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A Base de Cálculo da CSL e o Tratamento Fiscal dos Tributos com Exigibilidade

Suspensa

João Dácio Rolim


Glaydson F. Cardoso

Resumo: Objetiva esclarecer o adequado tratamento fiscal, para fins da CSL, das despesas
relativas aos tributos cuja exigibilidade esteja suspensa. Relata-se que a SRF tem buscado
equiparar a base de cálculo da CSL à do IRPJ e que os trabalhos de fiscalização têm buscado
enquadrar esses valores como sendo provisões. Ressalta-se a ausência de base legal da IN 390/04.
Conclui-se que, (i) não existe base legal para considerar indedutíveis os tributos com a
exigibilidade suspensa na base de cálculo da CSL; e (ii) não há que se falar em indedutibilidade
destes valores a título de provisão, uma vez que a natureza dos tributos com a exigibilidade
suspensa é de obrigação a pagar. Palavras-chave: Contribuição social, base de cálculo, Brasil;
Contribuição social, Brasil; Lucro tributável, Brasil. Sumário: I Do lançamento a partir do
conceito de provisão - A.1 Provisões e contas a pagar — Conceito - A.2 Ausência de previsão
legal para adição de tributos com a exigibilidade suspensa para fins da CSL — Conclusão
Durante procedimentos de fiscalização, os auditores fiscais da Secretaria da Receita Federal têm buscado
equiparar a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro - CSL ao lucro real, base de cálculo do Imposto
sobre a Renda da Pessoa Jurídica - IRPJ.

Um dos exemplos dessa iniciativa são os questionamentos para considerar indedutíveis, para fins de apuração da
base de cálculo da CSL, as despesas relativas a tributos com a exigibilidade suspensa.

Basicamente, o entendimento das autoridades fiscalizadoras tem se pautado em dois argumentos distintos, quais
sejam: (i) ora consideram que aquelas despesas refletem "provisões", o que justificaria sua indedutibilidade com
base no art. 13, inciso I da Lei nº 9.249/95; ou (ii) ora se baseiam na regra do art. 41, §1º da Lei nº 8.981/95, que
rege a indedutibilidade dos tributos com a exigibilidade suspensa para fins do lucro real.

Assim, o presente trabalho tem o objetivo de tecer alguns comentários acerca do entendimento da administração
tributária federal nas hipóteses destacadas acima e, deste modo, identificar as principais discussões relativas ao
tema.

Para tanto, primeiro analisaremos a hipótese de lançamento considerando que as despesas com tributos com a
exigibilidade suspensa refletem provisões e, em seguida, passaremos a comentar o lançamento fundado na regra
do art. 41 da Lei nº 8.981/95.

I Do lançamento a partir do conceito de provisão

Nos casos em que o lançamento é efetuado com base na aplicação do conceito de provisão, o dispositivo legal
que, no entendimento do fisco, fundamenta a indedutibilidade é o art. 13, inciso I da Lei nº 9.249/95, reproduzido a
seguir:

Art. 13º. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o
lucro líquido, são vedadas as seguintes deduções, independentemente do disposto no art. 47 da
Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964:

I - de qualquer provisão, exceto as constituídas para o pagamento de férias de empregados e de


décimo-terceiro salário, a de que trata o art. 43 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as
alterações da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e as provisões técnicas das companhias de
seguro e de capitalização, bem como das entidades de previdência privada, cuja constituição é
exigida pela legislação especial a elas aplicável; (grifos nossos)
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Nesses casos, o fisco tem argumentado que, pelo caráter de incerteza quanto à liquidação da obrigação, os
tributos que se encontrem com a exigibilidade suspensa devem ser entendidos como provisões.

Com base nessa linha de entendimento, torna-se necessário tecer alguns comentários acerca da distinção entre
provisões e as despesas registradas como obrigações a pagar, com base no regime de competência.

A.1 Provisões e contas a pagar _ conceito

A respeito dessa diferença, pode-se entender que as provisões registram riscos de obrigações que podem nascer
ou se concretizar no futuro, enquanto as despesas com contas a pagar registram obrigações já existentes e
conhecidas, devidas no momento em que são registradas na contabilidade.

Ao analisar o conceito de provisões, Bulhões Pedreira1 assim se pronunciou:

Prover significa, nesse caso, munir-se ou abastecer-se: a provisão aparta ou guarda recursos
financeiros para absorver diminuição do patrimônio líquido que provavelmente se efetivará no
futuro (...)

