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VOLUME 1
2v. : il.
CDU 37.014.22(813.7)
Dedicatória
Ao meu irmão João, sem seu amor de irmão e cuidados de pai e mãe, não seria o que
hoje sou.
Ao meu mano Heleno, que com seu amor carinhoso e sua família alegram e tornam
minha vida mais leve.
Ao meu irmão Edésio, pelo silencioso amor fraterno.
Dedico a minha tese aos meus pais Edezio e Regina (in memorian); meus irmãos
Antonio (in memorian), João, Edésio e Heleno; aos meus sobrinhos Dayse, Regina, Leonardo,
Higor, Larissa e Deborah e à minha afilhada Tainara, meus amores, alegria da minha vida.
RESUMO
The perception on literacy and illiteracy levels of the elite in the XVIII century in Sergipe was
possible through the study on the signature and the alphabetical skills (read and write) of that
population, data which had been collected from the wills and inventories. The signatures,
when used as literacy indicators in previous period to the survey (Censos), by framing them
into signature scales levels, provided means, even with gaps, allowing to both identify and
quantify who was literate or illiterate; as well as realize what sort of family relationship,
friendship and/or collusion used to bind those two groups together. It shows that signing up
your name in the XVIII, in Sergipe, was not an indicator that one knew how to read and write,
however the method used by the Ancient Regime and the colonial societies was first to learn
how to read and only then, write. Bringing to light, in the XXI century, the women’s presence
into the world of the written eighteenth culture, regardless it was a literate person, which was
rare in the colonial society, or if the person was able only to sign up her name or was merely
illiterate, turning to the one who would be able to help her (they would always look for men),
reflecting the educational reality of the eighteenth,-the fact that the great majority was
illiterate. But determining that elite literacy taking as a parameter only the signature, without
crossing those pieces of information with some other sources such as biographies, written
production by those authors, often offers misled results. By coming up with the alphabetical
skills (read and write) it is evident that the great majority of that elite was formed by people
who were inserted in that literacy culture, since when we put together 64 literate and 66
people, that were able to sign up their names, we will get 95%, at any rate, that elite used to
have a high leveled literacy. This study proves that although Sergipe, in the XVIII, was a
subaltern captaincy to Bahia, and also not be of economical, urban nor mining importance
whose population, it vast majority, used to live in a rural area, there used to be an elite not
only economical, political and social, but also instructed consisting of businesspeople (ranch
people, mill, farm and commerce owners). Hence the eighteenth elite, even being composed
by illiterate people, used to lie on its mediators of the written culture, spouses, relatives and
friends, agents whether public or not, but they provided the support in justice issues,
regardless being literate or not, provided the law allowed to everyone to reach it when
necessary,
Key words: Alphabetize. Elite. Literacy. Sergipe. Written culture. XVIII Century.
RESUMEN
La percepción del nivel de alfabetismo e instrucción de la elite del siglo XVIII en Sergipe se
produjo gracias al estudio de las firmantes y de las capacidades alfabéticas (leer y escribir) de
esta población, colectados en los testamentos e inventarios. Las firmas, cuando utilizadas
como indicadores de alfabetización en los períodos anteriores a los Censos, a través del
encuadramiento en escalas de niveles de firmas, fornecen subsidios, aunque con huecos,
permitiendo identificar y cuantificar quien era alfabetizado o analfabeto y aún percibir las
relaciones de parentesco, amistad y/o compadreo que unía estos dos grupos. Muestra que
firmar su nombre no significaba, en el siglo XVIII en Sergipe, saber leer y escribir, aunque el
método utilizado en el Antiguo Régimen y en las sociedades coloniales fuera primero
aprender a leer y después a escribir. Bajo la luz, en el siglo XXI, de la presencia de la mujer
en el mundo de la cultura escrita duodécima, sea como persona alfabetizada, raro en la
sociedad colonial, sea como firmante o cuando era analfabeta, recorriendo a quien le hiciera a
rogo (todas recorrieran a hombres), reflejando la realidad educacional duodécima, el hecho de
la mayoría ser analfabeta. Pero determinar la instrucción de esa elite teniendo como indicador
apenas las firmas, sin comparar estas informaciones con otras fuentes como biografías,
producción escrita por estos autores, es ofrecer resultados equivocados. Con la averiguación
del levantamiento de las capacidades alfabéticas (leer y escribir) resulta evidente que esa elite
era, mayoritariamente, formada por personas inclusas en la cultura escrita, pues, luego de
juntar los 64 alfabetizados con los 66 firmantes, el porcentaje es del 95 %, o sea, la referida
elite tenía un alto nivel de alfabetización. El estudio comprueba que a pesar de Sergipe ser, en
el siglo XVIII, una capitanía bajo el poder de la Bahía, y de no ser de punta de la economía
colonial, tampoco urbana ni de minería, cuya mayoría de la población vivía en la zona rural,
había una elite no sólo económica, política y social, sino también instruida, compuesta por
negociantes (caudillos, latitudinarios de caña de azúcar, haciendas y casas comerciales). Pues
la elite duodécima, aunque compuesta por analfabetos, tuvo en los mediadores de la cultura
escrita, cónyuges, parientes y amigos, fueran ellos agentes públicos o no, el amparo en sus
cuestiones jurídicas, siendo irrelevante para la justicia ser o no alfabetizado, una vez que la
ley aseguraba a todos el acceso a ella cuando necesario.
Volume 1
Volume 1
Volume 2
Figura 26 – Reconhecimento de letra e firma ................................................................... 161
Figura 27 – Sinal costumado ............................................................................................. 163
Figura 28 – Sinal assinatura .............................................................................................. 163
Figura 29 – Palavra “cruz” acima do sinal ........................................................................ 164
Figura 30 – Palavra “sinal” após o nome .......................................................................... 164
Figura 31 – “Sinal” cruz após primeiro nome .................................................................. 165
Figura 32 – Assinatura com o uso de abreviaturas ............................................................ 165
Figura 33 – Assinatura sem o uso de abreviaturas ............................................................ 165
Figura 34 – Cruz antes do primeiro nome ......................................................................... 166
Figura 35 – Cruz depois do primeiro nome ....................................................................... 166
Figura 36 – Assinatura da testadora em cruz, sem rogo .................................................... 166
Figura 37 – Assinatura da testadora em cruz, mas com rogo ............................................ 167
Figura 38 – Assinatura em cruz, com rogo ........................................................................ 167
Figura 39 – Recibo assinado com uma cruz pela escrava Vitoria ..................................... 168
Figura 40 – Assinatura de Joze de Souza Vieira, marido de Thereza da Motta ................ 169
Figura 41 – Assinatura de Antonio Alves da Silveira, assinante a rogo da inventariante
Roza Maria do Sol ............................................................................................................. 170
Figura 42 – Assinatura do Doutor Antonio Josê Pereira Barrozo, Ouvidor Geral do
Crime e Civil Corregedor da Comarca de São Cristóvão em 1766 ................................... 170
Figura 43 – Assinatura do testador no testamento de Domingos Salgado de Araujo ..... 170
Figura 44 – Assinatura do escrivão Joze Caetano da Silveira Nollete .............................. 171
Figura 45 – Declaração de débito de dote de Alexandre Lopes do Valle ....................... 172
Figura 46 – Assinaturas sinais de profissões em Portugal ............................................ 174
Figura 47 – Assinaturas sinais cuja base, em Portugal, era a cruz..................................... 174
Figura 48 – Sinal público do tabelião Antonio Rodrigues Vieira – 1758 ...................... 175
Figura 49 – Sinal público do tabelião Manoel Francisco da Conceição – 1763 ............... 175
Figura 50 – Assinatura sinal (cruz) de Faustino Domingos .............................................. 176
Figura 51 – Assinatura do avaliador Jose Pereira Lima .................................................... 176
Figura 52 – Assinatura de Antonio Teixeira de Souza .................................................. 177
Figura 53 – Assinatura de Joze Joaquim de Souza ............................................................ 177
Figura 54 – Assinatura do Juiz de órfãos Felippe de Mello Pereira .................................. 178
Figura 55 – Arabesco da assinatura do Alferes Joze Cardozo de Vasconsellos ............. 178
Figura 56 – Arabesco da assinatura do Sargento-mor Antonio Gomes Ferrão
Castelobranco ................................................................................................................... 179
Figura 57 – Arabescos na assinatura e rubrica do Juiz de Órfãos trienal Sargento-mor
Manoel Jose Soares ........................................................................................................... 179
Figura 58 – Atesto de dívidas feito por Francisca Catharina Solto Fraga ......................... 180
Figura 59 – D. Francisca Catharina Solto Fraga ............................................................. 180
Figura 60 – Assinatura de Antonio Soares Dias a rogo de sua irmã Jozefa Maria de
Vasconcellos ...................................................................................................................... 183
Figura 61 – Assinatura de D. Jozefa Maria de Vasconcellos ......................................... 184
Figura 62 – Assinaturas de Ignacia Joaquina de Loyola Braque e Anna Cecilia Braque,
filhas de Joaquim Joze Braque .......................................................................................... 184
Figura 63 – O ensino do ofício de sapateiro ...................................................................... 202
Figura 64 – Termo de entrega do menor Antonio ......................................................... 204
Figura 65 – Procuração feita por Maria Francisca de Freitas ............................................ 211
Figura 66 – Assinatura de Maria Francisca de Freitas ...................................................... 212
Figura 67 – Assinatura de Maria Francisca de Freitas ...................................................... 212
Figura 68 – Procuração de Bernardo Nunes da Mota ........................................................ 212
Figura 69 – Assinatura de Bernardo Nunes da Mota ...................................................... 213
Figura 70 – Escrito de dote ................................................................................................ 214
Figura 71 – Carta de Antonia Maria Ramos ...................................................................... 216
Figura 72 – Recibo do enterro de Francisco Cardozo de Souza ........................................ 217
LISTA DE QUADROS
Volume 1
Quadro 1 – População sergipana 1707 - 1888 ..................................................................... 38
Quadro 2 – Freguesias da Capitania de Sergipe Del Rey – 1775 ........................................ 39
Quadro 3 – Naturalidade dos testadores ........................................................................... 40
Quadro 4 – Residência dos testadores quando fizeram testamento ..................................... 41
Quadro 5 – Cargos ocupados pelos inventariantes .............................................................. 45
Quadro 6 – Montante mor .................................................................................................... 47
Quadro 7 – Relação dos portugueses moradores em Sergipe Del Rey ................................ 57
Quadro 8 – Movimento migratório dos 23 portugueses moradores em Sergipe Del Rey ... 59
Quadro 9 – Testadores que eram filhos ilegítimos .......................................................... 73
Quadro 10 – Testadores beneficiadores de expostos/enjeitados .......................................... 79
Quadro 11 – Testadores que tiveram filhos naturais ....................................................... 80
Quadro 12 – Testadores que tiveram filhos ilegítimos ........................................................ 82
Quadro 13 – Nº de filhos legítimos declarados pelos inventariantes e testadores ............... 86
Quadro 14 – Nº de filhos legítimos declarados pela elite setecentista em Sergipe Del Rey 89
Quadro 15 – Nº de filhos legítimos declarados pelos 23 testadores e inventariados
portugueses .......................................................................................................................... 90
Volume 2
Quadro 16 – Testadores assinantes ...................................................................................... 159
Quadro 17 – Uso de tratamento nobiliárquico das mulheres setecentistas de Sergipe ........ 181
Quadro 18 – Ano e nível de assinaturas .......................................................................... 186
Quadro 19 – Escrevente de testamento Joam Alvares do Valle Guimaraens ................... 192
Quadro 20 – Escreventes que redigiram mais de um testamento ........................................ 194
Quadro 21 – Escreventes que redigiram testamentos de casais ........................................... 195
Quadro 22 – Relação dos escreventes de testamento por localidade ................................... 197
Quadro 23 – Testadores possuidores de livros de conta e/ou livros de razão ................... 206
Quadro 24 – Práticas de leituras nos testamentos ................................................................ 208
Quadro 25 – Ocupantes de cargos ....................................................................................... 220
Quadro 26 – Capacidades alfabéticas dos portugueses moradores em Sergipe Del Rey .... 222
Quadro 27 – Agentes judiciários com maior letramento ..................................................... 224
Quadro 28 – Juízes Trienais de Órfãos e Ordinário ............................................................. 225
Quadro 29 – Residência da elite setecentista de Sergipe Del Rey ....................................... 226
Quadro 30 – Maiores fortunas setecentistas de Sergipe Del Rey ........................................ 227
Quadro 31 – Capacidades alfabéticas da elite por localidade .............................................. 228
LISTA DE TABELAS
Volume 1
Tabela 1 – Cargos ocupados pelos inventariados/testadores ............................................. 45
Tabela 2 – Estado civil da elite setecentista ...................................................................... 66
Tabela 3 – Situação jurídica da filiação dos testadores ..................................................... 72
Tabela 4 – Estado físico do testador .................................................................................. 99
Volume 2
Tabela 5 – Tipos de assinaturas da elite setecentista de Sergipe Del Rey ...................... 181
Tabela 6 – Capacidades alfabéticas dos testadores ........................................................ 188
Tabela 7 – Testadores alfabetizados/analfabetos/indefinidos .......................................... 188
VOLUME 1
Mapa 1 – Regiões das quais procediam os portugueses residentes em Sergipe Colonial .......56
LISTA DE ABREVIATURAS
APES - Coleção Sebrão Sobrinho = Arquivo Público do Estado de Sergipe - Coleção Sebrão
Sobrinho.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 21
2 – A PESQUISA .......................................................................................................... 24
2.1 – O PERCURSO DA PESQUISA ......................................................................... 24
2.2 – METODOLOGIA ............................................................................................... 25
2.3 – HIPÓTESE ......................................................................................................... 26
2.4 – FONTES: TESTAMENTOS E INVENTÁRIOS ................................................ 30
2.4.1 – Os testamentos .................................................................................................. 30
2.4.2 – Os inventários ................................................................................................... 33
2.5 – ESTRUTURA DA TESE ..................................................................................... 33
APÊNDICES................................................................................................................... 267
Apêndice C – Escala de níveis de assinaturas da elite setecentista de Sergipe Del Rey... 295
Apêndice D – Análise descritiva das capacidades alfabéticas dos testadores ................. 329
Apêndice F – Capacidades alfabéticas da elite setecentista de Sergipe Del Rey .............. 361
21
1 – INTRODUÇÃO
1
Antonio Moniz de Souza, nascido em 1782, Bento de Melo Pereira, nascido em 1780, Joaquim Martins Fontes,
nascido em 1798 e José Francisco de Menezes Sobral, nascido em 1788 (GUARANÁ, 1925, p. 28-29; 48;
22
os setecentistas sergipanos que receberam uma formação superior, fato esse ratificado por
Maria Thétis Nunes ao afirmar que, até 1822, somente cinco sergipanos2 estavam registrados
nos arquivos da Universidade de Coimbra recebendo diploma de bacharel, devido às precárias
condições socioeconômicas de Sergipe.
No final do século XVII3, Sergipe crescia econômica e socialmente, necessitava de
pessoas com mais instrução para ocupar determinados cargos como o de Ouvidor, fato que
comprova a representação da Câmara de São Cristóvão, em 1694, enviada ao Rei solicitando
um ouvidor letrado “[...] que exercesse o cargo acima dos interesses locais, substituindo os
ouvidores que, sem ciência, nem experiência, ignoravam as leis”. (NUNES, 1996, p. 85),
solicitação a qual foi atendida.
Para Maria Thétis Nunes (1984), as limitações no desenvolvimento da educação em
Sergipe estão relacionadas às condições da população espalhada pelo interior da capitania 4,
gerando assim uma sociedade basicamente rural, por isso não havia alunos a serem moldados
pelos ensinamentos jesuíticos. Afirma a autora que: “Apesar da longa permanência em
Sergipe, os jesuítas nunca haviam enveredado pelo ensino das Humanidades, embora
tentativas houvessem sido feitas pelos habitantes da terra desde 1684 [...]” (NUNES, 1984, p.
22).
Mas onde e com quem alguns destes indivíduos, aqui analisados aprenderam a ler e
escrever5? Com os religiosos missionários? Professores particulares? Muitos deles nascidos
no século XVII, como o caso de Duarte Moniz Barretto 6, cuja naturalidade e filiação assim
declara: “[...] sou natural desta fregeusia de Itabahyanna filho legitimo de Antonio de Oliveira
de Carvalho e de Donna Maria de Barros já defuntos moradores que forão nesta mesma
freguesia da Itabahianna [...]”. A resposta talvez esteja na afirmação que Nunes (1996) faz
sobre a educação em Sergipe no período colonial: “Suprindo a falta da atuação do poder
público, funcionavam as aulas particulares, em sua maioria no interior das casas-grandes dos
166); Estacio Muniz Barreto, nascido em 1792 (SILVA, 2000, p. 349); e Manoel Fernandes da Silveira,
nascido em 1754 (BITENCOURT, 1913, p. 128).
2
Lopo Gomes de Abreu Lima, matriculado em 1732, Francisco Gomes de Abreu Lima, matriculado em 1737,
bacharel em Cânones, Pedro Tomás da Rocha, matriculado em 1751, Antônio Dinis Ribeiro de Siqueira e
Melo, matriculado em 1793, José Nunes Barbosa Madureira Cabral, formado em 1822 ( NUNES, p. 266).
3
Encontrei diversos documentos no Arquivo do Conselho Ultramarino, dos camaristas coloniais sergipanos e
demais autoridades seiscentistas tratando sobre os variados assuntos administrativos da Capitania de Sergipe
Del Rey, desde o século XVII.
4
A Capitania de Sergipe foi criada em 1º de janeiro de 1590 por Cristóvão de Barros. Em 1696 teve sua
autonomia judiciária com a criação da Ouvidoria de Sergipe.
5
Até o momento, não localizei as relações das aulas régias do século XVIII da Capitania de Sergipe Del Rey,
contendo os nomes dos professores e alunos. Identificá-los no século XVII , parece-me uma missão
impossível.
6
APES - Coleção Sebrão Sobrinho - Caixa 32.
23
engenhos e fazendas, responsáveis pela alfabetização dos filhos dos senhores de terra e
agregados à sociedade patriarcal”. Concluindo Nunes que o Alvará de 28 de junho de 1759
que expulsou os jesuítas de Portugal e seus domínios e tirou o monopólio do ensino não
trouxe modificações na vida educacional de Sergipe. (NUNES, 1996, p. 265-266).
Apesar de São Cristóvão ser o centro das decisões político administrativas da
Capitania de Sergipe, no âmbito econômico não era tão próspera, sendo mais uma cidade
administrativa. Entretanto, burocratas e religiosos formavam a elite instruída de Sergipe, uma
vez que para o desempenho destas funções era essencial saber ler e escrever e até mesmo ser
letrado7, como no caso dos ouvidores8.
Este mesmo entendimento acerca da instrução no Brasil tem Diana Gonçalves Vidal e
Luciano Mendes de Faria Filho (2005) ao analisarem as casas-escola dos séculos XVIII e
XIX. Concluem que “O período colonial legou-nos um número muito reduzido de escolas
régias ou de cadeiras públicas de primeiras letras, constituídas, sobretudo, a partir da segunda
metade do século XVIII” (VIDAL e FARIA FILHO, 2005, p. 45) e alertam para o fato de não
serem apenas os alunos, frequentadores de escola, que tinham acesso às primeiras letras:
Recentes estudos a respeito da educação no Brasil têm lançado outros olhares acerca
de algumas afirmativas cristalizadas pela historiografia tradicional, pois “[...] muitos
historiadores da educação tendem (tendiam) a narrar a História que pesquisa(vam) de um
modo linear, progressivo, apagando as possíveis descontinuidades, retrocessos, ambigüidades
e contradições que caracterizam a História” (LOPES e GALVÃO, 2001, p. 38). Nesta
perspectiva, constatar avanços e retrocessos no método educacional do Brasil e Sergipe em
vários momentos não depõe contra essa memória, apenas demonstra que o processo
civilizatório da humanidade é também feito de percalços.
7
Letrado no século XVIII é o termo utilizado para os indivíduos com formação superior. Ver CAVALCANTE,
Berenice. Os ‘letrados’ da sociedade colonial: as academias e a cultura do Iluminismo no final do século
XVIII. ACERVO, Rio de Janeiro, v. 8, n° 1-2, p. 53-66, jan/dez 1995.
8
Com a criação da Comarca de Sergipe em 1696 ocuparam o cargo de Ouvidor 21 doutores em Direito
(letrados) de 1696 a 1812. (NUNES, 1996, p. 299-300).
24
2 – A PESQUISA
9
A digitalização dos inventários setecentistas que estão no Arquivo Geral do Judiciário, faz parte do Projeto de
Gestão Documental do Poder Judiciário de Sergipe, o qual tem como subprojeto, A memória judiciária
colonial de Sergipe. Esta documentação vem sendo tratada no laboratório do Arquivo Judiciário, digitalizada e
indexada objetivando torná-la acessível aos pesquisadores sem, contudo, danificá-la devido ao seu estado de
fragilidade física. As séries documentais, inventários, testamentos, livros de testamentos e livros de notas já
foram tratados, digitalizados e indexados, estando disponíveis em DVDs aos pesquisadores.
10
Joceneide da Cunha dos Santos.
11
Os 95 testamentos transcritos totalizaram 229 páginas.
25
fotoshop para, assim, tirar a interferência de outros traços e melhorar a visualização das
mesmas.
Com os novos dados inseridos e analisados fui escrever o capítulo que caracterizava
esta população, a fim de facilitar para o não conhecedor da História de Sergipe, entender a
alfabetização desta sociedade. Surge novo problema: como proceder para não repetir o que os
outros já haviam escrito? Fiz e refiz gráficos, tabelas, quadros, li e reli os testamentos quando
descobri algo a mais que apenas dados, o cotidiano familiar: religiosidade, casamento,
concubinato, legitimação, filhos naturais, expostos, dotes, bens, cargos, disputas familiares,
vestígios da alfabetização via assinaturas, declarações, procurações, petições, tudo entrelaçado
com a legislação civil e religiosa sob o manto da cultura escrita e, assim, comecei a escrever o
capítulo sobre esta elite abordando as facetas do cotidiano destes indivíduos.
Mas só os testamentos não me dariam uma visão mais ampliada dessa população. Não
inserir os inventários cujos inventariados faleceram sem testamento, por uma opção individual
ou por prolatarem e morrerem antes de fazê-los, seria tornar essa elite não representativa de
seu tempo e espaço. Neles há informações sobre educação, postas nas assinaturas dos
inventariantes, parte representante dessa elite, disputas familiares, nos recibos, rol de dotes,
bilhetes, cartas, tutelas. E por isso os 65 inventários de ab intestados12 foram incluídos,
perfazendo assim 88 inventários13.
Assim, completei um conjunto de 160 documentos que retratam a elite setecentista da
Capitania de Sergipe Del Rey, quanto ao cotidiano familiar de seus membros alfabetizados ou
analfabetos inseridos no mundo da cultura escrita.
2.2 – METODOLOGIA
12
Ab intestados eram denominadas as pessoas que morriam sem testamento, uma vez que nem todos faziam
testamento, como as crianças, os que morriam subitamente e os escravos. Nesta pesquisa, nenhum testamento
de escravos nem de pessoas sem renda no século XVIII foi localizado.
13
No total de 5.910 páginas.
26
Para trabalhar com um grande volume, foram criados dois bancos de dados: um para
os testamentos e autos com testamentos (inventário, apelação, justificação, prestação de
contas de testamenteiro) e outro para os inventários sem testamento. A opção em não juntar os
dois bancos se deu devido às especificidades de informações que ambos fornecem, ficando
mais fácil para escrever com eles separados.
Os dados da documentação judicial (inventários, testamentos, autos judiciais) foram
cruzados, quando se fez necessário, com a do Conselho Ultramarino (requerimentos,
consultas, cartas, representações, despachos, avisos, certidões, provisões e atestados) tendo
como suporte de interpretação das informações documentais a bibliografia pertinente ao
assunto.
2.3 – HIPÓTESE
14
Somente em 08 de julho de 1820, por meio de Carta Régia, D. João VI outorgou à Capitania de Sergipe a sua
autonomia em relação à Capitania da Bahia.
15
Denomino de “instruídas” as pessoas que sabiam ler, escrever e contar no século XVIII, tivessem elas
instrução superior ou não.
27
Assim, dentro desta categoria macro, ou seja, cultura escrita, está o seu ponto central
de existir – a alfabetização – e com ela todos os questionamentos acerca dos níveis
apreendidos pelos indivíduos alfabetizados, como também a inserção dos analfabetos neste
universo, através dos mediadores da cultura escrita, os profissionais da escrita, os escreventes
e parentes instruídos. A cultura escrita é entendida:
16
Para Justino Magalhães, “A assinatura é a marca mais universal de alfabetismo, sobretudo para o Antigo
Regime”. (MAGALHÃES, 2001, p. 116).
28
17
Na análise de mais de cem testamentos, não encontrei um que apenas tratasse da parte religiosa.
18
A terça parte da meiação do casal, que o cônjuge vivo pode dispor a seu querer.
19
MILLS, 1975. p. 25.
29
20
Os campos do banco de dados são os seguintes: ano, nome do testador/inventariado, filiação do
testador/inventariado, estado civil do testador/inventariado, ocupação do testador/inventariado, cargo do
testador/inventariado, nome da propriedade do testador/inventariado, local e data de feitura do testamento,
local e data do falecimento, local e data da aprovação do testamento, local e data de abertura do testamento,
cônjuges, filhos legítimos, filhos naturais, dote, parentes do testador/inventariado, compadres do
testador/inventariado, bens arrolados no testamento e no inventário, escravos declarados no testamento e no
inventário, dívidas ativas declaradas no testamento e no inventário, dívidas passivas declaradas no testamento
e no inventário, estado de saúde do testador, irmandades, ordens terceiras do testador, local de sepultamento
do testador, vontades religiosas do testador, nível de instrução do testador/inventariado, escrevente do
testador, a rogo do testador, sinal costumado do testador, testemunhas no testamento, tipo de testamento,
nacionalidade do testador, naturalidade do testador, procedência do testador/inventariado, cargo e parentesco
do testamenteiro, nome do inventariante, cargo e parentesco do inventariante, monte mor, comarca, data,
instituição, observações e referência arquivística.
21
Formada pelos detentores de cargos e/ou bens.
30
As fontes quando olhadas dentro do seu tempo-espaço vão, aos poucos, descortinando
o véu do esquecimento e expondo cenários e atores, cujas vozes, gravadas nos registros
documentais, dizem um pouco mais do real de suas vidas, do que quando são narradas por
outros que, às vezes, apenas repetem o que ouviram dizer. E foram tantas as cenas, diálogos,
que por alguns momentos me perdi neste borbulhar de vidas, pois, ao serem indagadas, nem
sempre diziam o que eu queria ouvir, nem sempre confirmavam o que os outros historiadores
afirmavam.
2.4.1 – Os testamentos
A opção pelos testamentos como fonte principal deve-se a dois fatores: Primeiro, este
estudo analisa as habilidades de ler e escrever de um grupo específico, a elite, e só deixava
testamento quem tinha bens, fossem eles móveis, imóveis, semoventes (animais e escravos),
dinheiro, joias etc., além do fato de que nos fornecem dados individuais (naturalidade,
filiação, estado civil), como também relações parentais, de compadrio e de amizade. A fortuna
registrada nos testamentos representa apenas uma terça parte da metade dos bens do testador,
que poderia dispor livremente quando era casado e com filhos. Era o sistema de meação, do
qual Almeida (2002) nos dá uma visão parcial dessas fortunas:
A divisão neste sistema era feita em duas partes iguais, uma dividida
igualitariamente entre os herdeiros legítimos, onde também eram retiradas as
despesas do funeral. Mas na existência de um testamento, a partilha era feita
da seguinte maneira: somada a totalidade dos bens do falecido, e [sic]
suprimido as despesas do funeral e dívidas, do restante metade iria para o
cônjuge e a outra metade a terça parte iria para o legatário; e as outras terças
partes, dividiam-se entre os herdeiros do defunto. (ALMEIDA, 2002, p. 9).
O segundo fator é que nos testamentos podemos captar os indícios sobre os níveis de
alfabetismo e letramento, uma vez que o testador sempre informava se sabia ler e escrever,
além de revelar outros dados importantes sobre a educação, como quem eram os agentes
31
intermediários da cultura escrita, parentes e amigos ou os escreventes 22, como fez o português
natural da Freguesia de Escariz, Termo da Vila de Cabeçais, no Bispado do Porto, Manoel da
Rocha Rios, morador em São Cristóvão:
[...] em casa da morada da Manoel da Rocha Rios onde eu Tabeliam por elle
fui chamado e sendo ahi em prezença das testemunhas adiante nomeadas e
assignadas de suas mãos as de mim Tabeliam me foi dado este papel
dobrado dizendo me era ser o seu solenne testamento de ultima e derradeira
vontade e que a seu rogo lhe escreveu Alberto Joam de Jesus Moura elle
testador ditando e o ditto escrevendo e que depois de escrito lhe lera de
verbo adverbum e o achara muito a seu contento na forma em que o havia
ditado o qual assignaram [ilegível] elle o testador mais tambem o dito
escrevente, [...]. (grifo meu 23).
O testador também informava se possuía ou vendia livros, se tinha livro de razão, rol
ou contas24, quando comerciante. Emitia recibos ou bilhetes que funcionavam, por vezes,
como letras de câmbio encontradas no inventário; manifestava preocupação com a educação
dos filhos ou dos netos deixando recursos financeiros e as assinaturas próprias ou a rogo de
alguém com instrução25. Tudo isso são vestígios materiais capazes de fornecer um esboço do
nível de alfabetismo e letramento da sociedade da época.
Assim como foi exposto, os testamentos “[...] apesar de serem relatos individuais,
expressam modos de viver coletivos e informam sobre o comportamento se não de toda a
sociedade, pelo menos de grupos sociais.” (BIVAR, 2000, p. 4). Através desses, podemos
perceber o nível de alfabetismo e letramento da elite setecentista moradora em Sergipe e a
quem outorgava como seus representantes os que não o possuíam.
Os testamentos utilizados neste estudo foram encontrados em livros de registro de
testamento (72, todos traslados) e nos inventários (23, dos quais nove são originais e 14
traslados).
22
Escreventes eram pessoas que desempenhavam as funções inerentes à escrita. O escrevente ou copista de
repartição pública era chamado de amanuense.
23
AGJ-SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 03 - p. 01-07.
24
Eram livros onde se laçavam as transações comerciais, o que atesta o conhecimento mesmo que elementar da
escrita, leitura e contabilidade. Ver testamento de Jozé Antonio Borge de Figueredo, de 23 de abril de 1786.
p. 02. AGJ-SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos Cx. 62 – Lv 07 – p. 01-09 “Declaro que devo ao meu sogro
o Senhor Tenente Coronel Francisco Xavier de Oliveira Sobral o que consta do seu livro de contas e dos
meos asentos”.
25
No Brasil o Censo de 1872 (primeiro a ser realizado), o índice de pessoas alfabetizadas era de 18% entre
pessoas de cinco anos a mais. (GALVÃO et al., 2007, p. 11). Em Portugal o Censo de 1878, revelava que
cerca de 80% dos residentes em Portugal Continental e Insular, não sabiam ler, nem escrever
(MAGALHÃES, 2001, p. 80). No século XVIII, tanto em Portugal como no Brasil, certamente, o índice de
analfabetos era maior.
32
26
No século XVIII, o Império Ultramarino Português era regido pela legislação compilada nas Ordenações
Filipinas (corpo de leis editado em 1603 por Felipe II, de Espanha).
27
Homógrafo ou particular é o testamento escrito, datado e assinado pela mão do testador.
28
Testamento que sendo ou não simultâneo ou conjunto, contém nexo de interdependência com outro.
29
Codicilo é uma alteração feita pelo testador no seu testamento.
33
2.4.2 – Os inventários
seus membros alfabetizados ou analfabetos inseridos no mundo da cultura escrita, uma vez
que a base daquela sociedade que vinha, há pouco mais de um século, se formando e tecendo
suas alianças, que permitiriam perpetuar-se de geração após geração, era a família e nos dados
sobre o seu cotidiano estava algo a mais do que simples dados. Não eram tão somente
informações sobre o estado civil; nelas estavam inclusos o sistema de casamento colonial e,
com ele, a questão do concubinato. Não havia apenas dados sobre a filiação, nas entrelinhas
existia a questão da legitimação, muito importante para aquela sociedade e com ela os filhos
naturais e, ainda, os expostos. Não continha unicamente desejos de como o testador queria ser
velado, mas o que isso significava para uma pessoa setecentista católica. Que a prole não era
apenas número, significava alianças, implicava em dotes. Que o pertencimento a uma elite
advinha não só dos bens que os mesmos possuíam, mas também de seu status social, do
prestígio de seus cargos (nem sempre altamente remunerados, mas passíveis de alianças) de
poder que aquelas famílias tinham estabelecido ou estavam construindo, e por isso eram
respeitadas.
Na segunda seção, A cultura escrita, apresento a normatização da Língua Portuguesa,
a “Língua do Príncipe”, através dos principais registros deixados por seus teóricos que vão dar
sustentação para o surgimento da cultura escrita portuguesa e os elementos/suportes: o livro, o
texto da lei, a epistolografia, registros notariais (testamentos, inventários, autos judiciais
cíveis e criminais), registros paroquiais (livros de batismo, casamento e óbito) e os registros
privados (bilhetes, receituários, borradores, jornais, folhetins, livros de contas, diários etc.) e
seus artefatos (escrivaninha, tinteiros, sinete, tesoura de aparar cartas), vestígios da sua
materialidade. Esses elementos e artefatos expõem um universo de práticas próprias de seu
tempo, dando uma silhueta ao mundo que hoje não mais existe e expondo traços da
alfabetização destes indivíduos.
Na terceira seção, Vestígios do alfabetismo e letramento no século XVIII em
Sergipe Del Rey, busquei dentro da complexidade que envolve o processo de alfabetização
de uma sociedade, elucidar quem detinha este conhecimento, a relação dos que não o
possuíam, o nível de letramento e a relevância deste saber na sociedade setecentista sergipana.
Assim, no final deste trabalho busco construir uma visão mais concisa do nível de
alfabetismo e letramento da elite setecentista em Sergipe Del Rey e sua real relevância, a fim
de contribuir com a História da Educação Colonial em Sergipe.
35
30
Poucos são os documentos não oficiais que descrevem a vida cotidiana daqueles moradores dos séculos XVI a
XIX, como o livro do cronista Gabriel Soares de Souza, de 1587, intitulado Tratado Descritivo do Brasil, o
qual relata detalhes da vida dos tupinambás no território que viria a ser, após 1590, a Capitania de Sergipe; os
livros Roteiro de Todos os Sinais da Costa do Brasil, de autor desconhecido, e O livro que dá Razão do
Estado do Brasil, do Sargento Mor Diogo de Campos Moreno, 1612, coligam informações acerca da vida de
Sergipe; o trabalho do Padre Gonçalo Soares da Fonseca, Dissertações da História Eclesiástica no Brasil,
1724, informa sobre as freguesias existentes em solo sergipano; As Relações e Notícias das Freguesias
compostas pelos relatos dos vigários em 1757, acerca dos territórios das freguesias de Sergipe, fornecem
dados mais específicos sobre população, demografia e o meio ambiente; os relatos do Frei Antonio de Santa
Maria Jaboatão, Novo Orbe Seráfico Brasílico, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil
36
Torna-se difícil mensurar a população setecentista existente porque não havia censos
demográficos que não fossem eclesiásticos ou militares no período, fator importante, uma vez
que este trabalho se baseia em indícios.
Para Thais de Azevedo (1955), apesar de somente no século XVII em Portugal terem
ocorrido os primeiros censos de adultos com finalidade militar, desde 1527 os portugueses já
computavam o número exato de famílias (fogos) e de indivíduos (almas) em Lisboa e em mais
35 vilas e cidades. Já os cômputos da população no Brasil colonial eram baseados em
registros paroquiais (nascimentos, casamentos e sepultamentos), sendo raros, antes do século
XIX, os de contagem de indivíduos.
No Brasil, só a partir de 1750 o levantamento da população deixou de ter apenas o fim
religioso (o controle de seus paroquianos pela Igreja Católica), para ter objetivos militares
(convocação de pessoas livres e adultas para a defesa da Colônia). Com as reformas realizadas
pelo Marquês de Pombal começaram a serem produzidos os primeiros dados estatísticos
acerca da Colônia brasileira, quantificando sua população através das listas nominativas de
habitantes, relações nas quais os vigários registravam o número de fiéis que se confessavam e
comungavam pela quaresma, também denominados de róis de confissão ou de desobriga.
(1758-1759), e o mais recente Memória sobre a Capitania de Sergipe, 1808, de Dom Marcos Antonio de
Souza, condensa dados sobre o território sergipano e seus habitantes.
31
Conjunto de cinco livros, publicados em 1707, pela Igreja Católica, que normatizava a prática religiosa.
37
Com o Concílio de Trento32 (1545- 1563) a Igreja passou a adotar medidas de controle
da população e uma delas foi instituir e padronizar os registros dos principais sacramentos. No
século XVIII, com a instituição do Rituale Romanum33, definiu-se como fazer esses registros
e os padres foram ensinados a realizar contagens periódicas dos paroquianos, gerando assim
os róis de confessados onde relacionavam as pessoas aptas a se confessar 34. Com a expansão
do Cristianismo a Igreja estendeu esse controle para as populações do Novo Mundo
(NADALIN, 2004).
Na Bahia, desde o século XVIII, existiam os róis de desobriga 35, como também há
registro, desde 1703, da Santa Casa de Misericórdia, dos enterros que realizavam. Em face do
sínodo arquidiocesano de 1707 36 os párocos foram obrigados a irem, pessoalmente e por ano,
realizar os róis por ruas, casas e fazendas da sua freguesia, a fim de registrar nomes,
sobrenomes, local de residência, quais os que ainda não tinham atingindo a puberdade (14
anos para os homens e 12 para as mulheres) e, também, os maiores que eram obrigados pelas
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia 37 a se confessar e comungar na quaresma,
prática já adotada em Portugal que obedecia à legislação canônica desde 1564.
Thais de Azevedo (1955) alerta para o fato de termos em vista que nesses Censos
demográficos eclesiásticos eram excluídos aqueles que não tinham idade para confissão, os
inocentes (crianças), os párvulos (idiotas) e pagãos (gentios) o que não representam a
população como um todo. Somente no último quartel do século XVIII, surgem estatísticas
32
Concílio convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto
da Reforma da Igreja Católica. Realizado de 1545 a 1563.
33
Ritual Romano em latim é um livro litúrgico que contém todos os rituais normalmente administrados por um
padre, incluindo o único ritual formal para exorcismo sancionado pela Igreja Católica Romana até finais do
século XX.
34
As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia determinavam que, aos sete anos, todo cristão deveria se
confessar pelo menos uma vez a cada ano com seu pároco (2010, p. 188, c. 139).
35
Relações nas quais os vigários registravam o número de fiéis que comungavam e confessavam pela quaresma,
também denominados de róis de confissão.
36
As resoluções do Concílio de Trento (1545-1563), aceitas em Portugal desde 1564, determinavam ser
competência das autoridades episcopais adaptarem o projeto reformador às especificidades locais através dos
sínodos diocesanos nos bispados ou arcebispados com o objetivo de elaborar as constituições sinodais. No
Brasil colonial ocorreram duas tentativas de promulgar constituições sinodais. A primeira através do bispo D.
Pedro Leitão que realizou um sínodo com seu clero em Salvador e a segunda com D. Constantino Barradas
que organizou as “Constituições” do bispado da Bahia, mas não as publicou, por isso continuaram em vigor
as Constituições de Lisboa. Somente em 1707 com o sínodo episcopal no Brasil, realizado por D. Sebastião
Monteiro da Vide, as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia foram efetivadas e publicadas numa
carta pastoral em 21 de julho de 1707 e impressas em Lisboa, em 1719. Apesar de abranger apenas a
arquidiocese baiana, suas normas estenderam-se para as demais dioceses sufragâneas da Bahia, tidas como
principal legislação eclesiástica no Brasil Colonial. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%B5es_sinodais>. Acesso em: 10 nov. 2011.
37
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. C. 144, [p. 67]. Ed. 2010, p. 190.
38
completas e detalhadas classificando a população, por grupos de idades, cor e estado civil,
número de nascimentos e óbitos38.
Em 1775, o medidor das obras da cidade de Salvador, Manoel de Oliveira Mendes,
com base nos registros paroquiais, elaborou a “Relação topográfica das freguesias
suburbanas”, figurando nela a Capitania de Sergipe39 composta de sete freguesias com 13.994
almas. Cinco anos depois, pelo censo de 1780, a população da Comarca de Sergipe Del Rey
passava para 54.000 almas dispostas em 11 freguesias: Nossa Senhora da Victoria da cidade
de São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro, Santo Amaro das Brotas, Santo Antonio de Vila
Nova, Santo Antonio de Propriá, Nossa Senhora da Piedade da Vila do Lagarto, Santo
Antonio e Almas de Itabaiana, Nossa Senhora do Socorro do Tomar do Geru, Nossa Senhora
dos Campos do Rio Real, Santa Luzia e Divina Pastora – São Gonçalo (AZEVEDO, 1955, p.
343).
Luiz Mott (1986) informa aos pesquisadores da história demográfica sergipana que os
recenseamentos do Império não são dos mais antigos e lista, com base em várias obras, a
população sergipana de 1707 - 1888, aqui reproduzida até o ano de 1802.
38
O Censo de 20 de junho de 1775. Em 21 de maio de 1776 o Ministro da Marinha e Secretário do Estado deram
instruções sobre o recenseamento a ser realizado nas ilhas e capitanias do Brasil (AZEVEDO, 1955).
39
Com a criação da Comarca da Sergipe em 1696, subordinada ao Governo Geral do Estado do Brasil39 e não à
Comarca da Bahia, a cidade de São Cristóvão passa a ser o cabeça da Comarca de Sergipe contando com
todo o aparato existente desde a Ouvidoria (corregedor, tabelião, inquisidor, alcaide, carcereiro etc.), e em
1697 Portugal cria as primeiras vilas em Sergipe: Santo Antonio e Almas de Itabaiana, Nossa Senhora da
Piedade do Lagarto, Santa Luzia do Itanhy e Santo Amaro das Brotas, nomeando em 1700 as pessoas
responsáveis pelo funcionamento burocrático das mesmas, como alcaides, tabeliães, escrivães (NUNES,
1989).
40
A cidade de São Cristóvão, fundada em 1590, por Cristóvão de Barros, próxima à foz do Rio Sergipe,
denominada no século XVIII como cidade de Sergipe e/ou Sergipe d’El Rey, foi capital de Sergipe até 1855.
Com a instalação da Comarca de Sergipe em 1696, por determinações do Governador Geral D. João de
Lancastro, foram criadas as primeiras vilas pelo Ouvidor Diogo Pacheco Pereira: Santo Antonio e Almas de
Itabaiana (freguesia desde 1675); Nossa Senhora da Piedade do Lagarto (freguesia em 1679); Santa
Luzia do Itanhy (freguesia desde 1680), duas léguas acima do sítio Areticuíba, onde estava instalada a Vila
39
de Santa Luzia, desenvolveu-se a povoação de Estância em torno da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe,
causa que induziu os habitantes reivindicarem a elevação de título de vila que era de Santa Luzia, fato que se
concretizou em 1831, mas desde 1757, por Provisão Régia, foi concedida a povoação autonomia para realizar
atos jurídicos como vereações, audiência, rematações entre outros; Santo Amaro das Brotas (freguesia em
1761) e vila em 1699 devido às disputas políticas. Já Vila Nova do Rio São Francisco era denominada de
vila, mas era uma povoação, que só foi elevada à vila em 1731. (NUNES, 1996, p. 170-215).
