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Boletim do Venerável D. António Barroso
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com que calafetavam o forno. As crian- muros rústicos, a vegetação fresca ali-
ças conduziam animais maiores que elas, mentada pela poeira dos tempos.
aparentemente sem medo. Aos domin- António José percorreu, como eu,
gos, bem-apessoados, via os rapazes e as aqueles caminhos e aspirou outras vivên-
raparigas, às revoadas, encontrarem-se cias. Também ele cruzou fronteiras, viveu
pelos caminhos a conversar, enquanto as noutros horizontes. Também ele gostava
motorizadas, em alto som e velocidade, de se perder por aqueles campos, pular
cortavam a pacatez do lugar. por aquelas bouças e divertir-se nas fes-
Eu tinha tantos primos que me perdia tas, como todos os jovens.
na contagem e nos nomes. Eles tímidos O casamento dos pais poderia servir
e eu mais que eles. Gostava de visitar a o cliché romântico da altura. Rapariga de
minha avó do lugar do Monte, mas as melhores famílias, prendada e de bons
críticas que choviam à falta de brincos, costumes, enfrentando a fúria paterna, a
ao uso das calças ou altura da saia, ar- incompreensão do povo e a adversidade
reliavam-me e afastavam-me um pouco económica e rapaz humilde casam pe-
daquilo tudo, mas nunca deixei de gostar rante o padre, na singela igreja da aldeia,
de duas coisas com verdadeiro apreço. A sem a bênção do reconhecido cirurgião
minha visita ao senhor que estava na sua e mestre-escola Barroso. Eufrásia e José
redoma e a minha tia Deolinda. António assumem as dificuldades e veem
Adorava ficar na casa desta minha tia o seu amor e determinação serem re-
que me falava do antigamente, da vida compensados com dois varões que os Os pais de Margarida, Isaura de
agreste, que empedernia e agrilhoava acompanharão até à morte. Oliveira Leitão e José Gomes Pe-
reira, em frente ao portal da casa
homens, mulheres e crianças. Falava-me Também eles passaram pelo lugar do
da avó Teresa, no dia do casamen-
do ser mulher num mundo tão agressi- Monte, onde vivera a minha avó, consi- to - 14 de Março de 1962.
vo para o universo feminino. Via-a como derado, antigamente, um dos locais mais
uma revolucionária encapotada. Foi ela, a “feios e pobres” de Remelhe. A simplici- o neto do Barroso envereda pelo único
raiz ténue, que me prendeu a Remelhe e dade do pai, entregue à enxada e à plaina, caminho possível a quem ansiava por ou-
me levava a lá regressar. aliada aos pergaminhos da mãe, senhora tros voos e entra a poucos dias de fazer
de uma certa bonomia e determinação, 19 anos para o longínquo Colégio Real
As batatas fritas e ovos a independência ganha no ritmo do tear, das Missões de Cernache de Bonjardim.
estrelados da minha tia e o encontro, inesperado, com o fidalgo António mune-se da determinação her-
Deolinda Bernardo da Fonseca marcaram a perso- dada da mãe e dos ensinamentos de Ber-
nalidade vincada do menino de enormes nardo da Fonseca e vence a batalha entre
De Remelhe, ficara-me na lembran- olhos azuis. os muros do seminário.
ça o odor dos pinheiros impregnado do De candeias às avessas com as letras,
cheiro a fumo, o frio agreste e cortante António José, o herói de
na consoada; as mesas dos Compassos Remelhe
da Páscoa, repletas de iguarias, das fa-
tias enormes de pão de ló, amarelinho, Aos 25 anos, a batina não escondia o
fofo e doce, acompanhado de vinho do corpo, alto, escorreito, o peito largo e o
Porto. Adorava atravessar as bouças até porte atlético, sublinhados por um rosto
casa da minha avó, por cima de caruma largo, agradável, quase perfeito, capaz de
e penedos negros, cobertos de musgo, incendiar o coração das raparigas, mas
com as pernas afagadas pelos frondosos António não abandona a carreira ecle-
feitos e assustar a bicharada nervosa. siástica e parte para uma vida missionária
Fazer explodir as campânulas das deda- por terras de África e Ásia. Chegará a
leiras coradas. Gostava de acompanhar bispo. Erguerá o seu protesto contra o
a minha tia a lavar roupa no tanque de que não concorda e não hesitará em en-
todos, frente à venda do sr. Armindo e frentar um dos homens mais poderosos
regressar a casa a pé ao lado dela. Em do seu tempo, Afonso Costa.
