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ESTRUTURA MOLECULAR

1
DO ORGANISMO VEGETAL

Todas as formas de vida são constituídas por


dos não-metálicos. Estes ocorrem predo-
moléculas, as quais, por sua vez, consistem
minantemente em forma de compostos
de átomos. Estes, na verdade, deixam-se di-
orgânicos, mas, em parte, também, como
vidir em componentes ainda menores, como
íons. Além disto, encontram-se, ainda,
prótons, nêutrons e elétrons. Com uma inter-
vários outros elementos, igualmente como
venção no átomo, o caráter material da molé-
integrantes de compostos orgânicos ou em
cula modifica-se. Neste sentido, é natural que
forma de íons.
toda mudança na estrutura molecular ou atô-
mica das substâncias corpóreas deva agir so- A presença de um elemento em uma planta
bre os fenômenos vitais de um organismo, bem não representa, naturalmente, qualquer prova
como, por outro lado, todos os fenômenos fi- de que ele é efetivamente necessário à vida.
siológicos sejam atribuídos a fenômenos bio- Por um lado, existem elementos que são ca-
químicos e biofísicos. Por isso, se quisermos racterísticos apenas para certas espécies adap-
verdadeiramente compreender um organismo tadas a ambientes especiais, como, por exem-
e suas expressões de vida, devemos tentar plo, o sódio para as plantas salinas (halófi-
perseguir este objetivo até a dimensão mole- tas). Por outro, determinados elementos cons-
cular ou, mesmo, atômica. tituem, possivelmente, apenas peso morto,
sem desempenhar uma função específica no
metabolismo.
1.1 Composição elementar
do corpo vegetal ! A necessidade de um elemento para a plan-
ta só pode ser verificada em condições de
Análises químicas elementares de diferen- cultura rigorosamente controladas. Estas
tes plantas superiores têm mostrado que a têm mostrado que as plantas superiores
matéria seca, retida após a retirada da necessitam sempre, em maiores quantida-
água, consiste principalmente de carbono des, dos elementos C, O, H, N, S e P, e,
(C), oxigênio (O), hidrogênio (H), nitro- além disso, dos metais potássio (K), cál-
gênio (N), enxofre (S) e fósforo (P), to- cio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe). Em
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uma linguagem não muito própria, estes bono pode ligar-se a quatro átomos monovalen-
são denominados macroelementos. Além tes, como, por exemplo, a quatro átomos de hi-
disto, as plantas superiores precisam, se drogênio no metano (CH4). A tetravalência ex-
bem que em quantidades bem menores (tra- plica-se pelo fato de o carbono possuir apenas
ços), de outros elementos, os elementos- quatro eletrovalências. Portanto, ele pode rece-
ber ainda outros quatro elétrons, a fim de man-
traço ou microelementos. A este grupo
ter uma órbita de oito elétrons externos, a confi-
pertencem boro (B), manganês (Mn), zin- guração de gás nobre (octeto), que se distingue
co (Zn), cobre (Cu), cloro (Cl), molibdê- por uma estabilidade especial. Se o carbono li-
nio (Mo), além de, em casos isolados, só- gar-se a um outro elemento, no caso do metano
dio (Na), selênio (Se), cobalto (Co) e silí- com o hidrogênio, sua órbita externa será com-
cio (Si). Sua falta provoca graves danos pletada pelos elétrons do outro elemento. Con-
fisiológicos. siderando que cada átomo de hidrogênio possui
só uma eletrovalência, no total ligam-se, por-
As exigências das plantas inferiores, em al- tanto, quatro átomos de hidrogênio a um átomo
guns casos, divergem bastante daquelas das de carbono. O átomo de carbono tem, então, um
superiores. Assim, para muitas algas o cálcio par de elétrons compartilhados com cada átomo
é mais um micro do que um macroelemento, de hidrogênio e, como a órbita interna (órbita
K) pode receber no máximo dois elétrons, as
enquanto para alguns fungos ele parece até
órbitas dos quatro átomos de hidrogênio tam-
ser dispensável. As diatomáceas (algas sili- bém estão completas. Cada par de elétrons com-
cosas) precisam do silício não apenas para partilhados corresponde a uma ligação simples,
formar sua carapaça, mas também para o fun- isto é, a uma valência. Como o emprego dos tra-
cionamento do seu metabolismo. As algas ços da valência tem sido mais aceito do que a
pardas (sargaços) podem armazenar grandes grafia do par de elétrons, aqui ele também deve
quantidades de iodo, cujo significado, contu- ser mantido. As ligações deste tipo recebem o
do, ainda não está conhecido. nome de ligações covalentes, pois são muito
fortes e aproximadamente da mesma ordem de
grandeza das ligações iônicas entre íons opos-
1.2 Carbono tos com cargas simples, como Na+ e Cl-. Por isto,
covalentes e ligações iônicas são também cha-
madas de primárias ou valências principais.
De todos os elementos mencionados, o
carbono prepondera, tanto em quantidade
quanto em importância. Esta posição es- A situação é análoga quando os átomos de
pecial tem sua origem sobretudo na pro- carbono formam cadeias. Como cada átomo
priedade do átomo de carbono de formar de C, na formação das cadeias ramificadas,
cadeias ou anéis com ligações opostas. liga-se apenas a dois outros átomos da sua
Nenhum dos demais elementos conheci- espécie, em dois elétrons falta o complemen-
dos possui tal característica nesta dimen- to para pareamento. Isto significa que perma-
são. Ela permite a formação de moléculas necem duas valências livres, que novamente
maiores, condição indispensável para o podem ser ocupadas por outros elementos,
surgimento de um número potencialmen- como, por exemplo, hidrogênio.
te ilimitado de materiais durante a evolu- Na verdade, em cadeias ramificadas, ao
ção e, assim, para especificidade das subs- menos em uma destas duas valências fica um
tâncias formadoras do organismo. átomo de C. A classe de ligação assim origi-
nada tem o nome de hidrocarboneto. Os elos
Em todas as suas ligações, o carbono comporta- iniciais da série são: metano (CH4), etano
se como tetravalente, ou seja, um átomo de car- (C2H6), propano (C3H8), etc., ou seja, os elos
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individuais seguem a fórmula geral: Cn H2n + 2. facilidade com que se formam tais anéis, de-
Eles são denominados hidrocarbonetos satura- vido à amplitude do ângulo da valência. Já
dos ou alcanos. Formas insaturadas com uma todos os sistemas menores de anéis estão sob
ou mais ligações duplas denominam-se alcenos uma tensão mais ou menos grande A Figura
e as com ligações triplas são os alcinos. 1.3A mostra um anel ciclopentano, que con-
siste de cinco átomos de C. Em correspon-
! As ligações duplas ou triplas têm maior
capacidade de reação do que a simples,
razão pela qual tendem para reações de
adição e polimerização. Ademais, os áto-
mos de carbono também podem formar
anéis de três, quatro, cinco, seis, ou mais
elos (anéis isocíclicos). Estes anéis são
denominados heterocíclicos quando con-
têm um ou mais átomos diferentes do car- Figura 1.3 A. Anel de átomos de carbono, com cinco
bono. elos. B. Representação da fórmula. C. Como B, em for-
ma simplificada. D. Anel ciclopentano, com duas liga-
As quatro valências do carbono não se locali- ções duplas. E. Como D, em forma simplificada.
zam em um plano. Elas estão espacialmente
de tal modo dispostas que das uniões das ex- dência ao ângulo da valência, o anel cicloe-
tremidades dos quatro traços das valências xano, formado por seis átomos de carbono,
resulta um tetraedro regular, em cujo ponto ocorre nas chamadas formas de “cadeira” (Fig.
central encontra-se o átomo de carbono (Fig. 1.4A) ou de “bote” (Fig. 1.4B). A última pos-
1.1). As cadeias de carbono, portanto, não são sui, via de regra, um conteúdo energético mais
lineares, mas, sim, em ziguezague, correspon- elevado do que a forma de poltrona e, por isto,
dendo ao ângulo da valência (Fig. 1.2). A fre- não é favorecida, razão pela qual tem impor-
qüência dos sistemas de anéis de cinco e seis tância para poucas reações apenas.
átomos de carbono também se explica pela

Figura 1.1 Modelo tetraédri-


co do átomo de carbono.

