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COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  1 

CADERNO abea 33

XXVII ENSEA
Encontro Nacional sobre Ensino de
Arquitetura e Urbanismo

XXXIII COSU
Conselho Superior da ABEA

ENSINO E ATRIBUIÇÃO PROFISSIONAL:


A Assistência Técnica e a Lei Federal nº.
11.888/08 e
A Conservação do Patrimônio Cultural e as
Técnicas Retrospectivas.

07 a 09 de maio de 2009 
FAU‐USP – Cidade Universitária – São Paulo‐SP 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  2 

DIRETORIA DA ABEA ‐ BIÊNIO 2007/2009 
 
DIRETORIA EXECUTIVA 
Presidente      JOSÉ ANTÔNIO LANCHOTI ‐ MOURA LACERDA/SP 
Vice‐Presidente    FERNANDO JOSÉ DE MEDEIROS COSTA ‐ UFRN 
Secretário      CARLOS EDUARDO NUNES FERREIRA ‐ UNESA 
Sub‐Secretário    ESTER J.B. GUTIERREZ ‐ UFPEL 
Secretário de Finanças  JOSÉ ROBERTO GERALDINE JÚNIOR –BARÃO DE 
MAUÁ/SP 
Sub‐Secretário de Finanças    ANDREY ROSENTHAL SCHLEE – UnB 
 
DIRETORIA  CONSELHO FISCAL
Euler Sobreira Muniz – UNIFOR  Titulares 
José Akel Fares Filho – UNAMA  João Carlos Correia – UNAR 
Cláudio Listher M. Bahia – PUC‐Minas  Itamar Costa Kalil ‐ UFBA 
Débora Pinheiro Frazatto – PUC‐Camp  Isabel Cristina Eiras de Oliveira ‐ UFF 
Dirceu Trindade ‐ UCG  Suplentes 
Wanda Vilhena Freire– UFRJ 
Paulo Fernando do A. Fontana – UCS  Gilson Jacob Bercoc – UNIFIL 
Andrea L. Vilella Arruda – FUMEC  Wilson Ribeiro S. Junior – PUC‐Camp 
Cláudio F. Correa Valadares – UNIFLU  Heloisa Messias Mesquita UNIDERP 
Turguenev Roberto Oliveira – Belas 
Artes
 
 
 
 
 
 
 
 

Publicação patrocinada pelo


Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo - CAU/SP 
 
 
 
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  3 

CADERNO abea 33

XXVII ENSEA
Encontro Nacional sobre Ensino de
Arquitetura e Urbanismo
XXXIII COSU
Conselho Superior da ABEA

ENSINO E ATRIBUIÇÃO PROFISSIONAL:


A Assistência Técnica e a Lei Federal nº. 11.888/08
e A Conservação do Patrimônio Cultural e as Técnicas
Retrospectivas.

COMISSÃO ORGANIZADORA
José Antônio Lanchoti - Presidente ABEA
Fernando José de Medeiros Costa – Vice-Presidente da ABEA
Jose Roberto Geraldine Junior - Diretor ABEA
Francisco Segnini Júnior – FAU/USP

07 a 09 de maio de 2009 
FAU‐USP – Cidade Universitária – São Paulo‐SP 
   
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
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Ensino e Atribuição Profissional: Conservação do Patrimônio Cultural,
Técnicas Retrospectivas, Assistência Técnica e a Lei Federal nº
11.888/08.

Tratar de temas atuais como Conservação do Patrimônio Cultural e


Técnicas Retrospectivas, cujos conhecimentos compõem as atribuições
profissionais dos Arquitetos e Urbanistas, faz parte do plano estratégico
traçado pelo CAU-SP.

A divulgação de trabalhos como estes e a promoção da discussão da


Lei Federal de Assistência Técnica – Lei Nº 11.888/08 por Arquitetos e
Urbanistas colaboram para a excelência na atuação profissional.

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, através do


programa de ação de patrocínio promove esta importante publicação
para os Arquitetos e Urbanistas e demais interessados na área de
ensino e formação profissional, em parceria com a ABEA – Associação
Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo.

Que este trabalho possa contribuir para a promoção do exercício da


Arquitetura e Urbanismo no mais alto grau de importância para a
sociedade!

Prof. Dr. João Carlos Correia


Diretor de Ensino e Formação do CAU-SP
   
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
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APRESENTAÇÃO 
A convocação para o XXVI Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo e a 
XXII  Reunião  do  Conselho  Superior  da  ABEA  conclamou  professores,  estudantes  e 
coordenadores  de  cursos  de  Arquitetura  e  Urbanismo  para  um  amplo  debate  tendo  como 
eixos temáticos dois assuntos que têm reflexos diretos sobre as atribuições profissionais do 
arquiteto e urbanista. O debate se dá no momento em que entram em vigor normas tanto 
no  âmbito  do  legislativo  federal  quanto  no  órgão  de  regulamentação  profissional,  que 
tratam especificamente sobre os temas: Assistência técnica pública e gratuita para o projeto 
e  a  construção  de  habitação  de  interesse  social;  e  Patrimônio  Cultural  e  as  Técnicas 
Retrospectivas. 
1.   A Lei Federal nº 11.888 de 24 de dezembro de 2008 estabelece que  
“Art.  2º  ‐  As  famílias  com  renda  mensal  de  até  3  (três)  salários  mínimos, 
residentes  em  áreas  urbanas  ou  rurais,  têm  o  direito  à  assistência  técnica 
pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse 
social  para  sua  própria  moradia.  §  1º  ‐  O  direito  à  assistência  técnica 
previsto  no  caput  deste  artigo  abrange  todos  os  trabalhos  de  projeto, 
acompanhamento  e  execução  da  obra  a  cargo  dos  profissionais  das  áreas 
de  arquitetura,  urbanismo  e  engenharia  necessários  para  a  edificação, 
reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação”. 
Qual  deve  ser  a  abordagem  nos  Cursos  de  Arquitetura  e  Urbanismo  sobre  a  atuação  do 
arquiteto e urbanista no campo da Assistência Técnica? O projeto de habitação de interesse 
social  tem  espaço  nos  projetos  pedagógicos  dos  cursos?  Essas  e  outras  questões  precisam 
ser  debatidas.  Precisamos  conhecer  e  discutir  práticas  pedagógicas  e  experiências  exitosas 
nesse campo de atuação profissional. 
2.  Patrimônio Cultural e as Técnicas Retrospectivas 
Em 1994 a  portaria MEC 1770/94  que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os 
cursos  de  Arquitetura  e  Urbanismo  incorporou  como  “Matéria  Profissional”  o  estudo  das 
Técnicas  Retrospectivas.  Em  2006,  a  Resolução  MEC/CNE/CES  nº  6/06  instituiu  as  novas 
Diretrizes nas quais foram mantidas no Núcleo de Conhecimentos Profissionais as Técnicas 
Retrospectivas,  constituindo‐se  em  conhecimentos  que  caracterizam  as  atribuições  e 
responsabilidades  profissionais.  Recentemente  o  plenário  do  CONFEA  aprovou  a  Decisão 
Normativa DN nº. 83/2008, que dispõe sobre procedimentos para a fiscalização do exercício 
e  das  atividades  profissionais  referentes  a  monumentos,  sítios  de  valor  cultural  e  seu 
entorno  ou  ambiência.  A  DN  83,  além  de  estabelecer  procedimentos  de  fiscalização, 
representa  um  marco  no  Sistema  profissional  por  reafirmar  a  atribuição  exclusiva  de 
arquitetos e urbanistas no campo do restauro. Este subtema busca discutir como está sendo 
a  abordagem  nos  Cursos  de  Arquitetura  e  Urbanismo  sobre  Conservação  do  Patrimônio 
Cultural.  Como  os  projetos  pedagógicos  têm  tratado  o  tema  sob  os  aspectos  conceituais, 
projetuais  e  tecnológicos.  Experiências  e  práticas  pedagógicas  serão  apresentadas  e 
discutidas. 
Foi com essa motivação e com muita expectativa que a ABEA realizou mais um ENSEA, dessa 
vez tendo como anfitriã a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. 
A diretoria. 
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PROGRAMAÇÃO

Manhã Tarde Noite:

14:00h
19:00h
XXXIII COSU DA ABEA
09:00h Orientações sobre a ABERTURA OFICIAL DO
XXVII ENSEA e XXXIII
CADASTRAMENTO E Acreditação dos Cursos do
COSU-ABEA
Mercosul – Sistema ARCU-
DIA 07/05/2009 (Quinta Feira)

ENTREGA DE MATERIAL MESA DE ABERTURA


SUL Prof. Dr. SÉRGIO
XXXIII COSU DA ABEA Prof. Dr. SÉRGIO ROBERTO KIELING
ROBERTO KIELING FRANCO - Membro do
Apresentação da Dinâmica CONAES/MEC e
FRANCO – CONAES/MEC
do Evento; Representante do Sistema
Prof. FERNANDO JOSÉ
Informes; ARCU-SUL
DE MEDEIROS COSTA –
Processo Eleitoral da Eng. Civil MARCOS TÚLIO
Vice-Presidente da ABEA e DE MELO - Presidente do
Diretoria da ABEA
Comissão Consultiva de CONFEA
2009/2011 – Indicação da
Arquitetura da CONAES Profª. Arq.Urb. SAIDE
Comissão Eleitoral KAHTOUNI - Presidenta
Prof. Dr. ANDREY
Debates e propostas de da ABAP
ROSENTHAL SCHLLE –
deliberações. Prof. Arq.Urb. ÂNGELO
Diretor da ABEA e
ARRUDA - Presidente da
Comissão Consultiva de
FNA
Arquitetura da CONAES

09:00h 14:00h
XXVII ENSEA XXVII ENSEA
Palestras: Apresentação dos
“O Ensino nos Cursos de Trabalhos Inscritos:
Arquitetura e Urbanismo ● Ensino da Assistência
DIA 08/05/2009
(Sexta-Feira)

sobre a Assistência Técnica nos cursos de


Técnica e a Lei Federal nº. Arquitetura e Urbanismo
11.888/08” - Prof. Eder voltado ao Exercício LIVRE
Roberto da Silva Profissional
“A Conservação do ● Ensino da Conservação
Patrimônio Cultural e as do Patrimônio Cultural e as
Técnicas Retrospectivas” - Técnicas Retrospectivas
Prof. Cláudio Forte nos Cursos de Arquitetura
Maiolino e Urbanismo voltado ao
Debates Exercício Profissional

09:00h 13:00h
DIA 09/05/2009

Discussão dos Grupos de Almoço no Centro da


(Sábado)

Trabalhos e formatação Cidade de São Paulo


das contribuições dos GTs.
Visita guiada à obra de LIVRE
12:00h
Restauro no Centro da
ENCERRAMENTO DO
Cidade de São Paulo
EVENTO
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ROTEIRO PARA VISITA TÉCNICA 

CENTRO DE SÃO PAULO – Significado, Situação, Restauro 
Almoço no centro: 
Restaurante Girondino 
Alternativas: Restaurante Joquey Clube; Restaurante Bolsa de Valores 

Percurso (aproximadamente 2500 metros): 
1 – Largo São Bento; Mosteiro 
2 – Rua São Bento; Secretaria de Esporte e Turismo; Edifício Martinelli 
3 – Largo São Francisco; Igreja São Francisco 
4 – Rua Líbero Badaró; Secretaria da Cultura; Edifício Matarazzo (Gabinete do Prefeito) 
5 – Praça Patriarca; Igreja Santo Antonio; Galeria Prestes Maia 
6 – Viaduto do chá; Edifício Mackenzie (Shopping Light) 
7 – Praça Ramos de Azevedo; Theatro Municipal; Edifício “Mappin”;  
8 – Rua Barão de Itapetininga; Galeria Califórnia (Niemeyer) 
9 – Praça da República; obras da Linha 4/Metrô; Edifício Esther; Caetano de Campos; Edifício 
Itália; Edifício Copan 
10 – Avenida Ipiranga; Cinelândia 
11 – Avenida São João; Largo Paisandu; Edifício dos Correios; Parque do Anhangabaú 
Algumas Informações extraídas de fontes da Internet: 
Café Girondino 
R. Boa Vista, 365 ‐ Centro ‐ São Paulo ‐ SP 
Tel: (11) 3229‐4574 
Badebec Novo Joquey Clube 
Sede do Jockey / 2ª a 6ª feira – 12 às 15 horas 
Rua Boa Vista, 280, 9º andar, Centro 
Tel. (11) 3101‐2686 
O Mosteiro de São Bento, localizado no centro da cidade de São Paulo, no Largo
de São Bento, próximo ao Vale do Anhangabaú, é um dos edifícios históricos mais
importantes da capital paulista.
O conjunto todo é o Mosteiro de São Bento, o qual tem em sua portaria o principal
acesso onde os monges que aí vivem em oração, ficam de prontidão a receber
todos os hospedes e visitantes, acolhendo assim os que vem à vida de oração,
retiro, ou procuram orientação espiritual ou confissão; nele há a clausura monástica,
a Basílica Abacial de Nossa Senhora da Assunção (elevada a esta dignidade em
14 de junho de 1922), onde há o coro para o ofício divino rezado diariamente pelos
monges e a missa é celebrada, ambos no rito monástico e com canto gregoriano, e
Colégio de São Bento e Faculdade de São Bento.
 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosteiro_de_S%C3%A3o_Bento_(S%C3%A3o_Paulo) ) 
Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo 
Praça Antônio Prado, nº 9 
CEP: 01010‐904. ‐ São Paulo 
Fone: (11) 3241.5822 ou  (11) 3105.9877 
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A Igreja São Francisco volta às origens – As obras de restauro da Igreja,
Santuário e Convento São Francisco, em São Paulo, foram concluídas nesta quarta-
feira (17/12), depois de quase seis anos de trabalhos de captação de recursos e de
desenvolvimento do projeto do arquiteto Cláudio Maiolino.
(http://www.franciscanos.org.br/v3/noticias/reportagensespeciais/2008/convento_1612/in
dex.php ) 
 
O Edifício Matarazzo, também conhecido como Palácio do Anhangabaú é a sede
da prefeitura da cidade de São Paulo desde 2004, pertencia anteriormente ao
Banespa, daí seu apelido de Banespinha.
Está localizado no Vale do Anhangabaú, junto ao Viaduto do Chá. É conhecido por
seu jardim, localizado no último andar do edifício.
Foi projetado pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini, a mando do conde Ermelino
Matarazzo, e abrigou por anos a sede de suas indústrias. O projeto possui
inspirações fascistas, visto a ligação do arquiteto com o regime de Mussolini e tem
14 andares e 27.800 m² de área construída.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_Matarazzo )
 
A Igreja de Santo Antônio é um templo católico localizado no centro de São Paulo,
na Praça do Patriarca, próximo ao Viaduto do Chá. É considerada a mais antiga
igreja remanescente da cidade, tendo sido fundada nas últimas décadas do século
XVI - conforme atestam os primeiros registros documentais da sua existência,
datados de 1592. No século XVII, abrigou a Ordem dos Franciscanos, e no século
XVIII esteve subordinada à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens
Brancos.[2] Sofreu diversas reformas e intervenções ao longo dos últimos quatro
séculos, sobretudo em sua fachada, reinaugurada em estilo eclético em 1919.[3]
O interior da Igreja de Santo Antônio conserva importantes testemunhos da arte
produzida em São Paulo no período colonial. Durante a restauração levada a cabo
em 2005, descobriu-se no forro do altar-mor pinturas murais seiscentistas de alta
qualidade técnica e artística, as mais antigas de que se tem notícia em São Paulo.
Também o altar principal, executado em 1780, é um belo exemplar da talha barroca.
A igreja é tombada pelo poder público estadual (Condephaat) desde 1970, em
virtude de sua importância histórica, artística e arquitetônica.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Santo_Ant%C3%B4nio_(S%C3%A3o_Paulo) ) 
 
Poucas pessoas, que hoje atravessam a Praça do Patriarca rumo ao Vale do
Anhangabaú pela Galeria Prestes Maia, sabem que ela abrigou grandes eventos
artístico-culturais e já foi um dos endereços mais concorridos da cidade.
Essa exuberante galeria, com paredes e colunas revestidas de mármore, possui três
níveis interligados por escadarias e escadas rolantes. Aliás, foi um dos primeiros
locais a utilizar escadas rolantes na cidade de São Paulo, inauguradas em 1955 pelo
prefeito William Salem.
Sua história tem início com a construção do “novo” Viaduto do Chá em 1938. O
arquiteto responsável pela obra, Elisiário Bahiana, já previa o aproveitamento das
estruturas internas das duas extremidades do viaduto, sugerindo a construção de
dois prédios ocupados por salões de usos diversos. As obras da Galeria foram
iniciadas em 1939 e finalizadas em 1941. Em 1940, ela era inaugurada pelo prefeito
Francisco Prestes Maia.
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Enfeitam a Galeria, Graça I e Graça II, esculturas do modernista Victor Brecheret
posicionadas no primeiro lance de escadas recepcionando os passantes. Entre o
segundo e o terceiro pavimento, à esquerda de quem desce, há uma réplica em
bronze de Moisés, de Michelangelo, feita pelo Liceu de Artes e Ofício. À frente de
uma das entradas do Salão Almeida Júnior, encontra-se um busto em bronze
homenageando o pintor paulista, Laurindo Galante.
O Salão Almeida Júnior, a partir de 1940, foi palco de um dos principais eventos
artísticos realizados na cidade, o Salão Paulista de Belas Artes, que teve a
participação de renomados artistas plásticos como Amadeo Zani, Ricardo Cippichia
e a modernista Anita Malfatti.
Em 1965, ganhou o nome de Galeria Prestes Maia por decreto do então prefeito
José Vicente Faria Lima, homenageando o ex-prefeito que falecera no mês de abril
do mesmo ano.
Assim como toda a área central, a Galeria Prestes Maia passou por uma fase de
degradação que se agravou a partir de meados da década de 70, quando abrigou
postos de órgãos públicos, perdendo a sua feição original de espaço dedicado às
artes.
Esse processo de deterioração do espaço só começou a ser revertido em meados
da década de 90. Incluída no projeto que previa a revitalização do Centro, e
especificamente da Praça do Patriarca, a galeria passou por reformas estruturais.
Em 1996, o prefeito Paulo Maluf assinou um termo de comodato que cedia a Galeria
Prestes Maia ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Em 2000, estava oficialmente inaugurado o projeto MASP-Centro, em uma
solenidade que marcava o retorno das Graças à galeria, após uma permanência de
sete anos no Museu Brasileiro de Escultura (MUBE).
Reconhecendo sua importância para a cidade, em 1992 o Conpresp tombou a
Galeria Prestes Maia considerada área de excepcional interesse histórico e
arquitetônico, o que determinou a sua preservação integral.
(http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/ladeir
a_memoria/index.php?p=414 )
 
O Shopping Light está no coração de São Paulo, localizado no histórico e
charmoso prédio Alexandre Mackenzie, que fica em uma das esquinas mais
movimentadas da cidade, o Viaduto do Chá com a Xavier de Toledo.
O edifício que é hoje tombado pelo Patrimônio Histórico foi construído em 1929, e
era a sede da empresa de Energia Light. Foi transformado em Shopping Center no
ano de 1999 após passar por uma cautelosa reforma e restauração, sendo hoje o
maior e mais completo centro de compras, serviços e lazer do centro de São Paulo.
(http://www.shoppinglight.com.br/shopping/shopping.asp )
 
O Theatro Municipal de São Paulo é um dos mais importantes teatros da cidade e
um dos cartões postais da capital paulista, tanto por seu estilo arquitetônico
semelhante ao dos mais importantes teatros do mundo como pela sua importância
histórica, por ter sido o palco da Semana de Arte Moderna de 1922, o marco inicial
do Modernismo no Brasil.
O local escolhido para a construção foi o Morro do Chá, que já abrigava o Novo
Theatro São José. Com o projeto de Cláudio Rossi, desenhos de Domiziano Rossi e
construção pelo Escritório Técnico de Ramos de Azevedo, as obras foram iniciadas
em 1903 e finalizadas em 1911. O estilo arquitetônico é o eclético, em voga na
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Europa desde a segunda metade do século XIX. São combinados os estilos
Renascentista, Barroco do setecentos e Art Nouveau, sendo o último o estilo da
época.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_Municipal_de_S%C3%A3o_Paulo )

O modernismo em São Paulo


Embora a cidade tenha passado por uma profunda transformação e modernização
nas primeiras décadas do século XX, pode-se afirmar que até a década de 1940, o
Movimento Moderno não constitui influência significativa na arquitetura paulista,
marcando presença principalmente através da arte, da crítica e de artigos publicados
em jornais da capital.
A modernização se manifesta na prática do Art Déco, de influência norte-americana,
eliminando os ornamentos e os efeitos decorativos, embora os estilizando, como é
possível observar no Edifício Saldanha Marinho (1929) de autoria do carioca
Elisiário Antonio da Cunha Bahiana (35). Pode-se notar que Elisiário Bahiana
influencia de forma bastante significativa, a partir de 1930, a modernização da
cidade quando inicia sua mais produtiva fase ao se mudar para São Paulo. Em 1935
ganhou o concurso público para o Viaduto do Chá também em estilo Art Déco
(concretizado na gestão de Prestes Maia), projetando também as galerias que fazem
a ligação entre as praças do Patriarca e Ramos de Azevedo. O Edifício para Mappin
Store e o Hotel Esplanada integram parte do conjunto que marcou o lugar como
símbolo da modernidade da cidade.
Eventos pontuais de extrema importância, tais como o projeto e construção do
Edifício Esther (1934-38) localizado a Praça da República, de autoria de Álvaro
Vital Brazil e Adhemar Marinho se destacam nessa ocasião, ficando os
empreendimentos a cargo ou dos proprietários ou de empresas imobiliárias privadas
– construtoras, imobiliárias ou grupos econômicos associados. O Edifício Esther
inaugura não somente uma nova forma de realizar a arquitetura, mas implementa
também formas inovadoras de uso e de programa (uso misto), diversificando as
plantas e maximizando espaços.
(http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp419.asp )

O edifício e galeria Califórnia, localiza-se no centro de São Paulo, foi projetado


pelo arquiteto Oscar Niemeyer e Carlos Lemos em 1951 e inaugurado em 1955. O
edifício situa-se em um centro de quadra e interliga as ruas Barão de Itapetininga e a
Dom José de Barros, com fachada para as duas ruas.[1]
O Califórnia foi construído no período em que Niemeyer possuía um escritório na rua
24 de maio, em São Paulo, sob a supervisão de Carlos Lemos. O projeto buscou
atender às novas demandas do mercado imobiliário, visando o máximo
aproveitamento do lote e obedecendo à nova legislação da época, que mudara os
parâmetros de ocupação. Devido às dificuldades no atendimento à legislação, o
prédio levou cerca de quatro anos para ser aprovado na Prefeitura.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_e_galeria_Calif%C3%B3rnia )
 
Escola Normal Caetano de Campos fundada inicialmente em 16 de março de
1846, hoje denominada Escola Estadual Caetano de Campos, funcionava no prédio
anexo à Catedral da Sé velha e foi tranferida para a Praça da República para o
edifício projetado por Antônio Francisco de Paula Sousa e Ramos de Azevedo
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inaugurado em 1894 onde atualmente está instalada a Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo. O edifício foi tombado pelo Condephaat em 1975.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Normal_Caetano_de_Campos ) 
 
O Edifício Itália, cujo nome oficial é Circolo Italiano é o segundo maior da cidade
de São Paulo e do Brasil em altura, com 168 metros (150 a partir do nível da rua)
distribuídos em 46 andares. Inaugurado em 1965, é atualmente um dos marcos da
cidade, protegido pelo Patrimônio Histórico por ser um dos maiores exemplos da
arquitetura verticalizada brasileira.
A idealização do edifício ficou a encargo da colônia italiana em São Paulo, através
do Circolo Italiano, cuja sede situava-se no terreno onde fora construída a torre. Sua
construção tinha grande importância simbólica para a colônia pois representava a
ascensão social e economica dos imigantes italianos, que haviam começado no país
nas lavouras de café e em meados do século XX já possuíam grande importância na
formação cultural da cidade. Portanto, em 1953, a construtora Otto Meinberg deu
início aos seus planos de construção do edifício, e para isso convidou alguns
arquitetos para participarem da concorrência para elaboração do projeto para o
prédio. A disputa foi realizada com os arquitetos Franz Heep, Gio Ponti e Gregori
Warchavchik. Apesar de parecer o menos indicado para o trabalho, Heep venceu a
concorrência (afinal, Gio Ponti era italiano e Gregori havia estudado em Roma,
deixando Heep sem nenhuma ligação especial com os italianos, mandantes da
obra). O projeto começou a ser construído no início da década de 60, terminando em
1965 e tornando-se o maior edifício da cidade desde então.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_It%C3%A1lia )

O Copan é um dos mais importantes e emblemáticos edifícios da cidade de São


Paulo, Brasil. Projetado por Oscar Niemeyer, localiza-se num dos pontos mais
movimentados do centro da capital paulista. É bastante conhecido por sua geometria
sinuosa, que lembra uma onda, e pelos números superlativos de suas estatísticas.
Tem 140 metros de altura, 37 andares e cerca de cinco mil residentes, considerada
a maior estrutura de concreto armado do Brasil.[1] [2]Possui 1.160 apartamentos
distribuídos em seis blocos e também o Edifício Copan é mais populoso que 457
municípios do país, além de área comercial no térreo com 72 lojas e uma igreja
evangélica, sendo considerado o maior edifício residencial da América Latina
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Copan )

No início de dezembro, a placa à frente do prédio que abrigou o antigo Cine


Marabá, na Avenida Ipiranga, quase esquina com a Avenida São João, informava
que em breve seriam ali inauguradas cinco novas salas de cinema. Multiplex
PlayArte Marabá é como se chamará o complexo - o primeiro com esse conceito a
operar no centro da capital paulista, região que, por muitos anos, reuniu as principais
salas da cidade.
A intenção do grupo que explora o local era que a primeira sessão do novo Marabá
fosse realizada até o final do ano. Ainda que o prazo não viesse a ser cumprido, a
avant-première do conjunto deve ser destacada como passo expressivo no processo
de renovação do centro da capital, em especial porque, atualmente, não existe
sequer um cinema comercial operando na outrora Cinelândia paulistana.
Além de contribuir positivamente para a recuperação daquela área - o hotel que
ocupa os andares superiores do edifício também foi há pouco tempo renovado (com
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  12 
projeto da arquiteta Janete Costa), a conversão do antigo cinema em multiplex deve
despertar interesse pelo fato de ter sido idealizada por Ruy Ohtake, um dos mais
populares arquitetos paulistas e fiel à linha curva: três das cinco salas desenhadas
por ele são espaços redondos.
Seu parceiro na empreitada é Samuel Kruchin, responsável pelo restauro de
elementos da edificação que o órgão municipal do patrimônio sugeriu conservar,
como a fachada, o foyer e parte do balcão.
A abertura do Multiplex PlayArte Marabá será mais um movimento no sentido de
consolidar a recomposição daquela quadra - há pouco tempo, o tradicional Bar
Brahma ampliou seu espaço com a abertura do Esquina MPB (projeto de Beto
Madureira), e, ao que consta, o êxito do hotel Marabá o estaria levando a ampliar
suas instalações.
(http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=851324 )

O edifício da Agência Central dos Correios e Telégrafos, no Vale do


Anhangabaú, é um projeto do Escritório Ramos de Azevedo, concluído em 1922, o
edifício desempenhou um papel estruturante da paisagem urbana, dentro do
processo de transformações que o Vale sofreu ao longo do século. Hoje desfigurado
e ocioso,
O prédio integra um significativo conjunto arquitetônico composto entre outros pelo
Teatro Municipal, Edifício da Light, Edifício Martinelli, viadutos do Chá, Santa Ifigênia
e Praça Ramos de Azevedo. Este local, que já foi considerado o “cartão postal” da
cidade, sofreu um paulatino processo de degradação a partir da década de 50. Nos
anos 90, o centro da cidade volta à tona das discussões urbanas, contando com a
atuação da Associação Viva o Centro, a partir de 1991. Algumas iniciativas foram
concretizadas nos últimos anos, tais como a reurbanização do Vale do Anhangabaú
e o restauro do Teatro Municipal.
A importância histórica do edifício dos Correios acresce devido à sua localização
urbana. Não há dissociação entre o valor do patrimônio e o seu contexto. A região
central, de fato, é depositária de uma experiência urbana e existencial constitutiva da
formação de nossa esfera pública.
(http://www.sampa.art.br/cidade/prediocorreio/ )

O prédio dos Correios, na Avenida São João, vai começar a ser restaurado. O
projeto prevê a instalação de um centro cultural nos três andares superiores do
edifício, onde funcionarão cinemas, teatro e restaurante. Para que isso seja possível,
um novo prédio será erguido anexo, interligado com os pavimentos originais.
Será a primeira grande reforma do edifício e a fachada será restaurada, mantidas
todas as características originais. O projeto é mais uma iniciativa para revitalização
do centro de São Paulo e foi aprovado pela Prefeitura.
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/so_sp/gd300305b.htm )
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  13 

 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  14 

SUMÁRIO

Ata conjunta do XXII Reunião do Conselho Superior da ABEA (COSU) e XXVI 
16
Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ENSEA) 
SEÇÃO TEMÁTICA  24
A Lei da Assistência Técnica e os desafios frente 
Amadja Henrique Borges;Cecília 
aos projetos das habitações de interesse social 
Marilaine Rego de Medeiros; 
no campo: a experiência da parceria  25
Maria Cândida Teixeira de 
Universidade, Estado e Movimento no Rio 
Cerqueira 
Grande do Norte 
JORNADA EM DEFESA DA MORADIA DIGNA: da  Débora Sanches; Luciana Lessa 
34
concepção a realização  Simões 
CASA FÁCIL – Antes e depois da Lei de  Gilson Jacob Bergoc; Ivanóe de 
42
Assistência Técnica.  Cunto; Ivan Prado Jr. 
O ensino e a prática profissional no Curso de  MARCELO, Virgínia C.C.; VIZIOLI, 
Arquitetura e Urbanismo da UniABC: o caso da  Simone Helena Tanoue;  48
Vila Guiomar, Santo André – SP  SARAPKA, Elaine Maria. 
O campo disciplinar do restauro arquitetônico: 
problemáticas na formação do arquiteto  Ana Paula Farah  58
contemporâneo 
Reflexões Acerca da Atuação do Arquiteto‐
Claudio Antonio Santos Lima 
Urbanista na Conservação de Bens  69
Carlos 
Arquitetônicos 
O ENSINO DA CONSERVAÇÃO NOS CURSOS DE 
SAMPAIO, Julio Cesar Ribeiro  80
GRADUAÇÃO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
Um lugar ao sol: em busca de um espaço mais  Maria Clara Migliacio 
adequado para a abordagem do Patrimônio  Josiani Aparecida da Cunha  91
Cultural edificado  Galvão 
PRADO, Michele Monteiro 
O campo disciplinar do patrimônio cultural  100
PIMENTEL, Viviane Lima 
na Isa Garcia Bueno   
Técnicas Retrospectivas: habilidades e  iovane Teodoro de Brito 
109
competências  Chaparro  
Ângela Gil Lins 
Universidade Federal de Goiás   José Artur D’Aló Frota 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO  Christine Ramos Mahler  115
Projeto Político‐Pedagógico  Leonardo Romano 
ARQUITETANDO  José Artur D’Aló Frota 
experiências didáticas nas disciplinas  Eline Maria Moura Pereira  131
introdutórias de projeto  Caixeta 
   

   
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  15 
 

 
Mesa de Abertura do Evento: da esquerda para a direita – Acad. Fernando Carneiro Pires, da 
FeNEA; Arquiteto e Urbanista Daniel Amor do SASP; Arquiteta e Urbanista Saide Katuni da 
ABAP; Engenheiro Civil José Tadeu da Silva Presidente do CREA/SP; Arquiteo e Urbanista José 
Roberto Geraldine Júnior Conselheiro Federal do CONFEA; Arquiteto e Urbanista José 
Antonio Lanchoti, pres. ABEA; Professor Sylvio Sawaya Diretor da FAU/USP; Arquiteto e 
Urbanista Francisco Segnini Coordenador da Comissão Coordenadora do curso de 
Arquitetura e Urbanismo da FAU/USP; e o Arquiteto e Urbanista Ângelo Arruda Presidente 
da Federação Nacional de Arquitetos – FNA. 
 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  16 

Ata conjunta do XXIII Reunião do Conselho Superior da ABEA 
(COSU) e XXVII Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e 
Urbanismo (ENSEA) 
Realizados no Auditório da FAU/USP, São Paulo‐SP, de 7 a 9/05/2009 

