Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Os dados estatísticos das três últimas décadas mostram de forma contundente que existe uma
forte relação entre o crescimento econômico e a redução da pobreza na América Latina. O
gráfico 1 apresenta os dados do PIB per capita na região (eixo esquerdo) e o percentual de
incidência da pobreza na América Latina (eixo esquerdo), para o período 1980 a 2008.
Observa-se que durante os anos 80 (década perdida) a renda per capita caiu de $3.620 dólares
em 1980 para $3.321 dólares em 1990, enquanto o percentual da população abaixo da linha da
pobreza subiu de 40,5% para 48,3% no mesmo período. Portanto, a crise econômica jogou
quase metade da população latinoamericana na pobreza.
A década de 1990 foi um pouco melhor e houve recuperação da renda e redução da pobreza
até o ano 2000. Em 1994 a renda per capita voltou ao patamar de 1980, embora a pobreza
tenha caído apenas para 45,7%, mantendo-se acima daquela registrada em 1980. No ano 2000
a renda per capita chegou a $3.886 dólares e a pobreza a 42,5%. Os dois primeiros anos do
terceiro milênio foram de crise com a renda per capita caindo para $3.746 dólares em 2002 e a
incidência de pobreza subindo para 44,3%.
5000 50
48,3
4800 48
4597
45,7
4600 46
44,3
42,0
4200 Recuperación en el nivel de pobreza: 42
PIB per cápita
40,5 25 años
4000 39,8 40
3321
3200 32
3000 30
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
1
Porém, a partir do ano de 2003 as duas curvas seguem rumos completamente opostos, pois
enquanto a renda per capita passou de $3.746 para $4.597 dólares em 2008, a incidência de
pobreza caiu de 44,3% para 33,2% em 2008. Durante 25 anos (1980 a 2004), o percentual de
pobreza ficou acima de 40% e parecia que nunca iria cair abaixo deste patamar. Porém, num
período de 7 anos (2002-2008) a população em situação de pobreza teve a sua maior queda
histórica no continente, o que é digno de comemoração, se bem que ter um terço da população
em condições de vulnerabilidade ainda coloca um desafio enorme para a América Latina obter
maior bem-estar e justiça social.
O gráfico 2 mostra que a razão de dependência demográfica total (população de 15-64 anos
dividida pela soma da população de 0-14 anos e 65 anos e mais, multiplicada por cem) era de
78 pessoas em 1980. Este número veio caindo e deve atingir o patamar mais baixo entre 2025
e 2030. Em seguida, apresenta uma tendência de subida em função do processo de
envelhecimento populacional, mas mesmo assim, a razão de dependência demográfica será de
60 pessoas dependentes para cada 100 em idade ativa em 2050, contra o número de 78 em
1980. Menor razão de dependência significa maior capacidade de poupança e de investimento
por parte das famílias (microeconômica) e do Estado (macroeconômica).
50
40
30
20
10
0
1950
1960
1970
1980
1990
2000
2010
2020
2030
2040
2050
2
economia internacional ajudaram e a América Latina implementou uma série de medidas
econômicas e sociais foi que se pode aproveitar as condições favoráveis da estrutura etária.
O que permitiu a redução da pobreza na América Latina nos últimos anos foi a combinação de
crescimento econômico com a redução da razão de dependência demográfica, provocada pela
queda das taxas de fecundidade. A menor carga demográfica implica em maior renda per
capita por família, maior capacidade de poupança e consumo e maior oferta de mão-de-obra
para a economia. Com menos filhos as mulheres podem dar mais atenção ao estudo, ao
emprego e às suas carreiras, tendo como compensação maiores salários e rendimentos em
retorno à maior experiência e ao maior capital humano aplicado. Assim, o aumento das taxas
de atividade feminina no mercado de trabalho é conseqüência e resultado deste processo
conjunto de transformações econômicas e demográficas.
Porém a América Latina ainda é o continente com maiores desigualdades sociais e possui um
terço da população em condições de vulnerabilidade. Para que a região possa continuar
crescendo economicamente e reduzindo a pobreza precisa colocar como meta a obtenção do
pleno emprego e a criação de trabalhos decentes, especialmente para os jovens e as mulheres,
que são os mais afetados pelo desemprego e o sub-desemprego. Também precisa avançar na
sustentabilidade ambiental, pois o crescimento a qualquer custo pode trazer danos futuros
irreversíveis à natureza.
A crise econômica de 2009 provocou uma forte queda na renda per capita na América Latina
e Caribe. Felizmente, as políticas de proteção social implementadas nos últimos anos na
região serviram de “colchões amortecedores” e o impacto da recessão sobre a pobreza não foi
tão forte, como na década de 1980. As previsões apontam para uma recuperação positiva a
partir do ano de 2010. As atuais perspectivas são boas no sentido de retomada da economia.
Porém, este artigo não analisou os problemas ambientais provocados por este crescimento
econômico e nem avaliou as alternativas econômicas que poderiam ter sido adotadas no
sentido de mudar o padrão de produção e consumo. Mas para finalizar é preciso fazer um
registro: para que a América Latina tenha um período de desenvolvimento virtuoso nos
próximos anos precisa combinar crescimento econômico, com desenvolvimento humano e
sustentabilidade ambiental.
Referência:
CEPAL/CELADE. Informe de América Latina sobre los progresos y las perspectivas de la
implementación del Programa de Acción de la Conferencia Internacional sobre la Población y
el Desarrollo 1994-2009, Versión preliminar, Santiago, octubre de 2009. Disponible em:
http://www.eclac.org/celade/agenda/5/37065/Inf_preliminarCIPD+15AL.pdf