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Tribunal Superior Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

20/10/2020

Número: 0603722-08.2018.6.09.0000
Classe: RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Ministro Presidente Luís Roberto Barroso
Última distribuição : 09/01/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Cargo - Deputado Estadual, Captação ou Gasto Ilícito de Recursos Financeiros de
Campanha Eleitoral, Representação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARCO TULIO PINTO DA SILVA (RECORRENTE) LUCAS GUSTAVO AMORIM (ADVOGADO)
MIGUEL ALFREDO DE OLIVEIRA JUNIOR (ADVOGADO)
Ministério Público Eleitoral (RECORRIDO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
45751 20/10/2020 10:37 Decisão Decisão
538
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL (11550) Nº 0603722-08.2018.6.09.0000 (PJe) - GOIÂNIA -


G O I Á S

RELATOR: MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO


RECORRENTE: MARCO TULIO PINTO DA SILVA
ADVOGADOS DO RECORRENTE: LUCAS GUSTAVO AMORIM - GO5183600A, MIGUEL
ALFREDO DE OLIVEIRA JUNIOR - DF12163
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

DECISÃO:

Ementa: DIREITO ELEITORAL.


RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÕES
2018. REPRESENTAÇÃO POR
CAPTAÇÃO OU GASTO ILÍCITO DE
RECURSOS. DOAÇÃO DE PESSOA
JURÍDICA. CONFIGURAÇÃO DO
ILÍCITO. DESPROVIMENTO DO
RECURSO.
H i p ó t e s e
1. Recurso ordinário interposto contra acórdão
do TRE/GO que julgou procedente
representação por captação ou gasto ilícito de
recursos fundada no art. 30-A da Lei nº
9.504/1997. Como consequência, determinou
a cassação do diploma do recorrente, eleito 2º
suplente para o cargo de Deputado Estadual
e m G o i á s .
2. Hipótese em que o Ministério Público
Eleitoral alega que o recorrente teria praticado
captação e utilização ilícita de recursos
financeiros mediante a prática de “caixa dois”.
Tal prática ilícita consistiria na ocultação da
origem de recursos financeiros doados pelo
candidato como recursos próprios, mas que
teriam sido transferidos para sua conta
bancária por pessoa jurídica, de modo a
caracterizar doação indireta desta, o que é

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proibido pela legislação eleitoral por se tratar
de fonte vedada.
M é r i t o
3. A representação fundada no art. 30-A da
Lei nº 9.504/1997 tem como objetivo
sancionar a captação ou gasto ilícito de
recursos para fins eleitorais. Destina-se a
tutelar a transparência das campanhas
eleitorais; a higidez e a moralidade da eleição;
e a igualdade de oportunidades entre os
candidatos, que são violadas quando a
arrecadação e os gastos relacionados à
campanha se dão em desacordo com a
legislação eleitoral. Para sua configuração,
requer: (i) a comprovação de que a
arrecadação ou o dispêndio de recursos se deu
em desacordo com as normas legais aplicáveis
e (ii) a gravidade da conduta reputada ilegal,
que pode ser aferida tanto pela relevância
jurídica da irregularidade quanto pela
ilegalidade qualificada, marcada pela má-fé do
candidato. Precedente. E, uma vez julgada
procedente a representação, a única sanção
aplicável é a negativa ou a cassação do
diploma (art. 30-A, § 2º), razão pela qual se
destina apenas àqueles eleitos ou que
porventura o sejam. Precedente.
4. Especificamente em relação ao “caixa 2” de
campanha, o TSE já decidiu que se caracteriza
pela manutenção ou movimentação de
recursos financeiros não escriturados ou
falsamente escriturados na contabilidade
oficial da campanha eleitoral. Em ambas as
hipóteses, detecta-se o propósito de mascarar
a realidade, impedindo que os órgãos de
controle fiscalizem e rastreiem fluxos
monetários de inegável relevância jurídica.
Precedente.
5. Na hipótese, ficou comprovado que: (i) o
recorrente recebeu, por transferência bancária
oriunda de empresa, o valor de R$
200.000,00, que foram repassados para a sua
campanha eleitoral; (ii) a transferência foi
efetivada por empresa da qual o candidato é
sócio, inexistindo, porém, por parte deste,
declaração de rendimentos/lucros/ dividendos
recebidos da referida pessoa jurídica, quer na
sua declaração de IRPF no ano de 2017, quer
no registro de candidatura, (iii) em sua
prestação de contas (PC nº 0602511-34/GO),
o candidato ocultou a origem dos recursos,
declarando-os como próprios; e (iv) a doação
indireta da pessoa jurídica correspondeu a

