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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

“Com a vida e a Palavra anunciou


ao mundo que sois Pai e cuidais de
todos como filhos e filhas”

Roteiros Homiléticos do Tempo Comum


Ano B - São Marcos
Setembro / Novembro de 2012

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental

Coções CNS?
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum
“Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois
Pai e cuidais de todos como filhos e filhas”

12 Edição - 2012

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Diretor Editorial:
Mons. Jamil Alves de Souza
Revisão Doutrinal:
Pe. Hernaldo Pinto Farias, SSS
Revisão:
Lúcia Soldera
Projeto Gráfico e Capa:
Henrique Billygran da Silva Santos
Diagramação:
Raul Benevides dos Santos Silva
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C748c Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas.
Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Ano B - São Marcos. Brasília, Edições CNBB. 2012.

120p.:14x21cm
ISBN: 978-85-7972-142-7

1. Igreja Católica - Orientação - Reflexão;


2. Liturgia;
3. Teologia;
4. Espiritualidade.

CDU: 266.3

: Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios :
: (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de :
dados sem permissão da CNBB. Todos os direitos reservados O
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Edições CNBB
SE/Sul Quadra 801 - Cj. B- CEP 70200-014
Fone: (61) 2193-3019 - Fax: (61) 2193-3001
E-mail: vendasGedicoescnbb.com.br
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Sumário

APRESENTAÇÃO............iimemeeeeseeeeeeeeeeeeeerereeeereereeo tese 4 40400

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM


02 de setembro de 2012 .........ereseereceerserencera
ceras cerareescenos

23º DOMINGO DO TEMPO COMUM


09 de setembro de 2012... erre eerrresrerrreaeeranoo

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM


16 de setembro de 2012 .......eeeerrerereerererrerrererserendo

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM


23 de setembro de 2012 .........eeeeeeeerrererereserrererecererasoo

26º DOMINGO DO TEMPO COMUM


30 de setembro..........ccesererenserreoressreneren
raso rens ros ces acer seraserosds

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM


07 de outubro de 2012.........eseerereseeresserec
seres erenseeesssresso

ANO DA FÉ
11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013.....................

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DA


CONCEIÇÃO APARECIDA
12 de outubro de 2012...........ceseeeseereeerserscorencersserascersseanscoso

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM


14 de outubro de 2012.........ccseeeeeerereresresseres
sensores seres senseraso
29º DOMINGO DO TEMPO COMUM
21 de outubro de 2012.................eucssss
iss ssesereresessreressseerreasssreranaõos 65

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM


28 de outubro de 2012................ec
seres srrrerecaseeerenacrrerenado 70

FINADOS
COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS
02 de novembro de 2012.....................ciees
seres serereee eee crrerreeraeaaaado 76

31º DOMINGO DO TEMPO COMUM


04 de novembro de 2012.................ceceees
ess serrreeeees as sereereenaaasaseeo 83

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM


11 de novembro de 2012..................cciissssse
rece sesereeresssssereereneoansasõo 91.

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM


18 de novembro de 2012... eseserererreereressasaanado 98

34º DOMINGO DO TEMPO COMUM


25 de novembro de 2012.................iccs
ss ssereerrereaeereessassaseenços 109

ANOTAÇÕES................. aiii 117


PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

APRESENTAÇÃO
Os Roteiros Homiléticos que aqui publicamos compreendem desde
o 22º domingo do Tempo Comum até a solenidade de Nosso Senhor
Jesus Cristo Rei do Universo, os quais correspondem aos meses de
setembro, outubro e novembro.
Dando continuidade ao Tempo Comum, somos chamados pela
Igreja a seguir os passos de Jesus como discípulos e discípulas seus.
À cada domingo, celebrando o ministério público de Jesus, que torna
visível o Reino do Pai, nos colocaremos em sua presença pela Litur-
gia, para conhecê-lo e amá-lo mais. Especialmente, neste ano “Bº da
liturgia, com o Evangelho de Marcos, chegaremos à Solenidade de
Cristo Rei, reafirmando nosso compromisso de segui-lo, tornando-o,
cada vez mais, Senhor, fonte e sentido de nosso existir.
O início do Ano da Fé, a comemoração dos fiéis defuntos e as
solenidades de Nossa Senhora Aparecida e de todos os Santos e San-
tas nos ajudarão neste caminho discipular, fortalecendo nossa espe-
rança de, um dia, contemplar a realização definitiva do Reino do Pai.
Estes roteiros foram elaborados por uma equipe de cinco padres que,
semanalmente, se reúnem, às quartas-feiras, para prepararem juntos a
homilia do domingo subsequente. Eles, como de costume, seguiram, em
suas reuniões, o método da Leitura Orante, iniciando pelo evangelho,
passando pela primeira leitura, pelo salmo responsorial e pela segunda
leitura. A reflexão é concluída com a oração dos textos eucológicos do dia
(oração do dia, sobre as oferendas, após a comunhão e prefácio).
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas R

Sim, com a vida e a Palavra Jesus anunciou ao mundo que Deus


é Pai e cuida de todos como filhos e filhas. Com estas palavras da
oração eucarística, queremos nos unir a todas as equipes que, com ca-
rinho, preparam as celebrações em nossas comunidades. Que Jesus,
Senhor de suas vidas, os acompanhe, ilumine e proteja, fazendo-os
experimentar, a cada celebração, a filiação divina.
Agradecemos ao Pe. Gustavo Haas e sua equipe de presbíteros
pela colaboração para que tenhamos uma boa celebração do mistério
do Senhor em nossas comunidades.

Dom Fernando Panico,


Bispo da Diocese de Crato/CE
Membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
22º DOMINGO DO TEMPO COMUM

02 de setembro de 2012

"RECEBEI COM HUMILDADE A PALAVRA QUE EM VÓS FOI IMPLANTADA”. (TG [,21B)

Leituras: Deuteronômio 4,1-2.6-8


Salmo 14 (15)
Tiago 1,17-18.21b-22.27
Marcos 7,1-8.14-15.21-23

Situando-nos
Nesse primeiro domingo no mês de setembro, com toda a Igreja no
Brasil, queremos destacar e valorizar ainda mais a Bíblia, o livro da
Palavra de Deus. Para este mês temático, a Igreja no Brasil propõe
o aprofundamento do Evangelho de Marcos. Que seja um mês de
muito proveito para todos!
Em cada Celebração Eucarística, o Senhor nos convida para
participarmos das mesas da Palavra e da Eucaristia, estreitando as-
sim os laços que nos unem a ele e aos irmãos e irmãs. Nossa semana
é marcada pelo encontro com Deus e com os irmãos, no Dia do Se-
nhor. “O domingo é o dia em que a família de Deus se reúne para
escutar a Palavra e repartir o Pão consagrado, recordar a ressurreição
do Senhor na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanida-
de inteira repousar diante do Pai” (CNBB, Guia Litúrgico-Pastoral.
22 Ed. Brasília: Edições CNBB, 2007, p.9).
Ainda no decorrer: dessa semana, celebraremos o dia de nossa
Pátria. São inúmeras as situações que nos desafiam na construção de
uma pátria verdadeiramente livre e para todos.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 10

Recordando a Palavra
Após o discurso do Pão da Vida (João 6), retornamos ao Evangelho
de Marcos. Domingo passado, os discípulos, que escutavam Jesus,
disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” Diante
dos 'murmúrios' dos discípulos e do fato de muitos deles terem voltado
atrás e não andarem mais com ele, Jesus disse aos doze: “Vós também
quereis ir embora?” Simão Pedro, em nome do grupo, respondeu: “A
quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos
firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Hoje, Jesus se encontra diante de fariseus e mestres da Lei,
enviados de Jerusalém à Galileia para observá-lo, juntamente com
seus discípulos. Jesus é questionado pelo fato de alguns de seus
discípulos comerem o pão com as mãos impuras, descumprindo
assim a tradição dos antigos. À resposta de Jesus, citando o profeta
Isaías, se dá num tom acusatório: “Vós abandonais o mandamento de
Deus para seguir a tradição dos homens”. Dirigindo-se à multidão,
Jesus chama a atenção de que o que torna o homem impuro não é o
que entra nele vindo de fora, mas o que sai de seu interior. “De dentro
do coração humano” é que saem todas as coisas que tornam o homem
impuro.
À primeira leitura é extraída de uma parte do livro do
Deuteronômio, escrita na Babilônia, durante o exílio de Israel. Israel
perdera a liberdade, a honra, a terra de seus pais, o templo onde
prestava culto a seu Deus e recorda saudoso o tempo do reinado de
Davi e de Salomão, quando era uma grande nação. Mas nem tudo
estava perdido. Restava-lhe um precioso dom de Deus: a Lei.
Moisés falou ao povo, dizendo: “Agora, Israel, ouve as leis e os
decretos que eu vos ensino a cumprir, para que o fazendo, vivais e
entreis na terra prometida pelo Senhor Deus de vossos pais. Nada
acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os
mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo. (...) neles
está a vossa sabedoria e inteligência perante os povos” (Dt 4,1-2.6).
11 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

À proximidade de Deus e a justiça de suas leis e decretos tornam


Israel conhecido e admirado perante os outros povos.

Como assembleia reunida em nome do Senhor, cantamos com


o salmista: Senhor, quem morará em vossa casa e, no vosso monte
santo, habitará? O próprio salmo nos aponta uma resposta: É aquele
que caminha sem pecado e pratica a justiça felmente; que pensa a verdade
no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua.

Durante cinco domingos, na 2º leitura, acompanharemos textos


da carta de São Tiago. Trata-se de uma obra muito rica em conselhos
práticos. O tema de hoje refere-se à Palavra de Deus. Tiago convoca
sua comunidade e todos nós com estas palavras: Recebei com humil-
dade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as
vossas almas. Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos. Aponta para a necessária docilidade à
Palavra. Não é suficiente, contudo, a escuta atenta. Faz-se necessário
“praticar a Palavra”. À religião pura e sem mancha diante de Deus
Pai, nos diz ainda, consiste em assistir os órfãos e as vitivas em suas tri-
bulações e não se deixar contaminar pelo mundo. À escuta da Palavra de
Deus, portanto, deve despertar o comprometimento com as pessoas
mais necessitadas.

Atualizando a Palavra
À palavra que ouvimos na celebração de hoje é uma palavra que
liberta e que comunica vida. À escuta e o cumprimento da lei de
Deus são apresentados como um caminho de vida e libertação. Jesus
corrobora isso, ensinando que é o esquecimento do mandamento de
Deus e o apego às tradições dos homens o que perverte o coração
humano.
Os fariseus e alguns mestres da lei se aproximaram e se reuniram
em torno de Jesus, o observando. Também nós, tantas vezes e por tantos
motivos, nos reunimos em torno de Jesus. De que modo observamos
a prática de nossos semelhantes, discípulos de Jesus Cristo? Acaso
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 12

nos consideramos fiéis cumpridores de sua palavra? Que direito isso


nos dá de julgarmos as atitudes de nossos semelhantes?
Longe dos seguidores e seguidoras de Jesus deve estar todo tipo
de culto exterior e vazio! Ouvir e praticar é o refrão que se repete,
constantemente, na liturgia de hoje.
Israel era um povo admirado pelas demais nações por ter um
Deus tão próximo e uma lei tão justa. Nossas comunidades cristãs,
por que motivos são admiradas e respeitadas? Realizamos, através
das comunidades e de outras organizações, tantas coisas importantes
para os indivíduos e para a sociedade, em diversos campos como os
da educação, da saúde e da assistência social? As atividades subsidiá-
rias um dia podem não serem mais necessárias, então, o que sobrará
para essas organizações? Restará sempre o tesouro mais valioso que é
a Palavra de Deus, o Evangelho.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


A Palavra ouvida se faz presença na ação eucarística! Aquele que é
anunciado, proclamado na Palavra, se torna presença na Eucaristia.
“Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem
do Pai das luzes”, nos diz São Tiago. Ao celebrarmos a Eucaristia,
reconhecemos que tudo o que é bom provém de Deus. Manifestamos
o nosso desejo de que ele mesmo alimente, em nós, o que é bom, para
assim guardarmos aquilo que dele recebemos.
Com nossos corações inundados pelo amor de nosso bom Deus
e de laços estreitados com ele, pela escuta atenta de sua Palavra, nos
unimos ainda mais ao participarmos da mesa do Corpo e do San-
gue de nosso Senhor. Mergulhamos mais perfeitamente nessa comu-
nhão, quando a Eucaristia, alimento da caridade, nos faz reconhecê-
lo e servi-lo em nossos irmãos e irmãs.
“De fato, o cristão não só celebra a Eucaristia, mas também deve
ter uma vida eucarística, prolongando seu mistério e seu dinamismo,
| É PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

ou convertendo em obras de caridade e de justiça o que celebrou no


sacramento, anunciando e testemunhando no mundo e na sociedade
aquele amor de entrega, aquela solidariedade e novidade que expe-
rimenta na reunião eucarística” (Texto do Congresso Eucarístico de
Sevilha, n. 32).

Sugestões para a celebração


a) Uma boa sugestão para as equipes de canto é a canção: Senhor,
quem entrará no santuário pra te louvar? Versão do Ofício Divino
das Comunidades: salmo 15.

b) Procissão de entrada: leitor leva o Livro da Palavra de Deus


(o Lecionário), em destaque, e dele proclama a Palavra.
Ou ainda, introduzir a Liturgia da Palavra com um refrão
cantado, por exemplo: “Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, um
é o Senhor!” ou “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor;
lâmpada para os meus pés, Senhor; luz para o meu caminho”.
Devemos cuidar para não destacar um lugar diferente para a
Bíblia, dentro do espaço litúrgico. O lugar próprio e especial
da Bíblia, que na Liturgia é o Lecionário/Evangeliário, é o
ambão (mesa da Palavra).
c) Optar pela Oração Eucarística VI — D: Jesus que passa fazendo o bem.
d) Lembrar que, no dia 03 de setembro, segunda-feira próxima,
celebramos a memória de São Gregório Magno, Papa e doutor
da Igreja. Ele nasceu em Roma por volta do ano 540. Seguin-
do a carreira política, chegou a ser nomeado prefeito de Roma.
Abraçou, mais tarde, a vida monástica, foi ordenado diácono e
desempenhou o cargo de legado pontifício em Constantinopla.
É considerado um dos mais célebres papas da história. Seu pon-
tificado durou 14 anos (de 3 de setembro de 590 a 12 de março
de 604). São Gregório Magno foi um fecundo escritor. Deixou
também sua marca na liturgia como um todo, no canto litúrgico,
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

no direito canônico, na vida ascética monacal, na pastoral e no


apostolado leigo.

e) No dia 07, lembramos o dia de nossa Pátria. Em comunhão com


as Pastorais Sociais e outros movimentos de nossa sociedade, ce-
lebramos o 18º Grito dos Excluídos, cujo tema será: “Queremos
um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população”.

Lembrar ainda que, no próximo sábado, dia 08 de setembro, ce-


lebramos a festa da NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA.
Esta festa é celebrada, no Oriente, desde o início do cristianismo
e, no Ocidente, desde o século VII. “Aurora que precede o Sol da
justiça”, Maria é o alegre prenúncio da vinda do Salvador. Assim,
esta festa está estreitamente ligada ao mistério da Encarnação do
Filho de Deus.
Ro:

23º DOMINGO DO TEMPO COMUM

09 de setembro de 2012

“ELE TEM FEITO BEM TODAS AS COISAS: AOS SURDOS FAZ OUVIR E AOS MUDOS
FALAR. (MIC 7,37)

Leituras: Isaías 35,4-7a


Salmo 145 (146)
Tiago 2,1-5
Marcos 7,31-37

Situando-nos
Estamos no 23º domingo do Tempo Comum. Com o intuito de uma
interação sempre maior entre a Palavra e a Eucaristia, as duas mesas
que constituem um só ato de culto, é que propomos a reflexão da
liturgia deste final de semana. Neste Ano B, em que acompanhamos
o Evangelho de Marcos, a Palavra nos propõe um encontro com
aquele que anunciou e mostrou presente o Reino de Deus, por suas
ações e ensinamentos: Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem.
Sabendo que a liturgia “não esgota toda a ação da Igreja” (SC, n. 9),
mas é seu cume e fonte (SC, n. 10), importa também, que, especialmen-
te neste mês da Bíblia, nos empenhemos, pessoal e comunitariamente,
para um encontro com o Cristo na Palavra. Como nos dizem os bispos
reunidos em Aparecida: “A Palavra de Deus não são meras palavras. À
Palavra é uma pessoa que fala e fala a outra pessoa. E, por ser pessoa,
busca estabelecer uma relação...” (Discípulos e Servidores da Palavra de
Deus na Missão da Igreja, Documentos da CNBB, n. 97, introdução).
Vejamos o que mais, em nossa comunidade, podemos fomentar
em termos de estudo e celebração em torno da Palavra de Deus.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Recordando a Palavra
No evangelho de hoje, Jesus se encontra novamente em território
pagão; saindo da região de Tiro, passa por Sidônia e continua até o
mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. Apresentam a
Jesus um homem surdo, que falava com dificuldade, pedindo que lhe
impusesse a mão. Afastando-se com o homem da multidão, Jesus
tocou com os dedos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou-lhe
a língua. Olhando para o céu, suspirou e disse: Efatá! (Abre-te).
Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e o
homem começou a falar sem dificuldade. Segue, então, a recomen-
dação insistente de Jesus para que não contassem nada a ninguém.
Contudo, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam seus
feitos.
Isaías, dirigindo-se aos exilados da Babilônia, anuncia uma nova
situação para o povo, um novo tempo, um “outro mundo” que se avi-
zinha. São palavras de ânimo e de esperança, fundamentadas na ação
libertadora de Deus: “é ele que vem para vos salvar”.

“Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos


na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?” É este
o questionamento de São Tiago, finalizando a segunda leitura de
hoje. Não é exatamente isso que Jesus expressa no seu atendimento
atencioso aos doentes e pobres? É propriamente a fé em nosso Senhor
Jesus Cristo glorificado que não admite a acepção de pessoas.

Atualizando a Palavra
A atividade de Jesus em território pagão realça a universalidade da
sua missão. Marcos assim destaca que Jesus veio para comunicar a
vida a todas as pessoas, abolindo a distinção entre povos impuros e
povo puro.
O gesto da imposição das mãos, solicitado pelos que trouxeram o
homem surdo, era um gesto familiar a Cristo e de uso tradicional para
A PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

a transmissão de poder e autoridade, para a transmissão de bênçãos.


Os que trouxeram o enfermo pensavam, pois, que esse gesto fosse
essencial para a cura. Jesus, apartando-se da multidão com o surdo-
mudo, queria muito provavelmente evitar qualquer mal-entendido de
cunho messiânico. Jesus colocou os dedos em seus ouvidos, como que
indicando que ia abri-los, e, cuspindo, com a saliva tocou a língua dele.
Vale lembrar que, na antiguidade, a saliva era considerada remédio
medicinal. Os gestos e os toques de Jesus vão despertando, excitando
a fé daquele homem, preparando-o para o que vai realizar (ver Isaías
50,4-5). Antes da palavra de ordem para a cura, Jesus, olhando para
o céu suspirou, assim indicando que a cura que haveria de seguir era
obra do Pai, a fonte de todo o bem. Depois de sua oração silenciosa,
ordenou a cura: abre-te (efatá)! “Imediatamente seus ouvidos se abriram
e sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”. Uma vez
que Marcos não se refere nem à possessão, nem a algum espírito,
como faz em tantos outros casos, é bem provável que se tratasse de
um defeito natural. Cristo, consciente de que realizava o plano do Pai
e não buscava “atrair os holofotes” sobre si mesmo, além de afastar-se
da multidão para realizar a cura, recomenda insistentemente que não
o digam a ninguém. Marcos evoca Isaías, lembrando que Jesus havia
feito os surdos ouvirem e os mudos falarem. Foi Jesus mesmo que,
interrogado pelos mensageiros do Batista se ele era o Messias, deu
exatamente essa resposta (cf. Mt 11,1-6; Lc 7,18-23).
Quando os israelitas exilados encontravam-se desanimados e
abatidos, o profeta oferece-lhes um oráculo de esperança e de reconforto:
“Coragem! Não temais! O vosso Deus vem para vos salvar!” (v. 4).
Segundo o profeta, Deus está para entrar em ação em favor deles. Com
Jesus tem início o cumprimento dessas promessas messiânicas. Num
tempo em que a falta de sentido, a desesperança, a depressão campeiam
inexoravelmente, cada cristão em particular, nossas comunidades em
uníssono devem oferecer uma mensagem de alento, colocando-se ao
lado dos perseguidos e marginalizados, testemunhando ao mundo que
Deus, nosso Pai, cuida de todos como seus filhos e filhas.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 1 Fe!

