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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

ENSINO DE GEOGRAFIA

1º Ano
Disciplina: PENSAMENTO GEOGRÁFICO
Código:
Total Horas/1o Semestre:
Créditos (SNATCA):
Número de Temas: 4

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED


ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).
A não observância do acima estipulado o infrator é passível a aplicação de processos judiciais
em vigor no País.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
Telefone: +258 23 323501
Cel: +258 82 3055839
Fax: 23323501
E-mail: isced@isced.ac.mz
Website: www.isced.ac.mz

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:
Pela Coordenação
Direção Académica do ISCED
Pelo design Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED
Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a
Distancia (IAPED)
Sualé Amade, Mestre em Gestão Ambiental
Pela Revisão

Elaborado Por: António dos Anjos Luís, Mestrado em Ciência e Sistemas de Informação
Geográfica

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Índice

Visão geral 1
Bem-vindo à Disciplina de Pensamento Geográfico ......................................................... 1
Objetivos do Módulo ........................................................................................................ 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 1
Ícones de actividade ......................................................................................................... 3
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 5
Avaliação ........................................................................................................................... 6

TEMA – I: O SABER GEOGRÁFICO. 9


UNIDADE Temática 1.1. A curiosidade do homem e a sua aventura na Terra ................. 9
Introdução......................................................................................................................... 9
Sumário ........................................................................................................................... 15
Auto-avaliação ................................................................................................................ 15
Avaliação ......................................................................................................................... 16
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 17

TEMA – II: O EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO. 18


Unidade Temática 2.1. A Geografia na Antiguidade ...................................................... 18
Introdução....................................................................................................................... 18
Sumário ........................................................................................................................... 26
Autoavaliação ................................................................................................................. 27
Avaliação ......................................................................................................................... 28
Referencias Bibliográficas ............................................................................................... 29
UNIDADE Temática 2.2. A Geografia na idade Média .................................................... 29
Introdução....................................................................................................................... 29
Sumário ........................................................................................................................... 35
Autoavaliação ................................................................................................................. 35
Referencias Bibliograficas ............................................................................................... 35
UNIDADE Temática 2.3. A Geografia na era dos Descobrimentos ................................. 36
Introdução....................................................................................................................... 36
Sumário ........................................................................................................................... 43
Autoavaliação ................................................................................................................. 44
Avaliação ......................................................................................................................... 45
Referencias Bibliográficas ............................................................................................... 45
UNIDADE Temática 2.4. A Institucionalização da geografia ........................................... 46
Introdução....................................................................................................................... 46
Sumário ........................................................................................................................... 51
Auto-avaliação ................................................................................................................ 51

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Avaliação ......................................................................................................................... 52
Referencias Bibliográficas ............................................................................................... 53
Sumário ........................................................................................................................... 59
Exercícios de AUTO-AVAL Avaliação ............................................................................... 60
Referencias Bibliográficas Referências Bibliográficas..................................................... 61

TEMA – III: OUTRAS CONTRIBUICOES GEOGRÁFICAS. 62


Unidade Temática 3.1. Geografia Ratzeliana e o seu contexto ...................................... 62
Introdução....................................................................................................................... 62
Sumário ........................................................................................................................... 69
Auto-avaliação ................................................................................................................ 69
Avaliação ......................................................................................................................... 70
Referências Bibliográficas ............................................................................................... 71
UNIDADE Temática 3.2. A Geografia Vidaliana e o seu contexto ................................... 72
Introdução....................................................................................................................... 72
Sumário ........................................................................................................................... 78
Autoavaliação ................................................................................................................. 79
Avaliação ......................................................................................................................... 80
Referências Bibliográficas ............................................................................................... 81
UNIDADE Temática 3.3. A abordagem regional vidaliana .............................................. 81
Introdução....................................................................................................................... 81
Sumário ........................................................................................................................... 89
Autoavaliação ................................................................................................................. 90
Avaliação ......................................................................................................................... 91
Referências Bibliográficas ............................................................................................... 91
UNIDADE Temática 3.4. Os movimentos de renovação ................................................. 92
Introdução....................................................................................................................... 92
Sumário ........................................................................................................................... 97
Autoavaliação ................................................................................................................. 97
Avaliação ......................................................................................................................... 98
Referências Bibliográficas ............................................................................................... 99

TEMA – IV: GEOGRAFIA COMO CIENCIA. 100


UNIDADE Temática 4.1. Geografia como Ciência ......................................................... 100
Introdução..................................................................................................................... 100
Sumário ......................................................................................................................... 113
Autoavaliação ............................................................................................................... 113
Avaliação ....................................................................................................................... 114
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 115

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Visão geral

Bem-vindo à Disciplina de Pensamento Geográfico

Objetivos do Módulo

O objetivo geral da disciplina visa fazer compreender o aluno a


evolução histórica do pensamento geográfico, seus principais
autores e a sistematização desse conhecimento numa área
específica do saber científico

 Analisar as atuais perspetivas da ciência geográfica, enfatizando


os movimentos de renovação do pensamento geográfico
 Conhecer as diferentes escolas da Geografia
 Conhecer os fundamentos da geografia quantitativa e
Objectivos
qualitativa
Específicos

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


Ensino em Geografia do ISCED bem como para todos os leitores que
desejam atualizar e consolidar seus conhecimentos nessa
disciplina, adquirindo o manual sem ter que se inscrever na
disciplina.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Pensamento Geográfico, para estudantes do 1º ano


do curso de licenciatura em Ensino de Geografia, à semelhança dos
restantes do ISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspetos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Conteúdo desta Disciplina / Módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades, Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de autoavaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e atividades
práticas algumas incluindo estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didáticos adicionais ao seu módulo para você
explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro
de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso
como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste
material físico ou eletrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

Autoavaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática. As tarefas dos exercícios de auto -
avaliação apresentam exercícios resolvidos com detalhes
(orientação das paginas e ou do paragrafo)

Comentários e sugestões

Este e o principal documento da disciplina. Contudo para cada tema


recomenda-se que os estudantes usem outras fontes
nomeadamente as que aparecem na lista bibliográfica de cada
unidade temática ou mesmo através da pesquisa na internet.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objetivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas atividades práticas ou as


de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando... Estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando


achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
SMS, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo) é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indicada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período
pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica
e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10% do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas atividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

recomendações, a identificação das referências bibliográficas


utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação do ISCED.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TEMA – I: O SABER GEOGRÁFICO.

UNIDADE Temática 1.1. O saber geográfico e o seus elementos


UNIDADE Temática 1.2. Exercícios Integrados deste Tema

UNIDADE Temática 1.1. A curiosidade do homem e a sua aventura na Terra

Introdução

Nesta primeira aula da disciplina de Pensamento Geográfico, vamos


aprender o que se entende por saber geográfico. Nesse sentido,
estudaremos: como esse saber é essencial para os homens; de que
maneira os conhecimentos geográficos servem para ordenar a
superfície da Terra, gerir, explorar, organizar e substituir uma primeira
natureza, que chamamos “intocada”, por uma natureza segunda,
entendida como a natureza transformada pelo homem; e como a
Geografia e os saberes geográficos ajudam a compreender as relações
humanas e as inter-relações do homem e do seu entorno, fazendo
brotar, na superfície, os meios humanos, as paisagens, as regiões, os
territórios. Usando elementos do cotidiano e de nossa
formação/informação básica, pretendemos auxiliá-lo na compreensão
de como se estrutura o espaço geográfico e de como ele é apreendido
pela Geografia enquanto ciência.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender como o saber geográfico se relaciona à aventura humana na


Objectivos Terra;
Específicos  Identificar de que maneira as necessidades do homem criam espacialidades
diversas;
 Relacionar os elementos que compõem o saber geográfico.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A curiosidade do homem e sua aventura na Terra

Antes de começarmos este estudo, é importante distinguirmos


Geografia (enquanto ciência) de conhecimento ou saber geográfico. O
saber geográfico é algo mais do que a Geografia enquanto ciência que
se institucionaliza no século XIX. Essa institucionalização significou a
sistematização científica do saber geográfico desenvolvido no processo
civilizatório. Nesse sentido, não podemos confundir ciência geográfica
com saber geográfico, uma vez que este último não se resume às formas
instituídas pela academia. O saber geográfico enquanto conhecimento
acerca do mundo está presente em todos os tempos e em todas as
civilizações. Assim, quando falamos de geografia, antes da sua
sistematização, estamos, na verdade, falando de saber geográfico.

Você sabia que a geografia tem a idade da humanidade? Caso tenha


respondido positivamente, você deve ter entendido que ela é, como
todo saber, a expressão de uma curiosidade e a resposta a essa
curiosidade. Habitante da superfície da Terra, o homem tem, desde o
início dos tempos, procurado saber onde se encontra, conhecer o que
existe além do lugar onde mora, inventariar cada elemento da extensão
terrestre, identificar e nomear os lugares, descrever e conferir
representações.

Poder se situar, de forma absoluta (onde estou?) e relativa (o que existe


aquém e além do lugar onde estou?); poder se deslocar e construir um
itinerário; conhecer as terras longínquas onde jamais se esteve e a
diversidade dos homens que lá vivem, os recursos, as riquezas para
explorar; representar e transmitir saberes: tal é a longa busca
empreendida pelo saber geográfico. Essa aventura geográfica da
humanidade comporta a história da exploração e da descoberta da
Terra, bem como a extraordinária história de sua representação
cartográfica. A seguir, vemos dois exemplos: um da Antiguidade grega
e outro do século XVIII.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

a b
Figura 1- (a) Cópia de mapas gregos antigos representando o continente
Antártico sem gelo; (b) Mapa de Buache desenhado em 1737

O homem jamais se contentou em apenas observar a Terra. Por meio


de uma constante interação com o meio, ele tem deixado as suas
marcas: tira da Terra os elementos essenciais à sua vida. Com essa
intervenção, as sociedades humanas “desnaturam” a superfície da
Terra, o que implica sua transformação.
Com estas palavras, você já deve estar imaginando que o homem é um
agente geográfico quando ele descobre novos lugares, drena, cultiva,
constrói, substitui o meio natural por um meio artificial, ou melhor, por
um meio “humano”.
A ação geográfica dos homens implica inscrição de traços, de linhas, de
superfícies de volume (áreas produtivas, manchas urbanas), sendo
alguns destes visíveis, como rotas, campos, construções, e outros não
diretamente percetíveis, como relações sociais, fronteiras, fluxos de
relações. Pontos, linhas, superfícies, volume, densidade são, de maneira
ampla, escrituras geográficas. As paisagens atestam a diversidade dessa
escritura.
Tomando por base Milton Santos (2006), podemos dizer que a
paisagem é constituída por um conjunto de formas que, num dado
momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações
localizadas entre o homem e a natureza. Conjunto de elementos
naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma determinada
área.
Depois de ter “escutado”, atentamente, o que disse o professor Milton
Santos, você deve estar percebendo que o saber geográfico está
relacionado à análise da paisagem, à compreensão de seus significados
e de seus valores. Veja que o saber geográfico nasce da forma de olhar
que os homens constroem sobre seu meio, das questões que eles se
colocam sobre o sentido de sua presença nesse meio, sobre as
influências que eles sofrem do meio e sobre os efeitos de suas
intervenções.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A partir dessa breve exposição, você deve ter percebido que o saber
geográfico surge da curiosidade humana e das interrogações que os
homens se colocam diante das possibilidades e das limitações de suas
ações frente às condições do meio; e que suas ações implicam marcas
e um perpétuo conflito entre a realização de suas necessidades e o
meio.

Elementos do saber geográfico

Neste item, veremos cinco elementos importantes para a compreensão


do desenvolvimento do saber geográfico, vá se familiarizando com eles,
pois serão importantes para sua formação como professor de
Geografia. Esses elementos variam no tempo, mas são sempre
importantes para a análise geográfica.

Posições e contornos

Os homens desenvolveram esforços consideráveis para poder se situar


e ter uma ideia da forma, dos contornos e da articulação entre os
continentes. De diversas maneiras, o homem enfrentou as difíceis
etapas do reconhecimento da Terra; os navegadores foram os principais
descobridores dos limites das terras e dos litorais. Sobre seus barcos,
guiados pelo fio condutor das costas, impulsionados pelos ventos e
pelas correntes, esses homens empreenderam viagens e expedições em
direção a terras míticas, imaginárias ou reais. Eles desenharam os
contornos das costas; depois, com seus barcos mediram as distâncias, a
duração das navegações, identificaram as posições topográficas. Deram
às terras descobertas milhares de nomes.

Foi subindo e descendo rios ou acreditando descobrir suas


desembocaduras ou mares interiores que os homens adentraram os
continentes. As viagens de exploração por via terrestre, mais difíceis,
foram raras e tardias.

Veja que a identificação da configuração dos continentes e oceanos


necessitava da resolução de três séries de problemas: 1) o
conhecimento da forma da Terra; 2) o conhecimento de suas
dimensões; e 3) a definição das coordenadas de um lugar. A
esfericidade da Terra foi admitida e suas dimensões foram medidas
desde a Antiguidade. Entretanto, enquanto a latitude e a longitude2 não
foram definidas com precisão, os homens não puderam “dominar”
efetivamente o seu Planeta. A partir disso, fica claro que a atitude de se
orientar constitui uma das bases de todo saber geográfico.

2 Distância em graus de qualquer ponto da Terra tomando como referência a linha do equador e distância
em graus de qualquer ponto da Terra tomando como referência o meridiano de Greenwich,
respetivamente. Você verá melhor esses dois conceitos na disciplina Leitura Cartografia

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Identificação e Inventário dos Lugares

O conhecimento dos contornos e das posições geográficas depende de


outro conhecimento, aquele do conteúdo de cada lugar da superfície
terrestre. A curiosidade dos homens apenas se satisfaz quando ele
preenche os vazios das cartas e substitui os lugares míticos e
imaginários por lugares “reais”.

Diversas finalidades deram sustentação a esta empreitada: terras a


conquistar, impérios a dominar, riquezas para se apropriar, populações
para descobrir, rios e fontes, montanhas e lagos para inventariar. Assim,
o desejo de conhecer foi sempre orientado e seletivo em relação às
intenções dos homens e das sociedades. Ele varia com a escala que se
deseja atingir, ou seja, varia em função da distância e do afastamento
dos lugares que se quer conhecer. Conhecer significa criar itinerários
que são “memorizados” graças à observação dos traços da topografia
próxima e longínqua, à memorização das cores da vegetação, das
nuances do relevo etc.

Figura 2- Registo dos lugares nas primeiras sociedades

Para melhor inventariar e identificar, primeiramente, fixa-se os


fenômenos mais remarcáveis ou que fornecem os melhores marcos e
sinais: o traçado dos rios, os obstáculos montanhosos, os desfiladeiros,
os vulcões, os lagos, os animais e também as cidades. Em segundo lugar,
elenca-se os fenômenos menos visíveis, relações de troca, tipos de
organização social, religiosidade etc.

Gostaríamos de frisar que um bom inventário leva em consideração


também – e não é menos importante – os lugares habitados, rotas,
construções religiosas, riachos, paradas etc.

As cidades, os portos, as redes de rotas representam nós e linhas de


funcionamento das sociedades
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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

humanas e são reveladoras de dados essenciais. É fundamental chamar


sua atenção para o fato de que o inventário dos lugares comporta um
outro aspecto essencial: aquele de sua denominação. A toponímia é
uma etapa indispensável do conhecimento da superfície da Terra.

A Terra torna-se Terra dos homens quando deixa de ser anônima e é


nomeada por eles. Todo lugar nomeado pelo homem torna-se
significativo no sentido forte do termo. Baptizar o terreno e cobri-lo de
uma camada de nomes transforma o conhecimento dos lugares em
saber coletivo. Desde o instante em que os lugares têm um nome, eles
são integrados a uma grade social de localização. Seu conhecimento
geográfico deixa de ser fechado no círculo estreito das pequenas
comunidades e se socializa para além do local.

A gente ouve falar de vilarejos, de cidades, de montanhas, de reinos que


jamais vimos e que não veremos nunca. A existência, além do que é
pessoalmente conhecido, de uma esfera muito mais ampla e que existe
apenas como um universo de palavras tem efeitos múltiplos: ela suscita,
para alguns, uma fascinação por aqueles lugares dos quais ouviram
falar; ela alimenta sua imaginação; ela faz nascer uma necessidade de
evasão.

A camada de nomes que constitui a toponímia alarga a esfera dos


deslocamentos e das trocas para além do que foi percorrido pelo
indivíduo.

Localização e Distribuição

Você já deve estar sabendo que o saber geográfico se particulariza por


sua primazia com os dados de localização.

É importante salientar que, além de coletados através de critérios


rigorosos, é necessário que eles sejam cartografados.

O que o geógrafo procura ver na paisagem não é a simples localização


deste ou daquele objeto geográfico particular (fazenda, cidade, capela
e outros), mas a distribuição de todos os objectos de uma mesma
espécie (as casas, as cidades, as vilas, a vegetação, as florestas) e as
diversas fisionomias de conjunto que revelam o meio.

A relação homem-natureza

Os homens se colocam, desde sempre, questões relativas às relações


entre as sociedades e o seu meio, mesmo antes de ter um saber
geográfico sistematizado. Hipócrates (século V antes de Cristo), em seu
tratado Sobre os Ares, as Águas e os Lugares, já opunha os povos das
regiões elevadas e húmidas a povos de regiões sem água e de variações
climáticas bruscas.

14
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Veja que foi e ainda é normal que, inseridos em meios naturais diversos,
os homens tenham de retirar desses meios o seu sustento, os materiais
para construir suas casas, as matérias-primas para sua produção, dentre
outras coisas. Bem como que se interroguem sobre as influências desse
meio no seu comportamento.

O saber geográfico como totalizador da superfície terrestre

Por sua vez, no século XIX, o nível de descrição da superfície da Terra já


permitia uma visualização de sua totalidade. Além das descrições de
lugares particulares, de inventários sobre as diversas partes da Terra, o
saber geográfico segue na direção de compreender os conjuntos de
elementos naturais e humanos e a solidariedade entre seus
componentes, numa dimensão totalizante.

Sumário

Nesta Unidade temática, aprendemos que a curiosidade do homem foi


e é um importante elemento para a constituição das sociedades e da
Geografia. Vimos também que as necessidades básicas nos impõem
atividades diversas e que, para satisfazê-las, deixamos as nossas marcas
e impressões na superfície da Terra. Aprendemos ainda que as
paisagens são um elemento revelador para a análise da Geografia.

Auto-avaliação

1. Ao conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente


caracterizam uma determinada área chama-se:
A. Paisagem
B. Pensamento Geográfico
C. Saber geográfico
D. Todas opções estão correctas.
2. O homem enfrentou as difíceis etapas do reconhecimento da Terra;
os principais descobridores dos limites das terras e dos litorais foram:

A. Os geógrafos

B. Os navegadores

C. Os expositores

D. Antropólogos

15
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

3. A latitude e a longitude são elementos muito importante para


dominar e delimitar o planeta Terra, mas o que constitui uma das
bases de todo saber geográfico é:

A. Longitude

B. Meridianos

C. Latitude

D. Equador

4. A toponímia é uma etapa indispensável do conhecimento da


superfície da Terra.

5. O que o geógrafo procura ver na paisagem é a simples localização


deste ou daquele objeto geográfico particular, a distribuição de todos
os objectos de uma mesma espécie e as diversas fisionomias de
conjunto que revelam o meio.

Guião de Correcção

1-A; 2-B; 3-C; 4-V; 5-V

Avaliação

1. O conceito de lugar articula-se a partir da relação ou compreensão


do ser diante do espaço geográfico, ou seja, o lugar é o espaço
apropriado ou percebido pelas relações humanas.

2. A respeito do conceito de região, avalie as proposições a seguir a que


esta incorrecta:

A. Uma região pode ser criada com a finalidade de realizar estudos


sobre as características gerais de um território, assim como para
entender determinados aspectos do espaço.

B. A região resulta de uma elaboração racional e intencional do ser


humano. Tem a finalidade de facilitar a análise, a gestão e a
compreensão de uma determinada área e dos elementos que a
compõem.

C. Em geral, a região pode ser entendida como uma área que foi dividida
obedecendo-se a um critério específico.

16
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

D. Algumas regiões surgem de forma natural e são estabelecidas sem


que seja necessária a especificação de um critério que as defina ou
classifique.

3. Onde surgiu o conhecimento Geográfico?

A. No mundo Árabe.
B. Na América.
C. No Brasil.
D. Na Grécia Antiga.

4. A Geografia é a ciência que estuda e analisa o espaço produzido


pelo homem

5. O Espaço Geográfico é um importante conceito para a Geografia,


haja vista que ele é o objeto principal de estudo dessa área do
conhecimento. o espaço geográfico é um conjunto de sistemas de
objetos e ações, isto é, os itens e elementos artificiais e as ações
humanas que manejam tais instrumentos no sentido de construir e
transformar o meio, seja ele natural ou social. Essa ideia foi defendida
por:

A. Milton Santos
B. Frederich Engels.
C. André Cholley
D. Alexander Von Humboldt

Guião de Correcção

1-V; 2-D; 3-D; 4-V; 5-A

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DANTAS, Aldo. Pierre Monbeig: um marco da geografia brasileira. Porto


Alegre: Sulina, 2005.
KAERCHER, Nestor André. A geografia é o nosso dia-a-dia. In:
CASTROGIOVANNI, António Carlos (Org.). Geografia em sala de aula.
Porto Alegre: Editora da Universidade/AGB, 1998.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2006.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TEMA – II: O EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO.

Unidade Tematica 2.1. Geografia na Antiguidade


Unidade Tematica 2.2 Geografia na Idade Média
Unidade Tematica 2.3 Geografia na era dos descobrimentos
Unidade Tematica 2.4 A Institucionalização da Geografia
Unidade temática 2.5. Exercícios Integrados deste Tema

Unidade Temática 2.1. A Geografia na Antiguidade

Introdução

Como você aprendeu na aula 1 (O saber geográfico) o conhecimento


geográfico está fundado na relação homem/natureza (notadamente a
biosfera), na ação humana e na maneira como estão distribuídos os
fenômenos físicos e humanos na superfície da Terra.
Nesta aula, você irá estudar como se deu a evolução desse
conhecimento na antiguidade, principalmente a influência dos gregos e
romanos na construção das ideias geográficas.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender a evolução do pensamento geográfico na Antiguidade.


Objectivos  Relacionar as necessidades dos povos antigos com a produção e compreensão
específicos do espaço geográfico.
 Compreender a influência dos gregos e romanos no desenvolvimento do
conhecimento geográfico.
 Perceber como surge a Geografia geral e regional.

18
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A indagação geográfica

Para darmos início ao conteúdo desta aula, poderíamos, antes, nos


fazer a seguinte indagação: qual é a questão específica que se coloca
para a Geografia?

Entre tantas possibilidades de respostas, poderíamos responder da


seguinte maneira: a questão específica da Geografia é entender por que
e como as distribuições espaciais estão estruturadas da maneira que
estão.

Lembramos a você que as distribuições espaciais são estruturadas a


partir das ações humanas individuais e coletivas sobre a extensão
terrestre.

Quando Começam as Indagações Geográficas?

Os primeiros indícios de uma preocupação com a distribuição dos


fenômenos surgiram desde os primórdios da humanidade. Nesse
período, o homem pouco modificava a natureza, uma vez que estava
muito subordinado às condições naturais o que, provavelmente, lhe
impunha uma condição de nômade. Essa condição se exprime no
constante deslocamento à procura de meios de subsistência ou em
atividades guerreiras e condiciona a uma necessidade de conservar
informações sobre os caminhos percorridos e as suas direções.

Dessa maneira, surgem os primeiros esboços representando a


superfície da Terra, isto é, os primeiros mapas. Você pode confirmar
essa informação perguntando a qualquer pessoa, mesmo aquelas que
não sabem ler, qual o melhor caminho para ir a um lugar. Ela será capaz
de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os fatos mais
importantes que existem ao longo do percurso e os principais
obstáculos. Há mesmo quem diga que fazer mapas é uma aptidão inata
do ser humano.

Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância. O mapa


mais antigo de que se tem notícia data de 2500 a.C. e é uma
representação de um rio, provavelmente o Eufrates, com uma
montanha de cada lado desaguando por um delta de três braços.

Nesse período, a concepção existente era de uma Terra plana, com a


forma de um disco e constituída por uma massa flutuante na água, com
a abóbada celeste por cima.

A expansão política, comercial e marítima dos povos do mediterrâneo


(Mesopotâmia, Fenícia, Egipto) levou à elaboração de mapas marítimos
e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos. Tais descrições eram
denominadas de périplos.

19
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O périplo mais antigo data do século VII a.C. e foi feito por marinheiros
fenícios a serviço do faraó egípcio.

Foi na Grécia antiga que a ciência geográfica recebeu seu nome,


entretanto, outros povos que vieram antes dos gregos, já tinham
conhecimentos geográficos, entre estes, destacamos os egípcios,
babilônios e fenícios.

Os egípcios

•Umas das mais antigas civilizações do mundo: 5 mil anos a.C.;

•Se estabeleceram às margens do Rio Nilo e tiveram na agricultura a


principal atividade;

•Devido às condições climáticas da região essa era a única área que


permitia atividade agrícola, no período de cheias;

•Os egípcios estudaram a periodicidade das estações do ano


observando o movimento do Sol, Lua e estrelas.

Figura 3-Registo dos egípcios

Os fenícios e babilônios

•Povos que habitavam a região do atual Oriente Médio;

•Fenícios ocupavam uma faixa do litoral do Mar Mediterrâneo, onde


atualmente fica o Líbano;

•Dedicavam-se ao comércio e faziam inúmeras viagens pelo Mar


Mediterrâneo e Mar Vermelho;

20
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

•Chegaram a ultrapassar o Estreito de Gibraltar e atingir o Oceano


Atlântico;

•Conheciam muito bem esses litorais, ilhas, golfos e baías.

Figura 4-Rotas comerciais dos fenícios e babilônios

•Os babilônios habitavam a região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre


e Eufrates, atual Iraque;
•Esse povo serviu-se de crenças espirituais e mitológicas para explicar
os fenômenos naturais que eram inexplicáveis;
•Os babilônios supunham que a Terra era uma grande montanha
redonda cercada por mares;
•No interior da montanha estava o reino dos Mortos e sobre ela, no
céu, a Morada dos Deuses;
•O mais antigo mapa que se tem notícia foi elaborado pelos babilônios.

21
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 5- Localização geográfica do império da Babilónia

A Sistematização do Conhecimento Geográfico

A palavra geografia (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos


que originalmente vão se preocupar com a sistematização desse
conhecimento.