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quase metade das receitas de campanha.
6. A proibição de doações de pessoas jurídicas
foi consolidada, após decisão do STF na ADI
nº 4650 (Rel. Min. Luiz Fux, j. em
17.09.2015), pela Lei nº 13.165/2015, que
revogou dispositivos da Lei nº 9.504/1997 que
regulamentavam essa fonte de financiamento.
Ademais, nos termos do art. 33, I, da
Res.-TSE nº 23.553/2017, é vedado a partido
político e a candidato receber, direta ou
indiretamente, doação em dinheiro ou
estimável em dinheiro, inclusive por meio de
publicidade de qualquer espécie, procedente
de pessoas jurídicas. Assim caracterizou-se a
arrecadação de recursos em desacordo com as
normas legais.
7. A gravidade do fato é demonstrada por: (i)
sua relevância jurídica e econômica, uma vez
que o montante a) seria oriundo de fonte
vedada; e b) corresponderia a cerca de 40% do
total de receitas de sua campanha (R$
491.704,05); e (ii) má-fé do recorrente,
demonstrada pela ocultação da origem de
despesas perante a Justiça Eleitoral. Além
disso, o ato ilícito teria aptidão para influir no
pleito, considerando o seu alto valor.
8. O uso de recursos de fonte sabidamente
vedada, em valor absoluto e percentuais
significativos, e o esforço de dissimulação da
origem perfazem a ilicitude qualificada da
conduta, apta a macular a legitimidade do
pleito. Desse modo, encontra-se configurada a
captação ilícita de recursos financeiros,
prevista no art. 30-A da Lei nº 9.504/1997,
devendo ser mantido o acórdão que
determinou a cassação do diploma do
recorrente, eleito 2º suplente ao cargo de
deputado estadual.
Conclusão
9. Recurso ordinário desprovido.

1. Trata-se de recurso ordinário interposto por Marco Túlio Pinto da Silva contra acórdão
proferido pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás – TRE/GO que julgou procedente a Representação
por captação e gasto ilícito de recursos financeiros (art. 30-A da Lei nº 9.504/1997) proposta pelo
Ministério Público Eleitoral. Como consequência, determinou a cassação do diploma do recorrente. O
acórdão regional contou com a seguinte ementa (ID 21547538):

“ELEIÇÕES 2018. REPRESENTAÇÃO ELEITORAL. PRELIMINAR. VIOLAÇÃO AOS


PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA AFASTADA. CAPTAÇÃO E
GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS (ART. 30-A DA LEI 9.504/97, COM A REDAÇÃO

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DADA PELA LEI 11.300/2006 E ALTERADA PELA LEI 12.034/2009).
IRREGULARIDADE NA ARRECADAÇÃO DE RECURSO DE CAMPANHA.
CONCLUSÃO DE DOAÇÃO INDIRETA DE PESSOA JURÍDICA.
IRREGULARIDADE CONTÁBIL COM POTENCIAL SUFICIENTE A AUTORIZAR A
CASSAÇÃO DO DIPLOMA. JULGAMENTO PROCEDENTE.
1. Nos termos da legislação de regência, não há cerceamento de defesa quando o
indeferimento de produção de provas se dá pela verificação de sua dispensabilidade para
análise dos fatos.
2. A documentação constante dos autos permite concluir que houve doação de pessoa
jurídica, em percentual relevante do montante da receita global arrecadada para utilização
em campanha, o que compromete a lisura e a transparência do pleito.
3. Conforme entendimento do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, “o bem jurídico
tutelado pela norma revela que o que está em jogo é o princípio da moralidade (CF/88, art.
14). Para incidência do art. 30-A da Lei nº 9.504/97, necessária prova da proporcionalidade
(relevância jurídica) do ilícito praticado pelo candidato. Nestes termos, a sanção de
negativa de outorga do diploma ou de sua cassação (§ 2º do art. 30-A) deve ser
proporcional à gravidade da conduta e à lesão perpetrada ao bem jurídico protegido" (RO
1540, de 28/04/2009, Rel. Min. Félix Fischer).
4. Presente a justa causa para a aplicação da grave sanção de cassação do diploma.
5. Procedência dos pedidos deduzidos na Representação Eleitoral”.

