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Informativo 1002-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
▪ É inconstitucional lei ordinária que fixa idades mínima e máxima para ingresso na magistratura.
DIREITO ADMINISTRATIVO
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
▪ Não é permitido que Constituição Estadual institua foro por prerrogativa de função para processos de natureza cível.
DIREITO TRIBUTÁRIO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO
▪ Apenas a indisponibilidade de bens prevista na parte final do § 3º do art. 20-B da Lei 10.522/2002 é inconstitucional;
o restante do dispositivo é válido.
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
É inconstitucional lei ordinária que fixa idades mínima e máxima para ingresso na magistratura
Importante!!!
A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da
magistratura viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5329/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 14/12/2020 (Info 1002).
Advogados do Brasil do lugar em que se realizarem as provas, exigindo-se dos candidatos que
satisfaçam os seguintes requisitos:
(...)
V – ter mais de 25 (vinte e cinco) e menos de 50 (cinquenta) anos de idade, salvo quanto ao limite
máximo, se for magistrado ou membro do Ministério Público;
Isso significa que lei ordinária – seja federal, estadual ou distrital – não pode inovar e prever norma de
caráter restritivo ao ingresso na magistratura que não encontra previsão na Constituição Federal ou na
LOMAN.
Nem a CF/88 nem a LOMAN exigem idade mínima como requisito para ingresso na carreira
Os preceitos constitucionais e as disposições da LOMAN não estabelecem a idade como requisito para o
acesso ao cargo, de modo que a ausência de previsão normativa nesse sentido não autoriza que os
Estados-membros disciplinem a matéria.
A CF/88 não exige idade mínima para o ingresso na magistratura, mas tão somente o cumprimento do
requisito de “três anos de atividade jurídica” ao bacharel em direito (art. 93, I).
Em suma:
A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da magistratura
viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5329/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 14/12/2020 (Info 1002).
DIREITO ADMINISTRATIVO
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Não é permitido que Constituição Estadual institua
foro por prerrogativa de função para processos de natureza cível
ADI
A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP) ajuizou ADI alegando a
inconstitucionalidade formal e material do dispositivo com fundamento em três argumentos centrais:
a) competência privativa da União para legislar sobre direito processual;
b) natureza reconhecidamente cível da ação de improbidade administrativa; e
c) impossibilidade de a Constituição Estadual criar hipóteses de foro por prerrogativa de função em
desacordo com o modelo da Constituição Federal (violação à simetria).
Constituição estadual não pode dispor sobre foro por prerrogativa de função de forma diferente da CF
O regramento referente ao foro por prerrogativa de função encontra-se plenamente disciplinado na
CF/88, inclusive, para os âmbitos estadual e municipal, não comportando qualquer tipo de ampliação.
Em outros termos, considera-se que a disciplina sobre a prerrogativa de foro encontra-se exaurida no
âmbito da CF/88, não havendo espaço para o exercício da autonomia dos Estados nessa esfera.
Além disso, o constituinte derivado decorrente (emendas à constituição estadual) deve observar mínima
equivalência com o modelo federal existente – seja se atendendo ao que está previsto na CF/88, seja
legislando por simetria.
CF/88 não prevê foro por prerrogativa de função para improbidade administrativa
A CF/88 não prevê foro por prerrogativa de função para o julgamento de autoridades processadas por ato
de improbidade administrativa. Isso significa que os Estados-membros não possuem competência para
tratar sobre o tema em suas constituições.
Conforme precedente do STF sobre o tema, não é possível extrair da Constituição de 1988 a possibilidade
de instituir foro por prerrogativa de função para os processos de natureza cível, notadamente os de
improbidade administrativa:
(...) 1. Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a um duplo
regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de
improbidade administrativa, quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de
responsabilidade. Não há qualquer impedimento à concorrência de esferas de responsabilização distintas,
de modo que carece de fundamento constitucional a tentativa de imunizar os agentes políticos das
sanções da ação de improbidade administrativa, a pretexto de que estas seriam absorvidas pelo crime de
responsabilidade. A única exceção ao duplo regime sancionatório em matéria de improbidade se refere
aos atos praticados pelo Presidente da República, conforme previsão do art. 85, V, da Constituição.
