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EXCELENTÍSSIMO SR. DR.

MINISTRO PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

FRANCISCO DOMINGOS DOS SANTOS, brasileiro, casado, Deputado


Distrital, RG 522.772 –SSP/DF, CPF 297.313.721-72, com domicílio profissional no Edifício
Sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Gabinete 09, situado na Praça Municipal -
Quadra 2 - Lote 5 - CEP: 70.094-902; ARLETE AVELAR SAMPAIO, brasileira, solteira,
Deputada Distrital, portador do R.G 270.138 e do CPF 057330141-72, com domicílio
profissional no Edifício Sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Gabinete 16, situado
na Praça Municipal - Quadra 2 - Lote 5 - CEP: 70.094-902; LEANDRO ANTÔNIO GRASS
PEIXOTO, brasileiro, casado, Deputado Distrital, portador do R.G 2.168.161 e do CPF
000.143.601-52, com domicílio profissional no Edifício Sede da Câmara Legislativa do Distrito
Federal, Gabinete 13, situado na Praça Municipal - Quadra 2 - Lote 5 - CEP: 70.094-902, e-
mail: leandrograss@gmail.com; FÁBIO FELIX SILVEIRA, brasileiro, solteiro, Deputado
Distrital, portador do R.G 2.368.461 e do CPF 010.806.391-79, com domicílio profissional no
Edifício Sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Gabinete 13, situado na Praça
Municipal - Quadra 2 - Lote 5 - CEP: 70.094-902; REGINALDO VERAS COELHO,
brasileiro, casado, Deputado Distrital, inscrição eleitoral nº 797.420.2054, RG nº 1161448,
SSP/DF, CPF nº 635.010.151-00, domiciliado no Distrito Federal, na Praça Municipal –
Quadra 2, lote 5, Gabinete 12, 3º andar, Zona Cívico-Administrativa, Brasília/DF, CEP 70.094-
902 , e-mail contato@deputado.reginaldoveras.com.br , com endereço profissional em Praça
Municipal - Quadra 02 - lote 05 - Gabinete 12 - 4º andar, CEP: CEP 70.094-902, por seus
procuradores infra-assinados (advogados com escritório profissional em Brasília/DF, SCE/S
CENTRO DE LAZER BEIRA LAGO TR 2 CJ 39 - CEP 70.200-002, Asa Sul, Brasília-DF,,
com fundamento no artigo 102, I, “l”, da Constituição da República, artigos 988 e seguintes do
CPC e artigos 156 a 162 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, ajuizar a presente

RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL COM PEDIDO CAUTELAR

em face do Edital de Leilão nº 01/2020 da CEB DISTRIBUIÇÃO, com Sessão


Pública de Leilão marcada para 04/12/2020, que viola a autoridade do julgado desse Egrégio
Supremo Tribunal Federal proferido nos autos de Ação Direta de Inconstitucionalidade
5.624/DF, julgada em conjunto com as ADI‟s 5.846/DF e 5.924/MG, conforme os fatos e
fundamentos que passa a expor.
I- PRELIMINAR DE ADMISSIBILIDADE

A presente Reclamação volta-se contra a utilização pela Companhia Energética


de Brasília - CEB de estratagema para a alienação de sua subsidiária CEB Distribuição S.A.,
que responde a 96% da Receita Bruta do grupo, o que implicará necessariamente no
esvaziamento do grupo como um todo, alienando-a sem prévia autorização legislativa, em
burla objetiva ao comando do acórdão prolatado pelo STF na proferida na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 5624 e de advertências estampadas nos votos de Ministros da
Suprema Corte, bem como à previsão do artigo 19, inciso XVIII e parágrafo 7º da Lei Orgânica
do Distrito Federal, cuja inconstitucionalidade não foi declarada por esta Suprema Corte,
permanecendo vigente.

A decisão desta colenda Corte foi descumprida pelo Edital de Leilão 01/2020 da
CEB Distribuição, com Sessão Pública de Leilão marcada para 04/12/2020, que pretende
alienar, sem prévia autorização legal, o controle acionário de alienar 100% (cem por cento) do
controle acionário da CEB-Distribuição, cujo controle acionário é exercido pela Companhia
Energética de Brasília.

Para confirmar o fato de que a Companhia Energética de Brasília é acionista


única da empresa que será leiloada, basta consulta à composição societária disponível do
próprio site da CEB, de onde se extraiu o quadro abaixo1:

1
Disponível em: <http://www.ceb.com.br/index.php/institucional-ceb-separator/estrutura-societaria-ceb>
Consulta em 25/11/2020, 11:39 hs.
O ato reclamado (leilão do controle acionário da subsidiária integral), no caso,
reveste-se de ilegalidade e de desvio de finalidade, visto que caso concretizado o ato, a
Companhia Energética de Brasília (CEB) praticamente deixa de existir, como demonstrado pela
representação numérica do quanto a distribuidora significa para a CEB holding como um todo,
com aproximadamente 96% das receitas de sua controladora e 89% de todos os
funcionários de todo o grupo CEB.

Tal procedimento frauda e contrasta com a compreensão jurídica estampada na


decisão da ADI 5.624-MC/REF, ao passo em que consignou-se, na oportunidade do
julgamento, que a venda de participações nas subsidiárias de molde a esvaziar
completamente o patrimônio da empresa-mãe configura desvio de finalidade. Nessa
esteira, é cabível o instrumento da Reclamação Constitucional para elidir a aplicabilidade e
vinculação do precedente supramencionado ao caso que aqui se apresenta.

Como ensina, em sede doutrinária, o Ministro Gilmar Mendes, “o caráter


transcendente do efeito vinculante impõe que sejam considerados não apenas o conteúdo
da parte dispositiva da decisão, mas também a norma abstrata que dela se extrai, isto é, a
proposição de que determinado tipo de atuação, conduta ou regulação – e não apenas aquela
objeto de pronunciamento jurisdicional – é constitucional ou inconstitucional e deve, por isso,
ser preservado ou eliminado.”2

Sendo assim, havendo a prática de atos que desafiam a autoridade de julgado


dotado de eficácia geral e vinculante, inequívoco o cabimento da Reclamação, à luz do art. 988,
incisos II e III, do Código de Processo Civil.