Figura 1.2 A. Cadeias de átomos de carbono, dobra-


das segundo o ângulo da valência. B. Representação
da fórmula de uma cadeia saturada de hidrocarboneto. Figura 1.4 Anel de seis (6) átomos de carbono. A. For-
C. Como B, em forma simplificada. D. Cadeia não- ma de “cadeira”. B. Forma de “bote”. C. Anel cicloe-
saturada de hidrocarboneto, com ligações duplas con- xano. Átomos de C saturados com hidrogênio. D. Como
jugadas, ou seja, separadas por ligações simples. E. C, em forma simplificada. E. Anel benzólico, com três
Como D, em forma simplificada. anéis duplos. F. Como E, em forma simplificada.
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1.3 Origem das moléculas bém são pré-requisito para a evolução quími-
ca, ou seja, para a formação abiótica de subs-
Como já foi mencionado, os átomos po- tâncias orgânicas a partir de inorgânicas, que,
dem formar moléculas, tanto de um ele- por sua vez, é condição para a origem dos se-
mento quanto de elementos diferentes, ao res vivos, a biogênese.
mesmo tempo em que se ligam oposta-
mente, por ocupação das suas órbitas ele-
trônicas. Contudo, na maioria das vezes,
isto não acontece espontaneamente, mas
só quando eles são transportados para um
estado energeticamente mais rico, por ab-
sorção de energia. Tal fornecimento de
energia pode ser efetivado em forma de Figura 1.5 Estimulado pelo fornecimento de energia,
radiação, descarga elétrica, calor, etc. um elétron de um átomo é conduzido a um nível ener-
gético mais elevado.

Se um átomo é atingido por um quantum1 de


energia suficiente, o seu estado energético
pode alterar-se de diferentes maneiras, depen-
dendo do conteúdo de energia do quantum.
Um elétron do átomo atingido é alçado a uma
Fotoelétron
órbita mais alta, ou seja, a um nível energéti-
co mais alto (Fig. 1.5), fenômeno denomina- Figura 1.6 Efeito fotoelétrico. O fóton incidente trans-
do estímulo, podendo também ser lançado fere toda a sua energia para um elétron, que, como fo-
toelétron, abandona a esfera de energia do átomo (se-
totalmente para fora do átomo (Fig. 1.6). Ao gundo Fritz-Niggli).
receber toda a energia do quantum, como fo-
toelétron ele pode estimular outros átomos.
! A evolução química começou, provavel-
Estes átomos estimulados têm grande capaci-
mente, já logo após o resfriamento da su-
dade de reação e há a possibilidade de forma-
perfície terrestre. Por meio de reações en-
rem moléculas que reagem entre si. Se já fa-
tre os átomos dos elementos existentes nas-
zem parte de uma molécula, eles provocam
ceram inicialmente as menores moléculas
nela outras reações ou então também provo-
como amônia (NH3), metano (CH4), gás
cam sua decomposição. Tais estados de esti-
sulfídrico (H2S), ácido cianídrico (HCN),
mulação são a causa de muitos fenômenos
bem como traços de dióxido de carbono
bioquímicos e fisiológicos. Ademais, eles tam-
(CO2), ou melhor, monóxido de carbono
(CO). Como faltava o oxigênio elementar,
1
dominava, portanto, uma atmosfera primi-
Por quantum de luz (h.v) ou fóton entendemos a me-
tiva redutora. Outros elementos dissolve-
nor partícula absorvível da radiação eletromagnética,
ou seja, uma molécula absorve todo o quantum ou ne- ram-se como cátions ou ânions no mar pri-
nhum. Na fórmula, h é a constante de Planck e v a mitivo. Em tais condições, poderiam ter
freqüência da radiação. A energia de um quantum é de surgido moléculas “orgânicas” maiores.
E=1240,3: λ,onde E é a energia em eletrovolt (eV) e λ
o comprimento de onda em nm. A energia de um quan-
tum da radiação eletromagnética é, portanto, tanto A energia estimuladora necessária para tanto
maior quanto mais curto o comprimento de onda. A deve ter sido primeiramente de natureza tér-
energia de cada mol fotônico situa-se na faixa do visí-
vel, entre 168 e 293 kJ (40 e 70 kcal). A quantidade de mica. Com certeza, também contribuíram a
um mol fotônico também é denominada 1 Eistein (1 E). energia radiante do sol, sobretudo a UV, bem
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como descargas elétricas do tipo das de raios.


Numerosos experimentos têm mostrado que Álcool Metanol Etanol
assim é possível a origem de substâncias or-
gânicas. Desta maneira, substâncias orgâni-
cas, como ácidos carbônicos, aminoácidos,
açúcares, bases nucleotídicas, entre outros,
foram produzidas por influência da radiação
ultravioleta, ionizada ou radioativa, bem como
das descargas elétricas ou do intenso calor de
misturas de H2O, NH3, H2 e CH4. Muitas des- Glicerol Ribitol Manitol
tas substâncias participam da composição dos
seres vivos e, por isso, são denominadas bio- Como as pesquisas com isótopos têm mostra-
monômeros. do, o oxigênio da água decomposta na este-
rificação não provém do grupo hidroxila do
álcool, mas, sim, do grupo carboxila do áci-
1.4 Os mais importantes do. Portanto, não há qualquer mero parale-
componentes moleculares lo entre a esterificação e a formação de sal.
O fenômeno inverso, ou seja, a dissociação
A qualificação dos compostos citados de um éster em seus componentes, por ab-
como ácidos, aminoácidos, etc., permite sorção de água, é denominado saponifica-
reconhecer que eles estão caracterizados ção.
por certos atributos. Tais ligações depen-
dem de agrupamentos atômicos, que têm
capacidade para determinadas reações e,
por isso, são denominados grupos funci-
onais. Os mais importantes destes grupos Álcool Ácido Éster
e as ligações por eles caracterizadas serão
tratados resumidamente a seguir.
! Grupo oxo = O: Ele está contido nas liga-
ções com carbonila, sob forma do grupo
! Grupo hidroxila – OH: Ele é o grupo fun- carbonila > C = O. A estas pertencem duas
cional dos álcoois. Quando ele for solitá- classes de ligações: os aldeídos (por exem-
rio, fala-se em álcoois monovalentes. Se plo, gliceraldeído) e as cetonas (por exem-
mais estiverem presentes, fala-se em álco- plo, diidroxiacetona).
ois polivalentes.
No metabolismo, os aldeídos originam-se fre-
Álcoois monovalentes são, por exemplo, me- qüentemente por saída de hidrogênio (desi-
tanol e etanol, enquanto os polivalentes são drogenação) de álcoois primários, como, por
glicerol, ribitol e manitol. Os poliálcoois com exemplo, acetaldeído a partir do etanol. Ana-
cinco grupos são denominados pentanóis e os logamente, originam-se as cetonas, por desi-
com seis são os hexanóis. Uma característica drogenação de álcoois secundários. As ceto-
principal do grupo hidroxila alcoólico é a ca- nas derivam formalmente dos aldeídos, pela
pacidade de, com dissociação da água, for- substituição de um átomo de hidrogênio no
mar éster. Este processo dá-se com a partici- grupo carbonila (grupo ceto) por um outro
pação de ácidos orgânicos, que possuem igual- resto orgânico (R2, na fórmula). Fala-se em
mente um grupamento HO no grupo carboxila. grupo epóxi, quando é estabelecida uma li-
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gação simples entre dois átomos de carbono, na verdade, prefere-se a representação em anel
por meio de um oxigênio: segundo Haworth, na qual o anel está projeta-
do perpendicularmente ao plano do papel. É
uma representação em perspectiva, que mos-
tra os substituintes para cima ou para baixo
do plano do papel. Contudo, o C1, original-
mente portador do grupo oxo, distingue-se
Etanol Acetilaldeído
ainda mais, em sua capacidade de reação, dos
restantes átomos de C e é chamado de átomo
de C glicosídico. Pela formação do hemiace-
tal, o C1 torna-se também um assimetricamen-
te átomo de carbono2 substituído. Como con-
seqüência, o grupo hidroxila reproduzido
Aldeído Gliceraldeído Cetona Diidroxia-
cetona está à direita ou à esquerda, na apresentação
vertical, ou abaixo ou acima, na projeção de
Haworth, com relação ao grupo hidroxila do
! O grupo oxo também é o grupo funcional carbono C4. Portanto, ele está do mesmo lado
dos carboidratos, cujo corpo básico é for- ou do lado oposto, uma diferença aparentemen-
mado por açúcares. Estes podem ser for- te pequena, contudo de importância biológica.
malmente derivados dos poliálcoois cor- Estas duas formas distinguem-se uma da outra
respondentes, pela desidrogenação de um como α e β-glicose.
átomo de carbono, via de regra do átomo
Na verdade, a representação em anel segundo
C1 ou do C2.
Haworth também não corresponde integralmente
às verdadeiras situações. Ao contrário, os açú-
Se as moléculas de açúcar constituem de 3, 4, cares, via de regra, existem na forma de cadeira
5, 6, etc. átomos de carbono, elas são deno- (Fig. 1.4A), da qual, por sua vez, existem duas
minadas trioses, tetroses, pentoses, hexoses, variantes. A forma de cadeira, energeticamente
respectivamente. Nas aldoses, o grupo oxo mais adequada e, por isso, também preferida. Na
liga-se ao átomo C1 do açúcar (forma aldeí- verdade, geralmente é utilizada a representação
do), como na D-glicose, D-galactose, D-ma- simplificada, na qual não estão representados os
nose, D-ramnose, etc. Nas cetoses, por outro substituintes hidrogênio.
lado, ele se liga ao átomo C2, como na D-fru-
tose. Em certos aspectos, os açúcares compor- 2
Devido à disposição tetraédrica das valências no átomo
tam-se como aldeídos ou cetonas, existindo do carbono (Fig. 1.1), nos casos em que ele porta quatro
tais formas somente em concentrações muito substituintes diferentes (átomo de carbono substituído as-
baixas. Eles estão em equilíbrio com as for- simetricamente), na projeção do tetraedro no plano resul-
mas hemiacetal, que resultam de mudanças in- tam duas fórmulas possíveis. Estas comportam-se como
imagens espelhadas (isomeria de imagens espelhadas).
tramoleculares. Ao mesmo tempo, o grupo hi- As duas substâncias distinguem-se, via de regra, apenas
droxila do átomo C3 reage com o grupo oxo, pela giro óptica (formas com giro para a esquerda e direi-
originando-se um outro grupo hidroxila e um ta). Convencionou-se chamar de forma D aquela em que
na fórmula do açúcar, projetada no plano, o átomo de car-
anel de seis membros portador de oxigênio bono mais altamente oxidado está em cima e o grupo OH
(pirano). Se a formação do anel ocorrer entre está ligado à direita do átomo C vizinho ao grupo HO–
os átomos C2 e C3, como no caso da D-fruto- CH2. A imagem espelhada correspondente é a forma L.
Como o verdadeiro sentido do giro nem sempre concorda
se, resulta um anel cinco membros (furano) com esta designação da configuração, nos casos em que
contendo oxigênio. Por isto, deve ser feita a ela é importante, deve-se caracterizá-lo adicionalmente
distinção entre piranoses e furanoses. Hoje, com os sinais + (direita) ou - (esquerda).
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Nas pentoses, existem também aldoses (por Quando, sob dissociação da água (con-
exemplo, D-ribose) e cetoses (por exemplo, densação), duas, três, algumas ou muitas mo-
D-ribulose). A D-desoxirribose distingue-se léculas simples de açúcar (monossacarídeos)
da D-ribose porque sua molécula é mais po- estão ligadas entre si, obtêm-se di, tri, oligo
bre em oxigênio no carbono 2. Outras pento- ou polissacarídeos. Mas como o equilíbrio si-
ses biologicamente importantes são a D-xilo- tua-se do lado dos monossacarídeos, a asso-
se, sua forma ceto, a D-xibulose e a L-arabi- ciação de açúcares na célula só pode realizar-
nose. se com consumo de energia e colaboração de