Às injustiças e desigualdades que verificamos constantemente em


nossa sociedade, as quais, muitas vezes, são até banalizadas, jamais
poderão ser aceitáveis no seio das comunidades cristãs (2º leitura). Os
preconceitos discriminatórios, praticados dentro das comunidades
cristãs, constituem pecados graves que precisam ser extirpados, uma
vez que estas foram constituídas justamente para serem um sinal de
esperança para os empobrecidos e marginalizados.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Redimidos e adotados como filhos e filhas, esperamos pela fé em
Jesus Cristo, de nosso bondoso Pai, a verdadeira liberdade e a
herança eterna. Jesus Cristo em sua atividade provoca a admiração
das pessoas, porque faz bem todas as coisas.
Na Oração Eucarística VI —D, reconhecemos na ação do Filho,
a fidelidade e a misericórdia do Pai: “Ele sempre se mostrou cheio
de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores,
colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados. Com a vida
e a palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como
filhos e filhas”.
“Não deixem o altar da Eucaristia a não ser para ir ao altar dos
pobres. Pois o mesmo corpo de Cristo que servimos no memorial de
sua Paixão e da sua Ressurreição é o que temos agora de servir na
pessoa dos pobres. O altar é também símbolo do festim, da hospita-
lidade divina para o qual todos os homens são convidados. Enquanto
na Eucaristia tudo recebemos ao comungar o Corpo e o Sangue de
Cristo, no altar dos pobres temos de corresponder, de dividir o dom
recebido, temos de fazer a doação de nós mesmos” (Cf. CORBON,
J. Liturgia da fonte. São Paulo, Paulinas, 1992. p.187).
Alimentados e fortalecidos pela Palavra e pelo Pão, dons de
Jesus Cristo, esperamos viver com ele para sempre. Esperamos ainda
que a nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os laços da
amizade.
o PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Sugestões para a celebração e


O
a) Algo certamente significativo e apropriado para a liturgia deste
final de semana é realizar o gesto do Éfeta com toda a assem-
bleia. O ministro pode motivar o gesto e, enquanto, na assem-
bleia, dois a dois se tocam os ouvidos e a boca, diz: “O Senhor
Jesus, que fez os surdos ouvirem e os mudos falarem, lhe conceda
ouvir sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus
Pai”. Todos concluem: “Amém!”

b) Optar pela Oração Eucarística VI — D (ou IV para as diversas


circunstâncias): Jesus que passa fazendo o bem.
c) No dia 13 de setembro, quinta-feira próxima, celebramos a me-
mória de São João Crisóstomo, bispo e doutor. Ele nasceu em An-
tioquia por volta de 349. Recebeu excelente educação, dedicou-se
à vida ascética; e, tendo sido ordenado sacerdote, consagrou-se
com grande fruto ao ministério da pregação. Foi eleito bispo de
Constantinopla, em 397, revelando grande zelo e competência
nesse cargo pastoral, atendendo em particular à reforma dos cos-
tumes, tanto do clero como dos fiéis. Sua notável diligência e
competência na arte de pregar rendeu-lhe o título de Crisóstomo,
“boca de ouro”. Às oposições e intrigas políticas, algumas vezes, o
levaram ao exílio, onde morreu em 14 de setembro de 407.

d) Lembrar que, no dia 14 de setembro, sexta-feira próxima, a


Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Os orientais
celebram esta festa com uma solenidade comparável à da Páscoa.
É uma festa ligada à dedicação de duas basílicas, ocorrida em
13 de setembro de 335, as quais Constantino mandara construir
em Jerusalém, uma no Gólgota e outra no Sepulcro do Cristo
Ressuscitado. Esta festividade lembra aos cristãos o triunfo de
Jesus, vencedor da morte e ressuscitado pelo poder de Deus.
e) No dia 15 de setembro, sábado próximo, celebramos a memória
de Nossa Senhora das Dores (ou Piedade). São inúmeras as
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 20

comunidades que, pelo Brasil a fora, celebram, nesta semana,


o Setenário (sete dores de Nossa Senhora) e a festa da Mãe
Dolorosa. Recorda-se, portanto, a participação dolorosa de
Maria na obra redentora de Jesus Cristo, seu Filho.
24º DOMINGO DO TEMPO COMUM

16 de setembro de 2012

"SE ALGUÉM ME QUER SEGUIR, RENUNCIE A SI MESMO, TOME A SUA CRUZ E ME


SIGA". (MIC 8,34)

Leituras: Isaías 50,5-9a


Salmo 114 (115)
Tiago 2,14-18
Marcos 8,27-35

Situando-nos
O mês da Bíblia que estamos trilhando, instituído em 1971, tem
como meta instruir os fiéis sobre a Palavra de Deus e difundir o
conhecimento das Sagradas Escrituras. Já dizia São Jerônimo que
ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo. À implantação
desse mês temático colaborou na aproximação do Povo de Deus
com a Bíblia. Cresce a consciência e o esforço para a necessária
animação bíblica de toda a pastoral. Propondo o estudo e a reflexão
do Evangelho de Marcos para este mês, a Igreja deseja reforçar a
formação e a espiritualidade de seus agentes e fiéis, no seguimento
de Jesus Cristo.
Na caminhada litúrgica que fazemos, nos reunimos para celebrar
o 24º domingo do Tempo Comum, em que os discípulos de Jesus
são interrogados pelo Mestre sobre quem dizem que ele é. Pedro
responde categoricamente: “Tu és o Messias!” A partir do contato
que estamos tendo com o Evangelho de Marcos, o que podemos
afirmar da identidade de Jesus? Certamente já temos respostas
muito oportunas.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuicdais de todos como filhos e filhas Pu

Recordando a Palavra
No evangelho de hoje, Jesus, saindo para além das fronteiras da
Galileia, ao norte, realiza com os discípulos um levantamento de
como está a compreensão das pessoas e dos discípulos a respeito dele
mesmo. Ouve as respostas, mas proíbe-lhes severamente de falarem
a alguém a seu respeito. Eis um episódio no mínimo curioso. Depois,
fala abertamente a respeito de sua paixão, morte e ressurreição. Pedro
reage tomando Jesus à parte para repreendê-lo. Jesus, voltando-se,
olha para os discípulos e repreende Pedro: “Vai para longe de mim,
Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”, Em
seguida, reúne a multidão juntamente com os discípulos e lhes diz:
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
me siga”. À renúncia de si mesmo, a cruz e o seguimento integram a
vida e a missão dos discípulos missionários de Jesus Cristo.
Como Jesus pôs em prática sua missão? Assumiu-a com confiança
no Pai. Assim como o “servo de Javé”, assumiu-a com docilidade e obe-
diência. Confiante em seu Auxiliador, “o servo de Javé”, resiste, não de-
sanima, porque ao seu lado está o Senhor Deus, Aquele que o justifica.
A fé, nos lembra São Tiago, se não se traduz em obras, por si só
está morta. O que cremos, celebramos e rezamos precisa ser compro-
vado na prática. Nossas atitudes, nossos gestos e realizações expres-
sam a maturidade de nossa fé.

Atualizando a Palavra
Na semana que passou, celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz
e o Setenário e Festa de Nossa Senhora das Dores. Dor, sofrimento
são coisas que os homens e mulheres de nosso tempo procuram, de
muitos modos, diminuir, abreviar e até eliminar. O que dizer então
do luto? Abreviam-se, em geral, cada vez mais o tempo dos velórios,
misturam-se elementos diversos para tornar esses momentos o menos
traumático possível.
23 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

O salmo 114(115) expressa a confiança em Deus que é


amor-compaixão. O senhor liberta a vida da morte, enxuga
dos olhos o pranto e os pés do tropeço. Qual o limite de nossa
confiança em Deus? Além das palavras do salmista, a liturgia
deste domingo nos apresenta as palavras do “servo de Javé” e o
primeiro anúncio da Paixão feito por Jesus.
O evangelho que hoje ouvimos constitui a parte central do
Evangelho de Marcos. Jesus, no caminho, interroga os discípulos
para saber o que o povo e eles mesmos conseguiram entender a seu
respeito. Depois de ouvir aquilo que é opinião do povo, dirige-se
diretamente a eles. Pouco antes, Jesus os repreendera porque estavam
como que cegos, “têm olhos, mas não veem” (8,18), e seus corações
endurecidos não lhes permitem entender sua verdadeira identidade.
Pedro é muito exato em sua resposta: “Tu és o Messias”. À imposição
do silêncio por parte de Jesus se deve, certamente, à ideia distorcida
que Pedro e os demais discípulos têm a seu respeito, o que se com-
prova mais adiante na outra reação de Pedro.
Jesus, anunciando sua Paixão, o modo como o Pai realizará nele
sua obra salvífica, deseja eliminar todo mal-entendido. Vejamos se
também nós, ao basearmos o crescimento do Reino de Deus em
fama, triunfo, aplausos alcançados, templos cheios, não estamos
seguindo os critérios dos homens...
Quais seriam as palavras de Jesus para nós, seus discípulos hoje?

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Sob o olhar misericordioso de Deus, criador de todas as coisas,
experimentamos constantemente em nós a sua proteção. À ação de
seu amor é mais profundamente sentida, quando o servimos de todo
o coração em nossos irmãos e irmãs.
Nossa fé, como a dos discípulos, é fraca, mas Jesus não desiste.
À cada domingo, ele nos reúne junto dele, comunica-nos sua Palavra
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

e nos torna, como seus seguidores, companheiros de caminhada em


direção à cidade de Jerusalém, onde o mistério da cruz será revelado
em todo o esplendor, de tal forma que podemos cantar: “Caminha-
mos na estrada de Jesus”!
Celebrando a memória de seu sofrimento, morte e ressurreição,
Jesus nos associa à sua cruz redentora, apesar de nossas cegueiras e
fragilidades na prática das obras da fé. Hoje, torna-se cada vez mais
pesada a cruz do testemunho autêntico de fé e do seguimento. Em
muitos ambientes sociais, é pesada a cruz da identidade da fé católica;
a cruz dos conflitos familiares; a cruz das intrigas entre lideranças;
cruz da incerteza e da carência de dignas condições de vida; a cruz da
fome, do desemprego, da falta de saúde, da exclusão.
Na ceia eucarística, tomamos parte na ceia do Cordeiro que,
morrendo, destruiu a morte e, ressurgindo, deu vida nova a todos.
Jesus, conduzido ao matadouro, é o Messias não violento. À assem-
bleia que se reúne para celebrar a Eucaristia é, ela mesma, a reunião
do povo que, por força da fé, se empenha nas causas da não violência
e da concórdia entre as pessoas. É o povo que o Cristo resgatou quan-
do, por sua morte, destruiu o muro que separava o povo pagão e o
povo judeu e assim estabeleceu a concórdia (cf. Ef 2,14-18).
Participar da mesa, comer do pão e beber do cálice, Corpo e San-
gue do Senhor, entregue por nós, é participar de seu destino: do sofri-
mento, da morte na cruz e da glória da ressurreição. “O cálice de bênção
pelo qual damos graças é a comunhão no Sangue de Cristo; e o pão que
partimos é a comunhão no Corpo do Senhor” (Antífona da comunhão).

Sugestões para a celebração “A


a) Um refrão muito apropriado para ser cantado em algum
momento da celebração é este: “Jesus Cristo se tornou obediente,
obediente até a morte numa cruz; pelo que o senhor Deus o
exaltou, e deu-lhe um nome muito acima de outro nome”.
Pao PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

b) Dar destaque à cruz processional para favorecer aos fiéis a


vinculação entre a proclamação da Palavra e a ação redentora
de Cristo na cruz. É também possível que o ministro motive o
ato penitencial ou a profissão de fé diante da cruz, para que a
assembleia inteira contemple o mistério de nossa salvação.
c) Lembrar que, na sexta-feira próxima, dia 21, celebramos a festa do
Apóstolo e Evangelista São Mateus. Ele nasceu em Cafarnaum
e exercia a profissão de cobrador de impostos, quando Jesus o
chamou. Escreveu o evangelho em língua hebraica e, segundo a
tradição, pregou no Oriente. Ele, em seu evangelho, insiste que
Jesus realizou com perfeição as profecias do Antigo Testamento.
25º DOMINGO DO TEMPO COMUM

23 de setembro de 2012

QUEM É O MAIOR?

Leituras: Sabedoria 2,12.17-20


Salmo 53 (54)
Tiago 3,16-4,3
Marcos 9,30-37

Situando-nos
Animados pela celebração do mês da Bíblia, na qual encontramos
a palavra por excelência, que se diferencia das que normalmente
ouvimos, queremos orientar nosso agir tentando entender, a cada
domingo, o que Deus nos fala. À medida que formos nos aproximando
do Iempo Comum o anúncio da Paixão é uma realidade muito
próxima.
À liturgia deste domingo apresenta a palavra como luz para nossa
vida e nos coloca diante de duas realidades que, continuamente, nos
interpelam e exigem nossa opção: a “palavra do mundo” e a “palavra
de Deus”. Convida-nos a pensar no modo como nos situamos na
comunidade cristã e na sociedade e até que ponto esta palavra é capaz
de orientar nosso agir.
Jesus denuncia e pede que tenhamos cuidado com o poder,
com as tentativas de domínio sobre os outros, com os sonhos de
grandeza, com as manobras para conquistar honras, lucros e pri-
vilégios, com a busca desenfreada por títulos e posições de pres-
tígio, pois são atitudes que revelam uma vida segundo a “palavra
do mundo”.
27 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Jesus nos convida a uma opção de vida que manifeste o que ele
mesmo é, tendo nos deixado como testamento: um coração simples
e humilde, capaz de amar e acolher a todos em especial os excluídos,
sem necessidade de retribuição e reconhecimento público.
Não há meio termo, Jesus é claro e exigente: quem quiser segui-lo
deve acolher sua proposta e consequentemente seus desafios. Como
Igreja devemos estar dispostos a testemunhar nossa fé por meio de
atitudes que manifestem a verdadeira palavra que é Caminho, Ver-
dade e Vida.

Recordando a Palavra
O texto do livro da Sabedoria que nos é proposto, na 12 leitura deste
domingo, reflete o destino dos justos e o dos ímpios. O autor apresenta
os raciocínios dos que se identificam com a lógica incoerente dos
ímpios, destacando principalmente suas manifestações de desprezo
para com os justos. Pode-se perfeitamente ver uma crítica às atitudes
incoerentes dos ímpios, mostrando que suas condutas corruptas e
imorais manifestam uma vida fundamentada na autossuficiência, no
egoísmo, em valores que privilegiam o ter, colocando em primeiro
lugar a ambição e o poder, prescindindo da presença de Deus. Mostra
que não há sentido na conduta dos ímpios, pois suas atitudes geram
violência, divisão, conflito, infelicidade, escravidão e morte. Assim,
o autor convoca a uma vida fundada na justiça e afirma valer a pena
ser justo e manter-se fiel aos valores da fé até o fim.
Na segunda leitura, Tiago, depois de convidar os cristãos à
autenticidade e à coerência da fé, enumera alguns aspectos que
precisam de atenção por parte dos que creem. Estes aspectos dizem
respeito aos dois tipos de palavras já mencionados. O cristão, pelo
Batismo, faz sua opção de seguir Jesus Cristo. Assume uma postura
de vida fundamentada em valores que são próprios da palavra de
Deus, em contradição aos diferentes valores chamados “do mundo”:
“inveja, rivalidade, desordem, guerra e toda a espécie de más ações”
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

(Tg 3,16). A pessoa, assumindo valores que não são de Deus, fica
dividida e, automaticamente, divide a comunidade, a levando à
destruição. São Tiago convoca a um sério exame de consciência,
propondo uma mudança na maneira de pensar a própria vida.
O evangelho segue a mesma lógica. Neste sentido é interessante
unir a primeira parte do evangelho com a primeira leitura e a segunda
parte com a segunda leitura, ou seja, para o “mundo”, ser o primeiro, o
maior, significa ser o mais importante, aquele que, frente aos demais,
procura uma posição de destaque. Para “Deus”, nas palavras de Jesus,
maior é aquele que se coloca a serviço: “Quem quiser ser o primeiro
será o último de todos e o servo de todos”.
Mesmo diante de uma possível morte, as palavras de Jesus
deixam transparecer a tranquilidade própria de quem sabe aonde vai,
e a serena aceitação destes fatos que irão se concretizar num futuro
muito próximo. Jesus tem consciência da missão que recebeu do Pai e
está disposto a levá-la até o fim, mesmo se isto significar uma morte
humilhante na cruz. Ensinamento fundamental para os querem
seguir o Cristo e participar na construção de um mundo novo.
Desanimar, parar, não ser fiel ao proposto e assumido não constrói
nada.
Diante do anúncio da Paixão, o silêncio toma conta dos discí-
pulos que não entendem e têm medo de perguntar. Não entendem
que o caminho da vida passará necessariamente pela morte. Como
entender que o aparente fracasso possa ser sinal de vitória e a morte
marco de uma nova vida?
Mas o ensinamento central de Jesus parte da pergunta aos discí-
pulos: “Que discutíeis pelo caminho?”. Ele sabe do que se trata, mas
quer ouvir deles, de suas próprias bocas, qual era o verdadeiro inte-
resse de seus corações, o objetivo principal do seguimento. À cena
mostra que é na intimidade com ele que vamos aprendendo certas
coisas com relação à palavra. Não serão chavões, manchetes, s/ogans
sobre Jesus que nos farão entender o que Deus quer de nós.
29 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Atualizando a Palavra
Os “ímpios” descritos pelo autor na 12 leitura são os que, além de
não aderirem aos valores de Deus, ainda zombam dos costumes e
dos valores religiosos, por considerarem essas práticas religiosas
inadequadas para os dias de hoje, ou seja, não compatíveis com a
modernidade. Os justos, com sua prática de vida, acabam por ser
uma espécie de empecilho aos ímpios que se sentem continuamente
questionados. Estes reagem, atacando os justos e colocam Deus a
prova para ver até onde ele permite o sofrimento dos que o temem.
O Livro da Sabedoria nos oferece uma palavra de ânimo, muito
oportuna para nossos dias, pois todo justo será recompensado e sua
vida experimentará a plena e definitiva vida que Deus reserva para
aqueles que escutam suas palavras, aceitam seus desafios, trilham
seus caminhos e se comprometem com a construção de um mundo
mais fraterno, lutando pela justiça e pela paz.
Quem optar viver segundo a “palavra de Deus” não terá
facilidades, nem viverá em um romantismo mágico pelo qual tudo
acabará em alegrias e grandes realizações. Estará, porém, sujeito a
críticas, a perseguições, a incompreensões e até ao próprio fracasso.
Entretanto não serão as situações contrárias que farão com que
desanimemos na prática da justiça.
O texto que nos é proposto na carta a São Tiago leva o cristão a
fazer uma sincera análise sobre a origem das discórdias que destroem
a verdadeira vida das comunidades cristãs. O autor exorta a comuni-
dade para que não perca os valores cristãos autênticos e coloque em
prática a palavra de Deus, que se encontra, de maneira privilegiada,
em Jesus Cristo, fazendo de suas vidas um dom de amor aos irmãos,
traduzido em gestos concretos de partilha, serviço, solidariedade e
fraternidade.
Vigiemos para que nosso coração não esteja ocupado por
ambições, invejas, orgulhos, competição, egoísmos que nada
mais criam que divisões e nos impedem de entrar na vida plena.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Jesus teve dificuldade de fazer com que entendessem. Ainda


hoje podemos ter essa mesma dificuldade. Não temos tempo para
saborear e entender a palavra de Deus, pois nossas preocupações
podem estar sobre outras realidades. Será que não ficamos falando
tantas coisas que não são tão importantes ou fundamentais? Por isso,
a dinâmica de Jesus é muito importante: sentou-se, chamou mais
perto, tomou a criança como exemplo... Sempre vai educando os
discípulos sobre que tipo de messias é e como quer que sejam os que
se dispõem a segui-lo. O evangelho é um contínuo ensinamento,
mas a cegueira dos discípulos persiste. Quem quiser segui-lo deve
dispor-se a servir.
Ássim como no tempo de Jesus, o interesse de saber quem é o
maior toma conta de muitas rodas de conversas e orienta as ações de
muitas pessoas hoje, determinando as prioridades e os investimen-
tos. Neste dia, cabe uma pergunta: em que estamos investindo nosso
tempo, nossas energias, nosso dinheiro, enfim, nossa própria vida?
Em realidades passageiras que, aparentemente, podem ser importan-
tes, pois vivemos em uma sociedade capitalista e imediatista, ou em
ações que conscientemente constroem pessoas, famílias e um mundo
que proporcione o prazer de uma vida integral? Jesus nos convida a
abandonarmos nossos sonhos egoístas e orientarmos nosso agir para
a essência de sua proposta.
No Reino de Deus não há uma escala hierarquizada de pes-
soas que possam ser umas mais importantes que as outras, mas
há uma proposta de amor que se realiza no próximo. Algo difícil
para nossos dias. O próximo, neste caso, está simbolizado pela
criança que é sinal dos que são os últimos. Assim, a proposta de
Cristo deve começar pelos que são últimos: os sem direitos, os
fracos, os pobres, os indefesos, os facilmente manipulados, tal
como eram vistas as crianças em seu tempo. O maior é aquele
que ama € serve.
ei PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


A Eucaristia celebrada nos leva a atualizar, em nossa vida, os mesmos
ensinamentos deixados por Jesus aos discípulos na “caminhada para
Jerusalém”. Ensina que os valores do Reino são os gestos concretos e
que o projeto do Pai não passa por esquemas de poder e de domínio.
À ação litúrgica é múnus, serviço de Jesus Cristo para glorifica-
ção do Pai e salvação da humanidade. Em cada celebração eucariís-
tica, ele se faz Servo e se doa inteiramente para que “nos tornemos
um só corpo e um só espírito”, “um só povo em seu amor”. Com
Cristo, o ministro, em nome da assembleia, agradece ao Pai: “E
vos agradecemos porque nos tornastes dignos de estar aqui na vos-
sa presença e vos servir”; serviço de louvor agradável a Deus, que
se expressa no empenho leal no serviço aos irmãos desanimados e
oprimidos.
Na celebração eucarística, cada dia Jesus levanta-se da mesa,
cinge a cintura com uma toalha, lava os pés de seus discípulos
(cf. Jo 13,1-5) e nos transforma em testemunhas da esperança e
fonte de unidade e de salvação para muitos.
O interesse autêntico e sincero pelos problemas da sociedade,
que nasce da solidariedade para com as pessoas, é sinal privilegiado
do seguimento daquele que veio para servir e não para ser servido.
Uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à luta para
vencer a injustiça é um contratestemunho, e celebra indignamente a
própria liturgia.
Na Eucaristia, Deus manifesta a forma extrema do amor, que
derruba todos os critérios de domínio que regem as relações humanas
e afirma de modo radical o critério do serviço: “Se alguém quer ser o
primeiro, seja o último de todos e o servo de todos!” (Mc 9,35).
Neste 25º domingo, em que relembramos a discussão dos dis-
cípulos sobre qual deles era o maior, e fazemos memória da entrega
total de Jesus ao Pai, que veio para servir, fazendo-se menor entre
os pequenos, o Espírito Santo renova em nós a certeza de que não
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

seremos confundidos em nossa esperança. Ele faz passar de uma


mentalidade triunfalista e prepotente para a busca do verdadeiro
poder que vem de Deus e que nos leva a viver a alegria do serviço
gratuito aos pobres.

Sugestões para a celebração “


a) Destacar o ambão e preparar o ambiente com flores.

b) Cantar o refrão meditativo “Onde reina o amor, Deus aí está”,


antes de iniciar a celebração ou em outro momento oportuno.
Valorizar o “abraço da paz”. Tal gesto é mais do que uma sauda-
ção entre amigos. Representa um sinal sensível de unidade que
nos prepara para a participação na mesa da comunhão. Fazer
isto, porém, de forma a não diminuir o rito da fração do pão que
vem logo em seguida.

d) Preparar bem os leitores e salmistas, não só para hoje, mas para


todas as celebrações da Palavra e da Eucaristia. É indispensável
o ensaio das leituras, mesmo da procissão, para que os ministros
saibam onde colocar o Livro, as velas, as flores e também onde se
posicionar antes, durante e após as leituras.

e) Não colocar cartazes em frente ao ambão ou ao altar. A mesa


da Palavra e a mesa da Eucaristia falam por si; não precisam de
enfeites para revelar sua dignidade.
No próximo dia 2.7, quinta-feira, fazemos memória de São Vicente
“de Paulo. Ele nasceu em 1581, na França, e morreu em 1660. Foi
um padre que se dedicou à evangelização das populações rurais
e destacou-se principalmente pela caridade para com os pobres,
doentes e sofredores. Promoveu uma forma simples e popular de
evangelização.

g) No sábado, dia 29, celebramos a festa dos arcanjos S. Miguel, 5.


Gabriel e S. Rafael. Miguel significa “Quem como Deus?”. Ele é o
EK PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

grande lutador do Apocalipse, portanto, o que nos ajuda no combate


ao mal. Gabriel significa “Força de Deus”. Ele é o anjo do evange-
lho, da anunciação. Rafael significa “medicina de Deus”. Ele foi o
companheiro de viagem do jovem Tobias, a quem ensinou como
curar a cegueira do pai. É nosso companheiro na grande caminhada.
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM

30 de setembro

QUEM NÃO ESTÁ CONTRA NÓS, ESTÁ A NOSSO FAVOR.

Leituras: Números 11,25-29


Salmo 18 (19)
Tiago 5,1-6
Marcos 9,38-43.45.47-48

Situando-nos
Estamos celebrando o último domingo do mês de setembro.
Neste dia, recordamos, de uma maneira toda especial, a Bíblia.
Nenhum outro livro conseguiu ser traduzido para tantas línguas
e chegar a tantos povos como a Bíblia, na qual encontramos
a Palavra de Deus. Mesmo escrita há séculos, consegue ser
sempre atual e importante para qualquer momento de nossa
vida.
A liturgia deste 26º Domingo do Tempo Comum se apre-
senta com uma série de ensinamentos, que manifestam a essência
da Bíblia. Claramente, podemos ver, pelas palavras de Jesus, que
ninguém pode autodenominar-se dono da verdade e muito menos
se sentir como exclusivamente único na promoção do bem, em
nome de Deus. “Temos que ser capazes de reconhecer e aceitar a
presença e a ação do Espírito de Deus, através de tantas pessoas
boas não pertencentes à nossa instituição, que talvez não prati-
quem os mesmos ritos e devoções por nós praticados, nem profes-
sem nossa fé, mas que também são sinais vivos do amor de Deus
neste mundo.
Ejs PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Recordando a Palavra
O livro dos Números é um dos que compõem o Pentateuco, escrito
provavelmente por Esdras e Neemias, ele registra as tradições
herdadas por Moisés. É conhecido por este nome por fornecer uma
lista de dados de cada tribo do Povo de Deus e relatar, de maneira
especial, a rebeldia do povo hebreu contra Deus, por não ter o
suficiente para comer.
Moisés estava cansado de liderar o povo hebreu sozinho, as di-
ficuldades eram muitas e constantes. Não poucas vezes, o povo se
desviou e passou a adorar e seguir outros deuses. Moisés começou
a se sentir impotente e viu a necessidade de repartir a responsabili-
dade que estava sobre si. Orientado por Deus, separou 70 anciãos,
os quais, depois de ungidos pelo Espírito de Deus, o ajudariam na
tarefa de conduzir o povo pelo deserto, compartilhando com ele os
encargos da liderança. Esses anciãos eram os líderes dos grupos, das
tribos, dos clãs.
O número setenta, dentro da tradição judaica, simboliza a tota-
lidade. Isto significa que, entre esses 70 anciãos, havia representan-
tes de todos que ali estavam sob a liderança de Moisés. Os anciãos
foram ainda mais respeitados, quando o povo soube que o mesmo
“Espírito” que estava sobre Moisés, também sobre eles fora colocado.
Desta forma, todos puderam profetizar, ministério antes exclusivo
de Moisés.

