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QUESTÃO INDIVIDUAL

4. A análise da lírica camoniana permite identificar tensões fundamentais, que se


complementam e estão patentes em muitas das suas criações, de um modo mais ou
menos velado. No caso do tópico da mudança, o poeta serve-se de paradoxos,
ambiguidades e imagens para criar uma visão subjetiva do mundo através da palavra.

A abordagem da temática da mudança reveste-se de um cariz filosófico, impondo uma


reflexão sobre os efeitos físicos do tempo e a alterações psicológicas dentro do mesmo
(“do mal ficam as mágoas (...)/e do bem (se algum houve), as saudades” 1).

O poeta acaba por identificar dois tempos (“O tempo, que é desigual,”2): o da
Natureza, cíclico, contínuo, num perpétuo movimento que assegura a renovação e o
renascimento (“Campos (...)/(...) reverdescendo”2), e o do Homem, linear, corrosivo,
fugaz e irreversível (“mas o meu para mor mal.”2). A mudança, na Natureza, assume
um caráter positivo, sendo sinónimo de felicidade (“(...)verduras deleitosas/ (...) águas
que correndo alegres vêm”3), enquanto que no Homem a metamorfose acarreta dor
(“Eu cantei já, e agora vou chorando” 4), a consciencialização da inevitável finitude da
esperança (“(...) que culpa ponho às esperanças,/onde a Fortuna injusta é mais que os
erros?” 3) e da própria existência.

Paradoxalmente, a única coisa que acaba por se assumir como permanente é a própria
mudança (“Continuamente vemos novidades,”1), que anda de mãos dadas com o fluir
do tempo. Esta perceção acutilante de que o mundo é composto de mudança traduz-
se num apego à própria dor e angústia, que é transversal à sua obra (“Tem o tempo
sua ordem já sabida;/o mundo não (...)”5).

Mariana Palma, N.º 6617, 10.º1A

1
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”
2
“Campos bem-aventurados”
3
“Alegres campos, verdes arvoredos”
4
“Eu cantei já, e agora vou chorando”
5
“Correm turvas as águas deste rio”

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