PROF.
BRUNO ALMEIDA
OBJETO DE CONHECIMENTO: CIDADANIA E DEMOCRACIA NA ANTIGUIDADE.
H22 - Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
As poucas evidências acerca da origem da Grécia,
remontam a meados do século XX a.C., período que a
tradição historiográfica convencionou como Pré-Homérico e
quando teriam se intensificado deslocamentos de grupos
indo-europeus para a península Balcânica. Entre os primeiros
grupamentos estavam os jônios, sucedidos quatro séculos
depois pelos aqueus e eólios. A chegada dos dórios remonta
a 1200 a.C. O contato com grupos autóctones que se
dedicavam a atividades agropastoris levou ao
desenvolvimento da civilização Creto-Micênica que, embora
tenha sido muito próspera nos tempos de domínio aqueu,
entrou em decadência após o domínio dórico, resultando no
que referencias historiográficas mais tradicionais definiram
como Primeira Diáspora Grega.
1. A ESTRUTURA GENTÍLICA
No decurso deste período ocorreu uma dispersão
populacional por regiões mais distantes, sobretudo, em áreas
insulares. Ciro Flamarion Cardoso aponta a estrutura gentílica
como base da organização social dos grupos humanos a
partir de meados do século XII a.C. estendendo-se até o
século VIII a.C com o fim do chamado período Homérico.
O centro de organização social era a família
aristocrática que se julgava descender de um herói ou de um
deus – o genos –, certamente uma família patriarcal extensa
em que vários casais podiam conviver sob a autoridade de
um único chefe.
CARDOSO, Ciro Flamarion. A cidade-estado antiga. São Paulo: Ática, 1985. p. 19.
As referências indicam que o chamado sistema
gentílico se constituía a partir de um padrão aristocrático, não
havendo evidências sobre qualquer coletivismo. Para dar
conta deste período, os historiadores tiveram que buscar as
1 bens da cidade e dos direitos dos cidadãos. Justamente por
referências em poemas homéricos . Estes épicos revelaram
o desenvolvimento de uma sociedade pautada em heroísmo
e que procurava destacar a vivência de deuses entre os
homens.
Essas narrativas permitiram compreender que as
ligações sociais eram estabelecidas por laços familiares.
Desse modo, cada genos se traduzia em um núcleo, em que
a casa do nobre (oikos) reunia pessoas de diversas
categorias, incluindo família e agregados, livres e escravos.
2. A ORIGEM DA POLÍTICA
No período Arcaico, entre os séculos VIII a.C. e VI
a.C., houve a subordinação do genos e do oikos à
comunidade. Além disso, os vestígios arqueológicos mostram
que os aristocratas se apropriaram das melhores terras,
criando um ambiente de lutas sociais. Outro fator adicional
esteve ligado ao aumento demográfico que estas
comunidades acabaram vivenciando. Tais condições
permitiram o surgimento do conceito clássico sobre os
estudos de antiguidade clássica: pólis.
1
Homero: foi reivindicado por muitas cidades de origem jônica, tendo, supostamente, vivido
por volta do século VIII a.C., reunindo tradições orais em dois épicos fundamentais: Ilíada e
Odisseia.
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Entre Gentil Bittencourt e Nazaré.
História | Aula 01
O helenista Moses Finley descreveu o nascimento
da política – a “invenção da política”, escreveu ele – como um
acontecimento que distinguiu para sempre a Grécia em face
dos grandes impérios antigos. Por que invenção? Porque
gregos e romanos não dispunham de modelos, mas tiveram
que inventar sua própria maneira de lidar com os conflitos e
divisões sociais.
A política foi inventada quando surgiu a figura do
espaço público, por meio da invenção do direito e da lei (isto
é, a instituição dos tribunais) e da criação de instituições
públicas de deliberação e decisão (isto é, as assembleias).
