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dp Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

“Vós procurais Jesus de Nazaré,


que foi crucificado?
Ele ressuscitou!”
(Mc 16,6)
Roteiros Homiléticos
da Páscoa e Pentecostes
Ano B

y Projeto Nacional de Evangelização


Queremos Ver Jesus
Caminho, Verdade e Vida

EB. PAULUS
1º edição — 2006

Capa: Ilustração de Dom Ruberval Monteiro, osb


(Mosteiro da Ressurreição — Ponta Grossa — PR)

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O Pia Sociedade Filhas de São Paulo — São Paulo, 2005
Apresentação

O Evangelho e o Espírito são a coluna


e o fundamento da Igreja.
Santo Irineu

À proposta de Jesus é um projeto de vida e de sociedade


renovada. Um projeto que alcança toda a sua luminosidade na
Páscoa — a festa da luz e da vida, e que se estende até Pentecostes
— a festa da efusão do Espírito.
Na celebração da Páscoa, acendemos o Círio Pascal com
as labaredas do fogo novo. À luz dessa grande vela, adornada
com os cravos que lembram as chagas gloriosas do Crucificado,
ouvimos o anúncio da Páscoa. É renovamos as promessas do
batismo, tendo velas acesas em nossas mãos.

O simbolismo forte do fogo aparece novamente, cinquenta.


dias após a Páscoa, quando recordamos a manifestação do Espí-
rito. Uma vez mais, somos iluminados pela luz de Deus.
Pentecostes estabelece uma estreita ligação entre Palavra e
memória na vida da Igreja. A partir de Pentecostes, a comunidade
dos discípulos e discípulas de Jesus — guiada pelo Espírito do
Ressuscitado — proclama a Palavra que salva e faz memória
do seu Senhor. Com a mesma fé e entusiasmo dos apóstolos,
ela dá continuidade à missão querida por Jesus e que o Pai lhe
havia confiado. Assim, vai percorrendo os caminhos da história,
perseverando “na oração com Maria, mãe de Jesus” (At 1,14),
na escuta assídua da Palavra, no amor fraterno e na fração do
pão (cf. At 2,42). Animada pelo sopro do Espírito, celebra a ceia
do Senhor e testemunha sua ressurreição, “até que ele venha”
(Cor 11,26).

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A eucaristia, fonte e cume de toda a vida da Igreja, quando
bem celebrada, torna-se lugar privilegiado do anúncio de Jesus
Cristo e sinalização do Reino do Pai, que é “Justiça e paz e alegria
no Espírito Santo” (Rm 14,177). A eucaristia educa nossa consciên-
cia eclesial e social. Ela nos ensina a passar da comunhão de
mesa à vida em solidariedade, a perceber que, sem a oferta da
existência e o compromisso com a vida em sociedade, a missão
perde a sua força transformadora.
Estamos nos aproximando do 15º Congresso Eucarístico
Nacional, evento que nos convida a aprofundar o sentido da
celebração do memorial da Páscoa e da presença do Espírito na
missão. A temática do Congresso faz ecoar em nossos corações
o convite de Jesus: “Se alguém me ama, guardará minha palavra;
meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”
(Jo 14,23).
Roteiros homiléticos do Tempo Pascal é mais um subsídio
destinado às nossas comunidades desejosas de viver a experiência
da Páscoa. Uma ajuda preciosa à preparação da homilia e da litur-
gia dominical, que, certamente, facilitará a vivência do memorial
da Páscoa como momento síntese da história da salvação.
Possam as sugestões aqui apresentadas concretizar o con-
vite de santo Agostinho: “Creiamos juntos. Vejamos juntos”.
Sim, cretamos juntos e vejamos juntos, para celebrarmos, juntos,
Páscoa e Pentecostes!
Pela Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
t Dom Joviano de Lima Júnior, sss
Bispo de São Carlos, SP

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Introdução
A liturgia no Tempo Pascal

Se fizéssemos, entre os fiéis leigos participantes de nos-


sas celebrações dominicais, uma pesquisa perguntando “qual o
tempo litúrgico mais importante da Igreja”, que lugar ocuparia
o Tempo Pascal”
Temos a impressão de que o Tempo Pascal não conseguiu
conquistar ainda o seu espaço dentro do ano litúrgico. Os dois
tempos de preparação, Quaresma e Advento, parecem desgastar,
em vez de dispor as comunidades para a celebração do Tempo
Pascal e do Tempo do Natal.
O Tempo Pascal não é nada mais, nada menos do que a
própria celebração da Páscoa prolongada durante sete semanas
de júbilo e de alegria. É o tempo da alegria, que culmina na festa
de Pentecostes.
Constitui-se em “um grande domingo” (cf. NALC 22).
Vivenciamos dias de Páscoa e não após a Páscoa. “Os oito pri-
meiros dias do Tempo Pascal formam a Oitava da Páscoa e são
celebrados como solenidades do Senhor” (NALC 24). A festa da
Ascensão é celebrada no sétimo domingo da Páscoa. A semana
seguinte, até Pentecostes, caracteriza-se pela preparação para a
vinda do Espírito Santo.
Por excelência, é o tempo da mistagogia, em que a Igreja vai,
aos poucos, penetrando na realidade dos mistérios celebrados.
É um tempo riquíssimo sob os aspectos da liturgia, dos
sacramentos, da pastoral e da espiritualidade.
A partir do'domingo da Páscoa e de sua Oitava, a Palavra
proclamada vai relatando as várias manifestações do Senhor

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es, aos discí-
Ressuscitado: a Maria Madalena e às outras mulher
pulos de Emaús, aos onze apóstolos, também a Tomé. Depois da
diferente. A
Oitava, contemplamos a ressurreição de uma forma
manifesta a
Palavra ajuda-nos a entender o que significa e como se
presença do Ressuscitado hoje, entre nós. Por isso contemplamos
a imagem do Bom Pastor, do Caminho que leva ao Pai, da fonte
do Espírito, do Pão da vida, da Videira verdadeira.
Quanto à proclamação da Palavra no Tempo Pascal, somos
guiados, essencialmente, pelo evangelho de João e, na segunda lei-
tura, pelas cartas daquele que “Jesus amava”. O que ele “ouviu, viu
e tocou”, sua própria experiência com o Ressuscitado, é o que João
testemunha. A primeira leitura é extraída dos Atos dos Apóstolos,
mostrando como a vida das primeiras comunidades era testemunho
vivo da ressurreição — a Boa-Nova da ressurreição era a mensa-
gem central da pregação apostólica. Descreve uma comunidade
que tudo partilha, que tem “um só coração e uma só alma”, uma
comunidade que luta para viver segundo o que Cristo nos pediu,
enfim, uma Igreja animada e guiada pelo Espírito Santo.
Durante o Tempo Pascal, não celebramos somente a ressur-
reição de Cristo, mas também a nossa ressurreição no batismo.
Por isso o Tempo Pascal é, também, um tempo batismal, pois
pelo batismo somos introduzidos no mistério pascal da morte e
ressurreição do Senhor.
O Tempo Pascal é, igualmente, o tempo do sacramento
da confirmação, pois na crisma é derramado sobre nós o mes-
mo Espírito que desceu sobre a comunidade reunida junto com
Maria, no cenáculo.

Acima de tudo, o Tempo Pascal é o tempo da eucaristia. No


Brasil, este ano, temos um grande acontecimento, o 15º Congresso
Eucarístico Nacional, que conclui também o Ano da Eucaristia em
nossa pátria, Iniciado por João Paulo II em outubro de 2004. Na
comunidade reunida para celebrar a eucaristia, ouvindo a Palavra,

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oferecendo o sacrifício de ação de graças, comendo e bebendo o
corpo e o sangue de Cristo, fazemos memória do mistério pascal:
“ Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa
ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!”. O Tempo Pascal é ideal para
a catequese sobre os sacramentos da iniciação cristã. É também
o tempo propício para que crianças e adultos façam a primeira
comunhão. Seria tão bom se nossos enfermos e idosos pudessem
receber mais frequentemente a comunhão em suas casas.
Lembramos uma citação de são Leão Magno:

Porque a participação do corpo e do sangue de Cristo outra coisa


não faz do que converter-nos no que recebemos e em fazer-nos
portadores daquele em quem morremos, fomos sepultados e
ressuscitados (LH, v. II, p. 595).

À característica forte deste tempo é a alegria. A música, O


canto, os símbolos, os gestos, a cor dos paramentos, as leituras e
orações, enfim, tudo expressa os sentimentos de júbilo e louvor.
O ponto culminante desta manifestação é o canto de “Aleluia”,
que se repete constantemente. Diz santo Agostinho:

O aleluia diz-se durante esses cinquenta dias. Porque aleluia


significa louvor a Deus; portanto, para nós, que estamos tra-
balhando, significa chegar ao nosso descanso. Porque, quando
alcançarmos nosso descanso depois desse período de trabalho,
nossa única ocupação será louvar a Deus, nossas ações serão um
aleluia. Aleluia será nosso alimento, aleluia será nossa bebida,
aleluia será nossa aprazível atividade, aleluia será nosso gozo
completo.

Quando Jesus apareceu a seus discípulos na tarde do


primeiro domingo da Páscoa, “mostrou-lhes as mãos e o lado”

|! Do Sermão 252. In: Ryan, Vincent. Páscoa e festas do Senhor. São Paulo,
Paulus, 1995. p. 24.

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(Jo 20,20). A paixão e a cruz não são esquecidas durante o Tempo
Pascal. O sinal-da-cruz continua sendo importante, pois ressuscitou
aquele que foi crucificado e aquele que foi crucificado ressuscitou.
A cruz não está ausente da celebração da Páscoa, assim
como ela também nunca está ausente de nossas vidas. Não há
época fechada ao sofrimento, nem existe tempo em que não
precisamos carregar a nossa cruz, mas a cruz libertadora, sinal
de vida e esperança.

Lembretes importantes para as equipes


de pastoral litúrgica
l. Os símbolos litúrgicos devem expressar a alegria, ca-
racterística própria do Tempo Pascal. As flores, mas não
em quantidade exagerada, a cor branca ou a dourada, ou
mesmo o uso do colorido, devem expressar este espírito
de festa.
. O Círio Pascal, sinal do Cristo ressuscitado e luz do
mundo, deve estar sempre presente, devidamente en-
feitado e em lugar de destaque, de preferência entre o
ambão e o altar. Ele pode ser levado na procissão de
entrada ou então aceso solenemente, enquanto se canta
um refrão que evoque o sentido do gesto. É também
incensado no início da celebração.
. O“Aleluia” é o canto e a expressão por excelência deste
tempo. Ele aparece em vários momentos da celebração,
mas especialmente na aclamação ao Evangelho, que,
sempre, deverá ser solenemente cantada.
À água batismal, consagrada na noite da Vigília Pascal,
permanece junto à pia batismal ou em outro lugar de
destaque. É a lembrança do nosso batismo e da nova
vida que recebemos em Cristo.

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5. É importante que se faça, em todas as celebrações do
Tempo Pascal, a aspersão com a água benta, pois este
é um tempo batismal. Esta aspersão pode ser feita em
lugar do ato penitencial ou durante a profissão de fé. Não
se tenha medo de repetir o gesto todos os domingos. A
repetição é boa para criar a consciência da unidade do
Tempo Pascal, como um “grande domingo” que dura
cingienta dias.
6. Ao contrário da sobriedade quaresmal, o Tempo Pascal
é de exultação e de alegria. Ressuscitados com Cristo,
cantamos sua glória, sua vitória sobre a morte. O “Ale-
luia” volta a ressoar em nossos lábios, invadindo todo
o nosso ser com ardor sempre crescente, pois “as coisas
antigas já se passaram, somos nascidos de novo!”. Como
sugestão para o repertório litúrgico, temos o Hinário
Litúrgico da CNBB, 2º fascículo, que oferece ótimas
sugestões de cantos para esse tempo (ver CD: Liturgia
X — Ano B).
7. Incentivar as comunidades a fazerem a “Semana de
Oração pela Unidade dos Cristãos”, reunindo-se, se
possível, com pessoas de outras Igrejas cristãs presentes
na localidade.
8. Motivar as comunidades para fazerem a vigília de Pente-
costes, que, em muitos lugares, já é realizada, até mesmo
durante a noite inteira. Cada comunidade deve adaptar-
se conforme suas condições. Esta é uma celebração que
deve conquistar o seu lugar e a sua identidade em nossas
comunidades. O roteiro aqui apresentado é apenas uma
sugestão. Ele pode ser enriquecido, adaptado à realidade
de cada comunidade.

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Oração do 15º Congresso
Eucarístico Nacional

Florianópolis, 18 a 21 de maio de 2006


Lema: Vinde e vede!
Tema: Ele está no meio de nós.

Nós vos agradecemos, ó Pai,


Senhor do céu e da terra,
Porque em vosso Filho Jesus Cristo
Nos revelastes o mistério do vosso amor.
Ele viveu entre nós, pregou o Evangelho aos pobres,
Perdoou os pecadores e curou os enfermos.
Por fim, na última ceia,
Deu-nos o dom de seu corpo e de seu sangue,
Alimento de vida, que nos faz proclamar:
Ele está no meio de nós!

Na eucaristia,
Nos associamos à oferta que ele vos faz, ó Pai,
Pela vida do mundo.
Com ele, vos oferecemos as alegrias e as esperanças,
As tristezas e as angústias das mulheres
e dos homens de hoje.

Dai-nos a graça de celebrar com entusiasmo


O 15º Congresso Eucarístico Nacional,
Na comunhão do Espírito Santo
E em unidade com a Igreja no Brasil.
Queremos estar atentos ao convite que
vosso Filho nos faz
— Vinde e vede! —
Para segui-lo com um coração disponível.
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A Mãe de Jesus, Nossa Senhora do Desterro,
Presente com a Igreja e como Mãe da Igreja
Em cada uma das celebrações eucarísticas,
Nos ensine a contemplar seu Filho
E a adorá-lo no Santíssimo Sacramento,
Fonte inesgotável de santidade.

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,


Que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Amém!

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Vigília pascal
|5 de abril de 2006

Leituras: Gn 1,1-2,2; 22,1-18; Ex 14,15-15,1; Is 54,5-14; 55,1-1I;


Br 3,9-15.32-4,4; Ez 36,16-17a.18-28; Rm 6,3-Il; Mc 16,1-7

“Esta noite enche de luz e paz


os corações!”
(Exultet)

1. Situando-nos brevemente

A vigília que hoje celebramosé a mãe de todas as vigílias


(santo Agostinho),é o coração do ano litúrgico. Tal vigília ilumina
e dá o sentido de todas as outras celebrações. Nós a celebramos na
esperança da radiante manhã da ressurreição de nosso Senhor
A atitude de vigília não é novidade do cristianismo. Os
israelitas já celebravam uma vigília na Páscoa, na qual faziam
memória da salvação que Deus operou quando libertou seu povo
da escravidão no Egito (cf. Ex 12,14.25-27). A maior característi-
ca, no entanto, não era a saudade de tudo o que Deus realizou no
passado, mas aesperança
e a alegria por tudo o que acontecerá
no futuro, quando o Messias vier.
O cristianismo herdou do judaísmo esta dialética memó-
ria-esperança vivida na vigília pascal e enriqueceu-a. Por isso
fazemos memória dos acontecimentos mais marcantes da história
da nossa salvação, desde a criação, passando pelo êxodo e pelo
anúncio dos profetas, até a redenção definitiva realizada na res-
surreição de Jesus, que se completará na parusia. Nessa vigília,
Co — ram

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transparece a unidade-continuidade entre o Antigo e o Novo
Testamento, bem como a unidade entre a Palavra, que anuncia a
salvação, e os sacramentos, sobretudo o batismo e a eucaristia,
que atualizam e celebram a salvação. Em clima de expectativa, a
comunidade cristã recorda e revive o acontecimento salvífico da
morte-ressurreição de Cristo. Assim, a vigília pascal torna-se, ao
mesmo tempo, comemoração, porque a salvação já aconteceu, e
expectativa, porque ainda deve ser plenificada.' É celebrada na
alegria, porque mesmo o mal, o pecado e a morte, ainda presentes
e atuantes em nossa vida, são marcados pela esperança da vitória
que, em Cristo, já aconteceu.

Na vigília cristã temos presente, ainda, a longa vigília de


toda criação (cf. Rm 8,19-22) e de Deus. A vigília que celebramos
é a vigília do amor misericordioso de Deus, do amor que sofre. É
a vigília do Deus que saiu de seu descanso e voltou a trabalhar.
Nessa noite, a Palavra de Deus mostra-nos que foi mais trabalhoso
redimir do que criar a humanidade. Mostra, também, que Deus
nada poupou nesta tarefa, nem seu próprio Filho que,

assumindo como seus os pecados que não cometera, sepultou-os


na sua morte, vencendo, aí, o orgulho e a violência do início e
lançando a pedra angular de um novo edifício, humanidade nova
com possibilidade de construir a harmonia e viver na comunhão
de amor. Foi uma longa luta de Deus para salvar a humanidade
que criara.”

2. Recordando a Palavra

Apenas um olhar sobre o número de leituras, salmos e


cânticos dessa noite já nos diz que essa não é uma celebração

| Cf. BerGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade


e pastoral do ano litúrgico. São Paulo, Paulinas, 1994. pp. 352-353.
? José. Cardeal-Patriarca de Lisboa. Homilia da vigília pascal.