Foram inscritos 81 participantes, sendo 7 estudantes e 74 docentes, dos quais 32


coordenadores ou diretores de curso, representando 65 instituições de ensino, além
de 2 entidades convidadas (FNA – Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas e
FENEA – Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo):
1 Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto/SP Barão de Mauá
2 Centro Universitário Central Paulista, São Carlos/SP UNICEP
3 Centro Universitário de Araraquara, Araraquara/SP UNIARA
4 Centro Universitário de Votuporanga, Votuporanga/SP UNIFEV
5 Centro Universitário Fed.Estabel.Ensino Superior, Novo Hamburgo/RS
FEEVALE
6 Centro Universitário Filadélfia UNIFIL
7 Centro Universitário Fluminense, Campos dos Goytacazes/RJ UNIFLU
8 Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto/SP CUML
9 Centro Universitário Nove de Julho, São Paulo/SP UNINOVE
10 Centro Universitário Ritter dos Reis, Porto Alegre/RS UniRitter
11 Centro Universitário Vila Velha, Vila Velha/ES UVV
12 Faculdade Brasileira, Vitória/ES UNIVIX
13 Faculdade de Aracruz, Aracruz/ES FAACZ
14 Faculdades Integradas Alcântara Machado, São Paulo/SP FIAM-FAAM
15 Faculdades Integradas Dom Pedro II, S. José do Rio Preto/SP Dom Pedro
II
16 Faculdades Integradas Silva e Souza, Rio de Janeiro/RJ FISS
17 Faculdade Mater Dei, Pato Branco/PR Mater Dei
18 Faculdades Nordeste, Fortaleza/CE FANOR
19 Fundação Educacional Miguel Mofarrej, Ourinhos/SP FEMM
20 Fundação Mineira de Educação e Cultura, Belo Horizonte/MG FUMEC
21 Instituto Camillo Filho, Teresina/PI IFC
22 Instituto Metodista Bennett Bennett
23 Instituto Sup. de Ensino do CENSA, Campos dos Goytacazes/RJ ISE/CENSA
24 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas/SP PUC-
Campinas
25 Pontifícia Universidade Católica de MG, Belo Horizonte/MG PUC-Minas
26 Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba/PR PUC-PR
27 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ
PUC-Rio
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  17 
28 Universidade Católica de Pelotas, Pelotas/RS UCPEL
29 Universidade Católica de Santos UNISANTOS
30 Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Chapecó/SC
UNOCHAPECÓ
31 Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo/SP UNICSUL
32 Universidade de Brasília UnB
33 Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul/RS UCS
34 Universidade de Cuiabá, Cuiabá/MT UNIC
35 Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo/RS UPF
36 Universidade de São Paulo, São Paulo/SP USP
37 Universidade do Estado de Mato Grosso, Barra do Bugres/MT UNEMAT
38 Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma/SC UNESC
39 Universidade do Grande ABC UniABC
40 Universidade Estácio de Sá UNESA
41 Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP UNICAMP
42 Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR UEL
43 Universidade Estadual de Maringá, Maringá/PR UEM
44 Universidade Estadual Paulista, Bauru/SP UNESP
45 Universidade Federal de Goiás, Goiânia/GO UFG
46 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora/MG UFJF
47 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS UFMS
48 Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte/MG UFMG
49 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS UFPel
50 Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC UFSC
51 Universidade Federal de Sergipe UFS
52 Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia/MG UFU
53 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ UFRJ
54 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN UFRN
55 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS UFRGS
56 Universidade Federal do Tocantins, Palmas/TO UFT
57 Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ UFF
58 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica/RJ UFRRJ
59 Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ UGF
60 Universidade Metodista de Piracicaba, Santa Bárbara d’Oeste/SP UNIMEP
61 Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal –
(Universidade Anhanguera), Campo Grande/MS UNIDERP
62 Universidade Paulista (multicampi) UNIP
63 Universidade Positivo, Curitiba/PR UNICENP
64 Universidade Regional de Blumenau, Blumenau/SC FURB
65 Universidade Tiradentes, Aracaju/SE UNIT
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  18 
Às 10h00min do dia 7 de maio de 2009, no Auditório da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), localizado à Rua do Lago
s/n0, Cidade Universitária, em São Paulo/SP, o Presidente da ABEA, Prof. Dr. Arq.
Urb. José Antonio Lanchoti abriu a primeira sessão do XXIII COSU, na companhia
do Secretário da ABEA, Prof. Dr. Arq. Urb. Carlos Eduardo Nunes-Ferreira. O
Presidente Lanchoti apresentou a programação dos dois eventos ao Plenário e
discorreu sobre os seguintes temas:
- Perfis da Área & Padrões de Qualidade dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo:
A comissão formada pelos professores Fernando Costa, Isabel Eiras e Wilson
Ribeiro irão apresentar o documento provisório no próximo sábado, para que este
seja levado ao debate nas instituições, receba contribuições e seja votado
oportunamente no próximo CONABEA.
- IV Conferência das Cidades – 2009/2011:
O Presidente convocou os presentes para que participem do processo de modo a
que a ABEA tenha representação em todos os níveis da Conferência: municipal
(setembro e outubro de 2009), estadual (início de 2010) e nacional (junho de 2010,
antes do recesso parlamentar). O tema deverá ser: Direito à Cidade, em
consonância com o V Fórum Urbano Mundial.
- V Fórum Urbano Mundial – Rio de Janeiro 2010:
O Presidente convocou os presentes a estimularem a apresentação de trabalhos
desenvolvidos em suas escolas, para que possam ser exibidos durante o Fórum,
que deverá acontecer no mês de março, em armazéns da zona portuária. Há planos
para a montagem de um espaço exclusivo da ABEA no evento, para o qual são
esperados 5.000 participantes de diversos países. Também foi sugerido que a ABEA
deveria participar da organização do evento junto ao Ministério das Cidades.
- Encerramento da parceria MCidades – MEC - ABEA no Programa Brasil Acessível:
O Ministério das Cidades decidiu unilateralmente encerrar a parceria. A ABEA
pretende dar continuidade ao Programa buscando a parceria das próprias
instituições de ensino para a realização de oficinas de acessibilidade. Ainda existem
Kits de Acessibilidade que poderão ser fornecidos às escolas sob solicitação. O
Ministério da Educação, por outro lado, mostrou interesse em manter a parceria,
inclusive com extensão a outros cursos. Há entendimentos no sentido de obrigar as
instituições de ensino superior a apresentarem laudo técnico aferindo a
acessibilidade de suas unidades – ou termo de adequação de conduta - assinado
por arquiteto e urbanista ou engenheiro civil, que assumiria responsabilidade técnica
associada a uma ART.
- Convênio ABEA – CONFEA - MEC para Manifestações Técnicas dos Cursos de
Arquitetura e Urbanismo:
O Prof. Dr. José Geraldine Jr., Coordenador da Comissão de Educação e Atribuição
Profissional (CEAP) do CONFEA informou que foi renovado o convênio
CONFEA/MEC (SeSU) para análise técnica dos documentos referentes aos
processos de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento por
especialistas indicados pelas entidades: ABEA, ABEAS e ABENGE. Os professores
João Carlos Correia e Paulo Santana prestaram esclarecimentos relativos ao
desenvolvimento de uma matriz de conhecimento com base na Resolução
1.010/2005 do CONFEA, que tem como modelo a matriz de conhecimento da
engenharia elétrica. Alertaram, ainda, para as tentativas por parte das câmaras de
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  19 
modificar o Anexo I da referida resolução. Além disso, está sendo criado um sistema
de consulta eletrônica em que a IES poderá simular a adequação do Projeto
Pedagógico às atribuições profissionais pretendidas. Fernando Costa lembrou que
há um processo de convergência entre as Diretrizes Curriculares Nacionais, a
Res.1010 e a matriz de conhecimento e que, neste sentido, não há risco para os
cursos cujo PPC já reflita as DCN. Também foi lembrado que já há parecer do STF
de que os conselhos não têm ingerência nos cursos no que se refere a carga
horária.
- Conselho de Arquitetos e Urbanistas – CAU
O Prof. Dr. Arq. Urb. Fernando Costa relatou que o Projeto de Lei 4.413/08 está sob
análise do Deputado Federal e Arq. Luiz Carlos Busato. Foi designado o Deputado
Federal Fernando Chucre como representante da ABEA no Congresso Nacional
pela aprovação do PL. O Presidente Lanchoti leu a “Carta da ABEA aos Deputados”,
a ser entregue ao Deputado Chucre, declarando apoio formal da entidade à criação
do CAU. Foi solicitado, ainda, que os participantes entrem em contato com os
deputados dos seus respectivos estados. Fernando Costa lembrou que a proposta
de ter um representante estadual das instituições de ensino foi derrotada em mais
de uma instância e que, portanto, a ABEA iria abandoná-la. Prof. Arq. Urb. Ângelo
Arruda, Presidente da FNA, lembrou a proposta de serem criadas comissões
permanentes de educação e formação a nível estadual, que serão coordenadas por
um conselheiro nacional e apresentou o site www.cau.org.br, que é patrocinado
pelas cinco entidades do CBA e tem como finalidade manter todos os arquitetos e
urbanistas informados sobre o trâmite do PL.
- Mensagem de Boas Vindas:
O Prof. Dr. Arq. Urb. Francisco Segnini (FAU/USP) dirigiu-se à Plenária para dar as
boas vindas em nome da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo e desejou a todos um bom aproveitamento no encontro.
- COSU I.A.B. - 12 a 16 de junho de 2009 em Ouro Preto/MG
A ABEA foi convidada e enviará um representante ao evento.
- Seminário da ANPAC – 9 e 10 de junho na USP de São Carlos/SP
A ABEA foi convidada e enviará um representante ao evento.
- Processo Eleitoral da Diretoria da ABEA 2009/2011 – Indicação da Comissão
Eleitoral
A eleição terá lugar no CONABEA de 11 a 14 de novembro, em Brasília. O
regimento foi disponibilizado na Secretaria do evento atual, lido e aprovado. A
Comissão foi formada na Plenária com a seguinte configuração: Carlos Eduardo
Zahn (USP/UNINOVE) e Josiani Aparecida da Cunha Galvão (UNEMAT), além de
um representante e um membro suplente da UnB, IES que sediará o evento.
- Sistema de Acreditação Regional de Cursos Universitários do MERCOSUL (ARCU-
SUL)
Foi realizada, em São Paulo, uma capacitação de 34 avaliadores dos países
membros (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e países associados (Bolívia, Chile
e Venezuela). Profa. Dra. Maria Cristina Dias Lay (UFRGS) relatou o encontro em
Porto Alegre com 16 diretores de cursos de arquitetura e urbanismo que deu origem
ao documento: “Declaração de Porto Alegre”. Andrey Schlee relatou um pouco do
histórico deste processo, com reuniões já realizadas em Buenos Aires, Montevidéu e
Porto Alegre.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
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Às 13h00min, a sessão foi encerrada para o almoço.
Às 14h45min, foi iniciada a segunda sessão do XXXIII COSU com as apresentações
sobre Acreditação Regional dos Cursos Universitários do MERCOSUL – Sistema
ARCU-SUL. O Presidente da ABEA, Prof. Dr. Arq. Urb. José Antonio Lanchoti,
convidou à Mesa: o Prof. Dr. Sérgio Roberto Kieling Franco, professor da UFRGS e
membro do CONAES/MEC; o Vice-Presidente da ABEA e membro da Comissão
Consultiva de Arquitetura da CONAES, Prof. Arq. Urb Fernando José de Medeiros
Costa e o Prof. Dr. Andrey Rosenthal Schlee, Diretor da ABEA e membro da
Comissão Consultiva de Arquitetura da CONAES. Sergio Kieling apresentou à
Plenária: objetivos (criar uma cultura internacional nos cursos brasileiros, possibilitar
a interlocução com a América do Sul, viabilizar a mobilidade acadêmica – estudantil
e docente, iniciar cooperação em pesquisa), critérios (voluntariado), processo de
seleção e treinamento dos avaliadores (análise de CV, experiência em avaliação e
administração acadêmica), andamento e o cronograma indicativo do ARCU-SUL.
Seguiu-se debate em que houve manifestos a favor da melhoria de qualidade que
poderá ser gerada pelo ARCU-SUL inclusive a áreas estratégias para o
desenvolvimento do continente, enquanto manifestações contrárias revelaram
preocupações quanto à existência de mais um sistema de avaliação das escolas
com padrão de excelência único imposto a culturas diversas. Ao final do debate,
Maria Cristina Dias Lay (UFRGS) entregou á Mesa o documento designado:
“Declaração de Porto Alegre”.
A sessão foi encerrada às 18h00.
Às 19h00min, o Presidente da ABEA, Prof. Dr. Arq. Urb. José Antonio Lanchoti
presidiu a Abertura Oficial do XXVII ENSEA e do XXXIII COSU-ABEA após a
composição da Mesa com as seguintes autoridades e convidados: Diretor da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU USP:
Prof. Dr. Arquiteto e Urbanista Silvio Sawaya; o Representante da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU USP - e Coordenador
da Comissão Coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo: Prof. Dr. Arquiteto
e Urbanista Francisco Segnini; o Membro do CONAES/MEC e Representante do
Sistema ARCU-SUL: Prof. Dr. Sérgio Roberto Kieling Franco; o Representante do
Presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia –
CONFEA: Conselheiro Federal e Prof. Dr. José Roberto Geraldine Júnior; o
Presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do
Estado de São Paulo - CREA São Paulo: Engenheiro Civil José Tadeu da Silva; a
Presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP: Profa. Dra.
Arquiteta e Urbanista Saide Kahtouni; o Vice-Presidente da Associação Brasileira de
Escritórios de Arquitetura – AsBEA: José Eduardo Tibiriça; o Presidente da
Federação Nacional de Arquitetos – FNA: Prof. Arquiteto e Urbanista Ângelo Arruda;
o Diretor de Ensino, Extensão e Pesquisa da Federação Nacional dos Estudantes de
Arquitetura e Urbanismo do Brasil – FeNEA: Acadêmico Fernando Carneiro Pires; o
Diretor Regional da Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo
do Brasil – FeNEA: Acadêmico Gustavo Menezes; o Representante do Grêmio
Estudantil GFAU da FAU-USP: Rafael Cruz Gimenez; o Presidente do Sindicato dos
Arquitetos do Estado de São Paulo – SASP: o Arquiteto Daniel Catelli Amour; e o
Presidente da Fundação para a Pesquisa Ambiental – FUPAM: Prof. Arquiteto e
Urbanista Pedro Taddei. Foram registradas ainda as presenças do 1º Vice-
presidente do CREA Mato Grosso do Sul: Arquiteto Luís Fernando Costa e da
representante da Diretoria do CREA Rio de Janeiro: Arquiteta Sônia Azevedo Le
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  21 
Cocq D’Oliveira. Às 21h30, após os pronunciamentos de diversos membros da
Mesa, os organizadores convidaram todos os participantes para um coquetel servido
na área externa do Auditório Ariosto Mila, da FAU-USP.
Às 10h00 do dia 8 de maio de 2009, o Vice-Presidente Fernando Costa abriu a
primeira sessão do XXVII ENSEA e apresentou o Prof. Eder Roberto da Silva -
Professor do Centro Universitário Barão de Mauá (Ribeirão Preto/SP), ex-
Conselheiro do CREA-SP e ex-Coordenador de Câmara Especializada de
Arquitetura do CREA-SP - que proferiu a conferência: “O Ensino nos Cursos de
Arquitetura e Urbanismo sobre a Assistência Técnica e a Lei Federal nº. 11.888/08”.
Em seguida, o Presidente Lanchoti anunciou a palestra “A Conservação do
Patrimônio Cultural e as Técnicas Retrospectivas”, que foi proferida pelo Prof.
Cláudio Forte Maiolino - professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(Curitiba/PR) e Conselheiro Federal do CONFEA.
A sessão foi encerrada às 13h00min.
Os trabalhos foram reiniciados no período da tarde do dia 8 de maio pelo Presidente
da ABEA, Prof. Dr. Arq. Urb José Antonio Lanchoti. A Plenária recebeu a honrosa
visita do Prof. Dr. Arq. e Urb. Nestor Goulart dos Reis Filho, que celebrou com os
participantes as vitórias da ABEA ao longo dos seus 35 anos de luta pela melhoria
da qualidade de ensino da Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Em seguida, assumiu
a Direção da Mesa o Prof. João Carlos Correia. A apresentação de trabalhos
prevista na programação teve então início de acordo com a seguinte ordem:
1. 14h00 - A LEI DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E OS DESAFIOS FRENTE AOS
PROJETOS DAS HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL NO CAMPO: A
EXPERIÊNCIA DA PARCERIA UNIVERSIDADE, ESTADO E MOVIMENTO NO RIO
GRANDE DO NORTE. Amadja Henrique Borges – UFRN; Cecília Marilaine Rego de
Medeiros – UFRN; Maria Cândida Teixeira de Cerqueira - UFRN
2. 14h15 - JORNADA EM DEFESA DA MORADIA DIGNA: DA CONCEPÇÃO À
REALIZAÇÃO. Prof. M.Sc. Débora Sanches - UNINOVE/CUBASP; Prof. M.Sc.
Luciana Lessa Simões - UNINOVE
3. 14h30 - CASA FÁCIL – ANTES E DEPOIS DA LEI DE ASSISTÊNCIA
TÉCNICA. Prof. M.Sc. Gilson Jacob Bergoc, M.Sc.; Prof. M.Sc. Ivanóe de Cunto,
M.Sc.; Prof. M.Sc. Ivan Prado Jr., M.Sc.
4. 14h45 - O ENSINO E A PRÁTICA PROFISSIONAL NO CURSO DE
ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIABC: O CASO DA VILA GUIOMAR, SANTO
ANDRÉ – SP. Prof. Drª. Virgínia C.C. Marcelo – UniABC; Prof. Drª. Simone Helena
Tanoue Vizioli – UniABC; Prof. M.Sc. Elaine Maria Sarapka
Entre 15h00 e 15h30 houve debate sobre a temática da Assistência Técnica.
5. 15h30 - EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE RESTAURO DA PUC-PR. Prof.
Cláudio Forte Maiolino - PALESTRA
6. 15h45 - O CAMPO DISCIPLINAR DO RESTAURO ARQUITETÔNICO:
PROBLEMÁTICAS NA FORMAÇÃO DO ARQUITETO CONTEMPORÂNEO. Prof.
M.Sc. Ana Paula Farah - doutoranda FAU-USP.
7. 16h00 - REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO ARQUITETO-URBANISTA
NA CONSERVAÇÃO DE BENS ARQUITETÔNICOS. Prof. Dr. Claudio Antonio
Santos Lima Carlos - UFRuralRJ/IT/Dau
8. 16h15 - O ENSINO DA CONSERVAÇÃO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO
DE ARQUITETURA E URBANISMO. Prof. Dr. Julio Cesar Ribeiro Sampaio - UFJF
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  22 
9. 16h30 - UM LUGAR AO SOL: EM BUSCA DE UM ESPAÇO MAIS
ADEQUADO PARA A ABORDAGEM DO PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO.
Profª. Drª. Maria Clara Migliacio - UFMT e Técnica do IPHAN; Prof. M.Sc. Josiani
Aparecida da Cunha Galvão - UEMT
10. 16h45 - O CAMPO DISCIPLINAR DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Prof. M.Sc.
Viviane Lima Pimentel - UNIVIX
11. 17h00 - TÉCNICAS RETROSPECTIVAS: HABILIDADES E COMPETÊNCIAS.
Prof. Ana Isa Garcia Bueno - UNIDERP MS
Entre 17h30 e 18h00 houve debate sobre a temática das Técnicas Retrospectivas,
com destaque para as críticas de vários palestrantes quanto à denominação
estabelecida pela resolução 1770.
12. 18h15 - PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA FAV-UFG. Prof. Dr.
Arquiteto José Artur D’Aló Frota; Profa. Ms. Arquiteta Christine Ramos Ma
13. 18h30 - ARQUITETANDO: EXPERIÊNCIAS DIDÁTICAS NAS DISCIPLINAS
INTRODUTÓRIAS DE PROJETO. Prof. Dr. José Artur D’Aló Frota; Prof. Dr. Elaine
Maria Moura Pereira Caixeta
Os trabalhos do dia foram encerrados às 19h00min.
Às 09h00min do dia 09 de maio de 2009, foi aberta a sessão final do XXXIII COSU
da ABEA. Isabel Eiras e Wilson Ribeiro apresentaram o estado da arte da proposta
de Perfis da Área & Padrões de Qualidade dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo a
ser votada no XV Congresso Nacional da ABEA. Foram feitos os seguintes
encaminhamentos aprovados pela Plenária:
1) A ABEA recomenda que as escolas de arquitetura e urbanismo considerem a
moradia de interesse social, os assentamentos populares e as parcelas precárias do
tecido urbano como um campo de estudo que se amplia atualmente no Brasil, seja
pelo processo real de expansão de nossas cidades e áreas rurais, seja pelo
crescimento de ações, normatizações e investimentos, públicos e privados. A ABEA
considera que este campo de estudo aprofunda a compreensão da dinâmica físico-
territorial e suas desigualdades sociais, bem como abre um importante segmento de
atuação de arquitetos e urbanistas, a ser desenvolvida, no meio acadêmico – no
ensino, pesquisa e extensão – objetivando aprofundar a nossa função social. Desta
forma, propõe às escolas que estas preparem documentos sobre como a formação
deverá atender a este enfoque, agora formal, a partir de debates internos, que
subsidiem o próximo CONABEA.
2) Carta aos movimentos sociais e à sociedade como um todo: Os professores de
arquitetura e urbanismo reunidos no XXXIII COSU da ABEA consideram a recém
aprovada Lei 1.888/08 de Assistência Técnica à habitação de interesse social uma
grande conquista do direito à função social da moradia, do incentivo à organização
das comunidades em mutirões assistidos e da provisão de infra-estrutura necessária
para a sua concretização. Por outro lado, preocupam-se com o direcionamento dos
recursos públicos para o programa “Minha Casa, Minha Vida” para outros fins e
métodos. Desta forma, compreendem como fundamental que o Governo Federal
intensifique os montantes de recursos federais para programas, novos ou antigos,
que utilizem os mutirões, a assistência técnica e os grupos organizados, atendendo
aos objetivos da referida lei.
3) Moção: Os professores de arquitetura e urbanismo reunidos no XXXIII COSU da
ABEA agradecem à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  23 
Paulo (FAU-USP) na pessoa do Prof. Francisco Segnini pelo apoio dispensado para
a realização dos eventos conjuntos do XXXIII COSU e XXVII ENSEA da ABEA.
Após a leitura e votação dos encaminhamentos acima reproduzidos, o Presidente
Lanchoti apresentou à Plenária e convidou todos os participantes para o XV
CONABEA – Congresso Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura
e Urbanismo a ser realizado entre os dias 11 e 14 de novembro de 2009 na
Universidade de Brasília (Brasília/DF). Às 13h00min, o Presidente Lanchoti encerrou
oficialmente os eventos.

São Paulo, 9 de maio de 2009

Carlos Eduardo Nunes-Ferreira


Secretário da ABEA

José Antônio Lanchoti


Presidente da ABEA
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SEÇÃO TEMÁTICA

TRABALHOS APRESENTADOS
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  25 

A Lei da Assistência Técnica e os desafios frente aos projetos das habitações 
de interesse social no campo: a experiência da parceria Universidade, Estado 
e Movimento no Rio Grande do Norte. 
Amadja Henrique Borges – arquiteta e urbanista, doutora em estruturas ambientais urbanas, 
professora da graduação e da pós‐graduação em arquitetura e urbanismo da UFRN, e‐mail: 
amadja@ufrnet.br, tel: (84) 32060260 e (84) 88289170. 
 
Cecília Marilaine Rego de Medeirosien – concluinte de arquitetura e urbanismo do CAU/UFRN, e‐
mail: cecília.marilaine@yahoo.com.br 
 
Maria Cândida Teixeira de Cerqueira – arquiteta e urbanista, mestranda do PPGAU/UFRN, 
mcandidac@gmail.com 

Resumo
Este trabalho envolve a questão da moradia para áreas de projetos chamados de “reforma agrária”, 
especificamente do movimento social de maior repercussão no campo, o MST. Tem como proposta 
trazer ao debate a especificidade do campo no objeto da Lei 1888/08. Portanto, discutir a assistência 
técnica para esse segmento, significa trazer em pauta outras necessidades para a regulamentação da 
nova lei. Entre elas, o planejamento e a infra‐estrutura de seus habitats, o apoio logístico para o 
desenvolvimento de atividades em locais de difícil acesso e a busca de criar padrões e critérios para 
assegurar que esses espaços atendam às expectativas de seus usuários, além de uma melhor 
qualidade construtiva, estética e ambiental. Como para a lei, o Grupo de Estudos em Reforma Agrária 
e Habitat‐GERAH tem seu enfoque na assessoria de profissionais de construção civil, porém, com a 
participação de pesquisadores sociais. Ao longo de 15 anos de existência, tem dividido suas 
temáticas entre a pesquisa e a extensão, com rebatimento sistemático no ensino. Além disso, 
considera importante que a assistência social, seja no campo ou na cidade tenha uma postura 
dialógica entre o saber técnico e o saber popular, atuando nessas áreas com a participação ativa dos 
envolvidos em todas as etapas dos trabalhos.  

1. Introdução
Este trabalho tem como proposta trazer ao debate uma temática com diferenciadas escalas de 
atuação. Ele envolve, conjuntamente, a moradia e o trabalho no cotidiano de participantes de um 
movimento social do campo, frente a questões inerentes, originariamente, aos trabalhadores 
envolvidos com os movimentos por moradia nas cidades. Portanto, discutir o desenvolvimento de 
uma metodologia para este segmento social trás em pauta novos conceitos, parâmetros e 
necessidades, a começar pelo planejamento, com a inserção do intra‐rural e o urbanismo, com a 
necessidade de se planejar espaços de vida cotidiana em assentamentos humanos dispersos, mistos 
ou mesmo concentradosi, mas ainda rurais, visto que se trata de produção majoritariamente 
agrícola.  
A utilização da ciência em projetos populares como este, tem, principalmente, seu papel educador e 
organizacional, na perspectiva do crescimento profissional e político das bases de um Movimento 
que, segundo Maria da Glória Gohn (1995), foi o de maior importância do final do século XX. 
Considerando‐se os enfrentamentos da sua organização, trata, especificamente, das possibilidades e 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  26 
dificuldades da assessoria técnica e científica diante da falta ou inadequação de políticas públicas 
específicas para esses espaços ou de referências de parâmetros para serem neles utilizados. Nessa 
perspectiva, a UFRN desenvolve projetos de pesquisa e de extensão e cursos na graduação e na pós‐
graduação. Para este último, “Política e Projeto da Habitação Social II” e, para a graduação, a 
Assistência Técnica à Habitação de Interesse Social. 
A construção dessa metodologia teve início em 1994. Como principal referência metodológicas têm‐
se H. Léfèbvre (1978) e suas concepções de vida cotidiana, dos momentos de ruptura, do vivido e dos 
sonhos, no sentido de compreender as necessidades específicas dos assentamentos do MST, 
movimento popular que, apesar de conviver com as contradições do modo de produção capitalista, 
empreende ações no sentido da transformação e criação de novas relações sociais. Ela cria 
parâmetros para o desenho de assentamentos rurais, enquanto reflexo do vivido e das expectativas 
de organização do Movimento, através de um processo de planejamento participativo.  
O trabalho de parceria com um movimento popular – responsável pela organicidade do processo – 
requer a compreensão de suas características, potencialidades e limites, além da capacidade de 
espacializar o seu ideário. Quanto à parceria com o Estado, tem‐se dado através do INCRA/RN, de 
acordo com os momentos políticos/gestores, diferenciando‐se ao longo desses catorze anos de 
trabalho no meio rural. Seus dois eixos de atuação são: o primeiro, do planejamento e da construção 
do habitat e da moradia, e o segundo o planejamento da melhoria e da ampliação das moradias do 
MST. 
 
1. Planejamento e construção do habitat e da moradia
Como principais experiências referentes às 
construções de suas moradias tem‐se o planejamento 
ambiental, do habitat e de suas moradias, reuso de 
suas águas residuárias e sua construção em regime de 
mutirão assistido nos assentamentos Maria da Paz, 
em João Câmara, Resistência Potiguar I, em Ceará‐
Mirim, Bernardo Marim, em Pureza, Roseli Nunes, em 
Figura 1: Assessoria técnica do projeto ao
Ielmo Marinho, e Maisa, em Mossoró, além de outras  processo construtivo do Mª da Paz, 2002/2005.
em processo de negociação de financiamento com os 
órgãos públicos. A partir do final de 2006, iniciou‐se o 
estudo de melhoria de moradias já existentes, construídas, originariamente, por construtoras ou por 
seus próprios moradores, sem fiscalização, atendimento a normas técnicas ou acompanhamento de 
profissionais do ramo da construção civil. 
Em ambas são introduzidas metodologias que têm sua principal abordagem na pesquisação, 
buscando solucionar os conflitos entre as expectativas das bases e militâncias do Movimento, os 
condicionantes técnicos, ambientais, financeiros e políticos, enquanto planejadores físico‐territoriais. 
A metodologia do GERAH incorpora os núcleos de base do MST nos habitats concentrados, 
desenvolvendo diretrizes na perspectiva de contribuir com a sua organização (ver diferentes habitats 
concentrados nos PAs Olga Benário – Figuras 2 e 3 – e Paulo Freire – Figura 4). Partindo destas 
diretrizes, o Grupo também avalia suas ações, integrando a pesquisa à extensão. 
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Figura 2: Projeto do habitat Figura 3: Assentamento Olga Figura 4: Projeto do habitat
(agrovila) do Assentamento Olga Benário, localização do habitat, (agrovila) do Assentamento Paulo
Benário, 2008 2008 Freire, 2008
 
Intervenção no acampamento (1º momento):
Em outubro de 2002, a assessoria aos Acampamentos Maria da Paz e Margarida Alves dá 
continuidade às ações da Universidade junto ao MST, agindo desde o momento do acampamento. 
Nas demais experiências, a demanda crescente impossibilitou o trabalho nesse primeiro momento, 
mas seguiu na direção do conhecimento do presente, do vivido no seu habitat de origem, seus 
sonhos e expectativas. 
Intervenção no pré-assentamento (2º momento):
 Após o conhecimento da realidade dos assentados e do pré‐assentamento (momento anterior à 
construção de moradias e recebimento dos créditos), as propostas são elaboradas em oficinas, 
reapresentadas e discutidas junto à coordenação do Assentamento e, posteriormente, com as suas 
bases, inúmeras vezes, até que os projetos sejam redefinidos a partir, preferencialmente, de 
consensos. Os estudos preliminares e anteprojetos são relativos ao parcelamento do solo do futuro 
assentamento, propostas para os locais de moradia e projetos específicos visando a construção de 
habitações, equipamentos de produção e de consumo coletivos (ver Figuras 5 e 6, referentes ao 
Assentamento Maria da Paz). 
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Figura 5: Parcelamento do solo do Assentamento Figura 6: Projeto do Habitat do Assentamento Maria
Maria da Paz, 2004 da Paz, 2004
 
Quanto ao local do habitat, a decisão final se dá 
após a conclusão dos levantamentos relativos ao 
meio natural, quando há suporte técnico. Nesse 
contexto, ressalta‐se a importância de haver 
lideranças envolvidas em todo o processo. É 
importante ressaltar que o envolvimento das 
diversas forças na experiência contribui com o 
enriquecimento dos resultados, como na discussão 
do parcelamento do solo, com a incorporação de 
várias propostas dos núcleos de organização do  Figura 7: Oficina do projeto do habitat (agrovila),
assentamento, ou o envolvimento dos técnicos do  Assentamento Resistência Potiguar I, 2006
INCRA responsáveis pelo acompanhamento de 
cada uma delas.  
 
O projeto da casa (3º momento)
Inicialmente, as experiências do Grupo foram realizadas em parceria com o MST e o INCRA, a partir 
do “Crédito Instalação na Modalidade Aquisição de Material de Construção”, que não previa 
assistência técnica, infra‐estrutura para mutirões e autogestão da construção em seus parcos 
recursos. A partir de dezembro de 2007, inicia‐se a inserção da CAIXA, utilizando recursos do FGTS 
para complementar o financiamento do INCRA, de R$7.000,00 até 2008, para compra de materiais, 
em regime de mutirões assistidos. Apesar do salto de qualidade da construção da casa, também não 
agrega valores para a urbanização do seu entorno, sua infra‐estrutura coletiva e demais serviços. 
Esta nova entidade, anteriormente voltada para habitações urbanas, tem normativos inadequados 
para os movimentos rurais, tais como: não considerar as suas dificuldades de acesso e 
deslocamentos e o tempo e as dificuldades financeiras em atender às exigências da CAIXA. Por outro 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  29 
lado, insere parâmetros que consolidam os interesses da metodologia construída, na medida em que 
requer projeto social, profissionais responsáveis pelo projeto e acompanhamento da construção1.  
Organização e desenvolvimento da construção das habitações (4º momento)
A assessoria na construção das habitações tem início com o 
levantamento dos participantes do mutirão, selecionando 
homens e mulheres, com ou sem experiência na construção 
civil. Nesse sentido, um trabalho de formação desses 
mutirantes é realizado por meio de curso com aulas teóricas 
e práticas, que engloba temáticas distintas, relativas à 
organicidade do processo, questões ambientais da área e os 
aspectos técnicos da construção. 
O trabalho de organização das equipes para o trabalho no  Figura 8: Assembléia para organização do
mutirão reflete a organicidade do próprio Movimento e visa  mutirão habitacional, Assentamento
contribuir com a autogestão do processo. Assim, são  Bernardo Marim, 2008
formadas equipes que realizam etapas primordiais, como 
por exemplo, compras, organização e controle do almoxarifado e da freqüência dos trabalhadores 
(papel do apontador). 
A equipe de compras inicia seu trabalho anteriormente às demais, com a pesquisa de preço de 
materiais que irá subsidiar o orçamento do projeto. No decorrer do processo, as demais equipes 
desempenham seus papeis na organização e no 
desenvolvimento da obra. 
 Na construção, estão fundamentadas nos projetos reuso de 
águas residuais, proposta para o esgotamento sanitário das 
habitações.  
O acompanhamento da assessoria técnica possibilita a 
orientação assistida de todo o processo, porém, baseada na 
concepção da autogestão. Nesse sentido, a organização das 
equipes são ferramentas que contribuem com a autogestão e 
Figura 9: Maquete das etapas de
a vivência dos beneficiários no processo.  construção do Assentamento Resistência
A organização das equipes é orientada para um processo  Potiguar I, 2006
construtivo coletivo, baseando‐se nos núcleos de moradia. O 
ponto chave da organização do processo são as etapas de obra, que orientam a compra dos 
materiais e o pagamento da mão‐de‐obra. 
 
2. Planejamento da melhoria e ampliação das moradias
antigas
O segundo eixo trata das moradias construídas há vários anos, a partir de um projeto padronizado 
para a maioria dos PAs do País (de 36 a 48m2). Parte delas construída por autoconstrução ou por 
                                                            
1
 Segundo a CAIXA, com o recém lançado pacote habitacional do Governo Federal ‐ que não atende aos mutirões, nem aos 
movimentos do campo ‐ os demais programas serão extintos. Como fica a, então, as propostas da Lei 1.1888/08? 
 
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construtoras, sem fiscalização e sem registro de autoria. Devido a suas precárias condições, foi criado 
o “Crédito Instalação na Modalidade Recuperação”, em 2006, atualmente com recursos no valor de 
R$5.000,00. 
Os problemas estruturais dessas construções são diversos e requer, portanto um minucioso trabalho 
de levantamento e de acompanhamento que, no entanto, não são previstos nos normativos do 
INCRA. Este, por sua vez, não tem quadros de engenheiros e arquitetos suficientes para acompanhar, 
adequadamente, essas recuperações. Em alguns estados, esses valores foram repassados 
diretamente às associações ou a construtoras, que reproduziram as condições iniciais da construção. 
No RN, o MST propôs o desafio para a Universidade que criou a metodologia atual, em parte utilizada 
pelo INCRA para normatizar o produto de cada experiência, desenvolvida por outras entidades, sob 
prolabores de R$60,00 por casa, retirados dos 15% da mão‐de‐obra, só para o projeto, continuando a 
construção sem acompanhamento técnico.  
 No caso da Universidade, o projeto de extensão possibilita este acompanhamento com a 
coordenação de professores, participação de estudantes e de recém‐formados. A metodologia 
desenvolvida tem as seguintes etapas: 1ª. O levantamento, feito por estudantes de arquitetura – 
entrevista com todas as famílias quanto aos sonhos e desejos de melhoria de suas moradias e 
medição e vistoria das condições de habitabilidade, engenharia – levantamento dos problemas 
estruturais, devidamente anotados e fotografados e medição e vistoria das condições de 
habitabilidade e áreas sociais; cabendo, também, aos estudantes, a tabulação das entrevistas e o 
desenho dessas unidades; 2ª. Seleção de arquitetos e engenheiros, com um perfil social que se 
disponibilizam a realizar trabalho com remunerações simbólicas; 3ª. Realização de anteprojetos por 
profissionais, a partir da análise das entrevistas e dos demais levantamentos realizados “in loco”, sob 
a supervisão da Universidade e de discussões com as lideranças encarregadas de atuar em cada 
experiência; 4ª. Retorno à comunidade: após a realização dos anteprojetos, a equipe formada pela 
Universidade, profissionais e Movimento apresenta a metodologia ao conjunto do assentamento e, 
posteriormente, à cada família para fazer as alterações necessárias; 5ª. Entrega do dossier com 
projetos, memorais descritivos, orçamentos e insumos de cada unidade habitacional ao INCRA, à 
associação responsável e à cada família; e, quando possível, 6ª. Acompanhamento da obra: a partir 
da aprovação da proposta, cabe ao engenheiro orientar as famílias e os pedreiros, acompanhando a 
obra, juntamente com o técnico do INCRA responsável pela área. 
As experiências da Universidade são em oito assentamentos: Gonçalo Soares, Rosário (Figuras 11 e 
12), Vale do Lírio, São Sebastião I, II e III, Eudorado do Carajás I e Nova Esperança. Em 2009, finaliza‐
se cerca de 200 assessorias e inicia‐se um novo estudo, de comparação entre os sonhos dos 
assentados em 10 anos, analisados a partir dessas reformas.  
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  31 

Figura 10: Organização da obra nos projetos Figura 11: Habitação ampliada,
de reforma das habitações (almoxarifado), Assentamento Rosário, 2008
Assentamento Rosário, 2008
 
 
 
4. Considerações finais
A insuficiência de políticas públicas destinadas a habitações de interesse social no campo e a 
inadequação dos projetos de habitats e moradias nos projetos de assentamentos rurais, 
impulsionaram o trabalho deste Grupo. A parceria que construiu ao longo desses quatorze anos com 
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, em alguns momentos, com o Instituto 
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), busca viabilizar a troca de saberes e de 
experiências na melhoria das condições dos habitats e das moradias para os seus usuários. Por outro 
lado, objetiva, também, a introdução dos planejadores, arquitetos e urbanistas, engenheiros e outros 
profissionais no desenvolvimento de pesquisas e outros trabalhos no meio rural. 
Na busca de uma metodologia para habitações de interesse social no meio rural brasileiro, esta 
experiência procura criar padrões e critérios para assegurar uma melhor qualidade construtiva e 
estética nas habitações dos projetos de assentamentos, quanto aos projetos de novas unidades 
habitacionais e nos projetos de melhoria e reforma. Tendo seu enfoque na inserção de profissionais 
da área da construção civil, o trabalho envolve, também, pesquisadores de outras áreas, havendo 
uma contínua avaliação dos procedimentos metodológicos utilizados. Além disso, há uma 
participação ativa dos assentados em todas as etapas dos trabalhos coordenados pelo Grupo. Isto faz 
com que eles se apropriem das propostas, identificando‐se com os resultados obtidos. Como 
conseqüência, observa‐se uma melhora na qualidade de vida dos assentados, que findam por habitar 
num espaço construído adequadamente, seguindo parâmetros técnicos específicos, com o qual 
possuem uma forte ligação e identificação. 
A atuação de arquitetos e engenheiros civis nos projetos de assentamentos rurais constitui‐se um 
novo campo de trabalho, sobretudo como assistência técnica, área onde até bem pouco tempo não 
atuavam. Se por um lado contempla melhores resultados técnicos a esses espaços, por outro 
demanda um maior trabalho de formação desses profissionais em questões sociais, pois percebe‐se 
que ainda são poucos os profissionais interessados neste tipo de trabalho. Soma‐se à falta de 
interesse social a perspectiva de baixa remuneração. 
Outra característica que deve ser destacada é a possibilidade de qualificação profissional de parte 
dos assentados na construção civil, sendo uma possibilidade de emprego, em momentos de entre 
safras de sua produção agrícola. 
Na esfera da Universidade, tem‐se a oportunidade de atuação conjunta em pesquisa e extensão, 
trazendo para o ensino novas perspectivas de conhecimento interdisciplinar, integrando o 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  32 
planejamento ao projeto e o seu processo construtivo. Neste contexto, no que diz respeito à 
construção de habitações e habitats novos alcançou outros patamares com a inserção dos projetos 
financiados pela CAIXA. Para tanto, a metodologia adaptou‐se e criou uma nova relação com o 
processo: continuando a coordená‐lo, passou sua execução a profissionais contratados, monitorados 
e orientados e respaldaram‐se das regras da CAIXA para limitar a dificuldade de assimilação do saber 
técnico pelos construtores, detentores do saber popular.É importante registrar, que a contribuição 
do saber popular tem sido fundamental na construção de todas as experiências. No entanto, 
configuraram‐se também conflitos, muitos dos quais motivados por disputas e interesses particulares 
de alguns assentados pedreiros, em detrimento do coletivo.  
No que se refere à melhoria e ampliação das habitações mais antigas, a simples oferta de créditos 
não assegura resolver os problemas dessas construções. A falta de estrutura do órgão responsável 
pelo planejamento dos assentamentos rurais sem recursos para terceirizar esses serviços implica em 
graves conseqüências para o êxito de seus objetivos. Por sua vez, a regulamentação da lei de 
assistência técnica gratuita precisa assegurar meios de viabilizá‐la, sobretudo para os mutirões e as 
áreas mais distantes dos centros urbanos.  
No RN, as dificuldades também não são poucas, como a falta de lideranças envolvidas com a 
temática, mas há um trabalho conjunto que possibilita o desenvolvimento de metodologias entre 
parcerias, havendo diálogos entre essas que aglutinam suas experiências, saberes e poderes. Há um 
longo caminho a percorrer, mas os primeiros passos já foram dados.  

