciado por Deus ao habitar um lugar no qual predo-
mina a visão daquele que “tomou sobre si nossas dores "55 e que “deu
de beber aos que tinham sede e alimentou os que tinham fome?”
Afinal, foi Ele quem percorreu longas distâncias para pregar nas
sinagogas e expulsar os demônios. Mas não só por toda a Galileia,”
sobretudo superou a distância entre o céu e a terra, a fim de promo-
ver sua comunhão.

O fiel que toma parte na celebração da Igreja, passa da condição


de Jó, testificada pela I Leitura para a condição do Salmista, que
reconhece nele (Jesus) a ação maravilhosa de quem “conforta os co-
rações despedaçados (...) e chama a cada um por seu nome”. Nou-
tras palavras, faz experiência da Páscoa. Se contempla como parte do
Evangelho, como augurara Paulo acerca de si mesmo. Como dissera
uma senhora muito sofrida e já anciã ao adentrar a Basílica Nacional
de Aparecida do Norte: “Quando eu entro aqui, me sinto embelezada”*º

54 Pantocrator significa, em grego, “Aquele que tudo rege”.


55 Aclamação ao Evangelho.
56 Antífona da Comunhão.
57 Cf. Mc 1,39.
58 81 146,3a.4b.
59 Testemunho de Claudio Pastro, artista plástico responsável pela inconografia do Santuário
Nacional de Aparecida.
90,
Ele está no meio de nós!

Sugestões a celebração
1. Como Canto de Entrada, sugerimos “Povos todos louvai ao
Senhor” (Caderno de Partituras do ODC, volume II, Paulus). Ou-
tra opção, igualmente adequada é “De todos os cantos viemos” (CD
cantos de abertura e comunhão).
2. Poderia ser feita uma recordação da vida após a saudação
presidencial, recordando as alegrias e tristezas, esperanças e angús-
tias da comunidade.
3. O Ato Penitencial pode ser feito com o formulário 3 do
Missal Romano, com o texto n.4. Neste caso, escolha-se uma
melodia para cantilar (recitativo livre). O terceiro fascículo do
Hinário Litúrgico da CNBB, à p. 31, oferece uma partitura de
Kyrie, de cujo motivo melódico pode-se compor o recitativo. Ou-
tra possibilidade é recitar as invocações e cantar as aclamação
Kyrie/Christe eleison.

4. Para abrir a Liturgia da Palavra é cabível cantar um re-


frão meditativo para dispor os ouvidos e o coração da assembleia
para a escuta e acolhida da Palavra de Deus que será procla-
mada. “Guarda a Palavra”, composição da Ir. Míria Kolling se
presta para o momento. À partitura pode ser encontrada no site
da Paulus (CD Deus é bom).
5. À Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias VI-D se
harmoniza bem como Mistério Celebrado. Lembrando que, no caso
de escolhê-la, o prefácio a ser usado é o da própria Oração Eucarís-
tica e não outro.

6. Como canto de comunhão, Salmo 97/98. Na segunda e


na última estrofes da versão da CNBB (CD Cantos de Abertura e
Comunhão) encontramos uma sintonia sugestiva com o mistério
celebrado: “O Senhor revelou seu auxílio, sua justiça aos povos mos-
trou (...); Ante a face de Deus alegrai-vos, Ele vem para nos governar.
Guiará com justiça os povos, na harmonia e na paz as nações”.
LAR PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

7. Nos Ritos finais, faça-se a oração sobre o povo n. 24, em


seguida a bênção final.
6º DOMINGO DO TEMPO COMUM
12 de fevereiro de 2012

EU QUERO: FICA CURADO .