Para Nelson Werneck Sodré (1987), talvez a Geografia seja a ciência de


história mais longa entre todas que conhecemos.

Ela começa com as descrições, nas comunidades de tradição oral, das


migrações e das diferenciações dos lugares. Isso mostra que é
importante que o conhecimento seja registado e transmitido. É na
Grécia, já com o domínio da escrita e em decorrência de sua posição
geográfica no Mediterrâneo, em relação às outras partes do mundo
conhecido, que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os
conhecimentos de natureza geográfica.

O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por


Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos
das suas viagens. Discípulo de Tales de Mileto é provável que
Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnómon, instrumento
que serve para medir a altura do Sol (Figura 2).

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 6-Gnomon

O segundo mapa da Antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto


(560-480 a.C.). Viajou por toda parte do mundo conhecido, escreveu a
Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde a Terra é
representada por um disco com água em sua volta.
Outros documentos importantes dessa época são os poemas épicos
Ilíada e Odisseia, de Homero, conhecidos e apreciados por seu valor
literário e pelas informações geográficas contidas na descrição dos
lugares distantes e das longas viagens marítimas.

Os dois pontos de vista da Geografia

Você deve ter percebido, até aqui, que duas são as preocupações que
fundamentam os conhecimentos geográficos desse período. Um está
relacionado com a física terrestre – forma, dimensão, posição sideral. A
outra, com a descrição das diferenças da constituição da superfície
terrestre e com as diversas culturas que nela se instalam. Essas duas
dimensões dão origem a dois pontos de vistas: o da Geografia Geral e o
da Geografia Regional.

Dois “geógrafos” gregos

 Erastóstenes (276-194 a.C.) – Além de demonstrar a existência


da curvatura da Terra e calcular suas dimensões com notável
precisão, também localizou mares, terras, montanhas, rios e
cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas, no
qual estavam presentes as latitudes e as longitudes.

23
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Estudou, ainda, questões relativas à hidrografia e à climatologia, às


zonas climáticas e às cheias dos rios, notadamente aquelas relativas ao
Nilo. Contudo, os níveis de generalização traziam consigo margens de
erros consideráveis, fortalecendo a abordagem regional.

Matemático, filósofo e astrónomo grego da escola de Alexandria.


Graças a medição ingeniosa de um arco de meridiano, foi o primeiro a
medir corretamente a circunferência da terra (em 40 000 Km.
aproximadamente).

Figura 7-Erastostenes

 Heródoto (484-425 a.C.) – Filósofo e historiador, considerado o


pai da História e da Geografia, inseriu a história dos povos no
contexto geográfico. Suas crônicas registam a gênese da
Geografia Regional e retratam os mais diferentes e distantes
países. São conhecidas suas viagens à Fenícia, ao Egipto e à
Babilônia. Ao estudar as cheias do rio Nilo, Heródoto associou a
sua desembocadura à letra grega delta, razão pela qual é
encontrada até os dias atuais a foz em delta nos livros escolares.

Figura 8- Mapa de Eratóstenes

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Dois “geógrafos” romanos

 Estrabão (64 a.C – 20 d. C) – Grande enciclopedista destaca o


caráter filosófico e transdisciplinar da Geografia. Em sua obra,
afirmava que o amplo conhecimento, necessário ao
empreendimento de qualquer trabalho geográfico, deve estar
relacionado tanto com as coisas humanas como divinas,
conhecimento que constitui a Filosofia.

Ao contrário dos gregos, interessava-se por uma abordagem mais


humana, cujos ensinamentos destinavam-se às ações de governo. Além
do mais, ensinava que os geógrafos não deviam preocupar-se com o
que estava fora do mundo habitado. Assim como Heródoto, Estrabão
foi um grande viajante, tendo descrito no seu livro várias partes do
mundo daquela época. Por tal feito, é, ainda hoje, considerado um dos
mais importantes geógrafos da Antiguidade. Estrabão tinha como
metodologia geográfica a localização e delimitação dos aspetos físicos
de uma região seguidas da descrição da população, com suas lendas,
costumes e atividades econômicas.

 Ptolomeu (90 – 168 d.C.) – É o último grande geógrafo da


antiguidade, foi também astrônomo e matemático. Interessou-
se pelas técnicas de projeção cartográfica e elaboração de
mapas. Em sua obra Geographia, de 8 volumes, traz os princípios
de construção de globos e projeções de mapas, indica os
princípios da Geografia, Matemática e da cartografia, além de
organizar um grande vocabulário com todos os nomes de 8000
lugares que conhecia, localizando-os por meio da latitude e da
longitude.

Em sua obra “el Almagesto” descreve os princípios da Teoria


Geocêntrica, o movimento circular uniforme e a divisão do Universo em
dois domínios) o Cosmos e o mundo sub lunar), que estiveram vigentes
até ao final da idade media e o Renascimento; imaginou a terra imóvel
no centro do universo. Foi o primeiro a fazer mapas com coordenadas.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 9-Representação da teoria Geocêntrica de Ptolomeu

Sumário

Nesta Unidade temática, aprendemos que o saber geográfico não é


algo que começou a ser produzido recentemente. Chega-se mesmo a
afirmar que o seu início remonta às primeiras comunidades gentílicas.
O rótulo geografia, por outro lado, somente passou a ser utilizado na
antiguidade clássica e é fruto direto do pensamento grego.

No processo histórico de construção desta especificidade do saber


humano, os (as) gregos (as) são considerados (as) os (as) primeiros (as)
a registar de forma sistematizada os conhecimentos geográficos. Tais
contribuições decorrem do posicionamento geográfico da Grécia, que
possibilitou a navegação, o comércio e o domínio sobre os povos do
mediterrâneo, além do desenvolvimento social, político, econômico e
cultural.

Os (as) romanos (as), partindo dos conhecimentos herdados dos (as)


gregos (as), ampliaram significativamente estes conhecimentos,
tornando-se os (as) responsáveis pelas grandes contribuições que
passariam ser, mais tarde, fundamentais no desenvolvimento da
Geografia enquanto ciência (Um dos grandes problemas enfrentados
pelos que pretendem desenvolver uma pesquisa mais aprofundada
acerca da história da Geografia, é a ausência quase que total de
informações sobre as produções teórico-metodológicas dos povos
orientais, sobretudo os da Antiguidade, fato que nos obriga, neste
processo de construção, a citar apenas os feitos dos geógrafos
ocidentais, e, mais particularmente, os dos greco-romanos).

Autores como Eratóstenes, Tales de Mileto, Anaximandro, Heródoto,


Hipócrates, Hiparco, além de outros, produziram os conhecimentos

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

alicerçadores do que mais tarde seria a geografia científica, fato que


justifica alguns comentários sobre eles.

Apesar da imensa contribuição destes autores citados, foram, sem


dúvida, Estrabão e Cláudio Ptolomeu os maiores responsáveis pela
sistematização dos conhecimentos geográficos na Antiguidades
Clássica. Suas obras, ressaltamos, serviram de modelo para os
geógrafos responsáveis pela grande retomada da produção de
conhecimentos geográficos, ocorrida a partir do século XV.

Auto-avaliação

1. Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância para


representar os contornos do planeta terra. O mapa mais antigo foi em:

A. 2500 a.C. B. 2500 d. C

C. 2000 a. C D. 2000 d.C

2. A expansão política, comercial e marítima dos povos do mediterrâneo


(Mesopotâmia, Fenícia, Egipto) levou à elaboração de mapas marítimos
e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos. Essas descrições eram
chamados de:

A. terráqueo B. périplos.
C. Trilho D. todas opções estão correctas.

3. Atende as características: antigas civilizações do mundo: 5 mil anos


a.C. e situada as margens do Rio Nilo com a principal actividade
agricultura. Estas particularidades refere-se aos:
A. Os fenícios B. Os babilônios
C. Os egípcios D. Todos

4. Ocupavam uma faixa do litoral do Mar Mediterrâneo, dedicavam-se


ao comércio e faziam viagens pelo Mar Mediterrâneo e Mar Vermelho
e litorais, ilhas, golfos e baías. São características típicas de:

A. Os babilônios B. Os egípcios

C. Gregos D. Fenícios

5. A Geografia é uma ciência que tem por objetivo o estudo da


superfície terrestre e a distribuição

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

espacial de fenômenos significativos na paisagem. Os primeiro que


coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geográfica foram:

A. Gregos B. Egípcios

C. Babilónicos D. Todos

Guião de Correcção
1-A; 2-B; 3-C; 4-D; 5-A

Avaliação

1. O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por:

A. Eratóstenes (276-194 a.C.)

B. Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.)

C. Heródoto (484-425 a.C.)

D. Ptolomeu (90 – 168 d.C.)

2. O segundo mapa da Antiguidade que fazia a Descrição da Terra, obra


ilustrada por um mapa onde a Terra é representada por um disco com
água em sua volta, foi elaborado por:

A. Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.)

B. Heródoto (484-425 a.C.)


C. Ptolomeu (90 – 168 d.C.)
D. Hecateu de Mileto (560-480 a.C.)

3. No processo histórico de construção desta especificidade do saber


humano, os gregos são considerados os primeiros a registar de forma
sistematizada os conhecimentos geográficos.

4. Eratóstenes foi ele que localizou mares, terras, montanhas, rios e


cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas.

5. Qual o objeto de estudo da Geografia?

A. Interpretação de Mapas.
B. Descrição dos Lugares.
C. Observação da Paisagem.
D. Estudo do Espaço Geográfico.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Guião de Correcção

1-B; 2-D; 3-V; 4-V; 5-D

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife:


Editora Universitária/UFPE, 2006.
BAILLY, A. FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.
Paris: Armand Colin, 1997.
CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.
SANTOS, Milton. O país distorcido. São Paulo: Publi folha, 2002. p. 82.

UNIDADE Temática 2.2. A Geografia na idade Média

Introdução

Esta aula discute a influência das mudanças ocorridas na passagem da


Antiguidade para o medievo e suas repercussões no conhecimento
geográfico, assim como a influência árabe no desenvolvimento da
Geografia.
período.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender a evolução do pensamento geográfico na Idade Média.


Objectivos  Entender que as mudanças ocorridas na sociedade com a queda do Império
específicos Romano e ascensão Medieval repercutem no desenvolvimento do
conhecimento geográfico.
 Compreender a influência dos árabes no desenvolvimento da Geografia.

Quadro geral do Sistema Feudal

A obra de Ptolomeu, que vimos no final da aula sobre a Geografia na


Antiguidade, encerra a primeira etapa da Geografia. A própria riqueza
que essa obra produziu por meio de uma ampla sistematização e o
método de documentação que preconizou mantiveram-se durante
muitos séculos presentes no pensamento geográfico. Como Aristóteles
para a Filosofia, Ptolomeu será, até o Renascimento, a autoridade

29
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

inconteste em matéria do conhecimento da Terra e do sistema Mundo.


E, desse modo, a Idade Média é, para a Geografia, um período de
estagnação e mesmo de retrocesso do conhecimento produzido por
essa ciência.

A queda do Império Romano e a difusão do Cristianismo dão início a


esse novo momento da história da humanidade, instalando um
processo de fragmentação na produção do conhecimento científico e
geográfico. As causas para essa fragmentação podem ser encontradas
no contexto social, econômico e religioso daquela época.

As invasões bárbaras vão provocar uma situação de guerra generalizada


em boa parte do espaço europeu ocupado pelo Império Romano. Tal
situação irá provocar na Europa consequências importantes que
levaram ao isolacionismo espacial das sociedades e à instauração do
sistema feudal, conforme você pode perceber na passagem a seguir.

O fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e a configuração


da Terra desapareceu. O Estoicismo deixou de apoiar-se na hipótese geocêntrica e
na imagem de um mundo harmonioso que daí emanava. A deslocação progressiva
da administração tornou inúteis os levantamentos de informações tão procuradas
na época de Augusto. As formas de construção social que triunfaram na Idade
Média assentam em relações pessoais: é através de notáveis locais que o poder se
exerce à distância; como tal, não é necessário formalizar o saber geográfico nesta
sociedade: o conhecimento das pessoas é sufi ciente. (CLAVAL, 1996, p. 17-8).

A Europa que daí surge está dividida em uma série de pequenas áreas
politicamente diferenciadas, deixando de existir uma política uniforme
sobre todo o território. Veja que a desarticulação dos sistemas de
comunicação ligada ao fato de a Europa se encontrar relativamente
despovoada dificultava o deslocamento de pessoas e a troca de ideias
e de bens entre suas diferentes áreas.

O sistema que se constitui é essencialmente isolacionista e tenta


resolver seus problemas a partir da auto – subsistência do próprio
feudo, prejudicando a mobilidade de pessoas, as trocas e a ampliação
do horizonte geográfico que se verificou na Antiguidade.

A influência da Igreja

Nesse período, a Igreja Católica representa o maior poder europeu


associada às diversas aristocracias, uma vez que se constitui na única
instituição com influência sobre todos os feudos. Dessa maneira, as
respostas para as questões da vida cotidiana, individual, social e
políticas passaram a ser dadas a partir de interpretações bíblicas. É claro
que o homem continua se perguntando sobre as questões geográficas.
Entretanto, indagações sobre “como” e
30
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

“onde” continuam a ser feitas, só que agora as respostas são buscadas


nas ordens religiosas e não nas cosmologias, como era mais comum
anteriormente.

A Bíblia era um instrumento que continha referências cosmológicas e


geográficas, as quais davam respostas a tais perguntas. Veja que, no
fundo, é a Igreja e não a ciência que busca respostas para indagações
da realidade sócio espacial.

Vale destacar que nesse período ocorre certo imobilismo populacional


e uma diminuição dos eventos das viagens e, com isso, um maior
desconhecimento do mundo real. Esses fatores aliados ao poder da
Igreja provocam a diminuição da busca de respostas nas ciências. “Era
natural que em um período de lutas constantes houvesse grande
dificuldade de comunicação e uma queda no ritmo do comércio e nas
preocupações filosóficas e, consequentemente, um retrocesso do
conhecimento na Europa Ocidental”. (ANDRADE, 2006, p. 46).

Depois de Ptolomeu houve um declínio evidente na exatidão dos mapas


do mundo, declínio que perdurou até ao século XIV. Portanto, durante
a Idade Média, período que se estendeu da queda do Império Romano
(476 d.C.) a tomada de Constantinopla (1453 d.C.), a Cartografia
experimentou uma fase de estagnação, onde todas as conquistas
científicas realizadas anteriormente foram substituídas por uma
representação simbólica, de caráter religioso.

Isodoro (570-636 d.C.), bispo de Sevilha, criou o mapa etimologias,


também conhecido como mapa T-0 (Figura 5). Este mapa esquemático
tinha o seguinte significado: o "T" representava os três cursos d'água
que dividiam o ecúmero, o Mediterrâneo, que separa a Europa da
África; o Nilo, separando a África da Ásia; e o Don, entre a Ásia e a
Europa. O ecúmero teria sido dividido por Noé entre seus três filhos
após o Dilúvio. Além disso, o "T" também simbolizava a cruz e na sua
junção estaria localizada Jerusalém, centro do mundo. Esses mapas, em
sua maioria, eram circulares e emoldurados por um grande oceano.

31
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 10- Mapa T em O, típico da era medieval

Neste mapa a Ásia ocupava sempre a metade superior do “O”, com a


Europa e a África ocupando, cada uma, a metade da parte inferior. O
mediterrânico uma posição meridiano entre os dois continentes.
Jerusalém estava no centro do círculo, segundo o texto bíblico «esta
Jerusalém; no meio das nações eu a coloquei e suas terras ao redor
dela». O paraíso aparecia localizado a leste na parte superior do mapa.
Nestes mapas foram incluídos elementos teológicos, perdeu-se a noção
de localização rigorosa dos lugares e não existia sistemas de projeção.
Considerava-se a terra de forma plana representada circularmente.

Nem tudo foi sombra na Idade Média

Se por um lado o conhecimento declinava no mundo ocidental “em


outras áreas, porém, a formação de Estados fortes e a intensificação das
viagens e do comércio permitiram que as tradições culturais gregas e
latinas se integrassem com a de povos do Oriente e houvesse maior
difusão cultural” (ANDRADE, 2006, p.46). Aqui um fator merece
destaque: a expansão Árabe-Muçulmana.

A expansão Árabe-Muçulmana

A civilização Árabe-Muçulmana emerge depois da queda de Roma e se


baseia na nova e vigorosa religião do Islã. Surgida no século VII, seu
fundador foi Maomé (570-632), um próspero mercador da cidade de
Meca.

Maomé acreditava ter visto o anjo Gabriel que lhe ordenou “recitar em
nome do Senhor”. Tomado por essa visão, Maomé se considera o
escolhido e se transforma em profeta.
32
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Nesse período, a maioria do povo árabe acreditava em deuses tribais,


entretanto, nos grandes centros, a maioria da população já havia
tomado conhecimento do Judaísmo e do Cristianismo, o que facilitou a
aceitação de um Deus único anunciado por Maomé. Os padrões
islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida cotidiana são
fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam conter a palavra de
Alá, revelada a Maomé. Para eles, o Islã é o aperfeiçoamento do
Judaísmo e do Cristianismo e reconhecem Jesus como um grande
profeta, mas não divino. Maomé unifica as tribos árabes, envolvidas em
constantes disputas, através da difusão da fé islâmica.

Entre os séculos VIII e IX, a civilização muçulmana conhece o seu


apogeu. Enquanto o conhecimento estava em baixa na Europa
ocidental, os muçulmanos desenvolviam grandes conhecimentos
embasados nas realizações dos gregos antigos através da tradução de
obras gregas para o árabe. Com as suas conquistas, o império árabe
estende-se desde a Espanha até a Índia e foi unificado, principalmente,
pela fé. Por volta do século XI, começam a perder seu domínio.

Os árabes encontravam-se assim extraordinariamente bem colocados


para realizarem a exploração do domínio da Antiguidade clássica. O
interesse pelas viagens e pelo conhecimento de outros lugares era
grande.

As peregrinações a Meca, exigência do Corão, significavam também


grandes distâncias a percorrer. Assistiu-se assim a um período de
desenvolvimento do conhecimento de muitos lugares.

Os árabes procuravam também estabelecer relações com outros povos


distantes. No século XII, Edrisi enriqueceu os seus conhecimentos
geográficos com longas viagens e, ao serviço do rei da Sicília, elaborou
e 1154 um mapa-múndi, que é considerado a obra mais importante da
cartografia árabe. No século XIV, Ibn Batutah percorreu o Egipto, a
Arábia, a Palestina, a Rússia, o Iraque, o Irão, o Afeganistão, a Índia e a
China. Ultrapassou o Equador, demonstrando que a zona tórrida era
habitada. O relato das suas viagens, rico de observações e de
informações pessoais, é, sobretudo, uma descrição da sociedade
muçulmana da 1ª metade do século XIV.

33
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 11- Itinerários e expansão árabe na idade media

Os árabes mantiveram, deste modo, as tradições da geografia


descritiva. Foram também eles que traduziram no século IX a geografia
de Ptolomeu, com o nome de Almagesto. Desenvolveram a astronomia,
a matemática, a geometria. Aperfeiçoaram o astrolábio e a bússola.

E enquanto a cartografia ocidental ia pouco além de uma ilustração


decorativa de textos teológicos, o mundo muçulmano recolheu e
desenvolveu a antiguidade clássica.

As suas cartas são no entanto esquemáticas: não há nem projetado,


nem coordenadas, e a configuração real das várias regiões é
inteiramente ignorada. A latitude e a longitude foram utilizadas pelos
astrónomos nas suas observações, mas geógrafos, ao elaborarem os
mapas, não se serviam desses dados. Existia no mundo árabe uma
separação entre os geógrafos e astrónomos, que não aconteceu na
antiguidade.

Figura 12-Cartogramas usados pelos árabes na idade média

34
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Sumário

Na aula 1 (O saber geográfico), você observou a diferença existente


entre o conhecimento geral e o geográfico.

Agora, você terá visto como esses conhecimentos e, em particular, o


geográfico, recrudesceu no início da Idade Média. A partir desse
período, a influência do Cristianismo passa a ocorrer, também, no cerne
do conhecimento e as respostas para as indagações do homem passam
a ser pautadas nos conhecimentos da Bíblia e no desenvolvimento do
conhecimento humano, como o incremento de tecnologias que
viabilizassem os empreendimentos da Igreja Católica – as cruzadas, por
exemplo. Viu ainda que a influência dos árabes é grande nesse período
e que ela foi fundamental para o desenvolvimento geográfico dessa
época.

Autoavaliação

1. A Europa, da Idade Média, é uma sociedade relativamente


estável e fechada. Mas, esse período inicia grande processo de
abertura e expansão comercial e marítima.
2. Qual das alternativas abaixo aponta características da religião
na Idade Média?

A - Várias igrejas cristãs e protestantes atuavam na Europa Medieval.


B - A Igreja Católica dominava na Europa Medieval, controlando a
produção cultural e tendo grande influência sobre a vida espiritual das
pessoas.
C - As pessoas não davam importância à religião na Idade Média, sendo
que grande parte da população era composta por ateus.
D - Embora monopolizasse a vida religiosa na Idade Média, a Igreja
Católica era muito aberta aos avanços científicos e manifestações
culturais diversas.

Guião de Correcção
1-V; 2-B

Referencias Bibliograficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife:


Editora Universitária/UFPE, 2006.

BAILLY, A.; FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.


Paris: Armand Colin, 1997.

35
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.

FERREIRA, Conceição Coelho; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução do


pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1990. (Panfl etos Gradiva, 5).

MARCO Pólo. Direção de Giuliano Montaldo. São Paulo: Versátil, 1982.

AS MONTANHAS da lua. Direção de Bob Rafelson. [S. l.]: Tel Vídeo/20.20


Vision, 1990.

O NOME da rosa. Direção de Jean-Jacques Annaud. São Paulo: Warner


Bros, 1986.

UNIDADE Temática 2.3. A Geografia na era dos Descobrimentos

Introdução

Nesta aula, veremos as mudanças ocorridas no período de transição


entre a Idade Média e os Tempos Modernos, destacando os
acontecimentos que deram origem à chamada Renascença e ao
Iluminismo e a forma como essas mudanças influenciaram e
demandaram uma nova ordem espacial.

deseríodo.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender a importância da Renascença e do Iluminismo para os tempos


Objectivos modernos.
específicos  Mostrar a relação entre mudanças sociais e estruturas espaciais ocorridas na
transição do Feudalismo para o Capitalismo.
 Relacionar mudanças ocorridas na estrutura social com a estruturação
espacial.

O Renascimento

O Renascimento3 foi um dos mais importantes momentos de inflexão


(mudança de direção) da história do ocidente e significa uma rotura

3
Segundo o dicionário Michaelis, o Renascimento pode ser definido como o movimento literário,
científico e artístico surgido na Itália, no século XV, e difundindo-se pelos outros países da Europa,
no século XVI; sua característica principal foi a imitação dos modelos da civilização grega e latina.

36
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

entre o mundo medieval, caracterizado como uma sociedade agrária,


estamental, teocrática e fundiária, e o mundo moderno, caracterizado
pela urbanização, pelo modo burguês de pensar e, principalmente, por
se caracterizar como uma sociedade de trocas.

O Renascimento vai do século XV ao XVII. Neste momento ocorrem


significativas mudanças. Na Europa, estas mudanças estão na origem do
que viria a ser o mundo contemporâneo.

Como vimos na aula anterior, a Europa, da Idade Média, é uma


sociedade relativamente estável e fechada. Mas, esse período inicia
grande processo de abertura e expansão comercial e marítima.

A identidade das pessoas, de forte vinculação com o clã (tribo


constituída de varias famílias subordinadas a um chefe hereditário) com
a propriedade fundiária, passa a ter como referência o nacionalismo e
o cultivo da própria individualidade.

O homem vai tornando-se, aos poucos, o centro das preocupações,


possibilitando paulatinamente a instalação de mentalidade laica (o que
se opõe à eclesiástica), a qual vai se desligando do sagrado e das
questões transcendentais tão características da Idade Média. Essas
mudanças afetaram todas as esferas sociais:

Na esfera econômica, o comércio e a manufatura tiveram grande


expansão e o capitalismo substitui amplamente as formas medievais de
organização econômica.

Na esfera política, o governo central torna-se mais forte e viabiliza a


consolidação do Estado, nova forma de governar. Na esfera religiosa,
veremos a ascensão do protestantismo.

Na esfera social, surge o que hoje chamamos de classe média, que


assume um papel importante no campo da política e da cultura. Na
esfera cultural, o clero perde o monopólio do ensino e a teologia cede
lugar à ciência na explicação do mundo.

A sociedade renascentista é uma sociedade fascinada pela vida da


cidade, pelo comércio e pelos prazeres terrenos. A ideia de viver bem
neste mundo passa a rivalizar com a promessa do paraíso.

Ao se afastarem da orientação religiosa predominante na Idade Média,


a sociedade que daí emerge vai discutir a condição humana na sua
relação com o mundo, abrindo, assim, novas possibilidades de reflexão
sobre questões políticas e morais.

37
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Note que nesse processo de transição do medieval para a modernidade


o mundo vai tornando-se cada vez mais laico e independente da tutela
da religião e o homem vai sendo levado a pensar e analisar a realidade
que o cerca em toda a sua objetividade e não como resultado da
vontade divina.

Perceba que neste momento aparecem novas instituições políticas e


sociais – nações, estados, novas legislações, novas classes sociais,
exércitos etc. – o que implica também numa nova maneira de pensar a
vida social, a história e a geografia. As cidades ganham vida, atraindo
pessoas de diferentes lugares dispostas a conquistar um espaço no
mundo, a competir e a enriquecer.

A cidade vai transformar-se também no lócus de sustentação do


desenvolvimento do capitalismo, inaugurando também uma nova
divisão social e territorial do trabalho (trataremos melhor desse assunto
na aula seguinte, na qual veremos as consequências espaciais de toda
essa transformação).

O Iluminismo

Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar. Falando


de modo geral, foi uma consequência da “revolução científica” do final
do século XVII, que havia transformado a concepção que a maior parte
das pessoas instruídas tinha a respeito do mundo habitado.

Como vimos a pouco, o Renascimento inicia o movimento de transição


da sociedade medieval para o capitalismo moderno. Sistema
econômico voltado para a produção concentrada de bens, para a troca,
para a expansão comercial, para a circulação crescente de mercadorias
e para o adensamento populacional. Perceba que é um sistema que
demanda constantemente ajustes e ordenamento espacial.

Essa sociedade que emerge é individualista e financista. Voltada para


expansão comercial e busca do lucro, ela engendra novos valores e
atitudes que passam a reger o comportamento social. Veja que a nova
sociedade mexe de maneira radical com a estruturação espacial:
expansão significa busca e dominação de novos territórios; produção
concentrada exige deslocamento de população e novo papel para as
cidades; circulação demanda vias de comunicação e de fluxos, dando
origem a redes urbanas hierarquizadas.

