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ISCTE
Disciplina de Cidadania e Cultura Política
CULTURA POLÍTICA
CONCEITO E FINALIDADE
Ulisses Garrido,
Garrido, CET 29661
Lisboa, 22 de Julho, 2008
[CULTURA POLÍTICA] Ulisses Garrido
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[CULTURA POLÍTICA] Ulisses Garrido
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................... 4
EVOLUÇÃO E CONTROVÉRSIAS...................................................................................................................... 7
CONCLUSÃO ..........................................................................................................................................................10
Referências Bibliográficas...............................................................................................................................11
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CULTURA POLÍTICA
CONCEITO E FINALIDADE
INTRODUÇÃO
No debate contemporâneo, cada vez mais frequentemente se ouve atribuir o progresso de uns
povos e de alguns países à sua cultura e mais especificamente, à sua cultura política. Pelo
contrário, as dificuldades de outros, os seus insucessos, dificuldades ou atraso1, dever-se-ão à
ausência dessa mesma cultura política.
Mas será assim? Esta é matéria há muito objecto de investigação e sobre que há
conhecimento produzido. Com precisão, qual é o conceito de cultura política? E para que serve
a cultura política? Será que, tendo-a, se tem progresso e democracia “a valer”?
1 Portugal pode mesmo servir de exemplo, tais e tantas vezes ouvimos referências deste tipo.
2 Comummente aceite ser a concepção de Almond e Verba, na sua obra The Civic Culture (1963).
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Bem mais tarde Montesquieu3 classifica os governos de então quanto à natureza (a estrutura)
do Governo e quanto ao princípio (refere-se às “paixões” que o movimentam), mas para essa
classificação, entra em linha de conta com um conjunto de elementos, como as crenças e
hábitos dos povos, os costumes, o clima…
Gabriel Almond e Sidney Verba (1963) publicam “The Civic Culture: political attitudes and
democracy in five countries”. Tal obra tornou-se o referencial e o conceito adoptado de
cultura política, tornou-se a matriz duma nova área de conhecimento e de estudo, a da política
comparada, e uma nova perspectiva de análise. Não sendo o tema novo, confessando-se
inspirados em Weber5 e em Parsons6, é inovadora a abordagem e a metodologia.
Almond e Verba interrogam-se, em plena guerra fria, a partir da realidade fascista na Itália e
na Alemanha - como fora possível? – e concentraram-se particularmente na realidade
democrática e da cultura política do seu país, a Grã-Bretanha e dos Estado Unidos,7
procurando perceber porque é que os regimes democráticos se solidificavam e eram
prósperos e como é que tal se relacionava com a atitude dos cidadãos. Queriam demonstrar
ainda que não depende apenas das instituições democráticas a estabilidade e qualidade da
democracia: depende muito mais das atitudes políticas e não políticas dos seus cidadãos.
3 1689-1755, conhecido e influente filósofo, político e escritor francês, autor da Teoria dos Três
Poderes.
4 A sua obra mais célebre e ainda hoje referencial de estudo, foi “Da Democracia na América” (1835,
o primeiro volume). É uma obra clássica em que o autor enaltece o regime democrático americano,
a participação voluntária dos cidadãos e o seu elevado interesse pela política, fazendo com que a
democracia funcionasse. Os seus críticos referem que Tocqueville ignorou a pobreza e a
escravatura que reinava nas cidades.
5 Max Weber (1864-1920), historiador, jurista, economista e sociólogo alemão, considerado um dos
fundadores da moderna sociologia, particularmente relevante pela sociologia das religiões; obra de
destaque: A ética protestante e o espírito do capitalismo.
6 Talcott Parsons (1902-1979), sociólogo americano, defensor duma ciência social integrada e
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A sua conclusão é de que existe uma relação causal entre a opinião da população e o
surgimento do sistema democrático e sua estabilidade e de que as culturas políticas que
verificaram existir, facilitavam o funcionamento e o desenvolvimento dos sistemas
democráticos.
Foi nesta base que definiram cultura política como “orientações” (compostas por informações,
crenças e valores) “especificamente políticas, posicionamentos relativos ao sistema político e
seus diferentes elementos, bem como as atitudes de cada um relativamente ao seu papel no
sistema” (Almond e Verba, 1963:13). Trata-se pois duma análise ao nível estritamente
simbólico-ideológico e do lado dos agentes sociais (Viegas, 1996:10).
Se colocarmos em relação os autores e definições de cultura política que partilham essa opção
podemos verificar a similitude de abordagens:
Em qualquer uma delas, há objectos de inputs e de outputs. Os primeiros são estruturas que
integram e dão corpo aos anseios individuais e colectivos (partidos, grupos de pressão, mass-
media, poderes legislativos); os outputs sãos estruturas administrativas e executivas
encarregadas de dar resposta a esses anseios (tribunais, polícias, exército, autoridades locais).
