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COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 1
CADERNO abea 33
XXVII ENSEA
Encontro Nacional sobre Ensino de
Arquitetura e Urbanismo
XXXIII COSU
Conselho Superior da ABEA
07 a 09 de maio de 2009
FAU‐USP – Cidade Universitária – São Paulo‐SP
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 2
DIRETORIA DA ABEA ‐ BIÊNIO 2007/2009
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente JOSÉ ANTÔNIO LANCHOTI ‐ MOURA LACERDA/SP
Vice‐Presidente FERNANDO JOSÉ DE MEDEIROS COSTA ‐ UFRN
Secretário CARLOS EDUARDO NUNES FERREIRA ‐ UNESA
Sub‐Secretário ESTER J.B. GUTIERREZ ‐ UFPEL
Secretário de Finanças JOSÉ ROBERTO GERALDINE JÚNIOR –BARÃO DE
MAUÁ/SP
Sub‐Secretário de Finanças ANDREY ROSENTHAL SCHLEE – UnB
DIRETORIA CONSELHO FISCAL
Euler Sobreira Muniz – UNIFOR Titulares
José Akel Fares Filho – UNAMA João Carlos Correia – UNAR
Cláudio Listher M. Bahia – PUC‐Minas Itamar Costa Kalil ‐ UFBA
Débora Pinheiro Frazatto – PUC‐Camp Isabel Cristina Eiras de Oliveira ‐ UFF
Dirceu Trindade ‐ UCG Suplentes
Wanda Vilhena Freire– UFRJ
Paulo Fernando do A. Fontana – UCS Gilson Jacob Bercoc – UNIFIL
Andrea L. Vilella Arruda – FUMEC Wilson Ribeiro S. Junior – PUC‐Camp
Cláudio F. Correa Valadares – UNIFLU Heloisa Messias Mesquita UNIDERP
Turguenev Roberto Oliveira – Belas
Artes
CADERNO abea 33
XXVII ENSEA
Encontro Nacional sobre Ensino de
Arquitetura e Urbanismo
XXXIII COSU
Conselho Superior da ABEA
COMISSÃO ORGANIZADORA
José Antônio Lanchoti - Presidente ABEA
Fernando José de Medeiros Costa – Vice-Presidente da ABEA
Jose Roberto Geraldine Junior - Diretor ABEA
Francisco Segnini Júnior – FAU/USP
07 a 09 de maio de 2009
FAU‐USP – Cidade Universitária – São Paulo‐SP
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 4
Ensino e Atribuição Profissional: Conservação do Patrimônio Cultural,
Técnicas Retrospectivas, Assistência Técnica e a Lei Federal nº
11.888/08.
APRESENTAÇÃO
A convocação para o XXVI Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo e a
XXII Reunião do Conselho Superior da ABEA conclamou professores, estudantes e
coordenadores de cursos de Arquitetura e Urbanismo para um amplo debate tendo como
eixos temáticos dois assuntos que têm reflexos diretos sobre as atribuições profissionais do
arquiteto e urbanista. O debate se dá no momento em que entram em vigor normas tanto
no âmbito do legislativo federal quanto no órgão de regulamentação profissional, que
tratam especificamente sobre os temas: Assistência técnica pública e gratuita para o projeto
e a construção de habitação de interesse social; e Patrimônio Cultural e as Técnicas
Retrospectivas.
1. A Lei Federal nº 11.888 de 24 de dezembro de 2008 estabelece que
“Art. 2º ‐ As famílias com renda mensal de até 3 (três) salários mínimos,
residentes em áreas urbanas ou rurais, têm o direito à assistência técnica
pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse
social para sua própria moradia. § 1º ‐ O direito à assistência técnica
previsto no caput deste artigo abrange todos os trabalhos de projeto,
acompanhamento e execução da obra a cargo dos profissionais das áreas
de arquitetura, urbanismo e engenharia necessários para a edificação,
reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação”.
Qual deve ser a abordagem nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo sobre a atuação do
arquiteto e urbanista no campo da Assistência Técnica? O projeto de habitação de interesse
social tem espaço nos projetos pedagógicos dos cursos? Essas e outras questões precisam
ser debatidas. Precisamos conhecer e discutir práticas pedagógicas e experiências exitosas
nesse campo de atuação profissional.
2. Patrimônio Cultural e as Técnicas Retrospectivas
Em 1994 a portaria MEC 1770/94 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os
cursos de Arquitetura e Urbanismo incorporou como “Matéria Profissional” o estudo das
Técnicas Retrospectivas. Em 2006, a Resolução MEC/CNE/CES nº 6/06 instituiu as novas
Diretrizes nas quais foram mantidas no Núcleo de Conhecimentos Profissionais as Técnicas
Retrospectivas, constituindo‐se em conhecimentos que caracterizam as atribuições e
responsabilidades profissionais. Recentemente o plenário do CONFEA aprovou a Decisão
Normativa DN nº. 83/2008, que dispõe sobre procedimentos para a fiscalização do exercício
e das atividades profissionais referentes a monumentos, sítios de valor cultural e seu
entorno ou ambiência. A DN 83, além de estabelecer procedimentos de fiscalização,
representa um marco no Sistema profissional por reafirmar a atribuição exclusiva de
arquitetos e urbanistas no campo do restauro. Este subtema busca discutir como está sendo
a abordagem nos Cursos de Arquitetura e Urbanismo sobre Conservação do Patrimônio
Cultural. Como os projetos pedagógicos têm tratado o tema sob os aspectos conceituais,
projetuais e tecnológicos. Experiências e práticas pedagógicas serão apresentadas e
discutidas.
Foi com essa motivação e com muita expectativa que a ABEA realizou mais um ENSEA, dessa
vez tendo como anfitriã a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
A diretoria.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 6
PROGRAMAÇÃO
14:00h
19:00h
XXXIII COSU DA ABEA
09:00h Orientações sobre a ABERTURA OFICIAL DO
XXVII ENSEA e XXXIII
CADASTRAMENTO E Acreditação dos Cursos do
COSU-ABEA
Mercosul – Sistema ARCU-
DIA 07/05/2009 (Quinta Feira)
09:00h 14:00h
XXVII ENSEA XXVII ENSEA
Palestras: Apresentação dos
“O Ensino nos Cursos de Trabalhos Inscritos:
Arquitetura e Urbanismo ● Ensino da Assistência
DIA 08/05/2009
(Sexta-Feira)
09:00h 13:00h
DIA 09/05/2009
ROTEIRO PARA VISITA TÉCNICA
CENTRO DE SÃO PAULO – Significado, Situação, Restauro
Almoço no centro:
Restaurante Girondino
Alternativas: Restaurante Joquey Clube; Restaurante Bolsa de Valores
Percurso (aproximadamente 2500 metros):
1 – Largo São Bento; Mosteiro
2 – Rua São Bento; Secretaria de Esporte e Turismo; Edifício Martinelli
3 – Largo São Francisco; Igreja São Francisco
4 – Rua Líbero Badaró; Secretaria da Cultura; Edifício Matarazzo (Gabinete do Prefeito)
5 – Praça Patriarca; Igreja Santo Antonio; Galeria Prestes Maia
6 – Viaduto do chá; Edifício Mackenzie (Shopping Light)
7 – Praça Ramos de Azevedo; Theatro Municipal; Edifício “Mappin”;
8 – Rua Barão de Itapetininga; Galeria Califórnia (Niemeyer)
9 – Praça da República; obras da Linha 4/Metrô; Edifício Esther; Caetano de Campos; Edifício
Itália; Edifício Copan
10 – Avenida Ipiranga; Cinelândia
11 – Avenida São João; Largo Paisandu; Edifício dos Correios; Parque do Anhangabaú
Algumas Informações extraídas de fontes da Internet:
Café Girondino
R. Boa Vista, 365 ‐ Centro ‐ São Paulo ‐ SP
Tel: (11) 3229‐4574
Badebec Novo Joquey Clube
Sede do Jockey / 2ª a 6ª feira – 12 às 15 horas
Rua Boa Vista, 280, 9º andar, Centro
Tel. (11) 3101‐2686
O Mosteiro de São Bento, localizado no centro da cidade de São Paulo, no Largo
de São Bento, próximo ao Vale do Anhangabaú, é um dos edifícios históricos mais
importantes da capital paulista.
O conjunto todo é o Mosteiro de São Bento, o qual tem em sua portaria o principal
acesso onde os monges que aí vivem em oração, ficam de prontidão a receber
todos os hospedes e visitantes, acolhendo assim os que vem à vida de oração,
retiro, ou procuram orientação espiritual ou confissão; nele há a clausura monástica,
a Basílica Abacial de Nossa Senhora da Assunção (elevada a esta dignidade em
14 de junho de 1922), onde há o coro para o ofício divino rezado diariamente pelos
monges e a missa é celebrada, ambos no rito monástico e com canto gregoriano, e
Colégio de São Bento e Faculdade de São Bento.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_de_S%C3%A3o_Bento_(S%C3%A3o_Paulo) )
Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo
Praça Antônio Prado, nº 9
CEP: 01010‐904. ‐ São Paulo
Fone: (11) 3241.5822 ou (11) 3105.9877
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A Igreja São Francisco volta às origens – As obras de restauro da Igreja,
Santuário e Convento São Francisco, em São Paulo, foram concluídas nesta quarta-
feira (17/12), depois de quase seis anos de trabalhos de captação de recursos e de
desenvolvimento do projeto do arquiteto Cláudio Maiolino.
(http://www.franciscanos.org.br/v3/noticias/reportagensespeciais/2008/convento_1612/in
dex.php )
O Edifício Matarazzo, também conhecido como Palácio do Anhangabaú é a sede
da prefeitura da cidade de São Paulo desde 2004, pertencia anteriormente ao
Banespa, daí seu apelido de Banespinha.
Está localizado no Vale do Anhangabaú, junto ao Viaduto do Chá. É conhecido por
seu jardim, localizado no último andar do edifício.
Foi projetado pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini, a mando do conde Ermelino
Matarazzo, e abrigou por anos a sede de suas indústrias. O projeto possui
inspirações fascistas, visto a ligação do arquiteto com o regime de Mussolini e tem
14 andares e 27.800 m² de área construída.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_Matarazzo )
A Igreja de Santo Antônio é um templo católico localizado no centro de São Paulo,
na Praça do Patriarca, próximo ao Viaduto do Chá. É considerada a mais antiga
igreja remanescente da cidade, tendo sido fundada nas últimas décadas do século
XVI - conforme atestam os primeiros registros documentais da sua existência,
datados de 1592. No século XVII, abrigou a Ordem dos Franciscanos, e no século
XVIII esteve subordinada à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Brancos.[2] Sofreu diversas reformas e intervenções ao longo dos últimos quatro
séculos, sobretudo em sua fachada, reinaugurada em estilo eclético em 1919.[3]
O interior da Igreja de Santo Antônio conserva importantes testemunhos da arte
produzida em São Paulo no período colonial. Durante a restauração levada a cabo
em 2005, descobriu-se no forro do altar-mor pinturas murais seiscentistas de alta
qualidade técnica e artística, as mais antigas de que se tem notícia em São Paulo.
Também o altar principal, executado em 1780, é um belo exemplar da talha barroca.
A igreja é tombada pelo poder público estadual (Condephaat) desde 1970, em
virtude de sua importância histórica, artística e arquitetônica.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Santo_Ant%C3%B4nio_(S%C3%A3o_Paulo) )
Poucas pessoas, que hoje atravessam a Praça do Patriarca rumo ao Vale do
Anhangabaú pela Galeria Prestes Maia, sabem que ela abrigou grandes eventos
artístico-culturais e já foi um dos endereços mais concorridos da cidade.
Essa exuberante galeria, com paredes e colunas revestidas de mármore, possui três
níveis interligados por escadarias e escadas rolantes. Aliás, foi um dos primeiros
locais a utilizar escadas rolantes na cidade de São Paulo, inauguradas em 1955 pelo
prefeito William Salem.
Sua história tem início com a construção do “novo” Viaduto do Chá em 1938. O
arquiteto responsável pela obra, Elisiário Bahiana, já previa o aproveitamento das
estruturas internas das duas extremidades do viaduto, sugerindo a construção de
dois prédios ocupados por salões de usos diversos. As obras da Galeria foram
iniciadas em 1939 e finalizadas em 1941. Em 1940, ela era inaugurada pelo prefeito
Francisco Prestes Maia.
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Enfeitam a Galeria, Graça I e Graça II, esculturas do modernista Victor Brecheret
posicionadas no primeiro lance de escadas recepcionando os passantes. Entre o
segundo e o terceiro pavimento, à esquerda de quem desce, há uma réplica em
bronze de Moisés, de Michelangelo, feita pelo Liceu de Artes e Ofício. À frente de
uma das entradas do Salão Almeida Júnior, encontra-se um busto em bronze
homenageando o pintor paulista, Laurindo Galante.
O Salão Almeida Júnior, a partir de 1940, foi palco de um dos principais eventos
artísticos realizados na cidade, o Salão Paulista de Belas Artes, que teve a
participação de renomados artistas plásticos como Amadeo Zani, Ricardo Cippichia
e a modernista Anita Malfatti.
Em 1965, ganhou o nome de Galeria Prestes Maia por decreto do então prefeito
José Vicente Faria Lima, homenageando o ex-prefeito que falecera no mês de abril
do mesmo ano.
Assim como toda a área central, a Galeria Prestes Maia passou por uma fase de
degradação que se agravou a partir de meados da década de 70, quando abrigou
postos de órgãos públicos, perdendo a sua feição original de espaço dedicado às
artes.
Esse processo de deterioração do espaço só começou a ser revertido em meados
da década de 90. Incluída no projeto que previa a revitalização do Centro, e
especificamente da Praça do Patriarca, a galeria passou por reformas estruturais.
Em 1996, o prefeito Paulo Maluf assinou um termo de comodato que cedia a Galeria
Prestes Maia ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Em 2000, estava oficialmente inaugurado o projeto MASP-Centro, em uma
solenidade que marcava o retorno das Graças à galeria, após uma permanência de
sete anos no Museu Brasileiro de Escultura (MUBE).
Reconhecendo sua importância para a cidade, em 1992 o Conpresp tombou a
Galeria Prestes Maia considerada área de excepcional interesse histórico e
arquitetônico, o que determinou a sua preservação integral.
(http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/ladeir
a_memoria/index.php?p=414 )
O Shopping Light está no coração de São Paulo, localizado no histórico e
charmoso prédio Alexandre Mackenzie, que fica em uma das esquinas mais
movimentadas da cidade, o Viaduto do Chá com a Xavier de Toledo.
O edifício que é hoje tombado pelo Patrimônio Histórico foi construído em 1929, e
era a sede da empresa de Energia Light. Foi transformado em Shopping Center no
ano de 1999 após passar por uma cautelosa reforma e restauração, sendo hoje o
maior e mais completo centro de compras, serviços e lazer do centro de São Paulo.
(http://www.shoppinglight.com.br/shopping/shopping.asp )
O Theatro Municipal de São Paulo é um dos mais importantes teatros da cidade e
um dos cartões postais da capital paulista, tanto por seu estilo arquitetônico
semelhante ao dos mais importantes teatros do mundo como pela sua importância
histórica, por ter sido o palco da Semana de Arte Moderna de 1922, o marco inicial
do Modernismo no Brasil.
O local escolhido para a construção foi o Morro do Chá, que já abrigava o Novo
Theatro São José. Com o projeto de Cláudio Rossi, desenhos de Domiziano Rossi e
construção pelo Escritório Técnico de Ramos de Azevedo, as obras foram iniciadas
em 1903 e finalizadas em 1911. O estilo arquitetônico é o eclético, em voga na
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 10
Europa desde a segunda metade do século XIX. São combinados os estilos
Renascentista, Barroco do setecentos e Art Nouveau, sendo o último o estilo da
época.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_Municipal_de_S%C3%A3o_Paulo )
O prédio dos Correios, na Avenida São João, vai começar a ser restaurado. O
projeto prevê a instalação de um centro cultural nos três andares superiores do
edifício, onde funcionarão cinemas, teatro e restaurante. Para que isso seja possível,
um novo prédio será erguido anexo, interligado com os pavimentos originais.
Será a primeira grande reforma do edifício e a fachada será restaurada, mantidas
todas as características originais. O projeto é mais uma iniciativa para revitalização
do centro de São Paulo e foi aprovado pela Prefeitura.