O Desenvolvimento Científico

Essas novas condições fizeram do comércio a principal atividade motora


da sociedade que daí emergia. Para esse fim, organizavam-se viagens
internacionais e faziam-se guerras nas quais eram disputadas as
melhores rotas comerciais, as fontes de produtos e matérias-primas e a

38
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

clientela. As grandes navegações ocorreram nesse cenário.

A valorização e intensificação das trocas, a descoberta de novas rotas e


do desenvolvimento das redes urbanas, e a possibilidade, cada vez
maior, de se auferir lucro repercutiram no estímulo à produção.
Tornava-se urgente produzir mais e em condições capazes de responder
à demanda que se tornava cada vez mais intensa.

Esse quadro passa a exigir dos produtores uma outra racionalidade e,


principalmente, planeamento. Além disso, a intensificação e ampliação
dos mercados requerem um desenvolvimento tecnológico que
acompanhe os novos ritmos da produção em larga escala para um
mercado que já se reveste de tendências mundiais.

Perceba que nesse caso estão dadas as condições para o


desenvolvimento tecnológico voltado para a invenção e produção de
máquinas que potencializasse a produção e o barateamento dos
produtos. Isso provoca um verdadeiro corre-corre por engenhos
tecnológicos.

O planeamento, a racionalidade e o desenvolvimento da pesquisa


científica vão, aos poucos, sendo disseminados visando à produção, e
também vão se disseminando na vida cotidiana.

Essa turbulência provoca a curiosidade dos homens no sentido da busca


do entendimento dos mecanismos que regulam o mundo circundante,
ou seja, o homem da modernidade procura compreender os
mecanismos da vida e da natureza.

Com a saída sistemática de populações do campo em direção à cidade,


o interesse pela produção agrícola tornou-se iminente dado que, pela
primeira vez na história, dever-se-ia produzir para um contingente de
produtores não primários. Essa preocupação manifesta-se numa
verdadeira revolução agrícola que buscava aumentar a produção e a
produtividade de alimentos. E esse movimento somente foi possível
porque junto com a revolução agrícola vieram também a revolução
científica, tecnológica e industrial.

As Grandes Navegações

Imagine que, diante do quadro apresentado até aqui, os interesses


econômicos e de expansão manifestavam-se de forma nunca vista na
história. São esses interesses que vão provocar, entre os séculos XVI e
VXII, o ingresso da Europa Ocidental numa era de agressiva exploração
ultramarina e expansão econômica que transformará em definitivo o
mundo em que vivemos. Os exploradores europeus descobriram um
novo caminho para a Índia, fazendo o
39
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

contorno do continente Africano. Conquistaram, colonizaram e


exploraram a América, o que provocou um extraordinário aumento nas
atividades mercantis e no suprimento monetário, promovendo o
desenvolvimento do capitalismo.

As Grandes Navegações levaram ao progresso da Cartografia, além de


inúmeras invenções como a bússola, a caravela e o astrolábio.

Figura 13- bússola, a caravela e o astrolábio.

 Os primeiros mapas desse período eram elaborados de acordo com


as necessidades dos navegadores, que descreviam os litorais por
onde passavam, deixando de lado a descrição do interior dos
continentes.
 Esses mapas eram denominados portulanos.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 14- mapas portulanos


As grandes navegações (ou os grandes descobrimentos) foram
fundamentais para o alargamento do horizonte geográfico a partir da
Europa. Para superar as dificuldades na busca de novas terras, os
navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de observação
da natureza. Alguns instrumentos serviram, portanto, como
potencializadores da capacidade de observação e de registo do que os
homens conseguiam ver e conhecer. A combinação dos usos de
instrumentos, resultado das invenções do ser humano, foi fundamental
para que as navegações ocorressem muito além das proximidades dos
continentes. Depois de ultrapassar o Cabo Bojador, no Marrocos, os
portugueses foram além, acompanhando a costa oeste da África, até
chegarem ao Oceano Índico depois de ultrapassarem o Cabo da Boa
Esperança

41
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 15- Cabo da Boa Esperança, África do Sul

Daí, chegar à Índia, acertar o rumo para a América, ir além do Estreito


de Magalhães, foi resultado de um passo arrojado e corajoso que os
navegadores portugueses, depois os espanhóis, desafiando as
condições naturais e adversas de correntes marítimas e de ventos,
puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles.

Para que isso ocorresse, no entanto, foi necessário o desenvolvimento


de outros conhecimentos. A elaboração de mapas com o domínio da
linguagem matemática e das projeções cartográficas foi necessária para
que as rotas fossem, ao longo do tempo, definidas com mais precisão.

Um novo desafio se colocava: a Terra, de formato esférico, precisava


ser representada em um plano constituído pela folha que se colocava
sobre a mesa dos cartógrafos. As medidas de latitude e longitude
precisavam ser respeitadas e, para isso, a precisão matemática se
tornava cada vez mais necessária.

A linguagem da ciência, no Renascimento, consolidava-se como sendo


a matemática. Por meio de pontos, retas e ângulos, poder-se-ia localizar
qualquer ponto, pessoa, lugar etc. num sistema tridimensional de
coordenadas. Cabia, com as mudanças paradigmáticas do
Renascimento, compreender como o mundo funcionava, muito mais do
que compreender por que ele foi criado. O ser humano emerge como
centro do universo e sua posição nesse universo, mesmo tendo como
referência a Terra, era importante para se ampliar os horizontes da
ciência.

Para que isso ocorresse, os europeus foram responsáveis pela conquista


de novas terras, associando-se ou dizimando outras populações que já
aí viviam. Sua capacidade de conquista foi potencializada por alguns
elementos: a caravela, mais leve e ágil e que podia ultrapassar, por

42
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

causa das suas velas, cabos com ventos contrários; a pólvora, elemento
básico para a demonstração do poderio bélico, que possibilitou o
avanço dos conquistadores sem se arriscarem no corpo-a-corpo das
batalhas; e a bússola, instrumento que permitiu a orientação dia e noite
nos deslocamentos pelos mares e pelas terras.

A esses elementos, acrescenta-se a imprensa, invenção que permitiu o


registo dos conhecimentos e sua divulgação em diferentes línguas para
todos aqueles que pudessem decifrar os códigos das letras e sílabas, e
das representações cartográficas.

Atitudes como a observação, a anotação, o uso de instrumentos, a


descrição e a explicação foram incorporados pela Geografia e, ainda
hoje, são importantes para a abordagem do temário geográfico. Para
completar esse quadro, é importante lembrar o papel do método
científico, que serviu para que os cientistas se orientassem, registassem
e transformassem a observação dos fatos em elementos científicos.

O método científico, como ele foi organizado no Renascimento,


continha alguns princípios que, quando seguidos, davam o estatuto de
ciência ao que era enunciado. Observar sempre, experimentar, utilizar
a linguagem matemática, decompor o facto estudado, não deixar de
lado nenhum aspecto do facto para que ele tivesse todas as suas
possibilidades esgotadas, eram os princípios que deviam ser seguidos
por todos aqueles que tinham, como objectivo, fazer ciência.

Sumário

Nesta aula, mostramos as principais mudanças ocorridas à época da


Renascença e do Iluminismo, dois momentos que significaram o
período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.

Destacamos ainda as relações entre o clima intelectual, o


desenvolvimento político, cultural, social e econômico e a relação
recíproca entre essas mudanças e as mudanças de ordem espacial.

Este período significou para a geografia, como para quase todo os


sectores do saber humano, uma época de renovação e de fabril
actividade.

Foi o tempo das grandes viagens, que revelaram mundos


desconhecidos, e das grandes descobertas científicas, que forneceram
novas bases a todos os conhecimentos.

Três factos importantes caracterizaram este momento único:


— Um prodígio alargamento do horizonte geográfico;

43
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

— O grande desenvolvimento da cartografia;


— Os progressos das ciências físicas auxiliares da geografia.

Autoavaliação

1. O Renascimento inicia o movimento de transição da sociedade


medieval para o capitalismo moderno

2. O desenvolvimento da pesquisa científica vão, aos poucos, sendo


disseminados visando à produção, e também vão se disseminando na
vida cotidiana. Foi no desenvolvimento cientifico que:

A. Ocorreram as grandes navegações

B. Queda do império Romano

C. Descoberta da Geografia

D. Todas opções estão correctas.

3. Os primeiros mapas desse período eram elaborados de acordo com


as necessidades dos navegadores, que descreviam os litorais por onde
passavam

4. Os primeiros mapas desse período eram elaborados de acordo com


as necessidades dos navegadores, que descreviam os litorais por onde
passavam. Esse tipos de mapa eram denominados por:

A. Bússola

B. caravela

C. astrolábio

D. portulanos.

5. Os grandes descobrimentos foram fundamentais para o alargamento


do horizonte geográfico a partir da:

A. Africa B. Ásia

C. Europa D. América

44
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Guião de Correcção
1-V; 2-A; 3-V; 4-D; 5-C

Avaliação

1. A elaboração de mapas com o domínio da linguagem matemática e


das projeções cartográficas foi necessária para que as rotas fossem, ao
longo do tempo, definidas com menor precisão.
2. O método científico, como ele foi organizado no Renascimento,
continha alguns princípios que, quando seguidos, não davam o estatuto
de ciência.
3. As principais mudanças ocorridas à época da Renascença e do
Iluminismo, são dois momentos que significaram o período de transição
entre:
A. A Idade Moderna e a Idade Média
B. a Idade Média e a Idade Moderna.
C. Contemporânea e a Idade Moderna.
D. Contemporânea e a Idade Média
4. Nas grandes navegações, podemos destacar um dos factos muito
importantes para contributo do sucesso da Geografia:
A. O grande desenvolvimento da cartografia
B. Revolução Industrial
C. Avanço Tecnológico
D. Todas opções estão correctas.
5. Os progressos das ciências físicas auxiliares da geografia foram
marcado na era de descobrimentos.

Guião de Correcção
1-F; 2-F; 3-B; 4-A; 5-V

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade. Recife:


Editora Universitária/UFPE, 2006.

BAILLY, A.; FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.


Paris: Armand Colin, 1997.
CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.

PERRY, Marvin. Civilização ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

45
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TARNAS, Richard. A epopéia do pensamento ocidental. Rio de Janeiro:


Bertrand Brasil, 2000.

UNIDADE Temática 2.4. A Institucionalização da geografia

Introdução

A Geografia moderna surge na Alemanha, a então Prússia, no século


XIX, marcada pelas particularidades desse país. Mostrar isso é um dos
intuitos desta aula. Mostraremos também que o contexto cultural,
político e filosófico devem estar relacionadas quando se trata de
entender o desenvolvimento de qualquer ciência.
Você verá ainda como se dá o processo de sistematização e
institucionalização da Geografia, quais foram os pressupostos materiais
e históricos que deram sustentação a essa sistematização e quais os
pressupostos imateriais/subjectivos. Esta aula tenta responder às
seguintes questões: por que a geografia, um conhecimento de longa
data, vai se transformar em um saber sistematizado e científico apenas
no século XIX e por que é na Alemanha que isso acontece? Quais as
relações entre o contexto da modernidade4 e o surgimento dessa
ciência?
desse período.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender como as transformações ocorridas na modernidade


Objectivos influenciaram o processo de desenvolvimento das ciências em geral e da
específicos Geografia em particular.
 Identificar as mudanças ocorridas nesse período que influenciaram,
especificamente, o pensamento geográfico.
 Relacionar os processos históricos, sociais, econômicos e políticos com o
desenvolvimento e sistematização do conhecimento geográfico.
 Articular a especificidade da Alemanha no século XIX com o surgimento da
Geografia moderna.

4
Estilo e costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século
XVII e que vai, paulatinamente, influenciando todo o mundo.

46
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Contexto geral

Como você viu na aula sobre Geografia na Antiguidade, as primeiras


indagações geográficas sobre a localização e distribuição dos
fenômenos remontam às origens da humanidade.
Entretanto, de forma mais rigorosa, a Geografia como conhecimento
mais sistematizado nasce na Grécia, onde Anaximandro de Mileto (650-
615 a.C.) constrói o primeiro “mapa do mundo” e Hecateu de Mileto
(560-480 a.C.) constrói o segundo. Por outro lado, a Geografia enquanto
ciência autônoma e sua institucionalização ocorrerão somente no
século XIX.

Perceba que desde o início o conhecimento geográfico apresentou-se


polarizado entre duas tendências opostas e complementares. De um
lado, os geômetras (versados em Geometria) e os astrônomos, com
uma visão mais geral; de outro, os desbravadores, os aventureiros e
curiosos, os historiadores, os filósofos e os políticos que, preocupados
com os aspectos diferenciados da superfície terrestre, das diversas
formas de produção, dos povos e de seus costumes, refletem sobre as
relações entre os diferentes territórios e as várias sociedades humanas.

Vimos também que no decorrer da história da humanidade os périplos


e conquistas se multiplicam, os contactos com os povos “bárbaros” vão
pari passu (simultaneamente) alargando o horizonte geográfico.

A gênese da Geografia moderna

A constituição da Geografia enquanto saber científico sistematizado e


institucionalizado é fruto de um processo lento que tem por base
factores diversos no que se refere aos fenômenos históricos e
estruturais relacionados a determinado grau de desenvolvimento
material das sociedades e às ideias a eles vinculadas, ou seja, o
desenvolvimento da geografia (assim como de todas as outras ciências)
prescinde do desenvolvimento da vida material e do pensamento
filosófico-científico.

Dessa forma, a geografia moderna, em seu nascedouro, necessitou de


uma série de condições históricas para poder se tornar realidade. Essas
condições históricas a que nos referimos dizem respeito ao processo de
transição do Feudalismo para o Capitalismo.

Podemos dizer que a grande revolução para o conhecimento geográfico


começa a ser preparada a partir da extraordinária expansão do espaço
conhecido, do domínio da configuração da Terra e do desprezo às ideias
e crenças a respeito da superfície terrestre que vem com a Idade
Moderna.

47
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Mas, para que a geografia desponte como um saber autônomo,


particular, faz-se necessárias ainda certas condições que só estarão
suficientemente amadurecidas no século XIX.

Pressupostos para o surgimento da Geografia moderna

Como vimos anteriormente, a institucionalização da Geografia


dependeu tanto de factores externos quanto de factores de ordem
interna à lógica do conhecimento científico em geral. Vimos também
que o desenvolvimento dessa lógica está intimamente ligada ao
processo mais amplo de desenvolvimento histórico da humanidade.

Em se tratando especificamente da institucionalização do


conhecimento geográfico moderno, que é o nosso caso, podemos dizer
que quatro ordens de factores ou pressupostos fundamentais
contribuíram para a erupção da sistematização da Geografia como
ciência:

a. O efetivo conhecimento do planeta (alargamento do horizonte


geográfico, ampliação do ecúmeno – áreas da Terra habitadas
pelo homem);
b. Acúmulo de informações sobre os diferentes lugares;
c. Aperfeiçoamento das técnicas cartográficas;
d. Desenvolvimento do conhecimento científico-filosófico.

O conhecimento do planeta

O conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto


fundamental para a emergência da Geografia moderna e as condições
materiais para a realização de tal conhecimento encontram se na
expansão europeia que se concretiza através das grandes navegações e
descobertas e na constituição de um espaço mundial de relações.
No século XIX, a constituição de um espaço mundial já é uma realidade
efectiva e consolida definitivamente aquele processo que se inicia com
as primeiras evidências de decadência do sistema feudal, ou seja, no
século XIX, com a Revolução Industrial, o Capitalismo está consolidado.
Essa consolidação atua de forma decisiva no processo de reafirmação
das relações mercantis de produção que, ao se articular em escala
planetária, estende a influência das sociedades europeias em todo o
globo.
Preste atenção, também, ao facto de que a constituição de uma
economia mundial desembocou numa exploração colonial, pois esse
processo de expansão econômica exigiu uma necessária apropriação e
submissão de novos territórios e sua incorporação ao sistema
produtivo.

48
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Este processo se baseia, pelo menos, em dois elementos fundantes da


Geografia: apropriação e exploração. A apropriação desses novos
territórios ocorre de forma lenta e vai, paulatinamente, fragmentando
os modos de vida locais, promovendo novos ordenamentos e “ajustes
espaciais”. Além disso, coloca o europeu expansionista em contacto
com realidades espaciais bastante diversas da sua.

Para ter o conhecimento dessas novas realidades particulares e de suas


localizações (lembre-se de que localização e nomeação dos lugares são
elementos constitutivos do saber geográfico, veja aula 1), o
levantamento de informações sobre esses lugares singulares torna-se
imprescindível.

O acúmulo de informações

Como vimos, os grandes descobrimentos dão origem a um


conhecimento cada vez mais apurado da realidade do planeta, factor
primordial para o surgimento de uma Geografia moderna. Junto a esse
conhecimento, faz-se necessária a sistematização de informações sobre
os diferentes pontos da Terra, ou seja, sobre os diferentes territórios
que vão sendo incorporados às relações mercantis.

A descoberta de novas terras torna possível a expansão das relações


capitalistas. A apropriação e incorporação de novos territórios exigem,
como já foi dito, o conhecimento de realidades distintas entre si e
distintas do quadro europeu de referência.

Assim, a exploração colonial demanda o levantamento constante de


informações que vai sendo feito de forma criteriosa, dando origem a
grande acervo de dados. O acúmulo de informações é primordial nesse
momento de expansão, uma vez que o “mundo”, tal qual o conhecemos
hoje, está sendo descoberto e apropriado (dominado) e do qual se tem
poucas informações. Além disso, conhecer e localizar detalhadamente
os diferentes lugares é uma tarefa demandada pela própria necessidade
de realização da expansão capitalista que, para aumentar seu domínio
e fortalecer suas atividades nos territórios colônias, necessita de
informação.

A cartografia

O avanço e aprimoramento da cartografia (instrumento por excelência


geográfico) se constituem efetivamente num outro pressuposto da
Geografia moderna. Esse avanço na linguagem cartográfica é uma
demanda primária e uma exigência prática para o pleno
desenvolvimento das relações comerciais que requer o
estabelecimento preciso de rotas de navegação, assim como a
localização exata dos lugares e portos.

49
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O tráfego terrestre também se amplia em função da regularidade


crescente das trocas e do atendimento de distâncias maiores a serem
percorridas.

É a economia “global” que emerge, articulando regiões diferentes e


distantes e demandando a confeção, cada vez mais detalhada, de
mapas confiáveis que facilitem o deslocamento mais rápido e seguro
dos meios de transporte, os quais também sofrem grande
desenvolvimento nesse período. Mapas mais confiáveis propiciam
ainda o conhecimento e a extensão real das colônias.

A técnica de impressão, recém-descoberta nesse período, populariza o


instrumental cartográfico que vai se juntar às descrições dos viajantes
naturalistas do século XVII, dando-lhes cunho mais geográfico.

Alemanha: berço da institucionalização da Geografia moderna

Na Alemanha, emergem questões da prática social e da sua


particularidade histórica que irão estimular a sistematização e
institucionalização da geografia no seio da sociedade germânica.

O repertório geográfico e os interesses sociais e políticos engendrados


na sociedade alemã formam um par indissociável para a discussão dos
problemas colocados para os alemães e seu contexto histórico frente às
mudanças e transformações por que passavam as diferentes sociedades
europeias.

Um dos elementos fundamentais para a tessitura do “ajuste espacial”,


demandado pelo processo de modernização, é a constituição do
Estado. Enquanto outros países constituem seu Estado Nacional, a
Alemanha encontra dificuldade para sua unificação frente à extrema
diversidade entre as várias unidades germânicas, a ausência de relações
mais duradouras entre elas e a falta de um centro organizador do
espaço que faça convergir as relações econômicas e amenizem as
disputas de fronteiras.

A Alemanha é, nesse período, um país em situação de atraso em


relação às demais nações europeias e tal situação parece ser um
aspecto fundamental para fazer da discussão geográfica um tema da
maior importância para a sociedade alemã.
Essas singularidades germânicas vão marcar profundamente todos os
planos da história da Alemanha, das relações econômicas, passando
pela organização política, até as formas de pensamento. É nele inclusive
que residem as determinações históricas específicas explicativas do
afloramento pioneiro do processo de sistematização do pensamento
geográfico nesse país (MORAES, 2002, p.26).

50
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Como você deve estar percebendo, a maior parte dos temas colocados
pelo processo de sistematização da Geografia constitui dificuldades
vividas pela sociedade alemã ainda não unificada. A geografia nasce
nesse contexto específico da Alemanha para dar respostas a duas
questões fundamentais: resolver uma questão territorial premente
para a constituição de um Estado Nacional e a conquista de um lugar de
destaque para a Alemanha no cenário apresentado pela realidade
europeia do século XIX.

Os acontecimentos históricos e as necessidades práticas da sociedade


alemã são pontos importantes para a compreensão do surgimento da
Geografia moderna, mas não são suficientes. O nascimento de uma
ciência ou de uma ideia depende de factores históricos, mas também
de homens concretos. E em se tratando de Geografia alemã, esses
homens são Humboldt e Ritter, que teremos oportunidade de conhecer
na próxima unidade.

Sumário

Esta aula mostra a relação entre o desenvolvimento da ciência


geográfica e o das condições materiais da vida social dentro do contexto
histórico da modernidade. Analisa os pressupostos para a
sistematização da Geografia e a especificidade da Alemanha no século
XIX, país que primeiro fará a sistematização do conhecimento
geográfico, dando-lhe estatuto científico e institucional.

Auto-avaliação

1. A Geografia enquanto ciência autônoma e sua institucionalização


ocorrerão somente no século:
A. XIX B. XX C. XVII D. XV
2. A constituição da Geografia enquanto saber científico sistematizado
e institucionalizado é fruto de um processo rápido que tem por base
factores diversos como aos fenômenos históricos e estruturais. (F)
3. A constituição da Geografia enquanto saber científico sistematizado
e institucionalizado é fruto de um processo que envolve fenômenos
históricos. Essas condições históricas a que nos referimos dizem
respeito ao processo de transição do:
A. Capitalismo para o Socialismo
B. Feudalismo para o Capitalismo.

51
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

C. Feudalismo para o Socialismo


D. Socialismo para o Marxismo

4. O conhecimento geográfico começa a ser preparada a partir da


extraordinária expansão do espaço conhecido, do domínio da
configuração da Terra e do desprezo às ideias e crenças a respeito da
superfície terrestre que apareceu com a:

A. Idade Media

B. Idade Antiga

C. Idade Moderna

D. Todas as idades

5. O conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto


fundamental para a emergência da Geografia moderna

Guião de Correcção
1-A; 2-F; 3-B; 4-C; 5-V

Avaliação

1. Os grandes descobrimentos dão origem a um conhecimento cada vez


mais apurado da realidade do planeta, factor primordial para o
surgimento de uma Geografia moderna. A institucionalização da
Geografia foi na:
A. França
B. Itália
C. América
D. Alemanha
2. O nascimento de uma ciência ou de uma ideia depende de factores
económicos, mas também de seres homens concretos.
3. As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada,
vão ser a obra de dois autores prussianos ligados à aristocracia:
Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, e Karl Ritter,
tutor de uma família de banqueiros.

Guião de Correcção
1-D; 2-F; 3-V

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora


Universitária/UFPE, 2006.
MORAES, António Carlos Robert. A gênese da geografia moderna. São Paulo:
ANNABLUME/HUCITEC, 2002.
MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo:
HUCITEC, 1983.
MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2007.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2006.

UNIDADE Temática 2.5. A geografia de Humboldt e Ritter

Introdução

No período que analisaremos nesta aula, você verá que a geografia vai deixando
de ser apenas uma obra de erudição a serviço de outras ciências, no papel de
auxiliar; que ela deixa de ser um amontoado de conhecimentos, uma enumeração
mais ou menos ordenada de nomes de rios, montanhas ou cidades; e que deixa
também de ser um agregado de nomes e de números. Você verá ainda que a
geografia se beneficia dos acontecimentos gerais e do desenvolvimento de outras
ciências.

Ligados a essas mudanças, encontraremos os pais da geografia moderna:


Humboldt e Ritter. São esses dois sábios geógrafos os primeiros a se preocuparem
com a Geografia enquanto ciência e como um saber sistematizado. Viveram na
mesma época, caminharam por vias diversas, mas suas ideias convergiam
significativamente para os mesmos princípios.
De modo geral, podemos dizer que o conjunto da obra desses dois alemães
respondia ao desafio da sociedade europeia em que viviam: desenvolvimento do
Capitalismo, colonização e a formação específica da Alemanha.

desse período.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender como o panorama de ampliação do


Objectivos horizonte geográfico contribuiu para o alargamento das
ciências em geral e da Geografia em particular.
Específicos
 Identificar as mudanças ocorridas nesse período que
influenciaram, especificamente, o pensamento de
Humboldt e de Ritter.

53
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

 Relacionar os processos históricos, sociais, econômicos e


políticos com o desenvolvimento e a sistematização do
conhecimento geográfico elaborado por Humboldt e
Ritter.

 Refletir geograficamente, utilizando-se da relação entre


forças locais e gerais na explicação dos fenômenos.

Panorama geográfico Séculos XVIII e XIX

O século XVIII foi o século da exploração dos oceanos e da elaboração do material


cartográfico, o que preparou as vias para o desenvolvimento da Geografia
moderna.
A navegação à vela aperfeiçoa-se. As caravelas dão lugar a navios mais longos,
mais largos e mais pesados, chamadas galeotas. Os navios aumentam a sua
capacidade de tonelagem e de calado (distância vertical entre a superfície da água
e a parte mais baixa do navio naquele ponto). São navios que andam mais rápido
e bem armados, e que vão munidos de aparelhos de bordo que permitem uma
navegação mais segura pela determinação exata, não apenas em termos de
latitudes, mas das longitudes.

Com o desenvolvimento de técnicas que tornaram as medições de longitude mais


precisas foi possível fazer medições, cada vez mais rigorosas, das dimensões da
Terra que vão possibilitar a precisão da forma do globo terrestre.

Em 1617, o holandês Snellius criou o método das medições geodésicas. Mas a


primeira medição exata do arco do meridiano foi do francês Picard em 1669-
1670. De 1638 a 1712, por instigação da Academia das Ciências, Cassini e Lahire
determinaram as medidas geométricas da França. Em 1735, Claivaut e
Maupertuis eram enviados à Lapónia para medirem o arco do meridiano,
enquanto Bouguer e La Condamine iam ao Peru a fim de realizarem uma
operação semelhante; achou-se que as dimensões do arco eram maiores no
equador do que perto dos pólos; estas missões forneceram assim prova do
achatamento da terra junto dos pólos (CLOZIER, [1974?], p.73).

