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Cadernos do Fórum
Mobilidade
e desenvolvimento econômico
20.05.2010
Organização: Realização:
ÍNTEGRA DO EVENTO CADERNOS DO FÓRUM 2010 -
Agradecimentos:
A Sergio Malta, superintendente do Sebrae-RJ, parceiro deste projeto desde que ele
não passava de algumas linhas escritas no papel;
A SRA. GEIZA ROCHA – Bom dia a todos. O tema do nosso projeto Cadernos do
Fórum de hoje é a mobilidade urbana e crescimento econômico. E para conversar
comigo aqui na Mesa eu convido Nara Maia.
A SRA.GEIZA ROCHA - Bom dia. Todo mundo sabe o custo de perder a vida aos
poucos no trânsito, e, sobre esse tema, hoje é que a gente vai discutir. Quais são as
soluções e as possibilidades para o futuro do Estado do Rio de Janeiro. Mas, antes de
a gente começar a falar, eu vou só exibir um vídeo da Associação Nacional de
Transporte Urbano - desculpe, da Associação Nacional de Transportes Públicos.
(EXIBIÇÃO DE VÍDEO)
A SRA. GEIZA ROCHA – Os dados desse vídeo que foi exibido são de 2006, mas
algumas preocupações são bem atuais.
A SRA. NARA MAIA – Existe um mantra que nós repetimos. Acho que já, pela
repetição nós falamos que já é um mantra: transportes não é um fim de si mesmo.
Quer dizer, nós não saímos de casa simplesmente: vamos sair para nos transportar.
Nós saímos devido a alguns interesses, quer dizer, por interesses e necessidades do
indivíduo.
Apenas a população de baixa renda é refém desse transporte coletivo, quer dizer, de
todo ônus de tempo de viagem, de custo do transporte coletivo.
Não. Tem a população de alta renda que hoje naturalmente opta pelo carro por
questão de facilidade, de oportunidade de renda. Ela está refém do ônus que nós
temos nas ruas do transporte motorizado. As vias estão cada vez mais
congestionadas, com um número maior de automóveis, o número maior de ônibus
também. Por quê? Porque a maior parte da oferta é em ônibus e não em outros modos
de transporte ferroviário e metroviário. As redes ainda são acanhadas.
Aí nós perguntamos, por que a opção pelo automóvel? Porque não temos um
transporte coletivo, um transporte público, na verdade. Porque quando nós falamos
isso entendemos transporte coletivo, ônibus. Mas transporte de massa que tem uma
capacidade maior. Então, seria o trem e o metrô. Porque a rede hoje é acanhada por
questões de investimentos ou simplesmente por uma política de transportes que opta
pelo transporte motorizado e não ferroviário, e ferroviário e metroviário. Mas é uma
pergunta, do momento em que um usuário de transporte coletivo ele galga, hoje ele é
cativo do transporte coletivo, isso é um questionamento para todos, ele galga um nível
de renda e o primeiro pensamento é exatamente comprar um carro e passar a utilizar
o automóvel, mesmo que seja um carro 1.0, ou seja, ele acaba contribuindo para o
congestionamento das vias.
A SRA. GEIZA ROCHA - É que às vezes as pessoas não se dão conta do custo que o
carro tem nessa dinâmica. Mas parte da solução para os congestionamentos está no
planejamento urbano. E aí eu queria ouvir um pouco o Sérgio sobre esse tema. Qual
seria o planejamento ideal que permitisse essa mobilidade que é o tema do nosso
Fórum.
O SR. SÉRGIO MAGALHÃES – O planejamento não é destituído de intenções. Ele
não se coloca em pé simplesmente por ele mesmo. Tanto que a opção pelo automóvel
é uma decisão de planejamento. A decisão por transportar as pessoas nas metrópoles
através de modo sobre pneus não é da natureza; foi algo planejado. Foi planejado
nos anos 60, quando se desconstruiu o sistema de bondes nas grandes cidades; todas
as grandes cidades brasileiras nos anos 60 perderam o sistema de bondes, que fazia
a permeabilidade quase que completa da cidade, e o sistema de transporte público por
trens urbanos nas cidades que o tinham também passou a sofrer uma deterioração,
que não é também da natureza, é do planejamento.
A SRA. GEIZA ROCHA - Mas como é que a gente traz essa discussão? Porque
também a gente sempre fala Brasil, Brasil, é o país. E a gente não tem esse costume
de pensar cidade que onde a gente mora, a gente vive, que é onde se organiza a
nossa vida. O que tem que ter na cidade? O que falta nas cidades do país?
O Rio de Janeiro, pela sua história, pelo modo como se desenvolveu, a partir do final
do século XIX, ela se estruturou pelos caminhos de ferro, a partir da Central do Brasil,
se construíram as linhas de trens urbanos, e fizeram com que o subúrbio da zona
norte passasse a ter uma estrutura muito superior, sob o ponto de vista urbanístico, a
que o normal das cidades brasileiras, grande ou médias, ainda têm. O Rio tem uma
excepcional estrutura urbanística, que decorre justamente desta história da construção
da cidade, a partir das linhas de ferro e dos bondes.
São dois aspectos aí que se interligam, a decadência do sistema suburbano por conta
da decadência do sistema de transporte, e a expansão exagerada que esse modo
sobre pneus veio ocasionar.
A SRA. GEIZA ROCHA - Mauro, qual é o custo econômico da opção pelo transporte
individual? O que isso traz de desordenamento dentro da cidade?
O SR MAURO OSÓRIO – Gostaria de começar parabenizando o Fórum e a Alerj por
todos esses debates que tem feito. Acho que há, de fato, uma carência na reflexão
regional, embora ela tenha que estar integrada com a nacional, isso é uma coisa que
tenho procurado enfatizar. Se nós entrarmos hoje nos programas de mestrado e
doutorado em Economia no Estado do Rio de Janeiro, em todas as universidades, não
existe uma linha de pesquisa na área de economia regional.
Eu acho que no geral ainda tem que amplificar a reflexão sobre isso. Na verdade, o
Rio de Janeiro passou por um processo de desestruturação muito grande, e isso na
área de transporte também se apresenta de uma forma dramática. Nesse sentido,
acho que o Governo do Estado já ter conseguido o bilhete único é um avanço, mas eu
concordo com o que ela colocou, quer dizer, acho que a gente está com pouca opção
para trilho, eu acho que o metrô em São Paulo tem avançado muito mais do que no
Rio de Janeiro, e o problema é que a gente está com um assustador crescimento da
indústria automobilística no Brasil. Seja por que a economia brasileira voltou a crescer
a partir de 2004, o que é excelente, esse ano a gente deve crescer 6%, seja pelo
financiamento que aumentou muito, hoje em dia você compra carro até em 60 vezes.
Então, se a gente olhar os números de crescimento em 2009 e a perspectiva para
2010, são absolutamente assustadores.
A outra questão é que o Rio de Janeiro tem uma metrópole sem nenhuma
governança. Ao contrário de São Paulo, que tem uma empresa de planejamento
metropolitano, tem uma empresa de planejamento na área específica de transportes.
Ao contrário de Minas Gerais que tem uma agência metropolitana, acho que isso é
uma coisa que temos discutido e que tem que entrar na pauta e tem que ser
equacionada, ainda fica mais grave, porque a periferia do Rio tem muito menos
emprego do que a periferia de São Paulo e de Belo Horizonte. Então, a necessidade
de mobilidade para a nossa população é muito maior do que na metrópole de São
Paulo e Belo Horizonte.
Em Mesquita, 40% da população se transportam por bicicleta, não por opção, porque
bicicleta é saudável, na medida em que seja possível, é maravilhoso, mas pela falta
de transporte, mesmo coletivo.
A zona oeste, eu tive ontem uma reunião com os empresários de lá, um trabalho sobre
o Arco Metropolitano, que estou participando e que o Estado está fazendo com o
dinheiro do BID, e lá não tem ônibus, lá tem van, tem máfia, tem milícia, até um dos
empresários disse que era complicado denunciar qualquer coisa porque a milícia tem
98% de acertos com os assassinatos. Então, ele não queria fazer nenhum tipo de
denúncia. Esse é o problema do Rio de Janeiro.
E a outra questão, eu gostaria até de ouvir mais o Sérgio, enfim, quer dizer, que é a
forma como ele colocou inicialmente que a cidade cresceu, e quais são as nossas
prioridades hoje. Nós vamos ter o metrô para a Barra, que é importante, mas
transformar o metrô suburbano, transformar o trem suburbano em metrô de superfície.