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/so_sp/gd300305b.htm )
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SUMÁRIO
Ata conjunta do XXII Reunião do Conselho Superior da ABEA (COSU) e XXVI
16
Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ENSEA)
SEÇÃO TEMÁTICA 24
A Lei da Assistência Técnica e os desafios frente
Amadja Henrique Borges;Cecília
aos projetos das habitações de interesse social
Marilaine Rego de Medeiros;
no campo: a experiência da parceria 25
Maria Cândida Teixeira de
Universidade, Estado e Movimento no Rio
Cerqueira
Grande do Norte
JORNADA EM DEFESA DA MORADIA DIGNA: da Débora Sanches; Luciana Lessa
34
concepção a realização Simões
CASA FÁCIL – Antes e depois da Lei de Gilson Jacob Bergoc; Ivanóe de
42
Assistência Técnica. Cunto; Ivan Prado Jr.
O ensino e a prática profissional no Curso de MARCELO, Virgínia C.C.; VIZIOLI,
Arquitetura e Urbanismo da UniABC: o caso da Simone Helena Tanoue; 48
Vila Guiomar, Santo André – SP SARAPKA, Elaine Maria.
O campo disciplinar do restauro arquitetônico:
problemáticas na formação do arquiteto Ana Paula Farah 58
contemporâneo
Reflexões Acerca da Atuação do Arquiteto‐
Claudio Antonio Santos Lima
Urbanista na Conservação de Bens 69
Carlos
Arquitetônicos
O ENSINO DA CONSERVAÇÃO NOS CURSOS DE
SAMPAIO, Julio Cesar Ribeiro 80
GRADUAÇÃO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Um lugar ao sol: em busca de um espaço mais Maria Clara Migliacio
adequado para a abordagem do Patrimônio Josiani Aparecida da Cunha 91
Cultural edificado Galvão
PRADO, Michele Monteiro
O campo disciplinar do patrimônio cultural 100
PIMENTEL, Viviane Lima
na Isa Garcia Bueno
Técnicas Retrospectivas: habilidades e iovane Teodoro de Brito
109
competências Chaparro
Ângela Gil Lins
Universidade Federal de Goiás José Artur D’Aló Frota
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Christine Ramos Mahler 115
Projeto Político‐Pedagógico Leonardo Romano
ARQUITETANDO José Artur D’Aló Frota
experiências didáticas nas disciplinas Eline Maria Moura Pereira 131
introdutórias de projeto Caixeta
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Mesa de Abertura do Evento: da esquerda para a direita – Acad. Fernando Carneiro Pires, da
FeNEA; Arquiteto e Urbanista Daniel Amor do SASP; Arquiteta e Urbanista Saide Katuni da
ABAP; Engenheiro Civil José Tadeu da Silva Presidente do CREA/SP; Arquiteo e Urbanista José
Roberto Geraldine Júnior Conselheiro Federal do CONFEA; Arquiteto e Urbanista José
Antonio Lanchoti, pres. ABEA; Professor Sylvio Sawaya Diretor da FAU/USP; Arquiteto e
Urbanista Francisco Segnini Coordenador da Comissão Coordenadora do curso de
Arquitetura e Urbanismo da FAU/USP; e o Arquiteto e Urbanista Ângelo Arruda Presidente
da Federação Nacional de Arquitetos – FNA.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 16
Ata conjunta do XXIII Reunião do Conselho Superior da ABEA
(COSU) e XXVII Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e
Urbanismo (ENSEA)
Realizados no Auditório da FAU/USP, São Paulo‐SP, de 7 a 9/05/2009
SEÇÃO TEMÁTICA
TRABALHOS APRESENTADOS
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A Lei da Assistência Técnica e os desafios frente aos projetos das habitações
de interesse social no campo: a experiência da parceria Universidade, Estado
e Movimento no Rio Grande do Norte.
Amadja Henrique Borges – arquiteta e urbanista, doutora em estruturas ambientais urbanas,
professora da graduação e da pós‐graduação em arquitetura e urbanismo da UFRN, e‐mail:
amadja@ufrnet.br, tel: (84) 32060260 e (84) 88289170.
Cecília Marilaine Rego de Medeirosien – concluinte de arquitetura e urbanismo do CAU/UFRN, e‐
mail: cecília.marilaine@yahoo.com.br
Maria Cândida Teixeira de Cerqueira – arquiteta e urbanista, mestranda do PPGAU/UFRN,
mcandidac@gmail.com
Resumo
Este trabalho envolve a questão da moradia para áreas de projetos chamados de “reforma agrária”,
especificamente do movimento social de maior repercussão no campo, o MST. Tem como proposta
trazer ao debate a especificidade do campo no objeto da Lei 1888/08. Portanto, discutir a assistência
técnica para esse segmento, significa trazer em pauta outras necessidades para a regulamentação da
nova lei. Entre elas, o planejamento e a infra‐estrutura de seus habitats, o apoio logístico para o
desenvolvimento de atividades em locais de difícil acesso e a busca de criar padrões e critérios para
assegurar que esses espaços atendam às expectativas de seus usuários, além de uma melhor
qualidade construtiva, estética e ambiental. Como para a lei, o Grupo de Estudos em Reforma Agrária
e Habitat‐GERAH tem seu enfoque na assessoria de profissionais de construção civil, porém, com a
participação de pesquisadores sociais. Ao longo de 15 anos de existência, tem dividido suas
temáticas entre a pesquisa e a extensão, com rebatimento sistemático no ensino. Além disso,
considera importante que a assistência social, seja no campo ou na cidade tenha uma postura
dialógica entre o saber técnico e o saber popular, atuando nessas áreas com a participação ativa dos
envolvidos em todas as etapas dos trabalhos.
1. Introdução
Este trabalho tem como proposta trazer ao debate uma temática com diferenciadas escalas de
atuação. Ele envolve, conjuntamente, a moradia e o trabalho no cotidiano de participantes de um
movimento social do campo, frente a questões inerentes, originariamente, aos trabalhadores
envolvidos com os movimentos por moradia nas cidades. Portanto, discutir o desenvolvimento de
uma metodologia para este segmento social trás em pauta novos conceitos, parâmetros e
necessidades, a começar pelo planejamento, com a inserção do intra‐rural e o urbanismo, com a
necessidade de se planejar espaços de vida cotidiana em assentamentos humanos dispersos, mistos
ou mesmo concentradosi, mas ainda rurais, visto que se trata de produção majoritariamente
agrícola.
A utilização da ciência em projetos populares como este, tem, principalmente, seu papel educador e
organizacional, na perspectiva do crescimento profissional e político das bases de um Movimento
que, segundo Maria da Glória Gohn (1995), foi o de maior importância do final do século XX.
Considerando‐se os enfrentamentos da sua organização, trata, especificamente, das possibilidades e
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 26
dificuldades da assessoria técnica e científica diante da falta ou inadequação de políticas públicas
específicas para esses espaços ou de referências de parâmetros para serem neles utilizados. Nessa
perspectiva, a UFRN desenvolve projetos de pesquisa e de extensão e cursos na graduação e na pós‐
graduação. Para este último, “Política e Projeto da Habitação Social II” e, para a graduação, a
Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social.
A construção dessa metodologia teve início em 1994. Como principal referência metodológicas têm‐
se H. Léfèbvre (1978) e suas concepções de vida cotidiana, dos momentos de ruptura, do vivido e dos
sonhos, no sentido de compreender as necessidades específicas dos assentamentos do MST,
movimento popular que, apesar de conviver com as contradições do modo de produção capitalista,
empreende ações no sentido da transformação e criação de novas relações sociais. Ela cria
parâmetros para o desenho de assentamentos rurais, enquanto reflexo do vivido e das expectativas
de organização do Movimento, através de um processo de planejamento participativo.
O trabalho de parceria com um movimento popular – responsável pela organicidade do processo –
requer a compreensão de suas características, potencialidades e limites, além da capacidade de
espacializar o seu ideário. Quanto à parceria com o Estado, tem‐se dado através do INCRA/RN, de
acordo com os momentos políticos/gestores, diferenciando‐se ao longo desses catorze anos de
trabalho no meio rural. Seus dois eixos de atuação são: o primeiro, do planejamento e da construção
do habitat e da moradia, e o segundo o planejamento da melhoria e da ampliação das moradias do
MST.
1. Planejamento e construção do habitat e da moradia
Como principais experiências referentes às
construções de suas moradias tem‐se o planejamento
ambiental, do habitat e de suas moradias, reuso de
suas águas residuárias e sua construção em regime de
mutirão assistido nos assentamentos Maria da Paz,
em João Câmara, Resistência Potiguar I, em Ceará‐
Mirim, Bernardo Marim, em Pureza, Roseli Nunes, em
Figura 1: Assessoria técnica do projeto ao
Ielmo Marinho, e Maisa, em Mossoró, além de outras processo construtivo do Mª da Paz, 2002/2005.
em processo de negociação de financiamento com os
órgãos públicos. A partir do final de 2006, iniciou‐se o
estudo de melhoria de moradias já existentes, construídas, originariamente, por construtoras ou por
seus próprios moradores, sem fiscalização, atendimento a normas técnicas ou acompanhamento de
profissionais do ramo da construção civil.
Em ambas são introduzidas metodologias que têm sua principal abordagem na pesquisação,
buscando solucionar os conflitos entre as expectativas das bases e militâncias do Movimento, os
condicionantes técnicos, ambientais, financeiros e políticos, enquanto planejadores físico‐territoriais.
A metodologia do GERAH incorpora os núcleos de base do MST nos habitats concentrados,
desenvolvendo diretrizes na perspectiva de contribuir com a sua organização (ver diferentes habitats
concentrados nos PAs Olga Benário – Figuras 2 e 3 – e Paulo Freire – Figura 4). Partindo destas
diretrizes, o Grupo também avalia suas ações, integrando a pesquisa à extensão.
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Figura 2: Projeto do habitat Figura 3: Assentamento Olga Figura 4: Projeto do habitat
(agrovila) do Assentamento Olga Benário, localização do habitat, (agrovila) do Assentamento Paulo
Benário, 2008 2008 Freire, 2008
Intervenção no acampamento (1º momento):
Em outubro de 2002, a assessoria aos Acampamentos Maria da Paz e Margarida Alves dá
continuidade às ações da Universidade junto ao MST, agindo desde o momento do acampamento.
Nas demais experiências, a demanda crescente impossibilitou o trabalho nesse primeiro momento,
mas seguiu na direção do conhecimento do presente, do vivido no seu habitat de origem, seus
sonhos e expectativas.
Intervenção no pré-assentamento (2º momento):
Após o conhecimento da realidade dos assentados e do pré‐assentamento (momento anterior à
construção de moradias e recebimento dos créditos), as propostas são elaboradas em oficinas,
reapresentadas e discutidas junto à coordenação do Assentamento e, posteriormente, com as suas
bases, inúmeras vezes, até que os projetos sejam redefinidos a partir, preferencialmente, de
consensos. Os estudos preliminares e anteprojetos são relativos ao parcelamento do solo do futuro
assentamento, propostas para os locais de moradia e projetos específicos visando a construção de
habitações, equipamentos de produção e de consumo coletivos (ver Figuras 5 e 6, referentes ao
Assentamento Maria da Paz).
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Figura 5: Parcelamento do solo do Assentamento Figura 6: Projeto do Habitat do Assentamento Maria
Maria da Paz, 2004 da Paz, 2004
Quanto ao local do habitat, a decisão final se dá
após a conclusão dos levantamentos relativos ao
meio natural, quando há suporte técnico. Nesse
contexto, ressalta‐se a importância de haver
lideranças envolvidas em todo o processo. É
importante ressaltar que o envolvimento das
diversas forças na experiência contribui com o
enriquecimento dos resultados, como na discussão
do parcelamento do solo, com a incorporação de
várias propostas dos núcleos de organização do Figura 7: Oficina do projeto do habitat (agrovila),
assentamento, ou o envolvimento dos técnicos do Assentamento Resistência Potiguar I, 2006
INCRA responsáveis pelo acompanhamento de
cada uma delas.
O projeto da casa (3º momento)
Inicialmente, as experiências do Grupo foram realizadas em parceria com o MST e o INCRA, a partir
do “Crédito Instalação na Modalidade Aquisição de Material de Construção”, que não previa
assistência técnica, infra‐estrutura para mutirões e autogestão da construção em seus parcos
recursos. A partir de dezembro de 2007, inicia‐se a inserção da CAIXA, utilizando recursos do FGTS
para complementar o financiamento do INCRA, de R$7.000,00 até 2008, para compra de materiais,
em regime de mutirões assistidos. Apesar do salto de qualidade da construção da casa, também não
agrega valores para a urbanização do seu entorno, sua infra‐estrutura coletiva e demais serviços.
Esta nova entidade, anteriormente voltada para habitações urbanas, tem normativos inadequados
para os movimentos rurais, tais como: não considerar as suas dificuldades de acesso e
deslocamentos e o tempo e as dificuldades financeiras em atender às exigências da CAIXA. Por outro
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 29
lado, insere parâmetros que consolidam os interesses da metodologia construída, na medida em que
requer projeto social, profissionais responsáveis pelo projeto e acompanhamento da construção1.
Organização e desenvolvimento da construção das habitações (4º momento)
A assessoria na construção das habitações tem início com o
levantamento dos participantes do mutirão, selecionando
homens e mulheres, com ou sem experiência na construção
civil. Nesse sentido, um trabalho de formação desses
mutirantes é realizado por meio de curso com aulas teóricas
e práticas, que engloba temáticas distintas, relativas à
organicidade do processo, questões ambientais da área e os
aspectos técnicos da construção.
O trabalho de organização das equipes para o trabalho no Figura 8: Assembléia para organização do
mutirão reflete a organicidade do próprio Movimento e visa mutirão habitacional, Assentamento
contribuir com a autogestão do processo. Assim, são Bernardo Marim, 2008
formadas equipes que realizam etapas primordiais, como
por exemplo, compras, organização e controle do almoxarifado e da freqüência dos trabalhadores
(papel do apontador).
A equipe de compras inicia seu trabalho anteriormente às demais, com a pesquisa de preço de
materiais que irá subsidiar o orçamento do projeto. No decorrer do processo, as demais equipes
desempenham seus papeis na organização e no
desenvolvimento da obra.
Na construção, estão fundamentadas nos projetos reuso de
águas residuais, proposta para o esgotamento sanitário das
habitações.
O acompanhamento da assessoria técnica possibilita a
orientação assistida de todo o processo, porém, baseada na
concepção da autogestão. Nesse sentido, a organização das
equipes são ferramentas que contribuem com a autogestão e
Figura 9: Maquete das etapas de
a vivência dos beneficiários no processo. construção do Assentamento Resistência
A organização das equipes é orientada para um processo Potiguar I, 2006
construtivo coletivo, baseando‐se nos núcleos de moradia. O
ponto chave da organização do processo são as etapas de obra, que orientam a compra dos
materiais e o pagamento da mão‐de‐obra.
2. Planejamento da melhoria e ampliação das moradias
antigas
O segundo eixo trata das moradias construídas há vários anos, a partir de um projeto padronizado
para a maioria dos PAs do País (de 36 a 48m2). Parte delas construída por autoconstrução ou por
1
Segundo a CAIXA, com o recém lançado pacote habitacional do Governo Federal ‐ que não atende aos mutirões, nem aos
movimentos do campo ‐ os demais programas serão extintos. Como fica a, então, as propostas da Lei 1.1888/08?
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construtoras, sem fiscalização e sem registro de autoria. Devido a suas precárias condições, foi criado
o “Crédito Instalação na Modalidade Recuperação”, em 2006, atualmente com recursos no valor de
R$5.000,00.
Os problemas estruturais dessas construções são diversos e requer, portanto um minucioso trabalho
de levantamento e de acompanhamento que, no entanto, não são previstos nos normativos do
INCRA. Este, por sua vez, não tem quadros de engenheiros e arquitetos suficientes para acompanhar,
adequadamente, essas recuperações. Em alguns estados, esses valores foram repassados
diretamente às associações ou a construtoras, que reproduziram as condições iniciais da construção.
No RN, o MST propôs o desafio para a Universidade que criou a metodologia atual, em parte utilizada
pelo INCRA para normatizar o produto de cada experiência, desenvolvida por outras entidades, sob
prolabores de R$60,00 por casa, retirados dos 15% da mão‐de‐obra, só para o projeto, continuando a
construção sem acompanhamento técnico.