Esse surgimento só foi possível porque o poder político foi
separado de três autoridades tradicionais que anteriormente
definiam o exercício do poder: a autoridade do poder privado
ou econômico do chefe de família, de cuja vontade
dependiam a vida e a morte dos membros da família, a do
chefe militar e a do chefe religioso, figuras que, nos impérios
antigos, estavam unificadas numa chefia única, a do rei. A
política nasceu, portanto, quando a esfera privada da
economia e da vontade pessoal, a esfera da guerra e a esfera
do sagrado ou do saber foram separadas e o poder político
deixou de identificar-se com o corpo místico do governante
como pai, comandante e sacerdote, representante humano
de poderes divinos transcendentes.
Podemos dizer que Aristóteles foi o primeiro a ter
clareza sobre a diferença entre o espaço público da política e
o espaço privado dos interesses pessoais e grupais. Essa
diferença o levou a distinguir entre oikonomía e politiké. De
fato, oikonomía, ou seja, economia, é uma palavra grega
derivada de oikos, a casa, entendida como propriedade
privada do chefe de família, detentor de bens imóveis, móveis
e escravos; em contrapartida, politiké, ou seja, a política, uma
palavra grega derivada de pólis, a cidade ou a vida política,
entendida como atividade pública a respeito dos interesses e
haver separado o público e o privado, Aristóteles também
distinguiu entre virtudes privadas e virtudes públicas, isto é,
pensou numa ética pública, na qual a virtude central é a
justiça.
CHAUÍ, Marilena. O que é democracia? Disponível em:
https://clinicasdotestemunhosc.weebly.com/uploads/6/0/0/8/60089183/aula_magna_de_ma
rilena_chau%C3%AD-o_que_é_democracia_1.pdf. Acesso em: 12 jan. 2020 (adaptado).
Do ponto de vista geográfico a pólis grega era
composta por quatro espaços distintos: Acrópole (colina
fortificada e centro religioso), Ásty (núcleo urbano delimitado
por muros), Khóra (área rural agropastoril ocupada por
aldeias) e Porto (aglomerações litorâneas separadas). Vale
ressaltar que os gregos não tinham esta visão sobre a cidade-
estado. A despeito das particularidades de cada cidade-
estado, pólis é um conceito que denota uma dimensão
sociopolítica designando uma comunidade de indivíduos.
3. A CIDADANIA ARISTOCRÁTICA ATENIENSE
Atenas localizava-se na região da Ática, sudeste da
península grega central. O solo desta região apresentava
pouca fertilidade, sendo que a produção de trigo e cevada não
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conseguia dar conta das necessidades da população. As
colinas ofereciam a possibilidade de cultivar oliveiras e uvas,
o que resultou em uma ampla produção de azeite e vinho. Em
uma área mais ao sul, os atenienses desenvolveram a
mineração da prata, usada na cunhagem de moedas nesta
cidade.
A região do Pireu acabou ganhando destaque por
conta de suas atividades marítimas, sendo um caminho de
abertura para o domínio da Ática no contexto do século VIII
a.C. Alguns registros indicam que os atenienses tiveram
condições de evitar o domínio dos dórios sobre o seu
território, assegurando a sua autonomia.
Alguns registros indicam que no período entre os
séculos VIII a.C. e VII a.C. ocorreu o desaparecimento da
figura monárquica do basileu, tendo sido substituída pela
figura do arconte.
Para exercer a função de arconte era necessário
pertencer ao grupo social eupátrida. Inicialmente, o exercício
era vitalício, mas com o passar do tempo se tornou anual.
Além disso, chama atenção o chamado Areópago que atuava
como uma instituição suprema que tinha a responsabilidade
de guardar o regime. É importante ressaltar que os membros
desta instituição política eram ex-arcontes. O Areópago se
traduzia em um conselho que se reunia em uma colina para
2
defender interesses sociais .
Estas instituições políticas representam a forma
como o Estado e seu conceito foram se edificando em Atenas.
