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O que pensa?
De acordo com o artigo 1207.º do Código Civil «Empreitada é o contrato pelo qual uma
das partes se obriga em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço».
A noção legal do contrato de empreitada é sintética mas rigorosa, fazendo referência aos
dois elementos essenciais: a realização da obra e o pagamento do preço que são
simultaneamente o objecto das duas obrigações principais sinalagmáticas criadas pelo
contrato.
Assim, uma obra, no sentido relevante face ao artigo 1207.º, pode ser a construção ou
criação, reparação, modificação, demolição ou destruição de uma coisa, móvel ou
imóvel.
Mas terá, no nosso Direito, a obra de ser entendida em sentido material ou uma obra
intelectual pode também ser objecto de um contrato de empreitada?
A esta posição opõe-se um outro sector da Doutrina segundo a qual seria possível a
qualificação como empreitada do contrato que tenha por objecto a produção de obra
intelectual.
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Dy Bernardo
O resultado de uma actividade encomendada por outrem só tem a natureza de
uma obra se revestir cumulativamente as seguintes características:
2.Se o resultado for específico e concreto (ou seja, puder ser separado do processo
produtivo, do modo de realização, actividade e conteúdo espiritual, se ele próprio
assumir a relevância de um significado ou utilidade própria desligada da actividade
que esteve na sua origem, mesmo se consistir numa coisa incorpórea);
Pense-se, por exemplo, num programa de computador, inicialmente visto como uma
coisa corpórea mas, depois, considerado como incorpórea.
Por isso, por exemplo, a encomenda de um parecer jurídico não pode, a não ser em
circunstâncias excepcionais, consistir numa empreitada, pois ele não é nunca susceptível
de se desligar do próprio discurso justificativo e fundamentante que presidiu à sua
elaboração.
Quid iuris?
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Dy Bernardo
Imagine agora que A se não tinha apercebido do defeito de concepção mas um
empreiteiro de formação média tê-lo-ia reparado. Altera a sua resposta?
•Suponha-se ainda que o defeito era devido, não a erro de projecto, mas aos materiais
fornecidos pelo próprio dono da obra. Nesse caso pode haver responsabilidade do
empreiteiro?
O problema nestas hipóteses está em que o vício se deve, prima facie, a factores
externos ao empreiteiro. E nessa medida ele teria cumprido o projecto da obra sem
vícios da sua responsabilidade.
O direito à entrega de uma obra sem vícios ou faltas de qualidade implica não só o
cumprimento do projecto convencionado, mas igualmente o cumprimento de todas as
regras da arte aplicáveis à actividade do empreiteiro esse cumprimento está integrado
no dever de cumprir pontualmente a obrigação (artigo 762.º/1).
Fiscalização da obra
•Imagine agora que A, tendo realizado a construção da garagem nos termos constantes
do projecto, sem avisar o dono da obra dos defeitos do projecto, alega não poder ser
responsabilizado pela queda do edifício dado essa responsabilidade caber ao dono da
obra por não a ter fiscalizado.
N.º 1 do artigo 1209.º. De acordo com este preceito o dono da obra deve exercê-lo (o
direito de fiscalização) de acordo com as regras da boa-fé.
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Dy Bernardo
Sempre na mesma hipótese imagine que A invoca a circunstância de C e D serem os
responsáveis pela fiscalização da obra e terem insistido com o empreiteiro para que ele
realizasse cegamente o projecto sem sequer averiguar se existiam falhas evidentes no
mesmo, dado que C e D lhe asseguraram serem os Einsteins da arquitectura e da
engenharia. Quid iuris.
Isso só não sucederá, de acordo com artigo 1209.º/2, do Código Civil, se o de o dono da
obra tiver dado o seu expresso consentimento à forma como a obra foi (nesse caso,
defeituosamente) executada.
Imagine agora que o empreiteiro não se apercebia dos defeitos, mas o dono da obra
tinha deles conhecimento e não os comunicou a A. Mais tarde perante a derrocada da
casa B pretende responsabilizar A. Quid iuris?
O anteprojecto de Vaz Serra contemplava uma situação de acordo com a qual o dono da
obra que não avisasse o empreiteiro da existência de um defeito e, depois, o invocasse
era responsável pelo encargo adicional exigido pela remoção do mesmo.
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Dy Bernardo
Dir-se-á apenas que o pagamento do preço é o principal dever do dono da obra.
•E que a regra geral é a vigente para a generalidade dos contratos: uma vez estabelecido,
o preço não pode ser alterado – designadamente, o empreiteiro não pode, em princípio,
solicitar aumentos de preço, mesmo se os seus custos tiverem aumentado.
Este regime pode porém ser alterado por cláusula contratual, sendo isso aliás frequente.
O dono da obra deve verificar a obra após a sua conclusão e antes da aceitação, visando
essa actuação comprovar se a obra se encontra de acordo com o plano convencionado e
sem vícios (artigo 1218.º, n.º 1)
Para alguns, trata-se de um ónus (ou, mais exactamente, ónus material ou encargo),
pois, o dono da obra pode escolher não a realizar, importando isso um conjunto de
consequências potencialmente negativas
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Dy Bernardo
Se ainda não tivesse decorrido o prazo o assunto estava resolvido. Não havia qualquer
responsabilidade.
