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A decisão desta colenda Corte foi descumprida pelo Edital de Leilão 01/2020 da
CEB Distribuição, com Sessão Pública de Leilão marcada para 04/12/2020, que pretende
alienar, sem prévia autorização legal, o controle acionário de alienar 100% (cem por cento) do
controle acionário da CEB-Distribuição, cujo controle acionário é exercido pela Companhia
Energética de Brasília.
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Disponível em: <http://www.ceb.com.br/index.php/institucional-ceb-separator/estrutura-societaria-ceb>
Consulta em 25/11/2020, 11:39 hs.
O ato reclamado (leilão do controle acionário da subsidiária integral), no caso,
reveste-se de ilegalidade e de desvio de finalidade, visto que caso concretizado o ato, a
Companhia Energética de Brasília (CEB) praticamente deixa de existir, como demonstrado pela
representação numérica do quanto a distribuidora significa para a CEB holding como um todo,
com aproximadamente 96% das receitas de sua controladora e 89% de todos os
funcionários de todo o grupo CEB.
II. LEGITIMIDADE
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MENDES, Gilmar Ferreira; GONET, Paulo Gustavo. Curso de Direito Constitucional. 14ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2019, p. 2.330.
aplicação do decidido na ADI 5.624, na medida em que o ato reclamado subtrai a
competência legislativa dos eleitos para compor a Câmara Legislativa do Distrito Federal,
notadamente a prerrogativa de deliberar, de maneira concorrente, sobre matéria de direito
econômico, (art. 24, inciso I, da Constituição Federal) e, consequentemente, deliberar sobre a
privatização das estatais no âmbito do Distrito Federal, como se explica adiante.
Importa frisar também que os peticionários detêm o múnus público de velar pelo
respeito às prerrogativas parlamentares, precipuamente, no que tange ao dever de fiscalizar e
agir para que não haja aviltamento às atribuições conferidas privativamente ao Poder
Legislativo pela Carta Fundamental de 1988 e, no caso concreto, às prerrogativas constantes da
Lei Orgânica do Distrito Federal, especialmente porque a presente ação discute o
desatendimento de autorização legislativa distrital para a venda de ações de subsidiária de
empresa pública do DF.
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Art. 19.
(...)
Não se pode prescindir, portanto, do controle político do Legislativo Distrital, o
único com legitimidade democrática para avalizar decisões impactantes e estratégicas para o
patrimônio do Distrito Federal – e muitas vezes de consequências irreversíveis –, como é o caso
do da distribuição de energia elétrica no Distrito Federal.
Por todos esses fatores, sobeja a legitimidade de agir dos Deputados Distritais.
O edital publicado pelo BNDES e pela CEB visa alienar 100% (cem por cento)
do controle acionário da CEB-Distribuição. Ocorre que referida privatização não foi precedida
de autorização legislativa, por meio de lei específica aprovada por dois terços dos membros da
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LODF ; Art. 19. ... XVIII – somente por lei específica pode ser:
a) criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de
fundação, cabendo a lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
b) transformada, fundida, cindida, incorporada, privatizada ou extinta entidade de que trata a alínea a;
§ 7º Para a privatização ou extinção de empresa pública ou sociedade de economia mista a que se
refere o inciso XVIII deste artigo, a lei específica dependerá de aprovação por dois terços dos
membros da Câmara Legislativa. (Parágrafo acrescido pela Emenda à Lei Orgânica nº 59, de 2010.)
Em nenhum momento a constitucionalidade da Lei Orgânica do Distrito Federal
foi questionada ou colocada em dúvida pelo Supremo no julgamento da ADI 5.624/DF, sendo
certo que segue válida em nosso ordenamento jurídico devendo ser observada pelo BNDES e
pela CEB, no procedimento de desestatização da CEB-Distribuição, como se demonstrará a
diante.
IV. DO DIREITO
IV. a) Violação ao decidido pelo plenário na ADI 5.624/DF
No caso analisado pelo STF, questionou-se unicamente a Lei das Estatais (Lei
13.303/2016), sem apontamento de sequer um dispositivo da Lei Orgânica do Distrito Federal.
Ora não tendo os requerentes apontado qualquer ofensa à LODF, não há então razão de ser na
extensão dos efeitos do julgamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que não se
debruçou sobre qualquer dos dispositivos da LODF, razão pela qual não se pode afastar,
com fundamento no julgado da ADI 5.624/DF, a incidência das previsões constantes na Lei
Orgânica do Distrito Federal.
Uma vez que a interpretação dada pelo Supremo aplica-se em relação à Lei
Federal 13.303/2016, conforme delimitado de forma clara no acórdão do julgamento, não pode
ser utilizada para obstruir a aplicação da LODF, constitucionalmente imbuído de
competência legislativa concorrente sobre temas de direito econômico.
