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Análise Psicológica (2004), 1 (XXII): 55-64

Apoio à família e formação parental

MARIA TERESA BRANDÃO COUTINHO (*)

São muitos os autores bem como os trabalhos tenciar um aumento nos níveis de stress paren-
de investigação que têm evidenciado claramente tais e familiares (Dale, 1996; Dinnebell, 1999) e
que as oportunidades para um bom desenvolvi- implicar um esforço suplementar em termos de
mento estão, fundamentalmente, dependentes do adaptação e organização do sistema familiar, no
contexto familiar no qual a criança cresce. Como encetar de uma nova etapa do ciclo vital da famí-
refere Guralnick (1997), os resultados que a cri- lia. De facto, e como refere Fewell (1986), a exis-
ança alcança, em termos de desenvolvimento, tência de uma criança, com necessidades espe-
são grandemente dependentes dos padrões de in- ciais, no seio de uma família, coloca exigências
teracção familiares dos quais a qualidade das in- que podem dificultar a capacidade da mesma pa-
teracções pais-criança, o tipo de experiências e ra funcionar eficazmente e torná-la mais vulne-
vivências que a família proporciona à criança, rável a influências, situações e transacções com
bem como aspectos relacionados com os cuida- o envolvimento.
dos básicos em termos de segurança e saúde, Num enfoque mais próximo, são também vá-
surgem como particularmente determinantes. rios, os investigadores (e.g., Affleck et al., 1989;
A família em termos gerais, e especialmente Dinnebell, 1999; Mahoney et al., 1998), que têm
os pais, têm sido tradicionalmente os primeiros salientado algumas das dificuldades que por ve-
prestadores de cuidados, os organizadores, os zes ocorrem no processo interactivo, quando um
modelos de comportamento, os disciplinadores e dos parceiros (neste caso a criança) diverge dos
os agentes de socialização, num papel evidente padrões típicos de desenvolvimento. Estas crian-
de educadores dos seus filhos. No entanto, e co- ças podem, durante os primeiros meses de vida,
mo sublinha Baker (1989), ninguém se encontra ser menos vigilantes e ter uma capacidade de res-
preparado para se tornar pai (e portanto educa- posta mais reduzida, mostrar-se mais irritáveis
dor) de uma criança com problemas no seu de- ou sonolentas, apresentar uma coordenação mo-
senvolvimento. Como é sabido, a condição de tora mais pobre, exibir padrões atípicos de cho-
vulnerabilidade da criança (com deficiência ou
ro, evidenciar um aparecimento tardio do sorriso
em risco de desenvolvimento atípico) poderá po-
e de determinadas aquisições motoras básicas,
tornando, como refere Beckwtih (1992), as inter-
acções precoces com os seus pais, mais difíceis e
menos satisfatórias para os mesmos.
Interagir, brincar, ensinar, e no fundo, apoiar a
(*) Departamento de Educação Especial e Reabili-
tação da Faculdade de Motricidade Humana da Uni- criança com problemas de desenvolvimento, na
versidade Técnica de Lisboa, Estrada da Costa, 1495- aquisição das capacidades básicas em áreas co-
-688 Cruz Quebrada. mo a autonomia, a comunicação, a motricidade

