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DO ORGANISMO VEGETAL
uma linguagem não muito própria, estes bono pode ligar-se a quatro átomos monovalen-
são denominados macroelementos. Além tes, como, por exemplo, a quatro átomos de hi-
disto, as plantas superiores precisam, se drogênio no metano (CH4). A tetravalência ex-
bem que em quantidades bem menores (tra- plica-se pelo fato de o carbono possuir apenas
ços), de outros elementos, os elementos- quatro eletrovalências. Portanto, ele pode rece-
ber ainda outros quatro elétrons, a fim de man-
traço ou microelementos. A este grupo
ter uma órbita de oito elétrons externos, a confi-
pertencem boro (B), manganês (Mn), zin- guração de gás nobre (octeto), que se distingue
co (Zn), cobre (Cu), cloro (Cl), molibdê- por uma estabilidade especial. Se o carbono li-
nio (Mo), além de, em casos isolados, só- gar-se a um outro elemento, no caso do metano
dio (Na), selênio (Se), cobalto (Co) e silí- com o hidrogênio, sua órbita externa será com-
cio (Si). Sua falta provoca graves danos pletada pelos elétrons do outro elemento. Con-
fisiológicos. siderando que cada átomo de hidrogênio possui
só uma eletrovalência, no total ligam-se, por-
As exigências das plantas inferiores, em al- tanto, quatro átomos de hidrogênio a um átomo
guns casos, divergem bastante daquelas das de carbono. O átomo de carbono tem, então, um
superiores. Assim, para muitas algas o cálcio par de elétrons compartilhados com cada átomo
é mais um micro do que um macroelemento, de hidrogênio e, como a órbita interna (órbita
K) pode receber no máximo dois elétrons, as
enquanto para alguns fungos ele parece até
órbitas dos quatro átomos de hidrogênio tam-
ser dispensável. As diatomáceas (algas sili- bém estão completas. Cada par de elétrons com-
cosas) precisam do silício não apenas para partilhados corresponde a uma ligação simples,
formar sua carapaça, mas também para o fun- isto é, a uma valência. Como o emprego dos tra-
cionamento do seu metabolismo. As algas ços da valência tem sido mais aceito do que a
pardas (sargaços) podem armazenar grandes grafia do par de elétrons, aqui ele também deve
quantidades de iodo, cujo significado, contu- ser mantido. As ligações deste tipo recebem o
do, ainda não está conhecido. nome de ligações covalentes, pois são muito
fortes e aproximadamente da mesma ordem de
grandeza das ligações iônicas entre íons opos-
1.2 Carbono tos com cargas simples, como Na+ e Cl-. Por isto,
covalentes e ligações iônicas são também cha-
madas de primárias ou valências principais.
De todos os elementos mencionados, o
carbono prepondera, tanto em quantidade
quanto em importância. Esta posição es- A situação é análoga quando os átomos de
pecial tem sua origem sobretudo na pro- carbono formam cadeias. Como cada átomo
priedade do átomo de carbono de formar de C, na formação das cadeias ramificadas,
cadeias ou anéis com ligações opostas. liga-se apenas a dois outros átomos da sua
Nenhum dos demais elementos conheci- espécie, em dois elétrons falta o complemen-
dos possui tal característica nesta dimen- to para pareamento. Isto significa que perma-
são. Ela permite a formação de moléculas necem duas valências livres, que novamente
maiores, condição indispensável para o podem ser ocupadas por outros elementos,
surgimento de um número potencialmen- como, por exemplo, hidrogênio.