Será que nós devemos estimular o crescimento maior de Recreio, de Barra da Tijuca,
da zona oeste, onde não tem infraestrutura e onde hoje, 70% do Minha Casa Minha
Vida está sendo feito lá.
Só um último ponto. O Sérgio costuma dizer que a cidade esgarçou muito. Setenta por
cento da nossa população mora e se locomove entre zona central, onde estão 40%
dos empregos - nós temos hoje uma correta proposta de maior proposta de maior
ocupação da zona portuária; a zona suburbana, onde mora trinta e poucos por cento
da população, onde ainda tem 30% de emprego; e a zona oeste, onde moram em
torno de 30% da população e só 8% da população carioca trabalham na zona oeste; e
a CSA, que é um investimento importante, mas ela está empregando 30 mil pessoas e
vai empregar 3.500 quando ela começar a funcionar.
Então, eu acho que a gente tem que estar discutindo de forma integrada, primeiro,
uma política para a metrópole, não dá para discutir só a cidade. Segundo, o que deve
ser feito para ampliar transporte sobre trilhos. Terceiro, como é que avança mais na
coisa do bilhete único. E quarto, quais são as políticas que devem haver de prioridade,
para onde que a população deve morar, onde ela deve trabalhar, em uma cidade em
que hoje o crescimento populacional é baixíssimo.
A SRA. GEIZA ROCHA – Porque solução a população encontra. As favelas são uma
solução inteligente no sentido que as pessoas começam morar onde é perto de onde
elas trabalham. Mas isso não é o que se pensa de uma cidade do futuro, uma cidade
em que é bom viver, elas vivem em péssimas condições.
O SR. SÉRGIO MAGALHÃES – As favelas são uma solução, em termos, porque elas
têm ônus importantes para os próprios moradores, custa caro morar em favela. Mas
não é só por questão de transporte, também falta de uma política habitacional nacional
e local que dê condições mínimas de crédito de financiamento para que as famílias
possam lutar por onde morar.
Então, a moradia urbana ela não pode ser considerada como uma construção de
casas. Em geral é esse sentido que é dado na política habitacional. Habitação, hoje,
na cidade, é a casa, mas também são os serviços, deslocamento, os equipamentos.
Não dá mais para morar em uma cidade contemporânea em que não se disponha de
todo esse conjunto que faz com que a vida na cidade seja possível.
A SRA. GEIZA ROCHA – Grande parte dessa falta de planejamento veio a reboque de
um processo de empobrecimento do Estado do Rio de Janeiro, e a gente vê hoje uma
mudança nessa perspectiva, com o anúncio das Olimpíadas, a Copa, você tem
crédito, tem dinheiro em curto prazo para resolver uma série de problema.
A SRA. GEIZA ROCHA – Já existe também toda essa discussão de usar bicicleta
também.
O SR. MAURO OSÓRIO - Eu acho que talvez a questão seja melhorar e diminuir a
mobilidade, no sentido de que talvez, na medida do possível, a pessoa não precise se
deslocar tanto, a Cidade do Rio de Janeiro é muito grande, certo? Então, eu acho que
na medida em que você trabalha junto à questão da moradia, a questão da
infraestrutura e a questão do emprego, eu acho que aí é, inclusive, para você poder ter
mais dinheiro para você poder investir onde, de fato, você precisa.
Volto a colocar, quer dizer, eu costumo dizer, o Adib Jatene diz que o maior problema
do pobre é que o amigo dele também é pobre - não é isso? -, ele não tem para quem
reclamar. É claro que a população da Barra tem uma capacidade de lobby muito maior
do que a população da zona oeste tradicional, a área de planejamento 5 ou a zona
suburbana. Enfim, quer dizer, os colunistas convivem mais com pessoas que moram
na zona sul e Barra da Tijuca do que com alguém que mora na zona oeste ou na zona
suburbana, antiga área rural do Rio de Janeiro.
Então, se nós olharmos os dados, nós vamos ver o seguinte, que na zona oeste, no
ano de 2008, área de planejamento 5, tem 8% do emprego; a Barra da Tijuca, com
todo crescimento que teve, tem 16, 17% do emprego; 40% do emprego estão na zona
central; 30% do emprego estão na zona suburbana. O projeto correto da área
portuária você vai adensar mais ainda ou deve adensar mais ainda, para ter sucesso,
o emprego na zona central. Eu acredito e gostaria até de ouvir mais o Sérgio
Magalhães, que eu sei que ele discute isso, que dê para adensar mais a moradia na
zona suburbana.
O Maluf, eu sempre torço para ele se distrair no exterior para ser preso, né? Mas ele
tem o projeto Singapura, que é uma ideia interessante, você transformar determinadas
favelas em bairros, em moradia, poder adensa mais. Por que não pode ter um prédio
de 10, 15 andares, como tem em outros lugares?
Enfim, eu acho que a gente tem que procurar ocupar o máximo possível aonde já tem
infraestrutura e aonde tem emprego e aonde pode crescer mais o emprego, está
certo? Eu não vejo, em curto prazo, uma perspectiva tão grande assim de emprego na
zona oeste, temos até política para isso, Itaguaí vai ter muito investimento, vai
explodir, ali aquela região de Itaguaí, aliás, depois eu gostaria até de falar um
pouquinho sobre a questão a estrutura portuária no Estado do Rio de Janeiro, que
também é logística. Enfim, quer dizer, acho que a gente tem que pensar integrado a
questão de transporte, moradia e emprego e levar em consideração e talvez até olhar
mais onde tenha gente que pode falar e ser menos ouvida.
Levanta, se identifica...
Eu concordo também com ele de que nós temos que conseguir trabalhar junto com as
prefeituras e mesmo com os órgãos da União no sentido de limitar e direcionar os
investimentos porque senão nós vamos estar induzindo essa ampliação ainda maior.
Isso é uma coisa boa para o futuro, mas o futuro a gente tem que começar a fazer
agora.
Nós temos procurado trabalhar em conjunto com as Prefeituras. Nós não temos, é
verdade, por força de lei, uma agência metropolitana como havia no passado.
A SRA. GEIZA ROCHA - A gente tem força de lei, só não tem ela feita. Existe uma lei
de 2007 prevendo um plano diretor metropolitano.
O SR. DELMO PINHO - É, mas aí é que antigamente havia a Fundrem e o objetivo fim
da Fundrem era isso, era coordenar a ação dos vários órgãos de governo.
O que estamos fazendo nesse ínterim? Nós temos uma agência metropolitana de
transportes urbanos, ela não é mandatória, ela não tem poder de aplicar normas,
nada disso, mas ela tem um poder que às vezes é maior do que esse e a gente
conseguir estabelecer uma conversa permanente com os municípios para poder numa
gestão de boa vontade, integrar as ações. Isso nós já temos e essa agência faz
reuniões regularmente com os Municípios.
Finalmente nós temos feito uma investida forte em corredores. Eu chamaria não de
corredores, mas de eixos porque o corredor de transporte só em si não é nada, ele é
um elemento. Mas o eixo é a própria vida da cidade onde a pessoa vai trabalhar, onde
ela vai morar, onde tem os serviços públicos, então nós estamos procurando investir
nos eixos. Eu acho que nós estamos num momento muito bom no Rio de Janeiro
porque nós temos conseguido um alinhamento de intenções nas diversas esferas de
governo. Nós não temos preferência por um ou outro tipo de transporte.
Eu acho que nisso nós conseguimos um avanço muito grande e eu não concordo com
o trabalho que a Firjan fez, acho que ela não foi feliz porque ela não analisou causas,
ela simplesmente se deteve em efeitos e efeitos são coisas assim que muitas vezes
não tem embasamento. Nós não temos como impedir as pessoas de usarem o carro e
nem há porque impedir porque as pessoas têm liberdade, aqui é uma democracia. O
que nós temos que fazer é uma determinação do governador. Nós optamos pelo
transporte público coletivo, primeira coisa.
Então, o seguinte: se tiver que optar entre o metrô e o carro, entre o ônibus e o carro,
entre o BRT e o carro, entre a barca e o carro, nós vamos optar pelo transporte que
não é o carro porque é o transporte de massa. O BRT é uma boa resposta para
algumas circunstâncias, o metrô é uma boa resposta para outras circunstâncias, é
tudo uma capacidade operacional, metrô, trem são equipamentos que podem chegar a
80, 90 mil passageiros por hora, por sentido. O BRT, aparentemente, o limite dele, que
é o que se tem constatado nas experiências internacionais, chegou a 45 mil. Mas cada
um tem seu espaço.