Com essas medições, os erros das cartas vão sendo paulatinamente eliminados,
dando uma precisão cada vez maior à cartografia, que culmina com a publicação
em 1780 do Atlas Universal de Bourguignon d’Anville, no qual foram suprimidas
indicações errôneas e as deformações de representação que existiam desde
Ptolomeu.

Esse desenvolvimento da cartografia permitiu a exploração dos oceanos. No


século XVIII, são feitas grandes e ousadas missões de reconhecimentos das

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

localizações e descobertas dos continentes. É graças a essa ousadia que se


descobre que o hemisfério Sul é oceânico, se estabelece a carta do Pacífico em
suas grandes linhas e se pode afirmar que os mares cobrem um espaço duas vezes
maior do que as terras.

Esse período é decisivo para o conhecimento geográfico da Terra. Os continentes


se revelam; as regiões mais hostis, como os desertos e as regiões polares, são
exploradas; e são feitas sondagens sobre o relevo submarino e a alta atmosfera.

Se o século XVIII foi de grande desenvolvimento para as descobertas marítimas, o


século XIX é o século, por excelência, da penetração dos continentes. Por volta de
1800, a África, excepto algumas regiões, é ainda um continente incógnito; a
Austrália é totalmente desconhecida; a Ásia Central e o interior do continente
americano mal começaram a ser conhecidos.

O avanço para o interior dos continentes e a ocupação colonial que daí resultam
vão colocar “frente a frente” povos, costumes, histórias e sociedades diferentes.
O europeu explorador deparar-se-á com novos climas, novas paisagens, novos
gêneros de vida. O desenvolvimento dos meios de transporte intensifica as
viagens de mapeamento do interior dos continentes, pois a mobilidade se torna
mais eficaz com o advento da máquina a vapor e, por terra, o desenvolvimento da
rede de estradas de ferro vai se tornando uma realidade concreta, o que permite
um extraordinário progresso na circulação de bens e pessoas. Com a expansão
colonial, o mundo vai se revelando e as relações de apropriação, exploração e
dominação vão sendo tecidas em conjunto com a incorporação territorial e as
grandes vias de circulação demandadas pela expansão industrial.

A Revolução Industrial, que começa a partir do fim do século XVIII, promove


também uma revolução nas técnicas de produção, nas formas de transformação
da natureza, demandando progressivamente matérias-primas e mercado. Tais
revoluções, industrial e técnica, que ocorreram principalmente na França, Bélgica
e Holanda, modificam irreversivelmente o equilíbrio dos continentes e das
sociedades. Graças a essas revoluções, a Europa vai exercer, no século XIX,
hegemonia política e econômica sobre o mundo através dos Estados, das
companhias de navegação e das sociedades capitalistas.

Panorama intelectual e científico

Como vimos em aulas passadas, as transformações materiais que se iniciaram


com o fim da Idade Média formam um par inseparável com as transformações
no mundo das ideias.

A extraordinária expansão do conhecimento sobre o horizonte geográfico e sobre


a configuração da Terra, a dessacralização da natureza e a quebra de algumas
crenças a respeito da superfície terrestre marcam as transformações das ideias
nos tempos modernos.

55
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Algumas descobertas da Física e da Astronomia têm grande repercussão nos


conhecimentos geográficos. Newton descobre a lei da gravitação universal;
Copérnico, com o seu sistema heliocêntrico, joga por “água abaixo” a crença de
que a Terra era o centro do sistema planetário; Kepler descreve as leis dos
movimentos planetários. Das explicações teológicas de origem divina, passa-se
para a sistematização com base na observação e experimentação.

As indagações das ciências nascentes vão incidir sobre os fenômenos naturais, daí
o desenvolvimento fantástico que ocorre nos estudos sobre a natureza nos
séculos XVII e XVIII. É desse período a sistematização da Zoologia, da Botânica e
da Geologia, que tiveram como combustível principal as informações oriundas das
grandes expedições que se tornaram também missões científicas.

Movida pelos avanços de outras ciências, a Geografia deixa de ser obra de


erudição, deixa de ser um conjunto de conhecimentos práticos, uma enumeração
mais ou menos ordenada de montanhas, rios ou cidades. Deixa der ser um
agregado de nomes e números. À Geografia cabe não apenas descrever, mas
também explicar.

O século XIX, do ponto de vista do desenvolvimento da ciência, é especialmente


importante para a sistematização e institucionalização da Geografia. É no final do
século XVIII e início do XIX que se instala um novo sistema de positividades,
apoiado nas observações dos factos, sobretudo a partir dos estudos da Física por
parte de Newton. Para Newton, o conhecimento deve resultar da observação, do
cálculo e da comparação dos resultados, o que permitiria a elaboração de leis.

Dois factos marcam as ciências, em geral, e a Geografia em particular, no século


XIX: o reconhecimento de que a história dos homens, seu passado e seu futuro
dependem dos próprios homens; e, a partir disso, o homem poderá manter uma
outra relação com a natureza. O homem agora depende de si mesmo e da relação
que estabelece em sociedade e com a natureza, abandonando assim os desígnios
divinos.

Quatro grandes aportes (teorias de explicação), que já se esboçavam em tempos


anteriores, vão se consolidar no ideário científico do século XIX:

1) A racionalidade que dava primazia à experiência, a explicação científica


concerne sempre à razão pura;

2) A dessacralização e banalização da natureza, o que possibilitará a intervenção


humana na ordem natural e na valorização da positividade do trabalho;

3) A fé na ciência;

4) A fé no progresso.

Datam também do final do século XVIII e início do XIX os primeiros censos, o que
vai incrementar os dados de outros fenômenos que já vinham sendo levantados.

56
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O interesse em cartografar os fenômenos aumenta e, assim, surgem os primeiros


mapas temáticos, em que são representadas as distribuições de populações, os
climas, a vegetação, o relevo, a hidrografia etc.

Como já vimos, o século XIX é o século das grandes explorações ao interior dos
continentes e, ligadas a estas, surgem as sociedades de Geografia que vão
organizar expedições, conferências, exposições, elaborar mapas, instalar estações
meteorológicas e editar revistas.

As sociedades geográficas são financiadas e apoiadas pelas políticas


expansionistas dos Estados colonialistas e essa ligação com as estruturas de poder
levou a uma expansão do ensino de Geografia nas universidades e ao
reconhecimento oficial da geografia como ciência.

Outra marca que decorre do expansionismo e da formação dos Estados Nacionais


é a presença da Geografia no ensino primário e secundário. Para melhor conhecer
a pátria, é preciso saber Geografia.

Humboldt (1769-1859)

Humboldt é considerado, juntamente com Ritter, o pai da Geografia moderna.


Nascido em 1769, pertencia a uma família aristocrática prussiana. Seu pai
preocupou-se desde cedo em dar uma esmerada educação aos filhos através de
preceptores. Alexandre de Humboldt recebeu precocemente uma boa formação
em Economia Política, Matemática, Ciências Naturais, Botânica, Física e
Mineralogia.

Viaja para a Venezuela, onde sobe o rio Orenoco até o Cassiquiare que faz parte
da bacia do rio Negro, afluente do Amazonas. A etapa seguinte leva-o através da
Colômbia até o Equador e ao Peru. Esse deslocamento lhe dá a oportunidade de
escalar alguns dos picos mais altos dos Andes e de medir as suas altitudes. Através
desse procedimento, observa a variação do clima com a altitude, tendo
introduzido a terminologia de quente, temperado e frio, ainda hoje utilizada.
Segue para o México e depois para Cuba. Volta à Europa após passar pelos Estados
Unidos. Essa viagem durou quatro anos e com ela recolhe uma riqueza tão grande
de dados que sua publicação leva vários anos.

Os trabalhos que decorrem de suas viagens estão voltados para a explicação


daquilo que diferencia as diversas áreas do globo, tentando encontrar as relações
que se estabelecem entre os diversos fenômenos da superfície da Terra, de modo
a produzir espaços com características diferentes. Ou seja, interessou-se pela
diferenciação espacial e considerou a paisagem resultante da interação de vários
fenômenos.

Comparou as formações vegetais de regiões diversas entre si, como foi o caso da
América Latina e da Sibéria. Tentou encontrar semelhanças entre as culturas dos
povos asiáticos e dos índios americanos. Das suas investigações feitas em escalas

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

diferentes (mundial, continental ou regional) resultou uma sistematização do


conhecimento geográfico. Assim, com Humboldt, a Geografia passa a ser uma
ciência sistemática. Os fenômenos poderiam ser estudados tanto no nível mundial
quanto no regional.

A utilização de comparações universais foi talvez a sua contribuição mais


importante. Ele comparava sistematicamente as paisagens das áreas que
estudava com outras partes da Terra. O seu método era empírico e indutivo. Partia
dos casos particulares para os gerais, tentando obter uma lei geral, válida também
para os casos não observados.

Humboldt foi essencialmente um grande viajante naturalista de sua época. Ao


contrário de boa parte de seus colegas geógrafos, que permaneceram nos
gabinetes, ele entende que a pesquisa deve se iniciar no campo. Os seus
conhecimentos de Mineralogia, Geologia e Botânica permitem-lhe desvendar
muitos traços interessantes nas paisagens e relacioná-los. Em lugar de justapor
informações, procura compreender como os fenômenos se condicionam. No caso
dos Andes, visto há pouco, a partir da altitude, ele introduz um escalonamento
das formas de vegetação e tipos de agricultura, passando das terras quentes para
as terras temperadas e, em seguida, para as terras frias. Nas pesquisas de
biogeografia, introduz o conceito de meio.

Para melhor compreender a distribuição dos fenômenos geográficos, Humboldt


utilizasse das observações que faz em diferentes escalas, inaugurando a ideia de
que os lugares não se explicam em si mesmos. Foi ele o primeiro a perceber a
influência das correntes marítimas sobre os climas. Percebe isso especialmente
nas costas do Peru, onde empresta o nome a uma corrente fria que se origina no
polo Sul e ameniza a temperatura nas costas desse país. Foi ele também o
primeiro a perceber os mecanismos que regem tais correntes. Humboldt
igualmente sabe fazer uso dos dados estatísticos, que as administrações coloniais
acumulavam, para tratar das realidades humanas da América hispânica. Em um
de seus livros (Ensaio político sobre o reino de Nova Espanha, 1811), analisa a
situação calamitosa da escravidão em Cuba.

Para Humboldt a explicação dos fenômenos deve partir do meio, mas devemos
ter sempre em mente que este reflete realidades em outras escalas: outra marca
de Humboldt.

Ritter (1779-1859)

Ritter nasce dez anos depois de Humboldt e morre no mesmo ano em que este;
teve uma vida pouco movimentada. Enquanto Humboldt foi um grande viajante,
Ritter foi um homem que se dedicou mais à reflexão, ao magistério e ao intuito
explícito de sistematização da Geografia. Sua obra é explicitamente metodológica,
vemos isso, por exemplo, no título de seu livro mais importante: Geografia
comparada.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A formação de Ritter em História e Filosofia também difere daquela de Humboldt.


Mas, a ideia de unidade terrestre e da relação entre o lugar, a região e o todo
terrestre está presente nos dois autores. Ritter propõe o método descritivo
regional e utiliza comparação para fazer compreender as especificidades de cada
país e as configurações de sua história. Com Ritter, a geografia deixa de ser uma
modesta descrição da Terra e torna-se indispensável para quem quer
compreender a cena mundial, a dinâmica das civilizações e a maneira através da
qual os povos exploram o seu ambiente.

O problema essencial estudado por Ritter é o das relações, das conexões que se
estabeleciam entre os factos físicos e humanos. Para ele, a Terra e seus habitantes
desenvolvem mútuas e estreitas relações onde um elemento não pode ser
considerado em sua plenitude sem que se considerem tais relações. Nesse
sentido, a História e a Geografia devem estar sempre juntas.

Dessa forma, foi um observador atento do devir histórico dos povos que
habitavam em cada uma das regiões que estudava. Entendia o espaço terrestre
como o teatro da história e considerava que quanto maior o desenvolvimento
cultural maior harmonia seria estabelecida entre o homem e a natureza.

Após a morte de Humboldt e de Ritter, a geografia sofre certo declínio. No


entanto, mantém-se como disciplina com grande dinamismo e se expressa por
duas vias: através das inúmeras sociedades de Geografia e a permanência como
disciplina lecionada no ensino primário e secundário. Do ponto de vista da
institucionalização, os impactos de seus ensinamentos não foram imediatos: as
cátedras de Geografia permanecem raras nas universidades e os estudantes que
frequentam as suas aulas seguem carreiras variadas.

Sumário

Sumário

Esta aula mostra a partir de que elementos Humboldt e Ritter partem para se
tornar os primeiros sistematizadores da Geografia moderna. Mostra também que
existe uma íntima relação entre o desenvolvimento da ciência geográfica e a
expansão colonial de desenvolvimento do Capitalismo, assim como o
desenvolvimento da vida material e aquele das ideias.

____________________________
Autoavaliação
1. Na causalidade, o geógrafo, ao observar um fato, deve identificar as causas
que levam à sua existência, procurando estabelecer as relações de causa e
efeito.
2. Com o desenvolvimento da cartografia permitiu a exploração dos oceanos. As
descobertas dos continentes foi precisamente no:

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A. Século XVIII
B. Século XVII
C. Século XVI
D. Século XV
3. Apos grande desenvolvimento para as descobertas dos continentes. O século a
seguir é conhecido de penetração dos continentes. O referido século é:
A. Século XVIII
B. Século XIX
C. Século XVII
D. Século XVI
4. O desenvolvimento dos meios de transporte intensifica as viagens de
mapeamento do interior dos continentes, pois a mobilidade se torna mais eficaz
com o advento da máquina a vapor.
5. A Revolução Industrial, que começa a partir do fim do século XVIII, promove
também uma revolução nas técnicas de produção, nas formas de transformação
da natureza, demandando progressivamente matérias-primas e mercado. As
principais revoluções, industrial e técnica, ocorreram principalmente na:
A. Alemanha, China e Holanda
B. China, Japão e França
C. França, Bélgica e Holanda
D. Alemanha, China e Bélgica

Guião de Correcção
1-V; 2- B; 3- B; 4-V; 5-C

Exercícios de AUTO-AVAL Avaliação

1. Por motivos de avanços de outras ciências, a Geografia deixa de ser obra de


erudição, deixa de ser um conjunto de conhecimentos práticos, uma enumeração
mais ou menos ordenada de montanhas, rios ou cidades. Até hoje é considerado
o pai da Geografia moderna o geógrafa:
A. A. Frederich Engels.
B. André Cholley
C. Frederico Ratzel.
D. Alexander Von Humboldt

2. Foi através de Ritter, a geografia deixa de ser uma modesta descrição da Terra
e torna-se indispensável para quem quer compreender a cena mundial, a
dinâmica das civilizações e a maneira através da qual os povos exploram o seu
ambiente.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

3. Foi nos séculos XVIII e XIX que a sistematização do conhecimento geográfico. O


interesse em cartografar os fenômenos aumenta e, assim, surgem os primeiros
mapas temáticos, em que são representadas as distribuições de populações, os
climas, a vegetação, o relevo, a hidrografia. A geografia sofre certo declínio, por
causa da morte de:

A. Alexander Von Humboldt e Karl Ritter


B. André Cholley e Frederich Engels
C. Frederico Ratzel e Karl Ritter
D. Frederich Engels e Alexander Von Humboldt

4. Karl Ritter: Geógrafo alemão; foi o primeiro a relacionar clima, solo e


vegetação, onde em sua obra Kosmos, mostrou que tudo funciona em plena
interação.

5. Alexandre Von Humboldt: Geógrafo alemão; descreve a relação entre natureza


e o Homem, ou seja, a influência dos fenômenos físicos na atividade humana.

Guião de Correcção
1-D; 2-V; 3-A; 4-F; 5-F

Referencias Bibliográficas Referências Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografi a, ciência da sociedade. Recife: Editora


Universitária/UFPE, 2006.
CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.
CLOZIER, René. História da geografi a. Lisboa: Publicação Geral da América,
[1974?].
MORAES, Antonio Carlos Robert. A gênese da geografi a moderna. São
Paulo: ANNABLUME/HUCITEC, 2002.
______. Geografi a: pequena história crítica. São Paulo: HUCITEC, 1983.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TEMA – III: OUTRAS CONTRIBUICOES GEOGRÁFICAS.

Unidade Tematica 3.1. Geografia Ratzeliana e o seu contexto


Unidade Tematica 3.2 Geografia Vidaliana e o seu contexto
Unidade Tematica 3.3 Abordagem Regional Vidaliana
Unidade Tematica 3.4 A Os movimentos de Renovação
Unidade temática 3.5. Exercícios Integrados deste Tema

Unidade Temática 3.1. Geografia Ratzeliana e o seu contexto

Introdução

Friedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental


importância para o processo de sistematização da Geografia moderna.
Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um estudo
geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas
humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu projecto teórico,
com forte carácter interdisciplinar, teve a preocupação central de
entender: a difusão e distribuição dos povos sobre a superfície da Terra;
as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais; a
influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as
formações territoriais e, intimamente vinculada a estas, a dimensão
política da relação homem-natureza.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Entender em que contexto histórico se desenvolve o pensamento ratzeliano.


Objectivos  Compreender a dimensão determinista da obra de Ratzel para a
Específicos sistematização da Geografia.

Contexto histórico

Após o falecimento, em 1859, dos dois principais pioneiros da Geografia


moderna, Ritter e Humboldt, o desenvolvimento dos estudos
geográficos acelerou-se, uma vez que esses dois estudiosos colocaram,
por assim dizer, a pedra fundamental para a construção e evolução da
Geografia como ciência. A seguir, estudaremos três aspetos gerais do
desenvolvimento dessa ciência: o contexto político econômico; a
Geografia como ciência; e o ensino da Geografia.
Contexto político-económico

62
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Com o processo de expansão colonial, os conflitos entre populações


nativas e o elemento europeu são cada vez mais intensos e demandam
intervenções. O domínio político aparece como garantia de abertura
real dos espaços ao comércio mundial e impõe o respeito aos interesses
ocidentais.

A independência da América espanhola e portuguesa reduz fortemente


o domínio ocidental sobre o mundo no século XIX. É nesse momento
que surge o que os historiadores chamam de novo imperialismo
(diferente do colonialismo de povoamento e comércio que floresceu
entre os séculos XVI e XVIII) e que foi o resultado direto da
industrialização. Com isso, intensificam-se a actividade e a competição
econômica, os europeus disputam matérias-primas, mercados para
seus produtos manufaturados e lugares onde investir seu capital. Para
tanto, os políticos e industriais vão entender que somente garantirão as
suas necessidades econômicas e de suas nações através da aquisição de
territórios ultramarinos. 1870 é um ano que marca um novo avanço
ultramarino dos europeus, não mais apenas sob a égide de Portugal e
Espanha. Percebemos que no século XIX progride rapidamente a
constituição de um espaço econômico mundial influenciado pelo
desenvolvimento da navegação a vapor, o que provoca uma reviravolta
na relação dos homens com as distâncias.

A construção do Canal de Suez – ligando o mar Mediterrâneo ao mar


Vermelho – terminada em 1869, promove a aproximação entre a
Europa, a Ásia Meridional e Oriental e a Austrália; as estradas de ferro
já haviam alterado o ordenamento espacial da Europa; a primeira
estrada de ferro transcontinental é inaugurada nos Estados Unidos em
1866. Como já estudamos, a integração dos espaços continentais, após
os oceânicos, intensificam-se no século XIX e integram esses espaços às
relações internacionais: as imensidões interiores da Ásia e da África são
finalmente integradas às redes mundiais de troca.

Em 1860, somente a Grã-Bretanha e os Países Baixos dispunham de


verdadeiros impérios colônias. Entretanto, no espaço de uma geração,
França, Portugal, Bélgica e Espanha dotam-se de colônias mais ou
menos extensas. Por volta de 1900, o movimento se alastra para outros
países, como é o caso da Itália e Alemanha que procuram aumentar o
seu império ainda modesto. Um novo ator entra em cena, os Estados
Unidos, e retira da Espanha as suas possessões no Pacífico e nas
Antilhas, o Japão começa sua expansão sobre Coreia e China; e a Rússia
anexa-se à Ásia Central.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A Geografia como ciência

Essas alterações provocam um reordenamento e uma necessidade cada


vez maior da formalização dos saberes geográficos. Veja que,
inicialmente, as práticas comerciais demandam conhecimento apenas
das redes de portos, que permanecem em certa estabilidade,
relacionadas às áreas produtivas e aos mercados que encontravam de
modo geral, próximos ao litoral.

As novas possibilidades de troca exigem outras formas de organização.


É nesse contexto que vamos assistir à substituição das casas de
comércio familiares por grandes firmas de exportação e importação que
demandam cada vez mais conhecimentos ligados à Geografia para a
formação de seus agentes deslocados para regiões remotas. É aí que as
sociedades de Geografia comercial, marítima e colonial se multiplicam
e dão respostas a essas necessidades.

A História e a Geografia que eram as ciências que vinham abordando os


fatos humanos deixam de ser exclusivas nesse aspecto à medida que a
Sociologia, a Etnologia, a Antropologia e as Ciências Políticas vão
surgindo. É o período também de desenvolvimento da economia
política. Com o aparecimento de outras ciências no campo dos estudos
humanos e sociais os geógrafos são confrontados com o problema da
delimitação face aos novos campos científicos, os quais evidentemente
não ignoram a dimensão espacial dos seus domínios.

Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publica o que seria o seu mais


importante livro, Origem das Espécies. Tal facto tem significado
particular para a Geografia. A ideia de que os seres vivos evoluem já
estava formulada desde meados do século XVIII e início do século XIX.

Lamarck (1744-1829) será o primeiro a fazer uma sistematização dessa


ideia concluindo que o organismo se adapta ao meio onde está inserido
e acaba por se modificar. É durante a viagem de circum-navegação que
realiza entre 1831 e 1836 a bordo do famoso Beagle que Charles Darwin
formula a sua teoria. Darwin se depara, nas ilhas Galápagos com uma
flora e fauna muito ricas e que não se assemelham às dos espaços
continentais próximos. Para ele, essas diferenças explicam-se por meio
da diferenciação no lugar e a partir de uma origem comum longínqua,
e o único factor que pode explicar as diferenças das formas encontra-
se no meio.

O evolucionismo darwinista leva à Geografia uma tarefa fundamental:


a de identificar a diferenciação das formas vivas. Lembre-se de que a
ideia de que a Geografia deve ter vocação explicativa e analisar os
fenômenos em diversas escalas vem desde as obras de Humboldt e
Ritter.

64
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A explicação geográfica estaria na relação entre os fenômenos locais,


regionais e gerais e na relação do homem com o meio: o darwinismo é
uma apelação ao desenvolvimento de uma ciência das relações dos
seres vivos com o ambiente. Outro nome que vai influenciar os estudos
da Geografia nesse período (e continua a influenciar ainda hoje vários
ramos da ciência) é o do biólogo alemão Ernest Haeckel (1834- 1919)
que propõe em 1866, em seu livro Morfologia Geral dos Organismos, o
termo ecologia para designar o novo campo de estudo: aquele que
investigará as relações dos seres vivos com o ambiente.

O ensino de Geografia

O interesse por conhecimentos geográficos úteis à vida comercial


internacional nunca havia sido tão grande como nas últimas três
décadas do século XIX. Nesse mesmo período, a engenharia política dos
estados europeus apontava em direção aos nacionalismos e essa tarefa
recai, entre outros, sobre o ensino da Geografia na escola elementar,
que teria a função de dar aos cidadãos uma consciência clara sobre o
espaço em que se desenvolve a sua existência. Por outro lado, as elites
tinham a necessidade de um bom conhecimento dos mapas e das rotas
do comércio.

Na França, por exemplo, após a derrota de 1870 (derrota da França


frente à Prússia), é confiado a Emile Levasseur um estudo (Relatório
Levasseur) sobre as causas da inferioridade dos oficiais franceses frente
aos prussianos. Esse relatório conclui que a inferioridade francesa recai
no baixo nível dos oficias quanto ao conhecimento das línguas e da
Geografia. O relatório recomenda que seja feita uma reforma do ensino,
particularmente do ensino de Geografia.

O essencial das recomendações desse relatório está presente, ainda


hoje, nos programas do ensino primário e secundário da França (nas
próximas aulas vocês estudarão como se deu o desenvolvimento da
Geografia na França). Nos outros países da Europa Ocidental ocorre o
mesmo com o ensino da Geografia, pouco tempo antes na Alemanha e
um pouco mais tarde na Inglaterra.

Como estamos vendo, em todo o nosso curso, o contexto intelectual no


qual se desenvolve a Geografia modifica-se par e passo com as
mudanças econômicas, políticas e culturais. E você deve estar lembrado
que à medida que o Capitalismo se desenvolve exige mais racionalidade
e respostas da ciência; é a fé na ciência e no progresso. Esse
cientificismo que vai se firmando tem também a ambição de abarcar as
realidades sociais tal como fez anteriormente com as realidades do
mundo físico e biológico.

65
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Ratzel e a Antropogeografia

Ao longo do século XIX, a Geografia vai se desenvolver mais


rapidamente na Alemanha do que na Grã-Bretanha. Nesta, a Geografia
permanece vinculada aos modelos do século XVIII, no qual se privilegia
a exploração das pesquisas históricas em detrimento do estudo das
relações que estabelecem entre os grupos humanos e os meios em que
vivem. Dessa forma, o impacto do evolucionismo de Darwin foi mais
directo na Alemanha que em sua pátria.

Friedrich Ratzel (1844-1904) é filho de uma modesta família do


Sudoeste da Alemanha. Na universidade, estuda Zoologia. Tem
contacto com o darwinismo através de Moritz Wagner que introduziu
as teses do cientista inglês na Alemanha e se distingue pelo papel que
dava às migrações para explicar a diferenciação das espécies. A primeira
obra de Ratzel (Essência e Destino do Mundo orgânico, 1869) é
inspirada nesse mestre.

Ratzel participa ativamente, como militar, da guerra de 1870 contra a


França e em seguida a sua carreira toma novos rumos, mas sua ligação
com a política e com a conquista de território continua através das
análises científicas que irá fazer criando mesmo um novo ramo da
Geografia, a Geopolítica. Depois da guerra, Ratzel parte para os Estados
Unidos, como jornalista, onde passa vários anos. Nesse período, visita
também o México. De volta à Alemanha, defende uma tese sobre a
imigração chinesa na Califórnia.

Ao doutor Ratzel é designada, em 1876, uma cátedra de Geografia na


Universidade de Munique. Em 1886, ele troca essa universidade pela
Universidade de Leipzig, considerada de maior prestígio.