te ilimitado de materiais durante a evolu- Na verdade, em cadeias ramificadas, ao
ção e, assim, para especificidade das subs- menos em uma destas duas valências fica um
tâncias formadoras do organismo. átomo de C. A classe de ligação assim origi-
nada tem o nome de hidrocarboneto. Os elos
Em todas as suas ligações, o carbono comporta- iniciais da série são: metano (CH4), etano
se como tetravalente, ou seja, um átomo de car- (C2H6), propano (C3H8), etc., ou seja, os elos
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 21
individuais seguem a fórmula geral: Cn H2n + 2. facilidade com que se formam tais anéis, de-
Eles são denominados hidrocarbonetos satura- vido à amplitude do ângulo da valência. Já
dos ou alcanos. Formas insaturadas com uma todos os sistemas menores de anéis estão sob
ou mais ligações duplas denominam-se alcenos uma tensão mais ou menos grande A Figura
e as com ligações triplas são os alcinos. 1.3A mostra um anel ciclopentano, que con-
siste de cinco átomos de C. Em correspon-
! As ligações duplas ou triplas têm maior
capacidade de reação do que a simples,
razão pela qual tendem para reações de
adição e polimerização. Ademais, os áto-
mos de carbono também podem formar
anéis de três, quatro, cinco, seis, ou mais
elos (anéis isocíclicos). Estes anéis são
denominados heterocíclicos quando con-
têm um ou mais átomos diferentes do car- Figura 1.3 A. Anel de átomos de carbono, com cinco
bono. elos. B. Representação da fórmula. C. Como B, em for-
ma simplificada. D. Anel ciclopentano, com duas liga-
As quatro valências do carbono não se locali- ções duplas. E. Como D, em forma simplificada.
zam em um plano. Elas estão espacialmente
de tal modo dispostas que das uniões das ex- dência ao ângulo da valência, o anel cicloe-
tremidades dos quatro traços das valências xano, formado por seis átomos de carbono,
resulta um tetraedro regular, em cujo ponto ocorre nas chamadas formas de “cadeira” (Fig.
central encontra-se o átomo de carbono (Fig. 1.4A) ou de “bote” (Fig. 1.4B). A última pos-
1.1). As cadeias de carbono, portanto, não são sui, via de regra, um conteúdo energético mais
lineares, mas, sim, em ziguezague, correspon- elevado do que a forma de poltrona e, por isto,
dendo ao ângulo da valência (Fig. 1.2). A fre- não é favorecida, razão pela qual tem impor-
qüência dos sistemas de anéis de cinco e seis tância para poucas reações apenas.
átomos de carbono também se explica pela
1.3 Origem das moléculas bém são pré-requisito para a evolução quími-
ca, ou seja, para a formação abiótica de subs-
Como já foi mencionado, os átomos po- tâncias orgânicas a partir de inorgânicas, que,
dem formar moléculas, tanto de um ele- por sua vez, é condição para a origem dos se-
mento quanto de elementos diferentes, ao res vivos, a biogênese.
mesmo tempo em que se ligam oposta-
mente, por ocupação das suas órbitas ele-
trônicas. Contudo, na maioria das vezes,
isto não acontece espontaneamente, mas
só quando eles são transportados para um
estado energeticamente mais rico, por ab-
sorção de energia. Tal fornecimento de
energia pode ser efetivado em forma de Figura 1.5 Estimulado pelo fornecimento de energia,
radiação, descarga elétrica, calor, etc. um elétron de um átomo é conduzido a um nível ener-
gético mais elevado.
gação simples entre dois átomos de carbono, na verdade, prefere-se a representação em anel
por meio de um oxigênio: segundo Haworth, na qual o anel está projeta-
do perpendicularmente ao plano do papel. É
uma representação em perspectiva, que mos-
tra os substituintes para cima ou para baixo
do plano do papel. Contudo, o C1, original-
mente portador do grupo oxo, distingue-se
Etanol Acetilaldeído
ainda mais, em sua capacidade de reação, dos
restantes átomos de C e é chamado de átomo
de C glicosídico. Pela formação do hemiace-
tal, o C1 torna-se também um assimetricamen-
te átomo de carbono2 substituído. Como con-
seqüência, o grupo hidroxila reproduzido
Aldeído Gliceraldeído Cetona Diidroxia-
cetona está à direita ou à esquerda, na apresentação
vertical, ou abaixo ou acima, na projeção de
Haworth, com relação ao grupo hidroxila do
! O grupo oxo também é o grupo funcional carbono C4. Portanto, ele está do mesmo lado
dos carboidratos, cujo corpo básico é for- ou do lado oposto, uma diferença aparentemen-
mado por açúcares. Estes podem ser for- te pequena, contudo de importância biológica.
