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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA
ANO LECTIVO DE 2009/2010

FAMÍLIA, CASAMENTO E DIVÓRCIO:


MUDANÇAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Gonçalo Marques Pereira Soares Barbosa

Relatório para a disciplina de Sociologia Geral II,


leccionada pelo docente Carlos Manuel Gonçalves

Porto, 13 de Maio de 2010


Sumário

Notas introdutórias ........................................................................................................ 2


Família, casamento e divórcio na sociedade contemporânea .......................................... 2
Perspectiva de Anthony Giddens sobre a família ........................................................... 2
Alternativas ao casamento: coabitação, casais homossexuais e viver só ......................... 6
Divisão do trabalho doméstico ...................................................................................... 6
Divórcio e famílias recompostas ................................................................................... 7
Monoparentalidade ....................................................................................................... 8
Fecundidade .................................................................................................................. 8
Considerações finais ................................................................................................... 10
Listagem de artigos ..................................................................................................... 11
Artigo 1: Perspectivas dos jovens sobre a família e o casamento – notas críticas ...... 11
Artigo 2: A Família numa sociedade em mudança ................................................... 11
Artigo 3: Famílias monoparentais em Portugal ........................................................ 12
Anexos........................................................................................................................ 14
Referências bibliográficas ........................................................................................... 16
Artigos .................................................................................................................... 16
Monografias ............................................................................................................ 16
Páginas online ......................................................................................................... 16

1
Notas introdutórias

Realizado no âmbito da Unidade Curricular de Sociologia Geral II da


licenciatura em Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, este
relatório propõe-se a analisar as principais modificações da família, casamento e
divórcio no contexto das sociedades contemporâneas, tendo em igual consideração uma
focalização em Portugal, com o suporte a dados estatísticos retirados do INE. Numa
primeira parte, irão ser descritas as principais transformações na instituição da família,
havendo uma tentativa de corroborar algumas dessas tendências com o caso português.
Numa segunda parte, serão expostos resumos de três artigos sobre temáticas específicas
da família, com o objectivo de aprofundar algumas dimensões desta instituição.

Família, casamento e divórcio na sociedade contemporânea

«De entre as mudanças que estão a acontecer por todo o mundo, nenhumas são
mais importantes do que as que afectam a nossa vida pessoal: sexualidade, relações,
casamento e família» (Giddens, 2000, p. 57). Importa tecer algumas considerações
sobre o conceito de família, antes de partir para a análise das suas alterações. Em
primeiro lugar, e no seu sentido mais lato, pode ser definida como «[…] um grupo de
pessoas ligadas por laços de parentesco cujos membros adultos assumem a
responsabilidade de cuidar das crianças» (Almeida, 1995, p. 101). Em segundo lugar, é
importante referir que actualmente já não se pode falar em família, mas sim em famílias,
tal é a diversidade de formas familiares que existem na sociedade contemporânea
(Giddens, 2009). Por fim, ter em conta que é central «perceber os contextos sociais para
identificar as diferentes modalidades de organização familiar» (Almeida, 2009, p. 103),
sublinhando uma última vez que o contexto de análise é as sociedades contemporâneas.

Perspectiva de Anthony Giddens sobre a família

Na sua obra O mundo na era da globalização, Giddens afirma que temas como a
igualdade sexual, a regulação da sexualidade ou a família são foco de uma intensa
discussão na grande maioria dos países, apenas não havendo naqueles que vivem num
regime autoritário ou derivado da repressão de grupos fundamentalistas. As novas