Dos 70 anciãos, só sabemos o nome de dois: Eldad e Medad.


Detalhe importante, pois significa que faziam parte do grupo, mas
não estavam presentes no momento da recepção do Espírito. Quando
também começam a profetizar, Josué crê se tratar de um abuso into-
lerável, que colocava em risco a hierarquia estabelecida. No entanto,
a resposta de Moisés é a resposta de quem não está preocupado com o
controle e o poder, mas com a vida e a felicidade do seu povo: “Estás
com ciúmes por causa de mim? Quem me dera que todo o povo fosse
profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles”.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Queriam proibir-lhes de falar só porque não estavam na tenda,


quando o Espírito fora derramado. Será que só as profecias proferidas
pelas pessoas que estavam no grupo eram verdadeiras? Deus não tem
a liberdade de dar seus dons para a pessoa que quer?
Para Moisés, quanto mais pessoas profetizarem, melhor!
A carta de Tiago chama a atenção dos ricos devido ao poder e ao
dinheiro acumulados ilicitamente. Faz um convite aos ricos, talvez
até um tanto estranho: a chorar e gemer por causa das desgraças que
estão por cair sobre eles.
O autor contempla o final dos tempos e descreve, com violên-
cia, a sorte que espera aqueles cujo objetivo principal na vida foi o
de acumular bens. Servirão eles para alguma coisa quando chegar o
destino final?
Esses bens nos quais os ricos depositam toda sua segurança e
esperança perderão o valor: “as vossas riquezas estão apodrecidas e as
vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata
enferrujaram-se...” (vv. 2-3a) ou, ainda mais, as injustiças praticadas
contra os pobres servirão como testemunha de acusação. O desti-
no dos bens perecíveis é a destruição. Quem tiver os bens materiais
como sua referência primeira não terá acesso à vida plena.
Na segunda parte (vv. 4-6), o autor refere-se à origem desses
bens acumulados pelos ricos. Não há dúvidas de que, neste caso, a
riqueza provenha da exploração dos pobres. Como exemplo, o autor
cita o não pagamento dos salários devidos aos trabalhadores que tra-
balharam nos campos dos ricos (vv. 4). Trata-se de um pecado que
a Lei condena de forma veemente e que Deus castigará duramente,
pois não pagar o salário ao trabalhador é condenar à morte a ele e a
toda sua família (vv. 6).
Naturalmente, Deus não pode compactuar com tal injustiça e,
por isso, não ficará indiferente ao sofrimento do pobre e do oprimido.
Os ricos, vivendo no luxo e nos prazeres à custa do sangue dos pobres,
estão preparando para si próprios um caminho de castigo sem fim.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

No evangelho, retomamos a temática da 12 leitura. Os


discípulos, movidos possivelmente pelo ciúme, ou então por direito
e privilégio autoconcedidos, proíbem uma pessoa que expulsava
demônios de fazê-lo em nome de Jesus, simplesmente por esta
pessoa não pertencer ao seu grupo. Jesus parece nem se importar
muito, mas confia que ninguém pode usar seu nome para o bem e,
em seguida, falar mal dele. Tão verdadeiro que o v. 40 se tornou
um “ditado popular” “quem não é por nós, é contra nós”.
Aparentando um corte, logo em seguida Jesus começa outro
assunto. No v. 41, afirma: “aquele que der um copo de água a um
discípulo, por causa de meu nome, não ficará sem recompensa”. No
v. 42, repreende severamente qualquer tipo de escândalo: “é melhor
amarrar uma pedra de moinho ao pescoço e se jogar no mar do que
escandalizar um destes mais pequeninos”.
À partir do v. 43, o tema continua sendo o escândalo. No entan-
to, trata-se do escandalizar a si mesmo. Disse Jesus: “se tua mão te
leva à queda, corta-a! É melhor entrares na vida tendo só uma das
mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, ao fogo que nunca
se apaga”. A mão é símbolo de quem rouba o que os olhos cobiçam.
Mais grave ainda, com ela podemos tirar a vida.
No v. 45, afirma: “se teu pé te leva à queda, corta-o! É melhor
entrar na vida tendo só um dos pés do que, tendo os dois, ser lançado
ao inferno”. O pé é a imagem de quem opta e segue o caminho do
mal, é por ele e com ele que podemos condenar nossa vida e a de
outros.
Em seguida, no v. 47, fala do olho: “se teu olho te leva à queda,
arranca-o, pois é melhor entrar no Reino de Deus tendo um olho só
do que ir com os dois ao inferno”. Os olhos representam aquele que
cobiça, e que, por isso, causa a maioria dos males.
Em todos os três casos está em jogo a gravidade de se perder a
salvação.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Atualizando a Palavra
À liturgia deste domingo nos coloca, mais uma vez, no contexto
do ensinamento de Jesus a seus discípulos, enquanto caminham para
Jerusalém. Apresenta alguns elementos importantes que precisam ser
continuamente recordados. Tanto a primeira leitura quanto o evan-
gelho, nos recordam que Deus não é propriedade de ninguém. Ne-
nhuma igreja, instituição ou hierarquia possui o monopólio do Espí-
rito, nem pode contratá-lo e, muito menos, acorrentá-lo. O Espírito,
porém, está em todos aqueles que, pela prática dos valores ensinados
por Jesus, estão abertos e dispostos a assumir o caminho que leva
à verdadeira construção do Reino de Deus, que não é comida nem
bebida, mas amor, paz, justiça, solidariedade, partilha.
Nossa comunidade deve ser capaz de promover o diálogo e saber
valorizar as ações boas de outros grupos. Devemos fazer o bem, por-
que somos cristãos e a fé em Cristo nos leva a tal atitude, não porque
ele ou ela pertencem ao nosso grupo.
Neste sentido, os discípulos se mostram um tanto limitados no
entendimento do Reino. No domingo passado, estavam interessados
em saber quem seria o maior, hoje, demonstram fraqueza ao querer
calar alguém que também faz o bem, mas não participa oficialmente
do “grupo eleito”.
São dificuldades que fazem parte de nossa vida e do dia a dia de nos-
sas comunidades e paróquias. À comunidade não pode ser uma seita nem
nosso agir, simplesmente proselitista. Temos que aprender a reconhecer
e nos alegrar com os gestos de vida que acontecem à nossa volta, mesmo
quando esses gestos resultam da ação de não crentes (ateus como alguns se
autodefinem), ou de pessoas que não pertencem à instituição Igreja.
O verdadeiro cristão não tem inveja do bem que outros fazem,
não sente ciúmes se Deus atua através de outras pessoas, mas esforça-
-se, cada dia, por testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os
sinais da presença de Deus em tantos irmãos que lutam por construir
um mundo mais justo e fraterno.
ES PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

É possível que, por trás dessa preocupação dos discípulos, não


esteja o bem do próximo, mas interesses pessoais e até institucio-
nais. À postura de Jesus evitou que a comunidade se fechasse em si
mesma. Hoje poderíamos até dizer que sua orientação tendeu a um
discurso ecumênico. Para reafirmarmos essa postura, é interessante
lembrar que, há 50 anos, o Concílio Vaticano II reconheceu a ação do
Espírito Santo, no movimento pela unidade dos cristãos.
Em nossas comunidades, existem pessoas com qualidades exem-
plares, capazes de muitos gestos de doação, entrega e serviço ao pró-
ximo. Em contrapartida, porém, vemos outros que nada mais que-
rem que proteger o espaço conquistado. Eles fazem de tudo para as
coisas continuarem iguais até mesmo, se considerarem necessário,
afastar pessoas que poderiam qualificar nosso agir.

À parte seguinte do evangelho nos coloca diante do problema do


escândalo dos pequenos na comunidade. É importante entender que
“os pequenos” não são necessariamente as crianças, mas os excluídos,
os pobres, os doentes, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros. Ori-
ginariamente, o sentido da palavra “escândalo” significa “pedra de
tropeço”. Então, ai de quem for essa pedra e for causa de tropeço. Ela
pode ser até mesmo certas atitudes que não permitem o crescimento
da comunidade. Esta é uma advertência especial aos líderes que são
os primeiros responsáveis pela comunidade.
À radicalidade exigida por Jesus não deve ser considerada no
âmbito físico. Usando imagens e linguagem tipicamente semitas, Je-
sus manda cortar e jogar fora tudo o que possa causar problemas,
seja no contexto pessoal ou comunitário, mesmo se isso exigir uma
atitude drástica, a fim de não sermos motivo de queda para ninguém.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


A Eucaristia nos exorta e por ela aprendemos a não colocarmos
em primeiro lugar os bens materiais, pois são passageiros e não
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

asseguram a vida eterna, muito pelo contrário, podem ser causa, e na


maioria das vezes o são, de injustiças, divisões e mortes.
À caminhada para Jerusalém, no Evangelho de Marcos, é um
grande ensinamento de Jesus para quem quer segui-lo como discípu-
lo. Passo a passo ele vai mudando o pensar dos discípulos, marcado
pelos valores da sociedade vigente, e vai semeando os valores do Rei-
no. Hoje, ele nos desafia a praticarmos o verdadeiro ecumenismo, o
diálogo inter-religioso, a aceitação do diferente e a revermos nosso
modo de agir e pensar, para que a experiência cristã de comunidade
seja uma amostra real dos valores do Reino de Deus.
O Espírito de Deus sopra onde quer, para quem quer e sobre
quem quer. Não se deixa condicionar por normas ou interesses pes-
soais ou de grupos que queiram tirar vantagens. Como Moisés, esta-
mos convidados a reconhecer a presença de Deus nos mais variados
gestos proféticos de tantos que, em nome de princípios e da própria
fé, são capazes de ser um sinal de vida nova.
Cristo ofereceu-se livremente como vítima de “reconciliação”.
Participando do seu mistério pascal, nós nos reconciliamos conosco,
com os outros e com o mundo.
Em sua Exortação Apostólica, o papa Bento XVI afirma:
“.. as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia, devem
conscientizar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é para
todos; e, assim, a Eucaristia impele todo o que acredita nele a fazer-se
pão repartido' para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por
um mundo mais justo e fraterno” (Sacramentum Caritatis, n. 88). E o
Papa continua: “Não podemos ficar inativos perante certos processos
de globalização que, não raro, fazem crescer desmesuradamente a
distância entre ricos e pobres em âmbito mundial. Devemos denunciar
quem dilapida as riquezas da terra, provocando desigualdades que
bradam ao céu (cf. Tg 5,4)..” (Sacramentum Caritatis, n. 90).
Participar da mesa, na qual o alimento da verdade é repartido,
“leva-nos a denunciar as situações indignas da pessoa humana, nas
41 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

quais se morre à míngua de alimento, por causa da injustiça e da


n

exploração, e dá-nos nova força e coragem para trabalhar, sem descanso,


»
na edificação da civilização do amor...” (Sacramentum Caritatis, n. 90).

Sugestões para a celebração -4


a) O Evangeliário (ou caso não o possua, o Lecionário) pode ser
colocado à porta da Igreja, numa estante bem ornamentada e ser
introduzido solenemente (incenso e velas) na procissão de entrada,
ou antes da Liturgia da Palavra.
b) Ornamentar bem o ambão.
c) Cantar um refrão meditativo antes da Liturgia da Palavra, crian-
do um clima de silêncio e atenção à Palavra que será proclamada.
d) Pode ser rezada a oração eucarística para Diversas Circunstâncias
[= VI-A (A Igreja a caminho da unidade).
e) Se possível, favorecer ao povo a possibilidade de reverenciar o livro
da Palavra de Deus (o Evangeliário), com um toque ou um beijo,
ou outro gesto próprio da região. Isto pode ser feito, após a pro-
clamação do evangelho, por algumas pessoas, ou, no final da Ce-
lebração, possibilitando tal gesto a um número maior de pessoas.
f) Fazer uma prece especial pelas eleições municipais que acontece-
rão no próximo domingo.
g) Amanhã, dia lo, fazemos memória de santa Teresinha do
Menino Jesus (1873-1897). Ela entrou muito jovem para o
Carmelo de Lisieux, França. É padroeira das missões sem nunca
ter saído do convento. Nos órfãos e na contemplação, abriu-se
para o ideal missionário, oferecendo a Deus sua caminhada de
cada dia pelos apóstolos do evangelho. Após longo sofrimento,
morreu dizendo: “Oh! Eu te amo meu Deus! Eu te amo!”.
h) No dia 02, terça-feira, fazemos memória dos Santos Anjos
da Guarda. Na história da Salvação, Deus confia aos anjos o
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

encargo de proteger seu povo eleito. É bom sabermos que Deus


faz de tudo para nos guardar e proteger. No final da celebração,
pode-se rezar, com o povo, a oração do Santo Anjo.

1) Dia 03, quarta-feira, fazemos memória dos Bem-aventurados


Pe. André Soverval e Pe. Ambrósio Francisco Ferro e de mais 28
leigos, que foram martirizados, em 1645, no Nordeste do Brasil,
no contexto da conturbada invasão dos holandeses. Eles foram
beatificados em 2000, pelo Papa João Paulo II.

) Dia 04, quinta-feira, celebramos a memória de São Francisco de


Assis (1182-1226). Todos conhecemos a vida de São Francisco.
Ainda hoje, ele continua sendo exemplo para todos nós, no de-
sapego dos bens materiais, na vivência do amor, da caridade e da
compaixão para com todos. Seu amor estendeu-se também aos
animais, às plantas e à natureza inteira. Rezaremos na oração do
dia: “Ó Deus, que fizestes São Francisco de Assis assemelhar-se
ao Cristo por uma vida de humildade e pobreza, concedei que,
trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso Filho,
unindo-nos convosco na perfeita alegria”.
27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

07 de outubro de 2012

PORTANTO, O QUE DEUS UNIU O HOMEM NÃO SEPARE.

Leituras: Gênesis 2,18-24


Salmo 127 (128)
Hebreus 2,9-11
Marcos 10,2-16

Situando-nos
Estamos no início de outubro, mês missionário, do Rosário e também
um mês político, pois, nas eleições para prefeito e vereadores, escolhe-
remos aqueles que governarão nossas cidades, nos próximos quatro
anos. Quantas vezes já ouvimos falar que a Igreja não deve se meter
na política e sim cuidar da religião, das coisas de Deus, o que nos
parece certo, se entendermos por política as diferentes concepções e
maneiras de se governar, próprias dos partidos políticos. No entanto,
se política for a arte de governar e conduzir uma cidade, nação ou
estado, então, como cidadãos, temos não só o direito, mas também
o dever de participar. Por isso, votar é, antes de tudo, a participação
de todo cidadão, seja ele cristão ou não, visando à construção de uma
sociedade menos injusta e mais igualitária. Sem dúvida, a luz do
evangelho é fundamental nesta luta de participação democrática.
Às leituras do 27º domingo do Tempo Comum apresentam uma
temática sempre atual: a união matrimonial. Fruto do amor de um
homem e uma mulher, o matrimônio aparece como projeto de Deus
para o ser humano na busca da realização e da felicidade. Esse amor
fiel, construído e fundamentado na doação e na entrega, será para
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

o mundo um reflexo do amor de Deus para com o ser humano. Os


textos bíblicos situam o debate em seu verdadeiro horizonte, trazendo
a intenção originária do Criador. Essa forma enfatiza a fidelidade no
matrimônio, proibindo explicitamente o divórcio. Fidelidade é um
valor imprescindível no casamento cristão. O adultério é a ruptura de
uma relação que deve ser concebida não como um simples contrato
legal, mas como uma disposição de vida, uma aliança estável, à
semelhança daquela que o mesmo Deus fez com seu povo, alimentada
pelo amor e não pela lei.
Entremos em comunhão com a Igreja que hoje, em Roma, inicia
o Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização para a transmissão
da fé cristã.

Recordando a Palavra
O texto proposto pelo Gênesis situa-se no chamado “Jardim do Éden”.
Lugar criado por Deus para o homem, obra prima de suas mãos.
Um ambiente de felicidade onde, aparentemente, todas as exigên-
cias da vida humana são contempladas. À história de Adão e Eva é
classificada como uma narrativa didática das origens. Para surpresa de
muitos, todos os nomes aqui são simbólicos, revelando uma realidade
humana. Cada um tem um significado: Adão, do hebraico, Adam
que significa humanidade, ser humano. Esta palavra pode estar ligada
também com a palavra hebraica adamá, que significa terra. Eva, do
hebraico, Hawah que quer dizer mãe de todos os viventes.
O texto manifesta o desejo de Deus em criar uma companheira
para o homem. O homem não estava plenamente realizado, faltava-
lhe alguém com quem partilhar a vida.
Deus colocou, nas mãos do homem, chamado aqui de Adão, os
animais e as aves. O fato de falar que Adão lhes deu o nome dá a
entender que Deus lhe atribuiu também a autoridade sobre tudo o
que foi criado, ou seja, participação na obra da criação.
45 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo-do Comum - Ano B - 2012

Adão deu um nome para cada animal criado por Deus. Porém,
entre os animais e aves criados, ele não encontrou uma companheira,
uma auxiliar. Da costela (lado) de Adão, Deus então cria a mulher.
Nosso texto termina com um comentário próprio do autor: “por
isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois
serão uma só carne”. O homem não foi criado para viver sozinho,
mas para viver em contínua relação.
À segunda leitura, da Carta aos Hebreus, foi escrita para os cris-
tãos abalados na fé, por causa da perseguição judaica e romana, e
desapontados com a demora da volta de Jesus, pois com ele viria a
salvação.
O autor procura animar esses cristãos, apresentando um Jesus,
Sacerdote, que tem compaixão de seu povo e que é capaz de doar sua
própria vida em favor de cada um.
Esse Jesus, motivo de escândalo para os judeus, é aquele que
aparece coroado de glória e honra. Feito menor que os anjos e consi-
derado maldito, por ter pendido no madeiro da cruz, é ele agora mo-
tivo de contradição e escândalo. Jesus, mesmo sem ter pecado algum,
provou a morte para que ninguém mais morra. Doou-se no lugar
de todos. À vida, extirpada na cruz, alcança sua plenitude, a salva-
ção para todos. Ele tinha consciência que precisava da entrega total,
como um cordeiro no matadouro, para que a humanidade fosse salva.
No final do texto, Jesus e cada um de seus resgatados formam
uma única pessoa. E pelo sangue derramado de Jesus, que cada um
pode chamar o outro de irmão.
No evangelho, Marcos nos leva a uma análise sincera do ma-
trimônio e da opção preferencial de Jesus pelos pobres. Os fariseus,
que conheciam muito bem a Lei de Moisés, os costumes e a tradição,
questionam Jesus, com a má intenção de colocá-lo em contradição.
À pergunta - é permitido ao homem repudiar sua mulher? - nada
mais é do que uma tentativa de colocar Jesus em contradição frente
à Lei, dando-lhes assim motivos para condená-lo. Eles já sabiam a
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 46

resposta, mas queriam saber se Jesus estava do lado de Moisés ou se


confirmava ser um desertor da Lei.

Jesus responde à pergunta dos fariseus com outra pergunta e


n

confirma que, na Lei de Moisés, havia realmente a possibilidade de


se fazer a carta de divórcio. No entanto, esta carta se justificava devi-
do à “dureza dos corações”. Usando das palavras do próprio Gênesis,
Jesus qualifica e consagra a união matrimonial, afirmando que Deus
os fez homem e mulher. Estes deverão deixar seu pai e sua mãe para
se unirem e não serão mais duas pessoas, mas uma só.
Conclui, então, Jesus, dizendo que o que Deus uniu o homem
não pode separar. Esta frase conclusiva da argumentação de Jesus soa
como um ditado popular da época, hoje, um provérbio muito usado.
Com o v. 10, começa uma nova cena, Jesus se encontra em outro
lugar, mas a temática é a mesma. Interpelado agora pelos discípulos,
continua ensinando e se dirige primeiro aos homens: “quem despede
sua mulher e se casa com outra, comete adultério”. Depois, fala às
mulheres: “e se uma mulher despede seu marido e se casa com outro,
comete adultério também”,
No v. 13, surgem novos personagens: as crianças. Os discípulos
repreendiam os adultos que traziam crianças para que fossem to-
cadas por Jesus. Provavelmente, eram crianças marginalizadas pela
sociedade judaica. Jesus indignado com os discípulos, chama-lhes a
atenção, afirmando que o Reino de Deus é destas crianças e quem
não for capaz de se tornar uma delas não fará parte dele. É preciso
que os adultos sejam puros, desprovidos de malícia como as crianças,
para que a experiência do Reino aconteça.
O texto termina com Jesus abençoando as crianças, isto é, dando
a elas a dignidade e a atenção que, provavelmente, não recebiam na
sociedade e, talvez, nem na própria família.
VÁ PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Atualizando a Palavra
À liturgia proposta para este domingo é uma reafirmação da vocação
de todo ser humano: o amor. Sem ele a vida não deixa de ser uma
experiência de solidão que condena qualquer um à triste experiência
da morte. Como diz São Paulo: “sem o amor, nada sou”.
À primeira leitura oferece a segunda narrativa da criação do homem
e da mulher. O autor nos faz entender que o ser humano só encontra
sua plenitude na relação com o outro e, neste caso, o outro é o diferen-
cial da própria vocação: homem e mulher. Não há amor sem partilha,
doação, seja no contexto espiritual ou material. Por isso, Deus fez para
o homem a mulher e para a mulher, o homem. Âo ser tirada da costela
(do lado) do homem, Deus igualou a mulher à dignidade de seu com-
panheiro, ambos participantes de sua criação. À afirmação do homem:
“Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne”, exclui
toda possibilidade de controle, domínio, desigualdade de um sobre o
outro. Se todos somos iguais diante de Deus, desde a criação, devemos
também, na prática do dia a dia, demonstrar essa realidade.
Na segunda leitura, da Carta aos Hebreus, há destaque para a
condição de debilidade assumida por Jesus, levando-o à morte de
cruz para nos revelar a grandiosidade de Deus. Como sermos indife-
rentes a tão grande gesto, ao ponto de duvidarmos de sua existência e
de sua presença em nossa vida? Ào assumir a natureza humana, Je-
sus nos aproximou do Criador e nos indicou o caminho que devemos
seguir para integrar a família de Deus.
À atitude de aceitação incondicional do projeto do Pai, assumida
por Cristo, contrasta com o egoísmo e a autossuficiência de Adão. A
obediência de Cristo trouxe vida plena ao homem. À desobediência
de Adão trouxe sofrimento e morte à humanidade. O exemplo de
Cristo nos convida a viver na escuta atenta e na obediência radi-
cal às propostas de Deus. Quando o homem prescinde de Deus e
de suas propostas, decidindo que é ele quem define o caminho a
seguir, fatalmente cai em projetos de morte, em suas mais variadas
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

manifestações. Quando o homem escuta e acolhe os desafios de


Deus, aprende e entende o verdadeiro sentido de sua criação.
O evangelho nos apresenta o projeto ideal de Deus para o homem
e para a mulher: a vivência de um amor forte e indestrutível, capaz
de sobreviver a todas as tensões, fraquezas e dificuldades. Apesar da
fragilidade que o amor humano pode manifestar, a garantia desta
qualidade está na presença de Deus que é AMOR. Muitas vezes, as
preocupações com bens materiais, como o dinheiro, com a realização
profissional e outras mais fazem com que o ser humano acabe
descuidando dos valores próprios de toda relação humana e familiar,
não tendo mais tempo para o que é verdadeiramente importante.
Às vezes, só quando não mais dá tempo para mudar, é que se vê o
equívoco.
Atualmente, a constante mudança dos valores em nossa sociedade,
apresentada principalmente pelos meios de comunicação social,
dificulta a fidelidade dos esposos. Em muitos casos, uma simples
dificuldade já serve de motivo para a separação. Existem uniões
que já começam praticamente pensadas para durarem determinado
tempo: sem o sacramento, com separação de bens...
À separação será sempre o fracasso do amor. Só o amor eterno, ma-
nifestado em um compromisso indissolúvel, está de acordo com o que
o Criador nos ensinou, respeitando desta forma seu verdadeiro projeto.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Hoje, a Eucaristia nos faz entender que o matrimônio é uma relação
estável e permanente e que o amor deve ser a única razão desta união.
Nesse sentido, o homem e a mulher tornam-se imagens de Deus que
é essencialmente amor. Nesse amor, o casal será capaz de encontrar
a luz e a força para superar os diversos obstáculos próprios do dia
a dia da vida conjugal. A fidelidade permanente dá estabilidade ao
casamento como instituição, fator essencial para a procriação.
49 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Mesmo diante de projetos bem pensados e desejados, a vida humana


carrega marcas de contradição. Nem sempre as pessoas, apesar de seu
esforço e de sua boa vontade, conseguem ser fiéis aos ideais prometidos.
Neste sentido, como comunidade cristã, devemos usar muita misericórdia
e compreensão, sem cultivar o desejo de julgar aqueles que, por diferentes
motivações e realidades, não conseguiram cumprir o projeto de amor
assumido. Em nenhuma circunstância, as pessoas divorciadas devem ser
rejeitadas ou afastadas da comunidade cristã.
Às crianças que Jesus nos apresenta no evangelho deste domingo
são modelos a serem seguidos. Que em nossa simplicidade consiga-
mos vencer tudo o que possa nos separar de Deus, do próximo e,
como consequência, do Reino por ele desejado.
Nós rezamos na oração eucarística IV: “Nós proclamamos a
vossa grandeza, Pai santo, a sabedoria e o amor com que fizestes
todas as coisas: criastes homem e mulher à vossa imagem e lhes
confiastes todo o universo, para que, servindo a vós, seu Criador,
dominassem toda criatura. E, quando pela desobediência, perderam
a vossa amizade, não os abandonastes ao poder da morte, mas a
todos socorrestes com bondade, para que, ao procurar-vos, vos
pudessem encontrar.”
Anunciando e proclamando este grande mistério, na celebração
e na vida, renovamos nossa relação profunda com Deus, Uno e Trino,
com as pessoas, com toda a criação, e, de maneira particular, com os
pequenos e pobres, como nos ensina Jesus no evangelho.