malmente derivados dos poliálcoois cor- Estas duas formas distinguem-se uma da outra
respondentes, pela desidrogenação de um como α e β-glicose.
átomo de carbono, via de regra do átomo
Na verdade, a representação em anel segundo
C1 ou do C2.
Haworth também não corresponde integralmente
às verdadeiras situações. Ao contrário, os açú-
Se as moléculas de açúcar constituem de 3, 4, cares, via de regra, existem na forma de cadeira
5, 6, etc. átomos de carbono, elas são deno- (Fig. 1.4A), da qual, por sua vez, existem duas
minadas trioses, tetroses, pentoses, hexoses, variantes. A forma de cadeira, energeticamente
respectivamente. Nas aldoses, o grupo oxo mais adequada e, por isso, também preferida. Na
liga-se ao átomo C1 do açúcar (forma aldeí- verdade, geralmente é utilizada a representação
do), como na D-glicose, D-galactose, D-ma- simplificada, na qual não estão representados os
nose, D-ramnose, etc. Nas cetoses, por outro substituintes hidrogênio.
lado, ele se liga ao átomo C2, como na D-fru-
tose. Em certos aspectos, os açúcares compor- 2
Devido à disposição tetraédrica das valências no átomo
tam-se como aldeídos ou cetonas, existindo do carbono (Fig. 1.1), nos casos em que ele porta quatro
tais formas somente em concentrações muito substituintes diferentes (átomo de carbono substituído as-
baixas. Eles estão em equilíbrio com as for- simetricamente), na projeção do tetraedro no plano resul-
mas hemiacetal, que resultam de mudanças in- tam duas fórmulas possíveis. Estas comportam-se como
imagens espelhadas (isomeria de imagens espelhadas).
tramoleculares. Ao mesmo tempo, o grupo hi- As duas substâncias distinguem-se, via de regra, apenas
droxila do átomo C3 reage com o grupo oxo, pela giro óptica (formas com giro para a esquerda e direi-
originando-se um outro grupo hidroxila e um ta). Convencionou-se chamar de forma D aquela em que
na fórmula do açúcar, projetada no plano, o átomo de car-
anel de seis membros portador de oxigênio bono mais altamente oxidado está em cima e o grupo OH
(pirano). Se a formação do anel ocorrer entre está ligado à direita do átomo C vizinho ao grupo HO–
os átomos C2 e C3, como no caso da D-fruto- CH2. A imagem espelhada correspondente é a forma L.
Como o verdadeiro sentido do giro nem sempre concorda
se, resulta um anel cinco membros (furano) com esta designação da configuração, nos casos em que
contendo oxigênio. Por isto, deve ser feita a ela é importante, deve-se caracterizá-lo adicionalmente
distinção entre piranoses e furanoses. Hoje, com os sinais + (direita) ou - (esquerda).