2. Na ação ajuizada, o Ministério Público Eleitoral imputou a Marco Túlio Pinto da Silva,
candidato eleito 2º suplente ao cargo de deputado estadual no pleito de 2018, a prática de captação e gasto
ilícito de recursos financeiros, inclusive públicos, para serem utilizados na sua campanha eleitoral (art.
30-A da Lei nº 9.504/1997). Aponta que tal prática teria sido detectada na tramitação da PC nº
0602511-34.2018.6.09.000, referente à sua campanha eleitoral, que culminou na desaprovação das contas,
com a determinação de recolhimento ao erário dos valores referentes ao Fundo Especial de
Financiamento de Campanha – FEFC. No citado processo, o parecer conclusivo das contas (emitido pelo
órgão técnico do TRE/GO) apontou a existência de irregularidades graves que evidenciariam a prática de
“caixa 2”, com captação e gasto ilícito de recursos, não assistindo aos diversos documentos apresentados
qualquer aptidão para sanar as falhas detectadas.

3. Ressalta que as condutas que teriam sido reconhecidas no julgamento das contas seriam
suficientes para caracterizar captação e gasto ilícito de recursos, a saber: (i) ausência de a) comprovação
da regularidade dos gastos com recursos do FEFC (art. 63 da Res.-TSE nº 23.553/2017), bem como de
comprovantes de pagamentos de prestadores de serviço com o respectivo fundo; b) documentos
comprobatórios relativos às doações estimáveis em dinheiro (art. 61 da Res.-TSE nº 23.553/2017); c)
notas fiscais relativas a impulsionamento e de fornecedor de serviço de comunicação visual; (ii)
inconsistências entre as informações constantes da prestação de contas de partidos e candidatos (que
teriam doado para a campanha do recorrente) e as suas próprias contas; (iii) omissões de despesas em
relação as informações que constariam na base da dados da Justiça eleitoral; (iv) recebimento de recursos
de origem não identificada no valor R$ 200.000,00; e (v) divergência entre as despesas de serviços
realizados por terceiros e os respectivos comprovantes. Conclui que tais situações seriam indicativas de
financiamento da campanha por “caixa 02”, revelando a existência de infração de captação e gasto ilícito
de recursos, nos termos do art. 30-A da Lei nº 9.504/97 (ID 21545838).

4. Na defesa apresentada pelo ora recorrente, alegou que (i) a imputação realizada pelo
Ministério Público seria mera reprodução do parecer técnico das contas eleitorais, apresentando as
seguintes justificativas em relação às irregularidades das contas: a) itens 1.1 e 6.1 – não teria havido
entrega dos documentos em tempo hábil, considerando a existência de instabilidade do sistema
informatizado, situação comprovada por meio de prints da tela; b) itens 1.2 D; 3.1; 8.1; 9.6; 9.7; e 9.10 –
teria havido a devida regularização desses questionamentos tempestivamente, porém a documentação não
teria sido analisada pela unidade técnica; c) item 2.1 – em relação à divergência das informações

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constantes da prestação de contas dos doadores e da conta em exame, aduz que foram lançadas todas as
doações recebidas, tendo sido comunicado aos doadores a existência das falhas para que fossem sanadas;
d) item 2.2 – a associação apontada não teria prestado nenhum serviço à sua campanha, tendo sido
requerido o cancelamento da nota fiscal à entidade; e) item 2.3 – teria havido equívoco no seu registro de
candidatura ao não serem declarados de forma detalhada os seus bens, o qual teria sido teria retificado,
não subsistindo falhas que comprometessem a confiabilidade das contas; f) item 4.1 – teria havido
interpretação equivocada por parte da unidade técnica; g) item 9.9 – as notas fiscais de impulsionamento
do Facebook apenas foram emitidas um mês após o serviço ser finalizado e, por isso, não teria juntado às
contas; (ii) as irregularidades apontadas na prestação de contas não seriam aptas a implicar na [sic] severa
sanção de cassação em razão do princípio da proporcionalidade; (iii) as alegações de irregularidades
devem estar subsidiadas com provas robustas e concretas da prática irregular, o que não teria ocorrido na
hipótese; e (iv) as falhas não teriam comprometido a igualdade de disputa entre candidatos; a lisura do
pleito; ou a transparência na arrecadação e gastos eleitorais (ID 2156388).

5. O relator declarou encerrada a dilação probatória, sob os argumentos de que não teriam
sido arroladas testemunhas, tampouco requeridas produções específicas de provas (ID 21546388). Como
consequência, foram opostos embargos de declaração pelo ora recorrente, alegando a existência de dúvida
e obscuridade, uma vez que o MPE teria solicitado a produção de provas, em especial a oitiva de
testemunhas (ID 21546588). Posteriormente, reiterou os aclaratórios (ID 21546788).