Sugestões para a celebração e


a) Hoje se pode valorizar as famílias em alguns momentos da
celebração - na procissão de entrada e das oferendas; nas preces;
no final - invocando uma bênção sobre os casais presentes na
celebração.
b) Motivar o abraço da paz que pode ser feito no final da celebração,
expressando o amor e a unidade que as famílias devem viver.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

c) À entrada da igreja colocar o cartaz do mês missionário (nunca


na mesa da Palavra ou da Eucaristia). Nas preces, fazer uma
intenção especial pelos missionários e rezar a oração pelas
missões.

d) Lembrar o Sínodo dos Bispos que acontece em Roma, de 07 a


28 de outubro, sobre o tema “À nova evangelização para a trans-
missão da fé cristã”.
Convidar para as celebrações do próximo dia 12, solenidade de
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
ANO DA FÉ

11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013

O Papa Bento XVI proclamou, para toda a Igreja, um “Ano da


Fé”. Começará no dia 11 de outubro de 2012, no cinquentenário da
abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II e aniversário de vinte
anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, e terminará na
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia
24 de novembro de 2013. Nesse mesmo mês, estaremos vivendo mais
um Sínodo dos Bispos, sobre a Nova Evangelização.
Qual é o sentido do Ano da Fé? À fé ainda tem espaço em nossa
cultura secularizada? Em um mundo cheio de misérias, fome, guer-
ras, onde Deus parece não ter nem lugar, nem vez, não seria uma
alienação proclamar um Ano da Fé? Para que serve a fé? O cristão
diante dessa problemática não se cala. Devemos descobrir, na oração,
os desígnios de Deus e dar respostas adequadas.
Descobrir e responder: eis a atitude que se faz necessária para to-
dos os que desejam viver sua fé, com consciência, e não apenas como
uma herança de seus pais e avós, guardada e esquecida em um canto
perdido da própria vida, não tendo nenhuma incidência concreta no
modo de viver, pensar, ser e relacionar-se.
Assim nos convida o Papa Bento XVI: “Nesta feliz ocorrência,
pretendo convidar os Irmãos Bispos de todo o mundo para que se
unam ao Sucessor de Pedro, no tempo de graça espiritual que o Senhor
nos oferece, a fim de comemorar o dom precioso da fé. Queremos
celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a
reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem
mais conscientes e revigorarem a sua adesão ao evangelho, sobretudo
num momento de profunda mudança como este que a humanidade
está vivendo. Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro,


nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um
sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às
gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades
religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades
eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente a
profissão do Credo” (Porta Fidei, n. 8).
Falando especificamente da Liturgia, o Papa nos anima: “Será
uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na
liturgia, particularmente na Eucaristia, que é 'a meta para a qual se
encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua
força (Sacrosanctum Concilium, n. 10)”.
Preparemo-nos, através da oração, da Celebração Eucarística, da
reconciliação e da missão pessoal e comunitária para o Ano da Fé,
que coincidirá, para nosso júbilo, com a preparação e a realização da
Jornada Mundial da Juventude que acontecerá, na cidade do Rio de
Janeiro, em julho de 2013!
NOSSA SENHORA APARECIDA

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA


DA CONCEIÇÃO APARECIDA

12 de outubro de 2012

FAZEL TUDO O QUE ELE VOS DISSER!”

Leituras: Ester 5,1b-2:7,2b-3


Salmo 45
Apocalipse 12,1.5.13a.15-16a
João 2,1-11

Situando-nos
Celebramos a grande solenidade de Nossa da Conceição Aparecida,
padroeira do Brasil. À devoção à Virgem existe desde 1717, quando
três pescadores, nas águas do Rio Paraíba, pegaram, em suas redes, a
imagem de Nossa Senhora da Conceição.. Conservando-a consigo, o
filho de um dos pescadores construiu, mais tarde, um oratório onde
o povo reunia-se, aos sábados, para rezar o terço. Com a ocorrência
de milagres, a devoção a Nossa Senhora Aparecida (nome dado
pelo povo) aumentou. Em 1888, um segundo templo fora inaugu-
rado. Em 1930, o Papa Pio XI declarou e proclamou Nossa Senhora
Aparecida padroeira do Brasil. Em 1952, teve início a construção da
atual Basílica Nacional, dedicada pelo Papa João Paulo II, em 4 de
julho de 1980.
Não se trata de uma aparição de Maria. Uma imagem sua foi
encontrada e, deste fato, nasceu e cresceu uma devoção no seio do
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

povo brasileiro, manifestando o grande amor e fé que habitam em


seu meio. À devoção à Mãe de Deus conduz a Jesus, pois é ela que,
na Liturgia de hoje, nos orienta: “fazei o que ele vos disse” (Jo 2,5b).
Recordamos que, talvez por sinal divino, a imagem nos veio na
cor negra, numa época na qual a escravidão dos negros era uma rea-
lidade escandalosa no Brasil, para ensinar que Deus é o Deus que se
coloca ao lado dos mais abandonados e injustamente menosprezados
pelo mundo. Deus rejeita toda forma de exclusão e injustiça.
E também celebrado neste dia, o Dia da Criança. Queremos
rezar por todas elas, principalmente por aquelas que, em nosso país,
ainda têm seus direitos violados.

Recordando a Palavra
A Liturgia da Palavra começa com a leitura do Livro de Ester. O
livro possui dois escritos, um original em hebraico (séc. IV a.C.) e
um acréscimo em grego (séc. IL a.C.). Ele não possui ligação histórica
real. Trata-se mais de uma “estória”, para mostrar a reação do povo de
Israel ante situações de opressão e dominação. No trecho proclamado,
temos como ponto alto o pedido e o desejo da rainha Ester para o rei:
“concede-me a vida — eis o meu pedido — e a vida do meu povo — eis o
meu desejo”. Aparece neste trecho o caráter intercessor de Ester, como
aquela que advoga por seu povo: deseja para ele a vida e a liberdade.
Da mesma maneira, o evangelho nos apresenta o sinal de Jesus
na transformação da água em vinho, ocorrido por intercessão de sua
Mãe. Assim, num sentido mais profundo, temos o significado da
água e do vinho, não como coisas em si, mas como manifestação da
novidade de Cristo: a Boa Nova. À água guardada para a purificação
“como de costume” é transformada em vinho. Aqui, nos chama a
atenção a participação de Maria, pois é por meio dela que nos vem a
Boa Nova do Cristo. Tal participação é confirmada nas palavras de
Maria: “fazei o que Ele vos disser”. Em Ester está figurada Maria
que intercede e deseja a vida de seu povo, o Povo de Deus.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Na segunda leitura, é importante ter bem claro os sinais e seu


significado: temos a mulher, o menino, a serpente e o dragão. O me-
nino, evidentemente, se refere a Jesus Cristo — o Messias destinado
“a governar todas as nações”. À mulher à primeira vista poderia ser
referida a Maria, mas não era esta a intenção do autor do Apocalipse.
A mulher, desde os escritos e a linguagem do Antigo Testamento,
representa a comunidade de Israel, formada por doze tribos (doze
estrelas), revestida de sol (a glória divina) e a lua debaixo dos pés (lua
era o deus adorado por povos do Oriente Médio — assim a lua aqui
representa o mal, ou os falsos deuses sobre os quais Israel é vencedor).
Essa mulher é, portanto, o Povo de Deus do qual nasceu o Messias,
isto é, a Igreja. O dragão e a serpente são símbolos do mal e dos ini-
migos de Deus que perseguem e põem à prova os justos. À terra que
vem em socorro da mulher é semelhante ao auxílio de Deus de Nm
16, 30-32.
Maria se faz presente nessa leitura ao ser discípula, portanto,
membro da Igreja. Maria reflete tudo o que se pode referir à Igreja,
pois ela é, por excelência, membro da Igreja, discípula do Senhor. Ela
é exemplo de discípula fiel que assim permanece, mesmo em meio a
perseguições.
No evangelho temos a narrativa do primeiro sinal de Jesus. Ela
apresenta inúmeras simbologias: é estranho que o texto não fale dos
noivos, protagonistas da festa; igualmente é estranho tantas talhas de
purificação em uma casa particular, ainda mais estando estas vazias
(é comum sua presença no templo, porém cheias). O casamento é,
pois, analogia da relação Israel com seu Deus, como uma festa de
matrimônio. Esta relação, porém, já estava sem alegria, sem verda-
deira felicidade (fato representado pela falta de vinho e pelas talhas
vazias). O motivo se apresenta nas talhas de purificação: a religião
não foi capaz de mergulhar no sentido profundo da relação amorosa
que Deus queria com seu povo. À religião tornou-se uma religião de
obrigações, leis e decretos, “sem vinho”, uma religião de purificação
e de culpa.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas Dio,

Jesus traz a água nova (água que dele mesmo provém — é ele
quem manda encher as talhas) e a transforma em vinho (traz a alegria
e o novo sentido da relação com Deus).

Atualizando a Palavra
A verdadeira devoção aos santos e a Nossa Senhora deve sempre
conduzir a Jesus Cristo, a ouvir sua Palavra e viver seu ensinamento.
Isso testemunham as palavras de Maria no evangelho: “fazei tudo o
que Ele vos disser”.
À primeira leitura pode nos questionar sobre a nossa oração: o
que costumamos pedir? Coisas que favorecem nosso prestígio pessoal
ou aquilo que se traduz em vida e vida de todo o povo? À personagem
Ester, figura Maria, que intercede em favor de seus filhos, em tudo
aquilo que lhes dá a vida e a liberdade verdadeira, mas não naquilo
que nutre o egoísmo e a oração de barganha com Deus.
Maria é o modelo de todo cristão. À ela interessa a vida dos seus,
também para nós esse deve ser o “desejo” e o “pedido”. Maria não está
presa a suas buscas pessoais, mas, ao contrário, enfrenta a perseguição
e a luta para manter-se fiel como discípula de Cristo, seu Filho, em
conformidade com a segunda leitura. Esta apresenta a mulher como
imagem da Igreja e, portanto, de Maria, seguidora de Cristo, que não
desiste diante das perseguições e dos sofrimentos causados pelos inimi-
gos de Cristo. À exemplo de Maria, como anda nossa fidelidadee per-
severança no caminho do discipulado, diante das perseguições de hoje?
Ainda no evangelho, as palavras de Maria ressoam profunda-
mente, a cada dia, na vida de qualquer cristão: como tenho realmente
“feito tudo aquilo que o Mestre disse?”. Essa é também a síntese ou
súmula do que precisa ser feito, para que tenhamos o vinho da ale-
gria, a felicidade verdadeira, a relação nova entre Deus e seu povo.
Esta é uma relação amorosa, filial e paternal, sem a opressão de obri-
gações e imposições trazidas pela lei: mero cumprimento de deveres
sem sentido, sem vontade e sem estímulo.
5 / PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Este é um dia para louvarmos a Deus pela Imaculada Conceição de
Maria! Pela graça de sua maternal intercessão e pelo dom de seu exemplo!
De modo todo especial, rezamos hoje também pelo Brasil. Pedimos, na
oração da coleta, que o culto à Imaculada Conceição nos leve a sermos
fiéis à vocação de batizados, que vivamos na justiça e na paz (valores da
doutrina social da Igreja) e cheguemos, um dia, à Pátria definitiva. De
fato, “estamos à espera daquela Pátria que está por vir”, porém nossa fé
possui duas dimensões na escatologia: “o já e o ainda não”, portanto,
antecipamos os dons do céu, vivendo, aqui na terra, a vocação dos
batizados. Cabe-nos o dever evangélico de buscar a paz, fruto da justiça
(conforme o lema da CF 2010). Igualmente, pedimos a proteção para
nosso país, tal como, neste dia, clama a oração sobre as oferendas.
À liturgia nos chama atenção para nosso compromisso cristão de
participar na construção do Reino de Deus, em meio às estruturas do
mundo terrestre: “concedei ao povo, sob o olhar da Mãe Aparecida,
irmanar-se nas tarefas de cada dia para a construção do vosso reino”
(oração após a comunhão).
O espírito da celebração de hoje nos convida, a exemplo de Maria,
a termos um olhar atento às necessidades do dia a dia e a levarmos a
ela o vinho novo da Boa Nova de Jesus.

Sugestões para a celebração E ie


a) Dar destaque à imagem de Nossa Senhora Aparecida. Pode-se
fazer a entronização da imagem, acompanhando com cantos
marianos, sem que se perca a centralidade de Cristo na Liturgia.
De preferência, este ato não seja feito no presbitério.
b) Fazer uma prece pela nação brasileira, por seu povo, suas culturas,
sua etnias, seus governantes.
c) Sendo o Dia da Criança, pode-se convidar as crianças a se
aproximarem do presbitério e rezar com elas a Oração do Senhor.
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28º DOMINGO DO TEMPO COMUM

14 de outubro de 2012

"VENDE TUDO O QUE TENS, DÁ AOS POBRES E TERÁS UM TESOURO NO CÉU”.

Leituras: Sabedoria 7,7-11


Salmo 89 (90),12-17
Hebreus 4,12-13
Marcos 10,17-30

Situando-nos
Estamos no segundo final de semana do mês de outubro, mês
dedicado às missões e ao Rosário. Vivemos também o período de
eleições, em nosso país. Os cristãos são evangelicamente chamados a
serem conscientes de seu voto em vista do bem comum.
À leitura do evangelho deste domingo traz presente a dimensão
vocacional.
Quem pode ser salvo? perguntam, com espanto, os discípulos.
Todos aqueles que aderem a Deus e a seu Reino, o considerando como
sua verdadeira e maior riqueza. “Em comparação com ele (a sabedoria
a que se refere a 12 leitura), julguei sem valor a riqueza” (cf. Sb 7,8), pois
uma riqueza incalculável está nas suas mãos” (v. 11b).
« e º 2 4 eu »

Na segunda leitura, continuamos a ouvir a Carta aos Hebreus,


iniciada no domingo passado, a qual se estenderá até a Solenidade de
Cristo Rei do Universo. Neste domingo, refletimos sobre a profun-
didade da Palavra.
Embora não se esgote nisso, três ideias podem nortear a
reflexão deste domingo: 1º) o seguimento de Jesus (quer na vocação
de todo batizado, quer na vocação específica) requer desapego e
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

disponibilidade (isto é, colocá-lo em primeiro lugar); 2º) sábio é


aquele que prefere a sabedoria de Deus em lugar de todos os bens e
promessas humanas; 3º) a consequência do desprendimento dos bens
é a partilha.

Recordando a Palavra
O livro da Sabedoria, embora seja atribuído a Salomão, sugere a
autoria de um judeu em torno do ano 50 a.C. Ele é dirigido aos
judeus que, influenciados pela cultura helenística, acabam colocando
em risco sua fé, mas também é dirigido aos pagãos, afirmando a
uns e outros que só o Deus de Israel garante a verdadeira sabedoria
e a verdadeira felicidade. A sabedoria autêntica (tão procurada pela
filosofia grega) é a fé no Deus único de Israel e a fidelidade à sua
Lei. Assim, se entende a exaltação da Sabedoria de Deus perante
os valores da cultura helenística da época: “cetros e tronos, saúde e
beleza” (cf. vv. 8.10).
No evangelho, o convite de Jesus a “vender todos os bens, dar aos
pobres e segui-lo” (v. 21) pode ser referência à primeira leitura, em
que se sugere a verdadeira riqueza, diante da qual “a prata será como
lama e todo ouro do mundo como um punhado de areia” (v. 9), como
sendo a Sabedoria!. Assim, o seguir Jesus Cristo está ligado à atitude
do sábio que prefere a Sabedoria de Deus (isto é, seguir Jesus Cristo)
antes de toda riqueza.
À renúncia exigida pelo evangelho de hoje não se refere a uma
renúncia fundamentalista dos bens temporais, mas a colocá-los em seu
devido lugar, dando-lhes o valor correto e não exacerbado. À Sabedoria
de Deus é o dom que permite gozar dos bens terrenos, sem obsessão
nem cobiça, mas com maturidade e equilíbrio (cf. v 11): “todos os bens
me vieram com ela, pois uma riqueza incalculável está em suas mãos”,

1 Pode-se entender a Sabedoria como Sabedoria personificada, artífice de todas as coisas (Sb 7, 21)
como o Verbo de Deus em Jo 1,3 e também em Sb 9,9.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

A Carta aos Hebreus é um sermão destinado às comunidades


cristãs que se deixaram cair na monotonia e começaram a ceder
diante de doutrinas estranhas ao ensinamento dos Apóstolos. Por
isso, esse discurso quer motivar os cristãos a viver uma fé mais
coerente e empenhada, a fazerem de suas vidas um contínuo
sacrifício de louvor a exemplo de Cristo, sumo sacerdote, que é o
mediador entre Deus e os homens. Narra a profundidade da Palavra
de Deus que “julga os pensamentos e as intenções do coração” (cf.
v.12). É a escuta e a acolhida dessa Palavra que tornam o homem
verdadeiro sábio.
No evangelho, vemos que há uma busca ansiosa pela vida eterna
da parte do rico, ilustrada por sua forma de vir ao encontro de Jesus:
“correndo e ajoelhando-se diante dele” (v. 17) e por seu comporta-
mento exemplar: “tudo isso tenho observado desde minha juventude”
(v. 20). Jesus diante da pergunta, responde o que seria corriqueiro:
observar os mandamentos. Lança, porém, um desafio que toca a raiz
das opções e dos valores humanos: fita-o com amor e pede a opção
radical pelo Reino de Deus.
Este homem, no entanto, mesmo fazendo uma busca sincera de
Deus, não se desapegou de suas seguranças humanas e não pode as-
sumir o Reino como valor fundamental e radical. Em sua vida, os
bens eram ainda mais importantes que o Reino. O Reino de Deus
é incompatível com o apego às coisas terrenas - “vende tudo o que
tens”- , com o egoísmo - “dá aos pobres” - e exige o seguimento de
Jesus - “segue-me”-.
Na segunda parte do texto (vv. 28-30), a renúncia pelos bens
terrenos não é vazia, mas se trata de uma escolha por um bem maior.
Os discípulos não deixaram tudo, por amarem o sofrimento e a po-
breza, mas por terem optado por algo maior. Pode-se, assim, aludir à
dimensão vocacional dos textos de hoje.
61H PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Atualizando a Palavra
“Que se deve fazer para receber a vida eterna?”. Eis uma pergunta
que cada um de nós também faz, em seu coração, com estas ou outras
palavras semelhantes.
Jesus responde que, inicialmente, se deve viver conforme os
mandamentos, porém o simples cumprimento das obrigações
não é suficiente, é exigida do coração uma opção que assuma o
Reino de Deus e o seguimento como a maior riqueza da vida;
exatamente como ilustra a parábola do tesouro encontrado no
campo (cf. Mt 13,44-46). Cabe-nos o questionamento a respeito
da importância que atribuímos ao Reino e ao seguimento. À
“fórmula” para calcularmos essa importância é através do
desapego. O que seríamos capazes de renunciar, em função do
Reino?
O ensinamento de Jesus aqui não é tanto sobre o desprezo dos
bens, como se eles não tivessem valor em si mesmos, mas o de que
o Reino deve ser colocado em primeiro lugar por todo aquele que
quiser ganhar a vida eterna.
Quais as coisas que se antepõem ao Reino, na sociedade de hoje?
Quais delas se fazem presentes em minha vida pessoal e se antepõem
ao Reino?
Na dimensão da partilha, destacada nos textos deste domingo,
vê-se a certeza de que o desapego, em nome do seguimento de Jesus,
não é em vão, mas produz “cem vezes mais” (cf. v. 30). A partilha
garante “um tesouro no céu” (cf. v. 21).
Diante dessa Palavra, nos confrontamos com o egoísmo e
materialismo do mundo de hoje, misturados ao individualismo, ao
acúmulo de bens e ao vazio da laicização (um mundo que nega o
valor, como palavra digna de crédito, da religião institucionalizada).
Cabe aos cristãos de hoje reassumirem, com coragem, a
prioridade do Reino sobre todos os desvalores egoístas e apegados
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas TODA

do mundo atual. Cabe-lhes testemunharem a Sabedoria da Palavra


de Deus que é “viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada
de dois gumes” (cf. Hb 4,12). Seremos perseguidos (cf. Mc 10,30),
mas receberemos a vida eterna e cem vezes mais felicidade do que a
recebida na lógica do mundo do egoísmo e do apego.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


A oração do dia deste domingo nos convida a “estarmos
sempre atentos ao bem que devemos fazer”. De fato, além
do bem praticado em consequência à obediência e da prática
dos mandamentos (cf. Mc 10,19-20), é preciso partilhar,
desapegar-se, renunciar ao egoísmo, “dar aos pobres” (v. 21).
Reunimo-nos para celebrar a Eucaristia, porque o Espírito San-
to colocou em nosso coração a esperança. No meio das provações do
caminho, a Palavra e a partilha suscitam, em nós, um novo sentido
de viver a fé e a missão. Neste mundo sem coração, há muitos “ho-
mens ricos” que, angustiados e em busca de novo sentido à vida,
acorrem para a celebração na esperança de uma palavra consoladora
e criadora. “Manifestai a vossa obra a vossos servos e a seus filhos,
revelai a vossa glória”, rezamos.
A comunidade se reúne para celebrar a Eucaristia convocada
pela Palavra de Deus. Alimentada pela escuta da Palavra e pela par-
ticipação na ceia do Senhor, retoma o caminho da missão: anunciar
a Boa-Nova para homens e mulheres de todas as condições, culturas
e nações.
Pela participação na celebração eucarística, memorial da Páscoa,
o Senhor nos acolhe, transfigura, salva e nos envia a comunicar a
todos as razões de nossa fé e de nossa esperança. À missão visa reali-
zar, no mundo, o projeto de Deus, em virtude do qual toda semente
de verdade e de graça presente entre os povos, longe de se perder, é
purificada e restituída a seu autor, isto é, a Cristo (cf. AG, n. 9).
63 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Celebrar a Eucaristia pressupõe uma atitude de querer partilhar,


solidariamente, tempo, esforço, bens, conhecimentos, para fazer
avançar o projeto do Reino. À partilha solidária nos conduz a cele-
brar autenticamente a Eucaristia. Esta, bem celebrada e vivida, nos
impulsiona à compaixão e à solidariedade.
Retirada do salmo 33,11, a antífona de comunhão reflete: “Os ricos
empobrecem, passam fome, mas aos que buscam o Senhor, não falta
nada”, Em conformidade ao tema que reflete a Palavra deste domingo,
as riquezas do mundo acabam, mas aqueles que possuem a Deus como
sua riqueza verdadeira, seu tesouro escondido, não falta nada.