II. LEGITIMIDADE

Na Rcl 1.880 (AgRg e QO), da relatoria do Min. Maurício Corrêa, o STF


decidiu que todos aqueles que forem atingidos por decisões contrárias ao entendimento
firmado pela Corte no julgamento de ação direta de inconstitucionalidade são partes legítimas
para a propositura de reclamação.

Dessa forma, indubitável a legitimidade dos deputados distritais ora


subscreventes, que se encontram na condição de diretamente prejudicados pela errônea

2
MENDES, Gilmar Ferreira; GONET, Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 14ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2019, p. 2.330.
aplicação do decidido na ADI 5.624, na medida em que o ato reclamado subtrai a
competência legislativa dos eleitos para compor a Câmara Legislativa do Distrito Federal,
notadamente a prerrogativa de deliberar, de maneira concorrente, sobre matéria de direito
econômico, (art. 24, inciso I, da Constituição Federal) e, consequentemente, deliberar sobre a
privatização das estatais no âmbito do Distrito Federal, como se explica adiante.

Tratando-se, portanto, de órgãos afetados e atingidos pelo ato contrário à


orientação fixada pelo Supremo Tribunal Federal, dispõem os Deputados Distritais de
legitimidade para promover a presente reclamação, em observância à previsão do art. 988 do
CPC.

Importa frisar também que os peticionários detêm o múnus público de velar pelo
respeito às prerrogativas parlamentares, precipuamente, no que tange ao dever de fiscalizar e
agir para que não haja aviltamento às atribuições conferidas privativamente ao Poder
Legislativo pela Carta Fundamental de 1988 e, no caso concreto, às prerrogativas constantes da
Lei Orgânica do Distrito Federal, especialmente porque a presente ação discute o
desatendimento de autorização legislativa distrital para a venda de ações de subsidiária de
empresa pública do DF.

A intervenção direta do Estado na ordem econômica, por meio de estatais, segue


imperativos de relevante interesse coletivo e de segurança nacional, e tem como fim último o
desenvolvimento nacional (art. 3º, inciso II; art. 173; CF/88). A concretização política desses
valores está confiada ao povo brasileiro, por intermédio do Poder Legislativo. É pela voz de
representantes eleitos periodicamente que a população escolhe, em cada momento histórico,
qual será o grau e a extensão dessa forma de participação na ordem econômica.

Por isso, a Constituição atribuiu ao Parlamento a competência de autorizar a


instituição e a extinção de empresas públicas e de sociedades de economia mista, bem como
impôs autorização legislativa para a criação de subsidiárias, ainda que se admita uma
autorização genérica. Em linha complementar, a Lei Orgânica do Distrito Federal, em
consequência da competência concorrente para legislar em matérias de direito econômico,
definiu a necessidade de autorização legislativa, por meio de lei específica aprovada por dois
terços dos membros da Câmara Legislativa Distrital, como prevê de forma expressa e cristalina
a Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF) em seu artigo 19, inciso XVIII e parágrafo 7º 3.

3
Art. 19.
(...)
Não se pode prescindir, portanto, do controle político do Legislativo Distrital, o
único com legitimidade democrática para avalizar decisões impactantes e estratégicas para o
patrimônio do Distrito Federal – e muitas vezes de consequências irreversíveis –, como é o caso
do da distribuição de energia elétrica no Distrito Federal.

No caso em questão, o Legislativo Distrital está sendo alijado, por meio de


expedientes eivados de desvio de finalidade, de participar de um processo de disposição
patrimonial altamente impactante para a população do Distrito Federal. Saliente-se que a
subsidiária que se pretende alienar representou, em 2019, 96% das receitas de sua
controladora, detendo ainda 89% dos funcionários do Grupo CEB, o que demonstra que a
subsidiária é muito maior que a própria controladora, conforme dados divulgados pela própria
Companhia (Relatório da Administração Ano 2019).

Ressalte-se que não se está – neste momento – a questionar a viabilidade e


necessidade de privatização da CEB Distribuição S.A., mas tão somente a necessidade de que
essa decisão relevantíssima para toda a população do DF seja tomada mediante a participação –
constitucionalmente indispensável – da Câmara Legislativa Distrital.

Por todos esses fatores, sobeja a legitimidade de agir dos Deputados Distritais.

III. DOS FATOS

O ato que se reclama é o Edital de Leilão nº 01/2020 do BNDES e da CEB,


publicado no Diário Oficial do Distrito Federal nº 210, de 06 de Novembro de 2020, em fl.19,
com vista à alienação de 100% (cem por cento) do controle acionário da CEB-Distribuição.
(Edital em anexo).

O edital publicado pelo BNDES e pela CEB visa alienar 100% (cem por cento)
do controle acionário da CEB-Distribuição. Ocorre que referida privatização não foi precedida
de autorização legislativa, por meio de lei específica aprovada por dois terços dos membros da

XVIII – somente por lei específica pode ser:


a) criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo a lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
b) transformada, fundida, cindida, incorporada, privatizada ou extinta entidade de que trata a alínea a;
(...)
§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou sociedade de economia mista a que se refere o inciso
XVIII deste artigo, a lei específica dependerá de aprovação por dois terços dos membros da Câmara Legislativa.
(Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 59, de 2010.)
Câmara Legislativa Distrital, como prevê de forma expressa e cristalina a Lei Orgânica do
Distrito Federal (LODF) em seu artigo 19, inciso XVIII e parágrafo 7º4.