6. O Ministério Público Eleitoral apresentou alegações finais, ratificando os argumentos


apresentados na petição inicial acerca da prática de condutas ilícitas que evidenciariam a prática de “caixa
2”, através de grave quadro de captação e gasto ilícito de recursos financeiros, inclusive públicos.
Acrescentou, ainda, que (i) houve o recebimento de recursos de fonte vedada (pessoa jurídica Eros Motel
Ltda.), cujo valor representaria cerca de 40% do total de recursos arrecadados na campanha; (ii) os
documentos juntados pelo recorrente, além de repetidos, não seriam aptos a) a demonstrar a regularidade
dos recursos públicos do FEFC; e b) a comprovar que os R$ 200.000,00, que foram transferidos da
empresa Eros Motel Ltda. para a sua conta-corrente pessoal, corresponderiam a lucros auferidos com a
atividade empresarial por ele desenvolvida. Isso porque não haveria informações sobre
rendimentos/lucros/dividendos recebidos da referida pessoa jurídica na sua declaração de IRPF no ano de
2017. Além disso, a declaração de gerente de banco informando a existência de equívoco ao realizar a
transação bancária seria insuficiente para afastar a conduta ilícita; e (iv) a questão controvertida dos autos
não seria a capacidade econômica do recorrente para realizar doação à sua campanha, mas a origem da
verba empregada na sua campanha, que seria oriunda de pessoa jurídica, sem qualquer indicativo de
tratar-se de lucros do sócio. Tal fato seria vedado pela legislação eleitoral, além de consubstanciar
conduta grave e afronta a higidez dos recursos utilizados em sua campanha. Conclui que, não havendo
justificativa plausível para a doação, haveria indícios de recebimento de valores oriundos de doação
indireta da pessoa jurídica (cerca de 40% do total arrecadado) para financiamento de sua campanha, o que
seria vedado (art. 33, I, da Res.-TSE nº 23.553/2017). Além disso, que não se aplicariam os princípios da
proporcionalidade e da relevância jurídica para afastar a sanção de cassação do diploma, uma vez que só
incidiriam em relação a pequenos valores que não gerem repercussão na campanha, não sendo esta a
hipótese dos autos, uma vez que os fatos descritos seriam graves (ID 21546688).

7. Em decisão proferida pelo relator, foi indeferido o pedido formulado nos embargos
(recebido como pedido de reconsideração), sendo franqueado prazo para apresentação de alegações finais
(ID 21546938).

8. Posteriormente, o MPE apresentou complementação às suas alegações finais,


sustentando que, no voto condutor do acórdão proferido nas contas eleitorais, teria sido assentado que o
recorrido declarou rendimento no valor de R$ 7.209,15, porém tal valor seria referente à fonte pagadora
“SIS” (CNPJ nº 00.530.279/0001-15). Em relação à empresa Eros Motel Ltda. (CNPJ nº
06.370.312/001-73), não haveria nenhum rendimento declarado (ID 1436890). Concluiu que o
representado não teria comprovado o recebimento de valores da referida empresa a título de rendimentos
como sócio, permanecendo a conclusão de que os R$ 200.000,00 aportados na sua campanha seriam
oriundos de doação indireta de pessoa jurídica (ID 21546738).

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9. O recorrente manifestou-se pela dispensa de apresentação de alegações finais, ao tempo
em que reiterou a ausência de provas robustas quanto ao ilícito e/ou à gravidade das falhas existentes (ID
21547188).

10. O TRE/GO, por unanimidade, rejeitou a preliminar de cerceamento de defesa em razão


da ausência de produção de provas, uma vez que: (i) os argumentos já teriam sido afastados em decisão
anterior; e (ii) a matéria controvertida seria objeto de prova exclusivamente documental. No mérito,
concluiu pela ocorrência do ilícito eleitoral, com os seguintes fundamentos: (i) o acórdão proferido na PC
nº 0602511-34/GO assentou, após analisar os documentos, que o recorrente recebeu recursos de origem
vedada para a sua campanha eleitoral, por meio da arrecadação irregular de R$ 200.000,00; (ii) é
incontroverso o fato de o recorrente ser sócio da empresa Eros Motel Ltda. (doadora do valor),
considerando as informações de sua declaração de imposto de renda, o que, todavia, não altera o fato de
que não foram declarados lucros ou dividendos advindos daquela pessoa jurídica, quer na Declaração de
Imposto de Renda de 2017, quer no seu registro de candidatura; (iii) ausência de qualquer documento
hábil a contrapor ou afastar a irregularidade na utilização do valor de R$ 200.000,00 em sua campanha,
embora tenha sido oportunizado ao recorrente. Tal valor representaria cerca de 40% em relação ao total
de receitas declaradas em suas contas (R$ 491.704,05); (iv) houve doação indireta de pessoa jurídica, uma
vez que o capital empregado na campanha demandaria documentação apta e suficiente para comprovação
de sua regularidade, o que não teria ocorrido; e (v) o fato é grave e viola a igualdade, a lisura e a
transparência da disputa eleitoral. Ao final, entendeu configurada a prática da conduta prevista no art.
30-A da Lei nº 9.504/1997 (ID 21547638).