41
Documentos do acervo do Arquivo de Marinha e Ultramar de Portugal, cujo Catálogo foi organizado por
Eduardo de Castro e Almeida, e publicado no volume XXXI dos Anais da Biblioteca Nacional, em 1909,
hoje disponibilizado no site http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais.htm.
42
Para Fonseca (2011) as paróquias ou freguesias foram a base da organização eclesiástica colonial, a qual
também auxiliavam à administração civil, especialmente ao fisco no que dizia respeito ao recenseamento e à
cobrança de impostos. Mas também na América portuguesa as designações paróquia e freguesia significavam
a igreja matriz, a povoação, as áreas rurais e até mesmo os sertões residuais (como eram chamados no
período colonial os espaços vazios de ocupação branca).
43
Os vigários só computavam o número de pessoas (almas) que confessavam, ficando as demais fora dessas
relações: os inocentes (crianças), os párvulos (idiotas) e pagãos (gentios).
44
“Mappa de todas as Freguesias, que pertencem ao Arcebispado da Bahia e sujeitos os seus habitantes no
temporal ao governo da mesma Bahia, com a distinçção das comarcas e villas a que pertencem, com o
40
Mas, quando cruzados com os dados relativos à residência, fica exposta a mobilidade
desta população.
numero de fogos e almas, para se saber a gente que se póde tirar de cada uma dellas par o serviço de S.M.,
sem opressão dos povos” de 9 de janeiro de 1775. Annais da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro - Nº
032 – Ano 1910 - p. 289. Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais_032_1910.pdf.
Acesso em 10 nov. 2011.
45
A naturalidade de 11 deles não foi declarada, de outros quatro não foi possível recuperar esta informação
devido um registro estar danificado e três incompletos.
46
Dom Marcos Antonio de Souza, em Memórias sobre a Capitania de Sergipe, registra a densidade
populacional dessa freguesia: “Também incluído no termo de Sergipe uma grande parte da populosa
freguesia de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba” (grifo meu). Em 1775 também este fato é evidenciado
no Mapa de todas as Freguesias que pertencem ao Arcebispado da Bahia. Vide acima no Quadro 2 -
Freguesias da Capitania de Sergipe Del Rey – 1775.
41
47
Sacerdote com ordens de missa.
42
Mas, para Brügger (2007, p. 81): “Não é possível estabelecer-se uma delimitação
rígida entre os universos rural e urbano para a sociedade colonial”. Embora para esta autora
seja evidente que as vilas tinham peculiaridades que as diferenciavam do meio rural como,
por exemplo, diferentes formas de ocupações, as moradias aparentavam ser mais perto uma
das outras e eram sedes do poder político da localidade. Em Sergipe Del Rey isso parece não
ter ocorrido, uma vez que as habitações fora do espaço urbano das vilas eram muito distantes,
como expressa Maria Cardoso de Oliveira, viúva do Coronel Alexandre Gomes
Castelobranco, por estar doente e morar:
48
AGJ - MAR/C.1º OF. Inventários. Cx.01-807. p. 5. Lucianna Maria foi casada duas vezes. No primeiro
casamento teve um filho e no segundo casamento dois filhos. Morreu sem deixar testamento.
49
AGJ - PFO/C. Inventários. Cx.01-2954. p.5. 1762.
43
Logo que verifiquei o tipo de propriedade onde morava o grupo dos 95 testadores
constatei que 46% deles viviam em sítios, 15% nas vilas, 9% nas povoações, 7% na capital
(São Cristóvão), 6% nos engenhos, 1% em fazendas de gado, 6% não foi possível identificar
devido estarem danificados e/ou incompletos e 9% não declararam. Mas ao analisar o local de
residência e propriedade do grupo dos 65 ab intestados, os dados fornecidos não são precisos
como nos testamentos, quanto ao tipo de propriedade, uma vez que a maioria informa apenas
que mora no termo50 tal, não informando precisamente em que tipo de propriedade. E como
alguns têm porção de terras, mais de um sítio, casa em engenhos, fica difícil, na maioria das
vezes, estabelecer qual a residência oficial.
Quando juntei os dois grupos de análise 51 (testadores e ab intestados) quanto ao termo
onde residiam, ficaram visíveis as áreas de concentração dessa população setecentista aqui
pesquisada, ficando evidente que São Cristóvão detinha maior índice de concentração da
população setecentista, seja ela moradora na área urbana ou rural, como demonstrado no
Gráfico 1, abaixo:
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos 160 inventários e testamentos do século XVIII
existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
50
Termo, no século XVIII constituía uma subdivisão da comarca, a qual envolvia várias localidades além das
vilas, povoações e sertões. A primeira comarca sergipana foi criada em 1696, quando Sergipe conseguiu sua
autonomia jurídica e tinha como sede a cidade de São Cristóvão. Em 1698 foram instaladas as primeiras
vilas: Itabaiana, Lagarto, Santa Luzia e Santo Amaro das Brotas; e com elas seus respectivos termos
jurisdicionais.
51
Na análise deste capítulo não estão as residências dos inventariantes, nem dos que assinaram a rogo por eles,
apenas dos testadores e inventariados.
44
1900ral
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1900ral
1900ral 1900ral
O que não dá para concluir que os membros da elite moradora no século XVIII em
Sergipe Del Rey detinham uma baixa concentração de cargos53. Esses estavam presentes nos
cargos de juízes ordinários e de órfãos trienais 54, testamenteiros e testemunhas que atuavam
nestes documentos.
52
Considerando como cargo a função de padre.
53
A ocupação de cargos públicos era um elemento que os diferenciava dos demais.
54
O Alvará de 2 de maio de 1731 criou os cargos trienais de juízes de órfãos, separados dos juízes ordinários
(SALGADO, 1985. p. 70).
46
Mas qual seria a situação econômica dessa elite se na sociedade colonial o mesmo
indivíduo podia ser, simultaneamente, sitiante, dono de engenho, comerciante e detentor de
cargos? Fica difícil estabelecer a ocupação e patamar econômico do grupo estudado, o que me
levou a investigar o valor das heranças via inventários, uma vez que eles informam o monte
mor55 dos bens desses indivíduos.
Das 160 famílias analisadas apenas 88 possuem inventários, os quais fornecem o
acesso ao monte mor, mas devido ao estado físico dos documentos (incompletos, apagados,
não constando o monte mor, por causa de problemas entre herdeiros) só foi possível levantar,
com precisão, o monte mor de 74 famílias. O valor encontrado nesses 74 inventários vão de
cento e vinte e seis mil réis (126$000) a vinte e oito contos e trinta e um mil e seiscentos e
sessenta réis (28:031$660), mas é preciso verificar o montante líquido destes bens, para saber
o quanto a geração posterior vai herdar. Pelo Quadro 6, é possível ter uma noção mais
aproximada destas heranças, além de onde estavam e a quem pertenciam.
55
Monte mor nos inventários do século XVIII em Sergipe era o termo utilizado para a soma total de todos os
bens.
47
25 Antonio Pereira de Vasconcellos 585$120 1793 Vila de Santo Amaro das Brotas
Vila Nova de Santo Antonio Real de El Rey do Rio de São
26 Damianna Ribeira 596$475 1794 Francisco
27 Catharina de Vasconcellos 600$090 1751 Vila Nova Real do Rio Sam Francisco
28 Francisco Joze de Mello 618$600 1799 Vila de Santo Amaro das Brotas
29 Anna Jozefa do Sacramento 636$000 1794 Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto
30 Luciano Souza Leal 645$220 1781 Povoação da Estância - Termo de Santa Luzia
31 Marianna de Sandes 651$780 1797 São Cristóvão
32 Ignacio da Costa Feijo 686$170 1757 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
33 Micaella Caetana 700$576 1800 Povoação da Estância -Termo de Santa Luzia
1789 Vila Nova de Santo Antonio Real de El Rey do Rio de São
34 Maria da Assumpção 708$740 Francisco
35 Luiz Carlos Pereyra 876$570 1777 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
36 Antonio Simoens dos Reis 907$330 1790 São Cristóvão
37 Francisco Rodrigues Ferreira 993$320 1789 São Cristóvão
38 Maria Caetana 1:143$750 1765 São Cristóvão
39 Maria da Graça do Nascimento 1:177$765 1799 Villa Nova de Santo Antônio Real de El Rey do Rio São Francisco
40 Miguel Pereira de Rezendes 1:184$480 1779 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
41 Joze de Goes Teles 1:186$820 1767 Vila de Santo Amaro das Brotas
42 Firmiano de Sá Souto Mayor 1:196$070 1765 São Cristóvão
43 Joze De Souza de Menezes 1:198$116 1794 São Cristóvão
44 Joze Frique do Prado 1:268$440 1764 São Cristóvão
45 Duarte Monis Barreto 1:339$460 1725 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
46 Manoel Nunes Coelho de Vasconcellos e Figueiredo 1:426$266 1755 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
49
63 Francisca Xavier de Menezes 5:101$839 1800 Vila de Santo Amaro das Brotas
64 Antonio Almeida Maciel 6:460$705 1741 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
65 Antonia Ferreira de Jesus 9:879$268 1789 Povoação da Estância - Termo de Santa Luzia
66 Bernarda Petronilha de Santa Anna 8:574$230 1800 Povoação da Estância - Termo de Santa Luzia
67 Marianna Francisca de Salles 11:301$230 1798 Vila de Santo Amaro das Brotas
68 Manoel Caetano do Lago 12:592$120 1796 São Cristóvão
69 Joze Cardozo de Santa Anna e Cardula Maria de Sam Joze 13:100$615 1788 São Cristóvão
70 Manoel Joze de Vasconcellos e Figueiredo 15:631$547 1777 Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
50
Dis D. Josefa Maria da Silva moradora na Ribra termo desta Cide, que seu
marido o Alfes Jose Frique do prado, falecido da via preste, deyxara d’entre
elle a suppte varios fos, e alguns menores p cuja rasão, quer a suppe fazer
inventro neste Juiso compete dos bens, que ficarão no seu Casal; e porque os
dtos filhos são mtos e a fasenda diminuta, e assim irão ficar os dtos orphaos
prejudicados em suas Ligitimas [...]. (grifo meu 56).
Maria Pereira de Jezus, viúva de Francisco Rodrigues Ferreira, com sete filhos
(também dota uma filha), moradora no termo de São Cristóvão, tendo entre outros bens sítios
de terras (denominados Pau Grande, Santo Antonio, Limoeiro), sobrado, gado, novilho,
garrote, bezerras, pés de coqueiros, carro, enxadas, machados, cavadores, espingarda, serras,
foices, imagem do Senhor Crucificado de marfim, imagem do Santo Antonio, banco de
encosto, mesa, caixa grande sem fechadura, baú de couro, frasqueira, roda de ralar mandioca,
tacho de cobre, casa de telha na cidade, porta, morada de casas na Povoação do Socorro,
colheres de prata, canas, cinco escravos, que apesar de serem avaliados em novecentos e
quarenta e três mil e trezentos e vinte réis (943$320) os considera como limitados bens: “Dis
Maria Pra de Jezus viuva que ficou por falecimto do seo marido Franco Roiz Frra [ilegível]
praticamte ha de fazer em inventro dos limitados bens que ficarão por morte do dto seo marido
pa delles dar partilhas aos orfaons seos filhos”. (grifo meu 57).
Anna Maria da Vitoria, viúva do Capitão Simoens dos Reis, que foi casado duas
vezes, com sete filhos (dota duas filhas), moradora em São Cristóvão, tendo entre outros bens
uma morada de casas de telha e de madeira branca, um oratório grande com telha dourada
56
O testador, Alferes Jose Frique do Prado, assina, mas a viúva não sabe escrever. AGJ - SCR/C.1º OF.
Testamentos. Cx. 01-67. p. 10. 1764.
57
A viúva não sabia escrever, mas o marido assinava. AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx. 01-14. p. 4. 1789.
52
com sete imagens, relicário de ouro, botões de ouro, brincos de ouro, colheres de prata, garfos
de prata, fivelas de prata de sapatos, caixa de breve de prata, bolandeira, caixa, sela, tachos
pequenos de cobre, roda de ralar mandioca, baú, mesas de pau branco 58, bacia e jarro de latão,
bacia de cobre, enxadas, machado, foices, cadeiras de assento, seis escravos, imagem de
Nossa Senhora da Conceição, que foram avaliados em novecentos e sete mil e trezentos e
trinta réis (907$330) que a viúva considerou como limitados:
Dis Anna Maria da Vitoria viuva q’ ficou p r morte de seo marido o Capm
Anto Simoens dos Reis q’ precisamte [ilegível] fazer inventro dos limitados
bens q’ ficaram [pr] morte do [corroído] falecido [corroído]] deles dar
partilhas aos orfáns seos fo e pr evitar maiores despezas e prejuízo dos
mesmos (grifo meu59).
Antonio Jose de Almeida, viúvo de Lucianna Maria, com três filhos, morador no
Termo da Vila de Santo Amaro, tendo entre outros bens brincos de ouro, pente de ouro,
fivelas de prata, uma escrava, tacho, portas, caixa, telhas, machado, sendeiro, potro, é um dos
que realmente tem limitados bens comparados com os demais, pois eles foram avaliados em
cento e noventa mil e duzentos réis (190$200). Ele assim relata na petição: “Dis Antonio Jose
de Almeida deste termo que hê falecida Da vida prezente sua mulher Lucianna Maria e para
que der fazer o Inventario dos limitados bens q ficarão necesita serem avaliados [...]” (grifo
meu60). O mesmo ocorrendo com Leonor Rodrigues, viúva de Antonio Teixeira de Souza,
com quatro filhos, tendo entre outros bens, quatro escravos, caixinha, sela, vacas, novilhos,
garrotes, cavalos, poldra, que foram avaliados em trezentos cinquenta e quatro mil e
quinhentos e vinte reis (354$520), como ela assim peticionou:
58
Nome popular de uma árvore da família das Borragináceas, endêmica da caatinga.
59
O Capitão Simoens dos Reis tinha sete filhos: um do primeiro casamento e seis do segundo, este último com
Anna Maria da Vitoria, que não sabia escrever e o escrivão assina por ela. AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários.
Cx. 02-15. p. 4. 1790.
60
. O viúvo assina com uma cruz. AGJ - MAR/C.1º OF. Inventários. Cx.01-807. p. 4. 1794.
61
A viúva não sabe escrever. Seu cunhado assina por ela. AGJ - PFO/C. Inventários. Cx.01-2954. p. 20. 1752.
53
Quando Sheila Faria conceitua família como um termo “[...] ligado a elementos que
extrapolam os limites da consangüinidade 62 – entremeia-se à parentela63 e à coabitação,
incluindo relações rituais” (FARIA, 1998, p. 21) e que a família (consanguínea ou não)
exerceu um papel basal na instalação e funcionamento das atividades econômicas na Colônia
e nela se originam ou convergem todos os aspectos cotidianos da vida pública ou privada,
também não destoa da visão de Freire.
Assim, a análise da família patriarcal de Gilberto Freire não pertence apenas à
historiografia tradicional, serve ainda hoje como base para os estudos acerca da família
colonial e imperial do Brasil, só que vista sob outros aspectos complementares, mas não
destoante, com novos documentos e novas áreas de estudo do Brasil. (VAINFAS, 2010).
Em Sergipe Del Rey, como estava estruturada a família? A maioria era formada por
portugueses ou por brasileiros de outras capitanias? Por sergipanos? As uniões eram
legalizadas civilmente e/ou no religioso? A prole era legítima em sua maioria? Qual a média
de filhos por família? Dotavam suas filhas? Como estava posta sua religiosidade colonial?
Sergipe divergia muito do restante do futuro país, Brasil? São indagações como essas que nos
levam, quando respondidas, a adentrar no cotidiano dos moradores na Capitania de Sergipe
Del Rey setecentista, e desta forma entender suas escolhas ou falta delas, sejam no âmbito
social, religioso, como no cultural.
Ao investigar os inventários e testamentos setecentistas, esperei encontrar um grupo
maior de portugueses morando em Sergipe, como a historiografia tradicional sergipana vem
dizendo64 ao longo dos anos. Maria Thétis Nunes, maior estudiosa do período, afirma que: “O
grande número de portugueses residentes na Capitania de Sergipe no século XVIII fez parte
da grande emigração que buscou a colônia do Brasil, resultado da crise econômica que
Portugal vivia” (NUNES, 1996, p. 154), afirmativa essa que a presente pesquisa, diante dos
documentos analisados, coloca em dúvida. Creio que a afirmativa de Nunes esteja certa para o
século XVII, quando da efetivação da conquista e distribuição de sesmarias, mas não para o
século XVIII.
Estudos mais recentes são contrários à ideia de que a emigração 65 dos reinóis no
século XVIII foi consequência da crise econômica, a exemplo da análise realizada por Thais
62
Parentesco, relação entre os que procedem do mesmo pai ou da mesma raça.
63
Conjunto de parentes, família.
64
BEZERRA (1965, p. 65-66), NUNES (1996, p. 154), SOUZA (2005, p. 17).
65
A emigração de portugueses sempre esteve presente na sociedade portuguesa desde o início do século XV, e
para o Brasil a partir do século XVI, a qual aumentou durante o século XVIII com a descoberta das minas.
55
Nivia de Lima e Fonseca (2008), a qual entendeu que essa emigração foi movida por outras
razões.
Não obstante as divergências entre os historiadores, no Brasil e em Portugal,
quanto à quantidade de portugueses vindos para a América, não parece haver
dúvidas quanto ao aumento dessa imigração no século XVIII, movida,
principalmente, pela exploração do ouro nas Minas Gerais, e quanto ao fato
de que a maioria dos emigrados provinha do norte de Portugal (FONSECA,
2008, p. 1).
Causou-me surpresa perceber que dos 160 indivíduos aqui estudados apenas 23 eram
portugueses. Foi fácil identificá-los porque havia o registro da nacionalidade desses. Embora
o império português fosse composto por Portugal e todas as suas colônias, os reinóis eram
registrados como portugueses nos documentos judiciários, de modo que, graças a esse
costume, identifiquei 23 portugueses (em 17 testamentos, cinco inventários com testamento e
um ab intestado). Esses portugueses representam nesta pesquisa 14% do grupo dos 160, ou
seja, uma pequena parcela da população.
Quanto aos brasileiros desse grupo, os 65 inventários sem testamento não fornecem a
naturalidade dos inventariados, por isso só foi viável identificar a origem dos 72 brasileiros
que fizeram testamento, assim distribuídos: 68 sergipanos, três baianos, um pernambucano e
apenas um não foi possível identificar. Este resultado leva-me a concluir que a maioria da
elite setecentista era composta por sergipanos (72%).
Acerca da naturalidade dos 23 portugueses que se instalaram em Sergipe, também era
sua maioria proveniente do norte de Portugal (como evidencia o Mapa 1), fato constatado em
toda a colônia brasileira.
56
4 1
1 1
1 1
1
Fonte: Mapa elaborado pela pesquisadora.
um; na Povoação de Nossa Senhora do Socorro, três; e um não declarou, não sendo possível
recuperar esta informação por outros meios. Estão todos relacionados abaixo, no Quadro 7.
66
Devido o testamento estar incompleto, não foi possível identificar o nome, mas a sua nacionalidade e
naturalidade foi declarada: “//Declaro que sou natural da Freguesia de São Cristovão de Nogueira Bispado de
Lamego do Reyno de Portugal, filho de Manoel Pereira Mendes e de sua mulher Maria Vieyra de Lemos ja
defunta//”, assim o denominamos. AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - p. 01-06.
67
Thomas Domingues da Silva, morador na Povoação da Estância, termo da Vila de Santa Luzia, era casado
com uma portuguesa, Francisca da Costa, natural como ele da Freguesia de Feira Arcebispado de Braga, que
ficou em Portugal, que segundo assim ele declarou em seu testamento: “Declaro que feito o Inventário dos
58
Não foi possível, através dos inventários e testamentos, traçar o itinerário 68 desses
portugueses. Para tanto seria necessário recorrer a outras fontes, o que seria desviar do objeto
de pesquisa em questão – o letramento da população, por isso apenas tracei de onde vieram e
para onde passaram a residir em Sergipe, como elucida o Quadro 8.
meus bens o que tocar da meação a minha mulher e herdeira ausente fique em mão de meu testamenteiro para
este [ilegível] da dita fazenda aremeter a seos donos sem interpretação de tempo. [...] Declaro que em
Portugal não deixei bens alguns e por isso se há de repartir os que do presente possuo com minha mulher na
forma de direito”. Eles tinham dois filhos já casados. Declara ter dois sítios, um onde cria gado e outro no
qual mora. O valor de seus bens era de 294$350. Passa carta de liberdade a uma sua escrava, Anaceta, após
ela ter pagado por sua liberdade e alforria, via carta de liberdade, quarenta mil réis a ser deduzido de sua terça
a um filho dessa sua cativa e o institui junto com mais dois outros seus irmãos que nasceram libertos e que
viviam em sua companhia, como herdeiros de sua terça, dando a entender serem seus filhos naturais. Como
não os declarou filhos, deduz-se serem casados com filhos naturais, ver Quadro 8. EST/C. 2º OF. Inventário
Cx. 05-489. As demais mulheres desses portugueses não constam nos documentos referência quanto a suas
naturalidades.
68
Para Maria Beatriz Rocha-Trindade a noção de itinerário, mais do que o caminho geográfico que o emigrante
anda, serve também para designar a sua trajetória social. (ROCHA-TRINDADE, 1986, p. 139-156).
59
BRAGA Freguesia de Feira - Arcebispado de Braga Povoação da Estância - Termo da Vila Real de Santa Luzia
Freguesia de Sam Pedro [Fernão] - Arcibispado de Braga Vila Real de Santa Luzia
Freguesia de Santa Marta - Arcebispado de Braga Vila Real de Santa Luzia
Freguesia de São Joam do Castanheiro - Arcebispado de Braga Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto
São Salvador da Tiboza - Arcebispado de Braga Vila de Santo Amaro das Brotas
Freguesia de Santiago de Carralcova - Arcebispado de Braga Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
Santa Maria dos Arcos de Esposende do Arcebispado de Braga Não declara
BRAGANÇA [Barcelos do Monte] Bispado da [Miranda do Douro] terra de Bragança Vila Real de Santa Luzia
FARO Vila de Parchal Povoação da Estância - Termo da Vila Real de Santa Luzia
LISBOA Cidade de [Lisboa] Reino de Portugal Vila Real de Santa Luzia
Cidade de Lisboa Vila Real de Santa Luzia
Cidade de Lisboa Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana
PORTO Freguesia de Escariz termo da Vila de Cabesais - Bispado do Porto Vila Real de Santa Luzia
Freguesia de Santa Maria da Feira - Bispado de Porto Povoação da Estância - Termo da Vila Real de Santa Luzia
Freguesia de São João de Afos - Bispado da Cidade do Porto Povoação de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba
Freguesia do Senhor dos Matosinhos Povoação da Estância - Termo da Vila Real de Santa Luzia
SETÚBAL Freguesia de São Sebastião Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto
VISEU Freguesia de São Cristovão de Nogueira - Bispado de Lamego Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos inventários e testamentos do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de
Sergipe.
60
3.2 – A FAMÍLIA
3.2.1 – Casamento
69
Tanto que a infecundidade nesse período era motivo para o marido repudiar a mulher, pois a procriação
constituía o objetivo do casamento, tanto no casamento-contrato quanto, posteriormente, no casamento
eclesiástico. Para a Igreja só a procriação via casamento era considerada legítima. Por isso, se o casal não
quisesse ter filhos, até as relações sexuais eram censuradas.
70
Eram promessas ou contratos de futuros casamentos, comuns na Europa pré-tridentina, que foram aos poucos
combatidos pela Igreja após o Concílio de Trento. Nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia em
seu título LXIII, parágrafos 262 a 266, ainda havia a regulamentação dos esponsais.
61
testemunhas. Tinha restrições a respeito da idade71 dos nubentes, que era 14 anos para o
homem e 12 para a mulher. Mas às vezes essa idade era contestada, principalmente quando
não sabiam ler nem escrever, como fez, em Sergipe, Francisco Joze da Piedade, a respeito de
seu afilhado, em petição ao Juiz de Órfãos:
Dis Franco Joze da Piede que por falecimento de Anna Jozefa do Sacramto
ficarão tres [filhos] menores em puder de seu pay sendo [ilegível 2 palavras]
entre os quais he hum de nome Antonio afilhado de batismo do supte e o qual
[ilegível] mourou em sua caza e comp a em intregalhe a [ilegível] pay agora
por ter não aproverado [corroído] cazar porque se lastima do dto [corroído]
razão de ser seu afilhado e está com [quatorze] pa quinze annos sem saber
[ilegível] nem ler escrever pello Pay do dto [...]72.
71
Nos testamentos não há informações a respeito das idades das filhas casadas, mas apenas o nome do cônjuge e
o dote, quando dotadas. Também nos inventários não consta registro de idade, uma vez que as casadas são
emancipadas da tutela dos pais passando para a dos maridos. Por isso não é possível estabelecer uma
estimativa da faixa etária delas ao casarem, em Sergipe setecentista. A emancipação adquirida através do
casamento ocorria tanto para as mulheres como para os homens e estava posta no Direito vigente como atesta
Antonio Joze de Araujo em petição ao Juiz de Órfãos: “Diz Antto Je de Aro q. pr este Juizo se procede o
Inventro, e partilhas dos bens q. ficarão pr falecimto de Sua May D. Anna Jozefa do sacramto continuado com
seu marido Simão de Ar o Sandes, e pr q. o supte acha cazado, e na forma do Dirto emancipado, e pa poder
tomar conta de Seos bens, e com elles sustentar asim (grifo meu)”. LAG/C.2º OF. Inventários. Cx.01-1128.
p. 29.
72
LAG/C.2º OF. Inventários. Cx. 01-1128, p. 23.
73
Banho de casamento. Pregão, que o pároco lança na citação, para ver se há quem ponha impedimento ao
casamento; chama-se pregão porque se apregoa. Estes banhos são três, acessíveis ao público durante três dias
santos; neste sentido Banho se deriva de Bann, que em língua Alemã quer dizer Publicação. (BLUTEAU,
1712). Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1/banho. Acesso em: 13 fev. 2012.
74
“Por direito é proibido celebrar-se matrimônio com solenidade em certos tempos do ano, e o sagrado Concílio
de Tridentino restringiu do primeiro domingo do Advento até o dia da Epifania, inclusivamente, e de quarta-
feira de Cinza até a Dominica, in albis, inclusivamente”. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.
2010, p. 254.
75
No livro Sistema de casamento no período colonial de Maria Beatriz da Silva (1984), na nota 80, p. 151,
informa acerca do trabalho de pós-graduação em História Social de Maria Luíza Barreto, que não só traduziu
a referida bula Satis vobis como analisou o livro de registro de Casamentos ocultos e batismos de casamentos
ocultos de 1808 a 1869 da Cúria do Rio de Janeiro, no qual só foram encontrados quinze registros de
casamentos ocultos para o período colonial.
62
Nizza da Silva (1984) diferenciou casamento clandestino, como sendo uma prática aceita,
enraizada nos costumes e leis do Reino português, sem a necessidade da presença de um
pároco e de testemunhas, bastante combatida desde o Concílio de Trento, no século XVI; do
oculto, que ocorria para tirar do concubinato casais que viviam secretamente há anos como
casados, mas sem a benção da Igreja (SILVA, 1984, p. 114). Para essa autora, somente no
século XIX, no Rio de Janeiro, a Igreja passou a registrar, de forma sistemática, os
casamentos ocultos não encontrando este tipo de matrimônio nos livros do Arquivo da Cúria
de São Paulo no período anterior.
Alessandra da Silva Silveira (2005), em sua tese de doutorado, analisa o “Livro de
casamentos de consciência ou ocultos de 1818 a 1852” do Arquivo da Cúria Metropolitana do
Rio de Janeiro76, e diz: “Talvez seja o único exemplar existente no Brasil” (SILVEIRA,
2005”. Mas, em Sergipe, no “Livro de Registro de Assento de Matrimônio de 1798 a 1808”,
da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, com 694 registros de casamentos de
pessoas livres, de livres com escravos, de escravos com índios, de índios com livres (os
casamentos mistos), entre escravos, encontrei sete registros de casamento oculto: de Jozê da
Costa com Thomazia, escrava de Antonio Jozê de Souza; de Felix de Oliveira com Silveria
Maria; de Francisco Clemente Brâs com Benedita, livres; de Francisco Gomes, forro, com
Chispiana, escrava de João Baptista de Moura; do Capitão Francisco Marques com sua
escrava Joanna; de Manoel Francisco, forro com Joanna escrava de Francisco Gomes; e de
Agostinho da Silva com Roza Maria, livres. Todos foram casados no dia 06 de março de
1791, pelo Vigário Antônio Correa Dantas77, assim justificados: “[...] dispensados pelo dito
missionario nos banhos por se cazarem ocutamente e lhes deo as bençaos nupiciais na forma
dos sagrados rittos [...]”. O que vem comprovar que esses casamentos talvez fossem mais
comuns do que se pensa, com seus registros também assentados nos livros de registro de
matrimônio, não sendo, portanto, encontrado registrados em livros específicos, e que talvez
fato idêntico tenha ocorrido em todo o Brasil, tanto no século XVIII como no XIX.
A finalidade do matrimônio eclesiástico 78 era o da propagação humana, visando:
expandir a cristandade, não tendo o prazer, portanto, como objetivo; a fé e a lealdade mútua,
que preservaria desta forma tais uniões; e a inseparabilidade dos casados era a manutenção do
vínculo com Cristo e a Igreja, e deveria estar, segundo as normas, dentro dos preceitos
estabelecidos pela Igreja Católica. Foi regulamentado no Brasil pelas “Constituições
76
Talvez o mesmo citado por Maria Beatriz Nizza da Silva, apenas com datas-limite não coincidentes.
77
Livro de Assento de Matrimônio da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Vila do Lagarto (1790-1803),
p. 54-55. Disponível no site: https://www.familysearch.org.
78
Estava posta no Título LXII das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.
63
Além de Catharina Borges Marim, há Francisca de Serqueira Pacheco 83, que se casa
pela segunda vez após ser quinquagenária e depois se divorcia no Juízo Eclesiástico.
Após o concílio, as uniões nos padrões portugueses pelo uso costumeiro
(clandestinas), nas quais não havia a bênção eclesiástica, mas conviviam dentro dos mesmos
parâmetros, passaram a ser proibidas e consideradas como pecado grave. Em Sergipe elas
79
Erro de pessoa, quando uma pessoa fingia ser outro; de condição, quando um cativo passava por livre; de
voto solene, às ordens sacras e religiosas; de cognação, consanguinidade natural (parentesco) dos cônjuges
e/ou espiritual (batismo, crisma); de crime, quando um dos cônjuges matava para casar novamente; de
disparidade, proibição da igreja de um infiel casar com um fiel católico; de força ou medo, uniões
realizadas sob ameaças; de ligame, as uniões por palavras de presente; de pública honestidade, promessa de
casamento futuro com algum parente de primeiro grau de quem se pretendia casar naquele momento; de
afinidade, cada cônjuge ao casar, passava a ter laços de sangue com os parentes de ambos; com a morte de
algum nubente, era proibida a união; de impotência, quando algum dos noivos, por algum problema não
conseguia gerar; o rapto, furto contra a vontade ou com consentimento feminino sem o consentimento dos
pais; e o de ausência, na falta de alguma testemunha e do pároco, não existia matrimônio.
80
Tolo, idiota.
81
Ordenações Filipinas: Livro 4 Tit. 105: Das mulheres viúvas que casam com mais de cinquenta anos e não
podem ter filhos.
82
AGJ - SCR/C.1ºOF./Livros de Notas. Escritura de Contrato e declaração. 1771. Cx.01-52. Liv.03. p. 59-60.
83
AGJ - SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos. Cx. 62 – Liv. Testamento de Francisca de Serqueira Pacheco p.
02-03. 1784.
64
também ocorriam, como declarou em seu testamento Antonio Gonçalves Colaco 84: “Declaro
que cazei segunda ves nesta dita freguesia com Antonia de [ilegível] com a qual estou
vivendo de portas adentro e deste matrimonio tivemos quatro filhos que se achão vivos de
maiores de vinte e hum annos [...]” (grifo meu). Este tipo de casamento informal não deve ser
confundido com o concubinato85. Para a Igreja o concubinato era:
84
AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62 – Lv. 1. p. 99-104. 1776.
85
Rangel Netto Cerceau (2008) ao analisar as formas de concubinato na Comarca do Rio das Velhas, em Minas
Gerais, tipificou em: simples, adulterino, incestuoso, clerical, composto, duplo e com promessa de
casamento.
86
Eram aqueles em que os cônjuges se tornavam meeiros. Todos os bens trazidos e adquiridos quando da morte
de um o outro herdava a metade, entrando na partilha todos os bens. O mais comum no reino português.
87
Havia a separação de bens. O dote e a doação das arras pelo marido retornavam para a mulher com a morte
dele. A partilha era feita somente com os bens adquiridos no matrimônio, prática frequente entre a nobreza.
88
“Todo [sic] os casamentos feitos em nossos Reinos e senhorios, entende-se serem feitos por Carta de ametade
(3) salvo quando entre as partes outra cousa for contractada) e porque então se guardará o que entre elles for
contractos”. A nota 3 diz que: “Carta de ametade se diz commuião ou communicação legal. O Legislador usa
de igual sorte das expressões casamento segundo o costume do Reino, e em que os cônjuges são meeiros”.
Livro 4, Título 46, nota 3, p. 832. Ordenações Filipinas. Disponível em:
<http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm>. Acesso em: 15 fev. 2012.
65
No grupo dos 95 testadores desta amostra, 83 eram ou foram casados (53 casados(as),
29 viúvos(as) e uma divorciada), o que demonstra uma maior preocupação dos casados em
fazerem testamentos. Doze eram solteiros e cinco testamentos estão incompletos, uma vez que
não contém esta informação. Deste universo que vivenciou o casamento, 33 declararam o tipo
de casamento92, mas 44 disseram apenas ser casados, o que levanta a hipótese de consistirem
casamentos informais. No grupo dos 65 ab intestados também prevalece o dos casados
(embora não conste o tipo de casamento) em detrimento dos solteiros.
89
AGJ - SCR/C. 2º OF. Inventário Cx. 01-159.
90
Fazenda. Riquezas, dinheiro, cabedaes. BLUTEAU. 1728. Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1/fazenda>. Acesso em: 13 fev. 2012.
91
AGJ - SCR/C.1ºOF./Livros de Notas. Cx.02-53. Liv. 01. p. 264-266.
92
Carta de ametade (6); Igreja (22) agrupada das seguintes expressões: rito romano, ritos sagrados, forma
canônica, face da Igreja, Santa Madre Igreja, forma do Sagrado Concílio Tridentino, face da Igreja e Concílio
Tridentino; Igreja e carta de ametade (1); legalmente casada e/ou legítimo matrimônio (3); matrimônio e
portas adentro (1).
66
Fica provado, nesta pesquisa, a qual reflete parte significativa da elite setecentista
moradora em Sergipe Del Rey, que a maioria (88%) da população era formada por pessoas
casadas, como é possível observar na Tabela 2.
93
Quanto ao princípio de igualdade de idade Maria Beatriz Nizza da Silva (1984, p. 68) e Gian Carlo de Melo
Silva (2008, p. 119) em seus estudos concluíram que tanto em São Paulo como em Recife, ele não
correspondia às práticas matrimoniais, sendo a diferença de idade entre os casados de nove a dez anos e que a
escolha do futuro cônjuge era do homem e nunca da mulher. Em Sergipe setecentista, apenas em 71 dos 88
inventários foi possível recuperar o número de filhos e algumas das suas idades. Desta pesquisa, 35 famílias
tinham filhos casados e em apenas um documento há a idade (17 a 18 anos), o que parece ser uma prática,
pelo menos em Sergipe nesse período, de não registrar a idade de filhos casados, uma vez que os mesmos ao
casarem são emancipados dos pais e considerados como adultos maiores.
94
Em Sergipe colonial, na pesquisa da elite trabalhada, existe registro de um casamento de condição sociorracial
diferente (pessoa livre com cativo) - o de Bernabe Ferreyra dos Reys, que assim deixa registrado: “Declaro
que sou cazado com Andreza Marques de Sá de cujo cazamento tenho hum filho de nome Joam e huma
menina por nome Anna os quais são meus herdeiros. Declaro que tive no tempo que era solteiro huma filha
natural por nome Anna filha de Maria de Sá a qual instituo por minha herdeira com os mais filhos. Declaro
que tambem tenho um filho por nome Joam tambem filho natural digo que declaro que o meu filho Joam
filho de minha mulher Andreza o forrei por outro escravo que dei por elle o qual ainda não lhe passei carta de
Alforria e me está servindo como captivo e assim por meu falecimento o forro e hei por forro [ilegível] de
toda escravidão e cativeiro e meu testamenteiro lhe passará carta de Alforria cazo em minha vida lhe não
tenha passado”. Se o filho da sua mulher era ainda escravo quando fez seu testamento, isso era decorrente da
mãe ser escrava, e como não é registrado o tipo de casamento, pode ter sido o mesmo não religioso e sim de
portas adentro comum nessa época (AGJ-SCR/1º OF. Livros de testamentos – CX. 62 – Liv. p. 101-103); e
com expostos, como o testador Luiz Carlos Pereyra, casado na Igreja com Angelica Perpetua de Jesus,
registra esse fato em seu testamento em 1777; “Declaro que sou natural desta Itabaiana filho de Josefa
Eugenia de quem fui sempre tido por filho porem exposto em casa do Alferes Antonio Diniz Ribeiro e de sua
mulher Dona Maria Pereira do Lago da Freguesia de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba onde fui
batizado” (grifo meu). SCR/C.1ºOF. Apelação. Cx. 0103.
95
Quanto ao de fortuna e de saúde não encontrei documentos em Sergipe que fossem evidenciados, o que não
quer dizer que não existiam..
96
APES-Coleção Sebrão Sobrinho - Caixa 32. 1757. p. 5.
67
Apesar de o casamento eclesiástico ser uma união indissolúvel para a Igreja, essa
aceitava o divórcio, no entanto não extinguia o vínculo do matrimônio. As justificativas mais
frequentes eram sevícias ou adultério dos maridos. A ação de divórcio era feita no Juízo
Eclesiástico através de uma petição. As testemunhas eram inquiridas e o vigário geral emitia
um mandato de depósito. Era lavrado o auto de depósito no qual informava em que casa a
divorciante fora depositada (devendo ser uma casa honesta) e a relação dos bens que levava
consigo como a sua cama, roupas, objetos pessoais, joias e uma escrava para servi-la, onde
ficava aguardando a sentença final (SILVA, 1984). Nem sempre as esposas conseguiam o
divórcio, como ocorreu na Capitania de Sergipe Del Rey em 1783 com Arcangela Maria,
casada com Vicente Jose da Silva 97. Ela acusa o marido de concubinato com uma sua escrava,
e por causa disso era maltratada com pancadas e murros, ao ponto de uma vez ser socorrida
pelos escravos e dele ter fugido. O marido ganha a sentença na Relação Metropolitana do
Arcebispado da Bahia contra o Vigário Geral da Capitania de Sergipe ao recorrer à Rainha D.
Maria I. A justiça manda tirar a esposa de onde estiver restituindo-a a seu marido. A outra
menção de divórcio eclesiástico em Sergipe nesse período é o de Francisca de Serqueira
Pacheco98, que o faz em seu testamento:
Declaro que passei a segundas nupcias com Pedro Tavares Pereira depois de
eu ser quinquagenaria e desse matrimonio com o ditto Pedro Tavares me
acho ja devorciada por sentença que alcansei no Juizo ecleziastico do
Reverendo [Doutor] Vigário Geral destta Comarca. (grifo meu99).
A guarda dos filhos de pais divorciados variava dependendo de cada situação: por
sexo – homens com o pai e mulheres com a mãe; por divisão aritmética (nº de filhos) ou
ficava com quem deu a causa da separação (CAMPOS, 2003).
Apesar dos casamentos coloniais serem pautados nas relações de interesses
socioeconômicas, arranjados pelos pais, sacramentados pela Igreja Católica ou via contratos,
o amor não fora excluído dessas relações, estando ligado a dois arquétipos de sexualidade: “o
amor casto de esposas” e o “amor-paixão” (CAMPOS, 2003). O “amor casto de esposas”
idealizado pela Igreja foi evidenciado em Sergipe setecentista no testamento de Maria Jose da
97
Arquivo Ultramarino. Requerimento de Vicente Jose da Silva, morador no Distrito da Capitania de Sergipe
Del Rey, a Rainha [D. Maria I], apelando para o cumprimento da sentença que obteve a seu favor na relação
Metropolitana do Arcebispado da Bahia contra sentença proferida pelo Vigário-Geral de Sergipe Del Rey a
favor de Arcangela Maria, mulher do suplicante, no divórcio por ela requerido. Cx. 8, Doc. 32. 1783.
98
A mesma por não saber ler nem escrever, solicita a seu compadre, o Alferes Antonio Ferreira Dutra, que
escreva seu testamento e é assinado a seu rogo por Manoel Zuarte Homem.
99
AGJ - SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos. Cx. 62 – Lv. 06. p. 2-3.
68
Conceiçam100, casada com Joze de Brito [Callaça] por carta de ametade, sem filhos, que faz
questão de assim registrar:
Declaro que nomeio e instituo por meu herdeiro universal de tudo o que
depois de pagas as minhas dividas e compridos os meus legados, restar de
[corroído] o dito meu marido digo restar da minha fazenda ao dito meu
marido Joze de Brito Callassa não só por não ter herdeiros forsados, mas
também pello grande amor que lhe tenho e fidelidade com que me tem
tratado (grifo meu101).
100
Ela assina seu testamento.
101
AGJ - SCR /C. 1º OF. Testamento. Cx 07-73. p. 11.
102
AGJ - SCR/C.1º OF. Cx. 62. (1770-1819) Liv. de testamento 07. p.146.
103
AGJ - SCR/C.1º OF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - pp. 07-13.
104
O interessante é que ele faz o testamento em 1798 e o altera via codicilo em 1808; deixa doze mil réis em
fazenda para a filha de Agostinho da Silva Seroa, por ter cuidado dele com zelo e cuidado em sua
enfermidade, ficando a pergunta: onde estava a esposa ou a amada que não cuidaram dele doente? Ele assina
o testamento.
105
Maria Lucília Vivieros Araujo, em seu artigo Lojas e armazéns das casas de morada paulistas, dá a
definição entre fazenda seca e fazenda molhada na instrução para o governo da Capitania de Minas Gerais,
redigida pelo desembargador José João Teixeira Coelho, em 1780, que assim as definiu: "por fazenda seca se
entende o que se não come nem bebe, e serve para vestir, e por fazenda de molhados os comestíveis, ferro,
aço, pólvora e tudo o mais que se não veste". ARAUJO, Maria Lucília Viveiros. Lojas e armazéns das casas
de morada paulistas. Rev. hist., São Paulo, n. 160, jun. 2009. Disponível em:
<http//www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
83092009000100015&lng=pt&nrm=isso>. Acesso em 20 jun. 2012.
69
Em uma sociedade patriarcal como era a colonial, onde pouca voz tinha a mulher,
como ficava a questão da legitimação dos filhos advindos dentro ou fora dos casamentos? E
os expostos/enjeitados também existiram em Sergipe?