Sugestões para a celebração a


a) À 2º leitura deste domingo põe em destaque a importância da
Palavra de Deus como fonte de sabedoria. Pode-se fazer a pro-
cissão de entrada com o Evangeliário (ou, caso não o tenha, com
o Lecionário).
b) Neste mês missionário, convém destacar a vocação missionária,
seja por preces ou por outra forma de representá-la.

c) Outubro é também o mês dedicado ao Rosário. Motivar as


famílias para rezarem, em suas casas, o Rosário ou, pelo menos,
“uma dezena”,
d) Fazer uma prece especial pelo Sínodo dos Bispos que está se re-
alizando em Roma.
e) Lembrar que, no próximo domingo, é o Dia das Missões e da
Obra Pontifícia da Infância Missionária. Será feita nesse dia a
coleta para as missões.
f) Convidar os professores e educadores presentes para receberem
uma bênção especial, ao final da celebração;
g) Amanhã, dia 15, fazemos memória de Santa Teresa de Jesus,
também conhecida como Santa Teresa D'Avila. Ela era uma
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

jovem muito bela e inteligente. Aos 20 anos, tomou a decisão


de entrar no convento. Aí promoveu uma verdadeira reforma da
Ordem Carmelita. Morreu em 15 de outubro de 1582. Em 1970,
foi declarada Doutora da Igreja.

h) Dia 16, terça-feira, fazemos memória de Santo Inácio de


Antioquia. Ele foi o segundo sucessor de Pedro como Bispo de
Antioquia. Escreveu sete cartas, preciosos documentos de sua
vida, de sua doutrina e de seu cuidado pastoral. Ele é testemunha
de uma Igreja centrada na Eucaristia. O que mais desejava era
ser discípulo de Cristo e “ser moído pelos dentes das feras”, para
encontrar-se com o pão puro de Cristo.
Padroeiro dos médicos, São Lucas Evangelista, sua festa é cele-
brada no dia 18, quinta-feira. Ele também é considerado o autor
do livro dos Atos dos Apóstolos. Paulo o chama de “amado mé-
dico” (Cl 4,14), companheiro de suas viagens missionárias e seu
consolador, quando esteve na prisão. Seu evangelho apresenta
Jesus como Salvador de todos os homens. Lucas testemunhou
também sua misericórdia e amor para com os pobres e as mulhe-
res. Rezemos para que os médicos sejam imitadores de Cristo,
médico divino, sempre próximo das pessoas que sofrem.
29º Domingo do Iempo Comum

21 de outubro de 2012

"ENTRE VÓS NÃO DEVE SER ASSIM”.

Leituras: Isaías 53,2a.3a.10-11


Salmo 32 (33)
Hebreus 4,14-16
Marcos 10,35-45

Situando-nos
Estamos no penúltimo domingo de outubro, Dia Mundial das
Missões, da Obra Pontifícia da Infância Missionária, quando
fazemos a coleta para as missões. É importante relembrar a partici-
pação e o compromisso missionário de todos os membros da Igreja.
“Na Igreja de Cristo, todo batizado é missionário”. Em conformi-
dade com o lema de Aparecida, todo discípulo é necessariamente
missionário: “Discípulos missionários em Jesus Cristo, para que nele
nossos povos tenham vida”.
Vamos nos aproximando do DNJ (Dia Nacional da Juventude),
uma oportunidade para refletir sobre o envolvimento com a JMJ
2013 (Jornada Mundial da Juventude), no Rio de Janeiro, e com seus
preparativos, através das pré-jornadas, sob encargo de cada Diocese.
Na Liturgia deste 25º domingo, vemos novamente um anúncio
da Paixão e celebramos o verdadeiro significado do poder e do reina-
do de Cristo, que se traduz em serviço. Jesus inverte a lógica humana
e explicita a lógica de Deus, pela qual os últimos são os primeiros; os
que se elevam são humilhados; quem se humilha é exaltado; os que
querem ser grandes devem se tornar servidores de todos.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Recordando a Palavra
À primeira leitura nos apresenta uma parte do texto sobre o Servo
de Javé. O texto completo, talvez explicitasse melhor a dimensão de
seu exemplo de serviço. Contrasta a concepção de êxito humano com
aquilo que Deus considera como êxito: por meio de sofrimentos e
por assumir a culpa dos homens (cf. v. 11), “cumprirá a vontade do
Senhor” (v. 10). Este é o Servo de Javé, aquele que “oferece sua vida
em expiação” e que “fará justos inúmeros homens” (cf. vv. 10 e 11);
que não apresenta beleza, nem poder, nem triunfo, mas ao contrário,
aos olhos do mundo é desprezado e motivo de vergonha (cf. texto
completo nos versículos 2 e 3). Portanto, a primeira leitura nos
apresenta dois elementos: primeiro, o exemplo do servo que agrada
a Deus e, segundo, o contraste existente entre esse modelo e a ideia
humana de eleição.
O salmo responsorial retrata a graça de Deus que nos vem como
dom, por meio da confiança: “Sobre nós venha, Senhor, a vossa gra-
ça, da mesma forma que em vós nós esperamos!” (v. 22). Eis o êxito
do Servo de Javé, isto é, sobre ele veio o favor de Deus, cumpriu-se
com êxito a vontade do Senhor, pois, em meio ao sofrimento, confiou
em Javé até as últimas consequências, oferecendo sua própria vida.
A mesma temática de fundo está contida na segunda leitura,
apresentando Jesus como aquele que “foi provado em tudo como nós”
(v. 15) e que é, portanto, próximo dos seres humanos e não distante,
cheio de poder. Em confirmação disso, temos o texto de Filipenses
4, a “kenosis”, ou seja, o despojamento, ou a proximidade de Deus
para com os homens, assumindo nossa condição humana. De fato, o
trono de Deus não é trono de opressão ou de majestade avarenta, mas
é trono de graça, do qual todos os que se aproximam com confiança
recebem misericórdia e auxílio, no momento oportuno.
No evangelho, Marcos narra (na versão mais longa) o episódio
ocorrido na subida para Jerusalém, após o terceiro anúncio da Paixão
de Jesus (Mc 10,32-34). Deveríamos esperar dos discípulos uma
0 VA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

atitude de preocupação ou mesmo uma tentativa de impedir Jesus de


ir em direção à sua morte. Ão contrário, porém, eles revelam total
incompreensão das palavras de Jesus e uma busca humana de poder
e destaque.
Os discípulos ainda pensavam o Messias como um libertador,
com um reinado que lhes soava como um governo político. O próprio
pedido dos dois irmãos possui caráter de exigência: “queremos que
faças por nós o que vamos pedir” (v. 35), o que parece revelar certa
soberba da parte de ambos, ao se considerarem dignos de tal posto
diante dos outros discípulos.
O cálice e o batismo se referem à sorte ou ao futuro de Jesus,
que é de sofrimento e morte. Tiago e João, no entanto, não pensam
nisso e entendem seu cálice como cálice de vitória e de realeza e se
declaram dispostos a dele beber.
Finalmente, Jesus se dirige taxativamente a todos os discípulos:
“entre vós, não deve ser assim” (v. 43), não deve haver tirania, nem
opressão, nem uso do poder para esmagar os outros. Jesus inverte a
lógica do poder humano e o desloca para o serviço e a humildade:
«
quem quiser
.
ser o primeiro,
. .
seja. o escravo de todos” » (v. 44).

Atualizando a Palavra
A Palavra deste domingo questiona diretamente a lógica humana
do poder e reprova, tenazmente, toda forma de soberba, opressão
ou carreirismo discriminatório. Provoca as instâncias que exercem
poder sobre o significado de sua existência: existem para o serviço a
ser prestado ou para si mesmas?
Para o cristão, ser grande significa colocar-se a serviço; trabalhar
em prol dos outros. À autoridade provém da humildade.
Diante de toda concepção mundana de poder, a Liturgia nos
propõe pelo menos duas dimensões do exemplo de Jesus. À primeira:
a do Servo de Javé, que carrega a culpa de outros para torná-los
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

justos. Isso reporta ao evangelho, quando Jesus afirma que o “Filho


do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida
em resgate para muitos” (cf. v. 45). À segunda: o que motiva a atitude
desse servo. Ela aparece na segunda leitura, na qual Cristo é o sumo
sacerdote que se compadece das fraquezas dos seres humanos e se
permite ser um de nós, provado como nós.
Não são, portanto, o poder e o destaque que tornam alguém
grande aos olhos de Deus, mas o quanto cada um é capaz de compa-
decer-se do outro e colocar-se a serviço dele.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Toda a celebração deste domingo está envolta pelo tema do serviço e
da entrega ao outro. À exemplo de Jesus Cristo, somos vocacionados
a servir, como reza a oração inicial: “dai-nos a graça de estar sempre
ao vosso dispor, e vos servir de todo o coração”.
Às leituras também remetem à maior obra de serviço realizada
por Jesus: sua oblação ao Pai, no altar da cruz, que se faz presente
na Eucaristia, sob as espécies do pão e do vinho oferecidos. Reza
a oração sobre as oferendas: “Dai-nos, ó Deus, usar os vossos dons
servindo-vos com liberdade, para que, purificados pela vossa graça,
sejamos renovados pelos mistérios que celebramos em vossa honra”.
De fato, os dons de Deus nos foram concedidos não para nosso ego-
ísmo ou vaidade, mas para o serviço. O gesto de servir com liberdade
concede a verdadeira felicidade, pois, na doação de si, o ser humano
encontra a realização.
Igualmente, a oração depois da comunhão nos educa a respeito
de nossa relação com o poder e os bens temporais: diferentemente da
lógica do mundo do ter mais, para poder mais, para gozar mais, ela
nos ensina que os bens terrenos devem ser auxílio para conhecermos
os valores eternos.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Sugestões para a celebração


a) Este domingo é o Dia Mundial das Missões, a coleta para as missões
deve ser motivada como uma oportunidade de partilha e de serviço
à Igreja em terras de missão, inclusive aqui mesmo no Brasil.

b) No site da Pontifícias Obras Missionárias, pode-se obter


informações importantes sobre as missões, as quais podem servir
como motivação para as preces da comunidade ou para orações a
serem feitas em momento oportuno. O site é: www.pom.org.br.

c) Valorizar as crianças que participam da Infância Missionária


(caso existam na comunidade). Elas podem participar da pro-
cissão de entrada, da procissão das oferendas ou das preces da
comunidade.

d) Antes de invocar a bênção final e do envio “Ide em paz”, fazer


uma pequena monição. Sugerimos indicado no artigo de Maria
de Lourdes Zavares — Ritos Finais: o Corpo eclesial de Cristo é
enviado em missão — publicado no subsídio Liturgia em Mutirão I,
Edições CNBB, p. 144-146.

e) Dia 25, quinta-feira, fazemos memória de Santo Antônio de


Sant'Anna Galvão, mais conhecido como Frei Galvão. Ele
nasceu na cidade de Guaratinguetá, São Paulo, em 1733, e
morreu, em 1822. Foi canonizado, em 2007. Destacou-se pela
caridade e pelo serviço aos mais necessitados.
Aproxima-se o DNJ, um dos momentos mais importantes do ca-
lendário da juventude católica, organizada pelo país. É um espaço
no qual o protagonismo juvenil é evidente, pois, apesar de ser uma
atividade permanente, com tema e lema bem definidos, é a reali-
dade da vida dos jovens que formata este dia celebrativo. O Dia
Nacional da Juventude é uma atividade permanente do calendário
da CNBB. Este ano tem como tema: “Juventude e Vida” e lema:
“Qual vida vale a pena ser vivida?” Este lema tem a iluminação
bíblica de Jo 10,10: “Eu vim para que todos tenham vida”.
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30º DOMINGO DO TEMPO COMUM

28 de outubro de 2012

"NO CAMINHO DA FÊ”

Leituras: Jeremias 31,7-9


Salmo 125 (126)
Hebreus 5,1-6
Marcos 10,46-52

Situando-nos
Estamos no último domingo do mês de outubro, em que a Igreja
propõe aos fiéis uma reflexão sobre sua tarefa missionária. Ela nos
fala da missão evangelizadora ad intra e ad extra, isto é, seus destina-
tários são aqueles que, junto a nós, deixaram de participar ou que
se afastaram da Igreja, bem como a missão que acontece em regiões
onde existem grandes desafios devido à pobreza, à perseguição ou
mesmo indiferença aos valores do evangelho.
Na próxima sexta-feira, estaremos celebrando o Dia de Finados,
dia de visita aos cemitérios e oração pelos fiéis defuntos.
Neste domingo, em alguns municípios, realiza-se o 2º turno das elei-
ções. À política sempre é um desafio para a evangelização, pois esta deve
se traduzir em valores que nascem da vivência de nossa fé em comunidade.
À liturgia do domingo passado apresentou a passagem dos filhos
de Zebedeu. Jesus alertou os discípulos sobre a tentação da ambição,
dentro da comunidade, e sobre as dificuldades próprias da missão
que ele veio cumprir.
Continuamos hoje a leitura do Evangelho de Marcos, com a
cura do cego Bartimeu, 1 que nos apresenta um modelo de fé. Neste
A PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

modelo, vemos uma ligação entre o cego e a libertação de todo o


povo de Deus.

Recordando a Palavra
Jesus está a caminho de Jerusalém, já falou sobre o que lhe aconteceria
em Jerusalém. Ele refaz o caminho dos israelitas na tomada da terra
prometida, passando pelo Jordão e por Jericó para ir a Jerusalém”.
O contexto é messiânico, isto é, tempo para Deus restaurar
Israel. O cego, que está à beira do caminho e clama por Jesus, ajuda
a revelar este momento de Deus no meio do povo.

À primeira leitura fala do “resto de Israel”, constituído de cegos


e coxos, grávidas e as que deram à luz, em favor de quem Deus age,
revelando-se como um Pai.

O cego que grita: “Filho de Davi, tem piedade de mim”, reconhece


em Jesus o messias. Por isso, esta declaração de fé ajuda o discípulo a
compreender a subida de Jesus para Jerusalém e sua missão aí realizada.
À maneira como o evangelho nos apresenta a cura do cego refor-
ça a ideia de um modelo de fé a ser seguido.
Modelo porque Bartimeu, a partir da fé, enfrentou a admoes-
tação e a repreensão da multidão que acompanhava Jesus. Ela pe-
dia que Bartimeu se calasse. Ele, porém, gritava cada vez mais for-
te, pois suas esperanças em Jesus se fundavam no conhecimento da
Palavra de Deus e no testemunho que lhe traziam deste homem.
Modelo ainda pelo fato de jogar para trás o manto que dava
ao cego o direito à mendicância. Mostra que ele buscava uma nova
vida e que ele não estava acomodado na segurança representada pelo
manto, pois aquilo que Jesus podia lhe ofertar era mais importante.
Por último, o cego é modelo de fé pela palavra de Jesus que diz:
“vai, tua fé te curou”. Jesus reconhece o valor daquela declaração de

2 Cf. Comentários da Bíblia do Peregrino.


Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

fé que se baseia numa proclamação messiânica. Assim, diante da


palavra que o torna liberto, o cego escolhe o seguimento, pois em
Jesus, Deus está a realizar o Reino, a restauração de Israel.
À 22 leitura pode ser vista também a partir do contexto de Deus
que realiza suas promessas de vida em favor do povo. Jesus é apresen-
tado como um sumo sacerdote cuja origem não está ligada à descen-
dência levítica. Ele traz o novo, pois não está vinculado àqueles que
controlam Jerusalém e se apropriaram das esperanças do povo. Um
sumo sacerdote não sujeito ao pecado, capaz de instaurar e realizar o
sacrifício único e eterno, agradável a Deus para a vida de todo Israel.

Atualizando a Palavra
A Palavra de Deus, neste domingo, nos apresenta as atitudes
que levam o cego Bartimeu a ser um modelo de fé para a vida da
comunidade.
Podemos verificar que o conhecimento da palavra de Deus e das
promessas que alimentam a vida do povo de Israel leva o cego a re-
conhecer Jesus. Este fato deve também nos mover a buscar não só
conhecer a palavra de Deus, mas a fazer dela um alimento para a fé,
para podermos reconhecer a presença e a ação de Jesus hoje, entre os
homens e na comunidade dos fiéis.
Podemos verificar que a situação adversa do cego não foi empecilho
para seu crescimento na fé. À “desgraça” na qual estava mergulhado é a
condição para que alimente a esperança e cresça na fé. À fé, portanto, nos
é mostrada como capaz de trazer respostas de vida, de nos fazer olhar com
outros olhos uma realidade que é rejeitada ou desprezada pelo mundo.
À liturgia nos apresenta o conteúdo de fé em Jesus como
Messias. Facilmente, chamamos Jesus, o Cristo (=messias), porém,
cabe perguntar se, na prática, aceitamos o fato de que a fé em Jesus
inclui esta restauração da vida do povo, como a cura ao cego, a saúde
ao doente, a liberdade ao oprimido...
PA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

A cura do cego mostra a estreita relação entre a fé por ele


professada e a história e as esperanças da comunidade, povo de
Deus. Isto permite perguntar se nossa fé também está fundada na
esperança e na vida do povo, se nossa fé compartilha as esperanças
da comunidade, da Igreja.
A partir de Jesus, que caminha para Jerusalém com a missão
de restaurar o povo de Deus, somos desafiados a promover a ação
restauradora e redentora de Deus e a vencer a acomodação da comu-
nidade, preocupada em repetir ritos ou salvaguardar as leis.
Bartimeu nos mostra que a fé cristã não combina com acomo-
dação e individualismo. À fé cristã é essencialmente comunitária.
Ela nasce da ação de Deus em favor da vida de seu povo. O lugar do
cristão é o caminho da comunidade dos fiéis conduzida por Jesus,
lugar onde a presença de Jesus continua a agir, transformando sinais
de morte e descrença em sinais de vida e de fé.
A Palavra de Deus, neste domingo, pelo relato da cura do cego, nos
mostra a fé em Deus como abertura a um projeto, um plano, uma ação
de Deus, presente na história. O fiel reconhece, em Jesus, Deus que o
acolhe. Pela fé em Jesus, percebe-se alguém participante e testemunha
da ação de Deus, agindo na comunidade em favor da vida do povo.
À liturgia da Palavra indica renovação e vida nova não somente
para as pessoas, mas também para as estruturas e a sociedade.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


A comunidade cristã, povo sacerdotal, participa, de forma plena,
consciente e ativa, da celebração do mistério pascal de Jesus Cristo,
único e eterno sacerdote. Ele preside nossas assembleias e torna-se
presente no meio de nós.
Ele, cabeça de seu corpo, que é a Igreja, “ora por nós como nosso
sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração
como nosso Deus. Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

voz. E quando algo referente àquela humilhação, aparentemente


indigna de Deus, não hesitemos em lhe atribuir, já que não hesitou
em fazer-se um de nós...” (Santo Agostinho).
Com confiança renovamos a fé no Senhor que nos tira da escu-
ridão, nos liberta do medo e nos traz de volta à vida. Sem ele, nada
podemos, por isso, já no início da celebração, pedimos: “Deus eterno
e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e dai-nos amar o
que ordenais para conseguirmos o que prometeis...” (oração do dia).
Na celebração da Eucaristia, oferecemos o pão que dá vida e o
cálice da nossa salvação. Com Jesus, entregamos ao Pai nossa vida
(cf. oração eucarística para a missa com crianças). Diz a Sacrosanctum
Concilium: “que os fiéis aprendam a oferecer-se a si próprios, ofe-
recendo a hóstia imaculada, não só pelas mãos do sacerdote, mas
também juntamente com ele e assim, tendo a Cristo como Mediador,
dia a dia, se aperfeiçoem na união com Deus e entre si, para que,
finalmente, Deus seja tudo em todos” (48).
Que o Senhor faça de nós, povo gerado pela aliança, instituída
por Cristo, uma oferenda perfeita. Saibamos, na vida e na celebração,
oferecer nossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus
(cf. Rm 12,1).

Sugestões para a celebração *


a) Um portador de deficiência visual pode trazer as oferendas
ao altar, como sinal de que Deus nos revela a boa nova e nos
desperta para a fé, a exemplo de Bartimeu.

b) Hoje é o Dia Nacional da Juventude. É importante destacá-lo,


tendo em vista a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá
em julho de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, com a presença
do Papa. Os jovens podem entrar carregando a cruz processional,
lembrando a Cruz da Jornada, e um ícone de Maria como está
sendo feito em várias dioceses do Brasil.
/5 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

c) Na homilia, se oportuno, ouvir o testemunho de um jovem.


d) No final da celebração, convidar os jovens para receberem uma
bênção especial.
e) Convidar para a celebração do Dia de Finados, que acontece na
próxima sexta-feira dia 02.
Er DS CREED UE Sri

FINADOS

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS
FIÉIS DEFUNTOS

02 de novembro de 2012

CREMOS NA RESSURREIÇÃO DOS MORTOS E NA VIDA ETERNA!