No caso da Universidade, o projeto de extensão possibilita este acompanhamento com a
coordenação de professores, participação de estudantes e de recém‐formados. A metodologia
desenvolvida tem as seguintes etapas: 1ª. O levantamento, feito por estudantes de arquitetura –
entrevista com todas as famílias quanto aos sonhos e desejos de melhoria de suas moradias e
medição e vistoria das condições de habitabilidade, engenharia – levantamento dos problemas
estruturais, devidamente anotados e fotografados e medição e vistoria das condições de
habitabilidade e áreas sociais; cabendo, também, aos estudantes, a tabulação das entrevistas e o
desenho dessas unidades; 2ª. Seleção de arquitetos e engenheiros, com um perfil social que se
disponibilizam a realizar trabalho com remunerações simbólicas; 3ª. Realização de anteprojetos por
profissionais, a partir da análise das entrevistas e dos demais levantamentos realizados “in loco”, sob
a supervisão da Universidade e de discussões com as lideranças encarregadas de atuar em cada
experiência; 4ª. Retorno à comunidade: após a realização dos anteprojetos, a equipe formada pela
Universidade, profissionais e Movimento apresenta a metodologia ao conjunto do assentamento e,
posteriormente, à cada família para fazer as alterações necessárias; 5ª. Entrega do dossier com
projetos, memorais descritivos, orçamentos e insumos de cada unidade habitacional ao INCRA, à
associação responsável e à cada família; e, quando possível, 6ª. Acompanhamento da obra: a partir
da aprovação da proposta, cabe ao engenheiro orientar as famílias e os pedreiros, acompanhando a
obra, juntamente com o técnico do INCRA responsável pela área.
As experiências da Universidade são em oito assentamentos: Gonçalo Soares, Rosário (Figuras 11 e
12), Vale do Lírio, São Sebastião I, II e III, Eudorado do Carajás I e Nova Esperança. Em 2009, finaliza‐
se cerca de 200 assessorias e inicia‐se um novo estudo, de comparação entre os sonhos dos
assentados em 10 anos, analisados a partir dessas reformas.
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Figura 10: Organização da obra nos projetos Figura 11: Habitação ampliada,
de reforma das habitações (almoxarifado), Assentamento Rosário, 2008
Assentamento Rosário, 2008
4. Considerações finais
A insuficiência de políticas públicas destinadas a habitações de interesse social no campo e a
inadequação dos projetos de habitats e moradias nos projetos de assentamentos rurais,
impulsionaram o trabalho deste Grupo. A parceria que construiu ao longo desses quatorze anos com
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, em alguns momentos, com o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), busca viabilizar a troca de saberes e de
experiências na melhoria das condições dos habitats e das moradias para os seus usuários. Por outro
lado, objetiva, também, a introdução dos planejadores, arquitetos e urbanistas, engenheiros e outros
profissionais no desenvolvimento de pesquisas e outros trabalhos no meio rural.
Na busca de uma metodologia para habitações de interesse social no meio rural brasileiro, esta
experiência procura criar padrões e critérios para assegurar uma melhor qualidade construtiva e
estética nas habitações dos projetos de assentamentos, quanto aos projetos de novas unidades
habitacionais e nos projetos de melhoria e reforma. Tendo seu enfoque na inserção de profissionais
da área da construção civil, o trabalho envolve, também, pesquisadores de outras áreas, havendo
uma contínua avaliação dos procedimentos metodológicos utilizados. Além disso, há uma
participação ativa dos assentados em todas as etapas dos trabalhos coordenados pelo Grupo. Isto faz
com que eles se apropriem das propostas, identificando‐se com os resultados obtidos. Como
conseqüência, observa‐se uma melhora na qualidade de vida dos assentados, que findam por habitar
num espaço construído adequadamente, seguindo parâmetros técnicos específicos, com o qual
possuem uma forte ligação e identificação.
A atuação de arquitetos e engenheiros civis nos projetos de assentamentos rurais constitui‐se um
novo campo de trabalho, sobretudo como assistência técnica, área onde até bem pouco tempo não
atuavam. Se por um lado contempla melhores resultados técnicos a esses espaços, por outro
demanda um maior trabalho de formação desses profissionais em questões sociais, pois percebe‐se
que ainda são poucos os profissionais interessados neste tipo de trabalho. Soma‐se à falta de
interesse social a perspectiva de baixa remuneração.
Outra característica que deve ser destacada é a possibilidade de qualificação profissional de parte
dos assentados na construção civil, sendo uma possibilidade de emprego, em momentos de entre
safras de sua produção agrícola.
Na esfera da Universidade, tem‐se a oportunidade de atuação conjunta em pesquisa e extensão,
trazendo para o ensino novas perspectivas de conhecimento interdisciplinar, integrando o
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planejamento ao projeto e o seu processo construtivo. Neste contexto, no que diz respeito à
construção de habitações e habitats novos alcançou outros patamares com a inserção dos projetos
financiados pela CAIXA. Para tanto, a metodologia adaptou‐se e criou uma nova relação com o
processo: continuando a coordená‐lo, passou sua execução a profissionais contratados, monitorados
e orientados e respaldaram‐se das regras da CAIXA para limitar a dificuldade de assimilação do saber
técnico pelos construtores, detentores do saber popular.É importante registrar, que a contribuição
do saber popular tem sido fundamental na construção de todas as experiências. No entanto,
configuraram‐se também conflitos, muitos dos quais motivados por disputas e interesses particulares
de alguns assentados pedreiros, em detrimento do coletivo.
No que se refere à melhoria e ampliação das habitações mais antigas, a simples oferta de créditos
não assegura resolver os problemas dessas construções. A falta de estrutura do órgão responsável
pelo planejamento dos assentamentos rurais sem recursos para terceirizar esses serviços implica em
graves conseqüências para o êxito de seus objetivos. Por sua vez, a regulamentação da lei de
assistência técnica gratuita precisa assegurar meios de viabilizá‐la, sobretudo para os mutirões e as
áreas mais distantes dos centros urbanos.
No RN, as dificuldades também não são poucas, como a falta de lideranças envolvidas com a
temática, mas há um trabalho conjunto que possibilita o desenvolvimento de metodologias entre
parcerias, havendo diálogos entre essas que aglutinam suas experiências, saberes e poderes. Há um
longo caminho a percorrer, mas os primeiros passos já foram dados.
5. Referências
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modo de vida camponês. FAU/USP. Dissertação de mestrado. SP, 2007.
BERTOLINI, Valéria A. Ocupando o Cerrado – Avaliação do processo de implantação de
assentamentos rurais no entorno do Distrito Federal. PPG/FAU/UnB. Dissertação de mestrado.
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BOGO, Ademar. O MST e a cultura (MST: Caderno de formação nº 34). 2ª ed. Veranópolis‐RS: ITERRA,
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BORGES, Amadja H. MST – Habitats em movimento: tipologias dos habitats dos assentamentos
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BORGES, Amadja H.; MEDEIROS, Cecília M. R. de. Ciscando como Galinhas: A Política Social das
Habitações dos Assentamentos Rurais no Brasil. In: Seminario Iberoamericano de Ciência y
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BORGES, Amadja. H.; BERTOLINI, Valéria A.; MEDEIROS, Cecília M. R. de. Habitação de interesse
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BRANDÃO, C. Rodrigues (org.). Repensando a pesquisa participante. Brasiliense: São Paulo, 1987.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
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CERQUEIRA, Maria C. T. de. Assentamento Margarida Alves: Contribuição para o processo de criação
de uma Metodologia para o desenho de Habitats Concentrados de Assentamentos Rurais do MST. In:
Seminario Iberoamericano de Ciência y Tecnologia para el Hábitat Popular: desarollo tecnológico
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___________. Assentamento Margarida Alves: contribuição para o processo de criação de uma
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COLÓQUIO HABITAT E CIDADANIA. Manifesto Colóquio Habitat e Cidadania. I Colóquio Habitat e
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FERNANDES, Bernardo M. A formação do MST no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000.
GOHN, Maria da G. História dos movimentos sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. São
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LÉFBVRE, Henri. De lo rural a lo urbano. 4ª ed., Barcelona: Península, 1978.
PAIVA, Irene A. Aprendizados da prática coletiva: assentados e militantes do MST. 2003. Tese
(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2003.
PAULA, Hiramisis P. Educação e sustentabilidade: assentamento Maria da Paz – João Câmara/RN.
2005. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós‐Graduação em Educação/UFRN. Natal, RN,
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SOARES, Vivianne G. M. A construção de um habitat rural: Gestão e Projeto do Assentamento
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Departamento de Arquitetura da UFRN. Natal, RN, 2006.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 34
Débora Sanches
Arquiteta e Urbanista formada pela PUCCAMP em 1994, Mestre em Habitação pelo IPT
em 2008, Especialista em Desenho e Gestão do território municipal pela PUCCAMP,
Especialista em Educação na área de Formação do Professor para o Ensino Superior pela
UNINOVE. Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nove de Julho,
desde 2002 e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, desde 2009. Experiência
Profissional em habitação de interesse social e projetos sociais no poder público desde
1995.
e-mail: dsanches@uninove.br
Luciana Lessa Simões
Arquiteta e Urbanista formada pela FAUUSP em 1987, Mestre em Planejamento Urbano
pela UNB em 1997. Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nove
de Julho desde 1995. Gerente de Urbanização na Prefeitura Municipal de Santo André-
SP, onde atua desde 1989. Experiência Profissional em gestão pública, elaboração de
Plano Diretor e Plano Municipal de Habitação, sistemas de informação, captação de
recursos, financiamentos habitacionais, urbanização de assentamentos precários e
habitação de interesse social. e-mail: lusimoes@uninove.br
Resumo
1. Introdução
Este artigo disserta sobre a criação das Jornadas e a Universidade, evidenciando a
relação entre o ensino de Arquitetura e o direito à Assistência Técnica instituído com a
Lei Federal nº. 11.888/08.
A referida Lei representa um grande avanço na Legislação Urbana Brasileira, pois
concretiza a luta por melhores condições de moradia para as populações mais pobres,
através de Assistência Técnica qualificada.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 35
A universidade tem papel fundamental neste processo de formação dos futuros arquitetos
e urbanista; com este objetivo, a UNINOVE faz parte da organização das jornadas.
Em muitas escolas de arquitetura, ao longo das últimas décadas, foram criadas novas
práticas, através de atividades extracurriculares, onde o plano de ensino interage com
trabalhos e pesquisas junto à população, em particular aquela parcela freqüentemente
excluída dos serviços profissionais do arquiteto. Também nessa perspectiva, existem
arquitetos que trabalham como assessorias técnicas, ou seja, atuam junto à população
de baixa-renda, que são organizadas em grupos de movimentos por moradia e de luta
por melhorias urbanas ou pela regularização da posse da terra.
Neste sentido, a aprovação da Lei Federal nº. 11.888/081 é avanço na concretização da
assistência técnica qualificada a população de renda baixa e a oportunidade da
Universidade prestar um atendimento ou realizar projetos junto a essas comunidades mais
carentes de uma moradia digna. Essa legislação é fruto do esforço desses profissionais e
comunidades na viabilização de antigas reivindicações junto ao poder público,
possibilitada pela edição do Estatuto da Cidade (2001).
2. Jornada
A concepção da primeira jornada foi fruto da articulação de várias entidades, órgãos
públicos e movimentos sociais, envolvidos com questões urbanas relacionadas ao acesso
à moradia digna para a população de baixa renda que mora no município de São Paulo2.
Vale destacar que o município tem cerca de 1,2 milhões de pessoas que moram em
favelas, além de aproximadamente 10.000 moradores de rua, segundo dados do Plano
Municipal de Habitação de 2003, sem contar os loteamentos irregulares e de risco. O
número de moradores de cortiço na cidade de São Paulo é bastante conflitante: a primeira
pesquisa foi realizada pela SEMPLA em 1983, estimando o número de 2,58 milhões de
moradores, representando 29,3% da população do município daquela época. A Fundação
Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE) realizou em 1993, uma pesquisa amostral e
estimou uma população de aproximadamente 595.110 pessoas, morando em 23.688
cortiços nas 20 administrações regionais de São Paulo.
Essa é uma das principais “soluções de moradias” para a ausência de uma oferta
habitacional mais adequada com preço acessível. O déficit habitacional da região
1 o
“ Art. 2 As famílias com renda mensal de até 3 (três) salários mínimos, residentes em áreas urbanas ou rurais, têm o
direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua própria
moradia.”
2 a
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (2008) “1 Jornada em defesa da moradia digna”. Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, São Paulo. 1. ed., p. 09, 2008.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 36
metropolitana de São Paulo, segundo a Fundação João Pinheiro em 2006, é de 723.936
mil unidades e no Brasil a mesma pesquisa demonstra um déficit de 7.935 milhões de
moradias.
A falta de habitação está presente em todas as regiões da cidade: basta circular e
perceber o grave problema. A luta pela habitação é histórica e atinge as diversas áreas:
políticas públicas, jurídica, social e econômica3.
A reflexão sobre o conceito de moradia digna foi pautada com o objetivo da conquista da
cidadania, portanto a discussão habitacional amplia o debate sobre quais são as
premissas que propõem os padrões mínimos de habitabilidade necessários a uma
habitação e também a conquista da cidadania com saúde, educação, salubridade,
transporte público, lazer e infra- estrutura4.
Neste sentido, as várias entidades5 envolvidas na concepção do evento idealizaram a
1ªJornada em Defesa da Moradia Digna6 que teve como objetivo o atendimento à
população excluída de acesso à habitação adequada. A idéia foi realizar um “mutirão da
cidadania”, reunindo no mesmo espaço entidades, órgãos públicos, movimentos sociais e
organizações comprometidas em contribuir com soluções para a conquista da moradia
digna na cidade de São Paulo.
4. Pré-Jornadas
Na preparação da jornada, diante da impossibilidade de abordar toda a demanda, foram
selecionados quatro casos emblemáticos da cidade de São Paulo – Favela do Moinho
(Reintegração de Posse), Jardim Celeste e Brasilândia (Regularização Fundiária) e Vila
Itororó (Usucapião Urbano), como exemplos das situações tipo mais freqüentes. As pré-
jornadas foram visitas realizadas nas comunidades com o objetivo de conhecer a
3 a
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (2008) “1 Jornada em defesa da moradia digna”. Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, São Paulo. 1. ed., p. 09, 2008.
4
Idem
5
Anoreg (Associação dos Notários e Registradores do Brasil), Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, CAICÓ (Centro de
apoio
a iniciativas comunitárias), Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Escritório Modelo “Dom Paulo Evaristo Arns” –
PUC/SP, GARMIC (Grupo de articulação para Moradia do Idoso da Capital), Instituto Pólis, Pastoral da Moradia - Região
Episcopal do Ipiranga, União de Movimentos de Moradia e UNINOVE.
6
Realizada no 24/02/2007- UNINOVE, Unidade Memorial.
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realidade dos moradores, orientar a liderança e mobilizar a população para a participação
na Jornada.
Alunos e professores dos cursos de arquitetura e direito da UNINOVE acompanharam as
visitas com o intuito de informar a realização do evento e conhecer a realidade daquelas
comunidades.
7
(unidade memorial)
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Figura 9: II Jornada realizada na UNINOVE dia 14/02/2009 Figura 10: recreação com as
crianças
Foto: Luis Octavio Rocha Foto: Luis Octavio Rocha
9. Considerações Finais
O processo da Jornada trouxe para a Universidade Nove de Julho a criação de um
grupo12 de estudos sobre Produção Arquitetônica do Habitat Humano, onde são
desenvolvidas pesquisas de professor docente e de iniciação científica, como as
seguintes:
- Habitação de interesse social: a produção estatal em São Paulo;
- Habitação de Interesse Social: a produção realizada a partir da década de 90 no
município de São Paulo;
- Pós-ocupação dos empreendimentos de Habitação de Interesse Social na área central
de São Paulo;
11
(unidade memorial)
12
Participam professores e alunos do curso de arquitetura e urbanismo.
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- A produção privada de HMP e HIS – efeitos da aplicação das ZEIS em São Paulo;
- Análise das intervenções imobiliárias nas Zeis (zonas especiais de interesse social)
dasSubprefeituras Lapa e Sé.
A participação dos alunos na Jornada e consequentemente nas pesquisas em
desenvolvimento, direcionou os que estavam no período do TFG13 a desenvolver temas
relacionados habitação popular e da urbanização de assentamentos habitacionais.
10. Referências
CARICARI, Ana Maria e KOHARA, Luiz (orgs.) (2006) Cortiços em São Paulo: Soluções
Viáveis para Habitação Social no Centro da Cidade e Legislação de Proteção à Moradia.
São Paulo: Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, 2006.
13
Trabalho Final de Graduação
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Arq.Urb. Gilson Jacob Bergoc, M.Sc.
Arq.Urb. Ivanóe de Cunto, M.Sc.
Arq.Urb. Ivan Prado Jr., M.Sc.
Resumo
A experiência do programa de extensão denominada “Projeto Casa Fácil” é relatada neste artigo,
compreendendo um breve histórico, as parcerias que viabilizaram o programa, os resultados obtidos
no período mais recente, a participação discente, dificuldades encontradas, a disseminação dos
resultados e uma breve análise das necessidades de adequação do programa à nova legislação – Lei
nº 11.888/08 – e os desafios decorrentes de suas determinações quanto aos aspectos operacionais,
tecnológicos, sociais, políticos e profissionais, bem como as implicações para o processo de ensino na
perspectiva da formação de profissionais conscientes e compromissados com a realidade sócio‐
econômica e política brasileira.