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como as outras. São, ao todo, nove leituras que proclamam as
maravilhas que Deus realizou para nossa salvação, bem como
os valores que os filhos de Deus devem viver.
A Palavra de Deus proclama como a Lei e os profetas
prefiguram e anunciam a Páscoa de Jesus. A meditação dessa
Palavra desperta em nós a confiança em Deus. Celebramos a
noite em que se cumpriram, em Cristo ressuscitado, as promes-
sas de Deus.
1 A primeira leitura (Gn 1,1-2,2 ou 1,1.26-3la) tem a
finalidade de unir a primeira e a “nova criação”, como
é entendida a obra redentora de Cristo, que faz de nós
“novas criaturas”. Na redenção, realiza-se o projeto que,
desde o início, Deus traçou. O relato da criação, reali-
zada em vista de Cristo (cf Cl 1,15s), transmite-nos o
ensinamento de que o universo traz a marca da bondade
de Deus, que é seu autor e de quem nós fomos criados
à Imagem e semelhança.
2) À segunda leitura (Gn 22,1-18) marca a continuidade
da Páscoa com o acontecimento da aliança e promes-
sa. Em ambos os sacrifícios — de Abraão (Isaac) e de
Jesus —, destacam-se a confiança e o abandono em Deus,
em cujas mãos é colocada a vida. Tanto Abraão como
Isaac prefiguram Jesus: Abraão, porque, em sua fé, estava
disposto a sacrificar seu filho — Jesus entregou-se a si
mesmo para salvar a todos; Isaac, como Jesus, é o filho
único, cuja vida foi oferecida e recuperada pelo Pai.
3) A libertação acontecida na travessia do Mar Vermelho
(Ex 14,15-15,1), contada na terceira leitura, é prenún-
cio do batismo, passagem do pecado e da morte para a
vida de filhos de Deus. As mesmas maravilhas operadas
para a salvação e fundação de um único povo são agora
operadas para a salvação de todos os povos pela água do

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batismo, fundando o novo Povo de Deus. É por graça
de Deus que temos vida e liberdade.
4) Ao Povo de Deus no exílio, o profeta Isaías (Is 54,5-14)
anuncia uma nova aliança, alicerçada no perdão, fruto
da eterna misericórdia de Deus, que acolhe e reúne seus
filhos dispersos por toda a terra (quarta leitura). No
batismo, a Igreja, esposa de Cristo, abre seus braços
para acolher os novos filhos renascidos pela água e pelo
Espírito.
5) Ao seu povo, exilado e disperso, Deus oferece uma nova
aliança (quinta leitura). Mas exige livre adesão, expressa
no retorno arrependido (Is 55,1-11). Em Jesus, este mes-
mo chamado à salvação é estendido a todos os povos.
6) A sexta leitura (Br 3,9-15.31; 4,4) é um elogio à sabe-
doria. Ao identificar tal sabedoria com a lei mosaica,
convida a viver segundo o ensinamento da Lei para en-
contrar a paz. No Novo Testamento, Jesus é apresentado
como o revelador da sabedoria.
7) No êxodo, o socorro foi oferecido por Deus a um povo
oprimido. Agora, Ezequiel (Ez 36,16-28) anuncia-o a um
povo rebelde (sétima leitura). A esse povo é oferecida a
salvação, não mais como mudança de classe social (de
escravo a ser humano livre), mas como mudança de co-
ração e de mentalidade. Essa renovação anunciada pelo
profeta Ezequiel é obra de Deus em Cristo por meio do
batismo. Renovar o coração e o espírito é viver e agir
em conformidade com Deus.
8) Na oitava leitura (Rm 6,3-11), Paulo apresenta o ba-
tismo como o momento em que a Páscoa de Jesus se
faz nossa e exige de nós uma conduta pascal. Pode um
cristão permanecer numa vida de pecado? Não! Morto
para o pecado pelo batismo, o cristão deve esforçar-se

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para viver de tal forma que o pecado não tenha mais
domínio sobre ele.
9) Na nona leitura, o evangelista Marcos (16,1-17) anun-
cia aquela que será a proclamação central da fé cristã:
RESSUSCITOU! Marcos não explica como aconteceu,
apenas proclama. É o “novo dia”, o dia da alegria. A
alegria que experimentamos no encontro com o ressus-
citado é também a fonte de nossa missão, que nos leva
a anunciá-la aos nossos irmãos.

3. Atualizando a Palavra
Uma jovem tinha uma doença terminal, seu diagnósti-
co lhe dava apenas três meses de vida. Enquanto ela estava
pondo as coisas em ordem, chamou o pastor à sua casa para
conversar sobre os preparativos para o seu funeral.
Ela falou das músicas que queria que fossem tocadas,
dos textos bíblicos a serem lidos e da roupa com que gosta-
ria de ser sepultada. Tudo dito, o pastor estava indo embora
quando ela se lembrou rapidamente:
— Tem mais uma coisa, pastor!
— Que é, minha filha?
— Isso é muito importante. Quero ser sepultada com
um garfo na minha mão direita!
O pastor a olhou assustado, sem saber bem o que dizer.

— Assustei O senhor, não é?

— Para ser sincero, minha filha, estou intrigado!

— Em todos os meus anos de trabalho social e de ajuda


nos refeitórios da igreja, toda vez que os pratos eram retirados
das mesas, uma voz carinhosa falava: segurem seus garfos!
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Era a minha parte favorita, pois eu sabia que a refeição ain-
da não havia terminado e que vinha algo muito melhor pela
frente, um bolo de chocolate ou uma deliciosa torta de maçã!
Então, eu quero que as pessoas me vejam naquele caixão com
um garfo na mão e se perguntem: “Pra que o garfo)”. E o
senhor responderá: “Segurem seus garfos... o melhor ainda
está por vir!”
No funeral, todos olhavam o caixão da jovem e pergun-
tavam ao pastor, que estava ao lado dela, o porquê do garfo na
mão. E constantemente ele sorria. Durante o enterro, o pastor
contou às pessoas sobre a conversa que tivera com a jovem e
também sobre o que o garfo simbolizava para ela.

“Segurem seus garfos... o melhor ainda está por vir!” A


Páscoa é a grande festa cristã. É a festa da alegria porque Cristo
ressuscitou. Vivemos num mundo carente dessa alegria e esperan-
ça, da qual somos portadores e mensageiros. Algo tem de mudar
no mundo quando ouvimos essa Palavra de Deus. Algo tem de
mudar em nós, na Igreja e no mundo, por ser Páscoa.

Nesta noite de ressurreição, inicia-se tudo novamente, desde


o “princípio“; a criação recupera o seu autêntico significado
no plano da salvação. É como um novo início da história e do
cosmo, porque Cristo ressuscitou dos mortos “como primícias
dos que morreram” (1Cor 15,20).

Que todos possamos viver a festa da Páscoa e, ao sairmos da


celebração, possamos dizer: “Eu sei que Cristo ressuscitou”:
e porque ele converteu meu coração de pedra em um
coração de carne;
* porque eu fiz a experiência do perdão;
* porque ele pôs em minha vida uma alegria que nada,
nem ninguém, pode tirar;

* JoÃo PavLo II. Homilia na vigília pascal de 2003.

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* porque tenho a sua paz;
* porque ele me liberta dos meus medos e, confiante, posso
pôr-me em suas mãos;

* porque sinto um grande amor por todos os meus irmãos;


* porque tenho sempre viva em mim a esperança;
* porque vejo no pobre o rosto de meu Senhor;
* porque sei que nunca estou sozinho;º
* porque posso ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida!

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A dimensão da esperança deve ser a tônica de toda a cele-
bração da vigília pascal: olhando para o passado, para as maravi-
lhas de Deus, devemos olhar para a frente com esperança. Este é
o sentido do batismo nesta noite. Quando não há mais esperança,
os casais não querem ter filhos. O batismo é o nascimento de
novos filhos na Igreja. Sinal de esperança, sinal de futuro. Nós
temos futuro. Nossa esperança se apóia nas promessas de Deus.
Na noite se acende uma luz, que ilumina a noite e já não
há mais trevas. A noite (pecado, preocupações, problemas) cede
seu lugar para a luz (perdão, paz, soluções). Por isso a celebração
deve acontecer sempre à noite, para não perder seu sentido de
“noite iluminada”.

Lucernário

Cristo é a luz do mundo (cf. Jo 1,9;9,12; 12,35-36). O Círio


Pascal é símbolo deste Cristo ressuscitado. As velas, que nele acen-

4 CariTAS. Un amor asi de grande. Cuaresma y Pascua 1991. p. 171. Disponível em:
<http:/Nvww.mercaba.org/DIESDOMINV'SS/VIGILIA/B/marco vigilia B.htm>.

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demos, são símbolo da vida nova que dele recebemos. Destaque
para a luz que surge nas trevas: que o fogo seja de porte razoável,
de modo que aconteça o simbolismo da luz que dissipa as trevas.
É um rito inicial, deve trazer alegria a toda a celebração.

Palavra

Contando as ações de Deus. Antes das leituras temos o


hino poético e comovente que canta a ressurreição do Senhor:
o Exultet. É um momento solene na vigília pascal, que faz uma
síntese de tudo quanto celebramos nesta noite. Depois temos
as nove leituras. Em caso de necessidade, por motivo pastotal,
elas podem ser reduzidas. Não pode, no entanto, ser omitida a
leitura do livro do Êxodo, que destaca a unidade entre a Páscoa
do Antigo e do Novo Testamento. É importante ressaltar o modo
como a Igreja lê a Palavra nesta noite: proclamando, meditando
em silêncio, rezando com o salmo e com a oração presidencial.
Um verdadeiro diálogo com Deus. Por isso não se deve omitir o
silêncio após cada leitura.

Batismo

Ressurgir com Cristo para a vida (cf. Rm 6,3-4): “A fonte


batismal é o lugar onde a Páscoa de Cristo se faz nossa, no sinal
da água e da profissão da fé trinitária. A fonte é, como a chamavam
os padres, ao mesmo tempo, túmulo do pecado e ventre materno
de onde nasce a vida”.> O batismo encaminha para a eucaristia,
na qual acontece a adesão batismal definitiva.

Eucaristia

“Fazei isto em memória de mim.” No conjunto da celebração


desta vigília, a eucaristia deve ser celebrada de forma que transpa-

* Cf. São CiriLO DE JERUSALÉM. Catequese 20. In: BERGAMINI, A. Op. cit. p. 368.
$ Cf. SÃo CiprIANO. In: BERGAMINI, A. Op. cit. p. 354.

2e
PNE - QV] - CVV nº 27
reça sua centralidade e ápice. Tudo, nesta celebração, encaminha
para a eucaristia. Por isso deve-se ter o cuidado de destacar o caráter
progressivo da celebração. Não se tenha pressa em finalizá-la.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO
Como é uma celebração mais complexa do que as outras,
exige maior preparação. Tudo deve ser estudado, preparado e
ensaiado. Nada deve ser improvisado. Com a riqueza de gestos
e símbolos desta noite, não é necessário “inventar” outros, basta
realizá-los e usá-los bem.

Celebração da luz
Prever um local um pouco afastado, onde possa ser feita
uma fogueira (isso possibilita uma pequena procissão
até a igreja).
Enquanto o fogo é aceso, pode-se cantar: “Ó luz do Se-
nhor, que vem sobre a terra! Inunda meu ser, permanece
em nós!” ou “Indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça,
Deus nos conduz”.
Antes da celebração, prever velas para a assembléia, de
preferência em número suficiente para todos.
Não esquecer a sonorização no local e algo para pegar as
brasas da fogueira e pôr no turíbulo ou incensatório.
Durante a procissão, cantar refrões ou cantos conhecidos
por todos, visto que estarão no escuro, caminhando, com
velas nas mãos.

Celebração da Palavra
Prever um local próximo ao ambão onde possa ser co-
locado o Círio.

23
PNE - QV]- CVV nº 27
* O Exultet deve ser bem cantado. Se o presidente não
puder cantar, outra pessoa preparada poderá fazê-lo.” E
cantado do ambão.
* Preparar bem o grupo de canto, os leitores e os salmistas.
e O canto de aclamação ao Evangelho, o “Aleluia”, deve
ter um destaque especial.
ns

e Ahomilia deve ser breve e direta. Que ela ajude os fiéis


a sentirem-se interpelados por essa Palavra de esperança
que foi proclamada.

Celebração do batismo
* Que nessa noite seja realizado ao menos um batismo,
de preferência de um adulto.
e Valorizar o gesto de mergulhar o Círio 3 (três) vezes na
água, conforme indicado no Missal romano, p. 287.
* Pode-se abençoar água para que os fiéis a levem para
sUas Casas.

Celebração da eucaristia
e Arrumar o altar no momento da preparação das ofertas.
e Usar pão ázimo.
e Distribuir a comunhão sob as duas espécies.

Ornamentação
e (Ornamentar os locais que marcam as quatro partes da
celebração da vigília: o Círio, o ambão, o batistério (pia
batismal), o altar.

7 O Hinário linírgico 2, da CNBB, tem uma versão do Exultet com respostas para
a assembléia poder participar mais intensamente.

24
PNE - QV) - CVV nº 27

Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor
16 de abril de 2006

Leituras: At 10,344.37-43; Salmo 117(118),1-2.16ab-17.22-23424);


C13,1-4; Jo 20,1-9 (ressurreição)

“Este é o dia que o Senhor


fez para nós!”
(SI 17[118])

1. Situando-nos brevemente
Ainda sentimos, em nosso coração, o ressoar festivo do
aleluia pascal que, ontem à noite, quebrou o silêncio que vivemos
após a morte do Senhor.
Maria Madalena encontrou o túmulo vazio. O Mestre não
estava mais lá. Não, ele ressuscitou, “ele está no meio de nós”.
Esta é a grande alegria que celebramos neste domingo, a desco-
berta do túmulo vazio e, mais do que isto, o encontro com Jesus
ressuscitado, a certeza de sua presença viva no meio de nós,
domingo da Páscoa da ressurreição do Senhor.
Estamos a quase um mês do Congresso Eucarístico Na-
cional, que se realizará em Florianópolis, de 18 a 21 de maio,
e que vem afirmar esta convicção: “Ele está no meio de nós”,
clamando, com vigor, a todos nós, batizados, “Vinde e vede!”
(Jo 1,39). É o Senhor!
Como cristãos, Igreja em Jesus Cristo, lembramos, também
nesta semana, no próximo dia 19, que, há um ano, o mundo viu
sair a fumaça branca da chaminé da Capela Sistina, no Vatica-
25
PNE - QV]- CVV nº 27
no, indicando a esperada notícia: havia sido escolhido o novo
papa, Bento XVI, nascido em 16 de abril de 1927, justamente
num sábado de Aleluia. Relembremos hoje, nesta Páscoa da
ressurreição do Senhor, o que o papa Bento disse na cerimônia
de sua posse: “A Igreja está viva, porque Cristo está vivo, pois
ele verdadeiramente ressuscitou”.
É esta certeza que, com muita fé, celebramos hoje, inaugu-
rando, assim, os cinquenta dias do Tempo Pascal, que culminarão
com a festa de Pentecostes, quando o Espírito do Ressuscitado
será derramado sobre nós.

2. Recordando a Palavra

À primeira leitura apresenta o anúncio da centralidade de


nossa fé cristã na palavra de Pedro. Ele anuncia a ressurreição
de Jesus a todos: “Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas
Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10,39-40).
Pedro dá o testemunho vivo da ressurreição que celebramos
hoje, dizendo que comeram e beberam com Jesus, depois que ele
ressuscitou dos mortos. Comer e beber é próprio de quem está
vivo, Isto nos dá a clareza de que Jesus não era apenas espírito
quando apareceu aos discípulos, após sua morte e ressurreição.
Paulo, escrevendo da prisão para os colossenses, recomen-
da a todos um grande esforço para “alcançarmos as coisas do alto”
(C1 3,1), a salvação que Jesus nos trouxe, correspondendo, com
nossas atitudes e nossa vida, ao seguimento do Senhor. Alcançar
a salvação tem relação direta com a nossa fé.
A ida de Maria Madalena ao túmulo é imagem plena da
fidelidade. Sozinha, ela jamais conseguiria retirar a pedra. Mes-
mo sabendo disso, foi até lá e encontrou a pedra já retirada da
entrada do túmulo onde haviam colocado Jesus. Sua fidelidade
garantiu-lhe a graça de ver o túmulo vazio. Mesmo assim, ela

26
PNE - QV] - CVV nº 27
(custou a entender o que havia acontecido. Seu primeiro pensa-
mento foi de que alguém havia retirado dali o corpo de Jesus, por
isso foi em busca de auxílio. São, então, os dois discípulos que
constatam as faixas e os panos no chão. Esses foram os sinais
para que todos compreendessem a Escritura que anunciava que
Jesus iria ressuscitar dos mortos.
Os dois discípulos corriam juntos, mas um correu mais do
que o outro, chegou primeiro e acreditou. Este era, exatamente,
o “discípulo amado”, representando todo aquele que coloca o
amor à frente, como prioridade, e pelo amor reconhece primei-
ro a quem ama. Crê pelo amor, antes da razão, antes de ver, e,
crendo, vê pelos olhos da fé que antecipam a verdade, dispensam
as comprovações.
Esta passagem do Evangelho é o elo entre a escuridão que
os discípulos vivenciaram após a morte de Jesus e a grande ale-
gria do encontro com o Senhor ressuscitado. Eles ultrapassaram
a escuridão, o grande vazio, o grande tempo da desesperança,
pior que a dor de acompanhar a Paixão do Mestre. Sair deste
tempo é, pois, o momento supremo, o grande dia de suas vidas,
o grande dia da vida de todos os que professam a fé em Cristo,
“o grande dia que o Senhor fez para nós!”. Por isso, no salmo
de ação de graças, que o salmista entoa por todos os cristãos,
elevamos nosso louvor a Deus, que ressuscitou Jesus.
Essa alegria precisa continuar a ser anunciada ao mundo,
a exemplo do que vimos Pedro fazendo no relato da segunda
leitura. Os discípulos foram testemunhas da ressurreição, esti-
veram com Jesus após sua morte, comeram e beberam com ele.
Como tal graça lhes foi concedida, cabe a eles testemunhá-la ao
mundo. O próprio Senhor mandou-lhes pregar ao povo que Deus
o ressuscitara, que ele vencera a morte.
Como seus discípulos, também nós, a quem foi anunciada
esta grande alegria, somos convidados a transmiti-la, continuando
a missão dos apóstolos.