2
mudanças que se verificam nesses níveis ocorrem um pouco por toda a parte, havendo
tendências paralelas, que variam de intensidade conforme o contexto cultural em que se
localizam (Giddens, 2000). De acordo com o sociólogo, «A família é um campo de
batalha entre a tradição e a modernidade.» (Giddens, 2000, p. 59).
A família tradicional constituía uma unidade económica. As desigualdades entre
homens e mulheres eram acentuadas e as crianças viam os seus direitos negados. Aliás,
a ideia de dignidade das crianças é historicamente recente. A sexualidade, na família
tradicional, era dominada pela ideia de reprodução. A questão da homossexualidade,
ainda que sendo vivenciada pela maioria como uma prática tolerada e aprovada,
nalgumas culturas era combatida e era vista como uma prática não natural.
Com a modernidade, esta instituição sofre algumas alterações de fundo, como é
o caso da separação completa entre sexualidade e reprodução, o que na perspectiva do
autor leva a que a vida sexual «[…] sem finalidade reprodutora já não é, por definição,
dominada pelas relações heterossexuais» (Giddens, 2000, p. 61). Por outro lado, a
família deixa de ser considerada como uma entidade económica e o casamento deixa de
se basear em motivações económicas, sendo substituído pelo casamento por amor. Para
Giddens, o casamento e a família tornam-se instituições incrustada, na medida em que,
apesar de manterem as suas designações, sofrem alterações nos seus fundamentos. O
conceito de intimidade surge com a família moderna, e o casamento passa a ser baseado
numa ligação emocional. O casamento deixa também de constituir uma base
fundamental no processo de acasalamento. Quanto à opção de ter filhos, na sociedade
contemporânea é feita com motivações diferentes, na medida em que a criança deixou
de ser um recurso de natureza económica e passa a ser visto como um fardo financeiro
para os pais.
Giddens apresenta o conceito de relação pura, uma relação baseada unicamente
numa ligação emocional. As relações de amor e sexo, pais e filhos e relações de
amizade tendem a aproximar-se desse modelo. A relação pura «Depende de actos de
confiança mútua, de abertura em relação ao outro» (Giddens, 2000, p. 65). Uma boa
relação será caracterizada por uma igualdade de direitos e obrigações; a compreensão é
vista como algo essencial e o diálogo como o motor da relação. A boa relação é aquela
que não apela ao poder arbitrário, à coerção ou à violência. Este tipo de relações
pressupõe uma democracia das emoções. Democracia que impediria, por exemplo
distinções entre relações heterossexuais ou entre pessoas do mesmo sexo.

3
Estrutura das famílias

No último século, Portugal viu a dimensão média dos seus agregados familiares
reduzir-se de forma acentuada. Se em 1911 era de 4.2 indivíduos, em 1970 esse valor
desce para 3.7, e em 2008 desce ainda mais para 2.8.

Tabela 1
Número médio de pessoas por família
Ano 1911 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2006 2007 2008
Dimensão média
4,2 4,2 3,8 3,7 3,4 3,1 2,8 2,8 2,8 2,8
das famílias
Fonte: INE

Esta tendência pode ser confirmada ao analisarmos o peso dos agregados


familiares pelo número de indivíduos. Em 1960, o peso das famílias com um indivíduo
era de 10.8%, valor que em 2008 ascende para 17.6%. Os agregados com duas pessoas
sofreram igualmente um aumento, subindo de 19.6% para 29.6%. Os agregados de três
a cinco pessoas vêem o seu peso reduzido, descendo de 52.6% para 50.6%. Por fim, e
mais notoriamente, os agregados com mais de cinco pessoas descem de 17.1% para
2.1%. No anexo 1 encontra-se uma evolução mais detalhada por anos.

Casamento

No plano do casamento, as mudanças centram-se na diminuição do número de


casamentos, o adiar do casamento e a alteração da forma como este se realiza.
No que concerne à taxa de nupcialidade, «[…] nos últimos 20 anos em Portugal,
o seu sentido é idêntico ao dos outros países europeus – tendência para a descida»
(Almeida, 1995, p. 113), embora Portugal ainda esteja com valores ligeiramente
superiores. Em 1960, a taxa de nupcialidade, de acordo com dados do INE, era de
7.8‰, em 1991 de 7.3‰ e em 2008 de 4.1‰. João Ferreira de Almeida argumenta que
países como a França, em que a entrada na vida conjugal pressupõe um período de
coabitação e eventualmente o nascimento do 1º filho, têm necessariamente uma entrada
menos directa, algo que não acontece com Portugal.