Tanto em Portugal como na colônia brasileira, com contornos diferenciados entre
nobres e plebeus, a legitimidade dos filhos advinha dos casamentos de seus pais no religioso
ou civil e/ou do reconhecimento jurídico dos ilegítimos, pois a ilegitimidade sobrevinha das
relações sexuais entre pessoas solteiras, adúlteras, incestos, clérigos, de camadas sociais
distintas. Mas a ilegitimidade não foi um fato específico de Portugal e/ou Brasil. Ocorria em
todos os estratos sociais como consequência de uniões sem o aval legal, religioso ou civil.
Ao analisar a questão da ilegitimidade da população colonial do Brasil, a qual tinha a
historiografia brasileira firmada no consenso da primazia desta sobre a legítima, tanto para
pessoas livres/libertos, como para escrava, a historiadora Sheila Faria (1998) ao estudar a
família na Capitania de Paraíba do Sul - Campos dos Goitacases107 chegou a pensar que os
resultados obtidos em sua pesquisa representavam desvio de regra geral no Brasil colonial.
Porém, ao verificar os trabalhos sobre o assunto, família e legitimidade no século XVIII, com
exceção do Recôncavo Baiano108, constatou que eles estavam restritos às áreas de mineração e
alguns centros urbanos, portuários, ou seja, regiões de passagem com populações em
migração contínua109 e não em zonas unicamente agrárias como era a maioria das regiões
106
AGJ - SCR/1º OF. Cx. 04-64. Livro de Registro de testamento. p. 123 v – 131v.
107
Atualmente o Norte Fluminense, no estado do Rio de Janeiro.
108
No qual a capitania de Sergipe Del Rey estava inserida.
109
A autora alerta que são raros os trabalhos que analisam áreas consideradas como sem importância no cenário
econômico colonial e até mesmo no século XIX, o que leva a se ter uma visão generalizada das demais
regiões sobre estas. Estudos sobre a Capitania de Sergipe Del Rey, que também não era de ponta da
economia colonial, nem urbana, nem mineradora, vêm preencher parte desta lacuna na historiografia colonial
sergipana e brasileira. Há teses em andamento como esta e outras já defendidas como a de Edna Maria Matos
do Antonio: “A Independência do solo que habitamos”: poder, autonomia e cultura política na construção
do império brasileiro. Sergipe (1750-1831). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
70
coloniais, refletindo portanto uma realidade regional específica e não de toda a colônia
brasileira.
Em Sergipe, a raridade da documentação paroquial colonial (livros de batismo,
casamento e óbito) e os processos de banhos matrimoniais do século XVIII 110 dificultam o
estudo da legitimidade, seja ela de pessoas livres, libertas ou escravas.
Mais uma vez os testamentos e inventários vieram em meu socorro. Neles pude
recuperar parte desta informação, que apesar de não fornecer dados quantitativos e
qualitativos amplos como as fontes paroquiais, dão indícios de como estava posta a questão
no cotidiano da Capitania de Sergipe Del Rey. Os testamentos informam a situação da filiação
(legítimos ou ilegítimos) dos testadores e a de seus filhos. Nos inventários, além da filiação
podemos recuperar a relação dos filhos, algumas com suas idades e estado civil, tanto dos
filhos vivos como dos falecidos111.
Antes de adentrar neste universo com dados que possibilitem compor um esboço do
perfil da legitimação e/ou ilegitimação setecentista em Sergipe, faz-se necessário
compreender o que era ser legítimo ou ilegítimo na sociedade colonial brasileira, de acordo
com as normas regidas pela legislação civil, expressas nas Ordenações Filipinas e religiosas
contidas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.
Pelos preceitos das Ordenações Filipinas e das Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia, filhos legítimos eram aqueles provenientes do casamento legal dos
pais, ou seja: “[...] nascidos na constância do matrimônio, cujos pais mantiveram convivência
notória pelo menos durante 120 dias (período legal da concepção) dos 300 que antecedem o
nascimento” (LOPES, 1998, p. 74); e filhos ilegítimos112 quando gerados fora do casamento,
Franca. 2011; e a de Vera Maria dos Santos: A mulher de posses e a instrução pública elementar na
Capitania de Sergipe Del Rey nos anos setecentos. Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão. 2011.
110
Não encontrei nenhum. Somente um livro de assento de matrimônio do século XVIII da Freguesia de Nossa
Senhora da Piedade do Lagarto (1790-1803) e dois de registro de batismo (1785-1804) foram localizados no
site: <https://www.familysearch.org>. Acesso em: 22 ago. 2012.
111
O que não permite aferir dados de mortalidade familiar, sem as informações concludentes como idade, motivo
do óbito. Nos testamentos também esses dados são fornecidos pelos testadores nos mesmos parâmetros.
Infelizmente nem sempre contêm esses dados por estarem incompletos, danificados ou não foram registrados
no documento.
112
Segundo Brügger (2007), as pesquisas feitas com os registros paroquiais de batismo em São João Del Rey no
século XVIII levam a constatação de que o padre registrava a identificação do pai de filho mesmo sem o
mesmo estar presente, além dos filhos adulterinos, fato esse também observado por Shelila de Castro Faria
(1998) na freguesia de São Gonçalo do Recôncavo da Guanabara no século XVII, o que para esta autora seria
consequência da tentativa de normatização imposta pela Igreja que ainda não ocorria e que a prática
desapareceu dos registros no século XVIII. Para Brügger o caso de São João Del Rey representa resquício
desta prática uma vez que perdura até fins da década de 1840 (BRÜGGER, 2007, p. 73-75). Parte dos
registros paroquiais sergipanos está disponível no site: https://www.familysearch.org. Do século XVIII só há
um livro de registro de assento de matrimônio (maio de 1790 a fevereiro de 1803) oriundo da Freguesia de
Nossa Senhora da Piedade do Lagarto.
71
dividindo-se por sua vez em duas categorias: os naturais e os espúrios. Aos naturais113, filhos
nascidos de ligações consensuais ou concubinato entre pessoas solteiras e sem impedimento
para se unirem a eles, a legislação garantia os mesmos direitos aos bens e à sucessão que
usufruíam os legítimos, desde que não estivessem enquadrados na categoria de insucessíveis
(filhos de pais que mantinham relações sexuais não aceitas pela Igreja com mais de uma
mulher).
A legitimação da prole ilegítima podia ser mediante três meios: testamento 114, carta de
legitimação ou futuro casamento dos pais. Estas medidas legais habilitavam o filho natural a
suceder em herança como os filhos legítimos. Os filhos naturais de pais da nobreza não
legitimados não tinham direito à herança se os pais falecessem ab intestados, herdavam os
parentes mais próximos, o que não ocorria com os naturais de pessoas não pertencentes à
nobreza. Aos espúrios115 advindos de pessoas que possuíam impedimento ao matrimônio
(sacrílegos, adulterinos e incestuosos) não tinham direito à herança, nem sucessão no caso dos
nobres.
113
Devido às Ordenações Filipinas serem um Código de Lei civil que regia a vida das pessoas do Império
Ultramarino português no século XVIII, no Antigo Regime, existia a distinção entre pessoas nobres e
plebeias. Aos descendentes de nobres era necessário parecer Régio para se legitimarem, o que não ocorria
com os não nobres, que bastava declararem em escritura pública ou em testamento o desejo de perfilhar seus
filhos naturais. A perfilhação juridicamente é um ato individual e voluntário de um homem ou uma mulher
que reconhece uma pessoa como filho, só tendo validade se for através de um documento público não tendo
legalidade uma carta ou documento particular, em ambos os casos acima citados.
114
O testamento é um documento jurídico com dados religiosos, materiais e familiares no qual o testador
declarara sua condição de filiação.
115
Nesta pesquisa, os filhos sacrílegos (nascidos de relações sexuais entre um leigo e um eclesiástico): não
foram declarados pelos cinco padres testadores, uma vez que afirmaram não ter filhos, deixando como
herdeiros sobrinhos e afilhados, estratégias adotadas que permitiam, livremente, cuidar de seus filhos-
afilhados, filhos-sobrinhos, até mesmo em suas companhias, além de deixarem bens em seus testamentos
amparando assim sua prole sem, contudo, alardear na sociedade a real situação, ou solicitavam permissão
especial para doarem bens a seus filhos quando declarados e assim, portanto legitimados, mas não podendo
por lei herdarem, como foi o caso do Padre Manoel Francisco da Cruz, Sacerdote do Hábito de São Pedro,
que em 1778, devido à idade avançada de cinquenta e dois anos, solicita à Rainha D. Maria I mercê para
poder fazer uma doação entre vivos de dez mil cruzados a seus dois filhos, pequenos, havidos no estado
sacerdotal, sendo, portanto espúrios, para que os mesmos herdassem. Em 1780, estando com saúde e de pé,
faz seu testamento, no qual beneficia com sítios, gados e escravos o menino João Francisco da Cruz e a
menina Anna Josefa, seus filhos, mas não assim reconhecidos e sim como filhos da parda Lourença Francisca
Nabuco, mulher de Felles Álvares de Freitas, sua comadre. Em 1784 ele, doente de cama, modifica o seu
testamento doando à menina Anna Josefa e ao menino Francisco mais dois sítios. AHU-CTAN: Cx. 8. D. 23
e AGJ - SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos – Cx. 62 – Lv. 04 – pp. 102-122; os adulterinos (ambos ou
um dos pais era casado): dos dez testadores que declaram terem filhos naturais, oito eram casados, mas não
declaram o estado civil quando do nascimento desses filhos, artifício comumente utilizado para os filhos
terem direitos a herdarem; e os incestuosos (advindos de parentes ligados por consanguinidade e/ou
afinidade, até o 4º grau): não foi possível detectar grau de parentesco no universo pesquisado.
72
Como podemos perceber a maioria sabia quem eram seus pais, e se eram ou não filhos
legítimos. Somados com os que declaram os nomes dos pais, embora não se intitulassem
como legítimos ou ilegítimos, e os que assumiam essa condição de ilegitimidade, teremos
86% dos testadores cientes de suas origens (pai e/ou mãe), para o silêncio de 9%. Isso
demonstra que as famílias coloniais, mesmo de capitanias pequenas e sem projeção
econômica como Sergipe, eram estruturadas familiarmente.
Mas quem eram estes testadores ilegítimos? Tiveram eles também filhos em idêntica
condição, repetindo assim a mesma história? Como podemos observar, a seguir no Quadro 9,
dos 95 testadores apenas cinco declararam ser filhos naturais (o que representa 5% de
ilegítimos para 95 % de legítimos), o que coincide com a conclusão de Sheila de Castro Faria
(1998, p. 52) ao discordar de Mary Del Priore quando essa afirma ser pequena a porcentagem
de maternidades dentro de relações lícitas da elite colonial.
116
Foram selecionados, dentre os mais de 100 testamentos custodiados pelo Arquivo Geral do Judiciário de
Sergipe e o Arquivo Público Estadual de Sergipe, noventa e seis, os demais foram excluídos por estarem
fragmentados, não apresentando dados suficientes para esta pesquisa.
117
A presente pesquisa trabalha com um apanhado significativo da elite setecentista, não levando em conta a
população sem bens. Por não existirem estudos detalhados sobre o assunto, não nos permite afirmar,
discordar ou supor que a ilegitimidade era alta ou não.
73
Apesar de serem filhos naturais, esses cinco testadores constituíram famílias, bens e
prestígio na sociedade, como demonstram os registros de seus testamentos e inventários 118,
fazendo parte de uma realidade social, conforme já mencionada, existente não só em Sergipe,
mas no Brasil, em Portugal e em toda a Europa, situação que, embora tida como ilegal, havia
fortes amparos na legislação portuguesa civil e eclesiástica. Vejamos um pouco de cada um
desses testadores, filhos ilegítimos.
Felix Francisco Nunes119, viúvo, lavrador de canas, filho natural de José Francisco
Nunes e Anna Cardosa (crioula forra120), falecidos. Casou-se com Francisca Caetana da
Conceição e deste matrimônio teve oito filhos, dois homens e seis mulheres, vivos na época
do testamento, com idades de trinta e cinco a dezesseis anos, três já casados. Deixa como bens
um sítio de terras, tarefas de canas plantadas nas terras do Engenho da Canabrava, moradas de
casas no sítio e na vila de Santo Amaro, vários trastes de casa121, um cavalo, sela e freio,
espadim122, 14 escravos, pares de botões de ouro, rosicler 123 de ouro, colar de ouro, imagem
de ouro de Nossa Senhora da Conceição, par de brincos de ouro, pares de brincos de pedra,
anéis com pedra, garfos de prata, pares de fivelas de prata, colheres de prata, cama aparelhada
de prata, espadas, foices, um livrinho, entre outros bens para seus filhos herdeiros legítimos,
118
Somente foram encontrados os inventários com testamentos de Felix Francisco Nunes e Luiz Carlos Pereyra,
dos demais apenas os testamentos.
119
Inventário de Felix Francisco Nunes, Comarca de Maruim, 1798, p. 10.
120
Escrava alforriada nascida no Brasil.
121
Trastes de casa. As alfayas de menos conta. BLUTEAU, 1728. Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1%2C2%2C3%2C4/trastes>. Acesso em: 25 jan. 2012. Alfaias. s.f.
Utensílio de adorno, tanto de casas como de pessoas. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=alfaias>. Acesso em: 25 jan. 2012.
122
Espadim. Espada de folha cuta, & de pequenas guarniçoens. BLUTEAU, 1728. Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1%2C2%2C3%2C4/espadim > Acesso em: 25 jan. 2012.
123
Rosiclér. s.m. Peça de pedraria, que cinge o pescoço: outros dizem que era de cabeça e composto de
pingentes. (SILVA, 1789. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/2/Rosicl%C3%A9r>.
Acesso em: 25 jan. 2012).
74
pois não tivera filhos naturais. Ele só assina o testamento 124, justificando-se por estar muito
doente: “[...] não puder escrever este meu testamento roguei ao Senhor Padre João da Silva
Botelho que este por mim fizesse”. Todas as testemunhas assinaram 125.
Ignacia Rodrigues de Sá 126, viúva, lavradora de mandioca, filha natural de Francisco
Ferreira e de Mariana Rodrigues, falecidos. Casou-se com Graviel Dias Ferreira do qual pariu
doze filhos, só cinco estavam vivos na época do registro do seu testamento, dois homens e
três mulheres. Declara que teve uma filha antes do casamento 127, a qual já era falecida. As três
netas dessa filha herdaram a parte da mãe, uma vez que, legitimada no testamento, seus
descendentes tinham direito à herança como os legítimos. Possuía uma légua de terra onde
morava, localizada na Molununga, uma bolandeira128, dois cavalos, uma morada de casas na
Vila de Santa Luzia, uma caixa de vinhático 129, três escravos, um tacho e lavoura de
mandioca. Não sabia ler nem escrever. O seu testamento foi redigido por Sebastiam Joze da
Silva e assinado a seu rogo por Manoel Nunes Vianna, Tabelião Oficial da Câmara e Órfãos,
mas na aprovação do mesmo quem assina a seu rogo é Luis Ferreira da Rocha. O
testamenteiro foi seu filho, Simeão Dias Ferreira, mas também por não saber ler nem escrever
(assina em cruz, seu sinal costumado) quem assina a seu rogo é Jose Alves Filgueira. Todas as
testemunhas assinaram.
Maria de Avellar130, viúva, filha natural de Francisco Simioes de Avellar, casada na
Igreja com Salvador Coelho da Silva (lavrador de mandiocas), de cujo matrimônio teve oito
filhos (quatro morreram de menor idade e quatro estão vivos quando da confecção do
testamento, dos quais três são casados e um solteiro). Deixa uma escravinha de três anos de
idade para as duas netas e para seu filho Francisco Simoens o que sobrara da terça pela boa
companhia que sempre lhe fez e ser essa sua vontade. Declara os seguintes bens: oito
escravos, uma morada de casas de telha na cidade de São Cristóvão e outra morada de casas
124
Seu testamento está anexado ao inventário, o qual fornece mais dados sobre o testador e sua família.
125
É de praxe dizer se as testemunhas assinaram. Quando alguma assina com uma cruz é informado, como
também quem assinou a seu rogo.
126
AGJ - SCR/C.1º OF. Justificação cível Cx. 01-32 (p. 12-19).
127
Pelas Ordenações Filipinas, a mulher casada ou solteira que tivesse filhos fora do casamento não era obrigada
a criá-los, para não prejudicar sua reputação, sua honra. O conceito de honra da mulher estava atrelado à
condição social da mulher e não a sua virgindade. Era considerada mulher honrada àquela que pertencia a
nobreza e a ela era permitido abandonar filho natural, enquanto que a mulher pobre, sem nobreza, a
legislação a obrigava a cuidar dos filhos naturais mesmo quando solteiras. (LOPES, 1998, p. 83).
128
Bolandeira - s.f. Bras. Nos engenhos de açúcar, grande roda que transmite o movimento às mós. / Máquina
para descaroçar algodão. / Roda puxada por animais, que aciona o rodete de ralar mandioca. / / Tipografia
Bandeja para transportar as composições. (Disponível em: <
http://www.dicionariodoaurelio.com/Bolandeira>. Acesso em: 25 jan. 2012).
129
Vinhático. Pao do Brasil, muito amarello. (BLUTEAU, 1728. Disponível em: <
http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1/vinh%C3%A1tico>. Acesso em: 25 jan. 2012).
130
AGJ - SCR/C.1ºOF. Justificação Cível Cx. 01-32. p.11.
75
de telha em Nossa Senhora do Socorro, um machado, três enxadas, um escavador, uma marca
de marcar gado, uma caixa pequena já usada. No testamento de seu marido há a relação de
treze escravos, pau paraíba 131, duas caixa vinhático, uma roda de ralar mandioca com seus
acessórios, uma arma de fogo, uma sela e freios velhos, uma catre 132 de mão, roças de
mandioca, dois machados, cinco enxadas e que deve a um filho uma tenda de ferreiro com
dois grandes fornos que depois vendeu ao outro filho. Declara não saber escrever, solicitando
a Jose Antonio da Silva e Mello que faça o registro e, após, informe que leu. Todas as
testemunhas assinaram.
Ignacio Rodrigues Campos, filho natural de Ignacio Rodrigues e sua escrava defunta,
liberto pela quantia de cento e vinte mil réis, casado na forma dos “Sagrados Ritos” com
Domingas da Afonseca, declara não ter filhos, mas faz uma ressalva: “Declaro que não tenho
filha nem filho que aja de suceder em meos bens salvo se for algum (sic) adultro”, o que dá a
entender ter tido relações sexuais fora do casamento. Deixa como bens dois poldros, quatro
bestas, três vacas e quatro escravos para seu herdeiro, seu sobrinho, o Capitão Joze Parede de
Vasconcellos. Diz não saber escrever, solicitando ao Alferes Joze Carlos Pereira que redija
seu testamento, mas o assina com uma cruz. Todas as testemunhas assinam.
Luiz Carlos Pereira133, lavrador e criador, tido como filho de Josefa Eugenia, foi
exposto134 em casa do Alferes Antonio Diniz Ribeiro e de sua mulher Maria Pereira do Lago,
131
Faca de ponta.
132
Catre. s. m. 1. Camilha dobradiça. 3. Leito tosco e pobre. (Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx>. Acesso em: 25 jan. 2012.
133
AGJ-SCR/C.1ºOF. Apelação. Cx. 0103.
134
Como não foi legitimado pela sua mãe, era considerado pelas leis portuguesas como filho natural. Os expostos
nem sempre tinham sua filiação desconhecida, eram expostos em casas de parentes, amigos e até mesmo na
própria casa como meio de salvar a “honra” da mãe para que a mesma pudesse voltar para o mercado
matrimonial, como talvez seja o caso do exposto Luiz Carlos Pereira que, nascendo em Itabaiana, foi batizado
em outra freguesia, a de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba, estratégia utilizada por muitos dos pais para
não tornar público o enjeitamento, uma vez que pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia o
pároco tinha que registrar no livro de batismo o nome dos pais se fosse notório e não houvesse escândalo.
Embora não forneça pista de onde foi criado, se na casa dos padrinhos na Freguesia de Nossa Senhora do
Socorro da Cotinguiba ou em Itabaiana, local de seu nascimento, informa que casado residia na região de
nascimento, na localidade denominada Pé do Viado. O certo é que nada herdou dos padrinhos ou mãe e que
todos seus bens foram adquiridos por esforço próprio como faz questão de assim afirmar: “Declaro que depois
de cumpridos os meos legados e obras pias declaradas neste meu testamento, por não ter herdeiros forçados,
por ser minha May já morta, e nam ter eu filhos nem Legitimos, e menos mal havidos que hajam de se
me dar na herança e por que os bens que possuo da minha parte nam foram herdados que hajam de se
me suceder Linha Reta por serem por minha industria adquiridos com adjutorio de Deos Nosso Senhor
[...]” (grifo meu). Por não ter tido filhos deixa para seu sobrinho e afilhado, criado como filho, todo o
remanescente da sua herança juntamente com a sua terça, “[...] instituo por meu herdeiro de todo o
remanescente da minha fazenda e terça o meu sobrinho Theodozio Fagundes Pereira filho de meu
Compadre e segundo testamenteiro o Capitam Jozê Custodio da Silva pelo ter criado em minha caza
com amor Paternal, com declaração porem que o que tocar ao dito meu herdeiro e instituido depois de feito
Inventario e partilhas com minha mulher, ficará em poder desta, para entregar ao dito meu herdeiro, quando
este for capaz de dominar seos bens sendo cazado ou Emancipado, ou por outra qualquer razão sem que precise
para esta herança se dê tutor ao meu herdeiro e menos se obrigue a minha mulher a dar contas desta herança
76
seus padrinhos. Casado com Angelica Perpétua de Jesus, de cujo matrimônio não tiveram
filhos, por isso instituiu o seu sobrinho como herdeiro, justificando tê-lo criado em sua casa
com amor paternal, e pede à sua mulher que só entregue sua herança quando o mesmo puder a
reger, casado ou não, o que nos leva a pensar que ainda era de menor idade. Apesar de não
informar em testamento seus bens, no inventário há a relação de dez escravos, três tamboretes
de encosto, um catre de mão, uma espreguiçadeira, duas caixas, uma canastra, dois caixões de
despejo, um tear de tecer panos com seus aviamentos, uma arma de fogo, uma sela bastarda
com estribos de ferro, freios com suas cabeças e rédeas, um par de esporas de ferro, um
machado, duas enxadas, duas cangalhas, vinte e cinco cabras, vinte e uma ovelhas, duas vacas
paridas, cinco novilhos, um bezerro, um cavalo, uma égua, vinte e quatro côvados135 de
camelão 136 azul, roda de moer mandioca, tachos de cobre, espreguiçadeira, duas colheres de
prata, imagem de ouro de Nossa Senhora da Conceição, pares de botões de ouro, jogo de
contas, par de brincos, morada de casas na vila, sítio de terras onde mora com casas, malhada
e mais benfeitorias. Declara que o testamento fora escrito pelo Licenciado 137 Antonio Alvarez
Bastos e que depois ele assinou com “a própria mão”.
Além desse testador que foi uma criança exposta, encontrei cinco (05) testadores138
acolhendo, em suas casas, crianças enjeitadas139.
O abandono de milhares de crianças em toda a Europa ocorria desde o século XVIII.
Mas o amparo aos enjeitados140 existiu como caridade cristã desde o século XII e estava
que só o fará o dito meu herdeiro quando for capaz de o dominar advertindo que quando se lhe entregar a
herança será com os lucros e prejuizos que houverem” (grifo meu), fato esse não respeitado pela sua mulher
que é acusada pelo pai do afilhado de, com a ajuda do repartidor, primo legítimo da mesma, estar demorando
com a partilha com o intuito de prejudicar seu filho, entrando o mesmo com uma apelação. Seus bens foram
avaliados em oitocentos e setenta e seis mil e quinhentos e setenta e seis réis (876$576), que depois de
deduzidas as dívidas e despesas com missas, legados e alforrias ficaram em setecentos e noventa e sete mil e
setecentos e trinta e cinco réis (797$735), cabendo à sua mulher trezentos e noventa e oito mil e oitocentos e
sessenta e sete reis (398$867) e para seu herdeiro duzentos e dois mil e cento e sete reis (202$107), motivo
certamente de toda querela. AGJ - CR/C.1º OF. Apelação. Cx. 0103.
135
Côvado. s.m. Antiga medida de comprimento equivalente a 0,66 m. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/DLPO/Default.aspx>. Acesso em: 3 dez. 2011.
136
Camelão. Certo pano, que se fazia de pello de camelo, done lhe veyo o nome. Camelaõ, hoje He panos; que se
faz de pello de cabra om lãa, ou seda. (BLUTEAU, 1728. Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1%2C2%2C3%2C4/camel%C3%A3o>. Acesso em: 25 jan. 2012).
137
Licenciado. s.m. Grão de Licenciado; o que nas Universidades se dá ao approvado nos Exames de conclusões
Magnas, e Exame privado. (SILVA, 1789. Disponível em: <
http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1%2C2%2C3%2C4/Licenciado>. Acesso em: 25 jan. 2012).
138
Clara Martins de Castro, Escolastica de Almeyda de Mendonça, Francisco Joze de Santa Rita, Joam da Cruz
Corrado (Padre/português) e Joze Pinheiro Lobo.
139
Maria Luiza Marcilio, estudiosa do assunto, é de opinião que: “Vendo o fenômeno do abandono de crianças
na perspectiva histórica ampla, abrangente, podemos afirmar, sem incorrer em grandes erros, que a maioria
das crianças que os pais abandonaram não foram assistidas por instituições especializadas. Elas foram
acolhidas por famílias substitutas”. (MARCILIO, 2011, p. 55).
140
Enjeitado. Menino enjeitado, he o que desamparado de seus pays, e esposto no adro de huma Igreja, ou
deixado no lumiar da porta de hum Convento, ou de pessoa particular, ou depositado no campo a Deos, e à
77
vinculado à crença no Limbo, uma espécie de purgatório para crianças que morriam sem o
batismo. O fato perturbava o clero e os católicos, por isso levou o ocidente católico a criar
mecanismos de assistência nos séculos XVII e XIX como as Casas da Roda 141 e os expostos
ficavam sob os cuidados das Santas Casas de Misericórdia. A Santa Casa de Misericórdia de
Lisboa foi a primeira de Portugal, fundada em 1498 pelo Rei D. Manuel I e no Brasil, no
período colonial só foram instaladas três Rodas dos Expostos: a primeira foi em Salvador em
1726, a segunda no Rio de Janeiro em 1738 e a terceira em Recife em 1789. Ao Estado cabia,
através das Câmaras142, assisti-los até os sete anos de idade. Estas ações tinham como objetivo
evitar o chamado abandono selvagem143.
Para Izabel Guimarães Sá (1992) nos séculos XVII e XVIII a jurisprudência acerca da
condição jurídica do exposto144 era fragmentada, somente consolidada no século XIX. Porém,
duas questões eram as mais conflitantes: tipificar a filiação – legítimos ou ilegítimos; e a
perda do pátrio poder de seus pais, uma vez que em ambas as questões implicavam em direito
à herança. Quanto à primeira, aceitou-se a legitimidade presumida em caso de dúvida, questão
essencial para a época, uma vez que dela dependia a inserção social do exposto numa
sociedade em que o ingresso em quadros da igreja e da justiça era exigida a comprovação de
legitimidade. A segunda questão dizia respeito aos pais que, conforme estabelecido,
perderiam o pátrio poder por terem abandonado os filhos.
ventura, cruelmente padece o castigo dos illicitos concebidos de seus pays. (BLUTEAU, 1712 – 1728.
Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1/enjeitado>. Acesso em: 18 dez. 2011). Pessoa que
foi abandonada por seus pais quando nasceu. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=enjeitado>. Acesso em: 19 dez. 2011.
141
As rodas de expostos surgiram na Idade Média, na Itália, com as confrarias de caridade no século XII. Em
Portugal e no Brasil foram as Santas Casas de Misericórdia que instalaram as rodas para o recolhimento dos
enjeitados.
142
Quem encontrasse um recém-nascido na rua ou recebesse diretamente dos pais, deveria recolher e batizá-lo
para que assim, de posse do certificado do pároco, pudesse solicitar ajuda financeira da Câmara. Para
Venâncio “O abandono funcionou na prática como um trágico regulador da demografia urbana da sociedade
brasileira nos séculos XVIII e XIX, diminuindo o número de filhos de miseráveis que perambulavam pelas
vilas e cidades coloniais” (VENÂNCIO, 2009).
143
O abandono selvagem era assim denominado quando o recém-nascido era largado nas ruas, becos e moitas,
ficando a mercê dos animais e das intempéries da natureza, fato que incomodava a consciência dos cristãos
da época e que levou a criação das Rodas dos Expostos, como uma forma de “humanizar” o abandono.
144
Desde o século XV que em Portugal o termo enjeitado ou exposto já era utilizado para denominar recém-
nascidos abandonados pelos pais nas ruas, becos, portas de igrejas, conventos ou de casas. Para Renato Pinto
Venâncio existe uma diferença entre crianças expostas das enjeitadas. As expostas são aquelas abandonadas
pelas mães em lugares a esmo, deixadas para morrer, enquanto que as enjeitadas eram abandonadas em
conventos, hospitais e casas de família, o que demonstrava haver preocupação e cuidado por parte de quem
as enjeitava (VENÂNCIO, 1999). Nos testamentos sergipanos não vejo essa diferença, como demonstra o
Quadro 10 - Testadores beneficiadores de expostos/enjeitados.
78
145
Juridicamente sim, mas igual não acontecia no aspecto social nem íntimo. Na Freguesia de Nossa Senhora da
Piedade do Lagarto os expostos tiveram sua condição registrada e permanece por toda a vida ao ponto deles
registrarem em testamento.
146
Os órfãos legítimos eram considerados, pela legislação, menores até os vinte e cinco anos.
147
Em Sergipe colonial os registros dos expostos ou enjeitados se perderam com a destruição dos livros de
registro de batismo do século XVIII, da documentação das Câmaras, além da inexistência de “Roda dos
Expostos”, fontes essas que continham dados sobre o sexo, cor, idade, localidade e até mesmo os motivos do
abandono via bilhetes que essas crianças às vezes traziam, restando apenas os poucos dados encontrados nos
testamentos coloniais sergipanos.
148
Enjeitar um filho não era considerado crime pela legislação portuguesa, apenas provocava a perda do pátrio
poder de forma temporária ou permanente, uma vez que as mães podiam reaver o filho deixado na Roda ou
entregue a uma família, no entanto o infanticídio constituía crime. A mãe pobre ficava desobrigada de pagar
todas as despesas com a criação ou de doar uma esmola às obras pias da Misericórdia, o que não ocorria com
as que tinham bens.
149
O apadrinhamento era reconhecido socialmente como um parentesco espiritual, o que conferia respeito e
obediência por parte do afilhado, assim como proteção e auxílio por parte dos padrinhos e das madrinhas.
(CAVAZZANI, 2005).
150
Clara Martins de Castro, casada com o Capitão Mor Valerio de Moura Homem, com uma filha de cinco
anos, deixa como herdeira de sua terça uma exposta. Em seu inventário foram relacionados escravos, ouro
(cruz, votas, imagem de Nossa Senhora da Conceição, brincos, argolas), talheres de prata, gado, ovelhas,
carneiros, roda de ralar mandioca, ferramentas (enxadas, machados), forno de cobre, duas casas na vila, dois
sítios, entre outros bens. Apesar de ela dizer em seu testamento que não tem herdeiros forçados, na autuação
do seu inventário consta como herdeira uma criança de cinco anos chamada Roza, a qual seu marido é
administrador assinando o termo de tutela da referida órfã. Em momento algum ele refere-se à órfã como
filha, dizendo ser seu administrador, tutor, o que leva a crer ser a exposta herdeira, sua filha. Seu testamento
foi escrito e assinado a seu rogo pelo Alferes José Carlos Pereira por ela não saber ler nem escrever, mas
assina com uma cruz, seu sinal costumado; Joze Pinheiro Lobo, Capitão, casado por carta de ametade com
Margarida Eugenia de Menezes filha do Capitão Mor Antonio Luiz Fialho e de sua mulher Thereza Maria da
Purificação, sem filhos, deixa como herdeiras as irmãs. Proprietário do Engenho das Anhumas da Vila Nova
Real de El Rey do Rio de São Francisco, fazenda de gado, sítio, escravos, cavalos de estribaria, prata
(espadim, espora, fivelas de sapatos, colheres e garfos), deixa todo o ouro que possui para a esposa, tachos
79
Joze Pinheiro Lobo Deixa vinte e cinco mil réis para a afilhada enjeitada em sua casa.
Deixam a enjeitada Rosa Maria cem mil réis em dinheiro ou em bens. Ao
enjeitado Domingos de Souza um cavalo selado e enfreiado, esporas de prata,
Serafim Mendes de Souza e espadim de prata, toda a roupa de vestiário e do marido, escravo ou cem mil
sua mulher Francisca réis. A Maria Benedita enjeitada ou exposta em sua casa e hoje casada com
Perpetua de Almeida Joaquim de Souza Campos deixam oitenta mil réis.
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos 95 testamentos do século XVIII existentes no Arquivo
Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
de cobre, roda de ralar mandioca, dois carros com bois e cangas, roupas. Beneficia a enjeitada, afilhada, em
sua casa com vinte e cinco réis. Deixa o seu cavalo selado e enfreado e um escravo para a sua “companheira
Margarida Eugenia” (concubina?). O testamento é escrito por Joam Lins de Albuquerque e assina “com sua
própria mão” seu sinal costumado; Joam da Cruz Conrado (português), padre da Freguesia de Lagarto,
proprietário das fazendas Matibe e Rio Fundo e mais duas fazendas do Colégio em terras próprias com
animais e escravos, duas casas de sobrado e demais bens; deixa ao seu afilhado exposto em sua casa, Manoel
Joaquim da Cruz, a Fazenda da Matibe com todos os animais e terras, escravas com seus filhos, salva e
colheres de prata, com a condição de que ele se ordene padre. Declara bens de uso pessoal como fivelas de
prata, cordão de ouro com relicário de Cristo em que está o Santo Lenço, uma imagem de Nossa Senhora
Santa Anna, anel de ouro com topázio amarelo e uma boceta de prata e que os demais bens serão adquiridos
pelas suas próprias Ordens. Nomeia por herdeiro universal seu sobrinho, o Padre Manoel Ignacio Dias da
Fonseca. Seu testamento é escrito e assinado a rogo por Joam Rodigues Ferreira. O Padre testador assina com
seu sinal costumado; Escolastica de Almeyda de Mendonça, viúva de Gonçalo da Fonseca Freire, teve dois
filhos que faleceram depois do pai. Moradora no Engenho Junco, possuía escravos, fazenda de gado
arrendada, animais, morada de casas na cidade de São Cristóvão. Deixa para seu enjeitado um escravo. Deixa
por herdeira universal a sobrinha Francysca Perpetua de Almeyda, mulher do seu primeiro testamenteiro, o
Capitão Serafim Mendes de Souza. Seu testamento foi escrito e assinado por seu rogo pelo Doutor Ignacio
Barboza da Franca Corte Real por ela não saber ler nem escrever; Francisco Joze de Santa Rita, casado
duas vezes, teve um filho da segunda esposa, declara que foi homem de negócios, proprietário do Engenho
Jacarecica, três fazendas de canas, gado vacum e cavalar, aparamento de ouro e prata, escravos. Deixa para
seu enjeitado, Joze Thomaz, uma crioula (escrava), um cavalo de estribaria selado e enfreado, um espadim de
prata, um par de fivelas e esporas de prata. Tudo deverá ser entregue ao enjeitado (menino) quando tiver
idade competente para reger e governar seus bens, caso ele morra esses bens ficarão para o seu filho legítimo
e herdeiro João Gomes de Mello. O documento não fornece dados acerca de quem escreveu e se o testador
sabia ler e escrever por estar incompleto; Serafim Mendes de Souza e Francisca Perpetua de Almeida,
casados por carta de ametade, tinham entre outros bens facas com cabo de prata, colheres, garfos, desfiadeira
e salva de prata, tachos de cobre, caixa velha de vinhático, caixa grande com fechadura, enxadas, foices,
machado velho, Imagem de Cristo com remates de prata na cruz, Imagem de Santa Anna com resplendor e
coroa de ouro, mesa com oratório, cinquenta e oito escravos, cabeças de gado, bois mansos, carro velho e
com cangas, sendeiro velho, fazenda de canas, sítio de terras na “Tabua do Certão”. O casal tem em sua casa
quatro enjeitados deixando-os para a enjeitada Rosa Maria, cem mil réis em dinheiro ou bens; para a afilhada
do casal enjeitada Joanna de Almeida, filha do falecido compadre Antonio Lopes de Almeida, uma crioulinha
filha da escrava deles e se ela morrer pede para substituir por outra ou por cem mil réis; ao enjeitado
Domingos de Souza deixa um cavalo selado e enfreado, duas esporas de prata, um espadim de prata, toda a
roupa do testador Serafim e dois escravos, caso um venha a morrer também seria substituído por cem mil réis
e à enjeitada Benedita, casada, deixa oitenta mil réis. Ambos assinaram o testamento de próprio punho.
80
Dos 95 testadores apenas dez tiveram filhos naturais151. Cinco declaram que tiveram
seus filhos quando não eram casados, o que os caracteriza como filhos naturais. Os outros
cinco testadores nada informam, mas denominam esses filhos como naturais.
Para ter uma ideia, mesmo que aproximada da prole legítima dos moradores
setecentistas de Sergipe, utilizei informações dos dois bancos de dados que servem de suporte
151
Eram considerados filhos naturais aqueles nascidos de ligações consensuais ou concubinato entre pessoas
solteiras e sem impedimentos para se unirem. O termo bastardo não foi muito utilizado em Sergipe
setecentista. Nesta pesquisa, dos dez testadores que declaram filhos ilegítimos apenas um, o português
Antonio Pereira de Vasconcellos, proveniente da Freguesia de São Sebastião e residindo na Vila de Nossa
Senhora da Piedade do Lagarto os denominou de bastardos: “Declaro que sou cazado co (sic) D. Anna Maria
da Conceição e tenho seis filhos declaro mais que tenho dous filhos bastardos hú Maxo e hua femia o maxo
pr nome Euzebio Fr co o tal deve pr hú rol e huma obrigação como fica inteirado e cazo que queira entrar repor
o que deve ao cazal e tudo coanto elle ficar devendo deixo lhe pelo amor de deus não entrando no cazal”
(grifos meus). AGJ- MAR/C. 2º OF. Inventário Cx. 02-808. p.03. Segundo as Ordenações Filipinas, no
Livro, Título XCIII, nota 7, p. 943, o termo bastardo era comumente utilizado em Portugal para designar o
filho ilegítimo, o que justifica esse português assim os denominar. Para Alzira Lobo de Arruda Campos, nas
fontes por ela pesquisadas sobre São Paulo colonial, bastardo aponta para um significado puramente étnico -
era como se designavam os mamelucos (filhos de brancos com índios), afirmando que eram “[...]
provavelmente de primeira geração, ainda mal aculturados [...]” (CAMPOS, 2003, p. 252).
81
para este trabalho: o banco de dados dos testamentos, composto por testamentos anexados
nos inventários (22), registrados em livros (68), em justificação cível (1) e prestações de
contas de tutoria (4), perfazendo 95 testamentos; e o banco de dados dos inventários sem
testamento formado por 65 documentos, totalizando ambos os bancos de dados 160
documentos.
Os testamentos são os que fornecem uma radiografia da prole da elite setecentista de
Sergipe, uma vez que informa a legítima e a ilegítima, sendo que sob sigilo segredos são
revelados, suspeitas confirmadas e certezas negadas. Dos 95 testadores, 83 eram ou foram
casados, apenas 21 não tiveram filhos, o que representa um alto índice de fecundidade (75%)
das famílias constituídas via casamento152. Deste universo de casados, 83, somente dez
testadores tiveram filhos fora do casamento153, o que caracteriza baixo índice de concubinato
declarado, da elite estudada. Levando-se em conta o fato de que os solteiros tiveram filhos
ilegítimos, foram apenas dois dentre 12 (Quadro 12).
152
Dos 83 que passaram pelo casamento e tiveram filhos, somente no testamento de Paschoal Mendes Pereira
não foi possível saber se teve filhos, pois o documento estava incompleto.
153
Ou seja, estavam em concubinato, tipo adulterino. Fonte: APES-Coleção Sebrão Sobrinho -Caixa 32; AGJ -
SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - pp. 01-06; AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de
Testamentos - Cx. 62 - Lv. 03 - pp.100-103; AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 -
pp. 72-80; AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04 - pp. 66-72; AGJ - SCR/C.1ºOF.
Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04 - pp. 177-186; AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx.62 -
Lv. 06 - pp.13-16; AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 01- pp. 43-49; AGJ - SCR/C. 1º
OF. Testamento Cx. 03-69; AGJ - MAR/C. 2º OF. Inventário Cx. 02-808. Não encontrei essa informação nos
inventários sem testamentos.
82
Filho de Manoel Pereira Mendes e Maria Casado 3 Pascoal, Florência e Maria (defunta ).
Vieyra de Lemos (português)
Francisco Joze de Souza Casado 4 Quintiliano Jozê de Souza, Manoel Vicente, Jozê e Maria.
Ignacia Rodrigues de Sá Casado 1 Lourença, falecida (3 netas: Maria, Angélica e Anna ).
Ignacio da Costa Feijo Casado Vários “Declaro que sendo solteiro tive mais tratos com a mestiça por nome [ilegível] escrava
filhos do Theodozio Ferreira Costa me dava todos filhos que paria por meus o que é natural”.
Manoel Rodrigues de Carvalho (português) Casado 1 Narciso.
Domingos Lopes Ferreira (português) Solteiro 3 “Declaro que não [corroído] e nem nunca fui cazado e a muitos annos moro nesta
Freguesia do Pé do Banco, e nella tive de hua [corroído] escrava de nome Francisca que
[corroído] se acha forro dois filhos, Manoel Lopes e Marianna Lopes cazada com Pedro
Gomes e depois disso tive de outra escrava ao presente falecida outra filha de nome
Maria Francisca que se acha cazada com Manoel [i] e tanto este como os dois asima os
declaro e instituo por meus herdeiros forçados”.
Verissimo Pereira de Lima (português) Solteiro 4 Joze Pereira, Antonio Esteves, Vesuino Pereira e Anna Lucia.
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos 95 testamentos do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
83
O número de filhos por casal no Brasil colonial não era alto como constata Alzira
Campos ao estudar as famílias coloniais paulistas: “Com enormes dificuldades, a paulista
punha ‘a lume’ poucos filhos, em intervalos intergenésicos difíceis de precisar” (CAMPOS,
2003. p. 431). Segundo Brügger (2007), apesar de os filhos serem componentes essenciais
para os projetos das famílias, além de constituírem mão-de-obra, não era essencial ter um
número elevado para firmar alianças via compadrio e casamentos. O mesmo ocorreu em
Sergipe Del Rey. Os dados encontrados nos testamentos e inventários evidenciam que a prole
da elite setecentista de Sergipe também não era numerosa e os filhos existentes eram
resultantes de casamentos sucessivos como o de Archangela Pereira de Almeida 154 - que pariu
13 descendentes, seis no primeiro casamento e sete no segundo. Quanto ao intervalo
intergenésico também não pode fazer uma estimativa, devido à pouca quantidade de famílias
com idades sequenciadas dos filhos, relacionadas nos inventários post mortem, uma vez que
quando casados (homens ou mulheres), independentes de serem menores, eram considerados
emancipados, mesmo não constando as idades, e outros apenas informavam serem maiores,
ou seja, de vinte e cinco anos em diante (Apêndice A).
