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Transtornos da Compulsão Alimentar

(Tca) E Transtornos Alimentares não


Especificados (Tane)

Brasília-DF.
Elaboração

Arquiléia Itair Peixoto Gonçalves

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)............................................................... 9

CAPÍTULO 1
CONCEITO............................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
CARACTERIZAÇÃO DO TCAP E DIAGNÓSTICO......................................................................... 13

CAPÍTULO 3
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS................................................................................................... 18

CAPÍTULO 4
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS TCAP X BULIMIA NERVOSA........................................................ 22

CAPÍTULO 5
TCAP EM HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS E ADOLESCENTES................................................... 25

UNIDADE II
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE.................................................. 34

CAPÍTULO 1
BREVE CONCEITO SOBRE OBESIDADE...................................................................................... 34

CAPÍTULO 2
OBESIDADE E SUAS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS.................................................... 38

CAPÍTULO 3
TCAP X OBESIDADE................................................................................................................. 42

UNIDADE III
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA....................................................................... 46

CAPÍTULO 1
SOBRE A HIPERGAFIA E A ORTOREXIA...................................................................................... 47

CAPÍTULO 2
SOBRE A PICA E A SÍNDROME DE PRADER-WILLI....................................................................... 50
CAPÍTULO 3
SOBRE TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC) POR ALIMENTOS E TRANSTORNO DE
RUMINAÇÃO........................................................................................................................... 55

CAPÍTULO 4
SOBRE VIGOREXIA E OUTROS TRANSTORNOS ALIMENTARES NÃO ESPECIFICADOS.................... 58

UNIDADE IV
ESTUDOS DE CASOS............................................................................................................................. 63

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 75
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Nas últimas cinco décadas observou-se uma grande mudança no comportamento
alimentar das pessoas eclodindo numa transição epidemiológica entre a desnutrição e
a obesidade. Para Pinheiro et al. (2004), essa transição refere-se ao impacto provocado
pela alteração do perfil nutricional as pessoas: pode-se afirmar que as mudanças
econômicas, demográficas e sociais afetaram, também, o padrão nutricional e o
consumo alimentar das famílias. Assim, a população de risco passa a incluir, além dos
desnutridos, os obesos.

Friedman (1995) defende que por muito tempo os indivíduos obesos foram considerados
como pertencentes a um grupo homogêneo baseado apenas em uma característica
comum: o excesso de peso. Com essa simplificação de conceito, ignorava-se as possíveis
diferenças comportamentais que poderiam, na maioria dos casos, terem sido as causas
da obesidade. Hoje a obesidade pode ser considerada como um dos mais graves
problemas da saúde pública mundial.

O estudo do tema Transtornos Alimentares passou, então, ser matéria obrigatória para
diversos profissionais, principalmente os relacionados à saúde: médicos, psicólogos e
nutricionistas. Assim, o diagnóstico e o tratamento são movimentos multidisciplinares,
onde os esforços das diversas ciências se unem no sentido de explicar e melhorar a
relação de consumo alimentar entre os indivíduos e as formas encontradas para lidar
com suas frustrações e ansiedades.

A disciplina Transtornos da Compulsão Alimentar e Transtornos Alimentares Não


Especificados tem como objetivo discutir os diversos conceitos, tratamentos, causas e
impactos provocados pela doença. Desse modo, o conteúdo da disciplina foi dividido
em unidades e capítulos para melhor entender o tema.

A primeira Unidade tratará dos Transtornos da Compulsão Alimentar Periódica


– TCAP. Nesta unidade veremos os conceitos e as diversas classificações do fenômeno,
sua caracterização e seu diagnóstico, as prováveis causas e suas consequências, as
diferenças e semelhanças entre TCAP X bulimia nervosa, as principais características
encontradas em TCAP no sexo masculino, no sexo feminino, em crianças e em
adolescentes.

A segunda Unidade de estudo versará sobre a relação entre Transtornos da


compulsão alimentar periódica e obesidade. Nesta unidade veremos conceitos
sobre obesidade e a relação existente entre TCAP x obesidade.

8
A terceira e última Unidade será dedicada ao estudo dos Transtornos alimentares
com menor incidência. Serão contemplados nesta unidade o estudo dos seguintes
transtornos: hipergafia, ortorexia, pica, síndrome de Prader-Willi, TOC por alimentos,
ruminação, vigorexia, além de outros transtornos alimentares não especificados.

Na quarta Unidade da disciplina serão apresentados estudos de casos de transtornos


alimentares.

Objetivos
»» Tratar dos Transtornos da Compulsão Alimentar Periódica – TCAP.

»» Compreender a relação entre Transtornos da Compulsão Alimentar


Periódica e Obesidade.

»» Compreender os transtornos alimentares com menor incidência.

9
TRANSTORNOS
DA COMPULSÃO UNIDADE I
ALIMENTAR
PERIÓDICA (TCAP)

O comportamento alimentar das pessoas pode ser a causa de muitos transtornos e,


consequentemente, produzir doenças. O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica
(TCAP) é uma categoria de doença produzida pela relação de consumo de alimentos
dos indivíduos; esse quadro de transtorno alimentar é caracterizado pela ingestão de
grande quantidade de comida em um período de tempo delimitado – cerca de duas
horas – associado à sensação de perda de controle sobre a quantidade e a qualidade de
alimento ingerido.

Nesta Unidade de estudo, serão tratadas as definições e origem do fenômeno, sua


caracterização e seu diagnóstico, causas e consequências, distinções entre outros
fenômenos de natureza semelhante e distinções a partir de gênero e idades das pessoas.

CAPÍTULO 1
Conceito

Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) é um comportamento alimentar


caracterizado por episódios de grande ingestão de alimentos num período de tempo
curto – cerca de duas horas – seguido de uma sensação de perda de controle sobre
a ingestão do alimento e provocando culpa e arrependimento por ter comido. Esse
fenômeno, largamente estudado por diversos autores, tem conceitos e classificações
que nos permitem compreendê-lo e distingui-lo de outros fenômenos alimentares.

A compulsão alimentar é conhecida, em inglês como binge eating. Melo (2011) afirma
que quando os episódios compulsão alimentar ocorrem por, pelo menos, dois dias por
semana, num período de seis meses, são associados a algumas características de perda
de controle e não são acompanhados de comportamentos compensatórios dirigidos
para a perda de peso, indicam, segundo estudos recentes, a presença da síndrome

10
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

denominada Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) – binge eating


disorder.

Figura 1.

Fonte: <http://conruindosentidos.bIogspotcombr/2O1 1/03/transtorno-de-compulsao-ali rnentarhtml> Acesso em: 16/4/2016.

Origem do Transtorno da Compulsão Alimentar


Periódica
O comportamento designado compulsão alimentar é caracterizado pelo excesso de
ingestão de alimentos associado à perda de controle da ingestão desses alimentos.
Os primeiros relatos do fenômeno datam do século XV; era, na época, um sintoma
que podia estar presente em diversos transtornos. Desde então, foram descritos como
comportamento de apetite voraz, designado com o nome bulimia. Especificamente
para este fenômeno, atualmente utiliza-se o nome compulsão alimentar, mas pode-se
encontrar, também, como sinônimo o termo comportamento bulímico.

Stunkard (1959) foi quem primeiro identificou e descreveu o fenômeno Transtorno da


Compulsão Alimentar Periódica – TCAP. O autor observou um tipo de comportamento
alimentar de obesos caracterizado pela grande quantidade de alimentos ingeridos
em um curto espaço de tempo, seguido de sentimentos de desconforto físico e de
autocondenação.

Cerca de vinte anos depois, na década de 1970, o fenômeno passou a ser estudado com
maior clareza; a compulsão alimentar passou a ser considerada uma síndrome. Os relatos
de indivíduos associavam a compulsão alimentar a comportamentos compensatórios
para prevenção de ganho de peso.

Wermuth et al. (1977) adotaram alguns critérios no diagnóstico do Transtorno da


Compulsão Alimentar Periódica. Os autores ampliaram e descreveram o fenômeno

11
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

identificado em 1959 por Stunkard. Para os autores, o diagnóstico do TCAP deve incluir
as seguintes condições:

»» a ingestão rápida, impulsiva, episódica e sem controle de grandes


quantidades de alimentos em um período de tempo relativamente curto;

»» o episódio termina apenas quando há desconforto físico (por exemplo,


dor abdominal). vômitos autoinduzidos podem ocorrer, mas não são
necessários para o diagnóstico;

»» a presença de sensações subsequentes de culpa, desprezo por si ou


remorso.

Identificação do TCAP

Dentre as diversas alterações de comportamentos alimentares, uma que se destaca é


o TCAP. A identificação deste transtorno surgiu pela necessidade de se discriminar
indivíduos obesos com compulsão daqueles sem compulsão alimentar e dos bulímicos.
Spitzer et al. (1992) adotaram critérios diagnósticos para o TCAP e também realizaram
um estudo multicêntrico para avaliação dessa nova proposta diagnóstica.

As condições primárias para o diagnóstico do TCAP são o excesso de ingestão alimentar


em um curto espaço de tempo e o comportamento impulsivo para comer são condições
centrais para o diagnóstico da TCAP. Além disso, os episódios devem acontecer com
uma frequência de, no mínimo, duas vezes por semana, nos últimos seis meses (DSM1
IV-R).

Na análise do transtorno são verificados, também que os indivíduos com TCAP não
apresentam dietas muito restritivas e não alternam episódios de compulsão ou restrição
alimentar. Assim, o padrão alimentar dos portadores de TCAP seria comer até sentir-se
repleto, sentir repulsa por si mesmo e adotar o hábito de comer sozinho de forma a evitar
explicações e embaraços.

Ainda, na caracterização do transtorno, outro aspecto do diagnóstico é que nos indivíduos


com TCAP não são observados mecanismos compensatórios inadequados como uso de
laxantes, vômitos, diurese exercícios exagerados (FIRST; FRANCES; PINCUS, 2004).

1 DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders –
DSM).

12
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

Figura 2.

Fonte: <http//2.bp.blogspot.com/U8C3plAbXq/VQMvZCyyStl/AAAAAAAAYrc/Iy4cLBLnW8/s1600/transtorno%Balimentar3.png.>
Acesso em: 1/5/2016.

Wifley et al. (2000) recomendaram outro critério, que orienta os estudos atuais: os
autores sugerem a autoavaliação baseada no peso e na forma do corpo. Esse aspecto
permite a diferenciação entre obesos com e sem TCAP. Claudino e Borges (2002)
afirmam que, sendo a obesidade uma característica central dos transtornos alimentares,
este critério possibilitaria um importante elo do TCAP com outras síndromes como a
anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

Segundo Hay (2002) para facilitar a identificação do TCAP, pode-se considerar os fatores
etiológicos como expectativas elevadas, episódios de maus tratos ou de superproteção,
eventos traumáticos na infância, alcoolismo ou transtornos psiquiátricos dos pais em
algum período da vida, abuso e os fatores de dieta (comentários críticos sobre peso e
forma física, obesidade ou transtorno alimentar dos pais e na infância).

13
CAPÍTULO 2
Caracterização do TCAP e diagnóstico

A TCAP foi elevada à condição diagnóstica no ano de em 1994, a partir da sua inclusão
no apêndice B do DSM IV. De acordo com o DSM, a síndrome se caracteriza pela
ocorrência de episódios recorrentes de compulsão alimentar, sem a existência de
qualquer comportamento de compensação para evitar um possível ganho de peso.

Características gerais do TCAP


A característica comum da obesidade em todos os pacientes é o excesso de peso.
Mas sabe-se que existem diferenças comportamentais que podem desencadear o
fenômeno. Isso significa dizer que a população obesa não pode ser considerada como
homogênea. Azevedo et al. (2004) afirmam que obesos comedores compulsivos
podem ser considerados um subgrupo que sofre influência de níveis mais elevados de
psicopatologia, especialmente a depressão e transtorno de personalidade.

O TCAP não fornece parâmetros diagnósticos como, por exemplo, a definição de


quantidade mínima ou máxima de alimentos ingeridos, o tempo de duração dos
episódios de comer compulsivamente, ou a medida da perda de controle sobre a ingestão
alimentar. A falta destes parâmetros torna difícil uma homogeneização do grupo com
a síndrome. Sendo assim, os estudos da doença podem identificar diferentes grupos
portadores deste transtorno.

Uma forma acertada de identificar o TCAP é distingui-lo de outras síndromes a partir


de alguns pontos:

Com relação ao Índice de Massa Corpórea (IMC)

»» Os portadores de TCAP apresentam Índice de Massa Corporal – IMC


superior aos portadores de bulimia nervosa.

Com relação ao consumo de alimentos

»» Os portadores de TCAP, de um modo geral, não apresentaram relatos de


dietas restritivas quando comparados a pacientes com outros transtornos
alimentares, como, por exemplo, bulimia.

14
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

»» Os comportamentos prévios relatados dos pacientes com TCAP são mais


variáveis se comparados ao histórico de pacientes com bulimia, que, em
geral, revelam a ocorrência de dietas e perda de peso.

Com relação ao excesso de peso

»» Os pacientes com TCAP ingerem significativamente mais alimentos do


que as pessoas obesas sem compulsão alimentar (GOLDFEIN et al.,
1993).

»» O TCAP pode acometer mulheres com peso normal e em obesas.

»» A maioria dos pacientes com TCAP tem história de repetidas tentativas


de fazer dietas e sentem-se frustradas com os resultados alcançados no
controle da ingestão de alimentos.

»» Alguns pacientes relatam insistência na restrição do consumo de calorias,


mas outros abandonam os esforços de fazer dieta, pelos resultados de
fracassos repetidos.

»» Spitzer et al. (1993) afirmam que as mulheres são, em geral, mais obesas
e têm histórico de flutuações de peso mais acentuadas do que as mulheres
sem este padrão alimentar.

Caracterização clínica do TCAP


Existem estudos que demonstram variações consideráveis no comportamento
alimentar de comedores compulsivos identificados tanto durante os episódios de
compulsão alimentar como, também, nos intervalos. Grilo (2002) definiu como
caótico este comportamento que difere do comportamento dos indivíduos portadores
de Bulimia Nervosa (BN) e dos obesos sem TCAP. Como distinção do TCAP, o autor
afirma que os portadores do transtorno apresentam poucos relatos de dietas restritivas
se comparados aos pacientes portadores de BN, que diferentemente dos portadores do
TCAP, alternam comportamentos alimentares de compulsões e restrições alimentares.
O autor acrescenta, ainda, que os episódios compulsivos variam quanto à hora em que
costumam ocorrer com perda de controle, a hora sem esta perda e/ou perda de controle
sem o consumo de uma grande quantidade de alimentos.

Outra característica que pode estar relacionada é que a compulsão alimentar vem
acompanhada de sofrimento psíquico provocada por sentimentos de angústia

15
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

“inexplicáveis” que incluem vergonha, nojo e culpa. O comedor compulsivo atinge duas
principais dimensões: a subjetiva, que deflagra a sensação de perda de controle; e a
objetiva, que importa a quantidade de alimento consumido.

Azevedo (2004) afirma que a maioria dos autores concorda que um comedor compulsivo
abrange no mínimo esses dois aspectos: o subjetivo manifesta-se pela perda de controle,
e o objetivo, manifestado pela quantidade de alimento consumido. Segundo o autor, há
um consenso geral no aspecto subjetivo da compulsão para seu diagnóstico, contudo,
há controvérsias em relação ao aspecto objetivo, quanto ao tamanho e à duração de
uma compulsão. Esta divergência pode ser observada nas muitas definições dadas ao
fenômeno.

Stunkard (2003) compara o TCAP à bulimia nervosa: o autor afirma que a primeira não
se observa uma terminação lógica e a segunda a compulsão é claramente concluída por
comportamento purgativo. O autor conclui como solução claramente insatisfatória, o
critério relacionado à duração do episódio.

Ainda sobre características dos portadores de TCAP pode-se afirmar que costumam
apresentar IMC superior aos portadores de bulimia nervosa (GELIEBTER, 2002).
Outro aspecto da síndrome é a não ocorrência de dietas e perda de peso (STRIEGEL,
2001).