Introdução
Mesmo sem ter uma legislação específica sobre Assistência Técnica a UniFil juntamente com outros
parceiros vem realizando este importante trabalho de Arquitetura Social desde a década de 1990.
A partir de um convênio firmado entre a Prefeitura do Município de Londrina, o CREA‐PR – Conselho
Regional de Engenharia e Arquitetura, o CEAL – Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina e o
CESULON – Centro de Estudos Superiores de Londrina –, posteriormente transformado em UniFil –
Centro Universitário Filadélfia –, e a UEL – Universidade Estadual de Londrina, é realizado desde 1994
um programa de extensão denominado Projeto Casa‐Fácil. É realizado pelo curso de Arquitetura e
Urbanismo da UniFil por meio do Escritório Modelo. Este programa foi implantado no Estado do
Paraná, por iniciativa do CREA – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – que
realizou inicialmente convênios com várias Prefeituras Municipais que tinham a incumbência de
“fornecer a plantinha” para famílias carentes. A partir da década de 1990 as organizações
profissionais passaram a integrar o convênio e no caso de Londrina as Instituições de Ensino Superior
que tivessem interesse em participar. Neste período entram o CESULON e a UEL, assumindo a parte
da elaboração do projeto, promovendo uma mudança de qualidade no atendimento a famílias
carentes. O presente relato limita‐se à experiência verificada na UniFil.
O Convênio firmado entre as partes citadas previa que:
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 43
1. o CREA isentaria da taxa de A.R.T. os projetos de arquitetura e execução de
obras até o limite de 70m2 às famílias que participassem do programa,
limitado à renda máxima de 3 salários mínimos e que não tivessem mais de
uma propriedade urbana.
2. a Prefeitura deveria isentar de taxas, impostos e emolumentos cabendo a ela
informar sobre a condição da família, quanto à propriedade e demais
informações referentes ao terreno onde seria executado o projeto; caberia
ainda agilizar os procedimentos de aprovação em função do interesse social
representado por esse tipo de obra.
3. as entidades organizariam os aspectos técnicos do atendimento, cabendo ao
CEAL a articulação entre profissionais e as Instituições de ensino, bem como o
aluguel de imóvel, mobiliário e material de expediente para o funcionamento
do programa, que teriam os custos operacionais cobertos por repasses da
Prefeitura Municipal.
4. os profissionais participantes eram geralmente docentes – de Arquitetura e
Urbanismo e Engenharia ‐ das Instituições de Ensino que realizavam o
trabalho com o auxilio de estagiários de arquitetura e urbanismo.
O Casa Fácil visa fornecer projetos arquitetônicos de moradia popular, limitado a 70m2 de área
construída, destinado a população de baixa renda da cidade de Londrina, com renda familiar de no
máximo 3 salários mínimos e que possui somente um lote devidamente urbanizado nesta cidade. O
programa se justifica pela necessidade de oferecer condições de moradia às classes mais
desfavorecidas da população, possibilitando condições dignas de moradia para estes.
O Casa Fácil visa fornecer projetos arquitetônicos de moradia popular, limitado a 70m2 de área
construída, destinado a população de baixa renda da cidade de Londrina, com renda familiar de no
máximo 3 salários mínimos e que possui somente um lote devidamente urbanizado nesta cidade. O
programa se justifica pela necessidade de oferecer condições de moradia às classes mais
desfavorecidas da população, possibilitando condições dignas de moradia para estes.
Em função da falta de repasse de verbas da Prefeitura para a manutenção do programa, que havia
sido acordado no Convênio, o CEAL se retirou, pois estava bancando todos os custos para sua
operacionalização. Isso desarticulou o trabalho durante certo período.
Após um período de interrupção, entre 1998 e 2001, a UniFil retomou o Projeto Casa Fácil em 2002 ,
refazendo o Convênio apenas com o CREA e a Prefeitura.
Em 1996, levantamento feito sobre os projetos realizados apurou 558 projetos realizados no 1º
semestre, no trabalho conjunto entre as Instituições de Ensino – CESULON e UEL – o CEAL, a
Prefeitura e o CREA‐PR. Na época, verificou‐se que 30% dos projetos tinham área
projetada/construída de no máximo 51m2. Áreas maiores que 51m2 até 68,99m2 foram 43% dos
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 44
projetos e entre 69 e 70m2 foram 27% dos projetos realizados no período. (Staut, L.A.V. et all, 1996
p.54).
Entre de 2002 e dezembro de 2008 foram desenvolvidos projetos para 1.191 famílias de Londrina,
perfazendo uma área projetada de aproximadamente 83.370 m². (Cunto. I. De. 2008). Não há ainda
estudo sobre o tamanho e tipologia dos projetos realizados neste período.
A elaboração dos projetos ocorre nas dependências da Instituição, em local específico e sob a
coordenação de professores arquitetos urbanistas. Os alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo
participam como estagiários, auxiliando em todo o procedimento. Inicialmente é feito o atendimento
com os interessados, que passam por triagem sócio‐econômica. Os aceitos no projeto são
entrevistados com o objetivo de fazer o levantamento do programa de necessidades a partir do qual
é elaborado o projeto arquitetônico. Após o aceite do projeto pela famíla/cliente é feita a plotagem
das plantas de aprovação, a anotação de A.R.T, assinada pelo professor responsável pelo programa, e
orientações finais de encaminhamento para aprovação do projeto na Prefeitura do Município de
Londrina.
O atendimento aos clientes acontece de segunda‐feira a sexta‐feira das 8:00 às 12:00 e das 13:30 às
19:00 horas e aos sábados das 8:00 às 12:00, possibilitando atendimento àqueles que não podem
comparecer durante a semana para as entrevistas necessárias. O atendimento aos sábados permite
aos alunos estagiários do período noturno do Curso de Arquitetura e Urbanismo um dia a mais para a
realização de seu estágio.
Resultados obtidos
No ano de 2007 foram atendidas 261 famílias com projetos de residências. Em 2008 ocorreu redução
na quantidade de projetos realizados, contrariando a tendência de aumento que se verificava na
UniFil nos últimos anos. No ano de 2008 foram atendidas apenas 198 famílias. O gráfico 1, a seguir,
mostra a evolução do atendimento ao público ao longo dos anos.
Segundo a Prefeitura Municipal de Londrina, que faz o encaminhamento das famílias, essa redução
foi devida à baixa procura ocorrida no ano. Mas, a partir de 2008 a Prefeitura passou a cobrar taxas
dos participantes do programa que até então tinham isenção. São as taxas de alvará, na aprovação, e
depois a do ISSQN – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Os participantes também
recebiam gratuitamente as cópias do projeto. Outro fator que pode estar relacionado à menor
procura por projetos é a crise econômica que atinge todos os setores e atividades. A explicação mais
provável é de que este conjunto de fatores acabou influenciando momentaneamente a demanda.
Entretanto é importante ressaltar que a cobrança de taxas inibe de forma imediata a procura pelos
procedimentos de aprovação. O custo desse procedimento, por menor que seja, representa certa
quantidade de material de construção que deixaria de ser utilizado para realizar o sonho da própria
casa. Certamente tem um grande peso na decisão popular a escolha entre “gastar com papel” e
“gastar com o material de construção”.
Gráfico 1
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Quantidade de famílias atendidas pelo Casa Fácil – UniFil – 2002/09
50
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Ano
Fonte: Casa Fácil – UniFil, 2008
Os projetos elaborados em 2008 correspondem a cerca de 13.500 m2 de área projetada pelo
Programa Casa Fácil.
Participação discente
O Programa abre um interessante campo para o estágio, necessário à formação profissional dos
acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo. Possibilita ao estudante desenvolver as
habilidades técnicas necessárias para a elaboração de projetos arquitetônicos, além do contato com
clientes, situação impossível de ser simulada em sala de aula. Em 2008 os trabalhos foram iniciados
com 12 estagiários e concluídos com 17, demonstrando o interesse dos alunos por este tipo de
atividade, cujo diferencial é proporcionar um ambiente de maior proximidade entre a rotina de um
escritório, desde o atendimento do cliente até os procedimentos finais de aprovação do projeto na
Prefeitura. Os estagiários realizam de 8 a 30 horas semanais, dependendo do interesse e
disponibilidade de cada um. Em 2008 foram computadas cerca de 217 horas semanais, com média é
de 12,7 horas/semanais por aluno. (Cunto. I. De. 2008).
Dificuldades encontradas
Dentre as dificuldades enfrentadas na execução deste programa atualmente sobressaem as que
afetam mais o aspecto operacional e administrativo. Os dois computadores utilizados estão muito
desatualizados e não permitem um trabalho eficiente. Esse fato obriga os alunos a utilizarem
notebooks próprios, que pode ser perigoso em razão de roubos no transporte do equipamento, além
da perda de arquivos. Seria fundamental a substituição desses computadores com cerca de 5 anos de
uso no programa. Outra dificuldade são as constantes quebras dos dois plotters do programa que
impossibilitaram a impressão de vários projetos prontos no final de 2008.
Vale ressaltar que estes computadores são provenientes de um convênio de comodato entre o CREA‐
PR e a UniFil, firmado em 2003, que possibilitou melhorar muito o atendimento do programa
naquele momento. Os plotters pertencem ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifil.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 46
Esses eventos propiciaram a divulgação do Programa para a população, para o corpo docente e
discente da UniFil e da Universidade Estadual de Londrina – UEL, ocasião em que houve troca de
informações com a UEL, que tem programa de extensão similar.
No caso específico do Paraná, e mais ainda de Londrina, novos Convênios deverão ser firmados,
visando atender os direitos assegurados pela legislação, notadamente o da construção da obra
previsto no artigo 2º, e detalhado no parágrafo primeiro:
“O direito à assistência técnica previsto no caput deste artigo abrange todos os
trabalhos de projeto, acompanhamento e execução da obra a cargo dos
profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia necessários para a
edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação.”
Para atender esta demanda todo o procedimento de funcionamento adotado até então deverá ser
reformulado.
Um Seminário sobre o assunto foi promovido pelo CREA‐PR com a participação de várias entidades
que trabalham com o programa em outras cidades da região. O CREA‐PR propôs minuta de um novo
Convênio visando adequar o programa à nova legislação.
Em Londrina, algumas questões precisam ser solucionadas, como a aprovação de uma legislação
específica visando atender às determinações da legislação federal, particularmente ao artigo 3º.
Somente agora, após a posse de um novo Prefeito é que poderá ser encaminhado, pois trata de
matéria financeira que cabe à iniciativa do Poder Executivo.
Há também os aspectos técnicos, sociais, políticos e ambientais, que são os desafios de buscar
“inovação tecnológica, a formulação de metodologias de caráter participativo e a democratização do
conhecimento” (§ único do art. 5º da Lei nº 11.888/08), ou mesmo no processo de “seleção dos
beneficiários finais dos serviços de assistência técnica” cujo atendimento deve acontecer “por meio
de sistemas de atendimento implantados por órgãos colegiados municipais com composição paritária
entre representantes do poder público e da sociedade civil” (§ 4º do art. 3º da Lei nº 11.888/08).
Todos esses desafios devem estar harmonizados com os objetivos da Lei, ou seja:
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“I ‐ otimizar e qualificar o uso e o aproveitamento racional do espaço edificado e
de seu entorno, bem como dos recursos humanos, técnicos e econômicos
empregados no projeto e na construção da habitação;
II ‐ formalizar o processo de edificação, reforma ou ampliação da habitação
perante o poder público municipal e outros órgãos públicos;
III ‐ evitar a ocupação de áreas de risco e de interesse ambiental;
IV ‐ propiciar e qualificar a ocupação do sítio urbano em consonância com a
legislação urbanística e ambiental.” (itens do § 2º, art. 2º da Lei nº 11.888/08).
O desafio concreto às escolas de Arquitetura e Urbanismo é articular o processo do ensino com os
aspectos reais da produção da casa – e da cidade – para formar profissionais que também tenham a
responsabilidade sobre seu papel técnico e social. Isso pode e deve ser feito por meio de programas
de extensão à comunidade, envolvendo os mais diversos agentes para que a assistência técnica
chegue de fato às pessoas que necessitam.
Acredita‐se que com esse processo a boa arquitetura poderá ser valorizada e soluções inovadoras
repercutirão na (re)construção das cidades brasileiras, tão esquecidas pelas políticas públicas até
recentemente. Espera‐se assim, produzir melhorias nas condições da habitação popular e
conseqüentemente das condições de vida da população carente deste Brasil. Depende muito de
como as Instituições de Ensino procederão frente e esse desafio.
Referências bibliográficas
Cunto, I. De. Relatório do Programa de Extensão “Projeto Casa Fácil” de 2008. (2008) Londrina,
arquivo digital, 2008.
BRASIL. Lei nº 11.888 de 24 de dezembro de 2008. In
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.888‐
2008?OpenDocument acessado em 28/04/2009.
Staut, L.A.V.; Silvestri, L.; Oyakawa, M.; Kakihata, S.M.; Bergoc, G.J. Casa Fácil. (1996) In Anais do 4º
Simpósio de Estudantes do CESULON. Londrina: Cesulon, 1996. p. 54‐55.
Bergoc, G.J.; Prado Jr., I.; Cunto, I. De. O programa Casa Fácil‐UniFil: extensão universitária e inserção
social. Encontro de Extensão (v.1, n.1.: 2007: Londrina). Anais [eletrônico] do I Encontro de Extensão
da UniFil, 29 a 31 de outubro de 2007. Londrina: UniFil, 2007. In
<http://www.unifil.br/I_Encontro_Extensao/sumario.asp> acessado em 29/04/2009.
Bergoc, G.J.; Prado Jr., I.; Cunto, I. De. Programa Casa Fácil – UniFil, um programa de extensão
Universitária e de inserção social. Anais [eletrônico] do II Encontro de Extensão da UniFil, 10 a 11 de
novembro de 2008. Londrina: UniFil, 2008. In
<http://www.unifil.br/II_Encontro_Extensao/sumario.asp> acessado em 29/04/2009.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 48
MARCELO, Virgínia C.C. Professora Drª. e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UniABC.
Coordenação.arquitetura@uniabc.br (11) 49919884. Avenida Industrial 3330, santo André – SP;
VIZIOLI, Simone Helena Tanoue. Professora Drª e Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UniABC. simonehtv@uniabc.br (11) 49919894. Avenida Industrial 3330, santo André – SP.
SARAPKA, Elaine Maria. Professora Msc. e Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UniABC.
lanarq2001@yahoo.com.br (11) 49919894. Avenida Industrial 3330, santo André – SP.
Resumo
I. Introdução
Em 2008 foi instituído o escritório modelo da Universidade do Grande ABC, denominado
“Compasso”. O eixo norteador deste escritório segue os postulados da União Internacional
de Arquitetos (UIA):
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- garantir qualidade de vida digna para todos os habitantes dos assentamentos humanos;
- uso tecnológico que respeite as necessidades sociais, culturais e estéticas dos povos;
Com base nos objetivos descritos acima, em 2008, o escritório “Compasso” prestou
atendimento gratuito aos moradores do Condomínio Vila Guiomar, localizado no município
de Santo André. O Conjunto IAPI Vila Guiomar representa um importante papel na história
da habitação popular brasileira, pois foi uma das primeiras tentativas estatais de construção
de moradias com recursos previdenciários.
O Conjunto começou a ser implantado na década de 1940. O IAPI Vila Guiomar foi o
primeiro grande conjunto da região, com uma população estimada em 8.000 pessoas –
cerca de 5% da população do município que, em 1955, era de aproximadamente 162.000
habitantes (MINDRISZ, 1990, apud PESSOLATO, 2007, p. 102).
Figura 1: Conjunto Habitacional Vila Guiomar – Santo Figura 2: Conjunto Habitacional Vila Guiomar – Santo André.
André. Fonte: MARCELO, 2008.
Fonte: MARCELO, 2008.
Desde as primeiras reuniões entre o cliente (Conjunto Vila Guiomar) e o Escritório Modelo
“Compasso”, ocorreu participação intensiva dos alunos do Curso (Figura 4 e 5). No
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 51
estabelecimento das propostas e metas, houve grande possibilidade de ampliação dos
conhecimentos teóricos e práticos dos estudantes, resultado gerado por essa experiência
real.
Figura 4: Reunião na UniABC entre alunos, professores Figura 5: Reunião na UniABC entre alunos, professores e
e representante da Comunidade Vila Guiomar – início da representante da Comunidade Vila Guiomar – início da
elaboração do projeto arquitetônico sustentável da Sede. elaboração do projeto arquitetônico sustentável da Sede.
Foto: CALSONE, 2008 Foto: CALSONE, 2008
O trabalho foi dividido em duas etapas: a primeira consistia no estudo da fachada, com a
recuperação das características arquitetônicas do período de sua construção e a segunda,
estava direcionada ao projeto arquitetônico da futura sede administrativa.
