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Será a capacidade de criar um dom inato? Se for, e você não o tiver, está condenado a
morrer assim? Se você acredita nisso, prepare-se para mudar de paradigma!
Para saber se alguém é criativo, precisamos antes ter clareza sobre o que é criatividade.
Veja algumas definições, coletadas em livros diversos:
• Capacidade de elaborar teorias científicas, inventar instrumentos e/ou aparelhos, ou
produzir obras de arte;
• A capacidade de produzir coisas novas e valiosas;
• A capacidade de desestruturar a realidade e reestruturá-la de outras maneiras;
• O ato de unir duas coisas que nunca haviam estado unidas e tirar daí uma terceira
coisa;
• Uma técnica de resolver problemas;
• Uma capacidade inata que é bloqueada por influências culturais e ambientais.
Aqui adotamos uma definição diferente e subjetiva de criatividade: uma pessoa cria
quando concebe em sua mente algo que nunca viu, ouviu ou sentiu antes. Essa definição
ignora o fato de a criação ser útil ou não para algum propósito ou para resolver algum
problema. Mas é importante distinguir esses dois tipos de criatividade; ao primeiro
chamamos criatividade pura, e ao segundo, criatividade aplicada.
A criatividade pura é um ato mental, que consiste em última análise da capacidade de
combinar sons e imagens de forma subjetivamente nova, independentemente de qualquer
conexão lógica com o mundo exterior. Essa definição de criatividade desloca os aspectos
novidade e originalidade, beleza, utilidade, veracidade, viabilidade e implementação para um
segundo momento; criar é um ato pessoal e subjetivo, a criatividade pura vem antes da
aplicada. Criações não têm necessariamente que servir para alguma coisa, como solucionar
um problema, dar retorno financeiro, serem maravilhosas e belas, nada disso.
Assim, se você imagina sua cabeça fora do corpo, e o faz de uma forma que nunca fez
antes (não é uma lembrança), você está criando. Estará também criando nas seguintes
situações:
• Combinar letras para inventar uma palavra;
• Combinar duas ou mais imagens para formar uma nova (imagine um jacaré comendo
um tomate);
• Segmentar uma imagem em formas novas ou de uma forma nova (imagine um
triângulo azul e separe-o em lados e interior);
• Distorcer uma imagem (imagine seus olhos inchando e saindo das órbitas oculares);
• Ver uma imagem sob outra perspectiva, um diferente "ângulo de câmera" (veja seus
olhos inchando de frente e depois de lado);
• Combinar algumas notas musicais para formar uma melodia nunca antes ouvida;
• Combinar palavras para formar uma nova frase.
• Imaginar a si mesmo executando comportamentos novos.
Já a criatividade aplicada consiste tipicamente em elaborar operações que conduzem de
uma situação a outra, seja de uma situação-problema para uma solução ou, mais
genericamente, elaborar comportamentos que modificam uma situação percebida para uma
desejada. A criatividade aplicada em geral está associada à observação de regras, padrões e
limites, como:
• construir frases com significado e estrutura (sintaxe);
• construir melodias harmônicas e rítmicas;
• observar preferências pessoais (gostos, combinações).
• observar valores éticos e morais;
• seguir estilos (no caso de imagens, impressionista, realista);
• usar recursos disponíveis.
A criatividade aplicada tipicamente é treinável; veja por exemplo uma estratégia geral
para gerar idéias diferentes na matéria (A técnica do estímulo aleatório).
Podemos concluir que, uma vez que todos nós, humanos, temos a capacidade de
processar imagens e sons de formas variadas na mente, todos nós temos a capacidade da
criatividade pura. Você é criativo por definição, por construção. E quanto às criatividades
aplicadas, temos aquelas para as quais nos preparamos, em termos de conhecimentos e
habilidades. Um exemplo de criatividade aplicada muito desenvolvida na nossa cultura é a
lingüística; todos praticamos desde criancinhas a combinação de palavras, usando regras,
para atingir objetivos do tipo comunicar idéias e influenciar pessoas para conseguir o que
queremos.
Sendo potencialmente criativos, talvez as únicas coisas que nos impeçam de criar mais
sejam não acreditar nessa possibilidade ou simplesmente não ter um motivo para fazer isso.
Ou desejo.
Johnny e as moedas
Muito esperto, ele
Os amigos de Johnny, um garoto australiano de cinco anos, lhe oferecem uma escolha entre duas
moedas, uma maior, de $1, e outra menor, de $2, dizendo que ele pode ficar com uma delas. Ele
escolhe a moeda maior, de $1. Seus amigos consideram-no estúpido por não saber que a moeda
menor vale o dobro. Sempre que querem que ele passe por bobo, os amigos lhe oferecem a mesma
escolha e Johnny sempre apanha a moeda de $1, parecendo que nunca aprende.
Um dia, um adulto que observou a transação chama Johnny de lado e lhe diz que moeda menor na
verdade vale mais que a maior – embora possa parecer o contrário.
Johnny escuta educadamente e diz: "Sim, eu sei disso. Mas quantas vezes você acha que eles iriam
me oferecer moedas, se eu tivesse escolhido a moeda de $2 na primeira vez?"
Edward de Bono
O segundo ganso
Como a anfitriã salvou o jantar
No jantar de uma grande festa, a empregada entra carregando o ganso assado em uma
travessa. Ela tropeça e vai ao chão, com ganso e tudo. A anfitriã tem que pensar rápido. Que opções
ela tem para servir os convidados? Se for isso que ela está enfocando, ela pode pensar em várias:
frios, pedir comida fora, omeletes e assim por diante. Mas esta anfitriã em particular está enfocando
um conjunto diferente de alternativas: ela quer um jeito de "salvar o ganso". Ela diz para a
empregada: "Tudo bem, Matilda, jogue esse ganso fora e traga o outro."
Edward de Bono
Páginas matinais
Que tal uma drenagem mental?
Providencie um caderno. A cada manhã, você deve escrever três páginas com tudo o que lhe
vier à cabeça. Qualquer coisa! "Ah, meu Deus, que vontade de ficar na cama! Ih, tenho que levar o
carro pra consertar. Que saco, ter que trabalhar! Pensando bem, até que tem coisas boas por ali.. blá,
blá, blá...".
Sugerida por Julia Cameron no Guia Prático Para a Criatividade (Ediouro), esta prática pode
ser vista de várias formas: como uma drenagem mental, um jorro de consciência, um exercício de
liberdade interior. Ela sugere e recomenda:
• Não existe uma forma errada de se escrever as páginas.
• As páginas não precisam ser uma obra literária.
• Nada é demasiado belo, tolo, estúpido ou estranho para ser incluído.
• Não crie expectativas de que as páginas serão inteligentes (embora às vezes possam ser).
• As páginas matinais são inegociáveis: não omita, não economize, não se importe com o seu
estado de espírito nem com que seu Censor interno diga.
As páginas matinais são a principal ferramenta de recuperação criativa da proposta da
autora. Vale a pena aprofundar-se no tema.
Virgílio Vasconcelos Vilela