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Cadernos do Fórum
Educação e Empreendedorismo
18.05.2010
Organização: Realização:
ÍNTEGRA DO EVENTO CADERNOS DO FÓRUM 2010 -
EDUCAÇÃO E EMPREENDEDORISMO
Agradecimentos:
A Sergio Malta, superintendente do Sebrae-RJ, parceiro deste projeto desde que ele
não passava de algumas linhas escritas no papel;
EDUCAÇÃO E EMPREENDEDORISMO
A SRA. GEIZA ROCHA – Bom dia a todos. Este é o segundo dia do evento Cadernos
do Fórum. A ideia é a gente discutir aqui Educação e Empreendedorismo.
Sejam muito bem-vindos. A gente ontem abriu o ciclo de debates, Cadernos do Fórum
discutindo gestão pública e planejamento. Como não podia deixar de ser a Educação
perpassou todo o debate de ontem e acho que hoje a idéia é a gente aprofundar qual
é a cultura que a gente quer passar para os nossos estudantes.
Prof. Paulo Alcântara, que análise o senhor faz da Educação no nosso Estado, do
ensino fundamental ao ensino superior?
Para vocês terem uma idéia, enquanto nós falamos aqui no Brasil em 28 mil
engenheiros formados por ano, contra quase 100 mil formados na Coréia, para dar um
exemplo, e num país com uma população muito menor, nós falamos em 2 mil físicos
formados por ano, professores e físicos, no Brasil, por exemplo se formam 628 mil
pessoas a cada ano. Isso significa que nós não temos professores de física, de
química, de matemática, de ciências biológicas para atender às nossas necessidades.
Qual é a consequência básica disso? Os jovens, os adolescentes ingressam no
ensino médio e acabam não sendo bem informados, e o índice de evasão do ensino
médio no Rio de Janeiro hoje ultrapassam os 54%.
A SRA. WILMA FREITAS – A gente pode trabalhar nessa perspectiva e acho que até
tanto o SEBRAE – e aí o Paulo aqui, como Presidente do Conselho Estadual de
Educação e o Sistema “S” como um todo – pode centrar forças nisso e pensar para o
Estado do Rio de Janeiro que benefícios isso pode trazer e de que maneira a gente
pode fazer esse modelo migrar para o nosso estado na perspectiva do
desenvolvimento econômico.
Porque, olhem só: a lei, ela tem flexibilidade. Nós é que engessamos o processo. Isso,
para mim, é muito claro. O exemplo é: a lei fala em certificação profissional, no artigo
em que o Paulo se referiu; a lei fala em aproveitamento de estudos, experiências e
competências – portanto, abre um leque.
Só que quando a gente traz isso para o processo da Educação, o mundo acadêmico
engessa o processo.
A SRA. GEIZA ROCHA - E como sair desse engessamento e identificar quem tem o
perfil empreendedor, quem pode usar suas competências para avançar?
O SR. SERGIO MALTA – Veja bem, Geisa: o Brasil é um dos países mais
empreendedores do mundo.
A última pesquisa feita pelo instituto que cuida desse assunto detectou que o Brasil é o
segundo país mais empreendedor do mundo do G-20, depois da China, que tem 170
milhões de empreendedores.
Lá, tudo é grande, não é? Aqui no Brasil são 19 milhões de empreendedores, com
uma população de 190 milhões de brasileiros e brasileiras, temos 120 milhões na
idade economicamente ativa e então 19 milhões de brasileiros são donos do seu
próprio nariz.
E isso tem crescido muito também porque a escolaridade aumentou. A gente ouviu
aqui a evolução do ensino tentando se adaptar às necessidades da sociedade. Essa
evolução é necessária não só por exigência do mercado de trabalho, mas por
exigência da sociedade.
A evolução social exige isso e essa reflexão toda, aqui no campo da academia que os
educadores estão fazendo certamente vai dar uma resposta – ainda está lenta, porque
existe uma resistência – mas certamente essa velocidade vai avançar e o sistema de
ensino vai estar à disposição e vai deixar de ser um obstáculo para ser uma alavanca
dessa evolução social.
E esse aumento de escolaridade... também temos que ver que o Brasil talvez tenha
um milhão de mestres e doutores, mas há 20 anos, tinha 50 milhões de analfabetos –
então, a gente tem que resolver problemas medievais, ao mesmo tempo em que a
gente entra no Século XXI. A gente faz tudo isso ao mesmo tempo e é um desafio
enorme, em que o Setor de Educação tem que estar à disposição da sociedade para
ajudar a resolver.
Mas, voltando ao empreendedorismo, eu dizia que nós somos o segundo país mais
empreendedor do mundo, e isso tem aumentado também porque o nível de
escolaridade – e mais do que escolaridade, o nível de acesso ao conhecimento,
através de todos esses mecanismos: internet, enfim, a difusão de conhecimento, enfim
– tem sido crescente nos últimos anos no Brasil.
Em 2003/2005, isso era 50%. E na última pesquisa, em 2008, aqui no Rio, 81% dos
empreendimentos ultrapassam – estão sobrevivendo – ao terceiro ano. Isso,
certamente, é produto também do nível de qualidade.
Em 2008/2009, o Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros
a sair dela muito por conta do trabalho desses 20 milhões de empreendedores
voltados para o mercado interno, envolvidos com derivativos, com exportações para a
China, e puderam segurar a barra para que a atividade econômica se mantivesse e
depois fosse retomada, e hoje a gente está num momento talvez que nunca vimos
antes: um crescimento de 7%, com distribuição de renda; nos últimos cinco anos 30
milhões de brasileiros entraram na classe que tem acesso à educação, à saúde, ao
conforto doméstico. É uma situação que exige cada vez mais do sistema de educação,
e essa reflexão que vocês fazem é fundamental para que esse processo ganhe
velocidade.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Eu queria pegar um gancho no que o Sergio
falou. Você tinha feito uma pergunta sobre como modificar essa cultura da sociedade
brasileira.
Eu acho que um dos pontos críticos... Parece incrível, às vezes acho engraçado, dizer
essas coisas num programa como este. Mas uma das questões fundamentais foi
exatamente o reflexo que uma novela da Rede Globo traz para a sociedade.
Criamos um grupo de trabalho chamado Inove Engenharia, na CNI, que discute a
reformulação do ensino de Engenharia no Brasil. Na ultima reunião que tivemos, um
dos pontos críticos foi que, na novela das oito, principalmente, não aparece o perfil de
um engenheiro. Há anos não se fala no mocinho da novela ser um engenheiro. Essa
motivação é fundamental, a motivação para o empreendedorismo é, absolutamente,
crucial.
O Sérgio às vezes acorda às cinco da manhã para ir ao Bom Dia Rio explicar às
pessoas o que são os programas de empreendedorismo. A repercussão que aquilo
tem é extraordinária! Eu saio da minha casa e chego ao local onde trabalho e várias
pessoas dizem que o diretor do SEBRAE estava explicando hoje o que é
empreendedorismo individual – o reflexo daquilo foi brutal na época da crise. Isso é
importante: você usar os meios de comunicação para gerar a cultura do
empreendedorismo e a da mudança, você quebrar os laços, e você só faz isso se você
convence as pessoas pela forma de viver a vida, por você ver como as coisas
acontecem no dia a dia. Um empreendedor, dono da pousada que ele citou é uma
consequência, é a imagem positiva que surgiu na novela. Mas a gente não encontra
repercussão nessas mudanças que são necessárias.
Estamos melhorando? Sim. Temos que ser otimistas? Temos. Mas, mais do que
isso,temos que ser determinados, temos que ter uma certa obsessão em chegar a
bons resultados. Mas não poderemos fazer isso sozinho – daí a importância dessa
quase hélice tripla que vocês estão construindo aqui no fórum, porque vocês estão
abrigando as universidades, os institutos de pesquisa, os governos e as grandes
organização que representam a indústria, o setor de tecnologia, comércio, serviços e
agronegócios.
A SRA. GEIZA ROCHA – Pegando esse gancho, e também porque estou ansiosa para
ouvir a plateia, que é tão importante, qual o papel do governo nesse perfil? A gente
tem o empreendedorismo, a educação do Sistema S e a universidade, enfim, qual o
papel do governo nesse processo de dinamização da educação e de trazer a
educação para um perfil que de fato tornem as pessoas para aprender.
A SRA. WILMA FREITAS – Eu acho que o governo tem que primeiro estabelecer
diretrizes que deem a flexibilidade necessária para a educação. O segundo ponto é
que ele tem que subsidiar de alguma forma, porque o ensino precisa ser, pelo menos
de acordo com a Constituição, com a Lei de Diretrizes e Bases, pública e gratuita até
uma determinada faixa etária, se considerarmos a educação baixa. Ao mesmo tempo
em que ele trabalhe com algumas perspectivas de formação para o trabalho, nesse
ensino inicial, garantir a qualificação dos professores de forma a que atenda essa
expectativa que a gente tanto tem comentado aqui. Isso não é muito fácil, a gente
sabe disso. Nós percebemos, por exemplo, que aqui no Estado do Rio de Janeiro nós
temos uma secretaria de educação voltada para a inovação, voltada para a tecnologia,
fomentadora de projetos inovadores, percebemos isso, mas, isso tem que se tornar
uma força dinâmica, ela não pode ficar no plano das ideias, ela tem que caminhar no
sentido da concretização disso.
