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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)............................................................... 9
CAPÍTULO 1
CONCEITO............................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
CARACTERIZAÇÃO DO TCAP E DIAGNÓSTICO......................................................................... 13
CAPÍTULO 3
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS................................................................................................... 18
CAPÍTULO 4
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS TCAP X BULIMIA NERVOSA........................................................ 22
CAPÍTULO 5
TCAP EM HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS E ADOLESCENTES................................................... 25
UNIDADE II
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE.................................................. 34
CAPÍTULO 1
BREVE CONCEITO SOBRE OBESIDADE...................................................................................... 34
CAPÍTULO 2
OBESIDADE E SUAS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS.................................................... 38
CAPÍTULO 3
TCAP X OBESIDADE................................................................................................................. 42
UNIDADE III
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA....................................................................... 46
CAPÍTULO 1
SOBRE A HIPERGAFIA E A ORTOREXIA...................................................................................... 47
CAPÍTULO 2
SOBRE A PICA E A SÍNDROME DE PRADER-WILLI....................................................................... 50
CAPÍTULO 3
SOBRE TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC) POR ALIMENTOS E TRANSTORNO DE
RUMINAÇÃO........................................................................................................................... 55
CAPÍTULO 4
SOBRE VIGOREXIA E OUTROS TRANSTORNOS ALIMENTARES NÃO ESPECIFICADOS.................... 58
UNIDADE IV
ESTUDOS DE CASOS............................................................................................................................. 63
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 75
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Nas últimas cinco décadas observou-se uma grande mudança no comportamento
alimentar das pessoas eclodindo numa transição epidemiológica entre a desnutrição e
a obesidade. Para Pinheiro et al. (2004), essa transição refere-se ao impacto provocado
pela alteração do perfil nutricional as pessoas: pode-se afirmar que as mudanças
econômicas, demográficas e sociais afetaram, também, o padrão nutricional e o
consumo alimentar das famílias. Assim, a população de risco passa a incluir, além dos
desnutridos, os obesos.
Friedman (1995) defende que por muito tempo os indivíduos obesos foram considerados
como pertencentes a um grupo homogêneo baseado apenas em uma característica
comum: o excesso de peso. Com essa simplificação de conceito, ignorava-se as possíveis
diferenças comportamentais que poderiam, na maioria dos casos, terem sido as causas
da obesidade. Hoje a obesidade pode ser considerada como um dos mais graves
problemas da saúde pública mundial.
O estudo do tema Transtornos Alimentares passou, então, ser matéria obrigatória para
diversos profissionais, principalmente os relacionados à saúde: médicos, psicólogos e
nutricionistas. Assim, o diagnóstico e o tratamento são movimentos multidisciplinares,
onde os esforços das diversas ciências se unem no sentido de explicar e melhorar a
relação de consumo alimentar entre os indivíduos e as formas encontradas para lidar
com suas frustrações e ansiedades.
8
A terceira e última Unidade será dedicada ao estudo dos Transtornos alimentares
com menor incidência. Serão contemplados nesta unidade o estudo dos seguintes
transtornos: hipergafia, ortorexia, pica, síndrome de Prader-Willi, TOC por alimentos,
ruminação, vigorexia, além de outros transtornos alimentares não especificados.
Objetivos
»» Tratar dos Transtornos da Compulsão Alimentar Periódica – TCAP.
9
TRANSTORNOS
DA COMPULSÃO UNIDADE I
ALIMENTAR
PERIÓDICA (TCAP)
CAPÍTULO 1
Conceito
A compulsão alimentar é conhecida, em inglês como binge eating. Melo (2011) afirma
que quando os episódios compulsão alimentar ocorrem por, pelo menos, dois dias por
semana, num período de seis meses, são associados a algumas características de perda
de controle e não são acompanhados de comportamentos compensatórios dirigidos
para a perda de peso, indicam, segundo estudos recentes, a presença da síndrome
10
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Figura 1.
Cerca de vinte anos depois, na década de 1970, o fenômeno passou a ser estudado com
maior clareza; a compulsão alimentar passou a ser considerada uma síndrome. Os relatos
de indivíduos associavam a compulsão alimentar a comportamentos compensatórios
para prevenção de ganho de peso.
11
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
identificado em 1959 por Stunkard. Para os autores, o diagnóstico do TCAP deve incluir
as seguintes condições:
Identificação do TCAP
Na análise do transtorno são verificados, também que os indivíduos com TCAP não
apresentam dietas muito restritivas e não alternam episódios de compulsão ou restrição
alimentar. Assim, o padrão alimentar dos portadores de TCAP seria comer até sentir-se
repleto, sentir repulsa por si mesmo e adotar o hábito de comer sozinho de forma a evitar
explicações e embaraços.
1 DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders –
DSM).
12
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Figura 2.
Fonte: <http//2.bp.blogspot.com/U8C3plAbXq/VQMvZCyyStl/AAAAAAAAYrc/Iy4cLBLnW8/s1600/transtorno%Balimentar3.png.>
Acesso em: 1/5/2016.
Wifley et al. (2000) recomendaram outro critério, que orienta os estudos atuais: os
autores sugerem a autoavaliação baseada no peso e na forma do corpo. Esse aspecto
permite a diferenciação entre obesos com e sem TCAP. Claudino e Borges (2002)
afirmam que, sendo a obesidade uma característica central dos transtornos alimentares,
este critério possibilitaria um importante elo do TCAP com outras síndromes como a
anorexia nervosa e a bulimia nervosa.
Segundo Hay (2002) para facilitar a identificação do TCAP, pode-se considerar os fatores
etiológicos como expectativas elevadas, episódios de maus tratos ou de superproteção,
eventos traumáticos na infância, alcoolismo ou transtornos psiquiátricos dos pais em
algum período da vida, abuso e os fatores de dieta (comentários críticos sobre peso e
forma física, obesidade ou transtorno alimentar dos pais e na infância).
13
CAPÍTULO 2
Caracterização do TCAP e diagnóstico
A TCAP foi elevada à condição diagnóstica no ano de em 1994, a partir da sua inclusão
no apêndice B do DSM IV. De acordo com o DSM, a síndrome se caracteriza pela
ocorrência de episódios recorrentes de compulsão alimentar, sem a existência de
qualquer comportamento de compensação para evitar um possível ganho de peso.
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
»» Spitzer et al. (1993) afirmam que as mulheres são, em geral, mais obesas
e têm histórico de flutuações de peso mais acentuadas do que as mulheres
sem este padrão alimentar.
Outra característica que pode estar relacionada é que a compulsão alimentar vem
acompanhada de sofrimento psíquico provocada por sentimentos de angústia
15
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
“inexplicáveis” que incluem vergonha, nojo e culpa. O comedor compulsivo atinge duas
principais dimensões: a subjetiva, que deflagra a sensação de perda de controle; e a
objetiva, que importa a quantidade de alimento consumido.
