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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA

A POLÍTICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA


ATENÇÃO INTEGRAL A USUÁRIOS DE ÁLCOOL E
OUTRAS DROGAS E SUA INTERFACE COM O
PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA:
COMPREEDENDO TAL REALIDADE NA UNIDADE
LOCAL DE SAÚDE DO BAIRRO SACO GRANDE NO
MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

FLORIANÓPOLIS – SC
JANEIRO, 2006
ADRIANA MARIA SCHEFFER
BRUNA GRIGGIO DE SOUZA
JURANDYR VEIGA MELLO FILHO
LUCIANA DE OLIVEIRA PLAZA
SUZANA VALDA VIDAL

A POLÍTICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA ATENÇÃO


INTEGRAL A USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS E SUA
INTERFACE COM O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA:
COMPREENDENDO TAL REALIDADE NA UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DO
BAIRRO SACO GRANDE NO MUNÍCIPIO DE FLORIANÓPOLIS.

Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação


Lato Sensu, Especialização Multiprofissional em
Saúde da Família da Universidade Federal de Santa
Catarina.
a
Orientadora: Prof . Rosana Isabel dos Santos,
M.Sc.

FLORIANÓPOLIS – SC
JANEIRO, 2006
“Uma Coisa é por mil coisas no papel,
outra coisa é lidar com gente de
carne e mil misérias”.
Guimarães Rosa
SCHEFFER, ADRIANA M.; SOUZA, BRUNA; FILHO, JURANDYR; PLAZA,
LUCIANA; VIDAL, SUZANA V. A Política do Ministério da Saúde para
Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas e a sua interface
com o Programa de Saúde da Família: compreendendo tal realidade na
unidade local de saúde do bairro Saco Grande no município de Florianópolis.
– UFSC. 2006. 61f. Monografia (Especialização Multiprofissional em Saúde
da Família) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

RESUMO

Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, baseado na


abordagem dos profissionais do Programa saúde da Família (PSF) da Prefeitura Municipal
de Florianópolis na Unidade Local de Saúde do bairro Saco Grande. Buscou-se conhecer o
quanto e como a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de
Álcool e outras Drogas tem sido implementada no município de Florianópolis, bem como
identificar o conceito dos profissionais de saúde sobre drogas e dependência química, seu
conhecimento sobre a legislação vigente, verificar quais são os limites e a possibilidade de
atendimento a esta demanda nas unidades básicas de saúde, se tem sido realizadas
atividades preventivas na perspectiva do PSF e se os profissionais estão capacitados para
atender. As respostas da pesquisa foram relacionadas aos conceitos da literatura acerca do
tema. A pesquisa mostrou que o processo de implementação da Política do Ministério da
Saúde para atenção Integral a Usuários de Álcool e outras drogas é muito incipiente no
município de Florianópolis, mas que há projetos, inclusive para a capacitação de todos os
profissionais de Saúde da Atenção Básica e interesse dos mesmos em atender a essa
demanda.

Palavras-chave: dependência química, drogas, programa saúde da família.


ABSTRACT

Abstract: This work is a qualitative research, based on health the professionals speeches
that belong of the family health program (PSF) of the city hall of the Florianópolis in a
local health unit of the Saco Grande district. Try to know when and how the health
ministry politic about tottaly attention with alcohool and other drugs user´s has been
implemented in Florianópolis city, as well as to identify the concept of the health
professionals about drugs and chemical depedence, their knowledge about current
legislation to verified what are the limits and the possibility of the service this demand in
the basics health units, if have had archieved preventive activities on the base of PSF
perspectives and if the professionals are able to care about. The answers of the research
were crossreference with the literature conceptions about it. The research showed that
process – implementation of the health ministry politic about totally attention with
alcohool and other drugs is very few presence in florianópolis city, but there are projects,
including for development of the all health attention basical professionals and themselves
interest to care this demand.

Keywords: Chemical depedence, drugs , family health program


SUMÁRIO

Lista de Siglas......................................................................................................................8

1 – Introdução ....................................................................................................................9

2- Objetivos..........................................................................................................................28

2.1 – Objetivo Geral ....................................................................................................28


2.2 – Objetivos Específicos .........................................................................................28

3 – Metodologia ..................................................................................................................29

3.1 – Natureza da pesquisa...........................................................................................29


3.2 – População/sujeitos...............................................................................................29
3.3 – Trajetória da pesquisa.........................................................................................30
3.4 – Limites da pesquisa.............................................................................................32
3.5 – Apresentação e análise da pesquisa.....................................................................33

4 – Resultados e Discussão..................................................................................................34

4.1 – O olhar do Profissional para o fenômeno............................................................34


4.2 – Enfrentamento do fenômeno...............................................................................42
4.3 – Papel do Programa Saúde da Família frente à demanda.....................................45
4.4 – Como os Profissionais de saúde se sentem para atender a demanda..................52

5 – Considerações Finais.....................................................................................................57

6 – Referências.....................................................................................................................60

Anexos..................................................................................................................................64
ANEXO 1 – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa com seres
humanos.
ANEXO 2 – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos participantes da
pesquisa.
ANEXO 3 – Pauta para as entrevistas e grupo focal
8

LISTA DE SIGLAS

ACS -Agente Comunitário de Saúde


AMA - Associação Médica Americana
ANVISA -Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial
CAPSad - Centro de Atenção Psicossocial –Álcool e Drogas
CID - Classificação Internacional de Doenças
COMEN - Conselho Municipal de Entorpecentes
CONAD- Conselho Nacional Antidrogas
MS - Ministério da Saúde
OMS - Organização Mundial da Saúde
PNAD - Política Nacional Antidrogas
PSF - Programa Saúde da Família
SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas
SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica
SISNAD - Sistema Nacional Antidrogas
SMS - Secretaria Municipal de Saúde
SUS - Sistema Único de Saúde
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
ULS - Unidade Local de Saúde
9

1 – INTRODUÇÃO

Drogas e Dependência Química

“Droga”, na língua portuguesa, de acordo com KOOGAN e HOUAISS (1995), pode ser

a “designação geral de toda substância usada em química, farmácia, etc.; nome dado aos

narcóticos ou entorpecentes; coisa que nada vale ou que se estragou”. Conforme a Organização

Mundial de Saúde (OMS), droga é toda e qualquer substância que, introduzida num organismo

vivo, é capaz de modificar funções fisiológicas ou comportamentais (CONEN, 2001). Na área da

saúde este termo ainda pode ter outros significados, muitos dos quais assimilados do substantivo

inglês “drug”, o qual, conforme STEDMAN (2003), pode significar: “agente terapêutico,

fármaco, medicamento, droga; qualquer substância, além de alimento, usada na prevenção,

diagnóstico, alívio, tratamento ou cura de uma doença; droga; termo genérico dado a qualquer

substância, estimulante ou depressora, que possa causar hábito ou vício, principalmente um

narcótico”. Na mesma obra, também consta a expressão “addictive drug”, significando “qualquer

droga (substância) que crie um certo grau de euforia e tenha forte potencial dependente”.