Os inventários sem testamentos só revelam a prole legítima, no entanto a ilegítima
apenas em duas situações: encontrar no decorrer do processo, petições de filhos naturais
reivindicando sua parte na herança, o que não foi o caso dos aqui analisados, e quando o
inventariado só tinha filhos naturais, legitimados como herdeiros. Assim aconteceu com o
português, Domingos Lopes Ferreira, natural de São Salvador da Tiboza, Arcebispado de
Braga, solteiro, mas com três filhos naturais 155 que teve com duas escravas, conforme
declarou em seu testamento:
Declaro que não [sou] e nem nuca fui cazado e a muitos annos moro nesta
Freguesia do Pe do Banco, e nella tive de hua [minha] escrava de nome
Francisca que [ao prezente] se acha forro dois filhos, Manoel Lopes e
Marianna Lopes cazada com Pedro Gomes e depois disso tive de outra
escrava ao presente falecida outra filha de nome Maria Francisca que se
acha cazada com Manoel João e tanto este como os dois asima os declaro e
154
AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 01 - p. 25-33.
155
Manuel Lopes Ferreira, assinante, maior de idade, casado e inventariante de seu pai; Marianna Lopes, casada
com Pedro Gomes de Barros; e Maria Francisca, casada com Manuel de Mello, faleceu deixando um filho,
João, órfão de mãe com três meses, e seu marido é obrigado a fazer o seu inventário, que é anexado (p. 40-
61). Nele (p. 41) há a informação de que ela faleceu sem testamento em 15/04/1801, nove dias após seu pai
(06/04/1801) deixando um filho de três meses, o qual vem, também, a falecer quatro meses depois de sua
morte (inventário p. 40), como consta o atestado de sepultamento passado pelo vigário (p. 61). Ambas as
filhas receberam dotes, herdando no total seiscentos e vinte e dois réis e cinquenta e cinco centavos.
Documentos importantes para um estudo mais aprofundado sobre legitimação de filhos naturais provenientes
de escravas com portugueses.
84
instituo por meus herdeiros forçados tanto pellos ter por filhos e por tais os
habilitar em juízo como por vocabulo do Mundo. (grifo meu156).
O escrivão na autuação 157 (Figura 1, a seguir) arrola os três filhos, informando que são
filhos naturais, confirmando assim a legitimação feita pelo português Domingos Lopes
Ferreira ao declararem em seu testamento.
156
AGJ-MAR/C. 2º OF. Inventário Cx. 02-808. p. 6.
157
Capa do processo no qual vêm os dados principais.
85
Fonte: Inventário do português Domingos Lopes Ferreira. AGJ - MAR/C. 2º OF. Inventário. Cx. 02-80
declarada pelos 47 testadores (Quadro 13), proporcionaram uma visão exata do número de
filhos legítimos de 118 famílias (Apêndice A).
Campos (2003) alerta a respeito da imprecisão das médias para mensurar o tamanho
das famílias coloniais paulistas estudadas que, segundo ela, resultam em encobrir
irregularidades importantes. Dentre os grupos analisados, utilizei a média por classe158 que
retrata fielmente os grupos em foco (Quadro 14).
Assim, com base nesta pesquisa, os 551 filhos legítimos declarados pelas 118 famílias,
concluí que, na Capitania de Sergipe Del Rey, as famílias da elite, legalmente constituídas,
não tinham uma prole numerosa159.
Quadro 14 – Nº de filhos legítimos declarados pela elite setecentista em Sergipe Del Rey
Nº filhos (551) Nº famílias (118)
1a5 72
6 a 10 40
11 a 15 5
16 a 20 1
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos inventários e testamentos do século XVIII existentes no
Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
158
“Classe de freqüência, ou, simplesmente, classe, é cada um dos grupos, de valores em que se subdivide a
amplitude total do conjunto de valores observados da variável”. (TOLEDO E OVALLE, 1985, p. 55).
159
Alzira Campos ao estudar as famílias coloniais paulistas utilizou como fonte os dados de Pedro Taques em
seu trabalho – Nobiliarquia Paulistana, conclui que a média de filhos por casal da elite paulista colonial era
de cinco por família (CAMPOS, 2003. p. 422).
160
Não encontramos nesta pesquisa nenhuma testadora e/ou inventariada declarando-se portuguesa e sim seus
maridos. Os portugueses Thomas Domingues da Silva e Joze Pinto Caetano informam que são casados com
portuguesas, sendo que Thomas declara que ela é herdeira ausente, mas que seus dois filhos são casados e
moradores em Sergipe; e Joze pede em seu testamento que depois de morto envie a Portugal o que sobrar de
seus bens à sua mulher e filha.
90
A mortalidade é um dado que pouco aparece. Dos 63 testadores com filhos (legítimos
e ilegítimos) apenas sete declaram filhos falecidos e nos 65 inventários sem testamentos
somente 12 declaram filhos falecidos. Talvez devido aos filhos pequenos falecidos serem
considerados anjos161 e não deixarem herdeiros, esses nem sempre eram computados nos
testamentos e inventários, como ocorreu com Antonio Pereira Vasconcellos que informa em
seu testamento (1793) sete filhos, dos quais só vingaram quatro, mas no inventário (1794) não
161
A justificativa desta visão decorreu do alto índice de mortalidade infantil ocorrido até o final do século XIX,
que levou ao imaginário popular a comparar a criança morta aos anjos, minimizando desta forma o
sofrimento da perda, além da crença religiosa católica de que essas crianças, quando batizadas, eram puras e
iam para o céu quando morriam.
91
consta a informação dos três filhos falecidos, só os quatro vivos162. Esta omissão também foi
percebida nos testamentos de marido e mulher, como no caso do casal Salvador Coelho da
Silva e Maria Avilar. Enquanto ela declara em seu testamento que teve oito filhos, dos quais
quatro morreram ainda pequenos, o marido declara em seu testamento somente os quatro
vivos163. Apenas em um testamento, o de Elena da Silva Ramos casada com Bartolomeu
Francisco164, há a informação da morte de todos os seus nove filhos, mas não revela quais
foram os motivos que os vitimaram, deixando como herdeiros seus netos.
Todos esses dados configuram predileção por parte dessa elite de formar famílias
legalmente construídas.
O instrumento utilizado pelos testadores setecentistas moradores da Capitania de
Sergipe para reconhecerem e incluírem sua prole ilegítima foi declará-los em seus
testamentos165. Mas quantos destes 58 testadores que tiveram filhos reconheceram seus
ilegítimos e eram eles naturais166 ou espúrios? Dos 58 testadores apenas sete (homens)
declaram os filhos ilegítimos, ou seja, 88% deste grupo não teve filhos ilegítimos, percentual
também alto de testadores sem filhos ilegítimos declarados. Dos sete declarantes, cinco são
portugueses: Antonio Pereira de Vasconcellos, da Freguesia de São Sebastião do Concelho de
Lagos; Domingos Lopes Ferreira, de São Salvador da Tiboza do Arcebispado de Braga;
Manoel Rodrigues de Carvalho, da Freguesia de São João do Castanheiro do Arcebispado de
Braga; o português167 filho de Manoel Pereira Mendes e Maria Vieyra de Lemos, da Freguesia
de São Cristóvão de Nogueira do Bispado de Lamego; e Veríssimo Pereira de Lima; todos
continentais, dos quais quatro casados e um viúvo.
Assim, a legitimidade em terras sergipanas, tendo como base os testamentos, tanto
para testadores como para seus filhos, leva-me a aceitar o entendimento de Faria (1998, p. 54)
de que grande parte das maternidades era vivenciada no âmbito das relações lícitas e que os
162
AGJ-MAR/C.1º OF. Inventários. Cx.01-807.
163
AGJ - SCR/C.1ºOF. Justificação Cível. Cx. 01-32.
164
AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04 - pp. 141-150.
165
Não encontrei na documentação do Arquivo Geral do Judiciário nenhuma escritura ou carta de legitimação. A
legitimação em Sergipe Del Rey parece ter ocorrido apenas pós-morte, via testamento, o que protegia os
testadores do reconhecimento legal público enquanto vivos, além de possibilitar a esses o direito de a
qualquer tempo, em vida, revogar o reconhecimento da filiação dos seus ilegítimos.
166
Nos testamentos analisados encontrei um testador, o português Antonio Pereira de Vasconcellos, referindo-se
aos seus filhos ilegítimos como bastardos; os demais testadores denominam seus filhos ilegítimos de naturais.
167
Devido o registro de testamento estar incompleto não consta o nome do testador embora ele declare sua
naturalidade portuguesa e filiação.
92
filhos ilegítimos, quando somados, livres e escravos, só havia maioria nos centros urbanos e
mineradores168.
Tudo leva a crer que os 16 testadores que declararam os nomes dos pais, mas não
deixaram expresso serem legítimos, assim o fizeram por não serem. No entanto, em qual
categoria de naturais estariam inseridos? É improvável descobrir, pois somente quatro não
esconderam a condição de filhos naturais e quem era legítimo (a maioria, 61%) fez questão de
deixar esta informação registrada.
3.2.3 – Dote
O dote, elemento existente nas famílias da elite reinol e colonial brasileira figurava,
em solos sergipanos?
Ao falarmos sobre o dote no século XVIII é preciso ter-se sempre em conta qual o tipo
de dote: o de casamento, concedido não só pelos pais como também por familiares e
amigos169 frequentemente às filhas, embora não houvesse impedimento de dotar os filhos,
nessa pesquisa não encontrei dado a filhos; o religioso, destinado à ordenação de padres170 e a
entrada de mulheres para a vida religiosa (dote divino) 171; e os destinados aos recolhimentos,
168
Para provar sua tese, ela elabora um quadro sobre a legitimidade de crianças em diversas áreas brasileiras no
período colonial com base em inúmeras fontes (FARIA, 1998, p. 55).
169
Como o caso de Manoel Fernandes dos Santos que fez uma escritura de dote e remuneração de serviços em
1785, à filha legítima de Dinizio Coelho de Brito e de sua mulher Antonia Rodrigues de Souza, de uma
escrava com o filho e de uma roda de ralar mandioca, em recompensa por ter cuidado dele quando doente. O
outorgante não sabia ler nem escrever. Escritura de dote e remuneração de serviços AGJ - SCR/C.1ºOF.
Livros de Notas. Cx.02-53. LV. 02 - Fls.74-76.
170
Como o caso do Capitão João de Mello Travassos que fez um dote de uma porção de terras no sítio da Tapera
para efeito de se ordenar sacerdote secular seu filho João Correia Barboza, com a condição de que as terras
retornem aos herdeiros caso ele não se ordenasse padre ou falecesse antes. Ambos assinaram. Escritura de
doação e patrimônio (1704). AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Notas. CX.02-53. Lv. 02 - FLS. 210-212. O
Sargento-mor Antonio Fernandes Bires e sua mulher Francisca Catharina Souto Mayor fizeram seu filho
Francisco Fernandes da Silveira se ordenar presbítero no Hábito de São Pedro de uma sorte de terras, canas, e
mais benfeitorias, matas, pastos e outra sorte de terras, também com a mesma condição de que as terras
retornem aos herdeiros caso ele não se ordenasse padre ou falecesse antes, o que parece ser praxe na época. O
documento está danificado e, por ser um traslado, não foi possível encontrar as assinaturas. EST/C. 2º OF.
Inventários. Cx. 01-481. p. 79-83. AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Notas. CX.02-53. Lv. 02 - FLS. 210-212.
171
Mott (2008, p. 34-37) relaciona vinte “donzelas” recolhidas ao Convento da Soledade, na Bahia, provenientes
da Comarca de Sergipe no século XVIII, das quais cinco foram fundadoras: Arcângela dos Santos (primeira
Regente), Irmã Joana Damasceno, Irmã Jerônima de Santo Jó, Irmã Custódia do Sacramento e Irmã Antônia
Maria de Jesus, embora não foi possível para o autor identificar a ascedênicia nem de que freguesia
procediam; Irmã Beatriz Maria de Jesus (segunda Regente) e suas irmãs de sangue e de fé Antônia Maria de
Jesus e Teresa Maria de Jesus naturais da Freguesia de Nossa Senhora de Abadia do Rio Real, na época
pertencente à Comarca de Sergipe, filhas de João Batista Correia e de Antônia dos Santos Siqueira; Irmã
Teresa de Jesus Maria, natural de São Cristóvão, filha de Máximo Luis da Penha e de Ana Pereira de Matos;
Isabel da Costa de Jesus, natural de Estância de Santa Luzia, filha de Domingos Vieira de Melo e de Maria
Carvalho da Costa; Antônia de Jesus Maria, natural de Estância de Santa Luzia, filha de Domingos Afonso
Lena e de Maria Silva; Irmã Ângela da Encarnação, natural de Santa Luzia, filha de Leandro Vieira de Melo
e de Eugênia [ilegível]; Irmã Bernardina de [ilegível], natural de Santa Luzia, filha de Domingos Rodrigues
93
instituições voltadas para a criação, educação e casamento de meninas órfãs pobres ou como
acolhimento de viúvas e donzelas nobres, como o solicitado ao Rei D. José I por Catharina
Borges Marim, viúva do Coronel Manuel Nunes Coelho, para ser fundado em Sergipe Del
Rey, em 1752, às suas custas:
O documento que a viúva apresenta é uma petição do filho e da nora no qual eles
doam fazenda, gado e dinheiro necessários para a manutenção do pretendido convento 173:
Dizemos nos o Coronel, Mel Jozé de Vasclos e Figrdo e D. Clara Leite de São
Payo, marido, e mulher qe por este por hú de nós feito, e por ambos
Aignados, mto de nossas Livre Vontades sem constrangimento de peçoa
alguá a doamos deste dia pa todo o sempre, pa o Convento que emtenta
fundar nossa May e Sogra D. Catharina Borges Marim na Cide de
Sergipe Del Rey de recolhidos húa fazenda de gados Vacum, e Cavallar
cituada no Sertão-do-[Pinheiro], qe tem de emtrega entre hú, e outro, duas
mil cabeças, e asim mais a Terra própria em que se acha acituado o dto gado,
como tão bem, ca sobre dto o doador adoo para o mesmo Convento toda a
legitima materna qe me tocar por morte da dta ma May, qe serão feita ba conta
pelo maior nove mil Cruzados, pa todos os ditos bens, asim adoados separem
em rendimto; para ajuda de sostentar os emcargos do referido Convento, sem
qe nós peçoas ou de nossos erdeiros em tempo algum vamos contra esta
adoação qe para melhor retificação delle a tomamos nas terças de nossa
Almas, da quais não temos[ilegível] deposto cauza algua, e nos obrigamos
pellas mesmas e noços bens a tela e mantela, e fazela sempre boa, e [édepos]
de qrer duvidas, ou embargos lhe queira mover, e de fazer della, escritura
publica todas as veze,s qe nela pedirem, e emcoanto a não fizermos
Rodrigues e Isabel da Costa de Jesus; Lourença de Jesus, natural de Estância, filha de [ilegível] e Lourença
Rodrigues de Jesus; Maria de São José, natural da região do rio Cotinguiba, filha de Manuel Suzarte de
Siqueira e Antônia Maria de Melo; as irmãs de sangue e de fé Ana Perpétua, Eustáquia Maria de Santana,
Maria Angélica de São José, Joaquina Perpétua do Coração de Jesus e Emerenciana, naturais da região do rio
Cotinguiba, filhas de Leandro Ribeiro Siqueira e Maria Diniz de Mello.
172
(CT: AHU-ACL-CU-081- Cx. 05 doc. 376 de 08-11-1752).
173
(CT: AHU-ACL-CU-081- Cx. 05 doc. 376 de 08-11-1752).Tudo indica que o pedido foi recusado, pois
encontramos o seguinte despacho: “Escuzado: Lisboa 22 de dezembro de 1752”. Infelizmente o restante do
documento, microfilmado, encontra-se quase que totalmente apagado, sem possibilidade alguma de ser lido,
restando aos interessados pelo tema irem a Portugal consultar o original.
94
queremos q, este tenha a mesma força e Vigor, e pora asim ser verde fizemos
este em qe nos asignamos com as testas abaixo asignadas neste nosso Engo do
Retiro a 12 de 8 bro de 1752
Mel Jozé de Vasclos e Figrdo
D. Clara Leyte São Payo (grifo meu174).
174
(CT: AHU-ACL-CU-081- Cx. 05 doc. 376 de 08-11-1752).
175
Bretanha. Panno de linho, que nos vem da Bretanha. BLUTEAU, 1728. Disponível em:
<http://www.brasiliana.usp.br/dicionario/1/bretanha>. Acesso em: 4 mar. 2012.
176
“Os testamentos são importantes fontes de informações sobre a vida conjugal, os regimes de transmissão de
bens, incluindo as características da prática do dote, a sociedade brasileira, sendo possível acompanhar,
através desses registros, algumas mudanças no costume do dote”. (ABRANTES, 2010, p. 24).
95
De acordo com essa legislação, o dote se fundia aos bens do casal e não
havia garantia, para a esposa, de soma alguma fixada em caso de viuvez,
como acontecia na legislação espanhola. Porém, uma vez que ela era dona de
metade dos bens do casal, conservava essa metade, chamada de ‘meação’, no
caso de viuvez e, quando morresse, quer já viúva ou com marido ainda vivo,
sua meação ia para seus herdeiros forçados, seus filhos, ou, caso não tivesse
filhos, seus genitores. (NAZZARI, 2001, p. 19).
Diz Francisco de Barros Pimentel mor no termo desta Villa que quando o
Suppte cazou com D.Thereza Bibiana de Almeda fa Legitima do Capitão mor
Jozé Ferreira Passos prometera ante ao Supte de dote pa emcargos do mesmo
Matrimonio 2.400$000 pr conta dos quais recebera o Supte em bens e
[ilegível] 2.0003$160 ficandose-lhe restando 396$840 reis que por este Juizo
se esta procedendo a Invto e Partas dos bens [corroído] seu cazal pr morte de
sua mer D. Clara Ma de Almeda qr o Supte fazer esezer esta divida [ilegível]
invto [ilegível] Partas se lhe separem bens ja [corroído] pagamto // (grifo
meu180).
177
Relação dos 12 ab intestado dotantes: Antonio de Carvalho de Oliveira, Antonio de Souza Benavides,
Antonio Fernandes Beires, Antonio Simoens dos Reis, Catharina de Vasconcellos, Damianna Ribeiro,
Francisco de Barros Pantaja, Francisco Cardoso de Souza, Francisco Rodrigues Ferreira, Genoveva Maria
das Flores, Joze de Freitas Brandão e Joze de Souza Britto.
178
PFO/C. Inventários. Cx.01-2954. Fls. 15 a 25.
179
Promessa não mencionada no testamento de sua mãe. Como não foi encontrado o testamento do seu pai, não
tem como saber se o mesmo deixou registrado ou se foi um acerto verbal.
180
AGJ-MAR/C. 1º OF. Inventários. Cx.01-807. p. 32-33.
96
3.3 – RELIGIOSIDADE
O cotidiano familiar colonial era regulado pela religião católica 184, que a tudo
disciplinava desde a concepção do indivíduo até sua morte. Era o seu começo, o meio e fim,
até a eternidade. Mas, por serem os homens, indivíduos singulares, a padronização total é
impossível de ocorrer, existindo, portanto, em todas as épocas e tipos de sociedades a
exceção, o burlar da norma estabelecida. Assim também ocorreu com os preceitos
eclesiásticos setecentistas no Brasil Colônia, cotidianamente transgredidos, uns vistos e
181
Em Sergipe encontrei três com a denominação de “escripto de dote” dos ab intestados Antonio de Souza
Benvindes (fl. 18), que assina; Francisco Rodrigues Ferreira (fl. 28) assina por ele e por sua mulher;
Genoveva Maria das Flores (fl. 54), no qual diz não saber ler nem escrever, mas assina; e um chamado de
“Lembrança de dote” de Francisco Cardoso de Souza (fl. 21), no qual também assina.
182
Que era a devolução do dote ao espólio, adicionando o respectivo valor ao espólio líquido antes da divisão
entre os herdeiros.
183
Este trabalho é o primeiro a abordar a questão vivida no século XVIII. Foram localizados 25 documentos
(inventários, testamentos e prestação de contas) contendo dados sobre dote, o que não encerra a possibilidade
de mais documentos setecentistas serem encontrados. No que se refere ao século XIX, a quantidade de
documentos sobre o tema aumenta consideravelmente.
184
Regulava, mas não excluía do cotidiano práticas não católicas, africanas e indígenas.
97
185
A confissão auricular tornou-se uma prática obrigatória, pelo menos uma vez por ano, para todos os cristãos
adultos a partir do IV Concílio de Latrão (1215).
186
Vários testadores e inventariados setecentistas possuíam imagens de Nossa Senhora da Conceição, em ouro.
187
APES - Coleção Sebrão Sobrinho - Caixa 32. Inventário com testamento de Duarte Muniz Barreto – 1725. fl.
32.
188
Testamento de Domingos Lopes Coelho (português) -1778.p. 44. AGJ - SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos
- Cx. 62 - Lv. 04 - p. 42-52.
98
189
Testadores que deixaram para igrejas, irmandades e confrarias escravos, azeite para lâmpada, ornamentos,
aparamento de altar, caixão para guardar ornamentos na capela, imagem em ouro (Nossa Senhora da
Conceição), dinheiro para ser utilizado em obras das matrizes e capelas das irmandades e confrarias: Anna de
Andrade, Antonio de Almeida Doria, Antonio Martins Ferreira (Padre), Apollonia Soares dos Prazeres,
Domingos Lopes Ferreira (português), Escolastica de Almeyda de Mendonça, Felles de Andrade Maciel
(casado com Antonia Francisca de Jesus), Francisca de Serqueira Pacheco, Francisca dos Santos, Francisca
Perpetua de Almeida (casada com Serafim Mendes de Souza), Francisca Xavier de Menezes, Francisco Joze
de Santa Rita, Hypolita Maria da Conceição, Padre Joam da Cruz Conrado (português), José Antonio Borge
de Figueredo, Manoel da Rocha Rios (português), Padre Manoel de Afonseca de Araújo, Padre Manoel
Francisco da Cruz, Manoel Nunes de Azevedo (português) casado com Thereza Rodrigues de Souza, Maria
Telles da Silva e Menezes, Serafim Mendes de Souza (casado com Francisca Perpetua de Almeida),
Verissimo Pereira de Lima (português).
99
O manual referente às “artes de bem morrer” que teve grande circulação em Portugal e
nas suas colônias (1621 a 1724) foi o “Breve aparelho e modo fácil para ensinar a bem morrer
um cristão”, escrito pelo jesuíta Estevam de Castro. No capítulo 23 desse manual há as
instruções de como fazer testamentos, certamente apropriadas pelos tabeliães e redatores de
testamentos, como constatou Cláudia Rodrigues (2007) nos testamentos do século XVIII e
início do XIX do Rio de Janeiro por ela analisados. Também percebi nos 95 testamentos
setecentistas desta pesquisa190 que, em Sergipe, nesse período, ele também circulou, levando-
se em conta que, segundo esses manuais, a primeira atitude a ser tomada quando o fiel
adoecia era procurar o sacramento da confissão, em seguida fazer seu testamento para, no
final, na agonia da morte, receber o viático 191.
190
Nas Ordenações Filipinas, Título LXXX ao XC, e nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia,
Título XXXVII a XLIII, há a regulamentação civil e religiosa, mas não contêm o modelo como há no
capítulo 23 do “Breve aparelho e modo fácil para ensinar a bem morrer um cristão” escrito pelo jesuíta
Estevam de Castro.
191
Era o sacramento eucarístico administrado fora da igreja (extrema unção), levado em procissão pelas ruas até
a casa do moribundo pelo pároco, membros das confrarias as quais pertenciam e fiéis.
100
Em meados do século XVIII, surge outro manual de grande circulação que superou o
de Estevam de Castro, intitulado “Mestre da vida que ensina a viver e morrer santamente”,
autoria do dominicano João de Castro, que atingiu 20 edições entre 1731 a 1750, mas a
influência do manual de Estevam de Castro na redação dos testamentos é visível pelos vários
pesquisadores do Brasil Colônia.
101
Figura 3 – Folha de rosto do manual “Breve aparelho e modo fácil para ensinar a
bem morrer um cristão” – Estevam de Castro – 1627
acabar com os banquetes funerários junto a estes túmulos. Também os demais mortos foram
levados para dentro das igrejas, surgindo assim a sepultura eclesiástica que passou a ser
considerada uma das condições para a aquisição da salvação da alma, uma vez que pelo
dogma da ressurreição era necessário existir o corpo e esse agora estava em solo sagrado,
velado por todos cristãos. No Brasil Colônia este costume era disciplinado e exigido pelas
Constituições Primeiras:
192
A preocupação com a mortalha fazia parte do cotidiano religioso dos setecentistas, que os levava a adquiri-la
em vida, como fez o ab intestado Francisco Cardozo de Souza, morador no Sítio Buraco, do Termo da Vila
Nova Real do Rio São Francisco, o qual teve sua mortalha avaliada, em 1753, por quatro mil réis (4$000).
(Inventário de Francisco Cardozo de Souza. 1753, p. 8).
193
João Reis (1991), ao analisar as mortalhas no século XIX, na Bahia, entende que a escolha da cor branca, feita
pelos libertos e escravos, está ligada ao fato de ser a cor mortuária de várias nações africanas e a grande
quantidade de pessoas livres que usavam a cor porque era mais barato. Nos testamentos sergipanos do século
XVIII, outra justificativa foi encontrada, a de ser enterrado como Jesus Cristo, conforme registrou em seu
testamento Ignacio Rodrigues Campos, que apesar dele ser filho natural de uma escrava com uma pessoa
103
três pediram para ser sepultados com as vestes sacerdotais, como estabeleciam as
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia 194 (c. 827. [p. 310]. 2010. p. 436). Os outros
dois por estarem os documentos danificados, não foi possível recuperar a informação, mas
deduzi que também cumpriam as regras das Constituições Primeiras.
Assim, como o espaço físico no mundo dos vivos era delimitado segundo sua condição
social, o dos mortos também era nas igrejas e capelas. Na parte interna (corpo) ficavam os que
tinham posses e neste espaço quanto mais próximo fosse do altar mor mais prestígio tinha e
também aumentaria a chance de salvação, em face da proximidade com os santos de devoção
e de Cristo. Na área em volta do templo (adro), enterravam-se escravos e pessoas livres
miseráveis. A escolha do templo para a sepultura eclesiástica era um direito de todo
católico195, assegurado nas Constituições Primeiras, não podendo ser induzido por nenhum
religioso sob pena de excomunhão do mesmo.
A morte era anunciada pelos sinos. Três sinais breves para o defunto homem, dois para
a mulher e um para crianças, todos logo após a morte, na saída do funeral e no sepultamento.
A fim de que fosse dado início aos preparativos do funeral, quando o defunto tinha
feito testamento, este documento era de logo levado à presença do Juiz e aberto para saber
como ficaram determinados pelo testador o hábito e local de enterramento de seu corpo, o
cortejo196 (simples ou pomposo), as missas de corpo presente e as demais a serem realizadas
para sua alma. O número de sacerdotes no cortejo era sinal de riqueza. A maioria dos
testadores setecentistas de Sergipe Del Rey solicitava que acompanhassem seu corpo o seu
Reverendo pároco e todos os sacerdotes que se achassem, como assim requereu em seu
testamento o português Thomaz Domingos da Silva, residente na Povoação da Estância,
Termo da Vila Real de Santa Luzia:
livre, liberto, assim expressa seu desejo: “[...] meo corpo sera envolto com a mortalha Branca por ser aquela
em que foi envolto o corpo de meo Senhor Jesus Christo”. AGJ- SCR/C.1ºOF. Livros de Testamentos. Cx.
62. Liv. 06. p. 37-43.
194
Conjunto de cinco livros, publicados em 1707, pela Igreja Católica, que normatizava a prática religiosa.
195
As Constituições Primeiras, no seu Título LVII (c. 857), determinavam que fosse negada sepultura
eclesiástica aos judeus, heréticos, cismáticos, apóstatas, blasfemos, suicidas, duelistas, usuários tidos e
havidos, salvos se na hora da morte se arrependerem e se restituíssem, ladrões ou violadores das igrejas e de
seus bens, religiosos enriquecidos (se tinham profissão de pobreza), aos refratários à confissão e à extrema-
unção, infiéis, crianças e adultos pagãos.
196
Exemplo de enterro pomposo: “[...] meu corpo sera sepultado nesta Matriz de Santa Luzia e na Sepultura em
que se faz enterrada a minha mãe Margarida da Costa de Jesus com habito de Nossa Senhora do Monte
Carmo e me acompanharão todos os Sacerdotes que se poder e humar e a Confraria das Almas com toda
solenidade possivel.” Eleuteria Ramos de Jesus - 1779- SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62. Lv.
04 – p. 35-36; Exemplo de enterro sem pompa: “Quero eu Serafim Mendes de Souza ser envolto em habito
branco e sem pompa alguma sepultado na Matriz desta Freguesia de Santo Antonio e Almas da Villa de
Itabaiana donde presentemente sou fregues ou em outra qualquer Igreja onde for mais conveniente conforme
o tempo e lugar de meu falecimento o que deixo ao arbitrio de meu testamenteiro” (grifo meu). Serafim
Mendes de Souza - 1799. p. 7. AGJ - SCR/C. 2º OF. Inventário Cx. 01-159.
104
A música201 nos enterros geralmente fazia parte das missas de corpo presente, em face
de ser desejo do defunto, expresso em testamento, ou da família, como também sinal de
distinção social, uma vez que era o componente mais caro do funeral.
A condução do defunto ao local de sepultamento era realizada em tumbas ou esquifes
da irmandade à qual pertencia. Na Bahia, a Santa Casa de Misericórdia detinha, desde o início
do século XVII, o privilégio exclusivo de utilizar e alugar tumbas ou esquifes em que eram,
obrigatoriamente, levados os mortos à sepultura, sendo combatida pelas irmandades negras,
que conseguiram acabar com este monopólio no final do século XVIII. Em Sergipe, dos 95
testadores do século XVIII, apenas sete deixam expresso o desejo de serem levados em
tumba202, os demais assim não o fizeram, talvez por ser obrigatório como na Bahia e, por
conseguinte, algo comum. Apenas quatro expressaram o desejo de serem conduzidos em rede,
sinal de pobreza, porém pelos bens declarados era mais um ato de “humildade cristã” própria
da época, como assim determinou Joze Alvarez da Roxa:
197
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventário Cx. 05-489. 1800. p. 8 e 15.
198
A Irmandade do Santíssimo Sacramento no período colonial era uma associação religiosa de leigos composta
pela elite branca, a qual pudesse comprovar “pureza de sangue”. Era responsável pela guarda e promoção do
culto da Eucaristia, a Hóstia Consagrada que representa o Corpo de Cristo.
199
Armação era a decoração da Igreja com panos, cortinados, cadafalsos de madeira (estrado ostentoso sobre que
se colocava o esquife) cobertos por panos fúnebres.
200
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventário Cx. 05-489. 1800. p. 8 e 15.
201
“Deixo mais se fazerem missas huma de corpo presente outra no proximo dia ambas com nove lençois e
musica [...]”. Eleuteria Ramos de Jesus. 1779. AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62 – Lv. 04
– p. 36.
202
Na tumba das Santas Almas (3), de Nossa Senhora do Amparo (1), Santa Casa (1), do Santíssimo Sacramento
(2); e quatro pediram para ser conduzidos à sepultura em redes. Os demais não declararam.
105
Apesar de ser um ato cotidiano e religioso fazer testamento no século XVIII, somente
os que possuíam bens204 assim procediam, fato constatado por Cláudia Rodrigues (2005) em
seus estudos, quando chegou à conclusão de que é possível afirmar que no século XVIII só
não fazia testamento quem era pobre ou tinha morte súbita. Portanto, na sociedade setecentista
brasileira, morrer sem testamento não excluía o morto do ritual fúnebre, pois estava prescrito
nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, como consta no Livro 4º, Título LI,
que:
[...] morrendo alguma pessoa ab intestado, o pároco donde o tal defunto for
freguês lhe faça seus sufrágios de corpo presente, mês e ano, considerando a
qualidade da pessoa, possibilidade da fazenda e número dos herdeiros que
lhe ficam obrigando-os a que assim o cumpram205.
203
AGJ-SCR/1º OF. Cx. 04-64. Livro de Registro de testamento, 1798, p. 123.
204
Mesmo sendo uma ex-escrava, Eufemia Rodrigues, ao fazer seu testamento em 1772, tinha como bens uma
escrava angolana, casas de telha na Vila do Lagarto herdada do seu senhor, o padre Antonio Rodrigues
Teixeira, que ao falecer a libertou gratuitamente, além de outras casas em terras de André de Britto, caixa de
guardar roupa, mesa, caixão, quatro cadeiras de pau, tachos de cobre, bacias, velas, oratório com imagens,
frascos de vidro, toalha de algodão e dinheiro que lhes deviam, seis mil e duzentos e oitenta réis. AGJ -
SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - pp.33-42. Procedência: Vila de Nossa Senhora da
Piedade do Lagarto.
205
Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. C. 836, [p. 313]. Ed. 2010, p. 439.
206
AGJ - SCR/C.1ºOF. Inventários. Cx.02-15. SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - pp.33-
42.
106
207
Termo utilizado pela autora para dar conta das modificações das atitudes diante da morte no decorrer dos
séculos XVIII e XIX.
208
Orações para um morto.
209
Leis de agosto de 1761, de 4 de fevereiro de 1765, de 25 de junho de 1766, de 9 de setembro de 1769 e os
alvarás de 01 de agosto de 1774 e de 31 de janeiro de 1775.
107
E por ser esta a minha ultima vontade e em tudo quero me conformar com
a novicima lei de Sua Magestade Fidelicima que Deos guarde para
satisfazer os meos legados ad causas pias aqui declarados, e dar expediente
aos mais que neste meu Testamento ordeno torno a pedir e Rogar a meu
Irman Antonio Ferreyra Soares, Joam Alves do Valle e Jose Rodrigues
Dantas por serviço de Deos Nosso Senhor e por me fazerem merce queiram
ser meus testamenteiros [corroído] como no principio deste meu testamento
pesso aos quais e a cada hum in solidum dou todo o poder que em direito
posso e for necessario para dos meus bens tirarem e vender o que necessario
for para o meu enterramento e tudo o que for precizo para gastas do funeral
de corpo presente, por que lhes não deixo dinheiro nem ouro ou prata// (grifo
meu210).
Viver em tempos coloniais era viver em uma sociedade dividida juridicamente entre
pessoas livres e escravas; racialmente entre brancos, negros e indígenas, onde o privado e o
público tinham conotações distintas do que hoje entendemos. Por isso:
Para intuirmos o que era público e privado no período colonial no contexto familiar,
não podemos esquecer das grandes distâncias existentes entre as propriedades coloniais e as
vilas, pois era isso que os configurava. O privado era, para o mundo exterior, espaços
domiciliares reservados à vigília de ataques indígenas, a forasteiros, demarcados pelas
varandas, que antecediam o adentrar no recinto doméstico. Mesmo dentro deles existiam
outros obstáculos aos espaços íntimos da família, as salas de visita, enquanto que
internamente a convivência era pública entre senhores, escravos e agregados, até mesmo pela
dificuldade de assim não ser, devido à própria arquitetura das casas coloniais, as chamadas
moradas de casas, que eram conjuntos de construções compostos pela casa de morar, local de
210
Testamento de Apollonia Soares dos Prazeres, 1774. AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62 -
Lv. 03 – p. 15.
108
211
Era um conjunto de habitações composto por casa de morar do proprietário, casa dos agregados, casa de
farinha, senzala, capela, engenho (moenda, caldeireira, purgador), alambique, tenda de ferreiro, variando esta
composição conforme as posses do dono.
212
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481. 1798.
213
AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx. 01-14. 1765.
214
Idem. 1781.
215
AGJ - SCR/C.1ºOF. Inventários. Cx.02-15.
216
Dauril Alden (2008, p. 557) informa que no final do século XVIII havia 140 engenhos em Sergipe.
217
AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx.01-14.
109
Guia, com as imagens e mais alfaias, avaliado em 1788, também em dez mil contos de réis,
pertencente ao casal Joze Cardozo de Santa Anna e Cardula Maria de Sam Joze218.
O Sobrado do Engenho do Retiro (Figura 4), primeira habitação dos jesuítas em
Laranjeiras, datado de 1701, é um dos poucos, talvez o único sobrado setecentista sergipano
existente, mesmo com as intervenções ao longo dos séculos e ser inicialmente uma habitação
religiosa, foi vendido e teve depois instalado um engenho no local.
Fonte: LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Arquitetura sergipana do açúcar. Aracaju, Unit, 1999. p. 29.
Os elementos da cultura material de uma época muito dizem de seus indivíduos no que
se refere à posição social, religiosidade e refinamento. Através deles percebi a sociedade em
transformação, permitindo traçar um perfil econômico e social e dos modos de ser e viver.
Apesar da pequena capitania sergipana, nos anos setecentos, ser predominante rural,
algumas das suas habitações (casas, engenhos, sítios) possuíam um mobiliário refinado para a
época: leito219de jacarandá com pés de ouro (Jozefa Maria da Conceiçam 220), cama aparelhada
de prata (Feliz Francisco Nunes 221), mesa de jogo222 (Joaquim Joze Braque223), bofetes de
218
AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx.01-14.
219
Leito - nome dado à cama provida de balaústres e cortinado, chamada hoje cama com baldaquino, cama com
torneados, ruelas ou bolachas, fusos ou bilros, camas com esteios ou lanças com dossel ou céu. (FLEXOR,
2009, p. 152).
220
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481.
221
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481.
222
Mesa ou banca de jogo – mesmas características das mesas e bancas comuns, distinguindo-se por dispor de
cinzeiros cavados no tampo, esse dobrável e coberto com pano verde. (FLEXOR, 2009, p. 153).
223
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481.
110
jacarandá com e sem gavetas (Bernarda de Jesus Maria José 224, Ignacio da Costa Feijo 225,
Jozefa Maria de Serqueira226 e Manoel Joze de Vasconcelos e Figueiredo 227), armários de
guardar roupas, raros na época (Manoel Joze Nunes Coelho de Vasconcelos e Figueiredo 228 e
o português Manoel Nunes de Azevedo 229) e várias camas (da índia, de pau branco, de
jacarandá e de cedro).
Segundo Maria Helena Ochi Flexor, estudiosa do mobiliário baiano, até 1780 os
móveis brasileiros eram feitos do jacarandá, vinhático e de madeira branca, a última mais
utilizada na confecção de móveis populares (FLEXOR, 2009). Em Sergipe setecentista
encontramos a madeira branca, também denominada madeira da terra, em catres, mesas,
caixas, armários, frasqueira, até mesmo empregada na construção de casa230, mas também
havia móveis de cedro e pinho. Faziam parte do mobiliário setecentista sergipano: caixa de
despejo 231, tachos de ferro e/ou cobre, caixas 232 (de pinho, cedro, madeira branca) grandes,
pequenas, com e sem fechaduras, cadeira (de palha, de couro, de madeira), mesas com ou sem
gavetas (de madeira branca ou pau branco, cedro, jacarandá), bofete 233 de jacarandá com
gavetas, relógio grande, baú de couro, tamboretes (de couro, de madeira), banco, armários,
entre outros. O couro foi utilizado nos assentos e encostos das cadeiras, baús, caixas,
tamboretes e catres sergipanos.
As armas de fogo e espingardas eram arroladas e seu uso era disciplinado pelas
Ordenações Filipinas, tanto as armas brancas (espadim, espada, florete) quanto as armas de
fogo. O uso de espadim e de espada era prerrogativa da nobreza, de pertencimento a
determinados cargos e era proibido ao resto da população pela Lei de 24 de maio de 1749,
publicada pelo conde de Atouguia, vice-rei do Brasil (SILVA, 2005). Nos inventários
setecentistas sergipanos foram encontrados vários espadins de prata 234 e um de ouro de posse
224
APES-Coleção Sebrão Sobrinho -Caixa 32.
225
Idem.
226
AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx.02-15.
227
AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx.01-14.
228
Idem.
229
AGJ - EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481.
230
No inventário de Antonio Simoens dos Reis, datado de 1790, de São Cristóvão, há o registro de uma morada
de casas de telha e de madeira branca, arruinada, no valor de vinte e quatro mil réis (24$000), mostrando
assim que havia outros tipos de casas além da de taipa. AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx. 02-15, p. 9.
231
Barris com fezes e urina, que eram jogadas nas praias e valas pelos escravos.
232
As caixas eram utilizadas para guardar roupas, alimentos e demais objetos. As caixas com gavetas são
anteriores às cômodas.
233
Móvel mais alto e encorpado que servia de aparador.
234
Inventários de Antonio Carvalho de Oliveira, Bernarda Petronilha de Santa Anna, Gonçallo Gomes Lobato,
Gonçalo Moura de Rezende, Joana Maria de Deos, Joaquim da Silva Roque (português), Joze de Freitas
Brandão, Jozefa Maria de Serqueira e Marianna de Sandes.
111
235
Casada com Joze Soterio de Sá. No inventário não há informação que o marido ocupava cargo. O espadim de
ouro herdado poderia ser de um membro masculino de sua família ou do marido. SCR/C.1º OF. Inventários.
Cx.02-15.
236
Inventários de Catarina de Vasconcellos, Duarte Monis Barreto, Feliz Francisco Nunes e Joana Maria de
Deos.
237
Escapulário pendente do pescoço. Bentinho.
238
Inventário de Antonio Fernandes Beires p. 15. AGJ - EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481.
239
“[...] oratório grande com telha dourada com sete imagens [...]”. SCR/C.1º OF. Inventários. Cx. 02-15, p. 6.
240
AGJ - SCR/C.1º OF. Inventários. Cx. 02-15.
112
241
As ações de juramento d’alma adquiridas sob apenas o emprego da palavra são de relevante importância para
este estudo, como também as petições cobrando dívidas, inventários e demais documentos. Esta
documentação encontra-se disponível no Arquivo Judiciário de Sergipe.
242
Estacio Munis Barreto é assinante, mas sua mulher não sabia ler nem escrever, quem assina seu testamento a
seu rogo é o seu genro Joze Luiz Barrozo. Quem escreve o testamento é Manoel Rodrigues do Nascimento.
MAR/C. 2º OF. Inventário Cx. 02-808.
243
O Real era a unidade monetária de Portugal e foi também utilizada no Brasil até sete de outubro de 1833. No
Brasil colônia era denominada de réis. Em 1694 cria-se a primeira casa da moeda na Bahia, passando depois
a existirem casas da moeda em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro. Entre 1695 e 1698 foram
cunhadas as primeiras moedas para circular especificamente no Brasil e somente em 1703 foram cunhadas as
primeiras moedas na Casa da Moeda no Rio de Janeiro, que eram também válidas em Portugal. Mas, as
primeiras moedas com a palavra Brasil surgiram durante o período do domínio holandês no nordeste (1630-
1654) e eram denominadas de florins e soldos, destinadas ao pagamento de fornecedores e tropas holandesas.
244
Francisca Perpetua deixa para seu enjeitado um cavalo selado e enfreado, esporas de prata, um espadim de
prata, um escravo e toda a roupa de vestiário de seu marido. SCR/C. 2º OF. Inventário Cx. 01-159. p. 11. Já
Thereza Rodrigues de Jesus deixa todas as suas roupas às escravas da casa e pede que sejam repartidas
igualmente. EST/C. 2º OF. Inventários. Cx. 01-481, p. 6.
245
Vêstia. Vestidura de homem até os joelhos e com mangas. Raphael Bluteau - Vocabulario Portuguez &
Latino.Volume . p. 456. Disponível em: < http://www.brasiliana.usp.br/pt-br/dicionario/1/V%C3%AAstia>.
Acesso em: 30 ago. 2012.
