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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O estudo da teoria da divisão dos poderes1 ainda reserva muita importância, vez que os
debates e polêmicas daí advindos são capazes de contribuir para o aperfeiçoamento das
instituições políticas, sobretudo no Brasil, onde a Constituição e Nova República ainda são
relativamente jovens.
desenhar o que seria uma organização política ideal na sua obra A República se mostra atual,
já que ainda nos dias de hoje nos questionamos e debatemos sobre qual a melhor forma
Neste ínterim, o presente trabalho propõe uma análise da teoria clássica do princípio
República e informa toda a organização política do Estado brasileiro. É a partir dele que se
∗
Pós-graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Bacharel em Direito pela
Universidade Federal de Viçosa (UFV).
desenvolvem as perspectivas deste estudo, cujo objetivo central está na análise da relação
legiferante daquele.
de governo desempenhadas pelos órgãos deste Poder. Os contornos desta delegação clamam
por serem debatidos com profundidade e cautela e coloca-se como uma problemática atual a
ser equacionada, vez que a usurpação das funções legislativas pelo Executivo tem colocado
medidas capazes de fortalecer o parlamento frente à influente figura como a qual o Executivo
se apresenta e age.
de Direito.
CONTRAPESOS
existência de funções estatais distintas e alertam para os perigos do exercício do poder por um
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Alguns autores preferem utilizar o termo separação, ao invés de divisão. Aqui, prefereiu-se adotar a utilização
deste último por acreditar que ele seja mais apropriado à natureza una e indivisível do poder estatal, que não
só indivíduo. Todavia é no processo de concretização do Estado Moderno que os contornos
dessa teoria são definidos, sendo que as obras Defensor Pacis, de Marcílio de Pádua; O
Príncipe, de Maquiavel, e Segundo Tratado sobre o Governo Civil, de John Locke são
fato de ter sido Locke o primeiro a apresentar de maneira sistematizada quais seriam as
Não obstante ao esforço intelectual empreendido por estes teóricos, pode-se a atribuir
preconizou a existência de três poderes harmônicos e independentes entre si, cada qual
responsável pelo exercício de uma função. Assim, o poder legislativo seria o responsável por
elaborar normas abstratas de caráter geral e impessoal. Ao poder executivo caberiam os atos
poder judiciário seria conferida a atribuição de interpretar e aplicar a lei de modo a dirimir os
liberdades individuais frente ao Estado. “Esta estratégia nasce ligada a um momento histórico
em que se pretende uma minimização dos poderes do Estado, por influência direta do poder
liberal vigorante, sem que, com ela, ocorra quebra na unidade do poder”. 3
Este modelo acaba por ser positivado em importantes diplomas, tais como a
Constituição dos Estados Unidos (1787) e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
(checks and balances) segundo o qual os três poderes se controlam reciprocamente. Assim é
Entretanto, esse esquema tradicional de divisão de poderes não está imune a críticas.
DALLARI afirma que o modelo é “meramente formalista, jamais tendo sido praticado”. Isto
destes. Além disso, existem fatores extralegais que acabam por determinar a preponderância
esfera de ação, seja no âmbito da execução de políticas públicas, seja na necessidade de uma
legislação cada vez mais abrangente, colocou em xeque o esquema tradicional e rígido da
2
MONTESQUIEU, 1987. p. 164-165.
3
STRECK & MORAIS, 2001. p. 164.
divisão entre os poderes e orientou o Estado rumo a um processo de compartilhamento de
delegação de poderes de um órgão para outro. Ambas mantêm e se inserem no velho esquema
atuação de cada órgão estatal na tentativa de que estes possam cumprir e otimizar seu
funcionamento sem os entraves que uma divisão de poderes deveras rígida impõe.