- o espaço térreo originariamente aberto, com pilotis aparentes, para uso comum dos
moradores foi transformado garagens particulares, algumas com porta de enrolar e
outras com porta de madeira; conforme Figura 6;
Figura 6: situação atual de um edifício do Conjunto Figura 7: proposta de recuperação dos elementos modernistas
Habitacional Vila Guiomar (fonte: SHTV, 2008). da fachada (fonte: Escritório Compasso, 2008).
uma pintura homogênea em cor escura nos fechamentos das garagens para ressaltar os
pilares que serão pintados numa tonalidade mais clara.
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Figura 8: situação atual dos fundos de um edifício do Figura 9: proposta de recuperação dos elementos
Conjunto Habitacional Vila Guiomar (fonte: SHTV, 2008). modernistas da fachada e elemento vazado sugerido (fonte:
Escritório Compasso, 2008).
Foi estudado e testado, pelos alunos no laboratório de edificações (LABSUS): painel solar
confeccionado com garrafas pet e embalagens tetra pak, materiais alternativos para
promover a acessibilidade de idosos e cadeirantes e filtro caseiro para reuso da água
pluvial.
A organização espacial da sede administrativa foi desenvolvida pelos alunos, resultado das
reuniões com a comunidade onde foram apresentadas as necessidades específicas. O
trabalho contou com várias etapas entre a elaboração e finalização do projeto.
O telhado foi projetado em duas águas com caimento central para facilitar a coleta de água
pluvial, conforme Figura 11.
Figura 10: Projeto da sede administrativa desenvolvida no Figura 11: Perspectiva isométrica da sede administrativa (fonte:
escritório Compasso Escritório Compasso, 2008)
a. Coletor solar
O projeto utilizou o manual disponibilizado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado do Paraná, SEMA. O coletor diferencia-se dos demais, pois para
baratear o custo, utilizaram-se nas colunas de absorção térmica, tubos e conexões de PVC,
menos eficientes que os tubos de cobre e alumínio utilizados nos coletores convencionais.
As garrafas pet e caixas Tetra Pak, substituem a caixa metálica, o painel de absorção
térmica e o Vidro utilizado nos coletores convencionais. O calor absorvido pelas caixas Tetra
Pak, pintadas em preto fosco, é retido no interior das garrafas e transferido para água
através das colunas de PVC, também pintadas em preto. As garrafas utilizadas são de
preferência transparentes, do tipo Pepsi e Coca e outras marcas com o mesmo perfil
(figuras 12 e 13).
Figura 12: embalagens tetra pak (longa vida). Fonte: VIZIOLI, Figura 13: envolvendo a tubulação com embalagem
2008. tetra pak . Fonte: VIZIOLI, 2008
Para o reuso da água pluvial, foi sugerida a instalação de um filtro caseiro melhorando a
qualidade da mesma. O objetivo deste filtro consiste em reter impurezas sólidas como
folhas, bichos de pequeno porte e/ou resíduos e eventuais lixos que possam estar no
telhado, entre outros. A proposta tem como finalidade o reuso de água para limpeza em
geral e rega de jardins.
c. Acessibilidade
O trabalho teve como objetivo propor um sistema de baixo custo para adaptar o banheiro de
uma unidade habitacional pertencente ao Conjunto. Foi proposto o uso de piso
antiderrapante, feito com sobras de lixas de marcenarias. A pesquisa desenvolveu também,
um sistema de barras de apoio com a utilização de “sobras” de tubo de PVC da construção
civil. Estes elementos, além de atenderem às normas de acessibilidade, baratear o custo da
adaptação, contribuem para reduzir o volume de resíduos depositados diariamente nos
aterros sanitários (Figuras 14 e 15).
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Figura 14: lixa de esteira descartada pelas marcenarias. Figura 15: piso acabado, com aplicação de
Fonte: VIZIOLI, 2008. resina para impermeabilização. Fonte:
VIZIOLI, 2008.
IV. Conclusões
A instituição de ensino, com esses trabalhos, cumpre o seu papel social de informação e
capacitação da comunidade. Além disso, estimula os alunos a exercitarem e propagarem os
conhecimentos por eles adquiridos (Figura 16 e 17).
Figura 16: Comunidade acompanha apresentação Figura 17: Alunos apresentam projeto à comunidade.
de projeto pelos alunos na UniABC. Fonte: VIZIOLI, Fonte: VIZIOLI, 2008.
2008.
V. Bibliografia
ALANO, Jose Alcino (2004). Manual sobre construção e instalação do aquecedor solar com
descartáveis. Santa Catarina, 2004.
PESSOLATO, Cíntia (2007). Conjunto IAPI Vila Guiomar – Santo André – SP: projeto e
história. Dissertação apresentada à FAUUSP para obtenção do título de Mestre. São Paulo:
2007.
MANCUSO, Pedro Caetano Sanches; SANTOS, Hilton Felício dos; Editores (2003). Reuso
de água. São Paulo: Manole, 2003, 579p.
VIZIOLI, Simone Helena Tanoue (2007). A acessibilidade básica para a pessoa portadora de
deficiência física. In LIANZA, Sergio (org.), Medicina de Reabilitação. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan AS, 2007.
Ana Paula Farah. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP (1996) e segunda
graduação pela Università degli Studi di Ferrara - Itália (2005). Especialista em Restauro
Arquitetônico pela PUCCAMP (1999) e PUCPR (2006) e Mestre em Tecnologia do Ambiente
Construído pela EESC-USP (2003). Atualmente fazendo doutorado na FAU-USP.
Resumo
1
Essa pesquisa está sendo desenvolvida no âmbito do Doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo sob a orientação da Profa. Dra. Beatriz Mugayar Kühl, cujo o tema é Restauro Arquitetônico: a
Formação do Arquiteto no Brasil para Preservação do Patrimônio Edificado.
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O campo disciplinar do restauro arquitetônico: problemáticas na formação do
arquiteto contemporâneo1
A primeira iniciativa de relevo para formar arquitetos especialistas para atuar no campo
disciplinar do restauro foi feita através do “Curso Internacional de Especialização” promovido
em 1965, iniciativa da Facoltá di Architettura da Università degli Studi di Roma “La
Sapienza” em conjunto com o International Centre for the Study of the Preservation and the
Restoration of Cultural Property - ICCROM 5.
Desde então, esse tipo de iniciativa vem amadurecendo aos poucos e se tornando mais
numeroso. Em 1993, o ICOMOS (International Council on Monuments and Sites), descreve
1
Algumas colocações deste artigo estão em: FARAH, Ana Paula. Restauro arquitetônico: a formação do arquiteto no Brasil
para preservação do patrimônio edificado. História, 2008, vol.27, no.2, p.31‐47.
2
Em 1919‐20 cria‐se a Reale Scuola Superiore di Architettura di Roma, e transforma‐se em 1935, Facoltà di Architettura dell’
Università degli Studi di Roma“La Sapienza”, a primeira Faculdade de Arquitetura no território italiano. No ano 2000 foi
subdividida em: Prima Facoltá di Architettura “Ludovico Quaroni” e Facoltà di Architettura “Valle Guilia” , sendo as duas
pertencentes a Università degli Studi di Roma“La Sapienza”. Importante salientar que foi a primeira faculdade a ter na
grade disciplinar a disciplina de Restauro Arquitetônico, a primeira iniciativa no âmbito mundial.
3
VENTURI, Ghino. La Scuola superiore d’Architettura. In. Architettura e Arti Decorative. Rivista d’arte e di storia, fasc. III,
novembre 1924, p.112.
4
JOKILEHTO, Jukka. Sull’insegnamento nel campo del restauro dei monumenti in vari paesi. In: Restauro, Anno
16. N. 94, 1987. p. 99 – 104. Nesse artigo, o autor descreve as experiências em vários países europeus e
disserta sobre a Finlândia, diagnosticando seus problemas e algumas soluções tomadas para o melhoramento
desse campo disciplinar.
5
GAZZOLA, Piero, Training architect‐restorers. In UNESCO. Preserving and restoring monuments and historic buildings.
Paris: UNESCO,1972, p. 257. Apud. SAMPAIO, Júlio Cesar Ribeiro. A conservação na formação do arquiteto: o caso do curso
de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. In. I Jornada do Patrimônio Cultural no
Espírito Santo, 2006. Vitória, Anais, UFES, 2006. CD‐ROM.
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as “Linhas de Orientação sobre a Educação e a Formação em Conservação de
Monumentos, Conjuntos e Sítios Históricos”1 reconhecendo que no âmbito da restauração
faz-se necessário a colaboração, no processo de intervenção, uma gama de profissionais
(interdisciplinaridade), que tenham uma sólida formação e o conhecimento do campo
disciplinar para que haja a garantia de um projeto adequado e a transmissão do legado
cultural às gerações futuras.
1
Disponível em <http://www.quintacidade.com/wp‐content/uploads/2008/03/linhas‐de‐orientacao‐sobre‐formacao‐em‐
conservacao.pdf >.Acesso 16 de fevereiro de 2009.
2
Work Programme Education : UIA/UNESCO Charter for Architectural Education, June 1996. Disponível em
<http://www.unesco.org/most/uiachart.htm> Acesso 16 de fevereiro de 2009.
3
Idem
4
Disponível em < http://www.uia‐architectes.org/image/PDF/CHARTES/CHART_ITA.PDF>. Acesso 16 de fevereiro de 2009.
5
Esse manifesto está no site oficial. Disponível em < http://www.ceunet.org/viseu.htm> Acesso em 22 de junho
de 2008, 11:45 e também a versão traduzida para o português em
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1090&sid=21 > Acesso em 23 de
julho de 2008, 07.50.
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evidenciando a necessidade de se trabalhar conjuntamente a Arquitetura e o Urbanismo;
neste sentido, alguns princípios importantes foram enunciados:
Nesse sentido, percebe-se que há uma necessidade muito grande na esfera do ensino
deste campo disciplinar, tanto na graduação quanto na pós-graduação, para que tenhamos
profissionais apropriados a exercerem esse papel na cidade contemporânea.
1
Manifesto sobre o Ensino de Arquitetura no século XXI, traduzida por Mauro Almada. Disponível
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1090&sid=21 > Acesso em 23 de
julho de 2008, 07.50.
2
RABBI, Olivia. Le “Nuove Radici Antiche” nella formazione dell’architetto del duemila. In: Tema: tempo materia
architettura, N. 4, 1998, p. 74 – 76.
3
Claro que nesse caso específico, não estamos falando somente do ensino do restauro arquitetônico, mas do
ensino que engloba todas as disciplinas referentes à formação do arquiteto.
4
Um dos princípios básicos no Manifesto sobre o Ensino de Arquitetura no século XXI, traduzida por Mauro Almada. Op. Cit.
5
CARBONARA, Giovanni. Riforma Universitaria. Ripercussioni alla formazione specialistica. In: ARKOS: Scienza
e Restauro, Anno. n., 2002. p. 10 -17.
6
Essa reforma universitária veio para resolver alguns problemas das universidades italianas e um exemplo que podemos
citar é o prolongamento excessivo do tempo dos estudos (duração da graduação) e uma enorme presença de estudantes
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principalmente na permanência (tempo do curso) dentro da universidade. Primeiramente foi
a mudança na duração do curso, passa-se de cinco anos para três anos, que introduz uma
formação de base de três anos e, após esse ciclo, o desenvolvimento da “laurea
specialistica” (graduação especializada) de dois anos. Com isso, iremos encontrar no
mercado de trabalho um novo profissional1, podendo ou não ser uma opção adequada à
problemática desse campo, não sabendo ao certo como atuar no campo teórico e no prático.
Ao mesmo tempo em que essa mudança na graduação foi positiva, pois pelo menos o
profissional adquiriu esse conteúdo no curso de graduação, e segundo Carbonara2, a
alteração resulta danosa em relação à formação da pós-graduação: cria-se, assim, uma
“confusão” entre conteúdo oferecido tanto na graduação (graduações especializadas em
restauro) quanto nos cursos de aperfeiçoamento, especializações, mestrados e doutorados.
Esse é um dos principais problemas no ensino de restauro arquitetônico: a definição do seu
conteúdo programático nos vários níveis de formação. No âmbito da graduação, não é
possível transmitir todo o conhecimento dessa disciplina, por isso a importância de haver
uma pós-graduação nesse campo específico.
fora do curso e estudantes que abandonam. Por isso, foram reduzido a três anos. Isso resulta num “irreal” diploma de
graduação.
1
Pensando no âmbito brasileiro, do qual não encontramos uma exata disciplina que aborde as questões do restauro
arquitetônico na graduação, essa reforma universitária ocorrida no final dos anos 90 na Itália, seria um exemplo a ser
seguido em nosso país para que possamos iniciar uma cultura em relação à recuperação, preservação e conservação do
nosso patrimônio arquitetônico.
2
CARBONARA, Giovanni. op.cit. p. 10 ‐17.
3
LUMIA, Chiara. A proposito del Restauro e della Conservazione – Colloquio con Amadeo Bellini, Salvatore
Boscarino, Giovanni Carbonara e B. Paolo Torsello. Roma: Gangemi Editore, 2003. p.89 -93.
4
LUMIA, Chiara. op. cit. p. 89. “Sul piano della formazione, invece, quale profilo formativo, istituzionalizzato o no,
consigliereste a chi voglia occuparsi d’interventi sul costruito, anche in relazione alle riforme attualmente in via di
definizione?” Tradução feita pela autora.
5
LUMIA, Chiara. op. cit. . p. 89.
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da medicina, em que se necessita de uma formação de base, e de uma especialização. A
formação do arquiteto-restaurador exige, antes de tudo, uma formação de arquiteto e sua
prática e, depois, uma especialização nas áreas específicas, não relegando a
responsabilidade somente aos cursos de “post lauream” para tal formação1. Devemos
amadurecer isso no contexto brasileiro, evidenciando, porém o número reduzido dos cursos
de pós-graduação no país2.
Nessas mesmas afirmações, Carbonara levanta questões no que diz respeito à graduação
em Bens Culturais, prática que está começando a se desenvolver no contexto brasileiro3.
Não se sabe ao certo qual profissional que será formado e de que forma será inserido no
mercado de trabalho.
Boscarino nota outro problema muito danoso à formação, a introdução dessa disciplina de
restauro em outros cursos como os de Letras, Engenharia e o de Bens Culturais5, que
Carbonara já havia mencionado. E mais uma vez a confirmação da responsabilidade que só
o próprio arquiteto é capaz de atuar no restauro arquitetônico.
Na mesma linha de pensamento, Amadeo Bellini enfatiza a preocupação dos outros cursos,
que não de arquitetura para formação desses profissionais para trabalharem no campo do
restauro, e destaca ainda a questão da prática do arquiteto, principalmente no que se refere
aos procedimentos da atuação. Necessita de uma experiência prática para que haja um
conhecimento maior para essa atuação.
1
Esse é um dos principais objetivos propostos a esse trabalho. A importância de haver uma formação de base no curso de
arquitetura e urbanismo para atuar nessa área específica.
2
Se formos analisar, por exemplo, o estado de São Paulo, onde encontra‐se 30% das escolas de arquitetura no Brasil,
entorno de 64 cursos, existem somente um curso de pós‐graduação, o da Universidade Católica de Santos: Restauro do
Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico oferecido bienalmente.
3
Hoje no Brasil já existe uma Graduação Tecnológica em Conservação e Restauro de Bens Culturais da Universidade Estácio
de Sá no Rio de Janeiro e um curso Superior de Tecnologia da Conservação e Restauração de Imóveis em Ouro Preto. Como
o próprio Carbonara comenta sobre esse tipo de curso, qual é a responsabilidade desse profissional? Em que campo poderá
atuar? Bens móveis, bens imóveis? Essas são uma das problemáticas levantadas.
4
LUMIA, Chiara. op. cit. p. 90-91.
5
Devemos esclarecer que esses cursos supracitados são referentes ao território italiano.
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Vemos a importância de uma formação de base do arquiteto, referente aos conceitos de
restauro arquitetônico, não permitindo assim uma distinção entre profissionais que queiram
ocupar-se somente do novo e daqueles que deverão realizar intervenções no pré-existente;
ou seja, o arquiteto deverá ter uma formação no campo disciplinar do restauro para que
tenha instrumentos e repertórios ao projetar o novo ou intervir em algo já existente.
Para Paolo Torsello1, como enfatizam os outros autores, restauro é um campo disciplinar
altamente especializado; por esse motivo requer preparação cuidadosa teórica, técnica e
prática. Torsello critica a crescente demanda do “mercado”, à qual corresponde uma grande
oferta de trabalho e uma baixa qualidade profissional e destaca que, ao mesmo tempo em
que se disponibilizam cursos de alta qualidade para a formação dos arquitetos, também se
deva pensar na formação dos outros profissionais que atuam nesse campo. Nesse aspecto,
devemos pensar no âmbito técnico da disciplina e também na preocupação não somente
com a formação dos arquitetos, mas dos profissionais que atuam nessa área como
historiadores, químicos, físicos, geólogos, arqueólogos, engenheiros, etc., numa gama da
atuação interdisciplinar.