No Brasil, pelo menos no contexto farmacêutico, procura-se diferenciar os termos

“droga”, “fármaco” e “medicamento”. Como droga, entende-se toda substância que, ao ser

absorvida pelo organismo, provoca alteração da percepção e consciência, além de induzir à

dependência. Fármaco é o princípio ativo do medicamento (BRASIL, 1998); deriva do termo

grego pharmakon que representava simultaneamente remédio e veneno, traduzindo assim efeitos

dessas substâncias sobre a mente e o corpo do indivíduo (SENAD, 2004). Já medicamento

designa “produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, que contém um ou mais


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fármacos juntamente com outras substâncias, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou

para fins de diagnóstico” (FARMACOPÉIA, 1988).

Embora se tenha registro do uso de substâncias psicoativas em diferentes épocas,

culturas e com as mais variadas finalidades, não significa que essa convivência tenha sido

pacífica, nem tenha trazido benefícios para toda a humanidade. A existência de rituais religiosos

nos quais se emprega algum tipo de droga para alterar o estado de consciência está presente já em

comunidades primitivas, justamente por ser o sagrado à experiência da presença de uma potência

ou de uma força sobrenatural que habita algum ser (CHAUÍ, 2004), experiência esta que seria

facilitada com o emprego de tais substâncias. As várias sociedades permitem o uso social ou

religioso de certas drogas. Estas, cujo emprego é aceito social e legalmente, são as drogas lícitas,

como o fumo e o álcool nas sociedades ocidentais. Outras drogas não são aceitas, sendo, portanto,

ilícitas.

Nas décadas de 60 e 70 do século XX, o mundo ocidental presenciou uma expansão no

consumo de drogas psicoativas, ilícitas, entre os jovens, principalmente através do movimento

“hippie”, quer como forma de contestação, quer como alienação. Desde então, o consumo só tem

crescido.

A origem das drogas pode ser natural, semi-sintética ou sintética. As naturais estão

presentes em certas plantas usadas diretamente ou empregadas como matéria-prima para a

extração de substâncias. São exemplos, a maconha, o ópio e cogumelos tóxicos. Obviamente,

neste grupo constam exemplos daquelas cujo registro de uso pelo homem é o mais antigo.

As semi-sintéticas derivam de drogas naturais sobre as quais foram realizadas

modificações químicas. É o caso da cocaína , do tabaco e do álcool. Algumas delas são

produzidas em escala industrial como as bebidas alcoólicas e o cigarro.


11

Por fim, as sintéticas são produzidas unicamente por manipulações químicas em

laboratório e não dependem para sua confecção de substâncias vegetais ou animais como matéria-

prima. Como exemplo temos o ácido lisérgico (LSD) e o Ecstasy. Atualmente, a diversidade de

drogas sintéticas tem aumentado de forma preocupante.

Os efeitos sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) são diversos. Há drogas depressoras,

que diminuem a atividade do SNC, resultando em letargia, demora nas respostas, podendo causar

desde sonolência até a perda da consciência. São exemplos o álcool, os barbiturícos, os

benzodiazepínicos, os opiáceos ou narcóticos (morfina, heroína) e os inalantes ou solventes. As

drogas estimulantes são aquelas capazes de acelerar a atividade cerebral, aumentando o estado de

vigília. A cafeína, a nicotina, as anfetaminas, a cocaína, o crack (mistura de cocaína com

bicarbonato de sódio ou amoníaco e água) pertencem a esta categoria. Por fim, ainda há as drogas

perturbadoras que promovem alterações significativas no SNC quase sempre conduzindo a

alucinações e delírios. Como exemplo temos a maconha e o haxixe, alucinógenos como o LSD e

o Ecstasy, e anticolinérgicos. (CEBRID)

Segundo BAPTISTA NETO e OSÓRIO (2002), as pessoas usam drogas esperando

satisfazer alguma necessidade, como o prazer, mesmo que espúrio, ou o alívio de uma dor física

ou psicológica. Dessa forma, buscam neutralizar uma carência ou ansiedade, reencontrar ou ter a

ilusão de encontrar uma esperança ou as forças perdidas, respondendo à imperiosa necessidade de

desencadear artificialmente uma fantasia que é vivida como certeza por que a experimenta. Os

autores também atribuem às exigências da sociedade e às necessidades do que se chama de êxito

social, aliadas a uma fragilidade pessoal, um estímulo ao uso de drogas, na tentativa de sua

resolução.
12

BÜCHELE (2001) apresenta razões semelhantes pelos quais algumas pessoas passam a

usar repetitivamente drogas, até que, segundo a autora, se instala o fenômeno da dependência:

“(...) pelo menos em curto prazo, [as drogas] provocam, num primeiro
momento, prazer, removem ou afastam uma grande variedade de
sentimentos desagradáveis, tais como angústia, depressão, raiva entre
outras, todavia se usadas moderadamente. Algumas drogas, num
determinado momento, podem funcionar como uma “poção mágica” e
fornecer a ilusão de que os problemas foram superados ou mesmo
resolvidos. (...) O alívio ou prazer provocado é temporário tendo, às
vezes, a dose que ser aumentada freqüentemente. Na falta disto as
pessoas que se acostumaram a consumi-la, quando não obtém a
substância (álcool, por exemplo), dependendo do nível de dependência,
podem ser invadidas por sintomas como nervosismo, inquietação,
ansiedade ou até mesmo um impulso incontrolável de obtê-la novamente.
(...) O que a princípio parecia uma solução, começa a caracterizar-se
como problema, constituindo-se um círculo vicioso constante, sem a
consciência do usuário dependente.”

Já BAPTISTA NETO e OSÓRIO (2002) afirmam que até hoje não se encontrou uma

explicação científica convincente para a dependência, havendo uma tendência atual em

considerá-la como um fenômeno único, que conjugaria elementos explicativos do que se

convencionou chamar de dependência física – associada a uma predisposição biológica, a outros

relacionados à chamada dependência psicológica – associada a deficiências na estruturação da

personalidade.

Embora nem todas as substâncias psicoativas levem à dependência, assim como nem

todas as pessoas que fazem uso eventual de drogas desenvolvem dependência, este fenômeno é o

grande problema associado ao uso de drogas. O usuário dependente vive numa relação muito

estreita com a droga de sua preferência e as conseqüências são, geralmente, ruptura com todos os

vínculos anteriores o que freqüentemente produz muito sofrimento quase sempre conduzindo a

um processo de marginalização. Milhares de pessoas morrem vítimas do abuso e/ou dependência


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química e situações associadas, tais como: alcoolismo, violência e problemas de saúde

decorrentes das substâncias químicas.