A concepção de Geografia de Ratzel tem forte influência das


formulações de Humboldt e Ritter, autores que estudou detidamente.
Mas essa concepção é estruturada também sob forte influência de
Darwin. Ratzel procura estabelecer leis gerais que rejam a influência do
meio sobre os grupos humanos, dedicando-se ao estudo das relações
que se desenvolvem entre as sociedades e o ambiente em que vivem,
mas introduz uma outra ideia: o movimento é uma das características
centrais do mundo vivo, em especial do homem. Essa ideia leva-o a
interessar-se pelos fenômenos de circulação que as sociedades
desenvolvem de um ponto da Terra a outro.

Veja no texto a seguir o que diz Antônio Carlos Robert de Moraes sobre
a importância da obra de Ratzel.

66
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A obra de Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de


sistematização da geografia moderna. Ela contém a primeira proposta explícita
de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas
humanos. Foi, assim, de sua autoria uma das pioneiras formulações – sem
dúvida a mais trabalhada – de uma geografia do homem. A importância de sua
obra também emerge por ela ter sido uma das originárias manifestações do
positivismo nesse campo do conhecimento científico. Ratzel foi um dos
introdutores desse método – que posteriormente se assentou como dominante
– no âmbito do pensamento geográfico. O significado de sua produção para o
desenvolvimento da geografia pode ainda ser apontado no facto de ele ter
aclarado aquela que viria a ser a principal via de indagação dos geógrafos, ou
seja, a questão da relação entre a sociedade e as condições ambientais
(MORAES, 1990, p. 7).

Ratzel dividiu a Geografia em três grandes ramos: Geografia Física,


Biogeografia e a Antropogeografia. Vai dedicar seus estudos
fundamentalmente a esta última.

A Antropogeografia

Para Ratzel, a Antropogeografia seria dedicada a três questões básicas.


A mais fundamental seria aquela voltada para a indagação da influência
que as condições naturais exercem sobre os homens, sobre a sociedade
e sobre a história. Para ele, a diversidade das condições naturais deveria
também ser considerada na explicação para a diversidade dos povos
“pois o substrato da humanidade seria a Terra, onde as sociedades se
desenvolvem em íntimo relacionamento com os elementos naturais. O
estudo da acção de tais elementos sobre a evolução das sociedades
seria o objecto primordial da pesquisa antropogeográfica”. (MORAES,
1990, p. 9).

A segunda questão colocada por Ratzel para os estudos da


Antropogeografia é relativa à circulação e distribuição das sociedades
humanas. Para ele, a localização dos grupos humanos estaria
relacionada à mobilidade de seu passado, assim sendo, os estudos
antropogeográficos deveriam se interessar em levantar dados sobre as
áreas de origem de cada povo e os seus itinerários. Esse procedimento
de pesquisa deveria fornecer elementos para se entender os
condicionantes pretéritos, os quais migrariam com os povos.

A terceira questão de interesse da Antropogeografia deveria ser o


estudo da formação dos territórios.

Além de ser o fundador da moderna Geografia humana, ao introduzir


esta terceira questão, Ratzel será também o primeiro geógrafo a trazer
para essa ciência a discussão sobre os elementos políticos na relação

67
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

entre o homem e a natureza, tratados anteriormente apenas sob o


ponto de vista técnico e econômico. Para ele, há na relação homem-
natureza uma dimensão política essencial que se expressa e se
materializa na propriedade e no Estado.

Positivismo e Determinismo na obra de Ratzel

Você já deve ter lido ou ouvido alguém fazer relação entre o nome de
Ratzel e o Determinismo geográfico e/ou contrapondo este ao
possibilismo de Vidal de la Blache (assunto que estudaremos na
próxima aula). Iremos, então, tentar entender o que é o Determinismo
e qual a ligação deste com a obra de Ratzel.

Como já vimos nas aulas anteriores, o período de transição da Idade


Média para a Moderna e a consequente consolidação do Capitalismo
foi um período de grandes transformações sociais, econômicas,
políticas, espaciais, culturais e também de grandes mudanças nas
ciências e nas formas de pensar o mundo. Vimos ainda que as formas
de pensar o mundo, originárias desse período, têm forte relação com o
desenvolvimento das Ciências Naturais, principalmente a partir dos
estudos de Física de Newton. Para este, o conhecimento deveria ser o
resultado da observação, do cálculo e da comparação dos resultados,
de modo a permitir a elaboração de leis.

Essa ideia de que a ciência deveria ser positiva se espalhou para todos
os ramos das ciências, inclusive das chamadas ciências humanas e
sociais, entre elas a Geografia. Mas, é somente em meados do século
XIX que surge o Positivismo. Embasado nas elaborações de Auguste
Comte (1791-1857), o Positivismo fundamenta-se no palpável, no que
é passível de comparação e de experimentação. Na concepção
positivista, para se alcançar o conhecimento, a observação é
imprescindível.

O Determinismo geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo,


principalmente em sua fase evolucionista. Essa fase tem como base
fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na qual o
homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais.

O Determinismo considerava o homem com um produto do meio, logo,


deveria adaptar-se ao meio ambiente para que pudesse sobreviver.
Para seus defensores, as condições naturais, especialmente a climática,
determinam o comportamento do homem, interferindo inclusive na
sua capacidade de progredir. Assim sendo, em áreas climáticas mais
propícias (as zonas climáticas temperadas) floresceriam povos mais
desenvolvidos. Tais ideias foram adotadas por alguns estudiosos da
Geografia, e fora dela, que viam nelas a possibilidade de explicar a
sociedade através de mecanismos que ocorrem na natureza.

68
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

É comum, nos manuais e nas obras de vulgarização e/ou divulgação, a


associação do nome e da obra de Ratzel ao Determinismo geográfico.
Como podemos ver nos trechos que se seguem.

Sumário

A aula contextualiza o período em que Ratzel, fundador da moderna


Geografia humana, vive, assim como a influência que sofreu do
desenvolvimento das ciências naturais, principalmente aquelas
oriundas do evolucionismo darwinista. Discute as relações entre as
elaborações ratzelianas e o positivismo, bem como a pecha de que seria
ele o maior representante e elaborador do Determinismo geográfico.
Mostra ainda que não se pode de forma simplista acusar esse pensador
de se utilizar de um Determinismo absoluto.

Auto-avaliação

1. O princípio da Extensão foi enunciado por Frederico Ratzel e, de


acordo com o mesmo, o geógrafo, ao estudar uma determinada área,
deve, primeiramente, utilizando-se de um mapa, localizá-la,
identificando os seus limites.

2. “Esse autor, porém, traria a grande contribuição para a formulação


esquemática do conhecimento geográfico, com seu livro
Antropogeografia e com a propagação das idéias deterministas, que
consideravam a existência de uma grande influência do meio natural
sobre o homem. De formação antropológica, ele foi bastante
influenciado pelas idéias evolucionistas de Charles Darwin e Ernest
Haeckel, admitindo que, na luta pela vida, venceriam sempre os mais
fortes e que a vitória dos mais fortes, dos mais aptos sobre os mais
fracos era o resultado lógico da luta pela vida. O texto está se referindo
ao seguinte pensador da Geografia

A. Frederich Engels.
B. André Cholley
C. Alexander Von Humboldt
D. Frederico Ratzel.
3. Os dois principais pioneiros da Geografia moderna, que colocaram,
alicerce para a construção e evolução da Geografia como ciência são:
A. Ritter e Humboldt
B. Cholley e Engels
C. Ratzel e Ritter
D. Engels e Humboldt

69
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

4. A Geografia Humana é a ciência que estuda o espaço geográfico,


concebendo-o não tão-somente como um meio, mas também como um
agente e um produto das atividades humanas, sendo também visto
como um organismo vivo e dinâmico. Assim, podemos dizer que os
estudos dessa área do conhecimento resumem-se:
A. Às sociedades em geral
B. À relação entre homem e espaço
C. À distribuição das práticas culturais
D. À dinâmica dos conhecimentos abstratos humanos

5. A História e a Geografia que eram as ciências que vinham abordando


os fatos humanos deixam de ser exclusivas nesse aspecto à medida que
a Sociologia, a Etnologia, a Antropologia e as Ciências Políticas vão
surgindo.

Guião de Correcção
1-V; 2-D; 3- A; 4-B; 5-V

Avaliação

1. O evolucionismo darwinista leva à Geografia uma tarefa


fundamental: a de identificar a diferenciação das formas vivas. O livro
de Charles Darwin “Origem das Espécies” foi publicado em:

A. 1985

B.1895

C. 1859

D. 1598

2. O primeiro cientista a fazer uma sistematização das ideias que o


organismo se adapta ao meio onde está inserido e acaba por se
modificar é:

A. Ernest Haeckel

B. Charles Darwin

C. Emile Levasseur

D. Jean-Baptiste Lamarck

3. O nome que vai influenciar os estudos da Geografia nesse período (e


continua a influenciar ainda hoje vários ramos da ciência) é o grande
biólogo alemão que propõe em 1866, em seu livro Morfologia Geral dos

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Organismos, o termo ecologia para designar o novo campo de estudo


que investigará as relações dos seres vivos com o ambiente. O nome
que se refere acima é:

A. Ernest Haeckel

B. Charles Darwin

C. Emile Levasseur

D. Jean-Baptiste Lamarck

4. A concepção de Geografia de Ratzel tem forte influência das


formulações de Humboldt e Ritter. Ratzel dividiu a Geografia em três
grandes ramos:

A. Geografia Regional, Geomorfologia e Antropogeografia

B. Geografia Física, Biogeografia e a Antropogeografia.

C. Geografia Económica, Geofísica e Geomorfologia

D. Geodesia, Geografia Económica e Geoprocessamento.

5. Geografia verifica que os fatores físicos e humanos não agem de


forma isolada na formação de uma paisagem, existindo, pois, uma inter-
relação entre eles. Estes fatores agem de maneira integrada.

Guião de Correcção
1-C; 2-D; 3-A; 4-B; 5-V

Referências Bibliográficas

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995. CORRÊA,


Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.

MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade de uma


geografia. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 54, n. 3, p.
105-113, jul./set. 1992.

MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC, 1983.

______. Ratzel. São Paulo: Ática, 1990. (Coleção Grandes Cientistas


Sociais).

MOREIRA, Ruy. O que é geografia. São Paulo: Brasiliense,1989.

PINCHEMEL, Philippe; PINCHEMEL, Geneviève. La face de la Terre. Paris:


Armand Colin, 1997.

71
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

RATZEL, F. Las razas humanas. Barcelona: Montaner y Simon, 1906. v 1.

UNIDADE Temática 3.2. A Geografia Vidaliana e o seu contexto

Introdução

Friedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental


importância para o processo de sistematização da Geografia moderna.
Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um estudo
geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas
humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu projecto teórico,
com forte carácter interdisciplinar, teve a preocupação central de
entender: a difusão e distribuição dos povos sobre a superfície da Terra;
as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais; a
influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as
formações territoriais e, intimamente vinculada a estas, a dimensão
política da relação homem-natureza.

Em meados do século XIX, a disputa entre a Prússia e a França se


acelera, culminando na guerra de 1870. Dessa guerra, a França sai
derrotada e perde o controlo da Alsácia e da Lorena. Nesse período, a
geografia obtém grande desenvolvimento e, apoiada pelo Estado, é
implantada em todo o Ensino Básico, surgindo as primeiras cátedras e
os institutos de Geografia.

Até o advento da guerra, os estudos geográficos eram muito


negligenciados pelos franceses, ao contrário da Prússia, que já contava
com grandes nomes no ramo da ciência geográfica. Após terem sido
derrotados, os franceses perceberam a importância do ensino da
geografia e do desenvolvimento da pesquisa geográfica, como
mostraremos no decorrer desta aula. Mesmo sendo derrotados pelos
alemães, os franceses esforçaram-se para transferir para seu país o
modelo de ensino adotado na Alemanha.

Caberá a Paul Vidal de la Blache a tarefa maior de implantação e


institucionalização da Geografia francesa. Tomando como referência, as
formulações de sábios alemães (Humboldt, Ritter, Ratzel), Vidal de la
Blache elabora com originalidade a sua geografia e dá sustentação para
a criação de Escola Francesa de Geografia, que irá, durante muito
tempo, influenciar o desenvolvimento dessa área em várias partes do
mundo.

Para construir o edifício teórico e metodológico da Geografia, Vidal de


la Blache se embasará na ideia de totalidade, de “possibilismo”, de
mapeamento das densidades e de gênero de vida.

72
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender o contexto em que a Geografia surge como ciência na França,


Objectivos influenciada pelo pensamento geográfico alemão.
específicos  Perceber a partir de que fenômenos Vidal de la Blache constrói os conceitos
fundamentais para o desenvolvimento da Geografia francesa.
 Apreender qual a importância de elementos e conceitos como totalidade,
densidade, gênero de vida e possibilismo para a análise geográfica.

Contexto geral

Para Vincent Berdoulay (grande especialista francês em história do


pensamento geográfico), a Escola Francesa de Geografia, formada nas
últimas décadas do século XIX e início do século XX, teve em Vidal de la
Blache (1845-1918) o seu maior elaborador e ocupa um lugar
importante na história das ideias e das ciências. A formação dessa
escola, como veremos, corresponde a um momento crucial do
desenvolvimento do pensamento geográfico.

Um dado importante é o facto da Geografia se desenvolver tanto como


ciência como disciplina escolar no Ensino Básico, Médio e Superior. A
escola de Vidal de la Blache vai ter grande influência e considerável
notoriedade no mundo até por volta dos anos 1950. Como veremos na
próxima aula (Pierre Monbeig: o nascimento da Geografia científica no
Brasil), o pensamento geográfico de Vidal de la Blache terá grande
influência na implantação da Geografia no Brasil.

Como estamos fazendo até aqui, é importante elucidar, minimamente,


o contexto geral em que se dá a implantação da Geografia na França.
Para começar, esse é um período situado entre duas grandes crises: a
guerra de 1870 (guerra franco-prussiana) e a primeira guerra mundial.
É também um dos períodos cruciais na história da França, que
corresponde à implantação de um novo regime político, a Terceira
República, o qual implicará em novos ajustamentos de base ideológica
e social.

É uma época em que o interesse por questões geográficas se dissemina


entre os círculos cultos e a população em geral. Ocorre aí um clamor
generalizado a favor da acumulação de uma massa de informações
sobre o globo e sobre o território nacional. A Geografia se instala de
forma impressionante na universidade e nos programas de ensino
primário e secundário.

73
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O desafio alemão

Na segunda metade do século XIX, a França e a Alemanha, no caso ainda


a Prússia, disputam a hegemonia, no controle continental da Europa.
Havia, entre estes dois países, um choque de interesses nacionais, uma
disputa entre imperialismos. Tal situação culminou com a guerra
franco-prussiana, em 1870, na qual a Prússia saiu vencedora. A França
perde os territórios de Alsácia e Lorena, vitais para sua industrialização,
pois neles se localizavam suas principais reservas de carvão.

No contexto da guerra, caiu o Segundo Império de Luís Bonaparte,


ocorreu o levante da Comuna de Paris, e, sob as suas ruínas, ergueu se,
com o beneplácito prussiano, a Terceira República francesa. Foi nesse
período que a Geografia se desenvolveu. E se desenvolveu com apoio
deliberado do Estado francês. Esta disciplina foi colocada em todas as
séries do ensino básico, na reforma efetuada pela Terceira República.
Foram criadas, nessa época, as cátedras e os institutos de Geografia.
(MORAES, 1983, p. 63-64).

O resultado da guerra, ou seja, a derrota humilha profundamente


grande parte da população francesa. A partir dessa derrota, a Alemanha
aparece para os franceses como um desafio nos domínios político,
intelectual e econômico. Após a guerra, os franceses tomam,
dolorosamente, a consciência da negligência com os conhecimentos
geográficos que tinham até então. Constataram que o inimigo estava
mais bem preparado no tocante ao conhecimento do território e
descobriram, a duras penas, sua ignorância geográfica. Para eles, a
superioridade militar e econômica da Alemanha derivara de seu grande
desenvolvimento científico. Dessa forma, a Alemanha se constituía, ao
mesmo tempo, em inimigo e exemplo a ser seguido.

O professor Vidal de La Blache

Vidal nasce no sul da França. Membro de uma família de professores e


militares, seu pai, professor, deseja para o filho a mesma profissão, por
isso o envia para um colégio interno em Paris onde teria melhores
condições para fazer uma carreira brilhante. Na Escola Normal Superior,
onde estuda, se dedica, principalmente, aos estudos de história. Vai
para Escola de Atenas, onde fica por três anos, e prepara sua tese sobre
a Ásia Menor. Percorrendo a Turquia para preparação de seu trabalho,
toma como guia a obra que Carl Ritter havia escrito sobre esse país. A
partir desse contacto inicial, passa a se dedicar aos estudos geográficos,
tornando-se um dos grandes nomes dessa ciência.

Como vimos a pouco, a derrota de 1870 leva a França a uma política de


promoção da Geografia que começa pelo ensino primário e secundário,
seguido pelo seu desenvolvimento nas universidades e pela política de

74
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

incentivo à criação de instituições geográficas. Vidal vai saber tirar


proveito dessa situação.

Em 1875, é nomeado conferencista de Geografia da Universidade de


Nancy; em 1880, torna-se subdiretor da Escola Normal Superior onde
fica até 1898, ano em que vai para a Sorbonne.

Vidal foi um professor irrepreensível e um viajante incansável.


Conheceu muito bem a França e a Europa, assim como boa parte do
norte da África e da América do Norte. Produziu uma obra pouco
volumosa, mas muito densa. Formou e incentivou os jovens que
estavam à sua volta e que em boa parte se transformaram em grandes
geógrafos.

Vidal, mesmo sendo original, nunca escondeu o quanto foi devedor aos
mestres alemães, sobretudo Ritter e Ratzel.

Para ele, a geografia deveria partir de uma ideia simples: explicar a


desigual repartição dos homens sobre a superfície da Terra e suas
densidades. Para tanto, deveríamos dar um tratamento cartográfico
aos dados e considerar na análise os sinais expressos pela paisagem e a
relação dos assentamentos humanos com o solo.

A geografia de Vidal de la Blache

Veremos aqui quatros aspetos importantes da Geografia Vidaliana – a


ideia de totalidade, a questão das densidades e do trabalho de campo,
os gêneros de vida e o possibilismo. Na aula seguinte, veremos
especificamente a sua noção de região.

A influência de Ritter: a ideia de totalidade

Vidal toma como ponto de partida para as suas reflexões geográficas a


ideia de totalidade desenvolvida por Ritter, entretanto, ele vê nessa
ideia um convite para a análise de relações complexas e das conexões
entre os diversos fenômenos e não um chamamento à reflexão sobre o
destino do mundo e da humanidade, como era a preocupação de
Ritrter. Veja no texto a seguir um trecho do próprio Vidal sobre esse
ponto.

“A ideia de que a Terra é um todo, cujas partes estão coordenadas,


fornece à Geografia um princípio de método cuja fecundidade aparece
melhor à medida que amplia a sua aplicação. Se nada existe
isoladamente no organismo terrestre, se por toda parte repercute leis
gerais de modo que não se pode tocar em uma parte sem provocar
encadeamentos de causa e efeito, a tarefa do geógrafo toma um
carácter diferente daquele que lhe é atribuído. Qualquer que seja a

75
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

fração da Terra que ele estude, ele não pode aí se fechar. Um elemento
geral se introduz em toda pesquisa local. Não existe, efetivamente,
região cuja fisionomia não dependa de influências múltiplas e
longínquas da qual importa determinar o foco. Cada região age
imediatamente sobre sua vizinha e é influenciada por ela”.

(VIDAL DE LA BLACHE, 1896, p. 122)

Os mapas de densidade e o trabalho de campo

Um dos pontos importantes para os estudos da Geografia vidaliana


eram as cartas de densidade. Para ele, essas cartas colocavam o
problema fundamental de toda a Geografia humana: aquele das
relações que os grupos humanos estabelecem com os lugares onde
vivem e com o seu entorno.

Figura 16-Exemplo de um mapa de densidade

Dessa forma, a Geografia deve analisar e explicar as relações entre os


grupos humanos e o meio ambiente onde moram. Nesse sentido, a
tarefa mais importante dela é estudar e explicar os mapas de
densidades, porque eles dão uma ideia clara dessas relações.

A prática vidaliana do trabalho de campo é indissociável de suas


pesquisas e de sua compreensão de Geografia. O campo, em certa
medida, deve substituir o livro, o texto e, até mesmo, o arquivo
histórico. Ele adquire um valor heurístico fundamental, visto que
constitui o substrato no qual se lê a relação homem/meio e que vai se
transformar na problemática explícita
76
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

da Geografia humana francesa. Assim sendo, as manifestações


elementares da vida, as formas de trabalho, de deslocamentos, de
habitat, de vestuário, observados no campo, são consideradas como
sinais das interações entre as sociedades locais e o meio.

O gênero de vida

Ao abordar a relação entre o meio e a acção humana, Vidal de la Blache,


considerava que o meio é uma força viva, que tem movimento próprio
e regras de conexão que escapam à intervenção humana. Por outro
lado, a acção do homem tem grande capacidade de transformação.

O conjunto das acções e as formas através das quais os homens tiram


proveito das possibilidades oferecidas pela natureza é dada pela
diversidade dos gêneros de vida. A noção de gênero de vida permite à
análise geográfica vidaliana compreender as relações que os homens
tecem com o seu meio. Relações que são estabelecidas pelas técnicas,
pelas formas de trabalho, pelas formas de habitação, pela cultura etc.

No seu entendimento, como os grupos humanos, necessariamente, têm


que se adaptarem (se defrontarem, estabelecerem relações com as
condições ambientais), essa adaptação se traduz na adoção de um
modo de vida, de um gênero de vida: caça, pesca, criação de bovinos,
ovelhas, suínos, cavalos, agricultura etc. O estabelecimento do gênero
de vida seria a acção humana destinada a extrair do meio ambiente o
que se necessita para comer, vestir-se, proteger-se do vento, da chuva,
do frio e a forma como dispor de ferramentas diversas. O gênero de vida
aparece como um conjunto de técnicas e hábitos.

Para o mestre francês, a adaptação de um grupo humano a um meio


ambiente específico dependia:
1. Das técnicas produtivas e da possibilidade de inventar novas
técnicas;
2. Da capacidade da tradição em transmitir, para gerações futuras,
as técnicas produtivas;
3. Das técnicas de transporte e da possibilidade de desenvolver
trocas com grupos de localidade diversa;
4. Da força do hábito.

O Possibilismo

O possibilismo é comumente reduzido à seguinte ideia: a natureza


propõe, o homem dispõe. Esta é, sem dúvida, a noção mais conhecida
para definir a abordagem das relações homem/meio da escola francesa
de Geografia e, em particular, de seu fundador Paul Vidal de la Blache.
No entanto, o autor desse neologismo não é Vidal de la Blache e sim o
historiador Lucien Febvre, em seu livro “A terra e a evolução humana”.

77
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Nesse livro, Febvre, inspirado nas elaborações de Vidal de la Blache, faz


deste a referência para os “possibilistas” em oposição aos
“deterministas” e se arroga o papel de encarnar o espírito da escola
francesa de Geografia.

O possibilismo constituiria se, assim, numa alternativa ao determinismo


do meio físico na análise das relações que o homem mantém com esse
meio. O possibilismo é a rejeição à ideia de que o homem é, antes de
tudo, passivo, submisso às condições locais e constrangido a se adaptar.

Na análise de Vidal, a compreensão das relações homem/meio se dá em


toda sua complexidade, dando relevante atenção às iniciativas
humanas transformadoras da natureza.

Sua posição é frontalmente anti determinista, ou seja, contrário ao


determinismo, mas considera que o homem sofre influências do meio
no sentido de que existe uma diferenciação natural frente à qual o
homem se depara e que em cada meio dado a natureza apresenta um
conjunto de possibilidades, com limites próprios e que é em função dos
dados históricos, culturais e técnicos que algumas dessas possibilidades
serão exploradas pelos seus habitantes.

“Uma individualidade geográfica não resulta da simples consideração


da geologia e do clima. Isso não é uma coisa dada de antemão pela
natureza. É preciso partir da ideia de que uma região é um reservatório
onde dormem energias na qual a natureza depositou o germe, mas cujo
emprego depende do homem. É ele quem, ao submetê-las ao seu uso,
traz à luz sua individualidade. Ele estabelece uma conexão entre os
traços dispersos; aos efeitos incoerentes de circunstâncias locais ele
substitui um concurso sistemático de forças. É só então que uma região
se precisa e se diferencia e transforma-se, por extensão, numa medalha
cunhada à esfinge de um povo”.

(VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8)

Sumário

Esta aula mostra como, a partir da derrota sofrida pela França frente à
Alemanha em 1870, a Geografia obtém grande impulso no ensino
francês. Mostra também que Paul Vidal de La Blache é o grande nome
da Geografia francesa desse período e é quem desenvolverá os
elementos constitutivos da análise geográfica da Escola Francesa de
Geografia. Para esse mestre francês, a Geografia deveria ter como base
para sua análise noções como totalidade, densidade, gênero de vida e
possibilismo.

78
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Autoavaliação

1. Apos a derrota da França a geografia obtém grande desenvolvimento e,


apoiada pelo Estado, é implantada em todo o Ensino Básico, surgindo
as primeiras cátedras e os institutos de Geografia. A implantação e
institucionalização da Geografia francesa foi ao cargo de:

A. Charles Darwin

B. Emile Levasseur

C. Paul Vidal de la Blache

D. Jean-Baptiste Lamarck

2. A partir do conceito de REGIÃO, assinale a opção CORRETA:

A. O Conceito de Região na Geografia refere-se à porção do espaço que


agrupa elementos diferentes.
B. Por regionalização pode-se entender a divisão de um grande espaço
em regiões, sem nenhum critério anteriormente estabelecido.
C. Para estudar todos os países do mundo não precisamos regionalizar
as informações, podemos estudar todos os dados geográficos
juntos.
D. Cada região se diferencia das outras por apresentar particularidades
próprias, ou seja, semelhança entre seus elementos

3. A relação entre o meio e a acção humana, o meio é uma força viva,


que tem movimento próprio e regras de conexão que escapam à
intervenção humana. Por outro lado, a acção do homem tem grande
capacidade de transformação. Essas ideias são atribuídas ao:
A. Ernest Haeckel
B. Emile Levasseur
C. Jean-Baptiste Lamarck
D. Paul Vidal de la Blache
4. O estabelecimento do gênero de vida seria a acção humana destinada
a extrair do meio ambiente o que se necessita para comer, vestir-se,
proteger-se do vento, da chuva, do frio e a forma como dispor de
ferramentas diversas.