Azevedo (2004) afirma que a maioria dos autores concorda que um comedor compulsivo
abrange no mínimo esses dois aspectos: o subjetivo manifesta-se pela perda de controle,
e o objetivo, manifestado pela quantidade de alimento consumido. Segundo o autor, há
um consenso geral no aspecto subjetivo da compulsão para seu diagnóstico, contudo,
há controvérsias em relação ao aspecto objetivo, quanto ao tamanho e à duração de
uma compulsão. Esta divergência pode ser observada nas muitas definições dadas ao
fenômeno.
Stunkard (2003) compara o TCAP à bulimia nervosa: o autor afirma que a primeira não
se observa uma terminação lógica e a segunda a compulsão é claramente concluída por
comportamento purgativo. O autor conclui como solução claramente insatisfatória, o
critério relacionado à duração do episódio.
Ainda sobre características dos portadores de TCAP pode-se afirmar que costumam
apresentar IMC superior aos portadores de bulimia nervosa (GELIEBTER, 2002).
Outro aspecto da síndrome é a não ocorrência de dietas e perda de peso (STRIEGEL,
2001).
Goldfein (1993) inclui nas evidências para identificação de pacientes com TCAP a
ingestão significativamente maior de alimentos se comparados às pessoas obesas sem
compulsão alimentar. O autor adverte que o TCAP pode acometer também indivíduos
com peso normal. A maioria dos indivíduos relatam longas histórias das repetidas
tentativas de fazer dietas; sentem-se frustrados com sua dificuldade no controle da
ingestão de alimentos. Spitzer (1993) afirma que nas clínicas de controle de peso, os
indivíduos que apresentam TCAP são normalmente mais obesos e têm histórico de
flutuações de peso mais acentuada do que os indivíduos sem este padrão.
Gluck, Geliebter e Satov (2001) identificaram o estresse como sendo um dos fatores que
pode levar ao aumento das compulsões alimentares. Os autores atestam que durante
situações estressantes, o cortisol é liberado estimulando a necessidade de ingestão de
alimentos e, consequentemente, o aumento do peso. Geliebter (2002) afirma que em
estudo realizado por Geliebter et al. foi demonstrado que pessoas obesas têm uma
maior capacidade gástrica se comparados às pessoas com peso normal. Para o autor,
esse aspecto poderia limitar ou não limitar a quantidade de alimentos ingeridos e de
saciedade. O autor afirma, também, que não se conhece a existência de um transtorno
alimentar que tenha sido predisposto por uma grande capacidade gástrica.
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Diagnóstico do TCAP
Os critérios de diagnósticos para o TCAP são os propostos pelo DSM-IV que define a
doença a partir da presença de uma série de fatores que são:
›› ocorrência de, pelo menos, dois episódios por semana, durante período
aproximado de seis meses;
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UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
Ainda, como critério de diagnóstico, o paciente deve relatar grau de sofrimento relativo
a esse comportamento recorrente, associado a um prejuízo do seu convívio social
causado por esse fenômeno.
O TCAP é uma doença que atinge indivíduos de todas as raças, sendo maior ocorrência
em mulheres, mas com grande acometimento em homens também. A relação de
distribuição aproximada entre os sexos está três mulheres para cada dois homens. A
doença se manifesta prioritariamente, no final da adolescência. Nos pacientes do sexo
feminino com esse diagnóstico o IMC é mais alto do que nas mulheres sem TCAP.
Outras distinções que podem ser observadas, também, são as oscilações de peso mais
frequentes, maior dificuldade em aderir a dietas ou em manter peso no tratamento da
obesidade.
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CAPÍTULO 3
Causas e consequências
O sofrimento dos indivíduos obesos está diretamente relacionado aos rótulos recebidos
pela família e amigos: preguiçoso, pouco inteligentes, desmotivados, além dos muitos
apelidos com entonação pejorativa: “rolha de poço”, “bolo fofo” etc. Esses rótulos
afetam prejudicialmente suas relações interpessoais e no seu cuidado com a saúde.
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UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
Sikorski, Luppa e Kaiser (2011) afirmam que a decisão do obeso em reduzir o peso
não é motivada pelo cuidado com a saúde, mas sim para reduzir a estigmatização e o
consequente isolamento social. A vaidade tem um peso muito grande nessa decisão.
A sociedade culpa o obeso por ser obeso. Ainda que fatores genéticos, socioculturais
e ambientais sejam determinantes na obesidade de um indivíduo, a sociedade credita
ao indivíduo a maior responsabilidade pelo excesso de peso. Considerar que a culpa é
do obeso é como acreditar que o indivíduo escolhe ser obeso. Aliado a esta condição, a
sociedade ainda demonstra reações negativas, como rejeição, falta de empatia e pouca
ou nenhuma disponibilidade para ajudar o obeso.
Cobayashi et al. (2010) reconhecem que a aceitação social tem relação direta com uma
melhor aparência física. Acrescentam os autores, que esta aparência física “melhor” é
determinada pela mídia que impõe a magreza excessiva e os músculos bem definidos
como sendo o padrão aceitável.
Pode-se considerar também, como uma das causas da compulsão alimentar, os fatores
genéticos predisponentes e, entre eles, destaca-se a história do transtorno alimentar
na família (transtorno de ansiedade, depressão). As pesquisas apontam que entre
portadores de Compulsão Alimentar Periódica é comum existirem parentes de primeiro
grau também com os mesmos transtornos ou quadros depressivo-ansiosos.
Javaras et al. (2008) em um estudo para identificar o fator genético no TCAP, concluíram
como sendo significante o componente genético na ocorrência do transtorno. Já as
pesquisas de Hudson et al. (2006) para saber se o TCAP está relacionado às famílias
independentemente da obesidade, os autores concluíram que o TCAP é uma desordem
causada, em parte, por fatores distintos dos outros fatores familiares da obesidade.
Para os autores os fatores familiares específicos dos portadores de TCAP independem
do aumento do risco de obesidade, principalmente os casos severos.
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Outra consideração sobre causas do transtorno são os traços de personalidade que podem
interferir diretamente na modelagem dos hábitos alimentares das pessoas com TCAP.
Com relação a traços de personalidade que podem causar o transtorno, as vulnerabilidades
e fragilidades emocionais pessoais decorrentes de eventos vitais significativos durante a
vida do indivíduo são descritos como causas prováveis do transtorno. Entre os traços de
personalidade com maior ocorrência do transtorno destaca-se o tipo de relacionamento
existente o sujeito e o objeto, ou seja, sujeito x comida. Assim, podem aparecer indivíduos
que apresentam como características de personalidade a avidez, na busca continuada de
saciedade e na incapacidade de protelação do prazer, entre outros.
Figura 3.
Fonte: <http://www.bolsademulher.com/saude/transtorno-que-thaila-ayala-revelou-ter-tem-cura-como-e-o-tratamento-
entenda> Acesso em: 1/6/2016.