5. Referências
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PAULA, Hiramisis P. Educação e sustentabilidade: assentamento Maria da Paz – João Câmara/RN. 
2005. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós‐Graduação em Educação/UFRN. Natal, RN, 
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XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
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JORNADA EM DEFESA DA MORADIA DIGNA: da concepção a


realização

Débora Sanches
Arquiteta e Urbanista formada pela PUCCAMP em 1994, Mestre em Habitação pelo IPT
em 2008, Especialista em Desenho e Gestão do território municipal pela PUCCAMP,
Especialista em Educação na área de Formação do Professor para o Ensino Superior pela
UNINOVE. Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nove de Julho,
desde 2002 e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, desde 2009. Experiência
Profissional em habitação de interesse social e projetos sociais no poder público desde
1995.
e-mail: dsanches@uninove.br
Luciana Lessa Simões
Arquiteta e Urbanista formada pela FAUUSP em 1987, Mestre em Planejamento Urbano
pela UNB em 1997. Docente no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nove
de Julho desde 1995. Gerente de Urbanização na Prefeitura Municipal de Santo André-
SP, onde atua desde 1989. Experiência Profissional em gestão pública, elaboração de
Plano Diretor e Plano Municipal de Habitação, sistemas de informação, captação de
recursos, financiamentos habitacionais, urbanização de assentamentos precários e
habitação de interesse social. e-mail: lusimoes@uninove.br

Resumo

Este trabalho descreve a concepção e realização das Jornadas e a participação da


Universidade no processo, fazendo uma relação direta com a aprovação da Lei Federal nº.
11.888/08 que dá direito à Assistência Técnica pública a população de menor renda para o
projeto e a construção da moradia digna.

1. Introdução
Este artigo disserta sobre a criação das Jornadas e a Universidade, evidenciando a
relação entre o ensino de Arquitetura e o direito à Assistência Técnica instituído com a
Lei Federal nº. 11.888/08.
A referida Lei representa um grande avanço na Legislação Urbana Brasileira, pois
concretiza a luta por melhores condições de moradia para as populações mais pobres,
através de Assistência Técnica qualificada.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  35 
A universidade tem papel fundamental neste processo de formação dos futuros arquitetos
e urbanista; com este objetivo, a UNINOVE faz parte da organização das jornadas.
Em muitas escolas de arquitetura, ao longo das últimas décadas, foram criadas novas
práticas, através de atividades extracurriculares, onde o plano de ensino interage com
trabalhos e pesquisas junto à população, em particular aquela parcela freqüentemente
excluída dos serviços profissionais do arquiteto. Também nessa perspectiva, existem
arquitetos que trabalham como assessorias técnicas, ou seja, atuam junto à população
de baixa-renda, que são organizadas em grupos de movimentos por moradia e de luta
por melhorias urbanas ou pela regularização da posse da terra.
Neste sentido, a aprovação da Lei Federal nº. 11.888/081 é avanço na concretização da
assistência técnica qualificada a população de renda baixa e a oportunidade da
Universidade prestar um atendimento ou realizar projetos junto a essas comunidades mais
carentes de uma moradia digna. Essa legislação é fruto do esforço desses profissionais e
comunidades na viabilização de antigas reivindicações junto ao poder público,
possibilitada pela edição do Estatuto da Cidade (2001).

2. Jornada
A concepção da primeira jornada foi fruto da articulação de várias entidades, órgãos
públicos e movimentos sociais, envolvidos com questões urbanas relacionadas ao acesso
à moradia digna para a população de baixa renda que mora no município de São Paulo2.
Vale destacar que o município tem cerca de 1,2 milhões de pessoas que moram em
favelas, além de aproximadamente 10.000 moradores de rua, segundo dados do Plano
Municipal de Habitação de 2003, sem contar os loteamentos irregulares e de risco. O
número de moradores de cortiço na cidade de São Paulo é bastante conflitante: a primeira
pesquisa foi realizada pela SEMPLA em 1983, estimando o número de 2,58 milhões de
moradores, representando 29,3% da população do município daquela época. A Fundação
Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE) realizou em 1993, uma pesquisa amostral e
estimou uma população de aproximadamente 595.110 pessoas, morando em 23.688
cortiços nas 20 administrações regionais de São Paulo.

Essa é uma das principais “soluções de moradias” para a ausência de uma oferta
habitacional mais adequada com preço acessível. O déficit habitacional da região

1 o
“ Art. 2 As famílias com renda mensal de até 3 (três) salários mínimos, residentes em áreas urbanas ou rurais, têm o
direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua própria
moradia.”
2 a
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (2008) “1 Jornada em defesa da moradia digna”. Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, São Paulo. 1. ed., p. 09, 2008.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  36 
metropolitana de São Paulo, segundo a Fundação João Pinheiro em 2006, é de 723.936
mil unidades e no Brasil a mesma pesquisa demonstra um déficit de 7.935 milhões de
moradias.
A falta de habitação está presente em todas as regiões da cidade: basta circular e
perceber o grave problema. A luta pela habitação é histórica e atinge as diversas áreas:
políticas públicas, jurídica, social e econômica3.
A reflexão sobre o conceito de moradia digna foi pautada com o objetivo da conquista da
cidadania, portanto a discussão habitacional amplia o debate sobre quais são as
premissas que propõem os padrões mínimos de habitabilidade necessários a uma
habitação e também a conquista da cidadania com saúde, educação, salubridade,
transporte público, lazer e infra- estrutura4.
Neste sentido, as várias entidades5 envolvidas na concepção do evento idealizaram a
1ªJornada em Defesa da Moradia Digna6 que teve como objetivo o atendimento à
população excluída de acesso à habitação adequada. A idéia foi realizar um “mutirão da
cidadania”, reunindo no mesmo espaço entidades, órgãos públicos, movimentos sociais e
organizações comprometidas em contribuir com soluções para a conquista da moradia
digna na cidade de São Paulo.

3. Os objetivos da 1ª Jornada em Defesa da Moradia Digna


Atender e orientar a população nas questões referentes à moradia nos campos: jurídico,
da saúde, do serviço social, da arquitetura e da engenharia, tendo como princípio a
qualidade e a valorização de cada cidadão.

4. Pré-Jornadas
Na preparação da jornada, diante da impossibilidade de abordar toda a demanda, foram
selecionados quatro casos emblemáticos da cidade de São Paulo – Favela do Moinho
(Reintegração de Posse), Jardim Celeste e Brasilândia (Regularização Fundiária) e Vila
Itororó (Usucapião Urbano), como exemplos das situações tipo mais freqüentes. As pré-
jornadas foram visitas realizadas nas comunidades com o objetivo de conhecer a

3 a
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (2008) “1 Jornada em defesa da moradia digna”. Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, São Paulo. 1. ed., p. 09, 2008.
4
Idem
5
Anoreg (Associação dos Notários e Registradores do Brasil), Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, CAICÓ (Centro de
apoio
a iniciativas comunitárias), Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Escritório Modelo “Dom Paulo Evaristo Arns” –
PUC/SP, GARMIC (Grupo de articulação para Moradia do Idoso da Capital), Instituto Pólis, Pastoral da Moradia - Região
Episcopal do Ipiranga, União de Movimentos de Moradia e UNINOVE.
6
Realizada no 24/02/2007- UNINOVE, Unidade Memorial.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  37 
realidade dos moradores, orientar a liderança e mobilizar a população para a participação
na Jornada.
Alunos e professores dos cursos de arquitetura e direito da UNINOVE acompanharam as
visitas com o intuito de informar a realização do evento e conhecer a realidade daquelas
comunidades.

5. Fotos das visitas nas pré-jornadas

Figura 1: Visita no Jd. Celeste Figura 2: Visita na Vila Itororó


Foto: Rodrigo Tristão Foto: Rodrigo Tristão

Figura 3: Visita a Favela do Moinho Figura 4: Visita a Brasilândia


Foto: Débora Sanches Foto: Rodrigo Tristão

6. Os objetivos da participação da Universidade Nove de Julho


A partir da oportunidade de um trabalho prático envolvendo a realidade das comunidades,
a UNINOVE participou com diversas atividades complementares, tendo como objetivos:

- Mostrar e colocar o aluno em contato direto com os problemas urbanos emergentes na


cidade de São Paulo;
- Estabelecer vínculos práticos entre o processo de aprendizado e situações reais;
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- Subsidiar trabalhos de pesquisa futuros em diversas
áreas;
Essas atividades se associam aos objetivos do curso de Arquitetura e Urbanismo, dentre
eles:
- Realizar trabalhos de pesquisa relativos ao problema habitacional de grupos sociais
diversos – favelados, encortiçados, áreas de risco, etc, assim como pesquisar sobre a
morfologia e as condições ambientais da paisagem de São Paulo e sobre as questões de
planejamento e seu processo de urbanização;
- Formular pesquisas para a experimentação e construção de modelos na área de
tecnologias da habitação popular e da urbanização de assentamentos habitacionais.

7. 1ª Jornada em defesa da moradia digna


A primeira jornada foi realizada no dia 24 de fevereiro de 2007, na UNINOVE7, com a
participação de mais de duas mil pessoas, contou com nove espaços temáticos:
atendimento jurídico individual e coletivo; moradia digna/cidade; reintegração de posse;
usucapião urbano; regularização fundiária; programas habitacionais para área central;
tarifa publica; idosos/melhor idade e filmes e vídeos. Palestras e oficinas foram realizadas
por profissionais, pesquisadores, professores e alunos.
A participação da UNINOVE foi interdisciplinar. O curso de arquitetura e urbanismo
apresentou a oficina “casa saudável e prevenção de acidentes na construção civil”; a
oficina “prevenção de acidentes no lar” foi apresentada pelo curso de engenharia de
produção mecânica; “pintura a base cal” e “limpeza da caixa d’agua” pelo curso de
engenharia civil; o curso de direito ajudou a defensoria pública nos atendimentos jurídicos
e realizou a palestra “O pluralismo paradoxal e os movimentos sociais: democracia
participativa e o Estatuto da Cidade”; o curso de nutrição realizou a palestra para os
idosos “alimentação saudável”; o curso de ciência da computação fez a oficina para os
idosos “inclusão digital”; o curso de turismo fez a recepção das comunidades e
acompanhamento de todo o evento.
Durante a concepção da Jornada, alguns resultados foram perseguidos para que o
evento fosse uma referência importante na conquista da moradia digna:
- Encaminhamentos coletivos e individuais para os casos a serem
solucionados;
- Criação de jurisprudência que possa ser referência do direito à moradia digna;
- Divulgação dos direitos à moradia digna;
- Ampliação dos profissionais envolvidos no tema.

7
(unidade memorial)
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  39 

Figura 7 e 8: evento realizado na UNINOVE no dia 24/02/2007 – 1ª Jornada em Defesa da


Moradia Digna

8. 2ª Jornada: Moradia e Meio Ambiente


A experiência acumulada com o processo da “1ª Jornada em Defesa da Moradia Digna”
direcionou a construção da 2ª Jornada. Mais uma vez, a organização foi composta por
diversas entidades8. O evento foi um processo de aproximação do poder público, através
da Defensoria Pública a outros parceiros que atuam e pensam em soluções para o
problema da moradia que afeta milhões de pessoas na cidade de São Paulo.
O tema proposto para a 2ª Jornada foi “moradia e meio ambiente” para tratar da
relação da habitação social com o meio ambiente, pois existem muitos conflitos entre
esses dois temas. A informalidade do mercado imobiliário gerou a ocupação irregular e
inadequada do meio ambiente urbano, causando conseqüências socioeconômicas,
urbanísticas e ambientais. São características comuns a muitos assentamentos informais:
a falta de segurança jurídica da posse, baixa qualidade de vida9 e ocupação de áreas
ambientalmente sensíveis.
O objetivo da realização da segunda Jornada foi tratar das relações entre moradia e meio
ambiente, com várias oficinas: conflitos; demandas das populações ameaçadas; da
proteção e recuperação dos mananciais, garantindo acesso a direitos, serviços e infra-
estrutura; das atitudes para construção de uma cidade urbanisticamente equilibrada e
ambientalmente sustentável; diálogo entre as agendas do Direito à Moradia e do Direito ao
Meio Ambiente 10.
A organização foi estruturada como a primeira Jornada: foram realizadas pré-jornadas;
visitas às comunidades para preparar e mobilizar as pessoas. Ao todo, foram nove
comunidades: Cidade Nova; Parque Cocaia - Grajaú; Jardim Comercial - Campo Limpo;
8
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Centro de Apoio a Iniciativas Comunitárias (CAICÓ), Centro de Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CEDECA), Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Escritório Modelo “Dom Paulo
Evaristo Arns” (PUC / SP), Grupo de Articulação para Moradia do Idoso da Capital (GARMIC), Instituto Polis, Movimento de
Defesa do Favelado – MDF Pastoral da Moradia, Rede Rua e UNINOVE.
9
FERNANDES
(2007).
10
Grupo executivo da II Jornada
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  40 
Real Park-Jurubatuba; Jardim São Francisco; Jardim Vista Alegre; Vila Albertina; Jardim
Elba e Moradia no centro.
A 2ª Jornada “Moradia e Meio Ambiente” foi realizada no dia 14/02/2009 na UNINOVE11
com a participação de mais de 2.200 pessoas, com atendimento jurídico individual e
coletivo; oficinas e palestras relacionadas ao tema e recreação para as crianças.
A participação interdisciplinar dos diversos cursos da UNINOVE foi, mais uma vez, um
momento de troca de experiência e sensibilização dos problemas sociais. Os cursos de
turismo, serviço social e arquitetura ajudaram na recepção das comunidades e nas
atividades com as crianças. O curso de direito realizou atendimento jurídico individual e
palestras. Os cursos de engenharia civil e arquitetura fizeram oficinas e palestras com as
comunidades. Os cursos de nutrição, farmácia e enfermagem realizaram palestras para
os idosos. O curso de ciência da computação realizou a oficina de inclusão digital com os
idosos.

Figura 9: II Jornada realizada na UNINOVE dia 14/02/2009 Figura 10: recreação com as
crianças
Foto: Luis Octavio Rocha Foto: Luis Octavio Rocha

9. Considerações Finais
O processo da Jornada trouxe para a Universidade Nove de Julho a criação de um
grupo12 de estudos sobre Produção Arquitetônica do Habitat Humano, onde são
desenvolvidas pesquisas de professor docente e de iniciação científica, como as
seguintes:
- Habitação de interesse social: a produção estatal em São Paulo;
- Habitação de Interesse Social: a produção realizada a partir da década de 90 no
município de São Paulo;
- Pós-ocupação dos empreendimentos de Habitação de Interesse Social na área central
de São Paulo;

11
(unidade memorial)
12
Participam professores e alunos do curso de arquitetura e urbanismo.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  41 
- A produção privada de HMP e HIS – efeitos da aplicação das ZEIS em São Paulo;
- Análise das intervenções imobiliárias nas Zeis (zonas especiais de interesse social)
dasSubprefeituras Lapa e Sé.
A participação dos alunos na Jornada e consequentemente nas pesquisas em
desenvolvimento, direcionou os que estavam no período do TFG13 a desenvolver temas
relacionados habitação popular e da urbanização de assentamentos habitacionais.

10. Referências

BONDUKI, N. G. H. (1998) Origens da Habitação social no Brasil: Arquitetura moderna, lei


do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade; FAPESP, 1998.

CARICARI, Ana Maria e KOHARA, Luiz (orgs.) (2006) Cortiços em São Paulo: Soluções
Viáveis para Habitação Social no Centro da Cidade e Legislação de Proteção à Moradia.
São Paulo: Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, 2006.

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. (2008) 1a Jornada em defesa da


moradia digna. Defensoria Pública do Estado de São Paulo, São Paulo. 1. ed., 2008.

FERNANDES, Edésio. (2007) Regularização de assentamentos informais: o grande


desafio dos municípios, da sociedade e dos juristas brasileiros. In: Regularizações
Fundiárias Sustentável- conceitos e diretrizes. Raquel Rolnik... [et al.].Brasília: Ministério
das Cidades, 2007.

MARICATO, E. (1996) Metrópole na Periferia do Capitalismo: ilegalidade, desigualdade e


violência. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.

13
Trabalho Final de Graduação
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  42 

CASA FÁCIL – Antes e depois da Lei de Assistência Técnica.


 

Arq.Urb. Gilson Jacob Bergoc, M.Sc. 

Arq.Urb. Ivanóe de Cunto, M.Sc. 

Arq.Urb. Ivan Prado Jr., M.Sc. 

Resumo
A experiência do programa de extensão denominada “Projeto Casa Fácil” é relatada neste artigo, 
compreendendo um breve histórico, as parcerias que viabilizaram o programa, os resultados obtidos 
no período mais recente, a participação discente, dificuldades encontradas, a disseminação dos 
resultados e uma breve análise das necessidades de adequação do programa à nova legislação – Lei 
nº 11.888/08 – e os desafios decorrentes de suas determinações quanto aos aspectos operacionais, 
tecnológicos, sociais, políticos e profissionais, bem como as implicações para o processo de ensino na 
perspectiva da formação de profissionais conscientes e compromissados com a realidade sócio‐
econômica e política brasileira. 

Introdução
Mesmo sem ter uma legislação específica sobre Assistência Técnica a UniFil juntamente com outros 
parceiros vem realizando este importante trabalho de Arquitetura Social desde a década de 1990. 

A partir de um convênio firmado entre a Prefeitura do Município de Londrina, o CREA‐PR – Conselho 
Regional de Engenharia e Arquitetura, o CEAL – Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina e o 
CESULON – Centro de Estudos Superiores de Londrina –, posteriormente transformado em UniFil – 
Centro Universitário Filadélfia –, e a UEL – Universidade Estadual de Londrina, é realizado desde 1994 
um programa de extensão denominado Projeto Casa‐Fácil. É realizado pelo curso de Arquitetura e 
Urbanismo da UniFil por meio do Escritório Modelo. Este programa foi implantado no Estado do 
Paraná, por iniciativa do CREA – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – que 
realizou inicialmente convênios com várias Prefeituras Municipais que tinham a incumbência de 
“fornecer a plantinha” para famílias carentes. A partir da década de 1990 as organizações 
profissionais passaram a integrar o convênio e no caso de Londrina as Instituições de Ensino Superior 
que tivessem interesse em participar. Neste período entram o CESULON e a UEL, assumindo a parte 
da elaboração do projeto, promovendo uma mudança de qualidade no atendimento a famílias 
carentes. O presente relato limita‐se à experiência verificada na UniFil. 

O Convênio firmado entre as partes citadas previa que: 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  43 
1. o  CREA  isentaria  da  taxa  de  A.R.T.  os  projetos  de  arquitetura  e  execução  de 
obras  até  o  limite  de  70m2  às  famílias  que  participassem  do  programa, 
limitado  à  renda  máxima  de  3  salários  mínimos  e  que  não  tivessem  mais  de 
uma propriedade urbana. 
2. a Prefeitura deveria isentar de taxas, impostos e emolumentos cabendo a ela 
informar  sobre  a  condição  da  família,  quanto  à  propriedade  e  demais 
informações  referentes  ao  terreno  onde  seria  executado  o  projeto;  caberia 
ainda  agilizar  os  procedimentos  de  aprovação  em  função  do  interesse  social 
representado por esse tipo de obra. 
3. as entidades organizariam os aspectos técnicos do atendimento, cabendo ao 
CEAL a articulação entre profissionais e as Instituições de ensino, bem como o 
aluguel de imóvel, mobiliário e material de expediente para o funcionamento 
do  programa,  que  teriam  os  custos  operacionais  cobertos  por  repasses  da 
Prefeitura Municipal. 
4. os  profissionais  participantes  eram  geralmente  docentes  –  de  Arquitetura  e 
Urbanismo  e  Engenharia  ‐  das  Instituições  de  Ensino  que  realizavam  o 
trabalho com o auxilio de estagiários de arquitetura e urbanismo. 
O Casa Fácil visa fornecer projetos arquitetônicos de moradia popular, limitado a 70m2 de área 
construída, destinado a população de baixa renda da cidade de Londrina, com renda familiar de no 
máximo 3 salários mínimos e que possui somente um lote devidamente urbanizado nesta cidade. O 
programa se justifica pela necessidade de oferecer condições de moradia às classes mais 
desfavorecidas da população, possibilitando condições dignas de moradia para estes. 

O Casa Fácil visa fornecer projetos arquitetônicos de moradia popular, limitado a 70m2 de área 
construída, destinado a população de baixa renda da cidade de Londrina, com renda familiar de no 
máximo 3 salários mínimos e que possui somente um lote devidamente urbanizado nesta cidade. O 
programa se justifica pela necessidade de oferecer condições de moradia às classes mais 
desfavorecidas da população, possibilitando condições dignas de moradia para estes. 

Em função da falta de repasse de verbas da Prefeitura para a manutenção do programa, que havia 
sido acordado no Convênio, o CEAL se retirou, pois estava bancando todos os custos para sua 
operacionalização. Isso desarticulou o trabalho durante certo período. 

Após um período de interrupção, entre 1998 e 2001, a UniFil retomou o Projeto Casa Fácil em 2002 , 
refazendo o Convênio apenas com o CREA e a Prefeitura. 

Em 1996, levantamento feito sobre os projetos realizados apurou 558 projetos realizados no 1º 
semestre, no trabalho conjunto entre as Instituições de Ensino – CESULON e UEL – o CEAL, a 
Prefeitura e o CREA‐PR. Na época, verificou‐se que 30% dos projetos tinham área 
projetada/construída de no máximo 51m2. Áreas maiores que 51m2 até 68,99m2 foram 43% dos 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  44 
projetos e entre 69 e 70m2 foram 27% dos projetos realizados no período. (Staut, L.A.V. et all, 1996 
p.54).  

Entre de 2002 e dezembro de 2008 foram desenvolvidos projetos para 1.191 famílias de Londrina, 
perfazendo uma área projetada de aproximadamente 83.370 m². (Cunto. I. De. 2008). Não há ainda 
estudo sobre o tamanho e tipologia dos projetos realizados neste período. 

A elaboração dos projetos ocorre nas dependências da Instituição, em local específico e sob a 
coordenação de professores arquitetos urbanistas. Os alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo 
participam como estagiários, auxiliando em todo o procedimento. Inicialmente é feito o atendimento 
com os interessados, que passam por triagem sócio‐econômica. Os aceitos no projeto são 
entrevistados com o objetivo de fazer o levantamento do programa de necessidades a partir do qual 
é elaborado o projeto arquitetônico. Após o aceite do projeto pela famíla/cliente é feita a plotagem 
das plantas de aprovação, a anotação de A.R.T, assinada pelo professor responsável pelo programa, e 
orientações finais de encaminhamento para aprovação do projeto na Prefeitura do Município de 
Londrina. 

O atendimento aos clientes acontece de segunda‐feira a sexta‐feira das 8:00  às 12:00 e das 13:30 às 
19:00 horas e aos sábados das 8:00 às 12:00, possibilitando atendimento àqueles que não podem 
comparecer durante a semana para as entrevistas necessárias. O atendimento aos sábados permite 
aos alunos estagiários do período noturno do Curso de Arquitetura e Urbanismo um dia a mais para a 
realização de seu estágio. 

Resultados obtidos
No ano de 2007 foram atendidas 261 famílias com projetos de residências. Em 2008 ocorreu redução 
na quantidade de projetos realizados, contrariando a tendência de aumento que se verificava na 
UniFil nos últimos anos. No ano de 2008 foram atendidas apenas 198 famílias. O gráfico 1, a seguir, 
mostra a evolução do atendimento ao público ao longo dos anos. 

Segundo a Prefeitura Municipal de Londrina, que faz o encaminhamento das famílias, essa redução 
foi devida à baixa procura ocorrida no ano. Mas, a partir de 2008 a Prefeitura passou a cobrar taxas 
dos participantes do programa que até então tinham isenção. São as taxas de alvará, na aprovação, e 
depois a do ISSQN – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Os participantes também 
recebiam gratuitamente as cópias do projeto. Outro fator que pode estar relacionado à menor 
procura por projetos é a crise econômica que atinge todos os setores e atividades. A explicação mais 
provável é de que este conjunto de fatores acabou influenciando momentaneamente a demanda. 
Entretanto é importante ressaltar que a cobrança de taxas inibe de forma imediata a procura pelos 
procedimentos de aprovação. O custo desse procedimento, por menor que seja, representa certa 
quantidade de material de construção que deixaria de ser utilizado para realizar o sonho da própria 
casa. Certamente tem um grande peso na decisão popular a escolha entre “gastar com papel” e 
“gastar com o material de construção”. 

Gráfico 1 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  45 
Quantidade de famílias atendidas pelo Casa Fácil – UniFil – 2002/09

Qtde. famílias atendidas


Qtde. famílias atendidas
300
261
250
Famílias atendidas 196 198
200
157 162
150
116
101
100

50

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Ano
 
Fonte: Casa Fácil – UniFil, 2008 

Os projetos elaborados em 2008 correspondem a cerca de 13.500 m2 de área projetada pelo 
Programa Casa Fácil. 

Participação discente
O Programa abre um interessante campo para o estágio, necessário à formação profissional dos 
acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo. Possibilita ao estudante desenvolver as 
habilidades técnicas necessárias para a elaboração de projetos arquitetônicos, além do contato com 
clientes, situação impossível de ser simulada em sala de aula. Em 2008 os trabalhos foram iniciados 
com 12 estagiários e concluídos com 17, demonstrando o interesse dos alunos por este tipo de 
atividade, cujo diferencial é proporcionar um ambiente de maior proximidade entre a rotina de um 
escritório, desde o atendimento do cliente até os procedimentos finais de aprovação do projeto na 
Prefeitura. Os estagiários realizam de 8 a 30 horas semanais, dependendo do interesse e 
disponibilidade de cada um. Em 2008 foram computadas cerca de 217 horas semanais, com média é 
de 12,7 horas/semanais por aluno. (Cunto. I. De. 2008). 

Dificuldades encontradas
Dentre as dificuldades enfrentadas na execução deste programa atualmente sobressaem as que 
afetam mais o aspecto operacional e administrativo. Os dois computadores utilizados estão muito 
desatualizados e não permitem um trabalho eficiente. Esse fato obriga os alunos a utilizarem 
notebooks próprios, que pode ser perigoso em razão de roubos no transporte do equipamento, além 
da perda de arquivos. Seria fundamental a substituição desses computadores com cerca de 5 anos de 
uso no programa. Outra dificuldade são as constantes quebras dos dois plotters do programa que 
impossibilitaram a impressão de vários projetos prontos no final de 2008. 

Vale ressaltar que estes computadores são provenientes de um convênio de comodato entre o CREA‐
PR e a UniFil, firmado em 2003, que possibilitou melhorar muito o atendimento do programa 
naquele momento. Os plotters pertencem ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifil. 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  46 

Disseminação dos resultados


O programa vem procurando disseminar este trabalho em encontros de extensão. Apresentou o 
trabalho no 1º e 2º Encontro de Extensão da UniFil realizados na Instituição em 2007 e 2008, 
respectivamente, e no Encontro de Extensão da Universidade Estadual de Londrina no mesmo ano. 
(Bergoc, G.J.; Prado Jr., I.; Cunto, I. De., 2007 & Bergoc, G.J.; Prado Jr., I.; Cunto, I. De., 2008) 

Esses eventos propiciaram a divulgação do Programa para a população, para o corpo docente e 
discente da UniFil e da Universidade Estadual de Londrina – UEL, ocasião em que houve troca de 
informações com a UEL, que tem programa de extensão similar. 

A lei 11.888 de dezembro de 2008.


A aprovação da Lei 11.888 é uma grande conquista social. A assistência técnica passa a ter 
importância nas políticas sociais do país, pois pode incluir parcela significativa da população em 
melhores condições de habitação. Entretanto, para que isso aconteça é importante que as 
Instituições de Ensino procedam as adequações necessárias para se enquadrarem nos parâmetros 
estabelecidos pela legislação, que passará a vigorar em junho de 2009. 

No caso específico do Paraná, e mais ainda de Londrina, novos Convênios deverão ser firmados, 
visando atender os direitos assegurados pela legislação, notadamente o da construção da obra 
previsto no artigo 2º, e detalhado no parágrafo primeiro:  

“O direito à assistência técnica previsto no caput deste artigo abrange todos os 
trabalhos de projeto, acompanhamento e execução da obra a cargo dos 
profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia necessários para a 
edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação.”  

Para atender esta demanda todo o procedimento de funcionamento adotado até então deverá ser 
reformulado. 

Um Seminário sobre o assunto foi promovido pelo CREA‐PR com a participação de várias entidades 
que trabalham com o programa em outras cidades da região. O CREA‐PR propôs minuta de um novo 
Convênio visando adequar o programa à nova legislação. 

Em Londrina, algumas questões precisam ser solucionadas, como a aprovação de uma legislação 
específica visando atender às determinações da legislação federal, particularmente ao artigo 3º.  
Somente agora, após a posse de um novo Prefeito é que poderá ser encaminhado, pois trata de 
matéria financeira que cabe à iniciativa do Poder Executivo. 

Há também os aspectos técnicos, sociais, políticos e ambientais, que são os desafios de buscar 
“inovação tecnológica, a formulação de metodologias de caráter participativo e a democratização do 
conhecimento” (§ único do art. 5º da Lei nº 11.888/08), ou mesmo no processo de “seleção dos 
beneficiários finais dos serviços de assistência técnica” cujo atendimento deve acontecer “por meio 
de sistemas de atendimento implantados por órgãos colegiados municipais com composição paritária 
entre representantes do poder público e da sociedade civil” (§ 4º do art. 3º da Lei nº 11.888/08). 

Todos esses desafios devem estar harmonizados com os objetivos da Lei, ou seja: 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  47 
“I ‐ otimizar e qualificar o uso e o aproveitamento racional do espaço edificado e 
de seu entorno, bem como dos recursos humanos, técnicos e econômicos 
empregados no projeto e na construção da habitação;  

II ‐ formalizar o processo de edificação, reforma ou ampliação da habitação 
perante o poder público municipal e outros órgãos públicos;   

III ‐ evitar a ocupação de áreas de risco e de interesse ambiental;  

IV ‐ propiciar e qualificar a ocupação do sítio urbano em consonância com a 
legislação urbanística e ambiental.” (itens do § 2º, art. 2º da Lei nº 11.888/08). 

O desafio concreto às escolas de Arquitetura e Urbanismo é articular o processo do ensino com os 
aspectos reais da produção da casa – e da cidade – para formar profissionais que também tenham a 
responsabilidade sobre seu papel técnico e social. Isso pode e deve ser feito por meio de programas 
de extensão à comunidade, envolvendo os mais diversos agentes para que a assistência técnica 
chegue de fato às pessoas que necessitam. 

Acredita‐se que com esse processo a boa arquitetura poderá ser valorizada e soluções inovadoras 
repercutirão na (re)construção das cidades brasileiras, tão esquecidas pelas políticas públicas até 
recentemente. Espera‐se assim, produzir melhorias nas condições da habitação popular e 
conseqüentemente das condições de vida da população carente deste Brasil. Depende muito de 
como as Instituições de Ensino procederão frente e esse desafio. 

Referências bibliográficas
Cunto, I. De. Relatório do Programa de Extensão “Projeto Casa Fácil” de 2008. (2008) Londrina, 
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2008?OpenDocument acessado em 28/04/2009. 

Staut, L.A.V.; Silvestri, L.; Oyakawa, M.; Kakihata, S.M.; Bergoc, G.J. Casa Fácil. (1996) In Anais do 4º 
Simpósio de Estudantes do CESULON. Londrina: Cesulon, 1996. p. 54‐55. 

Bergoc, G.J.; Prado Jr., I.; Cunto, I. De. O programa Casa Fácil‐UniFil: extensão universitária e inserção 
social. Encontro de Extensão (v.1, n.1.: 2007: Londrina). Anais [eletrônico] do I Encontro de Extensão 
da UniFil, 29 a 31 de outubro de 2007. Londrina: UniFil, 2007.  In 
<http://www.unifil.br/I_Encontro_Extensao/sumario.asp> acessado em 29/04/2009. 

Bergoc, G.J.; Prado Jr., I.; Cunto, I. De. Programa Casa Fácil – UniFil, um programa de extensão 

Universitária e de inserção social. Anais [eletrônico] do II Encontro de Extensão da UniFil, 10 a 11 de 
novembro de 2008. Londrina: UniFil, 2008.  In 
<http://www.unifil.br/II_Encontro_Extensao/sumario.asp> acessado em 29/04/2009. 
 
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  48 

O ensino e a prática profissional no Curso de Arquitetura e


Urbanismo da UniABC: o caso da Vila Guiomar, Santo André – SP

MARCELO, Virgínia C.C. Professora Drª. e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UniABC.
Coordenação.arquitetura@uniabc.br (11) 49919884. Avenida Industrial 3330, santo André – SP;

VIZIOLI, Simone Helena Tanoue. Professora Drª e Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
UniABC. simonehtv@uniabc.br (11) 49919894. Avenida Industrial 3330, santo André – SP.

SARAPKA, Elaine Maria. Professora Msc. e Pesquisadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UniABC.
lanarq2001@yahoo.com.br (11) 49919894. Avenida Industrial 3330, santo André – SP.

Resumo

O Curso de Arquitetura da Universidade do Grande ABC desenvolve, por meio de seu


escritório modelo “Compasso”, projetos para a comunidade de baixa renda do Grande ABC.
Os trabalhos são vinculados ao Laboratório de Pesquisa (LABSUS – Laboratório de estudo,
promoção e desenvolvimento sustentável) onde os alunos põem em prática o conteúdo do
programa de ensino do Curso. O presente artigo relata a última experiência prática
profissional desenvolvida pelo escritório modelo “Compasso”: projeto para o Condomínio
IAPI Vila Guiomar – Santo André. Trata-se de dois estudos: 1) recuperação das fachadas
dos edifícios residenciais, resgatando os elementos da arquitetura moderna presentes em
seu projeto original, cuja implantação teve início na década de 1940; 2) projeto para uma
sede administrativa sustentável. Neste sentido, o treinamento dos alunos no atendimento à
comunidade, os habilita ao cumprimento da Lei Federal nº 11.888/08. Os trabalhos
desenvolvidos pelo escritório “Compasso” ocorreram sem custos para a comunidade.
Acresce-se a estes objetivos, o desenvolvimento de técnicas construtivas alternativas e
pesquisas de materiais de construção com base nos princípios de sustentabilidade.

I. Introdução
Em 2008 foi instituído o escritório modelo da Universidade do Grande ABC, denominado
“Compasso”. O eixo norteador deste escritório segue os postulados da União Internacional
de Arquitetos (UIA):
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- garantir qualidade de vida digna para todos os habitantes dos assentamentos humanos;

- uso tecnológico que respeite as necessidades sociais, culturais e estéticas dos povos;

- equilíbrio ecológico e desenvolvimento sustentável do ambiente construído;

- arquitetura valorizada como patrimônio e responsabilidade de todos.

Dentre os princípios do Escritório Modelo “Compasso”, alguns já antecipam os objetivos da


Lei Federal nº 11.888/08, como se observa a seguir:

- proporcionar aos seus membros as condições necessárias à aplicação prática de seus


conhecimentos técnicos e teóricos complementando sua formação acadêmica e atuação
profissional;

- desenvolver atividades de assessoria técnica à comunidade sem recursos para


contratação do trabalho profissional do arquiteto, por meio da elaboração de projetos de
arquitetura e urbanismo;

- contribuir para a melhoria da qualidade de vida da comunidade;

- promover o desenvolvimento sustentável.

Com base nos objetivos descritos acima, em 2008, o escritório “Compasso” prestou
atendimento gratuito aos moradores do Condomínio Vila Guiomar, localizado no município
de Santo André. O Conjunto IAPI Vila Guiomar representa um importante papel na história
da habitação popular brasileira, pois foi uma das primeiras tentativas estatais de construção
de moradias com recursos previdenciários.

O Conjunto começou a ser implantado na década de 1940. O IAPI Vila Guiomar foi o
primeiro grande conjunto da região, com uma população estimada em 8.000 pessoas –
cerca de 5% da população do município que, em 1955, era de aproximadamente 162.000
habitantes (MINDRISZ, 1990, apud PESSOLATO, 2007, p. 102).

As duas primeiras etapas de construção do Conjunto Habitacional IAPI Vila Guiomar


somaram 345 casas térreas e 312 apartamentos; as duas últimas compreenderam 88 casas
e 35 prédios, totalizando 666 apartamentos. O conjunto todo compreende 1411 unidades
residenciais e ocupa mais da metade do terreno.
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Atualmente, o bairro situa-se a 1 km do centro de Santo André e faz divisa com outros
bairros consolidados de classe média alta – Bairro Jardim e Vila Bastos. O bairro Vila
Guiomar compreende além do Conjunto IAPI (prédios e casas), o Conjunto do BNH (Banco
Nacional da Habitação) – Zodíaco e a Favela Tamarutaca. A caracterização dos edifícios
nos dias atuais pode ser visto nas Figuras 1 e 2.

   

Figura 1: Conjunto Habitacional Vila Guiomar – Santo Figura 2: Conjunto Habitacional Vila Guiomar – Santo André.
André. Fonte: MARCELO, 2008.
Fonte: MARCELO, 2008.

Estabeleceu-se um contato entre o representante da comunidade do Conjunto Habitacional,


Sr. Ademir Tadeu Morare (Figura 3), e a Instituição UniABC. Foi solicitado ao Curso de
Arquitetura e Urbanismo, através do escritório modelo “Compasso”, um projeto de
recuperação das fachadas de dois edifícios do Conjunto e um projeto arquitetônico para a
futura sede administrativa da comunidade.