E tem outras questões, outras variáveis, que estão aqui um pouco escondidas nesse
cenário geral da educação, que precisam também ser revistas, por exemplo, o salário
do professor. O salário não move o professor, mas sem ele não sobrevive.
A SRA. GEIZA ROCHA– Sobre essa questão, como a legislação pode ajudar nesse
processo?
A SRA. WILMA FREITAS– Eu ia citar neste momento o Plano Nacional de Educação e
o Plano Estadual.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES– Eu acho que não adianta você ter o plano se
você não tem ações. Vou dar dois exemplos para vocês. Aqui no Rio de Janeiro nós
temos uma política interessante, bastante, e liderada pelo SEBRAE, pela Firjan,
principalmente por esses dois arranjos produtivos locais. Por exemplo, existe o arranjo
produtivo local de moda íntima em Friburgo; existe um arranjo de pedras lá em cima; e
existe um arranjo de fruticultura.
Onde está o nosso erro? A política existe, só que ela não se transforma em ações. E
existem políticas concretas, extremamente bem sucedidas no atual governo. Um
programa, por exemplo, de subvenção econômica foi criado pela FINEP, e ela pega
um empresário que tem um bom projeto e que possa ser rentável e, sem nenhuma
vergonha, ela chega ao empresário e diz assim: “olha, isso aqui é um dinheiro a fundo
perdido que eu estou te dando para você desenvolver um projeto, depois você vai ficar
rico com isso, mas esse seu produto vai ser importante para o país. Isso nós não
fazemos com a educação.
Existe a política? Eu diria até que ela pode existir, o que falta é a ação concreta de
você dizer assim: olha, nós vamos ter um programa de subvenção econômica e a boa
escola, pública ou privada, se instalar nesse local com um bom projeto, que vai ser
avaliado por três, quatro anos, ela terá subvenção econômica para se instalar. É uma
ação concreta que não depende de lei, depende de vontade política de
regulamentação.
A SRA. WILMA FREITAS - Olha só, Geiza, me permite complementar o que o Paulo
falou. Isso que ele falou é uma verdade. Se a gente tivesse, dentro de um Plano
Estadual de Desenvolvimento e Educação – vamos ampliar o título desse plano –,
ações específicas que congregassem as instituições formadoras, tipo Sistema S,
públicas, e outras públicas e outras privadas, a Faetec, o mercado local, a
identificação da potencialidade e da possibilidade de crescimento, fizéssemos daí um
grande fórum por arranjos produtivos, como o Paulo falou, você teria um movimento
nesse estado! Que sem organização, ele já é um estado fantástico, onde você tem aí o
terceiro PIB do Brasil, você tem números que são impressionantes. E, se a gente
considerar, numa extensão territorial que não é das maiores!
A SRA. WILMA FREITAS - E muito concentrada – você tocou num ponto crítico –
muito concentrada em algumas regiões e pobres, quase miseráveis, em outras, como
o noroeste do Estado.
Então isso aí precisava de um plano, mas de um plano real, com ações concretas,
como o Paulo falou, para um planejamento. De que adianta, como ele disse, você
concentrar a educação superior em quatro grandes segmentos, você concentrar o
ensino técnico praticamente nos mesmos segmentos? Numa região onde você tem,
por exemplo, a piscicultura desenvolvendo, como o noroeste do Estado. Então há
necessidade de um planejamento estratégico, para que esse Estado tenha um
crescimento harmônico. E que essa riqueza deixe de se concentrar na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, que é a grande concentração – agora então com a
vinda do Comperj. Se a gente levantasse todos os investimentos que o Estado do Rio
vai receber nos próximos seis anos e os grandes eventos que serão fomentadores de
emprego e de trabalho – por exemplo, nos próximos seis anos, até 2016, nós temos
um evento por ano de grande porte: a Copa das Confederações, a Olimpíada dos
Militares, as Olimpíadas, a Copa do Mundo – é um ano por ano.
A SRA. WILMA FREITAS - A Rio +20. Então são eventos que vão mobilizar não só o
turismo, que a reboque do turismo vêm os serviços. O grande empreendedor que tiver
a sua visão lá na frente já está se preparando para isso, porque o turista chega, ele
quer ser bem recebido, ele quer levar uma lembrança, ele quer conhecer a cidade, ele
quer conhecer um pouco mais do que está próximo da cidade. Então são questões
que precisam ser exploradas do ponto de vista político, mas com ações muito bem
construídas a várias mãos.
Eu acho que isso pode ser um belíssimo projeto, que inclusive já teve um início. Não
sei se o senhor se lembra daquele congresso que foi feito, o fórum que foi feito pela
Faetec, com a participação do Conselho Estadual?
A SRA. WILMA FREITAS - Houve, assim, uma grande discussão: como construir um
planejamento estratégico para o desenvolvimento econômico e, consequentemente,
um desenvolvimento...
A SRA. GEIZA ROCHA - E aí, voltando ao otimismo que o Sérgio colocou aqui no
início, que acho que a idéia de conversar aqui, falar sobre o futuro é justamente
porque a gente está numa fase de otimismo, de muitas coisas acontecendo, de muitas
promessas de desenvolvimento para um longo tempo, como o Sebrae pode participar
desse processo. E mais ainda, para a gente ir para a plateia: de que forma a gente
pode aproveitar todos esses eventos para, daí, fazer um desenvolvimento
permanente, que não fique só ...
Agora, queria fazer um comentário, acho que além do planejamento estratégico, e isso
de certa maneira, até a Federação da Indústria fez isso num documento Decisão Rio,
que é um levantamento das profissões em quantidade e qualidade que serão
necessárias nos próximos anos. Esse planejamento estratégico tem que ser
acompanhado de ações concretas com o municipal até de indução financiada. Hoje,
eu sei, mais ou menos, que vou precisar de 500 engenheiros, mil soldadores, 20
físicos. Agora, como é que a gente vai fazer com que essas profissões, essas
competências se criem, sejam educadas e estejam disponíveis na hora necessária. Aí
é necessário induzir. Quer dizer, hoje, a educação, o problema da oferta e demanda
no mercado de trabalho é resolvido pelo mercado. A educação é um serviço muito
nobre para deixar à mercê do mercado. É necessário não só a regulação, mas a
intervenção do estado, para que isso.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Você quer ver um exemplo disso que o Sérgio
acabou de colocar. Houve duas ações muito simples, aliás, uma ação muito realizada
em conjunto pela Secretaria de Ciência e Tecnologia e pela Secretaria de Educação.
O Conselho Estadual de Educação aprovou no CVT no Centro de Vocação
Tecnológica, que fosse oferecido em simultaneidade a EJA, o que é a EJA –
Educação dos jovens e adultos. Exatamente, por causa desse levantamento que nós
fizemos. Então, nós temos um problema de escolaridade. Então, não adianta um
Centro de Vocação Tecnológica, você estar formando o indivíduo como um bom
soldador, um bom instrumentador, se ele não tem a escolaridade. Em educação de
jovens adultos que é um programa que se pode oferecer na modalidade à distância
com o apoio do CDERJ e da própria FAETEC, abre as portas para isso.
Agora, nós precisamos formar técnicos. O Sergio falou aí uma coisa fundamental.
Quer dizer, nós temos aí centenas de milhão, nós estamos formando 30 mil médicos e
dez mil doutores. Aí você pega um quadro que o Ministério da Ciência e Tecnologia
fez ano passado, muito interessante; 65% da nossa inteligência, dos nossos PhDs
estão dentro das universidades, e apenas 27% na indústria. Você vai à Coreia, são
58% na indústria, o resto na universidade e no governo.
A SRA. GEIZA ROCHA - Mas enquanto a gente não entender que a educação é o
vetor e que isso se resolve. Fica muito complicado avançar.
Quando eu fui reitor da UFRJ, eu tive vários problemas com pessoas, que não cito,
naturalmente, que não tinham diploma superior e eram professores da UFRJ, para
muita honra da universidade, e um deles queria fazer o doutorado e não tinha diploma
de nível superior. O Conselho de Ensino e Pesquisa da universidade, na época,
aprovou e esse professor é brilhante, um dos melhores cientistas que temos na área
dele, uma pessoa extraordinária e que não tinha um diploma de nível superior. Falta,
às vezes, a nossa argúcia, a nossa flexibilidade para enfrentar o novo com alguns
procedimentos. Não temos, às vezes, coragem para isso e nos sentimos tolhidos pelo
que eu chamaria do entulho burocrático de legislação educacional que temos no país,
de décadas e décadas, que se contrapõe, que diverge e que gera um problema.
A SRA. GEIZA ROCHA – Fica muito na discussão, mas acabam perdendo a visão do
que é prático.
O EJA pode ser a grande saída, desde que acompanhada com a educação
profissional. E feita numa matriz integrada, porque não adianta eu ensinar matemática
sem estar no contexto de um trabalho.
A SRA. WILMA FREITAS – Eu também fui para a escola primária, não posso falar
nada.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Então, nós três aqui somos bi-seculares.