11. Em seu recurso ordinário, Marco Túlio Pinto da Silva alega que: (i) a Corte Regional
sancionou de forma desproporcional as falhas apontadas na sua prestação de contas, uma vez que elas não
seriam suficientes para justificar a perda do seu diploma; (ii) os recursos financeiros apontados como
ilícitos são, na verdade, próprios, uma vez que o candidato é sócio da pessoa jurídica que realizou a
transferência do valor de R$ 200.000,00, fato que excluiria o “caixa 2” ou origem ilícita dos recursos; e
(iii) não há prova robusta acerca da captação ilícita de recursos, tampouco comprovação de sua má-fé nos
autos. Conclui que foi indevidamente imposta a sanção de perda do cargo como consequência da
desaprovação das contas de sua campanha eleitoral, razão pela qual requer a reforma do acórdão, com
julgamento de improcedência do pedido (ID 21548038).

12. Contrarrazões apresentadas pelo Ministério Público Eleitoral, nas quais sustenta-se
que: (i) o recorrente não trouxe qualquer prova para contrapor o acórdão regional quanto à ilicitude dos
recursos e a gravidade das irregularidades; (ii) a tese de que o valor de R$ 200.000,00 corresponderia a
recursos próprios, advindos de lucros auferidos com a atividade empresarial, não foi comprovada por
documentos idôneos, de modo que está configurada a doação indireta de pessoa jurídica, fonte vedada
pela legislação eleitoral; (iii) na declaração do IRRPF relativa ao exercício de 2017 consta apenas que o
recorrente é sócio da empresa envolvida, com cotas no valor de R$ 90.000,00, não havendo rendimento
declarado em relação à empresa; (iv) a renda correspondente a R$ 7.209,15, declarada à Receita Federal,
é referente a outra pessoa jurídica, denominada “SIS”; e (v) a cassação do diploma é proporcional à
gravidade dos fatos, uma vez que o valor arrecadado ilicitamente corresponderia a cerca de 40% do total
de recursos da campanha (ID 21548188).

13. A Procuradoria-Geral Eleitoral opinou pelo desprovimento do recurso, por entender


que (i) o recorrente não apresentou documento idôneo a comprovar o recebimento da quantia da pessoa
jurídica a título de distribuição de lucros e dividendos; e (ii) a irregularidade contábil é grave, pois a) tem
potencial para interferir no pleito, considerando que o valor de R$ 200.000,00 corresponde a cerca de
40% da receita de campanha (R$ 491.704,05); e b) a má-fé está configurada na ocultação de informações
para o Fisco e para a Justiça Eleitoral.

14. Posteriormente, foi requerida por Célio Valério da Silva, candidato ao cargo de
vereador no Município de Águas Lindas de Goiás/GO, certidão de objeto e pé do presente feito,
justificado na necessidade de “trazer maior robustez à AIRC e auxiliar o juízo eleitoral” (ID 43120388).

15. É o relatório. Passo a decidir.

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Número do documento: 20102010374513300000045074784
16. Inicialmente, o recurso é tempestivo, tendo em vista a observância do prazo de 3 dias
(publicação do acórdão regional em 28.11.2019, quinta-feira, e interposição do recurso em 02.12.2019,
segunda-feira). Ademais, as partes estão devidamente representadas por advogados com procuração nos
autos. Presentes os demais pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

17. O recurso deve ser desprovido, para manter a procedência do pedido formulado pelo
Ministério Público Eleitoral.

18. Extrai-se dos autos que é incontroversa a arrecadação, em favor da campanha do


recorrente, de R$ 200.000,00, que foram transferidos da empresa Eros Motel Ltda. para a sua conta
corrente pessoal. A questão fática controvertida diz à caracterização desses recursos como próprios ou
como doação indireta de pessoa jurídica.

19. Quanto à matéria jurídica, não há dúvidas de que a doação realizada por pessoa jurídica
para as campanhas eleitorais enquadra-se entre as fontes de financiamento que são vedadas pela
legislação eleitoral. Tal proibição foi consolidada, após decisão do STF na ADI nº 4650 (Rel. Min. Luiz
Fux, j. em 17.09.2015), pela Lei nº 13.165/2015, que revogou dispositivos da Lei nº 9.504/1997 que
regulamentavam essa fonte de financiamento. Ademais, nos termos do art. 33, I, da Res.-TSE nº
23.553/2017, é vedado a partido político e a candidato receber, direta ou indiretamente, doação em
dinheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie, procedente de
pessoas jurídicas.