Por outro lado, se faz necessário esclarecer a forma de
organização social desta cidade-estado para avaliar como
lutas sociais foram sendo configuradas, tornando-se
importantes para a ampliação da cidadania.
Um dos grupos sociais existentes nesta cidade eram
os chamados eupátridas. A historiadora Claude Mossé
conceitua estes indivíduos como “bem-nascidos”, membros
de uma aristocracia que legitimavam sua condição nos
ancestrais da pólis. Estes indivíduos tinham acesso as terras
com as melhores condições produtivas.
Já os geomores acabavam tendo acesso as terras
de pequeno porte, não tendo o mesmo prestígio social e
tradicional que os eupátridas.
Os demiurgos eram formados por homens livres
que se especializavam em atividades que lhes traziam
rendimentos. Dentre as atividades encontradas na
documentação existem destaques para o artesanato,
comércio, profecias, medicina, poesia e canto. Segundo a
documentação, eles iam nas residências oferecendo seus
serviços quando eram solicitados.
Ainda mais, os tetes que representavam
camponeses que alugavam quando podiam a sua força de
trabalho e eram vistos de forma negativada pela aristocracia
sendo, portanto, uma camada de expropriados.
Por fim, cabe destacar a presença dos metecos que
nesta cidade-estado eram estrangeiros residentes, sem
direitos políticos. Estes indivíduos prestavam serviços
militares, pagavam impostos, possuíam escravos, mas não
poderiam ser donos de suas próprias terras e casas. Uma
observação permite inferir que em Esparta estes sujeitos
eram proibidos de estabelecer sua vida na cidade e sua
expulsão é denominada pela documentação de xenelasia.
4. LUTAS SOCIAIS E DEMOCRATIZAÇÃO DA PÓLIS
Adentrando o Período Arcaico a partir do século VIII
a.C., Atenas procura se consolidar como cidade-estado ou
pólis. A política era caracterizada por um aspecto
2
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2013. p. 33.
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Entre Gentil Bittencourt e Nazaré.
aristocrático. Portanto, se faz necessário compreender a
estrutura social ateniense, uma vez que a posição de um
indivíduo dentro da sociedade era determinada por suas
condições materiais e a sua linhagem familiar. Sendo assim,
posse e nascimento definiam, juntas, o papel social dos
sujeitos.
A disparidade entre os grupos sociais criou um
processo de crise ou tensão social, lida na época pela
documentação como stásis. Atenas passava por uma série de
problemas que acabou culminando em embates entre o grupo
restrito dos eupátridas com a demos (povo). Evidências
indicam que nesta cidade-estado a distribuição da terra era
irregular. Soma-se a isto o problema da escravidão por dívida
que submetia os atenienses a escravidão. Tais grupos
quando eram submetidos a dívida vivenciavam uma prática
comum: existiam marcos chamados de horoi que ao serem
remarcados simbolizavam o domínio sobre esta parcela da
população ateniense. Assim, quando os mesmos eram
remarcados, este ato representavam o aumento da dívida que
fora contraída. Ainda mais, esta tensão social esteve
intimamente ligada ao controle que os aristocratas mantinham
sobre as questões jurídicas, ou seja, os eupátridas acabavam
monopolizando as decisões jurídicas que, neste contexto,
eram pautadas na oralidade. Desse modo, podemos afirmar
que a contenção das lutas sociais exigiu a entrada de
legisladores no cenário político ateniense.
Os eupátridas ao concentrarem em suas mãos as
grandes propriedades férteis provocaram um processo de
expansão populacional ou colonização. Nesse contexto, os
geomores se viram diante de dívidas que não poderiam ser
saldadas com os grandes proprietários. A consequência
social deste processo é a mobilidade social, pois estes
pequenos proprietários acabaram sendo submetidos a
condição de escravos por dívidas.