A CEB argumenta que a não observância das determinações expressas do artigo


19, inciso XVIII e o parágrafo 7ª da Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF) encontra abrigo e
fundamento em suposta observância aos parâmetros traçados pelo Supremo Tribunal Federal na
ADI 5.624/DF, na qual o plenário do STF referendou parcialmente medida cautelar deferida
pelo Ministro Ricardo Lewandoski, quando o Supremo analisou a constitucionalidade do inciso
XVIII do art. 29 da Lei Federal 13.303/2016 (lei das estatais), para lhe conferir interpretação
conforme à Constituição em situações que versem sobre a compra e venda de ações sem
necessidade de licitação.

Ocorre que, conforme se verá a seguir, tais parâmetros não possuem


aplicabilidade à CEB Distribuição, cuja privatização obrigatoriamente precisa ser apreciada
e deliberada pelo Poder Legislativo Distrital, por três motivos:

(i) a ADI 5.624/DF julgou estritamente a legalidade do art. 29 da Lei Federal


13.303/2016, não tendo estendido qualquer efeito ou interpretação a lei de
competência de ente federado, em particular no caso concreto à Lei Orgânica
do Distrito Federal;

(ii) a CEB Distribuição, dada sua importância para a composição da “empresa-


mãe” (CEB Holding), demonstra uma evidente deformação daquilo que se
entende por uma relação entre empresa controlada e controladora nos termos
do que foi definido pelo STF; e

(iii) o Distrito Federal goza de competência concorrente para legislar sobre


matérias de direito econômico e sobre sua organização política e
administrativa, nos termos do art. 24, inciso I da CF, razão pela qual as
disposições da Lei Federal 13.303/16 se aplicam de forma geral e as
disposições da Lei Orgânica Distrital se aplicam de forma específica, em
perfeita harmonia e não em confronto.

4
LODF ; Art. 19. ... XVIII – somente por lei específica pode ser:
a) criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo a lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;

b) transformada, fundida, cindida, incorporada, privatizada ou extinta entidade de que trata a alínea a;
§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou sociedade de economia mista a que se
refere o inciso XVIII deste artigo, a lei específica dependerá de aprovação por dois terços dos
membros da Câmara Legislativa. (Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 59, de 2010.)
Em nenhum momento a constitucionalidade da Lei Orgânica do Distrito Federal
foi questionada ou colocada em dúvida pelo Supremo no julgamento da ADI 5.624/DF, sendo
certo que segue válida em nosso ordenamento jurídico devendo ser observada pelo BNDES e
pela CEB, no procedimento de desestatização da CEB-Distribuição, como se demonstrará a
diante.

IV. DO DIREITO
IV. a) Violação ao decidido pelo plenário na ADI 5.624/DF

Como pontuado anteriormente, a justificativa das Rés para furtar-se de submeter


a privatização da CEB-D ao crivo do Legislativo se dá em decorrência de utilização errônea de
precedente do Supremo Tribunal Federal (ADI 5.624/DF) e, para início do debate, necessário
aqui delimitar o alcance da matéria analisada pelo Supremo Tribunal Federal, para que não seja
invocado precedente cujos fundamentos determinantes não se identificam com as
circunstâncias fáticas que deverão ser analisadas.

Pois bem. A impossibilidade de vinculação ao posicionamento proferido pelo


STF na ADI 5.624/DF ao caso concreto pauta-se inicialmente no fato de que no julgamento da
ADI em questão esta Suprema corte analisou unicamente a constitucionalidade do inciso XVIII
do art. 29 da Lei Federal 13.303/2016 (lei das estatais), para lhe conferir interpretação
conforme à Constituição.

O julgamento da ADI 5.624/DF analisou apenas e tão somente a


constitucionalidade do inciso XVIII do art. 29 da Lei Federal 13.303/2016, para lhe conferir
interpretação conforme à Constituição. O Acórdão do Julgamento é claro em delimitar o
objeto de julgamento. Assim dispõe a ementa do julgamento:

No mérito, em razão de voto médio, referendar, em parte, a medida cautelar


anteriormente parcialmente concedida pelo Ministro Ricardo Lewandowski
(Relator), para conferir ao art. 29, caput, inc. XVIII, da Lei nº 13.303/2016
interpretação conforme à Constituição Federal, nos seguintes termos:
I – A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de
economia mista exige autorização legislativa e licitação pública.
II – A transferência do controle de subsidiárias e controladas não exige a
anuência do Poder Legislativo e poderá ser operacionalizada sem processo de
licitação pública, desde que garantida a competitividade entre os potenciais
interessados e observados os princípios da administração pública constantes
do art. 37 da Constituição da República.
Desse modo, no julgamento da ADI 5.624/DF o plenário do Supremo debateu
sobre a constitucionalidade específica do inciso XVIII art. 29 da Lei das Estatais, que versa
sobre a compra e venda de ações sem necessidade de licitação, determinando ao final que para
ser considerada constitucional deve obedecer ao rito que foi definido no acórdão daquele
julgamento.
Em nenhum momento a constitucionalidade da Lei Orgânica do Distrito
Federal foi questionada ou colocada em dúvida, portanto completamente alheia ao conteúdo do
que foi julgado pela Suprema Corte, sendo certo que segue válida e plenamente eficaz em
nosso ordenamento jurídico.

A decisão desta Suprema Corte na ADI 5.624/DF concedeu uma


“possibilidade” de privatização às subsidiárias das empresas estatais sem a exigência de
anuência do Poder Legislativo, quando essas empresas forem reguladas apenas pela Lei
Federal 13.303/2016, o que abrange todas as estatais federais e eventualmente aquelas de
outros entes federativos que não possuam legislação mais específica, o que não acontece com
as empresa públicas distritais, que devem respeito também ao regido no artigo 19, inciso XVIII
e parágrafo 7º da Lei Orgânica do Distrito Federal.

O acórdão proferido no julgamento da medida cautelar da ADI 5.624/DF é


claro em demarcar e delimitar que se está conferindo interpretação conforme à Constituição
apenas à Lei Federal 13.303/2016. Ou seja, deve ser aplicado para os casos em que incida tão
somente a referida lei federal, o que não é o caso da CEB-Distribuição S.A, que além de se
submeter às regras gerais da legislação federal deve também se adequar às normativas locais da
Lei Orgânica do Distrito Federal.