2. O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações
penais comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa, de natureza civil. Em primeiro
lugar, o foro privilegiado é destinado a abarcar apenas as infrações penais. A suposta gravidade das
sanções previstas no art. 37, § 4º, da Constituição, não reveste a ação de improbidade administrativa de
natureza penal. Em segundo lugar, o foro privilegiado submete-se a regime de direito estrito, já que
representa exceção aos princípios estruturantes da igualdade e da república. Não comporta, portanto,
ampliação a hipóteses não expressamente previstas no texto constitucional. E isso especialmente porque,
na hipótese, não há lacuna constitucional, mas legítima opção do poder constituinte originário em não
instituir foro privilegiado para o processo e julgamento de agentes políticos pela prática de atos de
improbidade na esfera civil. Por fim, a fixação de competência para julgar a ação de improbidade no 1º
grau de jurisdição, além de constituir fórmula mais republicana, é atenta às capacidades institucionais dos
diferentes graus de jurisdição para a realização da instrução processual, de modo a promover maior
eficiência no combate à corrupção e na proteção à moralidade administrativa. (...)
STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
10/5/2018 (Info 901).
Com esse entendimento, o Plenário do STF julgou procedente o pedido, declarou a inconstitucionalidade
do art. 109, I, “h”, da Constituição do Estado do Espírito Santo, com redação dada pela EC 85/2012.
Vale ressaltar que houve modulação dos efeitos da decisão e o STF afirmou que não se aplicaria o
entendimento e, portanto, não se anulariam os processos já transitados em julgado, com fundamento na
garantia da segurança jurídica.
DIREITO TRIBUTÁRIO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO
Apenas a indisponibilidade de bens prevista na parte final do § 3º do art. 20-B
da Lei 10.522/2002 é inconstitucional; o restante do dispositivo é válido
Importante!!!
A Lei nº 13.606/2018 acrescentou o art. 20-B à Lei nº 10.522/2002 prevendo um
procedimento para o caso de inscrição de créditos em dívida ativa da União.
A alteração que gerou controvérsia foi o § 3º do art. 20-B.
Esse dispositivo previu que, se depois de 5 dias contados da notificação, o devedor não pagar
a dívida, a Fazenda Pública poderá:
1) comunicar essa dívida para que seja anotada nos cadastros restritivos de crédito, como por
exemplo, SERASA e SPC. Com isso, o devedor do Fisco fica “negativado” e terá dificuldades de
obter créditos e financiamentos;
2) averbar a certidão de dívida ativa (CDA) nos registros públicos e, com isso, os bens e direitos
do devedor ficariam indisponíveis.
Veja a redação do dispositivo legal:
Art. 20-B (...)
§ 3º Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá:
I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros
relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres; e
II - averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de
bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis.
Os incisos I e II do § 3º do art. 20-B da Lei nº 10.522/2002, acrescentados pela Lei nº
13.606/2018, são constitucionais ou não?
O STF declarou:
• constitucional o inciso I do § 3º do art. 20-B da Lei 10.522/2002; e
• inconstitucional a parte final do inciso II do § 3º do mesmo art. 20-B, onde se lê “tornando-os
indisponíveis”, ambos na redação dada pela Lei nº 13.306/2018.
É constitucional lei que autoriza que o Fisco informe ao SERASA/SPC a relação dos devedores de
tributos (inciso I do § 3º do art. 20-B)
É constitucional a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de
dados e cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres.
É constitucional lei que autoriza que o Fisco faça a averbação (“uma espécie de observação”) nos
registros públicos sobre a existência de CDA contra o titular daquele bem ou direito registrado
(primeira parte do inciso II)
É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA)
nos órgãos de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos
créditos inscritos em dívida ativa da União.
Lei nº 10.522/2002
A Lei nº 10.522/2002 regula o Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor público federal (Cadin).
O Cadin é um cadastro “negativo” mantido pela União.
O Cadin contém a relação das pessoas físicas e jurídicas que:
I - sejam responsáveis por obrigações pecuniárias vencidas e não pagas, para com órgãos e entidades da
Administração Pública Federal, direta e indireta;
II - estejam com a inscrição nos cadastros indicados, do Ministério da Fazenda, em uma das seguintes
situações:
a) cancelada no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF;
b) declarada inapta perante o Cadastro Geral de Contribuintes – CGC.
Lei nº 13.606/2018
A Lei nº 13.606/2018 promoveu alterações em diversos diplomas legais. Um deles foi a Lei nº 10.522/2002.