A OMS (CONEN, 2001) considera que uma pessoa só pode ser considerada como

dependente se o seu padrão de consumo apresentar ao longo dos últimos doze meses, pelo menos

três dos seguintes indicativos:

 forte desejo ou compulsão de consumir drogas,

 incapacidade de controlar o uso,

 estado fisiológico de abstinência,

 tolerância,

 diminuição da auto-crítica em relação ao ambiente, hora ou motivos para o


consumo de drogas,

 negligência progressiva de prazeres e outros interesses em favor do uso de


drogas,

 persistência no uso de drogas, apesar de esforços mal sucedidos em abandoná-la,

 retorno ao uso de drogas após períodos de abstinência.

Além do usuário dependente, a OMS( CONEN,2001) classifica também:

 Usuário habitual: faz uso freqüente da droga. Em sua vida já se observam sinais
de rupturas afetivas, profissionais e sociais. Aparenta ainda estar bem, embora
haja prejuízos.

 Usuário Ocasional: utiliza um ou vários produtos ,de vez em quando, se o


ambiente é favorável e se a droga estiver disponível. Não rompe suas ligações
afetivas, profissionais e sociais.

 Experimentador: limita-se a experimentar a droga por diversos motivos:


curiosidade, desejo de novas experiências, pressão do grupo.
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Atualmente, atribui-se ao uso de drogas o aumento vertiginoso da criminalidade, das


múltiplas formas de violência, da disseminação do vírus HIV, de outras doenças e de uma enorme
lista de problemas com amplas repercussões sociais. São os custos sociais decorrentes do uso
indevido de drogas, cada vez mais elevados, que tornam urgente uma ação enérgica e adequada
do ponto de vista da saúde pública. Por isso, em quase a totalidade do mundo as drogas são
consideradas um problema, na maioria das vezes grave e ameaçador. Esta situação tem desafiado
as possibilidades do conhecimento humano fazendo com que órgãos oficiais das várias nações
construam esquemas de vigilância, de atendimento, predominando quase sempre uma concepção
moral e médica do fenômeno.

Embora os estudos epidemiológicos, no Brasil, sejam insuficientes para retratar a

realidade, demonstram que os problemas relacionados ao abuso e dependência de drogas refletem

de forma direta na saúde pública e exigem políticas voltadas para ações no nível da promoção da

saúde, prevenção e tratamento dos dependentes químicos (GONÇALVES, 2002).

Legislação e Políticas Públicas sobre questões relacionadas às Drogas

Durante décadas a questão das drogas foi tratada apenas com ações de repressão e de

forma marginalizada, não sendo reconhecida como questão de saúde pública. Quando um cidadão

buscava tratamento, geralmente era internado em hospitais psiquiátricos.

A primeira legislação sobre drogas instituída no Brasil foi através da lei n.o 6368 de

1976, tendo estado em vigência por 26 anos, período em que o tráfico internacional e interno teve

um crescimento grande.

Também em 1976, o governo federal criou o Sistema Nacional Antidrogas – SISNAD,

com o objetivo de organizar, articular e integrar as atividades do setor público para prevenir o uso
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indevido de drogas, reduzir os danos decorrentes desse uso, tratar e reinserir os usuários e

dependentes de drogas e reprimir a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito.

Somente em 1998, em Assembléia Geral das Nações Unidas, o então Presidente

Fernando Henrique Cardoso se comprometeu a aderir aos “Princípios Diretivos de Redução da

Demanda por Drogas”, estabelecidos pelos Estados-Membros, assumindo o compromisso

político, social, sanitário e educacional de caráter permanente, no investimento em programas de

redução da demanda. No mesmo ano criou-se a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), cujo

objetivo era coordenar as ações de redução da demanda e ficava subordinada à estrutura do

Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Ainda em 1998, o Conselho

Federal de Entorpecentes foi transformado em Conselho Nacional Antidrogas (CONAD).

Em 2000, foi regulamentado pelo Presidente o Sistema Nacional Antidrogas – SISNAD,

sendo que um dos princípios básicos passou a ser o de responsabilidade compartilhada entre

Governo e Sociedade ( SENAD, 2004).

A III Conferência Nacional de Saúde Mental realizada no ano de 2001, destacou a

necessidade de (re)afirmação e (re)elaboração de estratégias e propostas para efetivar e

consolidar um modelo de atenção a usuários de álcool e outras drogas, que garantisse seu

atendimento pelo SUS e considerasse seu caráter multifatorial (e não apenas problema de saúde),

alertando a sociedade e as autoridades para a situação. Também estabeleceu as dez

recomendações básicas para ações na saúde mental:

1. Promover assistência em nível de cuidados primários;

2. Disponibilizar medicamentos de uso essencial em saúde mental;

3. Promover cuidados comunitários;

4. Educar a população;
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5. Envolver comunidades, familiares e usuários;

6. Estabelecer políticas, programas e legislação específicos;

7. Desenvolver recursos humanos;

8. Atuar de forma integrada com outros setores;

9. Monitorar a saúde mental da comunidade;

10. Apoiar mais pesquisas. ( SENAD, 2004)

Como resposta às pressões sociais, no mesmo ano é sancionada a Lei 10.216, que se

tornou o marco legal da reforma psiquiátrica, visando garantir os princípios da universalidade,

integralidade e a descentralização.

Em 11 de janeiro de 2002, foi sancionada a Lei 10.409, que “dispõe sobre a prevenção, o

tratamento, a fiscalização, o controle e a repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilícito de

produtos, substâncias ou drogas que causem dependência física ou psíquica, elencados pelo

Ministério da Saúde”. Esta lei sucedeu a lei n. 6368/76 em apenas alguns artigos, o que originou

dupla vigência, causando problemas na área jurídica; foram mantidos em vigor os artigos 12o ao

19o, que tratam de crimes e penas. A lei 6.368/76 referia-se a “entorpecentes”, enquanto que a lei

10.049/02, a “produtos, substâncias ou drogas ilícitas que causem dependência física ou

psíquica”(SENAD, 2004). Um dos avanços trazidos pela Lei 10.409 foi o de atribuir ao

Ministério da Saúde o poder de regulamentar ações que visem a redução dos danos sociais e a

saúde.

A Política Nacional Antidrogas foi instituída em 26 de agosto de 2002, através do

decreto no. 4.345. É uma política de enfrentamento interministerial e está fundamentada na

participação da sociedade civil. Nela, cada Ministério fica responsável em criar sua política de

enfrentamento, porém, em interface com a PNAD e com as dos outros Ministérios.