A divisão entre os poderes como parte da organização formal do Estado se revelou por
muito tempo o fio condutor dos estudos constitucionais. 5 Apesar do giro dado pela matéria,
pode-se dizer que ainda hoje o tema mantém o seu vigor, principalmente no Brasil, país cujas
princípios fundamentais a divisão das funções estatais em três distintos órgãos: o Poder
4
DALLARI, 1995. p. 185.
5
Paulo Bonavides adverte que a queda do positivismo jurídico conjugado ao advento da teoria material da
Constituição transportou o centro de gravidade dos estudos constitucionais da parte organizacional da Lei Magna
Legislativo, a ser exercido pelo Congresso Nacional; o Poder Executivo, a cargo da
harmônica e independente.
A harmonia no exercício dos Poderes estatais nada mais é que o respeito mútuo às
construir os objetivos da República. Insta destacar que os Poderes relacionam-se de forma tal
É neste sentido que ao lado da edição de normas de caráter geral e impessoal, cabe ao
Legislativo aprovar a escolha feita pelo Executivo para ocupar determinados cargos públicos,
às atividades nucleares, bem como inúmeras outras atividades que interferem diretamente no
responsabilidade de decidir pela constitucionalidade ou não das leis, ao passo que a Corte
para a parte substantiva da Constituição em que estão compreendidos os direitos fundamentais e as garantias
processuais de liberdade. (BONAVIDES, 2004. p. 584.)
6
SILVA, 1997. p. 111.
Constitucional tem seus ministros nomeados pelo Presidente da República após a aprovação
do Senado Federal.
Constituição pátria, não sendo exagero afirmar que seu objetivo maior é evitar uma possível
Não obstante a Lei Maior brasileira ter adotado o tradicional esquema de tripartição
dos poderes, com o sistema de freios e contrapesos dele decorrente, pode-se afirmar que sua
rigidez foi materialmente abandonada, vez que a Constituição delegou competência legislativa
aprovadas pelo Legislativo, além de iniciativa exclusiva no que concerne a algumas matérias,
e.g. o orçamento anual. Ademais, pode o chefe do Executivo exercer diretamente a atividade
provisórias, vez que, apesar de prevista, a utilização de leis delegadas por parte do Executivo
não é usual, sendo a edição de medidas provisórias o meio mais comumente utilizado.
2.1. A edição de medidas provisórias e a usurpação das funções legislativas pelo Poder
Executivo
Mais que a garantir liberdade individuais, ao Estado foi conferida uma gama de outras
atribuições, de forma tal que o Poder Executivo, principalmente, precisa dar respostas céleres
7
A inclusão das medidas provisórias dentre as possibilidades concedidas pela delegação legislativa não
pressupõe que elas sejam consideradas como lei, no sentido estrito do termo, mas reside no fato de elas
vincularem os sujeitos com a mesma força desta, podendo-se afirmar com a certeza necessária que,
Visando suprir essa necessidade é que o ordenamento jurídico pátrio prevê no artigo
sobre a natureza destes atos normativos, mas refletir quais são os impactos causados por estes
Quanto aos pressupostos materiais, a Constituição elenca em seu texto quais conteúdos
pressupostos formais, deve a medida provisória atender a três requisitos. O primeiro ligado à
outros dois estão ligados à relevância e à urgência da medida. Estes dois últimos são, sem
imprescindibilidade de seu tratamento prioritário, que sua importância é de monta tal que não
materialmente, estes atos normativos emanados pelo Poder Executivo no exercício de suas funções co-
legislativas podem ser considerados como se leis fossem.
8
RAMOS, 1994. p. 142.
Quanto à urgência, significa que a medida provisória deve regular uma situação que
demande solução imediata, que não suporte aguardar o decurso de prolongado tempo.