Somando os três, deve dar quase dois séculos.
Na verdade, essas habilidades, como a do pedreiro, você tem que ensinar essas
habilidades, essa prática profissional. Nós abandonamos isso na história do Brasil, e
isso é fundamental. Você falou aí da Espanha, nós temos hoje os BRICS, mas nós já
temos os FICS, que é Finlândia, Irlanda, Coréia e Suécia. O que a Irlanda fez? A
Irlanda era a maior produtora de batatas do mundo. Hoje, a Irlanda, com o Programa
de Certificação de Habilidades e Competências, de educação profissional, de
entendimento de que a educação superior não é uma coisa formal ou credencialista;
ela criou um lema que era: “From potato to chips”, que é uma brincadeira, porque o
chip potato é uma batata, mas o chip daí é o chip do computador. E se transformou no
maior produtor de inteligência na área da computação. Quer dizer, a Irlanda está numa
crise econômica? Está. Mas ela vai sair dessa crise. A Finlândia está aí a telefonia
celular mostrando; a Coréia eu não preciso falar e a Suécia também, na mesma linha.
Então, esses FICS hoje se contrapõem aos BRICS porque eles têm uma coisa que
nós não temos, que é tudo isso que você acabou de falar. Quer dizer, nós não
conseguimos criar mecanismos. Quer dizer, por isso que eu tenho uma enorme
admiração. Quer dizer, está quase no nível do Fluminense com o sistema “S”. (Risos)
Os dois estão no meu coração: o sistema “S”, são três. Eu tinha um professor na
escola de Engenharia, o Sidnei Martins Gomes dos Santos, que dizia o seguinte: “Uma
coisa que a gente sempre tem que levar como se fosse a cristaleira da nossa família,
aquela cristaleira que você tem em casa, que foi da sua avó, que tem lá aquelas taças
de casamento da sua bisavó – e muita gente tem isso em casa, é verdade -, a nossa
cristaleira nacional é um negócio chamado Petrobras”. Ele dizia isso pra gente. Eu
aprendi isso e hoje eu tenho certeza. Só que na minha casa tem mais duas
cristaleiras, que são o sistema “S” – o Fluminense nem fica tanto -, e o terceiro e a
reforma da educação superior, para que ela vire, de fato, um móvel importante, o que
nós não estamos conseguindo fazer. Quer dizer, esse é o problema.
A SRA. GEIZA ROCHA - A gente não pediu pra ninguém fazer a pergunta porque é
importante que todo mundo participe, levante, fale seu nome, a instituição a que
pertence e aí faça então a pergunta.
O SR. RUI SANTOS – Bom dia, sou Rui Santos, da UERJ. Acho que tudo o que foi
colocado aqui nos leva sempre àquela situação de angústia. Nós temos uma perfeita
dimensão dos problemas, quer dizer, o diagnóstico é sempre muito claro, e há sempre
uma grande dificuldade em como fazer acontecer ou como produzir as soluções para
isso.
Inegavelmente, temos, nos últimos anos, uma feliz confluência de entes que, por
muitos anos, com o processo absolutamente absurdo em nosso país, estiveram não
só distante, mas muitas vezes estiverem em conflito. Era, por exemplo, para a
universidade, quase uma heresia qualquer tipo de aproximação com o setor produtivo.
O SR. RUI SANTOS – Isso veio, ao longo do tempo, sendo vencido e hoje, felizmente,
temos essa aproximação. Ainda é algo bastante tímido para aquilo que os senhores já
colocaram aqui, como necessidade pro país, mas de qualquer maneira, já é um
grande passo; um primeiro passo talvez.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Ainda não tem data. Provavelmente já terá ido
ao ar. Eu estou propondo ao Conselho Estadual de Educação a criação de um prêmio
à Folha Dirigida, bodas de prata com a educação brasileira. Eu acho que nós podemos
ter, por exemplo, em jornais como a Folha Dirigida, um encarte de empreendedorismo
que seria semanal, ou seria quinzenal, e que traria as idéias que são colocadas, para
que nós pudéssemos modificar essa resistência que o Rui falou, porque esse é um
problema. Nós estamos nos transformando, eu me sinto às vezes, costumo dizer o
seguinte: se você tem um problema e não tem a solução, se você traz um problema e
não traz a solução, você virou parte do problema. Nós precisamos tomar cuidado para
parar de identificar problema sem trazer soluções. É melhor a gente colocar nossas
soluções com convicção, com sinceridade, porque elas podem até não ser aceitas,
mas elas podem dar a partida para uma discussão, e daí surge a discussão. A gente
aprendeu isso já em 1917, quando a gente sabia que é da divergência que surgem as
soluções, e unanimidade não é unidade. A gente busca a unidade, não busca a
unanimidade. A gente tem que tomar muito cuidado com isso.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Estão faltando propostas. Eu acho que nós
precisávamos ter um pouco mais de coragem e colocar propostas estruturantes que
modifiquem o cenário. Essa, por exemplo, do artigo 47, no meu entender, é uma delas.
A outra é das novas tecnologias de educação à distância, para discutir para valer se o
modelo que o Brasil está adotando é um modelo factível, porque não adianta nada
você falar em tutoria presencial num município que não tem professor, não adianta
nada você falar também em tutoria à distância se você não tem facilidade de banda
larga. Essas coisas têm que ser discutidas e têm que ser resolvidas.
A SRA. WILMA FREITAS - Mas olha só, Paulo. Eu acho que a gente pode juntar as
quatro questões centralizando aqui na última pergunta. Que ações? A questão do
empreendedorismo dentro do setor público pode ser tratada também no cerne de uma
ação concreta. Eu acho que nós precisamos sentar, e sentar, como você falou, com
seriedade, com compromisso, com comprometimento, para definir ações, e definir de
uma forma compartilhada. Não adianta o sistema S começar seu trabalho, por
exemplo, oriundo daquele protocolo assinado lá em 2008, nós temos hoje aí, que será
lançado brevemente, um grande programa de bolsas. Serão 35 mil bolsas, como o
Sérgio colocou aqui, gratuitas ou com grandes descontos para acesso da população à
educação profissional. É uma ação consistente? Ela é forte? É, mas imagine isso
trabalho numa perspectiva maior; imagine isso tendo o braço da Genesis, que eu
conheço tão bem, sou uma admiradora em profundidade da Genesis, como eixo
articulador de um pensamento desse, trazendo a questão da empresa baby, da
empresa júnior como estratégia de aprendizado entrar num projeto como esse.
Imaginem isso pensando na grande direção do Estado do Rio nas suas oito grandes
regiões administrativas trabalhando numa perspectiva de metas de médio e longo
prazos e desenvolvimento, crescimento e educação.
Acho que nós somos forças represadas e gigantes e que podemos mudar o nosso
estado.
A SRA. GEIZA ROCHA – Mas para isso é preciso começar a construir essas pontes.
Não é?
A SRA. WILMA FREITAS – Mas temos começar com coisas concretas. Aí, eu vou
espetar o pau de novo. Um tempo atrás ele falou Dilma, seria muito bom se o
Conselho Estadual tivesse um grupo.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES- Não foi há tanto tempo assim. Foi há quatro
meses.
A SRA. GEIZA ROCHA – Nós passamos seis meses na Câmara Setorial de Serviços
Públicos do fórum debatendo a aplicação da tecnologia na educação para o
desenvolvimento. Foram apresentados os projetos de educação da Firjan, da
Fecomercio. Quer dizer, o sistema Fecomércio através do SENAC, SESC, enfim,
como é que eles trabalham as tecnologias no aprendizado. A partir dessa discussão
que foi gerada, a partir dessas apresentações fizemos uma carta aberta que está no
Caderno de Atividades que todos receberam aqui.
Acho que nós cometemos um erro dizendo assim: nós vamos fechar os cursos de
Direito porque estamos oferecendo meia solução. Nós temos que criar uma outra
solução. Se essas pessoas querem um diploma de nível superior para exercer coisas
ligadas à área pública, nós deveríamos ter dois tecnólogos. Um tecnólogo seria de
gestão municipal onde eles vão aprender a lei de IPTU, a lei de ISS, relações
interpessoais, empreendedorismo, a organização do serviço público, ainda a lei 8666
que não morre. O mundo muda e a lei ... é uma coisa interessante. O mundo gira, a
lusitana roda e alei 8666 continua aí.
Então, essa é uma questão fundamental. Nós formamos o gestor municipal. Nós
teríamos uma nova entrada. E a outra é forma o gestor de organização jurídica, que é
o escrevente de cartório, é o escrivão de Polícia, é o funcionário público que vai
atender na Secretaria de Fazenda, que vai despachar, aquele que vai fazer a
tramitação do processo dentro do juízo.
Quer dizer, são cursos de três anos que poderão gerar uma enorme potencialidade de
absorção de mão de obra e resolverão o problema dos cursos de Direito.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Mas a gestão das políticas públicas no Brasil é
tratada com o nível de MBA. Quer dizer, raríssimas exceções...