113
de seda, de cetim), capote246, cinta de veludo, calças, chambre 247 de chita fina com seus
calções, meias (de algodão, de seda), farda, colete, ceroula, vestido (de veludo, de cetim),
casaca (de pano fino, de chita), camisa (de pano de linho), bolsa de pano, manto, peça de pano
(de linho, de seda), capona, capa, fitas, jalecos, casaco. Nos teares 248, confeccionavam o
tecido mais rústico para a lida da casa e a vestimenta dos escravos. Para termos uma ideia
aproximada do vestuário e objetos de uso masculinos ou femininos dos moradores de Sergipe
Del Rey, faz-se necessário uma investigação nos inventários e testamentos de pessoas
solteiras. A maioria dos inventários e testamentos setecentistas é de casais, no entanto não
evidenciam o seu uso quanto ao sexo.
Tanto as roupas como joias e armas, eram objetos passíveis de serem utilizados como
crédito via penhora, como ficou registrado em 1786, no testamento de Gonçallo Gomes
Lobato, morador em São Cristóvão: “Possuo mais dois vestidos de meu uso, hum espadim de
prata, tres pares de fivellas de prata, hú de çapatos, hú de ligas de calsam, hua de ligas de
meias, hua xaras249 de prata, [4 palavras ilegível] de ouro que se achão empenhados em mão
do Reverendo Padre [Pedro Alvares]”(grifo meu250).
Nas alfaias da casa ou trastes da casa como eram denominados os utensílios
domésticos foram encontrados: colheres de prata, ferro de engomar, espelho grande, jarro e
bacia de louça fina, prato com seu copo de louça fina, sopeira com seu prato, bule de louça,
paletas de vidro, xícaras com pires de louça fina, pratos de mesa ordinários, facas de prata,
jarra funda de vidro, garfos de prata, frascos grandes e pequenos, pratos finos rasos, copo de
vidro dourado, lampião de vidro, lençóis de pano de linho, toalha de mesa (de algodão, de
renda, de linho), guardanapos, rede de varanda, cobertor, frasqueira, bacia, castiçal de latão,
candeeiros de latão, canastra, tigelas finas, colchão de lã, estojos com navalhas, almofreixe
(mala grande), entre outros.
Nos inventários com propriedades (sítios, engenhos, porção de terras) foram descritos
os seguintes instrumentos agrícolas: foices, enxadas, machado, serrote, cavadores, martelo,
serras, compasso, ferro chamado diamante (utilizado para cortar vidros), plaina, serra braçal
(serra com braços manuseada por dois homens), balança de ferro, enxó (instrumento utilizado
246
Capa comprida e larga, com cabeção e capuz.
247
Chambre. S. m. Vestido caseiro, fraldado, abaixo dos joelhos. Antonio de Moraes Silva . Diccionario da
lingua portugueza - volume 1 p. 381. Disponível em <http://www.brasiliana.usp.br/pt-
br/dicionario/2/chambre>. Acesso em: 30 ago. 2012.
248
Encontrados nos inventários de Joana Maria de Deos, João da Rocha Rego, Joze de Freitas Brandão, Eleuterio
Joze dos Santos e Luiz Carlos Pereyra.
249
Seta de pau tostado ao fogo.
250
AGJ - SCR/C.1º OF. Testamentos. Cx.01-67, p. 5.
114
para desbastar tábuas ou pequenas peças de madeira), roda de ralar mandioca, bolandeira
(aparelho para descaroçar algodão), pipa e tenda de ferreiro com todos os assessórios.
Numa sociedade agroescravista e monoexportadora, os escravos foram a principal e
necessária mão-de-obra. Raro era o indivíduo ou família que não possuía escravo. Os escravos
setecentistas de Sergipe Del Rey eram oriundos de vários locais da África (Angola, Guiné,
Banguela, Congo). Dos 88 inventários setecentistas de Sergipe, somente três senzalas foram
arroladas. Duas localizadas em engenhos (o Engenho Lagoa da Penha, corrente e moente com
todos os seus assessórios de cobre, casas de morar, de sobrado, senzalas e terras anexas com
demais benfeitorias de propriedade de Manoel Joze de Vasconcelos e Figueiredo, com 111
escravos e Engenho Gameleira com senzalas de escravos de propriedade do casal Joze
Cardozo de Santa Anna e Cardula Maria de Sam Joze, com 24 escravos) e uma senzala em
um sítio (o Sítio da Caraíba, com casa de vivenda, senzalas, casa de farinha com bolandeira
com todos seus acessórios e benfeitorias pertencente a Maria Caetana, com 15 escravos).
Outras propriedades com mais escravos que as acima citadas, como a do Engenho de Nossa
Senhora da Piedade, com 124 escravos, pertencentes à Bernarda de Jesus Maria José, mas não
há menção a senzalas. Sheila Faria (1998) encontrou idêntica situação nos inventários do
século XVIII por ela pesquisados no norte do estado do Rio de Janeiro, e formulou três
hipóteses para a ausência de senzalas: a primeira que não tinham valor, principal razão para a
autora; a segunda que eram feitas pelos escravos e de propriedade deles; a terceira porque os
escravos dormiam dentro das casas de morar dos senhores (FARIA, 1998, p. 368).
Nos testamentos, alguns escravos foram beneficiados pelos seus senhores com cartas
de liberdade, roupas e esmolas em dinheiro. Nos inventários estão registrados nome,
nacionalidade, preço, idade e, em alguns, a profissão. Um tronco de madeira da terra foi
arrolado como bem no inventário de Manoel Joze de Vasconcelos e Figueiredo, dono do já
citado Engenho da Penha.
Como podemos observar, a vida cotidiana familiar dos moradores de Sergipe, a
pequena e deficitária Capitania de Sergipe Del Rey, tinha os padrões religiosos, sociais e até
mesmo econômicos, com as devidas proporções, como as demais capitanias brasileiras,
principalmente as do litoral açucareiro, pois a sua base geradora, a sociedade, tinha como
alicerce as Ordenações Filipinas e as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. As
suas especificidades serão evidenciadas com o estudo verticalizado dos temas aqui abordados.
115
4 – A CULTURA ESCRITA
251
Rosa Virgínia Mattos e Silva e seu Grupo de Pesquisa PROHPOR, consideram 1536/1540 como as datas
sociolinguisticamente apontadas para o início dos tempos modernos da Língua Portuguesa, advindas dessas
gramáticas, em seu artigo “Reconfigurações socioculturais e lingüísticas no Portugal de quinhentos em
comparação com o período arcaico”. Disponível em: <http://www.prohpor.ufba.br/reconfigura.html>. Acesso
em: 30 Dez. 2010.
117
252
Aquele que é versado em ortografia. ORTÓGRAFO. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa:
Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO>. Acesso em: 3 jan. 2011.
119
253
Segundo Álvaro César Pereira de Souza, o lexicógrafo brasileiro retirou toda a parte ilustrada e barroca da
obra de Bluteau e acrescentou cerca de 22.000 verbetes novos (OLIVEIRA, 2010, p. 288).
121
Percebi isso na cartilha “A Nova Escola de aprender a ler, escrever e contar” (1722) de
Manoel Andrade de Figueiredo, quando ele diz que: “O principal cuidado que devem ter os
Mestres, he instruir na doutrina Christã, e bons costumes aos mininos [...]” (FIGUEIREDO,
1722, p. 5).
Em 1722, surge a primeira cartilha escrita e publicada em Portugal, de autoria do
padre jesuíta brasileiro Manoel Andrade de Figueiredo, intitulada “A Nova Escola de
aprender a ler, escrever e contar”, difundindo a caligrafia, a ortografia e a aritmética por meio
de um manual em língua portuguesa. Esta obra foi indicada também para o uso nas aulas
régias de primeiras letras do reino de Portugal, circulando durante e após o período pombalino
em Portugal e no Brasil, como registra Banha de Andrade ao discorrer sobre a reforma
pombalina do ensino no Brasil, ao citar o caso da Capitania de São Paulo, que através do
Estatuto256 enviado pelo Governador e Capitão General de São Paulo, em 1768, indicava a
cartilha do calígrafo Manoel Andrade de Figueiredo.
254
Segundo Justino Magalhães, “Ao calígrafo, a função docente associou o saber ensinar: o mestre era um
calígrafo, medianamente letrado que deveria fazer prova de conhecimento e de saber ensinar. Ele era, afinal,
uma réplica do humanista” (MAGALHÃES, 2010, p. 142).
255
Ordinandas eram pessoas que pretendiam receber ordens sacras.
256
Denominado: Estatuto que hão de observar os mestres das escollas dos meninos nesta capitania de S. Paulo,
remetido pelo governador e Capitão-general de São Paulo, Luís Antônio de Souza ao Conde de Oeiras, em 12
de maio de 1768 (ANDRADE, 1978, p. 155).
122
Figura 11 – Folha de rosto do livro “Nova Escola para aprender a ler, escrever, e
contar”, de Manuel de Andrade de Figueiredo, 1722
257
“Fios de seda ou de outra matéria que se embebem com a tinta do tinteiro para communicar à penna”
(BLUTEAU, 1728, p. 566). Disponível em: <http://www.brasiliana.usp.br/pt-br/dicionario/1/poedouros>.
Acesso em: 29 jan. 2011.
124
Figura 13 – Livro “Nova Escola para aprender a ler, escrever, e contar”, de Manuel
de Andrade de Figueiredo, 1722
Figura 15 – Provisão Régia – Vila Nova Real do Rey do Rio São Francisco
Figura 19 – Traço caligráfico do Juiz de Órfãos Capitão Jozé Antonio dos Santos e
do escrivão Joaquim Joze de Souza Silva
O ensino jesuítico, no início da colonização, tinha como base a catequese, que dava
relevância ao ensino da língua nativa e da língua latina em detrimento do Português. Até
meados do século XVIII, o multilinguismo generalizado caracteriza o território brasileiro. Os
jesuítas faziam uso da “língua geral” e não do Português, pois:
258
Disponível em: <http://www.labeurb.unicamp.br/elb/indigenas/lingua_geral.html. Acesso em: 27 nov. 2011.
259
O Estado do Maranhão foi criado em 1621, abrangendo as capitanias do Maranhão, Pará, Piauí e do Ceará. O
Estado do Brasil compreendia o restante da Colônia. Em 1775, o Estado do Maranhão passou a intitular-se
Estado do Grão-Pará e Maranhão, cuja capital foi transferida de São Luís para Belém, sendo incorporado em
1774 ao Estado do Brasil.
133
iniciando assim o processo de sua efetivação como língua nacional, através de sua
gramatização e escolarização.
Mas ao que tudo indica, continuou ainda por um bom tempo a se falar a língua geral,
tanto que em 1771 surge um dicionário escrito na língua geral, lançado na Cidade do Pará, o
“Diccionario da lingua geral do Brasil que se falla Em todas as Villas, Lugares, e Aldeas deste
vastissimo Estado” (Figuras 21 e 22).
134
Os artefatos da cultura escrita são objetos que imputam ideias, significados e status aos
seus possuidores, específicos de grupos familiarizados com a escrita como clérigos,
professores, agentes do poder público, indivíduos instruídos e escreventes profissionais.
Dos 88 inventários do século XVIII investigados com datas limites de 1720 a 1800,
que estão sob a custódia do Arquivo Geral do Judiciário (75) e do Arquivo Púbico Estadual de
Sergipe (16), oriundos das comarcas de São Cristóvão, Maruim, Estância, Porto da Folha,
Lagarto e Itabaiana, apenas em cinco foram encontrados artefatos da cultura escrita (livros,
260
A Prof.ª Dr.ª Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento em sua dissertação de Mestrado em Educação
pela Universidade Federal de Sergipe, intitulada: A escola Americana: origens da educação protestante em
Sergipe (1886-1913), defendida em 2000, recorreu-se das lápides do cemitério da Igreja Presbiteriana de
Sergipe para coletar informações sobre os primeiros protestantes de Sergipe, utilizando essa escrita funerária
como fonte indiciária para sua pesquisa.
138
escrivaninha, tinteiros, sinete e tesoura de aparar cartas), fato que evidencia a falta de
familiarização com a cultura escrita por grande parte da população setecentista moradora em
Sergipe Del Rey, o que, contudo, não implica na ausência de acesso à mesma.
Quanto ao livro, elemento e artefato da cultura escrita, identifiquei uma livraria em
São Cristóvão com um acervo de quinhentos livros. É o que nos diz o inventário de Jozefa
Maria de Serqueira, falecida em 1794, no qual seu marido, Antonio Cazimiro Leite, ao dar
contas dos bens do casal, relaciona a livraria: “Item que deo em inventario o inventariante
huma livraria de quinhentos livros de diversas [ilegível] entre meios vistos pequenos e
grandes que foi vistos e avaliados pelos avaliadores por quatrocentos mil reis”261. Sergipano,
o advogado Antonio Cazimiro Leite, que atuava também como Juiz Ordinário em São
Cristóvão, como atestam vários documentos do período, morava na Rua das Flores, em São
Cristóvão, e era o proprietário da livraria. Santos, ao analisar o inventário262, percebeu “[...] a
referida livraria como uma necessidade criada pela própria estrutura daquela cidade que
certamente, tinha um público consumidor dos impressos de Antonio Cazimiro” (SANTOS,
2008, p. 9).
Havia também mais dois possuidores de livros: Feliz Francisco Nunes e o Padre
Antônio Correia Dantas. Feliz Francisco Nunes, da Freguesia de Santo Amaro das Brotas,
filho natural de José Francisco Nunes e de Anna Cardoso, escrava forra, crioula, já falecida,
casado com Francisca Caetana da Conceição, também falecida na época do inventário, teve
oito filhos, desses, três casados. Era possuidor de um sítio de terras, denominado Calumby,
com casas de morada, de outro sítio, onde morava, o sítio Nossa Senhora da Conceição e
também possuía uma casa na Vila de Santo Amaro. Era proprietário de 15 escravos, mas
apesar de ser filho de uma liberta263, deixa em seu inventário vestígios de que fora educado,
ao informar, em seu testamento264, que utiliza um livro de contas265 para registrar suas dívidas
ativas, passivas e contas de sua fazenda. Fica, desta forma, evidente a existência de uma
escrituração contábil e com ela a educação elementar que era ler, escrever e contar. Deixa
também um livro, pequeno, arrolado em seu inventário pelo valor de sessenta réis.
O outro possuidor de livros era o Padre Antônio Correia Dantas 266, que deixa quatro
breviários no valor de cinco mil réis, arrolados em seu inventário, juntamente com um sinete
261
AGJ - SCR/C.1ºOF. Inventários. Cx.02-15.
262
Em seu artigo denominado “A livraria de Antonio Cazemiro Leite” (1794).
263
Ex-escrava.
264
Inventários de Feliz Francisco Nunes, 1798, p. 04-13.
265
O livro de contas também era denominado de livro de razão ou de assento.
266
APES/Coleção Sebrão Sobrinho. Cx. 32. Doc. 1725.
139
com pé de prata no valor de trezentos réis. Não deixa testamento e tem como inventariante o
Sargento-mor, seu irmão, Joze Correa Dantas.
O sinete, um dos vestígios materiais da cultura escrita, era usado como assinatura para
selar e autenticar documentos e cartas, constituindo-se em uma marca particular ou
instituconal. Autenticava documentos privados ou públicos, muito utilizado por pessoas
instruídas tais como escrivães, tabeliães e demais autoridades da época.
Este artefato era indispensável na prática cartorial, pois servia como prova de que o
documento de caráter sigiloso não fora violado, como exemplifica o testamento lacrado com
cera vermelha, autenticado com sinete do Tabelião Francisco Jozê do Borral que selava
formalmente o testamento do Coronel Manoel Joze Nunes Coelho de Vasconcellos e
Figueiredo em 1777 (Figura 24, a seguir).
140
Figura 24 – Lacre utilizando cera vermelha, feito com sinete do tabelião Francisco
Jozê do Borral, selando formalmente o testamento do Coronel Manoel Joze Nunes
Coelho de Vasconcellos e Figueiredo, 1777
Lacre
de cera
Fonte: Inventário do Coronel Manoel Joze Nunes Coelho de Vasconcellos e Figueiredo, 1777, fl. 06.
Quanto a Gonçalo Luiz Teles de Menezes 267, por não ter deixado testamento, só foi
possível recuperar a informação de que ele era tenente e não teve filhos. Seus herdeiros eram
Roza Maria da Cunha, sua avó, e Roza Josefa, irmã, casada com o Sargento-mor Leandro
Bezerra Martins que tinham um filho, Simão, e dois sobrinhos, Antonio e Luiza. A existência
de um sinete entre seus bens certamente era indício da posição de seu cargo, que o inseria no
mundo da cultura escrita oficializando documentos.
267
Deixou os seguintes bens: escravos, sendeiro, fivelas de prata, esporas de prata, selas, sinete de fixar cartas,
chapéu de Braga, meias de algodão, calção de fustão branco, lençol de pano de linho, toalha, camisas,
chinelos, oratório, cruz de ouro, banco, farda de pano fino, mesa, cangalha, tacho, frasco e copo de vidro,
caldeirinha, lenço de tabaco, gamela, bacia, gado cavalar, mala, dívidas, entre outros. Seu inventariante era o
Tenente Vicente Joze de Menezes.
142
4.3.1 – O livro
Mesmo com estas ressalvas, foi através dos inventários que soubemos da existência de
uma livraria268, em pleno século XVIII em São Cristóvão, com quinhentos livros, e de dois
possuidores de livros269, nas Vilas de Santo Amaro das Brotas e de Santo Antonio das Almas
de Itabaiana. Um deles certamente leitor assíduo, porque se tratava de um padre e seus livros
arrolados eram breviários, desmistificando que em solos sergipanos, naquele século, não
havia livros, leitores e muito menos livraria.
Márcia Azevedo de Abreu (2001) diz que, ao contrário do que se pensa, os livros eram
objetos baratos ou, muitas vezes, para os avaliadores dos bens, sem valor. Eram arrolados nos
inventários, quase sempre tendo seus títulos e autores não identificados, talvez por
desconhecimento de avaliadores que não sabiam analisar cada uma destas obras. Eles
acabaram por revelar a existência de livrarias e bibliotecas privadas, comprovando que a tão
mencionada falta de livros e leituras, ideia que circulou no Brasil nesse período, não é
consistente. As pesquisas realizadas por esta autora nos últimos anos, com a documentação
produzida pela censura portuguesa270, que buscava controlar a entrada e a circulação de livros
no Brasil, e com os livros de Belas Artes existentes no Rio de Janeiro, cidade onde concentra
seu foco de investigação, localizaram dados da entrada constante de numerosas obras
remetidas da Europa para o Brasil, mostrando uma realidade contrária à ideia da falta de
leituras mencionada anteriormente.
Assim como outros autores, Jorge de Souza Araújo (1999) já havia feito esta
constatação sobre livros e leituras, quando realizou um mapeamento de livros nas bibliotecas
e arquivos existentes nos séculos XVI a XIX no Brasil, mostrando quem lia e o quê se lia
nesse período. Ele percorreu o País buscando dados e incluiu Sergipe no levantamento ao
pesquisar alguns inventários oitocentistas no Arquivo Judiciário, em 1985, mas sem investigar
os inventários do século XVIII271.
268
Inventário de Jozefa Maria de Serqueira, 1794.
269
Coleção Sebrão Sobrinho. Cx. 32. Inventário do Padre Antônio Correia Dantas, 1793.
270
A atividade censória repartia-se entre o Ordinário (juízes eclesiásticos ligados às dioceses, em atuação desde
1517), o Tribunal do Santo Ofício (organismo ligado à Igreja, em funcionamento desde 1536) e o
Desembargo do Paço (órgão censor ligado ao poder régio, atuante a partir de 1576). Este sistema tríplice
esteve em atuação até 1768, quando D. José I julgou ser necessário centralizar a censura em um só
organismo, criando, assim, a Real Mesa Censória (ABREU, 2007, p. 2). A censura manteve-se no período
pombalino, passando para o Estado sem, contudo, excluir os religiosos da Mesa Censória.
271
Como consta no Livro de registro de pesquisa do Arquivo Judiciário de Sergipe, nº 01. Em 2005, os
inventários judiciais do século XVIII de Sergipe foram digitalizados e publicados.
145
Vera Maria dos Santos (2009, p. 2), ao estudar a circulação dos livros em Sergipe
setecentista nos inventários, constata que “Em Sergipe os livreiros e leitores coloniais
deixaram poucos indicativos acerca dos seus livros e das suas leituras. Entretanto, através de
seus inventários post-mortem podemos recuperar os indícios e resíduos marginais dos
mesmos”.
Maria Aparecida de Menezes Borrego (2009), ao analisar a presença de livros
manuscritos e impressos arrolados nos inventários de mercadores paulistas no século XVIII,
conclui que “[...] em meio à população colonial pouco letrada, os agentes mercantis atuantes
em São Paulo setecentista deixaram evidências de que sabiam ler, escrever e, principalmente,
fazer contas” (BORREGO, 2009, p. 242). Os mercadores de Sergipe Del Rey também
deixaram essas evidências. Esse é um dos pontos sobre o letramento a ser investigado no
capítulo 3. O fato é que, em suas diversas modalidades (formas de leitura, público, suportes,
tipos), o livro existia e circulava no Brasil e em Sergipe setecentista, não há mais dúvida.
No Brasil do século XVII, as bibliotecas e livrarias 272 coloniais eram raras e as mais
ricas pertenciam à Companhia de Jesus. As demais, em sua maioria, pertencentes a
particulares cujos acervos eram quase que totalmente de cunho religioso, encontrando-se
também algumas obras na área da moral, do direito canônico e da filosofia (SCHWARCZ,
2002).
Luiz Carlos Villalta (1997), em seu estudo sobre o tema 273, afirma que no século XVII
a posse de livros no Brasil era pouca e que continuava idêntica ao século XVI, havendo uma
mudança no século XVIII, tanto referente ao número de bibliotecas como também à sua
composição, concluindo que:
272
Os termos biblioteca e livraria aparecem às vezes na literatura como sinônimos. Em Portugal, até o século
XVIII usou-se o termo livraria para as bibliotecas tanto de caráter privado como público. Esta troca de
terminologia, principalmente no século XVII, refletiu no Brasil colonial. Mas a livraria setecentista sergipana
encontrada na cidade de São Cristóvão, que este texto menciona, é uma livraria no sentido de casa com livros
para serem vendidos, constatação evidenciada no próprio inventário.
273
No seu artigo “Bibliotecas Privadas e Práticas de Leitura no Brasil Colonial”, o autor faz um balanço sobre a
história do livro no Brasil Colonial. Disponível em:
<http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/estudos/ensaios/bibliotecas-br.pdf>. Acesso em: 28 dez.
2010.
146
Em Sergipe setecentista, até o presente momento, não foram localizadas pessoas com
acervos que caracterizassem bibliotecas, apenas uma pessoa possuindo um livro e outra
quatro, além da existência de uma livraria. As bibliotecas particulares 274 aparecem nos
inventários sergipanos a partir do século XIX.
O Direito Português aplicado no Brasil com a chegada dos primeiros colonizadores era
um direito basicamente escrito. Ordenações, Regimentos, Forais, Cartas Régias e demais
instrumentos jurídicos que regulavam a vida dos portugueses foram transplantados para a
Colônia e assim as regras escritas ficaram acima das regras consuetudinárias. Esses textos da
lei constituíram-se na base da cultura escrita oficial portuguesa, aplicada na colônia brasileira,
transmitindo saberes e práticas jurídicas.
As Ordenações eram coletâneas de leis instituídas pelos monarcas dos séculos XV,
XVI e XVII, que reuniram em um só arcabouço legislativo as diversas leis extravagantes275 e
outras fontes de direito, que, por estarem disjuntas, tornavam difícil a adequada aplicação do
direito. Era nas Ordenações Filipinas que estava a base do direito português. Elas vigoraram
até a promulgação dos sucessivos códigos do século XIX. Entretanto, algumas disposições
tiveram vigência no Brasil até o surgimento do Código Civil de 1916. Constantemente
alterada ou complementada por um conjunto de diplomas legais avulsos, chamado Legislação
Extravagante, norteava a esfera jurídica portuguesa e brasileira.
As cartas de doação e os forais foram instrumentos elaborados pelos monarcas
portugueses para administrar, no Brasil, o seu povoamento e a exploração. Primeiros textos de
lei escritos para reger a Colônia, elas instituíam a legitimidade, os direitos e os privilégios dos
donatários enquanto que os forais complementavam a doação, determinando os impostos que
deveriam ser pagos à coroa portuguesa. Já as cartas de sesmarias276 foram um instrumento
jurídico português que normatizou a distribuição de terras e que durou até 1822, quando
274
Quando pesquisei para o Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe sobre a temática “A
formação da elite intelectual sergipana (1822-1889)”, defendida em 2004, arrolei todos os inventários das
comarcas de Aracaju, São Cristóvão, Laranjeiras, Maruim e Estância no período de 1822-1889, totalizando
mais de 2.500 inventários, mapeando não só os livreiros e as bibliotecas particulares, como também os livros
escolares e de outras espécies, solicitados para o estudo dos filhos dessa elite.
275
Legislação Extravagante era chamada toda e qualquer manifestação da vontade soberana destinada a produzir
alterações na ordem jurídica estabelecida.
276
No livro de Felisbelo Freire, “História de Sergipe” (1977), há a transcrição de 220 cartas de sesmarias
concedidas aos primeiros colonos de Sergipe, com datas limites de 1594-1669. As demais não foram ainda
publicadas.
147
foram concedidas mais de 16 mil cartas na América portuguesa. Para Iris Kantor “[...] o
processo de distribuição das sesmarias representava importante instrumento de recompensa do
serviço real, que permitia a expansão da malha jurídica-institucional portuguesa” (KANTOR,
2004, p. 163).
Os regimentos277 eram leis especiais que regulavam os interesses da Metrópole com a
Colônia, destinados a instruir os funcionários em suas áreas específicas de atuação, como
também determinavam atribuições, obrigações e jurisdição dos diversos cargos e órgãos
incumbidos de fazer funcionar a administração colonial. (SALGADO, 1985).
Todos esses diplomas legais eram redigidos na escrita culta representada pela língua
portuguesa, preponderantemente de cunho lusitano, e promoveram a cultura escrita oficial no
Brasil.
4.3.3 – A epistolografia
277
As primeiras leis elaboradas para o Brasil foram os regimentos dos governadores gerais, dos ouvidores gerais
e dos provedores, que deram início à estrutura administrativa colonial e iniciaram o Direito local.
148
usos e costumes dos índios e os problemas da época. Para José Carlos Gimenez, estas
narrativas estão impregnadas da mentalidade da época, uma vez que:
A comunicação oficial entre Portugal e suas colônias tinha como base a cultura escrita
e a carta, como bem percebeu Justino Magalhães, por ser uma das vias de acesso que permitiu
a ação do império português, visto que “A carta tornara-se um instrumento fundamental na
organização do Estado colonial, nomeadamente por parte dos funcionários régios e por parte
dos missionários” (MAGALHÃES, 1994, p. 159). Era um importante elemento de coesão do
império ultramarino português, minimizando as distâncias entre o reino e suas conquistas
ultramarinas. Elas embaralhavam o público e o privado, formando as redes de
intercomunicação, moldando o império no seu vai e vem.
Marilia Nogueira dos Santos (2007) crê que as cartas foram cruciais para o
desenvolvimento não apenas do Estado moderno, mas também do império ultramarino
português, pois através delas esse império se comunicava, vinculava-se e as redes iam se
formando, concluindo que:
O fato ocorre, menos incidente, com os outros agentes ativos judiciários (promotor,
curador e advogado de defesa). Todos estes são tradutores do falar (oralidade) das partes para
o mundo da cultura escrita e assim:
278
Em Portugal os testamentos apareceram no século XIV e as Ordenações Afonsinas normatizaram sua
elaboração visando à transmissão de bens. Estas normas foram reafirmadas com as Ordenações Filipinas e o
Brasil, como colônia de Portugal, as herdou. Em Sergipe foram encontrados 81 testamentos do século XVIII,
dos quais 17 estão anexados aos inventários.
279
Os inventários eram feitos para os que tivessem bens a deixar e, abertos pela família ou na falta dela, pelo juiz
de órfão, quando havia filhos. E podiam ou não incluir o testamento.
150
280
Os senhores proprietários de escravos ao batizarem os nascidos no Brasil, em suas propriedades, garantiam a
sua posse, pois geravam um documento comprobatório, uma vez que a criança nascida de uma escrava não
possuía matrícula como o escravo comprado. Esses registros constituem-se em fonte de pesquisa sobre as
famílias escravas revelando suas relações de parentesco e sociais.
281
No século XIX é recorrente a solicitação desses documentos como comprovação de idade ou filiação, uma
vez que o registro civil no Brasil só surgiu na década de 1870 quando da chegada dos emigrantes de
confissão não católica, sendo opcional até 1890.
282
Era um contrato matrimonial através do qual o cônjuge sobrevivente ficava com a metade do espólio, sendo
esse o mais comum nesse período.
283
O dote no Brasil entrou em declínio no século XIX, deixando de trazer meios de produção para se destinar ao
sustento do casal. (NAZZARI, 2001).
284
Contrato no qual se estabelecia o valor do dote e outras condições, e cada nubente conservava a propriedade
individual dos bens possuídos antes do casamento. Os rendimentos de ambos os cônjuges passavam a ser de
propriedade comum.
285
Para saber mais detalhes sobre esse borrador (caderno de registro de operações comerciais e pessoais), ler:
PRIORE, Mary Del. Ritos da vida privada. In: SOUSA, Laura de Melo e. (Org.) “História da vida privada no
Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa”. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. (História
da vida privada no Brasil; 1) e JANCSÓ, István. “Brasil e brasileiros” - notas sobre modelagem de
significados políticos na crise do Antigo Regime português na América. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142008000100017&script=sci_arttext>. Acesso em: 07 jan.
2011.
152
(JANCSÓ, 2008) a finanças das famílias. Mary Del Priore (1997) descreve esse borrador
como uma “[...] espécie de rascunho em que registrava com caligrafia impecável cartas
pessoais e anotações financeiras [...]” (PRIORE,1997, p. 277).
Os livros de razão ou de contas, Algranti denominou-os de livros de escrituração
doméstica e os descreve como:
286
Inventário de Feliz Francisco Nunes, 1798, p. 04-13.
153
usos, pois são objetos históricos que muito nos dizem do seu tempo, suas funções e seus
proprietários.
5 – VESTÍGIOS DE ALFABETISMO E LETRAMENTO NA CAPITANIA DE
SERGIPE DEL REY
A análise feita neste capítulo tem como objetivo entender o nível de alfabetismo e
letramento da elite setecentista em Sergipe Del Rey. Não tem como alvo investigar as
questões pertinentes à escolarização destes indivíduos, tampouco tem a pretensão de fazer a
história da alfabetização em Sergipe no século XVIII. A finalidade primordial é saber como
essa elite alfabetizada ou analfabeta transitava pela cultura escrita para fazer valer direitos e
cumprir deveres, tendo como escopo o ambiente jurídico sobre o qual estas ações ocorriam.
Por isso, é importante discorrer acerca dos conceitos de alfabetização, analfabetismo,
alfabetismo, letrado, iletrado e letramento.
Maria do Rosário Longo Mortatti (2004) traça um panorama do surgimento destes
termos no Brasil, utilizando-se de dicionários, como os de língua portuguesa e os técnicos de
alfabetização e linguísticas, até a introdução dos termos no meio acadêmico.
Em primeiro lugar, Mortatti recorreu aos três dicionários gerais da língua portuguesa.
O “Dicionário de língua portuguesa”, de Antonio de Moraes Silva, com dez edições
publicadas de 1789 a 1949; o Novo dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de
Hollanda Ferreira, com três edições que passaram por diversas reimpressões entre 1975 e
1999; e o “Dicionário Houaiss da língua portuguesa”, de Antonio Houaiss, publicado em
2002. Para esta autora, enquanto o termo “analfabeto” configurava, no dicionário de Antonio
de Moraes Silva desde a sua primeira edição em 1789, o termo “iletrado” com a mesma
conotação de analfabeto, o termo “analfabetismo” só passou a existir no Brasil no final do
século XIX para conceituar a condição de analfabeto287, surgindo depois os termos
“alfabetizar” e “alfabetismo”. Quanto aos termos “letramento” e “letrado”, ressurgiram na
área da Pedagogia com novos significados diferentes dos já existentes no dicionário de
2
Para Mortatti (2004), apesar da maioria da população do Brasil, no período colonial, ser constituída de
pessoas que não sabiam ler e escrever, essas pessoas não se autodenominavam de analfabetas nem de
iletradas. Foi a Lei Saraiva em 1882, que proibia o voto dos analfabetos, que tornou o termo analfabeto de
uso comum, uma vez que o analfabetismo se tornou um problema de ordem política para a nação. O voto do
analfabeto (facultativo) só voltou a ser garantido mais de um século depois com a Constituição de 1988.
Moraes. No dicionário “Houaiss” o termo “letramento” passou a ter dois significados:
processo, o mesmo significado de alfabetização, e literacy, devido à influência da língua
inglesa, também definido como a capacidade do uso do material escrito; enquanto o termo
“letrado” é designado para quem é capaz de utilizar diferentes tipos de materiais escritos.
Em seguida, Mortatti analisou três dicionários técnicos de alfabetização: o “Dicionário
de alfabetização: vocabulário de leitura e escrita”288, organizado por Theodore L. Harris e
Richard E. Hodges. Nele, os significados dos termos: “analfabeto”, “analfabetismo” e
“iletrado” são parecidos com os dos dicionários gerais da língua portuguesa, excetuando o
termo “lectoescrita” que vai ter a mesma tradução de literacy – a capacidade mínima de ler e
escrever em uma língua. Já a palavra “letramento” aparece em outros dois dicionários
técnicos de linguagem e linguística: o “Dicionário de alfabetização: vocabulário de leitura e
escrita”, de Ricardo L. Trask, publicado na Inglaterra em 1977 e traduzido no Brasil e
publicado em 2004, no qual o termo literacy foi traduzido como equivalente a “letramento” e
“iletrado” – pessoa que não tem a capacidade de ler e escrever. E o “Dicionário de análise do
discurso”, de Patrick Charaudeau e Dominique Mainguenau, publicado na França em 2002,
traduzido e publicado no Brasil em 2004, no qual o termo “letramento” é equivalente a
littératie, com três sentidos que remetem-no a um conjunto de conhecimentos elementares
passíveis de mensurar: ler, escrever e contar, e expressa os usos sociais da escrita como
opostos ao oral, não encontrando verbetes para os demais termos aqui expostos.
Mortatti, em sua pesquisa, mostra que o surgimento do termo “letramento” no Brasil
ocorreu na área acadêmica, na década de 1980, como um termo mais amplo do que
“alfabetização”, advindo do livro de Mary Kato (1986), “No mundo da escrita: uma
perspectiva psicolinguística”, no qual Kato diz crer que a língua falada culta era consequência
do letramento. Para a autora o termo “letramento” passa a ser um termo técnico utilizado na
área da Educação e das Ciências Linguísticas com a publicação do livro de Leda Verdiani
Tfouni em 1988, “Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso”, no qual faz diferença entre
alfabetização e letramento.
Magda Soares289, em 1995, utilizava o termo “alfabetismo” com o mesmo sentido de
literacy290 e justificava em nota que a palavra “letramento” era um neologismo desnecessário,
288
Título original em inglês: The Literacy Dictionary: the vocabulary of reading and writing, publicado nos
Estados Unidos em 1995, e traduzido no Brasil em 1999.
289
SOARES, Magda Becker. Língua escrita, sociedade e cultura. Revista Brasileira de Educação, São Paulo,
n. 0, p. 5-16, set./dez. 1995.
290
O termo “letramento” introduzido na década de 1980 no Brasil, surge sob a influência do termo inglês
literacy que até a década de 1990 era traduzido por “alfabetização/alfabetismo (MORTATTI, 2004).
156
mas em entrevista para o Jornal do Brasil, em 26/11/2000, quando indagada por Eliane
Bardanachvili sobre a definição de letramento, assim respondeu:
Em 2003, ao fazer uma releitura de seus artigos, Magda Soares diz que passou a
utilizar o termo “letramento”, após 1995, porque foi adotado pelos estudiosos do tema. Mas
em 2004 ela estabeleceu a seguinte distinção entre alfabetização e letramento:
Para Mortatti (2004) o termo “letramento” ainda não está solidificado devido às
especificidades da nossa cultura, mas atualmente é a palavra mais utilizada nos textos
acadêmicos e já configura em dicionário da língua portuguesa, embora conviva com o termo
alfabetização, inclusive está nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa,
onde ambos os termos são utilizados. O mesmo pensamento também tem Magda Soares:
O indicador geral do nível de alfabetismo é a assinatura, único indício escrito que nos
resta dos períodos anteriores aos Censos. É o vestígio histórico mais comum da alfabetização,
porém não revela a capacidade alfabética (ler, escrever) dos indivíduos que viviam nesses
períodos. No entanto, é a prova que temos da iniciação deles no mundo da cultura escrita.
Assim, a utilização de assinatura como vestígios de alfabetização em períodos
históricos, permite aos estudiosos distinguir dois grupos: analfabetos e os alfabetizados, como
também mensurar o nível de alfabetismo do segundo grupo, através de escalas de níveis de
assinaturas.
Para desvendar os inúmeros significados dos termos utilizados para as assinaturas nos
documentos trabalhados, foi necessário ler e reler os textos dos estudiosos da escrita e da
leitura (alfabetização) do Antigo Regime, como Roger Chartier, Antonio Viñao Frago, Justino
Pereira de Magalhães, a fim de entender o que era ler e escrever em Sergipe no século XVIII.
Os testamentos contidos nos inventários, ou em livros de registro de testamentos, foram as
fontes que mais dados forneceram, porque continham além das “falas” do testador a do
tabelião, sobre a capacidade alfabética do testador, complementando, preenchendo os vazios
na escrita devido os documentos estarem corroídos, ilegíveis ou por ser a grafia difícil de
entendimento. Mas os inventários com e sem testamentos também contribuíram por meio de
petições, procurações, bilhetes e recibos.
O fato de que nas sociedades do Antigo Regime aprendia-se primeiro a ler para depois
aprender a escrever levou Chartier (1991) a deduzir que quem sabia assinar o nome sabia ler,
por ser a escrita a segunda etapa da alfabetização, e que nem todos que liam possuíam a
habilidade de assinar o nome, devido a dois fatores: o de a assinatura ser aprendida por último
ou porque a falta da prática dela levava ao esquecimento, como expressa Chartier:
Vale ressaltar que o contexto analisado por Chartier é o da França, o que por vezes
pode divergir da realidade brasileira, mesmo o Brasil partilhando da cultura europeia, uma vez
que estava sob a subordinação de Portugal no período colonial. Assim pude constatar ao
analisar 160 inventariantes e inventariados/testadores de Sergipe entre 1725 a 1800. Ao
contrário, na realidade colonial setecentista sergipana, assinar o nome nem sempre significava
saber ler e escrever, fossem homens ou mulheres, como comprova a “fala” obtida dos
testadores assinantes Domingos Lopes Coelho e Lourença Francisca de Andrade (Quadro 16):
Quanto aos significados de “firma”, “meu sinal” e “meu sinal custumado” registrados,
analisando os testamentos e demais documentos contidos nos inventários, “firma” significa
assinatura, denominação dada até hoje para autenticação de assinatura pelos cartórios, como
observamos na Figura 26.
161
O “meu sinal custumado” também era utilizado para denominar a assinatura sinal, a
cruz. Às vezes vinha com a palavra “cruz”, outras com a palavra “sinal”, outras vezes apenas
com o símbolo da cruz, como vemos nos documentos abaixo (Figuras 29 a 31).
Fonte: Inventário de Damianna Ribeira, assinatura do inventariante Manoel Felix Pereira, 1794, p. 3.
Fonte: Inventário de Francisca Maria da Conceição, assinatura do inventariante Manoel Joze dos Santos,
1800, p. 2.
No período aqui estudado, século XVIII, havia três tipos de assinaturas: assinatura
pelo alfabeto, a qual o indivíduo assinava nome e sobrenome, abreviado ou não, utilizando as
letras do alfabeto (Figuras 32 a 34); assinatura sinal, em que a pessoa colocava uma cruz antes
ou depois do seu primeiro nome (Figura 35); e a assinatura a rogo, na qual não havia vestígio
gráfico do não assinante (Figura 36).
Fonte: Inventário de Lucianna Maria, assinatura do inventariante Antonio Jose de Almeida, 1794, p. 3.
Fonte: Inventário de Paulo Ribeiro e Maria de Oliveira, assinatura de Francisco Sergueira Pachequo,
1766, p. 48.
Para Magalhães (1994), a assinatura sinal (cruz) era aceita juridicamente, só que com
parâmetros diferentes entre homens e mulheres portugueses. Isso, segundo este autor, advém
muito mais da discriminação social que a envolve do que uma questão da alfabetização em si,
além de que não existem estudos consistentes da alfabetização da mulher no Antigo Regime
que possam estabelecer hipóteses seguras.
Apesar de também no Brasil não existirem estudos aprofundados sobre a alfabetização
das mulheres no período colonial, a situação jurídica delas enquanto assinantes legalmente
reconhecidas é um pouco diferente de Portugal, ao menos no que se refere a Sergipe. Embora
seja um grupo pequeno, ele existe, ainda que dentro da elite.
Se em Portugal até a segunda metade do século XIX a mulher não firmava “de cruz”
(MAGALHÃES, 2001), em Sergipe, no século XVIII, a mulher assim o fazia em seus
testamentos. Das 38 testadoras, encontrei oito que assinaram em cruz. Infelizmente, apenas
dois são originais (Figuras 36 e 37), o que permite uma análise mais detalhada.
Asinno a Rogo
Da testadora [que]
Me pediu a Rogar
O fato de uma delas ter sido validada pelo rogo de um homem não tira sua
importância, uma vez que também na assinatura sinal (cruz) feita por homens isso ocorria
(Figura 38).
Como testemunha
Que este fis a Rogo do tutor Pedro + Anto de Olive
Pedro de Avila Pacheco
E o que dizer de uma escrava assinando com uma cruz, mesmo sendo em 1804? Assim
o fez a escrava Vitoria ao receber, cinco anos depois, os brincos de ouro que sua senhora
168
Thereza da Motta deixou para ela como consta em seu testamento 291 em 1794: “Declaro que
deixo a minha escrava Victoria um par de brincos com uma oitava de peso digo de [corroído]
de duas oitavas”. Apesar de o recibo ser de 1804, aponta situações em que escravas assinavam
em cruz (Figura 39).
Fonte: Prestação de contas de testamenteiro de Joze de Souza Vieira, marido da testadora Thereza da Motta,
1804, p. 18.
A testadora Thereza da Motta declara em seu testamento que não sabe ler nem
escrever, mas seu marido, Joze de Souza Vieira, assinava, embora de forma rudimentar (nível
2).
291
Prestação de contas de testamenteiro em 1804, p. 6. Contém o traslado do testamento de Thereza da Motta,
feito em 1794.
169
Fonte: Prestação de contas de testamenteiro de Joze de Souza Vieira, marido da testadora Thereza da
Motta, 1804, p. 30.
292
Inventário de Simplicio de Fontez, 1771.
170
Também o traço mal esboçado e rudimentar, às vezes traduz não em uma proficiência
ruim da cultura escrita, mas na impossibilidade devido à doença, como consta na assinatura
(Figura 43) do Reverendo Padre Domingos Salgado de Araujo, português, que estando
“enfermo, mas de pé”, assina com dificuldade seu testamento em 1773.