E não é só: Segundo o art. 8º, I, "n" da Lei nº 11.697, de 13 de junho de


2008 (lei da organização judiciária do Distrito Federal e dos Territórios), em consonância
com o artigo 125, §2º da Constituição da República, dispõem que compete ao Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios processar e julgar ação direta de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Distrito Federal em face de sua Lei
Orgânica, e assim o fez sede de controle concentrado de constitucionalidade, na ADI n.º
30649-3, ajuizada contra a Emenda n.º 92/2015 que o incluiu na Lei Distrital.

No julgamento, o Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal considerou que “é inconstitucional emenda à Lei Orgânica, de iniciativa do Poder
Legislativo, que prevê que a privatização de empresa pública ou de sociedade de economia
mista seja condicionada à manifestação favorável da população, sob a forma de referendo”,
invalidando exclusivamente os incisos I e II do §7º do art. 19, mantendo incólumes e
válidos todos os demais incisos, inclusive o inciso XVIII que, por sua vez, determina a
obrigatoriedade de autorização legislativa específica para a privatização de subsidiárias
de empresas públicas distritais.

Ademais, para o julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade


prescinde da indicação, de forma expressa, dos dispositivos ofendidos pelo instrumento
legislativo que se pretende ver declarado inconstitucional. O parâmetro de controle, como já
dito, deve vir expressamente destacado na petição inicial que pugnar pela declaração de
inconstitucionalidade de determinada norma, conforme determina o art. 3º da Lei 9.868/99:,
que assim dispõe:

Art. 3o A petição indicará:


I - o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os
fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada uma das
impugnações;

No caso analisado pelo STF, questionou-se unicamente a Lei das Estatais (Lei
13.303/2016), sem apontamento de sequer um dispositivo da Lei Orgânica do Distrito Federal.
Ora não tendo os requerentes apontado qualquer ofensa à LODF, não há então razão de ser na
extensão dos efeitos do julgamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que não se
debruçou sobre qualquer dos dispositivos da LODF, razão pela qual não se pode afastar,
com fundamento no julgado da ADI 5.624/DF, a incidência das previsões constantes na Lei
Orgânica do Distrito Federal.

Uma vez que a interpretação dada pelo Supremo aplica-se em relação à Lei
Federal 13.303/2016, conforme delimitado de forma clara no acórdão do julgamento, não pode
ser utilizada para obstruir a aplicação da LODF, constitucionalmente imbuído de
competência legislativa concorrente sobre temas de direito econômico.
Como a CEB deve obediência à LODF para além da legislação federal, não pode
ser afastado o rito mais rigoroso para a promoção da privatização definido no inciso XVIII e do
§7 do art. 19ª da LODF, sob pena de violação da autonomia constitucional assegurada ao DF.

Acrescente-se, como se verá a seguir, que a aplicação do precedente também não


se sustenta, isto porque ali se analisou a alienação de ativos das empresas públicas da União ou
de outros entes federativos que não tenham exercido a competência concorrente para
tratar do tema (art. 24, I, CRFB), ou seja, que não possuem regramento específico – o que
não é o caso da CEB D.

IV.b) A Autonomia Constitucional do Distrito Federal e a Usurpação de Competência

A Constituição Federal determina no artigo 24, inciso I, que a competência para


legislar sobre as matérias de direito econômico é concorrente entre União, Estados e Distrito
Federal. Sobre a competência legislativa concorrentemente, o Ministro Gilmar Mendes leciona
em sua obra Curso de Direito Constitucional que “a constituição prevê, além de competências
privativas, um condomínio legislativo, de que resultarão normas gerais a serem editadas pela
União e normas específicas a serem editadas pelos estados-membros”5.

Por outro lado, não há dúvidas de que o tema da exploração direta de atividade
econômica pelo Estado é matéria de Direito Econômico e portanto de competência legislativa
concorrente.

Na Constituição Federal a ordem econômica é organizada no Título VII, cujo


CAPÍTULO I, que vai do art. 170 ao art. 181, é denominado “DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA
ATIVIDADE ECONÔMICA”. Nesse capitulo, está o § 3ª do art. 173 que determina
expressamente que “a lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a
sociedade.”

Assim, o tema legislativo sobre como se deve proceder para alienação de


empresa pública e sociedade de economia mista, retirando o Estado da exploração de atividade
econômica, é afeto ao direito econômico, inclusive por lógica constitucional sobre sua
localização na Carta Magna, de modo que sua competência legislativa é aquela determinada
pelo art. 24, I da CF, qual seja, concorrente.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União
limitar- se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.

5
Mendes, Ferreira Gilmar Curso de Direito Constitucional/Gilmar Mendes e Paulo Gustavo
Gonet Branco, 10 ed. rev. e atual.- São Paul: Saraiva, 2015; pg.840
...

A Constituição Federal ainda determina no artigo 18 caput, em conjunto com o


artigo 32, que o Distrito Federal goza de autonomia administrativa e legislativa, determinando
que o DF seja regido por Lei Orgânica, devendo as determinações de sua Lei Orgânica serem
observadas com força de lei derivada diretamente da Carta da República. Assim prevê a Carta
Magna:

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa


do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-


se- á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de
dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.

Portanto, deriva diretamente da Constituição o poder normativo do artigo 19,


inciso XVIII e parágrafo 7º da Lei Orgânica do Distrito Federal, que também recebeu do Poder
Constituinte a competência para legislar sobre temas de direito econômico em concorrência
com a União (art. 24, I CF ).

Ademais, há de se considerar que entes federados, no exercício de suas


atribuições constitucionais, não estão sujeitos a hierarquia ou controle. Num sistema federativo
não há propriamente uma hierarquia entre os entes, mas sim repartição de atribuições de acordo
com as regras constitucionais. A atribuição de diferentes níveis de competência, no que se
conhece como federalismo cooperativo6, atende a critérios de organização política que visam,
por exemplo, definir competências de acordo com o tipo de interesse a ser protegido, ou seja,
interesse nacional, regional ou local, prevendo mecanismos que atendem a tal finalidade.