À instituição de um dia especial no ano, para lembrar espiritualmente


todas as pessoas falecidas, deve-se a uma iniciativa dos monges
beneditinos, por volta do ano 1000, na França. Àos poucos, este
costume foi se espalhando pelo mundo, até ser assumido por toda a
Igreja.
O dia de Finados não é um dia triste ou de luto. Pelo contrário,
é um dia de saudosa recordação, confortados que somos pela fé e
pela esperança na vida eterna. “Irmãos, não queremos que ignoreis
o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros
que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou,
cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram”
(1 Ts 4,13-14),
O Missal Romano e o Lecionário Dominical apresentam três
propostas diferentes para a liturgia de hoje. De acordo com as ne-
cessidades pastorais, a comunidade celebrante faz sua escolha. Nesta
celebração, damos graças ao Pai porque experimentamos, em nossa
realidade, este mistério da vida que passa pela morte e podemos viver
em comunhão com tantas pessoas queridas que vivem agora a pleni-
tude da vida partilhada conosco, precedendo-nos no caminho da fé.
Sugerimos que não se leiam, antes ou durante a celebração, as
“infinitas” listas de nomes dos falecidos. A leitura, muitas vezes feita
AA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

friamente ou rapidamente, não ajuda a vivermos este momento de


recordação das pessoas falecidas. Pode-se trazer as intenções num
cesto ou recipiente adequado, colocá-lo em algum lugar no presbité-
rio e dizer, no início da celebração, que ali estão colocados os nomes
de fiéis defuntos. Na Prece Eucarística, no memento dos mortos,
fazer um instante de silêncio para que cada pessoa recorde, diante de
Deus, os seus falecidos.
Ressaltamos que existe uma bênção final, própria para esta cele-
bração. Ela está no Missal Romano.
Apresentamos aqui alguns tópicos extraídos do artigo “A res-
surreição de Cristo e a compreensão da ressurreição hoje”, de autoria
do teólogo Renold Blank, publicado na Revista Vida Pastoral, maio/
junho 2012, p. 24 a 30.

a) Toda a nossa fé se baseia na ressurreição. Sem a fé na ressurreição,


nossa fé seria simplesmente mais uma entre muitas outras crenças.
“Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé” (1 Cor 15,14). Existem
dimensões do ser humano que ultrapassam o raciocínio e as
experiências científicas e empíricas. À fé cristã nos diz que a vida
triunfará pela força de Deus. “Deus faz viver os mortos e chama
à vida as coisas que não existem” (Rm 4,17). Nosso Deus gera
vida e amou-nos tanto que enviou o seu Filho, Verbo Encarnado.
Jesus nasceu, viveu e morreu. Mas a história não para aí. Ele
ressuscitou. À ressurreição confirma, para todas as pessoas
e para todos os tempos, o fato de que a morte, a destruição e
o ódio não têm a última palavra. Deus é mais forte que tudo
isso, e tal convicção recebe sua confirmação pelo fato de ele
ter ressuscitado seu Filho. Ressuscitando seu Filho, quer que
todos nós também ressuscitemos para a vida eterna. Por isso, a
ressurreição permanece sendo, até o fim da história, a base e o
ponto central de tudo aquilo em que, por nossa fé, acreditamos.
Afirmava Tertuliano: “A confiança dos cristãos é a ressurreição
dos mortos; crendo nela, somos cristãos”.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas n

b) Mas, como podemos provar a ressurreição? Além da nossa fé,


baseada no testemunho dos apóstolos, tantas vezes registrada
no Novo Testamento, temos a chamada “prova sociológica” da
ressurreição de Jesus. Devemos ter presente que, no tempo de
Jesus, a morte numa cruz era o maior sinal de fracasso, vergonha
e exclusão. De um crucificado ninguém mais podia falar, nem
pronunciar seu nome. Baseado em Dt 21,23, um crucificado
até chegava a ser considerado maldito pelo próprio Deus. Se a
história de Jesus tivesse terminado na cruz, jamais alguém teria
continuado a falar dele. Porque, então, começou-se a falar, a pre-
gar, a testemunhar a ressurreição deste Homem? Imaginação?
Alucinação? Interesses? Nada disso sustentaria aqueles pobres
homens e mulheres, aliás, a maioria deles foram mortos por cau-
sa desta fé. Tudo isso foi possível porque “Ele ressuscitou!” “Ele
está vivo!” Foi por isso que se voltou a falar de Jesus, pois ele
havia ressuscitado. De um pobre crucificado ninguém falaria e
nem poderia falar. Com a ressurreição, até o sinal da cruz, sinal
de vergonha, condenação e escárnio, foi-se transformando em
sinal de salvação, de vitória, de vida. Se hoje existe a fé cristã, é
porque ele ressuscitou.

c) À ressurreição é a transformação inteira e global do ser humano


por dentro, uma nova maneira de ser. “Todos seremos transfor-
mados” (1 Cor 15,51). São Paulo, no capítulo 15 da Carta aos
Coríntios, recorre à imagem metafórica da semente que parece
morrer, mas, na realidade, se transforma em planta. Portanto,
ressurreição não é revitalização de um cadáver. Ressurreição é
muito mais e muito diferente. Ressurreição tampouco significa
a volta para nova vida aqui na terra. Nossa vida, aqui, é vivi-
da apenas uma vez, como lemos em Hb 9,27. Ressurreição é a
transformação plena e total da maneira de ser de uma pessoa. O
autor desta transformação é Deus. É o que vemos nas aparições
do Ressuscitado: ele é de fato aquele mesmo Jesus que os discí-
pulos já conheciam antes: pode ser tocado por Tomé, mantém as
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

chagas da crucifixão, Pedro o reconhece após a pesca milagrosa,


os discípulos de Emaús o reconhecem na fração do pão. Mas, ao
mesmo tempo, ele é agora bem diferente: entra com as portas
fechadas, Maria Madalena e os discípulos na praia não o reco-
nhecem, os discípulos de Emaús, a princípio, também não.

d) À ressurreição ultrapassa a dimensão individual e inclui a criação


inteira. Deus não ressuscita uma alma desligada de todas as di-
mensões terrenas e materiais, mas tampouco ressuscita somente
um corpo material. Deus ressuscita o ser humano inteiro, global,
em todas as suas dimensões. À todas elas dá imortalidade; ele as
inclui e integra por dentro de uma maneira de ser da qual a mor-
te e toda a sua negatividade já não fazem parte e que, em última
análise, significa ser amparado no amor infinito desse Deus. É
nesse Deus que a pessoa humana, e com ela, todo o cosmo den-
tro do qual a pessoa se moveu e viveu, encontra sua plenificação,
seu amparo e seu último destino, que é a imortalidade. Em de-
corrência disso, a ressurreição ultrapassa em muito a dimensão
do indivíduo como tal. Com efeito, abrange a criação como um
todo (cf. Rm 8,21-27).

e) Insistindo que “o túmulo de Jesus estava vazio”, a Igreja primitiva


expressou não somente o fato da ressurreição em si, mas também
seu significado: a superação de toda dimensão de corruptibilida-
de, simbolizada pela putrefação que se verificaria dentro de um
túmulo não vazio. Tudo isso é superado pelo agir de Deus. Por
causa disso, Paulo pôde exclamar: “nem o olho viu nem o ouvi-
do ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que
Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

Ressurreição não é apenas fato do passado, mas é promessa e


antecipação.
. mo é
“Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos res-
. 4,

suscitará a nós pelo poder” (1 Cor 6,14). “Quem ressuscitou Jesus


Cristo dos mortos também dará vida a vossos corpos mortais por
virtude do Espírito que habita em vós (Rm 8,11). O fato de Deus
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

ter ressuscitado Jesus se torna assim a prova e a confirmação da


esperança de que cada um de nós também será ressuscitado. É
essa a grande promessa: “Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”
(Jo 6,54). Pela ressurreição de Jesus, o próprio Deus também
confirma essa promessa, de tal maneira que o fato de Jesus ter
sido ressuscitado se torna, olhando de outro ângulo, novamente
peça-chave para toda a fé cristã (Cf. Catecismo da Igreja Cató-
lica, n. 989).

g) À ressureição é a concretização da última solidariedade de Deus


para com o ser humano. Existe ressurreição porque existe um Deus-
-Amor. À essência do amor é a aceitação incondicional do outro,
simplesmente porque este outro existe. À ressurreição por parte de
Deus seria assim a concretização de tudo aquilo que Paulo formula
no famoso “hino à caridade”, descrito em 1 Cor 13,1-13: o amor de
Deus é mais forte que a morte. É ele que tem a última palavra, contra
todas as manifestações da morte, da rejeição e do pecado.

h) Enfim, a ressurreição é a expressão e a confirmação do fato de o


último destino de toda pessoa e da criação inteira ser o repousar
no amor inimaginável daquele que criou a todos nós. É para isto
que Deus ressuscita todo ser humano depois de uma única vida
vivida: para que esse ser seja eternamente amparado no seu amor;
para que Deus seja amparado no amor daqueles pelos quais ele se
apaixonou, os seres humanos.
Um aspecto muito importante a ser ressaltado hoje, ao professar-
mos a nossa fé na ressurreição e na vida eterna, é que a ressurreição
nos faz assumir um novo modo de viver.

Se contemplamos a morte de Cristo, contemplamos também sua


ressurreição. O mistério pascal não apenas ilumina e ajuda a reler

3 Cf. Maria Clara Bingemer, Ressurreição: modo de viver. Jornal Correio Riograndense,
25 de abril de 2012, p. 6.
“PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

nossa vida, mas também ensina poderosamente qual é a vida que


Deus diz ser plena, perene e que não é destruída pela morte. Precisa-
mos viver como vocacionados para a ressurreição. Somos criados pelo
Autor da vida para viver e dar a vida. Quanto mais dermos a nossa
vida, tanto mais vida receberemos.
“Viver como ressuscitados é ter o olhar transfigurado pelo
Espírito que permite ver beleza e dignidade onde parece só existir lixo
e miséria. É ter ouvidos abertos para, em meio a ruídos dissonantes,
escutar murmúrios e clamores dos que amam e dos que sofrem, e
sentir-se comovido por eles. É sentir na boca o beijo exigente da
fome e da sede de justiça e dar-se em eucarístico alimento para saciá-
las. É estender as mãos para servir e ajudar aqueles que buscam um
rumo em suas vidas solitárias e perdidas, e transmitir-lhes a inefável
experiência de sentirem-se amados, acompanhados e curados em
suas feridas profundas e doloridas.
Viver como ressuscitados é encontrar o segredo da alegria, esse
mistério tão desejado e ansiado pelo coração humano. É ser capacitado
a encontrá-lo longe das drogas, viagens sem volta; longe do artificial
sossego feito de conforto e diversão impunes e atravessado por
urgências compadecidas.
Viver como ressuscitados é experimentar que o centro da vida se
encontra à margem do caminho, muitas vezes ferido e semimorto; é
saber que a criação é feita não para a destruição e a morte, mas para
o baile fecundo que não termina e se desdobra em frutos de paz,
diálogo e convivência.
Viver como ressuscitados é levar, no próprio corpo, as marcas de
Jesus para que a vida por ele dada se manifeste plenamente ao mun-
do. É estar no mundo sem ser do mundo, mas pertencer ao Senhor.
É não ter domicílio em nenhum lugar, mas encontrar o próprio lar
dentro de si mesmo, onde o Espírito do Pai e do Filho faz morada.
Viver como ressuscitados é, em suma, viver urgidos pela caridade,
iluminados pela esperança, suportados pela fé no que ainda não se vê,
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas A

mas se “sabe' que será. É não guardar para si este segredo sussurrado
ao ouvido na manhã do domingo, mas anunciá-lo, sem medo, todos
os dias da semana, convertendo o discipulado em ardente e constante
apostolado” (Maria Clara Bingemer, op. cit.)
Enfim, como lemos no Catecismo da Igreja Católica, n. 995,
“ser testemunha de Cristo é ser testemunha da sua ressurreição
(At 1,22), “ter comido e bebido com Ele após a sua ressurreição
dentre os mortos” (Ap 10,41). A esperança cristã na ressurreição
está toda marcada pelos encontros com o Cristo ressuscitado.
Ressuscitaremos como Ele, com Ele e por Ele”.
Na Liturgia, celebramos esta nossa vocação de ressuscitados. No
Batismo, fomos unidos a Cristo, começamos a participar da vida
celeste de Cristo ressuscitado. Na Eucaristia, somos alimentados com
o Corpo e o Sangue de Cristo, pois já pertencemos a seu Corpo. Com
a oração sobre as oferendas da missa de hoje rezamos: “Ó Deus de
misericórdia, purificai no Sangue de Cristo pelo poder deste sacrifício
os pecados de nossos irmãos e irmãs falecidos e concedei o pleno
perdão do vosso amor aos que lavastes nas águas do Batismo”. Por
isso hoje, neste dia de Finados, celebrando a Eucaristia, recordando
também nosso Batismo, renovamos nossa fé na ressurreição de Cristo
e nossa.
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31º DOMINGO DO TEMPO COMUM

SOLENIDADE DE TODOS OS
SANTOS E SANTAS

04 de novembro de 2012

"NÃO SE MANIFESTOU AINDA O QUE HAVEMOS DE SER”.

Leituras: Ap 7,2-4.9-14
SI 23(24)
1 Jo 3,1-3
Mt 5,1-12a

Situando-nos
Estamos no primeiro domingo do mês de novembro. No Brasil, a
solenidade de todos os santos e santas de Deus é transferida para o
domingo, para que todos os cristãos possam hoje celebrar sua vocação
para a santidade.
No último domingo, tivemos o segundo turno das eleições em
algumas cidades. À partir de agora, vivemos, no contexto munici-
pal, um novo momento político, perante o qual, como comunidade,
somos sinal de unidade, pela qual todos são convidados a tomar
consciência de que somos parte de um mesmo povo. É hora de su-
perar e esquecer divisões que possam ter ocorrido em tempo de
campanha,
Ainda temos presente o dia de Finados, que celebramos na última
sexta-feira, através do qual somos levados a vivenciar a comunhão
dos Santos que professamos na fé.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 84

A solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus, que


celebramos neste domingo, nos lembra que o chamado à santidade é
uma proposta a todos os fiéis para buscarem o seguimento do caminho
do Senhor e para esperarem pela sua ação redentora, testemunhada
através da Igreja.
A liturgia destes dias está, de certa maneira, unida à reflexão
escatológica que os domingos que seguem nos apresentam. Aqui,
com certeza, não se trata de uma especulação sobre o futuro e sim de
uma esperança viva que se experimenta a partir da fé.

Recordando a Palavra
O evangelho traz para nossa meditação a vocação à santidade,
partindo da proclamação das bem-aventuranças.
As bem-aventuranças dentro do Evangelho de Jesus integram
a proclamação da nova aliança, da nova Lei. Através dela Jesus in-
troduz o cumprimento da justiça de Deus e o anúncio de seu Reino
entre nós.

O evangelho diz que Jesus, para proclamar as bem-aventuran-


ças, subiu a montanha. É preciso lembrar que, no contexto bíblico
judaico, “a montanha” é o lugar onde Deus se manifesta e fala com
Moisés e ainda o lugar onde Deus confiou os dez mandamento (a
Lei) a Moisés.
O evangelho fala que, na montanha, Jesus “sentou-se”, “Sentar”
significa que Jesus é mestre, ensina com autoridade. Esta autoridade
se confirma no evangelho, porque ele mesmo vive as bem-aventuran-
ças e nele elas se cumprem.
À nova lei, proposta por Jesus, é apresentada aos discípulos, que
“se aproximaram” e junto dele estão para escutar seus ensinamentos.
O discípulo que está na montanha junto ao mestre participa desta
realidade nova, ao ser destinatário da proclamação e convocado a
testemunhar a ação de Deus. Isto é, os discípulos são proclamados
85 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

felizes, quando se fazem testemunhas de Jesus, em particular quando


perseguidos por causa de seu nome.
O contexto de perseguição e adversidade ao qual aquele que
se faz discípulo está sujeito, conforme a última bem-aventurança
anunciada, aproxima o discípulo ainda mais do seguimento ao
mestre.

Os bem-aventurados, de acordo com o evangelho, cumprem seu


caminho a partir da fé e da esperança.
As promessas das bem-aventuranças anunciam a presença do
Reino que já se cumpriu através da ação redentora de Jesus. Por isso,
para o discípulo, mesmo como promessa, pela fé abraçada no segui-
mento de Jesus, torna-se uma realidade atual e confere-lhe um estado
de bem-aventurado. À acolhida e a vivência da bem-aventurança é o
lugar a partir do qual, no seguimento a Jesus, Deus realiza seu Reino.
O conteúdo da proclamação do Reino, a proposta das bem-aven-
turanças, tem como tema central a justiça do Reino. As bem-aven-
turanças são assim um juízo de Deus sobre os homens, tornando
justos e felizes os que acolhem o reino na fé e o realizam a partir do
seguimento a Jesus.
À proclamação das bem-aventuranças apresenta a ação de Deus
que santifica, torna felizes, isto é, leva a participar de seu Reino aque-
les que estão destituídos da vida e da dignidade humanas e aqueles
cuja prática promove a justiça. |
O programa das bem-aventuranças propõe, pois, através do
conteúdo da promessa, uma ligação entre a primeira e a última. Em
ambas se estabelece a vivência da fé como condição para possuir o
estado de bem-aventurado.
Na primeira, a condição da fé aparece em “felizes os pobres em
espírito”, como despojamento diante dos valores do mundo: dinheiro,
poder e prazer, Na última, a condição da fé aparece como seguimento
e testemunho de Jesus e de sua obra, ao dizer: “felizes sereis quando
vos perseguirem por causa do meu nome”.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

À partir desta fé, Jesus leva o discípulo a testemunhar a ação de


Deus que cumpre a justiça para com “os aflitos”, “os despossuídos” e
aqueles que têm fome e sede de justiça”, como parte de uma promes-
« A º . »»

sa de libertação para a humanidade.


É Deus que se solidariza com o gênero humano da mesma forma
como no Egito, quando libertou o povo da escravidão. À santidade
aqui aparece como pura graça de Deus, como ação de Deus que san-
tifica e restitui vida.
À mesma realidade podemos afirmar a partir das promessas que
Deus fez por meio de profetas, anunciando seu messias.
O discípulo pode ainda experimentar a ação de Deus que justi-
fica, santifica, torna felizes aqueles cujas ações concretizam a prática
da justiça esperada por Deus. Assim, Jesus apresenta como ditosos
aqueles que prestam ajuda”, “os limpos de coração” e “aqueles que
« . » . o €

promovem a paz”.
Enquanto buscamos viver as bem-aventuranças, temos o teste-
munho daqueles que alvejaram a veste no sangue do Cordeiro, o que
se constitui num vivo apelo ao testemunho (martírio). O destaque
que a leitura do Livro do Apocalipse atribui aos eleitos que deram
testemunho do seguimento ao Senhor com suas vidas, perante todos
os demais eleitos, é um vivo apelo à santidade, através da fidelidade e
da entrega radical da vida nas mãos de Deus.

Atualizando a Palavra.
Na festa de Todos os Santos, celebramos a vida daqueles que estão
na glória com o Senhor e nossa comunhão de vida e de fé com eles,
através de Jesus, em quem todos fazem parte de uma mesma Igreja,
Corpo Místico, e de um mesmo mistério pascal que se atualiza em
cada Eucaristia.
Nesta festa de Todos os Santos, queremos refletir sobre a ação de
Deus que nos santifica, contemplando aqueles que já trilharam este
SÁ PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

caminho aqui na terra e hoje estão na glória. Esta festa nos lembra,
em especial, que, como cristãos, devemos ter a esperança de um dia
estar com ele nesta mesma glória. Assim proclamamos que Jesus é o
caminho que nos leva a participar da mesma bem-aventurança.
À leitura do Apocalipse mostra que a santidade abrange uma
multidão, gente de todos os povos, línguas e nações.
Nesta festa, queremos exaltar a força e a ação de Deus que os
levou à santidade, para assim podermos também nós participarmos,
com esperança renovada, desta verdade que os céus nos dão.
Ao refletirmos sobre a santidade proposta na liturgia da Pa-
lavra deste domingo, somos levados a dizer que Jesus se fez fonte
e modelo de santidade, pois nele as bem-aventuranças encontram
realização.
As bem-aventuranças nos ajudam a ver e conhecer o rosto
de Jesus, isto é, a descobrir a santidade de Deus proposta para a
humanidade e a tomar parte nela. Elas ajudam também a mostrar
para onde o olhar de Deus se dirige e qual a vontade de Deus a ser
buscada, para que se realize seu Reino.
O programa de vida que enunciam as bem-aventuranças é o
caminho do discípulo para conhecer Jesus na intimidade e, ao mesmo
tempo, para segui-lo, isto é, tomar parte na realização do Reino de
Deus e de sua justiça entre nós.
À santidade que Jesus nos apresenta e proclama, a partir da ação
de Deus no mundo, é, em primeiro lugar, graça em que Deus restitui
vida e realiza a justiça. Em segundo lugar, é tarefa pela qual Deus
confirma a ação daqueles que colaboram com a realização de seu rei-
no, promovendo o perdão e a paz para todos.
À santidade assim está longe de ser uma prática ritual vazia. Ela
é um efetivo e íntimo convívio e conhecimento do Senhor e de sua
vontade, para O serviço eficaz aos irmãos.
No contexto do Evangelho de Mateus e das bem-aventuranças,
Deus espera de seu povo a prática da justiça, mas não qualquer justiça
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 88

e sim aquela cuja ação devolve esperança e vida. Nestas ações, estão
em destaque aquele que busca ser limpo de coração, sem segundas
intenções, e aquele que é fonte de perdão, pois estes colaboram para
que haja paz, shalom, o bem maior do Reino.
A santidade em Deus não é pieguismo ritualista mas ação de
Deus em favor da vida. À santidade em Deus, presente no meio do
povo e apresentada por Jesus no evangelho, confirma a fé daqueles
que, contra as certezas do mundo, pautam sua ação pelo cumprimen-
to das promessas do Senhor e pela realização de seu Reino.
Para nos abrirmos a este caminho de santidade no seguimento
de Jesus, devemos hoje ser sensíveis aos apelos daqueles que são os
aflitos, os desprovidos, os que têm fome e sede de justiça, para lhes
sermos anúncio vivo, sinal da presença de Deus entre nós.
A palavra de Deus, especialmente através das bem-
aventuranças, é critério para avaliarmos nossas práticas espirituais,
devoções, participação na comunidade. À vida de santidade, que
hoje celebramos na festa de Todos os Santos, é comunhão destes
no Senhor e realização das bem-aventuranças em suas vidas, como
cumprimento do Reino definitivo.
Perguntemo-nos: nossa pratica de fé e busca de santidade con-
segue despertar para a vida e a necessidade dos irmãos? Onde nosso
compromisso com os outros consegue fazer parte de nossa oração e
busca de Deus?

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Na Prece Eucarística II, assim rezamos: “Na verdade, ó Pai, vós sois
santo e fonte de toda a santidade!” Isto depois de termos cantado
solenemente: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo!”
Na Sacrosanctum Concilium n. 8, encontramos uma bela reflexão
sobre a unidade da Igreja Peregrina e da Igreja Celeste, que acontece
em cada celebração litúrgica: “Na liturgia terrena nós participamos,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

saboreando-a já, da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de


Jerusalém, para a qual nos encaminhamos como peregrinos, onde o
Cristo está sentado à direita de Deus, qual ministro do santuário e do
verdadeiro tabernáculo; com toda a milícia do exército celeste entoa-
mos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos,
esperamos fazer parte da sociedade deles; esperamos pelo Salvador,
nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste, e nós
apareceremos com ele na glória”.

Enfim, em cada celebração eucarística somos convidados a parti-


cipar do banquete nupcial, da ceia do Cordeiro imolado. Um dia, no
céu, participaremos, com todos os anjos e santos, desta mesma Ceia,
não mais com o Pão e o Vinho, mas na presença, face a face, de Jesus.
À mesa do altar é “a mesa dos peregrinos”, conforme rezaremos
na oração após a comunhão.

Sugestões para a celebração “O


a) Para a homilia, pode-se tomar o texto do prefácio da solenidade
de hoje ou as orações presidenciais, para ajudar os participantes
da liturgia a celebrarem o mistério pascal da festa de hoje, e não
ficarem limitados à devoção de um santo da comunidade ou de
escolha pessoal. Diz o prefácio: “Festejamos, hoje, a cidade do
céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os san-
tos, vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor. Para essa
cidade caminhamos, pressurosos, peregrinando na penumbra da
fé. Contemplamos, alegres, na vossa luz tantos membros da Igre-
ja, que nos dais como exemplo e intercessão”.
b) Outra sugestão para a homilia é esclarecer a diferença entre
“adoração” (dirigida somente a Deus) e “veneração” (dirigida aos
santos), visto que há muitas dúvidas referentes a este assunto.

c) Cantar solenemente, bem ensaiado, com voz forte, vibrante, o


'Santo' do prefácio.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

d) Destacar ou enfeitar as imagens dos santos, existentes na igreja,


ou levá-las em procissão e colocá-las em lugar adequado, sem
tirar a centralidade do altar, do ambão e da cadeira presidencial.

e) Em substituição às preces, fazer a ladainha de todos os santos,


incluindo santos da comunidade, de maior devoção popular,
também os bem-aventurados e santos brasileiros.
f) Ao final da celebração, se oportuno, fazer um ato de devoção
especial ao padroeiro(a) da comunidade.
g) Abençoar e enviar o povo com a bênção solene sugerida pelo
Missal Romano.
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4

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM

11 de novembro de 2012

"DEUS AMA À QUEM DÁ COM ALEGRIA!”