20. Por outro lado, para a procedência da representação por captação ou uso ilícito de
recursos para fins eleitorais, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral possui entendimento de que
requer: (i) a comprovação de que a arrecadação ou o dispêndio de recursos se deu em desacordo com as
normas legais aplicáveis; e (ii) a gravidade da conduta reputada ilegal, que pode ser aferida tanto pela
relevância jurídica da irregularidade quanto pela ilegalidade qualificada, marcada pela má-fé do
candidato. Nesse sentido: RO nº 1803-55/SC, sob minha relatoria, j. em 23.10.2018.

21. Especificamente em relação “caixa 2”, uma das modalidades de arrecadação ilícita de
recursos de campanha, o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que se caracteriza pela manutenção ou
movimentação de recursos financeiros não escriturados ou falsamente escriturados na contabilidade
oficial da campanha eleitoral. Em ambas as hipóteses, detecta-se o propósito de mascarar a realidade,
impedindo que os órgãos de controle fiscalizem e rastreiem fluxos monetários de inegável relevância
jurídica (RO nº 1220-86, Rel. designado Min. Luiz Fux, j. em 22.03.2018).

22. Considerado o objeto da representação do art. 30-A da Lei nº 9.504/97, tem-se,


portanto, como matéria jurídica controvertida: (i) o preenchimento dos requisitos da violação às normas
de arrecadação, desdobramento necessário caso comprovada a doação indireta por pessoa jurídica; e (ii) a
gravidade da conduta, que é premissa para a análise da proporcionalidade da cassação do diploma.

23. O acórdão do TRE/GO consignou que, embora o candidato fosse sócio da citada
empresa, não apresentou informações sobre rendimentos/lucros/dividendos dela recebidos, quer na sua
declaração de IRPF no ano de 2017, quer no registro de candidatura. Assim, ausente lastro para a
operação realizada entre a empresa e a pessoa física do candidato, concluiu pela ocorrência de doação
indireta de pessoa jurídica, agravada pelo esforço de ocultação da origem e pelo montante dos recursos
envolvidos, que atinge 40% do total movimentado.

24. A insurgência do recorrente contra o acórdão regional se assenta, em síntese, sobre os


seguintes pontos: (i) a Corte Regional teria sancionado de forma desproporcional as falhas apontadas nas
suas contas eleitorais; (ii) os recursos financeiros apontados como de origem não identificada nas contas

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pertenceriam a ele, uma vez que seria sócio da pessoa jurídica a qual realizou a transferência, fato que
afastaria a ilicitude; e (iii) não haveria prova robusta acerca da captação ilícita de recursos (art. 30-A da
Lei 9.504/1997), tampouco comprovação de sua má-fé nos autos.

25. Em sede de contrarrazões, o Ministério Público Eleitoral sustenta que: (i) o recorrente
não trouxe qualquer prova para contrapor o acórdão regional quanto à ilicitude dos recursos e a gravidade
das irregularidades; (ii) a tese de que o valor de R$ 200.000,00 corresponderia a recursos próprios,
advindos de lucros auferidos com a atividade empresarial, não foi comprovada, configurando doação
indireta de pessoa jurídica; e (iii) a cassação do diploma é proporcional à gravidade dos fatos, uma vez
que o valor arrecadado ilicitamente corresponderia a cerca de 40% do total de recursos da campanha.

26. O conjunto probatório resume-se à prova documental, em especial os autos da


prestação de contas do recorrente no pleito de 2018 – PC nº 0602511-34/GO (ID 21545888 e ID
21545938). Extrai-se da análise desses documentos que, de início, foi apontada pelo órgão técnico do
TRE/GO irregularidade consistente em arrecadação de recursos financeiros de origem não identificada no
valor de R$ 200.000,00. Tais recursos, conforme se apurou, foram provenientes de transferência
eletrônica realizada pela empresa Eros Motel Ltda., o que ocorreu, primeiramente, para a própria conta de
campanha. Constatado o ingresso desse recurso, o candidato, que alegou erro da agência bancária, emitiu
cheque eleitoral nominal em seu nome, a fim de que o valor fosse depositado em sua conta pessoal e,
depois, transferido eletronicamente para a conta de campanha.