Goldfein (1993) inclui nas evidências para identificação de pacientes com TCAP a
ingestão significativamente maior de alimentos se comparados às pessoas obesas sem
compulsão alimentar. O autor adverte que o TCAP pode acometer também indivíduos
com peso normal. A maioria dos indivíduos relatam longas histórias das repetidas
tentativas de fazer dietas; sentem-se frustrados com sua dificuldade no controle da
ingestão de alimentos. Spitzer (1993) afirma que nas clínicas de controle de peso, os
indivíduos que apresentam TCAP são normalmente mais obesos e têm histórico de
flutuações de peso mais acentuada do que os indivíduos sem este padrão.

Gluck, Geliebter e Satov (2001) identificaram o estresse como sendo um dos fatores que
pode levar ao aumento das compulsões alimentares. Os autores atestam que durante
situações estressantes, o cortisol é liberado estimulando a necessidade de ingestão de
alimentos e, consequentemente, o aumento do peso. Geliebter (2002) afirma que em
estudo realizado por Geliebter et al. foi demonstrado que pessoas obesas têm uma
maior capacidade gástrica se comparados às pessoas com peso normal. Para o autor,
esse aspecto poderia limitar ou não limitar a quantidade de alimentos ingeridos e de
saciedade. O autor afirma, também, que não se conhece a existência de um transtorno
alimentar que tenha sido predisposto por uma grande capacidade gástrica.

16
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

Analisando o aspecto psicológico da síndrome, os pacientes com TCAP possuem baixa


autoestima, revelam maior preocupação com o peso e com a forma física se comparados
a outros indivíduos que também possuem sobrepeso sem terem o transtorno afirma
Zwaan (1997).

Diagnóstico do TCAP

Os critérios de diagnósticos para o TCAP são os propostos pelo DSM-IV que define a
doença a partir da presença de uma série de fatores que são:

»» Ocorrência de episódios frequentes de compulsão alimentar. A


identificação de episódios de compulsão alimentar deve estar associada a
pelo menos três dos seguintes critérios:

›› ingestão de quantidade de comida muito maior e mais rapidamente do


que o normal;

›› ingestão de alimentos até sentir-se incomodamente repleto;

›› ingestão de grandes quantidades de alimentos, quando não está


fisicamente faminto;

›› comer sozinho para evitar embaraços devido à quantidade de alimentos


que ingere;

›› sensação de repulsa por si mesmo, depressão ou culpa após comer


excessivamente;

›› acentuada angústia relativa à compulsão alimentar;

›› ocorrência de, pelo menos, dois episódios por semana, durante período
aproximado de seis meses;

›› o paciente não faz uso regular de comportamentos compensatórios


inadequados – purgação, jejuns e exercícios excessivos.

Sendo assim, considerando os critérios de diagnósticos relacionados, é necessário que


a compulsão alimentar se dê em um período de tempo delimitado. Essa afirmativa
exclui indivíduos que adotam o comportamento de “beliscar” o tempo todo pequenas
quantidades de alimentos. No caso do TCAP, a quantidade de alimentos deve ser grande
para um período aproximado de duas horas.

17
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

Deve-se considerar também como importante fator no diagnóstico do TCAP, a sensação


de perda de controle. Essa sensação é descrita como sendo uma situação em que o
indivíduo fica sem autonomia para escolher entre comer ou não comer.

Ainda, como critério de diagnóstico, o paciente deve relatar grau de sofrimento relativo
a esse comportamento recorrente, associado a um prejuízo do seu convívio social
causado por esse fenômeno.

O TCAP é uma doença que atinge indivíduos de todas as raças, sendo maior ocorrência
em mulheres, mas com grande acometimento em homens também. A relação de
distribuição aproximada entre os sexos está três mulheres para cada dois homens. A
doença se manifesta prioritariamente, no final da adolescência. Nos pacientes do sexo
feminino com esse diagnóstico o IMC é mais alto do que nas mulheres sem TCAP.
Outras distinções que podem ser observadas, também, são as oscilações de peso mais
frequentes, maior dificuldade em aderir a dietas ou em manter peso no tratamento da
obesidade.

Os pacientes portadores do TCAP costumam se autoavaliar, principalmente em função


de seu peso e forma do corpo, comportamento diferente dos obesos sem TCAP. Possuem
escores mais elevados de sintomas de depressão.

Alguns autores acrescentam outros “traços” comportamentais comuns nos pacientes


com TCAP, que são: autoestima baixa, impulsividade, perfeccionismo e a ocorrência de
pensamentos dicotômicos, do tipo “tudo ou nada”, “é ou não é”, “total controle ou total
descontrole”.

18
CAPÍTULO 3
Causas e consequências

A compulsão alimentar não tem uma causa específica reconhecida. Os transtornos


alimentares são resultados de múltiplas causas e envolvem as predisposições genéticas
e constitucionais, as influências socioculturais e as vulnerabilidades psicológicas
pessoais. Essas são as principais condições que poderíamos elencar como causas da
compulsão alimentar. Pode-se afirmar que o mecanismo de saciedade é regulado pelo
hipotálamo e deduz-se, então, que possivelmente o transtorno tenha origem nesse
mecanismo. A compulsão alimentar pode estar associada a sentimentos de ansiedade e
depressão, mas pode também acometer indivíduos bipolares e aqueles com transtornos
da personalidade que apresentam comportamentos de excesso em outras áreas, como
beber, fumar, jogar, comprar, usar drogas etc. (ABCMED, 2012).

Pode-se afirmar, também, corroborando a afirmação de Petribú (2011), que a obesidade


tem origem em diversos fatores, o que determina ser o fenômeno multicausal, por ser
resultante da interação entre fatores genéticos, individuais e ambientais.

A autora acrescenta que, embora os fatores individuais sejam frequentemente mais


valorizados e considerados determinantes para perfis de comportamentos alimentares
e padrões alimentares, pesquisas revelam, como causa da compulsão alimentar e de
outros transtornos alimentares, a interação entre o indivíduo e fatores ambientais.

Como fatores ambientais considerados responsáveis pelo fenômeno pode-se destacar


a valorização da sociedade contemporânea ao consumo, o aumento da quantidade de
valor calórico alimentar ingerido e a imposição de padrões de beleza. As estratégias de
marketing “brigam” no sentido de estimular o consumo de alimentos mais calóricos ao
mesmo tempo em que definem como “beleza” corpos magros e esculturais.

A parte da sociedade de consumo que estigmatiza pessoas com características


indesejáveis é cruel. Pessoas obesas sofrem preconceitos e rejeição por ser entendido
pela sociedade em geral que obesidade não é doença e é controlável facilmente pelo
indivíduo obeso. Isso faz com que o sujeito obeso sofra discriminação e provoque seu
isolamento social.

O sofrimento dos indivíduos obesos está diretamente relacionado aos rótulos recebidos
pela família e amigos: preguiçoso, pouco inteligentes, desmotivados, além dos muitos
apelidos com entonação pejorativa: “rolha de poço”, “bolo fofo” etc. Esses rótulos
afetam prejudicialmente suas relações interpessoais e no seu cuidado com a saúde.

19
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

Sikorski, Luppa e Kaiser (2011) afirmam que a decisão do obeso em reduzir o peso
não é motivada pelo cuidado com a saúde, mas sim para reduzir a estigmatização e o
consequente isolamento social. A vaidade tem um peso muito grande nessa decisão.

A sociedade culpa o obeso por ser obeso. Ainda que fatores genéticos, socioculturais
e ambientais sejam determinantes na obesidade de um indivíduo, a sociedade credita
ao indivíduo a maior responsabilidade pelo excesso de peso. Considerar que a culpa é
do obeso é como acreditar que o indivíduo escolhe ser obeso. Aliado a esta condição, a
sociedade ainda demonstra reações negativas, como rejeição, falta de empatia e pouca
ou nenhuma disponibilidade para ajudar o obeso.

Cobayashi et al. (2010) reconhecem que a aceitação social tem relação direta com uma
melhor aparência física. Acrescentam os autores, que esta aparência física “melhor” é
determinada pela mídia que impõe a magreza excessiva e os músculos bem definidos
como sendo o padrão aceitável.

A fragilidade das relações interpessoais tem origem na supervalorização do indivíduo


“bonito”, determinado apenas pela estética, em detrimento ao conteúdo humano
resultado das vivências em sociedade – excesso de valorização da imagem corporal.

Os diversos ambientes oferecem espelhos e balanças que dão destaque à imagem


individual como fator de sucesso e de aceitação. Matos e Luz (2009) afirmam que,
para a sociedade, a responsabilidade de autocontrole sobre o peso e o comportamento
adequado aos padrões estabelecidos são pré-requisitos para evitar constrangimentos
morais e sociais. Isso significa dizer que as pessoas internalizam a imagem dos seus
corpos a partir da interação com o ambiente e sua autoimagem é constantemente
reavaliada.

Pode-se considerar também, como uma das causas da compulsão alimentar, os fatores
genéticos predisponentes e, entre eles, destaca-se a história do transtorno alimentar
na família (transtorno de ansiedade, depressão). As pesquisas apontam que entre
portadores de Compulsão Alimentar Periódica é comum existirem parentes de primeiro
grau também com os mesmos transtornos ou quadros depressivo-ansiosos.

Javaras et al. (2008) em um estudo para identificar o fator genético no TCAP, concluíram
como sendo significante o componente genético na ocorrência do transtorno. Já as
pesquisas de Hudson et al. (2006) para saber se o TCAP está relacionado às famílias
independentemente da obesidade, os autores concluíram que o TCAP é uma desordem
causada, em parte, por fatores distintos dos outros fatores familiares da obesidade.
Para os autores os fatores familiares específicos dos portadores de TCAP independem
do aumento do risco de obesidade, principalmente os casos severos.

20
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

Morgan, Vevvhiatti e Negrão (2002) afirmam que há evidências da contribuição de fatores


genéticos a partir de estudos com gêmeos. A análise das diferenças de concordância da
doença em pares de gêmeos monozigóticos e dizigóticos determina a magnitude da
influência de aspectos genéticos nos portadores de TA. Os autores acrescentam que Bulik
et al. (2000) analisaram dados de estudos anteriores e concluíram que, seguramente,
há uma contribuição genética na bulimia nervosa, com valores entre 31% a 83%, tanto
em amostras populacionais como em amostras clínicas.

Outra consideração sobre causas do transtorno são os traços de personalidade que podem
interferir diretamente na modelagem dos hábitos alimentares das pessoas com TCAP.
Com relação a traços de personalidade que podem causar o transtorno, as vulnerabilidades
e fragilidades emocionais pessoais decorrentes de eventos vitais significativos durante a
vida do indivíduo são descritos como causas prováveis do transtorno. Entre os traços de
personalidade com maior ocorrência do transtorno destaca-se o tipo de relacionamento
existente o sujeito e o objeto, ou seja, sujeito x comida. Assim, podem aparecer indivíduos
que apresentam como características de personalidade a avidez, na busca continuada de
saciedade e na incapacidade de protelação do prazer, entre outros.

Transtorno que Thaila Ayala revelou ter tem


cura? Como é o tratamento?

Figura 3.

Fonte: <http://www.bolsademulher.com/saude/transtorno-que-thaila-ayala-revelou-ter-tem-cura-como-e-o-tratamento-
entenda> Acesso em: 1/6/2016.

A compulsão alimentar é um daqueles transtornos de saúde que se confundem


com maus hábitos e te fazem acreditar ser capaz de reverter a situação quando
quiser, provavelmente na próxima segunda-feira, dia de começar a dieta. Mas o
problema não é tão simples assim e a atriz Thaila Ayala sabe bem disso. Thaila
Ayala tem compulsão alimentar. Ao site Ego, a atriz afirmou que há muitos anos

21
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

convive com a compulsão alimentar e já chegou a tratar o problema com terapia:


“Desconto tudo na comida, aí depois fico com indigestão, passando mal. Hoje
em dia estou mais controlada, mas continuo com aquela coisa obsessiva porque
amo comer. Só não sou tão doente como já fui”.

22
CAPÍTULO 4
Diferenças e semelhanças TCAP X
bulimia nervosa

Os transtornos alimentares podem ser identificados por diferentes síndromes a


depender de inúmeras características apresentadas pelos pacientes. A identificação
correta da síndrome auxilia no tratamento da doença.

A definição de bulimia nervosa se deu a partir do conceito de anorexia nervosa.


Inicialmente não havia distinção entre as duas síndromes. As primeiras ocorrências
registradas incluíam alguns episódios de vômitos, o uso de laxantes e a presença de
transtornos gastrointestinais. A categorização “bulimia” ocorreu pela primeira por
Gerald Russell na década de 1970. Foi catalogado no DSM III nos anos 1980; atualmente
é descrita no DSM V.

A bulimia nervosa é um dos vários tipos de transtorno alimentar. A pessoa portadora da


síndrome bulimia nervosa adota o comportamento de ingestão de uma quantidade muito
grande de comida em espaço curto de tempo; em seguida busca evitar o ganho de peso
provocando vômitos ou tomando laxantes a fim de se livrar do que comeu. O paciente
portador da doença não consegue controlar a quantidade de alimentos que come. As
pessoas com bulimia nervosa também podem apresentar como sintoma o excesso de
exercício físico como estratégia de prevenção de ganho de peso. Diferentemente do
transtorno anorexia, a pessoa com bulimia nervosa pode estar dentro da faixa de peso
normal.

A bulimia nervosa não pode ser considerada apenas um problema do paciente e sua
relação com a comida. O sintoma “alimentação compulsiva” no portador de bulimia
nervosa pode ser desencadeado por diversos “gatilhos” como a dieta, estresse ou a
experimentação de emoções desconfortáveis, como a frustração. A provocação de
vômitos bem como outras ações para prevenção do ganho de peso se apresentam para
o portador da doença como formas de sentir que tem controle sobre sua vida e seu
comportamento alimentar. São várias as causas para a ocorrência da bulimia nervosa,
dentre elas o culto à magreza, incidência do transtorno em membros da família, estresse
e fatores biológicos.

23
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

Intervenção comportamental em casos de


bulimia nervosa
A literatura acerca do tema bulimia nervosa apresenta, desde 1979, uma grande
quantidade de pesquisas e estudos controlados que visam descrever, avaliar
e sistematizar tratamentos para o transtorno em questão (BACALTCHUK; HAY,
1999). Esses estudos foram estruturados tendo como base diversas abordagens,
tais como terapia cognitivo-comportamental, terapia interpessoal, psicoterapia
de orientação psicanalítica, terapia psicodinâmica, abordagem familiar,
farmacoterapia, entre outras. Entretanto, artigos fundamentados na teoria da
análise do comportamento são escassos na literatura.
Fonte: Disponível em <http://www.institutoinnove.com.br/intervencao-comportamental-em-
casos-de-bulimia-nervosa/>

A seguir, são apresentados os critérios diagnósticos para transtornos alimentares TCAP


e bulimia nervosa, de acordo com o DSM-5 (APA, 2013).

Quadro 1. Diferenças e semelhanças entre TCAP e bulimia nervosa.

Transtorno da compulsão alimentar periódica Bulimia nervosa


Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de
alimentar é caracterizado por ambos os seguintes critérios: Ingestão, em compulsão alimentar é caracterizado por ambos os seguintes
um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de um período de 2 critérios: Ingestão, em um período limitado de tempo (por exemplo,
horas), de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a dentro de um período de 2 horas), de uma quantidade de alimentos
maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstâncias definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em
similares; sentimento de falta de controle sobre o episódio (por exemplo, um período similar, sob circunstâncias similares; sentimento de falta
um sentimento de não conseguir parar ou controlar o que ou quanto se de controle sobre o episódio (por exemplo, um sentimento de não
come). conseguir parar ou controlar o que ou quanto se come).

Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) Comportamentos compensatórios inapropriados para prevenir ganho
dos seguintes critérios: comer muito e mais rapidamente do que o normal; de peso, como vômito autoinduzido; abuso de laxantes, diuréticos ou
comer até sentir-se incomodamente repleto; comer grandes quantidades outras medicações; jejum; ou excesso de exercício físico.
de alimentos, quando não está fisicamente faminto; comer sozinho por
embaraço devido à quantidade de alimentos que consome; sentir repulsa
por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente.
Acentuada angústia relativa à compulsão alimentar. A compulsão e o comportamento compensatório inapropriado devem
ocorrer, no mínimo, pelo menos uma vez por semana, por 3 meses.
A compulsão alimentar ocorre, em média, 1 dia por semana, durante 3 Autoavaliação indevidamente influenciada pelo peso e forma corporal.
meses.
A compulsão alimentar não é associada com o recorrente uso de O transtorno não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia
comportamentos compensatórios inapropriados como na bulimia nervosa e nervosa.
não ocorre exclusivamente durante o curso da bulimia nervosa ou anorexia
nervosa.
Gravidade 4: Leve: média de 1 a 3 episódios de compulsão alimentar por Gravidade 3: Leve: média de 1 a 3 episódios de comportamentos
semana Moderada: média de 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por compensatórios por semana Moderada: média de 4 a 7 episódios de
semana Grave: média de 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por comportamentos compensatórios por semana Grave: média de 8 a 13
semana Extremo: média de 14 ou mais episódios de compulsão alimentar episódios de comportamentos compensatórios por semana Extremo:
por semana. média de 14 ou mais episódios de comportamentos compensatórios
por semana.

Fonte: <http://manualdecardiologia.com.br/galeria/Atualiza%C3%A7%C3%A3o%207_novo.pd>f Acesso em: 5/6/2106.

24
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

Na comparação entre pacientes com bulimia nervosa e pacientes com TCAP observa-
se que é recorrente em pacientes com TCAP a ocorrência de oscilação maior e menor
intensidade de restrição alimentar. Também, diferentemente da bulimia nervosa em que
a compulsão alimentar geralmente é seguida de um episódio purgativo, nos pacientes
com TCAP esse comportamento não ocorre; isso limita e dificulta a possibilidade de
identificação do transtorno.

Na história clínica dos pacientes com TCAP, são relatadas experiências frustradas
nas inúmeras tentativas de dietas para controle alimentar associadas à sensação de
descontrole. Em pacientes com bulimia nervosa encontram-se históricos de flutuação
de peso mais intensas do que nos pacientes obesos sem TCAP. Outra distinção que
pode ser destacada é que os pacientes com TCAP relatam menos episódios de restrição
alimentar se comparados aos pacientes com bulimia nervosa.

25
CAPÍTULO 5
TCAP em homens, mulheres, crianças e
adolescentes

A obesidade aumenta em ritmo acelerado no mundo todo, entretanto, cada país


apresenta uma prevalência diferente. A IOTF – International Obesity Task Force
apresentou, em 2013, resultado de pesquisa onde aponta prevalências de obesidade em
adultos por região e, desta forma, foram considerados obesos (IASO, 2013):

»» Estados Unidos da América entre 2009 e 2010: 35,5% dos homens e


35,8% das mulheres eram classificados como obesos.

»» Espanha entre 2008 e 2010: 24,4% dos homens e 21,4% das mulheres.

»» Austrália nos anos de 2007 e 2008: 25,6% dos homens e 24% das
mulheres.

»» Inglaterra em 2011: 23,6% dos homens e 25,9% das mulheres.

»» Canadá nos anos de 2007 a 2009, 27,6% dos homens e 23,5% das
mulheres.

O cenário no Brasil não é menos preocupante; tem-se observado índices de obesidade


que aumentam numa velocidade cada vez mais acelerada.

Incidência de TCAP em homens


São muito poucas as doenças ou síndromes na medicina em geral e, em particular,
na psiquiatria que apresentam uma distribuição por gênero tão assimétrica quanto os
transtornos alimentares. Apenas 10% dos casos ocorrem em pessoas do sexo masculino.
Esta distribuição exageradamente desproporcional pode ser atribuída a fatores
biológicos e culturais. Pode ser, também, a dificuldade no diagnóstico da síndrome em
homens. Embora tenha crescido o interesse pelos casos de transtornos alimentares
nas últimas décadas, seu reconhecimento nos homens pode ser considerado pobre e
cercado de estereótipos.

Os transtornos alimentares apresentados tanto em homens como em mulheres são


bastante similares, tanto em termos clínicos como na resposta ao tratamento, é o que

26
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

afirma Braun et al. (1999). Mas, mesmo assim, as pesquisas mostram que homens
portadores de transtornos alimentares apresentam algumas peculiaridades.

De um modo geral, os portadores de transtornos alimentares do sexo masculino estão


mais satisfeitos com seus corpos e os percebem com menos distorção em comparação
aos pacientes do sexo feminino (WOODSIDE, 1990). Para os homens se considerarem
com sobrepeso a “régua” é cerca de 15% acima do peso que as mulheres já consideram
sobrepeso (ANDERSEN, 1995). Braun et al. (1999) encontraram somente 2% dos homens
se percebiam erroneamente com sobrepeso, enquanto 40% das mulheres percebiam
um excesso de peso inexistente. A diferença de percepção se justifica principalmente
por causas relacionadas a fatores culturais.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, realizada no período 2008 e 2009,


patrocinada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, juntamente com
o Ministério da Saúde – MS, revelou dados alarmantes: 49% da população adulta com
idade acima dos 20 anos apresentava excesso de peso. A mesma pesquisa revelou que
14,8% já eram considerados obesos. O excesso de peso na população masculina quase
triplicou. Em termos de gênero, a pesquisa encontrou que os homens apresentaram um
maior ganho de peso, em comparação ao resultado encontrado no biênio 1974 -1975:
18,5¨% (197401975) para 41,4% (2002-2003) e 50,1% (2008-2009) (IBGE, 2010).

A POF realizada no período entre 2008 e 2009 apresentou resultado dando conta de
uma prevalência de 51% de excesso de peso e 13,3% de obesidade entre os homens,
enquanto 45,6% das mulheres eram classificadas com excesso de peso e 16,3% como
obesas (IBGE, 2010). O mesmo estudo revelou que na cidade de Goiânia a prevalência
de obesidade entre os homens é de 10,4% e nas mulheres de 13,4%.

A WHO – World Health Organization (2004) destaca que nos primeiros estudos
sobre obesidade, observava-se maior frequência do fenômeno nas mulheres do que
nos homens. Atualmente, a partir das últimas décadas, estudos realizados no período
de 1974 e 1989, evidenciaram um crescimento de 77% e 60%, respectivamente, na
população de homens e mulheres obesos no mundo.

27
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

Figura 4.

Fonte: <http://www.zun.com.br/o-que-e-a-compulsao-alimentar/> Acesso em: 6/6/2016.

Geralmente o distúrbio TCAP acomete indivíduos de todas as raças, com distribuição


entre os gêneros de três mulheres para cada dois homens. Os estudos demonstram que,
na maioria das vezes, o transtorno tem início no final da adolescência.

Ainda, com relação aos aspectos socioculturais que são preditores dos transtornos
alimentares, existem estudos que têm o objetivo de identificar os grupos sociais mais
atingidos ou mais vulneráveis à ocorrência desses transtornos; estudam, também, os
processos sócio-histórico-culturais que podem contribuir para a explicação do aumento
de peso e da sua incidência em geral.

Morgan e Azevedo (1998) realizaram estudos epidemiológicos que demonstram uma


maior prevalência desses transtornos em países ocidentais desenvolvidos, em indivíduos
de classes sociais mais altas, em alguns grupos ocupacionais (atrizes, modelos,
bailarinas, nutricionistas, jockeys), em adolescentes e jovens e, principalmente, em
mulheres. Os autores argumentam que estes resultados reforçam a importância de se
estudar a importância dos fatores socioculturais na determinação e incidência desses
transtornos. Isto por que, segundo os autores, nenhum aspecto biológico ou psicológico
identificado até o momento parece capaz de explicar, isoladamente, essa prevalência de
sexo, idade, distribuição geográfica, ocupacional e socioeconômica.

Fonte oficial do governo brasileiro calculou, em 2004, que cerca de 40% da população
esteja com peso acima do recomendado, sendo que 8% dos homens e 13% das mulheres
com mais de 18 anos sofrem de obesidade. (Fonte: <www.saude.gov.br> 2004). Já no
sítio do Palácio do Planalto, em artigo publicado em abril/2015, o Ministério da Saúde
informa que “Há três anos, o Brasil mantém o nível de obesidade da população estável”.
É o que mostra a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL, 2014), divulgada no dia 15/4/2016 pelo
Ministério da Saúde. Contudo, a pesquisa constatou que 52,5% dos brasileiros estão
com excesso de peso.

Montenegro (2004) descreve, com relação à obesidade em homens, que pesquisa


americana, publicada em 2003 no The New England Journal of Medicine, aponta a

28
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

obesidade como responsável por 14% das ocorrências de câncer entre os homens e por
20% dos casos entre as mulheres.

Vários fatores contribuem para que o número de diagnósticos de transtornos alimentares


em homens seja menor que a incidência em mulheres. Entre eles estão os motivos que
levam os homens a fazer dieta, que são diferentes da motivação das mulheres. Com
relação ainda ao sexo masculino tem-se que a ocorrência de transtornos alimentares é
mais frequente em atletas.

Russel e Keel (2002) declaram que entre homens com transtornos alimentares, parece
haver associação específica entre homossexualidade masculina e índices elevados de
sintomatologia de transtornos como bulimia nervosa e anorexia nervosa. Algumas
explicações para o alto índice de homossexualismo entre homens com transtornos
alimentares foram descritas por Herzog, Bradburn, Newman (1990): os “TA” ainda são
vistos como uma doença feminina, o que pode tornar difícil para os homens heterossexuais
admitir que estão doentes; os homens que apresentam comportamentos estereotipados
são confundidos com gays. Ainda com relação ao índice de homossexualismo entre
os “TA”, Andersen (1999) lembra que a magreza, a forma do corpo e os músculos
trabalhados são muito valorizados pelos homossexuais.

Finalmente, Braun et al. (1999), afirmam que as evidências sugerem que homens com
TA têm uma prevalência mais alta de obesidade pré-mórbida do que as mulheres.
Os autores acrescentam que muitos pacientes relatam que começaram a fazer dieta
motivados pela necessidade de evitar conviver com críticas e apelidos de infância
relacionados à obesidade.

Incidência de TCAP em mulheres

A incidência de transtornos alimentares e suas diversas formas de apresentação


são quadros psiquiátricos que tem no gênero feminino – mulheres adultas jovens e
adolescentes – suas principais vítimas. Os resultados das pesquisas apontam para uma
elevada associação entre obesidade x excesso de peso x compulsão alimentar no gênero
feminino.

Como já foi dito, os transtornos alimentares possuem causas multifatoriais, que podem
ser de origem genética, sociocultural, biológica ou psicológica.

Suas primeiras manifestações aparecem, geralmente, na infância ou na adolescência.


São considerados como de grande importância médico-social, pois afetam seriamente
a saúde dos indivíduos portadores dos sintomas, mas ainda não são considerados como
doenças por ainda não se conhecer sua etiopatogenia (estudo das causas das doenças

29
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

e dos mecanismos patogênicos que atuam sobre o organismo para provocar essas
doenças).

Deve-se considerar que obesidade é uma patologia crônica, que apresenta altos índices
de insucessos em tratamentos com o auxílio de profissional de saúde, com várias
recidivas, sendo considerado um agravo de difícil controle e que pode gerar sérias
complicações orgânicas e psicossociais (WANDERLEY; FERREIRA, 2010).

As pesquisas estão aí para demonstrar que cada vez mais pessoas, principalmente
mulheres jovens e adolescentes, perseguem uma imagem corporal dentro dos padrões
e se envolvem com comportamentos alimentares anormais e práticas inadequadas para
controle e perda de peso (DUNKER; PHILIPPI, 2003).

O ideal de corpo perfeito preconizado pela nossa sociedade e veiculado


pela mídia leva as mulheres, sobretudo na faixa adolescente, a uma
insatisfação crônica com seus corpos, ora se odiando por alguns quilos
a mais, ora adotando dietas altamente restritivas e exercícios físicos
extenuantes como forma de compensar as calorias ingeridas a mais,
na tentativa de corresponder ao modelo cultural vigente. (KUTSCKA,
1993).

Nielsen (2011) elaborou revisão de estudos epidemiológicos e encontrou, entre mulheres,


a incidência de transtornos alimentares do tipo anorexia nervosa é de aproximadamente
8 por 100 mil indivíduos. Já o transtorno bulimia nervosa, Nielsen encontrou que
a incidência no gênero feminino é de 13 por 100 mil indivíduos. Segundo o autor, a
afirmação de que há um aumento na incidência de transtornos alimentares em países
de cultura ocidental, nos últimos anos, permanece questionável, com a demonstração
de resultados ainda contraditórios.

Klein e Walsh (2004) afirmam que os transtornos alimentares afetam


predominantemente mulheres jovens; os autores acrescentam que existe uma
prevalência média de relação homem-mulher de 1:10 e até de 1:20. Os estudos feitos
por Striegel-Moore et al. (2003) apontaram que entre as mulheres, os transtornos
alimentares parecem ser mais comuns naquelas de origem caucasiana, quando
comparadas com mulheres negras; o transtorno alimentar mais comum, neste caso, é
a bulimia nervosa com uso de laxantes. Com relação à profissão, Klein e Walsh (2004)
afirmam que atletas, modelos e bailarinas também parecem ter o risco aumentado
na incidência do fenômeno anorexia nervosa. Nessas atividades, existe uma pressão
ainda maior para obtenção e manutenção do corpo magro.

30
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

Incidência de TCAP em crianças e em


adolescentes

Distúrbios alimentares aumentam entre as


crianças
Estatísticas e a prática dos consultórios apontam crescimento da anorexia e da
bulimia precoces.

Segundo estudo Academia Americana de Pediatria, as internações de menores


de 12 anos com distúrbios alimentares cresceram 119% nos Estados Unidos,
entre 1999 e 2006.

Figura 5.

Fonte: <http://veja.abril.com.br/saude/disturbios-alimentares-aumentam-entre-as-criancas/>

Os transtornos alimentares causam vítimas em todas as faixas etárias: algumas mais


e outras em menor escala. O fato é que o fenômeno acomete crianças, adolescentes,
jovens, adultos e idosos.

Escrivão (2000) afirma que existiam no Brasil em 1989 cerca de um milhão e meio
de crianças obesas; acrescenta que a prevalência era pouco maior entre meninas do
que entre meninos (5% e 4,8%). Com relação aos aspectos geográficos, a prevalência
da obesidade na região Sul era de 7,2% e na região Sudeste era de 6,2%. Esses dados
demonstravam que eram mais do que o dobro da observada na região Nordeste – 2,5%.
As regiões Norte e Centro-Oeste apresentam prevalência intermediária em relação
às outras regiões. O autor descreve, também, que entre as crianças pertencentes às
famílias de renda maior a proporção de obesos era em torno de 8% comparada com
2,5% nas pertencentes às famílias de menor renda. Em relação à distribuição por faixa
etária, a obesidade era mais evidente nos dois primeiros anos de vida.

31
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

Escrivão (2000) recorre às teorias ambientalistas para explicar os maiores índices de


obesidade nas regiões mais desenvolvidas do país, onde está mais adiantado o processo
de modernização industrial e, portanto, as mudanças de hábitos que o acompanham.
Além das teorias ambientalistas, evidencia-se ainda, segundo o autor, que a obesidade
é mais frequente durante os primeiros anos de vida e está associada a práticas de
desmame precoce e difusão de normas de dietética infantil incorretas, que estimulam a
superalimentação, chegando a premiar bebês obesos.

A adolescência é caracterizada como sendo um período de inúmeras transformações


biológicas e psicossociais e essas alterações no corpo ocorrem em paralelo à constituição
da personalidade, impactando diretamente no desenvolvimento afetivo e emocional.

Independentemente de qualquer transtorno, a mudança do corpo e a alteração do


peso transformam a imagem mental que o adolescente faz de si de mesmo. Isso pode
levá-lo a sentir-se estranho, desproporcional, ou seja, ter uma imagem corporal
negativa. A diferença entre seu peso e o peso ideal definido pela mídia, além da
necessidade de adaptação social, associada a uma baixa autoestima, são alguns dos
fatores que determinam a insatisfação com o corpo.

Esse quadro pode, muitas vezes, ser o estopim para o início de comportamentos de
risco para transtornos alimentares. Neste contexto, o uso de dietas restritivas e de
métodos de controle de peso (vômitos autoinduzidos, laxantes, diuréticos, atividade
física excessiva) para emagrecer podem ocorrer de maneira frequente.