Acho que a partir do momento que nós consigamos associar essas ações ao controle
da expansão da malha urbana da Região Metropolitana, nós vamos chegar num
momento bom e, na verdade, nós precisamos é de um realinhamento, no País todo,
para ter uma política de transportes associada com uma política ambiental, associada
com uma política energética.
Isso é uma coisa que tem que vir para o Brasil. Não cabe a uma unidade da federação
mudar, mas, aos poucos, a gente consegue fazer alguma coisa. Resumidamente,
então, nós temos que investir cada vez mais no planejamento.
O PDTU, que é um bom plano diretor, ele – já estou acabando – o Plano Diretor de
Transportes Urbanos nosso, ele é de 2003. Foi uma iniciativa, em administrações
anteriores, boa, importante. Nós estamos atualizando agora, pois sem base de
planejamento a gente não faz nada.
Eu acho então que, como eu disse, concordo com tudo o que eles falaram. Nós
estamos procurando fazer uma parte significativa do que foi dito. Falta muita coisa
para se fazer.
Agora, com um país que a frota de automóveis está crescendo de seis a sete por
cento ao ano, você está dando uma sinalização meio complicada para o transporte
público coletivo. Agora, uma coisa é certa: com os eixos de transporte e os corredores,
quem estiver nos transportes coletivos de massa vai estar andando. Quem estiver no
carro, provavelmente vai estar parado – e eu acho que esse é o destino da
humanidade e não do Rio de Janeiro.
A SRA. GEIZA ROCHA – Ontem, no debate, a gente acabou antecipando um pouco a
questão da mobilidade e disseram que – um dos nossos convidados disse – que
achava que o mundo ia acabar e ia ser no trânsito, todo mundo dentro de um carro.
O SR. RICARDO – Bom dia a todos. Sou Ricardo, analista sênior de operações e
negócios internacionais dos Correios. Minha pergunta, dirigida ao professor Sérgio:
por que, na história de nosso planejamento, nós não demos, ou não aparece ênfase –
a exceção fica na ligação Rio/Niterói – ao modal marítimo? Porque nós temos aí uma
costa, não precisa despender recursos para sinalizar, em tese; não precisa de outros
recursos, vamos dizer assim, mais significativos para você estabelecer as estações.
Temos aí, um litoral, temos equipamentos no mundo, a exemplo...eu tenho uma
experiência pessoal em alguma coisa da Ásia: a Malásia, por exemplo, ela se liga – a
Malásia dita Continental com a Malásia peninsular – se liga por grandes hovercrafts,
que pegam ondas de até determinados níveis.
Por que então na nossa história – a exceção são as barcas Rio - Niterói ou Paquetá –
nós nunca levantamos ou se levantamos, não encontramos referência do modal
aquaviário como uma solução no Rio de Janeiro?
O SR. MIGUEL CRISTINO – Entre cidades sim, mas se eu estiver saindo, por
exemplo, do Jardim Botânico, dependendo do lugar, para a Urca, posso ter uma certa
dificuldade. Tenho que apanhar dois ônibus. Tenho que pagar duas passagens. Então,
isso pode complicar. Do Jardim Botânico não, mas da Lagoa, por exemplo, de algum
lugar da Lagoa, tenho que pegar dois ônibus para chegar na Urca e tenho que pagar
duas passagens.
O SR. TIAGO FREITAS – Bom dia, meu nome é Tiago Freitas, do blog Quinze Pras
Sete. Na verdade, vim fazer uma pergunta sobre uma questão prática: hoje, vim para o
Fórum optei pelo carro. Mas por que optei pelo carro? Porque vinha trazendo um
equipamento, um laptop, para fazer a cobertura do evento, mas gostaria de ter vindo
de metrô. Acho o metrô um transporte muito eficiente, também, o trem, pois moro no
Méier. Então, poderia ter pegado o trem na Estação do Méier saltado aqui na Central
do Brasil e ter vindo. Mas aí vem a questão da segurança. Não me sinto seguro em vir
de metrô. Se o metrô e o trem fossem transportes seguros tranquilamente preferiria,
porque o trânsito é caótico. Tive que chegar meia hora mais cedo só para poder
estacionar o carro aqui na cidade.
A verdade é que ninguém gosta de ficar fazendo vários transbordos, fazendo essa
transposição de um módulo para outro, mas a utilização em certos módulos
indiscutivelmente alega uma necessidade de transbordos. Aí nesse transbordo tem a
questão das condições desse transbordo, quer dizer, a questão da integração física, a
questão de integração tarifária, a questão de segurança do local onde faz, do conforto.
Têm vários atributos que condicionam essa conectividade de rede, por exemplo,
bicicleta. Por que não se usa bicicleta? Ah, desejamos sair da nossa casa ir até o
nosso destino final de bicicleta. Não tem uma ciclovia aqui com quilômetros.
Outra visão emblemática: passando na 040 vejo várias rampas passarelas tinham
muitas bicicletas presas nas passarelas com cadeado. Poxa, por que ao longo das
passarelas tem aquela ocupação, quase que interrompe o uso das rampas com
bicicletas? Por que não em cada ponta de uma passarela não se coloca um
bicicletário?
Então, essa questão de conectividade de rede para uso de bicicleta, para uso de
transporte hidroviário, a integração metrô/ônibus na região aqui da Cidade do Rio já
evoluímos quando tem oferta do metrô integrado ao ônibus com integração com o
trem.
Essa é uma questão que temos que solucionar. Pequenas soluções quando tratamos
de planejamento estrutural de corredor. Essas soluções pontuais de conectividade de
rede. Isso aí é uma coisa que ainda não solucionamos.
É possível fazer sem subsídio? O que vai se incorporar o que não vai se incorporar?
No que, de fato, isso vai redundar?
A SRA. NAIA MAIA - Sei que esses estudos da Prefeitura estão em andamento. Ainda
não estão finalizados. Essa questão de ver qual a questão de perda de receita, ter
subsídio ou não, valor de tarifa, ter um anúncio da R$ 2,40 para tarifa municipal.
A SRA. NARA MAIA - Tem subsídios. Em vários locais têm subsídios. Isso daí,
realmente...
O sistema de mobilidade urbana cada vez é mais complexo, obviamente. Ele não se
esgota mais na relação casa-trabalho. Quanto mais evoluímos mais deixa de ser
essencial essa ligação e outras conexões se interpolam.
O que exige que haja uma relação muito mais forte entre os diversos módulos senão o
automóvel adquire todo protagonismo. O automóvel faz as conexões, essa
conectividade, autonomamente. Basta a pessoa querer. Esse é um valor essencial. O
desenvolvimento do automóvel como transporte nas cidades. O que não quer dizer
que isso seja inevitável, porque o deslocamento mais longo, nesse deslocamento
diário casa-trabalho os outros módulos podem ser muito mais vantajosos. Se houver
uma troca adequada passam a ter protagonismo.
Não temos conectividade não é entre um modo e outro: não temos, até, no mesmo
modo. O caso, por exemplo, dos trens suburbanos, são três linhas. Saem da Central e
vão em direção aos subúrbios, à Baixada Fluminense e à zona oeste. A partir da
UERJ estão praticamente juntos, no mesmo leito. Na UERJ eles não se conectam com
a UERJ, que é uma fonte de clientela muito expressiva. Entre si não se conectam. Não
se sai da linha da Central e entra na linha auxiliar em Madureira, por exemplo, que
está a trezentos metros de distância. Também na UERJ não se permite isso. Estão
coladas. Só vai acontecer em São Cristóvão, um pouco mais adiante, onde a conexão
se dá num modelo de estação que é o padrão, quer dizer, absolutamente sem
conforto, sem qualidade ambiental, sem condições de atrair as pessoas. As pessoas
têm que caminhar três andares de escada fixa, circular, comprar ingresso, descer três
andares de escada fixa para chegar numa plataforma que não é coberta. Assim como
a escada não é coberta.
Essas relações são positivas, mas precisam ter qualidade também. A única estação
que permite a conexão das três linhas – outras poderiam, mas essa é a única que tem
– tem esse padrão de qualidade. O nosso sistema de trens urbanos está muito ruim.
Essa é uma realidade. Ele já transportou – segundo consta – um milhão e duzentos ou
um milhão e meio de passageiros/dia nos anos 80. Antes da privatização alcançou
cento e cinquenta mil. Hoje, talvez esteja nos seus trezentos mil não são referenciados
à parte suburbana do Rio de Janeiro. O grande público é o mais distante, o mais
pobre, que utiliza o trem como opção praticamente única pelo custo e pelas condições
de acesso. Todo subúrbio da zona norte que se estruturou pelo trem está acessando
muito menos o trem, na proporção do crescimento de público do que partes mais
distantes da região metropolitana.