Além disso, o aumento populacional levou ao
desenvolvimento de novas atividades e ao fortalecimento da
atividade comercial. Os mercadores começaram a ganhar
extrema importância dado ao seu enriquecimento. Ainda
assim, os eupátridas mantinham o monopólio do poder
político. Acredita-se que estas camadas acabaram fazendo
parte do exército hoplita - braço armado da pólis. Isto os fez
promoverem pressões sobre a aristocracia que se viu diante
da possibilidade de uma “guerra civil”.
Por volta de 630 a.C. Cílon, com ajuda de familiares,
tentou dar um golpe sobre Atenas e estabelecer a Tirania,
mas acabou sendo reprimido pelos eupátridas que estavam
no poder. Ele e seus seguidores se viram obrigados a
rendição.
Drácon
A situação em Atenas permanecia tensa, pois a
massa populacional exigia o fim da escravidão por dívidas e
a redistribuição das terras. A aristocracia eupátrida, sentindo
as pressões sociais teve que ceder e lançou a figura de
arcontes legisladores para reverter a possibilidade de guerra
civil. Por volta de 620 a.C. deram ao arconte Drácon o poder
de redigir as leis atenienses, mancando o fim do direito
consuetudinário. Tratava-se de um código de leis que rompia
com as tradições orais, dando às massas a possibilidade de
questionar qualquer decisão de caráter judicial. Todavia, o
monopólio do poder ainda continuava nas mãos eupátridas e
tinha um caráter extremamente repressivo, visto que
estipulava pena capital para quase todos os crimes definidos.
A população ainda não se sentia satisfeita e a
possibilidade de revolta ou movimento social era eminente. A
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situação social e econômica de Atenas era complicada.
Muitos camponeses tornavam-se arrendatários, pagando
parte da colheita como aluguel da terra. Não ocorrendo o
pagamento deste aluguel, estes, com sua mulher e filhos,
eram vendidos como escravos e trabalhavam nesta condição
para seus credores. Aristóteles aponta que a multidão, diante
3
deste quadro, entrou em conflito com os aristocratas .
Sólon
Atenas começou a reviver e eminência de choques
violentos entre as camadas sociais. A aristocracia, em
contrapartida, sabia que precisava tomar medidas para
reverter as insatisfações e, ao mesmo tempo, se manter no
comando do poder político.
Em 594 a.C., foi escolhido para ser o mediador desta
situação o arconte Sólon. Ele era descendente de família
aristocrática arruinada, mas próspera através do comércio,
sendo um poeta e político ateniense; escolhido arconte para
resolver graves crises, elaborou leis que praticamente
substituíram as de Drácon.
Ao que parece, Sólon procurou se alinhar as classes
menos favorecidas, porque sua pretensão era conter uma
possível mobilização violenta, o que levaria ao
enfraquecimento de Atenas diante de outras cidades-estado.
Sua atitude converge para a resolução destes
problemas. A lei Seisachteia foi uma das medidas mais
importantes, porque eliminou os débitos e abolia a escravidão
por dívidas entre aqueles que pertenciam a linhagens
atenienses.
Outra reforma de grande impacto político edificada
por Sólon foi a divisão social pelo critério censitário. Esse
modelo dividia os indivíduos de acordo com seus rendimentos
anuais em ordem decrescente: pentacosimedinos, hipeis,
zeugitas e tetes.
As reformas de Sólon deram conta de modo limitado
as lutas sociais, pois restringiu ao primeiro grupo o acesso ao
Arcontado criando, assim, uma plutocracia. Um conselho
chamado Bulé tinha como função a guarda das leis. Por
conseguinte, os demais poderiam ocupar a chamada Eclésia,
uma assembleia popular.
As tensões, com estas medidas, foram amenizadas,
mas não por muito tempo. Neste contexto, formaram-se
vários grupos com interesses distintos na política ateniense:
as camadas aristocráticas reagiram às reformas de Sólon,
pois se tratavam de medidas que quebravam com o
monopólio eupátrida. Logo, houve apoio para figuras políticas
“oportunistas” no cenário político ateniense. Em 541 a.C.,
assumia o poder em Atenas o tirano Pisístrato. Suas ações
foram construídas para desarmar a população, excluir e
executar aristocratas opositores e dividir as suas terras aos
camponeses livres.