2]
PNE - QV) - CVV nº 27
3. Atualizando a Palavra

Será que, no nosso cotidiano, conseguimos viver este grande


e único dia, conseguimos ultrapassar o túmulo vazio?
Será que nossas atitudes nos levam a encontrar com Jesus
ressuscitado ou sempre achamos que o levaram de nós?
Também a nós são dados sinais, mas muitas vezes custamos
a compreendê-los. Os discípulos seguiram os sinais, compreen-
deram a Escritura e encontraram, verdadeiramente, o Cristo
ressuscitado.

Maria Madalena, como sabemos pela continuidade deste


Evangelho, mesmo pensando que haviam levado o corpo de Jesus,
não deixa de ser fiel: ela permanece junto ao túmulo, e o Senhor
a recompensa e aparece-lhe.
Nos momentos difíceis de nossas vidas, temos a tendência de
abandonar nossa fé, afastando-nos de Jesus, mas é permanecendo
fiel a ele, que o descobrimos conosco, descobrimos que ele nunca
nos deixou.

Precisamos manter-nos fiéis a ele para vê-lo ressuscitado.


Então, compreendemos que é preciso vê-lo vivo na criança
que nasce, no sol que amanhece o dia, no irmão que precisa de
nós, na missão que está à nossa frente. “Em verdade, eu vos digo
que todas às vezes que fizestes isso a um dos menores de meus
irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40).
E preciso escutar sua Palavra, fazer memória de sua entrega
por nós e, sobretudo, agir com seu coração nos gestos de partilha
e de amor que nos são propostos.
Quantas vezes deixamos de ajudar alguém por achar que
não poderemos mudar muita coisa, que nossa ação é frágil e que
não adianta tentar? Deixamos de 1r ao túmulo por medo de não
conseguir retirar a pedra.

28
PNE - QV) - CVV nº 27
Quantas vezes não deixamos de encontrar a solução para
um problema por achar que isso cabe aos outros? Por deixar-
mos de buscar outras alternativas? Achamos o túmulo vazio
e permanecemos na perda; é preciso ultrapassá-lo, transpor a
ausência. Não podemos nos deixar deter pelo obstáculo, culpar
os outros sem tentarmos nós mesmos; não podemos desistir da
caminhada.
No momento em que Maria Madalena não encontrou o
corpo do Senhor, sua preocupação e seu desejo ardente foram
de achá-lo, mas não esperava encontrá-lo vivo.
Nossa compreensão custa a olhar as situações com os olhos
de Deus; estamos sempre pedindo graças, mas, na maioria das
vezes, não sabemos pedir. Ficamos presos aos nossos pequenos
desejos e não deixamos que a ressurreição também aconteça
no dia-a-dia de nossas vidas. Nossas perdas sempre nos fazem
ressuscitar para situações novas, mas gostamos de apegar-nos às
coisas velhas, aos túmulos vazios.
Abrindo-nos ao plano de Deus, ressuscitamos também nós
a cada dia, e sentimos, verdadeiramente, a presença de Jesus
ressuscitado em nossas vidas.
Alimentando-nos no pão da sua Palavra e da eucaristia,
servindo a mesa do irmão, sentiremo-lo ressuscitado, vivo, no
meio de nós.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Sempre que celebramos a eucaristia vivemos a grande
alegria do encontro com Jesus ressuscitado, sentamos à mesa
com o Senhor, comemos e bebemos com ele, vivemos a certeza
de que está vivo, presente no meio de nós.
É ele próprio que nos fala quando proclamamos as leituras,
é com as palavras com as quais muitas vezes ele se dirigiu ao Pai
que entoamos o salmo e deixamos seu Espírito cantar em nós.

29
PNE - QV) - CVV nº 27
Como ele fez, oferecemos o pão e bendizemos ao Pai.
Como Maria Madalena e os discípulos, na oração eucarística,
anunciamos sua morte e ressurreição: “Anunciamos, Senhor, a vossa
morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.
Na comunhão, também como Jesus fez, partilhamos o pão,
ele próprio, alimento para nossa vida e caminho de salvação.
E, assim como enviou seus discípulos, somos todos, a cada
celebração, enviados a anunciar sua paz, na certeza de que ele
está conosco na missão.

Na liturgia da celebração eucarística, vivemos o grande dia


que o Senhor fez para nós, e, em especial hoje, o grande ama-
nhecer da Páscoa da ressurreição do Senhor, a descoberta de que
Jesus venceu a morte, o final da noite.

Por isso ecoe hoje e sempre, ao Senhor, nossa oração deste dia:

Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abriste


hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando
a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressus-
citemos na luz da vida nova.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
À equipe de pastoral litúrgica deve, com o mesmo cuidado
habitual, preparar a liturgia do domingo de Páscoa, lembrando
que muitas pessoas não participaram da vigília pascal.
É importante:
1. Salientar com flores o Círio Pascal em lugar de destaque,
no presbitério.
2. Fazer aspersão do povo, substituindo, assim, o ato pe-
nitencial.

30
PNE - QV] - CVV nº 27
3. Cantar a segiência após a segunda leitura.
. Escolher uma melodia vibrante para o “Aleluia” da
Aclamação e cantar a antífona do Evangelho.
. Deixar a água abençoada na vigília pascal junto à fonte
batismal.
. Fazer a comunhão sob as duas espécies.
. Fazer a exclamação, com os dois “Aleluias”, no envio
dos fiéis.

31
PNE - QV)- CVV nº 27
2º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor
23 de abril de 2006

Leituras: At 4,32-35; Salmo 117(118),2-4.16ab-18.22-24(+1);


IJo 5,1-6; Jo 20,19-31 (Tomé)

“Vimos o Senhor!”
(Jo 20,25)

1. Situando-nos brevemente

Estamos no Tempo Pascal, no qual celebramos a ressur-


reição do Senhor, como num único e grande dia, que se estende
desde o domingo de Páscoa até o domingo de Pentecostes.
Hoje, domingo da Divina Misericórdia, instituído por João
Paulo II, damos graças ao Senhor por seu eterno amor por nós,
sempre disposto a nos perdoar, quando nosso coração arrepen-
dido volta-se para ele. Como Tomé, dizemos: “Meu Senhor e
meu Deus” (Jo 20,28).
Preparando-nos, como Igreja, para acompanhar e viver o
15º Congresso Eucarístico Nacional (CEN), celebremos a euca-
ristia, memória da presença de Jesus no meio de nós. O convite
do lema do CEN, “Vinde e vede”, tem a sua resposta na liturgia:
“Vimos o Senhor!”.

2. Recordando a Palavra

Hoje, a liturgia da Palavra mostra-nos o Senhor ressus-


citado pelo grande amor misericordioso do Pai. Fala-nos de

33
PNE - QV] - CVV nº 27
partilha, fé e missão: “Entre eles ninguém passava necessidade”
(At 4,34).

À primeira leitura traz-nos o “retrato” da primeira comu-


nidade fundamentada na fé e na partilha. Quando se vive verda-
deiramente a fé em comunidade, não há necessitados. Para isto é
preciso superar o egoísmo, o desejo de poder e de ter. “Ninguém
considerava como próprias as coisas que possuía” (At 4,32).
O Senhor provou a todos seu amor na paixão e morte de
seu Filho Jesus. Ao ressuscitá-lo, mostrou o quão grande é o seu
amor por nós, seu poder e sua eterna misericórdia. Por isso os
primeiros cristãos testemunhavam com sua firme fé e com sua
alegria; assim atraíam cada vez mais pessoas para suas comunt-
dades, viviam o milagre da partilha, constantemente dando graças
ao Senhor. “Daí graças ao Senhor porque ele é bom, eterna é a
sua misericórdia” (Sl 118[1177]).
Na segunda leitura, João fala-nos de nossa retribuição ao Se-
nhor por sua bondade e misericórdia, dizendo que nosso amor a Deus
deve ser comprovado pela nossa fidelidade aos seus mandamentos.
São João afirma: “Pois todo o que nasceu de Deus vence o mundo.
E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4).

Pelo batismo, crisma e eucaristia, somos chamados filhos de


Deus, renascemos em Cristo e com ele venceremos o mundo. Na
oração deste domingo, vemos a relação e a complementaridade
dos três sacramentos da iniciação cristã:

Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo


na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos destes.
E fazei que compreendamos melhor o batismo que nos lavou, o
espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos redimiu.

O Evangelho narra a aparição de Jesus ressuscitado à co-


munidade reunida. E fundamental voltarmos nosso olhar para
o momento que Jesus escolheu: a comunidade reunida! “A paz

34
PNE - QV] - CVY nº 27
esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”
(Jo 20,21).
Depois de sugerir a situação de insegurança e de fragilidade
em que a comunidade estava (o “anoitecer”, as “portas fechadas”,
o “medo”), o autor desse texto apresenta Jesus “no centro” da
comunidade. Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-se como
ponto de referência, fator de unidade. A comunidade está reunida
em volta dele, pois ele é o centro onde todos vão beber essa vida
que lhes permite vencer o “medo” e a hostilidade do mundo.
Jesus passa para os discípulos a missão que recebeu do
Pai, dando-lhes o dom do Espírito Santo e a graça de oferecer
o perdão.
Jesus “soprou” sobre os discípulos reunidos em sua volta.
O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de 6n 2,7 — o
qual diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-
lhe a vida de Deus. Com um “sopro”, o homem tornou-se um
ser vivente; com um “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a
vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos
possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem — como o
Mestre — dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que
constitui e anima a comunidade cristã.
Cheios do Espírito Santo, os discípulos anunciaram: “Vi-
mos o Senhor!(Jo 20,25). Maria Madalena havia anunciado aos
discípulos que vira Jesus, mas eles continuavam com medo, com
as portas fechadas. Jesus apareceu-lhes não só para que dessem
testemunho de sua ressurreição, mas também para dar-lhes o
Espírito Santo e enviar-lhes em missão.
Tomé não acreditou no que os outros lhe contaram, não
só porque não viu Jesus, mas, antes, porque não estava no meio
deles, como comunidade. Teve dificuldades de crer, porque estava
só; precisou de provas. Formar comunidade remete os discípulos à
união num só espírito, no Espírito de Jesus, por isso eles têm a graça

35
PNE - QV) - CVV nº 27
de vê-lo. A fé precede nosso olhar, é o que Jesus confirma depois:
“Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29).
Os discípulos ainda não o tinham visto, mas permaneceram
unidos, como seguidores do Mestre, fiéis a ele, embora com o
medo que faz parte da fragilidade humana.
Tomé precisou ver para crer, por isso, arrependido, professa
sua fé em Jesus Cristo: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).
É na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu
testemunho) que encontramos as provas de que Jesus está vivo.
Tomé acaba por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da
comunidade. Por quê? Porque, no “dia do Senhor”, volta a estar
com a sua comunidade. É uma alusão clara ao domingo, ao dia
em que a comunidade é convocada para celebrar a eucaristia:
é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos,
com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que
se descobre Jesus ressuscitado.
O testemunho de Tomé e dos outros apóstolos leva ao mun-
do o anúncio da ressurreição de Jesus, em missão, como Igreja,
como comunidade unida em um só coração, vivendo o amor, a
partilha e a fidelidade à Palavra de Deus.

3. Atualizando a Palavra
Pensemos no nosso hoje: se ouvíssemos de outros: “Vimos
o Senhor!”, sem o testemunho narrado no Evangelho, será que
nossa atitude seria muito diferente da de Tomé?
Nossa fé precisa ser, realmente, incondicional para que
reconheçamos o Senhor. Mesmo sem podermos tocar em suas
mãos e em seu peito aberto, é possível vê-lo num simples pedaço
de pão, porque ele disse que ali estaria, se reunidos celebrássemos
sua memória. Se estivermos, porém, ausentes da comunidade,
do Espírito de amor e partilha que ele nos propõe, poderemos

36
PNE - QV) - CVV nº 27
ser o Tomé de hoje, incapazes de crer. Fora da comunidade, da
fé e da vivência segundo o Espírito de Deus, dizer que ele está
vivo no meio de nós pode fazer-nos parecer meros visionários
aos olhos de quem não crê.
Hoje também, é preciso acreditar antes de ver, pois é a fé que
abre nossos olhos à presença de Jesus, a seus sinais e a sua graça.
Este é nosso desejo, todos “queremos ver Jesus”, tal qual
expresso no Projeto Nacional de Evangelização: “Ver Jesus é o
anseio mais profundo do coração humano, mesmo sem o saber.
Em Jesus, Deus manifesta-se aos que o procuram e lhes oferece
a vida em plenitude” (PQVI, p. 5).
Os apóstolos anunciaram “Vimos o Senhor!”, esta

continua sendo, hoje, a missão dos cristãos e da Igreja toda:


ajudar os outros a se aproximarem de Jesus e a terem com ele um
encontro pessoal. Jesus Cristo é o caminho proposto por Deus à
pessoa, à comunidade e à sociedade, para que estejam na verdade
e, por meio dele, tenham vida em abundância (PQVIJ, p. 5).

Que Jesus significa para nós? Ele foi apenas um “homem


bom” que a morte derrubou? Ou é o Filho de Deus, que veio ao
nosso encontro para nos propor o caminho do amor total, a fm
de chegarmos à vida definitiva? O caminho do amor, do dom,
do serviço, da entrega que Cristo nos apresentou é uma proposta
que assumimos e procuramos viver?
Não vivemos mais na mesma sociedade relatada na pri-
meira leitura, onde os cristãos partilhavam seus bens e não havia
necessitados entre eles. A comunidade cristã de Jerusalém era,
de fato, a comunidade ideal? Possivelmente, não. Outros textos
dos Atos falam-nos de tensões e problemas — como acontece
com qualquer comunidade humana. A descrição que Lucas faz
aponta para a meta a que toda a comunidade cristã deve aspirar,
confiada na força do Espírito. Trata-se, portanto, de uma descrição

37
PNE - QV) - CVY nº 27
da comunidade ideal, que pretende servir de modelo à Igreja e
às Igrejas de todas as épocas.
Temos que pensar como viver esta união e esta partilha, no
nosso mundo atual, pois só o espírito comunitário abre nossos
olhos à presença de Jesus. Por isso é importante nosso engaja-
mento no Projeto Nacional de Evangelização, tomando como
nossas, em nossas comunidades, as metas propostas:
* a promoção da pessoa e sua dignidade;
* a renovação da comunidade;
* a participação na construção da sociedade justa e soli-
dária (PQVJ, p. 12).
O texto do Subsídio Teológico 2 do 15º Congresso Euca-
rístico Nacional reafirma essa necessidade à semelhança dos
primeiros cristãos:

Jesus faz-se presente entre nós quando nos reunimos para


a oração, a vivência da fraternidade, a correção fraterna, a
celebração da comunhão e da unidade cristã, a partilha de
nossas vidas, os compromissos sociais de nossa fé, os grupos
de reflexão, a caminhada das CEBs, as ações de nossos movi-
mentos, pastorais e serviços, as novenas, procissões, romarias
(pp. 25-26).

Nestas nossas formas atuais de estarmos reunidos em comu-


nidade, vamos, com firmeza na fé, fazer o convite a todos os Tomés
que não estão conosco: “Vinde e vede! Ele está no meio de nós”.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A exemplo das primeiras comunidades que se reuniam nas
casas para a oração e a partilha do pão, também nós, hoje, nos
reunimos para celebrar a eucaristia, no primeiro dia da semana.

38
PNE - QV) - CVV nº 27
Assim como os discípulos ouviram o Senhor ressuscitado,
na liturgia da Palavra, quando são proclamadas as leituras, é Jesus
que nos fala novamente.
Após o escutarmos e refletirmos a Palavra na homilia, como
Tomé, fazemos nossa profissão de fé e rezamos o Credo.
Através do ministro que preside a assembléia, na liturgia
eucarística, quando temos Jesus presente no pão e no vinho, é
ele mesmo que nos diz, como outrora aos discípulos: “A paz do
Senhor esteja sempre convosco”.
Depois que comungamos o próprio Jesus que se dá a nós em
alimento, com a bênção de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, somos
enviados em missão, tal qual os discípulos, que de Jesus receberam
a missão confiada a ele pelo Pai. A cada celebração, esta missão nos
é confiada novamente, e a cada celebração damos graças a Deus,
“porque ele é bom; porque eterna é a sua misericórdia”.
Não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas, egoís-
tas que encontramos Jesus ressuscitado, mas sim no diálogo
comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor
que une os irmãos em comunidade de vida.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
l. Salientar com flores a presença do Círio Pascal no
presbitério, em lugar de destaque. Se não for trazido na
procissão de entrada, acendê-lo solenemente, cantando
um refrão que lembre a luz de Cristo.
2. Oato penitencial pode ser substituído pelo rito da asper-
são com água batismal consagrada na vigília pascal.
3. Salientar o momento da profissão de fé, iniciando e ter-
minando ou intercalando com a expressão “meu Senhor
e meu Deus”.