D-ribulose D-ribose D-desoxirribose D-xilose L-arabinose

α-D-glicose D-glicose β-D-glicose D-frutose

(Forma hemiacetol) (Aldose) (Forma hemiacetol) (Cetose)

Representação no plano

α-D-glicose β-D-glicose β-D-frutose


(Forma piranose) (Forma furanose)

Representação segundo Haworth

α-D-glicose α-D-glicose
(Representação simplificada)
Representação em forma de cadeira
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enzimas. O caráter redutor dos sacarídeos for- cose da maltose formam um ângulo entre si, ten-
mados é assim determinado, sendo as ligações do conseqüência nos respectivos polissacaríde-
formadas entre os átomos de carbono dos os, a celulose e o amido. A sacarose (açúcar da
monossacarídeos participantes. No caso de cana) é um dissacarídeo, constituído de uma
ligações (1 → 1), os átomos C glicosídicos molécula de glicose e uma de frutose. Um tris-
dos dois açúcares são “consumidos” para a sacarídeo é a rafinose, formada por moléculas
produção da ligação, razão pela qual o dissa- de galactose, glicose e frutose. Freqüentemen-
carídeo resultante não possui mais qualquer te, ocorrem na natureza derivados de açúcar, por-
qualidade redutora. Se, por outro lado, for es- tadores de outros grupos funcionais. Neste caso,
tabelecida uma ligação (1 → 4), na qual os devem ser mencionados os ácidos açucarados,
átomos de carbono 1 e 4, de dois anéis vizi- que possuem um grupo carboxila (ver a seguir).
nhos, estão ligados entre si, permanece o ca- Alguns deles desempenham um papel importan-
ráter redutor. Neste caso, o dissacarídeo for- te no metabolismo da planta, como o ácido glu-
mado apresenta de um lado um átomo C1 gli- cônico (página 277) que apresenta, na posição
cosídico e do outro um átomo C4, mostrando, C1, um grupo carboxila no lugar do grupo alde-
portanto, uma polaridade entre uma extremi- ído, assim como os ácidos glucurônico e galac-
dade redutora e uma não-redutora. Analoga- turônico (página 105), nos quais o grupo carbo-
mente, isto vale para oligo e polissacarídeos. xila ocupa a posição C6. Os açúcares aminados
possuem um grupo amino. Este, por sua vez,
pode estar ligado a outros grupos, como ao resí-
duo de acetila, no caso da N-acetilglicosamina.

Maltose

Sacarose

Celobiose

Dissacarídeos são a maltose e a celobiose, cada N-acetilglicosamina


uma constituída de duas moléculas de glicose.
As moléculas de glicose unem-se pelas ligações O
(1 → 4), sendo no primeiro caso uma ligação α- ! Grupo carboxila – C : É o grupo funcio-
glicosídica e no último é β-glicosídica. Como OH
no átomo C1 não-ligado as formas α e β estão nal dos ácidos orgânicos. Em solução aquo-
em equilíbrio (uma com a outra) e, com isto, sa, ele ocorre bastante dissociado, ao mes-
não pode ser estabelecida qualquer configura- mo tempo em que, por cedência de um pró-
ção, o grupo hidroxila está ligado ao anel por ton, obtém uma carga negativa3.
uma linha ondulada. Se na celobiose a segunda
3
unidade de glicose gira 180º em torno do eixo Por razões didáticas, os ácidos são apresentados nes-
te livro, na verdade, freqüentemente na forma não-dis-
principal, a molécula resultante é consideravel- sociada. Por isto, eles também são denominados áci-
mente linear, ao passo que as moléculas de gli- dos graxos.
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Ácido fórmico Ácido acético Ácido butírico

Ácido succínico Ácido cítrico Ácido 2-oxoglutárico

Ácido láctico Ácido málico Ácido pirúvico

Ácidos Glicerol Triglicerídeo


graxos

Ácidos monocarboxílicos (ácidos fórmi- molécula ao lado de outros grupos funcionais,


co, acético e butírico), os ácidos dicarboxíli- como, por exemplo, junto com o grupo hidro-
cos (ácido succínico) e os ácidos tricarboxíli- xila nos oxiácidos (ácidos láctico e málico),
cos (ácido cítrico) apresentam um, dois e três com o grupo oxo nos oxoácidos (ácido pirú-
grupos carboxilas, respectivamente. Freqüen- vico e ácido 2-oxoglutárico) ou com o grupo
temente, o grupo carboxila está na mesma amino nos aminoácidos.

Ácido oléico
Pólo hidrófobo (lipófilo)
Pólo hidrófilo

Colina Ânion de Glicerol Ácido palmítico


ácido
fosfórico
Fosfatidilcolina
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Os ácidos carbônicos de cadeia longa, plo, um cerebrosídeo isolado do trigo. Pela


como o palmítico com 16, o ácido esteárico com variação dos diferentes componentes, origi-
18 e o ácido oléico (com uma ligação dupla, na-se um grande número de derivados, que
portanto insaturado) com 18 átomos de C são nas estruturas celulares geralmente ocorrem
integrantes das gorduras, nas quais eles ocor- como misturas.
rem como ésteres de glicerol (glicerídeos). O Os esteróis, esteróides com um grupo
oxigênio da água dissociado na esterização pro- hidroxila no átomo C3 do anel A, também
vém do grupo carboxila do ácido graxo. Como podem ser esterizados com ácidos graxos de
éster, as gorduras são novamente decompostas cadeia longa. A colesterina freqüentemente é
em glicerol e ácidos graxos, pela saponificação. integrante das membranas plasmáticas em
Os lipóides até um certo grau são semelhan- células animais. No entanto, em plantas su-
tes às gorduras, desempenhando um papel im- periores sua ocorrência é rara, sendo encon-
portante como componentes das biomembranas. trados os fitosteróis, como estigmasterina
Com as gorduras e as ceras, eles estão reunidos (fórmula) e sitosterina. Os esteróis pertencem
no grupo dos lipídios. Distinguem-se os fosfatí- aos triterpenos (página 259).
deos, os esfingolipídios e os glicolipídios.
Fosfatídeos: Eles são di-éster do ácido fosfó-
rico. No caso da fosfatidilcolina (lecitina), ele
está esterizado com glicerol, por um lado, e
com colina (aminoálcool), por outro. Ambos
os grupos hidroxila livres do glicerol estão este-
rizados com cadeias longas de ácidos graxos,
Estigmasterina
aos quais a posição terminal está, geralmente,
saturada (por exemplo, ácido palmítico) e a po-
sição intermediária insaturada (ácido oléico). ! Grupo amino = NH2: Este grupo tem ca-
Esta disposição tem como conseqüência a for- ráter básico, pois, por receber um próton
mação de pólos hidrófilo e hidrófobo (lipófilo). (H+), adquire uma carga positiva e, assim,
reduz a concentração protônica. Ele é o
Esfingolipídios: Nestes, no lugar do glicerol grupo característico das aminas, conser-
há um aminoálcool esfingosina ou fitosfingo- vando também o caráter básico, quando o
sina, com dois ou três grupos hidroxila, res- átomo de nitrogênio está em um anel hete-
pectivamente. rocíclico, como nos anéis de pirimidina e
Glicolipídios: Neste grupo, o pólo hidrofíli- purina.
co é ocupado por um açúcar, geralmente ga-
lactose. Isto também é possível nos esfingoli- Estes sistemas em anel servem de base a uma
pídios. Um glicoesfingolipídio é, por exem- série de importantes substâncias naturais. As-