Acho que nesse caso, no Rio de Janeiro, temos uma capacidade de melhorar a
qualidade da cidade metropolitana fantástica se a nossa prioridade se deslocar um
pouco. Concentrar esforços para transformar efetivamente os trens suburbanos em
metrô de superfície. O que significa? Trens confortáveis com ar condicionado,
obviamente; com intervalos pequenos, ao invés de horários, entre quatro e cinco
minutos; estações confortáveis; estações pelo menos cobertas – não digo que sejam
protegidas, mas que sejam cobertas; com acessibilidade garantida não apenas para
as pessoas que não têm dificuldades, mas para as quem têm dificuldades, o
cadeirante precisa ter acesso. Hoje, não tem. Precisa o idoso ter acesso adequado.
Precisa funcionar um sistema de bilhetagem que seja minimamente coerente com os
nossos tempos. É possível que o sistema de bilhetagem de metrô e trem seja um
desrespeito – como eu entendo que é – em relação ao usuário cotidiano. Cidades no
mundo estão a dizer que não é assim que funciona em respeito ao usuário.
Para o eixo direto Rio-Niterói, ou Rio-São Gonçalo acho que ainda de muita utilidade,
pode ser melhorado e muito – como disse o secretário Delmo -, mas a nossa
capacidade enormemente a nossa cidade já alcançar 70% da população metropolitana
num patamar muito bom, com custo comparativamente como qualquer outra obra que
venha a ser fazer ínfimo é efetivamente priorizar a transformação dos trens em metrô.
Não é melhorar é transformar. É ser efetivamente metrô.
O SR. MAURO OSÓRIO – Não estou com o número exato aqui, mas, enfim, é uma
população extremamente importante, 40%. Temos que discutir: para 10% ou para
40%? É claro que a mídia também trabalha muito mais o assunto. É uma discussão:
qual é o meu Rio? O meu Rio é a zona sul? O meu Rio é a cidade? O meu Rio é a
metrópole? O meu Rio é o Estado?Pra mim é o Estado. Uma vez namorei uma moça
que morava em Ipanema, no “centro” da cidade. Então, o Rio dela era absolutamente
zona sul. Essa é uma discussão bastante importante.
Já bicicleta. A Cidade do Rio de Janeiro é uma cidade com calor. Em que medida isso
vai ser possível: as pessoas poderão tomar banho quando chegarem ao trabalho,
além de ter que deixar adequadamente a sua bicicleta?
Então, temos que discutir a questão das prioridades, que são induções
governamentais. Você tem o interesse individual de quem quer andar de automóvel,
mas você não pode ficar acima do interesse coletivo. É claro que o Feldman, em São
Paulo, implantou lá dia par, dia ímpar e não se reelegeu. Tem as dificuldades, mas
que democraticamente tem que discutir se deve estimular o automóvel ou não.
Secretário, está crescendo muito mais do que 7%, mas muito mais. Este mês em
relação ao mês passado aumentou 40% as vendas de automóveis. Olha, acho que em
2009 deu muito mais do que isso, porque a redução de imposto e com ampliação de
crédito tenho impressão de que está crescendo acima da média da economia
brasileira. Tem que dar uma olhadinha nisso que realmente tem crescido muito.
O SR. MAURO OSÓRIO - Tem que ver como é que vai andar este ano, nos últimos
doze meses, porque o dado que vi do mês passado com relação a este mês são 38%
de venda de automóveis. Não quero lhe assustar, tirar o sono, mas é um dado
complicado.
Vejo, por exemplo, São Paulo investir muito mais em metrô e trem, na Cidade do Rio
de Janeiro se fala muito em BRT. Tem a ver à particularidade de cada cidade. Tem a
ver com recursos. Tem a ver com alguém estar errando mais, alguém estar acertando
mais. Nesse ponto não sou especialista, mas gostaria...
Pelos fóruns que participo, acho que nessa área de transporte tem muito o que se
aumentar a integração entre Prefeitura e Governo do Estado. É bom, é importante que
o Governador se dê bem com o Lula, que se dê bem com o Cabral, que se abracem,
mas essa coisa da integração às vezes é supervalorizada. A máquina pública,
principalmente a estadual, ela está estava quase falida: às vezes o Rio de Janeiro não
pegava dinheiro não é porque o Brizola xingava o presidente, é porque às vezes a
própria máquina pública não conseguia montar projeto. Quando o governo Sérgio
Cabral entra não tinha projeto executivo básico do arco metropolitano. O governo
anterior vivia xingando o governo federal de que estava boicotando. Costumo brincar.
Criança bate na mesa e a mãe fala: mesa feia. A mesa está quieta a criança foi quem
bateu na mesa.
Por último, para não ficarmos falando só de transporte de pessoas, temos que discutir
também uma política para aeroportos.
A questão do subsídio... Sei que o Eduardo Paes, na campanha, prometeu que não
haveria subsídio. Durante um período houve certa demonização do setor público de
subsídio. Não podemos nem ter uma visão estadista e nem demonizar o setor público
e subsídios. Você tem que ter uma discussão na sociedade ver o que é adequado,
quais são as prioridades, onde definir que tem que ter setor público, tem que ter. é
importante uma agência metropolitana, temos que criá-la. Fica um debate muito
interditado, às vezes: ah, não, vai ver a gastança aí. Não é gastança. Temos que
discutir onde tem que gastar e gastar bem. Tem que gastar adequadamente.
Pois não.
O subsídio precisar estar acoplado a essa noção de investimento, porque senão pode
esgotar os recursos públicos no consumo sem prover a parte de melhora e de
adequação.
A Secretaria de Transporte deve ter sido muito melhor, obviamente, mas durante
muitos anos se investiu muitíssimo pouco, quase nada na operação do transporte
público, construção de melhor sistema para operação.
Agora, no subsídio do ônibus fica muito mais fácil. Então, subsidiar, porque não vai
aumentar a passagem de R$ 1,50 para R$ 1,70. Vai ficar em R$ 1,60. Aí, mais
facilmente há uma despesa, que é muito alta. São Paulo passa por essa dificuldade. É
uma despesa que passou a ser já quase exagerada, que se tivesse sido colocada em
investimento teria um rendimento muito superior. Acho que o subsidio num sistema já
mais bem constituído talvez seja inevitável, talvez para as pessoas não para o sistema
como um todo.
A SRA. GEIZA ROCHA - É um tema que tem que ser mais bem discutido e
aprofundado. Não ficar simplesmente...
A SRA. NARA MAIA - Vale uma reflexão. Essa questão do subsídio de uma forma
mais ampla. Todos são a favor da gratuidade, mas quando fala: “O transporte coletivo
precisa de uma fonte de custeio”, “Ah, não, fonte de custeio, não, porque aí é
subsídio‟‟. O que acontece? Na verdade, a tarifa do transporte coletivo é um pobre,
que é cativo ao transporte, subsidiando o pobre, quer dizer, vem a gratuidade e, na
verdade, acaba se tornando o inverso, quer dizer, uma questão cruel para o próprio
usuário de transporte coletivo exatamente por essa demonização do subsídio. Dá
gratuidade, mas tem que ter, realmente, fonte de custeio. É uma questão que a
sociedade deve se perguntar: o que, realmente, estamos dispostos a pagar, a bancar
para, num primeiro momento, ter essa inclusão social, aumentar essa questão de
mobilidade. Aí, sim, evoluir para questão de investimentos; de melhorar, realmente, as
condições do transporte coletivo para até ter ganhos em termos de custos
operacionais, porque aí se reverta então em redução de custos operacionais, de
tempo de viagem.
Essa é uma reflexão longa, quanto estamos dispostos a pagar por essas melhorias.
Gostaria de logo após as olimpíadas poder andar tranquilamente pela cidade; poder
andar de bicicleta; ou ter opção do trem, do metrô, enfim. Estou escutando aqui os
senhores falarem. Temos também o problema do transporte de carga, porque os
caminhões entram na cidade falamos em arco rodoviário, mas nunca falamos em arco
ferroviário, por que não? Se não me engano, a Supervia vai até Magé, por que não
pode se estendida até Itaboraí?
O que gostaria de saber dos senhores, especialmente da Nara, qual o legado que a
olimpíada vai deixar para nós em termos de mobilidade?
Um exemplo do corredor da Avenida Brasil, que é muito bem colocado como eixo de
transporte, é um projeto de transporte, mas é uma grande oportunidade de repensar
todo o desenvolvimento das áreas lindeiras a esse corredor.
