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RESUMO
ABSTRACT
The main drivers of alteration in forest ecosystems of the Brazilian and Peruvian Amazon are
destructive extraction of forest products, extensive cattle ranching, slash-and-burn agriculture,
1
Pesquisador associado, Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR), Belém-Pará, Brasil.
2
Consultor independente. Macapá-Amapá, Brasil.
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Pesquisador, Centro Agroflorestal Mundial (ICRAF), Pucallpa, Peru.
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Pesquisador, Embrapa Amazônia Oriental. Belém-Pará, Brasil.
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mechanized agriculture of grains (in the last decade, in Brazil), and the production of illegal
crops (over the last three decades, in Peru). While it is known that smallholders in diverse
Amazonian contexts in the two countries conduct numerous experiences contributing to the
recovery of degraded lands, insufficient work is devoted to document, analyze and
disseminate their results. The Center for International Forestry Research (CIFOR), in
collaboration with the Brazilian Enterprise for Agricultural Research (EMBRAPA) and the
Peruvian Institute for Agricultural Research (INIA), carried out a study to identify local
initiatives aiming to the rehabilitation of degraded areas (RDA) in the Amazon, and analyze
the main factors affecting their adoption. Through an inventory based on secondary sources
(research and educational institutions as well as public and private rural development
organizations), a total of 349 initiatives were identified in Brazil, and 40 in Peru, of which 30
and 10 initiatives were respectively selected for field visits and interviews. A number of key
informants from institutions responsible for implementation of the initiatives/projects in each
country were consulted on the process of technical intervention. Results of the study include:
(a) need to further understand biophysical requirements, agronomic or silvicultural
management, and the current and/or potential market prospects for the species and productive
systems to be promoted; (b) effective participation of rural families (or their representatives)
is essential from the onset of the initiative; (c) revalorization of traditional agricultural
systems and proper innovations through training and participatory, timely and qualified
technical assistance will strengthen capacities of smallholders involved in RDA initiatives; (d)
strengthening local organizations is critical to manage resources available for RDA projects;
(e) processing and marketing of products from recovered areas is needed to add value to
production; (f) producer networks will help families in meeting market demands and
strengthen their organization for trade.
Keywords: Agroforestry system, Forest species, Management of secondary forest, Rural
development, Reforestation, Technology adoption.
1. INTRODUÇÃO
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1.1 Conceitos
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Ambos os estudos já foram publicados (Almeida et al. 2006; Meza et al. 2006) e uma versão em formato PDF
pode ser acessada no site do CIFOR (www.cifor.cgiar.org)
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(FAO 2003). Segundo a OIMT (2002) uma área ou terra florestal degradada é aquela
severamente deteriorada pela extração excessiva de produtos madeireiros e/ou não
madeireiros, manejo inadequado, freqüentes incêndios, pastoreio ou outras
perturbações e usos que degeneraram o solo e a vegetação, a tal ponto que a
vegetação florestal após o abandono da área se vê inibida ou atrasada.
Nos dois países estudados há diversas definições e interpretações para o que é área
degradada e as atividades de reabilitação ou recuperação. No Brasil, uma definição
usada considera área degradada como aquela em que, após distúrbio, houve
eliminação dos seus meios de regeneração natural, não sendo, portanto, capaz de
se regenerar sem a interferência antrópica (Kageyama et al. 1994). O termo
degradação pode ser aplicado para duas macro situações: degradação da
capacidade produtiva (perda da produtividade econômica agrícola, pecuária ou
florestal) e degradação ambiental ou ecológica, que envolve danos ou perdas de
populações de espécies de animais silvestres e/ou vegetais, ou danos que ocorrem
quando a perturbação no ecossistema promove a perda de funções ecológicas
críticas (Brienza Júnior et al. 1995; Vieira et al. 1993). O termo área alterada, que
significa área antropizada por atividades agropecuárias e madeireiras, é muitas
vezes usado para evitar referir-se à degradação da terra6.
No Peru, terra ou área degradada é aquela que perdeu ou diminuiu sua capacidade
produtiva de gerar bens e serviços em forma sustentável (desde o ponto de vista
econômico e ecológico), devido à perturbação da sucessão natural em forma
contínua (INIA 2003). Na legislação, as áreas passíveis de recuperação florestal são
definidas como terras sem cobertura vegetal ou com escassa cobertura arbórea ou
de valor comercial baixo, que requerem atividades de reflorestamento para
incorporá-las à produção e prestação de serviços florestais7.
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Nessas áreas, encontram-se áreas alteradas produtivas, que constituem sistemas agrícolas ou florestais
produtivos, ou áreas alteradas sem utilização econômica, ou seja, áreas abandonadas após uso temporário
(Brienza Júnior et al. 1995; Vieira et al. 1993).