27. A respeito de tal irregularidade, ainda no julgamento da PC nº 0602511-34/GO, o


TRE/GO firmou entendimento de que a quantia em questão consubstanciaria doação indireta de pessoa
jurídica, apresentando os seguintes fundamentos (PC nº 0602511-34/GO - ID 21545938, fls. 121-123):

“8. RECEBIMENTO DE RECURSOS DE ORIGEM NÃO IDENTIFICADA.


Em nota explicativa o candidato informa que, por erro, em 21/08/18 a atendente do caixa
bancário ao invés de realizar uma transferência de valores da conta pessoal do candidato
(122006-4) para a conta de campanha (930-7), realizou um saque daquela (valor R$
225.250,00) e um depósito nesta (valor R$ 225.250,00), em afronta à norma legal que só
permite doações por transferência entre contas. Visando corrigir o erro, o candidato emitiu
um cheque da conta de campanha e o depositou na conta pessoal. Este erro foi repetido em
3 0 / 0 8 / 1 8 .
O candidato juntou os comprovantes de depósito e os extratos da conta de campanha e
também da conta pessoal, afirmando que:
[ … ]
Tem-se que o prestador de contas juntou aos autos comprovante de transferência eletrônica
(ID 1436940) demonstrando que referido montante de R$ 200.00,00 provém da empresa
EROS MOTEL LTDA da qual o candidato é sócio, conforme comprovado por meio cópia
de sua declaração de imposto de renda (ID 1436890).
Todavia, em análise acurada do IRPF referente ao ano 2017 observa-se que, naquele
exercício, o prestador recebeu da referida empresa rendimentos no importe de R$ 7.209,15,
o que não condiz com os rendimentos aportados em sua conta pela mesma pessoa jurídica
pouco antes do pleito, sendo que o candidato não se desincumbiu de comprovar a que título
o aludido numerário lhe foi creditado pela empresa.
Assim, o numerário resulta em doação indireta de pessoa jurídica, que é expressamente
vedado pelo art. 33, inc. I, da Res. TSE nº 23.553/2017, configurando doação de fonte
vedada a impor ao prestador de contas a obrigação de devolução dos recursos ao doador e,
na sua impossibilidade, deverá providenciar imediatamente a transferência dos recursos
recebidos ao Tesouro Nacional”.

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28. Ao analisar os fatos sob a ótica do art. 30-A da Lei nº 9.504/1997, o TRE/GO não
divisou argumentos ou provas capazes de alterar a conclusão pela ocorrência de doação indireta por
pessoa jurídica. Transcrevo trecho em que analisada a prova (ID 21547638):

“A presunção de licitude da origem de valores recebidos em campanha carece de


confirmação, uma vez detectados indícios de irregularidades, sendo dever do prestador
fazer os devidos e necessários esclarecimentos, acompanhados de provas de suas
a l e g a ç õ e s .
Não logrou o representado apresentar qualquer documento hábil a contrapor ou afastar o
lastro de irregularidade na utilização do valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em
sua campanha, que representa percentual elevado (cerca de 40%) em relação ao total de
receita arrecadadas e declarada em sua prestação de contas (montante de R$ 491.704,05).
É que, embora seja sócio do empreendimento, não há em seu imposto de renda qualquer
declaração de recebimento de recursos oriundos desta empresa. Não há, ainda, qualquer
outro documento que demonstre o recebimento, pelo representado, de valores oriundos
desta pessoa jurídica a título de lucros e dividendos.
Ser sócio de uma empresa não importa, necessariamente, em obtenção de lucros. Pode
significar, também, prejuízos. Portanto, o capital empregado na campanha necessitaria de
documentação apta e suficiente para comprovação de sua regularidade.
Daí a conclusão de que o que houve, de fato, foi uma doação indireta de pessoa jurídica, o
que é totalmente vedado pela legislação eleitoral em vigência.”

29. Ao analisar documentos, observo que a declaração de imposto de renda do recorrente


efetivamente demonstra que ele teria participação na sociedade da empresa Eros Motel Ltda., com cotas
no valor de R$ 90.000,00 (ID 21545888, fl. 160). Porém, ele não trouxe provas que pudessem demonstrar
a existência e/ou o recebimento de eventuais recursos financeiros, sejam lucros, sejam dividendos,
advindos da empresa em questão. Ao contrário, a DIRPF (exercício 2017) demonstra que o recorrente
declarou, no tópico de “Rendimentos tributáveis de pessoas jurídicas recebidos acumuladamente pelo
titular, rendimentos tão somente da empresa “SIS” (CNPJ nº 00.530.278/0001-15), no valor total de R$
7.209,15 (ID 21545888, fls. 158/159).