A SRA. GEIZA ROCHA - Mas eu acho que a própria dificuldade de você trabalhar
hoje, você não tem um contingente tão grande assim fazendo MBA que está
trabalhando ali na ponta. Então, o SEBRAE tem participado muito.
O SR. SERGIO MALTA - É verdade, o nosso programa aqui no Rio, o Lidera Rio é um
programa que visa abrir os olhos do gestor público para que ele possa criar um quadro
na sua cidade, um quadro tributário, um quadro legal, um quadro em que as pequenas
empresas possam nascer, florescer, se desenvolver. Porque no passado o gestor
público, o prefeito daquela cidade ele se preocupava com a pavimentação das ruas,
educação e saúde. Hoje, a compreensão é cada vez maior dos dirigentes públicos de
que é necessário, em nível de prefeitura, se troque o desenvolvimento econômico. E o
desenvolvimento econômico das grandes cidades se dá principalmente através
daquelas empresas. Então, esse programa que nós temos é no sentido de ele abrir
espaço para o empreendedorismo na sua cidade. Eu queria aproveitar para tentar
responder as perguntas, sobre a questão da resistência da universidade a se abrir
com a sociedade, a se abrir enfim, para o sistema produtivo. Eu acho que o sistema
produtivo tem mudado muito no Brasil. Existe hoje no Brasil talvez uma centena de
parques tecnológicos nas universidades cada vez mais tem incubadoras, têm 60
parques tecnológicos.
O SR. PAULO ALCÂNTARA - E quase 500 incubadoras, o resto é tecnológico.
O SR. SERGIO MALTA - o Aranha é o protagonista nesse movimento no Brasil,
nunca se teve tanto dinheiro para inovação e tecnologia como hoje no Brasil. A
discussão agora dos fundos do pré-sal, essa riqueza enorme que o Brasil vai retirar do
fundo da rocha, tem três ou quatro prioridades. Uma delas é a inovação e tecnologia.
E inovação e tecnologia que será feita através da interação universidade e sistema
produtivo. Eu acho que a gente está caminhando talvez não na velocidade que possa
extinguir totalmente nossa angústia, agora você usou na sua introdução à pergunta,
mas acho que a gente está aumentando essa velocidade. Essa sua pergunta, Aranha,
sobre a questão dos pais também como indutores ao empreendedorismo junto com a
escola e com a empresa, veja bem, no Brasil tem 20 milhões de famílias cujo... não sei
se o chefe de família ou mais, tem ali na família um sujeito que é dono do seu próprio
nariz. E até um exemplo que se dá à criança o melhor caminho. Então, já tem esse
capital enorme de experiências que mostram às crianças esse caminho. Além disso, é
importante que a educação formal também, a estrutura de ensino tanto pública quanto
privada possa apropriar dessa grade de ensino que o SEBRAE coloca à disposição de
qualquer escola que queira se apropriar dela, e é importante também juntar isso.
Em relação à sua pergunta, Clemente, eu acho o seguinte, na prática isso acontece,
de maneira ainda particular, não universal. Mas por exemplo, o arranjo produtivo que
o Paulo Alcântara citou lá de Friburgo. Nós temos uma governança que para o
SEBRAE que tem a sua missão, tem suas tarefas, as suas competências, que inclui o
SENAC que está presente, inclui o SENAI, inclui as universidades privadas que tem lá
que é a Cândido Mendes, faz parte junto com a prefeitura, e a UERJ também. Então,
pontualmente isso já existe. É claro que se a gente pudesse fazer isso num nível mais
elevado, pudesse coordenar todas as ações, seria importantíssimo, mas a iniciativa do
Fórum de promover esse debate e além disso,os cadernos, é uma reflexão que
certamente acho que está vocacionada a termos um organismo, não sei se
permanente ou temporário, para podermos enfrentar esse desafio. A pergunta da
Fabiana, eu deixo para você responder.
A SRA. WILMA FREITAS - Pois é, Fabiana, eu acho que é um pouco do que o Sérgio
acabou de falar, a gestão pública precisa se profissionalizar. E acho que o grande
caminho é começar com o desenvolvimento das pessoas pela perspectiva
empreendedora. É entender que ele ali não é um funcionário público que de uma
determinada época para cá, começou a se tornar um chavão assim de lentidão,
processo burocrático. Ele ali é alguém que está prestando um serviço à sociedade. E
nessa perspectiva ele tem de ser pró-ativo, ele tem de dar respostas, ele tem de
buscar resultados e ter agilidade na sua atuação. Então é fundamental que o setor
público se profissionalize. Porque não é porque ele passou por um concurso público,
que recebe o seu salário ao final do mês e tem uma aposentadoria assegurada, que a
vida dele parou. Na verdade, ele precisa é cuidar das vidas que vêm até ele e que
precisam do trabalho dele. Então, é essa a perspectiva que eu vejo que tem que ser,
cada vez mais, olhada, principalmente agora nesse momento que a gente está aí de
mudanças políticas, mudanças e eleições, acho que precisamos profissionalizar
primeiro aqueles que são candidatos ao cargo, para que eles profissionalizem por sua
vez a sua gestão, através dos seus colaboradores e funcionários.
Nós não temos no Brasil curso para político, aliás, não temos não, temos algumas
iniciativas como sendo, eu gosto do Sérgio que é muito otimista, e perseguir isso é
muito importante. Profissionalizar os candidatos é a primeira perspectiva que eu vejo
que pode acontecer. Existem algumas iniciativas Brasil afora, alguns partidos cuidam
disso. Nós precisamos cuidar com mais profundidade, não adianta só o discurso, é
preciso ter uma prática empreendedora e trabalhar nessa perspectiva.
Eu queria resgatar aí com você um pouquinho a questão de como fazer isso, até por
que isso me toca profundamente, porque foi uma realidade que eu vivi. As mudanças
culturais, como a educação, são cíclicas. Isso vai acontecer no menor tempo possível,
porque os 20 milhões, como Sérgio falou, estão aí. O Gênesis está aí trabalhando com
esse trabalho maravilhoso e fomentando novos negócios. O que a gente precisa é
multiplicar Gênesis, e esse eu acho que é o grande desfio. Que as próprias escolas,
as próprias instituições consigam trazer para dentro do seu escopo de trabalho,
Gênesis, porque só assim que se vai mudar a cultura. Se você não tem o exemplo a
ser seguido, a televisão ajuda, não vamos dizer que não ajuda porque ajuda e muito,
ela é uma forte colaboradora de criação de cultura, moda, cultura, design, a televisão
faz isso, mas é o grande exemplo que arrasta.
Então, com a sua ajuda, criar novas Gênesis, por esse Estado do Rio de Janeiro afora,
para a gente chegar lá.
A SRA. GEIZA ROCHA - Sobre essa questão da educação, da formação do político, a
própria Assembléia Legislativa, reconhecendo essa necessidade, criou a Escola do
Legislativo, e tem trabalhado não só para formar o corpo da Assembléia Legislativa,
para trabalhar com os Deputados, mas também as Câmaras Municipais.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Mas você sabe que boa parte dos Deputados
da nossa Assembléia passou pela Escola de Políticas Públicas da UFRJ, nos anos 90.
A iniciativa foi até de um ex-Deputado, o Luiz Alfredo Salomão, que foi para a UFRJ e
montou a Escola de Políticas Públicas. Como é que aquilo foi montado? No modelo da
Escola John Kennedy de Harvard. A ideia fundamental era você, com um observatório,
não é uma escola para discutir ciências sociais, nada disso, mas para formar políticas
públicas. E isso deu certo durante muitos anos, enquanto o Salomão esteve
funcionando na escola ele fez uma série de projetos, hoje ele levou a escola para a
Cândido Mendes. Hoje, até acho que ele está fora, porque virou Secretário Executivo
daquele Ministério de Assuntos Estratégicos do Planalto. Mas esse modelo, volto a
dizer, estilo MBA.
A SRA. GEIZA ROCHA - Não, não, não.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Estou falando do modelo da Escola de
Governo, Escola de Políticas Públicas.
Eu sou francamente favorável a que a gente comece a pulverizar a formação, no bom
sentido, com modelos como esse que eu falei. Você criar cursos superiores de
tecnologia em gestão municipal, em gestão pública, nessas áreas, porque esse é o
perfil adequado para você formar uma pessoa comprometida com aquilo.
A SRA. GEIZA ROCHA - No caso específico da Escola do Legislativo, é só
rapidamente, eles formam pessoas, inclusive alfabetizam as pessoas ainda que estão
trabalhando como empresa terceirizada, dentro da Assembléia Legislativa, que não
tiveram oportunidade de terminar o Ensino Fundamental e Médio. Então, é toda uma
formação que começa aí e vai até o MBA, porque também já tem cursos de
certificados de MBA. Ele vai pegar lá desde a base, passa pela educação de jovens e
adultos, e avança nessa questão do MBA para poder formar ali um corpo, e o mais
interessante é que também faz trabalhos itinerantes, quer dizer, não fica só aqui na
capital, no Rio, ele vai fazendo também debates interiorizando essa atividade. Na
medida em que a gente vai avançando não tem como abrir mão dessa discussão.
Passando para a plateia, Professor Geraldo Tavares.