Ademais, há de se considerar que entes federados, no exercício de suas


atribuições constitucionais, não estão sujeitos a hierarquia ou controle. Num sistema federativo
não há propriamente uma hierarquia entre os entes, mas sim repartição de atribuições de acordo
com as regras constitucionais. A atribuição de diferentes níveis de competência, no que se
conhece como federalismo cooperativo7, atende a critérios de organização política que visam,

6
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...)
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
7
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...)
por exemplo, definir competências de acordo com o tipo de interesse a ser protegido, ou seja,
interesse nacional, regional ou local, prevendo mecanismos que atendem a tal finalidade.

Partindo de tais máximas, a Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF)


determina, de forma expressa, em seu artigo 19, inciso XVIII, que empresa pública e sociedade
de economia mista somente pode ser privatizada ou extinta por lei específica.

A Lei Orgânica do Distrito Federal ainda vai além, e atuando com a


competência que a Constituição da República lhe confere, determina inclusive a necessidade de
aprovação por quórum qualificado de “dois terços dos membros da Câmara Legislativa” para a
aprovação da lei específica necessária à privatização, conforme disposto no parágrafo 7º do art.
19 da LODF, in verbis:

§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou sociedade


de economia mista a que se refere o inciso XVIII deste artigo, a lei
específica dependerá de aprovação por dois terços dos membros da
Câmara Legislativa. (Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica
nº 59, de 2010.

Tanto é verdadeiro o entendimento de que o arcabouço normativo do DF para se


proceder à privatização de suas empresas é aquele determinado pelo artigo 19, inciso XVIII e
parágrafo 7º da LODF, que em 2015 para se vender algumas subsidiárias da CEB teve de ser
aprovada a Lei Distrital 5.577/2015, por meio da qual a CEB foi autorizada a alienar sua
participação acionária em 05 subsidiárias elencadas de modo exaustivo, onde não constava a
CEB-Distribuição.

Assim dispõe a Lei Distrital 5.577/2015 (doc. anexo):

Art. 1º Fica a Companhia Energética de Brasília – CEB autorizada a


alienar sua participação acionária nas empresas abaixo, observadas as
regras previstas em seus atos constitutivos e nos acordos de acionistas:
I – Companhia Brasiliense de Gás;
II – CEB Lajeado S.A.;
III – Corumbá Concessões S.A.;
IV – Energética Corumbá III S.A.;
V – BSB Energética S.A.

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
A CEB-Distribuição S.A não foi elencada no rol de subsidiárias que poderiam
ser privatizadas pela Lei Distrital 5.577/2015. Ao contrário, o art. 2ª da referida lei determina
que “a receita oriunda das alienações de que trata esta Lei deve ser aplicada pela CEB
Distribuição S.A”, nos seguintes termos:

Art. 2º A receita oriunda das alienações de que trata esta Lei deve ser
aplicada pela CEB Distribuição S.A., exclusivamente, em:
I – investimentos;
II – pagamento de tributos;
III – amortização de dívidas oriundas de empréstimos contraídos
até a data de publicação desta Lei.

Não se nega a aplicabilidade da Lei 13.303/16 às empresas estatais do DF, no


entanto, há de se ter em consideração que, no âmbito do DF, há de se interpretar a norma
federal em consonância com a legislação distrital – cuja coexistência é patentemente
viabilizada, conforme já exposto – que, especificamente no que diz respeito à
privatização/venda de ações de suas estatais e subsidiárias, exige autorização legislativa
específica e aprovação na CLDF com quórum qualificado.

A Lei Orgânica Distrital, a carta política do ente federado no pleno exercício da


sua autonomia federativa, impõe comando positivo e expresso (imposição) à Administração
Pública no que disser respeito às operações societárias que eventualmente serão feitas nas
estatais do DF. Assim sendo, se credencia a invasão da reserva de competência legal do ente
federado Distrito Federal e, mais especificamente, do Poder Legislativo Distrital. Trata-se do
espaço reservado privativamente ao Poder Legislativo, imune a qualquer intromissão do Poder
Executivo, inclusive para edição de atos normativos que não estão sujeitos à reserva legal
absoluta.

Convêm ressaltar que ainda que a legislação federal dispusesse da matéria na


condição de norma geral, estaria reservada à competência legislativa do Estado Federado para
fixar suas próprias normas, desde que não se suprima conteúdos das leis gerais, nada impedindo
que o estado federado disponha de normas próprias de caráter suplementar e específico.

O Distrito Federal, por meio da sua Carta Política própria, definiu em


complementação à Constituição Federal, a necessidade de manifestação conclusiva do Poder
Legislativo Distrital acerca da autorização para a desestatização da CEB D. Portanto, em plena
harmonia com o comando constitucional federal e no exercício pleno da sua competência
federativa. Não reduziu nem contrariou o comando da Constituição Federal nem da Lei
13.303/16, já que a exigência está inserida no plano exercício da sua competência autônoma de
dispor sobre seus bens e serviços de forma expressa de maneira a instituir regra mais específica
e auto restritiva, considerando a necessidade de manifestação política do legislativo local.

Essa reserva da Administração se manifesta nas previsões dos incisos XVIII e o


§7° do art. 19ª da LODF, indicativas da exclusividade do Poder Legislativo na condução de
atos atípicos na administração das empresas públicas estatais. Em suma, somente o Poder
Legislativo, por seus trâmites próprios, tem a prerrogativa de disciplinar a criação e/ou
privatização, transformação, fusão, cisão ou incorporação das empresas públicas estatais.

Portanto, infere-se que o ato administrativo impugnado viola o princípio da


separação de poderes, a reserva do Poder Legislativo, a repartição constitucional de
competências e os princípios constitucionais relativos à gestão das empresas públicas do
Distrito Federal.