Figura 3: Reunião na UniABC com o representante do Conjunto Habitacional Vila


Guiomar – Sr. Ademir Tadeu Morare, mostrando o alvará de construção da Prefeitura.
Foto: CALSONE, 2008

Desde as primeiras reuniões entre o cliente (Conjunto Vila Guiomar) e o Escritório Modelo
“Compasso”, ocorreu participação intensiva dos alunos do Curso (Figura 4 e 5). No
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estabelecimento das propostas e metas, houve grande possibilidade de ampliação dos
conhecimentos teóricos e práticos dos estudantes, resultado gerado por essa experiência
real.

Figura 4: Reunião na UniABC entre alunos, professores Figura 5: Reunião na UniABC entre alunos, professores e
e representante da Comunidade Vila Guiomar – início da representante da Comunidade Vila Guiomar – início da
elaboração do projeto arquitetônico sustentável da Sede. elaboração do projeto arquitetônico sustentável da Sede.
Foto: CALSONE, 2008 Foto: CALSONE, 2008

A proposta apresentada pelos alunos e professores integrantes do Escritório Modelo


“Compasso”, para a futura sede, teve como diretriz básica uma construção sustentável. Com
base nesta proposta, os alunos desenvolveram o projeto, além de pesquisa de materiais e
técnicas alternativas.

II. Desenvolvimento do projeto


O projeto foi desenvolvido com aplicação dos conhecimentos obtidos nas disciplinas de
conforto ambiental, ergonomia, tecnologia da construção e projeto. Durante o processo de
elaboração do projeto, houve acompanhamento e orientação dos professores quanto aos
procedimentos de cunho técnico e profissional.

Durante os trabalhos desenvolvidos no Escritório “Compasso”, houve participação da


comunidade representada pelo Sr. Ademir. Tal experiência proporcionou aos alunos
oportunidade de expor suas ideias e vivenciar as diversas situações de um projeto real, com
seu programa específico, suas limitações físicas e normativas.

O trabalho foi dividido em duas etapas: a primeira consistia no estudo da fachada, com a
recuperação das características arquitetônicas do período de sua construção e a segunda,
estava direcionada ao projeto arquitetônico da futura sede administrativa.

III. Intervenções propostas


1. Estudo da fachada
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Em levantamento efetuado em 22 de novembro de 2008, foram constatadas nos edifícios de
número 38 ao 42, as seguintes condições:

- o espaço térreo originariamente aberto, com pilotis aparentes, para uso comum dos
moradores foi transformado garagens particulares, algumas com porta de enrolar e
outras com porta de madeira; conforme Figura 6;

- os terraços originais foram incorporados às salas;

- os caixilhos atuais encontram-se bem diversificados quanto à forma (como caixilhos no


estio colonial, outros em linhas retas), materiais (caixilhos de alumínio em várias cores,
em madeira), em substituição aos caixilhos originais que conferiam uma horizontalidade
característica dos edifícios modernos, conforme Figura 6;

- os elementos vazados, em concreto, foram fechados em alguns casos e em outros,


foram substituídos por vidros, conforme Figura 8;

A proposta do escritório “Compasso” juntamente com o LABSUS é retomar algumas


características estéticas do projeto original, que identificavam o Conjunto Habitacional na
época de sua construção: grandes aberturas horizontais nas fachadas e pilotis no pavimento
térreo.

Figura 6: situação atual de um edifício do Conjunto Figura 7: proposta de recuperação dos elementos modernistas
Habitacional Vila Guiomar (fonte: SHTV, 2008). da fachada (fonte: Escritório Compasso, 2008).

A retomada da horizontalidade se fez por meio de solução obtida no contraste de cores,


(votada em reunião com a comunidade), como mostra a Figura 7. Face à nova realidade
econômica dos moradores, o espaço transformado em garagem será mantido. Foi proposta

uma pintura homogênea em cor escura nos fechamentos das garagens para ressaltar os
pilares que serão pintados numa tonalidade mais clara.
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Figura 8: situação atual dos fundos de um edifício do Figura 9: proposta de recuperação dos elementos
Conjunto Habitacional Vila Guiomar (fonte: SHTV, 2008). modernistas da fachada e elemento vazado sugerido (fonte:
Escritório Compasso, 2008).

2. Projeto da sede administrativa

Foi estudado e testado, pelos alunos no laboratório de edificações (LABSUS): painel solar
confeccionado com garrafas pet e embalagens tetra pak, materiais alternativos para
promover a acessibilidade de idosos e cadeirantes e filtro caseiro para reuso da água
pluvial.

A organização espacial da sede administrativa foi desenvolvida pelos alunos, resultado das
reuniões com a comunidade onde foram apresentadas as necessidades específicas. O
trabalho contou com várias etapas entre a elaboração e finalização do projeto.

Os alunos sugeriram a construção de um pergolado na fachada de sala de reuniões, que


permite a integração entre o espaço interno e externo, possibilitando reuniões com a
participação de maior número de pessoas, conforme Figura 10. A sala de reuniões se abre
para um pátio externo com degraus que poderão ser utilizados como arquibancada, em
eventos culturais.

O telhado foi projetado em duas águas com caimento central para facilitar a coleta de água
pluvial, conforme Figura 11.

O sanitário da sede atende às dimensões previstas na norma de acessibilidade NBR 9050.


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Figura 10: Projeto da sede administrativa desenvolvida no Figura 11: Perspectiva isométrica da sede administrativa (fonte:
escritório Compasso Escritório Compasso, 2008)

3. Estudo de componentes construtivos sustentáveis

a. Coletor solar
O projeto utilizou o manual disponibilizado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado do Paraná, SEMA. O coletor diferencia-se dos demais, pois para
baratear o custo, utilizaram-se nas colunas de absorção térmica, tubos e conexões de PVC,
menos eficientes que os tubos de cobre e alumínio utilizados nos coletores convencionais.
As garrafas pet e caixas Tetra Pak, substituem a caixa metálica, o painel de absorção
térmica e o Vidro utilizado nos coletores convencionais. O calor absorvido pelas caixas Tetra
Pak, pintadas em preto fosco, é retido no interior das garrafas e transferido para água
através das colunas de PVC, também pintadas em preto. As garrafas utilizadas são de
preferência transparentes, do tipo Pepsi e Coca e outras marcas com o mesmo perfil
(figuras 12 e 13).

O trabalho teve em seu principal objetivo servir como instrumento de aprendizado e


conscientização da importância da responsabilidade social e ambiental pelo estudante.
Além disso, foi proposta a utilização desses painéis em comunidades de baixa renda, como
no caso da Vila Guiomar.

Paralelamente à capacitação do aluno, pretendeu-se conscientizar a comunidade sobre o


uso racional da energia e sobre a utilização de fontes alternativas. Para viabilizar esta ação,
consta do projeto a elaboração de uma cartilha explicativa com a finalidade de ensinar os
moradores do local sobre o processo de construção e utilização desta alternativa
construtiva.
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Figura 12: embalagens tetra pak (longa vida). Fonte: VIZIOLI, Figura 13: envolvendo a tubulação com embalagem
2008. tetra pak . Fonte: VIZIOLI, 2008

b. Coleta de água de chuva


Para o projeto da sede administrativa foi dada especial atenção à questão relativa à
captação e reuso de água pluvial. Para tanto, foi proposta solução projetual de simples
execução e baixo custo. Esta ação, além do fator econômico, tem também como objetivo
uma conscientização da comunidade em relação à preservação do meio ambiente e a
possibilidade de reprodução dessa solução alternativa.

Quanto ao projeto da sede, ele contempla essa necessidade a partir do desenho de


cobertura, em duas águas com caimento central, que permite a coleta da água pluvial de
modo mais eficaz. Por outro lado, nos edifícios já existentes, foi proposta uma instalação de
tubulação horizontal na cobertura para captação da água e tubos de queda aparente
faceando as fachadas nas junções dos módulos.

Para o reuso da água pluvial, foi sugerida a instalação de um filtro caseiro melhorando a
qualidade da mesma. O objetivo deste filtro consiste em reter impurezas sólidas como
folhas, bichos de pequeno porte e/ou resíduos e eventuais lixos que possam estar no
telhado, entre outros. A proposta tem como finalidade o reuso de água para limpeza em
geral e rega de jardins.

c. Acessibilidade
O trabalho teve como objetivo propor um sistema de baixo custo para adaptar o banheiro de
uma unidade habitacional pertencente ao Conjunto. Foi proposto o uso de piso
antiderrapante, feito com sobras de lixas de marcenarias. A pesquisa desenvolveu também,
um sistema de barras de apoio com a utilização de “sobras” de tubo de PVC da construção
civil. Estes elementos, além de atenderem às normas de acessibilidade, baratear o custo da
adaptação, contribuem para reduzir o volume de resíduos depositados diariamente nos
aterros sanitários (Figuras 14 e 15).
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Figura  14:  lixa  de  esteira  descartada  pelas  marcenarias.  Figura  15:  piso  acabado,  com  aplicação  de 
Fonte: VIZIOLI, 2008.  resina  para  impermeabilização.  Fonte: 
VIZIOLI, 2008. 
 

IV. Conclusões

A instituição de ensino, com esses trabalhos, cumpre o seu papel social de informação e
capacitação da comunidade. Além disso, estimula os alunos a exercitarem e propagarem os
conhecimentos por eles adquiridos (Figura 16 e 17).

 
 

Figura  16:  Comunidade  acompanha  apresentação  Figura  17:  Alunos  apresentam  projeto  à  comunidade. 
de  projeto  pelos  alunos  na  UniABC.  Fonte:  VIZIOLI,  Fonte: VIZIOLI, 2008. 
2008. 

As atividades desenvolvidas no escritório modelo compasso vem de encontro aos objetivos


da Lei Federal nº 11.888/08 no que tange ao atendimento profissional gratuito às
comunidades de baixa renda, uma vez que se verifica uma reciprocidade entre a instituição
de ensino e a sociedade.
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À medida que os alunos ampliam seus conhecimentos técnicos e adquirem conscientização
do papel do arquiteto na sociedade, a comunidade, além de receber os serviços, tem a
oportunidade de participar de capacitação sobre técnicas construtivas sustentáveis.

V. Bibliografia

ALANO, Jose Alcino (2004). Manual sobre construção e instalação do aquecedor solar com
descartáveis. Santa Catarina, 2004.

PESSOLATO, Cíntia (2007). Conjunto IAPI Vila Guiomar – Santo André – SP: projeto e
história. Dissertação apresentada à FAUUSP para obtenção do título de Mestre. São Paulo:
2007.

ROAF, Susan (2006). Ecohouse: A Casa ambientalmente sustentável. Porto Alegre:


Bookman, 2006.

MANCUSO, Pedro Caetano Sanches; SANTOS, Hilton Felício dos; Editores (2003). Reuso
de água. São Paulo: Manole, 2003, 579p.

_____________ Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050 – Acessibilidade a


edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Maio 2004.

VIZIOLI, Simone Helena Tanoue (2007). A acessibilidade básica para a pessoa portadora de
deficiência física. In LIANZA, Sergio (org.), Medicina de Reabilitação. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan AS, 2007.

Lei Federal nº 11.888/08.


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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  58 

O campo disciplinar do restauro arquitetônico: problemáticas na


formação do arquiteto contemporâneo1

Ana Paula Farah. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP (1996) e segunda
graduação pela Università degli Studi di Ferrara - Itália (2005). Especialista em Restauro
Arquitetônico pela PUCCAMP (1999) e PUCPR (2006) e Mestre em Tecnologia do Ambiente
Construído pela EESC-USP (2003). Atualmente fazendo doutorado na FAU-USP.

Email: anafarah@uol.com.br anafarah@usp.br

Resumo

O artigo aborda a formação do arquiteto para atuar no campo disciplinar do restauro


arquitetônico. Serão abordadas questões relacionadas à formação dos arquitetos no
contexto italiano e várias exposições dos pensamentos de professores e críticos no campo
disciplinar. Cada um estabelece, através da sua linha de pensamento, como deve ser um
conteúdo adequado à formação do arquiteto, principalmente na discussão sobre as
responsabilidades para atuação no campo do patrimônio construído. Também abordará as
questões dos conhecimentos e práticas do profissional, quais habilidades que devam
possuir e como devam agir. Contrapondo a essas explanações, será desenvolvido o
contexto brasileiro, as questões que diz respeito sobre a formação do arquiteto e a
obrigatoriedade da disciplina de Técnicas Retrospectivas aprovada junto ao MEC.
Evidencia-se que, se não houver essa abordagem na formação do arquiteto, os profissionais
sairão para o mercado de trabalho não tendo instrumentos teóricos, críticos e técnicos para
que os bens culturais sejam preservados.

                                                            
1
  Essa  pesquisa  está  sendo  desenvolvida  no  âmbito  do  Doutorado  na  Faculdade  de  Arquitetura  e  Urbanismo  da 
Universidade de São Paulo sob a orientação da Profa. Dra. Beatriz Mugayar Kühl, cujo o tema é Restauro Arquitetônico: a 
Formação do Arquiteto no Brasil para Preservação do Patrimônio Edificado. 
 
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O campo disciplinar do restauro arquitetônico: problemáticas na formação do
arquiteto contemporâneo1

O campo disciplinar do restauro arquitetônico, de fato, principia com os dogmas


desenvolvidos no século XIX, através de Viollet Le Duc (França), John Ruskin (Inglaterra), e
o amadurecimentos dos respectivos preceitos, vistos no final do século XIX e início do
século XX, por Camillo Boito (Itália) e Alois Riegl (Áustria).

No final da década de 20 do século XX, Gustavo Giovannoni, seguidor de Camillo Boito,


elabora e dá origem, pela primeira vez, a disciplina de Restauro Arquitetônico no âmbito da
graduação da “Reale Scuola Superiore di Architettura di Roma2”, instituída pelo Ministero
della Republica Italiana della Pubblica Istruzione, em 31 de outubro de 1919 e inaugurada
em 18 de dezembro de19203.

A partir dos anos 60 do mesmo século4, principalmente na Itália, tem-se discutido em


eventos científicos o ensino de restauro arquitetônico, tanto no âmbito da formação técnica e
de graduação, quanto nos cursos de pós-graduação, como especialização e
aperfeiçoamento e, mais além, mestrado e doutorado.

A primeira iniciativa de relevo para formar arquitetos especialistas para atuar no campo
disciplinar do restauro foi feita através do “Curso Internacional de Especialização” promovido
em 1965, iniciativa da Facoltá di Architettura da Università degli Studi di Roma “La
Sapienza” em conjunto com o International Centre for the Study of the Preservation and the
Restoration of Cultural Property - ICCROM 5.

Desde então, esse tipo de iniciativa vem amadurecendo aos poucos e se tornando mais
numeroso. Em 1993, o ICOMOS (International Council on Monuments and Sites), descreve
                                                            
1
 Algumas colocações deste artigo estão em: FARAH, Ana Paula. Restauro arquitetônico: a formação do arquiteto no Brasil 
para preservação do patrimônio edificado. História, 2008, vol.27, no.2, p.31‐47. 
2
 Em 1919‐20 cria‐se a Reale Scuola Superiore di Architettura di Roma, e transforma‐se em 1935, Facoltà di Architettura dell’ 
Università  degli  Studi    di  Roma“La  Sapienza”,  a  primeira  Faculdade  de  Arquitetura  no  território  italiano.  No  ano  2000  foi 
subdividida  em:  Prima  Facoltá  di  Architettura  “Ludovico  Quaroni”  e  Facoltà  di  Architettura  “Valle  Guilia”  ,  sendo  as  duas 
pertencentes  a  Università  degli  Studi    di  Roma“La  Sapienza”.  Importante  salientar  que  foi  a  primeira  faculdade  a  ter  na 
grade disciplinar a disciplina de Restauro Arquitetônico, a primeira iniciativa no âmbito mundial. 
3
 VENTURI, Ghino. La Scuola  superiore d’Architettura. In. Architettura e Arti Decorative. Rivista  d’arte e di storia, fasc. III, 
novembre 1924, p.112.  
4
JOKILEHTO, Jukka. Sull’insegnamento nel campo del restauro dei monumenti in vari paesi. In: Restauro, Anno
16. N. 94, 1987. p. 99 – 104. Nesse artigo, o autor descreve as experiências em vários países europeus e
disserta sobre a Finlândia, diagnosticando seus problemas e algumas soluções tomadas para o melhoramento
desse campo disciplinar.
5
  GAZZOLA,  Piero,  Training  architect‐restorers.  In  UNESCO.  Preserving  and  restoring  monuments  and  historic  buildings. 
Paris: UNESCO,1972, p. 257. Apud. SAMPAIO, Júlio Cesar Ribeiro. A conservação na formação do arquiteto: o caso do curso 
de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. In. I Jornada do Patrimônio Cultural no 
Espírito Santo, 2006. Vitória, Anais, UFES, 2006. CD‐ROM. 
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as “Linhas de Orientação sobre a Educação e a Formação em Conservação de
Monumentos, Conjuntos e Sítios Históricos”1 reconhecendo que no âmbito da restauração
faz-se necessário a colaboração, no processo de intervenção, uma gama de profissionais
(interdisciplinaridade), que tenham uma sólida formação e o conhecimento do campo
disciplinar para que haja a garantia de um projeto adequado e a transmissão do legado
cultural às gerações futuras.

Podemos citar também um importante documento de 1996, que tece algumas


recomendações à formação dos arquitetos segundo a União Internacional dos Arquitetos
(UIA) e a UNESCO2; e foi elaborada para ser aplicada no âmbito internacional. O documento
expressa várias considerações, profere logo no primeiro item que, a Arquitetura, a
qualidade dos edifícios e a maneira como estão inseridos e dialogando com o entorno, o
respeito da paisagem natural e urbana, assim como o patrimônio cultural, coletivo e
individual constituem objetos de interesse públicos; ou seja, a preocupação com a memória
coletiva da sociedade, a qual pertencemos, são de responsabilidade do arquiteto. E também
descreve que nós [arquitetos e urbanistas] somos responsáveis pelo aperfeiçoamento da
educação dos futuros arquitetos para que eles estejam aptos a trabalhar pelo
desenvolvimento sustentável em toda e qualquer herança cultural3. Nesse mesmo
documento, revisitado em 20054, descrevem que os docentes devem preparar os estudantes
a formular novas soluções para o presente e para o futuro, depois que realizar-se o
importante e complexo desafio relacionadas as causas da degradação social e funcional da
assentamentos humanos. Para que haja esse tipo de recomendação, devemos (na
obrigatoriedade civil) uma boa formação tanto dos docentes quantos dos profissionais
arquitetos.

Em maio de 2004, foi elaborado em Viseu (Portugal), um Manifesto sobre o Ensino de


Arquitetura no século XXI, por meio do CEU (Council for European Urbanism) 5. É uma carta
de princípios em que se afirma que os futuros profissionais, os arquitetos contemporâneos,
devem estar preparados para responder aos complexos desafios do século XXI,

                                                            
1
  Disponível  em  <http://www.quintacidade.com/wp‐content/uploads/2008/03/linhas‐de‐orientacao‐sobre‐formacao‐em‐
conservacao.pdf >.Acesso 16 de fevereiro de 2009. 
2
Work Programme Education : UIA/UNESCO Charter for Architectural Education, June 1996. Disponível em
<http://www.unesco.org/most/uiachart.htm> Acesso 16 de fevereiro de 2009.
3
 Idem  
4
 Disponível em < http://www.uia‐architectes.org/image/PDF/CHARTES/CHART_ITA.PDF>. Acesso 16 de fevereiro de 2009. 
5
Esse manifesto está no site oficial. Disponível em < http://www.ceunet.org/viseu.htm> Acesso em 22 de junho
de 2008, 11:45 e também a versão traduzida para o português em
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1090&sid=21 > Acesso em 23 de
julho de 2008, 07.50.
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evidenciando a necessidade de se trabalhar conjuntamente a Arquitetura e o Urbanismo;
neste sentido, alguns princípios importantes foram enunciados:

Preservar e restaurar [regenerate] os recursos naturais e culturais existente; Identificar os


conhecimentos e as habilidades [skills] que constituem o diversificado patrimônio da
humanidade; Construir cidades, vilas, povoados e áreas rurais [countryside] duradouros e
sustentáveis, contribuindo para a continuidade e coerência dos lugares; Promover [facilitate] o
engajamento cívico, a diversidade social e a vitalidade econômica, associados à preservação
dos ecossistemas e da identidade local; Pesquisar e aprender com as experiências bem
sucedidas do passado, os fracassos, e suas conseqüências imprevistas.1

Nesse sentido, percebe-se que há uma necessidade muito grande na esfera do ensino
deste campo disciplinar, tanto na graduação quanto na pós-graduação, para que tenhamos
profissionais apropriados a exercerem esse papel na cidade contemporânea.

Um dos temas em discussões é a preocupação e o aprimoramento da disciplina de restauro


arquitetônico (tanto no conteúdo quanto na prática). Segundo Olivia Rabbi2, consiste em
uma “redefinição” da formação desses profissionais tanto no ensino artístico quanto no
técnico abordando questões referentes aos conceitos tradicionais e os modernos, a relação
professor-aluno e a capacidade da escola confrontar com a realidade profissional, definindo
assim a presença no currículo didático e no atual ensino presente na sociedade
contemporânea 3. Nesse sentido, é necessário reformular o modo de pensar cada um
desses problemas supracitados para que haja uma reestruturação no currículo básico na
graduação em Arquitetura e Urbanismo. Essa redefinição deverá ser tomada principalmente
no que se refere ao conteúdo, sempre com um estreitamento entre a teoria e a prática4 para
o aprimoramento do campo disciplinar.

Abordando as questões no âmbito europeu, Giovanni Carbonara5 descreve que, a Itália


desde 1990, passa por uma reforma universitária6, na qual houve algumas mudanças,

                                                            
1
Manifesto sobre o Ensino de Arquitetura no século XXI, traduzida por Mauro Almada. Disponível
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1090&sid=21 > Acesso em 23 de
julho de 2008, 07.50.
2
RABBI, Olivia. Le “Nuove Radici Antiche” nella formazione dell’architetto del duemila. In: Tema: tempo materia
architettura, N. 4, 1998, p. 74 – 76.
3
Claro que nesse caso específico, não estamos falando somente do ensino do restauro arquitetônico, mas do
ensino que engloba todas as disciplinas referentes à formação do arquiteto.
4
 Um dos princípios básicos no Manifesto sobre o Ensino de Arquitetura no século XXI, traduzida por Mauro Almada. Op. Cit. 
5
CARBONARA, Giovanni. Riforma Universitaria. Ripercussioni alla formazione specialistica. In: ARKOS: Scienza
e Restauro, Anno. n., 2002. p. 10 -17.
6
 Essa reforma universitária veio para resolver alguns problemas das universidades italianas e um exemplo que podemos 
citar é o prolongamento excessivo do tempo dos estudos (duração da graduação) e uma enorme presença de estudantes 
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principalmente na permanência (tempo do curso) dentro da universidade. Primeiramente foi
a mudança na duração do curso, passa-se de cinco anos para três anos, que introduz uma
formação de base de três anos e, após esse ciclo, o desenvolvimento da “laurea
specialistica” (graduação especializada) de dois anos. Com isso, iremos encontrar no
mercado de trabalho um novo profissional1, podendo ou não ser uma opção adequada à
problemática desse campo, não sabendo ao certo como atuar no campo teórico e no prático.

Ao mesmo tempo em que essa mudança na graduação foi positiva, pois pelo menos o
profissional adquiriu esse conteúdo no curso de graduação, e segundo Carbonara2, a
alteração resulta danosa em relação à formação da pós-graduação: cria-se, assim, uma
“confusão” entre conteúdo oferecido tanto na graduação (graduações especializadas em
restauro) quanto nos cursos de aperfeiçoamento, especializações, mestrados e doutorados.
Esse é um dos principais problemas no ensino de restauro arquitetônico: a definição do seu
conteúdo programático nos vários níveis de formação. No âmbito da graduação, não é
possível transmitir todo o conhecimento dessa disciplina, por isso a importância de haver
uma pós-graduação nesse campo específico.

Tomando-se por base as colocações existentes na publicação de Chiara Lumia3, a maior


dificuldade é o problema da formação do arquiteto. Chiara Lumia realiza várias entrevistas
com os principais teóricos de restauro da atualidade italiana abordando a questão da
formação do arquiteto no campo do restauro arquitetônico. A pergunta formulada foi: Em
relação ao plano da formação, qual é o perfil formativo, institucionalizado ou não,
aconselham a responsabilidade de quem deva ocupar-se das intervenções sobre o
4
construído, e também as reformas atuais a caminho de suas definições?

Segundo Giovanni Carbonara5, o problema da formação do arquiteto no âmbito do restauro


arquitetônico requer um trabalho mais aprofundado, e compara com a formação no campo
                                                                                                                                                                                          

fora  do  curso  e  estudantes  que  abandonam.  Por  isso,  foram  reduzido  a  três  anos.  Isso  resulta  num  “irreal”  diploma  de 
graduação. 
1
  Pensando  no  âmbito  brasileiro,  do  qual  não  encontramos  uma  exata  disciplina  que  aborde  as  questões  do  restauro 
arquitetônico  na  graduação,  essa  reforma  universitária  ocorrida  no  final  dos  anos  90  na  Itália,  seria  um  exemplo  a  ser 
seguido  em  nosso  país  para  que  possamos  iniciar  uma  cultura  em  relação  à  recuperação,  preservação  e  conservação  do 
nosso patrimônio arquitetônico.  
2
 CARBONARA, Giovanni. op.cit. p. 10 ‐17. 
3
LUMIA, Chiara. A proposito del Restauro e della Conservazione – Colloquio con Amadeo Bellini, Salvatore
Boscarino, Giovanni Carbonara e B. Paolo Torsello. Roma: Gangemi Editore, 2003. p.89 -93.
4
LUMIA, Chiara. op. cit. p. 89. “Sul piano della formazione, invece, quale profilo formativo, istituzionalizzato o no,
consigliereste a chi voglia occuparsi d’interventi sul costruito, anche in relazione alle riforme attualmente in via di
definizione?” Tradução feita pela autora.
5
LUMIA, Chiara. op. cit. . p. 89.
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da medicina, em que se necessita de uma formação de base, e de uma especialização. A
formação do arquiteto-restaurador exige, antes de tudo, uma formação de arquiteto e sua
prática e, depois, uma especialização nas áreas específicas, não relegando a
responsabilidade somente aos cursos de “post lauream” para tal formação1. Devemos
amadurecer isso no contexto brasileiro, evidenciando, porém o número reduzido dos cursos
de pós-graduação no país2.

Nessas mesmas afirmações, Carbonara levanta questões no que diz respeito à graduação
em Bens Culturais, prática que está começando a se desenvolver no contexto brasileiro3.
Não se sabe ao certo qual profissional que será formado e de que forma será inserido no
mercado de trabalho.

Seguindo o mesmo viés de pensamento, conforme Salvatore Boscarino4, outro tema


importante a ser discutido e analisado é a formação dos responsáveis no âmbito do restauro
arquitetônico, que não podem ser resolvidos com alguns cursos fora da universidade; isto é,
são necessários cursos no âmbito da graduação, que abrangem conteúdos condizentes, e
da pós-graduação, tanto nas especializações quanto nos mestrados e doutorados, sendo o
arquiteto o responsável pelas atividades nos bens monumentais.

Boscarino nota outro problema muito danoso à formação, a introdução dessa disciplina de
restauro em outros cursos como os de Letras, Engenharia e o de Bens Culturais5, que
Carbonara já havia mencionado. E mais uma vez a confirmação da responsabilidade que só
o próprio arquiteto é capaz de atuar no restauro arquitetônico.

Na mesma linha de pensamento, Amadeo Bellini enfatiza a preocupação dos outros cursos,
que não de arquitetura para formação desses profissionais para trabalharem no campo do
restauro, e destaca ainda a questão da prática do arquiteto, principalmente no que se refere
aos procedimentos da atuação. Necessita de uma experiência prática para que haja um
conhecimento maior para essa atuação.

                                                            
1
 Esse é um dos principais objetivos propostos a esse trabalho. A importância de haver uma formação de base no curso de 
arquitetura e urbanismo para atuar nessa área específica. 
2
  Se  formos  analisar,  por  exemplo,  o  estado  de  São  Paulo,  onde  encontra‐se  30%  das  escolas  de  arquitetura  no  Brasil, 
entorno  de  64  cursos,  existem  somente  um  curso  de  pós‐graduação,  o  da  Universidade  Católica  de  Santos:  Restauro  do 
Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico oferecido bienalmente. 
3
 Hoje no Brasil já existe uma Graduação Tecnológica em Conservação e Restauro de Bens Culturais da Universidade Estácio 
de Sá no Rio de Janeiro e um curso Superior de Tecnologia da Conservação e Restauração de  Imóveis em Ouro Preto. Como 
o próprio Carbonara comenta sobre esse tipo de curso, qual é a responsabilidade desse profissional? Em que campo poderá 
atuar? Bens móveis, bens imóveis? Essas são uma das problemáticas levantadas. 
4
LUMIA, Chiara. op. cit. p. 90-91.
5
 Devemos esclarecer que esses cursos supracitados são referentes ao território italiano. 
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Vemos a importância de uma formação de base do arquiteto, referente aos conceitos de
restauro arquitetônico, não permitindo assim uma distinção entre profissionais que queiram
ocupar-se somente do novo e daqueles que deverão realizar intervenções no pré-existente;
ou seja, o arquiteto deverá ter uma formação no campo disciplinar do restauro para que
tenha instrumentos e repertórios ao projetar o novo ou intervir em algo já existente.

Para Paolo Torsello1, como enfatizam os outros autores, restauro é um campo disciplinar
altamente especializado; por esse motivo requer preparação cuidadosa teórica, técnica e
prática. Torsello critica a crescente demanda do “mercado”, à qual corresponde uma grande
oferta de trabalho e uma baixa qualidade profissional e destaca que, ao mesmo tempo em
que se disponibilizam cursos de alta qualidade para a formação dos arquitetos, também se
deva pensar na formação dos outros profissionais que atuam nesse campo. Nesse aspecto,
devemos pensar no âmbito técnico da disciplina e também na preocupação não somente
com a formação dos arquitetos, mas dos profissionais que atuam nessa área como
historiadores, químicos, físicos, geólogos, arqueólogos, engenheiros, etc., numa gama da
atuação interdisciplinar.

Mediante essa discussão que acontece atualmente no âmbito italiano e tentando trazer essa
experiência para o contexto brasileiro, deve-se discutir a importância da formação do
arquiteto na área do patrimônio arquitetônico. Nota-se que a responsabilidade para atuar
nesse campo cabe primeiramente ao profissional com a formação em arquitetura, que deve
ter o papel de articulador das demais competências envolvidas.

No Brasil, as práticas de restauro iniciaram-se, de maneira sistemática, com a criação do


Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN, antigo SPHAN) em 1937, apesar
de algumas iniciativas, existirem desde o século XIX e início do século XX2.

No que se refere ao ensino de restauro, o IPHAN (antigo SPHAN), junto com as escolas de
Arquitetura do estado de São Paulo, na década de 60 e 70 do século passado, promove o
amadurecimento das idéias preservacionistas dos futuros profissionais completada pela

                                                            
1
LUMIA, Chiara. op.cit. p. 92-93.
2
Ver em ANDRADE, Antonio Luiz Dias de. Um Estado completo que pode jamais ter existido. São
Paulo,1993.Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo. FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo. Trajetória Política Federal de Preservação
no Brasil. Rio de Janeiro, UFRJ/Minc/IPHAN, 1997. RODRIGUES, Marli. Imagens do Passado: a instituição do
patrimônio em São Paulo, 1969-1987. São Paulo, UNESP/Imprensa Oficial do Estado/CONDEPHAAT/FAPESP,
2000. RUBINO, Silvana. As Fachadas da História: os antecedentes, a criação do Serviço do Patrimônio Histórico
Nacional: 1937 a 1968. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas, 1992.
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prática, em estágios no “Patrimônio” 1. Em 1974, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAU-USP), propõe o primeiro curso, em colaboração com o
IPHAN e a UNESCO – Curso de Preservação e Restauro de Monumentos – que introduziu
os conceitos de patrimônio cultural no âmbito acadêmico, mediante as aulas ministradas
pelo Hugues de Varinne Bohan, da UNESCO 2. Já no ano de 1978, a mesma FAU-USP
promove um curso de Especialização “Patrimônio Ambiental Urbano”, organizado pelos
professores, o arquiteto Carlos A. C. Lemos e a geógrafa Maria Adélia de Souza, que contou com
a presença de ilustres professores como Milton Santos, Ulpiano Bezerra de Menezes, Aziz
Ab Saber, José Afonso de Souza, entre outros, e tendo como convidados James Fitch, da
Columbia University (NY), e Adriano La Regina da Superintendência de Antiguidades de
Roma3. Após o desenvolvimento desses dois cursos de extrema importância para formação
de profissionais para atuarem no patrimônio construído, que deram origem efetivamente, em
1981, a um dos cursos mais importantes do país na área, o “Curso de Especialização em
Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos (CECRE)” através de
um acordo entre a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o Instituto do Patrimônio
Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e a UNESCO, sediado na Faculdade de Arquitetura da
mesma universidade, que se mantém até os dias atuais 4.

Somente a partir de 1996, os conteúdos ligados à preservação foram introduzidos no


currículo mínimo dos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, através da matéria
referente ao patrimônio construído, por meio da Portaria 1770 de 21 de dezembro de 1994
(revogada pela Resolução CNE/CES Número 06 de 02 de fevereiro de 2006) 5.

Através desta portaria, os currículos dos cursos passariam a ser estruturados por meio de
Matérias de Fundamentação, Matérias de Profissionalização e o Trabalho Final de
Graduação6 e a matéria referente ao patrimônio estaria imbuída nas matérias de

                                                            
1
RODRIGUES, Marli. Imagens do Passado: a instituição do patrimônio em São Paulo, 1969-1987. São Paulo,
UNESP/Imprensa Oficial do Estado/CONDEPHAAT/FAPESP, 2000. p. 29.
2
  BAFFI,  Mirthes  I.  S.  O  IGEPAC‐SP  e  outros  inventários  da  Divisão  de  Preservação  do  DPH:  um  balanço.  Disponível  em 
<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/cultura/arquivo_historico/publicacoes/0003/RAM204‐169‐191‐
mirthes.pdf> Acesso 28.08.08. 
3
 BAFFI, Mirthes. I.S...Op.Cit. 
4
 SAMPAIO, Júlio Cesar Ribeiro. A conservação na formação do arquiteto: o caso do curso de graduação em Arquitetura e 
Urbanismo  da  Universidade  Federal  de  Juiz  de  Fora.  In.  I  Jornada  do  Patrimônio  Cultural  no  Espírito  Santo,  2006.  Vitória, 
Anais, UFES, 2006. CD‐ROM. p.05. 
5
 Idem. 
6
  Matéria  de  Fundamentação  constitui‐se  em  conhecimentos  fundamentais  e  integrativos  de  áreas  correlatas;  Matérias 
Profissionalizantes consistiu em conhecimentos que caracterizam as atribuições e responsabilidades profissionais. 
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profissionalização por meio da disciplina de Técnicas Retrospectivas1 que define como o
estudo a conservação, restauro, reestruturação e reconstrução de edifícios e conjuntos
urbanos2. Matéria entendemos como o argumento no âmbito geral e Disciplina como recorte
do argumento, ou seja, a reflexão do argumento em questão.

Nesse sentido, a formação no âmbito do patrimônio continua falha, pois, de fato, a portaria
menciona a “matéria”, mas não a obrigatoriedade de uma ou mais disciplinas, o que dificulta
o cumprimento da exigência desse conhecimento para atuar no campo disciplinar pela
abrangência do tema exposto.

Outro ponto fundamental é, no que se refere ao exercício profissional. Já foi mencionado


nesse artigo a importância da figura do arquiteto ser o responsável para atuar no campo
específico, sendo que, o restauro arquitetônico é uma modo de fazer arquitetura, sendo
assim uma matéria “projetual”3, isso por sua vez, compete o arquiteto, aquele que responde
para tal procedimento, sendo o único profissional que possui formação tanto técnica quanto
histórica.

Na Decisão Normativa do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia


(CONFEA) n.o 83 de 26 de setembro de 2008, no artigo terceiro estabelece a fiscalização
das atividades profissionais e o artigo quarto, o exercício profissional.

Art. 3º Para efeito da fiscalização das atividades profissionais, consideram-se atividades


referentes a patrimônio cultural a elaboração de projeto e a execução de serviços e obras de
conservação, preservação, reabilitação, reconstrução e restauração em monumentos, em
sítios de valor cultural e em seu entorno ou ambiência.

Art. 4º Para efeito da fiscalização do exercício profissional, consideram-se habilitados a


exercer as atividades especificadas no art. 3º os arquitetos, arquitetos e urbanistas,
engenheiros arquitetos e engenheiros contemplados no Decreto nº 23.569, de 11 de
dezembro de 1933, diplomados em cursos regulares e reconhecidos na forma da lei,
conforme as Resoluções nº 218, de 1973, e nº 1.010, de 2005.