O SR. GERALDO TAVARES – Geraldo Tavares, da UFF, inicialmente queria
parabenizar a Geiza pela escolha dos debatedores. Foi um debate muito enriquecedor
Acho que aprendi muito aqui com todos, com o debate.
Queria falar sobre um ponto que acho básico. Estou na universidade desde 92. Eu era
engenheiro. Também como o Paulo, eu sou velho. Eu não tenho 43, mas tenho 40
anos de formado. Então, uma das grandes surpresas que tive na escola de
Engenharia foi quando eu comecei a dar aula e eu, em 92, vi que estava dando aula
igualzinho às aulas que eu recebi em 66.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – É verdade.
O SR. GERALDO TAVARES – E aí nessa época houve um troço muito estranho,
houve uma mudança na sociedade. Eu gosto de evolução. A gente saiu com a queda
do muro de Berlim da Revolução Industrial para a Era do Conhecimento. Aí eu vejo na
universidade todo mundo, posso falar muito mais na Elétrica, na escola de
Engenharia, todo mundo dando aula usando o paradigma da Revolução Industrial, que
era a linha de montagem. Você preparava um cara para ser obediente, não pensar,
ficar sentadinho quieto no lugar dele ali, e nós continuamos fazendo a mesma coisa. E
mudou. Nós estamos na Era do Conhecimento. Nós precisamos de um cara que seja
criativo, que tenha atitudes, e por aí vai. Aliás, gostei muito da chave.
O grande problema que eu vejo na educação superior, e também na educação do
empreendedorismo é a formação dos professores, que é a coisa básica. Nossos
valores são os valores da Revolução Industrial ainda. E como é que mudam esses
valores em uma universidade? Porque nós até como professores, não é só, como diz
um amigo meu lá, aprendizes de ditadores. (risos) Professor na universidade,
principalmente federal, tem um poder enorme. Não há reitor que faça você mudar sua
opinião ou mudar a sua maneira de agir na sala de aula.
Então como a gente faz? Aí eu tenho uma tremenda dúvida. Não sei. Eu não tenho
projeto ainda. Não sei como fazer. Como é que você faz para treinar os professores,
até na área de Engenharia mesmo? Porque um dos valores que tem para você
transmitir no atual teu curso de Engenharia é o valor de engenheirar?
De 90 para cá, aconteceu uma coisa na universidade que é: os engenheiros saíram da
universidade, porque as universidades não estão contratando mais professores de 20
horas e passaram a ser os doutores. E quando você fala, principalmente não com
doutor, mas com PHD, que é o doutor formado no exterior, aí é um “PHDEus”. Aí o
cara está convencido de que ele não é, que ele não é tecnólogo, que ele é cientista,
porque é um nome muito mais bonito. E também porque a CAPs valorizou dentro da
universidade a produção de papel, o paper. Se você produzir um paper sobre AIDS e
for publicado nacionalmente, você tem muitos mais pontos para sua carreira, para a
sua coleção funcional do que se eu descobrir um remédio que cura para a AIDS.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Porque é uma coisa mais séria, que é o
seguinte: na minha área, resistência de materiais, os livros-texto que nós podemos
adotar são do Chames, do Popov, do Merian e por aí vai. Eu não conheço livro do
Sergio Malta ou da Wilma de resistências de materiais, se eles fossem da área. Ou
seja, o estímulo à produção de textos nacionais nada vale na concepção de formação
de promoção nas universidades. Isso é seriíssimo, é tão sério quanto isso que você
está dizendo aí.
O SR. GERALDO TAVARES – Nós temos um problema sério. Por exemplo, se o
Niemeyer quiser dar aula na universidade ele não pode dar, se ele quiser fazer o
concurso, porque ele não tem, ele não é PHD ou doutor, e hoje em dia é um critério
básico na maioria das universidades federais só dá aula quem tem doutorado, no
mínimo. Então, você não pode contratar um cara que seja um profundo conhecedor do
assunto.
Aí eu tenho uma série de duvidas na parte de empreendedorismo. Você tem 20
milhões de empreendedores no Brasil. Desses 20 milhões deve ter alguns que devem
ser fantásticos e não são, mesmo que tenham nível superior, não são doutores. Como
é que você contrata um cara desse para a universidade para dar um curso do
empreendedorismo? Eu não acredito, realmente, que o cara possa dar um curso de
empreendedorismo se ele só fez estudar. Porque o problema do PHD que eu vejo hoje
em dia é o seguinte: o cara se formou, era bom aluno, o professor o convidou para
fazer um mestrado, ele fez o mestrado, foi um bom estudante. Aí o orientador dele o
convidou para fazer um doutorado, ele fez o doutorado, aí ele não consegue mais
voltar para o mercado. Então, faz o concurso na universidade e ele não concorre, por
exemplo, com um profissional que tenha 30 anos de experiência naquela área porque
o profissional não tem o titulo de doutor. Ele, de repente, que é recém-formado, ele
vira o professor da universidade que tem que orientar as pesquisas, e esse é um
problema sério que eu vejo sobre empreendedorismo, qual é a sugestão de vocês
para que a gente possa levar para a universidade esse pessoal com uma tremenda
experiência que possa passar principalmente os valores do empreendedorismo,
porque na chave, se você não tem valores, você não consegue passar valores que
você não tem, se você não tem entusiasmo por empreendedorismo, você não
consegue passar entusiasmos para os seus alunos.
Eu ouvi outro dia, na universidade, um aluno de um professor, dizendo o seguinte:
“Como é que um cara pode dar aula sobre bolsa de valores se o cara é pobre? Eu não
assisto à aula dele porque o cara só fala coisas que é abobrinha”, e, pensando bem,
tem razão. Eu gostaria que vocês comentassem esse assunto.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES – Eu posso fazer um comentário aí? Só um
minuto, nessa sequência, fomos visitar um departamento, fui eu e o Pelúcio, o Zé
Pelúcio Ferreira, na época Secretário de Ciência e Tecnologia, não, era presidente da
FINEP ainda, isso faz muitos anos, e nós fomos convidados a visitar uma
universidade, a universidade de London, no Estado de Ontário, no Canadá, e fomos à
faculdade de medicina, e eu assisti uma cena extraordinária, e daí para frente eu
sempre tomei todo cuidado com o médico que eu escolho porque eu aprendi lá como é
que funcionava o negócio, é essa questão do tempo integral e do PhDeusismo, o que
acontecia? Eu cheguei na universidade às 10 horas da manhã e fui para os
departamentos médicos, aí a secretária do departamento de clínica, uma secretária
estava de jeans, tênis, muito bonitinha, tranqüila, toda esportiva, como o ambiente
acadêmico exige, quando chegou duas horas da tarde, nós voltamos do almoço com o
professor e a secretária tinha se vestido num tremendo tailler, meia, salto alto, aí eu
perguntei: “Tem festa?”, ela disse: “Não, não, é que a partir de agora, o professor
fulano-de-tal vai começar a atender os seus clientes privados, dentro do hospital da
universidade e esses clientes pagam alto pelas consultas, então, eu tenho que me
vestir como uma secretária”, ou seja, o ambiente se transformou porque você exercia
uma ação empreendedora, o próprio professor sabia disso, ou seja, é o que eu digo,
por que a COPPE dá certo? A COPPE não dá certo porque a COPPE tem um monte
de doutores, a COPPE dá certo porque ela tem ao lado dela a COPPETEC que exerce
as funções que são as de levar a inovação e o empreendedorismo para as bancadas
de laboratório, acho que esse é o ponto crítico, quer dizer, aí você chega na faculdade
de medicina...
Quando eu contei essa história, um colega meu da faculdade de medicina, professor
da UFRJ me disse: “Bom, aqui eu costumo medir da seguinte maneira, eu olho pela
cor”, nessa época havia transparência ainda, “ se a transparência está muito
amarelada, aquele camarada não serve para ser meu médico, porque é sinal que os
casos clínicos que ele está apresentando são bem antigos”, então, esses pontos
acabam sendo fundamentais, eu, outro dia, criei um critério de avaliação, conversando
com o Ministro Fernando Haddad, eu disse: “Olha, para mim, um grande critério de
avaliação que existe hoje numa universidade é o seguinte: eu quero saber quantos ex-
alunos do curso de graduação estão dando aula na universidade”, porque se eu tenho
ex-alunos dando aula, é sinal de que esse universidade está formando bons
profissionais e essas coisas têm que ser consideradas, a questão crucial hoje na
universidade é que você criou uma carreira docente que não preserva as
peculiaridades das nossas profissões.
A SRA. GEIZA ROCHA – Não dialoga com as profissões.