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Regulamento da Lei Florestal e da Fauna Silvestre, Decreto Supremo 014-2001-AG.
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Reabilitação florestal
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Termos como “recomposição”, “restauração”, “reabilitação", “revegetação”, “florestamento” e
“reflorestamento” vêm sendo usados para designar as atividades de “recuperação” de uma área degradada
(Rodriguez & Gandolfi 2000).
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se que mais de 25% da área total desmatada na região ― em torno de 17,5 milhões
de ha ― encontram-se abandonados ou subutilizados, ou muitas vezes em estado
de degradação9. No caso do Peru, tem-se perdido na região amazônica em torno de
9,6 milhões de ha (12,6% da cobertura florestal original), e dessa área ao redor de
5,5 milhões de ha estão degradados ou em estado de abandono (ENDF 2002;
INRENA 2002).
Durante as últimas duas décadas, esforços múltiplos têm sido feitos para recuperar
importantes extensões de terras florestais degradadas na região amazônica em
ambos países. No Brasil, tem sido documentadas centenas de experiências
florestais e agroflorestais em andamento na Amazônia, estabelecidas por
agricultores familiares e médios produtores, empresários, instituições
governamentais e não-governamentais (p.ex. Almeida et al. 2006;
MMA/IPAM/EMBRAPA 2000; MMA/IBAMA/PROMANEJO 2005; Sabogal et al.
2006). No Peru, há igualmente diversas iniciativas de recuperação de áreas
degradadas (RAD), porém ainda muito pouco documentadas ou difundidas (p.ex.
Meza et al. 2006; Nalvarte et al. 2004). Projetos de desenvolvimento têm proposto
várias alternativas de uso da terra (p.ex. aplicação de adubos e corretivos orgânicos,
sistemas agroflorestais--SAFs e sistemas florestais, incluindo o manejo de florestas
secundárias), porém limitadas às zonas de atuação específicas ou em escala piloto.
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Estimativa a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – www.ibge.gov.br.
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2. ABORDAGEM METODOLÓGICA
O estudo foi desenvolvido entre 2003 e início de 2005. No Brasil, o trabalho foi
realizado com base na parceria entre o CIFOR e a EMBRAPA Amazônia Oriental
(Belém, Estado do Pará). No Peru o CIFOR contou com as colaborações do INIA
(Instituto Nacional de Investigación Agraria) e do ICRAF (Centro Agroflorestal
Mundial). O objetivo principal da pesquisa foi conhecer as iniciativas (experiências,
projetos) de reabilitação de áreas degradadas (RAD) nas regiões amazônicas de
ambos os países, identificando os principais fatores que incidiram no seu
desenvolvimento e, a partir daí, retirar lições que possam ser utilizadas no
planejamento, execução e avaliação de futuras iniciativas para recuperar áreas
degradadas, orientando políticas públicas.
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Essa região compreende uma área que inicia no Nordeste do Estado do Pará, atravessa o Sudoeste do
Maranhão e o Norte do Mato Grosso, e segue até o Noroeste de Rondônia. A largura dessa faixa de terra varia de
200 km e 600 km, dependendo da intensidade das atividades antrópicas (INPE 2005).
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A outra zona, chamada de “selva baja”, cobre as terras abaixo de 400 msnm.
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A partir das informações primárias obtidas foram construídas duas bases de dados
para análise. O estudo em ambos os países não incluiu informações econômicas
sobre as experiências por causa do tempo limitado para visitas de campo e pela
quase inexistência dessas informações entre os agricultores. Durante o ano de 2004
foram realizadas cinco oficinas (no Brasil, em Belém e Brasília; e no Peru, em
Pucallpa, Tarapoto e Lima) com representantes de instituições públicas, ONGs,
instituições de pesquisa e ensino, políticos e financiadores. Durante as oficinas
apresentaram-se os resultados do estudo dos respectivos paises, trocaram-se
experiências entre representantes das várias instituições e organizações presentes,
e discutiram-se limitações e oportunidades no processo de adoção de RAD que
permitam a multiplicação de experiências promissoras na região amazônica.
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3. RESULTADOS
3.1 Brasil
No setor familiar rural as áreas usadas para instalação das iniciativas foram
florestas primária explorada (14%) e secundária (20%), além de pastagem (19%),
mata ciliar em recuperação (3%) e, principalmente, áreas de agricultura de corte e
queima (89%). Neste setor, os sistemas agroflorestais (SAFs) apareceram em mais
de 80% das iniciativas observadas. Em alguns casos, os SAFs eram associados a
outras formas de uso da terra como apicultura, piscicultura, manejo de pasto,
enriquecimento de capoeira, entre outros, constituindo um sistema integrado. As
espécies florestais, no momento, são utilizadas apenas para complemento de
sistemas produtivos ou para uso de subprodutos no futuro (óleo, leite, entre outros),
dando-se maior ênfase às espécies para produção de frutos ou subprodutos, como o
palmito retirado do açaí (Euterpe oleracea) e da pupunha (Bactris gasipaes).