39
PNE - QV] - CVY nº 27
. Ressaltar o sentido de comunidade, rezando o pai-nosso
de mãos dadas.

. Oportunizar o momento do “abraço da paz”: após a


homilia ou antes da liturgia eucarística ou mesmo no
final da celebração.
. Fazer a comunhão sob as duas espécies,
. Nas comunidades onde o espaço litúrgico permitir,
convidar a assembléia para que se aproxime do altar no
início da liturgia eucarística.
. Como canto final, entoar uma música que ressalte a
missão.

. Fazer, ainda, a exclamação, com os dois “Aleluias”, no


envio dos fiéis.

40
PNE - QV) - CVV nº 27
3º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor
30 de abril de 2006

Leituras: At 3,13-15.17-19; Salmo 4,2.4.7.9(7a); IJo 2,1-5a;


Lc 24,35-48 (aparição em Jerusalém)

“Nós somos testemunhas”


(At 3,15b)

1. Situando-nos brevemente
No dia em que celebramos o terceiro domingo da Páscoa,
voltamo-nos ao Senhor da vida. Temos o mesmo desejo dos dis-
cípulos: “Queremos ver Jesus — Caminho, Verdade e Vida!”. Con-
firmados na fé pelos sinais sensíveis e instruídos pelas palavras da
Escritura, podemos perceber a sua presença viva na comunidade.
Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como podemos fazer
uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como
podemos mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a
oferecer aos seres humanos a salvação” É, fundamentalmente,
a essas questões que a liturgia do terceiro domingo da Páscoa
procura responder.
Estamos chegando ao final do Ano da Eucaristia, que se
concluirá no 15º Congresso Eucarístico Nacional. Celebrar a eu-
caristia é sinal de reconhecimento da importância de Deus na vida
da pessoa. É adesão ao Senhor. No Evangelho, Jesus quer levar as
pessoas a crerem nele. As Diretrizes da ação evangelizadora da
Igreja no Brasil apresentam os seguintes dados do Censo 2000:
os que se declaram “sem religião” passam de 4,7% da população

41
PNE - QV) - CVV nº 27
(1991) para 7,4% (2000), ou de 7 milhões para 12,5 milhões. No
Evangelho, Jesus quer levar as pessoas a crerem nele.
Incluímos em nossa celebração o Dia Mundial do Trabalha-
do, a ser comemorado no dia 1º de maio. Trabalhar é participar
da obra da criação. É administrar o mundo para a dignidade e o
bem comum de todos. No Dia Mundial do Trabalho, lembremos
as injustiças, as explorações, o subemprego, o desemprego a que
são submetidas milhares de pessoas.

2. Recordando a Palavra

Deus ressuscitou Jesus dos mortos, anuncia o apóstolo


Pedro (cf. At 3,15). Esse acontecimento é a Boa-Nova para o
mundo. Por isso os apóstolos são, em primeiro lugar, testemunhas
e anunciadores da ressurreição de Jesus Cristo. O evangelista
Lucas, no capítulo 24, apresenta três provas da ressurreição: a
afirmação feita pelos anjos às mulheres e por estas referida aos
discípulos (vv. 4-11); a manifestação do Ressuscitado aos discí-
pulos de Emaús (vv. 13-35); a aparição aos onze, juntamente com
seus companheiros, no cenáculo (vv. 35-43). À terceira prova é
a passagem deste domingo.
Os vv 36-43 do Evangelho podem ser chamados de “a
prova dos sentidos”.! Os sentimentos dos discípulos são de medo,
susto, surpresa e alegria. Para que eles possam entender o que
está acontecendo, o Ressuscitado fala, deixa-se ver, pede para
ser tocado e toma a comida na presença deles.
À seguir, nos vv. 44-48, para levar os seus ouvintes a crer, o
Ressuscitado passa a fazer memória do que está escrito sobre ele na
Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos. A argumentação a partir das
Escrituras, como palavra inspirada, torna-se uma fonte indispensável

! BoccaLi, A. & LAnNcELLOTI, G. Comentário ao evangelho de são Lucas. Rio de


Janeiro, Vozes, 1983.

42
PNE - QV) - CVV nº 27
para compreender os acontecimentos relacionados com o Messias.
Principalmente para aclarar qual Messias deveria vir.
À pregação do apóstolo Pedro, na primeira leitura, parte
de uma experiência feita em nome de Jesus: a cura do aleijado.
“Ouro e prata não tenho, mas o que tenho eu te dou: em nome
de Jesus Cristo: levanta-te e anda!” (At 3,6) Jesus está vivo e
continua agindo. Pedro apresenta-se como uma testemunha desse
fato. Não teme dizer a verdade e convida os ouvintes a crerem
no Cristo ressuscitado: “Disto nós somos testemunhas!”.
À primeira carta de são João afirma que conhecer a Deus
é guardar seus mandamentos. Conhecer, na linguagem joanina,
não é apenas uma assimilação racional de um conteúdo, mas,
principalmente, envolvimento e adesão a quem se conhece.

3. Atualizando a Palavra
“Eu acho que a minha fé está diminuindo. Eu não sei se
ainda creio.” É uma confissão relativamente freqiiente feita por
pessoas de diferentes idades, de formação religiosa variada, com
inserção maior ou menor na comunidade. Quando alguém diz
isso, percebe-se uma mistura de sentimentos de medo, decepção,
susto e incerteza. Por que isso está acontecendo? Ou: Quais os
sinais que confirmam tal mudança? Para tais interrogações, apa-
recem as mais diversas respostas. Poderíamos resumi-las em dois
grupos, de acordo com o Evangelho de hoje: dúvidas de sentir e
dúvidas de compreender no que se acredita.
Os sentidos e os sentimentos têm uma influência muito
grande na vida humana. Temos a possibilidade de ampliar e
aperfeiçoar o que é belo à visão, gostoso ao paladar, harmonioso
aos ouvidos, prazeroso ao tato, agradável ao olfato. Forma-se
uma equação de que é verdadeiro o que é conforme os sentidos
e falso o que não os satisfaz. De modo análogo, verdadeira é a

43
PNE - QV) - CVV nº 27
fé que satisfaz os sentidos e questionável é a fé quando não os
satisfaz. Quando sinto Deus e seu amor, creio. Quando, na ce-
lebração eucarística, na recepção dos sacramentos, nas orações
pessoais, nos exercícios de piedade, sinto que Deus me escuta,
me atende, me oferece um retorno, é sinal de que creio. Se Isso
não ocorre, começam as interrogações.
Não existe a menor dúvida de que sentir a presença e a
ação de Deus traz uma alegria e uma satisfação muito grande.
Muitíssimas páginas da Sagrada Escritura são um grito de alegria,
um testemunho alegre desta experiência. O último versículo do
salmo responsorial diz: “Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo
adormeço, pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha
vida!” (Sl 4,9). O Criador, conhecendo a sua criatura, também
usa esse meio para fazer as pessoas crerem e aderirem ao seu
projeto, porém não é o suficiente.
Temos, também, as “dúvidas de compreender”. Quando
falamos de acesso a informações sobre os mais diferentes assun-
tos, inclusive religiosos, vivemos numa época privilegiada. Para
permanecermos no nosso tema, o acesso a explicações sobre a
razão da nossa fé não nos falta. Como também não faltam infor-
mações sobre outras tantas crenças diferentes da fé católica. Tal
pluralidade religiosa e as múltiplas interpretações dos mesmos
fatos levantam uma série de interrogações. À interpretação da
Igreja católica é a mais adequada”? As novas nuanças interpreta-
tivas aprofundam ou levam à negação do que aprendi”
As dúvidas provocadas pela pluralidade são oportunidades
para que Cristo possa abrir “a inteligência dos discípulos para
entenderem as Escrituras” (Lc 24,45). Quando alguém duvida
do que crê, mostra que já foi iniciado. A partir dessa iniciação,
pode dispor-se para ser conduzido a uma compreensão mais
aprofundada. Os discípulos tinham ouvido, diversas vezes, sobre
o que deveria acontecer com o Messias. Será que as explicações
dadas não tinham sido suficientes ainda? Ou melhor, faltava

44
PNE - QV] - CVV nº 27
uma oportunidade para desestabilizar ou para colocar em crise
o que tinham ouvido? O contexto criado permitiu que o Mestre
retomasse os ensinamentos para serem assimilados e colocasse
uma base, que poderíamos denominar de “racional”, para a fé
dos seus discípulos.
Confessar: “eu não sei se ainda creio”, apresenta-se como
uma oportunidade muito favorável. A partir dessa dúvida de fé,
o Cristo ressuscitado pode renovar a fé dos seguidores.
“A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio
de demonstrar as realidades que não se vêem” (Hb 11,1). A fé é
uma certeza. Uma certeza marcada por uma faixa de incerteza, de
risco, de indefinível, não-demonstrável para a nossa inteligência e
os sentidos. Crer é usar a razão para entregar-se, confiar. É aceitar
Deus através da sua Palavra. É experiência pascal e encontro em
profundidade com o Ressuscitado.
Crer é viver toda a nossa vida com espírito pascal, isto é,
como ressurreição perene e nascimento constante para a vida
nova em Deus (1Pd 1,3). Crer é atrever-se, como os apóstolos
e os primeiros fiéis, convertermo-nos radicalmente, mudando o
rumo de nossa vida e dando a razão de nossa esperança, apesar da
dúvida do egoísmo, da injustiça e do desamor, da vulgaridade e da
morte. Porque a conversão, como o crer, é tarefa de todo tempo,
inclusive o pascal.? Confirmados e reanimados na fé, Jesus nos
diz: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48).

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


À eucaristia é uma oportunidade ímpar de encontrarmo-
nos, festiva e comunitariamente, com o Cristo ressuscitado. Na
oração da coleta, rezamos: “O Deus, que o vosso povo sempre

2 Cf. CABALLERO, Basílio. Nas fontes da palavra. Ano B. 1986. p. 116.

45
PNE - QV) - CVY nº 27
exulte pela sua renovação espiritual, para que, tendo recuperado
agora com alegria a condição de filhos de Deus, espere com plena
confiança o dia da ressurreição”. A comunidade exulta de alegria
e por isso eleva ao Deus da vida a sua ação de graças.
À renovação espiritual que acontece faz a Igreja festejar,
pois sois a causa de tão grande júbilo, diz-nos a oração sobre
as oferendas. À alegria e a festa são a tonalidade predominante
da liturgia deste domingo.
Uma comunidade fortalecida na fé, formada por pessoas
que vivem no agora a certeza da ressurreição, a alegria da vida
eterna, contagia o mundo com seu testemunho.
Os cristãos, libertados dos fantasmas que preocupam e geram
dúvidas, dizem ao mundo que sobre eles brilha a face do Senhor.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
1. Estamos no Tempo Pascal. E ainda Páscoa! Por isso
continuar destacando no espaço celebrativo o Círio
Pascal, a pia batismal, o ambão e o altar.
2. Criar um ambiente favorável, desde a acolhida, para
possibilitar a escuta dos textos bíblicos e da homilia.
3. Na profissão de fé, convidar os catequizandos da inicia-
ção cristã para aproximarem-se do Círio Pascal.
4. Valorizar o abraço da paz como expressão do desejo
de Jesus: “A paz esteja convosco”. E uma saudação
pascal.
5. Destaque a imagem de são José Operário, lembrando o
Dia Mundial do Trabalho.

46
PNE - QV) - CVV nº 27
FESTA DE SÃO José OPERÁRIO, 1º DE MAIO

O papa Leão XIII, na encíclica Rerum novarum, de


1891, ao falar sobre a situação dos operários, afirma que
sobre a imensa maioria deles se impõe um jugo quase ser-
vil. A revolução industrial introduzira muitas novidades,
mas também graves problemas e inquietações. Diante da
gravidade da situação, começaram a fervilhar conflitos
e propostas de solução. As reivindicações dos operários,
muitas vezes violentas e marcadas pelo ódio, não podiam
se limitar a melhores salários, menor jornada de trabalho,
liberdade de criar sindicatos. O mundo operário precisava
ser evangelizado. Como se faria 1sso?
Leão XIII incentivou os operários a olharem para
são José. A Igreja incentiva e orienta, através da doutrina
social, que os operários católicos se envolvam para acabar
com as injustiças do mundo do trabalho. Como marco da
ação pastoral desenvolvida no mundo do trabalho, em 1955,
Pio XII instituiu a Festa de São José Operário, modelo e
protetor dos trabalhadores e trabalhadoras.
Diz a Gaudium et spes:
Os homens e as mulheres que, ao procurar o sustento para
si e suas famílias, exercem suas atividades de maneira a
bem servir à sociedade, têm razão para ver no seu trabalho
um prolongamento da obra do Criador, um serviço a seus
irmãos e uma contribuição pessoal para a realização do
plano de Deus na história (n. 34).
Oração: Ó Deus, criador do universo, que destes aos
seres humanos a lei do trabalho, concedei-nos, pelo exemplo
e proteção de são José, cumprir as nossas tarefas e alcançar
os prêmios prometidos. PNSJC. Amém.

47
PNE - QV] - CVV nº 27
4º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor
7 de maio de 2006

Leituras: At 4,8-12; Salmo 117(118),1 e 8-9.21-23.26 e 28cd e 29(422);


IJo 3,1-2; Jo 10,1-18 (o Bom Pastor)

“O Bom Pastor dá sua vida”


(jo 10,11)

Maio: Tempo Pascal ou mês mariano?


À primeira vista, parece que a pergunta exige a opção por
uma das duas celebrações, uma excluindo a outra.
Não é bem assim. Temos de ter presente que o ano litúrgico
tem uma centralidade, que é o mistério pascal de Jesus Cristo,
que é celebrado durante todo o ano litúrgico, mesmo que, em
certas ocasiões, se celebre algum aspecto particular deste grande
mistério de nossa redenção.
Não podemos, em hipótese alguma, colocar Maria no lugar
de Cristo, ou, pior, esquecer a celebração do mistério pascal como
um todo, reduzindo-o apenas à pessoa da mãe de Jesus.
Maria está presente em todo o mistério pascal, não como
centro, mas como mãe, discípula, irmã, modelo, intercessora.

No mês de maio, temos duas festas marianas importan-


tes e muito queridas pelo nosso povo: dia 13, Nossa Senhora
de Fátima; dia 31, a Visitação de Maria a Isabel. Neste ano de
2006, todo o mês de maio acontece dentro do Tempo Pascal,
tempo especialíssimo para a liturgia, cingiienta dias de Pás-

49
PNE - QV] - CVV nº 27
coa, concluídos dia 4 de junho com a festa de Pentecostes. Na
conclusão da exortação apostólica Evangelii nuntiandi, o papa
Paulo VI afirma:

Na manhã de Pentecostes, Maria presidiu na prece ao ini-


ciar-se da evangelização, sob a ação do Espírito Santo: que
seja ela a estrela da evangelização sempre renovada, que a
Igreja, obediente ao mandato do Senhor, deve promover e
realizar, sobretudo nestes tempos difíceis, mas cheios de
esperança!

Tenhamos presente, neste mês, a relação entre Maria e seu


Filho. Concretamente, no Tempo Pascal recordamos Maria como
testemunha privilegiada da ressurreição de seu Jesus.
No Tempo Pascal, a Liturgia das Horas propõe um famoso
cântico mariano, que tem como antífona “Rainha do Céu, alegrai-
vos. Aleluia”. Segue o cântico: “pois o Senhor que merecestes
trazer em vosso seio, aleluia, ressuscitou, como disse, aleluia;
rogai a Deus por nós, aleluia!” (v. IL, p. 970).

1. Situando-nos brevemente
O quarto domingo da Páscoa é denominado o domingo do
Bom Pastor. Refletimos sobre aquele que oferece livremente a
sua vida para a redenção da humanidade.
Todos nós temos as nossas figuras de referência, os nossos
heróis, os nossos mestres, os nossos modelos. É a uma figura
desse tipo que, utilizando a imagem do Evangelho desse domingo
da Páscoa, poderíamos chamar o nosso “pastor”.
Que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: as
diretrizes do chefe do departamento? A conta bancária? A voz
da opinião pública? À perspectiva do presidente do partido? O
comodismo e a instalação? O êxito e o triunfo profissional a

50
PNE - QV] - CVV nº 27
qualquer custo? A atriz da telenovela? O programa de maior
audiência da televisão? Jesus Cristo?
O povo reunido pela escuta da voz do Pastor precisa man-
ter-se unido e ser conduzido por dedicados guias. Por isso, nesse
“domingo do Bom Pastor” realizamos a Jornada Mundial de
Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas. A nossa oração
dirige-se aos que já assumiram a sua missão e pelo surgimento
de muitas vocações.
O 15º Congresso Eucarístico Nacional está se aproximando.
À Igreja no Brasil volta sua atenção para este acontecimento que
se realizará na cidade de Florianópolis. Diz a carta apostólica
Mane nobiscum Domine, n. 21: “Se a eucaristia é fonte de unidade
eclesial, ela é também sua máxima manifestação”.
Conforme a devoção popular, estamos no mês de Maria, que,
como vimos, não suplanta o Tempo Pascal, antes o enriquece.