O SR. MAURO OSÓRIO - Acho que têm que todos os projetos se concretizar e alguns
deles mudarem. Eu e o Sérgio Magalhães temos, a Prefeitura abraçou essa bandeira
também... Na verdade, inclusive o projeto da olimpíada da Cidade do Rio de Janeiro,
se não me engano, foi o quinto colocado. Dubai acabou sendo desclassificada e aí o
Rio entrou. Acho que o projeto pode e deve ser melhorado no sentido de algumas
coisas saírem na Barra da Tijuca e irem para o centro da cidade, para a zona
portuária, a zona central.
Um argumento, uma vez, do César Maia que do ponto de vista urbano a zona central
seria melhor, mas era mais fácil ganhar, do ponto de vista da segurança, por conta da
Barra da Tijuca. Acho que ele tem até um pouco de razão do ponto de vista de ser
para ganhar. Do ponto de vista de acontecer violência eu não acredito, até porque a
Cidade do Rio de Janeiro, quando tem um grande evento, tem um grande armistício: o
mau policial para de achacar, o traficante não tenta tomar outra favela naquele
momento porque a polícia está atenta, o bom policial, as forças armadas. Isso não é
problema, porque o Rio de Janeiro vira uma Suíça quando tem um grande evento. E
depois que a gente ganhou a olimpíada, o coordenador do projeto de Barcelona
conversou isso com o prefeito, ninguém tira mais da cidade, a não ser que a gente
faça uma grande bobagem. Mudar o projeto neste caso é possível e deve.
A SRA. GEIZA ROCHA – No ano passado fizemos três grandes reuniões no Fórum,
em que debatemos e aprofundamos o tema, e parte está resumida no caderno de
atividades.
A SRA. GEIZA ROCHA – Isso passa por uma definição, do próprio governo estadual,
de quais são as prioridades e qual o destino de cada um desses portos, um tema
bastante debatido.
Sérgio.
Um segundo aspecto - eu acho que esse talvez seja mais essencial – é que se um
elemento icônico, como a olimpíada, puder ser vinculada ao centro do Rio de Janeiro e
tiver para isso canalizado investimentos, como, por exemplo, a transformação efetiva
do eixo Deodoro/Central em metrô de primeira qualidade – eu já nem digo os outros,
eu digo esse eixo, porque pega Deodoro, Engenho de Dentro, Maracanã e centro. Se
isso pudesse ser constituído, sinaliza para o desenvolvimento do centro, que é o
núcleo da metrópole, e reduz ou talvez rompa a ambiguidade que existe desde o
lançamento do plano Lúcio Costa, que passou a admitir, explicitamente - e no
imaginário coletivo se constitui como verdade -, que o Rio de Janeiro deve se mudar
para a Barra. No plano do Lúcio é explícito: construir um centro metropolitano,
transformar-se no coração da Guanabara e ser a futura capital do Estado.
A SR. GEIZA ROCHA - Joubert, a gente está falando aqui de mobilidade e o metrô faz
parte fundamental disso. Era importante ouvi-lo.
O SR. JOUBERT FLORES – Meu nome é Joubert Flores, Metrô Rio, eu queria pontuar
algumas coisas que eu ouvi, que envolvem o Metrô. O Metrô é uma concessionária
privada. Hoje, a gente até tem investimento em expansão da frota, em expansão de
parte da rede, embora isso, na verdade, sempre foi feito pelo Estado, que continua
fazendo e fez agora: entregou uma estação há pouco mais de quatro meses. Mas a
gente tem investido, a gente está comprando 114 carros, que representa 63% da frota
que a gente tem.
Eu ouvi também falar aqui na questão de segurança. Nós não temos realmente na
cidade uma situação absolutamente tranquila, mas eu acho que a gente pode se
orgulhar da segurança que a gente tem nesse sistema porque não tem um indicador
que demonstre que a gente tenha uma situação de operação insegura. Hoje, a gente
trabalha com quase 400 pessoas na área de segurança, pessoas que são treinadas
sete meses antes de estar trabalhando na linha; nós temos 500 câmeras no sistema,
que é bastante moderno, e estamos investindo no implemento desse sistema.
Muito se falou também de uso de bicicletas. Eu não tenho o número exato, mas eu
acho que um terço das estações hoje tem bicicletários dentro da estação, pelo menos
Pavuna como terminal, mais duas da linha dois, e na linha um pelo menos duas. Não
chega a ser 30%, mas eu acho que seis das 34 têm bicicletário.
Hoje, a gente consegue sair da zona sul e ir até próximo à Baixada. Existem 14 linhas
integradas e a gente opera mais duas. É evidente que a gente não tem capacidade de
aumentar muito. Enquanto não chegar o aumento da frota, os novos trens, você não
tem muito como receber mais novos passageiros. Mas, na medida em que você tenha
esses trens, daqui a um ano e meio, você pode esperar que tenha pelo menos uma
oferta que seja maior, mais duas vezes a que a gente hoje é possível de ter.
O SR. LUIZ CARLOS NUNES – Bom dia a todos. Meu nome é Luiz Carlos Nunes. Em
primeiro lugar, parabenizar a coordenação do evento por essa oportunidade que nos
dá a todos, pelo menos a mim, de aprender muito sobre o tema com todos os
palestrantes, com a Mesa. Parabéns à plateia que está aqui buscando participar
também e contribuir e, dentro de mobilidade, mobilizar-se também para que isso possa
ser multiplicado.
O que eu queria colocar é o seguinte: dentro da ideia de legado, que eu entendo que a
olimpíada pode nos trazer, já ganhamos. Então, já estamos com credenciamento, com
autorização para que seja feita aqui a olimpíada, e ela nos traz, dentro da sua
preparação, vários legados, pelo que eu entendo. Primeiramente, o legado não só de
fazer a olimpíada, mas também de conquistar medalhas e, para isso, nós temos que
buscar talentos que estarão - que estavam, de repente, camuflados, escondidos,
desses jovens que vão ser preparados para que se encontrem...
Então, os jovens que talvez estivessem num caminho sem rumo, serão transportados
para a nova vida, trazendo com eles, assim, os nossos sonhos e também os sonhos
de todo um país, de uma cidade, ao se transformarem em atletas e conquistarem
medalhas também. Não é? Esse, eu vejo como um grande legado. Por exemplo,
aquela estrutura que existiu nos Jogos Panamericanos, e Paraolímpicos, e
Parapanamericanos, para os deficientes, que havia uma mobilidade muito grande. De
Deodoro, que foi um parque, um local de uso para competições, até a Barra da Tijuca.
Que isso se repita e traga para a gente, cidadãos, o devido direito de ir e vir.
Hilda.
A SRA. HILDA BRITO – Hilda Brito, Associação Brasileira das Empresas de Eventos.
A gente, com os eventos, tem muita preocupação. O que acontece? Todos sabem que
esse trajeto Lagoa-Barra em determinados momentos fica completamente caótico. E
São Conrado e Barra ficam totalmente ilhados. Então quando a gente pensa em
realizar evento no Sheraton, no Intercontinental, no Windsor/Barra e no Riocentro, é
um sofrimento. A gente sofre porque a gente não pode, de fato, contar com o sistema
de transporte urbano que a gente tem. O máximo que a gente faz, coloca à disposição
no material do evento, explica as estações de metrô que estão próximas, as linhas de
ônibus, etc. Mas a gente bem sabe que o nosso público não pode contar com esse
sistema. Então o que a gente faz? Coloca mais ônibus nas ruas! E um evento, quando
vocês falam num evento de 6 mil, 8 mil pessoas, imaginem a quantidade de ônibus
que vão para as ruas!
Então o que eu queria colocar aqui, colocar para a Mesa e algumas pessoas aqui
participantes da plateia, é que realmente a gente tem uma enorme preocupação nesse
sentido. E que me preocupa esses dois grandes eventos que a gente vai ter aí, por
agora, que é em 2014 e 2016. Falou-se aqui do legado. Eu vejo que algumas coisas
realmente estão sendo feitas, mas acho que a gente ainda precisa de muitas ações. E
rápidas, porque o tempo está passando.
Obrigada.
Uma das lendas que nós temos aqui foi levantada pelo amigo aqui. A questão da
solução mágica do transporte aquaviário. Não é que não seja solução. Não existe
meio de transporte melhor do que outro. Todos os meios de transporte são bons.