30. Nesse sentido, a simples comprovação de participação na sociedade, sem apresentação


de qualquer documento hábil a contrapor ou afastar a irregularidade no recebimento do valor de R$
200.000,00 de pessoa jurídica, destinado a sua campanha eleitoral, seria insuficiente para afastar a
irregularidade. Registre-se, ainda, que a declaração de funcionário de agência bancária informando a
existência de equívoco na realização de transação bancária também não seria meio hábil a comprovar que
tais recursos seriam próprios, frutos de rendimentos financeiros de atividade empresarial do recorrente.
Assim, pode-se concluir que o valor transferido para a conta do recorrente caracteriza doação indireta de
pessoa jurídica, o que é expressamente vedado pelo art. 33, I, da Res.-TSE nº 23.553/2017.

31. Estabelecida a premissa fática da ocorrência de arrecadação de recursos de pessoa


jurídica, cumpre avançar para o exame dos requisitos configuradores da captação ou gasto ilícito de
recursos para fins eleitorais para os fins da condenação com base no art. 30-A da Lei nº 9.504/1997.
Portanto, é preciso verificar se, para além de irregularidade contábil, configura-se mácula à higidez da
campanha com gravidade suficiente para justificar a negativa ou a cassação do diploma, uma vez que esta
é a única sanção prevista pelo art. 30-A, § 2º, da citada lei.

32. A demonstração da gravidade da conduta reputada ilegal pode ser aferida tanto (i) pela
relevância jurídica da irregularidade (Respe nº 1-91/PE, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 14.10.2016; REspe nº
1175/RN, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 25.05.2017; RO nº 1233/TO, Rel. Min. Luciana Lóssio, j. em

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21.03.2017) quanto (ii) pela ilegalidade qualificada, marcada pela má-fé do candidato (AgR-REspe nº
1-72/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 17.11.2016). Trata-se, aqui, da aplicação do princípio da
proporcionalidade, em sua dimensão negativa, relativa à vedação do excesso, que atua como limite às
restrições de direitos que se mostrem inadequadas, desnecessárias ou desproporcionais em sentido estrito.
A drástica sanção de negativa ou cassação do diploma deve guardar uma relação de proporcionalidade
com a gravidade da conduta e a lesão aos bens jurídicos tutelados pela norma (RO nº 1453/PA, Rel. Min.
Felix Fischer, j. em 25.02.2010).

33. Na espécie, entendo que a gravidade está demonstrada tanto pela relevância jurídica da
conduta quanto pela ilegalidade qualificada.

34. Em primeiro lugar, a doação indireta da pessoa jurídica, fonte vedada pela legislação
eleitoral possui valor significativo, especialmente considerado o cargo em disputa, e alcançou percentual
de cerca de 40% em relação ao total de receitas declaradas em suas contas, qual seja R$ 491.704,05. A
ausência de contabilização adequada da entrada de recursos financeiros de grande vulto na campanha
eleitoral já seria suficiente para configurar a prática de “caixa 2”. Afinal, tais valores foram obtidos em
afronta à legislação eleitoral, sendo inacessíveis aos candidatos que tenham se pautado pela lisura da
arrecadação de receitas.

35. Em segundo lugar, a má-fé está suficientemente demonstrada pelo esforço de ocultação
da real fonte de recursos financeiros injetados na campanha. Deve-se salientar que, talvez, a origem dos
recursos não fosse devidamente apurada, não fosse a suspeita movimentação bancária de recursos a partir
do momento que, por equívoco, foram eles transferidos diretamente para a conta de campanha. O
candidato, por duas vezes, buscou fazer com que sua conta bancária pessoal fosse utilizada como “ponte”,
de modo a conferir aparência de regularidade aos recursos, como se próprios fossem. Vindo ao debate a
alegada percepção de lucros e dividendos, sem qualquer lastro em declaração à Receita Federal ou no
registro de candidatura, ficou evidente que a condição de sócio da empresa doadora também havia sido
invocada para dissuadir a Justiça Eleitoral da identificação da fonte vedada

36. Portanto, comprovada a arrecadação de recursos junto a fonte vedada, fato que se
agrava tanto pela expressão econômica dos valores envolvidos quanto pelo esforço de ocultação da
origem, a cassação do diploma se mostra medida proporcional às circunstâncias em que se deu o ilícito.
Assim, deve ser mantida a condenação proferida pelo TRE/GO com fundamento no art. 30-A da Lei nº
9.504/1997.

III – Conclusão

37. Diante do exposto, nego provimento ao recurso, para manter o acórdão regional que
determinou a cassação do diploma do recorrente.

38. Após, expeça-se a certidão de objeto e pé, conforme requerida (ID 43120388).

Publique-se.

Brasília, 19 de outubro de 2020.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO


Relator

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