2. Recordando a Palavra

No contexto bíblico, não existem dificuldades para expli-


car e compreender o que é um rebanho e o que é ser pastor. As
pastagens nas regiões bíblicas determinavam muito claramente
as atividades de um pastor de ovelhas. Era preciso conduzir o
rebanho pelas áreas não cultivadas, levá-lo para a água, defendê-
lo contra o ataque de animais, mantê-lo unido. Essa constante
convivência criava uma relação particular do pastor com o reba-
nho. Além do pastor propriamente dito, “o título também é dado
aos dirigentes do povo, que incluem o rei, os funcionários reais,
93|
os anciãos e todos os que têm autoridade”.
O Evangelho de hoje nos relata a parábola do bom Pastor
(Jo 10). No ano “A”, lê-se a primeira parte (vv. 1-10), com des-

| McKEnzIE, J, Dicionário bíblico. São Paulo, Paulus, 2003.

51
PNE - QV] - CVV nº 27
taque para as imagens da porta, do pastor e das ovelhas. Jesus
explica, principalmente, o significado da porta.
No texto evangélico de hoje (vv. 11-18), ano “B”, a inter-
pretação concentra-se, principalmente, sobre as características
do pastor. Inicialmente, Jesus apresenta-se como Bom Pastor,
verdadeiro, autêntico, modelo e único. Diferencia-se do pastor
mercenário por três motivos. Primeiro, porque não abandona
nem foge quando as ovelhas são ameaçadas, porque as conhece
e elas o reconhecem. Segundo, é Bom Pastor porque entrega
voluntariamente a sua vida. E, por fim, porque agrega as ovelhas
dispersas.
O texto que a primeira leitura nos apresenta é a resposta de
Pedro à questão que lhe foi apresentada pelos membros do sinédrio
depois da cura do paralítico: “Com que poder ou em nome de
quem fizestes isto?” (At 4,7). O discurso do apóstolo diante dos
chefes do povo relembra que quem foi rejeitado agora tornou-se a
pedra angular. O Bom Pastor rejeitado está operando maravilhas
através da cura de um doente, a salvação somente é possível por
ele. “Cheio do Espírito Santo”, Pedro — aqui no papel de modelo
do discípulo que testemunha Jesus e o seu projeto diante do mundo
— transforma-se de réu em acusador. Os discípulos receberam
a missão de apresentar, ao mundo e aos seres humanos, Jesus
Cristo, o único salvador. É o Espírito que os anima nessa missão
e que lhes dá a coragem para enfrentar a oposição dessas forças
de opressão que recusam a proposta libertadora de Jesus.
São João afirma a alegria de sermos chamados filhos de
Deus. Sermos conhecidos e conhecermos a Deus.

3. Atualizando a Palavra

Se, no contexto bíblico, presenciamos uma sociedade emi-


nentemente agrária, hoje temos uma sociedade essencialmente

52
PNE - QV]- CVV nº 27
urbana. A parábola oferece alguma resposta às interrogações e à
mentalidade contemporânea? É conveniente comparar a pessoa
com uma ovelha? A ovelha vive no rebanho, é frágil. Sua fragilida-
de e a dificuldade de defender-se aparecem, principalmente, quan-
do é atacada. Nessa circunstância, ela fica muda, não berra, não
chama a atenção de que está sendo violentada, perseguida e morta.
O pensamento filosófico, cultural e psicológico dos últimos
séculos acentua a capacidade e a dignidade de cada indivíduo.
Se, por um lado, temos a impressão que isto possibilita uma vida
independente e autônoma, por outro, “nunca como hoje houve
uma consciência tão generalizada do liame da interdependência
entre os seres humanos e os povos, que se manifesta em qualquer
nível.”? As pessoas acham-se capazes de se guiar pelas próprias
opções, no entanto os fatos mostram que as pessoas sentem-se
também desamparadas, abandonadas, rebanho, massa, anônimas,
como ovelhas sem pastor.
A parábola oferece algumas dificuldades, mas retrata bem
nosso contexto social e eclesial. Somos parte de um Estado. Ele é
administrado por pessoas a quem foi dada autoridade para tal. Os
fatos mostram que entre as autoridades constituídas existem muitos
e bons administradores, ou bons pastores na linguagem bíblica;
existem, porém, muitos que estão no cargo unicamente preocupados
com o seu salário — são, em linguagem bíblica, os mercenários.
No contexto eclesial, somos membros vivos da Igreja conduzi-
dos pelo papa, pelos bispos, párocos e líderes. Muitos fiéis sentem-se
felizes por estarem sendo bem conduzidos e outros, preocupados e
decepcionados, ou até escandalizados, com seus pastores.

Em sentido restrito, somente Cristo é o Bom Pastor. Todos


os outros ministérios de condução do Povo de Deus emanam
de Cristo. Os pastores humanos podem decepcionar-nos. Pode

2? Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 192.

53
PNE - QV) - CVV nº 27
faltar cuidado, vigilância ou mesmo haver fuga do compromis-
so. Por mais nobre que seja a motivação humana, sempre pode
aparecer ainda algum interesse pessoal de aprovação, sucesso,
reconhecimento. De Jesus, o Bom Pastor, não podemos dizer o
mesmo. O apóstolo Pedro relembra aos chefes do povo e anciãos
que Jesus Cristo foi por eles crucificado e rejeitado. Esse pastor,
além de cuidar dos seus, entrega a sua vida. Essa é a maior prova
do pastoreio de Jesus.

Não obstante, a imagem do Pastor dada pelo quarto evangelho


acrescenta um traço novo que lhe é exclusivo: a disposição em
dar a sua vida e a entrega efetiva da mesma, algo que sobrepuja
totalmente os anteriores conceitos do Antigo Testamento e das
velhas mitologias profanas.”

“Eu sou O bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas


me conhecem” (v. 14.). O verbo “conhecer” não fica no plano
superficial e abstrato. É um conhecimento que cria comunhão de
vida, relação pessoal, afetiva, amorosa e recíproca. Jesus diz que
o conhecimento que tem de nós é semelhante àquele que tem do
Pai. “Assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai” (v. 15).
Numa sociedade marcada pelo anonimato, na qual somos identifi-
cados por números e senhas, sermos verdadeiramente conhecidos
é uma graça imensa. Essa relação é tão íntima que chega ao nível
de “sermos chamados filhos de Deus” (1Jo 3,1). Uma relação de
conhecimento tão profunda a ponto de tornarmo-nos “semelhantes
a ele, porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3,2).
Se essa é a relação do Bom Pastor com as suas ovelhas, des-
faz-se a primeira impressão negativa de que o papel das ovelhas é
participar do rebanho, sem liberdade e iniciativa. Pelo contrário,
para estabelecer o conhecimento é preciso deixar-se conhecer.
Como se manifesta o conhecimento que temos de Jesus? O Ofício

* CABALLERO, Basílio. Op. cit. p. 119.

54
PNE - QV) - CVV nº 27
das Leituras, do quarto domingo da Páscoa, apresenta a reflexão de
são Gregório Magno, questionando a todos nós: “Vede se sois ove-
lhas, vede se o conheceis, vede se conheceis a luz da verdade. Se o
conheceis, quero dizer, não só pela fé, mas também pelo amor, se
o conheceis não só pelo que credes, mas também pelas obras”.º
Se conheço o Bom Pastor, também sou capaz de dar a minha vida.
Este domingo é muito propício para rezarmos pelos que
nos conduzem e orientam. Eles estão à frente da comunidade
com a missão de conduzi-la, a exemplo e ao modo do Bom
Pastor. Precisam, constantemente, ser fortalecidos para que
sejam capazes de doar a sua vida. Somente faz isso quem tem
profundas convicções, conhece o Bom Pastor e ama a missão
que recebeu.
As grandes dioceses e paróquias impossibilitam que os
pastores conheçam os seus. Tal impossibilidade de conhecer a
todos não pode servir de desculpa e ser motivo de acomodação.
Pelo contrário, é um estímulo para uma doação ainda maior, um
esforço redobrado de fazer o melhor. Diz Jesus que o conhecimen-
to é mútuo, por isso é também tarefa da comunidade conhecer,
aproximar-se do seu pastor.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


“Conduze-nos à comunhão das alegrias celestes, para que
o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do
Pastor.” Assim rezamos na oração da coleta, expressando nossa
fragilidade e apresentando nosso pedido. Constantemente, precisa-
mos ser fortalecidos para vivermos bem, termos qualidade de vida.
À súplica comum da comunidade reforça nosso apelo de auxílio.
O Bom Pastor, no alto da cruz, ofereceu a sua vida. Essa
é a grande diferença em relação aos outros pastores. Por isso

* In: Liturgia das Horas. v. II, pp. 679-680.

Do
PNE - QV) - CVV nº 27
recorremos ao Pai, pedindo na oração depois da comunhão:
“Velai com solicitude, ó Bom Pastor, sobre o vosso rebanho, e
concedei que vivam nos prados eternos as ovelhas que remistes
pelo sangue do vosso Filho”.
Em cada celebração eucarística, Cristo, Bom Pastor, dá-se
a si mesmo como alimento, comida e bebida, tanto pela Palavra
quanto pela eucaristia.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
1). No mural da entrada da Igreja, colocar um ícone, uma
imagem do Bom Pastor, um cajado. Ou levar na procis-
são de entrada, junto com o Círio Pascal.
O Bom Pastor conhece as suas ovelhas pelo nome. Co-
nhecemos a pessoa que está próxima de nós na celebra-
ção? O abraço da paz, não dado a muitas pessoas, mas
somente às mais próximas, pode ser valorizado como
momento de “conhecimento” do nome e da história
do(a) irmão(à) que está ao nosso lado.
. Rezar a oração pelas vocações como conclusão das
preces.
. Lembrar e rezar pelo papa, pelo bispo diocesano, pelo
pároco e por todas as lideranças da comunidade. Fazer
memória das pessoas que conduziram a comunidade
nos últimos anos.
. Motivar para o 15º Congresso Eucarístico Nacional, que
está próximo.
. Usar a bênção final própria para o Tempo Pascal, con-
forme Missal romano, p. 523.

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PNE - QV) - CVV nº 27
5º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor
|4 de maio de 2006

Leituras: At 9,26-31; Salmo 21(22),26b-27.28 e 30.31-32(+26a);


IJo 3,18-24; Jo 15,1-8 (videira e ramos)

“Tornai-vos meus discípulos”


(Jo 15,8)

1. Situando-nos brevemente

Hoje, chegamos à quinta semana da Páscoa, portanto, na


alegria e na esperança, já vivenciamos a primeira metade do
Tempo Pascal.
Neste domingo, comemoramos o Dia das Mães, as quais
têm em Maria sua referência maior de doação, de presença silen-
ciosa e amorosa na vida dos filhos, quer nos momentos amenos
(como nas bodas de Caná), quer no sofrimento profundo (como
em pé diante da cruz), quer na glória (como na Ascensão e na
Assunção). Nesta celebração semanal da Páscoa do Senhor,
queremos, unidos à Igreja universal, rezar por todas as mulheres
que, pelo dom de gerarem a vida, foram chamadas a participar
da obra criadora de Deus.
No próximo dia 18 de maio, inicia-se, em Florianópolis,
Santa Catarina, o 15º Congresso Eucarístico Nacional, com o
tema “Ele está no meio de nós” e o lema “Vinde e vede!”. Todos
nós somos convidados a, neste período, renovar nosso encontro
místico, afetivo e existencial com Deus. Será um grande momento
em sintonia com o hosso projeto de evangelização “Queremos
ver Jesus!”.

57
PNE - QV) - CVV nº 27
2. Recordando a Palavra

O Evangelho deste domingo da Páscoa situa-nos em Je-


rusalém, numa noite de quinta-feira, um dia antes da festa da
Páscoa. Jesus está reunido com os seus discípulos à volta de
uma mesa, numa ceia de despedida. Ele está consciente de que
os dirigentes judaicos decidiram dar-lhe a morte e que a cruz está
no seu horizonte próximo.
Os gestos e as palavras de Jesus, neste contexto, represen-
tam as suas últimas indicações, o seu “testamento”. Os discípu-
los recebem, aqui, as coordenadas para poderem continuar, no
mundo, a missão de Jesus.

Assim, temos a belíssima comparação de Cristo como


videira e de seus discípulos, que somos nós, como seus ramos.
O texto mostra que, afastado da videira, o ramo seca e só serve
para ser queimado, isto é, não pode mais contribuir para a vida.
O ramo afastado seca porque por ele não recebe mais a seiva para
alimentá-lo, fortalecê-lo. O trecho que lemos vem na sequência
da narrativa em que Jesus se apresenta como caminho, verdade
e vida. A seiva é a vida da videira, como Cristo é nossa vida.
Afastados dele, secaremos, não serviremos mais para o floresci-
mento do Reino de Deus.
Cristo explicita: “Eu sou a videira, meu pai é o agricultor”.
Este agricultor corta fora os ramos que não dão fruto, porém, em
contrapartida, poda os bons ramos para que dêem mais e melho-
res frutos. À poda é um procedimento necessário e importante
para que se produzam bons frutos. É preciso fazer a poda, isto
é, limpar os galhos das impurezas, retirar-lhes o supérfluo que
impede a brotação. Essa imagem tão rica em simbolismo mos-
tra que cada um de nós também necessita sofrer um processo
de poda, de limpeza, de retirada do supérfluo para que a seiva
do amor de Cristo circule forte e livremente e manifeste-se em
frutos vigorosos.

58
PNE - QV) - CVV nº 27
Um detalhe interessante, que não é um detalhe para são João,
é o uso do verbo “permanecer”, que é a palavra-chave deste texto
(do v. 4 ao v. 8, aparece sete vezes). Expressa a confirmação ou
renovação de uma atitude antes assumida. Supõe que o discípulo
já tenha, anteriormente, aderido a Jesus e que essa adesão adquira,
agora, estatuto de solidez, de estabilidade, de constância, de con-
tinuidade. É um convite a que o discípulo mantenha a sua adesão
a Jesus, a sua identificação com ele, a sua comunhão com ele.
Na segunda leitura, são João sublinha que recebemos do
Senhor este grande mandamento: “Que nos amemos uns aos
outros”. Ele afirma que permanecer em Deus significa guardar
seus mandamentos, todos eles contidos no grande mandamento do
amor. São João afirma, ainda, que, pelo Espírito Santo, sabemos
que Deus permanece em nós. O mesmo Espírito que, segundo
informa o livro dos Atos dos Apóstolos, ajudava (e ajuda) a Igreja
de Cristo a crescer.
Como resposta à Palavra de infinito amor de nosso Deus,
cantamos, pelo Sl 21, um hino de ação de graças e de adoração.
Quanto à primeira leitura de hoje, é bom recordarmos o
seu contexto, o capítulo 9 dos Atos dos Apóstolos. Os vv. 1 a 9
descrevem a conversão de Paulo, a “caminho de Damasco”. Nos
vv. 10 a 19, vemos seu encontro com a comunidade de Damasco
e seu trabalho pastoral junto a essa comunidade (19-25).
O texto proclamado hoje, vv. 26-30, mostra a forma como
Paulo, depois de deixar Damasco, foi recebido pelos cristãos de
Jerusalém. Aí estão descritos a desconfiança da comunidade cristã
de Jerusalém em relação a Paulo; seu esforço em integrar-se a
ela; o papel de Barnabé nesta integração; o entusiasmo com que
Paulo dá testemunho de Jesus e a coragem com que ele enfrenta
as dificuldades e oposições.
Em nossas comunidades, muitas vezes também encontra-
mos tais atitudes: medo, desconfiança, preconceito, fechamento.

59
PNE - QV] - CVY nº 27
Diante da firmeza com que Paulo pregava o nome do Senhor, a
própria comunidade foi dando-se conta de que, de fato, ainda não
estava convertida. Foi preciso que alguém de fora a provocasse
e desse testemunho, para que ela percebesse isto.
O v. 31, versículo final, é um breve sumário da vida da
Igreja: é o Espírito Santo que conduz a Igreja na sua marcha
pela história. É este mesmo Espírito que aguardamos na festa
de Pentecostes que se aproxima.

3. Atualizando a Palavra

O temporal passou... saímos à rua... deparamo-nos com um


triste cenário: galhos e mais galhos quebrados, jogados ao chão.
Já não podem mais cumprir seu papel vital de oferecer sombra,
de florescer, de frutificar. Ali, esparramados por calçadas e ruas,
ficam ao aguardo de alguém que os recolha, que os leve como
entulho. Esses galhos não mais viverão, pois foram afastados
da árvore que lhes oferecia a vida. Em um lindo dia de sol, no
entanto... saímos à rua... deparamo-nos com funcionários da pre-
feitura podando as árvores da praça, vemos a dona de casa que
poda os arbustos de seu jardim. Esse procedimento é essencial
às plantas, para que a vida nelas se renove e com maior beleza e
vigor nasçam novas folhas, novos frutos.
Nós também precisamos de momentos de poda, de limpeza,
de purificação, que nos propiciem a renovação da vida espiritual,
que liberem o caminho para a seiva de amor que nos sustém. Tal
ocasião ocorre, privilegiadamente, na Páscoa semanal, celebra-
da a cada domingo, dia do Senhor. Na celebração eucarística, a
Páscoa de Cristo realiza-se em nós e nossa Páscoa se realiza em
Cristo, pois Cristo entrega-se ao Pai por nós e nós, com Cristo,
nos oferecemos ao Pai,
O Congresso Eucarístico Nacional, a iniciar-se no próxi-
mo dia 18 de maio, constituir-se-á numa ocasião de renovação

60
PNE - QV) - CVY nº 27
interior. Pode-se mesmo dizer que este será um período propício
para a poda, no sentido de que ele estimula nossa renovação es-
piritual, nosso compromisso com Cristo e com sua Igreja. Todos
somos chamados a participar do Congresso, quer lá presentes,
quer unidos através da oração. Pela realização do Congresso
Eucarístico, a Igreja no Brasil deseja manifestar, publicamente,
a fé que professamos na presença real de Cristo no mistério da
eucaristia. Queremos dizer a todos que querem ver Jesus: “Vinde
e vede!”, “Ele está no meio de nós”.