Leituras: Lv 13,1-2.44-46 — 2Rs 5,9-14 / Sl 31


ICor 10,31-11,1 / Mc 1,40-45

Situando-nos brevemente
A cura do leproso se insere no amplo cenário da manifestação do
Filho de Deus proclamado no ciclo do Natal que se prolonga no
Tempo Comum: “um grande profeta surgiu entre nós e se mostrou...”
(aclamação ao evangelho). Muitos aspectos importantes se mostram
neste texto, revelando sua riqueza, mas, sobretudo, mostrando “a que
veio” o Filho de Deus, e sua identidade. O pedido pela cura já trazia
a afirmação do poder de Jesus. À fé do homem enfermo já o leva a
confessar o poder de Jesus: “Se queres, tens o poder de curar-me”. O
encontro tem por trás a dura situação das pessoas enfermas no tempo
de Jesus, sobretudo em relação à religião. Elas eram consideradas
impuras e, portanto, inaptas para prestar culto a Deus. De fato, a
lei mosaica determinava a exclusão de tais pessoas (primeira leitura).
Elas, por sua vez, deviam se declarar assim, demonstrando com rou-
pas rasgadas, cabelos desgrenhados, avisando aos demais, com gritos,
a sua impureza.
À primeira vista, nossa reação perante tal situação tende a julgar
esse tipo de mentalidade como meramente excludente ou até mesmo
perversa. É porque pensamos a partir das categorias do nosso tem-
po, quando muitas dessas enfermidades são tratáveis e possíveis de
serem curadas, inclusive a hanseníase, ou mesmo a partir das nossas
categorias religiosas. Nesse caso, é bom situar bem o problema em
E&I PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

seu contexto. No tempo de Jesus não existiam tratamentos, nem cura


para essa e outras enfermidades. Nem sequer muita distinção se fazia
entre os vários tipos de doença de pele, sendo todas praticamente qua-
lificadas como lepra (cf. Lv 13,2). O medo de contágio era maior que o
conhecimento que se tinha a respeito. À religião funcionava então como
“órgão regulador” que impunha medidas profiláticas, um tanto estra-
nhas para nós, mas por eles consideradas necessárias para a proteção da
comunidade. Isso, evidentemente, não levava em conta a situação dos
enfermos, sua exclusão da sociedade e do culto e a situação desumana
em que se achavam. Qual foi a atitude de Jesus? Como ele se porta,
dentro do mesmo contexto, em relação aos doentes e ao culto?

Recordando a Palavra
Por compaixão, Jesus não hesita em conceder a cura ao leproso. Ele
tinha o poder de curar, e mais que isso, ele trazia consigo o desejo
salvífico do Pai. Mas a relação entre puro e impuro se mostra em
perfeito contraste no encontro com o leproso: de um lado, Jesus,
o Filho de Deus, totalmente puro e santo; o leproso, no outro ex-
tremo, era considerado como o impuro e sua impureza era vista
também como pecado. Na relação, que é absolutamente desigual,
o puro e santo se sobrepõe ao impuro e pecador, curando-o, purifi-
cando-o e perdoando-o. À santidade e a pureza divinas “vencem” a
impureza, a doença e o pecado. À vida se restaura diante da atitude
“sacramental” de Jesus: gesto e palavra revelam a salvação de Deus
que supera as limitações humanas, religiosas e sociais. O homem,
reintegrado pela cura operada, foi enviado por Jesus aos sacerdotes,
prova de que Jesus não combate o contexto religioso, mas reenvia o
homem aos sacerdotes, cumprindo a lei mosaica e tornando a cura
reconhecida.
Doutro lado, o totalmente puro e santo, Jesus, cumpre sua traje-
tória pascal neste pequeno relato. Jesus, verdadeiro homem, não he-
sita em tocar o impuro, tornando-se também, por contato, impuro
4a
Ele está no meio de nós!

aos olhos dos contemporâneos. Ele “torna-se” impuro segundo a


lei, para purificar o homem enfermo. Põe em risco seu status de
cidadão apto para o culto, dá a vida para que o outro tenha mais
vida. À identificação do totalmente santo com o leproso não pára
por aí. Ele assume o lugar geográfico e social do leproso, fora da
cidade (cf. Lv 13,46). Essa atitude de Jesus desenha um “perfil” de
Messias, que faz entender a sua ordem de não contar a ninguém o
milagre. O chamado “segredo messiânico” tem o sentido de não se
deixar confundir com a mentalidade popular a respeito do Messias.
O messianismo de Jesus é outro: passa pela cruz e pela identificação
com os excluídos.