A Lei nº 13.606/2018 acrescentou o art. 20-B à Lei nº 10.522/2002 prevendo um procedimento para o
caso de inscrição de créditos em dívida ativa da União:
Art. 20-B. Inscrito o crédito em dívida ativa da União, o devedor será notificado para, em até cinco
dias, efetuar o pagamento do valor atualizado monetariamente, acrescido de juros, multa e
demais encargos nela indicados.
§ 1º A notificação será expedida por via eletrônica ou postal para o endereço do devedor e será
considerada entregue depois de decorridos quinze dias da respectiva expedição.
§ 2º Presume-se válida a notificação expedida para o endereço informado pelo contribuinte ou
responsável à Fazenda Pública.
(...)
§ 3º do art. 20-B
A alteração que gerou controvérsia foi o § 3º do art. 20-B.
Esse dispositivo previu que, se depois de 5 dias contados da notificação, o devedor não pagar a dívida, a
Fazenda Pública poderá:
1) comunicar essa dívida para que seja anotada nos cadastros restritivos de crédito, como por exemplo,
SERASA e SPC. Com isso, o devedor do Fisco fica “negativado” e terá dificuldades de obter créditos e
financiamentos;
2) averbar a certidão de dívida ativa (CDA) nos registros públicos e, com isso, os bens e direitos do devedor
ficariam indisponíveis. Repare que esse segundo efeito é bem drástico.
Veja a redação do dispositivo legal:
Art. 20-B (...)
§ 3º Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá:
I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros
relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres; e
II - averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens
e direitos sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis.
ADIs
Foram propostas 6 (seis!) ações diretas de inconstitucionalidade contra essa previsão.
O que decidiu o STF? Os incisos I e II do § 3º do art. 20-B da Lei nº 10.522/2002, acrescentados pela Lei
nº 13.606/2018, são constitucionais ou não?
O debate foi acirrado.
O STF, em julgamento conjunto e por maioria, nos termos do voto médio do Ministro Roberto Barroso
(redator para o acórdão), julgou parcialmente procedente o pedido formulado nas seis ADIs, para declarar:
• constitucional o inciso I do § 3º do art. 20-B da Lei 10.522/2002; e
• inconstitucional a parte final do inciso II do § 3º do mesmo art. 20-B, onde se lê “tornando-os
indisponíveis”, ambos na redação dada pela Lei nº 13.306/2018.
É constitucional lei que autoriza que o Fisco informe ao SERASA/SPC a relação dos devedores de tributos
É constitucional a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e
cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres.
STF. Plenário. ADI 5881/DF, ADI 5886/DF, ADI 5890/DF, ADI 5925/DF, ADI 5931/DF e ADI 5932/DF, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 9/12/2020 (Info 1002).
É constitucional lei que autoriza que o Fisco faça a averbação (“uma espécie de observação”) nos
registros públicos sobre a existência de CDA contra o titular daquele bem ou direito registrado
É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA) nos órgãos
de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos créditos inscritos em
dívida ativa da União.
STF. Plenário. ADI 5881/DF, ADI 5886/DF, ADI 5890/DF, ADI 5925/DF, ADI 5931/DF e ADI 5932/DF, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 9/12/2020 (Info 1002).
O art. 185 do CTN prevê que, se o contribuinte que tem contra si uma dívida inscrita, alienar algum bem
do seu patrimônio, presume-se que ele esteja em fraude, de forma que o terceiro que eventualmente
adquira esse bem, sujeita-se à eventual invalidação do seu negócio jurídico:
Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por
sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito
como dívida ativa.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo
devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita.
A alegação dos autores da ADI era de que essa averbação seria uma forma indireta de induzir (“forçar”) o
pagamento da dívida.
O STF afirmou que sim. Realmente, a averbação é uma forma de a Fazenda Pública efetivamente induzir
ao pagamento da dívida. No entanto, ela é também uma regra objetiva que tem a finalidade de proteção
de terceiros inocentes, sendo, portanto, legítima e relevante.
A indisponibilidade de bens e direitos exige, tal qual a regra no direito brasileiro, a atuação do Poder
Judiciário.
A decretação de indisponibilidade é uma restrição a parte substantiva do direito de propriedade, que
envolve as faculdades de usar, fruir e dispor. Logo, fazer cessar a disponibilidade de bens e direitos é
intervenção drástica sobre o direito de propriedade e sujeita-se à cláusula de reserva de jurisdição.