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UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
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CAPÍTULO 4
Diferenças e semelhanças TCAP X
bulimia nervosa
A bulimia nervosa não pode ser considerada apenas um problema do paciente e sua
relação com a comida. O sintoma “alimentação compulsiva” no portador de bulimia
nervosa pode ser desencadeado por diversos “gatilhos” como a dieta, estresse ou a
experimentação de emoções desconfortáveis, como a frustração. A provocação de
vômitos bem como outras ações para prevenção do ganho de peso se apresentam para
o portador da doença como formas de sentir que tem controle sobre sua vida e seu
comportamento alimentar. São várias as causas para a ocorrência da bulimia nervosa,
dentre elas o culto à magreza, incidência do transtorno em membros da família, estresse
e fatores biológicos.
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UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) Comportamentos compensatórios inapropriados para prevenir ganho
dos seguintes critérios: comer muito e mais rapidamente do que o normal; de peso, como vômito autoinduzido; abuso de laxantes, diuréticos ou
comer até sentir-se incomodamente repleto; comer grandes quantidades outras medicações; jejum; ou excesso de exercício físico.
de alimentos, quando não está fisicamente faminto; comer sozinho por
embaraço devido à quantidade de alimentos que consome; sentir repulsa
por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente.
Acentuada angústia relativa à compulsão alimentar. A compulsão e o comportamento compensatório inapropriado devem
ocorrer, no mínimo, pelo menos uma vez por semana, por 3 meses.
A compulsão alimentar ocorre, em média, 1 dia por semana, durante 3 Autoavaliação indevidamente influenciada pelo peso e forma corporal.
meses.
A compulsão alimentar não é associada com o recorrente uso de O transtorno não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia
comportamentos compensatórios inapropriados como na bulimia nervosa e nervosa.
não ocorre exclusivamente durante o curso da bulimia nervosa ou anorexia
nervosa.
Gravidade 4: Leve: média de 1 a 3 episódios de compulsão alimentar por Gravidade 3: Leve: média de 1 a 3 episódios de comportamentos
semana Moderada: média de 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por compensatórios por semana Moderada: média de 4 a 7 episódios de
semana Grave: média de 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por comportamentos compensatórios por semana Grave: média de 8 a 13
semana Extremo: média de 14 ou mais episódios de compulsão alimentar episódios de comportamentos compensatórios por semana Extremo:
por semana. média de 14 ou mais episódios de comportamentos compensatórios
por semana.
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Na comparação entre pacientes com bulimia nervosa e pacientes com TCAP observa-
se que é recorrente em pacientes com TCAP a ocorrência de oscilação maior e menor
intensidade de restrição alimentar. Também, diferentemente da bulimia nervosa em que
a compulsão alimentar geralmente é seguida de um episódio purgativo, nos pacientes
com TCAP esse comportamento não ocorre; isso limita e dificulta a possibilidade de
identificação do transtorno.
Na história clínica dos pacientes com TCAP, são relatadas experiências frustradas
nas inúmeras tentativas de dietas para controle alimentar associadas à sensação de
descontrole. Em pacientes com bulimia nervosa encontram-se históricos de flutuação
de peso mais intensas do que nos pacientes obesos sem TCAP. Outra distinção que
pode ser destacada é que os pacientes com TCAP relatam menos episódios de restrição
alimentar se comparados aos pacientes com bulimia nervosa.
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CAPÍTULO 5
TCAP em homens, mulheres, crianças e
adolescentes
»» Espanha entre 2008 e 2010: 24,4% dos homens e 21,4% das mulheres.
»» Austrália nos anos de 2007 e 2008: 25,6% dos homens e 24% das
mulheres.
»» Canadá nos anos de 2007 a 2009, 27,6% dos homens e 23,5% das
mulheres.
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
afirma Braun et al. (1999). Mas, mesmo assim, as pesquisas mostram que homens
portadores de transtornos alimentares apresentam algumas peculiaridades.
A POF realizada no período entre 2008 e 2009 apresentou resultado dando conta de
uma prevalência de 51% de excesso de peso e 13,3% de obesidade entre os homens,
enquanto 45,6% das mulheres eram classificadas com excesso de peso e 16,3% como
obesas (IBGE, 2010). O mesmo estudo revelou que na cidade de Goiânia a prevalência
de obesidade entre os homens é de 10,4% e nas mulheres de 13,4%.
A WHO – World Health Organization (2004) destaca que nos primeiros estudos
sobre obesidade, observava-se maior frequência do fenômeno nas mulheres do que
nos homens. Atualmente, a partir das últimas décadas, estudos realizados no período
de 1974 e 1989, evidenciaram um crescimento de 77% e 60%, respectivamente, na
população de homens e mulheres obesos no mundo.
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UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
Figura 4.
Ainda, com relação aos aspectos socioculturais que são preditores dos transtornos
alimentares, existem estudos que têm o objetivo de identificar os grupos sociais mais
atingidos ou mais vulneráveis à ocorrência desses transtornos; estudam, também, os
processos sócio-histórico-culturais que podem contribuir para a explicação do aumento
de peso e da sua incidência em geral.
Fonte oficial do governo brasileiro calculou, em 2004, que cerca de 40% da população
esteja com peso acima do recomendado, sendo que 8% dos homens e 13% das mulheres
com mais de 18 anos sofrem de obesidade. (Fonte: <www.saude.gov.br> 2004). Já no
sítio do Palácio do Planalto, em artigo publicado em abril/2015, o Ministério da Saúde
informa que “Há três anos, o Brasil mantém o nível de obesidade da população estável”.
É o que mostra a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL, 2014), divulgada no dia 15/4/2016 pelo
Ministério da Saúde. Contudo, a pesquisa constatou que 52,5% dos brasileiros estão
com excesso de peso.
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
obesidade como responsável por 14% das ocorrências de câncer entre os homens e por
20% dos casos entre as mulheres.
Russel e Keel (2002) declaram que entre homens com transtornos alimentares, parece
haver associação específica entre homossexualidade masculina e índices elevados de
sintomatologia de transtornos como bulimia nervosa e anorexia nervosa. Algumas
explicações para o alto índice de homossexualismo entre homens com transtornos
alimentares foram descritas por Herzog, Bradburn, Newman (1990): os “TA” ainda são
vistos como uma doença feminina, o que pode tornar difícil para os homens heterossexuais
admitir que estão doentes; os homens que apresentam comportamentos estereotipados
são confundidos com gays. Ainda com relação ao índice de homossexualismo entre
os “TA”, Andersen (1999) lembra que a magreza, a forma do corpo e os músculos
trabalhados são muito valorizados pelos homossexuais.
Finalmente, Braun et al. (1999), afirmam que as evidências sugerem que homens com
TA têm uma prevalência mais alta de obesidade pré-mórbida do que as mulheres.
Os autores acrescentam que muitos pacientes relatam que começaram a fazer dieta
motivados pela necessidade de evitar conviver com críticas e apelidos de infância
relacionados à obesidade.
Como já foi dito, os transtornos alimentares possuem causas multifatoriais, que podem
ser de origem genética, sociocultural, biológica ou psicológica.