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ou o jogo, demora mais tempo e requer um grau vas, entre ambos. Ao reflectirmos sobre as impli-
de motivação e habilidade não exigidos numa cações destas claras mudanças conceptuais, che-
função parental mais “normal”, como refere Ba- garemos à conclusão de que será pois fundamen-
ker (1989). A aprendizagem destas crianças é tal, melhorar o nível de informação dos pais, au-
mais lenta, o ensino é menos natural, é necessá- mentar as suas competências no acesso aos re-
rio mais planeamento, mais persistência, mais cursos da comunidade, por forma a promover um
motivação e, muitas vezes, os pais sentem-se in- estilo de funcionamento mais positivo no seio da
seguros sobre o que fazer e como o fazer. família e, consequentemente melhorar o bem es-
Intervir precocemente, com início no período tar dos seus membros individualmente. Estes pais
subsequente ao nascimento parece ser especial- podem ter necessidades de informação para além
mente importante para estas crianças e respecti- das normalmente necessárias para criar uma cri-
vas famílias e eficaz na prevenção da ocorrência ança sem deficiência (Coutinho, op. cit.).
ou na minimização de problemas associados. De Em Portugal, a introdução e implementação
entre diversos tipos de serviços de apoio formal dos modelos centrados na família têm decorrido
disponíveis, a Intervenção Precoce surge como de uma forma mais lenta e, só mais recentemen-
uma forma eficaz de prestar ajuda à criança e à te, os pais começam a ser incluídos no processo
família, sendo de salientar que quanto mais cedo de intervenção como verdadeiros parceiros. De
se iniciar o apoio, e mais abrangente e integrado uma forma geral podemos dizer que as relações
for o modelo de atendimento, maiores serão os entre pais e profissionais têm sido maioritaria-
benefícios para a criança e para a família. mente caracterizadas pelo modelo do especialis-
A intervenção precoce com crianças em risco ta, nos quais os pais não têm tido participação
de desenvolvimento tem sido, nas últimas duas activa no processo de intervenção com o seu fi-
décadas, uma área de intervenção e investigação lho, nem na tomada de decisões relativas ao mes-
em acelerado processo de crescimento, na qual mo. Para Shonkoff e Meisels (1992) um dos mais
por influência clara das perspectivas ecológicas e importantes legados da última década é o cres-
sistémicas, se tem operado uma verdadeira revo- cente reconhecimento da necessidade de mode-
lução, quer em termos de filosofia, como das prá- los mais cooperativos e de uma relação menos
ticas, visível no abandono progressivo de um mo- hierarquizada entre os prestadores e os utiliza-
delo clínico em favor de um modelo sócio-edu- dores dos serviços de intervenção precoce. Tal só
cativo. Este modelo, que defende a perspectiva acontecerá, de facto, se entre vários aspectos re-
de que as famílias e não apenas as crianças de- levantes, os pais melhorarem o seu nível de in-
vem ser legítimos “clientes” (Dale, 1996) da in- formação e formação sobre temáticas relaciona-
tervenção precoce, marca o aparecimento, na li- das com a saúde, desenvolvimento e aprendiza-
teratura, da referência à importância de progra- gem do seu filho. A criação deste tipo de oportu-
mas que visem o suporte familiar (family support nidades será extremamente útil e importante pa-
programs) que segundo Dunst (1990), citado ra os pais, permitindo-lhes sentir-se mais infor-
por Dunst e Trivette (1994), se definem como es- mados, e eventualmente, mais competentes, em
forços no sentido de promover o fluxo de recur- matérias que lhes interessam particularmente
sos e apoios à família, de modo a fortalecer o seu (não ficando determinados tipos de informação
funcionamento, promovendo o crescimento e de- na posse exclusiva dos técnicos). Poderá também
senvolvimento dos seus membros e da família ser uma forma de se sentirem aptos a participar
como um todo. de forma mais activa na discussão de aspectos
Modelos de promoção, como os sugeridos relevantes para a elaboração e implementação do
pelo conceito de empowerment, significam ne- programa de intervenção pedagógico-terapêuti-
cessariamente mais capacidades, mais respon- co. Nesta linha de raciocínio, parece-nos impor-
sabilidades e também mais poder para os pais de tante que num futuro próximo se aposte na for-
crianças deficientes ou em risco de desenvolvi- mação de pais como uma das componentes dos
mento (Coutinho, 2000). Implicam também a ne- serviços prestados no âmbito da intervenção
cessidade de uma colaboração estreita e nivela- precoce, pela qual os pais poderão optar, caso o
mento das relações entre pais e profissionais, desejem.
através do estabelecimento de parcerias efecti- Os programas de Formação ou de Treino de