Mensurar níveis de assinatura é uma tarefa muito difícil. Por mais critérios que se
utilize, há sempre margens consideráveis de erros, devido à própria natureza da assinatura,
aqui sempre lembrada, ser um indicador de alfabetismo, principalmente para os períodos
anteriores aos Censos, mas em si não atestar capacidades alfabéticas (ler e escrever), por isso
deve ser analisada no contexto. Exemplo disso é a assinatura de Joze Caetano da Silveira
Nollete (Figura 44) que, vista só sob a ótica do traço caligráfico, assinando a rogo da
inventariante Anna Maria da Victoria, viúva de Antonio Simoens dos Reis, é enquadrada no
nível 3. No entanto, ele é o escrivão293 da Comarca de São Cristóvão, homem alfabetizado,
com conhecimentos prático e teórico do Direito da época.
O inverso ocorre com a assinatura de Alexandre Lopes do Valle, que pela escala de
assinaturas está no nível 4 (assinatura caligráfica, todas as letras estão corretamente
desenhadas e ligadas), no entanto ele é analfabeto, não sabe ler nem escrever, apenas assina o
nome, como deixou registrado na declaração de débito do restante do dote de sua filha (Figura
45 a seguir). São documentos como esse que, ao mesmo tempo em que mostram o quanto é
difícil mensurar, através da assinatura, a capacidade alfabética de um(a) setecentista, também
fornecem outros dados sobre a alfabetização: a quem recorriam os analfabetos quando
precisavam redigir um documento (neste caso ao compadre); recuperar a assinatura de um dos
cônjuges que, pela falta do testamento, não tinha firmado sua assinatura (Genoveva Maria das
Flores); o nível de letramento do redator do documento (caligrafia, ortografia, escrita lógica),
pois como venho afirmando, só dentro do contexto a assinatura diz mais do que o fato de ser
assinante ou não assinante, constitui um dado relevante, diante de tão poucos dados
encontrados no século XVIII.
293
Magalhães, ao analisar a escrita dos escrivães portugueses, encontrou, na maioria das vezes, uma escrita
legível com um traço regular, mas muitos tinham dificuldade em escrever algumas expressões e nomes não
cotidianos (MAGALHÃES, 1994, p. 495). O mesmo ocorreu em Sergipe setecentista.
172
Devo que pagarei ao Sr. Mel dos Reis Covilhão [ilegível] este [corroído]
moztrar sento e sincoenta e nove mil e sete sentos e corenta
e hu Reis procedidos do Resto de contas que fizemos do seu dote [corroído]
[ilegível] coantes lhe pagarei com duas safras xas de asuqre. pa. se vem
5 Derem nas frotas e se embolçar do do compito de 159$741 Reis
a metade em hua e a outra ametade em outra sem ahiso por
duvida algua e por não Saber Ler nem escrever pedi e roguei
a meu compe João Paez de Azevedo que este por mim fizesse
e eu me asignei com o meo signais com o meu Signal costumado tabua 7 de
10 ma co de 1761.
294
Escalas de níveis de assinaturas: nível 1 - não assinaturas (siglas, sinais-assinaturas); nível 2 - assinatura
imperfeita, rudimentar; nível 3 - assinatura normalizada, completa (podendo ser abreviada); nível 4 -
assinatura caligráfica, todas as letras estão corretamente desenhadas e ligadas; nível 5 - assinatura
pessoalizada, com perfeição e marcas pessoais. (MAGALHÃES, 1994, p. 317-319).
295
Marchante (1), alfaiate (2), fragueiros e lenhadores (3 e 4), carpinteiro e pedreiro (5 e 6), ferreiro (7),
lavradores (8 a 11) e juiz (12). SILVA, Francisco Ribeiro da. A alfabetização no Antigo Regime: o caso do
Porto e de sua região (1580-1650). Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2044.pdf>.
Acesso em: 20 nov. 2012.
174
Fonte: SILVA, Francisco Ribeiro da. A alfabetização no Antigo Regime: o caso do Porto e de sua região
(1580-1650). p. 116. Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2044.pdf>. Acesso em: 20 nov.
2012.
Havia também as assinaturas sinais não relacionadas com profissões, mas a base era a
cruz que identificava os assinantes, (Figura 47).
Fonte: SILVA, Francisco Ribeiro da. A alfabetização no Antigo Regime: o caso do Porto e de sua região
(1580-1650). p. 116. Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2044.pdf>. Acesso em: 20 nov.
2012.
O nível 1 representa a não assinatura pelo alfabeto, que neste trabalho, para a realidade
de Sergipe setecentista, denominei de assinatura sinal (cruz). Sua inclusão deve-se ao fato
de que “[...] é o reconhecimento da existência de uma barreira entre aqueles que firmam ‘de
cruz’ e os tão-pouco chegam a pegar num instrumento de escrita [...]” (MAGALHÃES, 2001,
p. 124) a exemplo da Figura 50.
O mestre lhes dá para copiar uma letra. Elas declinam uma sílaba, uma
palavra, um pensamento útil. Elas declinam os nomes e conjugam os verbos,
elas os escrevem à mão em um pequeno pedaço de papel e seja lá o que
tenham escrito, elas o apresentavam imediatamente ao mestre. Este faz ele
próprio o seu exame, ele lhes assinala os erros, as negligências de escrita.
(COMPÈRE; JULIA, 1984, p. 106 apud HÉBRARD, 1990, p. 80).
O dado para distingui-las das do nível 5, devido ao fato de serem parecidas, foi o uso
de abreviações.
296
Havia apenas uma na cidade de São Cristóvão e outra na Villa de Santa Luzia. (NUNES 1984).
178
297
Recurso ornamental para ilustrar a assinatura, imitando ornatos árabes.
179
Os arabescos também faziam parte das rubricas dos juízes, curadores e escrivães
(Figura 57).
D. FrnCa
Para analisar as assinaturas da elite setecentista de Sergipe Del Rey elaborei escalas de
níveis de assinaturas via inventariantes, inventariados e testadores setecentistas, com o
objetivo de identificar níveis de alfabetismo (Apêndice C).
Dos 172 inventariantes, inventariados e testadores, representantes da elite setecentista
de Sergipe Del Rey, só foi possível recuperar 97 assinaturas298 que dão uma visão dos tipos de
assinaturas deste grupo, refletindo a situação alfabética desta população de homens e
mulheres quanto à capacidade de escrever seu nome.
298
As assinaturas foram trabalhadas no fotoshop, a fim de retirar outros traços caligráficos, carimbos, borrões,
que pudessem interferir na análise das mesmas.
181
Como a tabela acima atesta, há uma exígua participação da mulher como assinante,
refletindo o tipo de educação a elas permitido. Das 11 assinantes, duas fazem-no de forma
rudimentar, enquanto cinco firmam sua assinatura no mesmo nível da maioria dos homens e
três assinam com uma cruz.
Ao analisar as assinaturas dessas 11 mulheres, percebi que cinco delas utilizavam o
tratamento “Dona” colocando-o antes de seus nomes de forma abreviada (D.). Esse
tratamento era destinado às mulheres cujos maridos tinham título nobiliárquico 299 e usavam o
tratamento “Dom” (SILVA, 2005). Realmente essas cinco mulheres eram casadas com
pessoas detentoras de cargos e, por consequência, tanto elas quanto suas filhas 300 faziam uso
do “dona” como sinal de distinção e prestígio social (Quadro 17).
299
O uso indiscriminado do tratamento “Dom” levou o governo português no século XVII a regulamentar o seu
uso através do Alvará de 3 de janeiro de 1611, estabelecendo pena de 100 cruzados e o degredo de dois anos
para África se fizessem descaso do título (SILVA, 2005, p. 26). No Brasil Colônia este tipo de tratamento nos
séculos XVII e XVIII não era comum, sendo geralmente aplicado às mulheres de nobres ou detentores de
cargos. No século XIX o tratamento passa a ser comum, atribuído cada vez mais a um maior número de
mulheres que se destacavam pela fortuna ou posição social. No século XX o tratamento "dona" torna-se
corriqueiro, estendido a todas as mulheres casadas, não representando mais nenhum tipo de distinção.
300
Ver Figura 62 – Assinaturas das filhas de Joaquim Joze Braque, Ignacia Joaquina de Loyola Braque e Anna
Cecilia Braque.
182
Todas elas assinaram com uma caligrafia enquadrada nos níveis de domínio da escrita
correspondente à assinatura normalizada de nível 3 (completa, representada pela assinatura
com o uso correto da grafia do nome, podendo ser abreviada ou não) e à assinatura caligráfica
de nível 4 (todas as letras são grafadas de forma correta e ligadas, tendo ritmo e cadência, com
inclinação e sinais de marcas pessoais). Elas casaram com homens alfabetizados, com
domínio da leitura e escrita, pois os cargos assim exigiam, e com cabedais significativos. Vera
Maria dos Santos (2011) fez uma análise detalhada destas famílias, quando abordou a
instrução elementar dada aos filhos menores das mesmas, com exceção a família de Manoel
Joze Nunes Coelho de Vasconcelos e Figueiredo que não teve filhos. Angelica Perpetua de
Jezus, com a morte do marido e do sogro, passou a gerenciar uma fortuna avaliada em
dezessete contos e cinquenta e sete mil e oitocentos e treze réis (17:057$813), atuando como
inventariante nos dois inventários, uma vez que sua sogra era uma mulher bastante idosa e,
segundo ela, “sem inteligência” para administrar.
Porém, há discordância nos registros sobre o analfabetismo de algumas mulheres
setecentistas, pelo menos de algumas moradoras de Sergipe. Só que a contradição na fala dos
agentes históricos não deve desacreditar da fonte e sim permitir ver, sob outro ângulo, uma
dada realidade e é assim que o analfabetismo das mulheres setecentistas de Sergipe deve ser
visto, com um olhar mais apurado, questionado.
Quando o Alferes Antonio Soares Dias, irmão de Jozefa Maria de Vasconcellos, viúva
do Capitão Joaquim Joze Braque, com seis filhos, dos quais cinco eram menores de idade,
moradora na Povoação da Estância, Termo da Vila Real de Santa Luzia, com bens 301
avaliados em quinze contos oitocentos e cinquenta e quatro mil e cinquenta e seis réis
(15:854$056), a quarta maior fortuna encontrada nesta pesquisa, assina a seu rogo ratificando
o que o escrivão registraria: “[...] mandou o ditto Juis fazer este Autto que asignou pella
301
Trinta e dois escravos, fivelas de ouro de sapatos, fivelas de liga antiga de ouro, continhas de ouro, voltas de
ouro com dois pingentes, botões de ouro, cordão de ouro, colares de bentinho de ouro, laços de ouro, brincos
de ouro, laços de pescoço de ouro, relógios de ouro, traçado de ouro, miudezas de ouro, um rosário de ouro,
crucifixo pequeno de ouro, cruz com oito Padre Nossos de ouro, relicários de ouro, uma imagem de ouro de
Nossa Senhora da Conceição, brincos de pedras, botões de pedras brancas, anéis de pedras, anel com um
topázio, colheres de prata, garfos de prata, copo de prata, fivelas de prata, esporas de prata, fivelas de liga de
prata, cabos de facas de prata, bengala com cabo de prata, faqueiro, tachos de cobre, bacia de cobre, traçado
de prata, casaca de pano azul com trancelim de ouro e botões de pedra, vestido de veludo, tecidos (peças de
linho branco e azul; panos de linho; chita; bocetões vermelho, amarelo e azul), lenços, chapéus de baeta, capa
de tafetá, catre de jacarandá, cama, mesas de madeira branca, cômoda, mesa de jogo, cadeiras de couro,
banco de encosto, caixão grande com gavetas, arcas cobertas de couro, baús pequenos e grandes, frasqueiras
de vidro, caixão de despejo, sítio de terras com casas de morar e pés de coqueiros, metade do sítio de terras
de criar gado chamado São Jorge, do sítio de terras de criar na beira do Rio Real, porção de terras junto ao
Engenho, vacas, sendeiro, garrotes, poldros, bestas, cavalos, juros de dívidas, dívidas ativas e passivas.
183
Inventariante não saber ler nem escrever asignou a seo Rogo o Alferes Antonio Soares Dias
[...]” (grifo meu 302).
Figura 60 – Assinatura de Antonio Soares Dias a rogo de sua irmã Jozefa Maria de
Vasconcellos
Vas
Asigno a Rogo de
Minha Mana D. Jozefa Ma
Ria de vaslos
o
Ant Soares Dias
1792
Como constatei, “não saber ler e escrever” não tornava um indivíduo setecentista
incapaz de assinar seu nome. Neste sentido chama atenção o fato de que Jozefa Maria de
Vasconcellos assina como tutora, responsável pela educação e gerenciamento dos bens dos
filhos menores, como declara no termo 303 de entrega dos bens, em 1796. E, enquanto
inventariante responsável por declarar os bens existentes do casal, é seu irmão que assume
este papel, como atesta a referida assinatura304 a seguir:
302
Inventário de Joaquim Joze Braque, 1795, p. 1.
303
Inventário de Joaquim Joze Braque, 1795, p. 62.
304
O nível na escala de assinaturas, adotado para esta assinatura a qual se classifica como uma assinatura
normalizada, completa, que pode ser abreviada, é o 3. Inventário de Joaquim Joze Braque, 1795, p. 120.
184
Seu irmão, o Alferes Antonio Soares Dias, e seu marido, o Capitão Joaquim Joze
Braque, sabiam ler e escrever, condição exigida para exercer os referidos cargos, como
esclarece Magalhães:
185
O filho mais velho de Jozefa Maria, Manoel da Trindade, era padre e, portanto,
também sabia ler e escrever; e os filhos “machos”, como declarou, mandou ensinar-lhes a
Doutrina Cristã, a ler, escrever e contar, estando, deste modo, toda a família inserida no
mundo da cultura escrita.
Também os níveis de assinatura não mostram avanços ou retrocessos mediante a
política educacional de Pombal, reforçando a tese de Thétis Nunes (1996, p. 264) de que o
Alvará de 28 de junho de 1759, que expulsou os jesuítas do reino português, não alterou a
vida educacional de Sergipe, prova de que, segundo a autora, quando a Capitania se tornou
Província, em 1820, só havia 18 aulas de Primeiras Letras espalhadas na cidade, vilas e
povoações. O Quadro 18, a seguir, reforça essa tese.
186
A questão ler e escrever, no século XVIII, é muito mais multifacetária do que parece.
Isso porque, como afirmam Chartier, Frago e Magalhães, a alfabetização é um processo
complexo, envolvendo contextos históricos e culturais diversos, portanto não é uniforme, nem
entre as sociedades nem dentro de uma mesma sociedade. Esta afirmação também ficou
visível quando comecei a pesquisar os documentos setecentistas sergipanos.
Muitas são as combinações possíveis destas duas habilidades. Assim, analisando as
capacidades alfabéticas (ler e escrever) via assinaturas dos testadores/inventariados e
inventariantes moradores em Sergipe no século XVIII e contando apenas com as informações
fornecidas pelos documentos, elaborei uma escala com quatro níveis 305 dessas capacidades.
305
Justino Magalhães elaborou e trabalhou com uma escala de cinco níveis: nível 1 – não sabe escrever; nível 2 –
não sabe ler nem escrever; nível 3 – lê, mas não sabe escrever; nível 4 – lê e escreve; nível 5 – lê, escreve e
conta. (MAGALHÃES, 2001, p. 23).
306
Vide Apêndice D.
188
Partindo para analisar agora o grupo dos inventariantes, composto ao todo por 88, não
foi possível encontrar informações sobre três deles, totalizando o grupo em 83. Só foi possível
307
Considerando analfabetos aqueles que não sabem assinar pelo alfabeto (assinantes com uma cruz).
308
Não é confiável classificar os que apenas assinaram o nome (na sua maioria os inventariantes), mas não
declararam suas capacidades alfabéticas como analfabetos ou alfabetizados, porque, como já comprovei,
podem ser incluídos em outra categoria.
189
identificar os que eram alfabetizados (sabiam ler e escrever) por serem portadores de cargos,
analfabetos (não assinantes) e os indefinidos (assinantes pelo alfabeto), em face dos
documentos não fornecerem outras informações, como consta no Apêndice E.
Na Tabela 8 apresento de forma resumida as capacidades alfabéticas 309 dos 83
inventariantes:
309
Vide Apêndice E.
190
310
A autora trabalhou com 277 testamentos em sua tese de doutorado.
311
RODRIGUES, 2005, p. 103-112.
312
Que são os tabeliães.
191
testamentos, que não eram sacerdotes ou notários, eram escolhidos por terem relações de
irmanamento religioso, profissional, social ou étnica.
Conclui a supracitada autora que também o receio do testamento ser embargado ou
anulado, devido às imprecisões na redação, levavam os testadores a recorrerem aos
especialistas, os redatores de testamentos.
Em Sergipe setecentista, dos 88313 testamentos que possuem informações sobre seus
escreventes, assim como eram denominados nos testamentos setecentistas sergipanos, a
situação é a mesma encontrada por Claudia Rodrigues: poucos padres, nenhum tabelião
(Tabela 10).
Tudo leva a crer que esses 60 escreventes, não identificados, eram profissionais da
escrita, versados em redigirem testamentos – os redatores de testamentos – pois só assim
justificaria um morador da Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto chamar um
escrevente em Itaporanga d’Ajuda para fazer seu testamento, como ocorreu com Joam
Moreira Meirelles, viúvo, com dez filhos, proprietário de uma fazenda de gados, dono de
escravos, estando doente e de cama, mas em perfeito juízo e entendimento, por não saber ler e
escrever, em 1775 “[...] mandou chamar para lhe escrever o seu testamento [...] Felipe Pereira
de Araujo”314. Quando se tratava de uma pessoa cega, era exigido ser inclusa no testamento
313
Dos 95 testamentos, em sete não consta esta informação, devido estarem incompletos.
314
Testamento de Joam Moreira Meirelles. 1775. AGJ-SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62 – Lv. p.
04; p. 94.
192
uma petição de justificação, através da qual pude ter mais dados sobre o escrevente, o que era
raro nos testamentos, mas nestes casos a lei determinava que fosse público e diante de cinco
testemunhas e do tabelião. O escrevente ao ser inquirido acerca das circunstâncias em que se
deu a redação do testamento, o tabelião assim o descreve: “[...] Felipe Pereira homem pardo,
solteiro, morador no termo do [Itaporanga d’ajuda] de idade que deve ser de setenta e cinco
annos pouco mais ou menos [...]315”.
Já Hipolyta Maria da Conceição, moradora na Povoação da Estância, termo da vila
Real de Santa Luzia, mulher idosa, mas sadia, como declara o tabelião “[...] em seo perfeito
juizo e entendimento sem molestia mais com a sua velhice segundo o parecer de mim
Tabelião e das demais testemunhas [...]”316, viúva, com um filho e dois netos, senhora de três
escravos, não sabendo ler e escrever mandou fazer seu testamento por Joam Alvares do Valle
Guimaraens, em 20 de setembro de 1771, e em 12 de dezembro do mesmo ano foi à casa do
escrevente do testamento e mandou chamar o tabelião para fazer o termo de aprovação, para
assim dar legalidade ao mesmo. Joam Alvares do Valle Guimaraens, sem cargo/parentesco
declarado, além do testamento de Hipolyta Maria da Conceição, redigiu mais cinco
testamentos na região da Vila de Santa Luzia (Quadro 19), o que leva a crer ser realmente ele
um redator de testamento.
Outro escrevente de testamento só teve sua residência revelada pelo testador Duarte
Monis Barreto, natural e morador da Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, casado com
315
Testamento de Joam Moreira Meirelles. 1775. AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62 – Lv. p.
04; p. 94.
316
AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos – Cx. 62 – Lv. 03 – pp.39-46.
193
Margarida da Conceição, com dois filhos, dono de dois sítios, um onde morava com casa de
vivenda de telha e o outro onde um dos seus filhos morava, criador de gado vacum, ovelha e
cabras, dono de nove escravos, leitor, escrevente e assinante, quando disse em seu testamento
que “[...] lhe escrevera Baltazar Velho de Afoncequa morador neste termo [...]”317, buscando
assim o escrevente da região.
Quanto aos que redigiram mais de um testamento, foram apenas seis, dos quais dois
eram padres, um alferes, um licenciado (advogado) e dois sem identificação quanto ao cargo
(Quadro 20, a seguir).
317
APES - Coleção Sebrão Sobrinho -Caixa 32
194
Povoação da Estância
Joam Alvares do Hypolita Maria da do Termo da Vila Real
1771 Valle Guimaraens - Conceição - de Santa Luzia
Joam Alvares do Antonio de Vila Real de Santa
1778 Valle Guimaraens - Almeida Doria - Luzia
Povoação da Estância
Joam Alvares do Joanna Francisca do Termo da Vila Real
1780 Valle Guimaraens - Ramos - de Santa Luzia
Povoação da Estância
Joam Alvares do do Termo da Vila Real
1781 Valle Guimaraens - Quitéria Rodrigues - de Santa Luzia
Manoel Francisco Povoação da Estância
Joam Alvares do de Oliveira do Termo da Vila Real
1783 Valle Guimaraens - (português) - de Santa Luzia
Povoação da Estância
do Termo da Vila Real
Joam Alvares do Maria Madalena de Santa Luzia
1784 Valle Guimaraens - de Paes -
Francisca dos Vila Real de Santa
1778 Joam Dias [Gaya] - Santos - Luzia
Povoação da Estância
do Termo da Vila Real
1781 Joam Dias [Gaya] - Maria Jozefa - de Santa Luzia
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos testamentos e inventários do século XVIII existentes no Arquivo
Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
195
Os cinco casais foram identificados e analisados, com exceção dos que fizeram o
testamento de mão-comum318, Serafim Mendes de Souza e Francisca Perpetua de Almeida, e
Manoel Francisco de Oliveira e Maria Madalena de Paes, os demais fizeram seus testamentos
com escreventes diferentes (Quadro 21).
Francisca Perpetua de
Almeida e Serafim Vila de Santo Antonio e Evaristo Joze de
1799 Mendes de Souza - Almas de Itabaiana Amorim Ramos Licenciado
Povoação da Estância
Manoel Francisco de do Termo da Vila Real Joam Alvares do
1783 Oliveira (português) de Santa Luzia Valle Guimaraens -
Povoação da Estância
Maria Madalena de do Termo da Vila Real Joam Alvares do
1784 Paes de Santa Luzia Valle Guimaraens -
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos testamentos e inventários do século XVIII existentes no Arquivo
Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
Para captar o máximo de dados existentes nas entrelinhas sobre esses escreventes, tive
que analisar todas as variáveis deste grupo quanto ao sexo 319, localidade, testador, cargos e
318
Feito por marido e mulher, com instituição recíproca. Foi proibido pelo Decreto-Lei nº 47 344 de 25 de
novembro de 1966, art. 2181.º, quer em proveito recíproco ou em favor de terceiros, passando a vigorar a
partir de 1º de junho de 1967.
319
Dos 88 testamentos onde foram identificados os nomes dos escreventes, 49 eram de testadores e 39 de
testadoras. Ao olhar os 60 testamentos que não fizeram menção ao cargo/parentesco do escrevente, também
não há grandes mudanças em termos de número: 31 testadores para 29 testadoras, ou seja, não há um padrão
em termos de sexo para escolha do escrevente.
196
relação de parentesco. Percebi que eles atuavam nas várias localidades de Sergipe (São
Cristóvão, Vila Real de Santa Luzia, Povoação da Estância Termo da Vila Real de Santa
Luzia, Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, Vila de Santo Amaro das Brotas, Vila
de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, Vila Nova do Rio de São Francisco), como ocorria
em outras capitanias, a exemplo do testamento de José Antonio Borge de Figueredo, datado
de 1783, incompleto, feito na cidade de Salvador, Bahia, na casa do Sargento João
Nepomuceno, onde estava doente de cama, registrado na Bahia e seu traslado em São
Cristóvão no livro de registro de testamento. Ele possuia várias fazendas de cana e fazia
negócios com vários moradores de Sergipe, os quais foram anotados em seu livro de contas.
Possuia também gado, escravos, moradas de casas e deixou vinte mil réis para a Igreja de
Nossa Senhora da Conceição da Comendaroba ou para algum Altar-mor da mesma. Pediu
para o Tenente Nicolao Alves de Araujo escrever seu testamento e assinou. A sua mulher,
Caetana Baptista de Oliveira, aceitou ser sua testamenteira, mas por não saber ler e escrever
assinou com uma cruz e pediu a seu pai, o Capitão Antonio Borges de Figueredo, que
assinasse a seu rogo. Percebi também que alguns eram escolhidos pelos testadores, por causa
das relações de amizade, de parentesco, padres (11, sendo que um era o próprio testador),
sobrinhos (dois) e por serem, talvez, autoridades que sabiam ler e escrever (ajudante, alferes,
capitão, sargento-mor, tenente, advogados), como evidencia a seguir o Quadro 22.
197
O qual testamento o Tabelião screverá nas Notas, e será assinado pelas ditas
testemunhas e pelo Testador, se souber e poder assinar; e não sabendo, ou
não podendo, assinará por elle huma das testemunhas, a qual logo dirá ao pé
do sinal, que assina por mandado do Testador, por elle não saber, ou não
poder assinar. E tal testamento será firme e valioso. 320
320
Livro IV. Titulo LXXX. p. 901. Disponível em: <http://www.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/l4p901.htm>. Acesso
em: 2 dez. 2012.
200
Declaro que os ditos meus dous filhos sam meus herdeiros recebam as partes
que lhe tocaram da minha fazenda em somente as partes da minha terça que
são pucus dispesas do meu testamento a remanescente da dita minha terça o
deixo a meu filho João para se gastar com o ditto em educação de aprender a
ler e escrever se a tempo do meu falecimento não receber educação que a
tempo de meu falecimento saiba ler e escrever sem que não [corroído] ditto
remanescente da dita minha terça.325
321
Dos 95 testamentos apenas 14 são originais, os demais são cópias (traslados).
322
As Ordenações Filipinas disciplinavam o acesso ao patrimônio da família de uma pessoa com cinquenta anos,
visando proteger os filhos do primeiro casamento da dilapidação de sua herança, só podendo dispor de sua
terça, principalmente a mulher, que era considerada, no século XVIII, como velha aos cinquenta anos, uma
vez que não podia mais ter filhos.
323
O casal Manoel Francisco de Oliveira, português, e Maria Madalena de Paes (AGJ - Livros de Testamentos -
Cx. 62 - Lv. 04. p. 98 e p. 153); Maria Rodrigues dos Santos: “Declaro que fuy por morte de meu defunto
marido Tutora de meus filhos e destes esta já inteirado Bazilho e Manoel [ainda se lhe] resta o que fis que
contar de seu quinhão por quanto ja recebeu do que lhe tocou na crioulla Luiza e Jose inda lhe rendeu couza
nenhuma” (AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos Cx. 2 - Lv 04. p. 11); Felles de Andrade Maciel:
“Declaro que deixo por tutora de meus filhos a minha mulher Antonia Francisca de Jesus mãe dos mesmos”
(AGJ - SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04 - p. 128); e Antonio de Almeida Doria:
“Declaro que nomeio como tutor dos meus filhos a meu compadre Felisberto de Vasconcellos” (AGJ -
SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04 - p. 18).
324
AGJ - Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04. p. 98 e p. 153.
325
Idem.
201
Educar um filho, mesmo sendo educação elementar (Doutrina Cristã, bons costumes,
ler, escrever e contar) significava pagar a professores, comprar material (papel, penas, tinta,
tinteiro, livros). O órfão ainda era menino quando da feitura do testamento, como podemos
constatar: “Declaro que fui casada com Manoel Francisco de Oliveira e que este já he falecido
e que do ditto Matrimonio nos ficaram dois filhos a saber Maria Francisca casada com Jose
Custodio e João Menino orfão de que sou Tutora” (grifo meu 326). Ambos falecem em 1786,
mas não foram encontrados inventários nem a prestação de contas de testamenteiro dos seus
pais.
Alguns testadores tiveram preocupação não só com os filhos, mas também com alguns
de seus escravos, alforriando-os e propiciando a eles educação própria da época para os não
filhos da elite (Doutrina Cristã, ler e escrever e aprender um ofício). Assim ocorreu com a
testadora Anna Tellis, viúva de Gregório de Araujo Costa, sem filhos, que apenas sabia
assinar com uma cruz, alforria os filhos de sua escrava Lourença. Ao menino, Antonio, manda
aprender a ler e o ofício de sapateiro com Francisco de Araujo, certamente sapateiro, e pede
que o mesmo fique em sua companhia até ter capacidade “de se reger”. Na maioria das vezes,
os ofícios artesanais eram aprendidos oralmente junto com a prática ao longo do convívio
entre mestres e aprendizes e a prova disso está na fala da testadora: “[...] mulatinho Antonio
se acha aprendendo a ler e ao oficio de sapateiro com Francisco de Araujo a qual pesso que o
tenha em seu poder athe o acabar de ensinar e o dito ter capacidade de se reger [...]”327,
assegurando assim o futuro do seu ex-escravinho. Já a menina, Barbara Lucianna, ela
encaminha para uma pessoa de sua confiança e certamente devedora de favores, para que a
mesma tenha a instrução própria do seu sexo (cozer, fiar, fazer renda e bordar), mesmo sendo
uma ex-escrava, e que fique com ela até a mesma ter idade de também se reger: “[...] a
mulatinha pesso a Rosa Maria molher de Manoel Guedes Soares pelo amor de Deos e por me
fazer mercer a queira ter em seu poder dando lhe o ensino e doutrina como costuma fazer a
seos filhos athe a dita a se poder reger”328.
326
AGJ - Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04. p. 98 e p. 153.
327
AGJ - SCR/C. 1º OF. Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - p. 20.
328
Idem.
202
329
AGJ-SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 04 - p. 5.
203
Ciências e Ofícios, uma vez que antes o ensino era ministrado nos engenhos, nos colégios
jesuítas, nos arsenais de marinha, nas minas e nas corporações de ofícios. Por isso Cunha
enfatiza a importância do trabalho escravo no processo de desenvolvimento das atividades
manufatureiras no período colonial.
O ensino dos ofícios, mesmo que não escolar, passou, com o crescimento econômico
do Brasil, a ser exigido até mesmo aos órfãos da elite, como constatou Vera Maria dos Santos
(2011)330 ao analisar as prestações de contas de tutoria de 1759 a 1792, feitas pelas mulheres
setecentistas em Sergipe. A autora percebeu mudanças nos conteúdos ensinados aos meninos,
uma delas foi a cobrança por parte do Juiz de Órfãos da aprendizagem de um ofício, em 1776,
e da matéria contar, em 1783. Mas essa cobrança não só ocorreu no âmbito das mulheres,
também passou a ser cobrado aos tutores o aprendizado de um ofício e a matéria contar, como
ficou registrado no termo de entrega de bens do tutor Antonio Joze Correia, viúvo de Maria da
Graça Nascimento, com bens avaliados em um conto e cento e setenta e sete mil e setecentos
e sessenta réis (1:177$760), quando chamado à presença do Juiz de Órfãos, em 1799, este
“mandou asinar a Doutrina Chistam e aos bons Custumes, e aprender algum officio e a Ler
Escrever e Contar e a femia a fiar, cozer fazer rendas e a tecer, e tomou conta de seus bens
pertencentes as suas Legitimas para de tudo dar conta quando por este Juizo lhe for mandado”
331
a seus filhos menores, Antonio Joze Correya (8 anos de idade), João Honorio (3 anos de
idade) e Francisca (1 ano de idade), determinando que os órfãos deveriam aprender assim que
tivessem idade para isso. Ao que tudo indica, via documentação, a partir da segunda metade
do século XVIII a justiça passou a exigir dos tutores (homens e mulheres) o ensino de um
ofício em alguns casos e a matéria contar.
Para a mulher ser tutora era exigida uma autorização via provisão régia, enquanto que
não se fazia necessário o homem pedir para ser tutor de seus filhos menores, somente o termo
de tutela e/ou de entrega de bens332, no qual se comprometia a ensinar aos filhos homens a
Doutrina Cristã, os bons costumes, a ler e escrever e, às vezes, um ofício; às filhas a cozer,
fiar, fazer rendas e a borda, como também cuidar dos bens dos filhos homens e mulheres até a
maior idade, sendo alertado pelo Juiz que a qualquer tempo poderia ser notificado para dar
330
Vera Maria dos Santos (2011) tem como objeto de sua tese de doutoramento a tutoria por parte das mulheres
de Sergipe no século XVIII.
331
Inventário de Maria das Graças Nascimento, 1799. p. 35.
332
Como fizeram os tutores Estacio Munis Barreto (inventário de Francisca Xavier de Menezes, p. 75-76),
Manoel Felix Pereira (inventário de Damianna Ribeiro, p. 38), Valerio de Moura Gomes (Clara Martins de
Castro, p. 44), Manoel Joze dos Santos (inventário de Francisca Maria da Conceiçam, p. 21), Antonio Joze de
Almeida (inventário de Luciana Maria, p. 25), Antonio Joze de Almeida (inventário de Marianna Francisca
de Salles, p. 57), Antonio de Freittas Goes (inventário de Micaella Cardozo, p. 22), Manoel de Jesus Barreto
(inventário de Quiteria Francisco, p. 16-17) entre outros.
204
contas, podendo perder a tutela. Em 1797, Simião de Araujo Sandes 333, assinante, viúvo de
Anna Jozefa do Sacramento, com três filhos 334 menores (Joze, Antonio e Perpetua), com bens
avaliados em seiscentos e trinta e seis mil réis (636$000), morador na Vila de Nossa Senhora
da Piedade do Lagarto, é denunciado por Francisco Joze da Piedade, padrinho do seu filho
Antonio, por seu pai ter retirado o filho de sua casa para casar muito cedo (quatorze a quinze
anos), com o agravante de que ainda não sabia ler e escrever. O Juiz de Órfãos aceita a
denúncia e entrega o referido menor ao seu padrinho para ensinar a ler, escrever, contar e a
Doutrina Cristã (Figura 64).
333
Inventário de Anna Jozefa do Sacramento, 1794.
334
Devido ao inventário estar incompleto, não foi possível saber a idade de todos os filhos menores do casal,
apenas do órfão em questão, Antonio, pela petição de seu padrinho Francisco Joze da Piedade. Quando seu
pai iniciou o inventário ele tinha de doze a treze anos de idade, sendo que ficou órfão de mãe dos nove para
onze anos de idade, pois só depois de dois anos de sua morte foi iniciado o inventário. Em 1800 o órfão entra
com uma petição requerendo posse de seus bens, por estar casado e, portanto, perante a lei, emancipado
(mesmo tendo de dezessete a dezoito anos).
205
335
Nos inventários sem testamento há também menção aos livros de razão. No inventário do português Joaquim
da Silva Roque, natural da Vila de Amorim, Comarca de Santana, solteiro, residente em São Cristóvão, dono
de uma casa comercial, falecido em 1798, deixou registrado no seu livro de razão cento e quatorze (114)
devedores; no inventário do casal Joze Cardozo de Santa Anna e Cardula Maria de Sam Joze, datado de
1788, consta toda a contabilidade do Engenho Gameleira.
206
Declaro que todos os bens que possuo sera adquiridos pelas minhas ordens
pois de meus pais não herdei couza alguma e nam concorreram para os meus
estudos por que o Excelentíssimo Senhor Arcebispo Dom Jose Batalha de
Mattos me fez esta esmolla de mim ordenar sem gasto algum da minha
parte e como não tenho herdeiro algum forçado por não ter já Pai e Mãe.
(grifo meu337).
336
AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 02 - p. 45-46.
337
AGJ - SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 05 - p. 05. Ele também declara que possui “duas
fazendas do colégio” em terras próprias com os animais (p. 7).
338
Ver Luiz Carlos Villalta, A história do livro e da leitura no Brasil colonial: balanço historiográfico e
proposição de uma pesquisa sobre o romance. Disponível em:
<http://www.caminhosdoromance.iel.unicamp.br/estudos/ensaios/livroeleitura.pdf>. Acesso em: 3 dez. 2012.
O autor fez um levantamento historiográfico sobre fontes, métodos e produção acadêmica brasileira a
respeito do livro e da leitura no Brasil Colônia.
339
Palavra por palavra.
208
Bernabe Ferreyra dos [...] por não poder escrever este meu testamento pedi e roguei a Manoel
Reys – 1774 Dias da Silva que por mim o ezcrevesse e eu o ditei, e depois de ezcrito o ly
todo e pelo achar a meu gosto da forma em que o havia ditado me asignei
ao pe delle com a minha propria firma de que uso, e a elle pedi asignasse
como testemunha que o escreveu a meu rogo [...] p. 103. (grifo meu)
Joanna Veronica do [...] o havia mandado escrever por Antonio de Oliveira Carvalho e ele
Sacramento – 1773 testador ditando e o dito escrevendo. Depois de escrito o lera e o achara na
mesma forma em que o havia ditado muito de seu contento no qual so
asignou [...] p. 11. (grifo meu)
Manoel da Rocha Rios [...] a seu rogo lhe escreveu Alberto Joam de Jesus Moura elle testador
(português) – 1773 ditando e o ditto escrevendo e que depois de escrito lhe lera de verbo
adverbum e o achara muito a seu contento na forma em que o havia ditado
o qual assignaram não so elle testador mais tambem o dito escrevente [...] p.
6. (grifo meu)
Gonçalo Tavares de [...] escrevera Manoel de Carvalho Gonçalves a seo rogo e depois de o ter
Mello – 1776 escrito lhe lera calma e distintamente de sorte que elle muito bem o
entendera e por achar a seo gosto assim e da maneira que o tinha ditado o
asignara de sua própria letra e signal [...] p. 27. (grifo meu)
Joze Pinto Caetano [...] por eu não poder escrever pedi e roguei a Jose Ribeiro da Gama que
Correa (português) – este meo testamento escrevesse e depois de escrito o li todo e pelo achar a
1777 meo gosto na forma que o tinha mandado escrever e ditado me asignei ao
pe delle de minha propria firma de que uzo [...] p. 96. (grifo meu)
Luiz Carlos Pereyra – [...] Lhe tinha escrito o Licenciado Antonio Alvarez Bastos e ao depois de
1777 escrito lhe lera huma e muitas vezes e pelo dito testador o achar escrito do
modo que o ditara o asinara com a sua própria mão [...] p. 10. (grifo meu)
Joanna Francisca [...] por eu não saber ler nem escrever pedi e roguei a Joam Alves do Valle
Ramos – 1780 Guimaraens que este meu testamento me escrevesse e eu o ditei fazendo
nelle minhas dispoziçoens o qual depois de escrito o mandei ler todo e
pello achar a meu gosto na forma que o tinha ditado e feito minhas
dispoziçoens pedi ao dito Joam Alves do Valle Guimaraens por mim
asignasse [...] p. 75. (grifo meu)
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos testamentos e inventários do século XVIII existentes no Arquivo
Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
Os que não sabiam ler se tornavam, em seus testamentos, “leitores de oitiva” 340 e isso
ocorria em dois momentos da elaboração do testamento, sendo eles registrados por pessoas
340
Leitores de oitiva era a expressão referente aos que ouvem a leitura feita por outrem.
209
[...] por nam poder escrever pedi e roguei a Luis Ferreyra Alvares este meu
testamento me escrevesse e eu o ditei e depois de escrito mo leu todo e pelo
achar a meu gosto e na forma que o havia ditado me asignei ao pe delle de
minha propria firma de que uso e lhe pedi o asignasse como testemunha que
o escreveu [...] (grifo meu341).
5.5 – LETRAMENTO
341
SCR/C. 1º OF Livros de Testamentos - Cx. 62 - Lv. 03 - p. 50.
210
que não há outro documento que comprove se eles sabiam ler e escrever. Mesmo quando
existem, não é possível ter certeza porque podem ter sido escritos por outra pessoa, o que era
comum na época. Só com a análise da caligrafia e/ou da declaração da pessoa que escreveu é
que se pode ter essa certeza e, assim, ter um material para analisar. Estas situações foram
evidenciadas nos documentos a seguir apresentados.
Maria Francisca de Freitas, viúva de Manoel Caetano do Lago, dona do Engenho
Comandaroba, com dois filhos menores (Maladias com dez anos de idade e Maria Benta com
dois anos de idade), bens342 avaliados em doze contos e quinhentos e noventa e dois mil cento
e vinte réis (12:592$120), assina em vários documentos no inventário de seu marido, o que
poderia apenas comprovar que é assinante se não fosse por uma procuração feita do seu
próprio punho, dando plenos poderes a seu irmão, Francisco de Paula Cezar, para responder
por ela em todas as demandas do inventário, depois que foi notificada para dar contas dos
órfãos e dos bens do casal. A confirmação de que o texto foi escrito pela mesma se deu por
comparação das assinaturas, letras, neste e nos demais documentos, como é possível observar
nas figuras 65, 66 e 67.
342
Fivela de prata, botões de ouro, anel de pedras, esporas de prata, cabos de faca de prata, colheres de prata,
chapéus, candeeiros, tachos de cobre, frascos, pratos grandes, selas, freios, bride, sendeiros, bois, vacas,
garrotes, machados, martelo, foices, torno de ferreiro, enxadas, cavadores, banco, serras, serrote, compasso,
ferro chamado diamante, plaina, roda de ralar mandioca, trinta e um escravos, engenho de fazer açúcar
moente e corrente, denominado Comandaroba e avaliado em oito contos de réis (com três tachos, um de
cobre, dois de ferros, caldeira de cobre, guia de resfriar de cobre, duas aparadeiras, repartideira, pomba, dois
carros de carrear, dez cangas, as terras que constam da escritura que se comprou o engenho aos religiosos de
Nossa Senhora do Carmo), sortes de terras compradas ao Capitão José Pereira de Oliveira, uma porção de
terras que comprou ao Alferes Joze Ferreira e todas as canas, duzentas formas de receber açúcar, sítio de
terras na Vila de Itabaiana, caixas de açúcar branco e mascavo, pães de açúcar e dívidas.
211
Transcrição:
Faço meo procurador a meo Mano Francisco de Pau
la Cezar a qm dou todo us meus poderes para que
possa pr mim dar contas no Juizo da Procuradoria ou
de orfusno das pessoas [ilegível] homens filhos de q’ sou tu
5 tora e os advogados Evaristo Jose de Aim Ramos
e Jose Batista da Lapa e os requerentes Antonio Joze de
Aim, Manoel Luis de Barros aos qes da mesma
forma dou todos os meos puderes pa que possão pr mim
se necessario for pedir vistas das ditas contas e alegar todo
10 meo direito e de fazer embargar agravar apelar jurar
em minha alma de calunia decizorio supletorio e ou
tro qual quer juramento[ilegível] lansarçe e requerer tudo
mais q necessario for. Engenho da Comandaroba 2 de 7br o
de 1801
Transcrição:
Transcrição:
Entretanto, há cartas sobre as quais não é possível saber se foi uma mesma pessoa que
as escreveu, por não terem assinatura em outro documento, como a de Antonia Maria Ramos,
viúva de Joze de Souza Britto, com doze filhos e quatro netos, com bens 343 avaliados em um
conto novecentos e dois mil e trezentos réis, moradora na Vila Nova de Santo Antonio Real
de El Rey do Rio de São Francisco. É declarado na apresentação do inventário, que por “[...]
ser mulher e não saber ler nem escrever asignou por Ella seu filho Bartholomeu dos Santos
Linho [...]”344. O mesmo ocorreu no termo de tutela e entrega de bens, em que “[...] mandou o
dito Juis de Orfaos fazer este termo de Tutela em que asignou, pella Tutora se mulher, e não
saber Ler nem escrever asignou a seu Rogo Francisco Luis da Motta [...]” 345, mas foi anexada
ao inventário uma carta endereçada a Gabriel de Lira, certamente escrita por um profissional
da escrita, o escrevente, como era, em Sergipe, denominado nos testamentos (Figura 71, a
seguir).