A prática da Reclamada, se levada a efeito, abrirá caminho para que meros


atos do Conselho de Administração da companhia, do qual participam, por óbvio,
representantes indicados pelo Poder Executivo Distrital, e não do Legislativo, permitam o
esvaziamento da “empresa-mãe” pela venda de sua principal subsidiária sem a
participação popular, via Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ao fim e ao cabo, por
essa sistemática, será possível dispor, facilmente, de todo o patrimônio da empresa,
desviando-se de qualquer controle do órgão democrático e representativo da população.

Em tal cenário, a decisão tomada pela Suprema Corte será, em sua essência,
fraudada, pois, por meio desse expediente de desvio de finalidade, o Legislativo Distrital estará
privado de influenciar os contornos da venda substancial de ações da principal subsidiária da
CEB, em completa violação ao previsto na legislação distrital.

Desse modo, o edital de leilão nº 01/2020 do BNDES e da CEB, com vista à


alienação de 100% (cem por cento) do controle acionário da CEB-Distribuição sem que tenha
sido autorizada referida privatização por meio de lei específica aprovada pela Câmara
Legislativa Distrital no termos do artigo 19, inciso XVIII e parágrafo 7º da Lei Orgânica do
Distrito Federal, deve ser anulado por dispor contra legem, em legítimo controle de legalidade
exercido pelo Poder Judiciário.
IV. c) Desvio de finalidade em relação à ADI 5.624/DF do STF

Todavia, ainda que se entendesse que a ementa do julgamento da ADI 5.624/DF


pelo STF devesse ser aplicada ao caso da CEB-Distribuição S.A, afastando-se de forma
equivocada e inconstitucional a aplicação da Lei Orgânica do Distrito Federal, ainda assim o
processo de privatização da CEB-Distribuição S.A deveria ser precedido de autorização
legislativa e licitação pública, como definido na ADI 5.624/DF para a privatização da empresa
matriz.

Isso porque a CEB-Distribuição S.A é uma subsidiária responsável por


aproximadamente 96% das receitas de sua controladora. Na constituição da CEB-Distribuição
houve a transformação da maior parte dos ativos da Companhia Energética de Brasília em
ativos da CEB-D8.
Segundo o Relatório de Administração da CEB de 2019 do total de 1.046
funcionários do grupo CEB, exatos 935 são funcionário da CEB Distribuição e apenas 81 da
controladora CEB Holding, o que significa que 89% dos funcionários do Grupo CEB
pertencem à Distribuidora, demonstrando que a subsidiária é muito maior que a própria
controladora.
Segue o gráfico Relatório de Administração da CEB de 2019 com os dados
sobre os números de funcionários :

Fonte: Relatório de Administração da CEB de 2019

Essa situação demonstra uma evidente deformação daquilo que se entende por
uma relação entre empresa controlada e controladora nos termos do que foi definido pelo
Supremo Tribunal Federal na ADI 5.624/DF para regrar o modus operandi de privatização de
uma empresa estatal segundo sua classificação em controladora ou subsidiária.

8 Disponível em: <http://www.ceb.com.br/index.php/institucional-ceb-separator/companhia-energetica-de-brasilia- ceb>


O professor Doutor Titular de Direito Econômico e Economia Política da
Universidade de São Paulo (USP), Dr. Gilberto Bercovicci, em relação à Companhia
Energética de Brasília e sua transferência de ativos para a CEB-Distribuição, afirma de modo
categórico em parecer que segue anexo:

“a empresa holding não tem praticamente nenhum outro ativo, não gere
nenhum contrato de concessão, não tem receita própria. A alienação, sem
autorização legislativa, da subsidiária CEB Distribuição é, na prática,
uma fraude à decisão do Supremo Tribunal Federal, pois se trata,
concretamente, da alienação da holding de forma simulada” (grifo
nosso)

Por outro lado, o Supremo no julgamento da ADI 5.624/DF, debateu sobre


caracterizar desvio de finalidade se uma holding transfere seu patrimônio para uma subsidiária
alterando de forma artificial a formalidade necessária para a alienação de controle de capital.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR) - .... é o


perigo de se fatiar uma empresa de primeiro grau, uma estatal, uma
empresa pública ou de economia mista, de tal maneira a ir criando
subsidiárias até se esvaziar completamente o patrimônio dessa empresa.
É uma forma de desfazer- se dela contornando a exigência, uma, de
autorização legal, outra, de eventualmente desencadeamento do processo
licitatório, etc. Então, são questões interessantes.

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES – Ministro


Lewandowski, permite-me um aparte do meu aparte mesmo? Concordo
com Vossa Excelência. Neste caso, haveria um desvio de finalidade em
relação à autorização genérica.

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Aí é patologia!

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR) - ... o


fatiamento de uma empresa estatal mediante a criação de subsidiárias
controladas ou a venda de participações nessas entidades de molde a
esvaziar completamente o patrimônio da empresa-mãe, como chama
Vossa Excelência, ou de primeiro grau, isto representará um desvio de
finalidade.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Destruindo a
empresa- mãe. Se destruir a empresa-mãe, seria, a meu ver, desvio de
finalidade.
(p. 52 – Acórdão ADI 5.624)

A Ministra Rosa Weber, por sua vez, asseverou que a autorização legislativa
genérica para criação de subsidiárias não pode servir a fins estranhos ao estrito cumprimento do
objeto social da empresa-matriz. (p. 157 – Acórdão ADI 5.624)
Todavia, se por um lado o Supremo decidiu mais recentemente na Reclamação
nº 42.576, que a venda das refinarias da Petrobras não caracteriza desvio de finalidade em
relação à cautelar da ADI 5.624/DF, por outro devemos ter bem claro que o caso da CEB-
Distribuição S.A é bastante diverso do que o caso das refinarias da Petrobras, uma vez que o
refino de petróleo é apenas uma das tantas atividades desenvolvidas pela Petrobrás e não sua
principal atividade, já que a pesquisa, lavra, extração, armazenamento e comercialização
seguem mantendo a empresa, além das refinarias eventualmente não alienadas. Portanto, a
privatização da CEB-Distribuição não guarda correlação com a privatização das refinarias da
Petrobras e não pode ser abrangida na referida Reclamação 42.576.