5. O determinismo geográfico colocava o homem numa condição de


submissão aos aspectos naturais (a natureza é que determina a ação
humana), ou seja, sugeria que é o meio ambiente em que uma pessoa
vive que define suas características físicas e psicológicas. Esta corrente
surgiu na Alemanha foi idealizado por:

A. Friedrich Ratzel
B. Emile Levasseur
C. Jean-Baptiste Lamarck
79
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

D. Paul Vidal de la Blache

Guião de Correcção
1-C; 2-D; 3-D; 4V; 5-A

Avaliação

1. O possibilismo é comumente reduzido à seguinte ideia: a natureza


propõe, o homem dispõe ou seja afirmava que a relação homem-
natureza é percebida a partir da interpretação da paisagem. Esta
corrente foi idealizado por:

A. Friedrich Ratzel
B. Emile Levasseur
C. Jean-Baptiste Lamarck
D. Paul Vidal de la Blache
2. Qual é a ideologia da corrente determinista:

A. O homem é dependente dos aspectos e fenômenos naturais, não


sendo capaz de superá-los.
B. O homem não é dependente dos aspectos e fenômenos naturais.
C. Que o homem que habitam as regiões mais quentes são mais
inteligentes do que os das áreas mais frias.
D. Que o homem consegue prever e evitar os fenômenos naturais (ex:
terremoto)

3. Qual é a ideologia da corrente do possibilismo:


A. O homem é dependente dos aspectos e fenômenos naturais, não
sendo capaz de superá-los.
B. O homem não consegue transformar a natureza para o seu próprio
benefício.
C. O homem tem as condições necessárias para se adaptar à natureza
e transformá-la para o seu próprio benefício.
D. Que o homem que habitam as regiões mais quentes são mais
inteligentes do que os das áreas mais frias.
4. Assinale, a seguir, a alternativa que melhor indica o conceito atual de
espaço geográfico:

A. Compreende o substrato superficial onde habitam os seres vivos


terrestres.
B. Abrange o meio físico da Terra e suas dinâmicas naturais, tais como
o clima, o relevo e a vegetação.
C. É o resultado da interação mediada pelas técnicas entre as práticas
humanas e suas sociedades com a superfície terrestre e seus
elementos.
D. É tudo aquilo que pode ser contemplado pela visão em um
ambiente imediatamente próximo.

80
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

5. Assinale a opção INCORRETA em relação as características do


Espaço Geográfico:

A. Espaço geográfico é que predominam os aspectos originais da


natureza.
B. Lugar é a parte do espaço geográfico onde vivemos e interagimos
com a paisagem.
C. O espaço geográfico é a natureza transformada pelos seres
humanos, por meio de seu trabalho ao longo da história.
D. Para entendermos o espaço geográfico faz-se necessário
compreender a sociedade que o criou e continua a transformá-lo ao
longo do tempo.

Guião de Correcção

1-D; 2-A; 3-C; 4- C; 5- A

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografia, ciência da sociedade: uma


introdução à análise do pensamento geográfico. Recife: Editora
Universitária/UFPE, 2006.

CLAVAL, Paul. Histoire de la Gèogaphie. Paris: PUF, 1995.

MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC,1983.

VIDAL DE LA BLACHE, Paul. Le principe de la géographie générale.


Annales de Géographie, v. 5, n. 20, p. 122-142, 1896.

VIDAL DE LA BLACHE, Paul. Tableau de la géographie de la France. Paris:


Tallandier, 1979.

UNIDADE Temática 3.3. A abordagem regional vidaliana

Introdução

A questão regional é uma das mais tradicionais em Geografia, sendo a


região um conceito chave dessa ciência. Entretanto, trataremos, nesta
aula, apenas da concepção de região elaborada por Vidal de la Blache.
Isso porque é esse geógrafo a maior expressão da chamada Geografia
regional. Como vimos na aula sobre a Geografia vidaliana e o seu
contexto, até Vidal de la Blache, a

81
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Geografia não se constituía num ramo autônomo do conhecimento, é


com ele que atinge status de ciência na França. Ele é um pensador do
possível, das diversas possibilidades que o homem tem diante do
imperativo de habitar a Terra. Procurou salientar a importância da
vinculação entre o geral e o particular e a complexidade das entidades
(regiões) geográficas, para tanto, desenvolve a ideia de unidade
terrestre. Considerava fundamental para análise geográfica a
diferenciação da superfície terrestre, das sociedades e a compreensão
de como estão articuladas, ou seja, como as diversidades dos lugares se
expressam numa determinada organização espacial.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de região para Vidal de la Blache.


 Entender a importância do conceito de região para a análise geográfica.
Objectivos
 Perceber, na análise regional, a dialética das escalas.
específicos

A evolução do pensamento regional Vidaliano

Apoiando-se, por um lado, nos resultados obtidos pelos geólogos e, por


outro, em sua formação essencialmente de historiador, Vidal concebe
o espaço dos países como sendo a combinação da história do solo e a
história dos homens.

Partindo de quadros naturais – geologia, geomorfologia, vegetação


relevo, clima, hidrografia –, ele mostra como a geologia e o clima
oferecem uma série de possibilidades, cujo emprego depende dos
homens, e que é o grupo humano que, ao fazer uso da natureza,
diferencia uma região “transformando a sua extensão numa medalha
cunhada como a esfinge de um povo” (VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8).
Para Vidal, cabe ao geógrafo explicar e compreender a lógica interna de
cada fragmento da superfície terrestre revelando sua individualidade,
cuja réplica exata não se encontra em nenhuma outra parte. É
atribuição do geógrafo estudar a organização de cada espaço
diferenciado e individualizado.

Desde 1889, Vidal propõe uma primeira concepção das “divisões


fundamentais do solo francês”. Quinze anos de reflexão sobre o tema o
levam à elaboração de seu mais famoso livro Tableau de la géographie
de la France (Quadro da Geografia da França), em 1903, no qual ele
apresenta um espaço hierarquizado em graus diferenciados. No
entanto, o ponto de partida permanece sendo a “região natural”,
apoiada na geologia, no relevo ou no clima – Bassin parisien, Massif
Central, Midi océanique. Essas regiões se diversificam em unidades

82
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

mais reduzidas e são compreendidas segundo aspectos históricos, em


função de elementos políticos e de desenvolvimento econômico – as
rotas – ou em função de elementos oriundos do raio de influência de
uma cidade.

Por sua vez, tais regiões se revestem de aspectos e traços bastante


diferenciados, cuja originalidade se exprime numa certa fisionomia,
num estilo particular de organização espacial engendrada pelo
casamento entre a natureza e a história. Essa fisionomia é o que nós
chamamos hoje de paisagem.

Compreendendo o Tableau e o papel das cidades

Para compreendermos o espírito do Tableau de la France, é necessário


lembrarmos que foi encomendado a Vidal por Ernest Lavisse para servir
de introdução a uma “História da França” e que deveria tratar da
geografia francesa até 1789. É em função desse aspecto que
encontramos no Tableau elementos fixos e permanentes inseridos em
quadros que remontam aos aspectos mais antigos e tradicionais
daquele país. Mas, Vidal não ignora as transformações que o
desenvolvimento urbano e a concentração industrial promoveram, no
início do século XX, na estrutura regional da França. Ele demonstra isso
em artigos que escreve entre 1910 e 1917.

Mostrou como algumas cidades, Lyon em particular, passavam a ser


grandes geradoras de unidade regional e organizavam em torno de si
uma região de tipo novo, que ele qualificou de nodal, termo tomado
emprestado ao geógrafo inglês Mackinder. Essas regiões definiram-se
em função do seu centro.

Num artigo escrito em 1917 e intitulado “A renovação da vida


regional”, diz Vidal: “Quando se trata de região, não é necessário
procurar os limites. É necessário conceber a região como uma espécie
de auréola que se estende sem limites bem determinados, que circunda
e que avança” (VIDAL DE LA BLACHE,1917, p. 104).

A cidade não é uma novidade para os geógrafos dessa época, uma vez
que, em vários momentos do desenvolvimento da humanidade, a
cidade aparece como organizadora de um espaço que a circunda. A
novidade reside na amplitude do fenômeno, no raio de influência das
cidades, viabilizado pelo desenvolvimento das comunicações e das
estradas de ferro. Essa “renovação regional” Vidal sente perfeitamente
– de forma mais marcante no final de sua vida – e exprime, cabalmente,
em sua obra La France de l’Est (1917). Ele se torna mesmo um defensor
de uma reforma administrativa do país, propondo, em 1910, um recorte
em 17 regiões geográficas, concebidas a partir de espaços organizados
pelas maiores cidades.

83
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Entre os geógrafos de seu tempo, é Vidal quem coloca a reflexão e a


análise regional no centro de sua obra. Ele se interessa pela história da
exploração do mundo, pelas formas de povoamento, pelos gêneros de
vida, pela demografia etc. No entanto, a preocupação regional, que se
esboça por volta de 1880, permanece central e evolui bastante até os
seus últimos trabalhos, dentre eles La France de l’Est, publicado às
vésperas de sua morte, no ano de 1918, em plena guerra mundial. Ao
finalizar essa obra e deixar inacabados os Príncipes de Géographie
humaine, Vidal indica o peso que tem a démarche regional em suas
elaborações.

É num artigo escrito em 1888, Des divisions fondamentales du sol


français, que Vidal inicia sua reflexão sobre a questão regional da
França: questão capital em seu pensamento, que o acompanhará até o
fim de sua vida.

Região e Ensino

O texto de 1888 destina-se aos professores de geografia do ensino


médio e pretende dar algumas indicações de método apoiadas em
exemplos da realidade francesa. A ideia é que os alunos percebam que
a Geografia é uma coisa viva. Segundo o próprio Vidal, o texto deveria,
sobretudo, inspirar o desejo de ver. Ver com os próprios olhos e
compreender as diferenças das regiões.

Diferenças que escapam à observação superficial, mas que se


descobrem de imediato quando se tem um olhar atento e se associam
a ele lembranças e impressões. Para Vidal de La Blache, isso é o que de
melhor poder-se-ia desejar para o estudo da escola da França. Uma das
dificuldades, apontadas por esse geógrafo no ensino de Geografia é a
incerteza sobre as divisões que melhor convém para a descrição das
regiões. Para ele, essa incerteza implica a própria concepção que se tem
da Geografia. Os factos, diz Vidal, se esclarecem segundo a ordem na
qual nós os agrupamos. A Geografia não seria uma nomenclatura à qual
se juntam outros conhecimentos práticos do mesmo gênero. Se se
separa o que deve ser relacionado, se se une o que deve ser separado,
toda a ligação natural está quebrada.

A noção que Vidal de la Blache tem de região é uma noção fundada no


princípio da “unidade terrestre”, segundo o qual a região se constituiria
enquanto parte de um todo e ela mesma se constituiria numa unidade,
em que, havendo a quebra das ligações naturais, seria impossível
reconhecer o encadeamento que religa os fenômenos dos quais se
ocupa a Geografia e que é sua razão de ser científica.

Vidal de la Blache insiste no facto de que a Geografia deve ser tratada


como ciência e não como uma simples nomenclatura. A região, para ele,
não é a descrição de um mosaico de

84
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

paisagens. Existe, na sua noção de região, uma visão de movimento, de


imbricações dos seres regionais. As regiões de um país são peças que
mantêm relações entre si, formando um todo.

Vidal mostra que existem regiões naturais, mas para a Geografia,


interessa a relação entre essa região natural e as regiões históricas, e
essa unidade natural/histórica não se realiza sem implicações
complexas. Não existe uma superposição automática entre elas. A ideia
é que existe uma base geográfica no desenvolvimento histórico de um
povo. Não nos parece haver dúvidas de que a região é um tema central
no pensamento de Vidal de la Blache, que é um pensamento que evolui.
Segundo Sanguin (1993, p. 327).

Há primeiro a região versão 1888 (a do artigo Des divisions


fondamentales du sol français), onde ele tenta encontrar um princípio
integrador suscetível de clarificar o conceito em geografia. Em outras
palavras, esse artigo é um exercício para dar uma definição funcional à
palavra região. Passamos em seguida à região versão 1903 (a do
Tableau de la géographie de la France).

Paul fez sua a ideia central desenvolvida por Michelet. Existe uma base
geográfica na história de um povo: tal é a pátria, tal é o homem,
segundo Michelet. Enfim, chegamos à região vidaliana versão 1910 (a
do artigo Régions françaises), no qual, de uma forma visionária, Paul
propõe, 80 anos antes, uma França constituída de regiões concebidas
pela Europa do Mercado único e pela Comunidade saída do Tratado de
Maastricht!

Sem sombra de dúvida, a ideia de região evolui no pensamento


vidaliano, no entanto, parece-nos que toda essa evolução tem um fio
condutor que acompanhou esse grande geógrafo durante toda a sua
carreira: aquele que se funda sobre a concepção da relação
homem/natureza.

Em seu Principes de géographie humaine, e em outros escritos, Vidal


expõe a sua concepção geral da relação homem/natureza. Para ele, o
homem participa da natureza. Homem e natureza não são termos
opostos: o homem faz parte da criação e é o seu colaborador mais ativo.
“Ele não age sobre a natureza senão nela e por ela” (VIDAL DE LA
BLACHE, 1896, p.122).

Em função da realização de suas necessidades vitais – respiração,


alimentação, habitação etc. –, o homem, segundo Vidal, permaneceria,
assim como os outros animais, embebido nas influências do meio
ambiente. Essa influência estabeleceria uma “ligação” entre as
condições naturais e os factos geográficos.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

No entanto, considera o autor, essa ligação não seria absoluta e sofreria


as influências do tempo, pois os homens são dotados de capacidade
criadora, o que faria com que essas influências do meio se modificassem
com a evolução técnica das sociedades e o homem tiraria cada vez mais
partido das possibilidades oferecidas pela natureza. O poder de ação do
homem sobre a natureza está ligado, na concepção vidaliana, ao grau
de evolução das sociedades humanas.

Vidal reconhece que é “verdadeiramente muito difícil desvendar, nas


grandes sociedades civilizadas, a influência do meio local”, mas elas
“são resultado infinitamente complicados de uma longa acumulação da
actividade humana” (VIDAL DE LA BLACHE, 1896, p. 123). Nesse ponto,
Vidal de La Blache concebe a actividade humana como mediatizadora
entre a influência do meio e as formas de organização espacial das
sociedades.

Em Vidal, existe uma concepção que explicaria, ao mesmo tempo, a


dependência e a liberdade do homem em relação à natureza. Para ele,
o homem é definido como um ser saído da natureza e que não pode e
jamais poderá desligar-se dessa entidade, que o contém e à qual deve
sua existência.

Na sua ideia mesma de região, está a marca dessa tensão entre as


sociedades e a natureza, entre liberdade e dependência.

Região e Estado

Mesmo o Estado tem, na concepção vidaliana, um componente regional


ligado às condições naturais. Segundo Mercier (1995, p. 220/221), tanto
Ratzel quanto Vidal:

Sustentam que a diferenciação regional e a solidariedade inter-regional


subjacente à criação do Estado resultam de uma dinâmica geográfica
determinada, ao mesmo tempo, pela capacidade técnica das
sociedades humanas, as condições naturais nas quais elas evoluem e a
intensidade das trocas entre uma sociedade e suas vizinhas.

O papel das trocas

As trocas ocupam um lugar significativo na análise de Vidal, uma vez


que estão diretamente ligadas à geração de uma rede de circulação que
é ao mesmo tempo fruto e causa da intensificação dessas mesmas
trocas e que transformam e alteram profundamente as formas de
ocupação do espaço.

A intensificação das trocas geraria o que Vidal chama de solidariedade


regional. Isso deslocaria o foco da análise regional do princípio da
homogeneidade para a da solidariedade regional. Vidal de la Blache é

86
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

um homem atento às mudanças de seu tempo, essa ideia de


solidariedade regional tem em seu cerne o desenvolvimento das
cidades. Para Vidal de la Blache (1993, p. 309), “Cidades e rotas são as
grandes iniciadoras da unidade; elas criam a solidariedade das regiões.
[...]. Esse papel nas condições econômicas do mundo atual, se precisa e
se define”.

As monografias regionais

Vidal de la Blache é, sem dúvida, a maior expressão da Geografia


francesa, principalmente, em se tratando de Geografia regional. Para
ele, uma monografia regional, ou seja, um trabalho científico em
Geografia, deveria estar atenta para os elementos que compõem a
região: os elementos do meio físico, sobretudo, o solo; formas de
habitação, actividades humanas, e como as comunidades se integram
com o meio físico e com outras comunidades; além de estar atenta para
elementos solidários que pudessem parecer estranhos à região
estudada.

Vidal e o Movimento Regionalista

Por volta de 1860, por influência das ideias de Proudhon (1809-1865),


Mistral (1830 - 1914) e Barres (1862 – 1923), desenvolveu-se na França
um movimento regionalista, que se articula em torno da revista L’Acion
Régionaliste e da Federação Regionalista Francesa. Entre 1890 e 1910,
esse movimento defendeu uma reforma territorial na França. A partir
de 1910, Vidal se insere nesse movimento.

A primeira tomada de posição regionalista de Vidal foi muito discreta.


Manifestou-se em um comentário que ele fez, em 1898, sobre o livro
de Pierre Foncin “Les Pays de France. Projet de fédéralisme
administratif. (Compte rendu du livre de Pierre Foncin: Les pays de
France) Annales de Geographie, 1898). Nesse livro, Foncin propõe ao
movimento regionalista uma doutrina e um programa. Em seu
comentário, Vidal subscreve a ideia de “livrar a França da opressão da
centralização”. Como Foncin, ele lamenta a ineficácia da organização
territorial em vigor na França e concorda que seria necessário dotar a
França de uma circunscrição administrativa melhor adaptada às
“unidades locais naturais”.

Esse breve comentário revela duas orientações que Vidal, nessa época,
dava à sua reflexão sobre a região. De um lado, ele queria dotar a
Geografia de uma definição do conceito de região e de um método de
análise regional. Ele sustenta, como vários outros, que a realidade
regional não corresponde necessariamente a divisões administrativas.
Por outro lado, ele revela a sua sensibilidade política e faz elogios às
vantagens de Estados onde a diversidade regional se exprime. Ao
descrever a Suíça, deixa transparecer o valor moral que ele atribui à

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

autonomia dos organismos locais. Para ele, a Suíça havia atingido um


alto nível de civilização porque cada região era dotada de uma
identidade política própria.

Se, por um lado, Vidal, ao comentar Foncin, concorda com a reforma


regional, ele não se torna efetivamente um advogado do movimento
regionalista. No entanto, dá um passo nessa direção quando publica,
em 1903, o seu célebre Tableau de la géographie de la France.

Nesse trabalho, ele adopta uma posição regionalista, sem se referir


diretamente a nenhuma posição política ou debate partidário. Ele se
situa “acima” de qualquer querela doutrinária ou política e reclama
para si tão-somente a análise científica. Restringe-se a dizer, no final de
sua obra, que a reforma regional emana da própria Geografia e que uma
regionalização está verdadeiramente inscrita na história do solo e do
povo francês, que somente “o esquecimento” ou “a complacência”
poderiam contrariar tal reforma. Ele explica que a centralização é uma
herança do século XVIII e que nessa época uma coação política externa
havia favorecido essa centralização.

A França precisava rivalizar com os outros Estados europeus e esse


esforço de afirmação e de resistência exigia que a unidade do país fosse
incontestável. Entretanto, essa centralização havia, segundo Vidal,
sufocado o pleno desenvolvimento e a manifestação da Geografia
francesa e no século XIX o dinamismo local começava a se manifestar,
mostrando que a Geografia regional da França iniciava a retomada de
seus direitos.

Alguns anos mais tarde, Vidal decide defender mais abertamente o


movimento regionalista. Sua atitude se manifesta, primeiramente,
(VIDAL DE LA BLACHE, 1909), quando comenta o livro de Lucien Gallois,
Régions naturelles et noms de pays, no qual denuncia abertamente e
sem rodeios “o despotismo” que mantém a França num “excesso de
centralização”. Essa nova coloração é o prelúdio de um outro artigo,
publicado em 1910, Regions françaises.

Nesse artigo, Vidal ultrapassa, sem hesitação, os horizontes científicos,


para elaborar e legitimar um autêntico programa regionalista. Desde a
primeira linha, ele denuncia a inércia da classe política e se congratula
com a clarividência dos partidários da reforma regional. Com essa
amostra, manifesta a sua intenção de tomar partido em um debate
político de sua época. Aliás, ele critica “a insuficiência das divisões
administrativas atuais”.

Mesmo reconhecendo um certo valor nas divisões departamentais,


lamenta a ausência de entidades regionais mais amplas. Para ele, o
departamento, criado no rasto da Revolução, trazia uma forte marca de
uma França largamente rural.

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Contudo, a geografia da França havia mudado bastante no século XIX. A


grande indústria havia ampliado consideravelmente a escala dos
fenômenos econômicos e isso simultaneamente à formação de centros
urbanos que drenavam grandes hinterlândias.

O Método Regional

Vidal se interessa muito pelas realidades geográficas extensas: nações


ou grandes zonas geográficas, como o Mediterrâneo. Se ele efetua
recortes regionais, é para melhor compreender a natureza das
entidades que lhe interessam. Seu método repousa sobre uma
incessante dialética das escalas. Para ele, essa dialética se realiza
quando analisa a situação dos lugares ou de pequenos conjuntos
territoriais: pontos ou áreas mais ou menos extensos. A outra vertente
dessa dialética das escalas procede de modo inverso, indo das grandes
áreas naturais, das nações, das grandes regiões em direção aos “pays”,
ao local. Essas operações de regionalização que “revelam”
componentes que existem no seio de um grande espaço o apaixonam.

Quando os critérios de partição são mudados, a forma do recorte toma


toda sua amplitude. É o que torna a démarche regional insubstituível no
pensamento vidaliano. Ela revela, assim, a complexidade dos objectos
estudados quer se trate de nações, de grandes espaços, ou do estudo
do local.

Para descrever a França, Vidal utiliza sucessivamente várias perspetivas:


ele a recorta em regiões naturais (1988); analisa conjuntos onde se
desenvolvem formas de sociabilidade originais, mas que têm na França
a particularidade de se completar (VIDAL DE LA BLACHE, 1979); faz um
inventário dos pequenos “pays” e das paisagens agrárias (VIDAL DE LA
BLACHE, 1904). Retornando dos Estados Unidos, se volta para a análise
com base nas grandes cidades, nas zonas de influência que elas talham
no seio do território nacional (VIDAL DE LA BLACHE, 1993).

Nesse sentido, a démarche regional vidaliana não pode ser concebida


de maneira estática, uma vez que é dinâmica. Abrindo vários flancos,
ela permite envolver na análise a natureza, a natureza humana, a
cultura e todo o conjunto complexo de “objectos e de acções” que
constituem a estrutura do território.

Sumário

Nesta unidade, discutimos a evolução do pensamento regional de Paul


Vidal de la Blache. Você percebeu que, para esse autor, a região é um
recorte espacial relacionado à diferenciação natural e cultural dos
lugares. Mostramos também que elementos como clima, geologia,

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ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

cultura, história e técnica se imbricam e dão singularidades ao local e


que o advento das cidades promovem um novo reordenamento
regional.

Autoavaliação

1. Uma região pode ser criada com a finalidade de realizar estudos sobre
as características gerais de um território, assim como para entender
determinados aspectos do espaço.
2. A região resulta de uma elaboração racional e intencional do ser
humano. Tem a finalidade de facilitar a análise, a gestão e a
compreensão de uma determinada área e dos elementos que a
compõem.
3. Em geral, a região pode ser entendida como uma área que foi dividida
obedecendo-se a um critério específico.
4. Algumas regiões surgem de forma natural e são estabelecidas sem que
seja necessária a especificação de um critério que as defina ou
classifique. Elas são chamadas de regiões naturais.

5. O espaço geográfico é aquele que foi modificado pelo homem ao longo


da história. Nele estão contidos alguns elementos.
I Um dos principais da geografia, está ligado a espaços que nos são familiar
e que fazem parte da nossa vida. Desde a infância, começamos a
construir e organizar nosso próprio espaço e a conhecer o espaço das
pessoas com as quais convivemos.
II Refere-se às configurações externas do espaço. Por muitas vezes, ela foi
definida como “aquilo que a visão alcança”.
III É classicamente definido como sendo um espaço delimitado. Tal
delimitação se dá através de fronteiras, sejam elas definidas pelo
homem ou pela natureza.
IV É uma área ou espaço que foi dividido obedecendo a um critério
específico. Trata-se de uma elaboração racional humana para melhor
compreender uma determinada área ou um aspecto dela. Pela análise
realizada a sequência correta é:

A. Lugar, paisagem, território, região.


B. Paisagem, território, lugar, região.
C. Território, lugar, paisagem, região.
D. Região, paisagem, lugar, território.

Guião de Correcção
1-F; 2-F; 3-V; 4-F; 5-A

90
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Avaliação

1. A partir do conceito de REGIÃO, assinale a opção CORRETA:


A. O Conceito de Região na Geografia refere-se à porção do espaço que
agrupa elementos diferentes.
B. Cada região se diferencia das outras por apresentar particularidades
próprias, ou seja, semelhança entre seus elementos.
C. Para estudar todos os países do mundo não precisamos regionalizar
as informações, podemos estudar todos os dados geográficos juntos.
D. O conceito de região é menor que a escala local, e maior que a escala
nacional.
Correlacione a segunda coluna de acordo com a primeira:

Espaço Conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de


2. geográfico ações, que procura revelar as práticas sociais dos diferentes
grupos.
3. Paisagem É, numa determinada porção do espaço, o resultado da
combinação dinâmica, portanto instável, de elementos
físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo
dialeticamente, uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto indissociável, em perpétua evolução.
4. Território Para algumas correntes da geografia, pode ser entendido(a)
como uma classe de área, que pode apresentar grande
uniformidade interna e grandes diferenças quando
comparada a outras áreas.
5. Lugar É marcado(a) pelas relações de consenso, conflito,
dominação e resistência, onde se cria identidade e onde se
vive.
6. Região As relações de poder construídas e estabelecidas são
determinantes para a sua definição e delimitação.

Guião de Correcção
1-B;

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografia, ciência da sociedade. Recife:


Editora Universitária/ UFPE, 2006.

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.

CLAVAL, Paul. Histoire de la Géographie française de 1870 à nos jour.


Paris: NATAN, 1998.

DANTAS, Aldo. Pierre Monbeig: um marco da geografi a brasileira. Porto


Alegre: Sulina, 2005.