Considerariam habilitados profissionais graduados em arquitetura e urbanismo, como


Giovannoni Carbonara, Salvatore Boscarino, Stella Casiello, Beatriz Mugayar Kuhl, entre

                                                            
1
  SCHICCHI,  Maria  Cristina.  Ensino  e  Projeto  e  Preservação:  reflexões  e  Práticas  Didáticas.  In.  II  Seminário  DOCOMOMO 
BRASIL – III Projetar, Porto Alegre, 2007. 
2
 Portaria 1770 de 21 de dezembro de 1994. 
3
 CARBONARA, Giovanni. Architettura è … Restauro. Palestra proferida na Università degli Studi di Ferrara, em 23 de março 
de  2006.  Carbonara  finaliza  a  palestra  com  a  seguinte  colocação:  necessita  de  uma  boa  formação  em  arquitetura  para 
poder projetar “Restauro “. 
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outros teóricos e críticos que descrevem sobre esse assunto1, com especialização na área
do restauro arquitetônico, para que haja um conhecimento aprofundado nas questões
referentes ao artefato, mesmo que a Resolução nº 1.010, de 2005, tenta exigir, de algum
modo, as atribuições que lhes confere cada profissão. Atribuição ao engenheiro, seria,
nesse caso, um pouco equivocada, já que não há uma formação técnica, histórica e artística
no seu conjunto de conhecimentos e habilidades específicas.

Como resultado a essa indagação, tornar-se obrigatória a disciplina de Restauro


Arquitetônico, evidenciando a necessidade de uma sólida formação do arquiteto no campo
disciplinar supracitado, no qual, introduza uma consciência histórica2, para que os
profissionais tenham instrumentos teórico-críticos e técnico-operacionais para atuar, de
modo que possa promover a efetiva preservação dos aspectos documentais, materiais,
formais, memoriais e simbólicos do nosso patrimônio cultural, que é essencial para
identidade da nossa sociedade.

Referencia Bibliográfica

BAFFI,  Mirthes  I.  S.  O  IGEPAC‐SP  e  outros  inventários  da  Divisão  de  Preservação  do  DPH:  um  balanço.  In. 
Disponível  em  <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/cultura/arquivo_historico/publicacoes/0003/RAM204‐169‐191‐
mirthes.pdf> Acesso 28 de agosto de 2008. 

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1
 SETTE, Maria Piera. Il Restauro in Architettura: quadro storico. Torino: UTET, 2006. LUMIA, Chiara. Op. Cit., KÜHL, Beatriz 
Mugayar… op. cit. 
2
A disciplina de Técnicas Retrospectivas deveria ter um cunho teórico primeiramente, e depois, fazer parte das
disciplinas de Projeto, Técnicas e Urbanismo. “... a historiografia pode prescindir da conservação e da
restauração; já as ações de preservação não deveriam prescindir, jamais, da história e historiografia, e os
profissionais atuantes na preservação, mesmo não sendo todos historiadores, deveriam possuir uma "visão
histórica" e sólida formação no campo – para entender e respeitar aquilo que é relevante do ponto de vista
histórico-documental –, pois a ausência de uma consciência histórica pode trazer, e na maioria dos casos traz,
conseqüências da maior gravidade nas ações sobre os bens culturais. (KUHL, Beatriz Mugayar. História e Ética
na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. Revista CPC, 2005, v. 1, n. 1. (www.usp/cpc/v1)).

E segundo Gramsci, um especialista conhece seu ofício não apenas praticamente, mas também teórica e
historicamente. Ele não só pensa com maior rigor lógico, como maior coerência, com maior espírito de sistema
do que os outros homens, como conhece também a história da sua especialidade (GRASCI, A. A Concepção
Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilizações Brasileira, 1991. p.34. Apud. MEIRA, Maria Elisa. Técnicas
Retrospectivas: manutenção e reabilitação da paisagem construída. In. OLIVEIRA, I. C. E. (Org.); PINTO, V. P.
(Org.). A Educação do Arquiteto e Urbanista: diretrizes, contexto e perspectivas. Piracicaba: Editora da
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  69 

Reflexões Acerca da Atuação do Arquiteto-Urbanista

na Conservação de Bens Arquitetônicos


Professor Doutor Claudio Antonio Santos Lima Carlos

Arquiteto e Urbanista (Fau-Usu/1985), Mestre em Ciências da Arquitetura


(Proarq/Fau/UFRJ/1997), Doutor em Urbanismo (Prourb/Fau/UFRJ-2008), Professor Adjunto
do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, do Instituto de Tecnologia da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRuralRJ/IT/Dau) – Responsável pela Disciplina de
Projeto de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural Edificado

UFRuralRJ - Rodovia BR 465, km 7, Seropédica/RJ, Cep: 23.890-000,

Tel: 3787.3750 e 9914-0017. E-mail: claudio.limacarlos@gmail.com

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Resumo

A partir de questões relacionadas à evolução mundial do conceito de patrimônio


cultural, o presente texto visa realizar uma breve discussão sobre o papel do arquiteto na
atividade da conservação de bens arquitetônicos, considerando-se a sua formação
acadêmica e demais aspectos legais concernentes à regulamentação da sua prática
profissional, previstos na legislação brasileira. Como estudo de caso, elegeu-se o Curso de
Arquitetura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRuralRJ) e os resultados
obtidos pela disciplina de Projeto de Conservação e Restauração do Patrimônio Edificado e
seus respectivos desdobramentos.

Reflexos no Brasil da Corrente Preservacionista Mundial


O debate estabelecido ao longo do século XX destacou definitivamente a
conservação do patrimônio cultural como atividade a ser desenvolvida e divulgada por
governos locais e nacionais, de todo o mundo. Nesse contexto, os bens arquitetônicos foram
evidenciados, dentre outros testemunhos, como objetos a serem conservados, tornando
indispensável a atuação de arquitetos na coordenação das operações voltadas a esse fim. A
arquitetura, como produto da atividade humana (seja ela um monumento ou conjunto
urbano), constitui-se em objeto complexo que é capaz de traduzir materialmente, aspectos
imateriais relacionados ao passado. O seu entendimento conduz necessariamente a
conjugação das componentes estética e histórica, fato que impõe relacionar a arquitetura a
um tempo e a um lugar (Brandi [1963] 1995:15).
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Por outro lado, é importante observar que a formação generalista de arquitetos
contribui para a percepção dessa complexidade, por meio da inclusão de conteúdos
relacionados a fundamentos de diversas áreas de conhecimento, tais como, de teoria e
história da arte, da arquitetura e do urbanismo, bem como de sociologia, antropologia,
filosofia, técnicas e métodos construtivos, materiais de construção e noções de cálculo
estrutural, além da própria disciplina de conservação arquitetônica. Mesmo assim, a sua
atuação não deve prescindir de especialização, bem como da ação conjunta com
profissionais de outras áreas, tais como, arqueólogos, historiadores, antropólogos,
engenheiros civis, químicos, biólogos, dentre outros, todos imprescindíveis e diretamente
relacionados ao caráter multi e interdisciplinar requisitado pela área específica de
conhecimento.

A partir da década de 1930, são observados, no Brasil, sinais inequívocos de ressonância


do movimento preservacionista mundial iniciado no hemisfério norte com a Carta de
Atenas (1931), cujo país foi signatário. Alguns fatos foram determinantes para a formação
desse quadro no Brasil, tais como, o tombamento da cidade de Outro Preto (1933)1, a
promulgação da Constituição Brasileira que estabeleceu pela primeira vez, a atribuição
do Estado conservar o patrimônio cultural (1934) e a criação do Serviço de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – Sphan (1937), por exemplo. Nas décadas seguintes, a
esse momento, instituiu-se sistematicamente no país, a prática da proteção (via
tombamento) e da conservação do patrimônio cultural, a partir da ação da União (via
Sphan) e, posteriormente, pela efetiva participação de estados e municípios. Estes
passaram a abrigar em suas estruturas administrativas órgãos estaduais e municipais de
patrimônio cultural que demandaram, de forma crescente, dentre outros profissionais, os
arquitetos especializados na área, para atendimento de demandas regionais e locais. A
demanda brasileira por arquitetos especializados em conservação, inicialmente, foi
suprida, pela concessão de bolsas, por parte do governo federal, a esses profissionais,
em cursos de pós-graduação na Europa, especialmente na Itália. Cabe assinalar no
citado processo de regionalização das atribuições de proteger e conservar o patrimônio
cultural, o surgimento, a partir da década de 1980, de instrumentos urbanísticos voltados
à conservação de áreas urbanas nas legislações municipais de algumas cidades, fato
que expandiu sobremaneira a demanda por arquitetos e arquitetos urbanistas nas tarefas
de conservação2.
No Brasil, somente em 1981, observa-se uma efetiva ação nesse sentido, com a criação,
na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA), de um dos
                                                            
1
- Através do Decreto Federal nº 22.928, publicado em 12 de julho.
2
- Foi o caso da Cidade do Rio de Janeiro que estendeu a aplicação do instrumento denominado
Área de Proteção Ambiental (Apa) para a proteção de áreas urbanas e naturais. Em 1992, por meio
do Plano Diretor, foi consagrado instrumento específico de proteção de áreas urbanas denominado
Área de Proteção do Ambinete Cultural (Apac). A cidade de Niterói instituiu na década de 1990 em
sua legislação, o instrumento denominado Área de Proteção do Ambiente Urbano (Aparu).
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principais cursos de pós-graduação do país voltado à área da conservação de
monumentos, denominado de “Curso de Especialização em Conservação e Restauração
de Monumentos e Conjuntos Históricos” (Cecre). A iniciativa envolveu uma parceria entre
a UFBA, o Iphan e a Unesco (Farah, 2008: 33). Após mais de vinte anos da fundação do
Cecre, a oferta de cursos dessa natureza no Brasil ainda é muito pequena, perante a
grande demanda de especialização do arquiteto-urbanista brasileiro, face ao aumento
expressivo das iniciativas de conservação de bens arquitetônicos, observada no país
desde a década de 1980.
No que diz respeito à graduação, algumas entidades de ensino de arquitetura limitaram-
se, ao longo dos anos 1980, a inserir conteúdos relacionados ao tema da conservação do
patrimônio cultural arquitetônico, em disciplinas eletivas1. Somente a partir de 1996, a
disciplina de conservação do patrimônio cultural – denominada Técnicas Retrospectivas –
teve a sua inserção recomendada no módulo profissionalizante dos currículos mínimos
dos cursos de graduação em arquitetura e urbanismo, com base no conteúdo da Portaria
1.770, de 21/12/19942. No entanto, segundo Farah (op cit: 33), apesar disso, “a formação
no âmbito do patrimônio continua, porém, falha, pois essa portaria menciona a ‘matéria’,
mas não a sua obrigatoriedade de uma ou mais disciplinas, o que dificulta o cumprimento
da exigência desse conhecimento para atuar no campo disciplinar”. É fato que a
disciplina de conservação do patrimônio cultural arquitetônico envolve um volume
considerável de conhecimentos teóricos, bem como a necessidade da prática dos
mesmos através do projeto de conservação, atividade que possui metodologia específica.
Sendo assim, o estabelecimento de mais de uma disciplina que aborde a complexidade
do tema se faz extremamente necessário. Elas são capazes de construir uma salutar
síntese entre teoria e empiria, extremamente necessária à formação de arquitetos em
geral, não apenas àqueles que desenvolvem interesse e aptidão pela conservação do
patrimônio cultural.
Conteúdos teóricos relativos à disciplina também deveriam ser abordados nas
cadeiras relacionadas ao urbanismo e ao planejamento urbano, tendo em vista o conceito
de “conservação urbana integrada”3 e as crescentes demandas pela conservação de áreas
urbanas em cidades brasileiras. É preciso atentar para o fato de que arquitetos

                                                            
1
- Foi o caso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula (USU), dentre
outras, que inseriu a disciplina eletiva denominada “Conservação e Restauração de Bens Culturais”,
com três créditos e 60 horas.
2
  ‐  A referida Portaria estabeleceu uma nova estrutura dos cursos que passariam a possuir três
distintas etapas: a de Fundamentação, a de Profissionalização e o Trabalho Final de Graduação. As
disciplinas ligadas à conservação do patrimônio cultural arquitetônico foram inseridas na etapa
profissionalizante.
3
- Conceito de Conservação Integrada, originado no urbanismo progressista italiano, nos anos 70, a
partir da experiência de reabilitação urbana do centro histórico de Bolonha, nos últimos anos da
década de 1960, consiste não somente da recuperação das estruturas físicas, mas também, das
econômicas e sociais de áreas urbanas históricas, priorizando a manutenção de suas populações
originais. Lança mão da participação popular no processo decisório municipal através da integração
das áreas jurídicas, administrativas, financeiras e técnicas.
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contemporâneos têm nas cidades pré-existentes sua primordial área de atuação. Elas são e
abrigam história, demandando cuidados relativos aos seus patrimônios (monumentos e
tecidos urbanos), que inclui o que se constrói a partir deles, visando a sua integração ao
cotidiano das comunidades urbanas. O conteúdo ensejado pelas disciplinas de conservação
do patrimônio cultural deve remeter o formando em arquitetura e urbanismo a reflexões
sobre os aspectos relativos à integração de novas estruturas aos elementos da cidade pré-
existente, sem perder de vista a responsabilidade de repassar às gerações futuras seus
patrimônios, bem como o fato de estar, no presente, produzindo o “histórico” do futuro.

A disciplina de Projeto de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural


Edificado no Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRRJ

O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRuralRJ foi criado em 2001, a partir do


antigo Departamento de Desenho e Construções, do Instituto de Tecnologia que abriga mais
outros três departamentos: de Engenharia, de Tecnologia de Alimentos e Engenharia
Química1. Em 2004, o curso foi reconhecido pelo MEC por intermédio da Portaria nº. 3.799
de 17 de novembro. Em 2001, a grade do curso contava com a disciplina dividida em dois
módulos, então denominados Técnicas Retrospectivas I (teórica) e Técnicas Retrospectivas
II (prática) que totalizavam oito créditos.

Na nova grade de 2005, ocorreu a oportuna alteração de denominação da disciplina


para “Projeto de Conservação e Restauração do Patrimônio Edificado”, no entanto, a sua
carga horária foi reduzida para quatro créditos. Dentre os objetivos estabelecidos pela sua
ementa está o de “Capacitar o estudante para interferir em edificações e sítios urbanos
considerados patrimônio cultural, através do conhecimento e análise de teorias do restauro
e sua aplicabilidade em projetos arquitetônicos e urbanísticos”. A própria ementa remete à
“análise de teorias” e à “aplicabilidade em projetos arquitetônicos e urbanísticos”, ou seja,
aponta necessariamente para conteúdos teóricos e práticos que devem ser abordados em,
no mínimo, duas disciplinas.

A partir de 2006, foi empreendida uma nova diretriz na referida disciplina, que passou
a enfocar os problemas de conservação do próprio campus da UFRuralRJ, cujo conjunto

                                                            
1
- Após aprovação dos Conselhos de Ensino, Pesquisa e Extensão em 2000 (Deliberação nº
74/2000) e Universitário da UFRRJ (Deliberação nº 9/2000).
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arquitetônico e paisagístico é tombado, em nível estadual desde 19981. Após o módulo
teórico, é proposto como atividade prática, o mapeamento de danos das edificações
protegidas, visando o diagnóstico do seu estado de conservação e a análise do grau de
caracterização. A dinâmica empreendida possibilitou, em curto prazo, resultados bastante
positivos, entre os alunos, com destaque para o despertar da sensibilidade para as questões
inerentes à conservação da arquitetura neocolonial do campus.

Num primeiro momento, foram detectadas pelos alunos, inúmeras intervenções


tecnicamente equivocadas, incompatíveis com a morfologia original das edificações, por
meio de levantamentos fotográficos e comparativos com a documentação primária (projetos
originais) e iconográfica disponível sobre o campus. O segundo passo consistiu na
digitalização das informações. Cabe destacar a fundamental interface da disciplina de
conservação com a área de representação gráfica que contribuiu para a elaboração de
metodologia original, que consistiu da preparação de novo desenho a partir da digitalização
de imagens dos originais existentes. O método surgiu em função do pouco tempo disponível
para a elaboração dos levantamentos, face à escala monumental das edificações, fato que
inviabilizaria um levantamento plani-altimétrico convencional.

Por outro lado, a detecção de documentação primária (plantas, croquis e detalhes à


grafite, carvão e nanquim) disponível nos arquivos da Prefeitura Universitária da UFRuralRJ
possibilitou constatar seu péssimo estado de conservação e seu inadequado
acondicionamento. Nesse sentido, o trabalho que vem sendo realizado também se revelou
útil na digitalização desse material, poupando originais do manuseio diário. Em face dos
resultados, até então obtidos, foi possível observar que a falta de manutenção preventiva, o
improviso e a aplicação inadequada de novos equipamentos visando à atualização das
instalações originais das edificações protegidas constituem-se nas principais ameaças à
conservação do conjunto arquitetônico do campus.

Uma outra importantíssima questão, de cunho teórico, foi detectada ao longo dos
estudos até agora desenvolvidos pela disciplina. Trata-se de uma arraigada preferência,
identificada entre a maioria dos professores e arquitetos da Prefeitura Universitária da
UFRuralRJ, pela mimetização de elementos da arquitetura neocolonial em novas
implantações e acréscimos propostos. A convicção desenvolvida há várias gerações
ocasionou a construção de novos pavilhões e acréscimos em edificações originais em “estilo
                                                            
1
- Os projetos originais dos pavilhões tombados são de autoria de Ângelo Murgel e o projeto
paisagístico é assinado por Reynaldo Dierberger. O campus foi inaugurado em 1947 pelo governo
federal. 
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neocolonial”, o que configura um verdadeiro equívoco conceitual. Por outro lado, cabe citar
que o principal exemplo de inserção contemporânea existente no campus (Pavilhão de
Aulas do Instituto de Química, erguido na década de 1970) é uma verdadeira aberração, em
termos de integração à ambiência do conjunto arquitetônico-paisagístico tombado1. É
importante destacar o fato de a proteção do campus, através do instituto do tombamento
estadual, ser ignorada pela maioria dos seus docentes e funcionários.

Ilustração 1. Pavilhão de Aulas do Instituto de Química


Foto: Jeane de Paula (2008)

A discordância dos preceitos adotados, pela maior parte dos professores do DAU e
introduzidos por intermédio da disciplina de conservação, com base em conceitos
mundialmente aceitos relativos à autenticidade, gerou intensos debates que envolveram
outros departamentos e institutos da UFRuralRJ. A partir dos extremos detectados na
realidade construída do campus, surgiu uma nova postura a ser adotada nas novas
implantações que devem expressar a sua contemporaneidade, sem prejuízo da manutenção

                                                            
1
- Segundo as Recomendações de Nairobi (Unesco-1976) “um cuidado especial deveria ser adotado
na regulamentação e no controle das novas construções para assegurar que sua arquitetura se
enquadre harmoniosamente nas estruturas espaciais e na ambiência dos conjuntos históricos. Para
isso, uma análise do contexto urbano deveria preceder qualquer construção nova, não só para definir
o caráter geral do conjunto, como para analisar suas dominantes: harmonia das alturas, cores,
materiais e formas, elementos constitutivos do agenciamento das fachadas e dos telhados, relações
dos volumes construídos e dos espaços, assim como suas proporções médias e a implantação dos
edifícios”.
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das condições de legibilidade e da autenticidade1 do conjunto, bem como da sua ambiência.
Os resultados das discussões possibilitaram aos alunos, importantes reflexões teóricas
acerca da aplicabilidade de conceitos explorados nas aulas teóricas do curso.

A partir de seminários internos2 e reuniões, ocorridas entre professores e arquitetos


responsáveis pela expansão da Universidade, alcançou-se finalmente o consenso de que as
novas edificações a serem construídas nas dependências do campus, devem
obrigatoriamente expressar a sua contemporaneidade sob risco de dificultar a leitura e
apreensão da arquitetura original. Todo o processo foi acompanhado pelos alunos
matriculados na disciplina, sendo que alguns deles cumprem estágio de arquitetura na
Prefeitura Universitária da UFRuralRJ.

Toda polêmica formada em torno dos critérios de conservação do campus


possibilitou a criação de Comissão de Patrimônio Cultural da UFRuralRJ, através de Portaria
expedida pelo Reitor da Universidade. O novo órgão é composto por três professores do
DAU, sendo um deles responsável pela disciplina de Projeto de Conservação e Restauração
do Patrimônio Cultural Edificado, um professor do Departamento de História e um
representante do Centro de Memória da UFRuralRJ. A Comissão foi incumbida de
intermediar, junto aos órgãos de tutela do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro, a
aprovação de novos projetos e intervenções propostas para os bens protegidos do campus
da UFRuralRJ. Cabe ressaltar as iniciativas, atualmente em curso, para a elaboração do
Plano Diretor de Ocupação do campus universitário da UFRRJ, proposto pelo DAU, a partir
da discussão desenvolvida na disciplina de conservação.

                                                            
1
- O conceito de autenticidade é explicitado como indispensável nas intervenções em monumentos e
conjuntos arquitetônicos. Ele é citado em diversos documentos internacionais, tais como, Carta de
Veneza (1964), Conferência de Nara (1994), Carta de Brasília (1995), dentre outros. O último
documento citado destaca que em “(...) edifícios e conjuntos de valor cultural, as fachadas, a mera
cenografia, os fragmentos, as colagens, as moldagens são desaconsehados porque levam à perda
da autenticidade intrínseca do bem”.
2
- Em 26 de julho foi realizado no Salão Azul do Prédio I, do campus, o I Seminário sobre a pintora
Maria Helena Vieira da Silva, autora de painel de azulejos localizado na sala de estudos do campus
universitário. O evento teve a presença de professores de todos os departamentos e institutos da
UFRRJ, membros do Conselho Estadual de Tombamento (órgão de tutela do tombamento do
campus) e membros do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), órgão executivo do
patrimônio cultural estadual. Na ocasião, pela primeira vez, foram apresentados os primeiros
resultados obtidos pela disciplina de Projeto de Conservação do Patrimônio Cultural Edificado, fato
que gerou intenso debate e polêmica.
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Ilustração 2 - Prancha de mapeamento de danos do Instituto de Biologia, 2007.

Ilustração 3 - Prancha de mapeamento de danos do Pavilhão Central (Prédio I), 2006.

A Prática Profissional da Conservação no Brasil

No âmbito da prática profissional, em 25/05/2007, o Conselho Federal de


Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) editou a Decisão Normativa nº 80 que
estabeleceu como aptos a desempenhar as atividades relacionadas à conservação do
patrimônio cultural, apenas arquitetos e arquitetos-urbanistas, conforme seu artigo 4º. Cabe
assinalar que o Confea, na ocasião, demonstrou estar atento à relação existente entre o
caráter específico da atividade e o currículo básico de formação de arquitetos, profissionais
classificados como generalistas pela Resolução nº 6 de 02/02/2006/CNE – Conselho
Nacional de Educação1.

                                                            
1
- Segundo o § 1º, do inciso X, do Art. 3º, da Resolução nº 6 do CNE: “A proposta pedagógica para
os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo deverá assegurar a formação de profissionais
generalistas, capazes de compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e
comunidades, com relação à concepção, à organização e à construção do espaço interior e exterior,
abrangendo o urbanismo, a edificação, o paisagismo, bem como a conservação e a valorização do
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No entanto, surpreendentemente, o mesmo órgão editou, em 26/09/2008, a Decisão
Normativa nº 83 que inseriu os engenheiros-arquitetos e engenheiros no rol de profissionais
habilitados a exercer as atividades relacionadas à “elaboração de projeto e a execução de
serviços e obras de conservação, preservação, reabilitação, reconstrução e restauração em
monumentos, em sítios de valor cultural e em seu entorno ou ambiência.” A inclusão se
baseia, dentre outras legislações, no Decreto nº 23.569, de 11/12/1933, que regula o
exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e agrimensor, ainda em vigor; e nos
Artigos 5º e 6º da Resolução 1.010.

Cabe destacar que o caput da mesma Resolução destaca que “(...) nenhum
profissional poderá desempenhar atividades além daquelas que lhe competem pelas
características de seu currículo escolar, consideradas em cada caso apenas disciplinas que
contribuem para a graduação profissional, salvo outras que sejam acrescidas em curso de
pós-graduação, desde que, na mesma modalidade”. Por outro lado, é relevante observar
que a Resolução CNE/CES 11/2002 do CNE, que institui as diretrizes curriculares nacionais
do curso de graduação em engenharia não menciona nenhum campo de conhecimento
ligado diretamente à prática da conservação do patrimônio cultural nos núcleos de conteúdo
básico, tampouco no profissionalizante, tais como, teoria e história da arte e da arquitetura.
A nova e polêmica Decisão Normativa editada pelo Confea, sem sombra de dúvida, deve
ser objeto de exaustivos debates e reflexões futuras, visando o seu ajuste à realidade das
demandas reais encaradas por profissionais envolvidos com a tarefa da conservação do
patrimônio cultural brasileiro.

Considerações Finais

A trajetória estabelecida pelos debates mundiais acerca da questão da conservação


de bens culturais arquitetônicos inseriu conteúdos complexos que obrigatoriamente
demandam a atuação arquitetos, sobretudo, especializados, na área específica. O contexto
envolve dois aspectos intimamente ligados, ou seja, a formação desses profissionais
(graduação e pós-graduação) e a regulamentação da sua prática.

É importante observar que o destaque da arquitetura como patrimônio cultural,


dentre outros, apontou para um grande número de iniciativas de conservação desses bens

                                                                                                                                                                                          

patrimônio construído, a proteção do equilíbrio do ambiente natural e a utilização racional dos


recursos disponíveis”.
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que contribuíram significativamente para o destaque do arquiteto como profissional indicado
para nela atuar. A ele se liga o papel de articulador das iniciativas voltadas à conservação,
em que pese o caráter inter e multidisciplinar exigido pela área de conhecimento. Em função
disso, a sua formação profissional não deve prescindir de disciplinas específicas voltadas à
abrangência e complexidade da conservação do patrimônio cultural edificado, que envolve a
escala arquitetônica e a urbana.

Por outro lado, a melhoria do seu desempenho no referido papel, obrigatoriamente


demanda especialização. No Brasil, no entanto, no tocante a esse aspecto, a evolução se
dá lentamente. Mesmo após décadas de discussões mundiais sobre o tema da
conservação, somente em 1981, surgiu o primeiro curso regular de especialização na área.
No âmbito da graduação, viram-se tímidas inserções da disciplina no currículo básico de
algumas faculdades de arquitetura, para somente, em 1996, ser estabelecida como
conteúdo obrigatório na formação de arquitetos. Mesmo assim, as Diretrizes Curriculares
devem ser debatidas e detalhadas no tocante ao número de disciplinas necessárias à
abordagem de conteúdo mínimo, tanto teórico quanto prático.

Por outro lado, os resultados obtidos pela disciplina de Projeto de Conservação do


Patrimônio Cultural Edificado, na UFRuralRJ, confirmam a extrema relevância da inserção
do tema no currículo de graduação, com vistas a uma melhor e mais abrangente formação
de profissionais na área. A sua contribuição para o processo de expansão e conservação do
campus é crescente, mobilizando professores e estudantes, a partir do debate teórico e da
avaliação da realidade existente. Mesmo assim, a disciplina merece ser ampliada, visando
aumentar as interfaces com outras cadeiras do currículo básico e profissionalizante, como
urbanismo, planejamento urbano e representação gráfica.

No tocante a regulamentação da prática de conservação, observa-se no Brasil certo


retrocesso no processo iniciado pela Decisão Normativa do Confea (2007) que garantiu uma
coerente prioridade aos arquitetos, nas atividades correlatas à conservação de arquiteturas
e áreas urbanas históricas. A partir da promulgação de outro ato normativo, em 2008, o
Confea, de forma polêmica, estendeu essas atribuições aos engenheiros e engenheiros-
arquitetos, com base numa legislação de 1933, ou seja, elaborada sob os efeitos das
primeiras discussões e debates mundiais acerca do patrimônio cultural, iniciadas pela Carta
de Atenas (1931). O fato expôs mais uma vez, uma antiga disputa por mercado de trabalho,
desenvolvida entre a duas categorias no Brasil, ensejando vasto campo de debates que
envolve a definição de atribuições profissionais de arquitetos e de engenheiros. A medida,
caso não seja urgentemente debatida e revisada, poderá ocasionar problemas à
conservação do patrimônio cultural edificado brasileiro.
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Referências Bibliográficas

ARGAN, Giulio Carlo (1992). História da Arte como História da Cidade. São Paulo: Ed.
Martins Fontes, 1992.
BRANDI, Cesare (1995 [1963]). Teoria de la Restauración. Madrid: Editorial Alianza, 1995.
CURY, Isabelle (org) (2004). Cartas Patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004 (3ª edição
revista e aumentada).
CHOAY, Françoise (2000). A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade, Unesp,
2000.
FARAH, Ana Paula (2009) “Restauro arquitetônico: a formação do arquiteto no Brasil para
preservação do patrimônio edificado” História, Franca, v. 27, n. 2, 2009.
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O ENSINO DA CONSERVAÇÃO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DE


ARQUITETURA E URBANISMO

Sampaio, Julio Cesar Ribeiro

Arquiteto, Urbanista, Doutor em Arquitetura pela Universidade de York, Inglaterra, Professor


Adjunto, Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia da
Universidade Federal de Juiz de Fora e membro do International Training Committee - CIF,
do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Históricos/ICOMOS

Campus Universitário, Martelos, Juiz de Fora/MG, CEP 36036-330, Tel: 032-32293403, Fax:
032-32293401
julio.sampaio@ufjf.edu.br

RESUMO

Este trabalho pretende avaliar as implicações teóricas e metodológicas do ensino da


conservação nos cursos de graduação de arquitetura e urbanismo. Esta abordagem inicia-
se com o resgate da inclusão deste tema na formação dos arquitetos num contexto geral.
Em seguida, enfocam-se as iniciativas brasileiras para se capacitar os profissionais da
arquitetura na salvaguarda de edificações e de áreas urbanas.
A parte inicial do artigo cria as condições para a discussão da experiência do Curso de
Graduação de Arquitetura e de Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora,
especificamente do conteúdo das disciplinas de conservação e dos respectivos resultados
acadêmicos e práticos alcançados, os quais pretendem contribuir para o debate do tema em
evidência.

1 - A qualificação dos arquitetos

As iniciativas de capacitação do arquiteto na conservação de edificações e de áreas


urbanas não é recente. Ao longo do século XX, a qualidade dos profissionais da
conservação foi uma preocupação constante. No entanto, a primeira iniciativa de caráter
internacional de se formar arquitetos especialistas em conservação ocorreu em 1965 com a
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criação do “Curso Internacional de Especialização” promovido pela Faculdade de Arquitetura
da Universidade de Roma em conjunto com o International Centre for the Study of the
Preservation and the Restoration of Cultural Property - ICCROM (Gazzola, 1972, p. 257). De
acordo com Derek Lisntrum (1996, p. 99), o primeiro evento internacional que discutiu a
formação profissional do arquiteto especialista em conservação de bens culturais foi
organizado pela UNESCO em 1966, na cidade de Pistoia, na Itália. Este encontro, segundo
Gazzola (1972, p. 259), contou com representantes de vários países e de instituições que
ministravam cursos nesta área. Discutiu-se importantes temas como formação básica,
interdisciplinaridade, capacitação de artesãos, etc.

As Normas de Quito de 1967, foi a "carta patrimonial"1 que destacou pela primeira vez o
problema da qualificação de profissionais da conservação. Nelas, convencionou-se que “a
valorização de um monumento ou conjunto urbano de interesse ambiental é o resultado de
um processo eminentemente técnico e, conseqüentemente, sua execução oficial deve ser
confiada diretamente a um órgão de caráter especializado, que centralize todas as
atividades” (Cury, 2000, p. 121). No ano seguinte, em 1968, as "Recomendações de Paris",
da UNESCO, documento que trata da conservação de bens culturais ameaçados pela
execução de obras públicas ou privadas, sugeriu algo semelhante, porém mais especifico
em termos de mão de obra qualificada, de especialistas competentes em matéria de
preservação dos bens culturais, de arquitetos, urbanistas, arqueólogos, historiadores,
inspetores e outros técnicos (Cury, 2000, p. 131).

O somatório destas iniciativas estabeleceu as bases para a criação do International Training


Committee - CIF, Comitê Científico de Treinamento de mão de obra qualificada de
conservação do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Históricos - ICOMOS, em
Dresden, 1984, numa das assembléias gerais desta organização não-governamental, com o
objetivo de se elaborar um painel sobre a situação da formação profissional dos arquitetos,
urbanistas e engenheiros civis especialistas em conservação de bens culturais. Formulou-se
também, recomendações apropriadas para o aprimoramento do conhecimento relativo à
conservação e a qualidade da capacitação destes profissionais (Jokilehto, 1995, p. 13). No
encontro do CIF durante a Décima Sexta Assembléia Geral do ICOMOS em Quebec, em
2008, decidiu-se pela implantação de uma rede mundial de universidades para se avaliar o
ensino de conservação nos cursos de graduação e de pós-graduação.

                                                            
1
- As cartas patrimoniais são documentos de conservação de abrangência internacional redigidos em
encontros promovidos por órgãos não-governamentais (ICOMOS) e intergovernamentais (UNESCO)
que se dedicam às questões da conservação do patrimônio cultural (Cf. CURY, 2000).
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  82 
Toda a discussão desta especialização do arquiteto teve como respaldo a sistematização e
a consolidação do arcabouço teórico da conservação que se iniciou em meados do século
XIX, a partir dos embates entre as Teorias da Unidade de Estilo, de Viollet-Le-Duc e a
Conservacionista, de John Ruskin e William Morris. A solidificação do referencial teórico e
dos procedimentos metodológicos básicos do projeto de conservação de edificações teve
continuidade no século XX com a elaboração do conceito de “restauro científico” de Camilo
Boitto e as contribuições de Alois Riegl, Gustavo Giovanonni e Cesare Brandi (Cf. Cheschi,
1970; Erder, 1986; Jokilehto, 1999 e Choay, 2000). A tônica de todo este debate
fundamentou-se em dois princípios básicos da conservação: a preservação da autenticidade
e da integridade dos bens culturais. É sobre eles que se desenvolve a formação do arquiteto
conservacionista.

Conscientizar os arquitetos da importância de se reter o máximo das informações artísticas,


históricas, científicas e afetivas que determinam a autenticidade e a integridade das
edificações protegidas e/ou com potencial de proteção é fundamental para a manutenção da
existência deste patrimônio. Convém lembrar que a capacitação do arquiteto na
conservação também se justifica em função do aumento considerável das reformas,
restaurações e reabilitações do atual estoque imobiliário. Segundo Jukka Jokilehto (1995, p.
25), na Europa, elas correspondem a cerca de setenta por cento do total das intervenções
no ambiente construído.

2 - AS INICIATIVAS BRASILEIRAS

No Brasil, a carência de mão de obra qualificada de conservação motivou a vinda de Michel


Parent, Viana de Lima, Limburg Stirum, entre outros especialistas da UNESCO no final da
década de 1960 para auxiliar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
na conservação de edificações, especialmente de áreas urbanas protegidas, as cidades
históricas marginalizadas pelo modelo de desenvolvimento urbano do pós-guerra
(SPHAN/Pró-Memória, 1980, pp. 32-33). As colaborações destes consultores resumiram-se
na elaboração de relatórios contendo diretrizes básicas para implantação de estratégias de
conservação das cidades de Ouro Preto, São Luís, Alcântara, Paraty e o centro histórico de
Salvador, o Pelourinho.

Somente em 1970, no I Encontro de Governadores, conhecido como “Compromisso de


Brasília”, a questão da formação de profissionais da conservação foi abordada. Por
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  83 
unanimidade, os participantes da conferência propuseram “a criação de cursos para
formação de mão-de-obra qualificada visando a formação de arquitetos restauradores,
conservadores de pintura, escultura e documentos, arquivologistas e museólogos de
diferentes especialidades” (SPHAN/Pró-Memória, 1980, p. 140). No II Encontro de
Governadores, em 1971, na cidade de Salvador, esta proposta foi reiterada. Sugeriu-se
também o envolvimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- CAPES na implantação destes cursos.

A concretização das propostas dos dois Encontros de Governadores aconteceu no


Programa Cidades Históricas - PCH, que se constituiu numa linha de financiamento
composta por dotações orçamentárias de diversos órgãos federais. Inicialmente, em 1973, o
PCH concentrou-se no nordeste para depois se expandir aos estados da região sudeste. Até
1978, o PCH, com orientação técnica do IPHAN e de convênios com as Universidades
Federais de Pernambuco, Minas Gerais e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de
Pernambuco, promoveu a realização de três cursos de conservação de bens imóveis
(especificamente para arquitetos), móveis (para técnicos de nível superior) e de mestres de
obras. Os dois primeiros foram de pós-graduação e o último, de nível médio. Todos
capacitaram 119 técnicos (SEPLAN, s.d., p.40).

Os cursos regulares, ainda no nível de pós-graduação lato sensu, surgiram no início da


década de 1980. O primeiro deles foi o Curso de Especialização em Conservação e
Restauração de Monumentos e Conjuntos Históricos - CECRE, criado em 1981 através de
um convênio entre a Universidade Federal da Bahia, o IPHAN e a UNESCO, sediado na
Faculdade de Arquitetura da UFBA que o mantém até hoje.