(...)

As provisões registradas no passivo circulante (ou no exigível a longo prazo) dizem respeito a
obrigações que provavelmente nascerão no futuro (ou que, embora já nascidas, ainda não são
certas e líquidas) mas competem ao período encerrado pelo balanço. Essas provisões são
necessárias para que o balanço exprima a realidade da posição financeira da pessoa jurídica,
porque o regime de competência requer o reconhecimento do lucro quando a receita é ganha,
ainda que todo o custo necessário para ganhar essa receita não esteja definitivamente
determinado.

Fiscalmente, o objetivo do legislador ao determinar a indedutibilidade das provisões foi de evitar a manipulação do
resultado e, assim, a redução indevida dos tributos apurados a partir do lucro.

De fato, se assim não fosse os contribuintes passariam a registrar passivos tão somente com o objetivo de reduzir
seu lucro e, deste modo, evitar o pagamento de CSL e IRPJ. Por outro lado, o lucro distribuível também seria
automaticamente reduzido, mas podendo as disponibilidades financeiras não distribuídas bem como os tributos
eventualmente economizados serem aplicados nos outros objetivos sociais da empresa considerados mais
prementes naquele momento.

Para melhor visualizar a questão, tome-se como exemplo a seguinte hipótese: determinado contribuinte firma um
contrato através do qual se obriga a pagar $100.000,00 a outrem. Com base neste documento, registra
contabilmente um passivo pela obrigação a pagar e sua correspondente despesa.

Vencido o termo estipulado para o pagamento, deixa de fazê-lo. Nesse momento, embora o hipotético contrato
não contemple qualquer cláusula penal, o contribuinte opta por registrar um acréscimo em seu passivo para cobrir
eventual pedido de indenização por parte do credor, no valor aleatoriamente estipulado de $200.000,00.

Com base na legislação aplicável, uma eventual fiscalização nesse caso certamente adotaria o seguinte
procedimento:

a) quanto aos $100.000,00, sua dedutibilidade seria acatada, uma vez que seu reconhecimento
contábil possui previsão no instrumento contratual; e

b) quanto aos $200.000,00, registrados por iniciativa do contribuinte, estes seriam considerados
indedutíveis porque não possuem base que justifique o seu registro ou porque não possuem
qualquer critério para determinar seu montante.

Logo, pode-se concluir que, para fins fiscais, o critério utilizado para verificar se determinado valor é considerado
provisão baseia-se na existência de base para seu registro contábil e na determinação do montante escriturado.
De outro modo, não há qualquer vínculo quanto à liquidação do passivo.

Trazendo este exemplo para o caso de despesas relativas a tributos com a exigibilidade suspensa, fica fácil
demonstrar que, em hipótese alguma tais valores se enquadram no conceito de provisão.

Assim como o contrato determina o surgimento da obrigação no exemplo acima, a lei determina o surgimento da
obrigação no caso dos tributos com a exigibilidade suspensa. De fato, com base na lei identificamos a base de
cálculo, a alíquota, o fato gerador e o vencimento do tributo. Assim, a dívida existe e é determinável a partir da
base de cálculo em seu montante exato.

Não há que se falar, como pretendem as autoridades fiscais em algumas oportunidades, que a natureza de
provisão deriva da incerteza quanto à liquidação da dívida. Se assim o fosse, estar-se-ia diante da instituição do
regime de caixa para fins da dedutibilidade de despesas.

Entender que os tributos com a exigibilidade suspensa caracterizam provisões com base no fato de que não é
certa sua liquidação, não resiste ao menor teste feito com base na própria legislação em vigor, como se
demonstra a seguir.

Considere-se a hipótese de contribuinte que ingressa em juízo, não obtém liminar mas, mesmo assim, deixa de
recolher o tributo questionado. Para estes casos, a despesa relativa ao tributo discutido em juízo é dedutível,
mesmo que não paga. Contudo, nada garante que, posteriormente, venha a lograr êxito no processo judicial e
fique desobrigado de recolher o passivo. Do ponto de vista da liquidação do tributo, a situação exposta é idêntica
à do contribuinte que ingressa em juízo e obtém a liminar que suspende a exigibilidade do tributo. Em nenhum
dos casos existe certeza quanto ao desfecho do processo judicial.