casa, esperava-me o crepitar da lareira e António José, homem de ação, en-
o maior dos pitéus, com que ela me apa- trara demasiado tarde para o mundo
paricava, batatas fritas e ovos estrelados. fechado do seminário. Vivera toda a sua
Remelhe traz-me também as suas adolescência num mundo rural, de gente
courelas de campos orlados por latadas acorrentada às dificuldades, injustiças e à
de uvas tintas, os caminhos ladeados de Deolinda Pereira, tia da autora
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pobreza; num mundo severamente estra- vido numa malga, à lareira, se sentia por que já conhecia e acrescentou inúmeros
tificado em busca de um caminho mais dentro e bebia, nessas raízes simples, as primos que acabei por conhecer, naquela
justo. regras e a força da gramática humana tarde de verão e se tornaram parte inte-
Eufrásia, a mãe quebrou as regras, o que o transformaram no frondoso car- grante da minha vida, como D. António
Barroso pai nunca lhe perdoou, recusan- valho que, hoje, lhe faz merecer o título Barroso. Tanto me marcou a resposta
do-lhe o dote. António José, ameaçado de Venerável. à ingénua pergunta quem era D. Antó-
pelas forças mais poderosas do emer- nio Barroso que, após várias leituras e
gente mundo da República e o anticleri- Quem da lei da morte se foi conversas sobre ele, me atrevo a criar
calismo desses tempos, não recuou, acei- libertando este texto, por o considerar um homem
tou o exílio, mas não se calou, ordenando de forte carácter humanista, que não se
sacerdotes a contrapelo dos poderes Quando os nossos caminhos se cru- deixou ofuscar pelo brilho das vestes
estabelecidos. Nas suas incursões por zaram fora da redoma em que hoje re- prelatícias, que envergou na prelazia de
África defendeu os povos que encontrou pousa, naquela tarde de verão, jamais po- Moçambique, e nas dioceses Meliapor, na
como seus iguais, ensinando-lhes o que deria imaginar que o admiraria pela sua Índia, e do Porto.
aprendera no seu tempo de criança po- postura de pensamento independente Bem, se tivesse de apontar um mila-
bre de aldeia, a usar a força das mãos e a coragem e determinação que o não gre, eu diria que a minha presença na-
com a enxada, a plaina, o tear e a palavra deixaram viver em águas lisas e a persis- quele dia, àquela hora, em Barcelos, para,
de Deus, que lhe dera a oportunidade de tência que o levaram aos 25 anos, sem naquele contexto de remelhenses, ouvir
avançar para outros horizontes de aplai- google nem GPS, a enfrentar a sua pri- a resposta à pergunta turística do meu
nar injustiças onde as encontrasse, de meira tarefa, penetrar o perigoso e des- marido, só pode ter sido obra de D. An-
lutar pelo respeito do homem enquanto conhecido sertão africano e reconstruir tónio Barroso.
ser humano, independentemente da cor a abandonada e histórica missão de São
ou do nascimento. Salvador do Congo. Aqui se discutia a P.S.: É que ele era conhecido por
D. António Barroso viveu num tempo garantia das possessões portuguesas, por adorar pregar partidas. Mas, mais do que
marcado pela enorme expansão indus- entre a guerra de interesses das grandes fazer os amigos comer gato por lebre,
trial, as garras do capitalismo, um mundo potências desse tempo, a luta por novos tenho a certeza que teria gostado desta
feito de Impérios e povos a conquistar mercados e filões de matérias-primas, que me pregou. Bem-haja, venerável D.
pela Bíblia e pelas armas. D. António Bar- não se coibindo estes de espezinhar os António!
roso calcorreou todos esses percursos direitos de um país à beira do colapso E, é assim, que o simpático missioná-
de mares, terras e pensamentos, distan- financeiro. rio da minha fantasia de criança se vai da
ciou-se também do seu pequeno mundo Hoje, regressar a Remelhe, está mui- “lei da morte libertando”…
de aldeia, mas era nela que encontrava to para além de um momento quase re-
a paz para continuar a caminhar. Era lá servado ao cemitério. Para mim, tornou- Alemanha, Colónia, 14/06/2020
que, num simples caldo de couves, ser- -se regresso emocional às raízes, à família
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Conheça o
Venerável D. António Barroso
leia
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CONTAS EM DIA
A última relação de contas (até 31 de Maio de 2020), está disponível no Boletim n.º 30, III Série. De 1 de Junho de 2020 até
31 de Outubro de 2020, efectuaram-se as seguintes despesas: Escola Tipográfica das Missões (Boletim n.º 30 e pagela biográfica
do Venerável D. António: 12.000 unidades): 1.010,82 € ; consumíveis e correio: 65,00 €. TOTAL: 1.075, 82 €.
No mesmo período, recebemos os seguintes donativos para apoio à Causa da Canonização e despesas do Boletim: assi-
nantes da freguesia de Remelhe: 568,00 €, com a colaboração de D.ª Laurinda Fonseca do Vale, Sr. Augusto Faria dos Penedos,
D.ª Maria Amélia Campos Seara, D.ª Ana Maria da Silva Coutinho; Sr. Augusto da Costa Martins, D.ª Margarida Barroso Simões,
Sr. Mário da Costa Lopes e D.ª Maria Magalhães Faria Senra; outros assinantes de Remelhe: D.ª Maria Alice e Sr. Abílio Pinheiro,
D.ª Lurdes Guimarães Carmo e D.ª Adozinda Gomes: 25,00 €; Dr. João Alves Dias: 100,00 €; Dra. Lúcia Sousa: 50,00 €; Familiares
de Adelaide da Silva Gomes e Manuel Matos de Araújo: 50,00 €; Anónimo: 50,00 €. TOTAL: 843, 00 €.
CONTACTOS
Se o caro leitor entender que recebeu alguma graça extraordinária (milagre), alguma resposta
extraordinária às preces que dirige a Deus, por intercessão do Venerável D. António Barroso, informe
o Postulador, Padre João Pedro Bizarro, pelo tlm. 913366967, ou o Vice-Postulador, Amadeu Gomes
de Araújo, pelo tlm. 934285048.
Se preferir informar por escrito, use a seguinte direcção: CAUSA DA CANONIZAÇÃO DE
D. ANTÓNIO BARROSO / RUA DE LUANDA, N.º 480 3.º ESQ. / 2775-369 CARCAVELOS, CASCAIS
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