Ácido graxo
Pólo hidrófobo

O
Pólo hidrofílico

Galactose Fitosfingosina

Cerebrosídeo
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sim, o sistema em anel pirimidina serve à têm caráter básico e ácido. Portanto, depen-
timina (T), citosina (C) e uracil (U), enquan- dendo do valor do pH,4 eles atuam como cá-
to o sistema em anel purina serve à adenina tion ou ânion. Não existindo cargas exceden-
(A) e guanina (G). Nos ácidos nucléicos, so- tes, as moléculas ocorrem predominantemen-
bretudo no RNA de transferência (página 39), te como Zwittérions* (ponto isoelétrico). A
ocorrem diferentes derivados das bases aci- forma indissociada não surge em solução.
ma mencionadas. Elas são falsamente deno- Nos aminoácidos presentes nas proteí-
minadas bases “raras”. Contudo, de fato elas nas encontra-se o grupo amino no átomo C
não são raras, mas ocorrem, na verdade, em vizinho do grupo carboxila (posição α). Se-
pequena quantidade, porém com grande re- gundo a convenção, na fórmula projetada, o
grupo amino está à esquerda nos L-aminoáci-
dos e à direita nos D-aminoácidos. Nas pro-
teínas encontram-se apenas L-aminoácidos.
Os aminoácidos proteinogênicos mais impor-
tantes estão apresentados na página 30. Abai-
Pirimidina Timina
xo das fórmulas estão indicados os nomes,
com as respectivas abreviaturas e, para cada
uma, uma letra em código. As últimas torna-
ram-se necessárias para a apresentação razo-
avelmente clara de seqüência de muitas cen-
tenas de aminoácidos. Além de cerca de 20
aminoácidos amplamente distribuídos, há al-
Citosina 5-metilcitosina Uracil
guns outros, raros, na maioria isolados de pro-
teínas muito especializadas, como a hidroxi-
prolina de proteínas de paredes vegetais celu-
lares (página 106). Em outras substâncias na-

4
O pH (potencial hidrogeniônico) indica a concentra-
9H-purina Adenina Guanina ção dos íons de hidrogênio, mais corretamente dos íons
de hidrônio (página 50), e, com isso, o grau de acidez
de uma solução. Ele é definido como o logaritmo ne-
gularidade. A 5-metilcitosina está presente no gativo com base 10 da concentração iônica do hidro-
DNA nuclear de plantas superiores, represen- gênio ou do hidrônio: pH = – log c (H+) ou – log c
tando cerca de 5-7% da quantidade total de (H3O+). À temperatura ambiente de 22ºC, o produto
iônico da água é de c (H3O+). c (OH-) = K = 10-14. Se no
citosina. ponto neutro a concentração dos íons hidrônio é igual
à concentração dos íons hidroxi, portanto c (H3O+) =
Aminoácidos: Eles são uma outra importan- c(OH-) = 10-7, o pH é 7. Com pH menor do que 7, pre-
te classe de substâncias, distinguidos pela dominam íons hidrônio, ou seja, a solução tem reação
ácida. Ao contrário, o pH de soluções alcalinas é mai-
posse de um grupo amino. Como apresentam or do que 7.
simultaneamente também o grupo carboxila, *
N. de T. Também conhecidos como íons bipolares.

Cátion Zwittérion Ânion Indissociado


Aminoácido
30 WILHELM NULTSCH

Glicina L-alanina L-valina L-leucina L-isoleucina L-serina L-treonina


(Gly)[G] (Ala)[A] (Val)[V] (Leu)[L] (Ile)[I] (Ser)[S] (Thr)[T]

L-cisteína L-cistina L-metionina L-triptofano L-histidina L-prolina


(Cys)[C] (Cys-Cys)[C-C] (Met)[M] (Trp)[W] (His)[H] (Pro)[P]

L-fenilalanina L-tirosina L-ácido L-asparagina L-ácido L-glutamina L-lisina L-arginina


(Phe)[F] (Tyr)[Y] aspártico (Asp-NH2) glutâmico (Glu-NH2) (Lys)[K] (Arg)[R]
(Asp)[D] ou Asn)[N] (Glu)[E] ou Gln[Q]

turais, como nos peptidoglicanos (página 152), especial recebem ainda os aminoácidos por-
encontram-se também D-aminoácidos. Alguns tadores de enxofre, metionina, cisteína e cis-
aminoácidos portam adicionalmente grupos tina, sendo os dois últimos responsáveis pela
carregados: ácido aspártico e ácido glutâmi- formação de ligações dissulfídicas.
co (ácidos) apresentam um outro grupo car-
boxila; lisina, arginina e histidina (básicos)
apresentam uma função básica adicional. Ca- 1.5 Macromoléculas
deias laterais puras de hidrocarbonetos têm
glicina, alanina, valina, leucina, isoleucina, Um número relativamente grande de li-
prolina e fenilalanina. Por isso, com exceção gações diferentes pode ser sintetizado a
da glicina, eles podem formar ligações hidró- partir de poucos elementos, por meio de
fobas. Os restantes aminoácidos não men- distintas combinações de átomos e gru-
cionados possuem grupos polares não ioni- pos funcionais. Apesar disto, não está ga-
zados, que podem participar da formação de rantida a alta especificidade das muitas
ligações de pontes de hidrogênio. Menção
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 31

substâncias, em parte concernentes a ape- culas oferece a possibilidade de transporte e


nas espécies de organismos bem-defini- armazenamento de grandes quantidades de
dos. Cerca de 400.000 espécies de orga- substâncias em uma forma osmoticamente
nismos vegetais é conhecida. Cada uma quase ineficaz.
delas possui um grande número de subs-
tâncias específicas, ao lado de muitos pro-
dutos dos metabolismos primário e secun- 1.5.1 Evolução das macromoléculas
dário amplamente distribuídos. Como
cada característica externa de um organis- O segundo passo na evolução química foi,
mo também deve ter uma base material assim, a evolução das macromoléculas, ou
específica, fica clara a necessidade do alto seja, a formação de biopolímeros a partir dos
grau de especificidade, ou seja, da possi- biomonômeros citados. Segundo estimativas
bilidade de combinações moleculares. até o momento aceitas, ela deve ter ocorrido
Somente as macromoléculas podem sa- há cerca de 4 . 109 anos.
tisfazer tais exigências.
! A formação de polímeros efetua-se, geral-
As macromoléculas estão formadas por um mente, por policondensação, isto é, pela
grupo numericamente restrito de diferentes reunião dos monômeros com dissociação
componentes moleculares, na maioria relati- de água. Havendo ligações duplas com ca-
vamente simples, sendo possível um número pacidade de reação, podem surgir macro-
praticamente ilimitado dessas combinações, moléculas também por polimerização, ou
tanto por alteração do número de tais compo- seja, por reunião dos monômeros com que-
nentes na molécula (massa molecular) quan- bra das ligações duplas sem a simultânea
to pela mudança de sua seqüência. Assim, o dissociação da água.
aparato de síntese dos organismos, com um
gasto relativamente pequeno de material, pode A possibilidade das sínteses abióticas de biopo-
alcançar um alto grau de especificidade, uma límeros tem sido demonstrada em vários labo-
ratórios. Assim, a partir de metano e amônia,
condição indispensável por razões econômi-
podem ser produzidas substâncias armazenado-
co-metabólicas. ras de energia da radiação ionizante e ultravio-
Ao lado destas funções como portado- leta. Elas contêm ligações duplas ou triplas en-
res de informações ou elementos estruturais tre carbono e nitrogênio. Sob condições adequa-
dos seres vivos, as macromoléculas também das, elas podem originar moléculas de aminoá-
são necessárias como substâncias de suporte. cidos por desidratação para reações de conden-
Isto é possível porque elas apresentam elemen- sação, que levam a oligopeptídeos. Empregan-
tos alongados, fibrilares e entrelaçam-se em do-se misturas de aminoácidos em tais experi-
retículo. Esta circunstância é muito importante mentos, verifica-se que existem afinidades es-
especialmente para as fortes exigências me- pecialmente fortes entre determinados aminoá-
cânicas do corpo vegetativo das plantas supe- cidos. Estas estão de acordo com os valores ob-
riores. Finalmente, pela reunião de inúmeros tidos para proteínas hoje conhecidas, quando é
determinada a freqüência do surgimento de dois
monômeros, formando um polímero, o núme-
aminoácidos vizinhos. Por isso, é possivel ad-
ro de moléculas também torna-se reduzido. mitir que os polipeptídeos de então, de origem
Como o potencial osmótico de uma solução abiogênica, eram muito semelhantes aos atuais.
(página 57) não depende do peso das subs- Um outro caminho para os polipeptídeos passa
tâncias dissolvidas, mas do número de partí- pelos adenilatos de aminoácidos, que são ligações
culas dissolvidas, a formação de macromolé- de aminoácidos com adenosinanucleotídeos. Ao
32 WILHELM NULTSCH