4
Analisando por NUTS II, tal como está indicado na tabela 2, a taxa bruta de
nupcialidade em 2008 foi mais elevada para a Região Autónoma dos Açores e da
Madeira, enquanto Alentejo e Algarve apresentaram os valores mais baixos.

Tabela 2
Taxa de nupcialidade em Portugal e nas NUTS II (‰)
Ano 2006 2007 2008
Portugal 4,5 4,4 4,1
Norte 4,5 4,3 4,0
Centro 4,9 4,8 4,0
Lisboa 4,2 4,1 3,7
Alentejo 3,6 3,6 3,2
Algarve 4,0 3,9 3,6
R. A. Açores 6,0 5,4 5,5
R. A. Madeira 5,4 5,0 4,7
Fonte: INE

O casamento católico sofreu nos últimos 50 anos uma forte queda. Enquanto em
1960 90.8% dos casamentos realizados eram católicos e apenas 9.2% eram civis, em
2008 já só eram 44.4% os casamentos católicos e 55.2% os casamentos civis.
Regionalmente, os casamentos católicos têm uma distribuição diferenciada, «Lisboa,
Setúbal e Faro sempre foram distritos em que se verificaram menos casamentos
católicos do que os distritos do Norte e Centro do País» (Almeida, 1995, p. 113).
Efectivamente, são as zonas do Algarve (23.4%), Lisboa (30.8%), bem como a Região
Autónoma dos Açores (23.0%) que apresentaram a menor percentagem de casamentos
católicos no ano de 2008, de acordo com o INE. Já no outro extremo encontram-se o
Norte (54.7%) e o Centro (50.0%). O anexo 2 contém os valores completos para as
NUTS II, nos anos de 2006 a 2008.
Os primeiros casamentos representam um cada vez menor peso no total de
casamentos efectuados a cada ano. Isto prende-se com o aumento da taxa de divórcio e
consequente aumento do número de pessoas que se casam mais do que uma vez. Em
2003, 83.6% eram primeiros casamentos, já em 2008 esse valor desce para 76.6%. No
anexo 3 é possível ver este valor em cada NUT II.
Tanto a idade média ao casamento, como a idade média ao 1º casamento têm
sofrido uma tendência de subida. Em 1960, a idade média do 1º casamento era de 26.9
5
anos para os homens e 24.8 para as mulheres; já em 2008, esses valores sobem para
29.7 e 28.1 respectivamente. Em 1996, a idade média do casamento era de 28.8 para os
homens e 26.2 para as mulheres; no ano de 2008, os valores crescem para 32.6 e 30.1
respectivamente.

Alternativas ao casamento: coabitação, casais homossexuais e viver só

Uma alternativa ao casamento consiste no regime de coabitação 1. Apesar de ser


apenas medido nos censos, é possível ver uma evolução crescente deste regime, que em
1991 era de 2.0%, e em 2001 era de 2.8%. Contudo, será relevante aguardar pelos
censos de 2011, para verificar se esta tendência se confirma. Esta forma de
relacionamento, privilegiada pelos jovens, mostra-se mais instável do que o casamento,
existindo mesmo uma maior probabilidade de separação do casal que vive junto mas
não é casado, do que os casais casados (Giddens, 2009).
Os casais homossexuais constituem outra variante do casamento, que possibilita
uma «maior oportunidade de igualdade entre os parceiros, pois estes não são guiados
pelos estereótipos culturais e sociais que condicionam as relações heterossexuais»
(Giddens, 2009, p. 195), tendo igualmente um maior poder de negociação dos
parâmetros de funcionamento das suas relações.
Por fim, é de se salientar o maior peso dos agregados familiares constituídos por
uma única pessoa. De acordo com dados do INE, em 1960 esse grupo representava
10.8% do total de agregados, valor que em 2008 sobe para 17.6%.