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Assim, o Ministério da Saúde elaborou, em 2003, a política setorial de saúde que é

denominada de “Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e

Outras Drogas”, tendo como marco teórico-político dessa o tratamento da questão das drogas

como um grave problema de saúde pública. A concepção de política específica baseia-se nas

ações de prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social. Considera como primordial:

 Intensificação de dispositivos extra-hospitalares de atenção psicossocial


especializada;

 Práticas de cunho terapêutico, preventivo e educativo;

 Lógica ampliada da redução de danos;

 Conceitos de território e rede (integralidade);

 Construção do plano de atenção integral ao uso de álcool e outras drogas,


tomando como base os princípios do SUS, a desinstitucionalização, a ampliação
do acesso e da rede de cuidados, garantindo o acesso a alternativas assistenciais
ambulatoriais, semi-intensivas e de âmbito comunitário;

 Consolidação e expansão da rede de Centro de Atendimento Psicossocial


(CAPS);

 Implantação do Plano Nacional de Redução de Danos à Saúde causados pelo


álcool, com ações de prevenção, educação em saúde, e integração com outras
áreas de governo;

 Estudo, avaliação e definição da função complementar das chamadas


“comunidades terapêuticas”;

 Fortalecimento do processo de gestão estadual e municipal de recursos


financeiros, humanos e físicos;

 Estabelecimento de parcerias entre diferentes esferas do governo, sociedade civil,


setor privado, universidades.
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 Implantação/implementação de rede assistencial especializada, integrada a outros


dispositivos extra-hospitalares;

 Contribuição para a integração da rede de atenção básica com CAPS;

 Elaboração de campanhas que promovam a humanização da atenção e reduzam o


estigma relacionado ao usuário.

Desta forma, fica garantido aos usuários de serviços de saúde, e aos que sofrem de

transtornos decorrentes do uso e abuso álcool e outras drogas, a universalidade e totalidade de

acesso e direito à assistência. Preconiza-se ainda a estruturação de serviços mais próximos do

convívio social de seus usuários, configurando redes assistenciais mais atentas às desigualdades

existentes, ajustando as ações de acordo com as necessidades da população.

Assim, a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e

Outras Drogas deve articular-se internamente com outros programas com enfoque no município,

com as comunidades locais e com a realidade da família, especialmente com o Programa de

Saúde da Família (PSF), embora, na maioria das unidades de saúde com PSF implantado, ainda

se tenham poucas ações para a demanda de usuários com transtornos mentais, sendo a internação

a principal medida tomada frente a esse caso.

No ano de 2004 o Ministério da Saúde através da Portaria 2.197/2004, redefiniu e

ampliou a atenção integral a usuário de álcool e outras drogas, no âmbito do SUS sendo que no

seu Art. 2º estabelece que o Programa de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas

tenham como seus principais componentes:

 Componente da atenção básica;

 Componente da atenção nos CAPS-ad, ambulatórios e outras unidades extra-


hospitalares especializadas;
19

 Componente da atenção hospitalar de referência; e;

 Componente da rede de suporte social (associações de ajuda mútua e entidades


da sociedade civil), complementar à rede de serviços disponibilizados pelo SUS.
(BRASIL, 2004).

SUS, PSF e a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e
outras drogas

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado a partir da Constituição Federal de 1988

(artigo 196) e regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei n° 8080/90 e Lei n° 8142/91). O

SUS veio para substituir o antigo modelo organizado pelo Instituto de Assistência Médica e

Previdência Social (INAMPS) e pelo Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, o SUDS,

implementado pelo INAMPS em associação com o Ministério da Saúde.

Uma vez criado o SUS, tratou-se de buscar um modelo no qual a atenção primária à

saúde fosse o eixo norteador e organizador de todo o sistema e que fosse capaz de concretizar a

integralidade das ações e dos serviços, colocando-se como alternativa ao modelo vigente

(MENDES, 2002). O modelo idealizado como estratégia de reorganização da atenção à saúde, foi

implantado nacionalmente com o lançamento, em 1994, do Programa Saúde da Família (PSF).

Obviamente deve ser coerente com os princípios éticos/doutrinários do SUS (a

universalidade, a eqüidade e a integralidade) e com seus princípios organizacionais/operativos

(descentralização, a regionalização e hierarquização e a participação dos cidadãos) (MARIN et al,

2003).
20

O objetivo da Estratégia Saúde da Família é a reorganização da prática assistencial em

novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência, orientado para a

cura de doenças e no hospital.

Enquanto estratégia trabalha com o princípio da vigilância à saúde e fundamenta-se na

interdisciplinaridade entendida como “interação entre duas ou mais disciplinas, realizada na

experiência concreta que promova a integração mútua de conceitos, métodos, procedimentos,

terminologia e campos do conhecimento” e não apenas na multidisciplinaridade, associada à não

aceitação do refúgio da assistência no positivismo biológico e onde os profissionais implicados

estabelecem entre si efetivas relações no campo técnico ou científico. Assim, exige uma

abordagem que questione as certezas profissionais e estimule a permanente comunicação

horizontal entre os componentes da equipe (BRASIL, 2000)

Outro pilar fundamental desta estratégia reside na responsabilidade integral sobre a

saúde da população que reside na área de abrangência das unidades de saúde, centrando a atenção

na família, entendida e percebida a partir de seu espaço físico e social. Assim, por tomar a família

como unidade programática do cuidado, o PSF pode e deve ter que enfrentar o desafio de

desenvolver práticas de cuidados relacionados ao abuso de drogas e à dependência química.

As equipes devem procurar, neste contexto, a construção de atitudes de solidariedade e

compreensão, para auxiliar na difícil tarefa de prevenir e tratar as conseqüências que o consumo

de substâncias psicoativas produzem não só no ambiente familiar, mas em toda a comunidade.

Isto implica em resgatar alguns conceitos e determinantes históricos sobre a situação da família

nas últimas décadas, e sobre o ato de cuidar, transcendendo a visão de doença e buscando a visão

de desenvolvimento humano.
21

Enquanto Programa Governamental, representa, a proposição de mais largo alcance

para a organização da Atenção Primária já posta em prática. A rápida expansão do programa e a

ampliação do acesso aos serviços básicos por ele proporcionada, especialmente para as

populações mais carentes, garantiram um reconhecimento de sua importância .

Assim, hoje, o PSF é a principal ferramenta que se tem para a melhoria da situação da

atenção primária, porém, esta melhoria está na dependência da superação de uma série de

obstáculos á implantação do PSF, através de estratégias bem desenhadas e operacionalmente

eficazes, envolvendo ações articuladas nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal

(MENDES, 2002).

A reorganização do trabalho na Unidade Básica de Saúde deve estar pautada no

planejamento local das atividades, no cadastramento das famílias, no diagnóstico das condições

de vida e de saúde da comunidade, na programação das atividades da equipe, e no

acompanhamento e avaliação destas, através também da reorganização da rotina de trabalho. Para

tal, deve-se contemplar a organização da demanda, o trabalho em equipe, a atenção domiciliar, o

trabalho com grupos e a educação permanente (BRASIL, 2000).

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000), as atribuições de uma Equipe de

Saúde da Família são:

 conhecer a realidade das famílias/comunidade;

 identificar problemas de saúde e situações de risco;

 elaborar um planejamento local de saúde juntamente com a comunidade;

 reestruturar o processo de trabalho;

 executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, as ações planejadas;

 criar vínculo com a comunidade;


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 ser resolutivo e encaminhar quando necessário, respeitando o sistema de


referência e contra-referência;

 prestar assistência integral de forma contínua e racionalizada, visando promover


a saúde através da educação em saúde;

 desenvolver processos educativos com a comunidade em forma de grupos;

 promover ações intersetoriais;

 construir, junto à equipe e à comunidade, uma consciência sanitária (cidadania,


direitos em saúde) através do exercício do controle social.