Executivo. Atender a estes dois pressupostos constitui condição sine quae non para que as
medidas provisórias possam se adequar à finalidade pela qual foram previstas sem ameaçar a
sistema, a prática política tem revelado excessos na utilização deste instrumento normativo,
que em muitas vezes regulam matérias às quais lhes são vedadas e não obedecem aos
Agrava esta situação o fato de a medida provisória trancar a pauta da Casa em que
estiver tramitando, caso sua votação no Congresso não seja concluída no interregno de 45
dias. Desta forma, “as medidas provisórias se tornaram um poderoso instrumento decisório
nas mãos do Poder Executivo porque permitem que este mude o status quo legal do país de
forma unilateral”. 9
projetos de sua autoria. Uma vez utilizada esta faculdade, os projetos apresentados deverão
9
AVELAR & CINTRA, 2004. p. 130.
seguir um trâmite acelerado, sendo que a não apreciação destes pelo Congresso Nacional no
agenda legislativa em seu tempo e conteúdo, o que coloca em risco o engenhoso esquema
Estado, com o alargamento das demandas e tarefas a serem cumpridas por este. Tudo isto
impõe uma nova lógica no exercício do poder, que clama pela redistribuição das funções entre
Como sabido, nem mesmo Montesquieu imaginou uma rígida divisão entre os
Assim, não é adequado interpretar este modesto estudo como a defesa de algo que a evolução
histórica e a prática política demonstram indefensável, qual seja, que os poderes estatais
possam ser exercidos dentro de limites rigidamente fixados, sem qualquer tipo de
tangenciamento.
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O artigo 64 da Constituição da República prevê os prazos a serem seguidos pelas Casas Legislativas quando
da apreciação de projetos apresentados pelo Presidente da República em caráter de urgência. Assim, o parágrafo
segundo do referido artigo estabelece o prazo de 45 dias para que a Câmara se manifeste sobre o projeto
Antes é um artifício prático utilizado para responder à exigência de celeridade no exercício do
Poder, tornando a prestação estatal mais eficiente na satisfação das pretensões dos
governados.
Destarte, o rechaço aos desvios cometidos pelo Executivo no uso de suas prerrogativas
Poder.
humana, mas pressupõe que o povo seja capaz de se emancipar e lutar pela construção de uma
democracia material. Só assim será possível um parlamento que funcione preservando a sua
populares.
Desta forma, é imprescindível uma reforma política profunda, que seja capaz de alterar
velhas estruturas, fortalecer os partidos políticos e permitir a identificação dos eleitores com
4. Referências bibliográficas
apresentado pelo Presidente e igual prazo para a apreciação pelo Senado, sendo que se esta Casa apresentar
qualquer emenda ao projeto terá a Câmara prazo de dez dias para apreciá-la.
AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (org). Sistema político brasileiro: uma
introdução. Rio de Janeiro: Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Fundação Unesp
Ed., 2004.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. atual. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 19. ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 1995.
MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O espírito das leis. Trad. Pedro Vieira Mota. São
Paulo: Saraiva, 1987.
RAMOS, Carlos Roberto. Da medida provisória. Belo Horizonte: Del Rey, 1994.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 13. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros Editores, 1997.
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, J. L. Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do Estado.
2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.
Resumo
Todo o arcabouço normativo concernente à organização política brasileira pode ser encontrado na
Constituição da República, que consagrou o princípio da divisão dos poderes, delimitando as funções a
serem exercidas por cada Poder. Ao Executivo, mais que suas funções típicas, foram delegadas
prerrogativas legiferantes, de modo que este estudo visa analisar a forma como tais vêm sendo
utilizadas, sugerindo-se saídas para o aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito.
Resumen
Toda la basis normativa concernente a la organización política brasileña puede ser encontrada en la Constitución de la
República, que consagró el principio de la separación de poderes, delineando las funciones que deben ser ejercidas por
cada Poder. Al Ejecutivo, además de sus funciones típicas, fueron asignadas - por delegación legislativa – ciertas
facultades legiferantes, de modo que el objetivo de este estudio es analizar la forma como tales facultades han sido
utilizadas, sugiriéndose alternativas em aras de lograr un auténtico Estado Democrático de Derecho.