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Competências Parentais parecem constituir exce- relação pais criança e aquisição de habilidades
lentes oportunidades para melhorar os níveis de específicas, por parte das crianças.
informação bem como as competências educati- Para além de modificações positivas na auto-
vas parentais, surgindo mesmo, em vários estu- confiança e satisfação no desempenho das fun-
dos, associados a resultados bastante positivos ções maternais, como já referimos acima, a in-
em termos da percepção de auto-eficácia, no de- vestigação relativa à formação parental em famí-
sempenho da função parental (e.g., Feldman, 1994; lias de crianças em diversas situações de risco
Hornby, 1992a; Wilkinson, Parrish & Wilson, tem evidenciado: melhorias no processo inter-
1994; entre outros). activo (Affleck et al., 1989; Mahoney et al., 1998);
Ao analisarmos a literatura disponível, cons- aumento do conhecimento sobre o desenvolvi-
tatamos que as estratégias de intervenção media- mento da criança (Olson & Burgess, 1997); in-
das pelo pais, que são designadas como, Treino centivo para os pais participarem no processo de
de Competências Parentais (Baker, 1989; Horn- avaliação dos seus filhos, observando e registan-
by, 1992b; Niccols & Mohamed, 2000) ou For- do informação (Wilkinson, Parrish & Wilson,
mação de Pais (Boutin & Durning, 1994; Dunst, 1994); melhorias nas competências linguísticas
1999; Mahoney et al., 1999), são definidas como da criança através da utilização de determinado
modelos estruturados nos quais os objectivos se tipo de estratégias por parte dos pais (Feldman,
relacionam directamente com a modificação das 1997; Kaiser, Hancock & Hester, 1998), entre
competências parentais e indirectamente com o outros aspectos.
comportamento e ou desenvolvimento da crian- Por outro lado, e de acordo com Mahoney e
ça, parecendo-nos detentoras de um enorme po- Filder (1996), a formação parental constitui uma
tencial, ainda por explorar. O Treino de Compe- grande prioridade para as famílias, como foi
tências Parentais surge muito associado ao tra- possível observar em estudos regionais e nacio-
balho com pais de crianças com problemas de nais conduzidos nos Estados Unidos. Numa in-
comportamento, enquanto que a Formação de vestigação em larga escala, que envolveu mais
Pais surge como uma abordagem particularmente de 600 crianças apoiadas em quatro programas
conotada com crianças com problemas de desen- de intervenção precoce, Mahoney et al. (1998)
volvimento ou, numa dimensão preventiva, diri- concluíram que a eficácia da intervenção não se
gida a pais de crianças em risco biológico e en- encontrava relacionada com a quantidade nem
volvimental. com a intensidade dos serviços dirigidos à crian-
A formação de pais pode ser então definida ça, mas com modificações na forma da mãe se
como o processo de fornecer aos pais ou outros relacionar e cuidar dos seus filhos.
prestadores de cuidados, conhecimentos especí- Em Portugal, a formação de pais tem sido uma
ficos e estratégias para ajudar a promover o de- área de pouco interesse e investimento (Couti-
senvolvimento da criança (Mahoney et al., 1999; nho, 1999, 2000), sendo também no que se refe-
McCollum, 1999; Kaiser et al., 1999). Segundo re à investigação sobre a eficácia dos programas
Mahoney et al. (op. cit.) a formação de pais in- de intervenção precoce, possível verificar uma
clui uma gama de conteúdos diversificada como carência generalizada de estudos.
fornecer informação sobre os processos de de- Foi com base nos pressupostos que acabamos
senvolvimento e aprendizagem da criança, apoiar de referir de uma forma muito sumária, que de-
os pais no ensino de determinadas habilidades ou cidimos construir, aplicar e avaliar o impacto de
competências aos seus filhos e na gestão de pro- um programa de formação destinado a pais de
blemas de comportamento. Como referem Dunst, crianças com síndroma de Down. Trata-se de um
Trivette e Deal (1994) e Dunst (1999) a forma- modelo inovador no nosso país e cujos objecti-
ção parental constitui um tipo particular de apoio vos fundamentais foram: Aumentar o nível e o
que as famílias podem requerer. tipo de informação dos pais, de acordo com as
Segundo Mahoney et al., (1999) os resultados suas necessidades expressas; Aumentar o senti-
que se esperam dos programas de formação pa- mento de competência parental na promoção de
rental abarcam aspectos diversos como, por exem- actividades e situações adequadas aos seus fi-
plo, melhorias nos conhecimentos dos pais, me- lhos, do ponto de vista do desenvolvimento. Os
lhorias na prestação de cuidados, melhorias na pais destas crianças, têm provavelmente acesso a