O SR. PAULO ALCÂNTARA – Então, o que acontece é que você, por exemplo,
formava..., e eu tive aulas na escola de engenharia, em 1960, com indivíduos
extraordinários, eu jamais me esquecerei do Antônio Alves Noronha dando aula, eu
jamais me esquecerei do meu orientador de doutorado, que só tinha graduação,
Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro, que foi talvez o maior dos engenheiros civis da
história do Século XX, ele não tinha doutorado, não tinha mestrado, não tinha uma
graduação, entretanto, quando ele falava, se a COPPE tem o projeto da Petrobras, na
verdade, quem fez? Lobo Carneiro, todos aqui sabem disso, todos que trabalham em
engenharia, entretanto, essa política, essa idéia de você fazer pelo que você sabe,
pelo que você aprendeu pela tua experiência, desapareceu, entendeu? Acho que
esses pontos são fundamentais, a gente tem que mudar um pouco a carreira docente
e a confederação nacional da indústria do sistema S, está fazendo isso, com o Inova
engenharia, ela está criando programas piloto, a gente tem que tomar cuidado para
não ter uma expansão desenfreada que aí não vamos aguentar. Agora, esses pontos
são críticos. O ponto do livro-texto para mim é fundamental, quer dizer, não se prioriza
mais o professor que escreve um texto de graduação, hoje até está voltando um pouco
isso, está melhorando, mas continua dando prioridade para o paper na revista nível A,
Qualitas, nível 1, não é isso? E isso daí vai deixando para trás a elaboração de uma
cultura nacional que vai se perdendo no espaço. Quer dizer, a gente passou a não ter
livros em determinadas áreas.
A SRA. MARISA EGRÉGIAS – Bom dia a todos, meu nome é Marisa Egrégias, a
minha instituição é o Colégio Estadual Antonio Prado Júnior, faço parte do curso de
Turismo, da Secretaria Estadual de Educação, faço parte de um curso de Turismo,
que já existe há mais de 30 anos, e tem um novo formato, de 2000 pra cá. Esse curso
de Turismo, em 2008, acredito até que pelo reconhecimento, foi convidado pela
Secretaria Estadual de Turismo para participar, para fazer uma proposta, para
participar da carta consulta do Prodetur do Rio de Janeiro. Nós fizemos uma proposta
de formação em Turismo, na ocasião, e a proposta participa, hoje, do Prodetur do Rio
de Janeiro, na verdade, hoje, é o que encabeça o colégio, encabeça o Prodetur. Para
tanto, o colégio recebeu, até na época, não era Prefeito ainda, era Secretário de
Turismo, Sr. Eduardo Paes, uma quantia, de 500 mil dólares, para que nós
desenvolvêssemos o projeto e assim foi feito a partir daí e, depois, pela importância da
questão do turismo, da formação em Turismo no Rio de Janeiro, o projeto ganhou ares
novos. Projetamos afinal, foi dada essa possibilidade, que fossemos atrás de um
sonho, do que seria ideal, em termos de formação em Turismo, no Rio de Janeiro, e
daí projetamos a Escola de Turismo do Rio de Janeiro. E aí, eu estou contando essa
história para dizer o seguinte, a princípio, que pessoas, professores, empreendedores,
dentro da Secretaria Estadual de Educação, eu sou professora de sala de aula, sou
professora de turmas, trabalho no curso de Turismo, a gente está lá, a gente existe. E
não só dentro dessa perspectiva como também até, a gente vem se ajudando
também, nós temos esse grupo, tem um grupo que está hoje auxiliando outros
professores, no sentido de alavancar, de criar situações diferenciadas, a gente, por
exemplo, porque a gente tem um olhar em turismo, a gente entende, por exemplo,
que, dentro da educação normal de sala de aula, deveria estar lá um aprendizado de
surfe, por que não? A Austrália faz isso. Montanhismo, nós vivemos entre o mar e a
montanha, como assim a gente não tem dentro da sala de aula um aprendizado de
montanhismo, para a gente não se perder nas florestas, para a gente saber lidar com
o mar, velejar? A gente até tem feito, auxiliado, dentro do que é possível e do que está
proposto, essa busca. Então, o empreendedorismo existe dentro das escolas e dentro
dos níveis, digamos assim, professorado. No caso da Escola de Turismo, a gente
terminou esbarrando na situação que apesar de tudo isso estar caminhando dessa
forma, a gente hoje luta com uma questão de espaço. Segundo o responsável pela
Secretaria de Obras que é o contato mais próximo que a gente tem em relação do
Prodetur, há um interesse tão grande dessa construção, dessa escola, da existência
dessa escola que eles se propõe a levantar a escola se for necessário. Mas a gente
não tem um espaço físico.
Então talvez a minha fala vem muito do sentido de dizer que talvez a gente precise
também ajustar um pouco esse foco, o empreendedorismo está aí, a gente tem isso.
As escolas, talvez em alguma medida estão funcionando e os professores têm
também essa disponibilidade interna da mudança. Tudo bem, talvez eu e o meu grupo
que está aí vestindo a camisa, enfim, talvez não sejamos um percentual muito grande
dentro da rede toda mas que estão lidando com outros problemas e talvez muito
provavelmente de uma forma muito criativa. Estou comentando só pra gente pensar
isso também, talvez o foco possa por outros lugares.
O SR. MANOEL SERAFIM – Bom dia, eu sou Manoel Serafim do jornal Relato. Eu fico
analisando o nosso País, o país mais rico do mundo, não tem uma coisa tão rica como
essa no planeta, não sei porque descobriram isso tão cedo, podiam descobrir mais
tarde para não estar essa exploração terrível que está aí. Vejo este país atravessando
uma miséria terrível, uma violência. Tudo isso que está aí me leva a crer que quando
se fala em cultura nós estamos numa cultura errada, artificial, mesmo porque ela não é
nossa, era do português, invasor, estamos com ela na nossa cabeça, estamos sem
saber o que fazer porque a cada que passa fica pior, ela é artificial, não evoluiu, cada
vez fica pior e na verdade deixamos a nossa cultura lá pra trás porque como falava
Ruy Barbosa e o Darcy Ribeiro, o Tupi-Guarani, por exemplo, essa cultura original da
terra que nós abandonamos e pegamos uma que não é nossa. Acho que tiraram a
correntes dos nossos pés e botaram na nossa cabeça. Hoje estamos perdidos sem
saber o que fazer, lutando para evoluir sem conseguir, parece até que estamos
entrando num areal movediço, cada vez nos enterramos mais. Estão esperando as
inovações e cada vez se torna pior, pelo quadro que se vê, tudo parado e a gente vai
aprendendo a cada dia que passa com essas inovações que não levam a nada. E
ainda estão querendo Copa do Mundo, Olimpíadas, esperando um trocadinho que o
gringo traga para nós. Um país tão rico como esse e deixamos desperdiçar essa
riqueza, entregando de mão beijada para os outros, eu cansei de ver isso. Por
exemplo, em Serra Pelada, tiraram aquele ouro todo. Levaram para onde? O Paraguai
foi o primeiro exportador de ouro para o mundo, não tem ouro. E assim com os outros
minérios que temos, o país é o mais rico em minérios. Nós poderíamos estar bem
melhor no planeta, sem precisar depender disso ou daquilo. A nossa cultura não ajuda
e não vai ajudar porque eu não vejo solução para isso porque cada vez mais que
avançam lutando nisso ou naquilo, eu não vejo avançar em nada, não produz nada,
não criam. De lá de Oswaldo Cruz pra cá não fizeram mais nada. É como fala o
argentino: brasileiro é macaquito de imitação. Nós pegamos as coisas dos outros e
beneficiamos, mas nós não temos nada. Por que? Qual é o problema que está
havendo neste País? Será que as cabeças não funcionam? Não é possível, tão rico e
está na miséria. Países muito mais pobres do que o nosso está melhor do a gente. O
que está havendo com a nossa cabeça? Então nós temos que começar com a nossa
cultura. A cultura verdadeira é a Tupi-Guarani. Por que não pega essa cultura e leva
para as crianças nas escolas? Uma cultura original como a nossa, verdadeira. Vamos
evoluir a nossa cultura e deixar a cultura dos outros, é necessário, o saber não ocupa
lugar, você pode ter a cultura de todo mundo, que nem dizia o Rui Barbosa. Não tem
problema.
Mas a nossa, nós temos que ter, a verdadeira, e não ficar que nem macaco de
imitação, imitando as coisas dos outros. Onde nós vamos chegar? Explica. Em lugar
nenhum, porque nós temos um país tão rico do jeito que está e que não sabe nem
gerenciar o que temos.
Até a política que está havendo aí. Você (TRECHO ININTELIGÍVEL) vamos formar
políticos. Formar políticos? Mais do que eles estão formados? Querer roubar mais
ainda? Botam dinheiro na cueca, botam dinheiro na meia..
A Sra. GEIZA ROCHA – É só para o senhor ser mais conciso e a gente fechar essa
discussão, porque tem outras pessoa querendo falar.
O SR. MANUEL – Vou fechar, mas é necessário, porque tem que sair daqui pessoas
com a mente certa, sabendo do que está acontecendo neste País e não se elevar
pelas fantasias da renovação onde não leva a nada.
Nós temos que criar, desenvolver o QI, o raciocínio, para alcançar a plenitude e a
razão. Muito obrigado.
O SR. CLAYTON – Bom dia para todos. Eu estou aprendendo muito, mas a Educação
começa em casa. Se tiver uma estrutura em casa, o aluno vai bem no colégio. Hoje
em dia, nos colégios públicos em que você aprende, muitas pessoas não estão
aprendendo; saem do colégio sem a base e entra na faculdade e não consegue
avançar, não consegue terminar porque não tem estrutura na família e também não
tem condição.
