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87-166),
de Jorge Coutinho,
Lisboa: Universidade Católica Editora, 2003
1. Acepções da Verdade
2. Tipos de Verdade
A verdade é uma só realidade, no entanto, mediante as perspectivas que o
homem vai criando para melhor debruçar-se mediante a mesma acabamos então
tendo aqui três formas de como designarmos esta questão. Desta forma, analisemos
então os três tipos de verdades que aqui passamos a desenvolver para melhor
apresentarmos um modelo de verdade que possa abarcar esta questão como um
todo.
2.1 Na tradição do pensamento ocidental, de raízes essencialmente gregas,
a ideia de verdade é, originariamente, a de uma verdade ontológica. Por verdade
ontológica entendemos aqui – em geral e, em parte, provisoriamente – a verdade
enquanto que está do lado do ser e/ou dos entes.
Neste diapasão, mergulhemos então numa analise daquilo que é a verdade
mediante algumas concepções do pensamento ocidental tendo em conta alguma
das suas correntes e autores:
Na primitiva poesia grega, é onde se enconta a pré-história da
verdade ontológica dos tempos arcaicos, ligada a expressão
mitológica. Lembrando que tal verdade desdobra-se mediante uma
abordagem poética e religiosa.
Na tradição hebraica ou bíblica, a verdade advém ao homem do
lado de Deus, como desvelamento ou revelação do seu mistério e dos
seus desígnos acerca do mesmo homem. Sendo que, no Novo
Testamento a verdade originária é mesmo identificada com a
realidade de Deus enquanto seu Verbo ou Palavra (Lógos).
Em Platão, vê-se como uma progeção oriunda do hiperurânio (o
mundo perfeito, imutavel e eterno) ao ser projectada no mundo de
aparências (o nosso, sendo imperfeito, mutavel e temporal) pelo
Deniurgo (um organizador do nosso mundo) como sendo a essência
das coisas, e esta como sendo o seu ser ideal. Conquanto, tal questão
é bem retratada quando Platão nos apresenta o “Mito da Caverna”.
Em Santo Agostinho, a ideia de verdade é situada na própria
essência de Deus como sendo ai a habitação da verdade. Deus é a
própria verdade e todas as criaturas são apenas participações desta
verdade primaria, e como ele diz “Todo o verdadeiro é verdadeiro
pela Verdade”.
Na tradição Escolástica, é onde se deu primeiramente o uso da
expressão «verdade ontológica», sendo que com ela queria-se
justamente exprimir a verdade que está nos entes, antes de estar na
mente humana. Esta vertente tomada como verdade ontológica
enquanto algo que se firma na natural abertura do ser à inteligência, é
considerado como estando nos entes reais deste mundo.
Em Heidegger, a verdade ontológica é a verdade do ser (tomado
como a manifestação do ente), apresentando-nos também a verdade
ôntica como referente ao ente. A verdade originária é a verdade
ontológica em solidariedade com a verdade ôntica.
3.1 A verdade em si, ela é a verdade do que as coisas são ou dita como
verdade ontológica enquanto palavra (lógos) que as coisas têm para dizerem.
Como tal, ela é o próprio ser das coisas, passível de ser desvelada na nossa
experiência do mundo (verdade para nós) ou de ser afirmada por nós no juízo
(verdade em nós). Porquanto, a presente verdade têm as seguintes características:
absoluta e necessária; imutável e transtemporal; universal e transespacial;
indivisível.
Elencada as característica acima, existe uma outra fundamental que é a
impositividade da verdade. Esta é a caracteristica que Nietzsche muito criticou pelo
facto de que historicamente esta característica foi tomada num patamar de
endeusamento e não dum modo problemático assim como ela deve ser tomada para
não se revelar uma autentica violência tal como aludem os adeptos de Nietzsche.
3.2 A verdade para nós, é o aceder a verdade ao ponto de a possuir pelo
conhecimento, contanto que ela é também designada como verdade-acontecimento
ao ser tomada como o acontecimento da verdade.
Nesta vertente entramos numa contra-balança entre o cepticismo e o
dogmatismo ao sermos levado a mergulharmos profundamente na questão
hermenêutica, isto porque estamos, sobre tudo, numa variante da verdade que é
puramente hermenêutica. Com base em tal questão, entramos numa certa
relatividade e na inevitável finitude do nosso conhecimento. Somos seres finitos no
horizonte de uma verdade que em si nos transcende infinitamente. Só conhecemos
parcela da verdade, jamais a possuímos em sua inteireza.
3.3 A verdade em nós, esta é mais uma contra-posição entre o cepticismo
e o dogmatismo ao levantar-nos a termos em conta a problemática da certeza como
um requesito de verdade, como um saber consistente e seguro afim de podermos
tê-lo como aceitável.
Na actualidade, nos meios filosóficos, parece dominar a tese fundamental da
filosofia hermenêutica, de que só temos acesso a uma verdade para nós. No
entanto, continua a haver defensores da possibilidade de termos a verdade em nós,
e de a termos com a perfeição de posse, isto é, como segurança enquanto certeza.
Em sintese, saber com certeza implica ter uma direção do conhecimento para
dentro do sujeito, para obter o próprio conhecimento, ou seja, é saber que esse
conhecimento é mesmo verdadeiro.