Note-se dever o artigo 1218.º, n.º 5, ser entendido como pressupondo incumprimento
definitivo do ónus material de verificar ou do dever de comunicar o resultado da
verificação, nos termos do artigo 808.º) e não apenas mo
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Dy Bernardo
Imagine agora que A notificava B para este verificar a obra coisa que este fazia
comunicando o respectivo resultado sem qualquer reserva e procedendo à respectiva
aceitação. Entretanto vem a verificar-se que a obra apresentava vícios estruturais não
visíveis a olho nu. Uma vez detectados, já depois da aceitação, os defeitos, B pretende
que A proceda à respectiva reparação. A recusa. Perante essa recusa B não paga o preço.
Quid iuris?
É ainda a aceitação da obra com reservas que inicia o prazo de garantia legal ou
convencional sobre os defeitos ressalvados (artigo 1224.º, n.º 1). Finalmente, a
aceitação da obra pode determinar ainda o vencimento da obrigação de pagamento do
preço (artigo 1211º, n.º 2)
A aceitação da obra pode, porém, não importar, sempre, todos os efeitos antes referidos.
•A aceitação pode ser feita com e sem reserva: vejam-se os artigos 1219.º, n.º 1 (onde
se refere a aceitação sem reserva) e 1224.º, n.º 1 (onde é mencionada a aceitação com
reserva).
A aceitação com reserva(s) ocorre quando (se) a obra tem (tiver) defeitos, mas o dono
da obra a aceita, declarando que não prescinde (não prescindir) dos direitos que lhe
assistem em caso de defeitos na execução da obra.
•Há quem entenda esta presunção iuris tantum. A consideração de que a boa fé deve
corresponder a uma boa fé ética e não meramente psicológica torna porém dificilmente
aceitável que o dono da obra possa demonstrar que não conhecia, nem devia conhecer
os defeitos aparentes.
Neste caso está-se, porém, diante de um defeito oculto. Logo o dono da obra pode, não
obstante a aceitação, recorrer a todos os meios associados ao cumprimento defeituoso e
ao incumprimento.
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Dy Bernardo
Recepção do preço
Direitos do empreiteiro
Deveres do empreiteiro
Realização da obra
A empreiteiro obriga-se para com B a realizar a construção de uma casa num pântano.
No contrato não é fixado prazo para a sua realização. Passados dois anos B impacienta-
se e pretende demandar A por incumprimento do pactuado. A defende-se dizendo: a)
Nunca tinha realizado a construção de uma casa num pântano; b) não há prazo
estabelecido. Quid iuris?
•No silêncio do contrato, esse padrão é o das regras da arte objectivamente consideradas
– devendo o empreiteiro conhecê-las – existentes e aplicadas na época e no local onde a
prestação é executada.
É irrelevante não as conhecer o empreiteiro ou conseguir cumpri-las por não dispor, por
exemplo, de meios técnicos ou de pessoal qualificado na sua estrutura empresarial. A
obrigação do empreiteiro, relembre-se, é uma obrigação de resultado.
Todavia, a própria natureza das condições do acordo pode suscitar padrões mais
exigentes na qualidade construtiva:
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Dy Bernardo
A obrigação de realização da obra tem muitas vezes prazo certo, estabelecendo as
partes, normalmente, termo inicial e final para essa execução.
Por isso, se as partes não fixaram prazo de cumprimento, não estamos perante uma
obrigação pura, com a consequência de o empreiteiro não entrar em mora após a
interpelação.
Nos termos deste preceito resulta, se for necessário, fixar um prazo para o cumprimento,
não havendo acordo das partes, ser a fixação deferida ao tribunal.
Deve, porém, em nosso entender, perguntar-se se o problema deve ser sempre resolvido
através do processo fixação judicial de prazo, por duas razões essenciais:
Mas se o dono da obra vier a ganhar a disputa judicial (entendendo o tribunal ser o
prazo por ele fixado de facto sensato e ponderado), os efeitos da mora reportam-se ao
momento do não cumprimento do prazo inicialmente fixado.
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Dy Bernardo
Entrega da coisa,
transferência da propriedade,
risco de deterioração e perecimento.
A empreiteiro construiu uma coisa móvel usando materiais totalmente fornecidos pelo
dono da obra B. Este aceitou a obra e não exigiu de imediato a sua entrega. Nesse lapso
de tempo, a coisa vem a perecer por caso fortuito. B considera que A lhe devia ter
entregado a coisa no momento da aceitação e que está por isso em mora, o que
significaria a inversão do risco. Quid iuris?
•Neste caso (empreitada de coisa móvel, com materiais fornecidos pelo dono) a coisa é
da propriedade do dono logo que concluída.
Na eventualidade de não ter sido estipulado prazo para o seu cumprimento, discute-se
se:
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Dy Bernardo