91
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

MERCIER, Guy. La région e l´’état selon Friedrich Ratzel et Paul Vidal de


la Blache. Annales de Géographie, Paris, v. 583, p. 211-235, 1995.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC, 1983.

SANGUIN, André-Louis. Vidal de la Blache: un génie de la géographie.


Paris: Belin, 1993. VIDAL DE LA BLACHE, Paul. Le principe de la
géographie générale. Annales de Géographie, v. 5, n. 20, p. 122-142,
1896.

______. Régions naturelles et noms de pays. Journal des Savants, p.


389-401, sept./oct. 1909.

______. De la signifi cations populaire des noms pays. Roma Tipografia


Della R. Academia dei Lincei, 1904.
______. La rénovaion de la vie régionale: foi et vie. Cheir, 1917.
______. Tableau de la géographie de la France. Paris: Tallandier, 1979.
______. Régions françaises. In: SANGUIN, André-Louis. Vidal de la
Blache: un génie de la géographie. Paris: Belin, 1993.

UNIDADE Temática 3.4. Os movimentos de renovação

Introdução

A Geografia começa a viver a partir da década de 1950, em todo o


mundo, uma dramática crise de transição. Essa crise adveio do
rompimento de grande parte dos geógrafos em relação à perspetiva
tradicional, aquela que se fundamentava no positivismo. Esse
rompimento ensejou a busca de novos caminhos, de nova linguagem,
de novas propostas, enfim, de uma maior liberdade para reflexão e
criação. Com o movimento de renovação, a Geografia passa a trabalhar
a partir de críticas e propostas; abrem-se novas discussões e buscam-se
caminhos até então desconhecidos. Instala-se, de maneira sólida, um
tempo de críticas e de propostas no âmbito dessa ciência. As principais
propostas geradas a partir desse momento são os movimentos que
deram origem às geografias quantitativa, radial e da perceção. São
esses três movimentos que analisaremos nesta aula.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender a realidade colocada para o mundo nos pós Segunda Guerra


Objectivos Mundial.

92
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Específicos  Entender a relação entre realidade social e histórica do período estudado e


suas vinculações com os movimentos de renovação da Geografia.
 Perceber as especificidades que compõe as propostas da geografia
quantitativa, radical e da perceção.

Contexto geral

O contexto dos pós Segunda Guerra Mundial modifica profundamente


a maneira de se conceber os problemas da sociedade. O mundo que se
reconstitui, depois da guerra, é um mundo dominado por dois blocos
antagônicos, no qual se firma um Terceiro Mundo confrontado com
grande explosão demográfica e miséria.

Um crescimento espetacular dos fluxos de homens, mercadorias,


informações e finanças se estabelecem fortemente nesse período e
acirram as rivalidades geopolíticas: é o tempo da Guerra Fria. A
evolução das técnicas e os processos históricos modificam
profundamente as relações econômicas e políticas até então
estabelecidas. Começa a se estabelecer o período que Milton Santos
denominou de técnico científico-informacional (Milton Santos: o
filósofo da técnica).

Os meios de aquisição de dados também tornam-se mais sofisticados.


A fotografia aérea, desenvolvida desde a Primeira Guerra Mundial,
toma novo impulso. As imagens de radar atravessam as coberturas
nebulosas. O aperfeiçoamento de satélites de observação possibilita
uma cobertura cada vez mais regular da Terra, com uma resolução cada
vez melhor, chegando à ordem de metro.

O progresso das técnicas de modelação e de cálculo encontra grande


eco nas ciências. Ocorre nesse momento grande expansão do
Capitalismo, que vai permitir o desenvolvimento das corporações
transnacionais, as quais ampliam seus programas de acção, visando
controlar as matérias-primas e o mercado consumidor em escala
mundial. Os métodos matemático-estatísticos, para a confeção de
modelos abstratos a serem aplicados em realidades diversas, são a
febre desse momento. É nesse ambiente que surgem as correntes de
renovação da geografia.

A Geografia Quantitativa

Denominada também como Nova Geografia, Geografia Pragmática ou


Geografia Teorética, essa nova corrente de pensamento rompe com a
chamada Geografia Clássica.
93
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

De modo geral, podemos dizer que essa corrente vai se apoiar no uso
maciço da estatística, com o emprego de diagramas, matrizes, análise
fatorial e equações matemáticas. Dá pouca importância aos trabalhos
de campo, que é substituído pelo laboratório, onde seriam feitas
medições matemáticas e traçados gráficos estatísticos, procurando
visualizar a problemática da paisagem através de modelos sistêmicos.

Para os autores filiados a esta corrente, o temário geográfico poderia


ser explicado totalmente com o uso de métodos matemáticos. Todas as
questões aí tratadas – as relações e interações de fenômenos de
elementos, as variações locais da paisagem, a acção da natureza sobre
os homens etc. – seriam passíveis de ser expressas em termos
numéricos (pela mediação de suas manifestações) e compreendidas na
forma de cálculos. Para eles, os avanços da estatística e da computação
propiciam uma explicação geográfica. Por exemplo, ao se estudar uma
determinada região, a análise deveria começar pela contagem dos
elementos presentes (número de estabelecimentos agrícolas, total de
população, extensão, número e tamanho das vilas e cidades etc.); este
procedimento forneceria tabelas numéricas de cada dado, as quais
seriam trabalhadas estatisticamente pelo computador (médias,
variâncias, desvio-padrão, medianas etc.) e relacionadas (correlação
simples e múltipla, regressão linear, covariação, análise de
agrupamento etc.); ao final, surgiriam resultados numéricos, cuja
interpretação daria a explicação da região estudada. Poder-se-iam
formular juízos do seguinte tipo: a estrutura fundiária é explicável pela
topografia, em relação ao tipo de produto na razão de 70%; o tamanho
das cidades relaciona-se com o sistema viário em 0,6 numa escala de 0
a 1; variando a produtividade agrícola, variará o volume de estradas
asfaltadas, na proporção de 7.0 numa escala de 1 a 10; e assim por
diante. A relação de várias destas constatações permitiria chegar à
explicação geral da área estudada. (MORAES, 1983, p.103).

A Geografia crítica ou radical

Como já mencionamos no início desta aula, o mundo passa por grandes


transformações a partir do final da Segunda Guerra Mundial, tais como:
 Início e fim da Guerra Fria, através da política de coexistência pacífica
que amortece as tensões entre os dois blocos hegemônicos, o que
permite o florescimento da reflexão marxista no ocidente;
 Mudanças nos países do Terceiro Mundo;
 Crise do sistema de dominação ocidental.

O processo de descolonização, ocorrido após a Segunda Guerra


Mundial, de muitos países da África, como a Guiné e a Argélia, é fruto
dessas mudanças e contribuiu para alterar de modo significativo as
relações internacionais.

94
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Vêm a baila os problemas do chamado mundo subdesenvolvido, o que


dá origem a movimentos com o dos Países não-alinhados – conjunto de
países que tinham a pretensão de não se alinharem nem ao bloco
capitalista nem ao bloco comunista – e também à Conferência Mundial
de Comércio e Desenvolvimento, realizada em Bruxelas em 1964, que
permitiu levantar muitos dos problemas sociais e econômicos do
subdesenvolvimento e influenciou não só a economia como também as
outras ciências sociais.

Toma-se consciência que, em boa medida, os problemas do


subdesenvolvimento são consequência da dominação capitalista e se
reconhece as relações entre o atraso econômico, a dependência e a
relações comerciais internacionais. Entra em crise o sistema de
dominação levado a cabo pela Europa e Estados Unidos da América
(EUA). Essas mudanças refletem-se nas ciências sociais, que vão buscar
uma nova compreensão para os países dependentes e para o papel das
potências ocidentais e do próprio sistema capitalista.

No campo da Geografia, os procedimentos metodológicos descritivos


da Geografia Tradicional e o tecnicismo quantitativo da Geografia
Teorética começam a ser criticados por não conseguirem explicar a
nova realidade posta. Esse movimento de crítica é denominado de
radical. Tem sua origem nos Estados Unidos, em meio à turbulência
social originada pela intervenção americana no Vietnam.

Para além da pesquisa sobre a produção e organização do espaço, das


causalidades estruturais e históricas ligadas às formações sociais, essa
corrente acrescentava, às suas formulações, forte contestação à
realidade social, notadamente à sociedade capitalista americana, onde
se exacerbavam os problemas sociais, com destaque aos das grandes
cidades.

Esse movimento era composto, basicamente, de jovens geógrafos que


criticavam a inoperância das barreiras disciplinares, a falta de
pertinência da Geografia social e sua frequente associação com os
interesses e instituições dominantes e de todos aqueles que
contribuíam para a manutenção do status quo, ou seja, acreditavam
que a Geografia de então contribuía mais para o controle do que para a
resolução dos problemas sociais tal como eles se expressavam no
território, tanto em escala mundial, das relações entre centro e
periferia, como em escala urbana. Assim sendo, suas pesquisas, com
base teórico-marxista, se voltaram para temas como a produção do
espaço, a pobreza, a fome, a saúde, a criminalidade, os problemas
urbanos, o imperialismo e a geopolítica.

O designativo de crítica diz respeito, principalmente, a uma postura


frente à realidade, frente à ordem constituída. São os autores que se
posicionam por uma transformação da
95
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

realidade social, pensando o seu saber como uma arma desse processo.
São, assim, os que assumem o conteúdo político de conhecimento
científico, propondo uma Geografia militante, que lute por uma
sociedade mais justa. São os que pensam a análise geográfica como
instrumento de libertação do homem.

Os autores da geografia crítica vão fazer uma avaliação profunda das


razões da crise; são os que acham fundamental evidenciá-la. Vão além
de um questionamento puramente acadêmico do pensamento
tradicional, buscando suas raízes sociais. Ao nível acadêmico criticam o
empirismo exacerbado da Geografia Tradicional, que manteve suas
análises presas ao mundo das aparências [...].

A vanguarda desse processo crítico renovador vai ainda mais além,


apontando o conteúdo de classe da Geografia tradicional. Seus autores
mostram as vinculações entre as teorias geográficas e o imperialismo, a
ideia de progresso veiculando sempre uma apologia da expansão.
Mostram o trabalho dos geógrafos, como articulado às razões do
Estado. Desmistificam a pseudo “objectividade” desse processo,
especificando como o discurso geográfico escamoteou as contradições
sociais. (MORAES, 1983, 112-113).

A Geografia da Perceção

Também conhecida com Geografia comportamental, a Geografia da


perceção surge como uma corrente de pensamento que se aproxima da
psicologia e tem nas formulações fenomenológicas de Edmund Husserl
(1859-1938) o seu suporte teórico. A fenomenologia coloca importância
primordial no indivíduo para o processo de construção do
conhecimento.

Para esta corrente, o mundo deve ser descrito segundo a maneira como
é visto, sentido e percebido pelo indivíduo. Desenvolvida nos Estados
Unidos por Yifu Tuan, esta corrente ficou também conhecida como
Topofilia. Topofilia quer dizer, literalmente, amor aos lugares (Topo,
lugar, e filia, amor). Esse termo foi utilizado pelo pela primeira vez pelo
filósofo Gaston Bachelard, no seu livro “A poética do espaço”.

Para ele, tratava-se de considerar os “espaços felizes” e os espaços


vividos. Para Tuan, Topofilia designa a ligação afetiva que existe entre
cada indivíduo e os lugares. Nesse caso, trata-se de um sentimento
extremamente particular. Sabemos que os indivíduos estabelecem
relações significativas com os lugares e que os lugares significam
sempre “alguma coisa” para os seres humanos. Assim sendo, caberia ao
geógrafo (da perceção) pesquisar essa “alguma coisa”, levando em
consideração que os seres humanos interpretam os lugares e,
simultaneamente, lhes dão sentido. Trata-se, então, de compreender
as modalidades segundo as quais os
96
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

seres humanos constroem suas relações com os lugares, quer eles seja
simbólicos, constitutivos de identidade, ou mais banais e familiares.
Entretanto, devemos chamar a atenção para o facto de que a ligação
dos seres humanos com os lugares é intermediada por factores
culturais, sociais, econômicos e, mesmo, de origem biológica. Nesse
sentido, para se compreender as preferências, afetividades e atitudes
de cada indivíduo ou grupo, é necessário levar em consideração aqueles
factores.

Para compreender a preferência ambiental de uma pessoa,


necessitaríamos examinar sua herança biológica, criação, educação,
trabalho e arredores físicos. No nível de atitudes e preferências de
grupo, é necessário conhecer a história cultural e a experiência de um
grupo no contexto de seu ambiente físico. Em nenhum dos casos é
possível distinguir nitidamente entre factores culturais e o papel do
meio ambiente físico. Os conceitos de “cultura” e “meio ambiente” se
superpõem do mesmo modo que os conceitos de “homem” e
“natureza” [...].

Na sociedade ocidental o mapa mental da dona de casa com crianças


pequenas, provavelmente, é diferente do de seu esposo. Os caminhos
de circulação do casal, durante os dias de trabalho, dificilmente
coincidem, exceto dentro de casa. Quando saem às compras, o homem
e a mulher vão querer olhar lojas diferentes. Eles podem ir de braço
dado, mas com isso não vão ver ou escutar as mesmas coisas.

Ocasionalmente, são arrancados de seus próprios mundos preceptivos


para atender cortesmente ao pedido do outro, como por exemplo,
quando o marido pede à esposa que admire os tacos de golfe na vitrina.
Pense em uma rua movimentada e procure lembrar as suas lojas: certas
lojas aparecerão nitidamente, enquanto outras se dissolverão em uma
névoa como um sonho. Os papéis dos sexos têm muita a ver com as
diferenças nos padrões (TUAN, 1980 p. 68-70).

Sumário

Considerando as transformações ocorridas com o final da Segunda


Guerra Mundial, você estudou os movimentos de renovação da
Geografia, denominados de quantitativo, radical e da perceção, os quais
foram influenciados por essas mudanças.

Autoavaliação

1. A Geografia começa a viver em todo o mundo, uma dramática crise de


transição. Essa crise adveio do
97
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

rompimento de grande parte dos geógrafos em relação à perspetiva


tradicional, aquela que se fundamentava no positivismo. Esta crise foi:
A. A partir da década de 1950
B. A partir da década de 1590
C. A partir da década de 1920
D. Todas opções estão erradas

2. A Nova Geografia defende que o subdesenvolvimento é um estágio para


se chegar ao desenvolvimento.

3. A Nova Geografia defende que Todo o conhecimento apoia-se na


experiência (empirismo).
4. A Geografia Crítica apóia-se em dados estatísticos e planos para explicar
a espacialidade social.

5. Uma das grandes metas conceituadas da geografia foi justamente


de um lado, esconder o papel do Estado bem como o das classes
sociais na organização da sociedade e do espaço. A justificativa da
obra colonial fio um outro aspecto do mesmo programa (M. Santos) ”.
As nações teórico-metodológicas que invertem essas metas
conceituadas estão contidas na:
A. Geografia teórica
B. geografia descritiva
C. geografia crítica
D. geografia de perceção

Guião de Correcção
1-A; 2-V; 3-V; 4-V; 5-C

Avaliação

1. A Geografia comportamental, a Geografia da perceção surge como uma


corrente de pensamento que se aproxima da psicologia e tem nas
formulações fenomenológicas. Para esta corrente, o mundo deve ser
descrito segundo a maneira como é visto, sentido e percebido pelo
indivíduo. Esta corrente foi desenvolvida por:

A. Friedrich Ratzel
B. Gaston Bachelard
C. Milton Santos
D. Yifu Tuan

2. A geografia crítica desmascara a geografia tradicional e a nova geografia


ao demostrar o papel da geografia na legitimação dos interesses das
classes hegemônicas.
98
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

3. Segundo o princípio da causalidade, o geógrafo só realiza a


Geografia plenamente como ciência quando demonstra, comprove e
explica o fenômeno estudado, evidenciando suas causas e
consequências.
4. A geografia crítica sucede a corrente do pensamento geográfico
denominada nova geografia ou geografia quantitativa.
5. O Determinismo Geográfico de Ratzel, surge como resposta ao
Possibilismo de Vidal de la Blache.

Guião de Correcção
1-D; 2-V; 3-V; 4-V; 5-F

Referências Bibliográficas

BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

BAILLY, A. FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie. Paris:


Armand Colin, 1997.

CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.

MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC, 1983.

MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? São Paulo:


Contexto, 2006.

TUAN, Yi-fi . Topofilaia. São Paulo: Difel, 1980.

99
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TEMA – IV: GEOGRAFIA COMO CIENCIA.

Unidade Tematica 4.1. Geografia como Ciência

UNIDADE Temática 4.1. Geografia como Ciência

Introdução

Friedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental


importância para o processo de sistematização da Geografia moderna.
Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um estudo
geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas
humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu projecto teórico,
com forte carácter interdisciplinar, teve a preocupação central de
entender: a difusão e distribuição dos povos sobre a superfície da Terra;
as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais; a
influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as
formações territoriais e, intimamente vinculada a estas, a dimensão
política da relação homem-natureza.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Entender em que contexto histórico se desenvolve o pensamento ratzeliano.


Objectivos  Compreender a dimensão determinista da obra de Ratzel para a
Específicos sistematização da Geografia.

Geografia como Ciência


A geografia é um dos saberes mais antigos que existem. De forma
resumida, podemos dizer que ela é o estudo do espaço que os seres
humanos habitam. Assim sendo, seu início coincide com o advento dos
primeiros mapas, na Antiguidade, pois a elaboração de um mapa - para
mostrar o caminho para um lugar, para localizar cada objecto ou
fenômeno numa determinada região, etc. - já pressupõe um estudo
geográfico. O mapa é um excelente instrumento para a geografia e,
normalmente, os estudos ou trabalhos dessa disciplina são
acompanhados por mapas.

A palavra Geografia (geo, “Terra”; grafia, “descrição”, “escrita”) foi


criada pelo filósofo grego Eratóstenes no século III a.C. Esse filósofo foi
um estudioso da geografia, algo muito comum na época, quando
praticamente todos os sábios ou estudiosos eram filósofos (filo,
“amigo”; Sofia, “saber”, “sabedoria”) e,

100
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

com frequência, se ocupavam de quase todos os temas ou assuntos que


hoje dividimos entre várias disciplinas distintas. Foi somente nos
séculos XVII, XVIII e XIX, dependendo de cada caso, que as ciências
modernas (química, física, geologia, geografia, astronomia, sociologia,
economia, etc.) se definiram mais precisamente, isto é, tornaram-se
autônomas ou independentes da filosofia e adquiriram os seus
conceitos e métodos próprios e específicos.

Para que uma disciplina torne-se ciência é necessário que a mesma


tenha um objecto de estudo e um objectivo que a diferencie das
demais, que seja peculiar, própria, particular a ela.

Foi somente no século XIX que a geografia se tornou uma ciência


específica, tendo-se separado da filosofia, da astronomia, da geologia e
de outros saberes que, até então, eram mais ou menos integrados com
ela. Isso ocorreu como consequência da especialização dos saberes, isto
é, de uma maior delimitação de cada objecto ou campo de estudos.

Os Aspectos teórico e prático da geografia

A geografia sempre apresentou dois aspectos: um teórico e outro


prático ou estratégico. O aspecto teórico da disciplina refere-se aos
conhecimentos sobre o mundo como um todo, ou seja, a geografia
geral, e também aos estudos sobre um determinado lugar ou região, a
geografia regional. Por exemplo: as densidades demográficas no
mundo, o comércio internacional, os climas do nosso planeta, etc.
(geografia geral); ou o estudo da Europa ocidental, da Grécia ou da
Amazônia (geografia regional).

O aspecto estratégico da geografia diz respeito à sua utilidade prática


para o Estado (isto é, para o poder público), para os militares (para fazer
a guerra), para as empresas e indivíduos em geral (para conhecer o
mundo e os lugares a fim de neles poder atuar mais eficazmente).
Afinal, todos os povos, todas as sociedades humanas, habitam um
determinado espaço, que é o seu território. E não é possível que exista
um governo (isto é, a cúpula ou comando do Estado) que administre
uma sociedade, cobrando impostos e garantindo a lei e a ordem, sem
dispor de informações geográficas a respeito dessa sociedade e do seu
território: conhecimentos e mapas sobre os recursos naturais (solos,
minérios, recursos hídricos, etc.), sobre a população (número de
habitantes e suas características - sexo, idade, faixas de rendimentos -,
locais onde eles se concentram), etc.

Durante muito tempo a Geografia se caracterizou por ser uma disciplina


meramente descritiva e voltada para memorização, tendo como
objecto principal o fornecimento de conhecimento de carácter
informativo (catalogando nome de continentes, países, Estados,
montanhas, rios, etc.).

101
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Nos dias atuais a Geografia mudou sua imagem e passou a caracterizar-


se por interpretativa, ou seja, procura estudar como os homens
organizam o espaço que habita e nele age, reage, interage e transforma.

A geografia estuda tudo aquilo necessário à manutenção da vida


humana neste espaço organizado. Etimologicamente a Geografia teria
a função de explicar todos os fenômenos apresentados no globo,
porém, o seu objecto de estudo e objectivo define a Geografia como o
estudo da manutenção do homem no meio. A Geografia é uma ciência
porque tem um objecto de estudo (a Terra, apesar de ser esta objecto
de estudo de outras ciências). Porém, seu objectivo (estudar a
organização do espaço humano) é específico, próprio, singular.

Surge a Geografia moderna com Humboldt e Ritter

Dois estudiosos germânicos do século XIX são considerados os criadores


da geografia moderna ou científica: Alexandre Von Humboldt (1769-
1859) e Karl Ritter (1779-1859). Eles produziram importantes trabalhos
de pesquisa no estudo da geografia física (climas e suas relações com a
vegetação, às águas e o relevo, interação entre os elementos naturais
de uma paisagem), como foi o caso principalmente de Humboldt, ou
então da geografia humana (os povos e seus territórios, os Estados e
suas relações políticas, econômicas, etc.), como foi o caso de Ritter.

Figura 17- Alexander von Humboldt (1769- 1859)

Alexander von Humboldt foi um viajante incansável, que conheceu


todos os continentes. Em suas viagens, fazia anotações, ilustrações,
mapas, e recolhia dados para estabelecer as relações entre os
fenômenos da geografia física. Ao contrário de inúmeros estudos

102
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

anteriores, que apenas recolhiam factos isolados, ele procurou integrá-


los, formando um conjunto ou um sistema de fenômenos interligados e
que se influenciam mutuamente. Procurou também deixar de lado os
conhecimentos ou crenças especulativos e se ater somente àquilo que
pode ser comprovado cientificamente, por meio da observação e do
raciocínio.

Um dos grandes méritos de Humboldt foi ter percebido que a natureza


não é algo estático ou "eterno", como se pensava até então. Ele
assinalou a dinamicidade da natureza, as suas alterações com o
decorrer do tempo. Observou que ocorreram modificações climáticas e
geológicas na superfície terrestre e que todos os aspetos da natureza -
inclusive os seres vivos - não existiram sempre da mesma forma.

Karl Ritter não foi um viajante pertinaz (persistente), tal como


Humboldt. Trabalhou muito mais com pesquisas bibliográficas do que
com pesquisas de campo, procurando sempre verificar o que era
fantasia e separá-la dos factos ou conhecimentos comprováveis ou
aceitáveis.

Ritter também insistiu nas inter-relações entre fenômenos (não apenas


entre os naturais, mas também entre os humanos e, principalmente,
entre a humanidade e a natureza) que ocorrem no espaço geográfico.
Contrariando a maioria dos estudiosos do período, que pensavam que
o homem fosse um produto do meio natural, ele assinalou o domínio
progressivo (embora problemático) que a humanidade exerce sobre a
natureza graças à tecnologia. Ritter também percebeu que o mundo
estava ficando pequeno, isto cada vez mais integrado, com uma
multiplicação (intercâmbios entre todas as regiões do globo.

Figura 18- KARL RITTER 1779-1859

Podemos ainda relacionar o advento da geografia moderna com o seu


momento histórico, o século XIX. Nessa época, a humanidade já tinha
unificado todo espaço planetário, processo que se iniciou no século XV,
com a expansão marítimo-comercial europeia, e se prolongou nos

103
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

séculos posteriores, com a conquista da Oceânia e um melhor


conhecimento da África, a o século XIX, com o estudo das regiões
polares, as últimas a serem exploradas pelos povos europeus.

Não foi por acaso que os trabalhos desses de geógrafos, Humboldt e


Ritter, surgiram nesse período em que o conhecimento geográfico
acumulado sob o mundo já permitia separar a realidade da fantasia dos
mitos. A construção da geografia moderna, portanto, só pôde ocorrer
num momento em que praticamente toda a superfície terrestre havia
sido conhecida, estudada e mapeada.

As concepções, correntes ou escolas geográficas

Na tentativa de formular as leis que regem as relações entre o homem


e a natureza, surgiram duas importantes correntes geográficas no
século XIX que foram:

A Escola Determinista ou Ambientalista


Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel
que fala das influências que as condições naturais exerceriam sobre o
ser humano, sustentando a tese de que o meio natural determinaria o
homem.
O determinismo geográfico sustentava que as condições ambientais,
em especial o clima, são capazes de influenciar o desenvolvimento
intelectual e cultural das pessoas. Esta teoria afirmava que nas áreas
temperadas a humanidade teria um desenvolvimento mais elevado do
que nas áreas tropicais, quente e húmidas;
As afirmações de Ratzel estavam fortemente ligadas ao momento
histórico que vivia, durante a unificação da alemã. O expansionismo do
Império Alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia Otto
von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais
correntes de pensamento ratzeliano, o determinismo geográfico e
o espaço vital (espaço necessário à sobrevivência de uma dada
comunidade). A primeira explicaria a superioridade de algumas raças -
nesse caso, a alemã -, que naturalmente se desenvolveriam mais do que
outras, e a segunda justificaria a conquista de novos territórios para
suprir a maior demanda de recursos para seu desenvolvimento, ou seja,
ou expansionismo.
Os discípulos do determinismo foram além das proposições ratzelianas,
chegando a afirmar que o homem seria um produto do meio.
Defendiam que um meio natural mais hostil proporcionaria um maior
nível de desenvolvimento ao exigir um alto grau de organização social
para suportar todas as contrariedades impostas pelo meio. Ex: O
inverno justificaria o desenvolvimento das sociedades europeias, que
não tiveram grandes dificuldades em subjugar os povos tropicais, mais
indolentes e atrasados. Essa ideia justificou o expansionismo

104
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

neocolonial na África e na Ásia entre o fim do século XIX e o início do


século XX. Pensamentos que, mais tarde, foram aproveitadas pelos
cientistas e políticos da Alemanha Nazista.