As pesquisas sobre comportamento alimentar e satisfação corporal de crianças e


adolescentes brasileiros têm levado os pesquisadores a avaliar e analisar as atitudes
alimentares dos jovens. O objetivo seria o de facilitar o reconhecimento precoce das
populações de risco de desenvolver as doenças relacionadas à obesidade.

Decaluwé, Braet e Fairburn (2003) realizaram pesquisa para identificação da prevalência


de TCAP em crianças e adolescentes que buscam tratamento para perda de peso. O
estudo apontou que 36,5% apresentavam episódios de Compulsão Alimentar; 6% desse
universo apresentavam dois ou mais episódios por semana.

Wildes et al. (2010) pesquisaram a ocorrência de sintomas como ansiedade, depressão,


desordem alimentar e perda de peso em 192 pacientes pediátricos com obesidade
severa. Os autores encontraram que crianças com TCAP apresentaram mais depressão,
ansiedade e desordens alimentares e autoestima mais baixa que o restante da amostra.
Ao final do acompanhamento, crianças com TCAP aumentaram em 2,6 % o seu peso,
enquanto em crianças sem o transtorno diminuíram em média, 8,5%.

32
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apurados no censo de


2010, revelam que 34 milhões de indivíduos têm idade entre 10 e 19 anos, o que representa
cerca de 18% da população total do país. Esses dados demonstram a necessidade de se
desenvolver políticas de saúde pública visando avaliar o comportamento alimentar de
grupo e desenvolver ações de prevenção e controle da obesidade.

A obesidade, em qualquer faixa etária, é uma doença de difícil tratamento e controle,


com altos índices de fracassos terapêuticos. O tratamento da obesidade em crianças
costuma ser negligenciado, muitas vezes por parte da família, mas, também, por
profissionais de saúde. Nos casos de obesidade infantil existe uma expectativa de que a
ocorra espontaneamente. As pesquisas demonstram que uma criança obesa tem muitas
chances de se tornar um adulto obeso. A probabilidade de a obesidade persistir na vida
adulta é bastante grande.

Escrivão, Oliveira e Taddei (2000) afirmam que vários estudos já foram realizados
com o objetivo de analisar a evolução da obesidade na infância e sua continuidade
na fase adulta, sendo os resultados bastante variáveis e de difícil comparação, devido
às diferenças na seleção das amostras, nos critérios utilizados para a definição da
obesidade, na análise e apresentação dos dados. Porém, os autores advertem, que há
uma tendência nestes estudos, em mostrar que crianças e adolescentes obesos, quando
comparados com não obesos, têm maior risco de ser adultos obesos.

Escrivão, Oliveira e Taddei (2000) acrescentam que o risco de a obesidade na infância


continuar na vida adulta está relacionado ao tempo de duração e à sua gravidade. As
taxas de remissão diminuem com o avanço da idade, e o aumento da gravidade aumenta
o risco de persistência. Aproximadamente 1/3 dos adultos obesos foram crianças
obesas, e quando a obesidade é grave, esta proporção aumenta para ½ a ¾ 40. Por
fim, os autores afirmam que o risco de a criança obesa se tornar adulto obeso aumenta
acentuadamente com a idade, dentro da própria infância. Assim, quanto mais idade
tem a criança obesa, maior probabilidade terá de ficar um adulto obeso.

33
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)

Figura 6.

Fonte: <http://joyce-trevisan.blogspot.com.br/ em 05/06/2016>

Segundo Leung e Robson (1990) a grande maioria das crianças desenvolve a obesidade
do tipo exógena, que seria o resultado do excesso de calorias consumidas em relação ao
dispêndio energético diário. Os autores acrescentam que além do consumo excessivo de
gordura e o baixo gasto energético a obesidade pode estar relacionada ao metabolismo
eficiente (que não consome muitas calorias para a realização das tarefas diárias), ou até
mesmo a combinação dos três fatores.

Segundo Leung e Robson (1990) citam, ainda, que estudos que relacionam a obesidade
infantil com o desmame precoce associado à introdução da mamadeira e alimentos
sólidos, os quais contêm alta concentração de solutos que provocam sede na criança,
que é recompensada com mais leite, tornando-se assim um círculo vicioso de calorias
ingeridas. Já Coutinho (1998) credita apenas ao desequilíbrio energético causado por
dietas hiperlipídicas, principalmente gorduras saturadas, associado à inatividade física.

Em qual categoria – gênero ou faixa de idade – existe maior propensão à


incidência de episódios de transtorno alimentar?

34
TRANSTORNOS
DA COMPULSÃO
ALIMENTAR UNIDADE II
PERIÓDICA E
OBESIDADE

Como já descrito na unidade anterior, o Transtorno da Compulsão Alimentar


Periódica é um fenômeno caracterizado pela ocorrência de episódios de ingestão de
grandes quantidades de comida em intervalos curtos de tempo, acompanhados da
sensação de perda de controle sobre a ingestão de alimentos e seguida de sentimento
de arrependimento por ter comido. Na literatura internacional esse fenômeno tem o
nome de Binge Eating.

É fato que o fenômeno mereça toda atenção médica, já que o índice de ocorrência é de
aproximadamente 2% da população geral e, em se tratando de obesos que procuram
tratamento médico, o índice é de cerca de 30%.

Nesta unidade trataremos do fenômeno Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica


e sua relação com a doença obesidade.

CAPÍTULO 1
Breve conceito sobre obesidade

O que é obesidade? Para responder esta pergunta deve-se considerar vários fatores e
visões das diferentes ciências.

Obesidade, para leigos, pode ser considerada o acúmulo de gordura no corpo provocado
quase sempre pela ingestão excessiva de calorias na alimentação. Esse conceito parece
muito simplista. Será que o fenômeno obesidade leva em conta somente o aspecto
acúmulo de gordura provocado por ingestão de calorias na alimentação?

Fisberg (1995) ampliou o conceito de obesidade ao afirmar que o fenômeno pode


ser classificado como o acúmulo de tecido gorduroso, localizado em todo o corpo,

35
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE

podendo ser causado por doenças genéticas, endócrino – metabólicas ou por alterações
nutricionais.

Já Coutinho (1998) recorreu ao Consenso Latino Americano em Obesidade, e afirma


que obesidade é uma enfermidade crônica que vem acompanhada de múltiplas
complicações, caracterizada pela acumulação excessiva de gordura.

A obesidade é provocada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que pode causar
vários danos à saúde. A identificação da obesidade em uma pessoa pode ser feita
por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal – IMC. Para se obter o resultado
e classificar o indivíduo como obeso ou não obeso basta dividir o peso corporal pela
altura elevada ao quadrado, como mostra a fórmula a seguir:

Ao se apurar o IMC pode-se definir a condição do sujeito como obeso ou não obeso. Para
tanto, a Organização Mundial de Saúde – OMS elaborou uma tabela onde classifica os
indivíduos segundo seu IMC.

Tabela 1. Classificação do índice de massa corporal segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS.

IMC Classificação

< 18,5 Baixo Peso

18,5 – 24,9 Peso Normal

25,0 – 29,9 Pré-obesidade

30,0 – 34,9 Obesidade Grau I

35,0 – 39,9 Obesidade Grau II

>40,0 Obesidade Grau III

Segundo a OMS, o índice considerado normal de massa corporal encontra-se na faixa


entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Os intervalos definidos para a classificação do IMC têm base no

36
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE│ UNIDADE II

efeito que o peso corporal tem na saúde e que o aumento do IMC representa elevação
do risco no desenvolvimento de várias doenças.

Esta classificação do IMC é utilizada para pessoas de hábitos alimentares e de rotinas


comuns. Não se aplica, portanto, às mulheres grávidas, aos atletas e às crianças.

Considera-se que IMC é um bom indicador de obesidade, embora não seja totalmente
correlacionado com a gordura corporal. Existem limitações nessa medida, como, por
exemplo, não distingue a massa gorda da massa magra; isso significa, principalmente,
que o resultado pode ser menos fidedigno na população mais velha, que, em função da
idade, tem maior perda de massa magra e, consequentemente, diminuição do peso.

Outro ponto que pode ser contestado nesse indicador de obesidade é que pode não
refletir, a distribuição da gordura corporal; ou seja, a gordura poderá estar concentrada
apenas numa região do corpo. Cheskin et al. (1999) afirmam que a medida da
distribuição de gordura é importante na avaliação de sobrepeso e da obesidade
porque a gordura visceral/intra-abdominal é um fator de risco potencial para doenças,
independentemente da gordura corporal total. Os autores defendem que indivíduos
com o mesmo IMC não necessariamente têm os mesmos índices de massa gordurosa
visceral. Um exemplo apontado pelos autores é a distribuição de gordura abdominal
entre homens e mulheres: para algum acúmulo de gordura corporal, o homem tem,
em média, o dobro da quantidade de gordura abdominal em relação à mulher na pré-
menopausa.

Yang Mu (1976) afirma que na população brasileira, utiliza-se a mesma tabela proposta
pela OMS para classificação de sobrepeso e obesidade e que seu uso apresenta limitações
similares às constatadas na literatura. O que se recomenda é a utilização da combinação
de medidas do IMC com medidas da distribuição de gordura; essa estratégia pode
ajudar a resolver alguns problemas que ocorrem na utilização do IMC de forma isolada.

<http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/05/04/da-obesidade-morbida-a-
anorexia-a-triste-historia-de-uma-jovem-de-21-anos/>

Da obesidade mórbida à anorexia: a triste


história de uma jovem de 21 anos
Malissa Jones, 21 anos, já foi a adolescente mais obesa do Reino Unido. Em 2008,
com o ponteiro da balança perto dos 203 quilos, ela recebeu um ultimato: era
perder peso ou morrer dentro de alguns meses. Malissa escolheu a primeira
alternativa e enfrentou uma cirurgia no estômago. Era a ajuda que ela precisava
para perder 127 quilos e chegar aos 76, meta estabelecida pelos médicos.

37
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE

Figura 7.

Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/05/04/da-obesidade-morbida-a-anorexia-a-triste-historia-de-
uma-jovem-de-21-anos/ Acesso em 25/06/2016

38
CAPÍTULO 2
Obesidade e suas principais
consequências clínicas

A obesidade é uma doença que pode afetar diversas áreas do nosso corpo provocando
inúmeras doenças.

Figura 8.

Fonte:< http://www.obesidade.info/consequenciasobesidade.htm> Acesso em: 26/6/2016.

Atualmente existe uma maior preocupação com a obesidade pela doença ter se
transformado numa epidemia mundial. Sendo assim, há uma maior necessidade
por tratamentos seguros e efetivos. Para cuidar da saúde da população mundial é
necessário dar ênfase às ações e estratégias voltadas para a prevenção da obesidade.
Essa preocupação se justifica, pois, políticas de combate à obesidade podem evitar
devastadoras consequências das doenças relacionadas como diabetes, hipertensão e
aterosclerose.

O índice aumentado da obesidade na população promove consequências físicas e


mentais em longo prazo. Não só na idade adulta, mas, também, na infância, a obesidade
tem relação direta com o aumento do risco de diversas doenças. Assim sendo, os índices
que apontam para o aumento da prevalência da obesidade na infância e os riscos de
saúde justificam esforços para a sua prevenção.

39
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE

Figura 9.

Fonte: <http://www.obesidade.info/consequenciasobesidade.htm> Acesso em: 26/6/2016.

Consequências clínicas

Para Mancini  et al. (2001) vários distúrbios fisiopatológicos são causados pela
obesidade, e isso ocorre, principalmente nas pessoas com IMC acima de 30 kg/m2. Os
distúrbios decorrentes da obesidade podem ser:

»» Cardiovasculares – hipertensão arterial sistêmica, hipertrofia


ventricular esquerda com ou sem insuficiência cardíaca, doença
cerebrovascular, trombose venosa profunda, entre outros.

Figura 10. O excesso de peso faz com que o coração trabalhe mais.

Fonte: <http://brasilescola.uol.com.br/saude-na-escola/conteudo/obesidade-doencas-cardiovasculares.htm>
Acesso em: 27/6/2016.

É consenso entre os profissionais da área médica que a obesidade é um fator preditivo


no risco de acometimento de doenças cardiovasculares; ainda, é consenso também entre

40
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE│ UNIDADE II

os profissionais da área, que o fenômeno obesidade tem tido aumento de prevalência


nas populações dos países industrializados. Ao ultrapassar o índice de 30kg/m² de IMC
aumenta acentuadamente o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares. A gordura
chamada comumente de “gordura visceral” tem, ainda, maior relação com a ocorrência
de doença arterial coronariana. A gordura visceral é identificada por meio de uma
medida de referência: homens de 106 cm de circunferência abdominal e mulheres de
94 cm; os sujeitos que ultrapassam essas medidas estão inseridos nesta categoria de
riscos.

Outras consequências provocadas pela obesidade, que afetam o sistema circulatório,


são a hipertensão arterial sistêmica e o aumento do volume do coração que podem
aparecer. E mesmo não ocorrendo a hipertensão sistêmica poderá ocorrer hipertrofia
(crescimento) do ventrículo esquerdo.

»» Endócrinos – diabetes mellitus tipo II, dislipidemia, hipotireoidismo,


infertilidade e outros.

De um modo geral as pessoas diabéticas e que estão com excesso de peso, são orientadas
pelo seu médico a adotarem medidas para emagrecer. Afinal, por que tanta os diabéticos
não podem ser obesos? Qual a relação entre diabetes e excesso de peso?

A obesidade é fator de risco, também, para os diabéticos; contribui para resistência à


insulina, segundo pesquisas. Em indivíduos obesos, para provocar dilatação vascular
para irrigação da musculatura esquelética, o organismo exige uma dose de insulina
quatro vezes maior em relação a um indivíduo não obeso.

Ou seja, a “gordura” piora as condições do paciente diabético. Independente de o


paciente ser diabético ou não, o aumento do tamanho das células gordurosas implica
na necessidade de mais insulina.

As células gordurosas possuem “receptores” onde as moléculas de insulina devem


se encaixar. O aumento do tamanho das células de gordura provoca uma redução do
número de seus receptores. Isso faz com que elas necessitem de uma maior quantidade
de insulina.

»» Respiratórias – apneia obstrutiva do sono, síndrome da hipoventilação,


doença pulmonar restritiva.

Existe correlação estreita entre obesidade e algumas doenças respiratórias crônicas


nomeadamente, como a asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC. Esta
correlação pode ser explicada a partir de diversos fatores. A primeira causa é que a
obesidade provoca a uma diminuição da distensibilidade e dos volumes pulmonares;
provoca, também, diminuição do diâmetro das vias aéreas periféricas, o que torna mais
difícil a entrada e a saída do ar dos alvéolos.

41
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE

Outro fator que pode elevar o risco de doenças respiratórias é que a obesidade provoca
alterações na circulação do sangue nos pulmões, o que dificulta a troca de gases entre o
ar que inspiramos e o sangue – entrada de oxigênio e saída de dióxido e carbono. Nas
pessoas obesas existe um aumento da função das células de gordura e a consequente
produção de numerosos mediadores químicos que favorecem a inflamação. Tanto a
asma como a DPOC são doenças em que ocorre uma inflamação crônica das vias aéreas.

»» Distúrbios psicossociais, como sentimento de inferioridade e


isolamento social.

Os obesos têm a autoestima comprometida, e, principalmente, nos adolescentes do


sexo feminino essa condição ocorre com maior frequência. Por isso, é muito importante
estar atento às funções psicossociais dos adolescentes e, em especial as meninas. As
pesquisas demonstram que a ocorrência da obesidade na infância é terreno fértil para
maior risco de desenvolvimento de distúrbios de comportamento alimentares na
adolescência e no início da vida adulta.

»» Neoplasias – como câncer de mama ou próstata.

A explicação para a relação entre a obesidade e câncer está no acúmulo de gordura


no tecido adiposo, que pode desenfrear a multiplicação de células malignas. O risco
para saúde vai além das doenças “tradicionais” com as quais a obesidade pode estar
relacionada. A obesidade desenvolve nos pacientes uma parcela significativa dos
fatores de risco que levam as pessoas a desenvolverem alguma neoplasia. O risco eleva
se considerarmos outros fatores como ambientais, o tabagismo e problemas genéticos.