Servem para alguma finalidade, em algum momento e em alguma necessidade. O
transporte aquaviário também. Eu acho que aonde ele serve imagina-se que ele sirva
para muita coisa na Baía de Guanabara. Onde ele serve, ele já existe, é uma ligação
entre Rio e Niterói que já foi muito mais utilizada do que é hoje, e eu acho que poderá
voltar a ser mais utilizada se o nível de serviço das barcas melhorar e na ligação entre
Paquetá e Praça XV, porque Paquetá é uma ilha, evidentemente, as pessoas têm que
sair de lá com transporte aquaviário. E essa ligação de Charitas para a Praça XV, que
não é uma solução para o problema de transporte da região metropolitana, mas é uma
solução boa para cinco, seis mil pessoas que utilizam aquelas barcas todos os dias.
Então, são boas soluções.
Essas lendas de barco para Magé, barco para São Gonçalo, barco para a Barra da
Tijuca, elas desviam o foco da estruturação do sistema de transporte da região
metropolitana. Esse sistema tem que ser estruturado e, eu concordo com o Sérgio,
trabalhei muito para isso, quando tinha a obrigação de resolver o problema, é você
pegar o grande tesouro que nós temos na região metropolitana, em termos de
infraestrutura de transporte e transformar em metrô o sistema de trens urbanos que
atinge a Baixada Fluminense e os subúrbios de nossa cidade. Isso é absolutamente
possível e é a melhor relação custo/benefício de todos os investimentos que se possa
fazer no sistema de transporte. Não existe investimento no sistema de transporte que
dê um retorno maior não só para os usuários daquele sistema, mas para o
desenvolvimento econômico dessa cidade metrópole como o Sérgio se refere a ela, do
que transformar aquele sistema com padrão de metrô.
Eu vejo com alguma preocupação que nós estamos tendo uma queda do nível de
serviço do metrô e daqui a pouco nós estaremos transformando o padrão do Metrô
naquele padrão. Entendeu? Isso é uma coisa que me preocupa bastante.
O Rio de Janeiro, acredito que ele tenha sido - não sei se a expressão nasceu naquele
momento, mas ele se transformou numa marca do Rio mundial, a Cidade Maravilhosa,
na década de 50, nos famosos anos dourados. Eu não tenho a menor dúvida que
contribuiu para isso o encanto da nossa população, essa população que tem a
capacidade de se transformar numa população suíça, assim, quando chegam visitas
importantes - que gente educada! -, e que tem que ter um certo ar blasé, não se
impressiona muito.
Então, isso é uma coisa que ajudou a gente a virar Cidade Maravilhosa, sem dúvida.
Para dar um número para a reflexão de vocês, naquele momento, o Rio de Janeiro
tinha a mesma extensão de malha ferroviária que tem hoje. Os trens transportavam
seiscentos mil passageiros por dia no início dos anos 50. Não existia região
metropolitana, mas a população de todos esses municípios, que hoje a compõem era
da ordem de três milhões. Então, o número de passageiros, que usava os trens era de
20% da população da região metropolitana. Para mim, esse foi o máximo da ferrovia.
Aquele um milhão e duzentos, Sérgio, nunca existiu, mas existiu um milhão, o que é
muito, fruto de um choque de investimentos, dado na época ainda da ditadura, quando
o coronel Weber era o responsável pelo sistema. E foi feito um investimento colossal
no sistema de transporte, que produziu um nível de serviço que pôde levar a ferrovia a
transportar um milhão de passageiros por dia, todavia, sem nenhuma preocupação
com a sustentabilidade desse choque de investimento. Então, para encerrar essa
história, porque não estou aqui para fazer nenhuma palestra, e nem ia falar, a Geiza é
que me fez falar e romper o meu pacto de falar, repleto de discordâncias, pois é chato
ficar toda hora discordando de tudo. A Rainha Gertrudes, em “Hamlet”, dizia que
protestar demais é um erro. Então, estou economizando muito os meus protestos.
Não quero ser autorreferente, mas apenas para tornar isso mais claro, quando fui
secretário de Transportes e fizemos uma formulação nessa direção, montamos uma
agência reguladora de transporte, num modelo mundial de agência reguladora de
transporte – esse foi sempre o problema dos ciclos de privatização no Brasil,
regulação, porque quando a regulação falha, o concessionário falha, o poder
concedente falha e o usuário fica desprotegido. Na descontinuidade administrativa,
política, que é um problema, é uma realidade, não podemos ignorar que isso acontece
e acontecerá novamente, houve o aniquilamento da estrutura de regulação que
comprometeu todo o pacto dos contratos de concessão, os investimentos que estavam
programados pelo poder público e pelos concessionários. Quem não cumpriu o
primeiro é uma discussão longa, agora, posso até dizer que quem não cumpriu o
primeiro foi o poder público, quando aniquilou a agência reguladora e quando deixou
de cumprir a sua parte nos programas de investimento. Agora, esse pacto, que havia,
de concessão, foi desfeitos, descaracterizados. Isso já aconteceu, então a vida agora,
é sempre daqui para frente. Naquele momento em que começou a reunião hoje aqui já
é passado. A vida é daqui para frente. Então, daqui para frente está valendo o
seguinte, estruturar o sistema de transporte com o choque de investimento e com uma
preocupação de sustentabilidade dos avanços conquistados para perenizá-los ao
longo de décadas.
É isso.
O SR. MAURO OSÓRIO – Enfim, acho que o que Francisco traz é uma importante
contribuição para o debate. E a gente não consegue entender o programar o futuro
sem conhecer a história. Acho que é importante a gente conhecer a história.
A SRA. GEIZA ROCHA - Mas a gente sempre anda nessa linha: conhecendo o
passado e tentando...
O SR. MAURO OSÓRIO - Exatamente, exatamente. O Keynes tem uma frase em que
ele diz que, muitas vezes – Keynes é um dos maiores economistas, o maior
economista do século XX -, os homens práticos não sabem, mas são escravos de um
economista defunto. E, às vezes, as ideias são mais perigosas até do que os
interesses, porque a gente tem valores. No Rio de Janeiro, o que falta é exatamente o
debate. Então, acho que o seu trabalho, o trabalho da Alerj é fundamental.
E contribuindo um pouco para isso, às vezes sou um pouco chato, critico bastante,
mas é procurando contribuir como professor, como pessoa preocupada com o Rio de
Janeiro. E como aqui, hoje, a mobilidade é o desenvolvimento econômico, acho que o
Rio de Janeiro vive um momento realmente de grandes possibilidades: seja pelo
momento brasileiro, porque, se a economia brasileira continuar crescendo, se não der
problema na nossa fragilidade cambial externa, os economistas de diversos matizes
apontam uma possibilidade por aí, mas deve continuar crescendo, e nós temos aí pré-
sal, temos as olimpíadas. O Rio de Janeiro teve uma trajetória muito ruim dos anos
setenta, sessenta pra cá. Alguns diziam que a gente já tinha invertido a tendência a
partir de noventa e cinco, o que não é fato. Todos os dados mostram isso. Mas agora,
por exemplo, no início do ano, nós, pela pesquisa mensal de empregos já crescemos
inclusive um pouco acima da média nacional.
Mas eu gostaria de afirmar que eu não acho que nós já estamos com um crescimento
igual à média nacional ou acima dela contratado. Acho que a gente tem que continuar
trabalhando, tem que continuar aprimorando prioridades, tem que discutir prioridades
do ponto de vista do transporte, do investimento em infraestrutura.
Enfim, acho que não tem nada dado, não podemos ir pra casa dormir. Temos que
continuar trabalhando, aprofundando estratégias para poder ver como é que a gente
se apropria da melhor forma possível desse círculo de investimentos, de
possibilidades que o Rio de Janeiro tem.
E foi aí, Francisco, que ela adquiriu o nome de Cidade Maravilhosa. Foi lá no
comecinho do século. Talvez, um dos seus apogeus tenha sido justamente nos anos
dourados, já quando está perdendo a condição de capital.
Então, essa situação histórica, ela é... Está entranhada em nós. Está entranhada em
nós, está entranhada no Brasil, e de certo modo no mundo que conhece o Brasil no
Rio de Janeiro. Espera-se do Rio ser o lugar da felicidade. É por isso que choca tanto
quando o nosso cotidiano não compartilha, não corresponde a essa idealização.
O SR. SÉRGIO MAGALHÃES – Se São Paulo é uma cidade feia, digamos, não estou
acusando, mas digamos que seja, uma cidade feia...
O SR. MAURO OSÓRIO – Uma vez perguntaram pro Bussunda qual o lugar mais
estranho que ele tinha feito amor, ele disse que era São Paulo.
O SR. SÉRGIO MAGALHÃES – Se é uma cidade estranha, São Paulo, ela não se
propôs a ser uma cidade bonita. Ela se propôs a ser uma cidade rica, ela se propôs a
ser uma cidade de trabalho. Ela construiu essa ideia. Não é que ela seja condenada...