colocar estas ligações, relativamente ricas em cadeias, nas quais os radicais R situam-se
energia, em contato com montmorilonita, uma como cadeias laterais dos aminoácidos, como
argila de ocorrência natural, resultam polipeptí- mostra o trecho de uma molécula de proteína.
deos, que podem conter até 40 aminoácidos. De acordo com o número de elos de
Estes experimentos mostram que a síntese abió- aminoácidos, eles denominam-se dipeptíde-
tica de biopolímeros de uma determinada se-
os (dois), tripeptídeos (três), oligopeptídeos
qüência também é possível sem enzimas e
transportadores de informações. Portanto, po-
(até cerca de 10) e polipeptídeos (muitos).
lipeptídeos e enzimas precoces podem ter sur- Estes chegam a proteínas, porém os limites
gido perfeitamente antes de ser estabelecido entre ambos não são nítidos. As massas mo-
um sistema armazenador e transportador de in- leculares das proteínas situam-se entre 10.000
formações. e alguns milhões de Dalton5.

Três tipos de moléculas estão amplamente Conforme foi mencionado, as proteínas são sin-
distribuídas: as proteínas, os ácidos nucléicos tetizadas a partir de cerca de 20 diferentes ami-
e os polissacarídeos. Além destes, há outros noácidos. Admitindo que cada um deles estivesse
tipos com funções específicas, que se encon- representado apenas uma vez em uma cadeia
polipeptídica de 20 elos, resultam 2,4 trilhões
tram apenas em certos grupos de plantas e,
de possibilidades de combinações. Mas como as
por isso, serão tratados mais adiante. moléculas protéicas consistem de mais de 100
ou mesmo mil moléculas de aminoácidos, re-
sulta um número praticamente ilimitado de pos-
1.5.2 Proteínas sibilidades de combinações. Assim, as proteí-
nas cumprem inteiramente as condições acima
! As macromoléculas das proteínas estão apresentadas, de mais alta especificidade a bai-
constituídas de moléculas de aminoácidos, xo consumo, a saber: um número ilimitado de
unidos entre si pelas ligações peptídicas, a ligações com cerca de apenas 20 componentes.
qual se estabelece pela reação do grupo Neste sentido, não é surpreendente que cada es-
amino de uma molécula de um aminoáci- pécie animal e vegetal possua suas proteínas es-
do com o grupo carboxila de um outro, por pecíficas.
condensação. Assim, o produto da reação
tem, por sua vez, uma terminação amino, Estrutura primária: Estrutura primária é a
com um grupo NH2, e uma terminação car- seqüência dos aminoácidos na molécula de
boxila, com um grupo COOH livre. Por- proteína. Sua verificação realiza-se hoje como
tanto, o produto mostra a mesma polarida- emprego de procedimentos automáticos.
de dos aminoácidos individuais. Como conseqüência, a estrutura primária de
um grande número de proteínas já está conhe-
O equilíbrio desta reação, no entanto, fica do cida.
lado dos aminoácidos, o que, na equação da
reação, está indicado pelo tracejado de uma
5
seta. Por isto, a ligação dos aminoácidos para A massa molecular (mais precisamente: número de
massa molecular) indica a massa de uma molécula (u).
formar peptídeos e proteínas só é possível com Ela é igual à soma dos números das massas atômicas
consumo de energia e colaboração de enzi- dos elementos contidos na molécula. A unidade de
mas (página 235). Com a ajuda de ligações massa atômica é definida como 1/12 da massa do isó-
peptídicas, os aminoácidos estão unidos em topo de carbono12 C. Ela tem 1,66 . 10-24g e é chamada
de Dalton. A massa molecular relativa (Mr) é a relação
da massa molecular com a unidade de massa atômica,
R que, como grandeza relativa, não tem dimensão. Anti-
– NH – CH – CO – gamente, ela era denominada peso molecular.
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 33

Aminoácido Aminoácido Dipeptídeo

Tirosina Alanina Leucina Glicina Ácido Cisteína


aspártico
Segmento de uma molécula de proteína

Estrutura secundária: Em estado natural, as


colaboração de “proteínas auxiliares”,
proteínas, na verdade, não ocorrem como ca-
denominada “chaperones” ou proteínas
deias peptídicas lineares. Em determinadas
PCB (Polypeptide Chain Binding)*. Eles
zonas, pelo estabelecimento de pontes de hi-
ligam temporariamente cadeias peptídicas
drogênio entre grupos vizinhos CO e NH,
não-covalentes a cadeias formadas e ain-
pertencentes às ligações peptídicas, suas mo-
da não-dobradas, impedindo, assim, inter-
léculas assumem a forma de uma folha pre-
câmbios indesejados com outras proteínas.
gueada ou de uma hélice, como, por exem-
Eles podem também participar da reunião
plo, de uma α-hélice. Esta é a chamada estru-
dos monômeros para o estabelecimento de
tura secundária da proteína. A seqüência dos
uma estrutura quaternária, como na sínte-
aminoácidos condiciona o tipo de estrutura
se da Rubisco (página 88). Finalmente,
secundária a ser formada em uma determinada
também desempenham um papel no trans-
zona da molécula. Portanto, com isso, a estrutu-
porte de proteínas lineares através das
ra secundária já é também fixada pela estrutura
membranas, como, por exemplo, a passa-
primária. Na maioria das proteínas apenas cerca
gem de proteínas para cloroplastos, mito-
de metade dos aminoácidos de uma molécula
côndrias e RE. Os chaperones são especí-
pertence a zonas com estrutura secundária.
ficos, ou seja, eles precisam reconhecer
“suas” cadeias polipeptídicas e a elas se
Quadro 1.1 Chaperones
ligam enquanto for necessário (para a sín-
Embora a conformação, isto é, as estrutu- tese ou o transporte). Após, eles se desli-
ras secundária e terciária das proteínas, já gam das cadeias, para que a proteína ob-
esteja fixada pela estrutura primária, o tenha sua conformação correta. Para tan-
“dobramento” das cadeias peptídicas e, to, é preciso energia em forma de ATP,
com isso, o desenvolvimento da forma tendo os chaperones, portanto, o caráter
espacial não ocorrem espontaneamente na de ATPases (página 59). Muitos chapero-
maioria das proteínas. Há necessidade da
* N. de T. Proteínas que ligam cadeias polipeptídicas.
34 WILHELM NULTSCH

nes estão entre as proteínas de choque tér- CO de cada aminoácido e o grupo NH do ami-
noácido vizinho seguinte que estabilizam a
mico (página 398). Os mais importantes
molécula. Os resíduos dos aminoácidos estão
são a HSP 70 e HSP 60 (os últimos tam- voltados para fora. A altura total de uma vol-
bém são chamados de chaperoninas). ta é de 0,54 nm.
Ambas as formas encontram-se em pro-
cariontes e em eucariontes, localizando- Estrutura terciária: A disposição tridimen-
se os últimos tanto no citosol quanto em sional assimétrica das cadeias peptídicas na
compartimentos intracelulares. molécula da proteína, a estrutura terciária, é
determinada por ligações entre as cadeias la-
A α-hélice está apresentada na Figura 1.7, terais de aminoácidos. Disso podem partici-
como modelo espacial. Observa-se que 3,6 par tanto valências principais quanto secun-
aminoácidos recaem em uma volta, na qual dárias (Fig. 1.8). Dependendo do tipo de gru-
cada resíduo de aminoácido está deslocado po, se hidrófilo (carboxila, hidroxila, oxo,
100º em relação ao anterior e 0,15nm na dire- amino) ou apolar hidrófobo (metila, etila, iso-
ção do eixo longitudinal da hélice. Assim, for- propila, resíduo de fenila), os tipos de liga-
mam-se pontes de hidrogênio entre o grupo ções podem ser assim classificados:

Ligações covalentes: A valência principal


mais importante para a estrutura terciária das
proteínas é a ponte dissulfídica – S – S, que
se estabelece por desidratação, isto é, separa-
ção de hidrogênio entre duas moléculas de
cisteína vizinhas (Fig. 1.9). Como valência
principal, ela é muito forte e, sob condições
fisiológicas, só pode ser dissolvida com a co-
laboração de enzimas.
Figura 1.7 Modelo espacial da
α-hélice de uma proteína. Ligações iônicas: Uma típica ligação iônica é a
Pode-se montar facilmente este formação de ponte entre dois grupos carboxila
modelo, escrevendo sobre uma negativamente carregados, através de cátions
tira de papel as cadeias – NH –
CH–CO– dos aminoácidos,
bivalentes, como íons cálcio ou magnésio.
com distâncias regulares entre Embora tais reações sejam relativamente está-
elas, como mostra o modelo. A veis, sob condições fisiológicas, elas podem ser
tira é enrolada em hélice, de facilmente dissolvidas, devido à sua dependên-
modo que o grupo CO de um
aminoácido situe-se em frente cia ao pH. Uma outra ligação, sem dúvida im-
ao grupo NH do aminoácido portante para a estrutura protéica, é formada entre
seguinte. Entre eles são forma- os grupos NH3+ e COO-. Embora tenha igual-
das pontes de hidrogênio (ver-
melho). As cadeias laterais R mente caráter iônico, ela é mais fraca e corres-
dos aminoácidos dirigem-se ponde a uma valência secundária.
para fora, o que pode ser iden-
tificável com emprego de ma-
terial mais ou menos estável,
Ligações por pontes de hidrogênio e dipo-
por introdução de agulhas. los: Ligações por pontes de hidrogênio, tam-
bém denominadas ligações de hidrogênio, são
intercâmbios eletrostáticos que se estabelecem
entre dois átomos eletronegativos de igual
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 35

Figura 1.8 Possibili-


dades de formação das
Ligação Ligações iônicas Ligações por Ligação valências principal e se-
dissulfeto pontes de hidrófoba cundária, em moléculas
hidrogênio protéicas.

Figura 1.9 Dia-


grama esquemático
de uma molécula
de ribonuclease.
Para demonstração
da seqüência dos
aminoácidos e das
pontes dissulfídi-
cas, ele está proje-
tado em um plano.
Na verdade, ele é
espacialmente eno-
velado, onde deter-
minados segmen-
tos mostram uma
estrutura secundá-
ria. Na terminação
amino está uma li-
sina e na termina-
ção carboxila, uma
valina.

força (por exemplo, N e O), através de um gações também resultam de intercâmbios de


átomo H. O átomo de H de certo modo oscila, dipolos com dipolos, com dipolos induzidos,
embora esteja ligado a um dos dois covalen- bem como com cargas iônicas. Assim, capas
tes. As ligações por pontes de hidrogênio es- de hidratação formadas nos campos elétricos
tão entre as valências secundárias. Sua força de grupos carregados podem, por exemplo,
corresponde apenas a cerca de 1/10 da de uma também contribuir para uma ligação.
valência principal (em certos casos até me-
nos). No entanto, como surgem acumuladas Ligações hidrófobas: Elas surgem quando
nas moléculas protéicas, na hélice α, por grupos apolares das cadeiras laterais dos ami-
exemplo, elas prestam uma considerável con- noácidos entram em contato e, assim, de cer-
tribuição à estrutura molecular. Forças de li- to modo prescindem da fase aquosa. Elas têm
36 WILHELM NULTSCH

sua causa nas forças de van der Waals entre Como as proteínas são formadas por aminoáci-
os grupos apolares e são fortemente influen- dos, elas têm algumas qualidades em comum
ciadas pelo meio circundante. Como não se com eles. Assim, também para as proteínas há
trata de ligações no verdadeiro sentido, fala- um ponto isoelétrico, no qual elas têm um nú-
se hoje, geralmente, em intercâmbios hidró- mero igual de cargas positivas e negativas. Nes-
te ponto, elas são relativamente instáveis e ten-
fobos.
dem a um estado amorfo. Em solução ácida, por
Como a possibilidade de formação de tais absorção de outro tanto de moléculas de água
ligações ou intercâmbios depende da situação (do mesmo modo como se estruturaram livres
dos aminoácidos participantes (por exemplo, na formação peptídica), elas são dissociadas (hi-
a formação de uma ponte dissulfídica depen- drólise).
de da aproximação de dois resíduos de cisteí-
na), a estrutura secundária também já está
determinada pela seqüência dos aminoácidos.
1.5.3 Ácidos nucléicos
Por fim, isto vale também para a estrutura
quaternária, que é a disposição espacial de
várias cadeias peptídicas. Ela é homogênea ! Em contraste com as proteínas, que estão
quando as cadeias peptídicas individuais, os compostas de apenas uma classe de molé-
monômeros, são iguais ou heterogênea, quan- culas, nem todos os constituintes molecu-
do elas são diferentes. lares dos ácidos nucléicos pertencem à
Cada proteína assume, assim, uma for- mesma classe de substâncias. Ao contrá-
ma característica, denominada conformação. rio, seus elementos estruturais, os nucleo-
A seguir, podem ser distinguidas proteínas tídeos, consistem de três componentes:
fibrilares e globulares. As primeiras são in- ácido fosfórico, açúcar (pentose) e bases
solúveis, de forma alongada e servem, geral- (purinas e pirimidinas).
mente, como substâncias de suporte, razão
pela qual elas também são denominadas es- Como fica evidente na Figura 1.10, eles es-
cleroproteínas. As esferoproteínas globula- tão ligados entre si na seqüência: ácido fos-
res são enoveladas e têm uma forma mais ou fórico -pentose-ácido fosfórico-pentose, for-
menos esférica. Elas são solúveis na água ou mando polinucleotídeos. A ligação efetua-se
em soluções salinas. No interior das proteí- nos átomos de carbono 3’ e 5’ da pentose.
nas forma-se uma zona hidrófoba, menos hi- Em conseqüência, os cordões de polinucleo-
dratada. A maioria dos grupos carregados en- tídeos mostram terminações nos átomos 3’ e
contra-se na superfície. Eles envolvem-se em 5’, sendo, portanto, de constituição polar. As
solução aquosa com uma capa de hidratação, bases situam-se lateralmente na molécula de
de modo que o modelo aparente ser algo açúcar.
maior. Como terceiro grupo podem ser deli-
mitados os complexos protéicos, que, além ! Em princípio, podem ser distinguidos
de uma parte protéica, contêm grupos prosté- dois tipos de ácidos nucléicos, que di-
ticos não-protéicos. Assim, há, por exemplo, vergem um do outro tanto com relação
muitos pigmentos vegetais, como cromopro- aos seus componentes de açúcar quanto
teínas. Isto significa que o grupo condicionan- na composição das bases. O ácido deso-
te do caráter coloração, o cromatóporo, como xirribonucléico contém como açúcar a
grupo prostético, está ligado a uma proteína. D-desoxirribose e as bases timina, cito-
Analogamente, isto vale para as ligações de sina, adenina e guanina (página 29). O
proteínas com lipídios (lipoproteínas), açúca- ácido ribonucléico, por outro lado, con-
res (glicoproteínas), entre outras. tém como açúcar a D-ribose e as bases
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 37

uracil, citosina, guanina e adenina. Nele, ramificadas de polinucleotídeos que, em for-