343
Laços de ouro, ferro, nove escravos, canoa, espingarda, casa de telha no Anyô, caixão de despejo, caixão de
pau de alho sem fechadura, sela, enxadas, machado, vacas, novilhas, garrotes, bezerros, cavalos, bestas,
poldra, cabras, ovelhas, dívidas.
344
AGJ - PFO/C. Inventários. Cx.01-2954.
345
Idem.
216
Transcrição:
[ilegível 2 palavras]
9 de 8bro
de 1798
15 [ilegível]
do enterro de Francisco Cardozo de Souza (Figura 72), que demonstra uma caligrafia artística,
uso correto da ortografia da época e redação clara, o que denota um nível de
letramento/alfabetismo elevado para a maioria da população.
Transcrição:
Os religiosos faziam parte do grupo dessa elite com maior nível de letramento, uma
vez que deles era exigido para ocuparem cargos/funções assim como os militares 346 (ajudante,
alferes, capitão, tenente, sargento-mor, coronel), os agentes judiciários (juiz 347,
tabelião348/escrivão, avaliador349, curador, licenciado350), entre outros.
Alguns dos agentes judiciários de maior letramento foram os ouvidores, provedores
com nível superior em Direito, e os curadores (licenciados/advogados), cujos pareceres são
bem elaborados com citações em latim.
Até agora analisei o alfabetismo/letramento dessa elite em grupos separados:
testadores/inventariados e inventariantes, mas querendo vê-la detalhadamente em suas
capacidades alfabéticas juntei os dois grupos e acrescentei os assinantes a rogo, totalizando
211 indivíduos351 componentes dessa elite setecentista, formada por homens e mulheres
detentores de bens, prestígio e status social. Incluir as mulheres nessa elite, mesmo em uma
época na qual elas desempenhavam um papel secundário, com direitos jurídicos menores do
que os dos homens, vigiadas moralmente pela sociedade, fazendo parte dessa elite não por si
mesmas, mas como legatárias dos parentes homens – maridos, filhos, sobrinhos, genros,
cunhados, sogros – que as amparavam juridicamente, como o caso das tutoras, que para
exercer esta função precisaram ser afiançadas por um homem; e o caso das órfãs, que ao se
emanciparem com o aval dos irmãos e cunhados, das solteironas com seus testamenteiros
parentes, não estavam independentes, desvinculadas da família e muito menos dessa elite.
346
As patentes militares (alferes, sargento, capitão, tenente, coronel) eram concessões permanentes, outorgadas
pelo rei. Os cargos de capitão-mor, sargento-mor e ouvidor eram temporários e seus ocupantes circulavam
por toda a Colônia, apesar da política portuguesa de não permanência de ocupantes desses cargos por muito
tempo em uma determinada região, eles geralmente constituíam famílias e em Sergipe isso não foi diferente.
Neste trabalho foram encontrados 37 inventariantes/inventariados/testadores com patentes militares. A
patente das milícias correspondia a um título de nobreza, que trazia poder e prestígio.
347
Os juízes ordinários e de órfãos não tinham formação em Direito e eram eleitos pelas câmaras municipais,
pelo período de três anos. O cargo de Juiz de Órfãos, antes exercido pelo Juiz Ordinário, só foi
regulamentado no Brasil em 1731. Já as nomeações trienais de corregedores, provedores e juízes de fora
eram feitas pelo Desembargador do Paço. Com a promulgação do Código do Processo Criminal em 1832, os
cargos de ouvidores, juízes de fora e ordinários são extintos, surgindo o Juiz de Direito.
348
Os primeiros tabeliães foram os notários apostólicos ou tabeliães de notas eclesiásticas. Depois, estes agentes,
tanto do paço como de notas, passaram a se encarregar dos atos judiciais do povo e de contratos particulares.
Com o decorrer dos anos o tabelião judicial passou a ser designado escrivão do juízo onde atuava. Nos
processos aparecem com a denominação de tabelião, escrivão ou escrivão do judicial. (MENDES, 2005).
349
Os avaliadores transmitem a impressão de que têm menos letramento, o que nos leva a crer, além das
assinaturas, são algumas petições nos inventários solicitando ao Juiz de Órfãos indicar avaliadores
“inteligentes” e “com consciência” para evitar prejuízos ao patrimônio dos órfãos. Vide inventário de Miguel
Pereira de Rezende, p. 4, e inventário de Firmiano de Sá Souto Mayor, p. 4.
350
Denominado de licenciado era o procurador ou advogado com carta de formatura de oito anos de Coimbra ou
com provisão ou licença do governador da Capitania ou do Ouvidor da Comarca. Em Sergipe eles aparecem
exercendo o cargo de curadores de órfãos, juízes ordinários e procuradores das partes envolvidas nos
processos. Por seu conhecimento jurídico, muitas vezes reafirmado com expressões em latim no final de seus
pareceres, os advogados serviam de mediadores de uma justiça letrada jurídica, assessorando juízes não
letrados e a população.
351
Vide Apêndice F.
219
Assim, os dados quanto ao sexo, posição dentro desse grupo (testador, inventariado,
inventariante), cargo, capacidade alfabética, grau de parentesco e local de residência,
fornecem uma compreensão melhor sobre o alfabetismo/letramento dessa elite.
Quanto ao sexo dos 211 indivíduos, 136 eram de homens (65%) e as mulheres
somavam 75 (35%), ou seja, a maioria dessa elite era formada por homens. Sobre a posição
deles no do grupo: 110 inventariantes (25 a rogo das inventariantes analfabetas), 89 testadores
(50 homens e 39 mulheres), 12 inventariados (11 homens e 1 mulher).
Quanto à vinculação entre o nível de alfabetismo e letramento e o pertencimento a
cargos, ficou comprovado que havia, pois dos 64 indivíduos que sabiam ler e escrever
(alfabetizados), 77% eram portadores de cargos: capitão-mor das entradas (1), escrivão (1),
licenciado (1), tenente coronel (1), juiz (2), sargento-mor (3), capitão-mor (4), coronel (4),
tenente (4), padre (7), alferes (8), capitão (11), todos eles alfabetizados. Dos 14 restantes não
encontrei nenhuma menção a pertencimento de cargos, apenas que cinco eram portugueses. O
Quadro 25, a seguir, relaciona os cargos ocupados.
220
Nome Cargo
Manoel Rodrigues de Carvalho (português) Alferes
Paschoal Mendes Pereira Alferes
Pedro Alvares Telles Padre
Valerio de Moura Gomes Capitão-mor
Vicente Joze de Menezes Tenente
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos testamentos do século XVIII existentes no Arquivo Geral do
Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
Quanto ao nível de alfabetismo desses portugueses, foi constatado que era alto,
independente da maioria não exercer cargos, como fica evidenciado no Quadro 26, a seguir.
222
Mas quanto ao nível de alfabetismo dos 89 homens sem cargos? 17 eram alfabetizados
enquanto 66 eram assinantes352 e apenas seis eram analfabetos assinando com uma cruz. Ao
juntar os 64 alfabetizados com os 66 assinantes, a porcentagem dos inseridos na cultura
escrita é de 95%, ou seja, essa elite tinha um alto nível de alfabetização.
Quanto às 75 mulheres, 14 eram assinantes e 61 analfabetas (oito assinavam com uma
cruz), refletindo a realidade educacional setecentista.
Quando se fazia necessário juridicamente, como no caso dos inventariantes, eram
escolhidos entre os familiares: cunhados, genros, nora, irmãos ou filhos, porém na maioria
dos casos era o cônjuge sobrevivente, mesmo sendo analfabeto. As 26 mulheres
inventariantes analfabetas buscaram os familiares (8) para o rogo das mesmas se fazerem
presentes juridicamente e a outros não identificados (16), mas certamente eram conhecidos
delas e/ou dos escrivães e juízes, ou seja, faziam parte dessa elite alfabetizada (Quadro 27, a
seguir).
352
Os assinantes são aqueles que os documentos só constam que assinaram, mas não informam suas capacidades
alfabéticas e como já foi exposto o fato de assinarem não os classifica como alfabetizados ou analfabetos,
apenas que foram iniciados no processo de alfabetização.
224
Contudo, em que localidade estava residindo essa elite? O Quadro 29, mostra onde se
concentravam os componentes da elite setecentista sergipana.
226
Mas não é isso que a documentação setecentista analisada mostra, ao contrário, ela é a
segunda localidade onde havia maior concentração de riquezas acima de 10 mil contos de réis
(Quadro 30, a seguir).
353
No século XVIII alguns senhores de engenho da Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana tinham
engenhos na Povoação de Laranjeiras, divisa com Itabainana, como o caso do Engenho de Nossa Senhora da
Piedade de propriedade de Joana Maria de Deos e do Coronel Albano do Prado Pimentel.
227
Também é alto o nível de alfabetização de seus moradores. Dos 41 apenas oito são
analfabetos. Essa vila merece um estudo minucioso, para realmente mostrar como ela era no
século XVIII, desmistificando o que a historiografia tradicional afirma.
Mas no geral, quais as capacidades alfabéticas dessa elite aqui estudada, constituída de
211 indivíduos? O Quadro 31, a seguir, fornece uma visão por localidade, enquanto o
Apêndice F detalha.
354
Sogro de Angelica Perpetua de Jezus, que ficou viúva no mesmo ano em que seu sogro faleceu, 1777. Seu
marido, filho único, sem filhos, tinha bens estimados em um conto e quatrocentos e vinte e seis mil e
duzentos e sessenta e seis réis (1: 426$266) que somados com os do pai totalizaram em dezessete contos
cinquenta e sete mil e oitocentos e treze réis (17: 057$813), constituindo-se na terceira maior fortuna quando
somados. Em 1750, o engenho da família, Lagoa da Penha, foi avaliado em dez contos de réis (10: 000$000).
355
Esposa de Albano do Prado Pimentel, proprietária do Engenho Nossa Senhora da Piedade, avaliado, em 1750,
em seis contos e seiscentos mil réis (6: 600$000).
228
Total 211
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos inventários e do século XVIII existentes no Arquivo
Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
229
Assim, essa elite setecentista mesmo sendo constituída por 66 analfabetos, tem nos
mediadores da cultura escrita (145), sejam eles agentes públicos ou parentes e amigos, o
amparo das suas questões jurídicas.
230
CONSIDERAÇÕES FINAIS
escravos, alforriando-os e propiciando educação própria para os filhos não pertencentes à elite
(Doutrina Cristã, ler, escrever e aprender um ofício).
Os espaços familiares, privado e público, eram locais com contornos diferenciados
dependendo do lugar onde se estava – no exterior ou interior dos mesmos. A moradia
setecentista sergipana era em sua maioria térrea, coberta de telhas, embora existissem
sobrados tanto no meio rural como no urbano. Os setecentistas de Sergipe viviam em sítios,
fazendas, engenhos e pousadas.
A maioria das residências possuía um mobiliário modesto, composto por catres,
tamboretes, bancos, caixas e mesas, embora houvesse algumas exceções como relógio grande,
mesa de jogo, leitos de jacarandá, cômoda, oratório grande com telhas douradas e armários de
roupas.
O vestuário também era modesto e deixado em testamento aos familiares, agregados e
escravos. Roupas e, principalmente, joias, armas e escravos eram objetos de crédito que
podiam ser penhorados, hipotecados, vendidos, e por isso vistos como uma forma de
investimento.
Enfim, o cotidiano da Capitania de Sergipe Del Rey não destoava das demais
capitanias brasileiras.
No segundo capítulo, apresentei a normatização da língua portuguesa, a “Língua do
Príncipe”, através dos principais registros deixados por seus teóricos que deram sustentação
para o surgimento da cultura escrita portuguesa.
Discorri sobre os elementos/suportes da cultura escrita: o livro, o texto da lei, a
epistolografia, registros notariais, registros paroquiais e os registros privados e seus artefatos,
para assim entender os vestígios desta materialidade na cultura escrita em Sergipe
setecentista.
Foram poucos os livros arrolados nos inventários, o que poderia dar a ideia de não
haver interesse por parte dessa população em adquiri-los, denotando pouco caso à cultura
escrita se não fosse a existência de uma livraria com quinhentos títulos em São Cristóvão,
contradizendo assim a historiografia que descreve Sergipe como uma capitania desprovida de
acesso educacional e, portanto, cultural, por não possuir um colégio de ensino de
Humanidades.
Artefatos da cultura escrita também foram encontrados nos inventários: sinete, tesoura
de aparar cartas, tinteiro de vidro, escrivaninha, provas da materialidade dessa cultura escrita.
Apesar de serem poucos os vestígios dos elementos e artefatos da cultura escrita setecentista
de Sergipe, os encontrados mostram-nos muito desta população. Expô-los permite
232
compreender como a cultura escrita permeava a vida dos moradores de Sergipe e quais seus
usos, pois são objetos históricos que muito nos dizem do seu tempo, suas funções e seus
proprietários.
No terceiro capítulo, ao analisar o nível de alfabetismo e letramento, mostrei quem
detinha este conhecimento, a relação com os que não o possuíam e a relevância deste saber na
sociedade setecentista sergipana. Para tal, foi necessário conceituar os termos alfabetização,
analfabetismo, alfabetismo, letrado, iletrado e letramento dentro da historiografia educacional,
para depois entender seus significados em Sergipe no século XVIII.
Como o indicador de alfabetização nos períodos anteriores aos Censos é a assinatura,
busquei as dos membros da elite de Sergipe (testadores, inventariados, inventariantes),
enquadrando-as em uma escala de nível de assinatura (pessoalizada – nível 5, caligráfica –
nível 4, normalizada – nível 3, imperfeita – nível 2 e em forma de cruz – nível 1) e depois
relacionando-as com as capacidades alfabéticas (ler e escrever – nível 4, assinante – nível 3,
assina com uma cruz – nível 2 e não assinante – nível 1) destes indivíduos, resultando na
compreensão de que assinar o nome não significava, no século XVIII, em Sergipe, saber ler e
escrever, embora o método utilizado no Antigo Regime e nas sociedades coloniais fosse
primeiro aprender a ler e depois a escrever.
O levantamento de assinaturas, mesmo com suas lacunas, permite identificar e
quantificar quem eram os alfabetizados e analfabetos e perceber as relações de parentesco,
amizade, compadrio que interlaçavam estes dois grupos. O estudo das assinaturas recupera
também a presença da mulher no mundo da cultura escrita, seja ela como pessoa alfabetizada,
fato raro na sociedade colonial, como assinantes e a quem elas recorriam quando eram
analfabetas (as 26 analfabetas recorreram a homens). Consegui coletar nos testamentos e
inventários, num universo de 172 indivíduos, 97 assinaturas, o que representa 56% dos
indivíduos dessa elite. As demais, não foi possível coletar, devido os documentos serem
traslados. O resultado da análise dessas assinaturas mostrou que, além da maioria dessa elite
estar inserida na cultura escrita através da assinatura de seus nomes, os quais lhes conferiam
autonomia jurídica, prestígio e distinção, na escala de assinaturas 51%, novamente a maioria,
tinha nível 3, que era conferido à assinatura normalizada, ou seja: completa, representada pela
assinatura com o uso correto da grafia do nome, podendo ser abreviada ou não, seguida pela
caligráfica (28%) nível 4, na qual todas as letras são grafadas de forma correta e ligadas,
tendo ritmo e cadência, com inclinação e sinais de marcas pessoais.
Partindo para a análise mais abrangente das capacidades alfabéticas dessa elite, juntei
os dois grupos testadores/inventariados e inventariantes e acrescentei os assinantes a rogo,
233
obtendo assim 211 indivíduos representantes dessa elite, dos quais 136 eram homens e 75
mulheres. Dos 136 homens, 63 eram alfabetizados, sendo que 47 eram detendores de cargos,
66 assinantes e sete analfabetos (seis assinando com uma cruz).
Ao juntar os 64 alfabetizados com os 66 assinantes, a porcentagem dos inseridos na
cultura escrita é de 95 %, ou seja, que eles tinham um alto nível de alfabetização. Quanto à
vinculação entre o nível de alfabetismo e letramento e o pertencimento a cargos ficou
comprovado que existia, dos 64 indivíduos que sabiam ler e escrever (alfabetizados), 77% era
de portadores de cargos. Nos 14 restantes, não encontrei nenhuma menção a pertencimento de
cargos.
Quanto às mulheres, das 75 apenas 14 eram assinantes e 61 analfabetas (oito
assinavam com uma cruz), refletindo a realidade educacional setecentista. Tinham a educação
própria de seu sexo: cozer, fazer rendas, portanto, poucas aprenderam a ler e escrever ou
apenas a assinar os próprios nomes, no máximo, assinavam em cruz.
Também ficou comprovado, quando se fazia necessário juridicamente firmarem suas
assinaturas nos documentos, que os analfabetos recorriam aos familiares, ficando para
segundo plano as relações de amizade.
No que diz respeito ao letramento dessa elite, ficou evidente que apenas as assinaturas
não oferecem condições de aferir níveis de letramento. Foi necessário cruzar esta informação
com outras como: biografias, documentos escritos pelo indivíduo, ser portador de cargo, entre
outros documentos.
Portanto, a hipótese inicialmente levantada nesta pesquisa foi comprovada, pois apesar
de Sergipe ser, no século XVIII, uma capitania subalterna à Bahia, de não ser de ponta da
economia colonial, nem urbana, nem mineradora, cuja maioria da população morava na zona
rural, havia uma elite não só econômica, política e social, mas também instruída, composta
por negociantes (sitiantes, donos de engenho, fazendas, casas comerciais). Pois essa elite
setecentista, mesmo constituída por alguns analfabetos, teve nos mediadores da cultura
escrita, cônjuges, parentes e amigos, sendo eles agentes públicos ou não, o amparo nas suas
questões jurídicas, sendo irrelevante ser ou não alfabetizado, uma vez que a lei assegurava a
todos o acesso a ela quando se fazia imprescindível.
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FONTES JUDICIAIS
GLOSSÁRIO
Armação: era a decoração da Igreja com panos, cortinados, cadafalsos de madeira (estrado
ostentoso sobre que se colocava o esquife) coberto por panos fúnebres.
Arras: bens que o noivo assegura à esposa no caso de ela lhe sobreviver.
Banho de casamento: pregão, que o pároco lança na citação, para ver se há quem ponha
impedimento ao casamento; chama-se pregão porque se apregoa.
Caixas de despejo: barris com fezes e urina, que eram jogadas nas praias e valas pelos
escravos.
Caixas: utilizadas para guardar roupas, alimentos e demais objetos. As caixas com gavetas
são anteriores às cômodas.
Concílio de Trento: concílio convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e
a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica, realizado de 1545 a 1563.
Enjeitado: pessoa que foi abandonada por seus pais quando nasceu.
Espólio: a soma ou a totalidade de bens deixados por uma pessoa, após sua morte.
In solidum: solidariamente.
Inocentes: crianças.
Legados pios: o que, entre os católicos, o testador deixa para bem da sua alma.
Leito: nome dado à cama no século XVIII, provida de balaústres e cortinado, chamada hoje
de cama com baldaquino, cama com torneados, ruelas ou bolachas, fusos ou bilros, camas
com esteios ou lanças com dossel ou céu.
Limbo: uma espécie de purgatório para crianças que morriam sem o batismo.
Livro de razão, rol ou contas: eram livros onde se laçavam as transações comerciais, o que
atesta o conhecimento mesmo que elementar da escrita, leitura e contabilidade.
265
Mesa ou banca de jogo: mesmas características das mesas e bancas comuns, distinguindo-se
por dispor de cinzeiros cavados no tampo, este dobrável e coberto com pano verde.
Montante mor: nos inventários do século XVIII em Sergipe, era o termo utilizado para a
soma total de todos os bens.
Párvulos: idiotas.
Pau branco: nome popular de uma árvore da família das Borragináceas, endêmica da
caatinga.
Reinóis: portugueses.
Relicário: caixa ou cofre, bolsa ou caixilho, onde se guardam relíquias dos santos.
Rituale Romanum (Ritual Romano, em latim): é um livro litúrgico que contém todos os
rituais normalmente administrados por um padre, incluindo o único ritual formal para
exorcismo sancionado pela Igreja Católica Romana até finais do século XX.
Róis de desobriga: Relações nas quais os vigários registravam o número de fiéis que
comungavam e confessavam pela quaresma, também denominados de róis de confissão.
266
Rosiclér: peça de pedraria, que cinge o pescoço; outros dizem que era de cabeça e composto
de pingentes.
Sinete: instrumento que serve para imprimir no lacre um brasão, divisa ou iniciais; chancela.
Sistema de meiação: A divisão feita em duas partes iguais, uma dividida igualitariamente
entre os herdeiros legítimos, onde também eram retiradas as despesas do funeral.
Terça: a terça parte da meiação do casal, que o cônjuge vivo pode dispor a seu querer.
Termo: no século XVIII constituía uma subdivisão da comarca, a qual envolvia várias
localidades além das vilas, povoações e sertões.
APÊNDICES
268
16 Bernarda de Jesus Maria Jose Sargento mor Braz Bernardino de Sá Souto Maior
1
17 Bernarda Petronilla de Santa Anna Anna (21 anos) 8
David (20 anos)
Ignez (15 anos)
Antonio (11 anos)
Jose (10 anos)
Francisco (7 anos)
Francisca (4 anos)
Joanna (2 anos)
18 Catarina de Vasconcellos Capitão Manoel Ferreyra de Gois (40 anos, solteiro) 7
Josefa casada com Maneol Antonio Lis Boa
Alferes Antonio Gonçalves Tavora (27 anos, solteiro)
Joanna de Vasconcellos casada com o Capitão mor Manoel de Casto
Manoel Gonçalves Tavora (23 anos)
Ignacia de Vasconcllos (22 anos, solteira )
Francisco Leandro de Vasconcellos (18 anos, solteiro)
272
Roza (5 anos)
20 Clara Martins de Castro 1
21 Damianna Ribeira Severina Pereira casada com Antonio Quintiliano 7
Leonor Pereira (25 anos)
Syvestre Pereira (24 anos)
Maria da Piedade (21 anos)
Simplicio Pereira dos Santos (16 anos)
Josefa Maria (14 anos)
Luiza Pereira (12 anos)
23 Duarte Munis Barretto Capitão João Telles de Menezes (de maior, casado) 2
Alferes Pedro Duarte e Azevedo (de maior, casado)
28 Francisca de Barros Pantojá Maria Francisca dos Reis casada com Manoel da Silveira Santos - 1º casamento 4
Francisco de Barros de Almeida (emancipado) - 1º casamento
Florentino de Barba que é curador seu padastro- 1º casamento
Manoel Paes da Costa (9 anos) - 2º casamento
Josefa Maria de Serqueira [ilegível] falecida casada com Jose de Campos do Lago 1
45
46 Joze Cardoso de Santa Anna e Cardula Maria Maria de Sam Joze (11 anos) 3
de Sam Joze
Benta (7 anos)
Gonçalo Bento (5 anos)
278
Manoel Jozé de Vasconcellos e Figueiredo Manoel Jozé Nunes Coelho Vasconcelos e Figueiredo (falecido) 1
57
Maria Caetana Rosa (casada, de 17 para 18 anos) 1
58
59 Maria da Assunpção Leonor Rodrigues 9
Antonia Maria
Antonio Teixeira
Francisco Alves
Maria da Conceição
Maria Jozefa casada com Francisco Alvares Feitoza
Maria Alves
Felix Moreira
Joze Alves
281
61
62 Marianna de Sandes Joanna (18 anos) 5
Manoel (10 anos)
Maria (8 anos)
Roza (4 anos)
Francisco (18 meses)
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos 88 inventários do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe.
283
01 Ignacio da Costa Marianna Martins casada com “Declaro que sendo solteiro “Declaro que dotei a meu genro Inventário com testamento
Feijo - casado Antonio Jose Teixeira, Vicencia tive mais tratos com a [ilegível] por casar com minha (1757)
Pimentel casada com Francisco da mestiça por nome [ilegível] filha Thereza [corroído] mil reis
Costa Feijo, Francisca de escrava do Theodozio em dinheiro sua criolla por nome No inventário apenas os dez
Almeida casada com Joam Bautist Ferreira Costa me dava Thomazia [corroído] e dez mil filhos legítimos são relacionados
de [ilegível], Helena de Almeida todos [filhos] que paria por reis e mais doze [ilegível] preço e a mulher, inventariante, diz ser
casada com Felipe de Souza, meus o que e natural”. [corroído] quinhentos e assim quatro machos e seis fêmeas,
Clara Pimentel casada com mais eu [ilegível] com preço de mas no testamento ele diz ter do
Joseph Antonio da Silva e [corroído] mil reis e assim mais casamento doze filhos oito filhas
Clemencia de Jesus de idade de duas colheres de prata em preço e quatro filhos e inclui Thereza
vinte anos mais ou menos. de [corroído] dois cada uma e e a dota em dinheiro, escravos
assim mais um par de botões de mas não diz ser ela filha natural
prata a preço de dez [corroído] e e com quem ela casou e no
uns botões de ouro pequenos com testamento o nome do genro
duas oitavas e uma cruz de ouro está corroído e exclui sua filha
com com outra duas oitavas legítima Vicencia Pimentel
[corroído]. Declaro que dotei a casada com Francisco da Costa
meu genro Antonio Jose por casar Feijó.
com a minha filha Mariana com o
dote seguinte uma [corroído] com
nome Maria em preço de cento e
dez mil reis e assim mais em
dinheiro setenta mil reis [ilegível - Documento muito danificado.
3 palavras] escravo e assim mais
[ilegível] em preço de [ilegível]
mil quinhentos cada uma. E assim
mais duas éguas em preço de
quatro mil cada uma e assim mais
um par de botões de ouro
pequenos com peso [corroído] de
284
02 Um português, Joanna, Anna, Thedozia, Florência e Maria (falecida) “Declaro que já casei duas filhas Testamento (1770)
filho de Manoel Antonia, Maria Antonia, Roza e legitimas a saber Joanna com o
Pereira Mendes e Verissima Capitão Vicente Pereira e Anna
Maria Vieyra de com o Capitão Antonio Simois
Lemos (português) Reyes aos quais lhe dei os seos Dota as duas filhas legítimas
- casado dotes a saber ao Capitão Vicente Joanna e Anna e as duas filhas
Pereira Carvalho huma crioula de naturais Florência e Maria.
nome Micaella no valor de um mil
reis, uma negra Maria no valor de
um mil reis, uma mulatinha por
sessenta mil reis, doze bestas no
Rio Real e um potro tudo em
preço de quatro mil reis, cada hua
e huas cabeças de gado na fazenda
Mucambo as quais não estou certo
quantas forao [meus
testamenteiros] estara pela conta
286
03 Gonçallo Gomes Quiteria casada com Felipe Joze Não declarou “Declaro que dotei minha filha Inventário com testamento
Lobato - viúvo de Vasconcelos, Caetana casada Josefa que casei com Cláudio (1776)
com Claudio de Souza Vieira e Souza Vieira com cem mil reis,
Anna casada que foi com Antonio valor de [corroído ± 3 palavras]
Rodrigues das Virgens (falecida) minha ordem os cobrar”[...]
No inventário não aparece a filha
legítima chamada Josefa, casada
com Claudio de Souza e sim
com o nome Caetana, casada
com Claudio de Souza.
05 Antonio da Costa Maria casada com Antonio da Não declarou “Declaro que todas dirás minhas Testamento (1777)
Rosa (português) - Costa Meirelles, Rosa casada com filhas digo declaro que todas as
viúvo Leandro Rodrigues, Ignacia ditas minhas filhas quando
casada com Pedro Carlos, Ana cazarão com os bens que
casada com Jose Felis e Angela especifiquei nos escriptos de
casada com Manoel Tristam de dotes que passei a seos maridos
Santa Anna excepto meu genro Antonio da
Costa que lhe não passei escripto,
porem o dotey com hum escravo
de nome Manoel e secenta mil reis
em dinheiro, huma saya preta de
duguete caztor, um manto de
pezo, tres colheres de prata, dois
lençoes de pano de linho, hum
cobertor de papa, huma caixa
grande de pao amarelo, hum catre
de pão parahiba”. //
06 Eleuteria Ramos de Não teve Não declarou “Declaro que todo legado Testamento (1779)
Jesus - solteira [corroído] a dita Anna Clara he
para seu dote com a condiçam se
não poder dispor das couzas
legadas seu pai [ilegível] da Costa A dotada é criada pela testadora.
não ter nelles direito algum”.
289
07 Manoel Francisco Francisca casada com José Não declarou “Declaro que a minha filha Maria Testamento (1783)
de Oliveira Custodio Francisca casada com Custodio
(português) - [Carvalho] lhe dei de dotte o
casado crioullo Lourenço e [corroído 2
palavras] mais em dotte huma
egua nova que quero [se lhe dé] [e
na falea dela] huma escrava do
casal”.
08 Francisca de Francisca Thereza da Conceição Não declarou Declaro [corroído] coube Testamento (1784)
Serqueira Pacheco - casada com Vicente Fernandes da [ilegível] dotte que [ilegível]] tem
casada Silveira [corroído] Donna Francisca
Thereza da Conceição sento e
dezacete mil quatrocento e quinze
reis.
09 Verissimo Pereira Não teve Anna Lucia “Declaro que não sou cazado Testamento (1785)
de Lima porem tenho quatro filhos naturais
(português) - a saber Joze Pereira, Antonio
solteiro Esteves, Vesuino Pereira e Anna
Lucia qual a casei com Manoel
Antonio [Fausto] dando lhe de
dotte por consentimento de seus
irmaens quatro escravos a saber
Miguel Damianna Eugenia e
Maria e assim mais huma morada
de cazas de telha e estas caminho
do Porto ficando o ditto Manoel
Antonio [Fausto] a quantia de
vinte mil Reis o que não tem
cumprido antes me hé mais
290
10 Antonio Martins O padre dotou uma afilhada e uma Não declarou “Declaro que meu testamenteiro Testamento (1786)
Ferreira (Padre) irmã. dara de esmolla pello [Amor de
Deos] a minha afilhada [corroído]
filha do meu compadre
[Raimundo] Pereira cincoenta mil
Reis para [corroído] de seu dotte
casada que seja =
11 Antonio do Espírito Joanna do Espirito Santo casada Uma. “Declaro que dotei a minha filha Testamento (1792)
Santo - casado com Joaquim Pereira e Theodosia Joanna do Espirito Santo casada
Maria do Espirito Santo casada com Joaquim Pereira com hua
com Miguel Ferreira crioulinha de nome Luzia em
preço de oitenta mil reis, hum Apesar de não mencionar que
Cavallo em preço de dezesseis mil era dote essa declaração sobre a
reis mais hua saya de Droguete filha natural confirma a natureza
pretta que custou dez mil reos, hua do legado como dote uma vez
peça de xitta e, sinco mil reis [...]” que fala em ela levar o que
recebeu do pai para a colação
Declaro que tenho hua filha quando herdar.
natural casada com Francisco da
Conceição a qual hera captiva e
hera viúva do Jordão moradora em
Sergipe D’El Rey e eu alforrei
dando por ella noventa e sinco mil Documento incompleto, por isso
Reis e quando a casei lhe dei uma não tem o restante do dote de
peça de xitta que me custou seis Joanna do Espirito Santo e talvez
mil Reis e ao ditto seo marido dei o da outra filha legítima
em fazenda quatorze mil reis que Theodosia Maria do Espirito
impostta tudo sento e dez mil reis Santo casada com Miguel
com os quais deve entrar a colação Ferreira.
querendo de mim herdar.
12 Manoel Gomes dos Maria [corroído] e outra Não declarou “Declaro que sou cazado a face da Testamento (1795)
Santos (português) Antonia [corroído] de Mello a Igreja com a Senhora Catharina
– casado qual esta casada com o Capitão Caethana do Rozario de cujo
Dionizio Rodrigues Dantas
Matrimonio tivemos duas filhas,
huma de nome Maria [corroído]
outra por nome Dona Antonia
292
13 Joze Alvarez da Maria Magdalena casada com Não declarou “Declaro que dotei a cada huma Testamento (1798)
Roxa - casado Duarte de Almeida e Silva e Anna das minhas filhas cazadas com
Joaquina casada que foi com dois mil cruzados que lhes por fiz
Domingos Jozé Bastos, já falecido e enterei, e por isso entrarão com
elle [ilegível] na forma de direito”.
14 Antonio Pereira de Duas filhas. Uma, denominada de fêmea “[...] a filha bastada (femea dotei Contas de Testamento
Vasconcellos bastarda. sesenta mil reis para o seu
(português) – cazamento e fica enteirada do seu
casado quinhão para não entrar no cazal),
duas casada //Declaro que tenho O testamento foi feito em 1799 e
293
15 Domingos Lopes - Ele diz: “Declaro que não “Declaro que quando cazei a Inventário com testamento
Ferreira (português) [sou] e nem nuca fui cazado minha filha Marianna com Pedro (1799)
- solteiro e a muitos annos moro nesta Gomes lhe dei dois escravos
Freguesia do Pe do Banco, Maria Ângela e o filho Domingos
e nella tive de hua [minha] crioulinho os quais lhe ficaram em
escrava de nome Francisca conta da sua legitima entrando já No inventário nos quinhões das
que [ao prezente] se acha nelles as meaçoens”. duas filhas há os dotes, embora o
forra dois filhos, Manoel pai só declare em testamento o
Lopes e Marianna Lopes “Quinhão da herdeira Marianna de uma.
cazada com Pedro Gomes e Lopes cazada com Pedro Gomes
depois disso tive de outra de [corroído] que importa a
escrava ao presente falecida quantia de dusentos vinte dous mil
outra filha de nome Maria cento e sincoenta e sinco reis.
Francisca que se acha
cazada com Manoel João e Item que mais lhe derão e tem em
tanto este como os dois [corroído] seo dote conferido a
asima os declaro e instituo quantia de cem mil reis”. Fl. 31.
por meus herdeiros forçados “Quinhão da herdeira Maria
tanto pellos ter por filhos e Francisca ao prezente fallesida
por tais os habilitar em cazada que foi com Maneol João
juízo como por vocabulo do de Mello que importa a quantia de
Mundo”. dusentos vinte dous mil cento e
294
16 Francisco Jose de Joana de Jezus e Mello Não declarou “Declaro que minha filha he Inventário com testamento
Mello - casado cazada com Joze Soterio de (1799)
Menezes e que já a conta do seo
dote recebeu: hum cavallo no
preço de cincoenta mil reis que
com elle entrara a cota com mais
quatro mil reis que por elle paguei
ao [ilegível] Senhor Antonio
Dias”.
Fonte: Dados elaborados pela pesquisadora, a partir dos 95 testamentos do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário.
295
p.3
p.9
296
p.9
p.2
p.2
297
p.19
1789 2 Assina.
1757 2 Assina.
p.8
298
1763 2 Assina.
p.15
1797 2 Assina.
p.7
1766 Assina.
p.12
299
1761 3 Assina.
1799 3 Assina.
Antonio Pereira de
Vasconcellos
p.7
1789 3 Assina.
Francisco Rodrigues
Ferreira
p.28
301
1730 3 Assina.
p.5
1749 3 Assina.
p.9
1762 3 Assina.
p.1
302
p.2
304
1795 3 Assina.
p.3
306
p.2
p.3
p.2
307
p.16
1796 Manoel de Jesus Barreto 3 Assina, mas não assina com o sobrenome
Barreto.
p. 3
p.2
308
1762 3 Assina.
p.3
1793 3 Assina.
p. 2
p.4
309
p.3
p.7
p.2
310
p.80
p.17
p.28
311
p.1
p.15
1763 3 Assina.
Manoel Moreira de
Afonseca
p.3
312
p.3
p.4
1776 3 Assina.
Felippe Joze de
Vasconcellos
p.9
313
1799 3 Assina.
p.4
p.2
p.1
314
p.6
315
1799 3 Assina.
p.3
p.12
1755 4 Assina.
Joze Cardozo de
Vasconsellos
p.11
316
p.22
p.4
p.2
317
p.2
Inacio da Silveira a rogo [...] mandou o dito Juis fazer este auto em
de Angelica Maria do que asinou com a dita Inventariante por
Bom Sucesso não saber escrever asinou a seu Rogo o
Licenciado Inacio da Silveira [...] p.2.
p.2
1725 4 Assina.
p.8
319
1764 4 Assina.
p.9
Ancelmo Ferreira de Gois [...] mandou o dito Juis fazer este autos em
a rogo de Maria Pereira de que asinou com a Inventariante que por não
Jesus saber escrever asinou a seu Rogo Ancelmo
Ferreira de Gois [...] p.3
p.3
p.6
321
p.86
p.3
p.3
322
p.2
p.3
1799 4 Assina.
p.3
323
p.2
1800 4 Assina.
p. 28
1789 4 Assina.
p.37
324
1798 4 Assina.
p.3
p.3
325
1755 5 Assina.
Manoel Nunes de
Azevedo
p.20
326
p.29
p.3
328
1800 5 Assina.
p.60
Fonte: Elaboração da pesquisadora a partir dos inventários e testamentos do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de Sergipe
329
1730 Estevão Gomes de Moura [...] por eu não puder escrever pedi e Não tem Leitor, escrevente Doente
roguei a Antonio [Falyro] de Mattos que e assinante
este meo Testamento por mim escrevesse
e como testemunha assinasse e elle o
escreveu a meu rogo e depois de escrito
me leu em forma que [ilegível] a assim na
forma que eu lhe mandei escrever o [todo]
assinei de meo signal custumado. p.3
1749 Luis Barroso Pontoja [...] por ser esta a minha ultima vontade Não tem Assinante Estando em
(português) do modo que tenho dito me asigno aqui perfeito juízo e
de minha letra e signal. p.3 entendimento.
330
1757 Ignacio da Costa Feijo [...] por não poder escrever pedi e roguei Ilegível Leitor, escrevente Doente de cama
a Fortuozo Alves Rodrigues este por mim e assinante
fizesse como testemunha se assinasse, Eu
me assino com o meu sinal costumado.
p.8
1762 Clara Martins de Castro [...] por eu não saber ler nem escrever [...] dita Testadora Dona Clara Martins de Assinava com Doente, mais de
pedi e roguei ao Alferes José Carlos para Castro asignara com huma cruz seu uma cruz pé
que por meu [ilegível] escrevesse signal costumado [...] p.9
[corroído] e depois de escrito [corroído] [...]em presença de todos e a testadora
mo leo e pelo achar na forma que o ditei asignaram digo com huma cruz por nam
pedi que por mim tambem assinasse por saber ler nem escrever seu signal
Razão de eu não saber ler e nem escrever costumado [...] p.10
[corroído] assinasse ele a meo rogo
[ilegível] junto com as mais [corroído]
assinadas [...] p.7
331
1763 Domingos Salgado de [...] pedi ao Sargento mor [Liandro Joze [...] qual lhe escreve o Sargento mor Leitor, escrevente Enfermo de pé
Araujo (português) -Padre Dias] que este por mim escrevesse Leandro Joze de Vasconcellos [ilegível] e assinante
[ilegível] me leu depois de feito e pelo por elle dito testador lhe pedir e rogar
achar na forma [ilegível] ditei o assinei. escrever o dito escrito elho lera huma e
p.12 muitas vezes e elle dito testador o ditara e
depois de [ilegível] digo estar escrito a seu
gosto e da mesma forma que elle dito
testador o ditara e também lho pedira que
asignace como testemunha [ilegível 3
palavras] dito testador se asignara com
sua própria mão seu nome inteiro e seu
signal costumado [...] p.14
1764 Joze Frique do Prado [...] tenho dito este testamento por mim Não tem Assinante Estando em
somente assignado sem constrangimento perfeito juízo e
de pessoa alguma se não por ser esta a entendimento
minha ultima vontade e me assigno de
meo signal costumado. p.7
332
1765 Thereza Rodrigues de [...] por não saber ler nem escrever pedi [...] por não saber ler nem escrever Não assinante Gravemente
Jesus (casada com Manoel e roguei a [ilegível] [corroído] por mim [ilegível] [corroído] a seo rogo [corroído] enferma
Nunes de Azevedo) escrevesse [ilegível] e assignace como Jerônimo [Borges] de Noronha [...] p.10
testemunha que este escreveu [ilegível]
Thereza [ilegível] Jeronimo Borges de
Noronha. p.8
1766 João da Rocha Codeyro [...] pedi ao Re P. Domingos Afonso Não tem Assinante Bastantemente
Lessa que me fizesse e asignace e eu me doente e de cama
asignei com o meu sinal que hé o meu
nome [...] p.8
1767 Benta do Rozario [...] por não saber ler nem escrever pedi Não tem Não assinante Com moléstia na
e roguei a Ignácio da Silva Teixeira que saúde
este por mim escrevesse e asinasse como
testemunha [...] p.70
1767 Paschoal Mendes Pereira [...] pedi e roguei a meu compadre Manoel [...] mandara escrever por Manoel de Assinante Estando com
de Seabra Lemos que este por mim fizesse Seabra Lemos e que depois de escrito lho moléstia na saúde,
como testemunha assinasse e eu me lera e por achar a seu gosto e na forma em porém de pé
assinei com o meu sinal costumado. p.15 que havia ditado e asinara de seu sinal
costumado [...] p.16
333
1771 Anna Paes Tellis Falta a página. [...] todos aqui asinarão com a testadora Assinava com Estando molesta,
que o fez de hua cruz por não saber uma cruz porém de pé
escrever e declaro que se achão asinadas
as testemunhas a saber João Rodrigues
Ferreira que escreveo o dito testamento
[...] p.23
1771 Hypolita Maria da [...] por nam saber ler nem escrever [...] esta declarar nam saber ler nem Não assinante Estando em
Conceição pedi e roguei a Joam Alvares Valle escrever [...] p.45 perfeito juízo e
Guimaraens este meo testamento me entendimento
escrevesse [...] p.43
1771 Manoel de Afonseca de [...] testamento pedi e roguei a Manoel [...] o asinara de seu sinal costumado Leitor, escrevente Doente de cama
Araújo (Padre) Guedes Soares que me escrevesse por eu [...] p.55 e assinante
não saber alias não poder escrever [...]
p.50
334
1773 Joanna Veronica do [...] roguei a Manoel Suterio das Candeias [...] o mandara escrever por Manoel Assinava com Enferma de cama
Sacramento que este testamento por mim fizesse e[c] Suterio das Candeias o qual depois de uma cruz
me asinei com o meu sinal costumado escrito lhe lera e pelo achar a seo gosto na
do que he hua cruz [...] p.61 forma em que o havia ditado assinara de
seu sinal costumado que he hua cruz
[...] p.62
1773 José Daniel de Carvalho [...] por nam poder escrever pedi e [...] se asignara ao pe delle de seo Leitor, escrevente Doente de cama
(português) roguei a Luis Ferreyra Alvares este meu proprio signal [...] p.51 e assinante
testamento me escrevesse e eu o ditei e
depois de escrito mo leu todo e pelo achar
a meu gosto e na forma que o havia ditado
me asignei ao pe delle de minha propria
firma de que uso e lhe pedi o asignasse
como testemunha que o escreveu [...]
p.50
335
1774 Anna de Andrade Roguei a Joze Fernandes Jacome [...] todos assignarão pela testadora não Não assinante Doente, porém
Coutinho me faça e declare por sua letra saber ler nem escrever a seo rogo não de cama
esta minha ultima vontade e por mim asignou Joze Fernandes Jacome Coutinho
asigne tam bem [...] p.36 [...] p.37
1774 Apollonia Soares dos [...] tornei a pedir e Rogar ao dito Padre [...] testamento lhe havia escrito o Assinava com Doente de cama
Prazeres Antonio Martins Ferreyra que este fez por Reverendo Padre Antonio Martins uma cruz
eu nam saber ler nem escrever por mim Ferreira Sacerdote do abito de Sam Pedro
asignasse e me asigney com huma cruz e que lhe havia ditando e que depois de
p.15 escrito lhe lera todo e pelo achar muito a
sua vontade na forma que havia ditado se
asignara ao pe do dito testamento de
huma cruz [...] p.16
[...] testadora de huma cruz por nam
saber ler nem escrever [...] p. 17
336
1774 Eleuterio Gomes de Sá Roguei a Francisco da Rocha Bezerra [...] Francisco da Rocha Bezerra de Assinante Doente de cama
Vasconcellos que este por mim escrevesse Vasconcellos morador no sitio da Mata
em que me assignei [...] p.9 deste mesmo termo da dita villa e que
depois de escrito lhe lera e pelo achar a
seo gosto e na forma que o havia ditado
no fim delle se assignara [...] fiz este
instrumento de approvação em que
assignou o dito testador [...] p.10
1774 Joze Pinheiro Lobo [...] e pedi e roguei a Joam Lins de [...] testamento de ultima e derradeira Assinante Doente de cama
Albuquerque que este por mim fizesse e vontade o qual mandara escrever por Jozé
como testemunha assignasse e me asignei Lins de Albuquerque e que depois de
com o meo signal costumado. p.80 escrito lho lera e como estava a seo gosto
na forma que o havia ditado por cuja razão
assignara de sua propria mão [...] p.81
337
1774 Maria Telles da Silva e [...] roguei ao Capitam Luis Marques de [...] fiz este instrumento de approvação Assinante De pé, porém
Menezes Oliveira que este por mim escrevesse e em que assignou a mesma testadora [...] doente
me asignei do meu signal costuma [...] p.72
p.70
1775 Joam Moreira de [...] por nam saber ler nem escrever [...] asigno a rogo do testador Joam Não assinante Doente de cama
Meyrelles pedi e roguei a Felipe Pereira de Araujo Moreira de Meirelles como testemunha
que este por mim escrevesse e asignace que este escrevi Felipe Pereira de Araujo.
como testemunha [...] Juiz em que asignou P.92
pelo dito testador por ser sego e nam
saber fazer o seu signa que hera huma
cruz. p.92
1775 Maria de Oliveyra do [...] por eu não saber ler nem escrever [i [...] asignou a rogo da testadora por nam Não assinante Doente de
Sacramento 5p] Dionizio Joze Soares que por mim saber escrever Dionizio Jose Soares [...] enfermidade
escrevesse o que com efeito o fez e depois p.88
[ilegível] que tam bem por mim
asignasse [...] p.86-87
1775 Maria Perpetua do [...] por nam saber ler e nem escrever [...] o tinha mandado escrever por Não assinante Doente de cama
Espirito Santo pedi e roguei ao Senhor Faustino Ferreira Faustino Vieira de Andrade o qual depois
de Andrade que este por mim fizesse e de escrito lhe lera pello achar a seu gosto
como testemunha asinace digo que este na forma que o havia ditado asinou o
por mim fizece [ilegível] e asinace [...] mesmo Faustino Vieira por ella nam
p.85 saber escrever [...] p.86.