Tenha sido condenada a ser... Ela construiu. E essa construção corresponde ao tempo
que construiu a Cidade Maravilhosa.
O SR. SÉRGIO MAGALHÃES – Então, esse largo retorno histórico é pra reafirmar a
convicção de que nós temos que fazer um grande esforço. Investimentos, debates,
projetos de requalificação do nosso território. Nós precisamos, nós temos que
requalificar o Rio. A qualidade do território do Rio de Janeiro tem que subir muito, tem
que ser compatível, não apenas com a história como com o desejo do carioca. E o
negócio é se isso é possível. Esses elementos assim pontuais, tipo copa do mundo e
olimpíada, nos estimulam a isso. Mas nós temos o que é mais necessário para que
isso se potencialize, que são as condições humanas, condições tecnológicas,
condições econômicas para que isso se dê. Agora, nós não podemos é achar que nós
vamos fazer tudo ao mesmo tempo. Nós temos que priorizar. Aí estou com o Mauro: a
nossa prioridade tem que ser onde os dinheiros, que não são todos, que deixamos de
ter, desde 1960, nós deixamos de ter todos os dinheiros que tínhamos. Eles são hoje
escassos, eles têm que ir para aqueles lugar onde qualifique mais.
A SRA. NARA MAIA - É... A questão desses eventos, quer dizer, 2014 fazer copa,
2016; tem ainda os jogos militares...
(FALAS PARALELAS)
A SRA. NARA MAIA -...que nós estamos não... Isso na verdade nós temos que ver
como oportunidade. Mas mesmo que não houvesse, quer dizer, a grande mensagem
que eu estou fazendo aí do Francisco Pinto, mesmo que não houvesse essas
oportunidades, assim, claras, colocadas de uma forma concreta, nós temos aqui no
Estado do Rio, nós teríamos a obrigação de buscar essas oportunidades porque de
qualquer maneira mantém-se a necessidade desse choque de investimento e dessa
requalificação.
Aí eu vejo, a requalificação aí o fato de ser uma Cidade Maravilhosa não nos isenta de
simplesmente cruzarmos os braços e dizer que não precisamos fazer nada. Quer
dizer, requalificação do território, requalificação das pessoas, oportunidade das
pessoas de capacitação da sociedade como um todo, da questão dentro do poder
público, essa oferta de oportunidades.
Uma questão que nós tratamos muito por conta desses eventos também, é a questão
metropolitana, a requalificação da metrópole. Mas eu vejo que isso também deve ser
estendido, quer dizer, essas oportunidades, esses exemplos, esses investimentos ao
estado como um todo. Nós já vimos alguns núcleos que já são, que já pedem por esse
tipo de investimento; Macaé, é um exemplo. Já teve um sistema, já fez a proposta, já
encontrou um sistema de transporte por ônibus integrado, e agora está repensando a
questão do VLT. Petrópolis, também; Teresópolis, também; Volta Redonda, Barra
Mansa; ou seja, nós temos muitos no estado também que esses exemplos de
reprojeto de estudos do transporte eles podem ser rebatidos em escalas diferentes,
em estudos de modos, diferentes investimentos, mas essas oportunidades também
que sejam estendidas ao resto do estado.
Você citou Macaé. Macaé, obviamente, é uma cidade com enorme potencial em
desenvolvimento. Mas ela construiu um erro que se repete na cidade. Há poucos anos
o seu novo fórum foi implantado fora da cidade. Tiraram o fórum da praça principal e
levaram para a estrada, a quilômetros de distância, no meio de uma fazenda,
praticamente. Quando é tomada uma atitude dessas não apenas desqualifica a
imagem e a identidade coletiva, que está localizada na praça, e é representação dos
poderes políticos, como induz o desenvolvimento, a exposição, a ocupação para uma
área completamente sem condições. Então, Macaé, eu acho que é o exemplo típico de
como é necessário estarmos atentos para não perdermos essas oportunidades.
O SR. SÉRGIO MAGALHÃES - Para Macaé não foi vantagem essa transferência do
fórum, na minha avaliação. E demanda outras coisas. Perde renda, perde densidade
econômica, perde densidade populacional, perde possibilidade de aumentar a
qualidade de vida.
O SR. MAURO OSÓRIO – Geiza, essa questão, por exemplo, voltando à questão do
esporte, quer dizer, um dos grandes desafios dos eventos nacionais é como é ocupa
esses equipamentos esportivos após os eventos. Um desafio que não é simples, mas
eu acho que transformar o Rio de Janeiro em referência do esporte na América Latina,
trabalhando massificação de esporte, um dos problemas do Brasil e do Rio é o
emprego para jovem; quer dizer, as atividades esportivas não são caras; emprega
gente, emprega jovem, dá perspectiva, dá perspectiva para esses garotos que estão
na favela e que precisam ter alternativas a uma vida de reizinho, até 23 anos
dominando o tráfico, aonde ainda tem território paralelo, não é? Então, primeiro, é a
questão de massificação do esporte não só na cidade como no Estado como um todo.
Então, a gente precisa pensar o Estado integrado, e recentemente o Fórum fez aquele
documento sobre turismo; e aí mostra também que para o próprio turismo as políticas
de estrutura são fundamentais. Ou seja, as principais políticas de turismo não são
políticas de turismo; despoluição da Baía de Guanabara. Quer dizer, na medida em
que a cidade esteja sendo uma cidade feliz para o morador...
O SR. MAURO OSÓRIO - Claro. Na medida em que a cidade esteja sendo uma
cidade feliz e um estado feliz com o seu morador, vai atrair muito mais turismo,
principalmente com características que a gente tem.
Então, é curioso. Por exemplo, Florianópolis é um lugar que tem o menor percentual
de turismo com relação ao Estado de Santa Catarina inteiro. E é exatamente o lugar
onde mais cresceu o turismo, seja na sua capital, seja no estado como um todo.
Quanto mais você integrar isso, mais densidade você dá. Na verdade, eu acho que a
gente também qualificar o território passa por ampliar o debate e passa por uma
mudança de políticas públicas. Tem um dado impressionante. A Secretaria de
Fazenda passou por uma reestruturação muito grande, o Estado do Rio de Janeiro
ganhou um investimento grande. Quando você olha os dados de evolução do ICMS,
de 99 a 2006, no Brasil o ICMS cresceu em torno de 32%. O Estado do Rio de Janeiro
cresceu só 7%. Nos últimos dois anos o Brasil cresceu 9%, o Estado 10%. À medida
que você estrutura as políticas públicas... Agora, é claro que passa também pela
renovação política, quer dizer, o vereador que é dono do centro social nunca vai
querer que o hospital funcione, porque senão o centro social dele não faz mais
sentido. Então, é uma maluquice a Câmara de Vereadores, ou a Assembleia, ou o que
seja, destinar recursos para um centro social que é uma forma de gerar uma
dependência, uma escravidão do cidadão com relação a determinado político.
A SRA. GEIZA ROCHA - Foi o tema que a gente abriu na verdade o ciclo de debates,
foi justamente gestão pública e planejamento, porque a gente entende que é o guarda-
chuva de todas essas ações e de todas as propostas que possam surgir em cada um
dos temas que a gente está tratando.
Tem mais uma pergunta do Tiago e eu não tenho mais nenhuma ficha aqui pedindo
participação. Então, na verdade, o Tiago fala e aí depois a gente parte para as
considerações finais.
A SRA. GEIZA ROCHA - Eu chamei o nome do senhor, não, porque ideia é cada um
falar... Passa aqui para ele. Só se identifica, porque...
O SR. JOUBERT FLORES - Eu realmente não conheço esse programa, mas nós
temos, desde 2005, apesar de a gente não ter capacidade para poder ter mais esse
estímulo à questão da bicicleta, a gente tem a utilização das bicicletas, a possibilidade
de usar bicicleta nos domingos e feriados, no dia inteiro, nos sábados à tarde. Agora,
com o incremento da nossa capacidade, a gente tem interesse de participar. Eu falei
da questão dos bicicletários, mas eu não conheço esse programa; a gente teria
interesse pelo menos de ouvir.
O SR. TIAGO FREITAS – Inclusive, porque isso deu um problema porque as bicicletas
foram roubadas, mas, enfim, são 19 pontos no Rio de Janeiro em que você tem um
bicicletário. Você paga uma assinatura por mês, 50 reais, e você pode usar a bicicleta
de um ponto a outro. Então, vamos supor, se você sai da estação do metrô na
Siqueira Campos e logo ali tem uma estação do Pedala Rio, você pega a bicicleta e
vai da Siqueira Campos até algum ponto de Copacabana que você queira, volta para a
estação do metrô, deixa a bicicleta ali, pega o metrô e vai embora. É uma bicicleta de
aluguel. São 19 pontos.