Ao longo da década de 1980 observou-se uma tímida introdução de disciplinas eletivas de


conservação na graduação. De 1989 em diante, Maria Elisa Meira (1998, p. 39) citou que, “a
área de ensino de arquitetura e urbanismo vem realizando amplo debate nacional a respeito
da renovação, atualização e inserção do panorama internacional desse tipo de ensino no
Brasil.” Neste período, começaram efetivamente as discussões para a reavaliação do
currículo básico dos cursos de arquitetura que alcançaram resultados mais práticos no início
da década de 1990. Os grandes fóruns de debates neste sentido foram os Seminários
Nacionais sobre o Ensino de Arquitetura organizados pela Associação Brasileira de Ensino
de Arquitetura - ABEA (ABEA, 1995, p.7). No encontro de 1993, propôs-se um novo
currículo mínimo onde pela primeira vez foi sugerida a inclusão da obrigatoriedade do tema
da conservação na formação básica do arquiteto, ambição histórica também compartilhada
e defendida pelos órgãos de tutela do patrimônio cultural.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  84 
A Portaria 1770 de 21 de dezembro de 1994 (revogada com poucas alterações pela
legislação vigente, a Resolução CNE/CES Número 06 de 02 de fevereiro de 2006),
organizou a reforma curricular pretendida e finalmente introduziu a disciplina obrigatória de
conservação na graduação oficializando a "educação patrimonial" do arquiteto1. Esta
matéria ficou conhecida pela controvertida denominação de “Técnicas Retrospectivas”,
termo definido por Leonardo Benévolo (1984, p. 144) numa comunicação apresentada em
um dos eventos do Conselho Europeu, em 1980, que se resume nas iniciativas de
repristinamento2, restauração, reestruturação, e reconstrução de artefatos. Entretanto, este
título não é uma unanimidade nos cursos de arquitetura. Algumas escolas nomeiam esta
disciplina como "Projeto de Conservação e Restauração do Patrimônio Edificado"
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), "Conservação e Restauro do Patrimônio
Cultural" (Universidade Federal do Rio de Janeiro), "Princípios da Conservação dos Bens
Culturais" (Universidade Federal Fluminense/UFF), "Projeto de Restauração" (UFF), etc.

Técnicas Retrospectivas classifica-se na Portaria 1770 e na Resolução 06 como matéria


profissional da grade curricular. A abordagem dela na opinião de Meira (1998, p. 41):

reforça na escola as preocupações com o ambiente de vida, ressaltando os aspectos que


a sociedade espera ver atendidos e que pertencem ao domínio da competência do
arquiteto e urbanista. Constituindo-se como campo de conhecimento essencial, as tarefas
relativas às técnicas retrospectivas ganham destaque entre as demais, posicionando-se
num conjunto de atividades antes privilegiadas. Essa nova posição permite rever o
quadro atual dos cursos de arquitetura e urbanismo, em que os temas ligados a novas
construções predominam, ocupando a maior parte do tempo do estudante.

Em geral, os projetos pedagógicos dos cursos de arquitetura e urbanismo posicionam


Técnicas Retrospectivas nos últimos semestres do curso, entre o sétimo e o nono período. A
carga horária média varia entre 30 a 60 horas/aula e os créditos, de três a seis.
Normalmente os pré-requisitos exigidos são as disciplinas de História da Arquitetura e de
                                                            
1
- De acordo com Meira (1998, 40), esta iniciativa foi reforçada pelas recomendações da Charter of
Architectural Education, publicada pela UNESCO e a União Internacional dos Arquitetos em 1996,
que “consagrou o acerto das decisões já encaminhadas no Brasil para o aperfeiçoamento e
atualização da educação dos arquitetos e urbanistas.”
2
- Repristinamento consiste numa “série de obras destinadas unicamente a consolidar um artefato, a
garantir a duração, a tolher as inadmissíveis alterações, em suma, a subtraí-lo à injúria do tempo,
subordinado a este objetivo ou também eliminando todo o uso moderno.” (Benévolo, 1984, p. 142). O
tradutor da obra recorreu ao italiano devido a falta de um termo adequado em português.  
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  85 
Teoria da Arquitetura. Nos cursos com regime departamental, Técnicas Retrospectivas fica
atrelada aos Departamentos de História e Teoria, apesar do envolvimento de atividades
relativas ao projeto de arquitetura.

As disciplinas de Técnicas Retrospectivas dos Cursos de Graduação de Arquitetura e


Urbanismo tornam os arquitetos aptos ao exercício profissional da conservação do
patrimônio cultural, sobretudo de bens imóveis, das edificações e de áreas urbanas. Esta
habilitação é regulada pela Resolução 1010 de 22 de agosto de 2005 do Conselho Federal
de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CONFEA. A Decisão Normativa Número 83, de
26 de setembro de 2008, também do CONFEA, dispõe sobre procedimentos para a
fiscalização do exercício e das atividades profissionais referentes a monumentos, sítios de
valor cultural e seu entorno ou ambiência. Entretanto, esta "Decisão" habilita da mesma
forma os engenheiros a atuarem na conservação de edificações e de áreas urbanas, apesar
deles não terem nas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação1 formação
específica neste tema e nem capacitação pela Resolução 1010.

3 - O CASO DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE


FEDERAL DE JUIZ DE FORA

O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora foi criado em


1992 ainda sob as Diretrizes Curriculares da Resolução 3, de 25 de junho de 1969. O
reconhecimento legal ocorreu em 1999. Neste período, o curso teve que se adequar às
novas diretrizes curriculares determinadas pela Portaria 1770 do Ministério da
Educação/MEC em 1994 que, entre outros aspectos, estabeleceu a introdução da disciplina
de Técnicas Retrospectivas na grade curricular, conforme citado acima. No caso da UFJF,
na reforma curricular de 1998, esta matéria subdividiu-se em Técnicas Retrospectivas I e II.
O primeiro módulo é ministrado no sétimo período, possui quatro créditos e 60 horas/aulas
de carga horária. O segundo, é oferecido no oitavo período com seis créditos e 90
horas/aulas. Ambos são denominados pelos docentes e discentes deste curso por Retrô I e
II, respectivamente.

                                                            
1
- Resolução CNE/CES 11, de 11 de março de 2002.
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Atualmente Retrô I se constitui no módulo conceitual e Retrô II no prático onde se
desenvolve um projeto básico de conservação de edificações. Por causa disso, Retrô II, que
está sob responsabilidade do autor deste artigo desde o segundo semestre de 2004, tem
status de disciplina de projeto de arquitetura e subdivide-se em Turmas “A” e “B” com quinze
alunos cada para atender as recomendações dos "Perfis da Área & Padrões de Qualidade
da Expansão, Reconhecimento e Verificação Periódica dos Cursos de Arquitetura e
Urbanismo" definidas pela Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo
da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação.

Na definição do programa de Retrô II, preocupou-se inicialmente com o estabelecimento dos


limites entre a graduação e a pós-graduação. A maioria das publicações sobre a formação
básica do arquiteto conservacionista se restringe aos cursos de especialização. Entretanto,
no caso do curso da UFJF, objetivou-se traduzir esta linguagem altamente especializada
num conjunto de conceitos e de procedimentos metodológicos visando-se estimular o senso
crítico dos alunos e prepará-los para atuar nas intervenções de conservação sob orientação,
quando possível, dos órgãos de tutela do patrimônio cultural.

As discussões que ocorrem em Retrô II resgatam os debates travados na consolidação da


Teoria da Conservação, reafirmam as propostas pedagógicas Comitê Científico de
Treinamento do ICOMOS e consideram a prática da conservação através de estudos de
casos. Entretanto, a ênfase do programa recai nos procedimentos metodológicos dos
projetos de conservação de edificações consagrados na literatura especializada que incluem
aulas sobre pesquisa histórica das edificações, levantamentos planialtimétricos, avaliações
das condições atuais, técnicas básicas de conservação e definições de estratégias de
conservação.

Na pesquisa histórica, enfoca-se o levantamento das documentações iconográficas (plantas


originais, de modificações, fotografias, pinturas, desenhos, etc.) e escritas (documentos de
licenciamento, periódicos, livros de época, publicações acadêmicas, etc.) que permitam
traçar os percursos da concepção, execução e das modificações que ocorreram ao longo da
existência das edificações. Cita-se também a importância das investigações arqueológicas
nos trabalhos de prospecção que buscam informações inéditas e de primeira mão não
disponíveis nas fontes de pesquisa escritas. A síntese crítica da avaliação deste material
coletado é também utilizada nas fases dos diagnósticos e nas definições das intervenções
de conservação.

De posse da documentação iconográfica histórica (projetos originais e/ou de modificações),


parte-se para a abordagem da planialtimetria que é contextualizada através da trajetória dos
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  87 
registros iconográficos de edificações na História da Arquitetura até o presente, onde são
destacadas a elaboração de levantamentos fotográficos, as técnicas atuais de topografia,
fotogrametria e especialmente o método clássico, de medições com trenas, tomada de cotas
cumulativas, triangulações, etc. Nestas representações gráficas são marcados
posteriormente os mapeamentos de danos e as propostas de conservação.

A avaliação das condições atuais envolve inicialmente a abordagem das características


arquitetônicas remanescentes do que sobrou da trajetória histórica em termos de aspectos
formais, funcionais e construtivos. Em seguida, se estabelece o grau de caracterização, o
nível de alterações da integridade e da autenticidade das partes e do todo da concepção
arquitetônica e o estado de conservação, isto é, a abrangência das degradações e
respectivos fatores de deteriorações, os quais são cadastrados num mapeamento de danos,
nas plantas baixas, cortes, fachadas, coberturas, etc. Todas estas informações são
relativizadas através das análises das ambiências físicas, sociais e econômicas de onde se
situam as edificações trabalhadas. Este exame inclui também estudos das legislações
edilícias, urbanísticas e de conservação vigentes.

Como suporte as propostas de conservação, o curso ainda aborda as principais técnicas de


consolidação e restauro listadas dos procedimentos usuais sugeridos por órgãos de tutela
do patrimônio cultural e das diversas publicações que integram a bibliografia básica da
disciplina, a qual é atualizada no início dos semestres letivos. Privilegia-se os títulos
nacionais de fácil acesso.

O coroamento do uso dos dados listados até o momento se concretiza na definição das
estratégias de conservação. Destaca-se para os alunos a importância crucial da tomada de
decisões e suas respectivas implicações na preservação da autenticidade e integridade das
edificações. Todo este processo se desenvolve a partir do cruzamento das informações
obtidas na pesquisa histórica e na avaliação das condições atuais, as quais são
devidamente contextualizadas pela trama conceitual da Teoria da Conservação. A condição
provisória dos projetos é largamente enfatizada em função da possibilidade do surgimento
de informações inéditas nos canteiros de obras que possam implicar na reavaliação de todo
planejamento pré-determinado. Alerta-se também que a conservação não termina na
inauguração das restaurações. Esquemas de manutenção e de prevenção dos problemas
identificados no mapeamento de danos devem ser previstos e tratados nos projetos.

Esta seqüência de pesquisa histórica, planialtimetria, avaliação das condições atuais,


somadas com as apresentações do estudo preliminar e do anteprojeto, equivalem as cinco
avaliações feitas ao longo do semestre letivo, as quais compõem o Projeto Básico de
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  88 
Conservação de Retrô II. Cada fase é precedida por uma aula dos procedimentos
metodológicos específicos. Nas três primeiras etapas, os alunos são liberados para a
realização de pesquisas de campo nos arquivos, bibliotecas, instituições públicas da cidade
e nas próprias edificações. Após a coleta de dados, os projetos são desenvolvidos em sala
de aula com orientação do docente responsável pela disciplina.

Além da prática dos procedimentos teóricos e metodológicos citados, os estudantes têm a


oportunidade neste exercício de aplicar os conhecimentos adquiridos nas disciplinas afins
do curso, especialmente de meios de expressão, de história, teoria da arquitetura, conforto
ambiental, tecnologias, sistemas estruturais, paisagismo e projeto de arquitetura e
urbanismo. Comprova-se desta forma, a tão citada interdisciplinaridade do campo de
conhecimento da conservação de bens culturais pela literatura especializada, sobretudo das
"cartas patrimoniais".

Para o desenvolvimento dos Projetos Básicos, as turmas que possuem em média de 20 a


30 discentes, são divididas em grupos de no máximo quatro alunos. Cada grupo escolhe
uma unidade do universo protegido da cidade de Juiz de Fora relativamente deteriorada e
passível de transformação de uso com o objetivo de se explorar a complexidade do tema da
conservação. Este conjunto arquitetônico é composto por cerca de 160 edificações que
cobrem um intervalo de tempo do final do século XVIII até a década de 1950, passando por
manifestações arquitetônicas do Período Eclético, do Art Déco, Neocolonial, Protomoderno
e do Modernismo, com tipologias arquitetônicas variadas que abrangem estações
ferroviárias, unidades residenciais, fábricas, prédios de escritórios, repartições públicas, etc.
Além do aprendizado dos fundamentos da conservação, os alunos tomam contato com o
patrimônio cultural da cidade deles. Tornam-se responsáveis, juntamente com sociedade
civil local, pela manutenção da existência deste notável legado, que junto com Belo
Horizonte, compõem o conjunto arquitetônico da virada dos séculos XIX para o XX mais
importante do estado de Minas Gerais.

Os relatórios dos Projetos Básicos de Retrô II impressionam pelo teor e esmero. Os


resultados alcançados, especialmente nas pesquisas históricas (que localizam em alguns
casos plantas e fotografias inéditas) e nos levantamentos planialtimétricos, contribuem
significativamente para o aprimoramento dos três inventários arquitetônicos realizados pela
Prefeitura de Juiz de Fora. Até o momento já foram trabalhadas 47 edificações tombadas. O
conteúdo destes trabalhos está sendo revisto pelos monitores da disciplina para a produção
do "Projeto Inventário Arquitetônico das Edificações Tombadas de Juiz de Fora". A partir do
segundo semestre de 2008, a editoração gráfica deste inventário ficou a cargo do Professor
Doutor Jorge Arbach, responsável pelas disciplinas de Desenho Técnico de Arquitetura e
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Urbanismo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFJF. Através desta parceria
determinou-se que as partes relativas às pesquisas históricas, planialtimetria e avaliação
das condições atuais das edificações abordadas serão re-editadas para se compor uma
coleção de livros. Cada fascículo abrangerá 20 edificações. Os volumes serão publicados
num intervalo de dois anos e se complementam com exposições, lançamento de pôsters,
cartões postais e outros materiais iconográficos baseados nos levantamentos
planialtimétricos. aprimorar

Os Projetos Básicos e o "Inventário Arquitetônico" aperfeiçoam e são também aprimorados


pela pesquisa "Banco de Dados da Conservação das Edificações Tombadas de Juiz de
Fora" que conta com duas bolsistas de iniciação científica pagas com recursos da
Universidade Federal de Juiz de Fora. Pretende-se neste trabalho cadastrar as
documentações escritas e iconográficas destas edificações a partir do mapeamento de
informações contidas nos próprios relatórios e nos levantamentos feitos nos arquivos,
bibliotecas e coleções particulares da cidade. Todo este material ficará disponibilizado num
programa de banco de dados no padrão do Microsoft Access.

As atividades de ensino e de pesquisa de Retrô II se completam com palestras e visitas a


obras de conservação. As palestras são ministradas por profissionais da conservação que
apresentam experiências práticas conduzidas por eles/elas, as quais acontecem
normalmente no intervalo entre a definição dos estudos preliminares e a entrega dos
anteprojetos e respectivos relatórios. As visitas também ocorrem neste momento e são
disponibilizadas para as turmas de Retrô I. Os alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da UFJF tiveram a oportunidade de visitar as obras de conservação do Mosteiro de São
Bento (2006), da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé (2007) na cidade do Rio
de Janeiro e do Museu Mariano Procópio (2008) em Juiz de Fora.

A proposta pedagógica apresentada é produto da consolidação da conservação como


disciplina. Ela ratifica especialmente um antigo desejo da literatura especializada e
principalmente dos órgãos de tutela do patrimônio cultural que sempre destacaram a
importância do emprego de mão de obra qualificada nas intervenções de conservação. Este
anseio, conforme apontado neste trabalho, conta neste momento com uma estrutura legal
composta pelas diretrizes curriculares dos cursos de graduação determinadas pelo
Ministério da Educação e pelas atribuições profissionais deliberadas nas resoluções e
decisões normativas do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

Os resultados alcançados nos "Projetos Básicos" dos alunos, no "Inventário Arquitetônico"


da monitoria e na pesquisa do "Banco de Dados" dos bolsistas de iniciação científica,
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produzem subsídios para o aprimoramento da política de conservação do patrimônio cultural
de Juiz de Fora, especialmente nas iniciativas de educação patrimonial dos diversos
segmentos sociais da cidade, da complementação do inventário arquitetônico da prefeitura e
do desenvolvimento dos critérios de conservação das edificações tombadas. Estes
resultados contribuem também para os debates do ensino da conservação nos cursos de
graduação de arquitetura e urbanismo.

4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Ensino de Arquitetura - ABEA, Caderno 15 - Anais do XII


Encontro Nacional sobre o Ensino de Arquitetura e Urbanismo Belém,
outubro/novembro de 1995, Salvador: ABEA, 1995.
BENEVOLO, Leonardo, A Cidade e o Arquiteto, São Paulo: editora Perspectiva, 1984.
CESCHI, Carlo, Teoria e Storia del Restauro, Roma: Mario Bulzoni Editore, 1970.
CHOAY, Françoise, A alegoria do patrimônio, São Paulo: Editora UNESP, 2001.
CURY, Isabelle, Cartas Patrimoniais: Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.
ERDER, Cevat, Our architectural heritage: from consciousness to conservation, Paris:
UNESCO Press, 1986.
GAZZOLA, Piero, Training architect-restorers, in UNESCO, Preserving and restoring
monuments and historic buildings, Paris: UNESCO, 1972, pp. 253-260.
JOKILEHTO, Jukka, The Internacional Training Committee of ICOMOS, in AHONIEMI, Anu
(org.), Conservation Training: needs and ethics, Helsink, ICOMOS Finnish National
Committee, 1995, pp. 13-14.
JOKILEHTO, Jukka, A History of Architectural Conservation, Oxford: Butterworth
Heinemann, 1999.
LINSTRUM, Derek, The education of a conservation architect: past, present and future, in
MARKS, Stephen (org.), Concerning Buildings: Studies in Honour of Sir Bernard
Feilden, Oxford, Architectural Press, 1996, pp. 96-118.
MEIRA, Maria Elisa, Técnicas Retrospectivas: manutenção e reabilitação da paisagem
construída, in OLIVEIRA, I. C. E. (Org.); PINTO, V. P. (Org.), A Educação do Arquiteto e
Urbanista: diretrizes, contexto e perspectivas Profª Maria Elisa Meira, Piracicaba:
Editora da Universidade Metodista de Piracicaba, 2000, pp. 39-44.
SECRETARIA DE PLANEJAMENTO - SEPLAN, Revista Planejamento &
Desenvolvimento - Suplemento Espacial: patrimônio histórico, S.l., S.e., S.d.
SPHAN/Pró-Memória, Restauração e Revitalização de Núcleos Históricos: análise face
à experiência francesa, Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1980.
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Um lugar ao sol: em busca de um espaço mais adequado para a


abordagem do Patrimônio Cultural edificado

AUTORES:

Maria Clara Migliacio1: arquiteta pela FAUUSP, doutora em Arqueologia pelo Museu de
Arqueologia e Etnologia da USP, técnica do IPHAN, Professora Doutora convidada da
Universidade do Estado de Mato Grosso.

Josiani Aparecida da Cunha Galvão2: arquiteta pela Universidade Gama Filho/RJ,


especialista em Urbanismo e mestre em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Professora Assistente da Universidade do Estado de Mato Grosso, Chefe do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo.

RESUMO:

Nos cursos de Arquitetura e Urbanismo tem sido atribuída à disciplina Técnicas


Retrospectivas a responsabilidade de dar conta, na formação profissional, de uma gama
extremamente complexa de questões relacionadas ao trato do Patrimônio Cultural. Para
fazer jus à grandeza e complexidade do campo do Patrimônio Cultural edificado ainda é
necessária a disponibilização de maior espaço, nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, para
aquela área, preferencialmente como disciplina regular e específica da grade curricular ou,
ainda, com oferta de disciplinas optativas. Pode-se fomentar, ainda, a criação de
instrumentos e estratégias que garantam, ao menos, uma transdisciplinaridade no
tratamento do Patrimônio Cultural edificado no âmbito do ensino da Arquitetura, tornando-a
temática corrente nas diversas disciplinas que compõem o curso de graduação. Nesse
sentido, a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) iniciou um trabalho que se
encontra em andamento, e que representa um primeiro passo para a construção de uma
identidade do seu curso de Arquitetura e Urbanismo, com a formação de profissionais mais
preparados para a atuação na área do Patrimônio Cultural edificado.

                                                            
1
Rua 38, nº 352, Bairro Boa Esperança, Cuiabá – MT CEP 78068-545, Fone (65) 3627-6351 Email: taiaman38@gmail.com

2
Rua Belo Horizonte, 245 – Vila Santa Cruz – CEP 78390-000 – Barra do Bugres-MT Fone: 65-3361-1413 ramal 209 – 65-
8121-5413 Email: josianiaddor@hotmail.com
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PALAVRAS-CHAVE:

Patrimônio Cultural, Técnicas Retrospectivas, Ensino da Arquitetura, Universidade do


Estado de Mato Grosso.

Introdução

Nos cursos de Arquitetura e Urbanismo tem sido atribuída à disciplina Técnicas


Retrospectivas a responsabilidade de dar conta, na formação profissional, de uma gama
extremamente complexa de questões, especialidades e especificidades relacionadas ao
trato do Patrimônio Cultural.

O estabelecimento em 2006, pelas Diretrizes Nacionais dos Cursos de Arquitetura e


Urbanismo, das “técnicas retrospectivas” enquanto um campo de saber específico na prática
da arquitetura pode ter representado certo avanço no sentido do reconhecimento da sua
especificidade, como também da especificidade da intervenção do arquiteto e do urbanista
em bens culturais edificados.

No entanto, há que se aceitar que representa, ainda, uma providência tímida, à


medida que para dar conta de um tema tão amplo e complexo como aquele do Patrimônio
Cultural, a disciplina acaba se tornando demais generalista.

Desta forma, se por um lado a disciplina Técnicas Retrospectivas abranda a angústia


da consciência da falta de preparo profissional para o trato do Patrimônio Cultural, por outro
lado, ela pode concorrer para a perpetuação dessa mesma deficiência, à medida que
sozinha ela não pode dar conta da complexidade da tarefa.

Algumas questões conceituais

No nosso entendimento, enquanto professores do curso de Arquitetura e Urbanismo


da Universidade do Estado de Mato Grosso, a disciplina Técnicas Retrospectivas carece de
uma melhor definição, podendo-se questionar desde o próprio significado do termo, já que o
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verbete “retrospectivo” significa “referente ao passado”1, até a sua associação com a
temática do Patrimônio Cultura edificado, da forma em que está colocada.

É fato que a construção civil contemporânea está fundamentada em técnicas que


melhor se prestaram para a economia de mercado e para o desenvolvimento industrial, e
que se difundiram pelo mundo nos últimos 200 anos, nas quais não foram incluídas técnicas
milenares que ficaram então, relegadas. Porém, não se pode abdicar de uma herança
tecnológica desenvolvida empiricamente ao longo de tantos séculos, sob risco de perda de
importantes referências e do conseqüente empobrecimento cultural.

Por outro lado, a permanência do uso dessas técnicas ainda nos dias de hoje tem
sido ignorada ou, pelo menos, não alardeada pelo mercado, embora se estime que ainda na
segunda metade do século XX, entre metade a 1/3 da população mundial vivia, por
exemplo, em habitações de terra crua (DETHIER s/d; BARDOU e ARZOUMANIAN 1979).

Assim sendo, a denominação “técnicas retrospectivas” para designar esse conjunto


de técnicas resulta inapropriado, à medida que ainda se mantém vivas nas sociedades e/ou
naqueles setores que não foram alcançados pela economia de mercado.

Acrescente-se a isso o fato de que ao definirmos como “técnicas retrospectivas”


aquele conjunto de técnicas de desenvolvimento, uso, e transmissão através das tradições,
do conhecimento empírico e vivencial dos saberes e fazeres da humanidade enquanto
herança cultural, de certa forma nós estamos a decretar o seu sepultamento como “técnicas
do passado”, que já não se usam mais, ou seja, estamos a considerá-las “técnicas mortas”,
cujo interesse adquire um caráter de excentricidade.

Outro aspecto a questionar é o tratamento, nos cursos de Arquitetura, da área de


atuação afeta ao Patrimônio Cultural edificado no âmbito da disciplina Técnicas
Retrospectivas.

Entendemos que o campo do Patrimônio Cultural edificado extrapola, em muito, o


simples tratamento das chamadas “técnicas retrospectivas”, ainda que viessem a ser
chamadas, mais adequadamente, de “técnicas tradicionais”.

Mais coerente seria que o Patrimônio Cultural edificado fosse contemplado com uma
disciplina curricular específica, e que as chamadas “técnicas retrospectivas” fossem tratadas

                                                            
1
Conforme o Novo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, 2ª edição.
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em seu bojo, como uma parcela dos conhecimentos técnicos e conceituais envolvidos
naquele grande tema.

De fato, as questões afetas ao Patrimônio Cultural são muito mais amplas do que
apenas as técnicas construtivas adotadas na execução das suas edificações, e estão
ligadas tanto aos contextos históricos, geográficos, e culturais nos quais essas edificações
foram produzidas, quanto àqueles dos dias atuais, à medida que envolve a sua conservação
e uso no presente.

Por outro lado, quando se remete o Patrimônio Cultural edificado às tais ditas
“técnicas retrospectivas”, ou seja, às técnicas construtivas utilizadas no passado, está se
criando uma distorção do próprio conceito de Patrimônio, como se dele não fizessem parte
edificações, conjuntos e sítios modernos, como a própria área do plano piloto da cidade de
Brasília, não só tombada pelo governo brasileiro, como reconhecida pela UNESCO como
Patrimônio Mundial. E o que dizer, ainda, da adequação ou não de se tratar do conjunto das
edificações da escola Bauhaus e seus sítios, declarado patrimônio cultural mundial devido à
revolução conceitual e prática produzida na arquitetura contemporânea e, ainda, da
edificação da Ópera de Sidney, considerada patrimônio mundial por suas inovações
arquitetônicas e estruturais, tratados numa disciplina denominada Técnicas Retrospectivas?

Entendemos que há aí uma total inversão de valores, à medida que se tenta embutir
uma temática muito mais ampla – a do Patrimônio Cultural - num campo muito mais restrito
– o das técnicas construtivas “restrospectivas”, situação que conduz, inevitavelmente, ao
apequenamento da primeira.

A própria Decisão Normativa nº 83 de 26/9/2008 do Conselho Federal de


Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) reconhece em um dos seus
“considerandos” a complexidade do tema Patrimônio Cultural:

“(...) as atividades de conservação, reabilitação, reconstrução e restauração


em monumentos e sítios de valor cultural, assim como em seu entorno ou
ambiência, exigem formação específica que inclui conhecimentos de
História da Arte e da Arquitetura, Teorias da Arquitetura, Técnicas e
Materiais Tradicionais, Estética, Planejamento Urbano e Regional,
Ciências Sociais e Técnicas Retrospectivas, que são parte dos campos de
saber e que caracterizam a identidade profissional do arquiteto e urbanista
especificados no currículo mínimo para o curso de Arquitetura e Urbanismo...”
(grifo nosso)
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Porém, nos cursos de Arquitetura, e de maneira mais específica, a temática do
Patrimônio Cultural edificado tem sido tratada na disciplina Técnicas Retrospectivas ficando,
de certa forma, nela confinada.

Vê-se, portanto, que para fazer jus ao reconhecimento da complexidade do


Patrimônio Cultural edificado feito pela própria Decisão Normativa citada, ainda é preciso
avançar muito mais. Mais adequado seria a criação de maior espaço, nos cursos de
Arquitetura e Urbanismo, para o trato do Patrimônio Cultural, preferencialmente como
disciplina regular e específica da grade curricular ou, ainda, oferecida como disciplina
optativa. Enquanto essa providência não se concretiza, pode-se fomentar a criação de
instrumentos e estratégias que garantam, ao menos, uma transdisciplinaridade no
tratamento da temática no âmbito do ensino da Arquitetura.

O Patrimônio Cultural Edificado de Mato Grosso e o Ensino da Arquitetura

O Estado de Mato Grosso apresenta significativo Patrimônio Cultural edificado, que


constitui um extenso inventário (MIGLIACIO 2004).

Em nível federal encontram-se tombados conjuntos, monumentos e sítios


representativos do século XVIII, época em que a região esteve no centro da disputa entre
portugueses e espanhóis pela definição das fronteiras coloniais.

Entre esses bens encontra-se o Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico


da Cidade de Cuiabá, representado por uma área que inclui o núcleo minerador que originou
a cidade de Cuiabá na primeira metade do século XVIII. Comporta cerca de 400 imóveis na
área tombada e mais de 600 na Área de Entorno.

Ainda em Cuiabá tem tombamento federal individualizado a Igreja Nossa Senhora do


Rosário e São Benedito, também do século XVIII, enquanto diversas igrejas e monumentos
de arquitetura oficial, de diversas épocas, tipologias e estilos foram contemplados por
tombamento estadual.

Nas imediações de Cuiabá, em Chapada dos Guimarães, a igreja Sé de Santana do


Sacramento, de 1779, representa a antiga povoação iniciada pela Missão Jesuítica em
1752.
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Em Vila Bela da Santíssima Trindade, primeira sede da Capitania de Mato Grosso,
encontram-se tombados em nível federal: as ruínas da Igreja Matriz de Vila Bela e o Palácio
dos Capitães Generais, enquanto a área do núcleo original tem tombamento estadual.

Ainda do século XVIII tem tombamento federal em Cáceres (antiga Vila Maria do
Paraguay) o Marco do Jauru, monumento em pedra de lióz que, ao que tudo indica, é o
único remanescente do Tratado de Madri que se conservou no Brasil até os dias de hoje. O
núcleo histórico da mesma cidade tem tombamento estadual.

Outros importantes exemplares arquitetônicos, conjuntos e sítios estão à espera de


tombamento federal, como o centro histórico da cidade de Cáceres, que ainda exibe
expressivo conjunto de edificações ecléticas, o Complexo Arqueológico de São Francisco
Xavier, composto pelas ruínas do antigo arraial de mineração erigido em alvenaria de pedra,
entre outros ainda em processo de identificação.

Em nível estadual encontram-se contemplados por tombamento além dos centros


históricos de Vila Bela e de Cáceres, uma série de edificações representativas de várias
épocas e ciclos econômicos, tais como as instalações da Usina de Itaicy, o conjunto
arquitetônico da sede da Fazenda Descalvados (ambas no Pantanal), entre diversas outras
que incluem edificações coloniais, ecléticas, e estadonovistas.

Além dos conjuntos e sítios relacionados aos diferentes períodos que se sucederam
a partir da conquista européia, Mato Grosso tem oferecido patrimônios ainda pouco
conhecidos, como aqueles revelados por pesquisas arqueológicas desenvolvidas
recentemente e que evidenciaram a prática de construções em terra na organização
espacial e defesa de grandes vilas pré-históricas no Alto Xingu1, assim como construções
em terra para utilização como jazigos mortuários e assentamentos na grande planície
alagável do Pantanal2.

Muitos outros patrimônios aqui não elencados estão ainda à espera de identificação,
inventário e tombamento.

Todo esse Patrimônio Cultural a identificar, inventariar, conservar, e revitalizar


demanda, sem dúvida, a qualificação especializada de arquitetos e urbanistas para atuação
em área tão sensível e específica.
                                                            
1
 Pesquisas realizadas pela equipe do arqueólogo Michel Heckenberger (HECKEMBERGER 1996; HECKENBERGER,
PETERSEN E GÓES-NEVES 1999).

2
Pesquisas arqueológicas desenvolvidas pela arqueóloga Maria Clara Migliacio (MIGLIACIO 2000, 2001/2002).
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Um trabalho em desenvolvimento

Em face da relevância do Patrimônio Cultural edificado, em especial do patrimônio


mato-grossense e, ao mesmo tempo, da carência de melhor capacitação profissional para
atuação nesta área específica, o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
do Estado de Mato Grosso inicia um trabalho que visa à construção de uma identidade do
seu curso de Arquitetura com o trato do Patrimônio Cultural.

A proposta tem como objetivos: fomentar o engajamento da Universidade do Estado


de Mato Grosso com a área de Patrimônio Cultural; fomentar um maior interesse da classe
profissional pela área do Patrimônio Cultural Edificado; desenvolver a melhoria da
habilitação profissional dos arquitetos para atuação na área específica; fomentar a
discussão das questões afetas ao Patrimônio Cultural edificado e suas implicações
arquitetônicas e urbanísticas; desenvolver habilidade crítica em relação à temática do
Patrimônio Cultural edificado.

O trabalho que se inicia está alicerçado em ações que no âmbito da Universidade


visam a: fortalecer a área do Patrimônio Cultural Edificado enquanto matéria específica, e
desenvolver o tratamento do tema de forma transdisciplinar.

Nessa primeira fase, de sensibilização e implantação, o trabalho se dá em três bases


operacionais:

 Realização de Curso de Aperfeiçoamento na área de Patrimônio Cultural (em


andamento), através do qual se busca um maior envolvimento dos professores com
o campo específico, a melhoria de suas habilidades para o tratamento da temática
no âmbito das suas próprias disciplinas, bem como a ampliação das discussões em
torno da temática junto à sociedade. O Curso de Aperfeiçoamento está alicerçado
em estudos teóricos e no desenvolvimento de trabalho prático exemplar num sítio
tombado, para reflexão da prática da arquitetura de conservação e revitalização, e
para a sensibilização dos professores para o tratamento da temática nas disciplinas
específicas por eles ministradas, como forma de promover a transdisciplinaridade.
 Realização de Curso de Especialização em Patrimônio (em fase de concepção e
montagem) – através do qual se buscará atualizar profissionais e professores na
temática da Preservação do Patrimônio Cultural, promover a melhoria da habilitação
profissional na área específica, além de ampliar e manter viva a discussão da
temática.
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 Motivação para o engajamento de professores e alunos de graduação por meio de
projetos de pesquisa a serem viabilizados através das agências de fomento.

O recente acordo de cooperação técnica, científica e educacional entre a


FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO (UNEMAT) e a Fazenda
Descalvados, localizada no município de Cáceres, Mato Grosso, com o objetivo de
desenvolver atividades de ensino, pesquisa, extensão, ciências, tecnologia e educação
ambiental, tem também a intenção de transformar a fazenda centenária, tombada pelo
Patrimônio Histórico Estadual, em um centro multidisciplinar de pesquisa para a
conservação do Pantanal.

O acordo assinalado acima oportuniza a indicação do conjunto arquitetônico da


Fazenda Descalvados, tombado pelo Estado de Mato Grosso em 2001, como estudo de
caso para o desenvolvimento de cooperação técnica, científica e educacional e de
programas e projetos que propiciem o incremento científico, tecnológico, econômico, cultural
e turístico, todos previstos no acordo.

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UNEMAT, ao propiciar o Curso de


Aperfeiçoamento concebido para oferecer base conceitual e prática para a conservação,
restauração e revitalização de conjuntos arquitetônicos do Patrimônio Cultural, envolvendo a
Fazenda Descalvados, viabilizou o desenvolvimento de um trabalho prático de intervenção e
de elaboração de proposta de revitalização global de seu conjunto arquitetônico como
coroamento do Curso.

Com essas ações se procurará dar maior ênfase ao trato do Patrimônio Cultural
edificado no ensino da Arquitetura e Urbanismo, haja vista estar este ainda contemplado de
forma muito tímida nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Arquitetura e
Urbanismo de 2006, através da disciplina Técnicas Retrospectivas, o que não faz jus à
complexidade da área de atividade, reconhecida em 2008 pelo CONFEA (Decisão
Normativa nº 83).

Adicionalmente, esperamos contribuir com a discussão, em nível nacional, da


necessidade de propiciar mais espaço para o tratamento do Patrimônio Cultural nos cursos
de Arquitetura e Urbanismo em todo o país.

Referências Bibliográficas
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BARDOU, Patrick & ARZOUMANIAN Varoujan. (1979) Arquitecturas de adobe. Barcelona:
Editorial Gustavo Gili, 1979.
DETHIER, Jean. (s/d) A sabedoria da Terra. Arquiteturas de terra – ou o futuro de uma
tradição milenar. Paris e São Paulo: Centre Georges Pompidou/Avenir Editora Limitada, s/d,
p. 7-15.
HECKENBERGER, Michel J. (1999) O enigma das grandes cidades: corpo privado e Estado
na Amazônia. A outra margem do ocidente. NOVAES, Adauto (org.). São Paulo: Cia das
Letras, 1999, p. 125-152.
HECKENBERGER, Michel J., PETERSEN, James B., e GÓES NEVES, Eduardo. (1999)
Village size and permanence in Amazonia: two archaeological exemples from Brazil. Latin
American Antiquity, 10(4), p.353-376, 1999.
MIGLIACIO, Maria Clara Bens culturais mato-grossenses como recursos turísticos – desafio
para uma economia emergente. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso,
vol.62. p.67-90.
___. (2001/2002) A ocupação indígena do Pantanal de Cáceres, Alto Paraguai – do período
pré-colonial aos dias atuais. Revista do Museu Antropológico (UFGO), v.5/6 nº1, p.213-250,
2001/2002.
___. (2000) A ocupação pré-colonial do Pantanal de Cáceres, Mato Grosso. São Paulo,
2000. Dissertação de Mestrado em Arqueologia - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo.
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O campo disciplinar do patrimônio cultural

PRADO, Michele Monteiro – Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela


UFBA, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVIX- Faculdade Brasileira,

Rua José Alves, 301 – Goiabeiras, Vitória (ES), CEP: 29075-080;


micheleprado@uol.com.br, (27) 3335-5628, (27) 9962-8125, Rua José Alves, 301 –
Goiabeiras,Vitória (ES).