Atualizando a Palavra
Que significa seguir os passos de Jesus ao ouvir este evangelho? Ser
cristão vai além do viver um rol de preceitos morais. É vida em Cris-
to! Esse modo de vida determina o seguimento dos discípulos e dis-
cípulas de Jesus. O modo de vida daquele que se manifestou como
esperança para os doentes e excluídos, compassivo diante da aflição
alheia, pronto para atender à necessidade do sofredor, solidário na
sua condição e avesso à notoriedade ou fama.
À vida em Cristo supõe permitir que a mesma salvação se opere
em nós e por meio de nós como sinais da nossa filiação divina em Cris-
to, o Filho de Deus. À comunidade será tanto mais de Cristo, tanto
mais unida a ele, quanto mais se fizer aberta e atenta aos desvalidos
da nossa sociedade, presente nos ambientes e lugares onde a suspeita
e o temor de “contaminação”, ou de ser tratado como impuro afastam
os que buscam apenas viver bons preceitos. O Bom Pastor vai em bus-
ca da ovelha que se perdeu e veio para salvar o que estava perdido...
Cristianismo sem cruz, solidariedade e risco, está longe do evangelho
e de Jesus.
Ee PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À união com Cristo é consequência e finalidade da Eucaristia. A
oração do dia manifesta essa busca contínua da Igreja: o viver unida
a Deus, por meio de Cristo, único caminho ao Pai. É a celebração
que nos aproxima dele, o totalmente santo e puro que pode purificar
a nossa vida (oração sobre as oferendas) e devolver a alegria de viver
ao provar a salvação (oração da comunhão). A comunidade de fé faz a
mesma experiência do homem purificado: ela se aproxima confiante,
suplica a salvação com fé e certeza, e sacramentalmente “tocada” pe-
los sinais e pela Palavra de Jesus, recupera a vida nova que ele mesmo
nos dá. Neste sentido, o sacramento da eucaristia é nossa aproxima-
ção máxima daquele que nos santifica ao nos unir a si na sua entrega.
À oração eucarística terceira diz, a respeito do Espírito Santo: “que
ele faça de nós uma oferenda perfeita”. Ao sermos santificados e ha-
bilitados para o culto pleno em Cristo, sejamos também manifesta-
ção da visita de Deus para os outros (aclamação ao evangelho). Que o
culto existencial também nos qualifique para a celebração!

Sugestões a celebração
1. O canto “Eis meu povo o banquete” do Hinário Litúrgico 3,
da CNBB ajudará a manifestar e atualizar o sentido da celebração e
sua intrínseca conexão com as atitudes de solidariedade e de identifi-
cação com os necessitados.
2. O ato penitencial seja ocasião de manifestar a misericórdia
e a compaixão que Deus manifestou em Jesus. À opção por algum
dos formulários da terceira fórmula do ato penitencial propostos no
Missal, , revela o real sentido desse momento ritual.
3. As duas opções da primeira leitura ajudam a preparar a ho-
milia. Mas oferecerão diferentes direções hermenêuticas para o mes-
mo Evangelho. É bom estar atento à escolha, sobretudo fazê-la em
comunhão com o homiliasta e demais ministérios.
Ele está no meio de nós! na

4. O canto das oferendas “Ofertar pra meu povo é dar a vida”


do Hinário Litúrgico 3, ajuda a ligar ação litúrgica com o culto
existencial.
5. À oração eucarística VI — D “Jesus que passa pelo mundo fa-
zendo o bem” é a opção que vai manifestar mais claramente a ligação
entre a Mesa da Palavra e da Eucaristia. Além disso, ajudará a de-
monstrar que a Palavra proclamada se “encarna” no rito eucarístico.
6. O canto do “Santo”, com danças e incenso em torno do al-
tar, recordará o totalmente santo que nos purifica ao nos visitar na
celebração.
7. À comunhão no sangue de Cristo, acessível a todos, reali-
zará mais plenamente o que diz a narrativa da instituição, enquanto
ressonância do Evangelho meditado na homilia.
7º DOMINGO DO TEMPO COMUM
19 de fevereiro de 2012

O FILHO DO HOMEM TEM NA TERRA PODER DE PERDOAR PECADOS .