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das famílias de agricultores que iniciaram trabalhos com essas tecnologias. Um fator
importante que leva a isso é a resistência por parte dos produtores familiares em
aceitar uma nova concepção de trabalho. A carência de conhecimentos de
tecnologias de RAD, principalmente sobre o manejo de espécies florestais e
frutíferas é um problema para os produtores rurais de forma geral. Conseguir
mercado consumidor para produtos provenientes de áreas plantadas é o principal
desafio a ser vencido.
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Figura 2. Fatores limitantes em cada uma das fases do processo de adoção das tecnologias implantadas
para a recuperação de áreas alteradas.
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o tempo necessário para que haja retorno econômico. Por isso, no período sem
produção dos cultivos consorciados, o agricultor deve manter uma horta, piscicultura,
criação de abelhas, lavoura branca ou pecuária leiteira. Esse conjunto de atividades,
além de “cobrir” o período de investimento no SAF, dando tempo para que os
cultivos mais tardios iniciem suas safras, aumenta a possibilidade de aceitação e
adoção das tecnologias promovidas.
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3.1.4 Recomendações
A partir dos debates realizados nos encontros promovidos pelo estudo podem ser
destacadas as seguintes recomendações para políticas públicas com o objetivo de
promover efetivamente iniciativas de RAD para a Amazônia brasileira:
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3.2 Peru
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O objetivo principal das iniciativas tem sido a recuperação das condições dos solos e
da vegetação. O principal resultado esperado pelos produtores ao participarem de
iniciativas de reabilitação tem sido o melhoramento da receita, enquanto que os
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3.2.4 Recomendações
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4. CONCLUSÕES
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como verdadeiros agentes multiplicadores de suas experiências . Várias
experiências investigadas no presente estudo só chegaram ao status atual porque
vários de seus lideres fizeram intercâmbios, fato que proporcionou um maior
conhecimento dos futuros problemas a serem enfrentados e as estratégias para
superá-los. Daí a importância de esforços em promover a troca de experiências e
aumentar a visibilidade de experiências bem sucedidas.
Na mesma linha, é necessária também uma mudança de atitude sobre o uso dos
recursos e atividades produtivas nos lotes dos agricultores, trabalhando-se
inicialmente na educação e conscientização das famílias rurais para que as áreas de
floresta sejam consideradas produtivas e estejam ao mesmo tempo em equilíbrio
com o meio ambiente. Os governos, por sua vez, por meio de suas várias fontes de
financiamento e crédito, devem incentivar a produção com qualidade ambiental. As
ONGs, associações, cooperativas e sindicatos também são peças fundamentais
para mudar o atual quadro. O objetivo é concentrar esforços para uma produção
sustentável que contribua para a melhoria de vida e bem-estar das populações
rurais.
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Um passo nessa direção já foi dado com a elaboração de um CD de divulgação das experiências do Brasil: CD
Rom Multimídia – Iniciativas Produtivas Agroflorestais e Silviculturais em Áreas Alteradas na Amazônia
Brasileira. Editores: Almeida, E., C. Sabogal & S. Brienza Júnior.
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5. REFERÊNCIAS
Almeida, E., C. Sabogal & S. Brienza Júnior. 2006. Recuperação de Áreas Alteradas
na Amazônia Brasileira: Experiências locais, lições aprendidas e implicações para
políticas públicas. CIFOR – EMBRAPA – MMA – MDA. Belém – Pará, Brasil. 202 p.
Barreto, P., C. Souza Jr., A. Anderson, R. Salomão & J. Wiles. 2005. Pressão
Humana no Bioma Amazônia. O Estado da Amazônia3: 1-6. Belém: Imazon.
Brienza Júnior, S., I.C.G. Vieira & J.G. Yared. 1995. Considerações sobre a
Recuperação de Áreas Alteradas por Atividades Agropecuária e Florestal na
Amazônia Brasileira. Documentos 83. Belém: Embrapa/Cpatu. 27 p.
INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial). 2005. São José dos Campos, São
Paulo. http://www.obt.inpe.br/prodes/index.html. Acesso em 16.02.2006
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Vieira, I.C., D.C. Nepstad, S. Brienza Jr. & C.A. Pereira. 1993. A importância das
áreas degradadas no contexto agrícola e ecológico da Amazônia. In: Ferreira, E.J.,
G.M. Santos, E.L. Leão & L.A. Oliveira. [Editors]. Bases científicas para estratégias
de preservação e desenvolvimento da Amazônia. V.2, Manaus: Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia. pp. 43-53.
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