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“Este mundo no qual vivemos tem necessidade da beleza para não cair no
desespero... A beleza, como a verdade, põe alegria no coração dos homens
e é um fruto precioso que resiste à passagem do tempo” (Mensagem dos Bispos
aos artistas, no Vat. II)
Contemplar a beleza é contemplar a face do Transcendente.
Todos os mitos da Criação são mitos da beleza do mundo criado e da arte do
Criador. E o ser humano
participa do ato divino, resgatando o belo e o luminoso em cada coisa, como no
dia da Criação.
Segundo Platão, a beleza é a expressão do Bem, isto é, a harmonia que
fraterniza os homens ao lon-
go dos caminhos da vida e o esplendor da Verdade, ou seja, raio de luz
para o peregrino inquieto,
tentado pelo absurdo. O Bem e a Verdade se expressam como beleza.
A beleza é o reflexo e participação da Beleza eterna de Deus.
Nesta perspectiva o Deus transcendente em sua Beleza se faz imanente,
expressando-se na irradiação luminosa da criação. Deus-Amor esbanja sua
fecundidade numa encantadora gratuidade refletida na multiplicidade
incontável de seres, nas alturas do firmamento, nos recantos desta terra e dos
oceanos.
Além das necessidades vitais básicas o nosso “eu profundo” precisa de
beleza. E a beleza o mundo a serve por atacado. Está em todos os lugares, na
lua, na rua, nas estações, no mar, no ar, nos rios, nos jardins, nos rostos, nas
vozes, nos gestos...
O mundo está carregado de Deus em seu esplendor.
Como no último dia da Criação, temos de concordar com o Criador: olhando para
o que tinha sido feito “viu que tudo era muito bom” (Gen. 1,31). A beleza é a
base da obra criada.
“Como são agradáveis todas as suas obras!... uma excede a outra em beleza: ninguém se
cansa de contemplar sua formosura” (Eclo.42,22-25).
Quando a beleza nos afeta, então nós queremos fazê-la nossa para sempre.
Infelizmente tudo é efêmero, a experiência estética é passageira.
“Porque a beleza é insuportável. Ela desespera-nos, eternidade de um minuto que
desejaríamos prolongar pelo tempo afora” (Camus).
E, no entanto, a beleza pode ser um símbolo que suscita a esperança. Como
todos os símbolos, ela aponta para além de si mesma e revela níveis invisíveis da
realidade.
“Procurem as digitais de Deus” (João Paulo II aos astrônomos).
“A beleza salvará o mundo” (Dostoiewsky)
A beleza nos leva por caminhos de renascimento. A arte, a beleza abrem as
portas fechadas do mundo, fazem entrar a luz transcendente nas trevas da
rotina.
“Espero que um dia a beleza venha iluminar os sórdidos muros de minha prisão
cotidiana”. (Eugenio Ionesco)
A transformação do coração humano tem muito que ver com a sensibilidade autêntica
para a
beleza. Só as revoluções com beleza tem chances de resultarem
vitoriosas.
“É a beleza que engravida o desejo. São os sonhos de beleza que tem
poder
de transformar indivíduos isolados num povo” (Rubem Alves).
“Tranquilo, fechei os olhos. Um prazer sossegado, misterioso, tomou posse de mim –
como se todo esse milagre verde ao meu redor fosse o paraíso mesmo, como se todo o
frescor, o ar e o sereno êxtase que estava sentindo fosse Deus.
Deus muda sua aparência a cada segundo. Bendito o homem que pode reconhecê-lo em
todos os seus disfarces. Num momento é um copo de água fresca, instantes depois é teu
filho, sentado sobre teus joelhos ou uma mulher encantadora ou quiçá não é mais que
um passeio matutino. Pouco a pouco, tudo o que me rodeia, sem mudar sua forma, se
converte em um sonho.
Eu era feliz. A terra e o paraíso eram uma mesma coisa. A vida parecia-se a mim como
uma flor do campo, com uma grande gota de néctar em seu centro. E minh’alma, uma
abelha selvagem disposta a beber” ( Nikos Kazantzakis em “Zorba, o grego”).
Por que nos servimos tão pouco da beleza para expressar a experiência de Deus?
Que relação existe entre a experiência estética e a experiência de fé cristã?