Ressalte-se que, o fato do tributo ser discutido em juízo não lhe retira a característica de contas a pagar. Aos
olhos do legislador, que inclusive determina o surgimento do passivo (quando estipula a base de cálculo, a
alíquota e o vencimento do tributo), a dívida existe, e é determinável a partir da base de cálculo em montante
exato. Assim, o tributo é devido, mas só não é exigível por força da medida judicial. Tanto é assim que,
modificada a decisão favorável ao contribuinte, a SRF exige juros de mora sobre a obriga-
ção durante todo o período em que o tributo esteve com a exigibilidade suspensa,2 nos termos do art. 953 do
atual Regulamento do Imposto de Renda _ RIR/99:

Art. 953 _Em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 1º de abril de 1995, os créditos
tributários da União não pagos até a data do vencimento serão acrescidos de juros de mora
equivalentes à variação da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia _ SELIC
para títulos federais, acumulada mensalmente, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao
vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento (Lei nº 8.981, de 1995, art. 84, inciso I, e
§1º, Lei nº 9.065, de 1995, art. 13, e Lei nº 9.430, de 1996, art. 61, §3º).

(...)

§3º - Os juros de mora serão devidos, inclusive durante o período em que a respectiva cobrança
houver sido suspensa por decisão administrativa ou judicial. (grifos nossos)

Ora, se fossem provisões, como pretendem afirmar as autoridades fiscais, não haveria que se falar em existência
de qualquer obrigação até que finalmente decidida a matéria no Poder Judiciário. Logo, não haveria que se falar
em valor devido até a cassação de liminar ou modificação da sentença concessiva da segurança pleiteada e, por
conseqüência, somente deveriam ser cobrados juros de mora durante o período da suspensão da exigibilidade.
Contudo, com base no art. 953, verifica-se que a própria SRF entende que desde a ocorrência do fato gerador o
passivo registrado representa uma obrigação, tanto que o considera vencido desde lá.

Com efeito, de acordo com entendimentos da SRF extraídos da legislação em vigor, o valor principal do tributo é
devido a partir do momento em que se verificou a ocorrência do fato gerador. Neste ato, surgiu para a União o
direito de receber o crédito tributário e, do mesmo modo, a clara obrigação do contribuinte para com o fisco,
independentemente de sua vontade.
No dizer de Geraldo Ataliba,3 tal fato é assim exposto:

A lei (hipótese de incidência) descreve hipoteticamente certos fatos, estabelecendo a consistência


de sua materialidade. Ocorridos concretamente estes fatos' hit et nunc', com a consistência
prevista na lei e revestindo a forma prefigurada idealmente na imagem legislativa abstrata,
reconhece-se que desses fatos nascem obrigações tributárias concretas. (grifos nossos)

O recolhimento do tributo é situação independente. Este poderá ser efetuado de imediato ou posteriormente,
acrescido dos encargos devidos, já se tendo por certo que há dívida incorrida e obrigação de quitar o crédito
tributário. Mesmo que o contribuinte opte por discutir judicialmente a questão, com a ocorrência do fato gerador
tem-se a obrigação tributária concreta.

Também observando a mesma linha de entendimento até aqui exposta, a 8ª Turma da Delegacia da Receita
Federal de Julgamento em São Paulo (DRJ/SP-SRF) entendeu que o tributo ou contribuição não pago em função
de estar com a exigibilidade suspensa não possui característica de provisão:

EMENTA: DEDUTIBILIDADE DE TRIBUTOS E CONTRIBUIÇÕES COM EXIGIBILIDADE


SUSPENSA _

(...)

TRIBUTOS NÃO PAGOS _ À luz da legislação de regência não se considera provisão a existência
de passivo correspondente a tributo ou contribuição definitivamente apurado no encerramento do
período-base, mesmo que não pago em função de estar com sua exigibilidade suspensa.

ANO-CALENDÁRIO: 1996

RESULTADO DO JULGAMENTO: Lançamento Improcedente (Acórdão nº 539, de 12.03.2002). (grifos nossos)

Deve-se deixar claro que a natureza da obrigação tributária (como provisão ou contas a pagar) não se confunde
com a sua exigibilidade. Não é a inexigibilidade temporária e revogável do crédito tributário que define a condição
de provisão ou de efetiva despesa, mas sim, a existência da obrigação por força de lei, seu reconhecimento por
parte do contribuinte (e das autoridades fazendárias) e a precisão de seu valor. Como visto, existe a precisa
definição legal do fato gerador, da base de cálculo, da alíquota aplicável e do vencimento da obrigação; logo, tem-
se um valor devido cujo pagamento está suspenso por força judicial.