A Escola Possibilista

Fundada na França pelo francês Vidal De La Blache (1845-1918), esta


contesta a teoria anterior defendendo a ideia de que a natureza exerce
influências sobre o homem, mas este pode escolher e modificar o meio
físico, conforme sua capacidade de desenvolvimento técnico, visto que
as novas técnicas possibilitaram que a humanidade tivesse a capacidade
de dominar o meio de acordo com suas necessidades.

Enquadrado no pensamento político dominante, num momento em


que a França tornou-se uma grande soberania, ele realizou estudos
regionais procurando provar que a natureza exercia influências sobre o
homem, mas que homem tinha possibilidades de modificar e de
melhorar o meio, dando origem ao possibilismo. A natureza passou a
ser considerada fornecedora de possibilidades e o homem o principal
agente geográfico.

Geografia Regional ou Método Regional

Representou a reafirmação de que os aspectos próprios da Geografia


eram o espaço e os lugares. O método era comparar regiões, segundo
critérios de similaridade e diferenciação.

Os geógrafos regionais dedicaram-se à coleta de informações


descritivas sobre lugares, dividir a Terra em regiões.

As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de La Blache e


Richard Hartshorne. Hartshorne não utilizava o termo região: para ele
os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os elementos
mais homogêneos determinariam cada classe, e assim as
descontinuidades destes trariam as divisões das áreas. Este
pensamento geográfico ficou conhecido como método regional.

Geografia Pragmática (Nova Geografia, Geografia Teorética ou


Quantitativa)

Corrente de pensamento da década de 1950 que surgiu da necessidade


de exatidão, através de conceitos mais teóricos e apoiados em uma
explicação matemático-estatística.

As principais características dessa corrente geográfica são:

105
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

-Todo o conhecimento apoia-se na experiência (empirismo);

- Deve existir uma linguagem comum entre todas as ciências;

- Recusa de um dualismo científico entre as ciências naturais e as


ciências sociais.

-Maior rigor na aplicação da metodologia científica;

- O uso de técnicas estatísticas e matemáticas;

- A investigação científica e os seus resultados devem ser expressos de


uma forma clara, o que exige o uso da linguagem matemática e da
lógica.

Foi usada como um forte instrumento de poder estatal, pois manipulava


dados através de resultados estatísticos.

Predominou na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, principalmente na


década de 1960 a meados de 1970. A partir da década de 1960, a
Geografia Pragmática começou a sofrer duras críticas. Uma das
principais críticas é o facto de não considerar as peculiaridades dos
fenômenos, pois o método matemático explica o que acontece em
determinados momentos, mas não explica os intervalos entre eles,
além de apresentar dados considerando o “todo” de forma homogênea,
desconsiderando, portanto, as particularidades.

Geografia Crítica ou Geografia Marxista

A referência a uma geografia crítica é feita com muita ênfase na obra "A
Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra", do
francês Yves Lacoste.

Essa corrente de pensamento geográfico surgiu na França, em 1970, e


depois na Alemanha, Brasil, Itália, Espanha, Suíça, México e outros
países.

Ganhou mais força na Alemanha, Espanha, França e Brasil, com um


grande movimento de renovação da geografia na década de 80.

No Brasil, o grande nome da Geografia Crítica foi Milton Santos, que


publicou os primeiros trabalhos da nova escola nesse país.

A Geografia crítica estabelece o rompimento da neutralidade no estudo


da geografia e propõe engajamento e criticidade junto a toda a
conjuntura social, econômica e política do mundo. Estabelece também

106
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

uma leitura crítica frente aos problemas e interesses que envolvem as


relações de poder e pró-atividade frente as causas sociais, defendendo
a diminuição das disparidades sócio-econômicas e diferenças regionais.
Defendia ainda a mudança do ensino da geografia nas escolas, ao
estabelecer uma educação que estimulasse a inteligência e o espírito
crítico.

O pensamento crítico na geografia significou, principalmente, uma


aproximação com os movimentos sociais, principalmente na busca da
ampliação dos direitos civis e sociais, como o acesso a educação de boa
qualidade, a moradia, pelo acesso à terra, o combate à pobreza, entre
outras temáticas.

Geografia Humanística ou Cultural

Tem como base os trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer,
Edward Relph e Mercer e Powell.

A Geografia Humanística ou Cultural procura valorizar a experiência do


indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e as
maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares, ou seja, a
cultura dos grupos sociais.

Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe uma visão do
mundo, que se expressa através das suas atitudes e valores para com o
ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu
espaço e o seu mundo, e nele se relaciona.

Os geógrafos culturais argumentam que sua abordagem merece o


rótulo de "humanística", pois estudam os aspectos do homem que são
mais distintamente humanos: significações, valores, metas e propósitos
(Entrikin, 1976).

O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra ambientado no qual


está integrado, tem significância afetiva para uma pessoa ou grupo de
pessoas.

O espaço envolve um complexo de ideias. A perceção visual, o tato, o


movimento e o pensamento se combinam para dar o sentido
característico de espaço, possibilitando a capacidade para reconhecer e
estruturar a disposição dos objectos.

A integração espacial faz-se mais pela dimensão afetiva que pela


métrica. Estar junto, estar próximo, significa o relacionamento afetivo
com outra pessoa ou com outro lugar. Lugares e pessoas fisicamente
distantes podem estar afetivamente muito próximos.

107
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O estudo do espaço é a análise dos sentimentos e ideias espaciais das


pessoas e grupos de pessoas. Valoriza-se o contexto ambiental e os
aspectos que redundam no encanto e na magia dos lugares, na sua
personalidade e distinção.

Geografia Ambiental

Ramo da geografia que descreve os aspectos espaciais da interação


entre humanos e o mundo natural. Requer o entendimento dos
aspectos tradicionais da geografia física e humana, assim como os
modos que as sociedades conceitualizam o ambiente.

Emergiu como um ponto de ligação entre a geografia física e humana


como resultado do aumento da especialização destes dois campos de
estudo.

Como a relação do homem com o ambiente tem mudado em


consequência da globalização e mudança tecnológica, uma nova
aproximação é necessária para entender esta relação dinâmica e
mutável.

Exemplos de áreas de pesquisa em geografia ambiental incluem


administração de emergência, gestão ambiental, sustentabilidade e
ecologia política.

Os princípios metodológicos

Princípios normas que regem o estudo permitindo realizar uma


investigação eficiente dos fenómenos geográficos. Em geografia estes
foram de grande importância para a construção de competências e
habilidades do conhecimento geográfico, pois deram a forma e o
sentido à ciência geográfica. Tais princípios são:

O Princípio da Extensão

Criado pelo alemão Friedrich Ratzel. Neste, o geógrafo deve localizar o


facto geográfico e determinar sua área de ocorrência e a Cartografia é
indispensável;

O Princípio da Analogia

Seus defensores foram o alemão Karl Ritter e o francês Paul Vidal De La


Blache. Neste, o estudo de um fenômeno geográfico supõe a
preocupação constante em estabelecer semelhanças e as diferenças
dos fenômenos ocorridos em outras partes do globo;

O Princípio da Causalidade
Criado por Alexander Von Humboldt, entende que toda causa tem seu
efeito; todo efeito tem sua causa; todas as coisas acontecem de acordo

108
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

com a Lei; o acaso é simplesmente um nome dado a uma lei não


reconhecida; existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à
Lei. Tudo o que você faz, pensa, sente toda ação e reação desencadeada
por esses pensamentos, atitudes e sentimentos, provocam uma
resposta consequente e subsequente.
 Este estabelece que se deve sempre buscar as causas e determinar
as consequências do facto geográfico, pois nada acontece por acaso;

Há uma estreita relação em todas as coisas. O simples facto de eu


estar escrevendo esta matéria trará algumas consequências em
minha vida, e provavelmente trará algumas consequências na sua.
Essas consequências podem ser pequenas, grandes ou enormes,
depende da reação de cada um a esta matéria. Ela poderá não atingi-
lo em absolutamente nada, mas pode gerar um sentimento de
necessidade por algum motivo, seja este consciente ou inconsciente.

O Princípio da Conexão ou Coexistência ou ainda Interação

Formulado pelo francês Jean Brunhes. Este estabelece que os factos


geográficos físicos ou humanos nunca aparecem isolados e estão
sempre interligados por elos de relacionamento, o objectivo é
identificar e analisar as relações existentes;

O Princípio da Actividade

Formulado também por Brunhes, estabelece o carácter dinâmico do


facto geográfico que deve ser estudado em seu passado para poder ser
compreendido no presente para se ter uma imagem de seu futuro.

Categorias Geográficas

Originalmente, as categorias são formas, modos de ser (...) É algo que


se sobrepõe ao conceito, dando – lhe conteúdo, e esse conteúdo deve
ser concreto. O conceito define a ideia ou conjunto de ideias a respeito
do objecto pelo pensamento, por suas características gerais. Assim, o
conjunto de categoria de uma ciência está relacionado ao objecto de
conhecimento dessa ciência. Por exemplo, a física trabalha com as
categorias massa, corpo, luz energia, átomo, etc.; As categoria
fundamentais do conhecimento geográfico são, entre, outras espaço,
lugar, área, região, território, paisagem e população que definem o
objecto da Geografia em seu relacionamento.

Paisagem

A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais;


é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor,
utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é sempre
heterogênea. A vida em sociedade
109
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

supõe uma multiplicidade de funções, e quanto maior o número destas,


maior a diversidade de formas e de factores. Quanto mais complexa a
vida social, tanto mais nos distanciamos de um modo natural e nos
endereçamos a um mundo artificial.

A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto


grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela que
ainda não foi mudada pelo esforço humano. Se no passado havia a
paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente não
existe mais.

Se um lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele,


todavia, é objecto de preocupação e de intenções econômicas ou
políticas, tudo hoje se situa no campo de interesses da História, sendo
desse modo, social.

Para Milton Santos, paisagem é tudo aquilo que nós vemos, o que nossa
visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do
visível, aquilo que a vista abarca. Não é formado apenas por volume,
mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.

Território

O território é a base geográfica de uma nação. De tamanho variável,


essa porção da superfície terrestre deve incorporar os solos e subsolos,
os rios e lagos, as águas marítimas contíguas e o espaço aéreo. Daí a
inegável importância estratégica do território, razão das lutas
empreendidas por todas as espécies do mundo animal e todas as
sociedades humanas.

Lugar

Lugar é a porção ou parte do espaço onde vivemos. Ele é palco de nossa


existência real, é nele que ocorre o nosso cotidiano, as nossas
experiências de vida. Todos nós criamos uma identidade com o lugar no
qual vivemos; Isto quer dizer que ele significa algo para nós, que a nossa
memória guarda sobre eles determinadas perceções e vivências com as
quais nos identificamos. Portanto, estabelecemos com o lugar uma
relação de afetividade. Quando mudamos, por exemplo, de uma cidade
para outra ou mesmo de um bairro ou rua para outra, dentro de uma
mesma cidade, temos de nos adaptar às novas condições não só
materiais, mas também de significados, de vínculos.

Região

A região é uma determinada posição do espaço terrestre (de dimensão


variável), passível de ser individualizada, em função de um carácter
próprio ou homogêneo arbitrado para fins de territorização. Com
relação à globalização dos anos 1990, a
110
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

conceito regional perde importância em virtude da mundialização da


economia, dos hábitos culturais e dos problemas ambientais. A ordem
mundial provocou a queda de fronteiras produzindo uma única região,
o mundo.

Espaço geográfico

Segundo Melhem Adas, o espaço geográfico somente surge após o


território ser trabalhado, modificado ou transformado pelo homem, ou
quando, ele imprime na paisagem as marcas de sua atuação e
organização social. Possuí, além de uma dinâmica natural, uma
dinâmica social exercida pelas formações sociais que nele atuam (...)

A medida que se apropria da natureza (espaço natural) e a transforma,


o homem (a sociedade) cria ou produz o espaço geográfico, e o faz
através do trabalho. Utiliza, para tanto as técnicas de que dispõe
segundo o momento histórico e segundo suas representações, ou seja,
crenças, valores, normas e interesses econômicos, factores que
orientam suas intervenções e relações com os elementos naturais ou
físicos do espaço.

Assim, no processo de produção do espaço geográfico, o homem se


apropria do espaço natural, que pode ser chamado de primeira
natureza, e o transforma em uma segunda natureza, segundo suas
necessidades e interesses. A segunda natureza, portanto, nada mais é
do que a natureza humanizada.

A importância do estudo da Geografia

 Em um mundo marcado por desigualdades socioeconômicas, étnicas


e religiosas além de inúmeros problemas ambientais, a Geografia
assume cada vez um papel de maior importância.
 A Geografia estimula a exploração racional dos recursos além de
levar ao conhecimento das pluralidades culturais, evitando
preconceitos e predisposições contra os diversos grupos sociais.
 Em uma época em que as informações são transmitidas pelos meios
de comunicação em grande volume e com grande rapidez, é
impossível compreender o mundo sem conhecimentos geográficos.
 É preciso compreender a organização e transformações do espaço
geográfico para entender o mundo em que vivemos.

Perspetivas e desafios da Geografia para o século XXI

Em pesquisa e desenvolvimento científico é sempre arriscado trabalhar


com as previsões dos avanços. Não se pode falar do futuro sem se cair
no mundo da imaginação e da crença.
111
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

As tendências podem apenas abrir frestas em janelas, mas não mostrar


tudo que se aproxima. Os factos que não escaparão de nenhum
pesquisador é o uso da tecnologia que avança no campo do
mapeamento genético e sua manipulação, da química inteligente, da
nanotecnologia, das redes virtuais em todos os sentidos e dinâmicas, da
computação quântica e, talvez, a imbricação de todos esses conjuntos
de agrupados tecnológicos embutidos em artefactos, produtos e até
novas formas de vida artificializada.

A Geografia é uma ciência do espaço e toda essa dimensão tecnológica


que ora parece ameaçadora, ora libertadora, será a força motriz da
transformação, uso e abandono de espaços, de países e de parcelas da
sociedade. Nisso nada há de diferente, mas da mesma forma que se
pode avaliar a transformação do espaço como uma fatalidade de
expropriação contínua e acelerada do empobrecimento da maior parte
da população mundial, é impossível afirmar que a sociedade se manterá
como espectadora de acontecimentos tão radicais.

Não sabemos que desafios deverão surgir, mas a fome e alimentação


inadequada, falta de acesso aos recursos naturais de qualidade,
desemprego estrutural e conjuntural, perda de direitos e conquistas
sociais, conflitos étnicos religiosos e destruição por crises econômicas,
por exemplo, estarão em pauta em todas as frentes que a Geografia vai
atuar nas próximas décadas.

Entretanto, não há qualquer certeza sobre o agravamento, mudança ou


desaparecimento de problemas que hoje são tão vigorosos.

A geopolítica, os modelos econômicos, a evolução dos eixos de mercado


e poder estão sendo transformados e países líderes nos últimos três
séculos estão dividindo sua preponderância de forma muito acelerada.
A matriz energética que sustentou o século XX está sendo questionada,
substituída ou consorciada por outras matrizes. Ações globais estão
sendo tomadas para conter processos de destruição ambiental e seus
impactos sociais e polemicamente tratados no campo da climatologia,
recursos hídricos e dos bens comuns naturais.

Delongar nas variáveis não irá servir a muita coisa. O correto parece, é
assumir uma posição responsável sobre a óbvia esgotabilidade da
natureza e da sociedade diante da força da vida humana e da natureza
em moldes que não comprometam os limites das virtualidades
espaciais.

Habilitar a sociedade em bases políticas, técnicas, científicas e


informacionais, resguardada pelos valores democráticos, é o desafio
central das várias ciências e não será diferente para Geografia.

112
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Sumário

A aula faz um resumo da história do pensamento geográfico dando


enfase aos aspectos que dão cientificidade a geografia, nomeadamente
as escolas ou doutrinas geográficas, os princípios bem como a
metodologia.

Autoavaliação

1. São várias as Correntes de Pensamentos Geográficos ou Paradigmas da


Geografia a última corrente a ser incorporada que passou a existir
conflitualmente com as anteriores foi:

A. Geografia teórica
B. Determinismo Ambientalismo
C. Método Regional
D. Geografia cultural.

2. A GEOGRAFIA é uma das ciências humanas que tem por objecto o estudo
do espaço, é concebida também como o estudo da superfície terrestre
e a distribuição espacial de fenômenos geográficos, frutos da relação
recíproca entre homem e meio ambiente que podemos chamar de
ecologia, mas também pode ser uma prática humana de conhecer o
espaço onde se vive para compreender e planejar onde se vive. A
palavra Geografia (geo, “Terra”; grafia, “descrição”, “escrita”) foi criada
pelo filósofo grego:

A. Eratóstenes no século III a.C.


B. Tales de Mileto século IV a.C
C. Anaximandro seculo V. d.C
D. Todas opções estão correctas.

3. Assinale a opção CORRETA em relação ao conceito de Paisagem.


A. Paisagem representa o que ouvimos de um determinado lugar.
B. Paisagem é uma fotografia de um lugar só com características
naturais.
C. Paisagem é o que vemos e observamos de um lugar.
D. Paisagem geográfica é apenas um quadro bonito de um lugar.

4. A paisagem em que predominam os aspectos originais da natureza como


a vegetação, o relevo e a hidrografia é chamada de paisagem natural.
Assinale a alternativa abaixo que contenha apenas paisagens naturais.

A. Rodovia, edifícios e represa.


B. Geleira, floresta e conjunto de montanhas.
C. Hidrelétrica, cidade e lago.
D. Ruas avenidas, florestas.
113
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

5. A Geopolítica é o ramo da Geografia Econômica que busca explicar a


expansão peIa superfície terrestre, da influência dos grandes grupos
econômicos e dos países a eles ligados, em função dos recursos naturais
existentes.

Guião de Correcção
1-D; 2-A; 3-C; 4- B;5-F

Avaliação

1. A Geografia, como ciência, possui um método próprio de análise, o


chamado método geográfico, que se baseia em cinco princípios.

2. Toda paisagem que reflete uma porção do espaço ostenta marcas de


um passado mais ou menos remoto, apagado ou modificado de maneira
desigual, mas sempre presente”. (Olivier Dolfus, 1991). De acordo com
o texto, é correcto afirmar que:

A. A paisagem é um conjunto de formas heterogêneas de idades


diferentes.
B. A paisagem é estática, ao passo que o espaço é dinâmico.
C. As paisagens refletem, sempre, as marcas das desigualdades sociais,
por serem produzidas sob o modo de produção capitalista.
D. A paisagem é uma representação do espaço, mas não é espaço,
portanto, exibe as formas, mas esconde a essência de sua produção.

3. A paisagem é um dos conceitos básicos da ciência geográfica e suas


modificações ocorreram ao longo da História. Sobre as paisagens, é
INCORRETO afirmar que:

A. Após a Revolução Industrial, os crescimentos econômico e


demográfico reordenaram e deram à paisagem geográfica novos
significados sócio - culturais em vários países europeus.
B. Durante a introdução da cultura no interior de Moçambique no
período colonial, a paisagem ficou inalterada.
C. No final da Idade Média, as Ligas Hanseáticas, o comércio e a
formação dos burgos contribuíram para a elaboração de novas
paisagens culturais na Europa.
D. Na Idade Moderna, a prática político-social dos cercamentos dos
campos ou “enclosures”, contribuiu para a modificação das paisagens
rural e urbana.

4. Assinale a opção INCORRETA em relação às características da


Paisagem:

A. As paisagens representam apenas elementos naturais de um


determinado lugar.

114
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

B. A Paisagem é tudo o que os nossos olhos vêem de um determinado


local.
C. As paisagens mudam.
D. As paisagens podem ser bonitas ou feias.

5. O espaço geográfico é composto por “formas visíveis” e “formas


invisíveis”. Assinale a alternativa abaixo que contenha apenas
“formas invisíveis” do espaço geográfico.

A. Rodovias e legislação
B. Hidrelétricas e praias
C. Fluxo de comunicação e fluxo de informação
D. Fábricas e fluxo de informação

Guião de Correcção
1-V; 2-D; 3-B; 4-A; 5-C

Referências Bibliográficas

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995. CORRÊA,


Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1991.

MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade de uma


geografia. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 54, n. 3, p.
105-113, jul./set. 1992.
ALMEIDA, Lucia Marina Alves de & RIGOLIN, Tércio. Fronteiras da
Globalização – O mundo natural e o espaço humanizado. São Paulo:
Ática. 2011. p. 08 – 16. Vol. 1.
PENA, Rodolfo Alves. Friedrich Ratzel. Disponível em <
http://www.brasilescola.com/geografia/friedrich-ratzel.htm >.

115
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

EXÉRCÍCIOS FINAIS PARA PREPARAÇÃO DE EXAMES DO MÓDULO


1. Vidal de La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a
escola francesa de Geografia. E, mais, trouxe para a França o eixo da
discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o
primeiro quartel do século XX.

2. O que significa “determinismo geográfico”?

A. Trata-se de um princípio geográfico que leva em consideração apenas


a ação do homem sobre o meio natural.
B. Trata-se de uma escola geográfica que defende a ideia de que o
crescimento da população deve ser controlado pelo Estado.
C. Trata-se de uma corrente da Geografia que considera as condições
naturais como determinantes do desenvolvimento ou não do espaço
geográfico.
D. Trata-se de um princípio da chamada Geografia Marxista que vê na
natureza a causa principal do desenvolvimento econômico do espaço
geográfico.

3. O determinismo geográfico deve ser entendido como a corrente da


Geografia que defende a possibilidade de a ação humana vencer as
determinações do meio natural.
4. A Analogia foi o princípio enunciado por Vidal de la Blache.
5. Determinismo, Trata-se de uma tendência da Geografia que considera
que a sociedade pode vencer as adversidades naturais.
6. O Determinismo geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo,
principalmente em sua fase evolucionista. Essa fase tem como base
fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na qual o
homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais.
7. O Determinismo não considerava o homem com um produto do meio,
logo não deveria adaptar-se ao meio ambiente para que pudesse
sobreviver.
8. Frederico Ratzel admitiu o determinismo geográfico no
relacionamento do meio com o homem, como se o meio fosse a causa
e o homem a consequência. Para Ratzel, o homem é um produto do
meio em que vive, subordinado, condicionado e fatalizado pelos
imperativos fatores do meio natural.
9. Paul Vidal de La Blache, defensor do princípio de extensão e
do determinismo geográfico, é considerado o Pai da Antropogeografia.
10. A ideologia segundo a qual os povos mais inteligente e os mais cultos
são os das zonas temperadas, enquanto os da zona trópica, em função
do clima quente, são os mais indolentes, resultando disso o
desenvolvimento e o subdesenvolvimento, essa postura é defendida
pelo (a):

116
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A. Geografia crítica
B. Darwinismo geográfico
C. Determinismo geográfico
D. Possibilismo geográfico
11. Vidal de la Blache é, sem dúvida, a maior expressão da Geografia
francesa, principalmente, em se tratando de Geografia regional.
12. Vidal se interessa muito pelas realidades geográficas extensas: nações
ou grandes zonas geográficas, como o Nilo.
13. A démarche regional vidaliana não pode ser concebida de maneira
estática, uma vez que é dinâmica.
14. Jean Brunhes formulou o princípio da Atividade, no qual assinala que a
paisagem não é estática mas está em constante transformação e é,
portanto, dinâmica.
15. A nova geografia (geografia quantitativista), no pó 45, escamoteia a
realidade vivência pelos países subdesenvolvidos, ao afirmar que a
situação de pobreza de miséria existente é um estágio superável da
adoção de política de planeamento eficaz.
16. A geografia crítica segue os mesmos postulados da geografia
tradicional e d e nova geografia. Essa corrente de pensamento
geográfico surgiu na França em:
A. 1970
B.1980
C. 1960
D. 1990

17. A Geografia é uma ciência do espaço e toda essa dimensão


tecnológica que ora parece ameaçadora, ora libertadora, será a força
motriz da transformação, uso e abandono de espaços, de países e de
parcelas da sociedade.

18. A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem,


enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é
aquela que ainda não foi mudada pelo esforço humano.
19. A paisagem é um conjunto homogéneo de formas naturais e
artificiais; é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho,
volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério.

20. Os factos geográficos devem ser estudado em seu passado para


poder ser compreendido no presente para se ter uma imagem de seu
futuro. Este princípio chama-se de:
A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade

117
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

21. Os factos geográficos físicos ou humanos nunca aparecem isolados


e estão sempre interligados por elos de relacionamento, o objectivo é
identificar e analisar as relações existentes, refere-se ao:
A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade
22. Toda causa tem seu efeito; todo efeito tem sua causa; todas as
coisas acontecem de acordo com a Lei ou seja tudo o que você faz,
pensa, sente toda ação e reação desencadeada por esses pensamentos,
atitudes e sentimentos, provocam uma resposta consequente e
subsequente, esta relacionado à:

A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade
23. O estudo de um fenômeno geográfico supõe a preocupação
constante em estabelecer semelhanças e as diferenças dos fenômenos
ocorridos em outras partes do globo. Esta associado ao:
A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade
24. Toda causa tem seu efeito; todo efeito tem sua causa; todas as
coisas acontecem de acordo com a Lei ou seja tudo o que você faz,
pensa, sente toda ação e reação desencadeada por esses pensamentos,
atitudes e sentimentos, provocam uma resposta consequente e
subsequente, foi criado por:
A. Eratóstenes no século
B. Alexander Von Humboldt,
C. Tales de Mileto século
D. Anaximandro século
25. O estudo de um fenômeno geográfico supõe a preocupação constante
em estabelecer semelhanças e as diferenças dos fenômenos ocorridos
em outras partes do globo. Este principio foram defendido por:
A. Karl Ritter e La Blache
B. Ritter e Von Humboldt,
C. Friedrich Ratzel e La Blache
D. Todos

26. Os factos geográficos físicos ou humanos nunca aparecem isolados e


estão sempre interligados por elos de relacionamento, o objectivo é

118
ISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

identificar e analisar as relações existentes. Formulado pelo:


A. Karl Ritter e La Blache
B. Ritter e Von Humboldt,
C. Friedrich Ratzel e La Blache
D. Jean Brunhes

27. Os factos geográficos devem ser estudado em seu passado para


poder ser compreendido no presente para se ter uma imagem de seu
futuro. Este princípio foi criado por:
A. Karl Ritter e La Blache
B. Ritter e Von Humboldt,
C. Friedrich Ratzel e La Blache
D. Jean Brunhes

Guião de Correcção
1-V; 2- C; 3-F; 4-V; 5-F; 6-V; 7-F; 8-V; 9-F; 10-C; 11-V; 12-F; 13-V; 14-V;
15-V; 16-A; 17-V; 18-V;19-F; 20-D; 21-C; 22-B; 23-A; 24-B; 25-A; 26-D;
27-D.

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