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A cultura politica paroquial, na qual os indivíduos mal conhecem o sistema político, alheando-
se naturalmente do processo político; se actuam é mais por razões afectivas que cognitivas. É
“congruente” com sociedades tradicionais e uma estrutura política tradicional.
EVOLUÇÃO E CONTROVÉRSIAS
Mantendo-se como matriz, o trabalho de Almond e Verba nunca deixou de ser criticado e
levou mesmo os seus autores, numa atitude de humildade científica notável, a voltarem ao
assunto, corrigindo vários aspectos merecedores de críticas e reformulando a abordagem
teórica (agora também com base nas mudanças operadas no real dos países durante os 25
anos decorridos) em The Civic Culture Revisited.
Na verdade desde que surgiu a obra, os conceitos de Almond e Verba têm sofrido uma série de
críticas, dos que não os aceitam, mas, sobretudo e especialmente, de estudiosos e
investigadores.
Questões críticas metodológicas não são desprezíveis: i) não distinção entre os modelos de
democracia nos países estudados; ii) a inconsistência da explicação teórica da congruência
entre cultura e estrutura; iii) a definição como modelo político o anglo-saxónico não adaptado
aos outros países estudados; iv) tomar por base impressões na base de perguntas a indivíduos,
sem confronto com outros indicadores.
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mesma conformação institucional. Além disso, coerente com a Ciência Política norte-
americana da época do pós-guerra, Almond e Verba defendem a democracia liberal como
modelo ideal de sociedade” …”entendida como o sistema político norte-americano, em
contraposição ao socialismo soviético”, que se deve “reforçar e justificar a compreensão da
supremacia da sociedade norte-americana como modelo a ser seguido (Castro, 2000:17).
Porém, mais sistemática tem sido a crítica que refere haver um determinismo culturalista
implícito nas questões de partida do estudo.8 A cultura política surge como uma variável
independente de tudo o resto.
Os que se opõem a esta visão acabam no entanto por cair numa abordagem institucionalista,
que acaba por atribuir às instituições um papel decisivo na determinação do processo político.
Na verdade, depois de The Civic Culture, um dos temas centrais de controvérsia foi a relação
de causalidade entre as dimensões cultural e institucional da vida política (BARRY,1978;
INGLEHART, 1988; ALMOND, 1989;LIPHART, 1989; PATEMAN, 1989; STREET,1993).
“Para alguns (LEHMAN, 1072; FENNER, 1983; TUCKER, 1973; WHITE, 1984), a cultura política
englobaria ainda as práticas políticas definidoras da especialidade dum grupo ou segmento
social” (VIEGAS, 1996:10).
Mas VIEGAS (1996:10) vê virtualidades nesta separação analítica, pois “interessa distinguir um
nível sedimentado de interpretação e avaliação do real político das práticas políticas
concretas”.
Sem pretender afirmar a plena equivalência entre os diferentes conceitos que foram sendo
desenvolvidos pelos autores, VIEGAS (1996:11-12) apresenta uma útil síntese de “aspectos
comuns e julgados fundamentais (…) que deverão informar o conceito de cultura política”.
8Para um panorama mais completo das críticas ao conceito almondiano, podem consultar-se as
obras de Street (1993), Moisés (1995) , Rennó (1998), Badie e Hermet (1993), Chilcote (1998) e
Diamond (1994)
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É justamente a partir dessa síntese que VIEGAS formula “o conceito de cultura política como
sistema de leitura, interpretações e avaliações dos objectos políticos, identificáveis a
estruturas simbólico-ideológicas de codificação e descodificação, de carácter sedimentado, e
que regulam as práticas dos agentes sociais” (1996:12)
Inglehart (1988; 2002), Putnam (1996) e Pharr e Putnam (2000) defendem nos seus trabalhos
que o estudo da cultura política sirva como instrumento de análise para pesquisar as crenças,
os valores e as identidades dos diferentes grupos existentes na sociedade.
Também Rennó (1998:86) propõe que seja entendida “como um método de análise de certo
grupo, tentando articular um modelo de interpretação da sua rede de crenças”.
Já para Borba o “objectivo das análises de cultura política é contribuir para a explicação do
comportamento político dos indivíduos, destacando a forma como os valores culturais são
componentes endógenos da tomada de decisão”.
Com todo o conhecimento adquirido, é possível dizer que, nas sociedades hodiernas, a análise
da cultura política é relevante. O desenvolvimento material e cultural de um país tem a ver
com a cultura política (como atrás se comprovou).
Daí que essa análise da cultura política deva ter um carácter permanente, em primeiro lugar
para poder contribuir para remover obstáculos ao desenvolvimento dum país; depois para
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CONCLUSÃO
Neste trabalho explorámos o conceito matricial de cultura política, de Almond e Verba que, em
The Civic Culture tem uma obra lapidar e de referência obrigatória.
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Referências Bibliográficas
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