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uma gama diversificada de serviços do tipo tra- vel de instrução da mãe e estatuto socio-econó-
dicional, mas manifestam interesse por obter mais mico. Os grupos designados como Experimental
informação e formação sobre aspectos específi- – cujos sujeitos participaram nas sessões do PFP,
cos relacionados com o desenvolvimento dos seus e Convencional – que usufrui do tipo de apoios
filhos (Coutinho, 1996). usualmente disponíveis mas que não participaram
O formato do programa foi definido em fun- no Programa de Formação de Pais (no entanto,
ção dos objectivos e de acordo com os estudos receberam no final, toda a documentação escrita
analisados na literatura, que referem que progra- produzida) são equivalentes relativamente às va-
mas de curta duração em formato de grupos de riáveis em cima referidas. A amostra no final do
pais parecem ser bastante positivos para pais de estudo é constituída por 22 mães no Grupo Ex-
crianças portadoras de deficiências (e.g. Baker, perimental (12% perdas) e 17 no Grupo Conven-
1989; Feldman, 1997; Mahoney et al., 1998; Nic- cional (19% de perdas).
cols & Mohamed, 2000). Alguns dados de caracterização demográfica
A presente comunicação apresenta uma parte das famílias, à data da primeira avaliação, en-
dos resultados do Programa de Formação de contram-se sintetizados no Quadro 1.
Pais, particularmente os que se referem à ava- As participantes neste estudo tinham um nível
liação das modificações observadas na percepção de instrução médio e médio-alto, sendo que a
das competências parentais. maior percentagem apresentava mais do que 9
anos de escolaridade. Eram na sua maioria casa-
das e tinham outro filho, para além da criança
ASPECTOS METODOLÓGICOS com Síndroma de Down com uma idade média de
2 anos, que era apoiada em diversos serviços no
âmbito da Intervenção Precoce. Relativamente
Participantes ao estatuto socio-económico, e em ambos os gru-
pos, verificamos uma percentagem superior de
Participaram neste estudo 39 mães de crianças famílias incluídas num nível médio-alto, imedia-
com Síndroma de Down e respectivos filhos que tamente seguida por famílias de um escalão mé-
viviam na zona de Lisboa e Vale do Tejo e ti- dio, classificadas com base na escala de Graffar
nham idades compreendidas entre os 6 meses e (Quadro 1).
os cinco anos de idade. O processo de selecção
dos sujeitos foi sujeito aos seguintes critérios: Procedimentos
cariótipo (as crianças seleccionadas, pertenciam
todas ao tipo citogenético designado como Tris- Nos pré- e pós-testes, todas as mães e crianças
somia 21 primária ou regular); deficiências asso- (com Síndroma de Down) compareceram numa
ciadas (as crianças seleccionadas, não apresenta- sala de observação, em contexto semi-laborato-
vam deficiências sensoriais ou motoras óbvias); rial, a fim de se proceder à avaliação do desen-
patologia cardíaca associada (as crianças selec- volvimento da criança. Após a avaliação da cri-
cionadas, não apresentavam patologia cardíaca ança, foi solicitado às mães que preenchessem os
grave); as crianças seleccionadas, viviam com a diversos questionários e instrumentos utilizados
mãe ou com os pais; nível de instrução da mãe no presente estudo. No pós-teste, solicitou-se ain-
(foram eliminadas todas as crianças cuja mãe da aos sujeitos do grupo experimental o preen-
não tinha completado a instrução primária); in- chimento de um questionário sobre o grau de sa-
teresse dos pais relativamente à participação no tisfação parental. Os contactos, entrevistas e ava-
programa. liações com todas as famílias de ambos os gru-
Tratando-se de uma amostra de conveniência pos decorreram nas mesmas instalações e foram
distribuímos os sujeitos por dois grupos distintos realizados pelo mesmo examinador, com vasta
de acordo com uma técnica de emparelhamento experiência nesta área.
por grupos. Os critérios para o emparelhamento Descreveremos seguidamente, a estrutura, for-
foram: interesse e disponibilidade para participar mato, funcionamento, bem como os conteúdos
no PFP; sexo da criança; idade cronológica e do PFP cujos pressupostos se baseiam numa fi-
idade de desenvolvimento mental da criança; ní- losofia de fortalecimento das competências pa-

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QUADRO 1
Características demográficas dos participantes

