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ANÁLISE CRÍTICA DO DEC-LEI Nº 3/2008 - NOVA LEGISLAÇÃO

SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL

Relativamente ao anterior, o Actual Dec-Lei contém as seguintes novidades:

• Reduz de 9 para 6 as medidas educativas para alunos com NEE. Esta


redução é positiva, na medida em que pode diminuir os índices de
formalização, mais ou menos burocrática e sem qualquer vantagem
prática para a qualidade da educação, que estavam a ser promovidos na
aplicação do Dec-Lei nº 319/91.
• Alarga a aplicação obrigatória da legislação sobre educação especial às
escolas de ensino particular e cooperativo. Num momento histórico, em
que o Ministério da Educação, em linha com algumas das suas
estruturas mais desejosas de protagonismo, decidiu impedir a
cooperação das escolas públicas com as escolas particulares,
nomeadamente ao nível da partilha de docentes de educação especial,
e não sendo definido o sistema de financiamento que legitime essa
obrigatoriedade, esta disposição legal é um logro. A educação especial
custa dinheiro: numa escola particular ou cooperativa, será a entidade
proprietária a pagar os respectivos custos acrescidos? Serão os pais de
todos os alunos? Serão só os pais dos alunos com NEE? Será o
Ministério da Educação? Sem esta definição, essa obrigatoriedade não é
mais do que a reafirmação de que "quem manda aqui sou eu, a
ministra", mesmo que não saiba o que isso quer dizer.
• Especifica a obrigatoriedade de elaboração de Programas de Transição.
O anterior Dec-Lei permitia a elaboração deste tipo de programas, mas
não impunha a sua obrigatoriedade.
• Determina a constituição de Unidades Especializadas (escolas de
referência, para simplificar). As Unidades Especializadas já existiam
antes, com o Dec-Lei nº 319/91, só que agora também passam a ser
obrigatórias. Não se pode dizer que esta inovação é uma melhoria. Na
verdade, pode ser qualquer coisa: para melhor ou para pior.
• Clarifica melhor a participação dos pais e encarregados de educação,
em linha com a legislação geral sobre a participação dos pais na vida da
escola.
• Reduz o conceito de NEE ao conceito de Necessidades de Apoio
Educativo Especializado. Esta redução, para além de ser simplesmente
errada - os conceitos não são aquilo que cada um queira fazer deles, por
mais ministro que se seja ou arrogância que se possua -, não tem
interesse nenhum, a não ser o de provocar inibições no percurso
evolutivo para a educação inclusiva. O conceito de NEE já é inibidor; a
sua redução só tem efeitos amplificadores dessa inibição.

Em resumo, para promover estas inovações não seria necessário que os


técnicos e os políticos se dessem ao trabalho de produzir um novo Dec-Lei: na
verdade, a maior parte dessa novidades já estava em prática, incluindo a
redução do conceito de NEE, sem este novo Dec-Lei.

O Dec-Lei nº 3/2008 acaba por ter o objectivo não declarado, consciente ou


inconsciente (para o caso não interessa), de consolidar as práticas mais
retrógradas, embora formalmente refinadas, suportadas pelo Dec-Lei nº
319/91. Deveria ser um passo em frente e não é. Pode mesmo dizer-se que é
um passo atrás. A distinção entre o que é um passo atrás e o que é consolidar
parte do que já se faz é mínima: quando não há evolução, há sempre atraso.

Vejamos, em todo o caso, em que é que este Dec-Lei nº 3/2008 é inadequado


às necessidades do nosso tempo:

• Caracteriza-se a si mesmo como tendo objectivos de inclusão, mas


destina-se exclusivamente a uma população com características muito
específicas: na verdade, ao separar, nos Projectos Educativos das
Escolas, o apoio educativo especializado de outras modalidades de
apoio para todos os alunos, este Dec-Lei não está sequer a caminhar no
sentido de, a prazo, promover a educação inclusiva; pelo contrário, está
a criar e a consolidar dispositivos contrários à inclusão. O mais grave é
que não se percebe a razão de semelhante coisa. Compreende-se a
confusão que o conceito de NEE estava a produzir na prática: o aluno
tinha necessidades especiais, logo precisava de apoio especializado.
Este erro grave, diga-se, não se resolve procurando melhorar a sua
prática: um erro refinado e muito bem fundamentado é não só um
erro, mas também um insulto à inteligência básica de qualquer um.
O actual Dec-Lei, ao estabelecer que vamos agora finalmente conseguir
distinguir os alunos com NEE, que precisam de apoio especializado, dos
outros, limita-se a redefinir as regras do jogo que já existiam nas
escolas. Acredita que agora é que vai ser, porque, certamente, antes era
por má vontade que essa distinção não era feita. Disparate, completo
disparate. O problema sempre foi, é e, pelos vistos, continuará a ser, o
de a grande maioria dos alunos com dificuldades escolares não ter
acesso a uma educação de qualidade e a todos os apoios de que
necessita, a não ser que alguém se atravesse (médico de preferência,
para evitar chatices) a dizer que precisa de apoio especializado. Nos
tempos actuais, um Dec-Lei sobre qualquer tipo de apoio que nem
sequer equacione este problema só pode ser uma brincadeira de mau
gosto. A única forma de garantir o apoio especializado àqueles
alunos que necessitam dele, na sequência de uma avaliação
correcta, é a de promover uma educação de qualidade, com todos
os apoios necessários, para todos os alunos. O sistema de apoio
em cada escola deve ser único e deve conter os recursos
adequados, incluindo os recursos especializados. É isto que este
Dec-Lei não quer fazer e, neste aspecto, constitui um retrocesso
relativamente ao Dec-Lei nº 319/91.
• Consequentemente, o Dec-Lei nº 3/2008 estabelece medidas de apoio
educativo especializado que, só mesmo quem seja cego não vê que são
medidas que não requerem qualquer tipo de especialização. Veja-se o
apoio personalizado e as adequações curriculares individuais. Claro
que o legislador previne, no primeiro caso, a conveniência de algum do
apoio personalizado ser prestado por docentes não especializados. Por
que razão, então, vamos distinguir os alunos que precisam de apoio
personalizado ao abrigo deste Dec-Lei, daqueles que precisam do
mesmo tipo de apoio ao abrigo de coisíssima nenhuma? Este problema,
já conhecido, não é resolvido. E, no entanto, há indicações claras,
debates amplamente participados, etc. que nos dizem como podemos
proceder para superar estes e outros dilemas.

Esta análise está longe de ser completa. Mas, entendamo-nos, neste momento
só quero esclarecer que, do meu ponto de vista, este Dec-Lei é uma profunda
desilusão, porque não promove qualquer mudança para melhor na Educação.
De facto, vale muito menos do que o que veio substituir.

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