Câncer e obesidade, qual a evidência?

<http://www.onconews.com.br/site/atualizacao-cientifica/atualizacao-
cientifica/artigos-cient%C3%ADficos/1185-c%C3%A2ncer-e-obesidade,-qual-
a-evid%C3%AAncia.html>

Além das doenças relacionadas, a obesidade pode, ainda, ser causadora de:

»» disfunções gastrointestinais, como hérnia de hiato e colecistite;

»» distúrbios músculos-esqueléticos, como osteoartrose e defeitos posturais;

»» distúrbios geniturinários, como anovulação e problemas gestacionais;

»» distúrbios dermatológicos, como estrias e papilomas;

»» aumento do risco cirúrgico e anestésico;

»» diminuição da agilidade física.

42
CAPÍTULO 3
TCAP x obesidade

O Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica é um fenômeno psiquiátrico que pode


desencadear diversas patologias orgânicas como dislepidemias, hipertensão, diabetes,
a partir do efeito principal causado pelo transtorno – a obesidade.

A obesidade é uma doença que integra o grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) e se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que provoca
prejuízos à saúde dos indivíduos. A obesidade é um transtorno que envolve aspectos
ambientais e genéticos. Atualmente, a obesidade é considerada um problema de
saúde pública mundial. A elevação dos índices de obesidade ocorre tanto nos países
desenvolvidos como, também, nos em desenvolvimento.

As mudanças comportamentais ocorridas nas últimas décadas, caracterizadas por


pressões sociais que valoriza o corpo esbelto faz com que as pessoas com sobrepeso
sejam frequentemente vistas de forma depreciativa e, consequentemente, sejam alvo de
preconceito e discriminação nos diversos ambientes como locais de trabalho, de lazer,
escola etc.

A OBESIDADE É UM IMPORTANTE (grifo dos autores) problema de saúde pública,


tendo em vista sua alta prevalência, a dificuldade no controle e o elevado índice de
recidiva. Estima-se a frequência de 5 a 30% do transtorno da compulsão alimentar
periódica (TCAP) em obesos que buscam serviços especializados para tratamento da
obesidade, embora tenha sido encontrada prevalência de até 50%, comparada a 2­3% na
população geral (PETRIBÚ et al., 2006).

Esses autores acrescentam dados encontrados por Appolinário et al. (1995), Coutinho
(2000) e Borges (1998) que demonstram que no Brasil, há uma prevalência entre 15%
e 22% em pacientes que procuram tratamento para emagrecer. Entre os pacientes
que realizaram a cirurgia bariátrica, esta prevalência pode variar de 27% a 47% (8,9).
Aproximadamente 20% das pessoas que se identificam como portadoras de compulsão
alimentar possuem diagnóstico de TCAP (10,11). A dimensão variada encontrada na
prevalência do TCAP é devida, em parte, às variações das definições de compulsão (11).

Dobrow, Kamenetz, Devlin (2002) afirmam que a obesidade não é classificada como
um transtorno psiquiátrico. Os autores dizem que, por muito tempo, a obesidade foi
compreendida como uma manifestação somática de um conflito psicológico que, em
determinados indivíduos com formação egoica inadequada, seria solucionado por meio

43
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE

da alimentação excessiva. Ainda existe muita aceitação, por parte da população leiga,
dessa teoria e também por uma boa parte dos profissionais de saúde. Uma visão mais
moderna e atualizada não aceita esta postura, a não ser quando se trata de obesos da
população geral.

Os pesquisadores têm se preocupado cada vez em obter respostas para as questões


relacionadas entre obesidade e transtornos psiquiátricos. Os estudos com amostras
comunitárias, concluem que os indivíduos com obesos geralmente não apresentam
índices maiores de psicopatologia se comparados aos indivíduos com peso normal.
Mas, inversamente proporcional a este dado, nos obesos que procuram tratamento têm
se encontrado índices significativamente mais elevados de depressão e mais modestos
de transtornos de ansiedade (incluindo agorafobia, fobia simples e transtorno de
estresse pós-traumático), bulimia, tabagismo e transtorno de personalidade borderline
(BLACK; GOLDSTEIN; MASON, 1992).

Petribú et al. (2006) afirmam que a discrepância encontrada entre amostras comunitárias
e clínicas pode ser reflexo da tendência dos indivíduos que sofrem de algum transtorno
comórbido de serem mais comprometidos e, portanto, mais propensos a procurar
tratamento. Os autores afirmam, ainda, que de qualquer forma, na medida em que
lidamos com populações clínicas, o achado de maior depressão comórbida é relevante
e deve ser considerado ao se avaliar pacientes que se apresentam para tratamento de
obesidade. No entanto, até agora parece não ser possível estabelecer uma relação de
causa-efeito.

Figura 11.

Fonte: <http://dicasrafaeIasahib bIoqspotcombr/201 1/O2lcompulsao-alimentar-sera-que-nao. Html> Acesso em:

28/6/2016.

44
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE│ UNIDADE II

Os achados com associação de excesso de peso corporal e transtornos psiquiátricos


poderiam ser explicados pelo seguimento de dietas ou por outras doenças, sendo de
relevância o TCAP. Spitzer et al. (1993) afirmam que os obesos com TCAP apresentam
obesidade mais precoce que os não compulsivos, iniciam mais cedo a preocupação com
peso e dietas, apresentam maior flutuação de peso e passam mais tempo de suas vidas
tentando emagrecer. Segundo os autores, eles tendem a engordar se comparados aos
obesos sem este transtorno.

Coutinho (2000) diz que o TCAP está relacionado a sintomas psicopatológicos em geral
(sobretudo depressão), a maior gravidade da obesidade e a prejuízo no funcionamento
social e ocupacional. Petribú et al. (2006) verificou que os obesos portadores de TCAP
tiveram maior número de tratamentos para emagrecer e apresentaram mais episódios
de depressão que os não compulsivos.

Rieger et al. (2005) também pesquisaram a relação existente entre obesidade e TCAP.
Os autores encontraram que pessoas obesas portadoras de TCAP apresentaram um
maior comprometimento nos aspectos psicossociais da escala de qualidade de vida em
relação aos não compulsivos. Os autores destacaram que o TCAP foi mais associado ao
comprometimento do que a obesidade sozinha.

Masheb e Grillo (2004), na mesma linha de investigação, encontraram que os comedores


compulsivos apresentavam um pior funcionamento em todos os domínios da SF-36,
quando comparados com controles normais, bem como em alguns domínios, quando
comparados a obesos que buscaram tratamento.

O Short Form-36 - SF-36 - é um instrumento de medida de qualidade


de vida desenvolvido no final dos anos 80 nos EUA. Foi aplicado em
diversas situações com boa sensibilidade, eliminando-se o problema
de distribuição excessiva das pontas de escala como excelente e muito
ruim (VIACAVA, 2002).

Na pesquisa de Petribú et al. (2006) foi encontrado que os pacientes com TCAP
apresentaram piores escores em todos os domínios da SF-36 quando comparados ao
grupo sem TCAP. Os autores concluíram que o grupo com TCAP apresentou maior
número de tratamentos realizados com objetivo de perder peso, elevada prevalência
de depressão maior no momento da avaliação, piores escores em todos os domínios da
escala de qualidade de vida SF-36. Foi observada ainda uma alta prevalência de TCAP
e de outros transtornos psiquiátricos.

Os obesos que são portadores do transtorno compulsão compulsiva apresentam um


início do quadro de obesidade mais precoce que os não compulsivos. Além desse fator,

45
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE

os obesos com TCAP têm outra condição em comum: iniciam mais cedo a preocupação
com peso e dietas, adotando diferentes estratégias: absurdas ou mais conservadoras.
Outro dado que se encontra entre os obesos com TCAP é que eles apresentam ainda
maior incidência de flutuação de peso e dedicam muito tempo de suas vidas na tentativa
de emagrecer.

A compulsão por comida representa uma dificuldade no tratamento de pacientes


obesos. É comum, nesta população, episódios interrupção prematura nos tratamentos
pela incapacidade de o paciente controlar a ingestão de alimentos. Esses indivíduos
têm maior tendência a engordar quando comparados aos sem este transtorno.

46
TRANSTORNOS
ALIMENTARES UNIDADE III
COM MENOR
INCIDÊNCIA

De um modo geral, define-se como sendo um transtorno alimentar perturbações no


comportamento alimentar que podem levar ao emagrecimento exagerado – caquexia
(estado de extrema fraqueza devido à doença prolongada) ou à obesidade ou, ainda, a
outros problemas físicos. Os principais tipos de transtorno alimentar, já descritos nas
unidades anteriores, são a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o TCAP. Todos têm em
comum características como: uma grande preocupação como o peso, o medo excessivo
de engordar, a percepção distorcida da forma corporal.

Mas não são somente estes três transtornos que preocupam profissionais de saúde.
Existem vários outros fenômenos que acometem pacientes em todas as faixas etárias
e níveis socioeconômicos e culturais. Dentre os transtornos pode-se relacionar a
hipergafia, a ortorexia, a pica, a síndrome de Prader-Willi, o Transtorno Obsessivo
Compulsivo (TOC) por alimentos, o transtorno de ruminação, vigorexia, além de outros
transtornos alimentares ainda não especificados.

Nesta unidade trataremos dos transtornos alimentares de menor incidência, mas não
menos importantes para tratamento da obesidade e das doenças provocadas por esses
transtornos.

47
CAPÍTULO 1
Sobre a hipergafia e a ortorexia

Hipergafia
A tristeza e a depressão podem provocar inúmeros comportamentos compensatórios
como, por exemplo, comprar roupas e sapatos, beber até “se sentir alegre” ou comer
compulsivamente. Você conhece alguém que quando está deprimido começa a comer
sem parar como forma de consolo? São casos muito comuns no nosso ambiente social.

O resultado de um comportamento dessa natureza é, sem dúvida, catastrófico, ou


seja, a obesidade. Uma das principais razões para o resultado ser obesidade é que os
indivíduos tristes e deprimidos não encontram ânimo para compensar o excesso de
calorias consumidas com atividade física ou sociais. A receita consumo exagerado de
comida + falta de atividade física = obesidade.

Este quadro clínico ocorre muito mais do que se imagina e é denominado Hipergafia.

A OMS alerta que o fenômeno hipergafia é uma espécie de transtorno mental que
necessita de tratamento psicológico, principalmente se considerar os danos causados à
saúde pela obesidade provocada pelo transtorno. A hipergafia tem relação direta com
outros transtornos alimentares e problemas psicológicos como a bulimia, a crise do
pânico, entre outros.

As causas da hipergafia estão relacionadas diretamente aos acontecimentos do passado,


que deixaram sequelas psicológicas e ainda persistem. São episódios traumáticos,
acidentes de grandes proporções, perdas de pessoas, fracasso profissional, perda de
bens materiais. É decorrente de algum acontecimento traumático que acaba fazendo
com que a pessoa desenvolva uma vontade excessiva de comer. Instala-se um círculo
vicioso: ingestão grande de alimentos, que provoca um rápido aumento de peso, que
resulta em obesidade e, por muitas vezes, provoca baixa autoestima.

48
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III

Figura 12.

Fonte: <http://www.mundoboaforma.com.br/hipergafia-o-que-e-causas-sintomas-e-tratamento/>

É verdadeira a afirmativa de que os transtornos alimentares quase sempre estão


associados a problemas emocionais. As causas são diversas e bastante variadas, sendo
que é preciso muita atenção para diagnosticar o problema em certas situações.

A hipergafia é um transtorno pouco conhecido da população. Embora menos


conhecido, não significa ter pouca importância. Os danos à saúde causados pela doença
são tão graves quanto às doenças similares com maior divulgação na mídia. É uma
doença reconhecida pela OMS e necessita de cuidados e de tratamentos.

Ortorexia

A maioria das pessoas tem no seu imaginário que os transtornos alimentares


provocam sujeitos esqueléticos, que morrem de fome ou que forçam vômitos, ou são
obesos mórbidos. Realmente esses quadros acontecem sim e são recorrentes entre os
pacientes portadores de transtornos alimentares. Dentre os transtornos alimentares
alguns são conhecidos e “famosos” do grande público. Mas os estudiosos e especialistas
em transtornos alimentares descobriram um novo transtorno e atribuiu-lhe o nome
ortorexia.

Figura 13.

O termo (do grego ortho, que significa “correto”, e orexis, “apetite”)


foi criado pelo médico americano Steven Bratman, autor do livro
Health Food Junkies (Viciados em Comida Saudável). Ele também
associou esse comportamento ao desprezo pelas pessoas que não
seguem os mesmos “padrões elevados” de alimentação, e à pratica
de tentar “converter” os outros acerca dos alimentos saudáveis.
Os sintomas enganam: inicialmente, o comportamento parece
ser saudável, já que demonstra um cuidado com a qualidade da
alimentação e com o corpo. “Normalmente, os familiares são os que
percebem o comportamento extremista e altamente restritivo”.

Fonte: <http://www.trigoesaude.com.br/alimentacao-saudavel/ortorexia-transtorno-alimentar.shtml>

49
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA

A ortorexia, como já dito, é um transtorno alimentar diagnosticado mais recentemente.


O acometimento da doença surge quando o paciente se torna obsessivo com relação
aos padrões alimentos que consome. Diferentemente dos transtornos anorexia nervosa
ou bulimia nervosa, o sujeito se permite comer, mas fica tão obcecado com o que o que
ingere, que todos os seus pensamentos ficam preocupados com a dieta.

Os portadores do transtorno ortorexia permitem-se comer apenas alimentos saudáveis


e pesquisam profundamente o conteúdo nutricional de cada alimento que ingerem. Seu
“prazer” em alimentar-se tem relação direta com a quantidade de calorias, vitaminas e
nutrientes ingeridos. O estudo nutricional dos alimentos torna-se o ponto focal do que
vai ser ingerido.

Qualquer alimento que contenha o mínimo vestígio do que está na lista do “não é
permitido” ou “não é saudável” é imediatamente descartado de sua dieta alimentar.

É verdadeira a afirmativa de que hábito de adotar atitudes e comportamentos que


possam melhorar a dieta alimentar seja saudável e recomendado. O transtorno ortorexia
ocorre a partir do exagero e da obsessão com o conteúdo dos seus alimentos que serão
consumidos associados a não permissão, em nenhuma circunstância, de um desvio do
seu programa alimentar.

A principal causa desse transtorno é a mesma de outros transtornos alimentares – busca


por um corpo “perfeito”. O objetivo principal dos portadores da ortorexia conquistar o
corpo considerado ideal e perfeito.

Pode haver casos de sofrimento psíquico vivenciado por pessoas obesas que as induzem à
ortorexia. O obeso que sofre constrangimentos por meio de discriminação e humilhação
pode recorrer a dietas, num primeiro momento e, em seguida, adotar o comportamento
ortoréxico. Outras causas para a ocorrência da ortorexia é a baixa autoestima ou, ainda,
em pessoas que também reconhecem no comportamento ortoréxico a única solução
para melhoras rápidas de estado de saúde.

A dificuldade na identificação do transtorno, por ser teoricamente um comportamento


bem aceito, pois seus sintomas podem aludir apenas a hábitos saudáveis, pode levar a
descoberta tardia da doença.

50
CAPÍTULO 2
Sobre a pica e a síndrome de Prader-
Willi

Pica
O transtorno alimentar  pica, também chamado de alotriofagia  ou  alotriogeusia. A
principal característica desse tipo de transtorno alimentar é o consumo recorrente e
persistente de substâncias não nutritivas por um período de pelo menos um mês; este é
o primeiro critério para a identificação do transtorno.

As substâncias ingeridas podem incluir tecido, cabelo, papel, sabão, terra, giz, cola,
metal, pedras, talco, fios, tinta, carvão, cinzas, detergente. Para identificação da doença,
o comportamento alimentar diferente não deve fazer parte de práticas culturalmente
aceitas.

Outro critério para identificação da doença é a ingestão continuada de substâncias não


nutritivas, não alimentares, inapropriada ao estágio de desenvolvimento da pessoa.
Como critério também, deve-se observar se o comportamento alimentar ocorre no
contexto de outro transtorno mental como autismo e esquizofrenia.

A síndrome de pica está frequentemente associada com retardo mental. Embora


deficiências de vitaminas ou minerais tenham sido relatadas em alguns casos, geralmente
não existem anormalidades biológicas específicas.

Figura 14.

Fonte:<http:www.psicoIogia10.com.br/artiqos/transtorno-alimentar-pica>. Acesso em: 30/6/2016.

51
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA

A substância ingerida varia, principalmente, de acordo com a idade do paciente:

»» Bebês e crianças na primeira infância: costumam comer tinta, reboco,


cordões, cabelos ou tecidos.

»» Crianças mais velhas: ingerem fezes de animais, areia, insetos, folhas ou


pedregulhos.

»» Adolescentes e adultos: escolhem consumir argila ou terra.

O fenômeno é considerado transtorno de pica da idade de dois anos. Deve-se excluir


como sintoma da síndrome a exploração de objetos que são ingeridos por crianças
pequenas.

Os portadores do transtorno pica não têm aversão à comida. Este comportamento só


pode ser considerado transtorno/doença se fizer parte de alguma prática culturalmente
aceita no ambiente social do paciente. Outra característica que deve ser observada, é
que o consumo de substâncias não nutritivas deve estar associado a outros transtornos
mentais.

A síndrome de pica pode ser categorizada a partir das diferentes substâncias ingeridas
pelos pacientes:

»» Acufagia: ingerir objetos pontiagudos.

»» Autocanibalismo: comer partes do corpo – esta categoria é muito rara.

»» Cautopireiofagia: ingerir palitos de fósforo apagados.

»» Coniofagia: comer pó.

»» Coprofagia: comer excremento.

»» Ctonofagia: ingerir terra ou argila.

»» Emetofagia: comer vômito.

»» Geofagia: ingerir terra ou solo.

»» Geomelofagia: comer batatas cruas.

»» Hematofagia: comer sangue.

»» Hialofagia: ingerir vidro.

»» Lithofagia: comer pedras.


52
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III

»» Mucofagia: ingerir muco.

»» Pagofagia: comer gelo.

»» Trichofagia: comer cabelo ou lã.

»» Urofagia: ingerir urina.

»» Xilofagia: comer madeira.

Síndrome de Prader-Willi

Esta síndrome, diferentemente da maioria dos outros transtornos alimentares, é de


origem genética. Ou seja, a síndrome de Prader-Willi é uma doença congênita, que
afeta o sistema nervoso central e causa retardo leve ou moderado no desenvolvimento
físico e mental do paciente.

Os portadores da síndrome apresentam distúrbios de aprendizagem, alteração no


comportamento e no desenvolvimento sexual e uma necessidade incontrolável e constante
de comer. O desenvolvimento de hiperfagia2 é um dos sintomas comportamentais de
maior gravidade na doença que se associa ao baixo gasto energético e a uma composição
corpórea com pequena massa gorda livre.

As principais manifestações da doença são consequências de interferências no


funcionamento do hipotálamo. O hipotálamo é uma importante área do cérebro. É
responsável por regular a fome, a temperatura corporal, o sono e o balanço de líquidos
no corpo, no comportamento sexual e na expressão das emoções.

Esta síndrome recebeu o nome de um dos médicos suíços que a descreveu pela primeira
vez A. Prader, H. Willi. Outro pesquisador também participou das pesquisas junto com
o Dr. Prader-Willi – o Dr. A. Labhart. A síndrome é a forma mais comum de obesidade
de causa genética e apresenta uma incidência estimada em um caso para cada 15 mil
bebês vivos.

A doença tem em comum com outras doenças de origem genética algum grau de retardo
neurológico. O bom desenvolvimento do bebê portador da síndrome dependerá, em
primeiro lugar da identificação precoce da doença e, em seguida de terapias e estímulos
apropriados.

2 Hiperfagia, também chamada de polifagia, é uma grave desordem alimentar, que se caracteriza pela grande ingestão de
alimentos, ultrapassando o necessário para atender a demanda energética do organismo.Fonte: <http://www.infoescola.com/
doencas/hiperfagia/ >

53
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA

Figura 15.

Fonte: <http://rafaelfontenelle.blogspot.com.br/2012/11/sindromes-geneticas-prader-willi.html> Acesso em: 30/6/2016.

Um dos maiores riscos causados pela síndrome é a obesidade precoce. Se a síndrome


em si pode não provocar danos maiores à saúde, a consequência obesidade vai provocar
todos os males que já relatamos, como, por exemplo hipertensão arterial, diabetes e
dificuldades respiratórias. Se tratadas as consequências, a expectativa de vida dos
portadores da síndrome se aproxima do restante da população.

Algumas das manifestações patológicas em nível comportamental estão associadas à


falta de controle inibitório ante diversos estímulos, como os alimentares e à restrição dos
pais para evitar ingestões calóricas exageradas (NISHIDA et al., 2006). Gunay-Aygun
et al. (2001) afirmam que os portadores da síndrome de Prader-Willi apresentam, além
da deficiência mental leve a moderada, alterações como comportamentos do espectro
obsessivo-compulsivo, crises de raiva e violência, tendência à rigidez, condutas de
oposicionismo, comportamentos como o de mentir e furtar.

A síndrome de Prader-Willi se apresenta em duas fases distintas. A primeira, o


recém-nascido tem hipotonia dificuldade de sucção. Os bebês do sexo masculino
podem apresentar criptorquidia3 e as meninas hipoplasia4 dos pequenos lábios. Os
bebês, além da hipotonia, apresentam atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
A fome excessiva se inicia entre 1 e 6 anos de idade que poderá levar a criança à
obesidade.

3 Criptorquidia consiste no não descimento de um ou dos dois testículos para a bolsa escrotal, geralmente causado por hérnias,
falta de estímulo hormonal ou por alterações na região do abdome. Fonte: <http://brasilescola.uol.com.br/doencas/
criptorquidia.htm>
4 Hipoplasia, também chamada de hipolastia, designa o crescimento insuficiente de um tecido ou um órgão. Fonte: <http://
saude.ccm.net/faq/2325-hipoplasia-definicao>

54
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III

Na adolescência, o paciente apresenta obesidade, baixa estatura, hipogonadismo5,


mãos e pés pequenos, problemas de aprendizado e de comportamento. A procura por
comida é incessante, pois os pacientes sentem muita fome.

5 Hipogonadismo é uma doença na qual as gônadas (testículos nos homens e ovários nas mulheres) não produzem quantidades
adequadas de hormônios sexuais, como a testosterona nos homens e o estrogênio nas mulheres. Além dos hormônios, os
testículos podem não produzir espermatozoides adequadamente. Fonte: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/
hipogonadismo>

55
CAPÍTULO 3
Sobre Transtorno Obsessivo-Compulsivo
(TOC) por alimentos e transtorno de
ruminação

Transtorno Obsessivo-Compulsivo – TOC por


alimentos
A relação existente entre o TOC e os transtornos alimentares tem sido objeto de
discussão na literatura por profissionais na área de saúde que estudam principalmente
a obesidade e os fenômenos psicológicos.

O transtorno obsessivo-compulsivo é conhecido popularmente pela sigla TOC. O TOC


é um distúrbio psiquiátrico causado por excesso de ansiedade e é descrito na quinta
edição do Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais. A presença
de episódios de obsessões e/ou de compulsões por comida é a principal característica e
indicação da existência do transtorno.

Rosario-Campos e Mercadante (2000) definem obsessões como sendo eventos mentais,


tais como pensamentos, ideias, impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e
incômodos. Já compulsões, os autores definem como sendo comportamentos ou atos
mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados
pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer. Os autores
acrescentam que não existem limites para a variedade possível das obsessões e das
compulsões.

O transtorno de TOC por alimentos é semelhante a outros transtornos


obsessivos-compulsivos:

»» O portador do transtorno desenvolve pensamentos incontroláveis,


repetitivos e persistentes, que só são aliviados quando se alimenta.

»» Enquanto não satisfeito o desejo por alimentos, seguindo seus rituais, o


paciente sofre de uma ansiedade crescente.

»» Seus pensamentos se concentram na necessidade de se alimentar e só


cessam enquanto estiver comendo.

56
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III

»» Mesmo consciente de que seus pensamentos são prejudiciais a si mesmo,


fora da realidade e inapropriados, o indivíduo não consegue controlá-los.

»» Ao contrário dos outros transtornos alimentares, o uso de antidepressivos


é eficaz no tratamento do TOC.

O TOC pode ser comparado grosseiramente a um disco arranhado, que repete sempre
o mesmo trecho gravado. Os pacientes portadores deste distúrbio sofrem com imagens
e pensamentos incontroláveis. O controle desses episódios só se dá por meio de um
ritual, que pode ser repetido diversas vezes no mesmo dia.

Esse ritual, chamado de compulsão, é estabelecido pela própria pessoa e segue um


padrão de regras e etapas extremamente rígido. No caso de o ritual envolver alimentação,
é categorizado como TOC por alimentos.

Uma característica do transtorno é que os pacientes acreditam que se deixarem de


cumprir o ritual, poderá acontecer alguma coisa terrível. O agravamento do distúrbio
pode acontecer “silenciosamente”. O diagnóstico precoce é uma das principais armas
no combate ao transtorno e na recuperação do paciente.

Sobre as causas do transtorno, ainda não existem estudos conclusivos capazes de


explicar completamente o que provoca transtorno obsessivo-compulsivo. Os principais
estudos sobre o transtorno indicam que a doença é causada por três fatores principais:
o biológico, o genético e o meio ambiente.

Existe, ainda, uma visão ultrapassada que entende que o TOC é resultado da experiência
de vida. Essa visão vem sendo substituída por evidências de que os fatores biológicos são
os principais responsáveis pela doença. Isso se deve ao fato de que pacientes com TOC
tiveram resultados positivos em resposta à utilização de medicamentos específicos que
interferem na produção de serotonina, no sistema neurotransmissor. Esses resultados
sugerem que o transtorno pode ter bases neurobiológicas.

Assim sendo, a ocorrência do TOC não é mais atribuída apenas aos comportamentos
que o paciente aprende na sua infância; no caso do TOC por alimentos, por exemplo,
uma excessiva aprovação quando a criança se alimenta bem ou reprovação quando
não se alimenta. A ênfase dada às respostas da criança à ingestão de alimentos pode
servir como elemento coadjuvante para a ocorrência do distúrbio; mas esse fator não se
sustenta sozinho para provocar o transtorno. Pelo contrário, a pesquisa de suas causas
atualmente é focada na interação de fatores neurobiológicos com as influências do meio
e com os processos cognitivos.

57
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA

Existem fatores capazes de elevar o risco de um indivíduo desenvolver o TOC. Como


fatores elegíveis para a ocorrência do transtorno, pode-se destacar histórico familiar e
acontecimentos traumáticos e/ou estressantes, como, por exemplo, a morte de um ente
querido ou ter se envolvido em acidente grave.

Proporcionalmente a incidência de TOC é igual entre mulheres e homens. A maioria


dos casos tem início na infância ou na adolescência ou no início da vida adulta.

Transtorno de ruminação

O transtorno de ruminação é categorizado como sendo um transtorno alimentar


da primeira infância, embora haja relatos da ocorrência em outras faixas etárias,
principalmente em indivíduos com retardo mental.

O transtorno de ruminação tem como principal característica regurgitação e


remastigação de alimentos repetidas vezes. Esse transtorno se desenvolve mais
frequentemente em bebês ou crianças e dura por pelo menos um mês. O fenômeno
acontece de maneira que o alimento é parcialmente digerido é regurgitado sem a
ocorrência de náuseas ou de esforço para vomitar ou de repugnância ou transtorno
gastrointestinal aparente. Após a “meia ingestão” do alimento, ele é ejetado da boca
ou, em linguagem mais comum, mastigado e engolido de novo.

Outra característica que pode identificar o transtorno como sendo ruminação, é o fato do
fenômeno não poder ser explicado por nenhuma outra condição médica. O transtorno
tem como consequência complicações médicas como a desnutrição, a perda de peso, as
alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, a desidratação e pode, também, levar a óbito.

Pesquisas indicam que, em geral, bebês portadores do transtorno de ruminação se


mostram irritáveis e famintos entre os episódios de regurgitação. Mesmo que o bebê se
mostre faminto e coma mais do que o normal, pode ocorrer a desnutrição, pelo fato de
que a regurgitação se segue imediatamente após a ingestão do alimento.

A ruminação pode ser identificada como sendo diferente do vômito normal, pela
natureza aparentemente voluntária do episódio por parte do portador do transtorno.
A ocorrência de movimentos preparatórios característicos seguidos de regurgitação
e movimentos de sucção ou mastigação que parecem agradáveis ao bebê deve ser
observada para a constatação do fenômeno.

58
CAPÍTULO 4
Sobre vigorexia e outros transtornos
alimentares não especificados

Vigorexia
A vigorexia é conhecida, também, como dismorfia muscular e anorexia nervosa reversa.
O transtorno foi descrito como uma variação da desordem dismórfica corporal e
enquadra-se entre os Transtornos Dismórficos Corporais – TDC (CHUNG, 2001).

Assunção (2002) afirma que a distinção que se faz entre o transtorno vigorexia e os
demais TDCs é que o primeiro envolve uma preocupação de não ser suficientemente
forte e musculoso em todas as partes do corpo, ao contrário do segundo, TDCs típicos,
que existe preocupação com áreas específicas do corpo.

Figura 16.

Fonte: <http://www.saudefoco.com.br/2015/10/vigorexia-obsessao-pelo-corpo-perfeito.html> Acesso em: 30/6/2016.

Os portadores da vigorexia frequentemente se autoavaliam como “fracos e pequenos”,


mas que na verdade apresentam musculatura desenvolvida em níveis acima da média
da população masculina; isso caracteriza uma distorção da imagem corporal. Guarin
(2002) aponta que os vigoréticos têm uma preocupação com sua massa muscular
muito acima do que é considerado normal. Essa preocupação exagerada com a massa
muscular pode levar o paciente à prática de exercícios físicos excessivos, à adoção
de dietas hiperproteicas, hiperglicídicas e hipolipídicas, e ao uso indiscriminado de
suplementos proteicos, além do consumo de esteroides anabolizantes.

59
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA

Assunção (2002) emite um alerta afirmando que o caso específico dos homens com
relação à preocupação excessiva com o corpo se manifesta de maneira diferente em
relação às mulheres. Apesar de indivíduos do sexo masculino também sofrerem de TAs,
chama atenção esse novo quadro de transtorno – vigorexia que afeta um número maior
de homens.

Grieve (2007) descreve uma prevalência maior da vigorexia na população homens


entre 18 e 35 anos. O autor afirma que são encontrados casos de vigorexia em mulheres,
que são expressas por fatores socioeconômicos, emocionais, fisiológicos, cognitivos e
comportamentais. O autor acrescenta que o nível socioeconômico dos portadores do
transtorno é variado, mas existe maior índice de acometidos na classe média baixa.

A principal indicação de que o indivíduo é portador da vigorexia é o fato de ele estar


em boa forma física, mas, mesmo assim, achar que seu corpo está fraco. Além desse
principal sintoma, outros sinais auxiliam na identificação do transtorno:

»» cansaço ao extremo;

»» irritabilidade;

»» dor muscular persistente por todo o corpo;

»» insônia;

»» depressão;

»» aumento da frequência cardíaca ao repouso;

»» anorexia nervosa;

»» prática de dieta alimentar muito restritiva;

»» fraco desempenho durante o contato íntimo;

»» sentimento de inferioridade.

Ballone (2005) afirma que o problema normalmente tem início no período da


adolescência. O autor descreve que neste período a pessoa tende a estar insatisfeita
com seu corpo e se submete exageradamente aos ditames da cultura. Ainda, acrescenta
o autor, que na adolescência existe uma pressão para as meninas se manterem magras
e uma cobrança para que os meninos fiquem fortes e musculosos. O autor alerta
para a importância da identificação do transtorno precocemente para evitar que os
adolescentes façam uso de drogas e se comportem inadequadamente para obter os
resultados desejados (ou fantasiados).

60
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III

Outras características desenham o perfil do portador da vigorexia: Lowen (1983)


descreve como traço característico do portador do transtorno uma personalidade
narcisista que exclui as outras pessoas. O vigorético acredita que o mundo gira em torno
dele. O autor admite que o transtorno provoca no paciente apatia e falta de sentimentos.
Além desse quadro, o paciente necessita projetar uma imagem, garantindo o ponto
básico para este tipo de personalidade, o que o faz ter um investimento extra da sua
própria imagem. É um indivíduo controlador, programador de seus comportamentos,
insensível e confiante em suas atividades sexuais, acreditando ser bastante oferecedor
de prazer para as mulheres, além de pretensioso e extremamente machista, completa
o autor.

O transtorno é considerado uma doença silenciosa e de difícil identificação.


Considerando que a doença acomete mais indivíduos do sexo masculino e que
esses indivíduos culturalmente têm maior dificuldade na expressão de sentimentos,
angústias e indecisões, a doença pode ser identificada tardiamente. De um modo
geral, os pacientes que procuram auxílio médico/psicológico já se encontram em
estados avançados de suas patologias.

Outros transtornos alimentares não especificados

Como foi visto até aqui, existem diversos transtornos alimentares. De um modo geral,
quando se fala em transtornos alimentares, é comum associarmos o fenômeno aos
distúrbios bulimia nervosa, anorexia nervosa e TCAP, por serem os transtornos mais
conhecidos e com maior incidência. Mas existem, além desses mais conhecidos, outros
transtornos de alimentação não menos graves. Alguns já foram descritos nos capítulos
anteriores. Outros serão descritos neste capítulo.

Distúrbio Alimentar Relacionado ao Sono (DARS)

O Distúrbio Alimentar Relacionado ao Sono (DARS) é um transtorno que associa


transtorno alimentar com transtorno do sono. Consiste na ocorrência de episódios de
o indivíduo acordar e levantar-se no meio da noite e comer e beber compulsivamente.
Este distúrbio é considerado uma categoria de Parassonia6. O indivíduo portador deste
distúrbio levanta no meio da noite para atacar a geladeira e acorda no dia seguinte sem
se lembrar de quase nada do que se passou durante a madrugada; costumam negar o
fato quando informados por outra pessoa. Essas pessoas comem normalmente durante
o dia e são, na maioria dos casos, sonâmbulas.

6 Parassonia é um transtorno do sono. São comportamentos e experiências que ocorrem geralmente durante o sono e na maioria
dos casos não são frequentes e têm impacto leve ou moderado. Esses episódios podem se repetir vezes suficientes ou se
tornarem tão enfadonhos que exige a atenção especializada.

61
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA

A prevalência do transtorno é maior em mulheres e atinge cerca de 5% da população.


Um fato importante é que o distúrbio está associado às pessoas que fazem algum tipo
de regime alimentar durante o dia.

Os principais sintomas da doença são o ganho de peso em curto espaço de tempo,


cansaço mesmo depois de ter dormido tempo suficiente e falta de energia durante o dia.

Síndrome de gourmet

O portador da síndrome de gourmet tem preocupação exagerada e obsessiva em comer


de maneira fina e sofisticada. Essa preocupação inclui todo o processo de alimentar-se,
desde a compra dos produtos, a preparação dos alimentos, a apresentação e o consumo
de pratos. Este transtorno é raro; são poucos casos descritos na literatura especializada.
Acredita-se que o distúrbio possa ter relação com lesões ou alterações funcionais no
hemisfério cerebral direito, tais como tumores, traumatismos, hemiplegia etc.

Síndrome do comer seletivo

Será que escolher o que vai comer é um problema? De um modo geral, as pessoas
têm sempre alguma restrição alimentar: uns não gostam de cebola, outros de canela,
maionese, etc. Considera-se normal o hábito das pessoas rejeitarem algum tipo de
alimento. Porém, o que não pode ser normal é o fato de algumas pessoas apresentarem
uma grande restrição alimentar, reduzindo muito a variedade de alimentos que se
permite comer. Esse fenômeno pode causar um grande impacto na vida das pessoas.
Esse fenômeno é chamado transtorno do comer seletivo.

Ainda não existem critérios definidos para identificação do transtorno. Não está
incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), mas
o Transtorno do Comer Seletivo é um distúrbio caracterizado por uma dieta muito
restritiva a partir da pela rejeição a muitos alimentos.

Segundo Pinheiro (2011) os critérios que identificam o transtorno são: pequena


variedade de comidas, por pelo menos dois anos; desmotivação por experimentar novas
comidas: ausência de cognições anormais sobre o peso e a figura; ausência de medo a
engasgar-se ou vomitar e; o peso corporal pode ser baixo, normal ou alto.

O portador do transtorno tem, em média, uma dieta que inclui cerca de apenas dez tipos
de comida. Outro fator comum aos portadores do transtorno é que, geralmente, a dieta
é baseada em carboidratos, alimentos ricos em açúcar e os industrializados. No caso de
criança, existem três fatores associados: recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse

62
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III

pelo alimento. É comum, também, uma grande aversão a frutas, legumes e verduras. Os
portadores do transtorno se recusam a experimentar novos alimentos. Existe grande
incidência do transtorno em crianças autistas e portadores de transtornos de ansiedade.

Existem estudos defendendo que pode haver componentes biológicos e psicológicos


na etiologia desse transtorno. Outras pesquisas apontam que essas pessoas poderiam
ter um paladar muito apurado, provocando rejeição aos alimentos de sabores mais
marcantes. Há estudos que apontam que a rejeição a determinados alimentos se dá
muito mais por outros órgãos sensoriais e menos pelo paladar. Algumas pessoas não
comem determinado alimento por não suportarem o cheiro que produz ou pela simples
a sua aparência. Outra causa que pode ter como consequência a rejeição a algum
alimento é o aspecto psicológico; alguns sujeitos podem associar emoções negativas ao
consumo de determinados alimentos.

As causas desse distúrbio são bastante complexas e pouco estudadas. A complexidade


se dá, principalmente, devido às interações de características familiares e de contextos
sociais. Andrade et al. (2002) em estudo sobre o aspecto psicológico da queixa materna
“meu filho não come” revelaram que é impossível apontar por onde começam as
dificuldades em termos causais: se nos sentimentos da mãe ou no comportamento da
criança.

63
ESTUDOS DE UNIDADE IV
CASOS
A Unidade IV apresenta alguns casos de pacientes com transtornos alimentares, com
o objetivo de ilustrar o conteúdo da disciplina. São apresentados os pontos “resumo/
introdução” e “conclusão/discussão dos resultados” dos artigos para dar um panorama
geral do que foi pesquisado. Na sequência está o link onde poderá ser visto o artigo
integralmente.

Caso 1: A experiência corporal de um


adolescente com transtorno alimentar
Autores: Thais Fonseca de Andrade

Manoel Antonio dos Santos

Resumo:

Apesar do aumento de casos de jovens com anorexia nervosa, essa temática ainda
constitui um tabu no universo masculino. O objetivo deste estudo é investigar o
modo como um adolescente com anorexia nervosa atípica experiencia seu corpo e
imagem corporal. Utilizou-se de entrevista individual semiestruturada, audiogravada
e transcrita literalmente, com o paciente, sua mãe e nutricionista, além de consulta
ao prontuário médico. Conclui-se que o jovem apresenta conflitos relacionados ao seu
corpo e imagem corporal.

Resultados e discussão

Identificação pessoal

Fernando (nome fictício), 18 anos, solteiro, branco, evangélico, único filho do sexo
masculino de uma prole de quatro irmãs mais velhas, na época estava cursando o
segundo colegial em um curso supletivo. No período em que foi realizada a coleta de
dados, encontrava-se em seguimento junto ao GRATA havia nove meses.

64
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV

Histórico familiar

Fernando morava com a mãe, o pai e uma das irmãs, que é solteira. A família residia
em imóvel próprio, em um conjunto residencial da COHAB, adquirido mediante
financiamento. Segundo informação colhida no prontuário médico, os pais e as irmãs
eram magros; as irmãs gozavam de boa saúde, a mãe era hipertensa e o pai tinha diabetes
mellitus. O paciente relatou que seu relacionamento com os familiares era muito bom.

História pregressa: os percalços do percurso após a


puberdade

Fernando foi internado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto pela primeira vez em
2002, aos 13 anos de idade, devido a complicações decorrentes de uma combinação de
problemas, como obesidade, intolerância à glicose, cefaleia e mielite viral, que havia sido
diagnosticada no ano anterior. Apresentava queixa de diminuição da força muscular
e levantou-se a hipótese de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Fez seguimento
em diferentes ambulatórios: neurologia, fonoaudiologia, endocrinologia e diabetes,
e clínica psicológica pediátrica. Em janeiro de 2006 foi atendido pela primeira vez
no Ambulatório de Nutrologia, de onde foi encaminhado ao GRATA com suspeita de
transtorno alimentar.

História da moléstia atual

A primeira consulta no GRATA ocorreu ainda no mês de janeiro de 2006. O paciente


tinha, então, 17 anos de idade, 71 kg, 1,78m de altura e IMC (Índice de Massa Corporal) de
22,41kg/m² – portanto, eutrófico, isto é, dentro do padrão de normalidade. Apresentava
como queixa inicial intensa perda de peso (46 kg em um intervalo de dez meses).
Fernando afirmou que começara a perder peso após um quadro neuromuscular viral. No
momento da entrevista para o presente estudo, seu desenvolvimento neuropsicomotor
parecia estar se processando dentro dos limites da normalidade. Na época da internação
pesava 117 kg e, por apresentar intolerância à glicose e HAS, foi orientado por médicos e
nutricionistas a perder peso e a controlar a dieta. Desde então começou a fazer dieta por
conta própria. Informou, durante a entrevista, que fazia cerca de seis refeições diárias,
em pequenas quantidades, e que não fazia restrição específica a qualquer alimento.
Incomodava-se com a possibilidade de aumento de peso e “voltar a ser gordo”. Por isso
pesava-se três vezes por semana. Negou episódios de vômito, náusea, diarreia e uso de
laxantes ou remédios para emagrecer. Fernando nasceu saudável de parto cesariano.
De acordo com o relato de sua mãe, nasceu com 3,7 kg, porém em seu prontuário
encontrava-se registrado o peso de 2,8 kg. A mielite viral e o quadro de enxaqueca

65
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS

foram tratados no Ambulatório de Neurologia, de onde foi encaminhado para a


Endocrinologia, sendo aconselhado, então, a manter uma dieta devido à intolerância à
glicose e à HAS. Fernando contou que, a princípio, mostrou-se muito resistente a seguir
a dieta. Relatou, no entanto, que um dia, durante o atendimento na Endocrinologia,
a médica lhe falou algo que encaixou na cabeça. Naquele dia se sentiu uma pessoa
magra, seu pensamento mudou na hora, parecia que tocou tudo [...] Depois daquele
dia, parece que foi embora. Tipo assim... soltar um foguete e ir embora, não desanimei,
até hoje eu tô... Desde então Fernando passou a seguir o regime prescrito pela médica.
Porém, admitiu que, como desejava perder peso rapidamente, deixei a dieta de lado e
fiz do meu jeito [...] Eu fui fazendo do meu jeito [...] eu tava comendo pouco pensando
que eu tava comendo muito, entendeu?. Assim, ele seguia sua dieta restringindo a
ingesta alimentar e fazendo exercícios físicos em demasia. Sentia-se frequentemente
cansado, fraco, debilitado e com falta de ar, provavelmente sintomas de hipoglicemia.
Chegou a desmaiar uma vez. Por outro lado, Fernando mencionou ter sentido felicidade
enquanto emagrecia, mas ainda assim se incomodava com as pelancas, especialmente
no abdômen, que achava que era gordura e por isso desejava emagrecer mais. Diz: Via
que tava emagrecendo, mas... o excesso da... que eu olhava para baixo, eu pensava que
tava engordando. Aí eu fui, fui, fui, fui... aí até hoje tá aí. Regime, regime, exercício,
regime, exercício... chegava da escola cansado, fazia bicicleta, ia lá embaixo e andava,
andava o dia inteiro, tava elétrico. E prosseguiu: Eu pensava que ia perder peso rápido
assim, rapidinho assim. Todo alegre, enquanto que os outros seguiam a dieta certa,
do meu jeito eu ficava cada dia mais magro. O corpo tava ficando daquele jeito que
eu queria, mas assim, a saúde, assim, as vistas embaralhavam, olhava assim, cheio de
estrelinhas... Fernando começou a ser acompanhado no GRATA em janeiro de 2006.
Referiu que foi transferido para fazer seu acompanhamento junto ao ambulatório de
transtornos alimentares devido à “parte da nutrição”. Por esse relato observou-se que
Fernando parecia não compreender que fora encaminhado ao GRATA porque tinha uma
hipótese diagnóstica de transtorno alimentar e não apenas para realizar uma reeducação
alimentar. No GRATA foi aconselhado a diminuir a frequência dos exercícios físicos e
a seguir a dieta recomendada pela nutricionista. Fernando relata que, a princípio, foi
muito difícil ouvir as recomendações da nutricionista: Pra mim não resolvia nada...
eu só queria fazer o meu jeito, eu tava emagrecendo, não queria que ninguém desse
palpite, tava conseguindo aquela minha meta. Então ela falava, mas eu voltava a comer
pouco, ou a minha mãe fazia eu comer à força e eu ia na bicicleta, queimava tudo e saía.
Nesse segmento de fala fica evidente o uso recorrente de manobras compensatórias
com a finalidade de aumentar o gasto energético.

66
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV

Um passo para a mudança

Na medida em que persistia obstinadamente em sua dieta altamente restritiva e se


engajava em exercícios físicos frenéticos, Fernando começou a achar que os músculos
que gradualmente ganhava eram gordura: E ficava intrigado pensando: por que
ganhava peso, quando estava comendo certinho? A nutricionista, então, não apenas
lhe explicou que ele estava ganhando massa muscular, como realizou o exame de
bioimpedância com o intuito específico de mostrar-lhe concretamente o que ele, por
si só, não estava dando conta de perceber, devido à distorção da imagem corporal. A
bioimpedância utiliza um aparelho que consegue medir o percentual de massa magra
e massa gorda do corpo por meio de uma corrente elétrica de baixa intensidade. Essa
estratégia revelou-se muito importante para a evolução do tratamento. O rapaz conta
o quanto foi bom poder ver o resultado, alegando que isso havia lhe ajudado muito:
tô com o exame lá em casa até hoje. Tá fixado na geladeira...

Atualmente

Depois de quase um ano de tratamento no GRATA, Fernando ainda demonstrava


preocupações relacionadas com o peso e com o corpo, mas apresentava alguma
evolução no sentido de perceber seu corpo com menos distorção e de procurar seguir
as orientações da equipe de saúde. Essa mudança sugere fortalecimento do vínculo de
confiança com os profissionais que o atendiam, o que fortaleceu a aliança de trabalho.
Fernando relatou que ainda praticava exercícios físicos com regularidade, mas não
na mesma frequência e intensidade de antes. A obsessão pela magreza parecia ter
arrefecido, mas a preocupação com o peso não estava suprimida. Contou que seguia o
esquema alimentar recomendado pela nutricionista, mas ainda mantinha um controle
rígido sobre a alimentação: Eu só como na hora certa para não sair do regime. Sem
sair da dieta, não descontrola, senão... se descontrolar... Parece que o rapaz de hoje,
com peso saudável, ainda tinha muito medo do menino obeso de outrora. Segundo
Farrow (1992) e Kaufman (2006), a maioria dos homens com transtornos alimentares
provavelmente já foram obesos, um achado que não tem equivalência nas mulheres
acometidas. Fernando mencionou ainda que, na época, se sentia bem consigo mesmo:
Meu corpo pra mim hoje tá normal, antes eu achava muito defeito no meu corpo. Eu
via uma coisinha, não, já tava engordando [...] eu já me vejo tudo normal, fiquei uma
pessoa normal. Tá tudo certinho, assim, hoje.

Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 12, no 3, pp. 454-468, setembro
2009 ARTIGOS. Disponível em:< http://psicopatologiafundamental.org/uploads/
files/revistas/volume12/n3/a_experiencia_corporal_de_um_adolescente_com_
transtorno_alimentar.pdf>
67
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS

Figura 17.

Fonte: <http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/anorexia-avanca-no-universo-masculino-11075037> Acesso em: 3/7/2016.

Caso 2: Síndrome de Prader Willi: Relato de


caso
Autores: Arnaldo de França Caldas Júnior

Verônica Maria de Sá Rodrigues

Kátia Urbano Caldas

Janise Araújo de Paiva Barros

Adelaide Maria Caldas Cabral

Maria de Fátima de Souza

Resumo

A Síndrome de Prader-Willi (SPW) é uma desordem genética caracterizada por


hipotonia, retardo mental, hiperfagia e compulsão para comida devido a uma
disfunção hipotalâmica. O objetivo deste estudo é apresentar o caso de uma portadora
da SPW, revisando a literatura sobre as principais características, etiologia e algumas
considerações odontológicas de interesse. Uma adolescente de 12 anos de idade foi
encaminhada à clínica odontológica da Faculdade de Odontologia da Universidade
de Pernambuco, apresentando severa obesidade (grau II), apneia noturna, hipotonia
muscular, hiperfagia, comportamento compulsivo para comida associada com uma
dieta rica em carboidratos refinados e pobre higiene bucal, determinando um alto
número de lesões de cárie e desmineralização do esmalte dos dentes. Além disso,
foi encontrada má oclusão do tipo Cl II, mordida aberta anterior e pobre cobertura
labial. O tratamento odontológico foi realizado, usando-se ansiolíticos apenas para as
exodontias. O distúrbio de comportamento foi controlado, usando um modelo cognitivo.

68
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV

O portador da SPW apresenta alterações neurocomportamentais de extremo interesse


para a odontologia. Por isso, o desenvolvimento de estratégias que promovam saúde
geral e bucal para seus portadores deve ser o objetivo da equipe odontológica que esteja
envolvida com seu atendimento.

Discussão dos resultados da pesquisa

Existem diversas síndromes relatadas na literatura que não apresentam uma repercussão
direta para a cavidade bucal do paciente e, por esta razão, são desconhecidas pelos
Cirurgiões-Dentistas. No entanto, algumas delas podem interferir indiretamente na
saúde bucal e, razão pela qual, precisam de uma boa avaliação.

A Síndrome de Prader Willi, caracterizada por uma desordem genética, apresenta uma
característica importante para a odontologia – o distúrbio de comportamento – que,
ressaltada pela disfunção hipotalâmica, determina obesidade severa para o paciente.
Além disso, este distúrbio de comportamento pode ser reforçado pela maneira como
o portador é educado e, ainda, pode ser influenciado pela quantidade de hormônio
do crescimento que é excretado ou prescrito para os pacientes (HÖYBYE; THORÉN;
BÖHM, 2005). Assim, este distúrbio de comportamento precisa ser bem conhecido e
trabalhado no consultório odontológico, em uma perspectiva multidisciplinar, visando a
um atendimento preciso, efetivo e que determine um restabelecimento da saúde bucal do
paciente. A paciente L.T.M.S., apesar de ter apresentado um excelente comportamento
na cadeira odontológica, na primeira consulta, onde foram realizados o exame físico
intrabucal e a profilaxia com taça de borracha, mostrou muita timidez durante esse
encontro. A partir dos encontros seguintes, começou a demonstrar inquietação nos
procedimentos mais complexos (restaurações e exodontias), não permitindo sua
realização. Conforme relatado por Akefeldt e Gillberg, em 1999, o mau comportamento
parece estar relacionado à própria síndrome, não tendo relação com o grau de retardo
mental. Os procedimentos necessários foram executados, utilizando-se a técnica do falar-
mostrar-fazer. Observou-se que a adolescente respondia bem à figura de autoridade
do professor da clínica que, tratando-a com carinho e respeito, não permitia que ela
impusesse restrições ao tratamento proposto na sessão.

Nessas situações, é de grande auxílio o uso de técnicas de contenção física e química. A


contenção física não foi indicada para esta paciente devido ao seu tamanho e peso. Assim,
a contenção química foi prescrita, a partir da terceira sessão, aumentando e a dosagem
da Levomepromazina (Neozine) da qual a paciente fazia uso. A levomepromazina é um
antipsicótico que pertence à classe das fenotiazinas alifáticas (DICIONÁRIO..., 2004),
sendo muito utilizada na contenção química, na clínica odontológica de pacientes com
necessidades especiais devido ao seu excelente efeito hipnótico e potencializador da

69
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS

ação de analgésicos (neuroleptoanalgesia). No entanto, como a adolescente fazia o uso


regular desta medicação, seu efeito foi aquém do necessário. Assim, mudou-se o grupo
farmacológico, utilizando-se o Midazolan (Dormonid) de 15 mg, que também apresenta
a propriedade neuroleptoanalgésica, prescrevendo-se 01 comprimido 30 minutos antes.
Esta prescrição foi realizada, tendo-se o cuidado de suspender a Levomepromazina na
manhã do atendimento e repetida, apenas, em uma outra sessão.

É importante que se destaque que a obesidade, característica da Síndrome de Prader


Willi, pode determinar Diabetes Mellitus no seu portador (DOMÍNGUEZ et al.,
2003), haja vista que a obesidade é considerada pela literatura atual como fator de
risco para o diabetes (HALE, 2004). Assim, é imperativo que o Cirurgião-Dentista,
antes da elaboração do plano de tratamento, solicite a dosagem de glicose em jejum
ou o parecer do médico endocrinologista do paciente. Caso o diabetes se confirme, o
plano de tratamento deverá ser elaborado, de maneira que a prescrição de fármacos e
terapêuticas cirúrgicas não interfiram na saúde do paciente.

Deve ser observado que pacientes que fazem uso crônico de ansiolíticos, antidepressivos
e antipsicóticos, principalmente, têm uma marcada redução no fluxo salivar, chegando,
em alguns casos, à xerostomia. Somada à hiperfagia e à obesidade (MARTIN-IVERSON
et al., 2000), a redução do fluxo salivar em pacientes com deficiência mental pode
determinar um alto risco à cárie dentária. Assim, foram encontradas diversas áreas
de desmineralização de esmalte na paciente, que foram tratadas com flúor gel e
recomendação de escovação com dentifrício fluoretado, no mínimo, duas vezes ao dia,
indicando-se que, na última escovação do dia, fossem escovados os dentes, sem, no
entanto, haver enxágue bucal, visando aumentar a quantidade de flúor na cavidade
bucal. Além disso, foi destacada a importância de uma correta alimentação para a
adolescente, incentivando-se diminuição da ingesta de carboidratos e aumento do
consumo de frutas e verduras.

Disponível em: <http://www.revistacirurgiabmf.com/2006/v6n1/pdf%20v6n1/5.pdf>

70
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV

Caso 3: Da ópera-bufa ao caos nosológico:


pica
Autores: Adriana Trejger Kachani

Táki Athanássios Cordás

Resumo

Define-se pica como a ingestão compulsiva de alimentos não nutritivos. Não há


concordância a respeito de sua etiologia, no entanto admite-se a influência de fatores
sociais, culturais, psicológicos, biológicos e comportamentais. Sua prevalência é
desconhecida, uma vez que o hábito é dificilmente relatado em consultas. Objetivo:
Atualização de conceitos relacionados à pica: causas, populações de risco, efeitos
adversos, diagnóstico, tratamento, entre outros.

Conclusão

A pica é uma síndrome de difícil diagnóstico, que depende do relato do paciente.


Sua etiologia é provavelmente multifatorial e ela tem efeitos deletérios dependendo
da substância ingerida. Sendo assim, a história clínica deve ser adequada, não se
esquecendo de avaliação dietética, perguntando objetivamente sobre o consumo
de alimentos bizarros. Essa conduta, além de fornecer dados da ingestão de macro
e micronutrientes, capacita o nutricionista a identificar inadequações alimentares
decorrentes de seus achados.

O tratamento da pica deve ser multiprofissional, incluindo na equipe médicos, psicólogos


e nutricionistas. A suplementação nutricional, a orientação alimentar e o tratamento
psicológico devem ser concomitantes, para que se alcancem os melhores resultados.
A síndrome ainda não está bem estabelecida, e estudos futuros devem ser feitos para
melhor descrevê-la do ponto de vista nosológico.

Disponível em: <http://www.producao.usp.br/bitstream/handle/BDPI/10532/


art_KACHANI_Da_opera-bufa_ao_caos_nosologico_pica_2009.
pdf?sequence=1&isAllowed=y>

71
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS

Caso 4: Compulsão alimentar, obesidade e


emagrecimento
Autores: Lenize Chaves

Antonio Coppi Navarro

Resumo

O ritmo acelerado do crescimento dos índices no mundo faz da obesidade, o grande fator
de risco do milênio. Entre 1980 e 2008, a sua prevalência dobrou e de acordo com o
Consenso latino-americano ela é responsável direta ou indiretamente por duzentas mil
mortes a cada ano. Os altos investimentos em pesquisas permitiram à ciência descobrir
inúmeros processos metabólicos, genéticos e neurológicos associados à obesidade, mas
não se tem ainda uma solução para esse problema de saúde pública, que afeta meio
bilhão de pessoas no mundo.

Grande parte dos pacientes obesos, que buscam tratamento, apresenta distúrbios
psiquiátricos, principalmente, depressão e transtornos de ansiedade. Há também uma
subpopulação de obesos que sofre de transtornos alimentares, entre eles, o Transtorno
de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Essas comorbidades podem interferir
desfavoravelmente no manejo e condução do tratamento. O objetivo deste estudo foi
revisar diversas publicações que relacionam obesidade, compulsão alimentar (CA) e
TCAP realçando aspectos relacionados à sua prevalência, etiologia e resultados obtidos
em diversas propostas de tratamento. Essa revisão foi feita a partir de diversas bases
de dados, artigos, revistas e livros especializados. Os resultados demonstram que a
CA e o TCAP têm alta prevalência em pacientes obesos e com sobrepeso, que existe
alta comorbidade de obesidade e transtornos psiquiátricos e que esse fato interfere
negativamente nos resultados dos tratamentos para perda de peso.

Conclusão

A magnitude do problema que a obesidade representa e os altos custos que ela


implica em níveis pessoal, familiar, social e governamental e têm mobilizado muitos
investimentos. Os resultados obtidos em programas de emagrecimento, no entanto,
têm sido inexpressivos. Os estudos revelam uma alta prevalência de CA e TCAP na
população obesa e que o seu diagnóstico e adequado manejo clínico podem interferir
favoravelmente no tratamento, aliviando o sofrimento relativo ao problema e às
alterações psicológicas e psiquiátricas associadas.

72
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV

A perda de peso, no entanto não tem sido verificada na grande maioria das pesquisas
publicadas. Estudos de longo prazo realizados com grupos de obesos sem CA e TCAP
por sua vez, contrariam esse resultado e sugerem uma linha de pesquisa e tratamento
a ser adotada e mais investigada, sugerindo também que a mudança é possível, mas
enfrenta obstáculos e nem sempre pode ser abreviada.

Caso 5: Aspectos nutricionais e emocionais


em Transtorno da Compulsão Alimentar
Periódica
Autores: Solange Cord

Alessandro José da Silva

Rosana Aparecida dos Santos

Liliane de Souza Pereira Moreira

Margareth Lopes Galvão Saron

Resumo

O transtorno da compulsão alimentar periódica é um ciclo vicioso, pois ocorre em


sua maioria em indivíduos obesos sendo caracterizado por episódios recorrentes de
compulsão alimentar, sem qualquer comportamento de compensação para evitar um
possível ganho de peso, criando assim uma condição que foge de seu autocontrole. Por
meio de revisão de literatura, o presente artigo consiste em enfatizar como os conflitos
emocionais estão diretamente relacionados à dificuldade do indivíduo de controlar
seus impulsos alimentares. O tratamento para este transtorno então não visa somente
à redução de medidas antropométricas, mas uma conscientização do indivíduo de que
é possível mudar.

Considerações finais

De acordo com De Zwaan (1997) quando se analisa os componentes psicológicos do


transtorno é notável que os pacientes com TCAP preocupam-se mais com o peso e a
forma física e possuem autoestima mais baixa do que outros indivíduos que também
possuem sobrepeso sem terem o transtorno.

Orientações dietéticas adequadas, psicoterapia cognitivo–comportamental e


medicações são métodos eficientes, que estão envolvidos no tratamento do TCAP (NO
SINGLE, 2000; SHAPIRA et al., 2000).

73
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS

O progresso da terapia cognitiva–comportamental consiste em auxiliar o paciente com


TCAP a ir do estágio pré-contemplativo, que é quando o paciente ainda não contemplou
o fato de ter um problema ou precisar fazer uma mudança, ao estágio contemplativo,
deste para o estágio de preparação, onde precisa de ajuda para encontrar uma estratégia
de mudança ou objetivo que seja aceitável, atingível e apropriado (SNETSELAAR,
2005).

O paciente com TCAP apresenta, muitas vezes, ideias de desesperança devido aos
impactos causados por sintomas obsessivos e periódicos de sua vida, sendo importante
o apoio profissional e familiar para não desistir, de modo que recomece o processo
sempre que necessário.

Além dos aspectos psicológicos, o tratamento do TCAP deve incluir o combate à


obesidade por meio de medidas dietéticas específicas e realização de atividades físicas,
conduzidas sob orientação médica. (PAPELBAUM; APPOLINARIO, 2001).

Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2008/anais/arquivosINIC/


INIC1314_01_O.pdf>

Caso 6: “Tenho vigorexia”: amor, desejo e


gozo em um caso clínico
Autora: Raquel Coelho Briggs de Albuquerque

Introdução

São correntes as novas formações clínicas, novas compilações de sintomas que se


transformam em novos transtornos psiquiátricos, como é o caso da Vigorexia ou
Síndrome de Adonis – transtorno psiquiátrico que, em analogia a anorexia, que busca
o corpo perfeito através da magreza, se caracteriza essencialmente por uma busca
patológica pelo volume muscular.

A vigorexia, um dos mais “novos sintomas”, ainda não consta nos principais manuais
psiquiátricos, mas já aparece em artigos e revistas científicas da área e promete
comparecer nas próximas edições das classificações internacionais (CID e DSM). Este
termo foi utilizado pela primeira vez em 1993, pelo psiquiatra americano Harrison G.
Pope, da Universidade de Harvard e é descrito por Severiano (2010) como:

Um transtorno no qual a pessoa realiza práticas esportivas de forma


intensa e contínua para ganhar massa muscular e definição corporal,
sem se importar com eventuais consequências prejudiciais à saúde

74
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV

ou contraindicações. Os portadores de Vigorexia são, em sua maioria,


homens entre 18 e 34 anos, os quais chegam a ingerir mais de 4.500
calorias diárias (o normal seria cerca de 2.500), incluindo perigosos
complexos vitamínicos e suplementos alimentares e até o consumo de
esteroides e anabolizantes, com o fim de conseguir ‘melhores e mais
rápidos resultados’. (SEVERIANO, 2010, p.143).

Camargo (2008) acrescenta que, em relação aos exercícios físicos, indivíduos com
Vigorexia não praticam atividades aeróbicas devido ao temor de perder massa muscular.
A vigorexia é considerada por profissionais da área, um tipo de Transtorno Dismórfico
Corporal (TDC), o Transtorno Dismórfico Muscular. Também é conhecida como
anorexia inversa ou anorexia nervosa reversa. (CAMARGO, 2008; SEVERIANO, 2010).

Na base de dados de saúde – seção psicologia, a BVS-psi, que inclui artigos de diversas
bases de dados da área, como a PEPSIC e o SCIELO, encontram-se dois artigos que
abordam o tema diretamente. Ambos abordam o assunto através da questão da
modernidade e do culto ao corpo, ou seja, através da influência da cultura no surgimento
deste novo sintoma. Mas, será este um “novo sintoma”? Qual será a diferença deste
‘novo sintoma’ – a vigorexia – para outros sintomas neuróticos? Terá a vigorexia uma
nova forma de estruturação? Ou será ela, também uma tentativa do sujeito de responder
ao enigma do desejo do Outro – tal qual é próprio do sintoma neurótico (LACAN, 1957-
58). Passemos ao caso para, então, discutir tais questões.

Disponível em: <http://www.psicopatologiafundamental.org/uploads/files/v_congresso/


mr_100_-_raquel_briggs.pdf>

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