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 25
Nas pentoses, existem também aldoses (por Quando, sob dissociação da água (con-
exemplo, D-ribose) e cetoses (por exemplo, densação), duas, três, algumas ou muitas mo-
D-ribulose). A D-desoxirribose distingue-se léculas simples de açúcar (monossacarídeos)
da D-ribose porque sua molécula é mais po- estão ligadas entre si, obtêm-se di, tri, oligo
bre em oxigênio no carbono 2. Outras pento- ou polissacarídeos. Mas como o equilíbrio si-
ses biologicamente importantes são a D-xilo- tua-se do lado dos monossacarídeos, a asso-
se, sua forma ceto, a D-xibulose e a L-arabi- ciação de açúcares na célula só pode realizar-
nose. se com consumo de energia e colaboração de
Representação no plano
α-D-glicose α-D-glicose
(Representação simplificada)
Representação em forma de cadeira
26 WILHELM NULTSCH
enzimas. O caráter redutor dos sacarídeos for- cose da maltose formam um ângulo entre si, ten-
mados é assim determinado, sendo as ligações do conseqüência nos respectivos polissacaríde-
formadas entre os átomos de carbono dos os, a celulose e o amido. A sacarose (açúcar da
monossacarídeos participantes. No caso de cana) é um dissacarídeo, constituído de uma
ligações (1 → 1), os átomos C glicosídicos molécula de glicose e uma de frutose. Um tris-
dos dois açúcares são “consumidos” para a sacarídeo é a rafinose, formada por moléculas
produção da ligação, razão pela qual o dissa- de galactose, glicose e frutose. Freqüentemen-
carídeo resultante não possui mais qualquer te, ocorrem na natureza derivados de açúcar, por-
qualidade redutora. Se, por outro lado, for es- tadores de outros grupos funcionais. Neste caso,
tabelecida uma ligação (1 → 4), na qual os devem ser mencionados os ácidos açucarados,
átomos de carbono 1 e 4, de dois anéis vizi- que possuem um grupo carboxila (ver a seguir).
nhos, estão ligados entre si, permanece o ca- Alguns deles desempenham um papel importan-
ráter redutor. Neste caso, o dissacarídeo for- te no metabolismo da planta, como o ácido glu-
mado apresenta de um lado um átomo C1 gli- cônico (página 277) que apresenta, na posição
cosídico e do outro um átomo C4, mostrando, C1, um grupo carboxila no lugar do grupo alde-
portanto, uma polaridade entre uma extremi- ído, assim como os ácidos glucurônico e galac-
dade redutora e uma não-redutora. Analoga- turônico (página 105), nos quais o grupo carbo-
mente, isto vale para oligo e polissacarídeos. xila ocupa a posição C6. Os açúcares aminados
possuem um grupo amino. Este, por sua vez,
pode estar ligado a outros grupos, como ao resí-
duo de acetila, no caso da N-acetilglicosamina.
Maltose
Sacarose
Celobiose
Ácido oléico
Pólo hidrófobo (lipófilo)
Pólo hidrófilo
Ácido graxo
Pólo hidrófobo
O
Pólo hidrofílico
Galactose Fitosfingosina
Cerebrosídeo
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 29
sim, o sistema em anel pirimidina serve à têm caráter básico e ácido. Portanto, depen-
timina (T), citosina (C) e uracil (U), enquan- dendo do valor do pH,4 eles atuam como cá-
to o sistema em anel purina serve à adenina tion ou ânion. Não existindo cargas exceden-
(A) e guanina (G). Nos ácidos nucléicos, so- tes, as moléculas ocorrem predominantemen-
bretudo no RNA de transferência (página 39), te como Zwittérions* (ponto isoelétrico). A
ocorrem diferentes derivados das bases aci- forma indissociada não surge em solução.
ma mencionadas. Elas são falsamente deno- Nos aminoácidos presentes nas proteí-
minadas bases “raras”. Contudo, de fato elas nas encontra-se o grupo amino no átomo C
não são raras, mas ocorrem, na verdade, em vizinho do grupo carboxila (posição α). Se-
pequena quantidade, porém com grande re- gundo a convenção, na fórmula projetada, o
grupo amino está à esquerda nos L-aminoáci-
dos e à direita nos D-aminoácidos. Nas pro-
teínas encontram-se apenas L-aminoácidos.