Devemos lembrar ainda que o instituto da reclamação constitucional é de


natureza objetiva e concreta, para controle de atos específicos que violem decisões do
Supremo, e não de ordem abstrata como uma ADI. Assim, a Reclamação 42.576 incide apenas
e especificamente sobre o ato reclamado relativo à Petrobras, não podendo ser utilizado como
permissivo abstrato à privatização da CEB-Distribuição S.A da maneira como pretendo o
BNDES e a CEB.

Por outro lado, a Companhia Energética de Brasília (CEB) com o desfazimento


da CEB-Distribuição S.A, praticamente deixa de existir, como demonstrado pela representação
numérica do quanto a distribuidora significa para a CEB holding como um todo, com
aproximadamente 96% das receitas de sua controladora e 89% de todos os funcionários de
todo o grupo CEB.

Com a alienação CEB-D, a empresa matriz torna-se a tal ponto esvaziada que
ficaria inviabilizada do ponto de vista econômico e operacional, praticamente sem ativos, sem
receitas, sem contratos e com pouquíssimos funcionários, numa situação muito mais grave e
nada similar ao caso da alienação das refinarias da Petrobras.

Neste ponto, mister trazer o pontuado pelo Conselheiro Renato Rainha, do


Tribunal de Contas do Distrito Federal, ao analisar a imprescindibilidade da autorização
legislativa específica para privatização da CEB Distribuição (doc. anexo):

“Não resta nenhuma dúvida de que a CEB Distribuição é o carro chefe do


conglomerado da Companhia Energética de Brasília - CEB, haja vista
que, ao final de 2019, dos R$ 4.404.331.000,00 (quatro bilhões,
quatrocentos e quatro milhões e trezentos e trinta um mil reais) de
receita operacional bruta obtidos pelas oito Subsidiarias/Controladas, R$
4.231.283.000,00 (quatro bilhões, duzentos e trinta e um milhões e
duzentos e oitenta e três mil reais) provieram apenas da CEB
Distribuição.
Essa mesma proporção também pode ser constatada analisando a receita
operacional liquida do conglomerado no mesmo exercício de 2019, sendo
que do total de R$ 2.749.737.000,00 (dois bilhões, setecentos e quarenta
e nove milhões, setecentos e trinta e sete mil reais), a CEB Distribuição,
sozinha, foi responsável por R$ 2.615.566.000,00 (dois bilhões, seiscentos
e quinze milhões, quinhentos e sessenta e seis mil reais).
Portanto, forçoso concluir que as atividades e os serviços desempenhados
pela CEB Distribuição são a razão de ser do conglomerado que tem a
Companhia Energética de Brasília – CEB como empresa mãe.
E não estou falando apenas do ponto de vista econômico e financeiro, mas
também da essencialidade dos serviços públicos prestados.
O principal serviço público prestado pela Companhia Energética de
Brasília – CEB, e, como dito, a razão de sua existência, é a transmissão,
distribuição e comercialização de energia elétrica para toda a população do
Distrito Federal (lares, estabelecimentos empresariais e rurais, órgãos e
entidades públicos, etc), o que é executado pela CEB Distribuição.
Ora, alienar o controle acionário da CEB Distribuição, especialmente na
sua totalidade, como quer o Governo do Distrito Federal, é deixar o
conglomerado liderado pela Companhia Energética de Brasília – CEB
completamente esvaziado de atividades que atendam o interesse público
primário da população da Capital da República.
Com a privatização da CEB Distribuição, as demais empresas do
conglomerado, se mantidas, dificilmente conseguirão desempenhar
serviços ou atividades públicos que justifiquem sua existência, além de se
transformarem, muito provavelmente, em “cabides” de empregos que
visam atender interesses privados em detrimento do interesse público.
(...)
Como afirmei, os fundamentos da decisão adotada na ADI nº 5.624/DF não
se amoldam à situação da alienação das ações da CEB Distribuição, haja
vista que é essa empresa estatal quem executa, na quase totalidade, os
serviços públicos prestados à população pelo conglomerado liderado
pela Companhia Energética de Brasília – CEB.
Na realidade, a CEB Distribuição não é mera subsidiária nem coadjuvante
da Companhia Energética de Brasília – CEB, pois não desempenha
apenas atividades periféricas para o fortalecimento econômico ou
operacional desta.
Em verdade, a CEB Distribuição é a empresa do conglomerado que presta
o serviço público essencial a toda a população do Distrito Federal, qual
seja: a transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica para
todos os pontos do Distrito Federal.
As demais empresas subsidiárias ou controladas que compõem o grupo
empresarial liderado pela Companhia Energética de Brasília – CEB não
prestam serviço público relevante para a população do Distrito Federal,
nem representam receita importante ou impactante para o referido
conglomerado.” (grifos nossos)

Na mesma linha de necessidade de análise da representatividade da subsidiária


para a composição da empresa-mãe, o Conselheiro Paulo Tadeu, também do TCDF, que
acertadamente atentou para a necessidade de diferenciação entre os institutos do
desinvestimento e da desestatização:

“Ora, autorizar a privatização – e insisto em dizer que não se trata de


simples desinvestimento, bastando ver o objeto que está sob análise –
afastando a análise do Poder Legislativo pode causar danos irreversíveis.

