recolocado para o povo as questões Algumas Québec (Canadá) que estão fazendo que nasceram com o cristianismo: Quem foi Jesus? E Maria? Como a anotações “balanços das suas crenças”, motivados pela volta do fenômeno passagem desse homem-Filho de Deus sobre o filme religioso a sua sociedade. Ele fez o modificou radicalmente o sentido da vida humana? O que nos ensinou sobre “Jesus de filme para ver se não havia algumas idéias-força a recuperar na educação o amor? Essa mensagem ainda é atual? Como ser seu discípulo? Por trás Montreal” religiosa da sua infância. Ele coloca destas interrogações sente-se a trama sua posição desde a primeira das relações entre fé e cultura. seqüência, mostrando uma peça que Antigamente estreitas, essas relações transpõe Os Irmãos Karamazov, de estão hoje terrivelmente estremecidas. Dostoíevski: “...É preciso destruir a É o que nos leva ao interesse pelo idéia de Deus no espírito humano. O filme Jesus de Montréal, de Denys homem deixará de murmurar contra a Arcand. Ele sublinha, com justeza, o brevidade da vida e amará seus poder que se chama ‘a cultura’. irmãos...”. Logo depois, ele cita um Permite igualmente discernir até que filme sobre astrofísica: “...O mundo ponto o cristianismo pode interpelar a começou sem a humanidade e acabará cultura onde se encarna. sem ela...”. Quer dizer, para o cineasta não existe Deus; a vida e a inteligência Em primeiro nível, o filme de representam apenas um minúsculo Arcand constitui uma crítica feroz do ponto de evolução da matéria. Quanto meio cultural, de suas indústrias, seus a Jesus Cristo, ele foi um sábio que gurus, seus poderosos articuladores. O soube traduzir o melhor da religião do ção clerical, o mistério da seu tempo em profecias que ainda hoje caracter desumanizante dessa cultura Paixão aparecia insignificante. provocam. de consumo, simples ‘divertimento’ Ele reencontra sua pertinência Definida esta posição. Arcand em um mundo desencantado, aparece quando atores dele se enfrenta o desafio estético de criar um claramente quando vemos os valores apropriam para melhor personagem contemporâneo cujo que animam o personagem Daniel- transmiti-lo. E são ainda comportamento “docemente Jesus. Mas, e esta é a originalidade do artistas, comediantes e cantoras subversivo” se assemelharia com filme, Jesus de Montréal restitui que saberão ser verdadeiros Jesus em seu tempo e que, um pouco também a cultura seu papel primordial discípulos do Senhor hoje. apesar dele, achar-se-ia também na organização da vida e da religião. Um filme (um engajado em uma “revolução Foi preciso um cineasta para nos evangelho?!) não pode dizer tranqüila”. Para dar gosto às palavras deixar uma das melhores lições de tudo e Jesus de Montreal não evangélicas que lhe interessam, o hermenêutica dos últimos tempos. soube, ele também, dar vida autor usa a representação no interior Arcand conseguiu traduzir, em espiritual e/ou engajamento da representação: um jovem ator, linguagem da nossa época, aquelas comunitário a seu Jesus, retornando de longa viagem, aceita o palavras de Jesus cujo interesses negligenciando assim convite do padre do “santuário” para persiste após 2 mil anos. Mais ainda, dimensões essenciais do modernizar a “Paixão de Cristo”. Ele ele decidiu encarnar seu Jesus cristianismo. Arcand, com 49 estuda o personagem Jesus, compõe magnificamente convincente num ator. anos, quis, com seu filme de seu texto, recruta quatro colegas e Apresentado na tradi- 1989, contudo, juntar-se aos encena a peça, que faz sucesso nos intelectuais de meios de comunicação. ►