Os aminoácidos proteinogênicos mais impor-
tantes estão apresentados na página 30. Abai-
Pirimidina Timina
xo das fórmulas estão indicados os nomes,
com as respectivas abreviaturas e, para cada
uma, uma letra em código. As últimas torna-
ram-se necessárias para a apresentação razo-
avelmente clara de seqüência de muitas cen-
tenas de aminoácidos. Além de cerca de 20
aminoácidos amplamente distribuídos, há al-
Citosina 5-metilcitosina Uracil
guns outros, raros, na maioria isolados de pro-
teínas muito especializadas, como a hidroxi-
prolina de proteínas de paredes vegetais celu-
lares (página 106). Em outras substâncias na-
4
O pH (potencial hidrogeniônico) indica a concentra-
9H-purina Adenina Guanina ção dos íons de hidrogênio, mais corretamente dos íons
de hidrônio (página 50), e, com isso, o grau de acidez
de uma solução. Ele é definido como o logaritmo ne-
gularidade. A 5-metilcitosina está presente no gativo com base 10 da concentração iônica do hidro-
DNA nuclear de plantas superiores, represen- gênio ou do hidrônio: pH = – log c (H+) ou – log c
tando cerca de 5-7% da quantidade total de (H3O+). À temperatura ambiente de 22ºC, o produto
iônico da água é de c (H3O+). c (OH-) = K = 10-14. Se no
citosina. ponto neutro a concentração dos íons hidrônio é igual
à concentração dos íons hidroxi, portanto c (H3O+) =
Aminoácidos: Eles são uma outra importan- c(OH-) = 10-7, o pH é 7. Com pH menor do que 7, pre-
te classe de substâncias, distinguidos pela dominam íons hidrônio, ou seja, a solução tem reação
ácida. Ao contrário, o pH de soluções alcalinas é mai-
posse de um grupo amino. Como apresentam or do que 7.
simultaneamente também o grupo carboxila, *
N. de T. Também conhecidos como íons bipolares.
turais, como nos peptidoglicanos (página 152), especial recebem ainda os aminoácidos por-
encontram-se também D-aminoácidos. Alguns tadores de enxofre, metionina, cisteína e cis-
aminoácidos portam adicionalmente grupos tina, sendo os dois últimos responsáveis pela
carregados: ácido aspártico e ácido glutâmi- formação de ligações dissulfídicas.
co (ácidos) apresentam um outro grupo car-
boxila; lisina, arginina e histidina (básicos)
apresentam uma função básica adicional. Ca- 1.5 Macromoléculas
deias laterais puras de hidrocarbonetos têm
glicina, alanina, valina, leucina, isoleucina, Um número relativamente grande de li-
prolina e fenilalanina. Por isso, com exceção gações diferentes pode ser sintetizado a
da glicina, eles podem formar ligações hidró- partir de poucos elementos, por meio de
fobas. Os restantes aminoácidos não men- distintas combinações de átomos e gru-
cionados possuem grupos polares não ioni- pos funcionais. Apesar disto, não está ga-
zados, que podem participar da formação de rantida a alta especificidade das muitas
ligações de pontes de hidrogênio. Menção
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 31
colocar estas ligações, relativamente ricas em cadeias, nas quais os radicais R situam-se
energia, em contato com montmorilonita, uma como cadeias laterais dos aminoácidos, como
argila de ocorrência natural, resultam polipeptí- mostra o trecho de uma molécula de proteína.
deos, que podem conter até 40 aminoácidos. De acordo com o número de elos de
Estes experimentos mostram que a síntese abió- aminoácidos, eles denominam-se dipeptíde-
tica de biopolímeros de uma determinada se-
os (dois), tripeptídeos (três), oligopeptídeos
qüência também é possível sem enzimas e
transportadores de informações. Portanto, po-
(até cerca de 10) e polipeptídeos (muitos).
lipeptídeos e enzimas precoces podem ter sur- Estes chegam a proteínas, porém os limites
gido perfeitamente antes de ser estabelecido entre ambos não são nítidos. As massas mo-
um sistema armazenador e transportador de in- leculares das proteínas situam-se entre 10.000
formações. e alguns milhões de Dalton5.