Divisão do trabalho doméstico

A taxa de actividade feminina tem vindo a aumentar continuamente, estando


com valores cada vez mais próximos da taxa de actividade masculina. No caso
português, em 2008, esse valor foi de 48.0% para as mulheres e 58.2% para os homens.
Em resultado da entrada da mulher no mercado de trabalho, a figura tradicional do
“homem ganha-pão” perde força e deixa de ser a regra nas famílias ocidentais. As
mulheres ganham autonomia económica, o que as leva a ficar em «[…] melhor posição
para abandonar os papéis de género no lar se o escolherem fazer» (Giddens, 2009, p.

1
Coabitação: «[…] situação que tem lugar quando um casal vive junto e mantém relações sexuais sem
haver casamento» (Giddens, p. 194, 2009).
6
401). Parece assistir-se a um equilibrar da relação, com uma alteração da divisão do
trabalho doméstico 2. Efectivamente, as mulheres que trabalham fora de casa têm uma
menor responsabilidade nas tarefas domésticas. Contudo, e tal como refere Arlie
Hochschild, muitas mulheres ainda enfrentam um „segundo turno‟, ou seja, depois da
jornada de trabalho enfrentam ainda algumas tarefas domésticas, em períodos como o
final da tarde ou durante os fins-de-semana (Giddens, 2009). Estudos referem ainda
assim, que esta igualdade de tarefas é menos acentuada nas classes sociais mais baixas e
nos casais mais idosos.

Divórcio e famílias recompostas

O aumento do divórcio é uma das tendências na família da sociedade


contemporânea. Mas tal não reflecte uma menor valorização da instituição do
casamento, antes pelo contrário, «[…] o aumento do divórcio pode também querer dizer
que as pessoas atribuem tal importância a esta dimensão da vida pessoal que não
aceitam que ela se desenrole de forma consistentemente insatisfatória» (Almeida, 1995,
p. 110). A tendência das pessoas que se divorciam é mesmo de voltarem a casar-se. Por
outro lado, o facto do regime de coabitação mostrar uma tendência de subida pode
denunciar que «[…] é a dimensão mais institucional da família que é rejeitada e não
tanto a ideia de constituir família» (Almeida, 1995, p. 110).
As chamadas famílias recompostas são uma materialização da ideia defendida
por João Ferreira de Almeida. Efectivamente, as famílias em que «[…] um dos adultos
tem filhos de um dos matrimónios anteriores» (Giddens, 2009, p. 185) são cada vez
mais frequentes, em relação directa com o aumento do número de divórcios. Em
Portugal, os casamentos em segunda ordem ou superior têm tido um percurso
ascendente; em 2003 representaram 16.4% dos casamentos efectuados nesse ano, e em
2008 esse valor já era de 23.4%. Giddens refere que este novo tipo de família cria
igualmente novas relações familiares, nomeadamente as estabelecidas entre enteados a
padrastos, apresentando ainda o conceito de famílias binucleares, defendida por alguns
autores que argumentam que «[…] dois agregados formados depois de um divórcio
continuam a implicar um único sistema familiar sempre que há crianças envolvidas»
(Giddens, 2009, p. 188).

2
Trabalho doméstico: «[…] a forma como as responsabilidades domésticas são partilhadas entre os
membros do agregado familiar […]» (Giddens, p. 400, 2009).
7
No contexto da sociedade portuguesa, é com o pós-25 de Abril que se iniciam
movimentos de defesa do divórcio, que resultam na criação de uma lei em 1975 que
contempla o divórcio para os que casaram pela Igreja Católica (Almeida, 1995). Esta
alteração legislativa é observável na taxa de divórcio portuguesa, que até essa altura
representava 0.1%, mas após a aplicação dessa lei o valor sobe para 0.7%, já em 1981,
valor esse que desde então tem estado num movimento contínuo e ascendente,
representando em 2008 2.5%.
Por NUTS II, e tendo por referência os valores de 2007, é possível constatar que
as zonas com maior taxa de divórcio são a Região Autónoma dos Açores e da Madeira e
Lisboa. Já com menor taxa de divórcio estão o Centro e Norte. A nível europeu,
Portugal apresenta um dos valores mais baixos, só estando à frente de Espanha e Itália,
o que poderá ser explicado pela implantação tardia do divórcio (Almeida, 1995).
Entre 1999 e 2007 registou-se um ligeiro aumento da idade média do divórcio,
com a dos homens a subir de 40.9 para 41.5, e das mulheres de 37.8 para 39.2.