Leituras: Is 43,18-19.21-22.24b.25 / SI 40
2Cor 1,18-22 / Mc 2,1-12

Situando-nos, brevemente
Nos domingos precedentes temos acompanhado Jesus atuar como
ministro do Reino de Deus. Uma vez que não se pode mais separar
Cristo da sua Igreja, aquilo que a ele se aplica, por decorrência, apli-
ca-se também aos que a ele estão ligados pelo batismo. Isto porque
vivem num único Espírito, são nutridos num único pão, professam
uma única fé. Se Cristo é garantia do cumprimento das promessas
de Deus, como veremos, à Igreja também não resta alternativa senão
abrir-se como espaço oportuno para que o Pai de Jesus cuide do seu
povo e restabeleça sua saúde.
Esta celebração do 7º Domingo do Tempo Comum ajuda-nos
na percepção da necessária unidade entre palavra e sinal, de modo
que seja integral o anúncio da iminência do Reinado de Deus. A
Igreja ser portadora do perdão divino que absolve o mundo das cul-
pas equivale a ser sinal deste mesmo mundo redimido, reconciliado
e íntegro.

Recordando a Palavra
Seguindo com a leitura semicontínua do Evangelho de Marcos, a
Liturgia da Palavra nos apresenta o trecho introdutório do segun-
do capítulo. À narração tem como ambiente Cafarnaum, sua casa.
Ele está no meio de nós! Ra

Tanto a conclusão da perícope do Domingo anterior quanto o primeiro


versículo do texto deste domingo indicam que a fama de Jesus já se ha-
via espalhado, de modo que à sua porta se ajuntavam muitas pessoas.
Percebe-se que a atividade ministerial de Jesus vai ganhando forma
e também importância aos olhos das autoridades religiosas: pela se-
gunda vez cita-se a presença dos escribas, e agora com papel ativo,
incomodados com o perfil ministerial de Jesus. Esse incômodo ser-
virá de ocasião para a decisão dramática de Jesus em ordenar que o
paralítico ande e consequentemente, da revelação de si mesmo como
Filho do Homem.
Escribas ou Mestres da Lei é a versão portuguesa para o grego
grammateus. Em Marcos, figuram como verdadeiros adversários de
Jesus e são citados mais que os fariseus. Sua presença na narrativa é
relevante porque, sendo homens versados nas Escrituras são respei-
táveis perante a comunidade e, sobretudo, porque são vozes autoriza-
das para a interpretação e aplicação da Torah às necessidades do povo
e no século 1 recebem o título de Rabi. Estes homens têm diante de si
alguém que realiza o seu trabalho: Marcos diz que “Jesus anunciava-
lhes a Palavra”. Certamente, como menino judeu muito presente
à vida sinagogal, Jesus tenha estudado com os Mestres da Torah que
recebiam ao redor de si alunos, para que aprendessem de seu ofício
e ao fim dos estudos tomassem parte do grupo.º! Mas Jesus destoa
do grupo com suas atitudes e isto incomoda. Dito de outra forma,
a maneira de Jesus abordar a Palavra de Deus destoa em relação ao
ofício dos escribas.
À palavra e ação de Jesus se alinham ao narrado pelo oráculo
profético de Isaías, na primeira leitura. E, em certa medida, os es-
cribas têm razão em se perguntar sobre a autoridade de Jesus para
perdoar os pecados, uma vez que esta é uma ação própria de Deus:
“Sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me

60 Mc 2,2b.
61 Era costume entre os escribas a “ordenação” para seu ofício, realizada por meio de imposição
das mãos.
44 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

lembrarei dos teus pecados“? Com sua fala — “Filho, os teus pecados
estão perdoados” — Jesus só poderia entrar em conflito com os enten-
didos da Torah. Mas o que o trecho do Evangelho insinua é exata-
mente a identidade de Jesus, de onde ele provém e onde radica sua
autoridade. Na verdade, a aclamação ao Evangelho já nos dá esta
evidência quando seu versículo entoa: “Foi o Senhor que me mandou
boas notícias anunciar”.