Dessa forma, as equipes de Saúde da Família devem assumir o desafio da atenção

continuada, resolutiva e pautada pelos princípios da promoção da saúde, com ações intersetoriais

visando à melhoria dos indicadores de saúde e da qualidade de vida da sua população, com

práticas que estabeleçam novas relações entre profissionais, indivíduos, famílias e comunidade

com enfoque principal na família e no contexto ao qual pertence, e não somente no indivíduo. As

ações e as atividades devem privilegiar a saúde, ocorrendo não apenas nas dependências da

unidade de saúde, mas no espaço sócio-geográfico da própria comunidade atendida. A

indissociabilidade entre as ações de promoção da saúde e o trabalho clínico curativo é

fundamental para a resolutividade da atenção.

Inserida neste contexto a questão do uso abusivo de drogas e dependência química, e,

tendo em vista que o PSF é a estratégia adotada para trabalhar com as questões de saúde no nível

primário de atenção, atuando diretamente junto às comunidades, acredita-se que se faz necessário

verificar como a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e

outras Drogas e sua interface com o Programa de Saúde da Família, vem sendo tratado pelos

gestores de saúde do município e como os profissionais da área da saúde do município estão

sendo capacitados para a implementação de tais políticas. Sabe-se que a lógica do PSF ainda não
23

se encontra plenamente consolidada nas práticas de saúde e, por isso, freqüentemente o estágio de

incorporação da política antidrogas ainda é muito incipiente.

Assim foi estabelecido o tema abordado neste trabalho. Especificamente, tratou-se da

“atenção integral ao usuário de álcool e outras drogas e o PSF no Município de Florianópolis”.

Escolheu-se como campo de pesquisa, a Unidade Local de Saúde (ULS) do bairro Saco Grande,

local de atuação do Programa Docente Assistencial –PMF/UFSC e do Curso de Especialização

em Saúde da Família/Modalidade Residência, também da UFSC. Por tais características, esta

ULS tende a se diferenciar da média, comportando um maior dinamismo e grau de discussão

frente aos desafios atuais da atenção à saúde.

Organização da atenção à Saúde no Município de Florianópolis

A gestão do conjunto de serviços desenvolvidos no âmbito do SUS deve ocorrer

principalmente nos municípios e, por isso, as secretarias municipais de saúde vêm assumindo

gradativamente a responsabilidade pela administração direta de 100% dos serviços públicos de

saúde, incluindo a assistência hospitalar. Além disso, estão passando a administrar os contratos e

convênios com o setor privado na jurisdição municipal a fim de assegurar o preenchimento de

lacunas deixadas pelo setor público. Neste ponto, as secretarias municipais habilitam-se à

denominada “ gestão plena” do sistema.

Atualmente a Secretaria Municipal de Florianópolis ainda se encontra na “gestão plena

da rede básica”, assumindo o gerenciamento de 46 unidades de saúde classificadas como básicas,

de uma unidade considerada de segunda linha de atenção por se tratar de um ambulatório de


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especialidades, anteriormente conhecido como PAM–INAMPS (a Policlínica II, no bairro

Estreito) e de alguns outros centros de atenção específica. Vale ressaltar a recente instalação do

Centro de Atenção para Usuários de álcool e drogas (CAPS-ad) no bairro Estreito.

(FLORIANÓPOLIS,2005 a).

O Programa de Saúde da Família – PSF foi implantado em Florianópolis em 1995 e hoje

está presente, em 28 unidades de saúde com 35 equipes de PSF. A Secretaria de Saúde do

município de Florianópolis encontra-se em vias de assumir a gestão plena do SUS, o que

resultará em uma profunda mudança em sua estrutura, principalmente de ordem

gerencial(FLORIANÓPOLIS,2005 a).

Atualmente observa-se que o modelo assistencial anteriormente adotado encontra-se em

transição com a tendência da adoção do modelo Programa de Saúde da Família – PSF - para

100% da rede básica de saúde e o Programa de Agentes de Saúde - PACS, implantado em 100%

do território do município e vinculado às unidades ou áreas de saúde. Ambos os projetos possuem

a característica do atendimento domiciliar tanto de saúde (pelo médico e equipe de enfermagem

do PSF) quanto de levantamento da situação individual e familiar pela vigilância à saúde (através

dos agentes comunitários do PACS). A rede possui também unidades com prestação de serviços

no modelo PSF e que realizam atendimento docente-assistencial como é o caso da Unidade

Local do Saco Grande. (FLORIANÓPOLIS,2005 a).

Em Florianópolis, a cobertura dos serviços básicos de saúde é considerada muito boa,

sendo que os levantamentos apontam a utilização da rede básica por aproximadamente 70% da

população, principalmente nas áreas de atenção à mulher e à criança. A porta de entrada dos

serviços públicos de saúde se dá através da rede básica e o acesso à rede especializada

(Policlínicas de especialidades) ocorre pelo acionamento da Central de Marcação de Consultas,


25

sob gestão da Secretaria de Estado da Saúde. No nível secundário a situação é mais crítica pela

escassez de oferta, pela exclusão de muitas consultas de ambulatórios hospitalares e pelo fato de

os recursos situados no município já neste nível e no nível terciário (hospitalar) atenderem a uma

demanda proveniente de outros municípios circunvizinhos e de outras regiões do estado.

Atualmente Florianópolis conta apenas com a Policlínica Regional de Especialidades, situada no

centro urbano do município e complementarmente pela Policlínica II – Estreito (municipalizada),

além de ambulatórios hospitalares como os suportes à imensa demanda da Grande Florianópolis.

(FLORIANÓPOLIS,2005 a).

A rede básica municipal está dividida em cinco regionais de saúde que são: centro,

continente, leste, norte, e sul e foram implantadas em junho de 2002. As equipes regionais são

compostas por 1 coordenador regional, 1 enfermeiro, 1 técnico de enfermagem e 1 auxiliar

administrativo. As regionais de saúde tem como função principal o gerenciamento da rede a nível

regional. (FLORIANÓPOLIS,2005 a).

A Unidade Local de Saúde -ULS – Saco Grande

A ULS escolhida para a realização deste trabalho está situada na Regional Leste do

município de Florianópolis. A ULS do Saco Grande possui uma área de abrangência dividida em

três áreas com suas respectivas micro-áreas. A população adscrita é de aproximadamente 13000

habitantes. (FLORIANÓPOLIS,2005 b).

De acordo com os dados coletados por na unidade, esta possui três equipes de saúde da

família (compostas por um médico, um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem por equipe)

sendo que está para ser implantada a quarta equipe na unidade. O número total de agentes
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comunitários é de 28; divididos em três equipes (duas com 10 agentes e uma com 08). Não está

prevista a ampliação do número de agentes comunitários.