Além disso, não há razão para que a indisponibilidade seja determinada em sede administrativa quando a
Fazenda Pública pode, pelo simples ajuizamento da execução, averbar a indisponibilidade de bem que
venha a penhorar, observada a ordem de prioridades da legislação. Mesmo durante o processo
administrativo tributário, se Administração Pública tiver razões para suspeitar de fraude à execução ou de
ameaça de fraude à execução, pode entrar com ação cautelar e, também nessa hipótese, pedir a
indisponibilidade de bens.
Portanto, a Administração Pública tem meios legítimos e relativamente singelos de recorrer ao Poder
Judiciário para obter a indisponibilidade de modo que não há razão para que ela decorra automaticamente
de uma simples decisão administrativa.
A apreciação do RE 1043313 (Tema 939) ocorreu em conjunto com o julgamento da ADI 5277.
A ADI foi ajuizada pela Procuradoria-Geral da República contra dispositivos da Lei nº 9.718/98,
acrescentados pela Lei nº 11.727/2008, que autorizam o Poder Executivo a fixar e alterar coeficientes
para redução das alíquotas incidentes sobre a receita bruta auferida na venda de álcool.
Explicando melhor.
A Lei nº 9.718/98 também trata sobre PIS/PASEP e COFINS. Em seu art. 5º, essa lei prevê que incide
PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta auferida na venda de álcool.
A Lei nº 11.727/2008 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 5º dizendo que o Poder Executivo fica
autorizado a fixar e alterar coeficientes para redução dessas alíquotas.
O STF julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ADI para dar interpretação conforme
à Constituição aos §§ 8º e 9º do art. 5º da Lei nº 9.718/98, incluídos pela Lei nº 11.727/2008,
estabelecendo que as normas editadas pelo Poder Executivo com base nesses parágrafos devem
observar a anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”, do texto constitucional.
STF. Plenário. ADI 5277/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Info 1002).
Na prática, as empresas, que não pagavam nada de PIS/PASEP e COFINS sobre as receitas financeiras,
passaram a pagar alíquotas de 0,65% e 4%.
O fundamento legal para a União fazer esse restabelecimento das alíquotas foi o art. 27, § 2º da Lei nº
10.865/2004:
Art. 1º Ficam instituídas a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do
Patrimônio do Servidor Público incidente na Importação de Produtos Estrangeiros ou Serviços -
PIS/PASEP-Importação e a Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social devida
pelo Importador de Bens Estrangeiros ou Serviços do Exterior - COFINS-Importação, com base nos
arts. 149, § 2º , inciso II, e 195, inciso IV, da Constituição Federal, observado o disposto no seu art.
195, § 6º.
Art. 27 (...)
§ 2º O Poder Executivo poderá, também, reduzir e restabelecer, até os percentuais de que tratam
os incisos I e II do caput do art. 8º desta Lei, as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da
COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime
de não-cumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses que fixar.
Art. 8º As contribuições serão calculadas mediante aplicação, sobre a base de cálculo de que trata
o art. 7º desta Lei, das alíquotas:
I - na hipótese do inciso I do caput do art. 3º, de:
a) 2,1% (dois inteiros e um décimo por cento), para a Contribuição para o PIS/Pasep-Importação; e
b) 9,65% (nove inteiros e sessenta e cinco centésimos por cento), para a Cofins-Importação; e
II - na hipótese do inciso II do caput do art. 3º, de:
a) 1,65% (um inteiro e sessenta e cinco centésimos por cento), para a Contribuição para o
PIS/Pasep-Importação; e
b) 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento), para a Cofins-Importação.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
(...)
§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido
mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias
acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art.
155, § 2.º, XII, g.
Para as empresas, a autorização conferida pelo art. 27, § 2º da Lei nº 10.865/2004 seria inconstitucional.
A legalidade tributária imposta pelo texto constitucional não é estrita ou fechada, podendo haver certa
“flexibilização” fixada pela própria lei. Em outras palavras, o legislador poderá delegar certos aspectos
para que sejam tratados pelo regulamento (ato infralegal).
Vale ressaltar, no entanto, que essa flexibilização deve observar alguns requisitos.
Não há ampla e irrestrita liberdade para o legislador realizar diálogo com o regulamento no tocante aos
aspectos da regra matriz de incidência tributária (ex: o legislador não pode transferir para o regulamento
tratar sobre o fato gerador).