Tirania
Os gregos costumavam chamar de tiranos (senhor
ou rei) a alguém que assumia a condição de Basileu. Essa
figura tirânica se estabeleceu em Atenas por volta de 541 a.C.
O próprio Tucídides - contemporâneo grego – esclarecia que
“à proporção que a Hélade se ia tornando mais forte e adquiria
riquezas ainda maiores que antes, simultaneamente com a
coleta de tributos começavam a estabelecer-se os tiranos em
muitas cidades”.
Em termos jurídicos, o tirano não possuía uma base
legal para se estabelecer no poder, devido sua entrada ser
3 4
ARISTÓTELES, Constituição de Atenas, II.
Tv. 14 de Março, 2007
Entre Gentil Bittencourt e Nazaré.
provocada pelo golpe em momentos de crise social. Assim,
Pisístrato procurou se estabelecer no poder e conter qualquer
possibilidade de revolta.
Ele tinha sua origem nos ramos mais ricos da
sociedade. Desembarcou em Maratona, em 541 a.C., e
procurou retornar para Atenas sua terra de nascimento. Na
sua empreitada de aliança com comerciantes paralianos,
desposou a filha de Mégacles – líder da Parália. Isto o levou
a construir uma grande frota de guerra e comércio,
intensificando as relações externas. Tratava-se do
fortalecimento das bases para a construção do poderio
marítimo em Atenas.
As suas medidas tinham o objetivo de conter a
massa populacional e assim foi que se sentiu agraciada pelas
suas ações, tais quais: confisco e redistribuição de terras dos
nobres, redução de impostos, distribuição de créditos aos
pequenos agricultores, promoção de obras públicas, incentivo
as festividades, nomeação de juízes itinerantes.
Após a sua morte, o filho de Pisístrato, Hípias não
conseguiu levar adiante o regime de tirania. Foi nesse
contexto de fragilidade política que aristocratas exilados em
Esparta resolveram retornar e retomar o poder político.
Dentre estas figuras estava Clístenes que percebeu a
necessidade de imprimir sobre Atenas reformas mais
profundas.
5. CIDADANIA DEMOCRÁTICA ATENIENSE
Por volta de 508 a.C. Clístenes seria um político de
destaque em Atenas e seria responsável por medidas que
levaram à implantação da democracia. Dentre suas ações
reformistas dividiu os cidadãos em dez tribos e 160 divisões
administrativas, criou uma nova magistratura formada por dez
estrategos ou generais eleitos por um ano e reeleitos
indefinidamente, expandiu para 500 o número de membros
da Bulé, sendo que suas atribuições estavam ligadas ao
controle das magistraturas e a preparação de projetos e
resoluções que seriam submetidos à assembleia popular.
Contudo, foi a abertura da Eclésia, assembleia
popular ateniense, à participação de todos os homens livres
adultos e maiores de idade, a mais importante reforma
instituída por Clístenes, uma vez que abriu caminho para três
elementos basilares da democracia ateniense: isonomia
(igualdade dos cidadãos perante à lei), isegoria (igualdade
entre os cidadãos no direito de expressão da palavra e do
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voto) e isocracia (igualdade no acesso à funções públicas).
Posteriormente, a democracia caminharia e teria
como instrumento o ostracismo que consistia na cassação
dos direitos políticos de um indivíduo e sua aplicação era
formada por uma assembleia com um quórum de cerca de
seis mil cidadãos que votavam de modo secreto.
Em caso de cassação dos direitos políticos, o sujeito
era considerado perigosos e subversivo. O condenado
poderia receber rendas provenientes de seus bens. Depois
de dez anos, por decisão popular, este poderia retornar e
recuperar os plenos direitos políticos.