Grupo Experimental Grupo Convencional


(N = 22) (N = 17)

Idade Cron ológica da Criança


Média 25,88 24,11
DP 11,39 13,46

Idade de Desenvolvimento
Média 17,07 14,74
DP 6,48 7,16

Sexo da Criança
Masculino 50% 59%
Feminino 50% 41%

Idade da Mãe
Média 32,36 34,17
DP 11,39 6,00

Nível de Instrução da Mãe


4 a 9 anos de escolaridade 14% 30%
9 a 12 anos de escolaridade 46% 29%
Bacharelato 18% 6%
Licenciatura 23% 35%

Estado Civil da Mãe


Solteira 14% 6%
Casada 86% 94%

Número de Filhos
Média 1,72 1,88
DP 0,76 0,85

rentais, como atrás referimos, visando a obten- mas lúdicas. Na componente Informação, os pais
ção de ganhos nos alvos directos da intervenção tiveram a possibilidade de obter informação de
(os pais, ou neste caso em particular nas mães) vária ordem (médica, recursos existentes na co-
que supostamente se repercutiriam nos seus fi- munidade, legislação, etc.), de acordo com as suas
lhos e em vários aspectos da vida familiar (alvos necessidades e interesses específicos. Na compo-
indirectos). Deste modo, o PFP foi estruturado nente Apoio Social Informal, foram criadas opor-
em três componentes: Formação, Informação e tunidades para o estabelecimento e alargamento
Apoio Social. A Formação/Educação e Treino de de contactos sociais com outros pais de crianças
Competências Parentais tiveram como objecti- com problemas idênticos. Com base nos objecti-
vos: a melhoria do nível de informação dos pais vos acima referidos optámos por um modelo de
sobre o processo e etapas de desenvolvimento da formação de curta duração, destinado a pais, com
criança dita “normal” e com Síndroma de Down; um número reduzido de participantes (8 a 12). O
melhoria do nível de informação e da capacidade programa teve a duração aproximada de 4 meses
dos pais na utilização de estratégias e técnicas fa- e foi estruturado em 12 sessões semanais, do tipo
cilitadoras de aprendizagens na criança; promo- “Oficina de Formação”, apresentadas de uma
ção das interacções pais-criança através de for- forma acessível e didáctica. Foi solicitada a com-