Apresenta também atendimento odontológico, contando para isso com três dentistas e

dois auxiliares de consultório dentário, além de atendimento fonoaudiológico.

Inserida dentro do Programa Saúde da Família (PSF), tem como ações preconizadas

:prevenir e realizar tratamento curativo de doenças e ações de vigilância à saúde; consultas

médicas e de enfermagem; atividades de enfermagem (como: teste do pezinho, nebulização,

vacinas, curativos, aferição de glicemia capilar e pressão arterial );visitas domiciliares; realização

de ações de vigilância à saúde, através de Agentes de Saúde, supervisionados por enfermeiros,

entre outras (FLORIANÓPOLIS,2005 b).

A ULS é referência para as outras unidades contíguas nas áreas de pediatria, ginecologia

e psicologia e no fornecimento de alguns medicamentos controlados.

Proporciona campo de estágio para os cursos integrantes do Programa Docente

Assistencial – PDA- estabelecido através de convênio firmado com a Secretaria Municipal de

Saúde e a Universidade Federal de Santa Catarina nas áreas de medicina, enfermagem, nutrição,

odontologia, farmácia, psicologia e serviço social para estudantes da graduação e também para os

residentes do Curso de Especialização em Saúde da Família desde 2002

(FLORIANÓPOLIS,2005 b).

Nesta ULS é realizado o acolhimento, uma estratégia de reestruturação dos serviços,

entendido como a escuta ativa e atenta do usuário buscando humanizar o atendimento e

proporcionar o melhor encaminhamento das necessidades demandadas. O acolhimento é feito


27

tanto pelos profissionais da recepção (auxiliares administrativos) como pelos profissionais de

saúde em sala própria ,dependendo da necessidade do usuário (SARTOR,2004).

São realizadas interconsultas caracterizadas por uma articulação de, no mínimo, dois

profissionais diferentes,buscando a atuação interdisciplinar .Há também as reuniões mensais para

o planejamento local em saúde com a presença de todas as equipes de saúde, a fim de

desenvolver atividades de modo mais eficiente e efetivo e concentrar esforços nas situações

relevantes levantadas. (SARTOR,2004)

A comunidade local

De acordo com o levantamento feito por Sartor (2004) em seu processo de

territorialização, a comunidade abrangida pela ULS é de aproximadamente 3150 famílias e

apresenta como características: alta dependência do SUS, baixo nível de escolaridade e de renda,

deficiência na coleta de lixo, falta de saneamento básico, falta de vagas em creches públicas,

aumento dos pontos de vendas e consumo de drogas, alta rotatividade populacional, falta de áreas

de lazer, entre outras.


28

2 – OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral:

Verificar quanto e como a política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a

Usuários de Álcool e Drogas está sendo implementada no município de Florianópolis na

Unidade Local de Saúde (ULS) do Saco Grande.

2.2. Objetivos Específicos:

a) Levantar o conhecimento dos profissionais sobre a legislação referente ao


tema;

b) Conhecer o olhar dos profissionais quanto ao fenômeno da dependência


química;

c) Identificar quais limites e as possibilidades no atendimento ao dependente


químico;

d) Verificar se há atividades preventivas sendo realizadas na perspectiva do


PSF sobre esta questão;

e) Avaliar se os profissionais estão capacitados para atender tal demanda.


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3 – METODOLOGIA

3.1. Natureza da Pesquisa

A pesquisa desenvolvida neste trabalho é do tipo estudo exploratório. Gil (1999, p.

44) salienta que o estudo exploratório “(...) tem como principal finalidade desenvolver,

esclarecer e modificar conceitos e idéias (...) são desenvolvidas como o objetivo de

proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato”.

A abordagem foi adotada a da pesquisa qualitativa, pois, conforme Minayo (2002,

p. 21),:

“Ela se preocupa (...) com um nível de realidade, que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde
a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização das
variáveis.”

3.2. População/sujeitos

A população da pesquisa constituiu-se por funcionários da Unidade Local de

Saúde do bairro Saco Grande - três agentes comunitários de saúde, dois enfermeiros e dois

médicos, pela coordenadora de Saúde Mental do município e por um representante do

Conselho Municipal Antidrogas.


30

3.3. Trajetória da pesquisa

Os instrumentos de coleta de dados previstos eram entrevistas e grupo focal. As

entrevistas foram realizadas individualmente, conforme programado no projeto de pesquisa,

com profissionais de saúde da ULS do Saco Grande. Conforme Selltiz (apud Gil, 1994,

p.115), “a entrevista é bastante adequada para obtenção de informações acerca do que as

pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram”.

O roteiro para as entrevistas foi elaborado por pautas, permitindo certo grau de

estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai

explorando ao longo de seu curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relação

entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente

à medida que refere às pautas assinaladas (GIL, 1994).

O grupo focal foi planejado, conforme programado no projeto de pesquisa, para a

coleta de dados com os agentes comunitários de saúde (ACSs), pois era esperado um

número grande de participantes. Segundo Rodrigues et al. (1998, apud CRUZ NETO,

MOREIRA e SUCENA, 2001, p. 163), grupo focal é “uma forma rápida, fácil e prática de

se por em contato com a população que se deseja investigar”. Gomes e Barbosa (1999,

apud CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001, p. 163) acrescentam que “o grupo focal

é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter

informações de caráter qualitativo em profundidade”. A meta principal do grupo focal é

suscitar um debate, onde possa ser evidenciada a opinião divergente, não possuindo como

regra a singularidade ou a convergência de opiniões. Entretanto, somente três ACSs

compareceram na data marcada , como este número de participantes é considerado por


31

alguns autores como insuficiente para grupo focal a atividade foi transformada em

entrevista coletiva (empregando o roteiro do anexo 03 ). As falas foram trabalhadas

individualmente da mesma forma que as entrevistas individuais. Os resultados das

entrevistas com os profissionais de saúde da ULS, e com os ACSs estão identificadas

como “ membros da equipe de saúde ‘’.

O projeto para o desenvolvimento desta pesquisa teve parecer favorável do Comitê

de Ética da UFSC (projeto no 296/05), atendendo aos requisitos da resolução 196/96

(conforme anexo 1).

Para a coleta dos dados, inicialmente foi realizado contato com a coordenação da

ULS do Saco Grande, que permitiu a realização da pesquisa com os profissionais daquela

unidade. Após realizou-se contato com cada profissional (elencados no item 3.2) para a

marcação da entrevista, sendo que todas foram realizadas nas dependências da própria

ULS.

Contatos foram realizados também com a coordenadora de Saúde Mental de

Florianópolis e o representante do Conselho Municipal Antidrogas, que prontamente

colocaram-se a disposição para as entrevistas. A entrevista com a primeira ocorreu na sede

da Secretaria Municipal de Saúde e com o último, em sala de aula do CCS na UFSC.