O professor ganha mal; o professor não ganha bem, está ganhando mal e fica
dando...fica em quatro lugares para dar aula, quatro colégios para ganhar um salário
razoável. E o governo ao invés de ajudar, de dar aulas de empreendedorismo para os
professores, que precisam aprender empreendedorismo para lidar com os alunos e
para passar aquilo que aprendem nos colégios, com a Educação, e passar para o
aluno, para o aluno sair com a cabeça bem formada, para entrar numa faculdade e
sair formado e ser um grande administrador, empresário, um advogado, um excelente
advogado.
O SR. VINÍCIUS MORO– Bom dia, meu nome é Vinícius e eu sou administrador da
Prefeitura Municipal de Maricá.
Bem, as dúvidas que eu tinha foram todas ficando, praticamente. Parabéns aí aos
debatedores. Eu só queria que falasse um pouco mais da participação da sociedade
nessa questão do empreendedorismo.
Eu gosto muito de dar exemplos próprios assim, que eu presenciei. Por exemplo,
quando eu estava na faculdade, assim que eu entrei, eu fui procurar emprego. Eu me
formei em Administração na UFF e fui procurar emprego.
E eu vi uma resistência – nem tanto dos meus pais, mas da minha avó, dizendo: “Vai
procurar emprego, para quê? Vão pensar que você está precisando. Você não precisa
de emprego. Estuda, se forma e depois você vai entrar no mercado de trabalho”.
E às vezes tem gente que fala que “você vai estudar e não vai trabalhar”. A própria
faculdade, minha formação, os piores alunos, entre aspas, são os mais bem sucedidos
hoje no mercado de trabalho, talvez porque tinham características que a faculdade não
valorizava, que é a atitude, esse lado empreendedor.
E aqueles que eram mais “caxias”, que eram “nota 10”, com CR acima de 9 – como
encontrei uma, que fui fazer um concurso público e eu estava disputando no nível
superior e ela, que era a melhor aluna da minha sala, estava fazendo para o ensino
médio, porque não se sentia ainda preparada.
Então, era isso que eu queria que fosse colocado, a questão da sociedade, o papel da
classe média e da imprensa. E que alguém pudesse falar também de como anda a
política de microcréditos aqui no Brasil.
(RISOS)
A SRA. GEIZA ROCHA – Eu volto então aqui para a mesa, a gente não tem mais
pergunta na plateia, então, a ideia é a gente fazer os últimos comentários, rebater um
pouco do que foi dito, quer dizer, fazer essa dinâmica, e aí para as considerações
finais.
Sérgio.
O SR. SÉRGIO MALTA – Com relação ao microcrédito produtivo, ele tem acesso ao
crédito as pequenas empresas em geral. Isso tem crescido muito, esse crescimento
das pequenas empresas. Com a lei geral da pequena empresa não só os bancos
oficiais, mas todo o sistema bancário de certa maneira o sistema produtivo de
empresa média para cima já estava um pouco saturado e então começou a atacar
fortemente esse segmento, existem as carteiras de crédito importante para as
pequenas empresas, isso é recente. É até bom que seja recente, porque se as
pequenas empresas tivessem tomado dinheiro emprestado quando os juros estavam
altíssimos, talvez tivesse quebrado. Na verdade, esse movimento de pequena
empresa, a abertura de pequena empresa em geral se faz com capital próprio tomado
de familiares, amigos, mas agora, isso que também era obstáculo para a prosperidade
das pequenas empresas, que é o acesso ao crédito, vem se desenvolvendo muito no
Brasil nesse passado recente.
Como mensagem final, gente, eu quero dizer o seguinte: o Brasil está vivendo um
momento de grande prosperidade. Nós achamos que essa prosperidade vai ser
sustentável, ou seja, está entrando não num ano de prosperidade, mas numa era de
prosperidade, em que as pequenas empresas e os empreendedores vão ter papel
muito importante porque o principal problema brasileiro ainda é o da justiça social.
Para vencer esse problema, tem que ter educação principalmente, é a principal arma,
mas tem que ter também o papel maior da pequena empresa na economia e no
sistema brasileiro.
Eu acho que o que tem acontecido num passado recente, nesta década, da virada do
século para cá, tem sido esse fortalecimento. E isso tem se realizado eu acho que em
cima de um consenso nacional, do qual um produto importante, como citou o Paulo, foi
a lei da pequena empresa, outros produtos foram as iniciativas legislativas da Alerj no
sentido de facilitar, através das diversas comissões econômicas, a Frente Parlamentar
da Pequena Empresa que existe na Alerj, de facilitar a pequena empresa, que ela
possa ser criada, que ela possa se desenvolver.
Aqui no Rio de Janeiro, temos o ICMS que está incluído no Super Simples, que é o
menor de todos os grandes Estados brasileiros. É importante que as empresas
possam viver sua vida, criar emprego, gerar riqueza.
É claro que nem todo mundo nasceu para ser empreendedor e empresário. Tem que
ter certas características, tem que ter persistência, tem que ter curiosidade, tem que
ter até certo carisma, tem que ter planejamento, tem que ter ousadia, possibilidade de
correr riscos calculados. Nós já temos 20 milhões, quase 20% da população
economicamente ativa que exerce essa atividade, empreende.
Eu acho que se você que está ouvindo a gente tem essas qualidades, ou pensa que
tem, procure o SEBRAE. Se não quiser procurar o SEBRAE, deve ter a associação
comercial da sua cidade, ou o sindicato do comércio, o sindicato da indústria, enfim,
procure as entidades que cuidam desse assunto, para poder se informar mais, porque
o momento é esse. Acho que as empresas vão ... Isso é importantíssimo nessa era de
prosperidade que o Brasil, e o Rio especialmente – o Rio, com tudo isso que vai
acontecer no Rio, certamente vai crescer mais, vai prosperar mais do que o Brasil,
recuperar um pouco uma colocação que já teve no passado; desculpe eu te corrigir,
mas o Rio é o segundo PIB.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Segundo PIB, mas por causa do royalty.
O SR. SERGIO MALTA - E São Paulo que se cuide, porque com o pré-sal aí!
A SRA. WILMA FREITAS - É. Nós vamos ultrapassar São Paulo, com certeza.
O SR. SERGIO MALTA - Eu não sei, mas a gente tem que ser otimista.
O SR. SERGIO MALTA - E faço o convite para que aqueles que estão estudando que
pensem em empreender e aproveitem essa onda de crescimento que o Rio e o Brasil
vão viver esses próximos anos.
Só um adendo, uma pequena interrupção: quem estiver com celular, por favor desliga,
porque dá uma interferência aqui nos microfones e acaba alterando a discussão.
A SRA. WILMA FREITAS - Bom, eu gostaria de fechar essas questões que foram
colocadas, fazendo um elogio aí à Escola de Turismo.
É bom porque cite, eu fui professora estadual também, fui diretora de uma escola
estadual, uma escola centenária, que é o Liceu de Humanidades de Campos. Eu acho
que um projeto dessa natureza tem que ser fomentado no dia a dia do estudante da
escola regular, principalmente da escola pública, porque a escola pública tem um
ponto que a escola privada não consegue trazer, que é a diversidade, o convívio com
os diferentes. Então você tem num mesmo ambiente o menino que tem pouca
condição financeira, o que é abastado, e depende muito da equipe de docentes que
está ali e da direção dessa escola fazer com que essas pessoas cheguem até ela.
Então atrair para a escola um projeto como a Escola de Turismo, num estado em que
o turismo é um dos grandes fomentadores e um dos grandes movimentadores da
economia, acho que é digno de elogio. Parabéns. Acho que isso é muito bom. E
realmente, é introduzir a inovação, o empreendedorismo dentro do seio da escola, de
tudo o que acontece lá dentro, de uma forma estruturada, respondendo a um projeto
como o Prodetur, que tem uma importância muito grande.
A gente viu ao o Prodetur Nordeste o que foi. Agora o Prodetur do Sul e Sudeste, o
que aconteceu. Então parabéns à Escola. Conheço a Prado Júnior, me relacionei
muito com ela na época em que eu trabalhava no Estado.
Uma outra questão que quero dizer aqui é o seguinte: acho que o Sr. Manoel, quando
fez as suas colocações, é uma colocação aguerrida, é uma colocação que vem ... A
gente percebe que ele tem assim ... Ele quer ver esse Brasil, que é dele, do jeito que o
Brasil precisa crescer. Mas não são essas questões externas que vão interferir. Eu
acho que esse Brasil vai continuar sendo rico, vai continuar crescendo e acho que,
com a ajuda de todo nós vamos conseguir chegar nesse Brasil diferente, que
precisamos ter.
E eu queria fechar dizendo uma coisa para ... Aliás, para você que perguntou sobre o
microcrédito. Desculpe, eu não me lembro o seu nome.