Na continuação do capítulo 15 de são João, cujo início


lemos hoje, Cristo explicita: “Este é o meu mandamento, amai-
vos uns aos outros como eu vos amei”. À seiva que perpassa
os ramos distribuindo-lhes vida é o amor, ela nutre a vida do
cristão. Enquanto ela continuar a atingir os ramos, estes conti-
nuarão a produzir e a multiplicar a presença de Deus entre os
seres humanos. Assim, enquanto permanecemos unidos a Cristo,
continuamos a receber a seiva do amor e, ao receber essa fonte
de vida, podemos frutificá-la, isto é, pelo fruto de nossos bons
atos, levá-la às outras pessoas.
Para que as pessoas melhor compreendessem quem ele
era, Cristo recorria a figuras do cotidiano, por isso atribuiu-
se diferentes imagens: caminho, luz, videira. No Evangelho
deste domingo, ele retoma a imagem da videira: “Eu sou a
videira, vocês os ramos”. Utilizando-se dessa comparação, ele
apresenta um forte desafio: “Fiquem unidos a mim e eu ficarei
unido a vocês”. Tal desafio é proposto, hoje, a cada um de nós.
Queremos, efetivamente, ser ramos unidos à videira”? Que temos
a fazer para não sermos cortados como ramos imprestáveis? A
resposta, apresentada por são João nos capítulos 13 e 14, vem-nos
do próprio Cristo: fazer o que ele fez. Isso significa cumprir seus
mandamentos, o maior dos quais explicita: “Amar-nos uns aos
outros”. A essência do Evangelho de hoje nos remete, portanto,
à questão de como estamos amando nosso próximo no cotidiano

61
PNE - QV) - CVV nº 27
de nossas vidas. A epístola adverte-nos: “Não amemos só com
palavras e de boca, mas com ações e de verdade!”. Mas cuidado!
Não façamos confusão entre amar com ações e ativismo. Ações,
aqui, adquire o significado de construir o Reino de Deus, que se
realiza pelo fazer e também pelo contemplar, duas dimensões
complementares.
Como ramos produtores de bons frutos, possamos ajudar
que a Igreja de Cristo realize, hoje, o que realizava nos primei-
ros tempos: “Consolidava-se e progredia no temor do Senhor e
crescia em número com a ajuda do Espírito Santo”.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A comunidade cristã é o lugar privilegiado para o encontro
com Cristo, “a verdadeira videira”, da qual somos os “ramos”.
É no âmbito da comunidade que celebramos e experimentamos
— no batismo, na eucaristia, na reconciliação — a vida nova que
brota de Cristo. A comunidade cristã é o corpo de Cristo e um
membro amputado do corpo é um membro condenado à morte...
Por vezes, a comunidade cristã, com as suas misérias, fragilidades
e incompreensões, decepciona-nos e magoa-nos; sentimos que
a comunidade segue por caminhos nos quais não nos revemos...
Surge, então, a tentação de afastarmo-nos, de vivermos a nossa
relação com Cristo à margem da comunidade. Contudo, não é
possível continuar unido a Cristo e receber vida de Cristo, em
ruptura com os nossos irmãos na fé.
A cada domingo, reunimo-nos em assembléia para celebrar,
com alegria, a Páscoa do Senhor, e com maior júbilo o fazemos
neste solene Tempo Pascal.
Hoje, conforme expressa a oração do dia, queremos pedir
a Deus, pai de bondade, que nos conceda sua herança eterna e
nos conduza à verdadeira liberdade. Ao orar sobre as oferendas,

62
PNE - QV] - CVVY nº 27
o sacerdote, em nome da assembléia, completa esse pedido e
solicita que o Pai conceda “que sejamos fiéis por toda a vida”.
Na oração após a comunhão, completamos nossos pedidos, re-
querendo que Deus permaneça entre nós e que, por sua bondade,
possamos passar da “antiga à nova vida”, à vida de plenitude
que Cristo garantiu-nos ao destruir a morte por seu sacrifício
na cruz.
Neste domingo, portanto, nossas orações seguem uma linha
de súplica, de petição. Pedimos a liberdade, a herança, ser fiéis,
passar para a nova vida com o intuito de sermos um ramo que
permanece unido à videira e, assim, frutifica.
Possamos, nesta celebração do mistério pascal, renovar
nossa adesão a Cristo e a seus mandamentos e expressar, por
nossas preces, “sim, eu quero ser ramo que permanece unido e
purificado pelo Pai, dar muitos frutos”.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
1. Preparar uma acolhida afetuosa, que expresse o amor
das mães e às mães.
2. Fazer um arranjo que lembre o Evangelho de hoje: o
tronco € os ramos.
3. No mural, colocar em destaque o cartaz do 15º Con-
gresso Eucarístico Nacional.
4. Valorizar, nos serviços litúrgicos, a participação de mães
jovens, mães grávidas, mães idosas.

5. Na homilia, fazer referência ao 15º Congresso Eucarís-


tico Nacional.
6. Incluir, na prece dos fiéis, uma prece pelas mães.

63
PNE - QV) - CVV nº 27
7. Incluir, na prece dos fiéis, uma prece por aquelas que
não são mães fisicamente, mas que assumiram a respon-
sabilidade de vidas geradas por outras mulheres.
8. Para marcar o clima festivo, cantar as respostas da prece
eucarística.
9. Depois do silêncio após a comunhão, cantar o Magnificat
— o hino de Maria, mãe de Deus e nossa.

10. Dar uma bênção especial às mães e concluir a celebração


com o abraço da paz e o “Parabéns”.

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PNE - QVJ - CVV nº 27
6º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor
21 de maio de 2006

Leituras: At 10,25-26.34-35.44-48; Salmo 97(98),1.2-3b.3cd-4(+cf. 2b);


Io 4,7-10; Jo 15,9-17 (amor e amigos)

“Porque o amor vem de Deus”


(IJo 4,7)

1. Situando-nos brevemente

Este é o sexto domingo da Páscoa, o domingo que antece-


de a festa da Ascensão de Nosso Senhor, momento em que nos
aproximamos da festa de Pentecostes, que concluirá o Tempo
Pascal, celebrado desde o domingo da ressurreição.
Nossa vida é pontilhada de expressões que usam as palavras
amor/amar. Quantas vezes observamos, nos carros, adesivos com
a frase “eu amo esta ou aquela cidade”? Quantas vezes ouvimos
exclamações do tipo “que amor de foto!”; “esta criança é um
amor!”: “obrigado, por ter feito Isso, você é um amor!”
Essas expressões e outras tantas semelhantes revelam um
“amor” muito próprio de nossa sociedade egocêntrica e subjeti-
vista. Eu amo tal cidade porque ela foi fonte de prazer para mim;
a foto é um amor porque me proporciona uma sensação agradável.
A criança e o amigo tornam-se “amor” porque oferecem algo
bom para mim, algo que me faz bem.
Em contraposição a isso, Jesus propõe-nos o amor doação,
entrega, oblação do qual ele mesmo foi modelo e mestre.
Hoje, encerra-se, em Florianópolis, Santa Catarina, o 15º
Congresso Eucarístico Nacional. Seu lema, “Ele está no meio de

65
PNE - QV] - CVV nº 27
nós”, motivou-nos a refletir sobre a presença do Senhor junto a
nós e a renovarmos nosso encontro místico, afetivo e existencial
com Deus. Para lembrarmos sempre de sua presença no meio de
nós, Jesus deixou-nos o memorial de sua Páscoa, que celebramos
na eucaristia. O Congresso, por seus diversos eventos, instigou-
nos a avaliar nossa missão evangelizadora num mundo árido e
fragmentado, o Evangelho de hoje nos instiga a avaliar como
estamos vivendo o amor cristão.

2. Recordando a Palavra

O Evangelho deste domingo é continuação das palavras de


Jesus que escutamos no domingo passado. No contexto da prepa-
ração de sua volta ao Pai, Cristo mostrou-se como videira, da qual
nós somos os ramos (quinto domingo da Páscoa). Aprofundando o
pensamento, então expresso, “permanecei em mim e eu permane-
cerei em vós”, Jesus, hoje, pede: “Permanecei no meu amor”.

Jesus diz que, como ele guardou os mandamentos do Pai,


assim também nós devemos guardar os mandamentos que ele nos
concedeu. E unifica tais mandamentos em um único: “Amai-vos
uns aos outros, assim como eu vos amei”.

Pelo Evangelho, vemos como Jesus redimensiona a sua


relação com os discípulos (e conosco) ao chamá-los de amigos,
não de servos. Ao final de sua fala, Cristo retoma a idéia de que
nós, seus seguidores, fomos designados a produzir frutos, isto é, a
multiplicar, pela doação e pela entrega, o que recebemos do Pai.
Cristo chama-nos “amigos”, portanto constituímos sua
comunidade, Isto é, sua Igreja, que não existiria se não houves-
se a eucaristia, assim como inexistente seria a eucaristia se não
houvesse a Igreja, comunidade das pessoas amigas de Jesus.
São João, em sua primeira carta, reafirma os ensinamentos
de Jesus. A segunda leitura apresenta uma das mais profundas e

66
PNE - QV) - CVY nº 27
completas definições de Deus: “Deus é amor”. A vinda de Jesus
ao encontro dos seres humanos e a sua morte na cruz revelam a
grandeza do amor de Deus pelos seres humanos. Ser “filho de
Deus” e “conhecer a Deus” é deixar-se envolver por este dina-
mismo de amor e amar os irmãos.
O apóstolo orienta: “Amemo-nos uns aos outros”. E jus-
tifica: “Porque o amor vem de Deus”. Este Deus misericordioso
enviou-nos seu Filho para que, por sua morte, retornássemos à
vida. Nosso amor não vem de nós mesmos, pois Deus amou-nos
primeiro.
Diz Pedro, na narrativa dos Atos dos Apóstolos, que “Deus
não faz distinção de pessoas”. A Palavra acentua, especialmente,
o fato de a mensagem da salvação destinar-se a todas as nações,
sem distinção de pessoas, de raças ou de povos. Como relembra o
subsídio teológico do 15º Congresso Eucarístico Nacional, somos
iguais em Cristo, porque participamos da mesma fé, ouvimos
a mesma Palavra, vivemos no mesmo Espírito. Por isso, pelo
S1 97, alegres, cantamos: “O Senhor fez conhecer a salvação e
às nações sua justiça; recordou o seu amor sempre fiel pela casa
de Israel”.

3. Atualizando a Palavra
Como lembramos no início, em nosso cotidiano usamos
muitas e frequentes expressões com as palavras “amor/amar”,
quase sempre relacionadas a algo prazeroso, embora, às vezes,
destituído de sentido.
Bastante diferente é a concepção de amor/amar proposta
por Cristo: “Como meu Pai me amou, assim também vos amei.
Permanecei no meu amor”. Tal concepção é retomada por são
João em sua primeira carta: “ Amemo- nos uns aos outros, porque
o amor vem de Deus”.

67
PNE - QV) - CVV nº 27
O Subsídio Teológico 2 do 15º Congresso Eucarístico
ressalta que Cristo,

depois de dar aos apóstolos seu corpo como alimento e seu sangue
como bebida, permaneceu com eles, ao redor da mesa, e deixou-
lhes as últimas recomendações: que se amassem, que permane-
cessem unidos, que vivessem sempre em comunhão fraterna.

Na eucaristia, alimentamo-nos do amor de Deus; ela é


a fonte na qual nos fortalecemos para permanecer no amor de
Cristo, atitude, às vezes, tão difícil, em meio às tribulações do
dia-a-dia.
Esse verdadeiro amor, vindo do Pai pelo Filho e confir-
mado no Espírito Santo, é amor doação, amor entrega. Amor
que dá sentido ao que somos, ao que fazemos, à realidade em
que estamos inseridos. Ele está centrado na relação com Deus
e com o próximo e não confinado dentro de nós mesmos. Na
concepção divina, o amor não se reduz ao que nos é agradável.
Certamente, também é isso, mas não apenas isso. O exemplo
de Cristo é bastante claro. Ao entregar-se por nós na cruz, ele
manifestou a radicalidade do amor que se faz oblação absoluta,
o que só foi possível porque Jesus compreendeu a grandeza do
amor do Pai por ele. Muitas vezes, fraquejamos na vivência do
amor cristão porque “esquecemos” que o amor de nosso Deus,
fiel e justo, é infinito.
Estamos nós, de fato, cumprindo o indicado por são João:
“Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus”? O
amor que expressamos aos familiares, aos amigos, aos colegas
de trabalho, às tantas pessoas que entram e saem diariamente de
nossa vida, contém a dimensão de um amor que vem de Deus ou
é apenas um sentimento, uma sensação humana” Procuramos,
ao celebrar a eucaristia, estar bem com os irmãos ou somos In-
coerentes e deixamos tal dimensão de lado, avaliando somente o
amor a Deus (conforme nosso entendimento humano)? Alguém

68
PNE - QV] - CVV nº 27
já disse que a cruz é um dos símbolos do amor cristão, porque
traça, na vertical, a ligação com o Pai e, na horizontal, a ligação
com os irmãos.
Vivemos como quem permanece no amor de Deus ou esque-
cemos que ele nos ama continuamente e que a isso devemos res-
ponder pela oração que nos liga a ele e pelas ações que nos ligam
aos Irmãos? O mesmo Subsídio 2 ainda afirma: “Só pode receber
dignamente a comunhão quem a vive primeiro com Deus, com
seus Irmãos e com sua comunidade. Em verdade, não é correto di-
zer que se “recebe” a comunhão, ela deve ser vivida e celebrada”.
Cristo sentia-se infinitamente amado pelo Pai, mesmo nos
momentos mais duros, pois esse amor dava sentido também
ao sofrimento. Precisamos deixar pulsar em nosso coração o
legítimo amor que vem do Pai e que a tudo dá sentido, só assim
nos sentiremos como Jesus, infinita e permanentemente amados
do Pai, e poderemos ser, no mundo, sacramento desse amor. Só
assim produziremos e distribuiremos bons frutos, missão para a
qual fomos chamados e designados.
Não somos “filhos de Deus” porque um dia fomos batiza-
dos; mas sim porque um dia optamos por Deus, porque continu-
amos, dia-a-dia, a acolher essa vida que ele nos oferece, porque
vivemos em comunhão com ele e porque damos testemunho
desse Deus que é amor através dos nossos gestos.
Hoje, o 15º Congresso Eucarístico Nacional chega à sua
culminância, como também o Ano da Eucaristia. Cristo, no
Evangelho, chama-nos amigos e convida a permanecermos em
seu amor. Nós temos certeza de que ele permanece junto a nós e,
como dizem os subsídios do Congresso, “a mais real das presen-
ças do Senhor em meio a nós é sua presença na eucaristia, onde
ele quis dar-se e entregar-se na forma de sacramento”.
Queremos, pois, pela manifestação pública da fé que professa-
mos na presença real de Cristo no mistério eucarístico, que ressoem,

69
PNE - QV) - CVV nº 27
por toda parte, as palavras inspiradoras deste grande acontecimen-
to da Igreja nacional: “Vinde e vede!” — “Ele está no meio de nós!”.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


A assembléia constituída para celebrar é uma reunião
fraterna, na qual as diferenças se esvanecem — Deus, que nos
amou primeiro, não faz distinção entre os que dela participam.
Todos têm oportunidade de alimentar-se da Palavra e do pão
da eucaristia. “Bendito seja Deus, que nos reuniu no amor de
Cristo!” Como refere o Subsídio Teológico 2 do 15º Congresso
Eucarístico: “As desigualdades sociais são uma distorção no
projeto humano desejado pelo Criador”; portanto, na Igreja de
Jesus Cristo, buscamos superar as desigualdades de qualquer tipo,
mantendo-nos unidos na diversidade e diversos na unidade.
Na celebração semanal da Páscoa de Cristo, reafirmamos
nossa comunhão com Deus e com os irmãos. Na oração do dia,
neste domingo, pedimos a Deus que nos conceda o fervor neces-
sário “para que nossa vida corresponda sempre aos mistérios que
recordamos”. Além disso, queremos, efetivamente, ser testemu-
nhas do Evangelho pelo amor. Assim, apresentamos as oferendas
como meio de purificação para que possamos corresponder, “cada
vez melhor, aos sacramentos do amor de Deus”.

Ao final da liturgia eucarística, rezamos para que Deus faça


“frutificar em nós o sacramento pascal” e infunda “em nossos
corações a força desse alimento”. Na celebração de hoje, damos
especial relevo ao amor total de Cristo por nós. Conforme reza-
mos no prefácio, Cristo cumpriu inteiramente a vontade do Pai.
Revelou-se como aquele que oferece o sacrifício (sacerdote),
como aquele sobre o qual se eleva o sacrifício ao Pai (altar), como
aquele que é o sujeito do sacrifício (cordeiro).' Por isso, neste

| Prefácio do domingo da Páscoa V. Missal romano. p. 425.

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PNE - QV) - CVY nº 27
solene Tempo Pascal, transbordamos de alegria e, com renovado
entusiasmo, fazemos ecoar nosso canto: “Santo, Santo, Santo,
Senhor Deus do Universo! Hosana nas alturas!”