Três tipos de moléculas estão amplamente Conforme foi mencionado, as proteínas são sin-
distribuídas: as proteínas, os ácidos nucléicos tetizadas a partir de cerca de 20 diferentes ami-
e os polissacarídeos. Além destes, há outros noácidos. Admitindo que cada um deles estivesse
tipos com funções específicas, que se encon- representado apenas uma vez em uma cadeia
polipeptídica de 20 elos, resultam 2,4 trilhões
tram apenas em certos grupos de plantas e,
de possibilidades de combinações. Mas como as
por isso, serão tratados mais adiante. moléculas protéicas consistem de mais de 100
ou mesmo mil moléculas de aminoácidos, re-
sulta um número praticamente ilimitado de pos-
1.5.2 Proteínas sibilidades de combinações. Assim, as proteí-
nas cumprem inteiramente as condições acima
! As macromoléculas das proteínas estão apresentadas, de mais alta especificidade a bai-
constituídas de moléculas de aminoácidos, xo consumo, a saber: um número ilimitado de
unidos entre si pelas ligações peptídicas, a ligações com cerca de apenas 20 componentes.
qual se estabelece pela reação do grupo Neste sentido, não é surpreendente que cada es-
amino de uma molécula de um aminoáci- pécie animal e vegetal possua suas proteínas es-
do com o grupo carboxila de um outro, por pecíficas.
condensação. Assim, o produto da reação
tem, por sua vez, uma terminação amino, Estrutura primária: Estrutura primária é a
com um grupo NH2, e uma terminação car- seqüência dos aminoácidos na molécula de
boxila, com um grupo COOH livre. Por- proteína. Sua verificação realiza-se hoje como
tanto, o produto mostra a mesma polarida- emprego de procedimentos automáticos.
de dos aminoácidos individuais. Como conseqüência, a estrutura primária de
um grande número de proteínas já está conhe-
O equilíbrio desta reação, no entanto, fica do cida.
lado dos aminoácidos, o que, na equação da
reação, está indicado pelo tracejado de uma
5
seta. Por isto, a ligação dos aminoácidos para A massa molecular (mais precisamente: número de
massa molecular) indica a massa de uma molécula (u).
formar peptídeos e proteínas só é possível com Ela é igual à soma dos números das massas atômicas
consumo de energia e colaboração de enzi- dos elementos contidos na molécula. A unidade de
mas (página 235). Com a ajuda de ligações massa atômica é definida como 1/12 da massa do isó-
peptídicas, os aminoácidos estão unidos em topo de carbono12 C. Ela tem 1,66 . 10-24g e é chamada
de Dalton. A massa molecular relativa (Mr) é a relação
da massa molecular com a unidade de massa atômica,
R que, como grandeza relativa, não tem dimensão. Anti-
– NH – CH – CO – gamente, ela era denominada peso molecular.
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 33
nes estão entre as proteínas de choque tér- CO de cada aminoácido e o grupo NH do ami-
noácido vizinho seguinte que estabilizam a
mico (página 398). Os mais importantes
molécula. Os resíduos dos aminoácidos estão
são a HSP 70 e HSP 60 (os últimos tam- voltados para fora. A altura total de uma vol-
bém são chamados de chaperoninas). ta é de 0,54 nm.