Considerando os conceitos de provisão e de obrigação a pagar, é possível entender que as despesas registradas
para fazer face às obrigações tributárias constituídas, mas com a exigibilidade suspensa não possuem natureza
de provisão e, portanto, não podem ser consideradas indedutíveis com base no art. 13 da Lei nº 9.249/95.

Ademais, se a justificativa para a indedutibilidade de provisões fosse aplicável às obrigações com tributos
suspensos, não haveria necessidade de ter sido instituído o art. 8º da Lei nº 8.541/91, nem tampouco o art. 41 da
Lei nº 8.981/95 para justificar a adição destes valores na base de cálculo do IRPJ. Bastaria dizer que a regra para
sua indedutibilidade já estava contemplada nos dispositivos que, desde aquela época, tratavam da
indedutibilidade de provisões.

Deste modo, uma vez demonstrado que as despesas com tributos com a exigibilidade suspensa não se
enquadram no conceito de provisão, não cabe sua adição com base no art. 13, inciso I da Lei nº 9.249/95 que é
aplicável, exclusivamente, para provisões.

Passa-se a analisar, então, se cabe efetuar sua adição para fins da base de cálculo da CSL com base no §1º, art.
41 da Lei nº 8.981/95, o qual trata da indedutibilidade da despesa com obrigações relativas aos tributos com a
exigibilidade suspensa para fins do lucro real.

A.2 Ausência de previsão legal para adição de tributos com a exigibilidade suspensa para fins da CSL

Diante das considerações até aqui apresentadas, fica evidente que a hipótese de tributos com a exigibilidade
suspensa não se amolda ao conceito de provisões. Assim, trata-se de obrigações com tributos a pagar que se
encontram com a exigibilidade temporariamente suspensa. Resta saber, contudo, se a glosa dos tributos com a
exigibilidade suspensa encontra outra fundamentação legal no ordenamento jurídico brasileiro, para fins da base
de cálculo da CSL.

Nesse contexto, a tributação dos valores relativos aos tributos e contribuições cuja exigibilidade esteja suspensa
surgiu com a edição da Lei nº 8.541/92, que em seu art. 8º assim dispôs:

Art. 8º. Serão considerados como redução indevida do lucro real, de conformidade com as
disposições contidas no art. 6º, alínea b, do Decreto _ Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977,
as importâncias contabilizadas como custos ou despesas, relativas a tributos ou contribuições, sua
respectiva atualização monetária e as multas, juros e outros encargos, cuja exigibilidade esteja
suspensa nos termos do art. 151 da Lei nº da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, haja ou não
depósito judicial em garantia. (grifos nossos)

A partir de janeiro de 1995, o tratamento fiscal das despesas relativas aos tributos e contribuições foi disciplinado
pelo art. 41 da Lei nº 8.981 de 23.01.95, revogando o art. 8º da Lei nº 8.541/92, nos seguintes termos:4

Subseção I

Das Alterações na Apuração do Lucro Real

Art. 41 _ Os tributos são dedutíveis, na determinação do lucro real, segundo o regime de


competência.

§1º - O disposto neste artigo não se aplica aos tributos e contribuições cuja exigibilidade esteja
suspensa, nos termos dos incisos II a IV do art. 151 da Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966,5 haja
ou não depósito judicial. (grifos nossos)

Note-se que esta norma encontra-se na Subseção I daquela Lei (Das alterações na apuração do lucro real), não
abrangendo a CSL para a qual, portanto, inexiste imperativo legal que determine a indedutibilidade dos tributos
com a exigibilidade suspensa.

A esse respeito, cabe mencionar que, de acordo com o inciso I, art. 150 da Constituição Federal de 1988, os
tributos somente podem ser exigidos por lei. Confira-se:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I _ exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. (grifos nossos)

O CTN, legislação de natureza complementar à CF/88, em seu art. 97, §1º, repisa que somente a lei poderá
majorar tributos, e acrescenta que essa majoração é verificada também através da modificação da sua base de
cálculo:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I- a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26, 39, 57 e 65;

(...)