'* Que esta celebração eucarística fortaleça nossa disposi-


ção de nos colocarmos a serviço de Deus e dos irmãos e, assim
fortificados, possamos manifestar a todos que querem ver Jesus:
Deus está/permanece conosco.

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
1. Destacar o cartaz do 15º Congresso Eucarístico Nacional.
2. No ato penitencial, fazer a aspersão com água benta.
3. Preparar as oferendas de modo solene, aprontando o
altar neste momento, fazendo a procissão das oferendas
do pão e do vinho, como também de ofertas para os
pobres.
4. Cantar com vibração o “Amém” conclusivo da doxolo-
gia final da prece.
5. Rezar a oração do 15º Congresso Eucarístico Nacional.
6. Levar a comunhão aos doentes, no dia de hoje, en-
quanto é concluída a celebração. Após a comunhão,
os ministros saem com o sacramento. Todos se levan-
tam enquanto eles partem para as casas dos doentes.
Pode-se citar o nome dos doentes a quem será levada
a comunhão. À ação é sinal de uma Igreja unida, que
acolhe e que vai ao encontro de todos. É a grande co-
munhão que formamos em torno da eucaristia neste dia
de encerramento do Congresso Eucarístico e do Ano
da Eucaristia.

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PNE - QV) - CVV nº 27
7. No próximo domingo, celebramos o 40º Dia Mundial
da Comunicação, com o lema: “Rede de comunicação,
comunhão e cooperação”. A comunicação não se reduz à
informação, ela deve promover uma frutuosa comunhão
e cooperação entre as pessoas.

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PNE - QV) - CVY nº 27
Ascensão do Senhor
28 de maio de 2006

Leituras: At 1,1-II; Salmo 46(47),2-3.6-7.8-9 (R/6);


Ef 1,17-23 ou 4,1-13; Mc 16,15-20

“Vós, que descestes até nós


pelo caminho do amor, pelo mesmo
caminho, fazei-nos subir até vós”
(Liturgia das Horas, |, vésperas, v. II, p. 821)

1. Situando-nos brevemente
Chegamos, hoje, a um momento importante dentro do Tem-
po Pascal. Trata-se de uma festa que tem o seu sentido dentro do
espírito que caracteriza estes cinquenta dias de Páscoa.
É a festa da Ascensão do Senhor! Passados quarenta dias
da ressurreição, conforme Lucas, Jesus é levado ao céu. Como
rezamos no credo: “Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus
Pai, todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mor-
tos”. Esta não constitui uma festa da despedida, mas sim o Início
de um novo modo de Jesus estar presente entre nós. Festejamos
presença nova do Senhor no meio de nós.
Entre nós são comuns as expressões “subir na vida”, “os
negócios do fulano estavam lá em cima, despencaram”, até a
bolsa de valores “sobe e desce”...
Que significa a festa da Ascensão? Qualo seu sentido para nós,
hoje? Qual o compromisso que assumimos ao celebrar tal festa? Veja-
mos o que nos ensina a Palavra de Deus e as orações de nossa liturgia.

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PNE - QV) - CVV nº 27
2. Recordando a Palavra

Na primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, encontramos a


mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado
ao mundo o projeto do Pai, é glorificado. O Pai recebe a obra do
Filho. Quanto aos discípulos, eles não podem ficar, passivamente,
a olhar para o céu; agora eles têm de ir para o meio dos seres
humanos, continuar o projeto de Jesus.
Para a comunidade que esperava a vinda eminente de Je-
sus, € já estava cansada de esperar, Lucas lembra, lá pela década
de 80, que o projeto de salvação e de libertação que Jesus veio
apresentar está, agora, nas mãos da Igreja, animada pelo Espírito.
À construção do “reino” é uma tarefa que não está terminada, é
preciso concretizá-la na história.
Lucas ressalta que Jesus, durante quarenta dias, “se mostrou
vivo, com numerosas provas; apareceu-lhes falando do Reino
de Deus” (v. 3). O número quarenta é, certamente, um número
simbólico, ele define o tempo necessário para que um discípulo
possa aprender e repetir as lições do mestre. É um tempo de
iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.
Temos de interpretar, também simbolicamente, a descrição
da ascensão de Jesus. “Elevado ao céu” não significa uma decola-
gem de Jesus. À ascensão tem o sentido teológico de expressar que
a exaltação de Jesus é total, o cume de uma vida vivida para Deus.
A “nuvem”, já no Antigo Testamento, é um símbolo privilegiado
para exprimir a presença de Deus. Se os discípulos “olham para o
céu”, significa que eles estão na expectativa da segunda vinda de
Cristo. Os “dois homens vestidos de branco” lembram os anjos,
mensageiros de Deus, convidando os discípulos a continuarem,
no mundo, animados pelo Espírito, a obra de Jesus.
No Evangelho, vemos que a presença do Senhor continuará
através dos gestos dos discípulos de Jesus... Comprometidos com
ele, os discípulos vencerão a injustiça e a opressão (“expulsarão

74
PNE - QV) - CVVY nº 27
os demônios em meu nome”?, serão arautos da paz e do entendi-
mento dos homens (“falarão novas línguas”), levarão a esperança
e a vida nova a todos os que sofrem e que são prisioneiros da
doença e do sofrimento (“quando impuserem as mãos sobre os
doentes, eles ficarão curados”): e, em todos os momentos, Jesus
estará com eles, ajudando-os a vencer as contrariedades e as
oposições.
À entronização de Jesus “à direita de Deus” mostra que sua
proposta de Jesus é verdadeira. Na concepção dos povos antigos,
aquele que se sentava “à direita” era um personagem distinto,
que o rei queria honrar de forma especial... Jesus, porque cum-
priu com total fidelidade o projeto de Deus, é honrado pelo Pai
e convidado a sentar-se à sua direita.
Por fim, temos a ação missionária dos discípulos: “eles
partiram” (quer dizer, deixaram para trás muitas coisas por causa
da missão) “a pregar” (quer dizer, a anunciar com palavras e
com gestos concretos essa vida nova que Deus ofereceu aos
seres humanos através de Jesus) “por toda parte” (propondo
a todos os seres humanos, sem exceção, a proposta salvadora
de Deus).
A segunda leitura! apresenta a primeira parte da Carta aos
Efésios — uma ação de graças, na qual Paulo agradece a Deus
pela fé daquela comunidade e pela caridade que eles manifestam
para com todos os irmãos na fé.
Afirmação significativa a de que a comunidade cristã é um
“corpo” — o “corpo de Cristo” — formado por muitos membros.
Paulo retoma a noção de “corpo de Cristo” para refletir sobre a
relação que existe entre a comunidade e Cristo.

| Em vez desta leitura, pode-se escolher, facultativamente, Ef 4,1-13, que também


traz uma mensagem linda e importante para a celebração de hoje, apresentando
a unidade de Cristo com sua Igreja, com a imagem do corpo.

75
PNE - QV) - CVV nº 27
3. Atualizando a Palavra

Quem é fiel ao projeto do Pai, vai ser “elevado”, isto é,


terá vida plena e glorificada junto à Trindade. Quem percorre
o mesmo “caminho” de Jesus subirá, como ele, à vida plena. A
Igreja tem sido fiel à missão que Jesus, ao deixar este mundo,
lhe confiou? O nosso testemunho tem transformado a realidade
que nos rodeia? É relativamente fregiiente ouvirmos dizer que
os seguidores de Jesus gostam mais de olhar para o céu do que
se comprometerem na transformação da terra. Estamos, efetiva-
mente, atentos aos problemas e às angústias dos seres humanos,
ou vivemos de olhos postos no céu, num espiritualismo alienado?
Sentimo-nos questionados pelas inquietações, pelas misérias,
pelos sofrimentos, pelos sonhos, pelas esperanças que enchem o
coração dos que nos rodeiam? Sentimo-nos solidários com todos
os seres humanos, particularmente com aqueles que sofrem”
Como ouvimos na segunda leitura, dizer que fazemos parte
do “corpo de Cristo” significa que devemos viver numa comu-
nhão total com ele e que, nessa comunhão, recebemos, a cada
instante, a vida que nos alimenta. Significa, também, viver em
comunhão, em solidariedade total com todos os nossos irmãos,
membros do mesmo “corpo”, alimentados pela mesma vida.
É oportuno citar uma homilia de santo Agostinho, bispo
do século V, para a festa de hoje:?

Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com
ele o nosso coração. Ouçamos as palavras do Apóstolo: “Se res-
suscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto,
onde está Cristo, sentado á direita de Deus; aspirai às coisas ce-
lestes e não às coisas terrestres” (C13,1-2). Assim como ele subiu
sem se afastar de nós, também nós subimos com ele, embora não
se tenha realizado ainda em nosso corpo o que nos está prometido.

2 In: Liturgia das Horas. Ofício das Leituras. v. II, pp. 828-829.

76
PNE - QV) - CVY nº 27
Cristo já foi elevado ao mais alto dos céus; contudo continua
sofrendo na terra através das tribulações que nós experimentamos
como seus membros. Dou testemunho dessa verdade quando se fez
ouvir lá do céu: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4).
E ainda: “Eu estava com fome e me deste de comer” (Mt 25,35).
Cristo está no céu, mas também está conosco. Nós, mesmo
permanecendo na terra, estamos também com ele. Por sua di-
vindade, por seu poder e por seu amor ele está conosco. Embora
não possamos realizar isso pela divindade, como ele, ao menos
podemos realizar pelo amor que temos para com ele.
Existe a unidade entre Cristo, nossa cabeça, e nós, seu corpo.
Ninguém senão ele poderia realizar esta unidade que nos identi-
fica com ele mesmo, pois tornou-se Filho do Homem por nossa
causa, e nós, por meio dele, nos tornamos filhos de Deus.

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Ao celebrarmos a memória da ascensão de Jesus aos céus,

entramos no sentido mais profundo da sua ressurreição e da


missão que ele nos confiou. Paulo diz-nos que o Pai exaltou
Jesus como Senhor do céu e da terra. Deus fez dele a plenitude
de tudo o que existe. Nele, todos os elementos do universo en-
contram unidade e sentido.
Neste sentido, agradecendo a Deus essa elevação sagrada de
todo o universo com Jesus, recebemos de Deus a confirmação
de que nós todos, seres humanos, fomos, com ele, introduzidos
na intimidade definitiva de Deus. Com Maria e os apóstolos,
aguardamos a força do alto, conforme a promessa de Jesus.
Fazemos iss em comunhão com todas as igrejas cristãs, inician-
do, hoje, a novena de Pentecostes e a Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos.

3 GuIMARÃES, M. & CARPANEDO, P. Dia do Senhor. Ciclo Pascal ABC. p. 338.

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PNE - QV) - CVY nº 27
Atentos às orações litúrgicas da festa de hoje, veremos aí
presentes, em forma de oração, o que significa a festa da Ascensão
do Senhor: “já é nossa vitória”; “comunhão de dons entre o céu e
a terra” (sobre as oferendas); “subiu para tornar-nos participantes
da sua divindade” (prefácio II); “no céu está a nossa humanidade”
(após a comunhão); e “subiu para dar-nos a certeza de que nos
conduzirá à glória da imortalidade” (prefácio 1).
Para nós, ministros e assembléia, esta festa significa afir-
mar que somos membros de seu corpo, chamados na esperança
a participar de sua glória (coleta).
Celebremos, portanto, com os corações voltados para o alto
(após a comunhão), transbordando de alegria pascal (prefácio 1).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
1. Se possível, cantar o Evangelho e o prefácio próprio da
festa de hoje.
2. Cantar a profissão de fé.
3. Se for rezada a prece eucarística I, lembrar que há um
texto próprio — “em comunhão”.
4. O pai-nosso é a oração de todos os cristãos. Fazer uma
motivação especial para cantá-lo ou rezá-lo, de mãos
dadas, em comunhão com todas as Igrejas cristãs.
5. Como é o último domingo do mês de maio, próximo
da festa da Visitação de Nossa Senhora, dia 31, pode-se
destacar a imagem de Maria, sem tirar a centralidade do
altar e do ambão.
6. Nos ritos finais, invocar a bênção solene, cf. Missal
romano, p. 523, e dar um destaque especial ao envio:

78
PNE - QV] - CVY nº 27
“Ide em paz”. Pode-se cantar ou pedir que a assembléia
realize um gesto que manifeste sua alegria de ser “en-
viada”: por exemplo, uma salva de palmas, um “viva”,
dar-se as mãos na saída.
. Convidar para a novena de Pentecostes, conforme a
programação da comunidade, e, especialmente, para a
vigília de Pentecostes.

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Celebração na vigília de Pentecostes
3 de junho de 2006

A vigília de Pentecostes é uma das celebrações mais bonitas


e significativas de nossa liturgia. Herdamo-la da liturgia judai-
ca. Cinquenta dias depois da Páscoa (daí o nome “Pentecostes”
— 50º dia), os judeus celebram a festa da aliança no Sinai. Depois
da morte e ressurreição de Jesus, seus discípulos, com Maria,
estavam reunidos numa sala, provavelmente celebrando essa
festa judaica. Certamente, num clima de oração, expectativa e
esperança, foram surpreendidos pela “vinda do Espírito Santo”,
que mudou, definitivamente, a vida deles: começaram a anunciar
a Boa-Nova de Jesus Cristo a todos os povos, línguas e nações.
Estamos na vigília desta grande festa. Hoje, somos nós
que estamos esperando e desejando o dom do Espírito do Res-
suscitado. Assim reunidos, guiados pela Palavra, celebramos
essa vigília.
É importante oportunizar momentos de silêncio durante a
celebração, pois o silêncio é a atitude própria de quem espera e
deseja receber e ouvir o Espírito. As orações após as leituras e
o salmo devem ser bem proclamadas, porque ajudam a penetrar
no mistério que esta vigília celebra.
Preparar o ambiente próprio para a vigília (penumbra, ve-
las, Círio Pascal, água, flores, candelabro (7 velas — menoráh),
cor vermelha).!
Na procissão de entrada, cantar “ Nós estamos aqui reuni-
dos” ou outro canto.

| No Ofício Divino das Comunidades, encontra-se uma celebração para a vigília


de Pentecostes, com indicação de leituras, hinos, preces (p. 588). Temos, tam-
bém, sugestões no subsídio O Dia do Senhor. Guia para as celebrações das
comunidades. São Paulo, Paulinas, 2002. pp. 348-361.

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PNE - QV) - CVV nº 27
Fazer um momento de silêncio e, depois, de recordação da
vida. Lembrar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos,
que se encerra hoje.
Cantar: “A nós descei divina luz” (enquanto se acendem
as velas no Círio Pascal).
Concluir com a oração:

Concedei-nos, ó Deus onipotente, que brilhe sobre nós o esplen-


dor da vossa claridade, e o fulgor da vossa luz confirme, com
o dom do Espírito Santo, aqueles que renasceram pela vossa
graça. Por nosso Senhor Jesus Cristo. Amém” (Missal romano
p. 317, segunda oração). |

Ao iniciar a liturgia da Palavra, quem preside prepara a


assembléia, relembrando o sentido dessa celebração de vigília.
O Missal romano propõe as seguintes palavras, que podem ser
adaptadas ou enriquecidas conforme a realidade da assembléia:

Introduzidos na vigília de Pentecostes, irmãs e irmãos caríssi-


mos, a exemplo dos apóstolos e discípulos que, com Maria, a
mãe de Jesus, perseveravam em oração, aguardando o Espírito
prometido pelo Senhor, ouçamos, de ânimo sereno, a Palavra
de Deus.
Meditemos sobre as grandes coisas que Deus realizou em favor
de seu povo e rezemos, para que o Espírito Santo, enviado pelo
Pai como primícias aos que crêem, leve à plenitude a sua obra
neste mundo.

Primeira leitura: Gn 11,1-9: Torre de Babel

Salmo responsorial: Sl 32,10-11.12-13.14-15. Refrão:


“Feliz o povo que Deus escolheu por sua herança”.
Oração:

Ó Deus todo-poderoso, que a vossa Igreja seja sempre aquele


povo santo, reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito

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PNE - QVJ - CVV nº 27
Santo, que manifesta ao mundo o mistério da vossa santidade
e unidade, levando as pessoas à perfeição do vosso amor. Por
Cristo, nosso Senhor. Amém.

Segunda leitura: Ex 19,3-8.16-20: aliança no Sinai


Salmo responsorial: Cântico de Daniel 3,52.53.54.55.56. Re-
frão: “A vós louvor, honra e glória eternamente”. Ou: Sl 18,8.9.10.11.
Refrão: “Vós tendes, Senhor, palavras de vida eterna”.

Oração:

Ó Deus, entre clarões de fogo, destes na montanha do Sinai a


antiga lei de Moisés e hoje manifestastes a nova aliança no fogo
do Espírito Santo. Concedei que ardamos sempre pelo mesmo
Espírito, que, de modo admirável, infundistes nos vossos após-
tolos, e o novo Israel, congregado de todos os povos, acolha
com alegria o mandamento supremo do vosso amor. Por Cristo,
nosso Senhor. Amém.

Terceira leitura: Ez 37,1-14: os ossos ressequidos


Salmo responsonial: Sl 106,2-3.4-5.6-7.8-9. Refrão: “Dai gra-
ças ao Senhor, porque eterna é a sua misericórdia” ou “Aleluia”.
Oração:

Senhor, Deus todo-poderoso, que restaurais tudo o que decaiu e o


conservais restaurado, fazei crescer os povos a serem renovados
pela glorificação do vosso nome, para que todos os purificados
pelo santo batismo sejam dirigidos sempre pela vossa inspiração.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Quarta leitura: JI 3,1-5: o dom do Espírito.