portanto, a timina está substituída pela ma de dupla-hélice torcida para a direita, do-
uracil. Isso possibilita à célula distinguir bram-se em torno de um eixo comum. Já as
o original da cópia. Para estes dois áci- bases estão dispostas mais ou menos perpen-
dos, são usadas as siglas anglo-america- dicularmente ao eixo longitudinal da hélice
nas DNA e RNA, respectivamente. (B-conformação).
Como mostra a Figura 1.10C, em uma das
As ligações entre bases e açúcares são denomi- fitas a terminação 5’ está dirigida para cima e
nadas nucleosídeos. De acordo com a base pre- na outra, para baixo. Portanto, as duas fitas
sente, eles são designados como adenosina, ci- mostram uma polaridade oposta: elas são an-
tidina, guanosina e uridina, quando o açúcar é a tiparalelas. Uma volta da hélice compreende
ribose. Por outro lado, tratando-se do nucleosí- cerca de 10 resíduos de nucleotídeos por fita.
deo da desoxirribose, é necessário usar o prefi-
Os grupos fosfato situam-se para fora e são
xo “desoxi”, ou seja, desoxiadenosina, etc. Ti-
mina identifica sempre o desoxirribosídeo.
facilmente acessíveis para cátions. Já as ba-
Quando os nucleosídeos ligam-se com um, dois ses estão voltadas para dentro, em ângulo reto
ou três restos de fosfato, fala-se em nucleotídeos. com o eixo, situando-se a timina sempre em
Por exemplo, quando a base for adenina, podem frente da adenina e a citosina em frente da
ser distinguidos adenosinamonofosfato, difos- guanina. Como está evidenciado na Figura
fato e trifosfato (página 234), cujas abreviatu- 1.10C, entre os grupos amino e oxo das bases
ras são: AMP, ADP e ATP, respectivamente. O vizinhas existem ligações de hidrogênio que,
mesmo raciocínio vale para os outros nucleotí- por motivos espaciais, impossibilitam um ou-
deos, portanto GMP, GDP e GTP para guanosi- tro pareamento de bases. Portanto, as duas fi-
nafosfato, CMP, CDP e CTP para citidinafosfa- tas não são idênticas, mas, complementares.
to, etc. Os nucleotídeos com desoxirribose são Elas podem ser lineares ou dobradas, portan-
identificáveis pela anteposição da letra d: dAMP,
to circulares. Este último tipo é encontrado
dGMP e dCMP.
Os nucleotídeos cíclicos são formas especi-
no DNA de bactérias, plastídios e mitocôn-
ais, sobretudo o ciclo AMP (cAMP), formado drias.
de ATP, por meio da enzima adenilatociclase e
por dissociação de pirofosfato (PPi). Ele desem- ! Apesar de existirem apenas quatro resí-
penha um papel importante como substância si- duos de nucleotídeos, as moléculas de
nalizadora, entre outras funções. DNA têm uma alta especificidade. Ela
baseia-se na seqüência dos nucleotídeos,
DNA: A análise quantitativa do DNA mostrou cujo número, para citar um exemplo, no
que o número das bases pirimidinas é sempre DNA de Escherichia coli é de 3,6 mi-
igual ao das bases purinas. Tanto a relação lhões. Para organismos superiores, foram
molar de timina com adenina quanto a de ci- encontrados valores consideravelmente
tosina com guanina é igual a 1. Por outro lado, mais altos (109-1011). Como o DNA pos-
a relação da timina com a citosina ou, o que é sui capacidade de autorreplicação (pági-
o mesmo, da adenosina com a guanina sujei- na 335), ele é predestinado como mate-
ta-se a profundas oscilações nos organismos rial genético.
isolados. Daí resulta um pareamento especí-
fico de bases: timina-adenina e citosina-gua- Com auxílio da técnica de seqüenciamento
nina. Com base em tais descobertas, Watson (página 419), consegue-se verificar a seqüên-
e Crick delinearam o modelo estrutural do cia de nucleotídeos, isto é, a estrutura primá-
DNA, reproduzido na Figura 1.10. Conforme ria de numerosas moléculas de DNA ou de
o modelo, o DNA consiste de duas fitas não- partes delas.
38 WILHELM NULTSCH

Desoxirribose

Ácido fosfórico
Timina
Citosina

Adenina
Guanina

CB

CD

Figura 1.10 Modelo


de Watson-Crick do
DNA. A. Estrutura da
dupla fita. B. Modelo
de escada em caracol.
C. Pareamento especí-
fico de bases. CB = C
em bases, CD = C em
desoxirribose (B se-
gundo Foghelman).

Quadro 1.2 Z-DNA forma de ziguezague, razão pela qual esta


conformação é denominada Z-DNA. Sua
Além da B-conformação natural, também síntese é favorecida quando o DNA é rico
é possível a síntese de outras conforma- em pares de bases GC.
ções de DNA. Assim, sob determinadas Entretanto, foi comprovado que o Z-
condições in vitro, pode ser produzida uma DNA também pode ser encontrado in vivo.
dupla-hélice voltada para a esquerda que Ele ocorre, por exemplo, nos cromosso-
mostra 12 pares de bases por volta. Por mos dos eucarióticos dinoflagelados, cor-
motivos estéricos, as cadeias de nucleotí- retamente considerados primitivos, como,
deos, contudo, estão sob uma certa ten- por exemplo, Prorocentrum micans. Tais
são. Como conseqüência, as voltas não são formas mostram um ciclo celular diferen-
tão planas como no B-DNA, mas sim têm te, no qual o envoltório nuclear não é de-
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 39

sagregado e os cromossomos permanecem aminoácido é transferido enzimaticamente para


um grupo hidroxila livre, pelo do que resulta a
condensados. O surgimento do Z-DNA é
forma carregada do RNAt, a aminoacil-RNAt. O
favorecido pela falta de histonas e nucleos-
aminoácido assim ativado é transferido para a
somos, pelo alto conteúdo em guanina e
cadeia polipeptídica crescente no ribossomo.
citosina, pela relativa freqüência de ocorrên-
cia de uma base rara (hidroximetil-uracil),
A seqüência de bases, ou seja, a estrutura pri-
assim como pelos cátions bivalentes que
mária da maioria das moléculas de RNAt, está
estabilizam a superfície do DNA.
elucidada. Suas bases ocorrem, de 60 a 70%,
em forma de uma dupla-hélice, o que tem
RNA: O ácido ribonucléico apresenta-se pre-
como conseqüência uma formação de alça e
dominantemente sob forma de cadeias nucleo-
uma conformação tridimensional específica.
tídicas mais simples, mas encontram-se tam-
Pela projeção sobre um plano, obtém-se uma
bém duas fitas. A maioria das células contém
figura característica, chamada de estrutura em
duas até oito vezes mais RNA do que DNA.
folha de trevo (Fig. 1.11A), evidenciada pelo
De acordo com a ordem de grandeza de suas
correspondente diagrama espacial (Fig.
massas moleculares, podem ser distinguidas
1.11B). O anticódon (página 336) e a termi-
três frações:
nação 3’ destacam-se da molécula.
! RNA de transferência (RNAt): Ele é de- As moléculas de RNAt podem conter até 10%
nominado também RNA solúvel (RNAs), das acima mencionadas bases “raras”. Uma das
tem massas moleculares Mr na ordem de tarefas delas parece consistir em impedir um
23.000-28.000, o que corresponde a 73-93 pareamento de bases em determinadas zonas da
resíduos de nucleotídeos e a um coeficiente molécula de RNAt. Com isso, elas são respon-
de sedimentação de cerca de 4 S6. Sua par- sáveis pela formação de laço e a estrutura tridi-
ticipação no total de RNA de uma célula é, mensional característica.
em Escherichia coli, de cerca de 16%. A
tarefa do RNAt consiste na transferência de ! RNA mensageiro (RNAm): Ele é chama-
aminoácidos quando da síntese protéica. do também de RNA matriz. Trata-se de
uma forma molecular superior, com mas-
Por isto, para cada um dos 20 aminoácidos sas moleculares Mr entre 25.000 e 1 mi-
proteinogênicos, existem de um a, geralmen- lhão, o que corresponde a cerca de 75-
te, vários tipos de moléculas de RNAt. Dos 3.000 resíduos de nucleotídeos. Os coefi-
diferentes tipos de moléculas de RNAt, espe- cientes de sedimentação situam-se entre 6
cíficos para o mesmo aminoácido, nas mito- S e 25 S. Sua participação no total de RNA
côndrias e nos plastídeos, encontram-se for- de uma célula é, em Escherichia coli, de
mas distintas das do citoplasma. cerca de 2%, chegando a um máximo de
10% nos organismos superiores. Na sínte-
Na Escherichia coli estão comprovados aproxi- se protéica, ele transporta a informação
madamente 60 tipos de moléculas de RNAt. To- genética do DNA para os ribossomos. O
das possuem guanosina na extremidade 5’ e a RNAm é formado no DNA, em um pro-
seqüência nucleotídica citidina-citidina-adenosi- cesso denominado transcrição.
na na extremidade 3’. Na síntese protéica, um
! RNA ribossômico (RNAr): Em Escheri-
6
1 S: Svedberg: Unidade do coeficiente de sedimen- chia coli, ele compreende cerca de 82%
tação, definida como a velocidade da sedimentação a do total de RNA da célula e cerca de 65%
20 ºC, relacionada à aceleração centrífuga (10-13 S).
40 WILHELM NULTSCH

As Aceptor

Figura 1.11 Estrutura do RNA de transferência da levedura, constituído de 76 nucleotídeos e transportador da


fenilalanina (RNAtphe). A. Modelo em “folha de trevo” da molécula projetada sobre um plano. A = adenosina, C
= citidina, G = guanina, U = uridina, P = fosfato, OH = grupo hidroxila. Os outros símbolos identificam nucleo-
tídeos “raros”, a saber: hU = diidrouridina, Gm = metilguanosina, ou melhor, dimetilguanosina, T = ribotimidina
e ψ = pseudo-uridina. Observam-se os pares divergentes de bases: G-U, no braço do aminoácido, e A-ψ, no braço
do anticódon. Os três nucleotídeos do anticódon estão destacados em vermelho. A numeração começa na extremi-
dade 5’. B. Diagrama espacial do mesmo RNAt, com anticódon em vermelho. A numeração permite a comparação
com a representação em folha de trevo (segundo Kim e colaboradores).