Ambas as formas encontram-se em pro-
cariontes e em eucariontes, localizando- Estrutura terciária: A disposição tridimen-
se os últimos tanto no citosol quanto em sional assimétrica das cadeias peptídicas na
compartimentos intracelulares. molécula da proteína, a estrutura terciária, é
determinada por ligações entre as cadeias la-
A α-hélice está apresentada na Figura 1.7, terais de aminoácidos. Disso podem partici-
como modelo espacial. Observa-se que 3,6 par tanto valências principais quanto secun-
aminoácidos recaem em uma volta, na qual dárias (Fig. 1.8). Dependendo do tipo de gru-
cada resíduo de aminoácido está deslocado po, se hidrófilo (carboxila, hidroxila, oxo,
100º em relação ao anterior e 0,15nm na dire- amino) ou apolar hidrófobo (metila, etila, iso-
ção do eixo longitudinal da hélice. Assim, for- propila, resíduo de fenila), os tipos de liga-
mam-se pontes de hidrogênio entre o grupo ções podem ser assim classificados:
sua causa nas forças de van der Waals entre Como as proteínas são formadas por aminoáci-
os grupos apolares e são fortemente influen- dos, elas têm algumas qualidades em comum
ciadas pelo meio circundante. Como não se com eles. Assim, também para as proteínas há
trata de ligações no verdadeiro sentido, fala- um ponto isoelétrico, no qual elas têm um nú-
se hoje, geralmente, em intercâmbios hidró- mero igual de cargas positivas e negativas. Nes-
te ponto, elas são relativamente instáveis e ten-
fobos.
dem a um estado amorfo. Em solução ácida, por
Como a possibilidade de formação de tais absorção de outro tanto de moléculas de água
ligações ou intercâmbios depende da situação (do mesmo modo como se estruturaram livres
dos aminoácidos participantes (por exemplo, na formação peptídica), elas são dissociadas (hi-
a formação de uma ponte dissulfídica depen- drólise).
de da aproximação de dois resíduos de cisteí-
na), a estrutura secundária também já está
determinada pela seqüência dos aminoácidos.
1.5.3 Ácidos nucléicos
Por fim, isto vale também para a estrutura
quaternária, que é a disposição espacial de
várias cadeias peptídicas. Ela é homogênea ! Em contraste com as proteínas, que estão
quando as cadeias peptídicas individuais, os compostas de apenas uma classe de molé-
monômeros, são iguais ou heterogênea, quan- culas, nem todos os constituintes molecu-
do elas são diferentes. lares dos ácidos nucléicos pertencem à
Cada proteína assume, assim, uma for- mesma classe de substâncias. Ao contrá-
ma característica, denominada conformação. rio, seus elementos estruturais, os nucleo-
A seguir, podem ser distinguidas proteínas tídeos, consistem de três componentes:
fibrilares e globulares. As primeiras são in- ácido fosfórico, açúcar (pentose) e bases
solúveis, de forma alongada e servem, geral- (purinas e pirimidinas).
mente, como substâncias de suporte, razão
pela qual elas também são denominadas es- Como fica evidente na Figura 1.10, eles es-
cleroproteínas. As esferoproteínas globula- tão ligados entre si na seqüência: ácido fos-
res são enoveladas e têm uma forma mais ou fórico -pentose-ácido fosfórico-pentose, for-
menos esférica. Elas são solúveis na água ou mando polinucleotídeos. A ligação efetua-se
em soluções salinas. No interior das proteí- nos átomos de carbono 3’ e 5’ da pentose.
nas forma-se uma zona hidrófoba, menos hi- Em conseqüência, os cordões de polinucleo-
dratada. A maioria dos grupos carregados en- tídeos mostram terminações nos átomos 3’ e
contra-se na superfície. Eles envolvem-se em 5’, sendo, portanto, de constituição polar. As
solução aquosa com uma capa de hidratação, bases situam-se lateralmente na molécula de
de modo que o modelo aparente ser algo açúcar.