Leituras: 1 Reis 17,10-16


Salmo 145 (146),7.8-9a.9bc-10
Hebreus 9,24-28
Marcos 12,38-44

Situando-nos
Estamos chegando ao final do Ano Litúrgico. Hoje celebramos o
32º domingo do Tempo Comum. Jesus continua o ensinamento aos
discípulos, agora, já em Jerusalém, depois de sua entrada triunfal
(cf. Mc 11,1-11).
À Liturgia da Palavra nos apresenta duas viúvas — a de Sarepta
e a que colocou sua esmola no cofre do Templo de Jerusalém. Na
22 leitura, estamos em outro Templo, não no de Jerusalém, mas no
Santuário que é o próprio corpo de Cristo, simbolizado em sua Igreja
reunida.
Fiquemos atentos, na celebração de hoje, a muitas “viúvas” que
trazem para nossas celebrações suas vidas, seus sofrimentos, suas
dores, suas esperanças. Que nossa assembleia litúrgica esteja aberta
a todos que a compõem. Todos os que exercerem algum ministério,
nesta celebração, estejam a serviço daqueles que estão dispostos a
ouvir a Boa Nova e a oferecer suas vidas ao Pai, por Cristo, no
Espírito Santo. Que possamos todos fazer de nossa vida uma oferta
agradável a Deus e aos irmãos.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 92

Recordando a Palavra
O evangelho deste domingo narra uma das cenas em que Jesus entra
em conflito com os chefes religiosos de Jerusalém. Hoje, o motivo
do conflito é a ostentação por parte dos doutores da Lei e a oferta
dos pobres e pequenos. “Gente simples, fazendo coisas pequenas
em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”
(provérbio africano, citado por Dom Moacyr Grecchi, arcebispo
emérito de Porto Velho, no XII Intereclesial de CEBS).
Os doutores da Lei (escribas), para não serem confundidos com
as pessoas simples do povo e para afirmarem sua pertença a uma
classe distinta, usavam distintivos e trajavam longas e vistosas ves-
tes. Eles tinham o intuito de atrair a atenção de todos, nos locais
por onde passassem, e serem alvo de todos os privilégios. Exigiam
tratamento diferenciado no tocante à saudação, à sua passagem pelas
ruas. Requeriam os primeiros lugares nos banquetes e o silêncio ob-
sequioso, quando algum deles falava. Os escribas interpretavam os
preceitos do Senhor, as prescrições ao povo de Israel e julgavam, nos
tribunais, os que não cumpriam a lei.
Ás viúvas eram o grupo social mais explorado pelos escribas. “Na
sociedade antiga a mulher não tinha independência; era membro de
uma família e dependente do pai ou do marido. À situação da viúva,
portanto, era difícil. Vestia roupa que indicava a sua condição. Não
recebia herança do marido. Se ficasse sem filhos voltava à casa do pai.
À mulher que não tinha nenhum homem para defender seus direitos
era evidentemente vítima das extorsões dos credores e de todo o tipo
de opressão. À viúva não tinha sequer um defensor legal e, portanto,
ficava à mercê dos juízes desonestos. Os profetas incluíam a opressão
das viúvas entre os crimes dos quais acusavam os israelitas” (Dicio-
nário Bíblico, Paulinas, 1984, pág. 968).
Neste contexto, percebemos o quanto o ensinamento de Jesus
“mexeu na posição de alguns privilegiados”, como canta Pe. Zezinho
na canção “um certo galileu”. De um lado, encontramos, portanto, os
93 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

doutores da Lei e os escribas, cuja prática não deve servir de modelo


para ninguém. De outro, o exemplo da viúva que deu tudo o que
tinha, sem constrangimento. À viúva entrega todo seu sustento,
numa atitude de total confiança e esperança em Deus “que é fiel
para sempre; faz justiça aos oprimidos; dá alimento aos famintos”,
conforme cantamos no salmo responsorial de hoje (Sl 145).
O profeta Elias, fugindo das ameaças da poderosa rainha Jesa-
bel, por ter sido considerado culpado da maldição que se abateu sobre
o povo, devido à seca prolongada e pela consequente fome, encontra
hospitalidade em terra pagã. A fome castigava a terra que tinha Baal
como “deus da chuva e da fertilidade”,
Elias, escapando da perseguição e da fome, refugia-se em Sa-
repta, pequeno povoado da Fenícia. É aí, nesta região pagã, que
Deus vem em socorro de Elias, por intermédio de uma viúva po-
bre e pagã. À viúva ia comer o que restava de comida para ela e o
filho. À seca serve, então, para mostrar que o Deus de Israel é o
verdadeiro doador da chuva. Único e supremo Senhor da natureza,
Deus é o senhor da vida, ele dá o trigo e o azeite também para a
viúva pagã e seu filho. Nosso Deus é o Deus da vida e vida para
todos.
Muito importante ressaltar a confiança da viúva no Deus do pro-
feta Elias. Ela repartiu o pouco que tinha e seu gesto não ficou sem
resposta.
Na 2a leitura, continuamos ouvindo a carta aos Hebreus.
Os versículos de hoje pertencem à segunda parte da carta (5,11-
10,39). Jesus Cristo é o único e verdadeiro sacerdote que exerce
seu ministério num santuário que não foi construído por mãos
humanas. Ele se oferece, uma vez por todas, num sacrifício
perfeito, como gesto de amor para o perdão dos pecados e, na
segunda vinda, para tornar participantes de sua glória todos os que
nele perseverarem.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 94

Atualizando a Palavra
Diante do gesto da pobre viúva, Jesus chamou os discípulos para
conversar e ensinar. Diante da sociedade utilitarista e daqueles que
alicerçam suas vidas sobre os critérios da aparência e da generosidade
calculada, Jesus nos chama para conversar e ensinar. Diante deste
mundo no qual o dinheiro, o status, o sucesso são mais valorizados
que as pessoas e seus sentimentos, Jesus nos chama para conversar e
ensinar.
Mesmo no interior da Igreja, contra toda a lógica do evangelho,
há aqueles que fazem de sua vida uma corrida em busca de honrarias,
prestígio e aplausos. Iludem-se, pois a fama pela fama, a aparência
pela aparência, só traz um imenso vazio. No passado, Jesus alertou
os discípulos: “Guardai-vos dos escribas”. Hoje ele avisa: “Não se
iludam com os modelos de sucesso que existem por aí”.
Jesus reprova nos escribas a cegueira espiritual. Eles eram os espe-
cialistas no conhecimento e na interpretação dos preceitos do Senhor.
Sua prática, porém, não se conformava com seus conhecimentos e suas
interpretações. Há muitos cristãos que, teoricamente, conhecem muito
bem os critérios evangélicos e os preceitos da vida cristã, todavia “fazem
o bem, pensando em si”. Na prática comunitária, não mergulham no
espírito e, consequentemente, se tornam mesquinhos e intolerantes. O
Mestre alerta seus discípulos para a verdadeira prática religiosa. Esta não
consiste na busca de honrarias, no ocupar lugares de destaque nas come-
morações públicas, no uso ostensivo de vestes e de sinais externos para
chamar atenção sobre si. À verdadeira prática religiosa brota da genero-
sidade e da humilde dedicação aos pobres e necessitados (cf. Tg 1,27). O
seguimento de Jesus se caracteriza pela doação, pela solidariedade.
Jesus contrapõe ao modo hipócrita do agir dos escribas e ricos
senhores do templo a generosidade e a religiosidade sincera de uma
pobre viúva. Despojada dos bens terrenos, doa tudo o que possui,
demonstrando que sua confiança e segurança estão nas mãos de Deus. E
a generosidade radical. Ela não doou o supérfluo, manifestou uma
95 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

generosidade gratuita, no sentido da entrega total, sem esperar nada em


troca. “Sua humilde esmola vale mais do que abundantes doações dos
ricos, pois estes dão do supérfluo, enquanto que a viúva oferece a Deus o
que ela necessitava para viver”.
A Liturgia da Palavra de hoje nos faz lembrar que a grande
maioria de nosso povo é muito generoso. Basta avaliar a pronta
resposta diante de certas calamidades provocadas por seca ou por
enchentes. Multiplicam-se as toneladas de donativos. Felizmen-
te, existem muitas “viúvas de Sarepta”, como a do evangelho, que
anonimamente vivem da certeza de que “Deus abençoa quem gene-
rosamente partilha seus próprios bens”. Vivem na gratuidade. Não
porque ter bens materiais seja uma coisa ruim, mas pelo fato de eles
assim cumprirem sua finalidade: serem colocados à disposição de
quem deles necessita. À partilha generosa e solidária multiplica as
soluções de problemas que parecem insolúveis. Enquanto a ganân-
cia provoca a fome e a miséria, a partilha solidária multiplica as
possibilidades de vida digna.
Não nos esqueçamos que, além de nossos bens materiais, é preci-
so também partilhar nosso tempo e nossos dons pela causa do Reino
de Deus. Às vezes, pode ser mais fácil dar em forma de dinheiro, do
que mexer em nosso tempo.

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


A Eucaristia é memorial da entrega, da oferta total que Jesus faz de
si mesmo. Ele faz de sua vida uma oferta a Deus Pai e à humani-
dade. À generosidade das viúvas do Antigo e do Novo Testamento,
que doaram tudo o que possuíam e a si mesmas, são prefigurações e
expressões da atitude sacerdotal de Jesus (cf. 2º leitura).
À Eucaristia é ação de graças pela criação, pela ação de Deus na
história. pelo próprio dom de Jesus Cristo, que livremente se entrega

4 J. Konings, Liturgia da Palavra, caminho de fé - Ano B — Jesus o Messias. p. 63.


Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

por nós e por amor ao Pai. À doação incondicional de Jesus é uma


ação profundamente humana de entrega, pela qual se expressa o amor
de Deus por nós. Ação que nos convida a fazer também de nossa vida
uma doação. É essencial ao espírito da celebração eucarística o gesto
da solidariedade com os pobres e esquecidos.
“Olhai, com bondade, o sacrifício que destes à vossa Igreja e
concedei aos que vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice
que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, nos tornemos em
Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória” (oração euca-
rística IV).
Santo Agostinho afirma: “Cristo se entregou uma vez para que
nós nos convertêssemos em seu corpo. Mas quis que fizéssemos desta
sua entrega um sacramento cotidiano no sacrifício da Igreja, que, as-
sim, pelo fato de ser corpo de Cristo-cabeça, aprenda a oferecer-se a
si mesma nele, e assim se realiza cada vez o melhor sacrifício, ou seja,
nós mesmos, cidade de Deus, quando em nossa oblação celebramos
o sacramento do sacrifício”.
A celebração eucarística, memorial da entrega total de Cristo, é
um convite à comunidade para se unir à sua oferta. O gesto de levar
o pão e o vinho em procissão ao altar é mais do que um simples rito
funcional, expressa que toda a comunidade se incorpora efetiva e ati-
vamente ao sacrifício de Jesus Cristo (cf. SC 48), doando o fruto de
seu trabalho. O fruto da Eucaristia, tal como se suplica na segunda
invocação ao Espírito Santo, é que nossa assembleia se converta em
“oferenda permanente” e em “hóstia viva”.
O rito da coleta de dons e sua procissão ao altar junto com o pão
e o vinho, além de simbolizar a vida da comunidade, a gratidão por
todas as bênçãos e favores recebidos de Deus, expressa a capacidade
de comunhão e de solidariedade das pessoas reunidas em assembleia
eucarística. Por esta razão, rezamos na oração do dia: “Deus de poder

5 Santo Agostinho, De Civitate Dei 10,6. citado por José Aldazábal, À Eucaristia, p. 261.
97 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente


disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço.

Sugestões para a celebração


a) À equipe de liturgiaé um serviço importante para a comunidade
de fé. É importante preparar a celebração, mas antes, preparar-
se para a celebração. Inspiremo-nos sempre na Liturgia deste
domingo, o “domingo da generosidade total”.
b) Vamos sempre cuidar da acolhida às pessoas: tantas “pobres vi-
úvas” devem sentir-se acolhidas e não julgadas pelo que têm ou
podem dar.
c) Pode-se valorizar e motivar a preparação das oferendas — com
breves palavras explicar o sentido da coleta de dons (as esmolas)
e, depois, em procissão com o pão e o vinho e as doações (como
alimentos e roupas) da comunidade, levar tudo ao altar, cantan-
do: “Deus ama a quem dá com alegria!”
d) Antes de iniciar a Prece Eucarística, quem preside pode lembrar
as atividades da comunidade que acolhem e auxiliam as pessoas
pobres e necessitadas, expressão da caridade solidária da assem-
bleia reunida, que prolonga o gesto de doação de Jesus Cristo.
e) Na fração do pão eucarístico, o ministro destaque bem o gesto
do “partir o pão”, sem teatralizar, de modo que toda a assembleia
acompanhe o gesto, cantando “Cordeiro de Deus.
E” CO AEE SS Cet ço E my

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM

18 de novembro de 2012

"APRENDE, POIS, A PARÁBOLA DA FIGUEIRA”.

Leituras: Daniel 12,1-3


Salmo 15 (16),5 e 8.9-10.11
Hebreus 10,11-14.18
Marcos 13,24-32

Situando-nos
Na caminhada do ano litúrgico, chegamos ao penúltimo domingo
do Tempo Comum. Como em todos os domingos, celebramos o
mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo, com o qual o mundo
e a história mergulham na plenitude dos tempos.
A celebração deste domingo nos motiva a assumir a condi-
ção de peregrinos nesta terra, onde tudo é efêmero e provisório.
O céu ea terra passarão, a Palavra de Deus não passará. Ele nos
pede vigilância e discernimento ativo dos sinais dos tempos, em
atitude de esperança pela manifestação gloriosa da majestade do
Senhor.
Aguardando a plena manifestação de Deus na plenitude dos
tempos, vivamos intensamente o presente, nos esforçando em dar
o melhor de nós, na esperança de que um mundo novo é possí-
vel. Enquanto aguardamos a vinda final de Jesus, não podemos
ficar parados. Novos céus e nova terra são possíveis, começando
aqui e agora.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Recordando a Palavra
Durante o ano B, que estaremos concluindo no próximo domingo,
fomos sendo guiados pelo evangelista Marcos. Hoje, ao lermos os
versículos 24 a 32 do capítulo 13, ficamos preocupados em compre-
ender a boa nova que nos está sendo anunciada.
Jesus está em Jerusalém. Ali, sua atividade gira em torno do
templo e do culto. Ele termina com um amplo e enigmático ensi-
namento, tendo como ponto de partida o templo de Jerusalém. Na
Bíblia do Peregrino, p. 2433, encontramos o seguinte comentário:
“Chegamos ao capítulo mais difícil deste evangelho, o chamado
discurso escatológico. Difícil, porque fala de acontecimentos futuros
mal conhecidos em seu desenvolvimento; difícil, porque se refere a
tempos de crise, confusos por natureza, e também porque empre-
ga imagens e uma linguagem marcada pelas alusões enigmáticas,
reticências enunciadas, ocultação tática. Para interpretá-lo em seu
conjunto (e não nos detalhes) é preciso ter presente: a) a intenção pri-
meira não é satisfazer a curiosidade de agoureiros e de seus clientes
crédulos; b) a formação de atitudes é muito mais importante do que a
mera informação. Por isso devem-se destacar as admoestações à cau-
tela e à vigilância. Atitudes especialmente necessárias em tempo de
crise; c) este estilo de literatura já está presente na literatura profética
do Antigo Testamento, por isso, devemos ter presente a história do
povo de Israel para interpretá-las; d) toda essa literatura se presta a
interpretações e aplicações variadas. Assim, pois, resulta verossímil e
provável uma instrução de Jesus a seus discípulos para a crise que se
avizinha e para o futuro”.
Esta pequena explicação nos ajuda a não nos preocuparmos em
entender e explicar cada uma das expressões do evangelho de hoje. E
preciso ver mais o “contexto” do que o “texto”.
. . (4 » (4 2

Através da linguagem apocalíptica, o Evangelista deseja auxiliar


a primitiva comunidade cristá na compreensão da destruição da
cidade de Jerusalém e de seu majestoso templo, ocorrida no ano
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 0

70, e das sucessivas perseguições a que era submetida. À luz dos


acontecimentos, havia quem entendesse os últimos tempos como
intervenção avassaladora de Deus.
Marcos elabora uma catequese sobre os últimos tempos, o retor-
no do Filho de Deus e a salvação dos eleitos que perseveraram. Ele
tem como objetivo animar e fortalecer a perseverança e a esperança
dos seguidores de Cristo. As comunidades devem confiar na “revela-
ção gloriosa do Senhor”. Neste dia, se manifestará a justiça de Deus,
os inimigos serão derrotados e os bons glorificados.
Seguindo o estilo das narrativas apocalípticas, o evangelho des-
te domingo utiliza imagens fortes: “o sol vai ficar escuro, a luz não
brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu, e os poderes do
espaço ficarão abalados” (vv. 24 e 25). Em meio a todos estes sinais,
se manifestarão o poder e a majestade de Deus pela manifestação
gloriosa do Filho do Homem (v. 26). “Ele enviará os anjos dos quatro
cantos da terra, e reunirá as pessoas que Deus escolheu” (v 27). É a
hora do julgamento dos que se opuseram ao projeto de Deus e da sal-
vação de todos quantos resistiram, permanecendo fiéis. O evangelho
traz duas sentenças solenes. À primeira se refere à lógica da figueira.
Por esta, Marcos ressalta que, face aos fatos e às perseguições, os
cristãos devem discernir e esperar, confiantes na ação de Deus. É um
aviso de que, dos escombros das estruturas do velho mundo brotarão
um novo céu e uma nova terra. À segunda sentença evoca o desco-
nhecimento “quanto ao dia e a hora em que estas coisas acontecerão”
(v. 32). “Somente o Pai é quem sabe”. Isto desqualifica as especula-
ções, a curiosidade e os movimentos milenaristas quanto à segunda
vinda do Filho de Deus. Assim, o evangelho, mais do que suscitar
um clima de terror e de medo, enfatiza o aspecto positivo do fim dos
tempos: a esperança da vitória e da salvação, isto é, a presença glorio-
sa e poderosa do Filho de Deus (evangelho).
Há uma pergunta que não quer calar: “mas quando acontecerá
tudo isso?” Será no dia 12/12/2012 como alguns estão anunciando? A
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

resposta de Jesus supera toda e qualquer curiosidade e banalidade:


primeiro, é preciso ver os sinais do Reino já presentes na história;
segundo, confiar na Palavra de Deus, pois os sinais passam, mas a
Palavra permanece para sempre; por último, só o Pai sabe o dia e a
hora, de forma que não cabe à comunidade cristã especular sobre esse
assunto.
À realidade da esperança está presente também no apocalipse do
Livro de Daniel (1a Leitura). Deus está ao lado e é companheiro dos
que praticam a justiça. À vitória final será de Deus e daqueles que a
ele são fiéis. O Profeta Daniel quer infundir ânimo em seus leitores
para que permaneçam fiéis à fé, embora inseridos num ambiente hos-
til. O livro de Daniel foi escrito com o objetivo de animar e confortar
os judeus fiéis, que estavam sendo oprimidos pela dominação grega
dos selêucidas. O rei Antíoco IV queria obrigar os judeus a abando-
narem sua religião e seu Deus e adotarem os costumes pagãos.
Quem, diante das perseguições, das catástrofes da natureza, das
crises pessoais e sociais, age na integridade e pratica a justiça; quem
não prejudica seu próximo; quem honra e teme o Senhor jamais será
abalado (salmo responsorial).
À atitude da esperança evidencia-se igualmente na leitura da carta
aos Hebreus (22 leitura): As comunidades tomadas pelo desânimo, em
meio às perseguições, perpetuam o sacrifício de Jesus Cristo. Embora
a situação social e comunitária não evidencie o novo, um dia Cristo
vencerá, colocando seus inimigos sob seus pés (v.13). A Carta reafirma
a superioridade do sacerdócio de Cristo e acentua o contraste entre o
sacerdócio/sacrifício de Cristo, que é único e eficaz, e o sacerdócio/
sacrifício da antiga Lei. A oferenda de Cristo é única e verdadeira.