Como a CEB deve obediência à LODF para além da legislação federal, não pode
ser afastado o rito mais rigoroso para a promoção da privatização definido no inciso XVIII e do
§7 do art. 19ª da LODF, sob pena de violação da autonomia constitucional assegurada ao DF.
Por outro lado, não há dúvidas de que o tema da exploração direta de atividade
econômica pelo Estado é matéria de Direito Econômico e portanto de competência legislativa
concorrente.
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Mendes, Ferreira Gilmar Curso de Direito Constitucional/Gilmar Mendes e Paulo Gustavo
Gonet Branco, 10 ed. rev. e atual.- São Paul: Saraiva, 2015; pg.840
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Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...)
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
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Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...)
por exemplo, definir competências de acordo com o tipo de interesse a ser protegido, ou seja,
interesse nacional, regional ou local, prevendo mecanismos que atendem a tal finalidade.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
A CEB-Distribuição S.A não foi elencada no rol de subsidiárias que poderiam
ser privatizadas pela Lei Distrital 5.577/2015. Ao contrário, o art. 2ª da referida lei determina
que “a receita oriunda das alienações de que trata esta Lei deve ser aplicada pela CEB
Distribuição S.A”, nos seguintes termos:
Art. 2º A receita oriunda das alienações de que trata esta Lei deve ser
aplicada pela CEB Distribuição S.A., exclusivamente, em:
I – investimentos;
II – pagamento de tributos;
III – amortização de dívidas oriundas de empréstimos contraídos
até a data de publicação desta Lei.
Em tal cenário, a decisão tomada pela Suprema Corte será, em sua essência,
fraudada, pois, por meio desse expediente de desvio de finalidade, o Legislativo Distrital estará
privado de influenciar os contornos da venda substancial de ações da principal subsidiária da
CEB, em completa violação ao previsto na legislação distrital.
Essa situação demonstra uma evidente deformação daquilo que se entende por
uma relação entre empresa controlada e controladora nos termos do que foi definido pelo
Supremo Tribunal Federal na ADI 5.624/DF para regrar o modus operandi de privatização de
uma empresa estatal segundo sua classificação em controladora ou subsidiária.
“a empresa holding não tem praticamente nenhum outro ativo, não gere
nenhum contrato de concessão, não tem receita própria. A alienação, sem
autorização legislativa, da subsidiária CEB Distribuição é, na prática,
uma fraude à decisão do Supremo Tribunal Federal, pois se trata,
concretamente, da alienação da holding de forma simulada” (grifo
nosso)
A Ministra Rosa Weber, por sua vez, asseverou que a autorização legislativa
genérica para criação de subsidiárias não pode servir a fins estranhos ao estrito cumprimento do
objeto social da empresa-matriz. (p. 157 – Acórdão ADI 5.624)
Todavia, se por um lado o Supremo decidiu mais recentemente na Reclamação
nº 42.576, que a venda das refinarias da Petrobras não caracteriza desvio de finalidade em
relação à cautelar da ADI 5.624/DF, por outro devemos ter bem claro que o caso da CEB-
Distribuição S.A é bastante diverso do que o caso das refinarias da Petrobras, uma vez que o
refino de petróleo é apenas uma das tantas atividades desenvolvidas pela Petrobrás e não sua
principal atividade, já que a pesquisa, lavra, extração, armazenamento e comercialização
seguem mantendo a empresa, além das refinarias eventualmente não alienadas. Portanto, a
privatização da CEB-Distribuição não guarda correlação com a privatização das refinarias da
Petrobras e não pode ser abrangida na referida Reclamação 42.576.
Com a alienação CEB-D, a empresa matriz torna-se a tal ponto esvaziada que
ficaria inviabilizada do ponto de vista econômico e operacional, praticamente sem ativos, sem
receitas, sem contratos e com pouquíssimos funcionários, numa situação muito mais grave e
nada similar ao caso da alienação das refinarias da Petrobras.
Por tudo isso, podemos perceber que ainda que se pretendesse seguir o rito
determinado pelo STF na ADI 5.624/DF (o que se demonstrou anteriormente não ser possível),
ainda assim a privatização da CEB-D, como se mera subsidiária fosse, caracterizaria desvio de
finalidade, verdadeira patologia, como definido pelos Ministros deste Supremo Tribunal
Federal.
V- DA MEDIDA LIMINAR
3) Seja dada vista ao Ministério Público pelo prazo de cinco dias, no termos do art.
991 do CPC;
5) Por fim, os autores asseguram que todas as provas que consubstaciam o direito
pleiteado estão instruindo a inicial.
Termos em que
Pedem deferimento
MAXIMILIANO NAGL GARCEZ
OAB/DF 27.889