Entre 460 a.C. e 429 a.C., Péricles dirigiu a vida
política ateniense como um estratego influente. A partir de
então, filhos de pai e mãe atenienses poderiam ser cidadãos.
Além do mais, foi criada a chamada mistoforia ou retribuição
monetária ao exercício de cargos políticos e aos marinheiros
atenienses. Tal medida foi fundamental para a incorporação
dos cidadãos mais empobrecidos nas discussões políticas da
cidade-estado. Nesta mesma época Péricles articulou a
Exceto a função de estratego que exigia qualificações militares e era instituída por voto, às
demais funções públicas passaram, com as reformas democráticas, a serem ocupadas a
partir de sorteios.
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criação da chamada Liga de Delos que financiava estas e
outras despesas estatais.
As reformas de Péricles transformaram a Eclésia no
centro das decisões políticas nesta cidade. Isto por conta
desta instituição política ser responsável pelas funções
legislativas, executivas e judiciárias. Também é oportuno
mencionar as atribuições referente as eleições. A única
limitação nesta instituição era a votação de projetos de lei que
foram encaminhados pela Bulé.
Ostracas contendo nomes de cidadãos ostracisados. Disponível em:
https://klio.uoregon.edu/im/gr/ath/. Acesso em: 17 jan. 2020.
O fundamento do regime democrático é a liberdade,
(realmente, costuma-se dizer que somente neste regime
participa-se da liberdade, pois este é, segundo se afirma, o
fim de toda democracia). Uma característica da liberdade é
ser governado e governar por turno; com efeito, consistindo a
justiça democrática em ter todos o mesmo, numericamente e
não segundo o merecimento, forçosamente tem que ser
soberana a multidão e aquilo que é aprovado pela maioria tem
que ser o justo. [...] Outra é viver como se quer; pois dizem
que isto é resultado da liberdade, já que é próprio do escravo
viver como não quer.
Sendo estes os fundamentos e os princípios da
democracia são procedimentos democráticos os seguintes:
que todas as magistraturas sejam eleitas entre todos; que
todos mandem sobre cada um e cada um, por sua vez sobre
todos [...]; que não se baseie em nenhuma propriedade ou na
menor possível [...]; que todas as magistraturas (ou quase)
sejam de curta duração [...].
ARISTÓTELES. Política. Tradução: Torrieri Guimarães.
São Paulo: Hermus, s/d p. 216-217.
EXERCÍCIOS
01. (FGV) Os legisladores tiveram importância fundamental
para apaziguar a crise social que se abateu sobre Atenas.
Sólon, o segundo legislador, realizou, em 594 a.C., várias
mudanças quanto ao critério de participação no poder. Entre
elas podemos destacar:
a) a transformação dos costumes e tradições (transmitidas
oralmente) em leis escritas;
b) a divisão da cidade em trinta grupos de demos;
c) a reserva dos direitos políticos para aqueles que tinham a
capacidade de se armar como hoplitas;
d) o fim do monopólio de poder político dos eupátridas;
e) a criação do Conselho do Areópago para ser o guardião
das leis.
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Entre Gentil Bittencourt e Nazaré.
02. (UFPA) Sólon, legislador ateniense, iniciou uma reforma
que mediou as lutas sociais, entre os ricos e os pobres, que
eclodiram na Ática, na virada do século VI. Entre as medidas
desse reforma, está a abolição da servidão por dívidas no
campo, o que significou o fim do
a) privilégio da nobreza, que monopolizava os cargos políticos e
controlava a produção do campo e a sua força de trabalho,
no caso, os escravos.
b) mecanismo pelo qual os pequenos camponeses caiam nas
mãos dos grandes proprietários fundiários e se tornavam
seus cultivadores dependentes.
c) conflito entre cidadãos e plebeus, que culminou com o
aumento da produção de cereais, tornando o campo uma
potência nas relações comerciais atenienses.
d) regime servil, fato que transformou a Ática no maior exemplo
de democracia, na qual todos os habitantes da região eram
considerados cidadãos.
e) crescimento das propriedades dos nobres e o alargamento
das conquistas sociais, o que resultou numa reforma agrária
ampla, geral e irrestrita.