Ambos concordaram que suas falas fossem identificadas, não enquanto indivíduos, mas

como representantes das instâncias mencionadas.

Para o grupo focal com os agentes comunitários de saúde contou-se com a ajuda

do profissional de enfermagem, que explicou aos ACSs os objetivos da pesquisa e solicitou

a presença para a participação no grupo focal, em dia e horário acordado com todos, sendo
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que o encontro ocorreu no auditório da ULS. Foram convidados um total de dez ACSs, dos

quais apenas três comparecem ao encontro.

Todos os entrevistados foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e como

os dados seriam tratados, sendo que os mesmos tiveram toda a liberdade em aderir ou não

ao projeto. Não houve recusa de nenhum participante solicitado e sua aceitação foi

registrada através do Consentimento Livre e Esclarecido (modelo no anexo 02).

Durante a maioria das entrevistas foi utilizado um gravador. Para isso, foi

solicitada a permissão a todos os entrevistados e aos participantes do grupo focal. Um

entrevistado apresentou objeção ao uso de gravador e, neste caso específico, o registro foi

por escrito, tendo sido anotadas as idéias centrais das respostas.

3.4. Limites da Pesquisa

A literatura referente a usuário de álcool e outras drogas e seu atendimento nas

ULS ou no Programa Saúde da Família praticamente inexiste. Desta forma, são poucos os

registros bibliográficos sobre este universo que podem ser encontrados.

Nesta discussão, outro limite que se pode mencionar seria o tipo de pesquisa

utilizado, ou seja, a qualitativa, pois aprofunda-se o estudo no sentido de identificar

objetivos, mas no entanto não com um universo total. Esta constatação afirma-se, valendo

aqui lembrar, que dado o curto período de tempo para a realização deste estudo, optou-se

por selecionar determinado número de população/sujeito.


33

O instrumental de coleta, tanto das entrevistas esteve sujeito a alguns limites,

como a apreensão dos entrevistados em fornecer certas respostas, mediante receio de que

sua identidade fosse revelada. Foi necessário programar os horários das entrevistas , para

que fossem compatíveis entre o entrevistado e o pesquisador.

Também se considera limite o fato dos pesquisadores não atuarem na ULS

pesquisada, pois a inexistência de vínculo prejudicou o andamento do grupo focal com os

ACSs, no sentido de que dos 10 agentes convidados apenas 03 compareceram.

Alia-se a estes pontos, a greve dos funcionários da Universidade Federal que

inviabilizou acesso a biblioteca, para pesquisas bibliográficas.

Por último, salienta-se a impossibilidade de entrevistar o gestor de saúde do

município, secretário de saúde, tendo sido agendado, porém desmarcado por conta de

feriado, ficando após sem agenda em tempo hábil.

3.5. Apresentação e Análise da pesquisa

Os dados obtidos na pesquisa encontram-se descritos (item 4. Resultados e

Discussão) para os sujeitos (Coordenadora do Programa da Saúde Mental do Município e

representante do Conselho Antidrogas) ou grupos entrevistados (ACSs e profissionais da

saúde da ULS).

As falas dos profissionais serão citadas como P-01, P-02...e assim sucessivamente

para cada profissional diferente ,e o grupo focal será citado como entrevista coletiva
34

Os dados foram agrupados, analisados e discutidos de acordo com quatro eixos: o

olhar do profissional para o fenômeno, o enfrentamento do fenômeno, o papel do PSF

frente a demanda e a capacitação referente à temática.


35

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. O Olhar dos Profissionais para o Fenômeno

Conceituando Drogas e Dependência Química

A primeira questão colocada a todos os entrevistados foi sobre o

entendimento individual acerca dos termos drogas e dependência química. O objetivo foi o

de conhecer o conceito de drogas adotado e com que olhar o fenômeno da dependência

química é encarado por diversos atores do setor saúde.

Embora nenhum dos profissionais da saúde tenha explicitamente conceituado o

termo droga, quando diretamente questionados, nas falas percebeu-se, implicitamente, que

o seu entendimento coincide com os conceitos referidos no item (1) Introdução. Já

representante do Conselho Municipal Antidrogas demonstrou pleno domínio do conceito,

conforme sua fala:

“Droga é toda substância que a gente ingere e altera todo o humor,


todo o psiquê, o funcionamento interno do organismo,
principalmente a parte da percepção...”.

Todos os membros da equipe de saúde entrevistados também se referiram às

drogas como sendo lícitas, citando como exemplo: álcool, tabaco, café e medicamentos, e

ilícitas:

“... o álcool, tabaco, café, e também as drogas ilícitas” (P – 01).


36

“Aquela pessoa que consome drogas, seja licita ou ilícita...” (P-02).

“...droga é uma droga. (...) aqui tem usuário de álcool, maconha e


crack...”(Entrevista Coletiva).

Entre os profissionais da saúde entrevistados, a dependência química é vista como

uma doença e como sofrimento:

“Eu vejo a dependência química, além de uma doença, como


sofrimento” (P-02).

“O dependente na realidade é um doente que necessita de


tratamento” (P-03).

“Algumas [vezes] (...) é uma coisa que não é prazerosa, faz mal e
causa sofrimento” (P-04).

Tais definições estão de acordo com o que Cavalcante (1997, p.22) afirma:

“Dependência química é a relação que o usuário estabelece com a


droga tornando seu uso um hábito impossível de romper sem
sofrimento”.

Na definição de dependência química apresentada pelo representante do COMEN,

percebe-se a compreensão do dependente como vítima:

“Dependência química é quando se estabelece uma relação de


vítima com essa droga e não se consegue fazer atividades normais
sem utilizar qualquer tipo de droga”.

A dependência química, por se tratar de uma questão bastante complexa e


polêmica, por muito tempo foi tratada pela sociedade de forma preconceituosa, com
julgamentos morais, sendo o usuário de álcool e outras drogas visto como um indivíduo
portador de graves falhas de caráter e desprovido de força de vontade. Desta forma,
37

também, foi tratada como delito e, por isso, combatida com repressão e vista como
demanda da polícia e da justiça. Somente em 1966, a Associação Médica Americana
(AMA) passou a considerar o alcoolismo uma doença e, duas décadas depois, em 1988, a
dependência a outras drogas foi incluída como condição médica possível de tratamento
(SENAD, 2004). Atualmente, a síndrome de dependência encontra-se incluída na
Classificação Internacional de Doenças (CID 10), na categoria de Transtornos Mentais e de
Comportamento, como:

“Um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais


cognitivos, no qual o uso de uma substância ou uma classe de
substância alcança uma prioridade muito maior para um
determinado indivíduo que outros comportamentos que antes
tinham maior valor. Uma característica descritiva central da
síndrome de dependência é o desejo (freqüentemente forte,
algumas vezes irresistível) de consumir drogas psicoativas (as
quais podem ou não terem sido medicamente prescritas), álcool ou
tabaco. Pode haver evidência que o retorno ao uso da substância
após um período de abstinência leva a um reaparecimento mais
rápido de outros aspectos da síndrome do que o que ocorre com
pessoas não dependentes”.