Mediante essa discussão que acontece atualmente no âmbito italiano e tentando trazer essa
experiência para o contexto brasileiro, deve-se discutir a importância da formação do
arquiteto na área do patrimônio arquitetônico. Nota-se que a responsabilidade para atuar
nesse campo cabe primeiramente ao profissional com a formação em arquitetura, que deve
ter o papel de articulador das demais competências envolvidas.
No que se refere ao ensino de restauro, o IPHAN (antigo SPHAN), junto com as escolas de
Arquitetura do estado de São Paulo, na década de 60 e 70 do século passado, promove o
amadurecimento das idéias preservacionistas dos futuros profissionais completada pela
1
LUMIA, Chiara. op.cit. p. 92-93.
2
Ver em ANDRADE, Antonio Luiz Dias de. Um Estado completo que pode jamais ter existido. São
Paulo,1993.Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo. FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo. Trajetória Política Federal de Preservação
no Brasil. Rio de Janeiro, UFRJ/Minc/IPHAN, 1997. RODRIGUES, Marli. Imagens do Passado: a instituição do
patrimônio em São Paulo, 1969-1987. São Paulo, UNESP/Imprensa Oficial do Estado/CONDEPHAAT/FAPESP,
2000. RUBINO, Silvana. As Fachadas da História: os antecedentes, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico
Nacional: 1937 a 1968. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas, 1992.
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prática, em estágios no “Patrimônio” 1. Em 1974, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAU-USP), propõe o primeiro curso, em colaboração com o
IPHAN e a UNESCO – Curso de Preservação e Restauro de Monumentos – que introduziu
os conceitos de patrimônio cultural no âmbito acadêmico, mediante as aulas ministradas
pelo Hugues de Varinne Bohan, da UNESCO 2. Já no ano de 1978, a mesma FAU-USP
promove um curso de Especialização “Patrimônio Ambiental Urbano”, organizado pelos
professores, o arquiteto Carlos A. C. Lemos e a geógrafa Maria Adélia de Souza, que contou com
a presença de ilustres professores como Milton Santos, Ulpiano Bezerra de Menezes, Aziz
Ab Saber, José Afonso de Souza, entre outros, e tendo como convidados James Fitch, da
Columbia University (NY), e Adriano La Regina da Superintendência de Antiguidades de
Roma3. Após o desenvolvimento desses dois cursos de extrema importância para formação
de profissionais para atuarem no patrimônio construído, que deram origem efetivamente, em
1981, a um dos cursos mais importantes do país na área, o “Curso de Especialização em
Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos (CECRE)” através de
um acordo entre a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Instituto do Patrimônio
Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e a UNESCO, sediado na Faculdade de Arquitetura da
mesma universidade, que se mantém até os dias atuais 4.
Através desta portaria, os currículos dos cursos passariam a ser estruturados por meio de
Matérias de Fundamentação, Matérias de Profissionalização e o Trabalho Final de
Graduação6 e a matéria referente ao patrimônio estaria imbuída nas matérias de
1
RODRIGUES, Marli. Imagens do Passado: a instituição do patrimônio em São Paulo, 1969-1987. São Paulo,
UNESP/Imprensa Oficial do Estado/CONDEPHAAT/FAPESP, 2000. p. 29.
2
BAFFI, Mirthes I. S. O IGEPAC‐SP e outros inventários da Divisão de Preservação do DPH: um balanço. Disponível em
<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/cultura/arquivo_historico/publicacoes/0003/RAM204‐169‐191‐
mirthes.pdf> Acesso 28.08.08.
3
BAFFI, Mirthes. I.S...Op.Cit.
4
SAMPAIO, Júlio Cesar Ribeiro. A conservação na formação do arquiteto: o caso do curso de graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. In. I Jornada do Patrimônio Cultural no Espírito Santo, 2006. Vitória,
Anais, UFES, 2006. CD‐ROM. p.05.
5
Idem.
6
Matéria de Fundamentação constitui‐se em conhecimentos fundamentais e integrativos de áreas correlatas; Matérias
Profissionalizantes consistiu em conhecimentos que caracterizam as atribuições e responsabilidades profissionais.
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profissionalização por meio da disciplina de Técnicas Retrospectivas1 que define como o
estudo a conservação, restauro, reestruturação e reconstrução de edifícios e conjuntos
urbanos2. Matéria entendemos como o argumento no âmbito geral e Disciplina como recorte
do argumento, ou seja, a reflexão do argumento em questão.
Nesse sentido, a formação no âmbito do patrimônio continua falha, pois, de fato, a portaria
menciona a “matéria”, mas não a obrigatoriedade de uma ou mais disciplinas, o que dificulta
o cumprimento da exigência desse conhecimento para atuar no campo disciplinar pela
abrangência do tema exposto.
1
SCHICCHI, Maria Cristina. Ensino e Projeto e Preservação: reflexões e Práticas Didáticas. In. II Seminário DOCOMOMO
BRASIL – III Projetar, Porto Alegre, 2007.
2
Portaria 1770 de 21 de dezembro de 1994.
3
CARBONARA, Giovanni. Architettura è … Restauro. Palestra proferida na Università degli Studi di Ferrara, em 23 de março
de 2006. Carbonara finaliza a palestra com a seguinte colocação: necessita de uma boa formação em arquitetura para
poder projetar “Restauro “.
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outros teóricos e críticos que descrevem sobre esse assunto1, com especialização na área
do restauro arquitetônico, para que haja um conhecimento aprofundado nas questões
referentes ao artefato, mesmo que a Resolução nº 1.010, de 2005, tenta exigir, de algum
modo, as atribuições que lhes confere cada profissão. Atribuição ao engenheiro, seria,
nesse caso, um pouco equivocada, já que não há uma formação técnica, histórica e artística
no seu conjunto de conhecimentos e habilidades específicas.
Referencia Bibliográfica
BAFFI, Mirthes I. S. O IGEPAC‐SP e outros inventários da Divisão de Preservação do DPH: um balanço. In.
Disponível em <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/cultura/arquivo_historico/publicacoes/0003/RAM204‐169‐191‐
mirthes.pdf> Acesso 28 de agosto de 2008.
1
SETTE, Maria Piera. Il Restauro in Architettura: quadro storico. Torino: UTET, 2006. LUMIA, Chiara. Op. Cit., KÜHL, Beatriz
Mugayar… op. cit.
2
A disciplina de Técnicas Retrospectivas deveria ter um cunho teórico primeiramente, e depois, fazer parte das
disciplinas de Projeto, Técnicas e Urbanismo. “... a historiografia pode prescindir da conservação e da
restauração; já as ações de preservação não deveriam prescindir, jamais, da história e historiografia, e os
profissionais atuantes na preservação, mesmo não sendo todos historiadores, deveriam possuir uma "visão
histórica" e sólida formação no campo – para entender e respeitar aquilo que é relevante do ponto de vista
histórico-documental –, pois a ausência de uma consciência histórica pode trazer, e na maioria dos casos traz,
conseqüências da maior gravidade nas ações sobre os bens culturais. (KUHL, Beatriz Mugayar. História e Ética
na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. Revista CPC, 2005, v. 1, n. 1. (www.usp/cpc/v1)).
E segundo Gramsci, um especialista conhece seu ofício não apenas praticamente, mas também teórica e
historicamente. Ele não só pensa com maior rigor lógico, como maior coerência, com maior espírito de sistema
do que os outros homens, como conhece também a história da sua especialidade (GRASCI, A. A Concepção
Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilizações Brasileira, 1991. p.34. Apud. MEIRA, Maria Elisa. Técnicas
Retrospectivas: manutenção e reabilitação da paisagem construída. In. OLIVEIRA, I. C. E. (Org.); PINTO, V. P.
(Org.). A Educação do Arquiteto e Urbanista: diretrizes, contexto e perspectivas. Piracicaba: Editora da
Universidade Metodista de Piracicaba, 2001, p.40).
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BISCONTIN, Guido (ed.); Vassallo, Eugenio (ed.). Le scienze, le istituzioni, gli operatori alla soglia
degli anni '90. (Scienza e beni culturali), Bressanone, Italia; Padova: Libreria Progetto Editore, 1988,
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CASIELO, Stella. L’insegnamento del restauro architettonico .In. Tema: tempo materia architettura. N.
1, 1996, n. 1.
JOKILEHTO, Jukka. Sull’insegnamento nel campo del restauro dei monumenti in vari paesi. In:
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KAMIDE, Edna H. M. e PEREIRA, Terza C.R. E. Patrimônio Cultural Paulista: CONDEPHAAT, bens tombados 1968‐
1998. São Paulo: Imprensa Oficial do estado, 1998. p.11 – 12.
KUHL, Beatriz Mugayar. Tutela dei beni Culturali: Le disposizioni in Brasile. In: ARKOS: Scienza e
Restauro, Anno 3. n.3, 2002. p. 45 -51.
LUMIA, Chiara. A proposito del Restauro e della Conservazione – Colloquio con Amadeo Bellini,
Salvatore Boscarino, Giovanni Carbonara e B. Paolo Torsello. Roma: Gangemi Editore, 2003.
RABBI, Olivia. Le “Nuove Radici Antiche” nella formazione dell’architetto del duemila. In: Tema: tempo
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RODRIGUES, Marli. Imagens do Passado: a instituição do patrimônio em São Paulo, 1969-1987. São
Paulo, UNESP/Imprensa Oficial do Estado/CONDEPHAAT/FAPESP, 2000.
SETTE, Maria Piera. Il Restauro in Architettura: quadro storico. Torino: UTET, 2006.
SCHICCHI, Maria Cristina. Ensino e Projeto e Preservação: reflexões e Práticas Didáticas. In. II Seminário
DOCOMOMO BRASIL – III Projetar, Porto Alegre, 2007.
VENTURI, Ghino. La Scuola superiore d’Architettura. In. Architettura e Arti Decorative. Rivista d’arte e di storia,
fasc. III, novembre 1924, p.112.
Resumo
1
- Foi o caso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula (USU), dentre
outras, que inseriu a disciplina eletiva denominada “Conservação e Restauração de Bens Culturais”,
com três créditos e 60 horas.
2
‐ A referida Portaria estabeleceu uma nova estrutura dos cursos que passariam a possuir três
distintas etapas: a de Fundamentação, a de Profissionalização e o Trabalho Final de Graduação. As
disciplinas ligadas à conservação do patrimônio cultural arquitetônico foram inseridas na etapa
profissionalizante.
3
- Conceito de Conservação Integrada, originado no urbanismo progressista italiano, nos anos 70, a
partir da experiência de reabilitação urbana do centro histórico de Bolonha, nos últimos anos da
década de 1960, consiste não somente da recuperação das estruturas físicas, mas também, das
econômicas e sociais de áreas urbanas históricas, priorizando a manutenção de suas populações
originais. Lança mão da participação popular no processo decisório municipal através da integração
das áreas jurídicas, administrativas, financeiras e técnicas.
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contemporâneos têm nas cidades pré-existentes sua primordial área de atuação. Elas são e
abrigam história, demandando cuidados relativos aos seus patrimônios (monumentos e
tecidos urbanos), que inclui o que se constrói a partir deles, visando a sua integração ao
cotidiano das comunidades urbanas. O conteúdo ensejado pelas disciplinas de conservação
do patrimônio cultural deve remeter o formando em arquitetura e urbanismo a reflexões
sobre os aspectos relativos à integração de novas estruturas aos elementos da cidade pré-
existente, sem perder de vista a responsabilidade de repassar às gerações futuras seus
patrimônios, bem como o fato de estar, no presente, produzindo o “histórico” do futuro.
A partir de 2006, foi empreendida uma nova diretriz na referida disciplina, que passou
a enfocar os problemas de conservação do próprio campus da UFRuralRJ, cujo conjunto
1
- Após aprovação dos Conselhos de Ensino, Pesquisa e Extensão em 2000 (Deliberação nº
74/2000) e Universitário da UFRRJ (Deliberação nº 9/2000).
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arquitetônico e paisagístico é tombado, em nível estadual desde 19981. Após o módulo
teórico, é proposto como atividade prática, o mapeamento de danos das edificações
protegidas, visando o diagnóstico do seu estado de conservação e a análise do grau de
caracterização. A dinâmica empreendida possibilitou, em curto prazo, resultados bastante
positivos, entre os alunos, com destaque para o despertar da sensibilidade para as questões
inerentes à conservação da arquitetura neocolonial do campus.
Uma outra importantíssima questão, de cunho teórico, foi detectada ao longo dos
estudos até agora desenvolvidos pela disciplina. Trata-se de uma arraigada preferência,
identificada entre a maioria dos professores e arquitetos da Prefeitura Universitária da
UFRuralRJ, pela mimetização de elementos da arquitetura neocolonial em novas
implantações e acréscimos propostos. A convicção desenvolvida há várias gerações
ocasionou a construção de novos pavilhões e acréscimos em edificações originais em “estilo
1
- Os projetos originais dos pavilhões tombados são de autoria de Ângelo Murgel e o projeto
paisagístico é assinado por Reynaldo Dierberger. O campus foi inaugurado em 1947 pelo governo
federal.
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neocolonial”, o que configura um verdadeiro equívoco conceitual. Por outro lado, cabe citar
que o principal exemplo de inserção contemporânea existente no campus (Pavilhão de
Aulas do Instituto de Química, erguido na década de 1970) é uma verdadeira aberração, em
termos de integração à ambiência do conjunto arquitetônico-paisagístico tombado1. É
importante destacar o fato de a proteção do campus, através do instituto do tombamento
estadual, ser ignorada pela maioria dos seus docentes e funcionários.
A discordância dos preceitos adotados, pela maior parte dos professores do DAU e
introduzidos por intermédio da disciplina de conservação, com base em conceitos
mundialmente aceitos relativos à autenticidade, gerou intensos debates que envolveram
outros departamentos e institutos da UFRuralRJ. A partir dos extremos detectados na
realidade construída do campus, surgiu uma nova postura a ser adotada nas novas
implantações que devem expressar a sua contemporaneidade, sem prejuízo da manutenção
1
- Segundo as Recomendações de Nairobi (Unesco-1976) “um cuidado especial deveria ser adotado
na regulamentação e no controle das novas construções para assegurar que sua arquitetura se
enquadre harmoniosamente nas estruturas espaciais e na ambiência dos conjuntos históricos. Para
isso, uma análise do contexto urbano deveria preceder qualquer construção nova, não só para definir
o caráter geral do conjunto, como para analisar suas dominantes: harmonia das alturas, cores,
materiais e formas, elementos constitutivos do agenciamento das fachadas e dos telhados, relações
dos volumes construídos e dos espaços, assim como suas proporções médias e a implantação dos
edifícios”.
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das condições de legibilidade e da autenticidade1 do conjunto, bem como da sua ambiência.
Os resultados das discussões possibilitaram aos alunos, importantes reflexões teóricas
acerca da aplicabilidade de conceitos explorados nas aulas teóricas do curso.
1
- O conceito de autenticidade é explicitado como indispensável nas intervenções em monumentos e
conjuntos arquitetônicos. Ele é citado em diversos documentos internacionais, tais como, Carta de
Veneza (1964), Conferência de Nara (1994), Carta de Brasília (1995), dentre outros. O último
documento citado destaca que em “(...) edifícios e conjuntos de valor cultural, as fachadas, a mera
cenografia, os fragmentos, as colagens, as moldagens são desaconsehados porque levam à perda
da autenticidade intrínseca do bem”.
2
- Em 26 de julho foi realizado no Salão Azul do Prédio I, do campus, o I Seminário sobre a pintora
Maria Helena Vieira da Silva, autora de painel de azulejos localizado na sala de estudos do campus
universitário. O evento teve a presença de professores de todos os departamentos e institutos da
UFRRJ, membros do Conselho Estadual de Tombamento (órgão de tutela do tombamento do
campus) e membros do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), órgão executivo do
patrimônio cultural estadual. Na ocasião, pela primeira vez, foram apresentados os primeiros
resultados obtidos pela disciplina de Projeto de Conservação do Patrimônio Cultural Edificado, fato
que gerou intenso debate e polêmica.