Atualizando a Palavra
Não são poucos os cristãos que hoje ficam preocupados com as
afirmações o sol “está escurecendo”, a lua “não brilha mais”, estrelas
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas ,

“começarão a cair do céu” e as “forças do céu... serão abaladas”. Não


faltam visões de anjos, arcanjos, querubins e serafins “subindo e
descendo em todas as direções”. Seria esta a mensagem do evangelho
de Jesus, hoje proclamado?
Quais ou quem são hoje “o sol, a lua, as estrelas, as forças do
céu, os anjos...”, sinais ou símbolos das realidades que marcam nosso
tempo? Os Bispos do Brasil, ao definirem as Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2012-2015), descrevem as
“marcas de nosso tempo”. Os números 17 a 24 deste documento nos
ajudam muito a atualizar a Palavra hoje proclamada,
“17. O discípulo missionário sabe que, para efetivamente anun-
ciar o Evangelho, deve conhecer a realidade à sua volta e nela mergu-
lhar com o olhar da fé, em atitude de discernimento. Como o Filho
de Deus assumiu a condição humana, exceto o pecado, nascendo e
vivendo em determinado povo e realidade histórica (cf. Lc 2,1-2),
nós, como discípulos missionários, anunciamos os valores do Evan-
gelho do Reino na realidade que nos cerca, à luz da Pessoa, da Vida
e da Palavra de Jesus Cristo, Senhor e Salvador.
18. O Concílio Vaticano II nos conclama a considerar atenta-
mente a realidade, para nela viver e testemunhar nossa fé, solidá-
rios a todos, especialmente aos mais pobres. Sabemos, porém, que
nem sempre é fácil compreender a realidade. Ela é sempre mais
complexa do que podemos imaginar. Nela existem luzes e som-
bras, alegrias e preocupações. Daí a contínua atitude de diálogo, de
evangélica visão crítica, na busca de elementos comuns que permi-
tam, em meio à diversidade de compreensões, estabelecer funda-
mentos para a ação.
19. Estamos diante de uma globalização que não é apenas
geográfica, no sentido de atingir todos os recantos do planeta.
Estamos, na verdade, diante de transformações que atingem também
todos os setores da vida humana, de modo que já não vivemos uma
“época de mudanças, mas uma mudança de época. O que antes
era certeza, até bem pouco tempo, servindo como referência para
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

viver, tem se mostrado insuficiente para responder a situações novas,


“deixando as pessoas estressadas ou desnorteadas”,
20. Mudanças de época são, de fato, tempos desnorteadores,
pois afetam os critérios de compreensão, os valores mais profundos,
a partir dos quais se afirmam identidades e se estabelecem ações e
relações. Várias atitudes podem, então, surgir nestes períodos histó-
ricos. Duas, no entanto, se destacam. De um lado, é o agudo relati-
vismo, próprio de quem, não devidamente enraizado, oscila entre as
inúmeras possibilidades oferecidas. De outro, são os fundamentalis-
mos que, se fechando em determinados aspectos, não consideram a
pluralidade e o caráter histórico da realidade como um todo. Estas
duas atitudes desdobram-se em outras tantas como, por exemplo, o
laicismo militante, com posturas fortes contra a Igreja e a Verda-
de do Evangelho; a irracionalidade da chamada cultura midiática; o
amoralismo generalizado; as atitudes de desrespeito diante do povo;
um projeto de nação que nem sempre considera adequadamente os
anseios deste mesmo povo.
21. Os critérios que regem as leis do mercado, do lucro e dos
bens materiais regulam também as relações humanas, familiares e
sociais, incluindo certas atitudes religiosas. Crescem as propostas
de felicidade, realização e sucesso pessoal, em detrimento do bem
comum e da solidariedade. Não raras vezes, o individualismo des-
considera as atitudes altruístas, solidárias e fraternas. Por vezes, os
pobres são considerados supérfluos e descartáveis. Desta forma, fi-
cam comprometidos o equilíbrio entre os povos e nações, a preserva-
ção da natureza, o acesso à terra para trabalho e renda, entre outros
fatores. É preciso pensar na função do Estado, na redescoberta de
valores éticos, para a superação da corrupção, da violência, do narco-
tráfico, bem como o tráfico de pessoas e armamentos. À consciência
de cocidadania está comprometida. Em situação de contradições
e perplexidades, o discípulo missionário reage, segundo o espí-
rito das bem-aventuranças (cf. Mt 5,1ss), em defesa e promoção
da vida, negada ou ameaçada por várias formas de banalização e
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas | ê á

desrespeito. Como não reagir diante da manipulação de embriões,


homicídios, prática do aborto provocado, ausência de condições mí-
nimas para uma vida digna com educação, saúde, trabalho, moradia,
enfim, da ausência de efetiva proteção à vida e à família, às crianças
e idosos, com jovens despreparados sem oportunidade para ocupação
profissional?
22. O discípulo missionário observa, com preocupação, o surgi-
mento de certas práticas e vivências religiosas, predominantemente
ligadas ao emocionalismo e ao sentimentalismo. O fenômeno do in-
dividualismo penetra até mesmo certos ambientes religiosos, na busca
da própria satisfação, prescinde-se do bem maior, o amor de Deus e
o serviço aos semelhantes. Oportunistas manipulam a mensagem do
Evangelho em causa própria, incutindo a mentalidade de barganha
por milagres e prodígios, voltados para benefícios particulares, em
geral vinculados aos bens materiais. Exclui-se a salvação em Cristo,
que passa a ser apresentada como sinônimo de prosperidade material,
saúde física e realização afetiva. Reduzem-se, deste modo, o sentido
de pertença e o compromisso comunitário-institucional. Surge uma
experiência religiosa de momentos, rotatividade, individualização e
comercialização. Já não é mais a pessoa que se coloca na presença de
Deus, como servo atento (cf. 1Sm 3,9-10), mas é a ilusão de que Deus
pode estar a serviço das pessoas.
23. Importa discernir os motivos pelos quais uma ilusão tão
grave assim acaba por adquirir força em nossos dias. Às causas são
muitas e interligadas. Dizem respeito às incontáveis carências das
mínimas condições que grande parte de nossa população tem para
enfrentar problemas ligados à saúde, à moradia, ao trabalho e às
questões de natureza afetiva. Dizem ainda respeito às incertezas de
um tempo de transformações, que levam algumas pessoas a busca-
rem tábuas de salvação, agarrando-se ao que mais imediatamente
se encontra ao alcance. Assim, surgem os diversos tipos de funda-
mentalismo que atingem o modo da leitura bíblica e os demais as-
pectos da vida humana e social. Quando aliado ao individualismo,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

o fundamentalismo torna-se ainda mais perigoso, pois impede que


se perceba o outro como diferente. Este, contudo, é também apelo
ao encontro e ao convívio. O amor ao próximo, especialmente aos
mais pobres, tende a desaparecer destas propostas, que acabam se
tornando uma espécie de culto de si mesmo.
24. Tempos de transformações tão radicais, por certo, nos afli-
gem, mas também nos desafiam a discernir, na força do Espírito
Santo, os sinais dos tempos. Mudanças de época pedem um tipo es-
pecífico de ação evangelizadora, a qual, sem deixar de lado aspectos
urgentes e graves da vida humana, preocupa-se em ajudar a encontrar
e estabelecer critérios, valores e princípios. São tempos propícios para
volta às fontes e busca dos aspectos centrais da fé. Esta é a grande
diretriz evangelizadora que, neste início de século XXI, acompanha
a Igreja: não colocar outro fundamento que não seja Jesus Cristo,
o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13,8). A espiritualidade, a
vivência da fé e do compromisso de conversão e transformação nos
orientam para a construção da caridade, da justiça, da paz, a partir
das pessoas e dos ambientes onde há divisão, desafetos, disputas pelo
poder ou por posições sociais. Este é um tempo em que, através de
novo ardor, novos métodos e nova expressão”, respondamos missio-
nariamente à mudança de época com o recomeçar a partir de Jesus
Cristo.”

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


À ação eucarística é vivência antecipada da manifestação gloriosa de
Cristo, acontecendo hoje, pela prática da fé e da caridade solidária.
“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressur-
reição, enquanto aguardamos vossa vinda”. Há íntima unidade entre
a ação litúrgica e a escatologia, espera da vinda de Cristo. “Maranátha”
( 1Cor 16,22). “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20). “Venha o Senhor,
passe o mundo”, Em cada celebração eucarística, renova-se para a
Igreja a esperança do retorno glorioso de Cristo. Sempre renovada,
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas | 0) q

ela reafirma o desejo do encontro final com Aquele que virá para
realizar seu plano de salvação universal*.
Na celebração litúrgica da comunidade terrena, nós participamos,
já a saboreando, da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de
Jerusalém, para a qual nos encaminhamos (cf. SC, n. 2) como peregrinos.
À eucaristia que celebramos é memória da “volta do Senhor”.
Paulo afirma: “todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse
cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,26).
O pão e o vinho, frutos do trabalho humano, transformados pela for-
ça do Espírito Santo no Corpo e no Sangue de Cristo, tornam-se o penhor
de “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1), que a Igreja anuncia em sua
missão cotidiana. No Cristo presente no mistério eucarístico, o Pai pro-
nuncia a palavra definitiva sobre a humanidade e sobre sua história.
À ação litúrgica (em particular a Eucaristia), ao mesmo tempo
em que do presente resgata o passado, projeta ao futuro, inserindo
seus participantes no “tempo novo”: “Assim como aqui nos reunistes,
ó Pai, à mesa do vosso Filho... reuni no mundo novo, onde brilha a
vossa paz, os homens e as mulheres de todas as classes e nações, de
todas as raças e línguas, para a ceia da comunhão eterna, por Jesus
Cristo, nosso Senhor” (Oração Eucarística sobre Reconciliação IT).

Sugestões para a celebração


À equipe de liturgia, como um serviço importante para a comunidade
de fé, ao preparar a celebração do penúltimo domingo do Tempo
Comum, dará particular atenção a algumas partes e a alguns gestos
da celebração, a seguir indicados.
a) Acolhida fraterna a todas as pessoas que se reúnem para celebrar.
Elas esperam ser bem acolhidas na comunidade litúrgica.

b) Nos comentários, na homilia e nas preces, sublinhar a dimensão

6 cf. João Paulo II, Eucaristia e Missão, 19 de abril de 2004.


PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

da esperança. Num tempo em que se multiplicam os profetas da


desesperança e do derrotismo, as comunidades cristãs são desa-
fiadas a serem sinais vivos de esperança,
Oração Eucarística — cuidar para que ela seja a grande ação de
graças pela salvação que o Senhor nos comunica hoje e sempre,
até a chegada do dia eterno do Pai. Cantar o Santo” no prefácio,
as aclamações e o amém da doxologia,

d) Ressaltar a fração do pão eucarístico. Enquanto o ministro parte


o pão com calma e dignidade, a assembleia canta “Cordeiro de
Deus que tirais o pecado do mundo...”;
Silêncio após a comunhão — possibilitar à comunidade celebrante
instantes de silêncio e depois cantar: o Magnificat ou Quando o
dia da paz renascer.

Lembrar que dia 22/11, quinta-feira é o Dia Nacional de Ação


de Graças. Quando dizemos “obrigado”, reconhecemos o dom
que é o outro para nós. Quando rendemos graças a Deus, reco-
nhecemos o dom de seu amor por nós, manifestado em tantas
atenções e gestos de carinho. Neste dia, celebre com sua família,
com seus colegas de trabalho, com sua comunidade um momen-
to especial de ação de graças a Deus. Diga sempre obrigado, por-
que não conquistamos nada sozinhos!

g) Nesta semana, lembramos vários mártires e santos.

Na segunda-feira, dia 19, lembramos os Santos Mártires do Rio


Grande do Sul - Roque González, Afonso Rodriguez e João del
Castillo (+ 1628). Roque González introduziu um novo estilo de
evangelização dos índios guaranis. Fundou as “reduções” para proteger,
organizar e educar os índios. Foi por eles chamado de “pai e protetor”.
Junto com seus dois companheiros, foi traiçoeiramente morto. Foram
canonizados por João Paulo II, em 1988. Hoje pedimos: “Senhor, que
a vossa Palavra cresça nas terras onde os vossos mártires a semearam
e seja multiplicada em frutos de justiça e de paz”.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas e

) Na quarta-feira, dia 21, fazemos memória da Apresentação de


Nossa Senhora. Celebramos a primeira doação que Maria fez de
si própria, tornando-se modelo de toda pessoa que se consagra
ao Senhor. Todos somos um presente de Deus para os outros.
Como Maria, devemos oferecer a Deus aquilo que recebemos.

) Na sexta-feira, dia 22, fazemos memória de Santa Cecília, pa-


droeira dos músicos. Ela destacou-se por sua inteligência e dons
musicais. Conta a história que, ao ser martirizada, morreu can-
tando. Que possamos, pela música, cantar os louvores e as ações
de Deus em nossa vida.
a

34º DOMINGO DO TEMPO COMUM

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR


JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO

25 de novembro de 2012

VENHA A NÓS O VOSSO REINO!

Leituras: Daniel 7,13-14


Salmo 92 (93),1ab.1c-2.5
Apocalipse 1,5-8
João 18,33b-37

Situando-nos
Com a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, encerramos o
Ano Litúrgico. Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega, o começo e o fim
da história humana, que Deus transforma em história da salvação.
A festa de Cristo Rei foi instituída, como celebração litúrgica,
pelo Papa Pio XI em 1925. O Papa fixou o último domingo de
outubro como data da festa de Cristo Rei, tendo em vista, sobretudo,
a festa subsequente de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse
abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”.
A reforma litúrgica do Vaticano II transferiu a data do último
domingo de outubro para o último domingo do Tempo Comum.
Desse modo, concedeu à celebração um significado mais amplo,
sublinhando a dimensão escatológica do reino em sua consumação
final. Com esta mudança, Cristo aparece como centro e senhor da
história, Alfa e Omega, Princípio e Fim (cf. Ap 22, 12-13). É a Festa
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas 0

do Cristo “Kyrios”. “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder,


a divindade, a sabedoria, a força e a honra. À ele glória e poder através dos
séculos” (antífona da entrada).
À Igreja no Brasil comemora hoje o dia dos leigos, os missionários
do Reino de Deus nas diferentes áreas e atividades que tecem a vida
humana, religiosa e social. Louvamos a Deus por tantas mulheres e
homens que vivem profundamente sua vocação batismal, colocando-se
inteiramente a serviço da Boa Nova, anunciada, vivida e celebrada.
Neste último domingo do ano litúrgico, louvemos e agradeça-
mos ao Senhor por todas as graças e bênçãos recebidas de sua bon-
dade, ao longo da caminhada do ano que passou. Hoje, em todas as
dioceses do Brasil, fazemos a abertura da Campanha para a Evange-
lização, que é realizada no 3º domingo do Advento.

Recordando a Palavra
O Evangelista João situa a realeza de Jesus Cristo no relato da Paixão
para evidenciar o modelo de sua realeza, em total contraste com os
outros modelos. Jesus é rei, porém, de modo diferente das demais
formas de poder.
O diálogo de Pilatos com Jesus dá inicio ao evangelho deste
domingo. Jesus, depois ser interrogado e rejeitado pelo poder religioso,
é conduzido ao governador romano Pôncio Pilatos, representando o
poder político de então. “Tu és o rei dos judeus?” (v.33) À pergunta
do governador Jesus responde, indagando: “Você diz isso por si
mesmo, ou foram outros que lhe disseram isso a meu respeito?” Os
judeus desejam conseguir de Pilatos a condenação capital para Jesus:
declarando-se rei, ele se colocaria em oposição a César. O governador
teria que condená-lo se não quisesse perder os favores do imperador
romano. Eximindo-se de qualquer responsabilidade, Pilatos quer se
inteirar sobre o que Jesus fez para ser entregue ao poder romano. “O
que fizeste”? Jesus não responde,, mas retoma a resposta da pergunta
anterior: “O meu reino não é deste mundo”,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Esta afirmação nem sempre foi bem interpretada. Ela não quer
dizer que o Reino de Jesus não se preocupa com as coisas da terra,
ou que os cristãos não devam se preocupar com as coisas do mun-
do. Quando Jesus diz - “o meu reino não é deste mundo” - ele revela
sua procedência e não seu lugar de atuação. Jesus rejeita todo tipo
de realeza que tenha como base a força e o poder. “Meu reino não é
daqui”.
Estranhando a realeza de Jesus e sem saber direito o que per-
guntar, Pilatos reconhece: “Então tu és rei?” Na visão do governador,
como pode ser rei alguém que não tem exércitos, armas, riquezas e
ambições políticas? À postura de Jesus, condenado à morte, solitário
e fraco, pobre e despojado de qualquer poder, questiona os dogmas
do império e inquieta seus governantes.
“Você está dizendo que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para
dar testemunho da verdade...” (v. 37). Jesus é um rei diferente dos
poderosos do mundo. Sua resposta a Pilatos revela a função de sua
realeza: dar testemunho da verdade, sendo fiel à vontade do Pai até
as últimas consequências, isto é, a morte da cruz.
E “o que é a verdade?” (v. 38), pergunta Pilatos. Jesus se cala! A
palavra hebraica para designar a verdade é emeth que significa “fide-
lidade plena”. À realeza de Jesus se exerce no domínio da verdade,
isto é, na fidelidade ao projeto do Pai e não na mentira, no ódio, na
opressão, próprios dos reinos terrenos. À verdade é a revelação do ser
de Deus, que é amor.
A segunda leitura é tirada do início do livro do Apocalipse.
É um livro escrito para animar as comunidades perseguidas.
Na leitura de hoje nos é apresentada uma síntese da vida e da
ação de Cristo. Ele é apresentado com três títulos messiânicos:
a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dos mortos e o sobe-
rano dos reis da terra. Os três títulos são uma confissão de fé e
indicam o mistério da vida, morte, ressurreição e ascensão do
Senhor.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas ,

Daniel, na primeira leitura, descreve uma visão: vê alguém


“um como filho do homem”, que vem sobre as nuvens até o tri-
bunal do ancião. Ele vem do alto, entre as nuvens, isto é, vem do
próprio Deus. Às feras vêm do mar (cf. início do capítulo 7 de
Daniel), o filho do homem vem do céu. Indica, portanto, um novo
reino. No contexto de Daniel, este “Alho do homem” é o povo de
Deus. No contexto da festa de hoje, é o próprio Jesus Cristo, Rei
do Universo.

Atualizando a Palavra
Nas celebrações litúrgicas, estamos habituados a cantar hinos a
Cristo Rei. “Rei divino que a terra desceste. Vindo a nós de seu trono de
glória. Alcançaste fulgente vitória sobre a culpa origem da dor! Reina,
reina nas almas no mundo. Rei dos reis, Jesus Cristo, Senhor!” E outros
hinos como: “Jesus é meu Rei e Senhor”, “levantai-vos soldados de
Cristo, para a frente marchai à vitória...”.
Reconheçamos com sinceridade: não é fácil vencer a tentação
do triunfalismo. As influências dos tempos de cristandade ainda re-
percutem e revelam sua força, em muitas manifestações eclesiais e
litúrgicas. Hoje o estandarte de Cristo Rei tremula em meio a mui-
tas outras bandeiras da sociedade.
É importante deixar claro que a realeza de Cristo não se confunde
com a realeza deste mundo. Suas conquistas não se medem pela quan-
tidade de indivíduos batizados, pela eficiência das estruturas e das ins-
tituições eclesiais, pela grandiosidade das igrejas, pelo temor que as
autoridades eclesiásticas às vezes impõem. O reino de Cristo conquista
novas fronteiras pela atitude de serviço, pelos gestos de doação solidá-
ria em favor dos mais fracos. Ele se manifesta no respeito de uns pelos
outros, no encontro, no diálogo que instaura relações de comunhão.
Talvez devêssemos retomar a pergunta de Pilatos: “Tu és rei?”
Que rei Jesus é hoje para nós?
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

“Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade”. Jesus


Cristo é reconhecido como Senhor (Kyrios) e Rei porque realizou (e realiza)
a missão de salvar, perdoar, reconciliar, libertar, curar, dar a vida, anunciar a
Boa Nova do amor do Pai e da esperança. Nesta perspectiva, celebrar
hoje a festa de Cristo Rei é reconhecer que ele é o ponto de convergência
da história, da atividade e da peregrinação terrena da humanidade. O
Cordeiro que foi imolado, agora é motivo da alegria de todos os corações
e plenitude total dos anseios. Por isso podemos proclamar: “Jesus Cristo,
ontem, hoje, sempre. Aleluia!”
Jesus afirma: “meu reino não é deste mundo”. O fato de o reino
de Cristo não ser do estilo político dos governos terrenos não signifi-
ca que esteja ausente, que não se realize já neste mundo. Jesus mesmo
nos ensina a rezar: “venha a nós o vosso reino”.
O senhorio do Cordeiro imolado e vitorioso é reconhecido e perpe-
tuado hoje, no mundo, através dos cristãos e das comunidades eclesiais,
não tanto por privilégios e influências sociais, quanto pela presença e servi-
ço, qual fermento na massa, em favor da verdade, da justiça, da fraternidade,
da convivência no amor, na paz e na liberdade. “Após o Concílio, a teologia
cristã insistiu de forma enfática sobre a necessidade de assumir a missão não
como “implantação da Igreja, mas também como “serviço ao mundo”, ou
mais propriamente, ao Reino de Deus e à Paz que este traz à humanidade”.
Pelo batismo somos convidados a reinar com Cristo pelo serviço,
pelo perdão, pela reconciliação, enfrentando o desafio da cruz a fim
de que todos tenham dignidade e paz.
Neste dia da festa de Cristo Rei, a Igreja comemora o “Dia do
Leigo”. Recorda seus membros que, pelo batismo, são em Cristo sa-
cerdotes, profetas e reis, inseridos nas realidades da cultura, da po-
lítica, do comércio, das ciências, da economia, da ecologia, da vida
conjugal... À presença e a atuação de leigos cristãos pode transformar
essas áreas em espaços fecundos para os valores do reino de Deus.

7 CNBB, Missão e Ministério dos Cristãos leigos e leigas. Doc. 62. n. 47.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas

Ligando a Palavra com a Ação Eucarística


Pela celebração litúrgica deste último domingo do ano litúrgico, nos
encontramos com o Senhor, nosso rei e juiz, que, por sua palavra nos
julga, nos purifica e nos torna participantes do banquete de seu reino.
Experimentemos antecipadamente o júbilo dos convidados à ceia do
reino que seu amor preparou.
Como povo sacerdotal, nos reunimos para celebrar a memória
sempre viva e atual do Senhor.
Hoje, na celebração eucarística, Cristo vive conosco sua Páscoa re-
dentora, para que nos unamos intimamente a ele, recebamos a força do
Espírito Santo, a fim de sermos testemunhas fiéis da verdade e chegar-
mos ao Reino eterno e universal. Assim rezaremos no prefácio da festa
de hoje: “Ele, oferecendo-se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou
a redenção da humanidade. Submetendo ao seu poder toda criatura,
entregará à vossa infinita majestade, um reino eterno e universal: reino
da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do
amor e da paz”.
À Palavra de Deus, que escutamos e acolhemos com docilidade
em nosso coração, nos revela que o Reino de Deus está realmen-
te presente no meio de nós, como grande dom do amor de Deus à
humanidade.
À Eucaristia que celebramos é memorial do Cristo vitorioso que
se mostrou fiel no amor até as últimas consequências da morte na
cruz, sem jamais ceder às artimanhas do poder e da violência. Ele é
Rei vitorioso “porque sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos
pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado
dos perseguidos e marginalizados. Com a vida e a palavra anunciou
ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas” (oração
eucarística para diversas circunstâncias — IV).
À ação litúrgica deste domingo de Cristo Rei é expressão da
aliança de Deus com seu povo, isto é, expressão maior da comunhão
do Reino.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo do Comum - Ano B - 2012

Sugestões para a celebração «O


À equipe de liturgia, como um serviço importante para a comuni-
dade de fé, ao preparar a celebração do domingo da Festa de Cristo
Rei e do Dia Nacional dos Leigos, poder dar particular atenção a
algumas partes e a alguns gestos da celebração.
a) Espaço celebrativo - destacar a cruz ornada com um pano branco
e com a palma da vitória; destacar também as mesas da Palavra e
da Eucaristia. À cor litúrgica é a branca.

b) Procissão de entrada -acompanhar a procissão de entrada com o


refrão: “Jesus Cristo, ontem, hoje, sempre; Aleluia” ou “Vitória,
tu reinarás” ou outro que ressalte o sentido da solenidade.

c) Recordação da caminhada do ano litúrgico — após o sinal da cruz e


a saudação do ministro que preside a celebração, convidar a comuni-
dade a recordar os acontecimentos significativos do ano litúrgico que
está por findar, evidenciando sua vinculação com Cristo Rei, como
sinais do reino de Deus presentes no meio da comunidade. Isso pode
também ser feito por um leigo (a) que se preparará com antecedência.

d) Ato penitencial — realizar a aspersão com água benta como


recordação da caminhada batismal e da participação na missão
real (serviço) de Cristo (cf. MR p. 1001).
Profissão de fé — convidar a comunidade a professar sua adesão
de fé a Cristo Senhor e Rei, como na Vigília Pascal.
Oração dos fiéis — preparar as preces com a resposta: “Venha a
nós o vosso reino”!

g) Ao finaldas preces, rezar a oração da Campanha da Evangelização,


conforme orientações da CNBB.

h) Pai-nosso, oração dos seguidores de Jesus. Se possível, seja


cantado por toda a assembleia, cuidando-se para que seja o
próprio texto da oração do Pai-nosso.
Com a vida e a Palavra anunciou ao mundo que sois Pai e cuidais de todos como filhos e filhas e

) Comunhão — de preferência, realizá-la sob as duas sagradas


espécies.

) Bênção final e envio — antes da bênção, se pode cantar a “Oração


de São Francisco”, pois queremos, à semelhança de nosso Rei
Jesus, levar amor onde houver ódio, perdão onde houver ofensa,
luz onde houver trevas...

k) Lembrar que, no próximo domingo, inicia o Tempo do Advento.


O ministro abençoa a assembleia (cf. formulário do Tempo
Comum V, missal, p. 526) e envia (particularmente) os leigos
para a missão do anúncio e da construção do Reino.
Festejamos, no dia 30, sexta-feira, o Apóstolo Santo
André. Este apóstolo nos recorda, de modo singular, o amor
de Cristo na cruz. Segundo tradição antiga, sua expressão,
ao morrer, teria sido esta: “Salve, Santa Cruz, tão desejada,
tão amada! Tira-me do meio dos homens, entrega-me ao meu
Mestre e Senhor, »P para que eu de ti receba o que que p por ti me
salvou”. André era irmão de Pedro. Foi ele que disse a Pedro
que havia encontrado o Messias.

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