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parência de ambos os pais, preferencialmente, ou Como forma de obtenção de medidas de vali-
pelo menos, da mãe, caso não fosse possível es- dação social do estudo, construímos dois ques-
tarem ambos presentes. Dividimos os participan- tionários, nos quais as respostas são dadas numa
tes do Grupo Experimental (à partida, 25 partici- escala de Likert, com o objectivo de avaliar o
pantes) em três subgrupos (tendo como critério a Grau de Satisfação dos Pais relativamente ao pro-
idade mental da criança), com o objectivo de me- grama, a documentação recebida, bem como per-
lhorar a adequação dos conteúdos das sessões cepção da sua utilidade e importância. Pretende-
aos participantes (pais de crianças em diferentes mos ainda através dos referidos questionários,
níveis de desenvolvimento) e, simultaneamente, documentar a auto-percepção das mães dos ga-
favorecer os contactos informais entre os parti- nhos relativos a objectivos e conteúdos especí-
cipantes. Tendo em conta a adequação dos con- ficos desenvolvidos no programa (ex., maior ca-
teúdos do programa relativamente às necessida- pacidade de seleccionar objectivos e actividades
des das famílias, solicitámos aos pais que nos para promover o desenvolvimento do seu filho).
fornecessem informações relativas às suas prio-
ridades antes do início do programa, no que se
refere a duas das componentes acima referidas: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
Formação e Informação. RESULTADOS
Quanto à documentação, foram fornecidos ma-
teriais e textos de apoio específicos em cada ses- Com o objectivo de verificarmos se existiam
são. A documentação foi elaborada com base em diferenças significativas entre os grupos Experi-
vários dos currículos e listas de registo e mate- mental e Convencional antes do início da inter-
riais, disponíveis, no âmbito da Intervenção Pre- venção, utilizámos o Teste t de Student para as
coce, particularmente para o escalão dos 0-3/4 variáveis contínuas, ou o seu equivalente não-
anos. -paramétrico, U de Mann-Whitney, para os casos
em que as variáveis não apresentavam uma dis-
Instrumentos tribuição normal, ou eram de natureza ordinal.
Embora tivéssemos verificado algumas dife-
Todos os sujeitos que participaram no presen- renças nas médias das variáveis (Quadro 2), com-
te estudo (mães) preencheram vários instrumen- parando os valores obtidos por ambos os grupos
tos, dos quais salientamos: um questionário de no pré-teste, elas não se revelaram estatistica-
caracterização da criança e da família (dados de- mente significativas.
mográficos) uma escala relativa à avaliação da Para investigar as diferenças entre pré- e pós-
percepção materna de competência e, para os su- intervenção (PFP), em ambos os grupos, utiliza-
jeitos do grupo experimental, questionários sobre ram-se testes t de Pares para amostras empare-
o grau de satisfação parental. Para avaliar a Per- lhadas, para as medidas de natureza contínua
cepção Materna de Competência utilizámos o com distribuição normal e testes não paramétri-
Questionaire d’Auto-evaluation de la Competen- cos de Wilcoxon, para as medidas em escala or-
ce Educative Parentale de Terrisse e Trudelle dinal ou em escala contínua sem distribuição
(1988): trata-se duma tradução canadiana do ins- normal.
trumento do original – Parenting Sense of Com- Em relação ao Grupo Convencional, e no
petence Scale de Gibaud-Wallston (1977). É um que diz respeito às variáveis utilizadas para ava-
instrumento que pretende avaliar as percepções liar a Percepção materna de competência (Qua-
maternas de eficácia, de satisfação e de compe- dros 2 e 3), não se observam praticamente quais-
tência, relacionadas especificamente com a fun- quer alterações da primeira para a segunda ava-
ção parental. É constituído por afirmações, rela- liação.
tivamente às quais, a mãe expressa o seu acordo No que se refere ao Grupo Experimental ve-
ou desacordo através duma escala de 6 pontos. rificou-se uma subida significativa da primeira
Através desta escala é possível obter duas sub- para a segunda avaliação na Percepção materna
-escalas: Percepção Materna de Eficácia, e a Per- de competência (Quadro 3) em todas as medidas:
cepção Materna de Satisfação, e a cotação glo- Percepção materna de competência – score total
bal para a Percepção Materna de Competência. (t=3,661; p=0,001); Percepção materna de eficá-

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QUADRO 2
Percepção materna de competências: Médias (M) e Desvios Padrão (DP) para ambos os grupos
nos Pré- e Pós-teste

Grupo Experimental Grupo Convencional


(N = 22) (N = 17)

Variáveis M DP M DP

Percepção Materna de Competência


Pré 69,27 8,88 71,23 8,96
Pós 73,5 10,46 71,52 9,43

Percepção Materna de Eficácia


Pré 28,5 5,27 31,47 6,56
Pós 30,86 7,12 32 5,68

Percepção Materna de Satisfação


Pré 40,77 5,2 39,76 6,29
Pós 42,63 4,35 39,52 5,87

QUADRO 3
Resultados da comparação Pré- e Pós-teste em ambos os grupos. Testes t de student

Grupo Experimental Grupo Convencional

Variáveis Teste t (valor) p Teste t (valor) p

Percepção Materna de Competência 3,66 0,001** 0,31 0,75


Percepção Materna de Eficácia 2,19 0,039** 0,94 0,36
Percepção Materna de Satisfação 2,4 0,026** -0,28 0,78