29
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
e dos mecanismos patogênicos que atuam sobre o organismo para provocar essas
doenças).
Deve-se considerar que obesidade é uma patologia crônica, que apresenta altos índices
de insucessos em tratamentos com o auxílio de profissional de saúde, com várias
recidivas, sendo considerado um agravo de difícil controle e que pode gerar sérias
complicações orgânicas e psicossociais (WANDERLEY; FERREIRA, 2010).
As pesquisas estão aí para demonstrar que cada vez mais pessoas, principalmente
mulheres jovens e adolescentes, perseguem uma imagem corporal dentro dos padrões
e se envolvem com comportamentos alimentares anormais e práticas inadequadas para
controle e perda de peso (DUNKER; PHILIPPI, 2003).
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TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Figura 5.
Fonte: <http://veja.abril.com.br/saude/disturbios-alimentares-aumentam-entre-as-criancas/>
Escrivão (2000) afirma que existiam no Brasil em 1989 cerca de um milhão e meio
de crianças obesas; acrescenta que a prevalência era pouco maior entre meninas do
que entre meninos (5% e 4,8%). Com relação aos aspectos geográficos, a prevalência
da obesidade na região Sul era de 7,2% e na região Sudeste era de 6,2%. Esses dados
demonstravam que eram mais do que o dobro da observada na região Nordeste – 2,5%.
As regiões Norte e Centro-Oeste apresentam prevalência intermediária em relação
às outras regiões. O autor descreve, também, que entre as crianças pertencentes às
famílias de renda maior a proporção de obesos era em torno de 8% comparada com
2,5% nas pertencentes às famílias de menor renda. Em relação à distribuição por faixa
etária, a obesidade era mais evidente nos dois primeiros anos de vida.
31
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
Esse quadro pode, muitas vezes, ser o estopim para o início de comportamentos de
risco para transtornos alimentares. Neste contexto, o uso de dietas restritivas e de
métodos de controle de peso (vômitos autoinduzidos, laxantes, diuréticos, atividade
física excessiva) para emagrecer podem ocorrer de maneira frequente.
32
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP) │ UNIDADE I
Escrivão, Oliveira e Taddei (2000) afirmam que vários estudos já foram realizados
com o objetivo de analisar a evolução da obesidade na infância e sua continuidade
na fase adulta, sendo os resultados bastante variáveis e de difícil comparação, devido
às diferenças na seleção das amostras, nos critérios utilizados para a definição da
obesidade, na análise e apresentação dos dados. Porém, os autores advertem, que há
uma tendência nestes estudos, em mostrar que crianças e adolescentes obesos, quando
comparados com não obesos, têm maior risco de ser adultos obesos.
33
UNIDADE I │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA (TCAP)
Figura 6.
Segundo Leung e Robson (1990) a grande maioria das crianças desenvolve a obesidade
do tipo exógena, que seria o resultado do excesso de calorias consumidas em relação ao
dispêndio energético diário. Os autores acrescentam que além do consumo excessivo de
gordura e o baixo gasto energético a obesidade pode estar relacionada ao metabolismo
eficiente (que não consome muitas calorias para a realização das tarefas diárias), ou até
mesmo a combinação dos três fatores.
Segundo Leung e Robson (1990) citam, ainda, que estudos que relacionam a obesidade
infantil com o desmame precoce associado à introdução da mamadeira e alimentos
sólidos, os quais contêm alta concentração de solutos que provocam sede na criança,
que é recompensada com mais leite, tornando-se assim um círculo vicioso de calorias
ingeridas. Já Coutinho (1998) credita apenas ao desequilíbrio energético causado por
dietas hiperlipídicas, principalmente gorduras saturadas, associado à inatividade física.
34
TRANSTORNOS
DA COMPULSÃO
ALIMENTAR UNIDADE II
PERIÓDICA E
OBESIDADE
É fato que o fenômeno mereça toda atenção médica, já que o índice de ocorrência é de
aproximadamente 2% da população geral e, em se tratando de obesos que procuram
tratamento médico, o índice é de cerca de 30%.
CAPÍTULO 1
Breve conceito sobre obesidade
O que é obesidade? Para responder esta pergunta deve-se considerar vários fatores e
visões das diferentes ciências.
Obesidade, para leigos, pode ser considerada o acúmulo de gordura no corpo provocado
quase sempre pela ingestão excessiva de calorias na alimentação. Esse conceito parece
muito simplista. Será que o fenômeno obesidade leva em conta somente o aspecto
acúmulo de gordura provocado por ingestão de calorias na alimentação?
35
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE
podendo ser causado por doenças genéticas, endócrino – metabólicas ou por alterações
nutricionais.
A obesidade é provocada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que pode causar
vários danos à saúde. A identificação da obesidade em uma pessoa pode ser feita
por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal – IMC. Para se obter o resultado
e classificar o indivíduo como obeso ou não obeso basta dividir o peso corporal pela
altura elevada ao quadrado, como mostra a fórmula a seguir:
Ao se apurar o IMC pode-se definir a condição do sujeito como obeso ou não obeso. Para
tanto, a Organização Mundial de Saúde – OMS elaborou uma tabela onde classifica os
indivíduos segundo seu IMC.
Tabela 1. Classificação do índice de massa corporal segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS.
IMC Classificação
36
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE│ UNIDADE II
efeito que o peso corporal tem na saúde e que o aumento do IMC representa elevação
do risco no desenvolvimento de várias doenças.
Considera-se que IMC é um bom indicador de obesidade, embora não seja totalmente
correlacionado com a gordura corporal. Existem limitações nessa medida, como, por
exemplo, não distingue a massa gorda da massa magra; isso significa, principalmente,
que o resultado pode ser menos fidedigno na população mais velha, que, em função da
idade, tem maior perda de massa magra e, consequentemente, diminuição do peso.
Outro ponto que pode ser contestado nesse indicador de obesidade é que pode não
refletir, a distribuição da gordura corporal; ou seja, a gordura poderá estar concentrada
apenas numa região do corpo. Cheskin et al. (1999) afirmam que a medida da
distribuição de gordura é importante na avaliação de sobrepeso e da obesidade
porque a gordura visceral/intra-abdominal é um fator de risco potencial para doenças,
independentemente da gordura corporal total. Os autores defendem que indivíduos
com o mesmo IMC não necessariamente têm os mesmos índices de massa gordurosa
visceral. Um exemplo apontado pelos autores é a distribuição de gordura abdominal
entre homens e mulheres: para algum acúmulo de gordura corporal, o homem tem,
em média, o dobro da quantidade de gordura abdominal em relação à mulher na pré-
menopausa.
Yang Mu (1976) afirma que na população brasileira, utiliza-se a mesma tabela proposta
pela OMS para classificação de sobrepeso e obesidade e que seu uso apresenta limitações
similares às constatadas na literatura. O que se recomenda é a utilização da combinação
de medidas do IMC com medidas da distribuição de gordura; essa estratégia pode
ajudar a resolver alguns problemas que ocorrem na utilização do IMC de forma isolada.