338
1777 Antonia Neto de Sam [...] e por nam saber ler nem escrever [...] pella teztadora nam saber ezcrever Não assinante Doente na cama
Joam pedi e roguei [ilegível] Marcolino de asignou a seo rogo o dito Marcolino de
Andrade Torres que este por mim Andrade e Torres e todoos aqui assinaram
escrevesse e como testemunha a meo rogo depois desta ser lida perantes todos por
asignasse [...] p.63-64 mim tabelião [...] p.66
339
1777 Joze Pinto Caetano Correa [...] por eu não poder escrever pedi e [...] testamento presenciousse Josê Ribeiro Leitor, escrevente Doente na cama
(português) roguei a Jose Ribeiro da Gama que este da Gama e que elle testador ditara e que e assinante
meo testamento escrevesse e depois de depois de escrito o lera todo e pelo achar
escrito o li todo e pelo achar a meo gosto [ilegível 2 palavras] a sua vontade na
na forma que o tinha mandado escrever e forma que o tinha ditado se assignara no
ditado me asignei ao pe delle de minha pe delle do seu próprio signal [...] p.97
propria firma de que uzo [...] p.96
1777 Luiz Carlos Pereyra [...] pedi e roguei a Antonio Alvarez [...] Lhe tinha escrito o Licenciado Assinante Doente na cama
Bastos este pr mim escrevesse elle Antonio Alvarez Bastos e ao depois de
escrevendo e eu ditando e depois de escrito lho lera huma e muitas vezes e
acabado me leu huma e muitas vezes e o pelo dito testador o achar escrito do modo
achei escrito da forma que o ditara por que o ditara o asinara com a sua própria
cuja razão o hei por meu bom e verdadeiro mão [...] p.10
testamento, ultima e derradeira vontade
por cuja razão o asinei junto com o dito
Escrivam [...] p.8-9
340
1778 Domingos Lopes Coelho Declaro que por não saber ler nem Documento incompleto Assinante Doente na cama
(português) escrever pedi e roguei ao Senhor Joze
Manoel de Oliveira que este testamento
meu escrevesse [...] me asignei ao pe
deste com minha própria firma de que
uso [...] p.49
1778 Domingos Peres Duque [...] por mim somente assignado asseito Documento danificado Assinante Documento
(português) por Jose da Silva a quem roguei este por danificado
mim fizesse e como testemunha assinace
[...] p.31
341
1778 Francisco Marques da [...] pedi e roguei a Mauricio Pereira de [...] que tinha mandado escrever por Leitor, escrevente Doente na cama
Silva (português) Barros [i 2 linhas] estando tudo conforme Mauricio Pereira de Barros e que elle dito e assinante
[ilegível] lhe ditei eu o asignei por minha testador o tinha ditado e nelle feito suas
mão [...] p.6 dispoziçõens e que depois de escrito lho
lera todo e por o achar muito da sua
vontade na forma que tinha ditado se
asignara de sua propria firma de que
usa [...] p.8
1778 Maria Rodrigues dos [...] pedy a Joam Mesias Rego que este me [...] Joam Mesias Rego o asignace por Não assinante doente mas de pé
Santos escreva por eu nam saber ler nem Ella dita Testadora nam saber ler nem
escrever [...] p.11 escrever [...] p.12
1779 Eleuteria Ramos de Jesus Roguei a Francisco de Oliveira este meu [...] fiz a rogo da testadora por me dizer Não assinante Doente na cama
testamento escrevesse e asignace por eu não saber ler nem escrever [...] p.41
não saber ler nem escrever [...] p.39
1779 Ignacia Rodrigues de Sá [...] por nam saber ler nem escrever [...] seu rogo asignasce por [ilegível] não Não assinante Doente mas de pé
rogo ao Senhor Manoel Nunes [Vianna] saber ler nem escrever Luis Ferreira da
por mim assignasse [...] p.69 Rocha [...] p.71
342
1781 Maria Avilar (casada com [...] por não saber escrever pedir e [...] que o mandara escrever por Jose Não assinante Doente, porém de
Salvador Coelho) roguei a Jose Antonio da Silva e Mello Antonio da Silva e Mello e depois de feito pé
este por mim fizesse assinasse presentes o lera e pelo achar estar muito a seu gosto
as testemunhas assinadas. p.16 e nele por todos assinados [ilegível] ultima
e derradeira vontade lhe pedira a seu
rogo assinasse por ela testadora por não
saber escrever [...] p.17
343
1781 Quitéria Rodrigues [...] por nam saber ler nem escrever [...] seu solenne testamento que o havia Não assinante Doente na cama
pedi e roguei a João Alvares Valle mandado [ilegível] por João Álvares
Guimaraens que este meo testamento me Guimaraens para desencargo de sua
escrevesse pondo nelle todas as minhas consciência por não saber o que Deos
disposiçõens e declarações e depois de Nosso Senhor della faria e quando seria
escrito servido de a levar para si e que depois de
Mandei ler todo [ilegível] ditto e pello escrito de o mandara ler e pello achar
achar a meo gosto e na forma que o havia conforme sua vontade e na forma que o
ditado lhe pedi asignasse por mim a meu havia ditado a seu rogo o mandou
rogo [...] p.89 assignar pello mesmo que o escreveu ao
pe delle [...] p.90-91
1783 Clara Maria de Almeida [...] não saber ler e nem escrever [...] havia escrito Francisco [Munis] da Não assinante Doente
[ilegível] a Francisco [Munis] da Cruz Cruz o qual depois de escrito lhe lera a
[ilegível] mim fizerem e em meu nome ella testadora [ilegível] tudo achar
[ilegível][corroído] Assigno a rogo da conforme o tinha ditado e a seu rogo o
Testadora D. Clara Maria de Almeida assignou por ella [corroído] nam saber
Francisco [Munis] da Cruz [...] p.17 ler nem escrever [...] p.18
344
1784 Felles de Andrade Maciel [...] por eu não saber escrever pedi e Não tem Assinante Doente na cama
(casado com Antonia roguei a meu compadre o Alferes Antonio
Ferreira de Jesus) Ferreira Dutra que este escrevesse e como
testemunha o asignace e pelo achar a meu
gosto depois de o ter tido por verdade e
validade me asignei do meu signal
costumado [...] p.130
1784 Francisca de Serqueira [...] por não saber ler nem escrever pedi [...] que o havia mandado escrever pello Não assinante Com pouca saúde
Pacheco e roguei [c] compadre o Alferes Antonio Alferes Antonio Ferreira Dutra e que por moléstia, mas
Ferreira Dutra [...] p.9 depois de lhe ser por elle lido e estar andando de pé
muito a seo gosto na forma que lhe havia
ditado a seo rogo o assignara Manuel
Zuzarte Homem por ella não saber ler e
escrever [...] p.8
1784 Francisco Dias Correia [...] por não poder escrever pedi e roguei [...] o testador asignado com o dito Leitor, escrevente Doente
ao Reverendo Licenciado Antonio Dias escrevente e ao pe do seo signal [...] p.16 e assinante
Coelho e Mello que este por mim fizesse e
como testemunha asignace e eu me
asignei com meu signal costumado.
p.14-15.
345
1785 Manoel Gonçalves Praça [...] pedi e roguei ao Padre quadjutor Não tem Assinante De cama enfermo
(português) Antonio Jose Barboza que este testamento
por mim escrevesse e depois [escritto] me
leu e pello achar a meu [gosto] na forma
que eu o ditei [corroído] [ilegível] meu
nome inteiro e meu signal costumado o
ditto Padre se asignou como testemunha.
p.136
1785 Verissimo Pereira de [...] que me asignei com meu signal [...] [...] mandou escrever [ilegível 3 Assinante Estando em
Lima (português) p.114 palavras] e que depois de escripto na perfeito juízo e
forma que o havia ditado [...] p.115 entendimento
1786 Antonio Martins Ferreira [...] por não poder escrever este meu [...] o asignou [...] p.174 Leitor, escrevente Doente de cama
(Padre) testamento pedi e roguei ao Padre e assinante
Alexandre [i] para escrever como ditei [...]
p.171
[...] assignei ao pe delle de minha
propria firma [...] p. 172
346
1793 Antonio Pereira de [...] por não querer escrever pedi e Documento incompleto Leitor, escrevente Em perfeito juízo
Vasconcellos roguei a Francisco Fellis[de Oliveira] e assinante e entendimento
[corroído] por mim fizesse e como
testemunha se asignasse e me asignei com
o meu signal [...]
1793 Archangela Pereira de [...] pedi e roguei a Quintiliano Correa de [...] dita testadora que por não saber ler Não assinante Doente de cama
Almeida Caldas este meo testamento escrevesse o nem escrever asignou a rogo o dito
qual o fez sendo por mim ditado e depois Quintiliano Correa de Caldas [...] p.31
de escrito me leo e pelo achar a meo gosto
e conforme lo ditei lhe roguei por mim
asignase por eu não saber ler nem
escrever [...] p.30
1794 Francisco Joze de Souza [...] Francisco Jose de Souza, como [...] testador asignado e ao pe de seu Leitor, escrevente Doente de cama
testemunho que este fiz Francisco Manoel signal [...] p.48 e assinante
de Salles [...] p.46
1794 Thereza da Motta [...] por não saber ler nem escrever pedi [...] mandado escrever por Timotheo Não assinante Estando de pé
e roguei a [Timotheo Bastos] Serqueira Bastos e que depois de escrito lhe lera e o sem doença
este escrevesse e como testemunha achara na forma que o havia ditado muito alguma
assinasse [...] p.7 a seu gosto e contento [...] p.8
348
1798 Felix Francisco Nunes [...] que não puder escrever este meu [...] a seu rogo lhe fizera o Reverendo Leitor, escrevente Bastantemente
testamento roguei ao Senhor Padre João Padre João da Silva Botelho elle dito e assinante doente e de cama
da Silva Botelho que este por mim fizesse escrevendo e o testador ditado e que
[corroído 2 linhas] conforme o ditei depois lhe mandou ler [ilegível] mesma
[ilegível] e so me assinei [...] p.10 forma que o havia ditado [ilegível] lhe ler
tudo [...] p.11
1798 Joze Alvarez da Roxa [...] pedi a Evaristo Joze de Amorim Não tem Leitor, escrevente Enfermo de cama
Ramos, que este por mim escrevesse em e assinante
que eu somente me asignei depois de o
ler e achar conforme havia ditado p.127
[...] pedi a Evaristo Joze de Amorim
Ramos, que este por mim escrevesse em
que eu somente me asignei depois de me
ser lido [...] p.13
349
1799 Domingos Lopes Ferreira [...] por nam saber escrever pedi e roguei [...] que havia mandado escrever por Assinante Doente, mas de pé
(português) a Francisco Jose Tavares este por mim Francisco Jose Tavares [...] asignou com
fizesse digo por mim escrevesse e como seu signal costumado [...] p.10
testemunha asignasse e eu me asignei
com o meu signal custumado de que
uso, nesta comarca [...] p.9
1799 Francisco Joze de Mello [...] pedi ao Senhor Antonio Reis que o [...] mandado escrever por Antonio Dias Assinante Doente de cama
escrevece e sendo por mim ao diante Coelho e Mello [...] p.9
asignado em presença das testemunhas
[...] p.8
1799 Joaquim Gomes Vedas [...] e por não poder escrever pedi a [...] o testador com o que escreveu ambos Leitor, escrevente Doente de cama
Rafael Barboza de Freitas este por mim asignados [...] p.4 e assinante
fizesse e eu me asigno com meu signal
costumado [...] p.3
1799 Serafim Mendes de Souza [...] pedimos a Evaristo Joze de Amorim [...] declarão e asignarão de seus Assinante Sãos sem moléstia
e Francisca Perpetua de Ramos que por nos escrevesse o que elle próprios punhos [...] p.15 alguma, andando
Almeida fez estando nos ambos prezentes, e a cada de pé
hum aceitando a sua vontade, ambos nos
asignamos. p.14
350
1800 Lourença Francisca de [...] roguei a meu sobrinho Francisco [...] no fim dellas tanto a testadora como Assinante Estando em
Andrade Teles Pacheco que este escrevesse o que quem o escreveu ambos asignados [...] perfeito juízo e
[ilegível] fez de tudo por eu não saber ler p.5 entendimento
e não saber escrever bem certo e depois
de escrito mo ler e achei muito conforme a
minha vontade na forma que havia ditado.
[ilegível] me asignei com o meu signal
[...] p.4
1800 Thomas Domingues da [...] pedi a Alexandre Rodrigues Vieira [...] Testador fes huma cruz [...] p.12 Assinava com Estando com
Silva (português) que por mim o escrevesse conforme o uma cruz saúde
ditei [corroído 1linha [...] p.10
Marquie de huma cruz meo signal
costumado nesta Povoação da Estância
[...] p.11
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos testamentos e inventários do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público Estadual de
Sergipe.
351
[...] em que asignou o Inventariante que por não saber Ler nem escrever
pedio e rogou a seu filho Alexandre Barrozo Pantoja [ilegível] que por ella
1749 Jozefa de Barros Não assinante
asignasse [...] p.4
Albano do Prado Pimentel (Capitão) [...] mandou o dito Juis fazer este termo de encerramento no qual com o
dito Inventariante cabesa do cazal com avaliadores do concelho assinou
1750 Leitor, escrevente e assinante
[...] p.80
Joze Gonçalves Tavora [...] mandou o ditto Juiz fazer este auto em que asignou com o dito
1751 Inventariante [...] p.2 Assinante
Antonio Dultra de Almeida (Capitão) [...] mandou o ditto Juiz fazer este auto em que asignou com o dito
1757 Inventariante [...] p.2 Leitor, escrevente e assinante
[...] mandou o dito Juis dos Orphãos fazer este Auto de inventario em que
asignou o Inventariante cabeça do casal que não saber ler nem escrever
1757 Joanna Martins pedio e Rogou a Luis de Andrade da Afonseca que este por ella asignase Não assinante
[...] p.. 3
[...] mandou fazer este termo em que asignou com a dita Inventariante
digo [ilegível] que por não saber Ler a seo rogo asinando Antonio
1758 Bernarda do Valle Cardozo Não assinante
Eustaquio da Silveira [...] p.8
João Rodrigues Lima [...] mandou o dito fazer este auto de Inventario em que se asignou com o
1762 dito Inventariante [...] p.2 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este auto em que asinou com o dito
1762 Valerio de Moura Gomes (Capitão mor) Inventariante [...] p.3 Leitor, escrevente e assinante
Maria Cardozo de Oliveira Rol dos bens feito e assinado por ela do próprio punho. p.12
1762 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este auto em que se asignou com o dito
Inventariante [...] p.3
1763 Manoel Moreira de Afonseca Assinante
353
[...] mandou o ditto Juis fazer este termo em que se asignou com a mesma
e os avaliadores e pella Inventariante não saber escrever asignou a seo
1764 Margarida da Franca Não assinante
rogo seo filho Joze Caetano [de Mello] p.9
[...] mandou o Juis fazer este auto em que asinou o dito inventariante que
1764 Jozefa Maria da Silva por não saber escrever asinou a seo Rogo Bernardo Dias Pereira[...] p.3 Não assinante
[...] por não saber escrever [corroído] a seo Rogo seu filho [Goncallo] de
Sâ Souto Maior [...] p.3
1765 Joana Maria de Andrade Não assinante
Antonio de Payva Lessa [...] mandou o dito Juis fazer este auto em que acinou com o dito
1765 Inventariante [...] p.2 Assinante
Francisco Pereira de Miranda (Sargento mor) [...] de tudo fiz este termo em que asignou o dito inventariante com o dito
1766 Ministro [...] p.23 Leitor, escrevente e assinante
Francisco Cardozo de Souza (Capitão) [...] mandou o Juis de orfoans fazer este termo em que asignou com o dito
1766 Tutor [...] p.6 Leitor, escrevente e assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este termo em que asignou com os ditos
avaliadores a Inventariante por ella declara que não sabe escrever asignou
1767 Maria Francisca Xavier Não assinante
a seo rogo o Reverendo Padre Pedro Alvares Telles [...] p.6
Bernardo Nunes da Mota [...] mandou o ditto Juis fazer este termo em que asignou com o dito
1768 Inventariante [...] p.2 Assinante
354
[...] mandou o dito Juis de Orphãos fazer este Auto de Inventario em que
[ilegível 4 palavras] dita Inventariante por ser mulher e não saber ler
1771 Roza Maria do Sol Não assinante
nem escrever asinou Antonio Alves da Silva [...] p.3
[...] mandou o dito Juis fazer este auto em que asinou com o dito
1776 Felippe Joze de Vasconcellos Inventariante [...] p.3 Assinante
Angelica Perpetua de Jezus (casada Manoel Mandou o dito Ministro fazer este auto em que asinou com a dita
1777 Joze Nunes Coelho de Vasconcelos e inventariante [...] p.4 Assinante
Figueiredo)
Angelica Perpetua de Jezus (nora de Manoel Mandou o dito Ministro fazer este auto em que asinou com a dita
1777 Joze de Vasconcelos e Figueiredo ) inventariante [...] p.4 Assinante
Angelica Perpetua de Jezus (casada com Luiz [...] mandou fazer este auto de Inventario em que asinou com o mesmo
1777 Carlos Pereyra) Inventariante [...] p.4 Assinante
Carlos Francisco de Jezus [...] mandou fazer este auto de Inventario em que asinou com o mesmo
1777 Inventariante [...] p.2 Assinante
Maria Jozefa de Rezende [...] mandou o dito Juis fazer este auto de Inventario no que asinou com a
1779 Não assinante
Inventariante [corroído] por rogo com a Inventariante [...] p.3
Francisco Coelho Documento apagado. p.4
1780 Assinante
Alexandre Lopes do Valle [...] mandou o dito Juis fazer este termo em que o mesmo asinou [...] p.3
1781 Assinante
355
[...] mandou o dito fazer este auto de Inventario em que se asignou com o
1783 Joze Ferreira Passos (Capitão mor) dito Inventariante [...] p.2 Leitor, escrevente e assinante
Luiz Pinto de Rezendes [...] mandou o Juis fazer este termo em que com elle asinou [...] p.28
1788 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este termo que com Ella asinou que por não
1788 Anacleta Rufina de Santa Anna Não assinante
saber escrever asinou a seu rogo Jose Venanacio da Silveira [...] p.45
Antonio Teixeira de Souza [...] mandou o dito Juis de Orfaos Escrivão digo de Orphans fazer este
termo em que digo fazer este Auto de Inventario em que asignou com o
1789 Assinante
dito Inventariante [...] p.2
[...] mandou fazer este auto de Inventario em que asinou com o mesmo
1789 Fellis de Andrade Maciel Inventariante [...] p.64 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este autos em que asinou com a Inventariante
1789 Maria Pereira de Jesus que por não saber escrever asinou a seu Rogo Ancelmo Ferreira de Gois Não assinante
[...] p.3
[...] mandou o dito Juis de Orfaos, fazer este Autto em que asignou, e pella
Inventariante ser mulher e não saber ler nem escrever asignou por Ella
1792 Antonia Maria de Ramos Não assinante
seu flho Bartholomeu dos Santos Lenho [...] p.3
356
[...] deferimento do dito Juis fazer este Auto em que asignou com
Inventariante por não saber Ler e nem escrever asinou e asinei Rogo seu
1792 Theodosia Gomes de Moura Não assinante
genro Luiz Manoel de Jezus [...] p.3
Antonio Joze de Almeida [...] mandou o dito Juis fazer este Auto de Inventario que assignou com o
1794 ditto Inventariante o que por não saber escrever o fes de cruz [...] p.2 Não assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este auto em que asinou com o dito
1793 Antonio Fellix de Oliveira Inventariante [...] p.2 Assinante
Joseph Correa Dantas (Sargento mor) [...] mandou o dito Juis de orphaos fazer este auto em que se asignou com
o dito Inventariante [...] p.3
1793 Leitor, escrevente e assinante
[...] mandou o diti Juis fazer este Auto de Incentario em que asignou com
a dita Inventariante que por não saber ler nem escrever pedio e rogou a
1793 Anna Joze Silva Não assinante
seo Irmão Francisco Telles de Jezus que por Ella asignou elle a seo Rogo
[...] p.3
Francisca Catharina Sotto Mayor [...] mandou o ditto Juis fazer estte auto que com a ditta Inventariante
1794 asinou [...] p.4 Assinante
357
Simião de Araujo Sandes [...] mandou o dito fazer este auto de Inventario em que se asignou com o
1794 dito Inventariante [...] p.1 Assinante
Antonio Cazimiro Leite (Juiz de Órfãos) [...] mandou fazer este termo com que asinou com o inventariante [...] p.15
1794 Leitor, escrevente e assinante
Francisco Xavier de Gouvea [...] mandou o dito Juis de Orphoans fazer este auto em que com o
1795 Inventariante asignou [...] p.3 Assinante
[...] mandou o dito Juiz fazer este auto de Inventario em que asignou de
nome inteiro pella inventariante ser mulher, e não saber ler nem escrever
1795 Januaria Teixeira Não assinante
[...] p.3
[...]mandou o ditto Juis fazer este Autto que aSignou não Saber Escrever
1795 Josefa Maria de Vasconsellos pella Inventariante asignou a seo Rogo o Alferes Antonio Soares Dias [...] Não assinante
p.1
[...] mandou fazer este termo e encerramento em que asignou com os
avaliadores com inventariante e que por não saber escrever asignou a seo
1796 Ignes Maria de Jesus Não assinante
Rogo Martinho Francisco Leal. p.6
Pedro Antonio de Oliveira [...] mandou o dito Juis fazer este auto de inventario em que asignou com
o dito Inventariante o qual por não saber escrever asignou de huma cruz
1796 [...] p.3 Não assinante
Maria Francisca de Freitas [...]mandou o dito Juis fazer este auto em que asinou com o dito
1796 inventariante [...] p.2 Assinante
358
Joze Soares Monteiro [...]mandou o dito Juis fazer este termo em que com elle asinou [...] p.2
1797 Assinante
Joze Sotero de Sá [...] mandou o dito Juis fazer este auto em que aSignaram o dito
inventariante [...] p.3
1798 Assinante
Manoel Francisco Nunez [...] o dito registro fazer este temo de enserramento em que asigou com o
dito inventariante [...] p.17
1798 Assinante
Antonio Gonçalves Guimaraes [...] mandou o dito fazer este auto de Inventario em que se asignou com o
1798 dito Inventariante [...] p.2 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este auto a que mandou juntar por traslado
1798 Bento Joze Nunes [ilegível] e asignou o dito Inventriante [...] p.3 Assinante
Francisco Vieira de Mello (Capitão) [...] fiz este Auto em que asignou o Inventariante [...] p.3
Inventariante do casal Serafim Mendes de
1799 Leitor, escrevente e assinante
Souza e Francisca Perpetua de Almeida
[...] mandou o dito Juis fazer este auto em que asinou com a dita
1799 Angelica Maria do Bom Sucesso Inventariante por não saber escrever asinou a seu Rogo o Licenciado Não assinante
Ignacio da Silveira [...] p.43
Não assina, quem assina a seu rogo é Manoel Joze Soutto. Documento
1799 Anna Luzia de Andrade muito apagado. Não assinante
359
Antonio Joze Correia [...] mandou o dito Juis de orfans fazer este auto de inventario em que com
1799 o dito Inventariante asignou [...] p.3 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este auto em que se asignou com o dito
1799 Manoel Lopes Ferreira Inventariante [...] p.2 Assinante
[...] mandou o dito Juis Ordinario fazer este auto em que se asignou com o
1800 Manoel Joze Nogueira da Costa dito Inventariante [...] p.3 Assinante
[...] mandou fazer este auto de Inventario em que asinou com o mesmo
Estacio Munis Barreto Inventariante [...] p.6
1800 Assinante
[...] mandou o dito Juis fazer este auto de Inventario que [ilegível]
Inventariante não saber escrever asignei a seu Rogo Manoel Ferreira da
1800 Thereza Maria de Jesus Não assinante
Silveira [...] p.2
[...] mandou o dito Juis fazer este autto que asignou pella Inventariante
não saber escrever asignou a seu rogo Antonio Carvalho de Oliveira [...]
1800 Francisca de Serqueira Dantas p.4 Não assinante
360
Manoel Joze dos Santos [...] mandou o ditto Juis fazer este Auto de inventario que asignou com o
1800 Inventariante que o fes de cruz por declarar não sabia escrever [...] p.2 Assinante com uma cruz
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos inventários do século XVIII existentes no Arquivo Geral do Judiciário e no Arquivo Público do Estado de Sergipe
361
1726 Micaella Cardoso de Jesus Assina com uma cruz Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1730 Diogo Pereira da Silva Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado A rogo de Joana Pereira
de Itabaiana dos Reis
1730 Estevão Gomes de Moura Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Testador
de Itabaiana
1730 Joana Pereira dos Reis Não assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1732 Francisco Miguel da Silveira Assinante Povoação da Estância do Não identificado A rogo de Izabel da
Termo da Vila Real de Santa Rocha Barboza
Luzia
1732 Izabel da Rocha Barboza Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1741 Antonio Almeida Maciel Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Capitão Inventariado
de Itabaiana
362
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1741 Ursulla de Menezes Vianna Não assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1749 Alexandre Barrozo Pantojo Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado A rogo de Jozefa de
de Itabaiana Barros
1749 Jozefa de Barros Não assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1749 Luis Barroso Pontoja (português) Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Capitão-mor Testador
de Itabaiana
1750 Albano do Prado Pimentel Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Capitão Inventariante
de Itabaiana
1751 Joze Gonçalves Tavora Assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado Inventariante
Rio de São Francisco
1752 Domingos Goncalves Lima Assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado A rogo de Leonor
Rio de São Francisco Rodrigues Fraga
1752 Leonor Rodrigues Fraga Não assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1753 Francisco Cardoso de Souza Leitor, escrevente e assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado A rogo de Izabel de
Rio de São Francisco Barros Lima
1753 Izabel de Barros Lima Não assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado Inventariante
Rio de São Francisco
1755 Joze Cardozo de Vasconsellos Leitor, escrevente e assinante Vila Real de Santa Luzia Alferes Inventariante
1755 Manoel Nunes de Azevedo Assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
(português)
363
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1757 Antonio Dultra de Almeida Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Capitão Inventariante
de Itabaiana
1757 Ignacio da Costa Feijo Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Testador
de Itabaiana
1757 Joanna Martins Não assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1757 Luis de Andrade da Afonseca Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado A rogo de Joanna Martins
de Itabaiana
1758 Antonio Eustaquio da Silveira Assinante Povoação da Estância do Não identificado A rogo de Bernarda do
Termo da Vila Real de Santa Valle Cardozo
Luzia
1758 Bernarda do Valle Cardozo Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1762 Alexandre Gomes Ferrão Leitor, escrevente e assinante Vila Nova Real de El Rey do Coronel Inventariado
Castelobranco Rio de São Francisco
1762 Clara Martins de Castro Assina com uma cruz Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Testador
de Itabaiana
1762 João Rodrigues Lima Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1762 Maria Cardozo de Oliveira Assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado Inventariante
Rio de São Francisco
1762 Maria Jose da Conceiçam Assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado Testador
Rio de São Francisco
1762 Valerio de Moura Gomes Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Capitão mor Inventariante
de Itabaiana
364
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1763 Domingos Salgado de Araujo Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Padre Testador
(português) de Itabaiana
1763 Manoel Moreira de Afonseca Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1764 Bernardo Dias Pereira Assinante São Cristóvão Não identificado A rogo de Jozefa Maria da
Silva
1764 Fellipe Joze Vanique Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1764 Joze Caetano de Mello Assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado A rogo de Margarida da
Rio de São Francisco Franca
1764 Joze Frique do Prado Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Alferes Testador
1764 Jozefa Maria da Silva Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1764 Margarida da Franca Não assinante Vila Nova Real de El Rey do Não identificado Inventariante
Rio de São Francisco
1764 Maria da Afonseca Não assinante Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
Piedade do Lagarto
1765 Antonio de Payva Lessa Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1765 Goncallo de Sâ Souto Maior Assinante São Cristóvão Não identificado A rogo de Joana Maria de
Andrade
365
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1765 Joana Maria de Andrade Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1765 Thereza Rodrigues de Jesus Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1766 Francisco Cardozo de Souza Leitor, escrevente e assinante Vila Nova Real de El Rey do Capitão Inventariante
Rio de São Francisco
1766 Francisco Pereira de Miranda Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Sargento mor Inventariante
Brotas
1766 João da Rocha Codeyro Assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1767 Benta do Rozario Não assinante Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
Piedade do Lagarto
1767 Joze de Goes Teles Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Tenente Inventariado
Brotas
1767 Maria Francisca Xavier Não assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1767 Paschoal Mendes Pereira Leitor, escrevente e assinante Vila de Nossa Senhora da Alferes Testador
Piedade do Lagarto
1767 Pedro Alvares Telles Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Padre A rogo de Maria
Brotas Francisca Xavier
1768 Bernardo Nunes da Mota Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1770 Barnabe Martins Fontes Leitor, escrevente e assinante Vila de Nossa Senhora da Capitão-mor Testador
Piedade do Lagarto
1771 Anna Paes Tellis Assina com uma cruz Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
Piedade do Lagarto
366
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1771 Antonio Alvares da Silveira Assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado A rogo Roza Maria do Sol
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1771 Hypolita Maria da Conceição Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1771 Manoel de Afonseca de Araújo Leitor, escrevente e assinante Vila de Nossa Senhora da Padre Testador
Piedade do Lagarto
1771 Roza Maria do Sol Não assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1772 Salvador Coelho da Silva Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1773 Joanna Veronica do Sacramento Assina com uma cruz Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
Piedade do Lagarto
1773 José Daniel de Carvalho Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
(português) Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1773 Manoel da Rocha Rios Assinante São Cristóvão Não identificado Testador
(português)
1774 Anna de Andrade Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1774 Apollonia Soares dos Prazeres Assina com uma cruz Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1774 Bernabe Ferreyra dos Reys Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
367
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1774 Eleuterio Gomes de Sá Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1774 Joze Pinheiro Lobo Leitor, escrevente e assinante Vila Nova Real de El Rey do Capitão Testador
Rio de São Francisco
1774 Manoel Rodrigues de Carvalho Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Alferes Testador
(português)
1774 Maria Telles da Silva e Menezes Assinante Vila Nova Real D’El Rey do Não identificado Testador
Rio de São Francisco
1775 Joam Moreira de Meyrelles Não assinante Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
(cego) Piedade do Lagarto
1775 Maria de Oliveyra do Sacramento Não assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1775 Maria Perpetua do Espirito Santo Não assinante Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
Piedade do Lagarto
1776 Antonio Gonçalves Colaco Leitor, escrevente e assinante Vila de Nossa Senhora da Alferes Testador
Piedade do Lagarto
1776 Felippe Joze de Vasconcellos Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1776 Gonçalo Gomes Lobato Assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1776 Gonçalo Tavares de Mello Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Capitão Testador
Brotas
1776 Marta da Costa Aranha Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1777 Angelica Perpetua de Jesus Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
(casada com Luiz Carlos Pereyra) de Itabaiana
368
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1777 Angelica Perpetua de Jezus Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
(casada Manoel Joze Nunes de Itabaiana
Coelho de Vasconcelos e
Figueiredo e nora de Manoel Joze
de Vasconcelos e Figueiredo )
1777 Antonia Neto de Sam Joam Não assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1777 Antonio da Costa Roza Assinante São Cristóvão Não identificado/padre? Testador
(português)
1777 Carlos Francisco de Jezus Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1777 Joze Pinto Caetano Correa Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
(português) Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1777 Luiz Carlos Pereyra Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Alferes Testador
de Itabaiana
1777 Manoel Joze Nunes Coelho de Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Coronel Testador
Vasconcelos e Figueiredo de Itabaiana
1778 Antonio de Almeida Doria Leitor, escrevente e assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1778 Domingos Lopes Coelho Assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
(português) Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1778 Domingos Peres Duque Assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
(português)
1778 Francisca dos Santos Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
369
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1778 Francisco Marques da Silva Leitor, escrevente e assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
(português)
1778 Maria Rodrigues dos Santos Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1779 Eleuteria Ramos de Jesus Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1779 Ignacia Rodrigues de Sá Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1779 Maria Jozefa de Rezende Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1780 Francisco Coelho Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1780 Joanna Francisca Ramos Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1780 Manoel Francisco da Cruz Leitor, escrevente e assinante Vila Real de Santa Luzia Padre Testador
1781 Alexandre Lopes do Valle Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1781 Antonio Ferreira Dutra Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Alferes A rogo de Barbara Maria
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1781 Barbara Maria Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
370
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1781 Elena da Silva Ramos Assina com uma cruz Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1781 Genoveva Maria das Flores Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariado
1781 Maria Avilar Não assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1781 Maria Jozefa Assina com uma cruz Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1781 Quitéria Rodrigues Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1783 Clara Maria de Almeida Não assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1783 Francisco de Souza Campos Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1783 Joze Ferreira Passos Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Capitão mor Inventariante
Brotas
1783 Manoel Francisco de Oliveira Leitor, escrevente e assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
(português)
1784 Francisca de Serqueira Pacheco Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1784 Francisco Dias Correia Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1784 Manoel Joze de Almeida Feyo Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
371
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1784 Maria Madalena Paes Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1785 Manoel Gonçalves Praça Assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
(português) Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1785 Verissimo Pereira de Lima Assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
(português) Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1786 Antonio Martins Ferreira Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Padre Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1786 Joam da Cruz Conrado Leitor, escrevente e assinante Vila de Nossa Senhora da Padre Testador
(português) Piedade do Lagarto
1788 Anacleta Rufina de Santa Anna Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1788 Jose Venanacio da Silveira Assinante São Cristóvão Não identificado A rogo de Anacleta
Rufina de Santa Anna
1788 Luiz Pinto de Rezendes Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1788 Luiza Maria de Torres Não assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1789 Ancelmo Ferreira de Gois Assinante São Cristóvão Não identificado A rogo de Maria Pereira
de Jesus
372
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1789 Antonia Ferreira de Jesus Assina com uma cruz Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1789 Antonio Teixeira de Souza Assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1789 Fellis de Andrade Maciel Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1789 Maria Pereira de Jesus Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1790 Anna Maria da Victoria Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1790 Antonio Simoens dos Reis Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Capitão Inventariado
1790 Escolastica de Almeyda de Não assinante São Cristóvão Não identificado Testador
Mendonça
1790 Jose Caetano da Silveira Nolete Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão * Escrivão A rogo de Anna Maria da
Victoria
1792 Antonia Maria de Ramos Não assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1792 Antonio do Espírito Santo Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Capitão-Mor das Entradas Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
373
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1792 Bartholomeu dos Santos Lenho Assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado A rogo de Antonia Maria
Real de El Rey do Rio São de Ramos
Francisco
1792 Bento Vieira de Britto Assinante Vila Nova de Santo Antonio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1792 Ignacio Rodrigues Campos Assina com uma cruz Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1792 Luiz Manoel de Jezus Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado A rogo de Theodosia
Brotas Gomes de Moura
1792 Theodosia Gomes de Moura Não assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1793 Antonio Correia Dantas Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Padre Inventariado
de Itabaiana
1793 Antonio Felix de Oliveira Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1793 Archangela Pereira de Almeida Não assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1793 Francisco Telles de Jezus Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado A rogo de Anna Joze
de Itabaiana Silva
1793 Joseph Correa Dantas Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Sargento mor Inventariante
de Itabaiana
1793 Manoel da Conceição de Jezus Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1794 Antonio Cazimiro Leite Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Juiz de Órfãos Inventariante
374
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1794 Antonio Fernandes Beires Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Sargento mor Inventariado
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1794 Antonio Joze de Almeida Assina com uma cruz Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1794 Francisca Catharina Solto Maior Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1794 Francisco Joze de Souza Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Alferes Testador
de Itabaiana
1794 Joze Teles de Menezes Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1794 Manoel Felix Pereira Assina com uma cruz Vila Nova de Santo Antonio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1794 Simião de Araujo Sandes Assinante Vila de Nossa Senhora da Não identificado Inventariante
Piedade do Lagarto
1794 Thereza da Motta Não assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1795 Felippe de Mello Pereira Leitor, escrevente e assinante Vila Nova de Santo Antonio Juiz A rogo de Januaria
Real de El Rey do Rio São Teixeira
Francisco
1795 Felles de Andrade Maciel Assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
1795 Francisco Xavier de Gouvea Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
375
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1795 Januaria Teixeira Não assinante Vila Nova de Santo Antônio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1795 Joaquim Joze Braque Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Capitão Inventariado
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1795 Josefa Maria de Vasconsellos Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1795 Maria Francisca da Silveira Assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1796 Anna Maria Menezes Não assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Testador
de Itabayana
1796 Antonio Pereira de Vasconcellos Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1796 Gonçalo Luis Teles de Menezes Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Tenente Inventariado
de Itabaiana
1796 Ignes Maria de Jesus Não assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1796 Manoel Caetano do Lago Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Coronel Inventariado
1796 Manoel de Jesus Barreto Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Tenente Coronel Inventariante
1796 Maria Francisca de Freitas Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1796 Martinho Francisco Leal Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado A rogo de de Ignes Maria
Brotas de Jesus
376
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1796 Pedro Antonio de Oliveira Assina com uma cruz Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1796 Vicente Joze de Menezes Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Tenente Inventariante
de Itabaiana
1797 Joze Soares Monteiro Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1797 Thereza Maria de Jesus Assinante Povoação da Estância do Não identificado Testador
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1798 Antonio Gonçalves Guimaraes Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1798 Bento Joze Nunes Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1798 Felix Francisco Nunes Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1798 Joze Alvarez da Roxa Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Capitão Testador
1798 Joze Sotero de Sá Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1798 Manoel Francisco Nunez Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1799 Angelica Maria do Bom Sucesso Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1799 Anna Joze Silva Não assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Inventariante
de Itabaiana
1799 Anna Luzia de Andrade Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
377
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1799 Antonio Joze Correia Assinante Vila Nova de Santo Antônio Não identificado Inventariante
Real de El Rey do Rio São
Francisco
1799 Antonio Pereira de Vasconcellos Leitor, escrevente e assinante Vila de Nossa Senhora da Não identificado Testador
(português) Piedade do Lagarto
1799 Domingos Lopes Ferreira Assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Testador
(português)
1799 Francisca Perpetua de Almeida Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Testador
de Itabaiana
1799 Francisco Joze de Mello Assinante São Cristóvão Não identificado Testador
1799 Francisco Vieira de Mello Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Antonio e Almas Capitão Inventariante
(inventariante de Francisca de Itabaiana
Perpetua de Almeida)
1799 Inacio da Silveira Leitor, escrevente e assinante São Cristóvão Licenciado (advogado) A rogo de Angelica Maria
do Bom Sucesso
1799 Joaquim Gomes Vedas Leitor, escrevente e assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1799 Manoel Joze Puzada Assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1799 Manoel Joze Soutto Assinante São Cristóvão Não identificado A rogo de Anna Luzia de
Andrade
1799 Manoel Lopes Ferreira Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1799 Serafim Mendes de Souza e Assinante Vila de Santo Antonio e Almas Não identificado Testador
Francisca Perpetua de Almeida de Itabaiana
378
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1800 Antonio Carvalho de Oliveira Assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado A rogo de Francisca de
Serqueira Dantas
1800 Antonio Carvalho de Oliveira Leitor, escrevente e assinante Vila Real de Santa Luzia Capitão Inventariado
1800 Antonio de Freittas Goes Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1800 Estacio Munis Barreto Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Inventariante
Brotas
1800 Francisca de Serqueira Dantas Não assinante Vila Real de Santa Luzia Não identificado Inventariante
1800 Francisca Xavier de Menezes Não assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1800 Francisco Simoens de Avelar Leitor, escrevente e assinante Povoação da Estância do Tenente Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1800 Lourença Francisca de Andrade Assinante Vila de Santo Amaro das Não identificado Testador
Brotas
1800 Luisa Francisca Barbosa Não assinante São Cristóvão Não identificado Inventariante
1800 Manoel Ferreira da Silveira Assinante Povoação da Estância do Não identificado A rogo de Thereza Maria
Termo da Vila Real de Santa de Jesus
Luzia
379
Cargo Observações
Ano Nome Capacidades alfabéticas Localidade
1800 Manoel Joze dos Santos Assina com uma cruz Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1800 Manoel Joze Nogueira da Costa Assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1800 Thereza Maria de Jesus Não assinante Povoação da Estância do Não identificado Inventariante
Termo da Vila Real de Santa
Luzia
1800 Thomas Domingues da Silva Assina com uma cruz Povoação da Estância do Não identificado Testador
(português) Termo da Vila Real de Santa
Luzia
Fonte: Elaboração da pesquisadora, a partir dos inventários e testamentos do século XVIII do Arquivo Geral do Judiciário e do Arquivo Público Estadual de
Sergipe.