Salmo responsorial: Sl 103,1-2.24 e 25.27-28.29bc-30.
Refrão: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face
renovai”.

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Oração:

Senhor, realizai em nós a vossa promessa, para que a vinda do


Espírito Santo nos transforme em testemunhas do evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo diante do mundo. Por Cristo, nosso
Senhor.

Em seguida, quem preside convida para cantar o “Glória


a Deus nas alturas”.
Terminado o hino, rezar a oração do dia:

Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que o mistério pascal


se completasse durante cinquenta dias, até a vinda do Espírito
Santo. Fazei que todas as nações dispersas pela terra, na diver-
sidade de suas línguas, se unam no louvor do vosso nome. Por
nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

A celebração tem sequência com a leitura do Apóstolo:


Rm 8,22-27.
Aclamação ao Evangelho — “Aleluia”.
Evangelho: Jo 7,37-39: “Se alguém tem sede, venha a mim
e beba”.

Homilia ou partilha da Palavra proclamada.


Profissão de fé e preces dos fiéis (com as velas acesas).
A partir da preparação das oferendas, a celebração eucarísti-
ca segue as orações prescritas no Missal romano, pp. 317-318.
Se não houver celebração eucarística, pode-se fazer uma
bênção sobre os alimentos e bebidas, que, depois da celebração,
são repartidos, em um ágape fraterno. Pode-se cantar hinos e
rezar orações que expressem o desejo, a espera e a fé na presença
do Espírito Santo.

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Domingo de Pentecostes
4 de junho de 2006

Leituras: At 2,1-1l; Salmo 103(104),lab e 24ac.29bc-30.31 e 34;


ICor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23
Leituras facultativas: Gl 5,16-25; Jo 15,26-27; 16,12-15

“Vinde, Espírito Santo,


enchei os corações dos vossos fiéis;
acendei neles o fogo do vosso amor!”

1. Situando-nos brevemente
Com a festa de hoje, estamos chegando ao fim do Tempo
Pascal, tempo celebrado com alegria e exultação, um só dia de
festa que durou cinquenta dias, “um grande domingo”, tempo
marcado pelo canto e pelo sentimento do “Aleluia!”.
O importante é celebrarmos a festa de hoje intimamente
ligada à Páscoa e a todo o Tempo Pascal. O Pentecostes cristão
não é a festa do Espírito Santo em si. À vinda do Espírito Santo,
em Pentecostes, é um acontecimento de salvação. Representa o
cume do mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo. É a
festa que dá coroamento à Páscoa de Cristo.
Na missa da vigília, rezamos na oração do dia: “Quisestes
que o mistério pascal se completasse durante cinquenta dias, até
a vinda do Espírito Santo”.
Concluímos, hoje, a Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos. E o dom do Espírito que nos faz viver unidos. Somente

85
PNE - QV) - CVV nº 27
unidos pelo mesmo Espírito poderemos ver Jesus, Caminho,
Verdade e Vida.

2. Recordando a Palavra

À primeira leitura de hoje, do livro dos Atos dos Apóstolos,


não pretende ser uma reportagem jornalística da vinda do Espírito
Santo. Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem po-
ética das metáforas. A Igreja é apresentada como a comunidade
que nasce de Jesus, que é assistida pelo Espírito e que é chamada
a testemunhar aos seres humanos o projeto do Pai.
Lucas coloca a experiência do Espírito no dia de Pentecos-
tes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinquenta dias
após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se
agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas depois se
tornou a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no
Sinai e a constituição do Povo de Deus. Ao situar neste dia o dom
do Espírito, Lucas sugere que o Espírito é a lei da nova aliança e
que, por ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus.
O Espírito é apresentado como “a força de Deus” através de
dois símbolos: o vento de tempestade e o fogo. São os símbolos
da revelação de Deus no Sinai, quando Deus deu ao povo a Lei
e constituiu Israel como Povo de Deus.
O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de “língua
de fogo”. A língua não é somente a expressão da identidade cultural
de um grupo humano, mas é também a maneira de comunicar, de
estabelecer laços duradouros entre as pessoas, de criar comunidade.
“Falar outras línguas” é criar relações, é a possibilidade de superar
o gueto, o egoísmo, a divisão, O racismo, a marginalização.

Todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as ma-


ravilhas de Deus”. Aos representantes de todo o mundo antigo
deve chegar a proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os

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PNE - QV) - CVV nº 27
povos uma comunidade de amor e de partilha. A possibilidade
de ouvir na própria língua “as maravilhas de Deus” significa
que, sem deixarem a sua cultura, as suas diferenças, todos os
povos escutarão a proposta de Jesus e terão a possibilidade de
integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua
e onde todos podem experimentar esse amor e essa comunhão
que tornam povos tão diferentes irmãos.
À comunidade cristã de Corinto era viva e fervorosa,
mas não era uma comunidade exemplar no que diz respeito à
vivência do amor e da fraternidade: os partidos, as divisões, as
contendas e rivalidades perturbavam a comunhão e constituíam
um contra testemunho. Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo
corrige, admoesta, dá conselhos, mostra a incoerência desses
comportamentos, incompatíveis com o Evangelho. O verdadeiro
“carisma” é o que leva a confessar que “Jesus é o Senhor”. Os
demais ministérios, atividades e dons são consequência.
Paulo compara a comunidade cristã a um “corpo” com
muitos membros. Apesar da diversidade de membros e de fun-
ções, o “corpo” é um só. Em todos os membros circula a mesma
vida, pois todos foram batizados num só Espírito e “beberam”
um único Espírito.
O Evangelho de hoje já foi proclamado no segundo do-
mingo da Páscoa, com a diferença que lá ele continua narrando a
experiência de Tomé. A narração leva-nos ao cenáculo, no próprio
dia da ressurreição. Apresenta-nos a comunidade que ainda não
se encontrou com Cristo ressuscitado nem tomou consciência do
que significa a ressurreição. É uma comunidade fechada, insegura,
com medo... Necessita fazer a experiência do Espírito; só depois
estará preparada para assumir a sua missão no mundo.
João dá detalhes: o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o
“medo” (v. 19a) fórmam o quadro que reproduz a situação de
uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e,

87
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portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu
as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, em
que se agarrar.
Entretanto, Jesus aparece “no meio deles” (v. 19b). João
indica, dessa forma, que os discípulos, fazendo a experiência do
encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, O
seu ponto de referência.
Jesus deseja-lhes “a paz”. A “paz” é um dom messiâni-
L

co; mas, nesse contexto, significa, sobretudo, a transmissão da


serenidade, da tranquilidade, da confiança que permitirão aos
discípulos superar o medo e a insegurança.
Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado”. São os
“sinais” que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na
cruz. É nesses “sinais” (na entrega da vida, no amor oferecido até
a última gota de sangue) que os discípulos reconhecem Jesus.
Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de
soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar
a vida ao homem de argila. Com o “sopro” de Deus de Gn 2,7,0
homem tornou-se um “ser vivente”; com este “sopro”, Jesus trans-
mite aos discípulos a vida nova e faz nascer o ser humano novo.
Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos (v. 23):
a eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que
os discípulos podem ou não — conforme os seus interesses ou a
sua disposição — perdoar os pecados. Significam, apenas, que
os discípulos são chamados a testemunhar no mundo essa vida
que o Pai quer oferecer a todos os seres humanos. Quem aceitar
essa proposta, será integrado na comunidade de Jesus; quem não
a aceitar, continuará a percorrer caminhos de egoísmo e de morte
(isto é, de pecado). A comunidade, animada pelo Espírito, será
a mediadora desta oferta de salvação. Neste dia festivo, temos,
ainda, a “sequência de Pentecostes”, uma espécie de “Cântico dos

88
PNE - QV) - CVV nº 27
Cânticos” à obra do Espírito Santo. É um hino antigo, do século
n

XII. Tem uma riqueza literária, musical, espiritual e litúrgica


muito grande.

3. Atualizando a Palavra
A Palavra que ouvimos neste domingo de Pentecostes
não é apenas para recordar um fato acontecido há mais de 2.000
anos, mas é, sobretudo, uma palavra dirigida a nós, hoje, Igreja
de Jesus Cristo.
A festa de Pentecostes, cume da festa pascal, aviva e ajuda
nossa Igreja e nosso mundo, que quer “ver Jesus”. Um lugar
privilegiado, não único, mas especial, para “vermos Jesus”, é
a comunidade reunida em torno da Palavra, da eucaristia e da
caridade. A partir da Palavra que ouvimos hoje, surgem muitas
perguntas: a Igreja de que fazemos parte é uma comunidade de
irmãos que se amam, apesar das diferenças? Está reunida por
causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem consciência de que o Es-
pírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma efetiva
e coerente, a proposta libertadora que Jesus deixou”
Temos consciência de que é o Espírito que nos renova,
orienta e anima? Damos suficiente espaço à ação do Espírito em
nossa Igreja? Temos consciência de que somos membros de um
único “corpo” — o corpo de Cristo — e que é o mesmo Espírito
que nos alimenta, embora desempenhemos funções diversas (não
mais dignas ou mais importantes, mas diversas)?
Os “dons” que recebemos não podem gerar conflitos e
divisões, mas devem servir para o bem comum e para reforçar
a vivência comunitária. As nossas comunidades são espaços de
partilha fraterna?
E preciso ter consciência da presença do Espírito: é ele que
alimenta, que dá vida, que anima, que distribui os dons conforme

89
PNE - QV) - CVV nº 27
as necessidades; é ele que conduz as comunidades na sua mar-
cha pela história. Ele foi distribuído a todos os fiéis e reside na
totalidade da comunidade.
Como vimos no Evangelho, a comunidade cristã só existe
de forma consistente se está centrada em Jesus. Jesus é a sua
identidade e a sua razão de ser. É nele que superamos os nossos
medos, as nossas incertezas, as nossas limitações.
Que sinais nossas comunidades apresentam àqueles que
querem “ver Jesus”?

4. Ligando a Palavra com a ação litúrgica


Sem o Espírito Santo não existe liturgia. É ele que nos faz
rezar, escutar, falar, cantar e dirigir ao Pai. Depois do primeiro
Pentecostes, “nunca a Igreja deixou de reunir-se para celebrar
o mistério pascal em Jesus Cristo pela força do Espírito Santo”
(cf. SC, n. 6). Como afirma o Catecismo da Igreja Católica, “o
dom do Espírito inaugura um tempo novo na “dispensação do
mistério”: o tempo da Igreja, durante o qual Cristo manifesta,
torna presente e comunica a sua obra de salvação pela liturgia
da sua Igreja, “até que ele venha” (n. 1076).
Uma palavra que resume a relação entre o Espírito Santo
e a liturgia é “sinergia”, ou seja, a cooperação que existe entre a
nossa resposta de fé e a ação do Espírito Santo.

Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo da fé do Povo de Deus,


o artífice das “obras-primas de Deus”, que são os sacramentos da
nova aliança. O desejo e a obra do Espírito no coração da Igreja
é que vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando encontra
em nós a resposta de fé, que ele mesmo suscitou, realiza-se
uma verdadeira cooperação. Através dela, a liturgia torna-se a
obra comum do Espírito Santo e da Igreja (Catecismo da Igreja
Católica, n. 1091).

90
PNE - QV) - CVV nº 27
Graças ao Espírito Santo, podemos afirmar que toda cele-
bração litúrgica é nova, única e frutífera.
Na celebração litúrgica, todo fiel que participa da assem-
bléia se torna o que recebe e o que é anunciado, celebrado. De
fato, o mistério, proclamado e professado para a vida do cristão,
transforma-se em ação de graças (eucaristia).

PREPARANDO A CELEBRAÇÃO

Sugestões
1. Tudo no espaço celebrativo da festa de hoje deve lem-
brar a Páscoa, os cinqiienta dias em que celebramos a
ressurreição do Senhor. Por isso, preparar bem o local
onde ficará o Círio Pascal, enfeitar a pia batismal, usar
a cor vermelha no ambão, fazer uma ornamentação que
destaque o altar (sem poluir). No livro A arte floral a
serviço da liturgia, de Jeanne Emard, São Paulo, Pauli-
nas, 1999, pp. 49-51, há uma sugestão de arranjo próprio
para a festa de hoje.
2. Preparar um candelabro para colocar as sete velas ou
tochas.
3. Solenizar a procissão de entrada: cruz processional, 1n-
censo, Círio Pascal, sete velas ou tochas, Evangeliário
(ou Lecionário), bandeira do Divino. Todos os ministros
que vão exercer algum ministério litúrgico usem as
vestes festivas. O sacerdote que preside use a estola e a
casula vermelhas.
4. Durante o canto da “sequência” — “A nós descei divina
luz” —, a assembléia acende suas velas no Círio e nas
sete velas ou tochas, permanecendo com elas acesas até
o final do Evangelho.

91
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5. Fazer a profissão de fé junto à pia batismal e depois
fazer a aspersão sobre toda a assembléia.
6. Invocar sobre a assembléia a bênção final, própria da
festa de hoje, conforme Missal romano, p. 524.
7. Lembrar que a Igreja no Brasil tem um compromisso
pascal, nascido da missão evangelizadora de Jesus
Cristo, pelo qual todas as comunidades são chamadas
a participar, com a força do Espírito Santo: Queremos
ver Jesus — Caminho, Verdade e Vida.

Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece


no passado, o Evangelho é uma letra morta, a Igreja é uma
simples organização, a autoridade é um poder, a missão é uma
propaganda, o culto é um arcaísmo, e a ação moral é uma ação
de escravos. Mas no Espírito Santo o cosmo é enobrecido
pela geração do reino, o Cristo ressuscitado faz-se presente, o
Evangelho faz-se força do reino, a Igreja realiza a comunhão
trinitária, a autoridade transforma-se em serviço, a liturgia é
memorial e antecipação, a ação humana deifica-se.
(Do patriarca Atenágoras)

O Tempo Pascal termina com a oração das vésperas e das


completas do dia de hoje. Depois dessas orações, convém guardar
o Círio Pascal, com veneração, no batistério, para nele acender
as velas dos batizandos.
Com a festa de Pentecostes encerra-se o Tempo Pascal. Mas
esse encerramento não é apenas final. É também começo, começo
de nosso peregrinar. O Tempo Comum, que agora continuamos, é
um período de peregrinação. Os Atos dos Apóstolos começaram
com Pentecostes. Também os nossos atos devem começar com a
presença, a força e a luz do Espírito Santo. Nossas vidas devem
impregnar-se do Espírito do Ressuscitado, por isso Pentecostes
é ponto de partida.

92
PNE - QV] - CVY nº 27
Sumário

Apresentação.................c. cr rrerereeeeanaera raca cen eae caca rean care resrerae rate terents 5

Introdução — A liturgia no Tempo Pascal... err ereerereeeeaseaseesastantos 7


Oração do 15º Congresso Eucarístico Nacional......................
res 13

Vigília pascal — 15 de abril de 2006


(Gn 1,1-2,2; 22,1-18; Ex 14,15-15,1; Is 54,5-14; 55,1-11; Br 3,9-15.32-4,4;
Ez 36,16-17a.18-28; Rm 6,3-11; Mc 16,1-7)............ eae I5
1º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor — 16 de abril de 2006
(At 10,34a.37-43; SI 117(118),1-2.16ab-17.22-23(+24); CI 3,1-4;
Jo 20,1-9 [ressurreição)) ................e iene rerereereererrararrerareraen
carte renerarra 25
2º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor — 23 de abril de 2006
(At 4,32-35; SI 117(118),2-4.16ab-18.22-24(+1);
Jo 5,1-6; Jo 20,19-31 [Tomé)) ............... eres ererarreaa 33
3º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor — 30 de abril de 2006
(At 3,13-15.17-19; SI 4,2.4.7.9(7a); 1Jo 2,1-Sa;
Lc 24,35-48 [aparição em Jerusalém)) ............... sereia 4]

4º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor — 7 de maio de 2006


(At 4,8-12; S1 117(118),1 e 8-9.21-23.26 e 28cd e 29(+22);
1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18 [o Bom Pastor))...................ssss
e eererereerers 49
5º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor — 14 de maio de 2006
(At 9,26-31; SI 21(22),26b-27.28 e 30.31-32(+26a); 1Jo 3,18-24;
Jo 15,1-8 [videira e ramos))...............css ss srreresereererereerrereaereraneeenaaerannereenrernness 57
6º Domingo da Páscoa na ressurreição do Senhor — 21 de maio de 2006
(At 10,25-26.34-35.44-48; 81 97(98),1.2-3b.3cd-4(+ cf. 2b); 1Jo 4,7-10;
Jo 15,9-177 [amor e amigos]).................. eee reerereaeeecrearenenarecaenrenaas 65

Ascensão do Senhor — 28 de maio de 2006


(At 1,1-11; SI 46(47),2-3.6-7.8-9 (R/6); Ef 1,17-23 ou 4,1-13; Mc 16,15-20)....73
Celebração na vigília de Pentecostes — 3 de junho de 2006 .............................. 81
Domingo de Pentecostes — 4 de junho de 2006
(At 2,1-11; SI 103(104), lab e 24ac.29bc-30.31 e 34; 1Cor 12,3b-7.12-13;
Jo 20,19-23. Leituras facultativas: Gl 5,16-25; Jo 15,26-27; 16,12-15) .............. 85

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