** Diferenças significativas a p < 0,05

cia (t=2,196; p=0,039); Percepção materna de mentos de auto-eficácia, nos indivíduos que ne-
satisfação (t=2,4; p=0,026). las participaram. Ou seja, as pessoas – neste caso
A percepção materna de competência consti- as mães – passam a acreditar que têm capacidade
tuiu uma das dimensões na qual se registaram para controlar uma série de tarefas e exigências
ganhos significativos entre a avaliação e inicial e relacionadas com a função parental, desde que
final, observados no Grupo Experimental (o que lhes sejam proporcionadas oportunidades para
não aconteceu para o Grupo Convencional) su- aprender e desenvolver as suas competências. Se-
gerindo-nos que o mesmo pode ter funcionado gundo (Teti & Gelfand, 1991) as percepções ma-
de acordo com o modelo que pretendemos im- ternas de auto-eficácia medeiam as relações en-
plementar, ou seja, um modelo de intervenção/ tre a competência materna e outras variáveis psi-
/promoção, pois como refere Rappaport (1981, cossociais, podendo cumprir um papel determi-
cit. in Dunst, Trivette & Lapointe, 1994) é bem nante no desempenho da função parental. Para
possível que intervenções realizadas de acordo Bandura (1986, cit. in Teti & Gelfand, 1991) a
com os modelos de promoção evoquem senti- percepção de auto-eficácia constitui o elo media-

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dor entre o conhecimento e o comportamento, o verá todo o interesse em desenvolver modelos de
que no presente estudo pode constituir um indi- intervenção similares aos que propusemos, tendo
cador de que os conhecimentos adquiridos terão como pressuposto de base, a filosofia do fortale-
utilidade do ponto de vista prático. cimento das competências parentais, e portanto,
No que diz respeito ao formato do programa, uma orientação em função de modelos de pro-
outros trabalhos como Fewell (1986) e Mahoney moção e desenvolvimento de competências nos
et al. (1998), têm evidenciado que intervenções vários elementos que integram o sistema familiar.
de curto prazo com pais, parecem ter resultados Para concluir, o presente estudo sugere-nos que
bastante positivos, em termos do desenvolvimen- os Programas de Formação Parental oferecem
to da criança bem como da promoção de senti- um grande potencial, cuja inclusão, como uma
mentos de competência relativamente à função das possíveis componentes ou serviços prestados
parental, o que também é sugerido no nosso es- no âmbito da Intervenção Precoce, poderá trazer
tudo. Como referem alguns autores, a formação bastantes benefícios, não apenas em termos de
de pais sobre o desenvolvimento da criança, pa- modificações de curto prazo, observadas na cri-
rece ajudá-los a discriminar pequenas evoluções ança, mas, mais importante do que isso, nos efei-
promovendo níveis superiores de motivação na tos que a modificação de crenças, expectativas,
interacção e intervenção com a criança, um dos atitudes e práticas parentais poderão ter, a longo
aspectos que o nosso programa focou particular-
prazo, no tipo de interacções, experiências e si-
mente, embora não tenhamos avaliado essa di-
tuações de vida a que a criança em risco ou com
mensão directamente.
necessidades especiais, terá acesso.
Relativamente ao Grau de Satisfação com o
programa, 45,5% das mães revelaram-se satisfei-
tas e 50% muito satisfeitas. À questão “Reco-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mendariam o programa a outros pais?”, as refe-
ridas mães consideraram o programa como reco- Affleck, G., Tennen, H., Rowe, J., Roscher, B., &
mendável (18%) e bastante recomendável (81,8%). Walker, L. (1989). Effects of formal support on
Quanto à adequação relativamente às expectati- mothers’ adaptation to the hospital-to-home transi-
vas iniciais, 54,4% considerou-o como perfeita- tion of high-risk infants: The benefits and costs of
mente adequado às suas expectativas, enquanto helping. Child Development, 60, 488-501.
que 41% o considerou como adequado. Em re- Baker, B. (1989). Parent training and developmental
lação à questão “Melhorou os conhecimentos so- disabilities. Washington: AAMR Monographs.
Beckwith, L. (1992). Adaptative and Maladaptative Pa-
bre objectivos e estratégias?”, 55% das mães re-
renting – Implications for intervention. In S. Mei-
ferem que estão totalmente de acordo e 32% de sels, & J. Shonkoff (Eds.), Handbook of early child-
acordo. No que se refere à consciencialização da hood intervention (pp. 53-77). New York: Cambridge
importância das actividades de rotina para a in- University Press.
tervenção, 59% das mães estão de acordo e 32% Boutin, G., & Durning, P. (1994). Les interventions au-
de acordo. Tendências idênticas são observadas prés des parents. Bilan et analyse des pratiques so-
relativamente à utilidade (59%, muito útil) e im- cio-éducatives. Toulouse: Éditions Privat.
portância (77%, muito importante) da documen- Coutinho, T. (1996). Intervenção precoce: Dificuldades,
necessidades e expectativas das famílias. Integrar,
tação, sendo que a maioria dos pais as conside- 10, 5-16.
raram nos níveis mais elevados da escala de Li- Coutinho, T. (1999). Intervenção Precoce: Estudo dos
kert, utilizada para as respostas. efeitos de um programa de formação parental des-
Deste modo, parece-nos que o elevado nível tinado a pais de crianças com Síndroma de Down.
de satisfação evidenciado pelos participantes, con- Tese de Doutoramento. Lisboa, FMH.
firma a apetência destas famílias por modelos Coutinho, T. (2000). Percepções dos pais e dos profis-
que incluam a componente de Formação Paren- sionais sobre as necessidades e expectativas das
crianças com necessidades especiais. In A. Fontai-
tal, o que é, como vimos anteriormente, confir-
ne (Ed.), Parceria Família-Escola e Desenvolvi-
mado por outros estudos como o de Mahoney e mento da Criança (pp. 277-302). Porto: Edições ASA.
Filder (1996). Dale, N. (1996). Working with families of children
Os dados obtidos neste trabalho sugerem-nos with special needs – Partnership and practice. Lon-
pois, que no âmbito da Intervenção Precoce, ha- don and New York: Routledge.