PIMENTEL, Viviane Lima – Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela


UFRJ, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVIX- Faculdade Brasileira;
pimentel.v@uol.com.br , (27) 3335-5628, (27) 9848-5830, Rua José Alves, 301 –
Goiabeiras,Vitória (ES).

Palavras chave: educação patrimonial, metodologia de ensino, preservação.

1. RESUMO

A inclusão da disciplina “Patrimônio Histórico” no currículo de Arquitetura e Urbanismo, nos


anos 1980, reflete a preocupação da sociedade com o patrimônio memorial no Brasil. Na
UNIVIX, o tema é abordado na disciplina “Técnicas Retrospectivas” em dois semestres. No
primeiro semestre, os alunos selecionam um bairro como objeto de estudo, e enquanto
recebem fundamento teórico relativo ao campo da preservação, se acercam da vida do
bairro, reconhecendo sua história e cultura, correlacionando as formas do espaço aos fatos
que lá ocorreram. A proposta final da disciplina é a criação de materiais informativos, com o
objetivo de difundir o conhecimento da história, cultura e patrimônio destes bairros entre os
habitantes da cidade. No segundo semestre, os alunos identificam um imóvel de interesse
de preservação no bairro estudado anteriormente, para o qual será desenvolvido um projeto
de intervenção, aplicando os conceitos relativos à preservação com o foco centrado no
edifício. A metodologia proposta incentiva o estudo das transformações na paisagem
construída, a identificação de seus valores e bens culturais, ao mesmo tempo em que
ressalta a importância do próprio objeto como subsídio para a criação de instrumentos
balizadores para propostas efetivas de intervenção.

2. INTRODUÇÃO
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A inclusão da disciplina ‘Patrimônio Histórico’ no currículo do curso de Arquitetura, na
década de 1980, reflete a transformação do olhar da sociedade sobre a memória edificada
no Brasil. Em conformidade com as recomendações constantes dos Compromissos de
Brasília e de Salvador, documentos gerados pelos dois Encontros de Governadores
realizados no Brasil na década de 1970, as medidas para consolidação de uma política
patrimonial perpassam pelo aprendizado específico das relações do futuro profissional
arquiteto com o objeto memorial arquitetônico visando remediar, naquele momento, a
carência da mão-de-obra especializada neste campo. Embora integrando o currículo pleno
dos cursos de Arquitetura, a oferta da disciplina como matéria optativa, atitude então
adotada pela grande maioria das instituições de ensino superior, demonstrou o papel
secundário a ela destinado durante certo tempo. Apenas na década de 1990 a disciplina
assume o caráter de matéria obrigatória, acompanhando a crescente preocupação da
sociedade diante da sistemática destruição do patrimônio memorial gerada pelas
implicações negativas do intenso desenvolvimento das cidades.

No currículo pleno da UNIVIX – Faculdade Brasileira, instituição de ensino superior situada


em Vitória (ES), a matéria relativa ao patrimônio cultural edificado é abordada como
disciplina obrigatória sob a denominação de “Técnicas Retrospectivas”, em dois períodos
subseqüentes, pressupondo dois momentos: no primeiro semestre se estabelece o contato
do aluno com conceitos gerais sobre patrimônio cultural e a preservação de seus valores; no
segundo semestre consolidam-se os conhecimentos apreendidos mediante a elaboração de
um projeto de intervenção no objeto arquitetônico.

3. METODOLOGIA DE ENSINO EM TÉCNICAS RETROSPECTIVAS

No primeiro semestre do ano letivo, a disciplina Técnicas Retrospectivas I tem como


objetivos gerais apresentar aos alunos conceitos básicos relativos ao Patrimônio Cultural; o
desenvolvimento da política de preservação dos bens culturais, especialmente no Brasil;
bem como o conhecimento dos instrumentos legais de preservação, analisando exemplos
de intervenções em monumentos isolados e conjuntos urbanos do acervo patrimonial do
local e nacional. Como objetivos específicos, visa proporcionar aos estudantes a
fundamentação teórica sobre a preservação e restauração, incentivando o desenvolvimento
de uma visão crítica dos processos de intervenção e ainda promover o conhecimento do
acervo patrimonial do estado. Isto é, tendo como premissa o fato de que o conhecimento da
história dos espaços que conformam a cidade constitui instrumento fundamental para sua
defesa e preservação, os procedimentos metodológicos buscam fortalecer junto ao alunato
os valores de memória e identidade cultural, destacando a importância da atuação do
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indivíduo arquiteto/cidadão no processo de preservação destes bens, entendendo que isso
só é possível através da sua contínua vivência. Buscando despertar a percepção dos
estudantes para esta vivência é que se procura estudar a história da cidade e o seu
patrimônio no lugar onde ela se desenrola, isto é, no próprio espaço físico da cidade,
contrapondo-os com as várias realidades do presente, reveladas ao olhar destes jovens ao
caminharem por entre as estruturas que constituem os suportes da memória urbana.

Sem dúvida a arquitetura e o traçado, bem como suas formas de apropriação, são um
registro físico da linguagem não verbal da cidade, e portadores de significados que
designam e dão concretude à urbe. Se essa, assim como um texto, expressa idéias, fatos e
intenções, é possível não só apreender suas formas e aspectos simbólicos, mas também
descobrir as formas de pensamento que ali estão representadas, que deixaram marcas
sobre seus muros, e que constituem o arcabouço da memória de seu povo. São justamente
estas marcas, sejam elas físicas – edifícios, praças, pontes – ou imateriais – procissões,
festas, canções jogos e brincadeiras expressos no espaço público – que representam seu
patrimônio.

Quando os alunos, através de seus estudos, se aproximam das várias representações das
realidades vivenciadas e desenhadas na paisagem da cidade em que vivem, acaba se lhes
revelando não apenas as transformações da vida urbana, mas também das sensibilidades,
dos desejos e das utopias do passado, os quais ajudaram a construir, a desenhar o
presente. Desenho – cuja origem etimológica significa “desejo”, “intenção” – que propôs a
construção de uma cidade de hoje a partir da imaginação de todas as gerações que nela
vivenciaram e ainda vivem, e da qual estes mesmos estudantes, como moradores desta
urbe, também fazem parte. Na medida em que os alunos alcançam essa constatação,
acabam por visualizar os valores desse patrimônio que muitas vezes ficava desapercebido
de seus olhos – e muitas vezes também da população moradora. Tal constatação se faz
importante no caso de Vitória e dos municípios que conformam sua região metropolitana,
núcleo que passou e tem passado por sucessivas transformações em sua estrutura, as
quais comprometeram o tecido e a arquitetura produzidos nos períodos precedentes. Assim,
ao alunato é possível compreender a história desta cidade e de sua população como
inserida num amplo processo de produção, comunicação e recepção de todos os fatos e
significados pertinentes à vida humana; enfim, num processo de semantização do seu
próprio cotidiano enquanto estudante de arquitetura. Isso traz uma nova perspectiva para o
estudo do patrimônio histórico edificado.

Dentro dessa perspectiva distinta, os estudantes passam a apreender a própria cidade


através das idéias e imagens, concretizadas no espaço construído, e que historicamente
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expressaram o imaginário das pessoas e comunidades que ali viveram, compreendendo-as
como parte constituinte da realidade contemporânea. Passam a encarar o espaço urbano
não apenas como objeto físico, mas ao mesmo tempo como registro e agente histórico. A
cidade se transforma em narrativa histórica, expressando aquilo que, em conjunto, conferiu
e confere aos lugares um sentido e uma função (os quais são recriados ao longo dos
tempos), permitindo que os alunos adentrem na consciência de cada época vivenciada,
percebendo as várias formas de manifestação cultural que se concretizam neste espaço.

É assim que, dentro da metodologia disciplinar estabelecida, os alunos são orientados a


definir um bairro ou setor como objeto de trabalho, o qual será o campo de aplicação
conceitual onde a busca por elementos de valor patrimonial incentiva a percepção das
particularidades culturais de áreas distintas de uma mesma cidade – no caso, a Grande
Vitória. Trabalhando-se paralelamente teoria e prática, em sala de aula desenvolve-se a
fundamentação teórica do campo da preservação em nível internacional, nacional e local,
como objetivado previamente na ementa da disciplina. Também é estimulada a interação
com o campo da memória, através de atividades lúdicas e poéticas onde os alunos
expressam suas memórias afetivas, identificando valores pessoais materiais e imateriais, e
relacionando-os espacialmente com a cidade em que vivem.

Entre estas atividades lúdicas, a principal consiste em preparar uma espécie de “exposição”
que conte a história de vida dos próprios alunos, através de objetos, imagens, músicas,
bilhetes, guardados; tudo aquilo que confira o seu patrimônio afetivo, estimulando-os a
correlacionarem-no com os espaços vivenciados ao longo de sua trajetória. Apelidada de
“Desfragmentador de Memória”, tal atividade geralmente é carregada de emoção, tanto por
parte daqueles que expõem as “frações” de sua história de vida, expressas criativamente
através dos tais fragmentos apresentados em sala; como por parte daqueles que se fazem
espectadores que, ávidos de curiosidade, acabam se tornando co-participantes destas
memórias individuais, ao acompanharem a colagem de cada um dos fragmentos na
construção de um objeto único, que é a própria trajetória do seu companheiro de classe, da
qual também fazem parte enquanto amigos e colegas de curso. Essa atividade tem o
objetivo de envolver emocionalmente o grupo, preparando-os para a atividade prática que se
desenvolverá em paralelo.

Da mesma forma que, em classe, visualizaram que objetos tantas vezes tão comuns
possuem significado especial para pessoas diferentes – e com isso constituem o patrimônio
que dá suporte à identidade individual do outro – os alunos passam a enxergar a própria
cidade que os cerca com um outro olhar, no qual notam que também existem fragmentos de
memórias presentes no espaço urbano, que muitas vezes lhes era desapercebido, e que se
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constituem nos suportes da memória coletiva da qual também fazem parte, diretamente,
como moradores, ou indiretamente, no papel de investigadores.

Assim, como atividade prática os estudantes mergulham na vivência do bairro/setor


escolhido, (re)conhecendo sua história e as manifestações culturais, percebendo as várias
formas do seu espaço, correlacionando-as com os fatos urbanos ali ocorridos. Ou seja,
identificam as várias expressões da memória coletiva, os valores materiais e imateriais
presentes nestes bairros através do seu patrimônio físico e espiritual, reconhecendo tais
valores como pertencentes não apenas às comunidades que ali habitam mas, numa esfera
maior, a eles próprios como habitantes da mesma cidade, fortalecendo a relação de
identidade aluno-bairro.

Como estratégia operativa foram previamente selecionados bairros ou setores espaciais da


Região Metropolitana de Vitória que expressem uma imagiabilidade particular e uma noção
de lugar singular no contexto de sua aglomeração urbana. São espaços que assumiram, ao
longo das épocas, funções específicas na vivência da cidade, lidos e apropriados de
maneira diferenciada pelos habitantes a partir de seus aspectos simbólicos e funcionais. As
particularidades de seu sítio, bem como os condicionantes econômicos, sociais, políticos,
tecnológicos e simbólicos pertinentes a sua origem e evolução, definiram-lhes uma
morfologia particular que dota tais regiões de individualidade, pelo menos no que se refere a
sua conformação histórica e à percepção de seu espaço. Os bairros escolhidos variam a
cada semestre, e vão desde espaços que tiveram origem ainda com a colonização no
século XVI, e que guardam traços das edificações, traçado e tradições centenárias;
passando por áreas que representam as várias épocas de expansão da cidade, das suas
transformações de modernização; com seus espaços e arquiteturas representativos de cada
época, abrigando práticas culturais constantemente reconstruídas ao longo dos anos.

A turma matriculada na disciplina Técnicas Retrospectivas I é dividida em equipes, onde


cada uma é responsável pelo estudo sobre um destes bairros/setores. O objetivo final do
trabalho é identificar os valores patrimoniais materiais e imateriais pertencentes a cada
bairro e comunidade em questão, a partir da leitura de sua morfologia, do conhecimento de
seus espaços, construções, traçado; das várias formas de apropriação que ali se dão por
parte das comunidades locais. Parte-se da percepção de que a paisagem urbana é
historicamente construída, e assim, os estudantes propõem-se a esboçar um perfil desta
história resgatando as marcas e lógicas de sua manifestação, ainda espacialmente
presentes; buscando apoio para tais percepções na pesquisa bibliográfica, iconográfica e
relatos dos moradores e usuários daqueles espaços. Essa leitura é operada através da
comparação e confrontação dos espaços; a partir da justaposição de imagens, relatos,
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informações documentais, acontecimentos, personagens. São estas comparações que
revelam as várias histórias e marcos identitários físicos e visuais, e por isso mesmo se faz
importante o conhecimento da formação socioeconômica e das práticas sociais obtidas
através da pesquisa bibliográfica.

Os valores patrimoniais identificados pelas equipes nestes bairros constituem-se tanto em


marcos físicos como visuais – edifícios, monumentos, traçado, paisagem natural, costumes,
manifestações, festas – que individualizam ou aproximam um bairro do outro, expressando
visualmente as sociabilidades de sua população e os sentidos atribuídos pelos alunos a
esse patrimônio cultural, para o qual identificam a importância da preservação, e sobre o
qual se propõem atuar. Na identificação deste patrimônio, os estudantes são estimulados a
atribuir valores, seja a partir de seu entendimento particular, fruto do conteúdo teórico
desenvolvido ao longo do curso, seja a partir das informações coletadas e percepções dos
moradores e usuários destes espaços. Para tanto, utiliza-se a escala de valores definida
pelo Instituto Colombiano de Cultura, dentro do processo de pre-inventário urbano e
arquitetônico. Com base nesta escala, identifica-se os bens culturais materiais e imateriais
conformadores da historia e identidade de cada objeto de estudo, patrimônio edificado ou
não, correlacionando-se os mais variados e concomitantes valores. São estes o Valor de
Antigüidade, aquele derivado do simples passar dos anos e das circunstâncias; o Valor
Histórico, dado pelo fato do bem ser testemunho dos acontecimentos de uma época e de
um lugar; o Valor de Autenticidade, quando o bem corresponde à expressão formal que
caracteriza uma época, tendo em conta o contexto, o modo de vida e a cultura daquele
bairro/setor; o Valor Tecnológico, o qual se manifesta nos sistemas construtivos ou
elementos representativos dos avanços tecnológicos de uma época; o Valor Arquitetônico,
presente quando um imóvel manifesta com clareza o caráter com que foi concebido,
correspondendo a forma com a função e tendo em conta que o repertório formal,
espacialidade, materiais, formas construtivas não tenham sido alterados ao ponto de
desvirtuar seu significado e leitura; o Valor Associativo e testemunhal, baseado nos
acontecimentos importantes sucedidos num imóvel ou setor/conjunto, que marcam uma
época; por fim o Valor Urbano, manifestado quando constitui um marco físico, presente num
traçado urbano, numa forma de lotear, numa volumetria, escala, ou quando constitui um
marco socio-cultural (usos, hábitos, tradições e costumes).

Como já foi discutido, ao estudar a história destes bairros e comunidades, identificando os


vários suportes materiais e imateriais ainda presentes espacialmente na memória destes
bairros; os estudantes compreendem que a paisagem urbana é historicamente construída e
continuamente reformulada pela experiência cultural, a partir de sua constante vivência.
Marcos culturais hoje ocultos ao olhar distraído da população, ou expressões culturais
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aparentemente adormecidas podem ser revalorizadas, bastando para tal um pequeno
estímulo para esse despertar, para o fortalecimento da relação identitária coletiva.

É assim que, com o fim de difundir tal relação de identidade para além das fronteiras
acadêmicas, contribuindo para a construção de uma cidadania consciente que é o papel da
Universidade, a proposta final da disciplina Técnicas Retrospectivas I resulta em produtos
de comunicação elaborados pelos próprios alunos, que visam justamente difundir o
conhecimento da história, da cultura, do patrimônio destes bairros aos seus moradores. A
partir da iniciativa dos estudantes, surgiram documentários, roteiros históricos recriados a
partir de folders, cartilhas, histórias em quadrinhos, sites e até um fotolog. A aplicação
prática dos conhecimentos apreendidos mediante a concepção de um material informativo,
ao mesmo tempo em que sedimenta o aprendizado, incentivou a criatividade das várias
equipes, por verem a possibilidade de transfigurar o trabalho acadêmico e investigativo em
um objeto prático, eivado de função social: justamente levar às comunidades estudadas o
conhecimento de seus próprios valores, de sua cultura, de sua riqueza imaterial. A
percepção dos valores ligados à produção sócio-cultural de uma comunidade fortalece a
consciência dos estudantes acerca da importância da preservação da identidade e memória
locais. Além disso, se constitui num ato de cidadania, na medida em que o produto pode ser
impresso e distribuído para a população, ser acessado sem barreiras através da internet, ser
assistido nas escolas e centros comunitários. Esse recurso acabou promovendo a
aproximação do alunato com a comunidade, bem como fomentando a atuação do indivíduo-
arquiteto no processo de identificação, valorização e preservação destes bens.

O processo de aprendizagem proposto pressupõe a continuidade metodológica no período


subsequente, através da disciplina Técnicas Retrospectivas II, tendo como proposta
fomentar a consciência histórica como eixo diretor do profissional de arquitetura. Esta tem
como objetivos apresentar aos alunos metodologias de intervenção, conservação e
restauração de bens imóveis e em espaços pré-existentes. Os estudantes devem
desenvolver um projeto de intervenção em espaço de arquitetura ou urbano a partir da
realização de um cadastro de um bem imóvel, composto pelo levantamento histórico,
iconográfico, arquitetônico, tipológico do bem, bem como diagnóstico do estado de
conservação; a fim de embasar uma proposta em nível de estudo preliminar apoiada nos
conhecimentos teóricos, do objeto de trabalho e sua relação com o entorno, bem como das
suas relações sociais, econômicas e políticas pertinentes.

Com o intuito de propiciar a continuidade no processo de aprendizagem, os grupos de


alunos são estimulados a identificar um objeto de estudo nos limites do bairro já trabalhado
na disciplina Técnicas Retrospectivas I. Os bairros são revisitados, visando a identificação
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de um imóvel considerado pelos estudantes como de interesse de preservação,
pressupondo a percepção da inter-relação entre as esferas micro e macro – o objeto
arquitetônico e o bairro/comunidade que o abriga.

Neste momento, o interesse dos alunos é instigado mediante a aproximação destes com o
imóvel e o reconhecimento de sua trajetória no tempo da própria cidade, favorecendo o
processo projetual de intervenção a ser desenvolvido. De posse dos conhecimentos
apreendidos no semestre anterior, e já familiarizados com as noções básicas de valores
patrimoniais e memoriais aplicados a determinado trecho do tecido urbano; a retomada do
bairro permite a reaplicação de conceitos sob uma ótica forçosamente minimizada,
particularizada, focado no imóvel selecionado. Este foco, porém, não se desprende do
entorno, ao contrário, fortalece a inter-relação entre as partes neste rebatimento com a
trajetória do bairro então já re-conhecida.

As mais diferentes edificações foram selecionadas pelos próprios alunos: edificações já


tuteladas oficialmente pelos órgãos públicos como Igrejas coloniais e sobrados coloniais,
estação de trem; ou sem proteção oficial, como antigas residências e tradicional mercado de
secos e molhados. Algumas destas edificações mantiveram sua função ao longo dos anos,
o que em algumas vezes contribuiu para sua permanência; e em outras trouxe danos
prejudiciais para sua unidade como objeto a ser preservado. Em determinadas situações
estas edificações encontravam-se completamente abandonadas, por vezes quase
arruinadas, desapercebidas de olhares menos atentos.

Consideradas as dificuldades na obtenção de dados específicos sobre os imóveis objetos de


estudo, os alunos são instigados a diversificar as fontes de pesquisa. A memória oral é
valorizada, dada a imprescindível contribuição de proprietários e antigos moradores na
reconstrução da trajetória histórica da edificação. A consulta a órgãos públicos - seja em
busca de acervos fotográficos, impressos, gráficos, literários ou outros – estimula o contato
com as diversas fontes de produção e sistematização do conhecimento existentes muito
além das pesquisas na biblioteca da faculdade ou daquelas realizadas pela busca na
Internet, hoje tão comumente usadas entre os alunos.

Os esforços empreendidos na documentação interna do imóvel são também exemplo da


dedicação de cada grupo, especialmente naqueles casos em que o imóvel de propriedade
particular exige criatividade e empenho para negociar a autorização ao acesso e
documentação das patologias no interior do imóvel.

As propostas resultantes também foram as mais variadas, sempre pautadas nas


recomendações dos documentos internacionais de preservação, indo desde a pura
consolidação e conservação, passando pela restauração e reabilitação para novos usos.
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Para estabelecer a escala, postura e profundidade das intervenções de
conservação/restauração, os alunos trabalharam com a teoria construída pelo austríaco
Alöis Riegl, a partir da identificação dos valores históricos e artísticos do monumento. Um
conceito foi unânime entre todos os grupos: o de que apenas o uso contínuo – mas
responsável e respeitoso – pode garantir a preservação do bem e a sua adequada
valorização como patrimônio da sociedade.

Mais uma vez visando difundir a prática estudantil para além das fronteiras acadêmicas,
divulgando o conhecimento através de um meio de ampla acessibilidade, as propostas de
intervenção foram formatadas em uma página a ser inserida no site da UNIVIX, de forma
breve mas clara, tratando não só da identificação do imóvel, sua história, análise tipológica,
estado de conservação encontrado; mas também apresentando a proposta de recuperação,
onde é visível a diversidade de posturas dos trabalhos resultantes da experiência de um
ano. Esta é mais uma forma de valorizar a produção acadêmica, e ao mesmo tempo
propiciar à comunidade em geral o acesso ao conhecimento dos bens de valor patrimonial
integrantes da cidade.

4. CONCLUSÃO

Por fim, ainda que se tenha tratado de uma experiência acadêmica, portanto no campo
teórico, cabe dizer que a cidade traz em si mesma uma série de significados que permitem
orientar ações e empreendimentos dos agentes de produção do espaço urbano. Assim
sendo, qualquer tipo de intervenção não deve deixar de abordar suas preexistências, diante
da possibilidade de exercer influências – sejam elas negativas ou positivas – sobre imagens
e objetos que são estruturadores da história e da memória urbanas. Nesse sentido, o estudo
das transformações na paisagem construída de um lugar, bem como a identificação de seus
valores e bens culturais, ganha importância, não só no entendimento de sua história e
preservação de sua memória; mas também como subsídio para criação de instrumentos que
balizem possíveis propostas efetivas para essas áreas, seja pelos agentes públicos, seja
pelos agentes privados.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Instituto Colombiano de Cultura. Manual de preinventario urbano y arquitectónico. Colômbia:


Instituto Colombiano de Cultura Colcultura, 1990.
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Técnicas Retrospectivas: habilidades e competências1


2
Profª Ana Isa Garcia Bueno

Profª Giovane Teodoro de Brito Chaparro3

Profª Ângela Gil Lins4

Resumo

A disciplina Técnicas Retrospectivas foi introduzida na matriz curricular do Curso de


Arquitetura e Urbanismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região
do Pantanal – UNIDERP, em 1999, atendendo as diretrizes curriculares da Portaria N.º
1.770, de 21 de dezembro de 1994 . No período de dez anos o conteúdo programático da
disciplina foi sendo modificado na prática sem que as ementas sofressem alterações
significativas, houve apenas uma alteração, 2006, para a introdução de aspectos já
trabalhados e não mencionados na ementa anterior, 2000. Técnicas Retrospectivas é uma
disciplina semestral, com quarenta horas oferecidas no 7º e 8º semestres. As ementas são
complementares, de modo a contemplar um conteúdo anual que identifica as habilidades e
competências a serem desenvolvidas pelos acadêmicos para atuação em conservação e
valorização do patrimônio cultural.

Os enfoques que prevalecem tratam das teorias de restauração e da elaboração de projetos


de intervenção em áreas de interesse cultural e em edifícios pertencentes ao patrimônio
cultural formalmente reconhecido ou não pelo Poder Público; as normativas legais e a
institucionalização do patrimônio cultural; e os sistemas estruturais e técnicas construtivas
pretéritas, suas patologias e o combate às mesmas.

                                                            
1
 As autoras deste artigo são professoras da disciplina Técnicas Retrospectivas, do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da UNIDERP-ANHANGUERA.
2
Arqtª e Urbª Ana Isa Garcia Bueno, mestre em Arquitetura, concentração Teoria e História,
UNIDERP/UFRGS-2001
3
Arqtª e Urbª Giovane Teodoro de Brito Chaparro, especialista em Conservação e Restauração de
Monumentos e Conjuntos Históricos, UFBA-2002
4
Arqtª e Urbª Ângela Gil Lins, especialista em Análise de Sistemas, concentração em Informática
Computacional, UFMS-1997
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Objetivo, Ementas e Conteúdos

O projeto pedagógico atual do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIDERP define os


parâmetros da disciplina Técnicas Retrospectivas em Objetivo Geral e Ementas, como
segue:

Objetivo Geral 

Capacitar para a preservação e conservação do Patrimônio Cultural;


desenvolver a capacitação profissional para a atuação em sítios urbanos e edificações de
interesse cultural; elaborar planos e projetos de intervenção com base teórica e legal,
objetivando intervenções preservacionistas em sítios e monumentos histórico-culturais.

Ementa (1º semestre)

Conceitos de patrimônio cultural. Constituição do patrimônio histórico e artístico nacional. A


proteção ao patrimônio cultural no Brasil e em Mato Grosso do Sul. A função social da
preservação arquitetônica. A permanência de estruturas arquitetônicas e urbanas.
Preservação, conservação, restauração, reconstrução, reabilitação e reutilização de
edificações, conjuntos arquitetônicos e cidades.

Ementa (2º semestre)

Correntes teóricas de restauração. Diagnóstico em nível de bem cultural e em termos de


patologia das construções. Recuperação de materiais e de técnicas construtivas. A
permanência de estruturas arquitetônicas e urbanas. Técnicas construtivas em terra, ferro e
madeira. Metodologia e proposta de intervenção.

No primeiro semestre os conteúdos enfocam os conceitos de Patrimônio Cultural e sua


evolução, incluindo as noções de patrimônio natural e patrimônio construído; evoluindo para
a constituição do patrimônio cultural brasileiro e a institucionalização da sua proteção,
relacionando-os aos aspectos regionais da preservação no Estado de Mato Grosso do Sul.
Trabalham-se, então, as legislações federais, o modernismo e o papel dos arquitetos na
constituição do patrimônio cultural brasileiro, as dimensões material e imaterial do
patrimônio cultural.

As teorias de restauração propugnadas pelos clássicos desde Viollet Le Duc, John Ruskin e
Gustavo Giovannonni (século XVIII), a caminho dos modernos, Camilo Boito e Alois Riegl
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(século XIX), até Cesare Brandi (século XX), são detidamente estudadas associadas aos
contextos históricos em que se desenvolveram. Trabalha-se com os projetos exemplares de
cada corrente e autor.

Após a viagem teórica conceitual, inicia-se, no segundo bimestre, o conteúdo destinado a


fixação e experimentação prática da disciplina, concernente às técnicas e tecnologias
construtivas historicamente empregadas pela arquitetura, sua natureza e conservação. São
introduzidas as técnicas de levantamento em campo e levantamentos bibliográficos,
utilizando-se formulários de pesquisa, levantamentos métricos e captação de imagens com
o intuito de registrar e documentar os objetos de estudo envolvidos na temática em
desenvolvimento. As investigações objetivam identificar: (i) as técnicas construtivas
empregadas nas construções, o estado de conservação atual, as ocorrências de
degradação, as tentativas de manutenção e sua eficácia; (ii) os aspectos legais relacionados
a proteção dos bens e da área urbana em que se encontram, considerando a legislação
urbanística e a legislação de proteção ao patrimônio e; (iii) os contextos históricos em que
foram produzidos e os valores que justificam a permanência, tanto no caso de edificações
isoladas como no caso de conjuntos e traçados urbanos.

No semestre seguinte os conteúdos teóricos são os embasamentos para o desenvolvimento


de projetos interdisciplinares, sempre que possível, visto que a interdisciplinaridade não se
constitui em prática regular das disciplinas. Procura-se a associação com as disciplinas de
história da arquitetura e planejamento urbano e regional, abordando a mesma temática em
uma área de intervenção comum que interesse a todas as disciplinas. As áreas de estudo
estão localizadas sempre em cidades no âmbito territorial do estado.

Uma Experiência ilustrativa

Um exemplo destas atividades é a pesquisa sobre as edificações em madeira existentes na


cidade de Campo Grande, remanescentes tipológicas do padrão construtivo empregado na
região, com forte apelo popular por se tratar de técnica construtiva de domínio público.

O exemplo de trabalho a seguir foi desenvolvido por equipe de acadêmicos em 2004,


proposta desenvolvida em associação pelas disciplinas História da Arquitetura e Técnicas
Retrospectivas. O tema proposto foi Intervenção em Áreas de Interesse Cultural, com a
temática Casas de Madeira.
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Neste exemplo, o objetivo foi o levantamento das casas construídas para abrigar
funcionários da Rede Ferroviária Noroeste do Brasil. O conjunto ferroviário que integra o
Patrimônio Histórico de Campo Grande – MS é composto pela esplanada, onde localizam-se
os edifícios técnicos (estações de embarque e desembarque para passageiros e cargas,
oficinas, armazéns, etc) e por unidades residenciais, isoladas e uma vila de casas
geminadas duas a duas, e edifícios com funções administrativas e de apoio, na área de
entorno da esplanada.

A Leste da Esplanada localiza-se a maioria das residências e unidades de serviços,


compostas por construções em alvenaria de tijolos e diferenciadas, de acordo com a função
dos ocupantes. No setor Oeste localizam-se as casas de madeira destinadas a moradia dos
funcionários menos graduados.
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Conclusão

Ressaltamos que as experiências realizadas tiveram êxito e bom aproveitamento, no


entanto, os resultados não se mostraram suficientes para modificar as ementas a favor da
interdisciplinaridade.

Mantidas as mesmas condições podemos considerar, no caso da disciplina Técnicas


Retrospectivas, que o avanço é necessário e não pode ser visto sob parâmetros
exclusivamente regionais, sob pena de promover-se a regionalização de habilidades e
competências, aumentando significativamente as distorções percebidas em termos
socioeconômicos.

Salientamos que, a formação no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIDERP,


atualmente, privilegia habilidades e competências voltadas para o desempenho profissional
nas áreas de planejamento das intervenções, elaboração de planos de intervenção e
coordenação de equipes de trabalho. As intervenções relativas a obras de restauração são
consideradas como especialização, a ser desenvolvida em cursos de pós-graduação.
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Universidade Federal de Goiás 
Faculdade de Artes Visuais 
 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
Projeto Político‐Pedagógico 
28 de abril 2009 

Faculdade de Artes Visuais. Sede do Curso de Arquitetura e Urbanismo. 2008 

Equipe Responsável 
Prof. Dr. Arquiteto José Artur D’Aló Frota — Coordenador 
(Prof. Adjunto FAV‐UFG e Presidente da Comissão de Criação do Curso) 
Profa. Ms. Arquiteta Christine Ramos Mahler 
(Profa. Assistente FAV‐UFG e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo) 
Prof. Ms. Arquiteto Leonardo Romano 
(Prof. Assistente FAV‐UFG) 
 
 
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1Apresentação do Projeto
Curso: Curso de Arquitetura e Urbanismo
Titulo: ARQUITETO e URBANISTA
Área do Conhecimento: Ciências Sociais e Aplicadas (CNPq)
Unidade Responsável pelo Curso: Faculdade de Artes Visuais
Local de Oferta: Campus Samambaia
Modalidade: Específico da profissão
Número de Semanas por Semestre: 16 semanas por semestre /10 semestres
Educação: Presencial
Número de Vagas: 35
Carga Horária Total do Novo Curso: 3616
Turno de Funcionamento: Matutino e Noturno
Forma de Acesso: Concurso Vestibular
 

2Exposição de motivos
A criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo é uma antiga aspiração da
comunidade acadêmica da UFG, como atesta o processo de criação apresentado, no então
Instituto de Artes, em 20 de junho de 1994 e encaminhado aos órgãos competentes da
UFG.1
O atual período de crescimento da Região Centro-Oeste aponta uma mudança na
estrutura econômica regional, onde o perfil agropecuário deu lugar a setores industrializados
com impactos na economia, sociedade e cultura locais, modificando os parâmetros de
crescimento na região.
Dentro deste panorama e com as novas possibilidades de ampliação da rede pública
de ensino universitário, a partir de programas específicos de fomento, a Faculdade de Artes
Visuais se propôs recuperar a idéia de criação do Curso de Graduação em Arquitetura e
Urbanismo no ano de 2005, quando foi criada uma comissão para esta finalidade2.
No atual contexto urbano e pós-industrial da região, a Arquitetura é uma área de
conhecimento de grande importância e responsabilidade social. A UFG, por seu projeto de
expansão (REUni) prevê um crescimento de 1,2 mil vagas e vinte e cinco novos cursos. O

                                                            
1
A Comissão responsável pelo relatório de criação do curso foi composta pelos professores Orlando Ferreira de Castro, Evany
Dias Fonseca e Daura Rios Pedroso Hamú.

2
A proposta preliminar de criação de um Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo na UFG, concluida em agosto de
2005, contou com a participação dos seguintes professores: Christine Ramos Mahler, José Artur D’AlóFrota, Leonardo
Romano, Rosane Costa Badan e Valquiria Guimarães Duarte.
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curso de Arquitetura e Urbanismo é de extrema importância para as metas da Universidade,
e vem atender a uma demanda da população local e regional.
Desta forma, pela natureza do curso, afinada com a demanda de público, acreditamos
que o mesmo venha a enriquecer a diversidade dos cursos da UFG, em seu objetivo de
universidade pública, contemplando importantes áreas de conhecimento.
 
3Objetivos Gerais e específicos
O Curso de Arquitetura e Urbanismo tem por objetivo a formação de profissional apto
a organizar o ambiente físico, atendendo às necessidades sociais e aos condicionamentos
do ambiente natural e construído, envolvendo a produção de soluções para as várias
escalas do “habitat” humano e seu território, como os mobiliários residenciais e urbanos, as
edificações, até o espaço urbano, em qualquer escala ou dimensão.
O Curso fundamenta-se em uma proposta de ensino integrado, com destaque para as
disciplinas de projeto. A participação de professores de diversas áreas busca a integração
entre a teoria e prática, a criatividade e o pensamento crítico. O programa de estágio, de
acordo com a política de estágio da UFG possibilitará ao aluno exercitar o cotidiano da
profissão em empresas, escritórios, projetos sociais, lojas, museus, etc. Atividades
extracurriculares como viagens de estudo, regionais e nacionais, são previstas. Os
convênios com universidades estrangeiras e o Programa de Mobilidade Estudantil são uma
realidade na UFG. Esses mecanismos complementam a experiência acadêmica de forma
enriquecedora.