A possibilidade de haver a flexibilização do princípio deve ser interpretada com temperamento, de outra
maneira, haverá sério risco de sua banalização.
A constitucionalidade da flexibilização do princípio da legalidade tributária deve ser verificada de acordo
com cada espécie tributária e à luz do caso concreto.
Exige-se maior presença do legislador no tratamento de tributo que possua alto grau de coatividade, como
é a exação cujo pagamento não decorra de benefício imediato conferido ao contribuinte. A característica
da retributividade imediata reduz o grau de coatividade dos tributos: o patrimônio afetado do contribuinte
acabará sendo, de alguma forma, compensado imediatamente.
No caso das alíquotas da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins, houve flexibilização legítima no § 2º do
art. 27 da Lei nº 10.865/2004.
No que tange à contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins, os pagamentos não decorrem de benefício imediato
concedido ao próprio contribuinte, pessoa jurídica. Essas contribuições possuem traço característico da
vinculação à finalidade de custeio da seguridade social. Portanto, detêm alta carga de coatividade.
Conservando suas naturezas tributárias. Elas se aproximam dos impostos.
Não basta que a lei fixe a alíquota máxima; é necessário que a lei estabeleça as condições e o valor
máximo das exações
Extrai-se do texto constitucional que a simples previsão em lei do valor máximo do tributo não é suficiente
para autorizar a flexibilização da legalidade tributária em relação à alíquota de imposto.
Informativo 1002-STF (17/12/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10
Informativo
comentado
Assim, para a flexibilização da legalidade tributária relativa às alíquotas das contribuições questionadas é
preciso o estabelecimento em lei, em sentido estrito, de condições e do valor máximo das exações.
Deve observar a anterioridade nonagesimal, mas não precisa cumprir a anterioridade geral
Importante relembrar também que as normas editadas pelo Poder Executivo que majorem alíquotas da
contribuição para PIS/Pasep e a COFINS devem observar a anterioridade nonagesimal, prevista no art. 150,
III, “c”, da CF/88:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
III – cobrar tributos:
(...)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b;
Se a lei que, mesmo de forma indireta, eleva a carga tributária do contribuinte é obrigada a observar a
regra constitucional, tenha ou não função extrafiscal, também o regulamento deve respeitá-la.
Vale ressaltar, contudo, que não se aplica a anterioridade geral prevista no art. 150, III, “b”, da CF/88,
considerando o art. 195, § 6º dispensa a sua incidência:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
III – cobrar tributos:
(...)
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
(...)
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, ‘b’.
ADI 5277/DF
A apreciação do RE 1043313 (Tema 939) ocorreu em conjunto com o julgamento da ADI 5277.
A ADI foi ajuizada pela Procuradoria-Geral da República contra dispositivos da Lei nº 9.718/98,
acrescentados pela Lei nº 11.727/2008, que autorizam o Poder Executivo a fixar e alterar coeficientes para
redução das alíquotas incidentes sobre a receita bruta auferida na venda de álcool.
Explicando melhor.
A Lei nº 9.718/98 também trata sobre PIS/PASEP e COFINS. Em seu art. 5º, essa lei prevê que incide
PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta auferida na venda de álcool.
A Lei nº 11.727/2008 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 5º dizendo que o Poder Executivo fica autorizado a
fixar e alterar coeficientes para redução dessas alíquotas.
O STF julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ADI para dar interpretação conforme à
Constituição aos §§ 8º e 9º do art. 5º da Lei nº 9.718/98, incluídos pela Lei nº 11.727/2008,
estabelecendo que as normas editadas pelo Poder Executivo com base nesses parágrafos devem
observar a anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”, do texto constitucional.
STF. Plenário. ADI 5277/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Info 1002).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da magistratura
viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal. ( )
2) É compatível com a Constituição Federal norma de Constituição estadual que disponha sobre nova
hipótese de foro por prerrogativa de função, em especial relativo a ações destinadas a processar e julgar
atos de improbidade administrativa. ( )
3) É inconstitucional a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e
cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres. ( )
4) É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA) nos órgãos
de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos créditos inscritos em
dívida ativa da União. ( )
5) É constitucional a previsão legal que permite à Fazenda Nacional tornar indisponíveis,
administrativamente, bens dos contribuintes devedores para garantir o pagamento dos débitos fiscais a
serem executados. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. E