62
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Kaiser, A., Hancock, T., & Hester, P. (1998). Parents as
co-interventionists: Research on applications of Enquadrado nos modelos mais actualizados, em ter-
naturalistic language teaching procedures. Infants mos de Intervenção Precoce, o envolvimento activo
and Young Children, 10 (4), 46-55. dos pais, no processo de intervenção com os seus fi-
Kaiser, A., Mahoney, G., Girolametto, L., MacDonald, lhos, surge como uma forma inequívoca de potenciar e
J., Robinson, C., Safford, P., & Spiker, D. (1999). maximizar o desenvolvimento da criança. Pese embora
Rejoider: Toward a contemporary vision of parent o facto de tais modelos apontarem para as necessida-
education. Topics in Early Childhood Special Edu- des de colaboração estreita e nivelamento das relações
cation, 19 (3), 173-176. entre pais e profissionais (através do estabelecimento

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de parcerias), tal só acontecerá, de facto, se os pais tervention, the active involvement of parents in the
melhorarem o seu nível de informação, sobre temáticas process of intervention with their children is seen as an
relacionadas com a saúde, desenvolvimento e apren- important way of maximising child development.
dizagem do seu filho. A criação deste tipo de oportu- Even though these models emphasise the need for clo-
nidades parece-nos extremamente útil e importante se collaboration and levelling of relationships between
para os pais, permitindo-lhes sentirem-se mais infor- parents and professionals (through the creation of
mados, e eventualmente, mais competentes, em maté- partnerships), this will only actually happen if and
rias que lhes interessam particularmente (não ficando when parents are given more information about issues
determinados tipos de informação na posse exclusiva
related to the health, development and learning process
dos técnicos).
of their child (so that certain types of information are
Os Programas de Formação de Pais surgem como
uma excelente oportunidade de melhorar os níveis de not exclusive to professionals). We consider that this is
informação e as competências educativas parentais, extremely useful and important for parents, allowing
surgindo em vários estudos, associados a resultados them to feel more informed and, eventually, more com-
bastantes positivos relativamente ao desempenho da petent in matters which are particularly relevant to
função parental. Procedemos ao enquadramento con- them.
ceptual e caracterização de um programa de formação Programmes of parent training are an excellent
destinado a pais de crianças com Trissomia 21 com opportunity to increase and improve parents’ level of
idades compreendidas entre os 6 meses e os 5 anos, knowledge and their parental educational competen-
desenvolvido e aplicado na região de Lisboa. ces, and they appear in several studies, usually asso-
Palavras-chave: Formação parental, intervenção ciated with very positive results in terms of perfor-
precoce, Síndroma de Down. mance of parental functions. Therefore, we present a
characterisation of a training programme aimed at pa-
rents of children with Down syndrome aged between 6
ABSTRACT months and 5 years, undertaken in the Lisbon region.
Key words: Parental training, early intervention,
Framed in the most up-to-date models of Early In- Down Syndrome.

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