Para compreender melhor não só a palavra de absolvição de


Jesus, mas sua ação de cura, é preciso ler o narrado pelo Evangelho
também à luz do Salmo 40 que estabelece uma relação entre pe-
cado e enfermidade. Para uma sociedade em que os recursos fren-
te às enfermidades são escassos, a interpretação da doença como
castigo divino por alguma culpa é bem frequente. Entende-se sob
este substrato cultural a primeira atitude descrita pelo Evangelho:
diante da enfermidade Jesus “declara” como arauto de Deus o per-
dão dos pecados do enfermo. Não obstante, à palavra declaratória
falta o sinal sensível, para que se torne evidente a autoridade da-
quele que anuncia a Palavra de Deus. Por isso, a Jesus não resta
alternativa — ainda mais perante seus adversários: o gesto de cura
do paralítico.

Atualizando a Palavra
Após “recordar” as Escrituras e harmonizá-las segundo a pers-
pectiva do Lecionário, é possível dizer que em Jesus e por Jesus se
cumpre aquilo que é estabelecido por Deus, segundo a ótica profé-
tica e sapiencial. Mas também em relação à Torah, pois quem fala
no texto de Isaías é o Deus do êxodo, conforme um dos versículos
parcialmente omitidos pelo Lecionário: “Assim diz o Senhor, aquele
que abre um caminho pelo mar”.“º Logo, a totalidade das Escrituras

62 Is 43,25.
63 Is 43,16. Dizemos “parcialmente omitido” porque a introdução do texto de Isaías no Lecio-
nário lança mão do começo do versículo 16: “Assim diz o Senhor” O restante do versículo é
omitido, pois a identidade deste “Senhor”já deve ser de conhecimento dos ouvintes.
Ele está no meio de nós! LESAS

(Torah, Profetas e Escrito) confere autoridade a Jesus. É a “fidelidade


de Deus” da qual fala Paulo em sua segunda carta aos Coríntios.
Tudo o que se dá na sala apinhada de gente é desdobramento da Pa-
lavra de Deus que atua em Cristo, pois “é nele que todas as promessas
de Deus tem o seu “sim” garantido”. Parafraseando Agostinho que
explica o sentido do “Amém” nas celebrações dos cristãos, Jesus é
própria assinatura de Deus.

Mas, ainda seguindo Paulo em seu raciocínio, a Igreja é também


este “sim”. Faz de si mesma oportunidade de cumprimento da Pala-
vra de Deus, pois está unida a Cristo e como ele, por Deus foi ungi-
da. Aquela sala de que fala o Evangelho é agora a própria Igreja. É
a “casa de Jesus”, a “Casa da Palavra” mencionando a expressão dos
padres sinodais na Encíclica Verbum Domini n. 52.
Sendo lugar de manifestação da Palavra de Deus, ao seu anún-
cio segue o sinal, como no caso de Jesus. É Palavra que opera sal-
vação. Assim, nosso olhar de testemunhas dos feitos maravilhosos
de Deus em seu Cristo se voltam ao redor e procuram os indícios
de seu ministério. Nossa fé procura identificar como as pessoas,
sobretudo aquelas que vivem sob o peso do sofrimento, da doen-
ça, das injustiças, escutam o anúncio da Boa Nova e são “curadas”
dos males que lhes afligem e experimentam a reconciliação consi-
go e com Deus. Ás várias mãos solidárias da Igreja mediante sua
diversificada presença no mundo querem ser expressão do minis-
tério de Cristo. São eventos evangelizadores, portanto, aqueles
trabalhos desenvolvidos pelos agentes da Pastoral da Saúde e da
Criança, dos que cuidam das mulheres marginalizadas e do Povo
da Rua, pois mediante sinais evocam a força da Palavra da Salva-
ção e estendem a eles a saúde que vem de Deus.