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1
- Segundo o § 1º, do inciso X, do Art. 3º, da Resolução nº 6 do CNE: “A proposta pedagógica para
os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo deverá assegurar a formação de profissionais
generalistas, capazes de compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e
comunidades, com relação à concepção, à organização e à construção do espaço interior e exterior,
abrangendo o urbanismo, a edificação, o paisagismo, bem como a conservação e a valorização do
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No entanto, surpreendentemente, o mesmo órgão editou, em 26/09/2008, a Decisão
Normativa nº 83 que inseriu os engenheiros-arquitetos e engenheiros no rol de profissionais
habilitados a exercer as atividades relacionadas à “elaboração de projeto e a execução de
serviços e obras de conservação, preservação, reabilitação, reconstrução e restauração em
monumentos, em sítios de valor cultural e em seu entorno ou ambiência.” A inclusão se
baseia, dentre outras legislações, no Decreto nº 23.569, de 11/12/1933, que regula o
exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e agrimensor, ainda em vigor; e nos
Artigos 5º e 6º da Resolução 1.010.
Cabe destacar que o caput da mesma Resolução destaca que “(...) nenhum
profissional poderá desempenhar atividades além daquelas que lhe competem pelas
características de seu currículo escolar, consideradas em cada caso apenas disciplinas que
contribuem para a graduação profissional, salvo outras que sejam acrescidas em curso de
pós-graduação, desde que, na mesma modalidade”. Por outro lado, é relevante observar
que a Resolução CNE/CES 11/2002 do CNE, que institui as diretrizes curriculares nacionais
do curso de graduação em engenharia não menciona nenhum campo de conhecimento
ligado diretamente à prática da conservação do patrimônio cultural nos núcleos de conteúdo
básico, tampouco no profissionalizante, tais como, teoria e história da arte e da arquitetura.
A nova e polêmica Decisão Normativa editada pelo Confea, sem sombra de dúvida, deve
ser objeto de exaustivos debates e reflexões futuras, visando o seu ajuste à realidade das
demandas reais encaradas por profissionais envolvidos com a tarefa da conservação do
patrimônio cultural brasileiro.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
ARGAN, Giulio Carlo (1992). História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Ed.
Martins Fontes, 1992.
BRANDI, Cesare (1995 [1963]). Teoria de la Restauración. Madrid: Editorial Alianza, 1995.
CURY, Isabelle (org) (2004). Cartas Patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004 (3ª edição
revista e aumentada).
CHOAY, Françoise (2000). A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade, Unesp,
2000.
FARAH, Ana Paula (2009) “Restauro arquitetônico: a formação do arquiteto no Brasil para
preservação do patrimônio edificado” História, Franca, v. 27, n. 2, 2009.
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Campus Universitário, Martelos, Juiz de Fora/MG, CEP 36036-330, Tel: 032-32293403, Fax:
032-32293401
julio.sampaio@ufjf.edu.br
RESUMO
As Normas de Quito de 1967, foi a "carta patrimonial"1 que destacou pela primeira vez o
problema da qualificação de profissionais da conservação. Nelas, convencionou-se que “a
valorização de um monumento ou conjunto urbano de interesse ambiental é o resultado de
um processo eminentemente técnico e, conseqüentemente, sua execução oficial deve ser
confiada diretamente a um órgão de caráter especializado, que centralize todas as
atividades” (Cury, 2000, p. 121). No ano seguinte, em 1968, as "Recomendações de Paris",
da UNESCO, documento que trata da conservação de bens culturais ameaçados pela
execução de obras públicas ou privadas, sugeriu algo semelhante, porém mais especifico
em termos de mão de obra qualificada, de especialistas competentes em matéria de
preservação dos bens culturais, de arquitetos, urbanistas, arqueólogos, historiadores,
inspetores e outros técnicos (Cury, 2000, p. 131).
1
- As cartas patrimoniais são documentos de conservação de abrangência internacional redigidos em
encontros promovidos por órgãos não-governamentais (ICOMOS) e intergovernamentais (UNESCO)
que se dedicam às questões da conservação do patrimônio cultural (Cf. CURY, 2000).
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Toda a discussão desta especialização do arquiteto teve como respaldo a sistematização e
a consolidação do arcabouço teórico da conservação que se iniciou em meados do século
XIX, a partir dos embates entre as Teorias da Unidade de Estilo, de Viollet-Le-Duc e a
Conservacionista, de John Ruskin e William Morris. A solidificação do referencial teórico e
dos procedimentos metodológicos básicos do projeto de conservação de edificações teve
continuidade no século XX com a elaboração do conceito de “restauro científico” de Camilo
Boitto e as contribuições de Alois Riegl, Gustavo Giovanonni e Cesare Brandi (Cf. Cheschi,
1970; Erder, 1986; Jokilehto, 1999 e Choay, 2000). A tônica de todo este debate
fundamentou-se em dois princípios básicos da conservação: a preservação da autenticidade
e da integridade dos bens culturais. É sobre eles que se desenvolve a formação do arquiteto
conservacionista.
2 - AS INICIATIVAS BRASILEIRAS
1
- Resolução CNE/CES 11, de 11 de março de 2002.
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Atualmente Retrô I se constitui no módulo conceitual e Retrô II no prático onde se
desenvolve um projeto básico de conservação de edificações. Por causa disso, Retrô II, que
está sob responsabilidade do autor deste artigo desde o segundo semestre de 2004, tem
status de disciplina de projeto de arquitetura e subdivide-se em Turmas “A” e “B” com quinze
alunos cada para atender as recomendações dos "Perfis da Área & Padrões de Qualidade
da Expansão, Reconhecimento e Verificação Periódica dos Cursos de Arquitetura e
Urbanismo" definidas pela Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo
da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação.
O coroamento do uso dos dados listados até o momento se concretiza na definição das
estratégias de conservação. Destaca-se para os alunos a importância crucial da tomada de
decisões e suas respectivas implicações na preservação da autenticidade e integridade das
edificações. Todo este processo se desenvolve a partir do cruzamento das informações
obtidas na pesquisa histórica e na avaliação das condições atuais, as quais são
devidamente contextualizadas pela trama conceitual da Teoria da Conservação. A condição
provisória dos projetos é largamente enfatizada em função da possibilidade do surgimento
de informações inéditas nos canteiros de obras que possam implicar na reavaliação de todo
planejamento pré-determinado. Alerta-se também que a conservação não termina na
inauguração das restaurações. Esquemas de manutenção e de prevenção dos problemas
identificados no mapeamento de danos devem ser previstos e tratados nos projetos.
4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUTORES:
Maria Clara Migliacio1: arquiteta pela FAUUSP, doutora em Arqueologia pelo Museu de
Arqueologia e Etnologia da USP, técnica do IPHAN, Professora Doutora convidada da
Universidade do Estado de Mato Grosso.
RESUMO:
1
Rua 38, nº 352, Bairro Boa Esperança, Cuiabá – MT CEP 78068-545, Fone (65) 3627-6351 Email: taiaman38@gmail.com
2
Rua Belo Horizonte, 245 – Vila Santa Cruz – CEP 78390-000 – Barra do Bugres-MT Fone: 65-3361-1413 ramal 209 – 65-
8121-5413 Email: josianiaddor@hotmail.com
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PALAVRAS-CHAVE:
Introdução
Por outro lado, a permanência do uso dessas técnicas ainda nos dias de hoje tem
sido ignorada ou, pelo menos, não alardeada pelo mercado, embora se estime que ainda na
segunda metade do século XX, entre metade a 1/3 da população mundial vivia, por
exemplo, em habitações de terra crua (DETHIER s/d; BARDOU e ARZOUMANIAN 1979).
Mais coerente seria que o Patrimônio Cultural edificado fosse contemplado com uma
disciplina curricular específica, e que as chamadas “técnicas retrospectivas” fossem tratadas
1
Conforme o Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 2ª edição.
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em seu bojo, como uma parcela dos conhecimentos técnicos e conceituais envolvidos
naquele grande tema.
De fato, as questões afetas ao Patrimônio Cultural são muito mais amplas do que
apenas as técnicas construtivas adotadas na execução das suas edificações, e estão
ligadas tanto aos contextos históricos, geográficos, e culturais nos quais essas edificações
foram produzidas, quanto àqueles dos dias atuais, à medida que envolve a sua conservação
e uso no presente.
Por outro lado, quando se remete o Patrimônio Cultural edificado às tais ditas
“técnicas retrospectivas”, ou seja, às técnicas construtivas utilizadas no passado, está se
criando uma distorção do próprio conceito de Patrimônio, como se dele não fizessem parte
edificações, conjuntos e sítios modernos, como a própria área do plano piloto da cidade de
Brasília, não só tombada pelo governo brasileiro, como reconhecida pela UNESCO como
Patrimônio Mundial. E o que dizer, ainda, da adequação ou não de se tratar do conjunto das
edificações da escola Bauhaus e seus sítios, declarado patrimônio cultural mundial devido à
revolução conceitual e prática produzida na arquitetura contemporânea e, ainda, da
edificação da Ópera de Sidney, considerada patrimônio mundial por suas inovações
arquitetônicas e estruturais, tratados numa disciplina denominada Técnicas Retrospectivas?
Entendemos que há aí uma total inversão de valores, à medida que se tenta embutir
uma temática muito mais ampla – a do Patrimônio Cultural - num campo muito mais restrito
– o das técnicas construtivas “restrospectivas”, situação que conduz, inevitavelmente, ao
apequenamento da primeira.
Ainda do século XVIII tem tombamento federal em Cáceres (antiga Vila Maria do
Paraguay) o Marco do Jauru, monumento em pedra de lióz que, ao que tudo indica, é o
único remanescente do Tratado de Madri que se conservou no Brasil até os dias de hoje. O
núcleo histórico da mesma cidade tem tombamento estadual.
Além dos conjuntos e sítios relacionados aos diferentes períodos que se sucederam
a partir da conquista européia, Mato Grosso tem oferecido patrimônios ainda pouco
conhecidos, como aqueles revelados por pesquisas arqueológicas desenvolvidas
recentemente e que evidenciaram a prática de construções em terra na organização
espacial e defesa de grandes vilas pré-históricas no Alto Xingu1, assim como construções
em terra para utilização como jazigos mortuários e assentamentos na grande planície
alagável do Pantanal2.
Muitos outros patrimônios aqui não elencados estão ainda à espera de identificação,
inventário e tombamento.
2
Pesquisas arqueológicas desenvolvidas pela arqueóloga Maria Clara Migliacio (MIGLIACIO 2000, 2001/2002).
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 97
Um trabalho em desenvolvimento
Com essas ações se procurará dar maior ênfase ao trato do Patrimônio Cultural
edificado no ensino da Arquitetura e Urbanismo, haja vista estar este ainda contemplado de
forma muito tímida nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Arquitetura e
Urbanismo de 2006, através da disciplina Técnicas Retrospectivas, o que não faz jus à
complexidade da área de atividade, reconhecida em 2008 pelo CONFEA (Decisão
Normativa nº 83).
Referências Bibliográficas
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 99
BARDOU, Patrick & ARZOUMANIAN Varoujan. (1979) Arquitecturas de adobe. Barcelona:
Editorial Gustavo Gili, 1979.
DETHIER, Jean. (s/d) A sabedoria da Terra. Arquiteturas de terra – ou o futuro de uma
tradição milenar. Paris e São Paulo: Centre Georges Pompidou/Avenir Editora Limitada, s/d,
p. 7-15.
HECKENBERGER, Michel J. (1999) O enigma das grandes cidades: corpo privado e Estado
na Amazônia. A outra margem do ocidente. NOVAES, Adauto (org.). São Paulo: Cia das
Letras, 1999, p. 125-152.
HECKENBERGER, Michel J., PETERSEN, James B., e GÓES NEVES, Eduardo. (1999)
Village size and permanence in Amazonia: two archaeological exemples from Brazil. Latin
American Antiquity, 10(4), p.353-376, 1999.
MIGLIACIO, Maria Clara Bens culturais mato-grossenses como recursos turísticos – desafio
para uma economia emergente. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso,
vol.62. p.67-90.
___. (2001/2002) A ocupação indígena do Pantanal de Cáceres, Alto Paraguai – do período
pré-colonial aos dias atuais. Revista do Museu Antropológico (UFGO), v.5/6 nº1, p.213-250,
2001/2002.
___. (2000) A ocupação pré-colonial do Pantanal de Cáceres, Mato Grosso. São Paulo,
2000. Dissertação de Mestrado em Arqueologia - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 100
1. RESUMO
2. INTRODUÇÃO
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 101
A inclusão da disciplina ‘Patrimônio Histórico’ no currículo do curso de Arquitetura, na
década de 1980, reflete a transformação do olhar da sociedade sobre a memória edificada
no Brasil. Em conformidade com as recomendações constantes dos Compromissos de
Brasília e de Salvador, documentos gerados pelos dois Encontros de Governadores
realizados no Brasil na década de 1970, as medidas para consolidação de uma política
patrimonial perpassam pelo aprendizado específico das relações do futuro profissional
arquiteto com o objeto memorial arquitetônico visando remediar, naquele momento, a
carência da mão-de-obra especializada neste campo. Embora integrando o currículo pleno
dos cursos de Arquitetura, a oferta da disciplina como matéria optativa, atitude então
adotada pela grande maioria das instituições de ensino superior, demonstrou o papel
secundário a ela destinado durante certo tempo. Apenas na década de 1990 a disciplina
assume o caráter de matéria obrigatória, acompanhando a crescente preocupação da
sociedade diante da sistemática destruição do patrimônio memorial gerada pelas
implicações negativas do intenso desenvolvimento das cidades.
Sem dúvida a arquitetura e o traçado, bem como suas formas de apropriação, são um
registro físico da linguagem não verbal da cidade, e portadores de significados que
designam e dão concretude à urbe. Se essa, assim como um texto, expressa idéias, fatos e
intenções, é possível não só apreender suas formas e aspectos simbólicos, mas também
descobrir as formas de pensamento que ali estão representadas, que deixaram marcas
sobre seus muros, e que constituem o arcabouço da memória de seu povo. São justamente
estas marcas, sejam elas físicas – edifícios, praças, pontes – ou imateriais – procissões,
festas, canções jogos e brincadeiras expressos no espaço público – que representam seu
patrimônio.
Quando os alunos, através de seus estudos, se aproximam das várias representações das
realidades vivenciadas e desenhadas na paisagem da cidade em que vivem, acaba se lhes
revelando não apenas as transformações da vida urbana, mas também das sensibilidades,
dos desejos e das utopias do passado, os quais ajudaram a construir, a desenhar o
presente. Desenho – cuja origem etimológica significa “desejo”, “intenção” – que propôs a
construção de uma cidade de hoje a partir da imaginação de todas as gerações que nela
vivenciaram e ainda vivem, e da qual estes mesmos estudantes, como moradores desta
urbe, também fazem parte. Na medida em que os alunos alcançam essa constatação,
acabam por visualizar os valores desse patrimônio que muitas vezes ficava desapercebido
de seus olhos – e muitas vezes também da população moradora. Tal constatação se faz
importante no caso de Vitória e dos municípios que conformam sua região metropolitana,
núcleo que passou e tem passado por sucessivas transformações em sua estrutura, as
quais comprometeram o tecido e a arquitetura produzidos nos períodos precedentes. Assim,
ao alunato é possível compreender a história desta cidade e de sua população como
inserida num amplo processo de produção, comunicação e recepção de todos os fatos e
significados pertinentes à vida humana; enfim, num processo de semantização do seu
próprio cotidiano enquanto estudante de arquitetura. Isso traz uma nova perspectiva para o
estudo do patrimônio histórico edificado.
Entre estas atividades lúdicas, a principal consiste em preparar uma espécie de “exposição”
que conte a história de vida dos próprios alunos, através de objetos, imagens, músicas,
bilhetes, guardados; tudo aquilo que confira o seu patrimônio afetivo, estimulando-os a
correlacionarem-no com os espaços vivenciados ao longo de sua trajetória. Apelidada de
“Desfragmentador de Memória”, tal atividade geralmente é carregada de emoção, tanto por
parte daqueles que expõem as “frações” de sua história de vida, expressas criativamente
através dos tais fragmentos apresentados em sala; como por parte daqueles que se fazem
espectadores que, ávidos de curiosidade, acabam se tornando co-participantes destas
memórias individuais, ao acompanharem a colagem de cada um dos fragmentos na
construção de um objeto único, que é a própria trajetória do seu companheiro de classe, da
qual também fazem parte enquanto amigos e colegas de curso. Essa atividade tem o
objetivo de envolver emocionalmente o grupo, preparando-os para a atividade prática que se
desenvolverá em paralelo.
Da mesma forma que, em classe, visualizaram que objetos tantas vezes tão comuns
possuem significado especial para pessoas diferentes – e com isso constituem o patrimônio
que dá suporte à identidade individual do outro – os alunos passam a enxergar a própria
cidade que os cerca com um outro olhar, no qual notam que também existem fragmentos de
memórias presentes no espaço urbano, que muitas vezes lhes era desapercebido, e que se
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo 104
constituem nos suportes da memória coletiva da qual também fazem parte, diretamente,
como moradores, ou indiretamente, no papel de investigadores.