E a minha mensagem final aqui é dizer para vocês que eu espero que esse Fórum
prossiga, que ele traga frutos, porque eu acho que para a gente sair para uma nova
perspectiva para este Estado nós precisamos de debates como esse, de diálogos
muito claros com a sociedade, com a universidade, com outras instituições que fazem
girar a sociedade civil organizada, mas também têm projeto concreto com produtos,
com prazos e metas a serem cumpridas. Acho que fica esse desafio para as pessoas
que estão nos ouvindo, para vocês que estão aqui na platéia, de pensarmos, nós já
estamos com o diálogo aberto, pesquisas já estão sendo construídas como o IPEA e
outros institutos de pesquisas, a própria FGV que tem mostrado para a gente, trazido
demonstrativos maravilhosos. Está faltando a outra perna começar a acontecer Acho
que com o apoio da ALERJ e do próprio Fórum, a gente pode pensar em futuro de
médio prazo em constituir aí um grupo para um projeto realmente acontecer, de fato,
num tempo que é o de agora, porque ele é rico, propício e fértil para as novas idéias.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Bem, eu vou abordar três, das quatros
intervenções, porque o Vinício já foi muito bem respondido pelas intervenções do
Sérgio e da Wilma.
A Mariza foi muito elegante ao colocar a sua questão, porque de fato ela demonstrou
uma coisa para todos nós. Às vezes, é preciso que as políticas públicas sejam
capazes de estabelecer prioridades para a solução dos problemas, e colocar essas
prioridades de fato na prática. Quer dizer, quando ela levantou a questão do espaço,
ela de fato levantou um problema que precisa ser resolvido pela Secretaria de
Educação ou pela Secretaria de Obras ou até pela Secretaria de Planejamento no
sentido de dizer a Escola Prado Júnior no seu curso de turismo é uma prioridade
porque ela passa a ser determinante na realização, na concepção dos objetivos de
política de turismo do Rio de Janeiro, e ela precisa de mais espaço. Quer dizer, é uma
maneira que a gente tem de dar um recado elegante. Como eu sou do Conselho
Estadual de Educação, vou sair daqui e vou comentar com a Secretaria, da
necessidade de pensar em como vai garantir isso. Porque acho que você colocou a
coisa de uma forma extremamente britânica mesmo, elegantérrima. Mas, o recado
chegou e eu me comprometo a pelo menos ser o intermediário desse recado.
O Clayton colocou uma coisa importantíssima e eu acho que nós temos um problema
para resolver muito sério. Lá na Zona Oeste, eu trabalho numa universidade da Zona
Oeste, nós criamos um projeto pelo negócio da família na escola. Quer dizer, o
Senador Cristóvão Buarque disse muito bem que o ponto crítico do Brasil hoje é a
família. Ele não quis dizer que á a família legalmente constituída. Não é isso. Ele quis
dizer que na família surge a idéia da educação. E nós observamos um dado que eu
considero crítico, nas escolas da Zona Oeste, você sabe que na Zona Oeste, banda
de Realengo, Santíssimo, etc, você tem um índice de IDH mais baixo. Não é muito
baixo, mas entre os doze índices do Rio de Janeiro está em 10º lugar. Quer dizer são
índices relativamente preocupantes.
Quer dizer, nós temos que entrar numa política que seja capaz de atingir a família
nesse sentido. Isso é muito difícil. E isso, eu volto a dizer, depende de fato, dos meios
de comunicação. Acho que esse é um ponto crítico.
Já imaginou, isso foi em 86, no início do governo Sarney, quando começou, foi o
primeiro Ministério da Ciência e Tecnologia, se tivéssemos hoje, quase 24 anos
depois, desenvolvido uma política de bambu? E hoje o que teríamos feito daquelas
centenas de olarias que existem naquela região e outras no Brasil?
Temos que entender que o novo veio para mudar, não pode ser usado com
perversidade. Essa é uma questão crítica que a gente tem que resolver.
Uma questão que o Vinícius falou, que acho que é um problema muito sério na família
brasileira. A família brasileira continua credencialista. Quando fui estudar Engenharia,
no almoço de domingo, os comentários que ouvi eram os seguintes: Existem cinco
profissões no Brasil – fiz o vestibular em 62 – padre, engenheiro, médico, advogado e
funcionário do Banco do Brasil. As outras profissões não existem na visão. Isso era
comentário de tios e depois acrescentaram os militares e para a mulher a professora
primária do Instituto de Educação. Essa era a cabeça da sociedade brasileira, que não
se modificou muito, porque não fomos capazes, através dos meios de comunicação,
de mostrar que hoje existem os tecnólogos e outras profissões. As pessoas ficam
estarrecidas, perplexa, quando alguém fala que é um designer. A primeira coisa que o
indivíduo diz – nós dois ouvimos isso de uma renomada pessoal da sociedade cultural
do Rio de Janeiro - “Ah! Ele é um artista”. Foi ou não foi? Vejam vocês uma coisa
interessante. A família não está acostumada com as novas profissões. Acho que a
gente viu o Fórum, fica uma sugestão aqui, o Fórum devia se preocupar em analisar o
futuro das profissões e, ao mesmo tempo, as profissões do futuro. Isso seria um tema
interessante para o Fórum discutir. O futuro das profissões versus as profissões do
futuro. Fizemos dois seminários com o Arnaldo Niskier e foi muito interessante, porque
fizemos o ano passado. Um grupo do conselho administrativo do CIEE começou a
discutir isso. Por quê? Porque as pessoas não entendem que o futuro das profissões
está na mudança cirúrgica delas, assentindo em cursos que hoje têm cinco anos, e
continuarem a serem oferecidos em cinco anos, numa época em que os
conhecimentos ficam obsoletos em três anos e meio, quatro anos. Por que razão nós
temos cursos em determinadas áreas – não vou me restringir a uma ou duas para não
gerar polêmica -, que poderiam ser perfeitamente oferecidos em dois ou três anos?
Por que razão as profissões não são vistas de uma outra forma, de uma maneira mais
clara em relação àquilo que nós discutimos aqui ao longo de muito tempo, nessa
reunião, da aferição dos saberes e das competências e habilidades dos indivíduos.
Essas coisas têm que ser colocadas em discussão muito rapidamente. E esse é o
papel do Fórum.
A SRA. GEIZA ROCHA - Nem só em discussão, mas acho que ainda tem que partir
pra para a prática.
O SR. PAULO ALCÂNTARA GOMES - Eu também acho. Agora, acho que nós, no
Fórum, temos que ter uma estratégia de inaugurar projetos pilotos. Quer dizer, eu
sempre sou muito prudente, às vezes, excessivamente prudente, e eu tenho muito
medo de grandes projetos estaduais ou nacionais, porque a minha visão é de que isso
acaba não dando certo, pela resistência. Então, um projeto piloto em que você designa
a instituição A, a instituição B, a instituição C, capta recursos na Faperj ou na
InvestRio e cria um programa tipo subvenção econômica para lançar os projetos
pilotos, dando um prazo para o andamento daquele projeto, sob a supervisão de um
comitê executivo daqui do nosso Fórum, eu acho que isso pode dar bons resultados.
Agora, o que dá resultado mesmo é essa discussão. Eu acho que vocês estão de
parabéns pela organização. Quer dizer, nós é que fomos privilegiados aqui pela
possibilidade de participar de um debate como esse. Porque alguém falou aí que
aprendeu muito. Eu acho que é o contrário: eu, pelo menos, aprendi muito aqui,
ouvindo as intervenções de todos vocês, todos, sem exceção. E cada uma das
palavras de vocês me lembrou de coisas que as universidades, dos livros-textos, da
apropriação de tecnologias, do corporativismo, da resistência, da necessidade de olhar
melhor as políticas públicas para que elas virem fatos, da necessidade de convencer a
sociedade de que o moderno tem que surgir em lugar do antigo sem desmerecer o
antigo.
Quando nós tínhamos um problema com o Paraguai, nós resolvíamos indo lá e saindo
na briga com o Solano Lopes. Hoje, quando a gente tem um problema, com a
Bombardier do Canadá, a gente vai pra OMC, para Organização Mundial do Comércio,
porque o agente não é mais o estado nação, são as grandes... Quando surge o
problema da bomba nuclear no Irã, vai o presidente da República pra lá, vai o
primeiro-ministro da Turquia, mas a discussão vai acabar no Conselho de Segurança
da ONU.
Quando você discute a pesquisa no mundo, hoje, você não fala do grupo de pesquisa
da Fiocruz, ou da UFRJ ou da USP ou da Unicamp ou da PUC do Rio de Janeiro, você
fala no projeto Genoma ou no projeto de terapias celulares, que têm grupos
espalhados pelo mundo inteiro, e você não consegue identificar quem está fazendo.
Essas questões mudaram a face do mundo, e o mundo precisa entender que o
conceito de fronteira mudou completamente, e isso muda o conceito de educação.
Porque nós temos que ter, hoje, mobilidade transnacional. Os franceses e alemães
estão indo ocupar os postos de trabalho dos espanhóis. Tem índice de vinte e cinco
por cento, vinte por cento de desemprego na Espanha, mas não tem posto de trabalho
para oferecer porque está cheio lá - não é verdade, Sergio? -, está cheio de francês e
de alemão, que veio dos IUTs, das Université Du Technologie, das Technical School e
aquelas coisas todas da Alemanha, vão pra lá pra ocupar os postos de trabalho.
18/05/2010
Mesa:
Platéia:
- Francisco Marins