maior. Como terceiro grupo podem ser deli-
mitados os complexos protéicos, que, além ! Em princípio, podem ser distinguidos
de uma parte protéica, contêm grupos prosté- dois tipos de ácidos nucléicos, que di-
ticos não-protéicos. Assim, há, por exemplo, vergem um do outro tanto com relação
muitos pigmentos vegetais, como cromopro- aos seus componentes de açúcar quanto
teínas. Isto significa que o grupo condicionan- na composição das bases. O ácido deso-
te do caráter coloração, o cromatóporo, como xirribonucléico contém como açúcar a
grupo prostético, está ligado a uma proteína. D-desoxirribose e as bases timina, cito-
Analogamente, isto vale para as ligações de sina, adenina e guanina (página 29). O
proteínas com lipídios (lipoproteínas), açúca- ácido ribonucléico, por outro lado, con-
res (glicoproteínas), entre outras. tém como açúcar a D-ribose e as bases
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 37
Desoxirribose
Ácido fosfórico
Timina
Citosina
Adenina
Guanina
CB
CD
As Aceptor
do peso total dos ribossomos. Em proca- sim, denomina-se glucano, quando formadas
riontes, foram encontrados quatro tipos de de glicose, como galactano, quando de ga-
RNAr e três em eucariontes, cujas massas lactose, etc., genericamente como glicano. Os
moleculares Mr situam-se entre 35.000 e homoglicanos consistem de apenas um tipo
acima de 2 milhões, o que corresponde a de açúcar e os heteroglicanos de vários.
coeficientes de sedimentação entre 5 S e
As ligações (1 → 4) ocorrem com freqüência,
28 S (página 76).
mas outros tipos, como as ligações (1 → 3),
Nos ribossomos, 60 a 70% das fitas de nu- não são raros. Em ambos os casos, as molé-
cleotídeos do RNAr apresentam-se sob a for- culas de polissacarídeos mostram a já menci-
ma de uma dupla-hélice. onada polaridade, entre uma terminação re-
dutora e uma não-redutora. Encontram-se tam-
bém ramificações, geralmente do tipo (1 →
1.5.4 Polissacarídeos 6). As possibilidades de uma variabilidade si-
tuam-se, por isto, no emprego de diferentes
! As macromoléculas dos polissacarídeos moléculas de açúcar como elementos consti-
são identificadas pelo sufixo “-ano”. As- tuintes, no tipo de ligações dos elos e no com-
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 41
Celulose
! Celulose: A celulose é um β-(1 → 4) – glu- verde Chlamydomonas (Fig. 5.6), cuja parede
cano, ou seja, suas moléculas estão forma- celular consiste de glicoproteínas.
das de moléculas de D-glicose, que exis-
tem na ligação β-(1 → 4). Considerando ! Amido: O amido também é formado de D-
formalmente, seu constituinte básico é o glicose. No entanto, como esta ocorre em
dissacarídeo celobiose. Quando o seu se- ligação glicosídica α-(1 → 4), a maltose é
gundo anel gira 180º em torno do eixo lon- o constituinte básico. Conseqüentemente,
gitudinal, surgem moléculas filiformes, a molécula de amido não é alongada, mas,
alongadas e não-ramificadas. sim, torcida simetricamente em hélice, com
cada volta contendo cerca de 6 moléculas
Estas podem compreender mais de mil molé- de glicose.
culas de glicose. Os valores mais altos até
Nos tecidos vegetais de reserva, encontram-
agora encontrados situam-se em torno de
se dois tipos de amido, em partes alternantes:
15.000, o que corresponde a uma massa mo-
a amilose, cujas moléculas têm a forma de uma
lecular Mr de cerca de 2,5 milhões. Por exigir
hélice não-ramificada (Fig. 1.12A) e consis-
na cadeia um espaço de cerca de 0,5 nm, a
tem de algumas centenas de unidades de gli-
molécula de glicose atinge um comprimento
cose, e a amilopectina, cujas moléculas são
de aproximadamente 7,5 µm.
formadas de vários milhares de unidades de
Além da celulose, outros polissacarídeos também glicose e bastante ramificadas (Fig. 1.12B).
são empregados como substâncias de parede, so- O intervalo das ramificações é, em média, de
bretudo em plantas inferiores. Em algas, entre cerca de 25 unidades de glicose.
Quitina
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