Monoparentalidade

Também resultado do divórcio, bem como de outras situações como a morte de


um progenitor ou o fim da coabitação, surgem as famílias monoparentais que «têm-se
tornado cada vez mais comuns nas últimas três décadas» (Giddens, 2009, p. 182). Se em
1991 9.2% dos agregados eram famílias monoparentais, em 2001 esse valor foi de
11.5%. Dessas famílias, 83.4% eram com mãe, 11.5% com pai e 3.5% com avó ou avô.

Fecundidade

Tal como argumenta João Ferreira de Almeida (1995), a disseminação do uso de


métodos contraceptivos tem um papel fundamental nas variações da fecundidade, uma
vez que permite um maior controlo sobre a natalidade, gerando assim uma forte quebra
desse indicador. Por outro lado, Giddens afirma que «Ter um filho é uma decisão mais
pensada e amadurecida do que costumava ser, além de ser uma decisão induzida por
necessidades psicológicas e emocionais» (2000, p. 64). Estes factores, entre outros,
contribuíram para uma diminuição do Índice Sintético de Fecundidade, que desde 1981
se encontra abaixo do valor mínimo de substituição das gerações. Em 2008 esse índice

8
foi de 1.4. A quebra deste índice traduz também a diminuição da taxa de natalidade.
Enquanto em 1960 esta rondava os 24.1%, em 2008 desce para 9.8%. Em particular, no
período de 70-90 verificou-se uma acentuada quebra, com a diminuição das famílias
numerosas dos meios rurais e com a estabilização do número de filhos em meio urbano,
com um ou no máximo dois (Almeida, 1995). Na tabela 3 é possível constatar as taxas
de natalidade nas NUT II durante os anos de 2006 a 2008, que apontam para as regiões
autónomas, o Algarve e Lisboa como as regiões com maior taxa de natalidade, enquanto
Norte, Centro e Alentejo apresentam os valores mais baixos.

Tabela 3
Taxa de natalidade em Portugal e nas NUTS II (‰)
Ano 2006 2007 2008
Portugal 10,0 9,7 9,8
Norte 9,6 9,1 9,2
Centro 8,7 8,4 8,5
Lisboa 11,4 11,3 11,6
Alentejo 8,4 8,2 8,6
Algarve 11,5 11,5 11,5
R. A. Açores 11,6 11,7 11,6
R. A. Madeira 11,9 11,0 10,9
Fonte: INE

Outra alteração corresponde ao adiar da idade em que se tem o 1º filho. A idade


média do pai e da mãe ao nascimento do 1º filho eram, em 1996, de 28 e 25,8 anos
respectivamente, e em 2008 de 30,2 e 28,4 anos respectivamente. Esta tendência
confirma-se com as evoluções das taxas de fecundidade por faixas etárias, onde se tem
verificado uma redução da mesma nas faixas dos 15-19 (equivalente à taxa de
fecundidade na adolescência), 20-24 e 25-29, contrapostas a um aumento da taxa de
fecundidade nas faixas dos 30-34, 35-39 e 40-44, no período de 2003 a 2008. Essa
evolução está indicada no anexo 4.
A estrutura das famílias em função do número de filhos também tem sofrido
alterações significativas. O peso relativo das famílias com filhos era de 59,6% em 2002,
e de 55,9% em 2008. Em quebra estão as famílias com três ou mais filhos, contrapostos
a um aumento do número de famílias com um ou dois filhos, algo que é visível nos
valores de 2006 a 2008, indicados na tabela 4.
9
Tabela 4
Estrutura das famílias por número de filhos (%)
Ano 2006 2007 2008
Famílias com filhos 57,3 56,8 55,9
Com 1 filho 32,0 31,5 31,3
Com 2 filhos 20,3 20,5 20,0
Com 3 filhos 3,9 3,9 3,8
Com 4 filhos ou mais 1,0 0,9 0,9
Fonte: INE