03. (UNCISAL)
Apesar de considerarmos a Grécia Antiga o seu berço
não se pode ainda falar em democracia, porquanto esta é
caracterizada não pelo governo das leis, mas pela participação
do povo no governo, o que ainda estava longe de ser verificado
naquele estágio.
KIBRIT, Orly. O ideal de Sólon e a democracia na Grécia Antiga. Revista SJRJ, Rio de
Janeiro, v. 19, n. 33, p. 143-148. abr. 2012 (adaptado).
A crítica à democracia grega se refere ao fato de que
a) apenas uma parcela da população tinha de fato direito à
participação democrática.
b) a participação popular nas decisões era facultativa e limitada
às votações para escolha do rei.
c) os políticos davam pouca atenção aos problemas das classes
mais pobres da sociedade.
d) os direitos eram assegurados a todos os nascidos em
território grego e não aos estrangeiros.
e) todos os habitantes da polis eram obrigados a dedicar alguns
dias do ano aos debates políticos.
04. (MACKENZIE)
Consta que a concubina de Péricles, Aspásia, ajudou-
o a escrever seus discursos. E a todos surpreendia ver o grande
estadista a cada manhã, ao sair de casa, despedir-se de Aspásia
com beijos.
A elevação do espírito: 600 a.C.- 400 a.C. Rio de Janeiro, 1998.
O texto acima, referindo-se ao grande líder da cidade-estado de
Atenas, Péricles, retrata as contradições sociais existentes, não
apenas em Atenas, mas em toda a Grécia. Sobre a sociedade
grega da época, podemos afirmar que
a) As condições sociais eram idênticas tanto nas cidades-
estados que evoluíram para regimes democráticos, como
Atenas, por exemplo, quanto nas poleis oligárquicas, como
Esparta.
b) Em toda a Grécia, a sociedade era predominantemente
masculina, mas em disputas sucessórias familiares, em
alguns casos, o poder era exercido pelas mulheres.
c) A democracia, instituída pelas reformas de Clístenes, era um
sistema político que atendia aos interesses de apenas uma
minoria da população, estando excluídos os estrangeiros, os
escravos e as mulheres.
d) Em Atenas, as mulheres provenientes de ricas famílias
possuíam maior autonomia, pois eram consultadas e
participavam efetivamente das decisões políticas e assuntos
relacionados ao destino da polis.
e) A estabilidade social, advinda das reformas introduzidas por
Clístenes, não foi acompanhada por estabilidade econômica,
já que foi a partir da conquista da democracia que os gregos
iniciaram seus conflitos com os persas.
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05. Para o autor, a reivindicação atendida na Grécia antiga, ainda
Nossa constituição política não segue as leis de vigente no mundo contemporâneo, buscava garantir o
outras cidades, antes lhes serve de exemplo. Nosso governo seguinte princípio:
se chama democracia, porque a administração serve aos a) Isonomia — igualdade de tratamento aos cidadãos.
interesses da maioria e não de uma minoria. De acordo com b) Transparência — acesso às informações governamentais.
as nossas leis somos todos iguais no que se refere aos c) Tripartição — separação entre os poderes políticos
negócios privados. Quanto à participação na vida pública, estatais.
porém, cada qual obtém a consideração de acordo com seus d) Equiparação — igualdade de gênero na participação
méritos e mais importante é o valor pessoal que a classe a política.
que se pertence; isso quer dizer que ninguém sente o e) Elegibilidade — permissão para candidatura aos cargos
obstáculo de sua pobreza ou condição social inferior quando públicos.
seu valor o capacite a prestar serviços à cidade. Por essas
08. (ENEM)
razões e muito mais, nossa cidade é digna de admiração.
In: AQUINO, Rubim dos Santos Leão de et. al. História das sociedades. Durante a realeza, e nos primeiros anos
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980. p. 201. republicanos, as leis eram transmitidas oralmente de uma
O discurso acima atribuído ao democrata ateniense Péricles geração para outra. A ausência de uma legislação escrita
sugere que no contexto histórico do desenvolvimento da permitia aos patrícios manipular a justiça conforme seus
democracia ateniense interesses. Em 451 a.C., porém, os plebeus conseguiram
a) os escravos possuíam direitos de participar da vida eleger uma comissão de dez pessoas — os decênviros —
política porque faziam parte dos negócios privados. para escrever as leis. Dois deles viajaram a Atenas, na
b) uma ampliação do direito à cidadania se deu mais por Grécia, para estudar a legislação de Sólon.
COULANGES, F. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000
atributos individuais do que em função das condições
materiais. A superação da tradição jurídica oral no mundo antigo,
c) o grupo social dominante poderia intervir nos negócios descrita no texto, esteve relacionada à
privados e atuar na organização da vida pública. a) adoção do sufrágio universal masculino.
d) as camadas mais pobres não tinham o direito ao voto, pois b) extensão da cidadania aos homens livres.
eram excluídas da vida pública e da vida privada. c) afirmação de instituições democráticas.
e) o governo da maioria é fundamental para a eliminação da d) implantação de direitos sociais.
pobreza e da luta das classes sociais. e) tripartição dos poderes políticos.
06. (ENEM) 09.
Segundo Aristóteles, "na cidade com o melhor De todas as cidades é provavelmente a pólis,
conjunto de normas e naquela dotada de homens cidade-estado grega, a que mais claramente expressa a
absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida dimensão política do urbano. No entanto, se perguntássemos
de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são a um grego da época clássica o que era a pólis,
desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, provavelmente esta não seria sua definição: para ele a pólis
tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, não designava um lugar geográfico, mas uma prática política
pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das exercida pela comunidade de seus cidadãos. Se no caso da
qualidades morais e à prática das atividades políticas". polis o conceito de cidade não se referia à dimensão espacial
VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994. da cidade e sim à sua dimensão política, o conceito de
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite cidadão não se refere ao morador da cidade, mas ao
compreender que a cidadania indivíduo que, por direito, pode participar da vida política.
ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1988. Coleção Primeiros Passos
a) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, 203.
pois é condenável que os políticos de qualquer época
No sentido contemporâneo do termo, sobretudo com
fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos
implicações de unidade política, a palavra nação não pode ser
cidadãos tem de trabalhar.
aplicada à Grécia Antiga. Levando em consideração a
b) era entendida como uma dignidade própria dos grupos
definição de pólis expressa no texto de Raquel Rolnik,
sociais superiores, fruto de uma concepção política
conclui-se que na Grécia Antiga
profundamente hierarquizada da sociedade.
a) os padrões culturais eram diferenciados nas diferentes
c) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção
cidades-estado.
política democrática, que levava todos os habitantes da
b) as cidades tinham vínculos políticos, jurídicos e
pólis a participarem da vida cívica.
administrativos.
d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o
c) a definição de povo não se confunde com o conceito de
tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às
população.
atividades vinculadas aos tribunais.
d) a identidade do cidadão pressupunha a moradia fixa no
e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que
espaço urbano.
se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver
e) o direito a cidadania está desvinculado do espaço, sendo
os problemas da cidade.
estendido aos não-gregos.
07. (ENEM)
Compreende-se assim o alcance de uma
reivindicação que surge desde o nascimento da cidade na
Grécia antiga: a redação das leis. Ao escrevê-las, não se faz GABARITO
mais que assegurar-lhes permanência e fixidez. As leis
tornam-se bem comum, regra geral, suscetível de ser 01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09.
aplicada a todos da mesma maneira. D B A C B B A B C
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992 (adaptado).

Tv. 14 de Março, 2007

Entre Gentil Bittencourt e Nazaré.
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