4Princípios Norteadores para a Formação do Profissional


A proposta pedagógica deverá assegurar a formação de profissionais generalistas,
capazes de compreender e traduzir as necessidades de indivíduos e comunidades, na
concepção, organização e construção dos espaços, abrangendo o urbanismo, a edificação,
o paisagismo, a conservação do patrimônio construído, a proteção do ambiente natural e a
utilização racional dos recursos disponíveis. O curso terá por princípios: a) a qualidade de
vida dos habitantes e a qualidade material do ambiente construído e sua durabilidade; b) o
uso da tecnologia em respeito às necessidades sociais, culturais, estéticas e econômicas; c)
o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável do ambiente natural e construído; d)
a valorização e a preservação da paisagem como patrimônio e responsabilidade coletiva.
A formação tem por base as seguintes áreas: As Ciências Básicas aportam
conhecimentos matemáticos e leis físicas necessárias para a profissão. A Teoria, História e
Crítica explora o conhecimento teórico, associado à história e à história da arte. O Projeto,
elemento central do curso, tendo por fim a prática das habilidades do exercício da profissão.
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A Construção, destinada a capacitar o aluno nos aspectos técnicos e no conhecimento dos
materiais. As Estruturas, no conhecimento dos sistemas estruturais, projeto, cálculo e sua
execução. Condicionamento, Instalações e Legislação, tratam do cálculo das instalações
hidráulicas, elétricas, climatização, redes telefônicas e de dados, conforto térmico, acústico
e segurança das edificações, e o conhecimento das normas que regem a prática
profissional.
a prática profissional
A lei que rege a profissão atribui o exercício de atividades referentes a edificações,
conjuntos arquitetônicos, monumentos, arquitetura paisagística e interiores, urbanismo,
planejamento físico, urbano e regional. O arquiteto pode elaborar, coordenar, supervisionar,
proceder orientação técnica e especificar projetos, planejamento e acompanhamento de
obras, assessoria, consultoria, execução de perícias e avaliações. Iluminação, comunicação
visual e design também são campos de atuação, assim como teoria, história e crítica de
arquitetura.
a formação técnica
O Curso será regido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação
em Arquitetura e Urbanismo, do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação
Superior, parecer CNE/CES no 112/2005. A profissão está regida por determinações
reguladas pelo CONFEA, o Conselho Federal, e pelos CREAs, os Conselhos Regionais de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia, que estabelecem as atribuições profissionais. O
exercício profissional é regulamentado por lei no Brasil desde 1933. Hoje, a regulamentação
se dá através da Lei 5194/66 e da Resolução 1010/2002, que regula a atribuição de títulos
profissionais, atividades e competências, para efeito de fiscalização do exercício das
profissões inseridas no Sistema Confea/Crea e que gradualmente está sendo implantada,
substituindo a Resolução 218/73. A habilitação é específica da profissão, e se dá pelo
registro do diploma e histórico escolar, onde deve constar o cumprimento das exigências do
currículo mínimo. A responsabilidade técnica está prevista na resolução 218/73 e a
responsabilidade social no novo Código de Ética Profissional do CONFEA, de 8 de
novembro de 2002. A legislação tem caráter nacional, isto é, cumpridas as diretrizes e
exigências o arquiteto pode exercer a profissão em todo o do país.
O sistema CONFEA/ CREAs garante o privilégio do exercício privativo decorrente de
uma formação específica. Do ponto de vista legal, compete ao arquiteto e urbanista o
exercício de todas as atividades referentes a edificações, conjuntos arquitetônicos e
monumentos, paisagismo e interiores, urbanismo, planejamento físico, urbano e regional
(Lei 5194/66).
articulação entre teoria/prática
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Edifícios, ruas, praças, jardins e parques são resultantes de uma ação do homem
sobre o seu entorno, sendo territórios onde se encontram o pensamento humano e a
natureza. Aprender arquitetura é também aprender uma técnica. Não se pode conceber a
arquitetura sem pensar nos materiais concretos e elementos construtivos. O conhecimento
da técnica implica em um conhecimento dos materiais, de seus métodos construtivos e
estruturais, instalações, em seus condicionantes físicos e normativos.
As disciplinas de Projeto necessitam de professores com conhecimento na área do
projeto da edificação e na área do projeto urbano e regional, que atuam no projeto
arquitetônico e urbano, na área de Teoria-História ou na instrumentação gráfica, analógica
ou digital. Aspectos importantes na profissão hoje, como o Desenho Assistido por
Computador (CAD), deve ser ministrado por arquiteto que também atue em disciplinas de
Projeto (Arquitetura e Urbanismo). O mesmo se dá para os professores de maquetes e
urbanismo.
Outra estratégia importante é propiciar o diálogo entre Projeto Arquitetônico e Projeto
Urbano, tendência pedagógica dos principais cursos de arquitetura e urbanismo, onde os
Laboratórios de Urbanismo atuam diretamente associados a projetos de arquitetura,
propiciando uma interpretação muito particular dos projetos paisagísticos para os espaços
da cidade, sejam eles públicos, sejam privados.
O curso deve incentivar viagens de estudos, visitas e levantamentos de campo,
consultas a arquivos e a instituições, contatos com autoridades de gestão urbana, pesquisas
temáticas, bibliográficas e iconográficas, documentação de Arquitetura, Urbanismo e
Paisagismo e inventários e banco de dados; projetos de pesquisa e extensão; emprego de
fotografia e vídeo; escritórios-modelo de Arquitetura e Urbanismo; atividades
extracurriculares (exposições, concursos, seminários internos ou externos) bem como sua
organização.
a formação ética e a função social do profissional
Ações pedagógicas visando o desenvolvimento de condutas e atitudes com
responsabilidade técnica e social e terão por princípios: a) a qualidade de vida dos
habitantes e a qualidade material do ambiente construído e sua durabilidade; b) o uso da
tecnologia em respeito às necessidades sociais, culturais, estéticas e econômicas das
comunidades; c) o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável do ambiente natural
e construído; d) a valorização e a preservação da arquitetura, do urbanismo e da paisagem
como patrimônio e responsabilidade coletiva.
 
5Expectativa da Formação do Profissional
perfil do curso
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  120 
Edificação, restauração e reabilitação. 
O campo de atuação do arquiteto inclui tudo aquilo que se refere à concepção (o
projeto) e à construção do entorno do homem. No campo da edificação, o arquiteto realiza
construções novas, porém também tem que intervir sobre edifícios já existentes. O arquiteto
projeta e constrói habitações, escolas, hospitais, museus, fábricas, edificações agrárias,
instalações esportivas, centros comerciais, igrejas, escritórios, etc. A edificação não é
somente a construção de novos edifícios. A atuação sobre a arquitetura construída para
conservá-la ou adaptá-la a novos usos, é uma prática corrente na atividade dos arquitetos.
Urbanismo e planejamento. 
O arquiteto trabalha nos espaços urbanos, nos jardins, nos parques e na paisagem,
projeta o crescimento das cidades, ordena o território e realiza os projetos urbanísticos.
Teoria, história crítica e pesquisa (investigação)
O campo da teoria e história da arquitetura é um espaço em expansão,
predominantemente acadêmico, tem sido compartilhado por outros profissionais.
Arquitetura de interiores, desenho industrial e gráfico 
Área de projetos para a pequena escala - interiores, mobiliário e equipamentos. O
projeto de interiores é um dos campos de trabalho em expansão nos últimos anos,
compartilhado com os designers de interiores. A participação dos arquitetos também é
expressiva na concepção de mostras e exposições de espaços efêmeros, com curadorias
museográficas ou artísticas. Esta área inclui o projeto de vitrines, mobiliário e design gráfico
nos projetos corporativos.
perfil e habilidades do egresso;
O objetivo do curso é uma formação que revele competências e habilidades tais como:
•a concepção de projetos de arquitetura, urbanismo, paisagismo e construções,
considerando custo, durabilidade, manutenção e especificações;
•as noções de aspectos antropológicos, sociológicos e econômicos, assim como as
necessidades e expectativas quanto ao ambiente construído;
•a compreensão das ações de preservação da paisagem e do meio ambiente, com
vistas ao equilíbrio ecológico e ao desenvolvimento sustentável;
•o conhecimento da história das artes e estética como base na concepção e na
prática;
•os conhecimentos de teoria e história da arquitetura e urbanismo, seus contextos
cultural, social, político e econômico tendo por objetivo a reflexão crítica e a pesquisa;
• técnicas e métodos de pesquisa em planejamento e desenho urbano e regional,
visando estudos, análises e planos de intervenção no espaço urbano, metropolitano e
regional;
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  121 
•a compreensão e concepção dos sistemas estruturais e estabilidade das construções;
•a adequação dos materiais, técnicas e sistemas construtivos, para a definição de
instalações e equipamentos prediais, organização de obras, canteiros e infra-estrutura
urbana;
•o entendimento das condições climáticas, acústicas, lumínicas e energéticas.
•as soluções tecnológicas para a preservação, conservação, restauração, reabilitação
e reutilização de edificações, conjuntos e cidades;
•a instrumentação para a representação do projeto, utilizando meios de expressão e
representação, tais como perspectivas, modelagens, maquetes, modelos e imagens virtuais;
•o conhecimento de informática para tratamento de informações e representação
aplicada à arquitetura, ao urbanismo, ao paisagismo e ao planejamento urbano e regional;
•a interpretação de dados de aerofotogrametria, foto-interpretação e sensoriamento
remoto para a realização de projetos de arquitetura e planejamento urbano e regional.
do perfil do docente
O corpo docente e a coordenação didático-pedagógica dos cursos de Arquitetura e
Urbanismo atenderão as exigências: a) habilitação na forma da lei para ministrar as áreas
de conhecimento de formação profissional; b) disponibilidade numérica de pessoal de modo
a respeitar a proporção de um docente para cada 35 (trinta e cinco) alunos em aulas
teóricas e de um docente para cada 18 (dezoito) alunos nas aulas práticas ou teórico-
práticas, de projeto;
c) coordenação didático-pedagógica exercida por docente arquiteto e urbanista.
 
6Política de Estágio e Prática
gestão da prática
A conecção entre teoria e prática se dará a partir de atividades como: viagens de
estudos; visitas a canteiros de obras, levantamento de campo, consultas a arquivos e a
instituições, contatos com autoridades de gestão urbana; pesquisas temáticas, bibliográficas
e iconográficas, documentação e produção de inventários e bancos de dados; projetos de
pesquisa e extensão; emprego de fotografia e vídeo; escritórios-modelo; núcleos de serviços
à comunidade; encontros, exposições, concursos, seminários bem como sua organização.
gestão do estágio
O Estágio Supervisionado é conteúdo curricular obrigatório, com regulamento próprio
aprovado pela UFG. É uma atividade supervisionada por docentes visando consolidar e
articular as competências para o exercício da profissão, assegurando o contato com
situações, permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem em ações
profissionais.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  122 
7Avaliação da aprendizagem
sistemas de avaliação do processo de ensino e aprendizagem
Os processos de ensino/aprendizagem aplicados no Curso apresentam uma
diversidade dos conteúdos e da forma experimental e renovadora que se pretende
implementar. As disciplinas são desenvolvidas em espaços próprios e equipamentos
adequados. Há atividades educacionais que podem ser desenvolvidas em contextos não
formais como museus, galerias e outros espaços afins. O regime de assiduidade e
freqüência encontra-se consignado no Art.o 127, parágrafo 6º do Estatuto e Regimento da
UFG: “Será aprovado na disciplina o aluno que obtiver média final (MF) igual ou superior a 5
(cinco) e freqüência igual ou superior a 75%.” As formas e datas de avaliação, são
elaboradas de acordo com as ementas, objetivos e natureza de cada disciplina e devem
constar nos programas de curso. O processo de avaliação deve ser resultado de um
conjunto de ações e procedimentos periódicos. Ele é resultado de freqüências, desempenho
e produção, com o mínimo de duas notas e uma média final por disciplina.
A avaliação é um processo contínuo e diversificado: individual e em grupo, com
seminários e avaliações, com e sem consulta. O resultado deve ser divulgado no SAA, até a
data estabelecida no calendário acadêmico, com uma nota de 0,0 (zero) a 10,0 (dez), (artigo
23-RGCG). Ao professor cabe lançar as notas no sistema RGCG, sendo que a nota de
avaliação deverá ser divulgada pelo menos dois dias úteis antes de uma nova avaliação
(artigo 23, parágrafo 4º - RGCG).
estágio supervisionado
Os estágios possibilitarão ao aluno a participação de situações reais do mercado de
trabalho. De acordo com a realidade institucional da UFG, procurará propiciar um
desenvolvimento gradativo na relação ensino, pesquisa e extensão nas diversas áreas de
atuação, proporcionando discussão, reflexão e as ações, com e para a comunidade.
Destina-se ao Estágio Supervisionado 256 horas, em dois semestres letivos, onde o
aluno cumprirá 200 horas em campo, e 56 horas na FAV para a redação do relatório de
estágio, acompanhado pelo supervisor da disciplina. Cada estagiário poderá contar com um
professor vinculado ao curso que acompanhará o rendimento obtido, além do Coordenador
Geral, conforme estabelecido pelo Regimento Geral da UFG (Resolução CEPEC nº 766).
 
8 Estrutura Curricular
As diretrizes curriculares têm por objetivo a qualificação para o exercício profissional,
proporcionando o domínio para a sua atuação, garantindo a habilitação única e fortalecendo
os conhecimentos. Os conteúdos curriculares do curso, segundo a RESOLUÇÃO Nº 6, de 2
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  123 
de fevereiro de 2006 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso, estão
distribuídos em dois núcleos e um trabalho de final de curso, que deverão interagir entre si:
I ‐ Núcleo de Conhecimentos de Fundamentação:  
Campos de saber que fornecem o embasamento teórico necessário para o
desenvolvimento de seu aprendizado.
II ‐ Núcleo de Conhecimentos Profissionais:  
Campos destinados à caracterização da identidade profissional e constituído por:
Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo; Projeto de Arquitetura e Urbanismo,
Paisagismo; Planejamento Urbano e Regional; Tecnologia da Construção; Sistemas
Estruturais; Conforto Ambiental; Técnicas Retrospectivas; Informática Aplicada; Topografia.
III – Trabalho de Final de Curso: 
Após a integralização dos conteúdos obrigatórios e eletivos, é exigida a elaboração e
defesa de um trabalho individual de projeto, o Trabalho Final de Graduação, de caráter
OBRIGATÓRIO, com duração de um semestre letivo e temática de livre escolha,
objetivando avaliar os conhecimentos adquiridos, aptidões técnico-científicas, capacidade de
síntese, criatividade e integração do conhecimento e observará aos preceitos:
a) trabalho individual, com tema livre e relacionado às atribuições profissionais;
b) desenvolvimento, sob a supervisão de professor orientador, escolhido entre os
docentes arquitetos e urbanistas do curso;
c) avaliação por uma comissão que inclui, obrigatoriamente, a participação de
arquiteto(s) e urbanista(s) não pertencente(s) à própria instituição de ensino,
cabendo ao examinando a defesa do mesmo perante essa comissão.
O Curso deverá emitir regulamentação, aprovada no Conselho da Unidade, contendo,
obrigatoriamente, critérios e mecanismos de avaliação e diretrizes para a sua elaboração.
O Currículo Pleno do Curso abrange disciplinas e atividades ordenadas em etapas
semestrais que compõem o Currículo Mínimo.
duração do curso (duração mínima e máxima)
A integralização curricular é obtida por meio de CRÉDITOS atribuídos às disciplinas
cursadas e aprovadas. Um CRÉDITO corresponde ao quociente do total de horas-aula da
disciplina por dezesseis (número de semanas letivas por semestre). O Currículo Pleno é
estruturado em 10 (dez) etapas semestrais. Seguir a seqüência prevista é a única forma de
se concluir o curso no mínimo de 05 anos e máximo em 9 anos.

Matriz Curricular Curso de Arquitetura e Urbanismo UFG Resolução CEPEC nº


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unidad
denominação da e CH CH se-
código pré-requisito natureza núcleo
disciplina respon´ semanal mestral
-sável

NÚCLEO DE CONHECIMENTOS DE FUNDAMENTAÇÃO


FAV00 Desenho
Observação e FAV 02 32 OBR NE
Expressão
FAV00 Introdução a
Linguagem FAV 02 32 OBR NE
Tridimensional
FAV00 História da Arte e
FAV 02 32 OBR NE
Estética I
FAV00 História da Arte e História da Arte e
FAV 02 32 OBR NE
Estética II Estética I
FAV00 Cultura Moderna e História da Arte e
FAV 02 32 OBR NE
Contemporânea Estética I e II
FAV00 Fotografia Aplicada à
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura
ARQ00 Oficina de Maquetes FAV 04 64 OBR NE
ARQ00 O Espaço
Arquitetônico.
FAV 02 32 OBR NE
Percepção e
Representação
ARQ00 Análise e
Composição de FAV 02 32 OBR NE
Projetos
ARQ00 Metodologia do
FAV 02 32 OBR NE
Projeto Arquitetônico
EA64 Ecologia e Meio-
EA 02 32 OBR NE
ambiente
FCHF0 Estudos de
FCHF 02 32 OBR NE
0 Sociologia Urbana
– Núcleo Livre Obs: O aluno
deverá cursar um
número de
– – – EL —
disciplinas que
totalizem, pelo
menos, 128 horas.
NÚCLEO DE CONHECIMENTOS PROFISSIONAIS
ARQ00
Cultura, Cidade e FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura
ARQ00 Ergonomia FAV 04 64 OBR NE
ARQ00 Luminotécnica ARQ 02 32 OBR NE
ARQ00 Legislação e
FAV 02 32 OBR NE
Exercício Profissional
ARQ00 Introdução a
Informática Aplicada
FAV Linguagem 04 64 OBR NE
a Arquitetura e Urb. I
Tridimensional
ARQ00 Informática
Informática Aplicada
FAV Aplicada a Arq. e 04 64 OBR NE
a Arquitetura e Urb. II
Urb. I
ARQ00 Informática Aplicada Informática
a Arquitetura e Urb. FAV Aplicada a Arq. e 04 64 OBR NE
III Urb. I e II
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ARQ00 História da
‘’’ FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura I, II e III
ARQ00 História da
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura I
ARQ00 História da História da
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura II Arquitetura I
ARQ00 História da História da
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura III Arquitetura I e II
ARQ00 A Arquitetura no História da
FAV 02 32 OBR NE
Século XXI Arquitetura I, II e III
ARQ00 Arquitetura no Brasil FAV 02 32 OBR NE
ARQ00 Patrimônio
Arquitetônico, FAV 02 32 OBR NE
Técnicas Retroativas
ARQ00 Introdução à
FAV 08 128 OBR NE
Arquitetura I
ARQ00 Introdução à Introdução à
FAV 08 128 OBR NE
Arquitetura II Arquitetura I
ARQ00 O Espaço Arq.
Percepção e
Projeto I FAV Representação 08 128 OBR NE
Informática aplicada
a Arq e Urb. I
ARQ00 Projeto 2 FAV Projeto 1 08 128 OBR NE
ARQ00 Projeto 3 FAV Projeto 2 08 128 OBR NE
ARQ00 Projeto 4 FAV Projeto 3 08 128 OBR NE
ARQ00 Projeto 5 FAV Projeto 4 08 128 OBR NE
ARQ00 Projeto 6 FAV Projeto 5 08 128 OBR NE
ARQ00 Projeto 7 FAV Projeto 6 08 128 OBR NE
ARQ00 Arquitetura de Informática aplicada
FAV 04 64 OBR NE
Interiores I a Arq e Urb. I
ARQ00 Arquitetura de Arquitetura de
FAV 04 64 OBR NE
Interiores II Interiores I
ARQ00 Evolução Urbana
Introdução ao FAV 02 32 OBR NE
Urbanismo I
ARQ00 Teorias sobre o
Espaço Urbano
FAV Evolução Urbana 02 32 OBR NE
Introdução ao
Urbanismo II
ARQ00 Projetos Urbanos I FAV Evolução Urbana 04 64 OBR NE
ARQ00 Projetos Urbanos I
Projetos Urbanos II FAV Teorias sobre o 04 64 OBR NE
Espaço Urbano
ARQ00 Projetos Urbanos III FAV Projetos Urbanos II 04 64 OBR NE
ARQ00 Estágio
FAV 08 128 OBR NE
Supervisionado I
ARQ00 Estágio Estágio
FAV 08 128 OBR NE
Supervisionado II Supervisionado II
IESA00 Políticas de
Planejamento e IESA Projetos Urbanos III 04 64 OBR NE
Gestão Urbana
EA00 Paisagismo EA 02 32 OBR NE
EA00 Topografia EA 04 64 OBR NE
IME00 Cálculo 1B IME 04 32 OBR NE
IF00 Física Ambiental IF 02 32 OBR NE
EEC00 Conforto Térmico EEC 02 32 OBR NE
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  126 
EEC00 Conforto Acústico EEC 02 32 OBR NE
EEC00 Sistemas Estruturais
EEC 02 32 OBR NE
na Arquitetura I
EEC00 Sistemas
Sistemas Estruturais
EEC Estruturais na 02 32 OBR NE
na Arquitetura II
Arquitetura I
EEC00 Sistemas
Sistemas Estruturais
EEC Estruturais na 02 32 OBR NE
na Arquitetura III
Arquitetura II
EEC00 Sistemas
Sistemas Estruturais
EEC Estruturais na 02 32 OBR NE
na Arquitetura IV
Arquitetura III
EEC00 Construção Civil I EEC 04 64 OBR NE
EEC00 Construção Civil II EEC Construção Civil I 04 64 OBR NE

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO


 
O estudante deverá
Trabalho de ter integralizado a
ARQ00 FAV 04 64 OBR NE
Conclusão do Curso carga horária total
- TCC do Currículo Pleno.

Fluxo Curricular Curso de Arquitetura e Urbanismo UFG Resolução CEPEC nº


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denominação da unidade CH CH naturez
código pré-requisito núcleo
disciplina responsável semanal semestral a
1º SEMESTRE 20 320
IME00 Cálculo 1B IME 04 64 OBR NE
FAV00 Desenho Observação e
FAV 02 32 OBR NE
Expressão
FAV00 História da Arte e
FAV 02 32 OBR NE
Estética I
ARQ00 O Espaço Arquitetônico.
FAV 02 32 OBR NE
Percepção e Repres.
ARQ00 Cultura, Cidade e
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura
ARQ00 Introdução à Arquitetura Introdução à
FAV 08 128 OBR NE
I Arquitetura I
2º SEMESTRE 22 352
EA64 Ecologia e Meio
EA 02 32 OBR NE
Ambiente
IF Física Ambiental IF 02 32 OBR NE
FAV00 Introdução a Linguagem
FAV 02 32 OBR NE
Tridimensional
FAV00 História da
História da Arte e
FAV Arte e Estética 02 32 OBR NE
Estética II
I
ARQ00 Introdução à
História da Arquitetura I FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura I
ARQ00 Introdução a
Informática Aplicada a
FAV Linguagem 04 64 OBR NE
Arquitetura e Urb. I
Tridimensional
ARQ00 Introdução à Arquitetura
FAV 08 128 OBR NE
II
3º SEMESTRE 24 384
FAV00 Fotografia Aplicada à
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura
FAV00 História da
Cultura Moderna e
FAV Arte e Estética 02 32 OBR NE
Contemporânea
I e II
ARQ00 Análise e Composição
FAV 02 32 OBR NE
de Projetos
ARQ00 História da
História da Arquitetura II FAV 02 32 OBR NE
Arquitetura I
ARQ00 Oficina de Maquetes FAV 04 64 OBR NE
ARQ00 Informática
Informática Aplicada a
FAV Aplicada a 04 64 OBR NE
Arquitetura e Urb. II
Arq. e Urb. II
ARQ00 O Espaço Arq.
Percepção e
Representaçã
Projeto I FAV o 08 128 OBR NE
Informática
aplicada a Arq
e Urb. I
4º SEMESTRE 26 416
EA00 Topografia EA 04 64 OBR NE
EA00 Paisagismo EA 04 64 OBR NE
ARQ00 Ergonomia FAV 04 64 OBR NE
ARQ00 História da Arquitetura História da
FAV 02 32 OBR NE
III Arquitetura I, II
ARQ00 Informática Aplicada a FAV Informática 04 64 OBR NE
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  128 
Arquitetura e Urb. III Aplicada a
Arq. e Urb. III
ARQ00 Projeto 2 FAV Projeto 1 08 128 OBR NE
5º SEMESTRE 24 384
FCHF00 Estudos de Sociologia
FCHF 02 32 OBR NE
Urbana
EEC00 Conforto Térmico EEC 02 32 OBR NE
EEC00 Sistemas Estruturais na
EEC 02 32 OBR NE
Arquitetura I
ARQ00 Luminotécnica FAV 02 32 OBR NE
ARQ00 História da
A Arquitetura no Século
FAV Arquitetura I, 02 32 OBR NE
XXI
II, III
ARQ00 Informática
Arquitetura de Interiores
FAV aplicada a Arq 04 64 OBR NE
I
e Urb. I
ARQ00 Projeto 3 FAV Projeto 2 08 128 OBR NE
ARQ00 Evolução Urbana -
Introdução ao FAV 02 32 OBR NE
Urbanismo I
6º SEMESTRE 24 384
ARQ00 Legislação e Exercício
ARQ 02 32 OBR NE
Profissional
EEC00 Sistemas
Sistemas Estruturais na
EEC Estruturais na 02 32 OBR NE
Arquitetura II
Arquitetura I
EEC00 Construção Civil I EEC 04 64 OBR NE
ARQ00 História da
Teorias da Arquitetura FAV Arquitetura I, 02 32 OBR NE
II, III
ARQ00 Arquitetura de Interiores Arquitetura de
FAV 04 64 OBR NE
II Interiores I
ARQ00 Projeto 4 FAV Projeto 3 08 128 OBR NE
ARQ00 Teorias sobre o Espaço
Urbano Evolução
FAV 02 32 OBR NE
Introdução ao Urbana
Urbanismo II
7º SEMESTRE 24 384
EEC00 Conforto Acústico EEC 02 32 OBR NE
EEC00 Sistemas
Sistemas Estruturais na
EEC Estruturais na 02 32 OBR NE
Arquitetura III
Arquitetura II
IESA00 Políticas de
Projetos
Planejamento e Gestão IESA 04 64 OBR NE
Urbanos III
Urbana
ARQ00 Arquitetura no Brasil FAV 02 32 OBR NE
ARQ00 Patrimônio
Arquitetônico, Técnicas FAV 02 32 OBR NE
Retroativas
ARQ00 Projeto 5 FAV Projeto 4 08 128 OBR NE
ARQ00 Evolução
Projetos Urbanos I FAV 04 64 OBR NE
Urbana
8º SEMESTRE 26 416
ARQ00 Estágio Supervisionado
FAV 08 128 OBR NE
I
EEC00 Sistemas
Sistemas Estruturais na
EEC Estruturais na 02 32 OBR NE
Arquitetura IV
Arquitetura III
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  129 
EEC00 Construção
Construção Civil II EEC 04 64 OBR NE
Civil I
ARQ00 Projeto 6 FAV Projeto 5 08 128 OBR NE
ARQ00 Projetos
Urbanos I/
Projetos Urbanos II FAV Teorias sobre 04 64 OBR NE
o Espaço
Urbano
9º SEMESTRE 22 352
ARQ00 Estágio
Estágio Supervisionado
FAV Supervisionad 08 128 OBR NE
II
o II
ARQ00 Metodologia do Projeto
FAV 02 32 OBR NE
Arquitetônico
ARQ00 Projeto 7 FAV Projeto 6 08 128 OBR NE
ARQ00 Projetos
Projetos Urbanos III FAV 04 64 OBR NE
Urbanos II
10º SEMESTRE 04 64
ARQ00 O estudante
deverá ter
integralizado a
Trabalho de Conclusão
FAV carga horária 04 64 OBR NE
do Curso –TCC
total do
Currículo
Pleno.
Carga Horária
216 3456
total/Núcleo Específico
 
CURSO DE
ARQUITETURA E
CARGA HORÁRIA URBANISMO
TOTAL 3600 horas, carga horária 3664
mínima segundo o parecer
CNE/CES Nº 184/2006 de
07/07/2006
NÚCLEO ESPECÍFICO: 3.456 horas NÚCLEO LIVRE: 176 horas ATIVIDADES COMPLEMENTARES: 64 horas

Referências Bibliográficas

COSME, Alfonso Muñoz. (2004) “Iniciación a la arquitectura. La carrera y el ejercício de la


profesión”. Barcelona: Editorial Reverté.
QUARONI, Ludovico. (1987) “Proyectar un edificio. Ocho lecciones de arquitectura”.
Madrid: Xarait Ediciones.
PIÑON, Hélio. (2006) “Teoria do Projeto”. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto.

Comparativo de Diretrizes Curriculares entre a Portaria 1770/94 e o Parecer CNE 112/05.


COSU - Conselho Superior. Prof. Gogliardo Vieira Maragno, UFMS. “Política de Educação e
as Novas Sistemáticas de Avaliação da Educação Superior.” Brasília –DF, 20 e 21e de maio
de 2005. Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo - ABEA XXIX.
XXII COSU ‐ Reunião do Conselho Superior da ABEA 
XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  130 

Resolução nº6, de 2 de fevereiro de 2006. “Institui as Diretrizes Curriculares do Curso de


Graduação em Arquitetura. MEC, Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação
Superior.

Parecer CNE/CES Nº 8/2007. “Dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos
à integralização e duração dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade
presencial.” Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação /Câmara de Educação
Superior. Aprovado em 31/1/2007.

Resolução Nº 218, de 29 de junho de 1973. “Discrimina atividades das diferentes


modalidades profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia”. Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA.

Resolução Nº 1.010, de 22 de agosto de 2005. “Dispõe sobre a regulamentação da


atribuição de títulos profissionais, atividades, competências e caracterização do âmbito de
atuação dos profissionais inseridos no Sistema Confea/Crea, para efeito de fiscalização do
exercício profissional.” Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia –
CONFEA.

Novo Código de Ética Profissional CREA/CONFEA. “As Entidades Nacionais representativas


dos profissionais da Engenharia, da Arquitetura, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e
da Meteorologia pactuam e proclamam o presente Código de Ética Profissional.” Brasília, 06
de novembro de 2002.

Universidade Federal de Goiás. Regulamento Geral dos Cursos de Graduação – Resolução


Consuni nº6/2002.
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XXVI ENSEA ‐ Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo  131 

ARQUITETANDO
experiências didáticas nas disciplinas introdutórias de projeto

José Artur D’Aló Frota


Arquiteto: Faculdade de Arquitetura
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1974
Doutor arquiteto: Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona
Universidade Politécnica da Catalunha, Espanha, 1997.
Professor Assistente 3: Curso da Arquitetura e Urbanismo.
Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
arturfav@yahoo.com.br
 

Eline Maria Moura Pereira Caixeta


Arquiteta: Curso de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 1986
Doutor arquiteto: Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona
Universidade Politécnica da Catalunha, Espanha, 2000.
Professora Assistente1: Curso da Arquitetura e Urbanismo.
Faculdade de Artes Visuais, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
elinecaixeta@yahoo.com.br

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O contexto profissional e didático da arquitetura e do urbanismo têm mudado profundamente


tanto em relação à amplitude da atuação do arquiteto na sociedade quanto em relação à
utilização de novos meios de representação e de projeto, o que exige cada vez mais uma
reflexão contínua sobre práticas e metodologias adotadas no seu ensino. Hoje, o estudo da
arquitetura e o atelier de projeto são entendidos como laboratório de experimentação nos
quais se converte a metodologia em procedimentos.
O objetivo de ARQUITETANDO é refletir sobre novas experiências didáticas desenvolvidas
no recém aberto Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFG, buscando uma melhor
adequação às disciplinas de Introdução a Arquitetura I e II. Estas disciplinas visam inserir o
aluno nas questões relativas ao espaço arquitetônico, sua percepção e seu projeto,
aproximando-o ao pensamento espacial e buscando estabelecer uma ponte entre a
compreensão, visualização e agenciamento do espaço.

Palavras-chaves:
projeto de arquitetura; ensino de projeto; processos de projeto; tecnologias do projeto.
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As disciplinas de Introdução à Arquitetura I e II do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Goiás foram propostas como disciplinas experimentais, com a
finalidade de desenvolver novas abordagens didáticas que busquem potencializar o
processo de criação desde o início do curso, fortalecendo a capacidade analítica, crítica e
propositiva do aluno.
O aluno recém ingresso necessita estabelecer vínculos adequados entre o universo do real
e o da representação. Nos ateliers de prática de projeto, normalmente, ele é induzido a
propor soluções que partam da representação gráfica de suas idéias utilizando como base o
desenho arquitetônico, uma linguagem que possui elevado grau de abstração da realidade e
exige o pleno domínio de seus códigos como elemento que é, de informação. No início do
curso, a manipulação dos instrumentos de representação é ainda precária, os princípios do
desenho arquitetônico ainda estão sendo apreendidos, o que tende a produzir uma perda
no foco do encaminhamento do exercício de projeto. Os mecanismos de desenho passam,
dentro deste contexto, a ser mais importantes para o aluno do que as estratégias de
abordagem do problema proposto.
O procedimento didático adotado neste caso, pelos professores das disciplinas de
Introdução, é incentivar o uso de meios de representação que estejam mais próximos da
realidade do objeto, com a qual os alunos estão mais familiarizados. Prototipagens básicas,
fotomontagens, croquis, colagens e maquetes têm sido os meios utilizados para descrever
visualmente as propostas. Esses são meios mais acessíveis para a compreensão da
tridimensionalidade presente no objeto e seu espaço; permitem uma manipulação mais ágil
das propostas e por esta razão são mais propícios a abordagens criativas.

Plano de Ensino da Disciplina Introdução à Arquitetura I


Ementa
Uma aproximação ao pensamento espacial, desenvolvendo questões Indagações sobre
as relações existentes entre contexto geosocial e arquitetônico buscando promover a
integração do aluno ao universo da arquitetura partindo de exercícios práticos e
experimentais que servirão de suporte para o aprendizado de conhecimentos básicos
necessários a prática projetual.

Objetivos

•Introduzir o aluno nas questões relativas ao espaço arquitetônico, sua percepção e seu
projeto;
•Exercitar a percepção e apreensão do ambiente construido e realizar exercicios
preliminares de intervenção.
•Fortalecer a capacidade analítica, critica e propositiva do aluno.
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Conteúdos
o espaço arquitetônico: escala
lugar (sitio, entorno e contexto)
ambiente construido
espaço social
o objeto arquitetônico: dimensão técnica, forma e sentido
geometrias
materiais, superfícies e cores
forma e função
sentido, consistência e historicidade
Procedimentos didáticos
A disciplina terá por base uma série de exercícios práticos que serão precedidos por
reflexão teórica complementar. As aulas teóricas visam refletir sobre a natureza de cada
exercício, seus antecedentes históricos, suas necessidades programáticas, etc, aportando
os elementos e argumentos necessários a uma introdução também aos processos projetuais
típicos da arquitetura, sempre de um modo ao mesmo tempo analítico e crítico.
Na medida em que se trata de uma disciplina voltada para os aspectos introdutórios da
profissão, além dos exercícios exercícios práticos de projeto, propõe-se a realização de
passeios de análise realizados externamente e visitas de estudo.
 
Procedimentos metodológicos
As disciplinas Introdução à Arquitetura possuem objetivos didáticos e operativos comuns,
atuando a partir de três procedimentos diferenciados básicos: aulas teóricas expositivas,
assessoramento do professor ao grupo de alunos e painéis de avaliação.
As aulas teóricas expositivas complementam às tarefas específicas de “atelier” objetivando
a reflexão crítica sobre o projeto em sua totalidade. O procedimento utilizado é a análise de
projetos exemplares, enfocando temas específicos ao território da prática do projeto.
O assessoramento do professor ao grupo de alunos têm como objetivo avaliar as
peculiaridades das respostas aos exercícios individuais com a participação de todos os
alunos ou grupos de alunos. A disciplina não utiliza o modo de assessoramento isolado ao
estudante mas sim a discussão dos problemas individuais junto ao grupo. O estudante deve
apresentar elementos suficientes para uma avaliação crítica concisa, ou seja, dispor dos
elementos necessários e suficientes para o entendimento e a análise da sua proposta.
Os painéis de avaliação são um processo didático coletivo, onde se busca analisar as
hipóteses de trabalho de cada estudante no grupo e não individualmente. Para ser efetivo, o
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estudante deverá apresentar nos “painéis” aqueles elementos necessários à compreensão
de sua proposta.

Exercício 1
ARQUITETANDO
O Espaço Arquitetônico / escala
O objetivo do exercício é delimitar e caracterizar um espaço a partir de um suporte já
existente. O estudante toma contato com o universo dimensional, interagindo com escalas e
representações; formas e princípios estruturais; materiais, cores e texturas.
lugar: •passarela que liga a Faculdade de Artes Visuais à Biblioteca e
outros pavilhões do Campus
objetivo programático: • espaço efêmero para comunicação
problema: • delimitar e caracterizar um espaço a partir de um suporte existente.
levantamento: •passarela, acessos, perímetro edificios, caminhos e elementos da
paisagem.
processo: •levantamento dos dados (vivência do lugar, medições e fotos);
croquis de representação do existente (perspectivas);
desenvolvimento das propostas por meio de croquis; apresentação
de painel de avaliação das propostas; pesquisa de materiais;
execução de protótipo de um módulo do espaço proposto; análise,
discussão e avaliação dos resultados alcançados com o exercício.
período: •2 semanas
Exercício realizado por grupos de cinco alunos.

Exercício 2
Um Ambiente Arquitetônico
geometrias/materiais/superfícies/cores
O objetivo do exercício é criar um ambiente em um espaço aberto delimitado; um lugar de
encontro/ estar informal/ ócio para os estudantes. O estudante toma contato com o sítio que
tem por limites uma edificação, por um lado, e um bosque, por outro. A intervenção consta
da criação de um programa de mobilário urbano e articulação paisagística do local,
condicionada à preservação integral desta vegetação.
limites, escala, mobiliário urbano: •iluminação, bancos, suportes, pavimentação,
programação visual.
lugar: •próximo ao Centro de Convivência, entre os pavilhões e
o bosque.
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objetivo programático: •criar um ambiente de encontro/ estar informal/ ócio
problema: •conecção com as passarelas, intermediação entre bos
que e edificações.
levantamento: •vegetação, acessos, perímetro edifícios, caminhos e
elementos da paisagem.
processo: •levantamento dos dados (vivência do lugar, medições e
fotos); croquis de representação do existente (planta de
localização de vegetação); desenvolvimento das
propostas por meio de maquetes de estudo (dobradura);
apresentação de painel de avaliação das propostas
(croquis, fotomontagens e maquete na escala 1:75);
análise, discussão e avaliação dos resultados alcançados
com o exercício.
período: 1 mês
Exercício realizado por grupos de dois alunos.

Exercício 3
O OBJETO ARQUITETÔNICO
Um pavilhão temporário.
O objetivo do exercício é projetar um edifício temporário, cujo programa seja flexível e
permita ao aluno investigar aspectos plásticos/ representativos e formais/ construtivos. A
edificação deve ao mesmo tempo responder ao seu caráter transitório e de elemento
marcante na paisagem.

lugar: •entre ao Centro de Convivência e a Faculdade de Artes Visuais.


objetivo programático: •criar um pavilhão cuja característica seja propiciar espaços
interativos.
problema: •estruturar um objeto construído a partir de uma matriz básica
simples.
levantamento: •perímetro e acessos edificios, passarela, vegetação, caminhos e
elementos da paisagem.
processo: •levantamento dos dados (vivência do lugar, medições e fotos);
croquis de representação do existente (perspectivas e planta de
localização); desenvolvimento das propostas por meio de croquis e
maquetes de estudo (dobradura); apresentacão de painel de
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avaliação das propostas (croquis, fotomontagens, plantas, elevações
e maquete na escala 1:50); análise, discussão e avaliação dos
resultados alcançados com o exercício.
período: 1 mês e 2 semanas
Exercício realizado individualmente.

Bibliografia
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Editorial Estampa. 

MILLS Criss B. (2007) Projetando com maquetes. Um guia de como fazer e usar maquetes de projeto 
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FONATTI, Franco.(1988) Principios elementales de la forma en arquitectura. Barcelona: Gustavo Gili. 

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Exercício 2       

Um Ambiente Arquitetônico

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