do peso total dos ribossomos. Em proca- sim, denomina-se glucano, quando formadas
riontes, foram encontrados quatro tipos de de glicose, como galactano, quando de ga-
RNAr e três em eucariontes, cujas massas lactose, etc., genericamente como glicano. Os
moleculares Mr situam-se entre 35.000 e homoglicanos consistem de apenas um tipo
acima de 2 milhões, o que corresponde a de açúcar e os heteroglicanos de vários.
coeficientes de sedimentação entre 5 S e
As ligações (1 → 4) ocorrem com freqüência,
28 S (página 76).
mas outros tipos, como as ligações (1 → 3),
Nos ribossomos, 60 a 70% das fitas de nu- não são raros. Em ambos os casos, as molé-
cleotídeos do RNAr apresentam-se sob a for- culas de polissacarídeos mostram a já menci-
ma de uma dupla-hélice. onada polaridade, entre uma terminação re-
dutora e uma não-redutora. Encontram-se tam-
bém ramificações, geralmente do tipo (1 →
1.5.4 Polissacarídeos 6). As possibilidades de uma variabilidade si-
tuam-se, por isto, no emprego de diferentes
! As macromoléculas dos polissacarídeos moléculas de açúcar como elementos consti-
são identificadas pelo sufixo “-ano”. As- tuintes, no tipo de ligações dos elos e no com-
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 41

primento da cadeia. A multiplicidade poten- outros, foram encontrados β-(1 → 4)-manano e


cial dos polissacarídeos é, portanto, igualmen- β-(1 → 3)-xilano, com manose e xilose como
te grande. Mas como as moléculas dos hete- constituintes, respectivamente. A substância de
roglicanos consistem de unidades relativa- parede característica de numerosos fungos é a qui-
mente pequenas, periodicamente repetidas, e tina, cujas macromoléculas são formadas pelo
como só ocorre um número limitado dos ti- aminoaçúcar N-acetilglicosamina. Elas ocorrem na
pos de ligações teoricamente possíveis, sua ligação glicosídica β-(1 → 4). Em alguns fungos,
multiplicidade é bastante pequena, compara- encontra-se β-(1 → 3) – glucano como substân-
da com a das proteínas e dos ácidos nucléi- cia de parede. Devido ao caráter filiforme das
suas moléculas, todos estes polissacarídeos são
cos. Os polissacarídeos são utilizados pelas
especialmente adequados como substância de
plantas, predominantemente, como substân- sustentação. Bem diferente é a situação da alga
cia de sustentação e de reservas.

Celulose

! Celulose: A celulose é um β-(1 → 4) – glu- verde Chlamydomonas (Fig. 5.6), cuja parede
cano, ou seja, suas moléculas estão forma- celular consiste de glicoproteínas.
das de moléculas de D-glicose, que exis-
tem na ligação β-(1 → 4). Considerando ! Amido: O amido também é formado de D-
formalmente, seu constituinte básico é o glicose. No entanto, como esta ocorre em
dissacarídeo celobiose. Quando o seu se- ligação glicosídica α-(1 → 4), a maltose é
gundo anel gira 180º em torno do eixo lon- o constituinte básico. Conseqüentemente,
gitudinal, surgem moléculas filiformes, a molécula de amido não é alongada, mas,
alongadas e não-ramificadas. sim, torcida simetricamente em hélice, com
cada volta contendo cerca de 6 moléculas
Estas podem compreender mais de mil molé- de glicose.
culas de glicose. Os valores mais altos até
Nos tecidos vegetais de reserva, encontram-
agora encontrados situam-se em torno de
se dois tipos de amido, em partes alternantes:
15.000, o que corresponde a uma massa mo-
a amilose, cujas moléculas têm a forma de uma
lecular Mr de cerca de 2,5 milhões. Por exigir
hélice não-ramificada (Fig. 1.12A) e consis-
na cadeia um espaço de cerca de 0,5 nm, a
tem de algumas centenas de unidades de gli-
molécula de glicose atinge um comprimento
cose, e a amilopectina, cujas moléculas são
de aproximadamente 7,5 µm.
formadas de vários milhares de unidades de
Além da celulose, outros polissacarídeos também glicose e bastante ramificadas (Fig. 1.12B).
são empregados como substâncias de parede, so- O intervalo das ramificações é, em média, de
bretudo em plantas inferiores. Em algas, entre cerca de 25 unidades de glicose.

Quitina
42 WILHELM NULTSCH

uma forma insolúvel e, com isso, osmotica-


mente inativa, a partir da qual ela pode ser
novamente mobilizada. O amido é, por isso,
a substância de reserva vegetal mais ampla-
mente difundida (página 119).

Outros polissacarídeos vegetais: Ao lado do


amido, encontram-se ainda no reino vegetal ou-
tros polissacarídeos de reserva. O glicogênio, pre-
sente em bactérias, cianobactérias e fungos, é
igualmente um α-(1 → 4)-glucano, mas suas
moléculas são ainda mais fortemente ramificadas
do que as da amilopectina. Nos carboidratos lami-
narina, leucosina (= crisolaminarina) e paramilo
Amido
(página 83) encontrados nas algas, as moléculas de
glicose são unidas por ligações β-(1 → 3). Adicio-
Devido à estrutura da sua molécula, o amido nalmente, nos dois primeiros citados, encontram-
se esporadicamente também ligações (1 → 6).
não é apropriado como substância de susten-
Portanto, eles são fracamente ramificados. As
tação. Por outro lado, ele possibilita às plan-
moléculas de inulina, característica para algumas
tas o transporte da glicose, valiosa como re- plantas superiores, são formadas por cerca de 30-
serva de energia. Este transporte processa-se, 40 moléculas de frutose, onde cada molécula co-
sem grandes modificações na molécula, em meça com uma glicose. Na calose, existem mo-

Figura 1.12 Disposição das mo-


léculas de glicose no amido, es-
quematicamente. A. Amilose. B.
Amilopectina.
ESTRUTURA MOLECULAR DO ORGANISMO VEGETAL 43

léculas de β-D-glicose em ligações (1 → 3). De- ma de substâncias orgânicas, mas em parte


vido à evidente disposição irregular de molécu- também como íons.
las de glicose, a calose não mostra qualquer es- Segundo as concepções atuais, as subs-
trutura cristalina e parece homogênea. Depósi- tâncias formadoras dos organismos, os biô-
tos de calose servem ao rápido fechamento de meros, originaram-se por caminhos abióticos
poros, como, por exemplo, de plasmodesmas durante a evolução química. Alguns destes
após lesões mecânicas ou da placa crivada no
passos podem ser simulados em experimen-
floema. Os depósitos de calose desempenham
também um importante papel na resistência das
tos de laboratório.
plantas contra fungos patogênicos. Os biomonômeros, amplamente dissemi-
nados nos organismos, são ácidos orgânicos,
Polissacarídeos ácidos, cujos constituintes poliálcoois, açúcares, lipídios, aminoácidos,
monossacarídicos são os ácidos urônicos (pá- bem como bases pirimidinas e purinas. Pela
gina 26), encontram-se também amplamente progressiva evolução química, resultaram os
distribuídos no reino vegetal. O ácido galac- biopolímeros: as proteínas, ácidos nucléicos
turônico é o componente principal das pecti- e polissacarídeos.
nas. Já o ácido algínico das algas pardas, que As proteínas são constituídas de numero-
pode representar até 40% da matéria seca da sos aminoácidos, que, por meio de ligações pep-
parede celular, consiste de ácido manurônico tídicas, estão unidos entre si. Sua alta especifi-
e ácido gulurônico. Alguns polissacarídeos da cidade, baseada na seqüência dos 20 aminoáci-
parede celular das algas possuem também gru- dos proteinogênicos, predestina-as como ele-
pos sulfato (ágar). mentos estruturais da substância viva. Junto com
os lipóides, elas formam as biomembranas.
Os ácidos nucléicos, cuja especificidade
RESUMO está fundamentada na sua seqüência de nucleo-
tídeos, servem as células principalmente como
As plantas superiores necessitam, para a sua portadores e transferidores de informações.
nutrição, dos elementos C, O, H, N, S, P, K, Os polissacarídeos consistem de molé-
Ca, Mg e Fe, assim como, em quantidades ex- culas de açúcar e não possuem alto grau de
tremamente baixas, elementos-traço, como B, especificidade. Eles são empregados como
Cl, Cu, Mn, Zn, Mo, entre outros. Eles ocor- material de sustentação e, pela grande inefi-
rem nas plantas predominantemente em for- cácia osmótica, como substâncias de reserva.

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