§1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação de sua base de cálculo, que importe em
torná-lo mais oneroso. (grifos nossos)

Portanto, o que prevê o parágrafo primeiro é que a majoração do tributo, através da alteração da base de cálculo,
deve obedecer ao princípio constitucional da legalidade, ou seja, o tributo somente poderá ser majorado através
de lei.

Neste caso, tanto para fins da CSL quanto do IRPJ, somente a lei pode definir que os ajustes ao lucro líquido
serão exigidos, sendo, inclusive, vedada a determinação da base de cálculo através de interpretação que utilize
analogia para aplicar disposições de outros tributos semelhantes.6 Vejamos a lição de Ives Gandra sobre tal fato:

3.3.3. Princípio da vedação do uso de cláusula geral e da integração analógica

Finalmente, devemos registrar, em perfeita coerência com o art. 97, o princípio da vedação da
integração analógica, expresso no §1º do art. 108 do CTN. Se a interpretação pressupõe a
existência da lei que se interpreta, a integração pressupõe a existência de uma lacuna, total ou
parcial da lei. Observo, agora, apenas, que o caput do art. 108, ao disciplinar a integração da lei,
isto é, a colmatação da lacuna, menciona em primeiro lugar a analogia. Todavia, logo no §1º
esvazia a possibilidade do seu uso: "O emprego da analogia não poderá resultar na exigência do
tributo não previsto em lei". (MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Comentários ao Código
Tributário Nacional. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 2, p. 11.)

Na verdade, embora o IRPJ e a CSL sejam calculados sobre o lucro, a disciplina jurídica de sua base de cálculo é
diferente. Essa distinção legal entre o IRPJ e a CSL gera polêmica já que a tendência do Fisco é de tentar
equipará-los. Por outro lado, a aplicação analógica, em sendo caso de lacuna ou necessidade de integração e
consistência da legislação, poderia propiciar um tratamento semelhante em termos de realização de ganhos
tributáveis, apropriação de receitas e despesas que eventualmente possibilitem o diferimento do tributo em virtude
de outros princípios e objetivos que as justifiquem.

Um exemplo de restrição expressa para os dois tributos é a regra do art. 13 da Lei nº 9.249/957 que, ao restringir
a dedutibilidade das provisões àquelas expressas em lei, não deixou de mencionar que as restrições se
aplicariam ao lucro real e à base de cálculo da CSL, ou seja, não bastaria que a regra de indedutibilidade
mencionasse a apuração do lucro real para automaticamente estar vedada a dedução na CSL.

Hiromi Higuchi observa que o referido art. 13 foi taxativo ao relacionar as despesas indedutíveis na base de
cálculo da CSL e que as demais despesas indedutíveis no lucro real não podem ser tributadas pela CSL sob o
argumento de tratar-se de mero reflexo:

Até a vigência da Lei nº 9.249/95, os custos e despesas não dedutíveis na determinação do lucro
real não eram adicionados na apuração da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro. O
art.13 daquela Lei elencou algumas despesas indedutíveis, tanto na apuração do lucro real como
da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro.

Além daquelas despesas, os demais custos e despesas incorridos mas não dedutíveis na
determinação do lucro real não são adicionados na apuração da base de cálculo da contribuição
social sobre o lucro. Em algumas fiscalizações, todavia, os custos e despesas não dedutíveis para
efeito do lucro real são incluídos na base de cálculo da contribuição social sobre o lucro sob o
argumento de tratar-se de mero reflexo. Trata-se de equívoco. (In: Imposto de Renda das
Empresas atualizado até 20.01.2002. 27. ed. São Paulo: Atlas, p.716.) (grifos nossos)

Na esfera administrativa, há que se mencionar os acórdãos do 1º Conselho de Contribuintes do Ministério da


Fazenda, donde colhe-se o seguinte entendimento:

BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO - Os valores que devem compor a base de
cálculo da Contribuição Social são aqueles expressamente previstos na lei que a instituiu, neles não se incluindo
as despesas indedutíveis relativas a tributos com a exigibilidade suspensa: o ponto de partida para apuração da
base imponível é o lucro líquido do exercício que inclui referida despesa que, contabilmente, deve seguir o regime
de competência. (1º CC - Acórdão nº 101-92.358, Rel. Jezer de Oliveira Candido _ 16.11.1998.) (grifos nossos)