O peso dos nados vivos fora do casamento, sejam com a existência ou não de
coabitação dos pais, é outra alteração relevante na família. Nos últimos anos, o número
de filhos dentro do casamento tem perdido importância, representando em 2003 73.1%
e em 2008 63.8%. Por outro lado, o peso dos nados vivos fora do casamento e com
coabitação subiu de 21.5% para 29.2% no mesmo período. Já os fora do casamento mas
sem coabitação dos pais sobem de 5.3% para 7.0%.

Considerações finais

Tendo sempre em conta que este relatório não consegue abarcar a totalidade das
mudanças na instituição da família, ainda assim foi possível perceber as várias esferas
centrais que determinam e caracterizam a família na modernidade, tal como Giddens as
caracterizou na sua obra O mundo na era da globalização.
A dimensão das famílias reduz-se, o casamento deixa de ser um elemento
obrigatório para a constituição de uma família, diminuem o número de filhos por cada
casal. Mas por outro lado, aumenta a diversidade de formas da família, sendo cada vez
mais relevantes as famílias monoparentais, famílias recompostas, divorciados, casais do
mesmo sexo ou pessoas que vivem sozinhas.
Alguns níveis de análise ficam por ser explorados, como é o caso do lado negro
da família, tal como Giddens o designou. Corresponde ele a uma realidade actual? Ou
fará parte da vida dos agregados já desde a chamada família tradicional? Como têm
evoluído temporalmente dimensões como a violência doméstica ou os maus tratos às
crianças?

10
Listagem de artigos

Artigo 1: Perspectivas dos jovens sobre a família e o casamento – notas críticas

Realizado para uma análise e crítica ao Inquérito IED aos Valores e Atitudes dos
Jovens, este artigo aborda a secção relativa à família e institucionalização da relação
conjugal.
Sobre o conceito de família, as frases às quais os jovens mais o associam são
“Um grupo de pessoas que se ajudam umas às outras em todas as circunstâncias», com
67.5% dos inquiridos, e «Indispensável para a nossa segurança afectiva», com 59.1%
dos inquiridos. A que menos associaram foi a de «Fachada social», com apenas 7.2%.
Já quando questionados sobre o tipo de relação conjugal pensam vir a ter no futuro,
63.7% é favorável a um casamento religioso, enquanto 18.5% pondera um casamento
civil e 10,5% uma união livre. Neste relatório, estas duas atitudes globais perante a
família foram cruzadas com outras variáveis, como a prática religiosa, a idade ou a
situação em relação ao trabalho, para se obter uma heterogeneidade de retratos dos
jovens.
A autora acrescenta que o inquérito revela uma fraca contestação da família, o
que pode revelar uma geração de 80 conciliadora e convencional, assumindo a família
acima de tudo como um local de segurança afectiva.
Outra conclusão do inquérito é o fraco impacto de variáveis demográficas como
o sexo ou a idade, ou de caracterização pessoal como a intervenção social ou a situação
em relação ao trabalho.
As críticas inculcadas a este estudo passam por um lado pelo método e técnica
de recolha de dados escolhidos para esta investigação e por questões relacionadas com o
conteúdo das informações que o Inquérito fornece.