<http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/05/04/da-obesidade-morbida-a-
anorexia-a-triste-historia-de-uma-jovem-de-21-anos/>
37
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE
Figura 7.
Fonte: http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/05/04/da-obesidade-morbida-a-anorexia-a-triste-historia-de-
uma-jovem-de-21-anos/ Acesso em 25/06/2016
38
CAPÍTULO 2
Obesidade e suas principais
consequências clínicas
A obesidade é uma doença que pode afetar diversas áreas do nosso corpo provocando
inúmeras doenças.
Figura 8.
Atualmente existe uma maior preocupação com a obesidade pela doença ter se
transformado numa epidemia mundial. Sendo assim, há uma maior necessidade
por tratamentos seguros e efetivos. Para cuidar da saúde da população mundial é
necessário dar ênfase às ações e estratégias voltadas para a prevenção da obesidade.
Essa preocupação se justifica, pois, políticas de combate à obesidade podem evitar
devastadoras consequências das doenças relacionadas como diabetes, hipertensão e
aterosclerose.
39
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE
Figura 9.
Consequências clínicas
Para Mancini et al. (2001) vários distúrbios fisiopatológicos são causados pela
obesidade, e isso ocorre, principalmente nas pessoas com IMC acima de 30 kg/m2. Os
distúrbios decorrentes da obesidade podem ser:
Figura 10. O excesso de peso faz com que o coração trabalhe mais.
Fonte: <http://brasilescola.uol.com.br/saude-na-escola/conteudo/obesidade-doencas-cardiovasculares.htm>
Acesso em: 27/6/2016.
40
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE│ UNIDADE II
De um modo geral as pessoas diabéticas e que estão com excesso de peso, são orientadas
pelo seu médico a adotarem medidas para emagrecer. Afinal, por que tanta os diabéticos
não podem ser obesos? Qual a relação entre diabetes e excesso de peso?
41
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE
Outro fator que pode elevar o risco de doenças respiratórias é que a obesidade provoca
alterações na circulação do sangue nos pulmões, o que dificulta a troca de gases entre o
ar que inspiramos e o sangue – entrada de oxigênio e saída de dióxido e carbono. Nas
pessoas obesas existe um aumento da função das células de gordura e a consequente
produção de numerosos mediadores químicos que favorecem a inflamação. Tanto a
asma como a DPOC são doenças em que ocorre uma inflamação crônica das vias aéreas.
<http://www.onconews.com.br/site/atualizacao-cientifica/atualizacao-
cientifica/artigos-cient%C3%ADficos/1185-c%C3%A2ncer-e-obesidade,-qual-
a-evid%C3%AAncia.html>
Além das doenças relacionadas, a obesidade pode, ainda, ser causadora de:
42
CAPÍTULO 3
TCAP x obesidade
A obesidade é uma doença que integra o grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) e se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que provoca
prejuízos à saúde dos indivíduos. A obesidade é um transtorno que envolve aspectos
ambientais e genéticos. Atualmente, a obesidade é considerada um problema de
saúde pública mundial. A elevação dos índices de obesidade ocorre tanto nos países
desenvolvidos como, também, nos em desenvolvimento.
Esses autores acrescentam dados encontrados por Appolinário et al. (1995), Coutinho
(2000) e Borges (1998) que demonstram que no Brasil, há uma prevalência entre 15%
e 22% em pacientes que procuram tratamento para emagrecer. Entre os pacientes
que realizaram a cirurgia bariátrica, esta prevalência pode variar de 27% a 47% (8,9).
Aproximadamente 20% das pessoas que se identificam como portadoras de compulsão
alimentar possuem diagnóstico de TCAP (10,11). A dimensão variada encontrada na
prevalência do TCAP é devida, em parte, às variações das definições de compulsão (11).
Dobrow, Kamenetz, Devlin (2002) afirmam que a obesidade não é classificada como
um transtorno psiquiátrico. Os autores dizem que, por muito tempo, a obesidade foi
compreendida como uma manifestação somática de um conflito psicológico que, em
determinados indivíduos com formação egoica inadequada, seria solucionado por meio
43
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE
da alimentação excessiva. Ainda existe muita aceitação, por parte da população leiga,
dessa teoria e também por uma boa parte dos profissionais de saúde. Uma visão mais
moderna e atualizada não aceita esta postura, a não ser quando se trata de obesos da
população geral.
Petribú et al. (2006) afirmam que a discrepância encontrada entre amostras comunitárias
e clínicas pode ser reflexo da tendência dos indivíduos que sofrem de algum transtorno
comórbido de serem mais comprometidos e, portanto, mais propensos a procurar
tratamento. Os autores afirmam, ainda, que de qualquer forma, na medida em que
lidamos com populações clínicas, o achado de maior depressão comórbida é relevante
e deve ser considerado ao se avaliar pacientes que se apresentam para tratamento de
obesidade. No entanto, até agora parece não ser possível estabelecer uma relação de
causa-efeito.
Figura 11.
28/6/2016.
44
TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE│ UNIDADE II
Coutinho (2000) diz que o TCAP está relacionado a sintomas psicopatológicos em geral
(sobretudo depressão), a maior gravidade da obesidade e a prejuízo no funcionamento
social e ocupacional. Petribú et al. (2006) verificou que os obesos portadores de TCAP
tiveram maior número de tratamentos para emagrecer e apresentaram mais episódios
de depressão que os não compulsivos.
Rieger et al. (2005) também pesquisaram a relação existente entre obesidade e TCAP.
Os autores encontraram que pessoas obesas portadoras de TCAP apresentaram um
maior comprometimento nos aspectos psicossociais da escala de qualidade de vida em
relação aos não compulsivos. Os autores destacaram que o TCAP foi mais associado ao
comprometimento do que a obesidade sozinha.
Na pesquisa de Petribú et al. (2006) foi encontrado que os pacientes com TCAP
apresentaram piores escores em todos os domínios da SF-36 quando comparados ao
grupo sem TCAP. Os autores concluíram que o grupo com TCAP apresentou maior
número de tratamentos realizados com objetivo de perder peso, elevada prevalência
de depressão maior no momento da avaliação, piores escores em todos os domínios da
escala de qualidade de vida SF-36. Foi observada ainda uma alta prevalência de TCAP
e de outros transtornos psiquiátricos.
45
UNIDADE II │ TRANSTORNOS DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA E OBESIDADE
os obesos com TCAP têm outra condição em comum: iniciam mais cedo a preocupação
com peso e dietas, adotando diferentes estratégias: absurdas ou mais conservadoras.
Outro dado que se encontra entre os obesos com TCAP é que eles apresentam ainda
maior incidência de flutuação de peso e dedicam muito tempo de suas vidas na tentativa
de emagrecer.
46
TRANSTORNOS
ALIMENTARES UNIDADE III
COM MENOR
INCIDÊNCIA
Mas não são somente estes três transtornos que preocupam profissionais de saúde.