I. BASE DE CÁLCULO DA CSSL E DO ILL _ Somente a lei pode fixar a base de cálculo de tributo, não se
admitindo que valores indedutíveis para efeito do IRPJ sejam adicionados às bases de cálculo de outros tributos
sem expressa determinação legal. (Acórdãos nº 101-92553 e nº 101-92979, 1ª Câmara do 1º CC.) (grifos nossos)

II. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL _ GLOSA DE DESPESAS INDEDUTÍVEIS _ INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO _


IMPROCEDÊNCIA _ As despesas indedutíveis na apuração do lucro real, em face da inexistência de norma
expressa, não se somam na determinação da base de cálculo da CS. (Acórdão nº 107-05150, 7ª Câmara do 1º
CC.) (grifos nossos)

Verifica-se, portanto, que a competência da lei tributária é exclusiva para definir se determinado ajuste afetará
somente o IRPJ ou se a disposição estende-se à CSL. Assim não fosse, tornar-se-ia desnecessária e inócua a
existência conjunta de normas pertinentes à CSL (Lei nº 8034/90, por exemplo) e ao IRPJ (Lei nº 9249/95, por
exemplo) já que esta última encerraria toda a matéria.

Deste modo, fica evidente que a regra específica de indedutibilidade dos tributos com a exigibilidade suspensa
contida no art. 41, §1º da Lei nº 8.981/95, não se aplica à CSL. Portanto, a glosa dos tributos com a exigibilidade
suspensa também não encontra fundamentação legal para fins da base de cálculo desta contribuição.

Ademais, sendo ausente a norma específica que determine a indedutibilidade desses valores para fins da CSL,
deve ser aplicada a regra geral para a apuração da base de cálculo desta contribuição que é a dedutibilidade com
base no regime de competência.

Conclusão

Diante das considerações expostas, é possível concluir que:

a) as despesas registradas para fazer face às obrigações tributárias constituídas, mas com a
exigibilidade suspensa, não possuem
natureza de provisão, mas sim, de obrigações a pagar, uma vez que, conforme entende a própria
SRF, seu valor é devido desde o momento em que se verificou a ocorrência do fato gerador. Não
se tratando de provisões, fica evidente que as despesas de tributos
com a exigibilidade suspensa não podem ser adicionadas na base de cálculo da CSL com base no
art. 13 da Lei nº 9.249/95;

b) em se tratando de obrigações a pagar, a análise do ordenamento jurídico brasileiro demonstra


que não existe base legal para adicionar a despesa de tributos com a exigibilidade suspensa na
base de cálculo da CSL. A regra específica de indedutibilidade de tais despesas contida no art. 41,
§1º da Lei nº 8.981/95, se aplica somente ao lucro real (base de cálculo do IRPJ). Assim, a
despesa de tributos com a exigibilidade suspensa não deve ser adicionada na base de cálculo da
CSL, visto que as autoridades fiscais não poderão exigir tributo não previsto em lei expressa.

1 Imposto Sobre a Renda — Pessoas Jurídicas. Justec Ed., 1969, v. I, p. 231.

2O que comportaria discussões na esfera judicial com base no fato de que não ocorreu a mora para pagamento
do tributo que está sendo discutido em juízo e encontra-se com provimento favorável.

3 In: ATALIBA, Gerald. Aspectos da Hipótese de Incidência Tributária. 5. ed. São Paulo: Malheiros, p. 61.

4 Não se discute no presente momento a constitucionalidade ou não dessas restrições.

5 Código Tributário Nacional.

6 Código Tributário Nacional. Art. 108, §1º. O emprego da analogia não poderá resultar na exigência do tributo
não previsto em lei.

7 Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido,
são vedadas as seguintes deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506, de 30 de
novembro de 1964.
Informações bibliográficas:

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado
em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
Rolim, João Dácio.A Base de Cálculo da CSL e o Tratamento Fiscal dos Tributos com Exigibilidade Suspensa.
Revista Fórum de Direito Tributário - RFDT, Belo Horizonte, n. 7, jan./fev. 2004. Disponível em:
<http://www.editoraforum.com.br/sist/conteudo/lista_conteudo.asp?FIDT_CONTEUDO=13472>. Acesso em: 19
out. 2009.

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