Artigo 2: A Família numa sociedade em mudança

António Joaquim Esteves começa o artigo afirmando que «A família que hoje
conhecemos, na sua estrutura, na sua hierarquia e enquanto projecto cultural, não é um
produto final nem único» (1991, p. 79). Por outro lado, nega que a família esteja num

11
caminho para um final catastrófico e que esta não é exterior à sociedade, estando na
verdade sujeita a mudanças na sociedade.
«Nos últimos tempos, têm vindo a assumir uma importância crescente formas
atípicas de família […]» (Esteves, 1991, p. 80). As famílias monoparentais são disso
exemplo, já representando na Comunidade Europeia, em 1988, 9.1% do total de
famílias, com uma maioria de famílias maternocêntricas.
A substituição das gerações é outro aspecto destacado pelo autor como um tema
recente, mas persistente, derivado da contínua ineficácia das políticas incentivadoras da
natalidade. No contexto europeu é notória a diversidade de situações: em 1998, o
número médio de filhos dos casais com filhos era de 1.98 para Portugal e 2.87 para a
Irlanda. Esteves reforça também a importância da separação entre a reprodução e o
prazer sexual, o que terá tido influência no crescimento do fenómeno dos nascimentos
extra-matrimoniais, que no entanto apresentou ao longo da história um carácter muito
irregular.
As crises e os conflitos familiares são outra dimensão de análise. O divórcio
surge muitas vezes como um desfecho desses aspectos. A tendência europeia tem sido
para o aumento da taxa de divórcio, incrementado particularmente quando este é
legalizado. Os maus tratos, o abandono do lar ou o adultério da esposa são algumas das
principais causas apontadas como justificativas do divórcio.
Posteriormente, o autor realiza uma análise às desigualdades de homens e
mulheres no acesso ao mercado do trabalho, e as consequências daí resultantes.

Artigo 3: Famílias monoparentais em Portugal

Este artigo pretende analisar as famílias monoparentais em Portugal, com uma


descrição de alguns dados sociográficos, evolução temporal e comparação a nível da UE
a 12.
As autoras começam por apresentar o conceito de família monoparental como
«um núcleo familiar onde vive um pai ou uma mãe sós (sem cônjuge) e com um ou
vários filhos solteiros» (p. 123). Contudo, a definição que irão usar será a de «núcleo
familiar de pais e mães (que não vivem em casal) com filhos solteiros de qualquer idade
[sublinhado da minha autoria]» (p. 128), uma vez que foi essa a utilizada pelo INE nos
censos entre 1970 e 1991.

12
Em termos absolutos e relativos assiste-se a uma descida acentuada deste tipo de
famílias, algo que deriva do aumento da taxa de nupcialidade. Contudo, de 1981 para
1991 verifica-se um aumento significativo, aumentando de 189.000 para 254.000
famílias, sendo o aumento gradual do divórcio e a alteração dos valores os principais
factores dessa subida.
Nas famílias monoparentais, em 1991, 69% representavam famílias simples,
enquanto 31% famílias com mais pessoas para além do núcleo familiar, algo que se
distancia das famílias de casais com filhos, cuja proporção é de 82.1 e 17.9%
respectivamente, e nos casais sem filhos de 76.1 e 23.8%. Na distribuição por sexo,
conclui-se que, em 1991, 86.2%, valor muito similar ao de 1981, das famílias
monoparentais são femininas. Esta situação decorre da maior probabilidade da mulher
ficar com a guarda da criança em situações como o divórcio.
Por estado civil, nota-se uma maioria de monoparentalidade tradicional, ou seja,
resultante do falecimento de um dos cônjuges. Contudo, na evolução 1981-1991 nota-se
uma diminuição dessa rubrica, em detrimento do forte aumento da monoparentalidade
por ruptura conjugal. Tendo em conta os intervalos de idades, é visível que a situação
mãe viúva ocorre essencialmente acima dos 45 anos, enquanto a situação mãe
divorciada tem maior incidência entre os 35-44 anos. As famílias com pais sozinhos
ocorrem essencialmente acima dos 45.
Quanto ao número de filhos, verifica-se que 58.5% das mães e 64.3% dos pais
têm apenas um filho, enquanto isso se verifica em apenas 43.8% das famílias de casais
com filhos. O nível de instrução apresenta-se diverso neste tipo de famílias.
Enquanto as mães viúvas e as mães sozinhas apresentam uma fraca instrução, o mesmo
não acontece com as divorciadas, que são as que se apresentam na melhor situação neste
aspecto. Já a nível da entrada no mercado de trabalho, também são as divorciadas que se
destacam, tendo a maior participação, contraposta com as viúvas que têm a menor.
No contexto comunitário, a principal conclusão é de que Portugal globalmente
não se distingue dos restantes países, embora apresente maior proximidade com os
países do Sul da Europa, como Espanha e Itália, em dimensões como no menor valor
relativo das famílias monoparentais, relativamente aos outros países da UE a 12.