É assim que, com o fim de difundir tal relação de identidade para além das fronteiras
acadêmicas, contribuindo para a construção de uma cidadania consciente que é o papel da
Universidade, a proposta final da disciplina Técnicas Retrospectivas I resulta em produtos
de comunicação elaborados pelos próprios alunos, que visam justamente difundir o
conhecimento da história, da cultura, do patrimônio destes bairros aos seus moradores. A
partir da iniciativa dos estudantes, surgiram documentários, roteiros históricos recriados a
partir de folders, cartilhas, histórias em quadrinhos, sites e até um fotolog. A aplicação
prática dos conhecimentos apreendidos mediante a concepção de um material informativo,
ao mesmo tempo em que sedimenta o aprendizado, incentivou a criatividade das várias
equipes, por verem a possibilidade de transfigurar o trabalho acadêmico e investigativo em
um objeto prático, eivado de função social: justamente levar às comunidades estudadas o
conhecimento de seus próprios valores, de sua cultura, de sua riqueza imaterial. A
percepção dos valores ligados à produção sócio-cultural de uma comunidade fortalece a
consciência dos estudantes acerca da importância da preservação da identidade e memória
locais. Além disso, se constitui num ato de cidadania, na medida em que o produto pode ser
impresso e distribuído para a população, ser acessado sem barreiras através da internet, ser
assistido nas escolas e centros comunitários. Esse recurso acabou promovendo a
aproximação do alunato com a comunidade, bem como fomentando a atuação do indivíduo-
arquiteto no processo de identificação, valorização e preservação destes bens.
Neste momento, o interesse dos alunos é instigado mediante a aproximação destes com o
imóvel e o reconhecimento de sua trajetória no tempo da própria cidade, favorecendo o
processo projetual de intervenção a ser desenvolvido. De posse dos conhecimentos
apreendidos no semestre anterior, e já familiarizados com as noções básicas de valores
patrimoniais e memoriais aplicados a determinado trecho do tecido urbano; a retomada do
bairro permite a reaplicação de conceitos sob uma ótica forçosamente minimizada,
particularizada, focado no imóvel selecionado. Este foco, porém, não se desprende do
entorno, ao contrário, fortalece a inter-relação entre as partes neste rebatimento com a
trajetória do bairro então já re-conhecida.
Mais uma vez visando difundir a prática estudantil para além das fronteiras acadêmicas,
divulgando o conhecimento através de um meio de ampla acessibilidade, as propostas de
intervenção foram formatadas em uma página a ser inserida no site da UNIVIX, de forma
breve mas clara, tratando não só da identificação do imóvel, sua história, análise tipológica,
estado de conservação encontrado; mas também apresentando a proposta de recuperação,
onde é visível a diversidade de posturas dos trabalhos resultantes da experiência de um
ano. Esta é mais uma forma de valorizar a produção acadêmica, e ao mesmo tempo
propiciar à comunidade em geral o acesso ao conhecimento dos bens de valor patrimonial
integrantes da cidade.
4. CONCLUSÃO
Por fim, ainda que se tenha tratado de uma experiência acadêmica, portanto no campo
teórico, cabe dizer que a cidade traz em si mesma uma série de significados que permitem
orientar ações e empreendimentos dos agentes de produção do espaço urbano. Assim
sendo, qualquer tipo de intervenção não deve deixar de abordar suas preexistências, diante
da possibilidade de exercer influências – sejam elas negativas ou positivas – sobre imagens
e objetos que são estruturadores da história e da memória urbanas. Nesse sentido, o estudo
das transformações na paisagem construída de um lugar, bem como a identificação de seus
valores e bens culturais, ganha importância, não só no entendimento de sua história e
preservação de sua memória; mas também como subsídio para criação de instrumentos que
balizem possíveis propostas efetivas para essas áreas, seja pelos agentes públicos, seja
pelos agentes privados.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Resumo
1
As autoras deste artigo são professoras da disciplina Técnicas Retrospectivas, do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da UNIDERP-ANHANGUERA.
2
Arqtª e Urbª Ana Isa Garcia Bueno, mestre em Arquitetura, concentração Teoria e História,
UNIDERP/UFRGS-2001
3
Arqtª e Urbª Giovane Teodoro de Brito Chaparro, especialista em Conservação e Restauração de
Monumentos e Conjuntos Históricos, UFBA-2002
4
Arqtª e Urbª Ângela Gil Lins, especialista em Análise de Sistemas, concentração em Informática
Computacional, UFMS-1997
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Objetivo Geral
As teorias de restauração propugnadas pelos clássicos desde Viollet Le Duc, John Ruskin e
Gustavo Giovannonni (século XVIII), a caminho dos modernos, Camilo Boito e Alois Riegl
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(século XIX), até Cesare Brandi (século XX), são detidamente estudadas associadas aos
contextos históricos em que se desenvolveram. Trabalha-se com os projetos exemplares de
cada corrente e autor.
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Conclusão
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Artes Visuais
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Projeto Político‐Pedagógico
28 de abril 2009
Faculdade de Artes Visuais. Sede do Curso de Arquitetura e Urbanismo. 2008
Equipe Responsável
Prof. Dr. Arquiteto José Artur D’Aló Frota — Coordenador
(Prof. Adjunto FAV‐UFG e Presidente da Comissão de Criação do Curso)
Profa. Ms. Arquiteta Christine Ramos Mahler
(Profa. Assistente FAV‐UFG e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo)
Prof. Ms. Arquiteto Leonardo Romano
(Prof. Assistente FAV‐UFG)
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1Apresentação do Projeto
Curso: Curso de Arquitetura e Urbanismo
Titulo: ARQUITETO e URBANISTA
Área do Conhecimento: Ciências Sociais e Aplicadas (CNPq)
Unidade Responsável pelo Curso: Faculdade de Artes Visuais
Local de Oferta: Campus Samambaia
Modalidade: Específico da profissão
Número de Semanas por Semestre: 16 semanas por semestre /10 semestres
Educação: Presencial
Número de Vagas: 35
Carga Horária Total do Novo Curso: 3616
Turno de Funcionamento: Matutino e Noturno
Forma de Acesso: Concurso Vestibular
2Exposição de motivos
A criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo é uma antiga aspiração da
comunidade acadêmica da UFG, como atesta o processo de criação apresentado, no então
Instituto de Artes, em 20 de junho de 1994 e encaminhado aos órgãos competentes da
UFG.1
O atual período de crescimento da Região Centro-Oeste aponta uma mudança na
estrutura econômica regional, onde o perfil agropecuário deu lugar a setores industrializados
com impactos na economia, sociedade e cultura locais, modificando os parâmetros de
crescimento na região.
Dentro deste panorama e com as novas possibilidades de ampliação da rede pública
de ensino universitário, a partir de programas específicos de fomento, a Faculdade de Artes
Visuais se propôs recuperar a idéia de criação do Curso de Graduação em Arquitetura e
Urbanismo no ano de 2005, quando foi criada uma comissão para esta finalidade2.
No atual contexto urbano e pós-industrial da região, a Arquitetura é uma área de
conhecimento de grande importância e responsabilidade social. A UFG, por seu projeto de
expansão (REUni) prevê um crescimento de 1,2 mil vagas e vinte e cinco novos cursos. O
1
A Comissão responsável pelo relatório de criação do curso foi composta pelos professores Orlando Ferreira de Castro, Evany
Dias Fonseca e Daura Rios Pedroso Hamú.
2
A proposta preliminar de criação de um Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo na UFG, concluida em agosto de
2005, contou com a participação dos seguintes professores: Christine Ramos Mahler, José Artur D’AlóFrota, Leonardo
Romano, Rosane Costa Badan e Valquiria Guimarães Duarte.
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curso de Arquitetura e Urbanismo é de extrema importância para as metas da Universidade,
e vem atender a uma demanda da população local e regional.
Desta forma, pela natureza do curso, afinada com a demanda de público, acreditamos
que o mesmo venha a enriquecer a diversidade dos cursos da UFG, em seu objetivo de
universidade pública, contemplando importantes áreas de conhecimento.
3Objetivos Gerais e específicos
O Curso de Arquitetura e Urbanismo tem por objetivo a formação de profissional apto
a organizar o ambiente físico, atendendo às necessidades sociais e aos condicionamentos
do ambiente natural e construído, envolvendo a produção de soluções para as várias
escalas do “habitat” humano e seu território, como os mobiliários residenciais e urbanos, as
edificações, até o espaço urbano, em qualquer escala ou dimensão.
O Curso fundamenta-se em uma proposta de ensino integrado, com destaque para as
disciplinas de projeto. A participação de professores de diversas áreas busca a integração
entre a teoria e prática, a criatividade e o pensamento crítico. O programa de estágio, de
acordo com a política de estágio da UFG possibilitará ao aluno exercitar o cotidiano da
profissão em empresas, escritórios, projetos sociais, lojas, museus, etc. Atividades
extracurriculares como viagens de estudo, regionais e nacionais, são previstas. Os
convênios com universidades estrangeiras e o Programa de Mobilidade Estudantil são uma
realidade na UFG. Esses mecanismos complementam a experiência acadêmica de forma
enriquecedora.
Referências Bibliográficas
Parecer CNE/CES Nº 8/2007. “Dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos
à integralização e duração dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade
presencial.” Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação /Câmara de Educação
Superior. Aprovado em 31/1/2007.
ARQUITETANDO
experiências didáticas nas disciplinas introdutórias de projeto
Palavras-chaves:
projeto de arquitetura; ensino de projeto; processos de projeto; tecnologias do projeto.
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As disciplinas de Introdução à Arquitetura I e II do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Goiás foram propostas como disciplinas experimentais, com a
finalidade de desenvolver novas abordagens didáticas que busquem potencializar o
processo de criação desde o início do curso, fortalecendo a capacidade analítica, crítica e
propositiva do aluno.
O aluno recém ingresso necessita estabelecer vínculos adequados entre o universo do real
e o da representação. Nos ateliers de prática de projeto, normalmente, ele é induzido a
propor soluções que partam da representação gráfica de suas idéias utilizando como base o
desenho arquitetônico, uma linguagem que possui elevado grau de abstração da realidade e
exige o pleno domínio de seus códigos como elemento que é, de informação. No início do
curso, a manipulação dos instrumentos de representação é ainda precária, os princípios do
desenho arquitetônico ainda estão sendo apreendidos, o que tende a produzir uma perda
no foco do encaminhamento do exercício de projeto. Os mecanismos de desenho passam,
dentro deste contexto, a ser mais importantes para o aluno do que as estratégias de
abordagem do problema proposto.
O procedimento didático adotado neste caso, pelos professores das disciplinas de
Introdução, é incentivar o uso de meios de representação que estejam mais próximos da
realidade do objeto, com a qual os alunos estão mais familiarizados. Prototipagens básicas,
fotomontagens, croquis, colagens e maquetes têm sido os meios utilizados para descrever
visualmente as propostas. Esses são meios mais acessíveis para a compreensão da
tridimensionalidade presente no objeto e seu espaço; permitem uma manipulação mais ágil
das propostas e por esta razão são mais propícios a abordagens criativas.
Objetivos
•Introduzir o aluno nas questões relativas ao espaço arquitetônico, sua percepção e seu
projeto;
•Exercitar a percepção e apreensão do ambiente construido e realizar exercicios
preliminares de intervenção.
•Fortalecer a capacidade analítica, critica e propositiva do aluno.
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Conteúdos
o espaço arquitetônico: escala
lugar (sitio, entorno e contexto)
ambiente construido
espaço social
o objeto arquitetônico: dimensão técnica, forma e sentido
geometrias
materiais, superfícies e cores
forma e função
sentido, consistência e historicidade
Procedimentos didáticos
A disciplina terá por base uma série de exercícios práticos que serão precedidos por
reflexão teórica complementar. As aulas teóricas visam refletir sobre a natureza de cada
exercício, seus antecedentes históricos, suas necessidades programáticas, etc, aportando
os elementos e argumentos necessários a uma introdução também aos processos projetuais
típicos da arquitetura, sempre de um modo ao mesmo tempo analítico e crítico.
Na medida em que se trata de uma disciplina voltada para os aspectos introdutórios da
profissão, além dos exercícios exercícios práticos de projeto, propõe-se a realização de
passeios de análise realizados externamente e visitas de estudo.
Procedimentos metodológicos
As disciplinas Introdução à Arquitetura possuem objetivos didáticos e operativos comuns,
atuando a partir de três procedimentos diferenciados básicos: aulas teóricas expositivas,
assessoramento do professor ao grupo de alunos e painéis de avaliação.
As aulas teóricas expositivas complementam às tarefas específicas de “atelier” objetivando
a reflexão crítica sobre o projeto em sua totalidade. O procedimento utilizado é a análise de
projetos exemplares, enfocando temas específicos ao território da prática do projeto.
O assessoramento do professor ao grupo de alunos têm como objetivo avaliar as
peculiaridades das respostas aos exercícios individuais com a participação de todos os
alunos ou grupos de alunos. A disciplina não utiliza o modo de assessoramento isolado ao
estudante mas sim a discussão dos problemas individuais junto ao grupo. O estudante deve
apresentar elementos suficientes para uma avaliação crítica concisa, ou seja, dispor dos
elementos necessários e suficientes para o entendimento e a análise da sua proposta.
Os painéis de avaliação são um processo didático coletivo, onde se busca analisar as
hipóteses de trabalho de cada estudante no grupo e não individualmente. Para ser efetivo, o
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estudante deverá apresentar nos “painéis” aqueles elementos necessários à compreensão
de sua proposta.
Exercício 1
ARQUITETANDO
O Espaço Arquitetônico / escala
O objetivo do exercício é delimitar e caracterizar um espaço a partir de um suporte já
existente. O estudante toma contato com o universo dimensional, interagindo com escalas e
representações; formas e princípios estruturais; materiais, cores e texturas.
lugar: •passarela que liga a Faculdade de Artes Visuais à Biblioteca e
outros pavilhões do Campus
objetivo programático: • espaço efêmero para comunicação
problema: • delimitar e caracterizar um espaço a partir de um suporte existente.
levantamento: •passarela, acessos, perímetro edificios, caminhos e elementos da
paisagem.
processo: •levantamento dos dados (vivência do lugar, medições e fotos);
croquis de representação do existente (perspectivas);
desenvolvimento das propostas por meio de croquis; apresentação
de painel de avaliação das propostas; pesquisa de materiais;
execução de protótipo de um módulo do espaço proposto; análise,
discussão e avaliação dos resultados alcançados com o exercício.
período: •2 semanas
Exercício realizado por grupos de cinco alunos.
Exercício 2
Um Ambiente Arquitetônico
geometrias/materiais/superfícies/cores
O objetivo do exercício é criar um ambiente em um espaço aberto delimitado; um lugar de
encontro/ estar informal/ ócio para os estudantes. O estudante toma contato com o sítio que
tem por limites uma edificação, por um lado, e um bosque, por outro. A intervenção consta
da criação de um programa de mobilário urbano e articulação paisagística do local,
condicionada à preservação integral desta vegetação.
limites, escala, mobiliário urbano: •iluminação, bancos, suportes, pavimentação,
programação visual.
lugar: •próximo ao Centro de Convivência, entre os pavilhões e
o bosque.
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objetivo programático: •criar um ambiente de encontro/ estar informal/ ócio
problema: •conecção com as passarelas, intermediação entre bos
que e edificações.
levantamento: •vegetação, acessos, perímetro edifícios, caminhos e
elementos da paisagem.
processo: •levantamento dos dados (vivência do lugar, medições e
fotos); croquis de representação do existente (planta de
localização de vegetação); desenvolvimento das
propostas por meio de maquetes de estudo (dobradura);
apresentação de painel de avaliação das propostas
(croquis, fotomontagens e maquete na escala 1:75);
análise, discussão e avaliação dos resultados alcançados
com o exercício.
período: 1 mês
Exercício realizado por grupos de dois alunos.
Exercício 3
O OBJETO ARQUITETÔNICO
Um pavilhão temporário.
O objetivo do exercício é projetar um edifício temporário, cujo programa seja flexível e
permita ao aluno investigar aspectos plásticos/ representativos e formais/ construtivos. A
edificação deve ao mesmo tempo responder ao seu caráter transitório e de elemento
marcante na paisagem.
Bibliografia
CHING, Francis D.K. (1995) Arquitectura: forma, espacio y orden. México: Gustavo Gili.
DELGADO YANES, Magali, REDONDO DOMINGUEZ, Ernest. (2004) Desenho para arquitectos. Lisboa:
Editorial Estampa.
MILLS Criss B. (2007) Projetando com maquetes. Um guia de como fazer e usar maquetes de projeto
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ARQUITETANDO
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Exercício 1
ARQUITETANDO
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Exercício 2
Um Ambiente Arquitetônico