Existem vários outros fenômenos que acometem pacientes em todas as faixas etárias
e níveis socioeconômicos e culturais. Dentre os transtornos pode-se relacionar a
hipergafia, a ortorexia, a pica, a síndrome de Prader-Willi, o Transtorno Obsessivo
Compulsivo (TOC) por alimentos, o transtorno de ruminação, vigorexia, além de outros
transtornos alimentares ainda não especificados.
Nesta unidade trataremos dos transtornos alimentares de menor incidência, mas não
menos importantes para tratamento da obesidade e das doenças provocadas por esses
transtornos.
47
CAPÍTULO 1
Sobre a hipergafia e a ortorexia
Hipergafia
A tristeza e a depressão podem provocar inúmeros comportamentos compensatórios
como, por exemplo, comprar roupas e sapatos, beber até “se sentir alegre” ou comer
compulsivamente. Você conhece alguém que quando está deprimido começa a comer
sem parar como forma de consolo? São casos muito comuns no nosso ambiente social.
Este quadro clínico ocorre muito mais do que se imagina e é denominado Hipergafia.
A OMS alerta que o fenômeno hipergafia é uma espécie de transtorno mental que
necessita de tratamento psicológico, principalmente se considerar os danos causados à
saúde pela obesidade provocada pelo transtorno. A hipergafia tem relação direta com
outros transtornos alimentares e problemas psicológicos como a bulimia, a crise do
pânico, entre outros.
48
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III
Figura 12.
Fonte: <http://www.mundoboaforma.com.br/hipergafia-o-que-e-causas-sintomas-e-tratamento/>
Ortorexia
Figura 13.
Fonte: <http://www.trigoesaude.com.br/alimentacao-saudavel/ortorexia-transtorno-alimentar.shtml>
49
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA
Qualquer alimento que contenha o mínimo vestígio do que está na lista do “não é
permitido” ou “não é saudável” é imediatamente descartado de sua dieta alimentar.
Pode haver casos de sofrimento psíquico vivenciado por pessoas obesas que as induzem à
ortorexia. O obeso que sofre constrangimentos por meio de discriminação e humilhação
pode recorrer a dietas, num primeiro momento e, em seguida, adotar o comportamento
ortoréxico. Outras causas para a ocorrência da ortorexia é a baixa autoestima ou, ainda,
em pessoas que também reconhecem no comportamento ortoréxico a única solução
para melhoras rápidas de estado de saúde.
50
CAPÍTULO 2
Sobre a pica e a síndrome de Prader-
Willi
Pica
O transtorno alimentar pica, também chamado de alotriofagia ou alotriogeusia. A
principal característica desse tipo de transtorno alimentar é o consumo recorrente e
persistente de substâncias não nutritivas por um período de pelo menos um mês; este é
o primeiro critério para a identificação do transtorno.
As substâncias ingeridas podem incluir tecido, cabelo, papel, sabão, terra, giz, cola,
metal, pedras, talco, fios, tinta, carvão, cinzas, detergente. Para identificação da doença,
o comportamento alimentar diferente não deve fazer parte de práticas culturalmente
aceitas.
Figura 14.
51
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA
A síndrome de pica pode ser categorizada a partir das diferentes substâncias ingeridas
pelos pacientes:
Síndrome de Prader-Willi
Esta síndrome recebeu o nome de um dos médicos suíços que a descreveu pela primeira
vez A. Prader, H. Willi. Outro pesquisador também participou das pesquisas junto com
o Dr. Prader-Willi – o Dr. A. Labhart. A síndrome é a forma mais comum de obesidade
de causa genética e apresenta uma incidência estimada em um caso para cada 15 mil
bebês vivos.
A doença tem em comum com outras doenças de origem genética algum grau de retardo
neurológico. O bom desenvolvimento do bebê portador da síndrome dependerá, em
primeiro lugar da identificação precoce da doença e, em seguida de terapias e estímulos
apropriados.
2 Hiperfagia, também chamada de polifagia, é uma grave desordem alimentar, que se caracteriza pela grande ingestão de
alimentos, ultrapassando o necessário para atender a demanda energética do organismo.Fonte: <http://www.infoescola.com/
doencas/hiperfagia/ >
53
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA
Figura 15.
3 Criptorquidia consiste no não descimento de um ou dos dois testículos para a bolsa escrotal, geralmente causado por hérnias,
falta de estímulo hormonal ou por alterações na região do abdome. Fonte: <http://brasilescola.uol.com.br/doencas/
criptorquidia.htm>
4 Hipoplasia, também chamada de hipolastia, designa o crescimento insuficiente de um tecido ou um órgão. Fonte: <http://
saude.ccm.net/faq/2325-hipoplasia-definicao>
54
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III
5 Hipogonadismo é uma doença na qual as gônadas (testículos nos homens e ovários nas mulheres) não produzem quantidades
adequadas de hormônios sexuais, como a testosterona nos homens e o estrogênio nas mulheres. Além dos hormônios, os
testículos podem não produzir espermatozoides adequadamente. Fonte: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/
hipogonadismo>
55
CAPÍTULO 3
Sobre Transtorno Obsessivo-Compulsivo
(TOC) por alimentos e transtorno de
ruminação
56
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III
O TOC pode ser comparado grosseiramente a um disco arranhado, que repete sempre
o mesmo trecho gravado. Os pacientes portadores deste distúrbio sofrem com imagens
e pensamentos incontroláveis. O controle desses episódios só se dá por meio de um
ritual, que pode ser repetido diversas vezes no mesmo dia.
Existe, ainda, uma visão ultrapassada que entende que o TOC é resultado da experiência
de vida. Essa visão vem sendo substituída por evidências de que os fatores biológicos são
os principais responsáveis pela doença. Isso se deve ao fato de que pacientes com TOC
tiveram resultados positivos em resposta à utilização de medicamentos específicos que
interferem na produção de serotonina, no sistema neurotransmissor. Esses resultados
sugerem que o transtorno pode ter bases neurobiológicas.
Assim sendo, a ocorrência do TOC não é mais atribuída apenas aos comportamentos
que o paciente aprende na sua infância; no caso do TOC por alimentos, por exemplo,
uma excessiva aprovação quando a criança se alimenta bem ou reprovação quando
não se alimenta. A ênfase dada às respostas da criança à ingestão de alimentos pode
servir como elemento coadjuvante para a ocorrência do distúrbio; mas esse fator não se
sustenta sozinho para provocar o transtorno. Pelo contrário, a pesquisa de suas causas
atualmente é focada na interação de fatores neurobiológicos com as influências do meio
e com os processos cognitivos.
57
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA
Transtorno de ruminação
Outra característica que pode identificar o transtorno como sendo ruminação, é o fato do
fenômeno não poder ser explicado por nenhuma outra condição médica. O transtorno
tem como consequência complicações médicas como a desnutrição, a perda de peso, as
alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, a desidratação e pode, também, levar a óbito.
A ruminação pode ser identificada como sendo diferente do vômito normal, pela
natureza aparentemente voluntária do episódio por parte do portador do transtorno.
A ocorrência de movimentos preparatórios característicos seguidos de regurgitação
e movimentos de sucção ou mastigação que parecem agradáveis ao bebê deve ser
observada para a constatação do fenômeno.
58
CAPÍTULO 4
Sobre vigorexia e outros transtornos
alimentares não especificados
Vigorexia
A vigorexia é conhecida, também, como dismorfia muscular e anorexia nervosa reversa.
O transtorno foi descrito como uma variação da desordem dismórfica corporal e
enquadra-se entre os Transtornos Dismórficos Corporais – TDC (CHUNG, 2001).
Assunção (2002) afirma que a distinção que se faz entre o transtorno vigorexia e os
demais TDCs é que o primeiro envolve uma preocupação de não ser suficientemente
forte e musculoso em todas as partes do corpo, ao contrário do segundo, TDCs típicos,
que existe preocupação com áreas específicas do corpo.
Figura 16.
59
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA
Assunção (2002) emite um alerta afirmando que o caso específico dos homens com
relação à preocupação excessiva com o corpo se manifesta de maneira diferente em
relação às mulheres. Apesar de indivíduos do sexo masculino também sofrerem de TAs,
chama atenção esse novo quadro de transtorno – vigorexia que afeta um número maior
de homens.
»» cansaço ao extremo;
»» irritabilidade;
»» insônia;
»» depressão;
»» anorexia nervosa;
»» sentimento de inferioridade.
60
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III
Como foi visto até aqui, existem diversos transtornos alimentares. De um modo geral,
quando se fala em transtornos alimentares, é comum associarmos o fenômeno aos
distúrbios bulimia nervosa, anorexia nervosa e TCAP, por serem os transtornos mais
conhecidos e com maior incidência. Mas existem, além desses mais conhecidos, outros
transtornos de alimentação não menos graves. Alguns já foram descritos nos capítulos
anteriores. Outros serão descritos neste capítulo.
6 Parassonia é um transtorno do sono. São comportamentos e experiências que ocorrem geralmente durante o sono e na maioria
dos casos não são frequentes e têm impacto leve ou moderado. Esses episódios podem se repetir vezes suficientes ou se
tornarem tão enfadonhos que exige a atenção especializada.
61
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA
Síndrome de gourmet
Será que escolher o que vai comer é um problema? De um modo geral, as pessoas
têm sempre alguma restrição alimentar: uns não gostam de cebola, outros de canela,
maionese, etc. Considera-se normal o hábito das pessoas rejeitarem algum tipo de
alimento. Porém, o que não pode ser normal é o fato de algumas pessoas apresentarem
uma grande restrição alimentar, reduzindo muito a variedade de alimentos que se
permite comer. Esse fenômeno pode causar um grande impacto na vida das pessoas.
Esse fenômeno é chamado transtorno do comer seletivo.
Ainda não existem critérios definidos para identificação do transtorno. Não está
incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV), mas
o Transtorno do Comer Seletivo é um distúrbio caracterizado por uma dieta muito
restritiva a partir da pela rejeição a muitos alimentos.
O portador do transtorno tem, em média, uma dieta que inclui cerca de apenas dez tipos
de comida. Outro fator comum aos portadores do transtorno é que, geralmente, a dieta
é baseada em carboidratos, alimentos ricos em açúcar e os industrializados. No caso de
criança, existem três fatores associados: recusa alimentar, pouco apetite e desinteresse
62
TRANSTORNOS ALIMENTARES COM MENOR INCIDÊNCIA│ UNIDADE III
pelo alimento. É comum, também, uma grande aversão a frutas, legumes e verduras. Os
portadores do transtorno se recusam a experimentar novos alimentos. Existe grande
incidência do transtorno em crianças autistas e portadores de transtornos de ansiedade.
63
ESTUDOS DE UNIDADE IV
CASOS
A Unidade IV apresenta alguns casos de pacientes com transtornos alimentares, com
o objetivo de ilustrar o conteúdo da disciplina. São apresentados os pontos “resumo/
introdução” e “conclusão/discussão dos resultados” dos artigos para dar um panorama
geral do que foi pesquisado. Na sequência está o link onde poderá ser visto o artigo
integralmente.
Resumo:
Apesar do aumento de casos de jovens com anorexia nervosa, essa temática ainda
constitui um tabu no universo masculino. O objetivo deste estudo é investigar o
modo como um adolescente com anorexia nervosa atípica experiencia seu corpo e
imagem corporal. Utilizou-se de entrevista individual semiestruturada, audiogravada
e transcrita literalmente, com o paciente, sua mãe e nutricionista, além de consulta
ao prontuário médico. Conclui-se que o jovem apresenta conflitos relacionados ao seu
corpo e imagem corporal.
Resultados e discussão
Identificação pessoal
Fernando (nome fictício), 18 anos, solteiro, branco, evangélico, único filho do sexo
masculino de uma prole de quatro irmãs mais velhas, na época estava cursando o
segundo colegial em um curso supletivo. No período em que foi realizada a coleta de
dados, encontrava-se em seguimento junto ao GRATA havia nove meses.
64
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV
Histórico familiar
Fernando morava com a mãe, o pai e uma das irmãs, que é solteira. A família residia
em imóvel próprio, em um conjunto residencial da COHAB, adquirido mediante
financiamento. Segundo informação colhida no prontuário médico, os pais e as irmãs
eram magros; as irmãs gozavam de boa saúde, a mãe era hipertensa e o pai tinha diabetes
mellitus. O paciente relatou que seu relacionamento com os familiares era muito bom.
Fernando foi internado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto pela primeira vez em
2002, aos 13 anos de idade, devido a complicações decorrentes de uma combinação de
problemas, como obesidade, intolerância à glicose, cefaleia e mielite viral, que havia sido
diagnosticada no ano anterior. Apresentava queixa de diminuição da força muscular
e levantou-se a hipótese de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Fez seguimento
em diferentes ambulatórios: neurologia, fonoaudiologia, endocrinologia e diabetes,
e clínica psicológica pediátrica. Em janeiro de 2006 foi atendido pela primeira vez
no Ambulatório de Nutrologia, de onde foi encaminhado ao GRATA com suspeita de
transtorno alimentar.
65
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS
66
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV
Atualmente
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 12, no 3, pp. 454-468, setembro
2009 ARTIGOS. Disponível em:< http://psicopatologiafundamental.org/uploads/
files/revistas/volume12/n3/a_experiencia_corporal_de_um_adolescente_com_
transtorno_alimentar.pdf>
67
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS
Figura 17.
Resumo
68
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV
Existem diversas síndromes relatadas na literatura que não apresentam uma repercussão
direta para a cavidade bucal do paciente e, por esta razão, são desconhecidas pelos
Cirurgiões-Dentistas. No entanto, algumas delas podem interferir indiretamente na
saúde bucal e, razão pela qual, precisam de uma boa avaliação.
A Síndrome de Prader Willi, caracterizada por uma desordem genética, apresenta uma
característica importante para a odontologia – o distúrbio de comportamento – que,
ressaltada pela disfunção hipotalâmica, determina obesidade severa para o paciente.
Além disso, este distúrbio de comportamento pode ser reforçado pela maneira como
o portador é educado e, ainda, pode ser influenciado pela quantidade de hormônio
do crescimento que é excretado ou prescrito para os pacientes (HÖYBYE; THORÉN;
BÖHM, 2005). Assim, este distúrbio de comportamento precisa ser bem conhecido e
trabalhado no consultório odontológico, em uma perspectiva multidisciplinar, visando a
um atendimento preciso, efetivo e que determine um restabelecimento da saúde bucal do
paciente. A paciente L.T.M.S., apesar de ter apresentado um excelente comportamento
na cadeira odontológica, na primeira consulta, onde foram realizados o exame físico
intrabucal e a profilaxia com taça de borracha, mostrou muita timidez durante esse
encontro. A partir dos encontros seguintes, começou a demonstrar inquietação nos
procedimentos mais complexos (restaurações e exodontias), não permitindo sua
realização. Conforme relatado por Akefeldt e Gillberg, em 1999, o mau comportamento
parece estar relacionado à própria síndrome, não tendo relação com o grau de retardo
mental. Os procedimentos necessários foram executados, utilizando-se a técnica do falar-
mostrar-fazer. Observou-se que a adolescente respondia bem à figura de autoridade
do professor da clínica que, tratando-a com carinho e respeito, não permitia que ela
impusesse restrições ao tratamento proposto na sessão.
69
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS
Deve ser observado que pacientes que fazem uso crônico de ansiolíticos, antidepressivos
e antipsicóticos, principalmente, têm uma marcada redução no fluxo salivar, chegando,
em alguns casos, à xerostomia. Somada à hiperfagia e à obesidade (MARTIN-IVERSON
et al., 2000), a redução do fluxo salivar em pacientes com deficiência mental pode
determinar um alto risco à cárie dentária. Assim, foram encontradas diversas áreas
de desmineralização de esmalte na paciente, que foram tratadas com flúor gel e
recomendação de escovação com dentifrício fluoretado, no mínimo, duas vezes ao dia,
indicando-se que, na última escovação do dia, fossem escovados os dentes, sem, no
entanto, haver enxágue bucal, visando aumentar a quantidade de flúor na cavidade
bucal. Além disso, foi destacada a importância de uma correta alimentação para a
adolescente, incentivando-se diminuição da ingesta de carboidratos e aumento do
consumo de frutas e verduras.
70
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV
Resumo
Conclusão
71
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS
Resumo
O ritmo acelerado do crescimento dos índices no mundo faz da obesidade, o grande fator
de risco do milênio. Entre 1980 e 2008, a sua prevalência dobrou e de acordo com o
Consenso latino-americano ela é responsável direta ou indiretamente por duzentas mil
mortes a cada ano. Os altos investimentos em pesquisas permitiram à ciência descobrir
inúmeros processos metabólicos, genéticos e neurológicos associados à obesidade, mas
não se tem ainda uma solução para esse problema de saúde pública, que afeta meio
bilhão de pessoas no mundo.
Grande parte dos pacientes obesos, que buscam tratamento, apresenta distúrbios
psiquiátricos, principalmente, depressão e transtornos de ansiedade. Há também uma
subpopulação de obesos que sofre de transtornos alimentares, entre eles, o Transtorno
de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Essas comorbidades podem interferir
desfavoravelmente no manejo e condução do tratamento. O objetivo deste estudo foi
revisar diversas publicações que relacionam obesidade, compulsão alimentar (CA) e
TCAP realçando aspectos relacionados à sua prevalência, etiologia e resultados obtidos
em diversas propostas de tratamento. Essa revisão foi feita a partir de diversas bases
de dados, artigos, revistas e livros especializados. Os resultados demonstram que a
CA e o TCAP têm alta prevalência em pacientes obesos e com sobrepeso, que existe
alta comorbidade de obesidade e transtornos psiquiátricos e que esse fato interfere
negativamente nos resultados dos tratamentos para perda de peso.
Conclusão
72
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV
A perda de peso, no entanto não tem sido verificada na grande maioria das pesquisas
publicadas. Estudos de longo prazo realizados com grupos de obesos sem CA e TCAP
por sua vez, contrariam esse resultado e sugerem uma linha de pesquisa e tratamento
a ser adotada e mais investigada, sugerindo também que a mudança é possível, mas
enfrenta obstáculos e nem sempre pode ser abreviada.
Resumo
Considerações finais
73
UNIDADE IV │ESTUDOS DE CASOS
O paciente com TCAP apresenta, muitas vezes, ideias de desesperança devido aos
impactos causados por sintomas obsessivos e periódicos de sua vida, sendo importante
o apoio profissional e familiar para não desistir, de modo que recomece o processo
sempre que necessário.
Introdução
A vigorexia, um dos mais “novos sintomas”, ainda não consta nos principais manuais
psiquiátricos, mas já aparece em artigos e revistas científicas da área e promete
comparecer nas próximas edições das classificações internacionais (CID e DSM). Este
termo foi utilizado pela primeira vez em 1993, pelo psiquiatra americano Harrison G.
Pope, da Universidade de Harvard e é descrito por Severiano (2010) como:
74
ESTUDOS DE CASOS │ UNIDADE IV
Camargo (2008) acrescenta que, em relação aos exercícios físicos, indivíduos com
Vigorexia não praticam atividades aeróbicas devido ao temor de perder massa muscular.
A vigorexia é considerada por profissionais da área, um tipo de Transtorno Dismórfico
Corporal (TDC), o Transtorno Dismórfico Muscular. Também é conhecida como
anorexia inversa ou anorexia nervosa reversa. (CAMARGO, 2008; SEVERIANO, 2010).
Na base de dados de saúde – seção psicologia, a BVS-psi, que inclui artigos de diversas
bases de dados da área, como a PEPSIC e o SCIELO, encontram-se dois artigos que
abordam o tema diretamente. Ambos abordam o assunto através da questão da
modernidade e do culto ao corpo, ou seja, através da influência da cultura no surgimento
deste novo sintoma. Mas, será este um “novo sintoma”? Qual será a diferença deste
‘novo sintoma’ – a vigorexia – para outros sintomas neuróticos? Terá a vigorexia uma
nova forma de estruturação? Ou será ela, também uma tentativa do sujeito de responder
ao enigma do desejo do Outro – tal qual é próprio do sintoma neurótico (LACAN, 1957-
58). Passemos ao caso para, então, discutir tais questões.
75
Referências
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Eating disorders and obesity: a comprehensive handbook. New York: Guilford
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materna. Rev Paul Pediatr, 2002, pp. 30-6.
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BULIK, C.M. et al. Twin studies of eating disorders: a review. Int J Eat Disord, 2000;
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