64 Cf. II Leitura.
65 2Cor 1,20.
66 Cf. 2Cor 1,21. Retoma-se aqui o versículo de aclamação ao Evangelho que em seu contexto
de origem (Lc 4,18) fala da unção ordenada ao anúncio da Boa Nova,
LEI PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento Ano B - Novembro de 2011 / Fevereiro de 2012

Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A Oração do Dia neste domingo abre a assembleia à vontade
Deus, para que alcance o mundo e a história por meio da Palavra
e das ações dos fiéis. Articulam-se, mais uma vez, palavra e si-
nal sensível. Assim como em Cristo se cumprem as promessas de
Deus, em nós também elas devem realizar-se e a celebração litúr-
gica é o testemunho mais eloquente disto. É por meio dela que a
assembleia contempla explicitamente a união entre palavra e sinal.
Desde os ritos iniciais até a despedida, os fiéis vão sen-
do conduzidos pelo Espírito para se configurarem às promes-
sas de Deus através de um “Amém”. A retumbante conclusão
doxológica da Oração Eucarística — “Por Cristo, com Cristo
e em Cristo..” — coroada pelo amém da assembleia, poderá
ser reconhecida no sinal sensível que são os próprios fiéis que
nutrem sua ligação com ele ao tomar parte na mesa do Pão
e Vinho consagrados. Muito acertada, então, a expressão de
Cláudio Pastro ao definir a liturgia: “Liturgia é a encarnação
do Mistério Pascal em nosso corpo”. E se este Mistério é tam-
bém acontecimento reconciliador não só entre Deus e os seres
humanos, mas destes entre si, a comunidade dos fiéis, pela
sagrada liturgia, vai tornando-se o espaço privilegiado para
que a reconciliação aconteça e se estenda ao mundo inteiro os
seus frutos de paz.*

Sugestões para a celebração


1. Nos ritos iniciais, em lugar do Ato Penitencial, proceder com
a bênção da água e aspersão como recordação do Batismo. Na mo-
nição à bênção e ao rito, deixar evidente o aspecto de revigorar em

67 PASTRO, Claudio. O Deus da beleza. À educação através da beleza. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 32.
68 Cf. Oração Eucarística II]: “Que este sacrifício da nossa reconciliação estenda a paz e a
salvação ao mundo inteiro.
Ele está no meio de nós! UNE

nós a ligação com o Cristo morto e ressuscitado, sendo no mundo


expressão de seu “Amém” às promessas de Deus.
2. Conforme sugerido para o V Domingo do Tempo Comum,
cante-se “Guarda a Palavra” para abrir a Liturgia da Palavra. À le-
tra, retirada de Sermões de São Bernardo, de certo modo, dispõe o
ouvido dos fiéis para o “cumprimento” da Palavra de Deus, conforme
desdobrado acima. Pode-se fazer o download da partitura no portal
da Paulus (www. paulus.com.br) e a gravação no CD “Deus é bom”,
da mesma editora.
3. Neste domingo, seria muito oportuno, sobretudo nas comu-
nidades menores, o beijo do Evangeliário pela assembleia, após a ho-
milia. Onde isso não for possível, substitua-se o rito pela bênção com
o Evangeliário ao final da proclamação do Evangelho ou da homilia.
4, Entoe-se o Amém da doxologia final. No terceiro fascí-
culo do Hinário Litúrgico da CNBB encontra-se uma variante do
“Amém”: “Cristo é o nosso Amém, para a glória de Deus Pai”, Se a
comunidade optar por ela, é importante que seja ensaiado, para que
todos participem cantando.
5. Nos ritos finais, preveja-se a oração sobre o povo n. 20,
seguida da bênção final.

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