Não se trata simplesmente de venda de ações do ativo da CEB, mas de


alienação do controle acionário da empresa mantenedora! Não se
questiona a competência do Poder Executivo para a proposição da
matéria desse jaez. Todavia, trata-se da alienação da maior subsidiária
da Companhia Energética de Brasília.
Com a alienação de ativos, qual a razão de existência da CEB-holding? Ela
se tornará uma estatal sem quadro efetivo de empregados e como uma
entidade fiscalizadora, que já existe, no caso a Aneel. Com todo respeito
não foi para essa função que a CEB foi criada.
A CEB-D foi instituída com a finalidade de explorar atividade econômica
de prestação de serviço público essencial.
Essa é a linha que deve nortear a decisão a ser proferida no caso em exame,
notadamente sob a luz do interesse e da proteção ao patrimônio público.
Como se vê, a alienação de ativos na forma pretendida caracteriza um
notório abuso de direito. Mais precisamente, um desvio de finalidade
na venda de uma empresa que, apesar de formalmente controlada,
possui receita, patrimônio e quadro funcional muito maiores do que os
da controladora.” (grifos nossos)

Por tudo isso, podemos perceber que ainda que se pretendesse seguir o rito
determinado pelo STF na ADI 5.624/DF (o que se demonstrou anteriormente não ser possível),
ainda assim a privatização da CEB-D, como se mera subsidiária fosse, caracterizaria desvio de
finalidade, verdadeira patologia, como definido pelos Ministros deste Supremo Tribunal
Federal.

V- DA MEDIDA LIMINAR

O leilão agendado para operar a alienação de 100% (cem por cento) do


controle acionário da CEB-Distribuição está previsto para o dia 04 de dezembro de 2020,
conforme Aviso de Leilão que segue anexo, sem a participação da Câmara Legislativa
Distrital e em burla ao paradigma vinculante no julgamento da medida cautelar na ADI 5.624

A demora no restabelecimento da autoridade do julgado dessa Corte dará azo a


prejuízos irreparáveis às prerrogativas do Legislativo e à sociedade distrital, sobretudo no
momento em que o argumento mais utilizado pela CEB para justificar a privatização, qual
seja o risco da caducidade da concessão, não mais se sustenta, isto porque a ANEEL aprovou,
em 17 de novembro de 2020, novos critérios para a caducidade dos contratos de
concessionárias de distribuição, cuja proposta é de extensão da estabilidade e previsibilidade
da prestação do serviço9.

No caso destes autos, é medida que se impõe, em virtude do risco de prejuízo


grave ou de difícil reparação, qual seja, a continuidade de um processo de desestatização que
implicará em transferência de patrimônio público em desconformidade com decisão do
Supremo Tribunal Federal e em desrespeito aos limites legais. Além do que, de acordo com
cronograma do Edital, o leilão está agendado para o dia 04 de Dezembro de 2020.

O Art. 989 do CPC determina que, ao despachar a reclamação e, havendo


necessidade, o Relator ordenará a suspensão do ato impugnado, para evitar dano irreparável 10.
Na matéria em apreço, há o risco de que se torne inútil o processo e de que ocorra dano de
irreparável caso haja demora na prestação da tutela jurisdicional. O requisito da urgência, ora
chamado de periculum in mora ora chamado de „risco de dano irreparável‟, é explícito, uma
vez que um desfecho regular do processo pode ocorrer somente quando os atos para a
privatização da CEB Distribuição S.A. forem irreversíveis com a consequente transferência do
patrimônio público.

A concessão de liminar contra atos do Poder Público e seus agentes, consiste


numa medida cautelar de salvaguarda, quando se evidencia grave ameaça ao interesse público.

Assim, os fundamentos da presente reclamação são aptos a configurar, de


imediato, o direito pretendido, sendo certo que o pedido vindicado não pode aguardar o regular
processamento do feito, já que demanda a análise pormenorizada da questão. Além disso estão
caracterizadas as situações elencadas no art. 311 do CPC/2015 para a tutela de evidência.

Portanto, comprovada a necessidade da tutela de urgência, a verossimilhança das


alegações, a prova inequívoca e o fundado receio de dano, requer-se que Vossa Excelência,
suspenda liminarmente o Edital de Leilão 01/2020 do BNDES e da CEB, que possui leilão

9 Disponível em: https://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa-exibicao-2/-


/asset_publisher/zXQREz8EVlZ6/content/aneel-aprova-norma-com-criterios-para-caducidade-de-
concessionarias-de-distribuicao/656877?inheritRedirect=false
10 Art. 989. Ao despachar a reclamação, o relator:
(...)
II - se necessário, ordenará a suspensão do processo ou do ato impugnado para evitar dano irreparável;
agendado para o dia 04 de Dezembro de 2020, por violação ao decidido por esta Suprema Corte na
ADI 5.624/DF, até decisão final da presente Reclamação Constitucional.

VI- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requerem os autores se digne Vossa Excelência:

1) A concessão URGENTE de Medida Liminar, inaudita altera parte, para


determinar a suspensão provisória do Edital de Leilão 01/2020 do BNDES e da CEB,
que possui leilão agendado para o dia 04 de Dezembro de 2020, até o julgamento final de
mérito da presente Reclamação;

2) Sejam notificadas a autoridades reclamadas para que prestem informações no


prazo legal de 10 dias;

3) Seja dada vista ao Ministério Público pelo prazo de cinco dias, no termos do art.
991 do CPC;

4) Seja julgada procedente a presente reclamação para tornar definitiva a medida


liminar deferida, anulando-se em definitivo o Edital de Leilão 01/2020 do BNDES e da
CEB, por ter sido publicado em violação ao artigo 19, inciso XVIII e parágrafo 7º da
Lei Orgânica do Distrito Federal e em violação ao decidido por esta Suprema Corte na
ADI 5.624/DF;

5) Por fim, os autores asseguram que todas as provas que consubstaciam o direito
pleiteado estão instruindo a inicial.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000 (mil reais).

Brasília, 26 de Novembro de 2020

Termos em que
Pedem deferimento
MAXIMILIANO NAGL GARCEZ
OAB/DF 27.889

RAMON ARNÚS KOELLE


OAB/SP 295.445

ELISA OLIVEIRA ALVES


OAB/MG 156.049

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