13
Anexos
Anexo 1
Estrutura das famílias por dimensão média (%)
Número de pessoas 1960 1970 1981 1991 2001 2006 2007 2008
Com 1 pessoa 10,8 10,0 13,0 13,9 17,3 16,8 17,1 17,6
Com 2 pessoas 19,6 21,9 23,5 25,3 28,4 28,9 29,2 29,6
Com 3 pessoas 27,1 26,3 25,8
Com 4 pessoas 52,6 52,2 52,9 54,2 51,0 19,4 19,7 19,5
Com 5 pessoas 5,5 5,5 5,3
Com 6 ou mais pessoas 17,1 15,9 10,6 6,6 3,3 2,3 2,2 2,1
Fonte: INE

Anexo 2
Percentagem de casamentos católicos (%) em Portugal e nas NUTS II
Ano 2006 2007 2008
Portugal 53,9 47,3 44,4
Norte 65,5 57,9 54,7
Centro 58,8 52,4 50,0
Lisboa 39,6 33,9 30,8
Alentejo 47,6 43,2 38,0
Algarve 33,6 28,5 23,4
R. A. Açores 29,1 22,9 23,0
R. A. Madeira 45,9 40,7 36,9
Fonte: INE

Anexo 3
Percentagem de primeiros casamentos por NUTS II (%)
Ano 2006 2007 2008
Portugal 79,4 77,1 76,6
Norte 84,6 82,6 82,1
Centro 80,4 78,6 78,1
Lisboa 71,5 69,4 68,7
Alentejo 78,2 74,6 73,9
Algarve 70,6 62,7 64,5
R. A. Açores 81,4 78,6 77,0
R. A. Madeira 81,2 80,7 75,9
Fonte: INE
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Anexo 4
Taxa de fecundidade por grupos etários (‰)
Ano 2006 2007 2008
15 a 19 anos 17,0 16,9 16,2
20 a 24 anos 45,5 44,1 45,9
25 a 29 anos 79,6 76,1 76,7
30 a 34 anos 83,8 82,8 85,8
35 a 39 anos 38,4 39,4 42,0
40 a 44 anos 7,7 7,4 7,8
45 a 49 anos 0,4 0,3 0,4
Fonte: INE

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Referências bibliográficas

Artigos

ALMEIDA, Ana Nunes de – Perspectivas sobre a família e o casamento – notas críticas.


Análise Social [Em linha]. XXII: 90 (1986) 157-164 [Consult 2 Mai. 2010]. Disponível
em: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223483213L3pHI5yo6Mh74NK3.pdf

ESTEVES, António Joaquim – A Família numa sociedade em mudança. Revista da


Faculdade de Letras. I: 01 (1991) 79-100 [Consult. 26 Abr. 2010]. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo3051.pdf

WALL, Karin; LOBO, Cristina – Famílias monoparentais em Portugal. Análise Social


[Em linha]. XXXIV: 150 (1999) 123-145 [Consult. 26 Abr. 2010]. Disponível em:
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218798759Z2nPW8zm0Lh75WI5.pdf

Monografias

ALMEIDA, João Ferreira, coord. Introdução à sociologia. Lisboa: Universidade


Aberta, 1994. ISBN 972-674-137-8.

GIDDENS, Anthony – Sociologia. 7ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.


ISBN 978-972-31-1075-3.

- O mundo na era da globalização. Lisboa: Editorial Presença, 2000. Depósito legal nº


145 640/99.

Páginas online

INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE) - Informação estatística [Em


linha]. [Consult. 24 Abr. 2010]. Disponível em: http://www.ine.pt

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