Eu achei esse projeto muito interessante. Gosto desse projeto. Conhecia esse
bicicletário na estação do Cantagalo e algumas outras estações. Nunca usei no
sistema do metrô, mas sei que existe. Então, o sistema do Pedala Rio funciona dessa
maneira. Eles tiveram um problema porque roubaram as bicicletas, mas agora houve
uma parceria com a Prefeitura e o sistema foi restabelecido.
Acho uma ideia bacana para o metrô, principalmente ali, voltando a falar da estação
de Cantagalo para quem vai do Cantagalo até a Lagoa pelo corte, enfim, são
possibilidades que podem ser feitas. É o projeto Pedala Rio.
Obrigado.
O SR. JOUBERT FLORES – A gente vai tentar conhecer melhor.
O SR. MAURO OSÓRIO – Bem, eu acho que começando pela questão da Rio Branco,
se tiver um bom planejamento, acho que vai ser uma maravilha. É uma questão que
vai ter que se testar. Não sou especialista em transporte, mas é uma ideia ousada e
que de fato deve ser tentada. Quanto mais se restringir o uso do automóvel para a
cidade vai ser melhor.
Com relação à questão econômica, na verdade não é que caem 62%, perde
participação em torno de 62%. Nós tínhamos 12% de participação no PIB em 1970, e
hoje a idade do Rio de Janeiro tem em torno de 4,5%, perto de 5%. É uma decadência
econômica grande da cidade e do estado. A gente tem que pensar a cidade e o estado
com uma política integrada, já acontece coisa, a vinda dos investimentos, a própria
olimpíadas militares, porque às vezes na zona oeste a gente fala pouco, mas é um
evento que vai ter um porte maior do que o Panamericano. Enfim, a olimpíada, o pré-
sal e todas essas coisas, a gente tem que se organizar muito mais. Já estão
acontecendo coisas. E pensar a cidade e o Estado em todos os aspectos de prioridade
econômica. Não acredito que o turismo sozinho resolva isso, embora o turismo seja
extremamente importante. Quando a gente olha os dados de esporte, entretenimento,
cultura, mídia, o emprego na Cidade do Rio de Janeiro é igual ao de São Paulo.
Então, a cidade tem uma enorme vocação para o entretenimento. Agora está longe
dos principais centros emissores que é Europa, Estados Unidos. O México, por
exemplo, tem uma estrutura turística extraordinária, está ao lado dos Estados Unidos,
agora até num bom momento pela situação da economia americana, mas por outro
lado ele tem um mercado consumidor muito próximo. Isso não quer dizer que a gente
não tenha que ter... Acho que as prioridades para o Rio de Janeiro sob o ponto de
vista econômico devem ser o complexo de turismo, entretenimento, esporte, cultura.
Acho que a economia da saúde é muito importante aqui no Rio. Nós ainda temos uma
indústria farmacêutica importante de equipamentos médicos. A Fiocruz está aqui. A
população brasileira envelhece. Você tem uma série de doenças tropicais que não tem
nos países desenvolvidos. Tem aí um espaço grande para a ampliação da indústria
farmacêutica, a questão dos genéricos. E com certeza a questão do complexo petróleo
e gás. E não é porque a Petrobras está aqui que nós vamos estar nos beneficiando
como poderíamos. A USP, por exemplo, tem um centro de estudos e articulação com
o governo do Estado para pensar políticas para atrair petróleo e gás, atividades
econômicas que é inclusive, que é o filet mignon. Então, acho que a gente tem que se
organizar ainda mais e ficar trabalhando, ou seja, não está dada: a situação melhorou,
as perspectivas são boas, mas vai depender do nosso trabalho e do aprimoramento
estratégico.
Então, você não pode ter ilhas de excelência, quarteirões maravilhosos, se a cidade
não se distribui. Porque o gerente, o funcionário muito qualificado, muito bem situado
na hierarquia de uma grande empresa multinacional ou dos governos, tem as famílias,
tem os filhos que interagem também, tem as escolas, tem a possibilidade do lazer, a
possibilidade de ter uma vida que precisa também ter um bom padrão. Então, o
desenvolvimento econômico se numa ponta digamos, para a produção inicial precisa
ter um ambiente saudável, na outra ponta da inserção, do grande negócio, precisa
também. Não é uma coisa que seja deixada para a natureza resolver. Não resolverá.
A natureza já nos deu muito. Ela não resolverá isso. Nós é que temos de resolver.
No caso da Avenida Rio Branco, eu desejo que a Avenida Rio Branco seja um lugar
agradável. Ela já foi uma avenida muito bonita. Hoje ela tende a ser mais inóspita do
que agradável. A escala dela é interessante. Ela tem, eu já medi, 33 metros que é a
mesma largura... Não, isso eu não posso dizer, senão eu estrago. As calçadas dela
têm sete metros de largura. A 5ª Avenida, em Nova York, na altura do Rockfeller
Center, que é um lugar muito conhecido, as calçadas têm seis metros, têm um metro a
menos do que a da Avenida Rio Branco. E a largura da rua da 5ª Avenida tem a
mesma largura da Avenida Rio Branco, menos três metros. Entretanto, a minha
percepção e das pessoas com quem eu conversei sobre esse assunto é que a 5ª
Avenida é muito mais calma, parece ser mais larga. As calçadas parecem ser maiores
do que ocorre na Rio Branco.
Entre outras razões, eu diria por aquela massa de ônibus que impacta violentamente a
nossa relação com a própria rua. E o movimento dos ônibus, mas também dos
automóveis, num circuito muito menos agradável do que em cidades mais
desenvolvidas.
Parece que esse é o desejo que está por trás do projeto, de modificar essa relação
que é hoje danosa, entre o fluxo de veículos, seja ele automóvel, seja ônibus, e os
pedestres. Se para isso precisa a rua ficar toda para pedestres, eu não sei. Se isso é
uma atitude política no sentido de criar uma alternativa para alta concentração de
ônibus que precisam ter uma permeabilidade maior que em tecido do centro, pode ser
uma solução.
A SRA. NARA MAIA - Geiza, fechar, como o Francisco citou o Carlos Drummond de
Andrade, lembrar o Mário Quintana: “Quando muitas vezes pensamos que é mal de
amor, na verdade é mal de amor próprio.”
Agora, a Rio Branco, fechar a Rio Branco, por que não o Centro todo? Se somos uma
cidade mundial, temos assim inúmeros exemplos de outras cidades mundiais que tem
o Centro fechado, Lisboa é assim, Roma é assim, e por que a gente não pode fechar
também e ter essa oportunidade de requalificação no Centro?
Acho que fica um pouco de medo. Mas fechar? Será que não se vai afetar minha
liberdade, minha mobilidade, acessibilidade? Como é que eu vou chegar com o meu
carro na garagem do meu prédio comercial que eu tenho no meio da Rio Branco?
Essa ideia, o projeto em si está se desenvolvendo, mas vale um debate maior porque
ele não pode ser visto apenas como projeto viário, simplesmente fecha fisicamente,
mas ele deve ser entendido como projeto mais amplo, quer dizer, não apenas projeto
de paisagismo, colocar floreira e viário de simplesmente fechar. Fechar por si só pode
causar transtornos, certo frisson de o que eu que eu vou fazer com meu carro, ou
ônibus? O que eu vou fazer com aqueles ônibus que estão lá? Está sendo repensado.
Deve estar sendo repensado como uma requalificação, uma removimentação,
relocação dos ônibus no Centro da cidade. Ele vem atrelado ao estudo do bilhete
único também, quer dizer, está atrelado a outros estudos também da Prefeitura. Então,
realmente, vale um amadurecimento.
Além disso, agradecer a oportunidade.
A SRA. GEIZA ROCHA - Queria agradecer a todos, principalmente a plateia, que teve
um papel importante na dinamização dessa discussão.
Tudo que a gente gravou aqui, conversou, vai ser resumido para o público e vai ser
exibido na TV Alerj, mas a gente vai transcrever todo esse debate e a partir daí discutir
também, transformá-lo nos Cadernos do Fórum, justamente para a gente deixar
escrito. Para quem está pensando e executando as políticas públicas o que é
importante também, porque a gente acredita que pode ser digno de contribuição para
a construção de um futuro mais próspero e permanente no desenvolvimento
sustentável.
20/05/2010
Mesa:
Platéia: