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1.INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3
Conclusão ....................................................................................................................... 11
Bibliografias ................................................................................................................... 12
Moçambique é um país lusófono e tem uma diversidade linguística composta por mais
de vinte Línguas Bantu que concorrem com o português como língua oficial. Há desvio
à norma-padrão causado pelo contacto e interferência das Línguas Bantu.
Porém, falar implica seguir uma ou outra variedade linguística, cuja opção depende do
papel social representado pelo usuário da língua em cada uma de suas diversas situações
de interacção quotidiana. Entretanto, há forças interferindo decisivamente nessa escolha,
agindo em favor de uma ou outra forma de falar: as redes de interacção.
Vivemos inseridos em redes sociais. Ligamo-nos às pessoas por meio de uma rede
invisível e maleável que nos conecta a outras pessoas dos nossos círculos sociais,
profissionais e familiares. Em um trabalho de pesquisa d Doutoramento, publicado na
internet, foi investigado as relações de 24 adolescentes residentes em um distrito rural
da cidade de Londrina, no norte do Paraná, com o intuito de identificar a configuração
da fala destes indivíduos para, com isso, propor uma discussão sobre a melhor maneira
de trabalhar, na escola, com tal realidade linguística.
Utilizando a ARS – Análise de Redes Sociais como método analítico, foi possível traçar
mapas identitários de cada um desses informantes e, a partir deles, estabelecer as
conexões e o peso de cada rede para a forma de falar de cada um.
Neste trabalho, discuto os resultados, com a intenção de mostrar o importante papel das
redes sociais no contexto Moçambicano, uma vez que, conhecendo as redes por que se
desenrolam as interacções de nossos alunos, podemos não só descrever a variedade
efectivamente praticada por cada indivíduo, como também entender sua configuração.
E, entendendo sua configuração, será possível estabelecer um ensino voltado para a sua
realidade linguística.
2.1.Rede social
Blake (2003) afirmam que, ao engajarem-se em grupos, as pessoas criam uma estrutura
significativa para a resolução dos problemas que surgem em seu quotidiano. Como bem
observa Boaventura (1993, p.34), “os problemas diários mudam, assim como as
pessoas”. Embora possam relacionar-se localmente com mais intensidade, conhecendo
quase todos os membros de uma comunidade e esses, conhecendo-se também, os
indivíduos movimentam-se, engajam-se em diferentes empreendimentos e em variadas
comunidades, nas quais processos simbólicos e relações identitárias diversas têm lugar.
Há ligação entre redes e práticas sociais na variação e mudança linguística.
No prefácio à segunda edição do trabalho pioneiro de Giron (1980) sobre redes sociais e
variação linguística, “Language and Social Networks” (Língua e Redes Sociais), Peter
Trudgill observa que a proposta articula um estudo laboviano em dialetologia social a
um estudo socioantropológico e psicossocial da língua, na esteira de Gumperz.
Estudos de rede social não são método exclusivo à análise linguística. Nas Ciências
Sociais, as redes têm sido analisadas desde a década de 1970. Em Castells (1999), as
redes são representações da morfologia de organização social da sociedade
contemporânea, especialmente das redes informacionais. Trata-se de uma categoria de
pesquisa mais flexível, menos comprometida com as generalizações universais, mais
próxima à dimensão do quotidiano.
As redes sociais são ancoradas nos indivíduos. Batisti (1993) afirma que, por essa razão,
geralmente interessam as análises das redes, cujos laços estabelecem-se entre pessoas
que interagem directamente, o que limita a um número entre 20 e 50 o total de
participantes da rede analisada. Ainda, distinguem-se laços fortes dos fracos: opõem-se,
respectivamente, laços “que conectam amigos e parentes, àqueles que conectam
conhecidos” (Evans, 2004, p.550).
Estudos das Redes Sociais de interacção, termo traduzido do inglês Social Networks,
apresentam uma abordagem complementar sobre as questões da variação e da mudança
linguística, visto que as concebem como resultado da interacção entre falantes inseridos
em determinados contextos sociais e situacionais, factores essenciais que não podem ser
descartados na medição e mensuração da variação/mudança, bem como secundarizam a
importância de variáveis linguísticas e sociais descontextualizadas, favorecendo a
aproximação das análises à dimensão do quotidiano, fugindo, com isso, de
generalizações universais.
Além disso, quando aplicadas ao estudo da linguagem, servem como auxiliares para o
esclarecimento dos mecanismos sociais quotidianos favoráveis à manutenção ou
mudança da expressão linguística de indivíduos, pois visam explicar por que sujeitos
com características tão próximas, como é o caso dos alunos pesquisados neste trabalho
ou seja, mesma idade, escolaridade, estrato social e história de vida aproximados, entre
outros factores apresentam diferenças tão marcantes em sua expressão oral.
Em redes, tudo isso está relacionado, imbricado, sendo os dados dependentes uns dos
outros e a mensuração dessa imbricação pode se dar por meio de dois tipos de análise:
as sociocêntricas e as egocêntricas. Utilizo as segundas por focalizarem os efeitos da
rede sobre as atitudes individuais e comportamentos condicionantes, ou seja, por
preocupar-se com os efeitos de uma rede sobre atitudes individuais, por exemplo, como
o contexto e a estrutura social afectam as liberdades individuais e, nesse caso em
especial, como as redes afectam a configuração da fala do adolescente que reside em
Moçambique.
Como bem observa Castells (1999), contexto é um conceito teórico e, como tal, é
relacional: sua concepção e tratamento dependem de outras noções teóricas. Na linha de
investigação laboviana, contexto social não deve ser entendido do ponto de vista
fenomenológico: não emerge da interacção pela fala, não é efémero. Deve ser tomado
para além dos actos localizados.
Milroy e Milroy (1985) explicam que tanto laços fortes quanto fracos conectam
indivíduos em rede. Laços fortes tendem a se concentrar em grupos particulares e são,
frequentemente, ligações multiplexas, isto é, unem indivíduos por mais de um tipo de
relacionamento (colegas de trabalho e, também, vizinhos). Laços fracos tendem a
conectar indivíduos entre grupos. Por essa razão, são candidatos naturais à difusão da
inovação: laços fortes reforçariam o falar local; laços fracos propagariam a mudança. A
medida da força de um laço derivaria de aspectos como sua duração, intimidade,
intensidade emocional, serviços recíprocos (multiplexidade).
No estudo que fornece subsídios à presente reflexão, sobre a palatalização variável das
oclusivas alveolares, de Battisti, Dornelles Filho, Lucas e Bovo (2007), a análise da rede
social foi realizada concomitantemente a uma análise de regra variável nos moldes
labovianos. Isso quer dizer que os 48 membros da rede social analisada foram também
os 48 informantes de cujas entrevistas foram levantados os 26 600 contextos de
palatalização considerados na análise.
Na análise de Battisti, Dornelles Filho, Lucas e Bovo (2011), a rede social dos
informantes de António Prado foi técnica de ingresso dos pesquisadores na comunidade
(um membro indicou outro) e contexto de análise. Os membros da rede se conhecem e
relacionam-se, mas em graus diversos de intimidade.
Assim, a rede social dos informantes de António Prado foi analisada em ambas
dimensões, a da densidade ou estrutura (quantidade de contactos dos indivíduos: quanto
maior o número de pessoas em rede que se conhecem umas as outras, maior a densidade
da rede), e a da plexidade ou conteúdo (multiplicidade de contactos entre indivíduos:
colega de trabalho e, ao mesmo tempo, vizinho).
No entanto, nem todo laço desse tipo é igual. No ambiente de trabalho, por exemplo,
distinguem-se laços que supõem intimidade e interacção diária de laços que não
implicam tal frequência e modo de interacção. O mesmo se aplica aos laços de amizade,
de vizinhança, de colaboração em associações e aos estabelecidos entre parentes,
quando, conforme os depoimentos dos próprios entrevistados, distinguem-se parentes
próximos de parentes distantes.
A variação linguística presente nas redes sociais é um trabalho que aborda a variação
tendendo a uma mudança linguística ao ter como ponto foco de actuação uma
comunidade de fala inovadora e ousada no seu ato comunicativo pertencentes às redes
sociais “Facebook e Whatsapp”.
Aqui será traçada uma análise descritiva dos (chats) das mensagens postadas pelos
feicianos e Whatsaapeiros nas suas respectivas salas de bate papo ao se ter como
intenção a analise das possíveis inferências da escrita pertencente às redes e sua
repercussão no caso dessa linguagem “saltar” as barreiras imposta entre o virtual e o
real.
A análise que fiz mostrou, como já destacado, o quanto as redes de interacção social
determinam a configuração linguística de meus informantes, de origem rural, e, não
obstante isso, agem como principal organizador da aproximação ou do afastamento do
falar rural.
Em vários momentos, alguns alunos mais ousados chegaram a questionar para mim “a
fala errada” da professora tal. Questionavam e duvidavam de sua capacidade, portanto,
não a respeitavam.
Diante disso, se faz primordial uma análise do acesso a eventos e práticas de letramento
propiciadas por agências hegemónicas e, portanto, de prestígio a que são submetidos os
informantes aqui analisados, visto que, nas palavras de Giron (2004),
A concentração das relações sociais nas redes em um dado território concorre para o
desenvolvimento do sentimento de pertença, da identidade local construída através da
relativa homogeneidade de comportamento no vestir, no falar, no divertir-se, no
alimentar-se, nos valores praticados, entre outros, como assume o estudo da variação na
linha das práticas sociais.
O autor afirma que redes de maior complexidade e densidade preservam falares contra
os efeitos do nivelamento dialectal, e que os líderes da mudança são os membros da
rede com o maior número de contactos dentro e fora dela. Sobre as comunidades de
prática, esclarece que a variação é usada para evocar diferentes identidades e, na
negociação dos indivíduos por status social, as formas linguísticas adquirem valor
social, o que pode incrementar ou fazer regredir a mudança. Reconhecida a pertinência
de investigar redes e práticas sociais no estudo da variação linguística, resta aos
sociolinguistas o desafio de dar conta dessas forças associando as medidas quantitativas
da análise de regra variável (Boaventura, 1996) a outras técnicas de investigação,
assentadas em claros fundamentos teóricos.