BÜCHELE (2001) apresenta a conceituação de dependência, segundo vários

autores. Assim, para Ferreira (1995, apud BÜCHELE, 2001), caracteriza-se como

dependência o estado de sujeição, subordinação, ou caráter do dependente que, seria a

pessoa que não dispõe de recurso para promover a sua subsistência ou que vive as expensas

de outra. A OMS define dependência como:

“Um estado psíquico e também físico, resultante da ingestão de


substâncias químicas, caracterizado por reações de comportamento
e outras que sempre incluem uma compulsão para ingerir drogas de
modo contínuo ou periódico, a fim de experimentar seus efeitos
psíquicos e por vezes evitar o desconforto de sua ausência”
(BERTOLOTE, 1990, apud BÜCHELE, 2001).

Já numa conceituação filosófica a dependência é descrita como uma relação de

subordinação em que uma coisa se encontra relativamente à outra, de tal modo que sem ela
38

não poderia ser ou seria de outro modo. Verifica-se praticamente em todos os domínios da

realidade, oferecendo aspectos diferentes e expressões características e qualquer que seja a

modalidade e o grau, a dependência, ao mesmo tempo em que traduz imperfeição no ser ou

no existir, denuncia a presença, em um oco vazio de uma plenitude, na qual se funda como

em sua razão e princípio. A relação de dependência é deste modo promotora de uma

dialética original e fecunda (FREITAS,1990 apud BÜCHELE, 2001).

É interessante ressaltar que nenhum dos entrevistados utilizou termos dotados de

conotação moral, como, por exemplo, vício, viciado, drogado, etc. Muitas entidades,

inclusive a Organização Mundial de Saúde (OMS) busca alertar as pessoas a utilizarem o

termo dependência química para que esta condição seja tratada como um quadro clínico.

Para além do entendimento biológico, alguns profissionais entrevistados, relatam

que o tema droga e dependência química demandam outras compreensões:

“E não é só questão de saúde com certeza, é um problema social


gravíssimo. (...) temos pessoas que conhecíamos, tínhamos certeza
que eram pessoas que trabalhavam, que conseguiam dar conta de
sua vida, hoje em dia muitas delas já estão envolvidas com o
tráfico” (P-03).

“É um problema social muito sério. (...) é uma coisa que atinge a


família diretamente” (P-04).

“(...) a dependência química (...) provoca perdas, uma série de


questões envolvidas. (...) Porque está tudo relacionado com a
condição de vida das pessoas” (P-02).

“(...) muitos (dependentes) a família acaba abandonando... tem um


caso que a família foi embora e deixou sozinho...”( Entrevista
Coletiva)
39

O representante do COMEN também associou a dependência às drogas com o

agravamento de problemas sociais:

A gente sempre relaciona violência com a dependência


química.(...) Então é uma conseqüência direta da violência com a
dependência química: roubo, assalto, assassinato, disputa de ponto
de drogas”.

A Coordenadora Municipal da Saúde Mental, ao responder a pergunta sobre

dependência química, enfatizou a questão da complexidade na qual o problema está

colocado, particularmente no que diz respeito à rede de relações que se estabelece, quer

para a manutenção, quer para o tratamento da dependência:

“(...) é a questão da complexidade desse problema, (...) uma


criança, um adolescente, um adulto com o problema de drogas, de
dependência, esse é um dos problemas da vida dele. Então (...) a
gente tem que ter o entendimento de que [este indivíduo] está num
contexto, (...) uma escola (...), família (...), outros laços, tem
espaços de convivência dentro da comunidade, vai a bailes, tem
amigos, pessoas, (...), é uma rede, um intricado de relações., (...) a
gente ‘tá’ pensando na possibilidade da gente ser um dos
componentes dessa rede”.

Conforme um dos profissionais entrevistados, o uso constante de alguma droga

pode iniciar-se por determinantes socioculturais e como subterfúgio às suas dificuldades,

embora não deva necessariamente se tornar abusivo:

“(...) A gente sabe que é um lubrificante social, o álcool. (...) é


uma válvula de escape para algumas pessoas. Outras drogas a
mesma coisa, muita gente usa socialmente maconha”. “(...), mas
outras pessoas que utilizam e estão bem” (P-04).

“ O jovem pensa que é moda, acha que é só uma vez, que vai
experimentar e aí vai...”(Entrevista Coletiva)
40

Esta abordagem aproxima-se da opinião de BAPTISTA NETO e OSÓRIO (2002),

apresentadas no item (1) Introdução, de que “as pessoas usam drogas esperando satisfazer

alguma necessidade” e de que o uso também é estimulado socialmente, como forma

(mesmo que ilusória) de demonstração de êxito social.

A questão da imprevisibilidade de desenvolvimento de dependência também é

comentado por Büchele (2001):

“Milhares de pessoas morrem vítimas do abuso e/ou dependência


química e situações associadas, tais como: alcoolismo, violência e
problemas de saúde decorrente das substâncias químicas. Histórico
familiar contendo outras doenças psiquiátricas, uso abusivo de
álcool e outras drogas contribuem para o aumento destes índices.
Ambiente familiar desfavorável e falta de perspectivas
profissionais completam o quadro do que os especialistas chamam
de” fatores predisponentes “. No entanto, um jovem pode não
conviver com nenhum destes fatores e vir a tornar-se um
dependente químico. Outro que tenha todos estes fatores poderá
jamais se envolver com drogas”.

Percepção do problema na Comunidade:

Questionados sobre a sua percepção acerca do uso indevido de álcool e outras

drogas na Comunidade atendida pela ULS Saco Grande, os profissionais de saúde relatam

que sabem da existência do problema, mas não conhecem exatamente a extensão, pois,

contrariamente a outras situações de saúde, não ocorre busca sistematizada de informações.

O fato da dependência química não ser um marcador do PSF mantêm este assunto

encoberto, dificultando a identificação do problema:

“... percebe que no dia-a-dia do atendimento no centro de saúde é


bastante grande a dependência química” (P-02).
41

“A gente tem muito usuário de drogas aqui no Saco Grande, e as


pessoas procuram muito pouco o serviço...” (P-03).

“A gente não tem nenhum estudo no Saco Grande sobre


dependência química; até porque na saúde da família,
teoricamente, dependência química não é um daqueles
marcadores” (P-02).

“Não tem nenhum estímulo pelo PSF para a gente verificar uso de
álcool e drogas, não é um marcador...”(Entrevista Coletiva)

A importância de um indicador (marcador) do PSF sobre uso abusivo de álcool e

outras drogas é uma discussão que já existe nacionalmente, inclusive foi um dos indicativos

do “Seminário sobre o atendimento aos usuários de álcool e outras drogas na rede do SUS”:

“Apóia-se à criação de um indicador do PSF que informe o número


de indivíduos com uso nocivo de álcool e outras drogas por grupo
populacional e a inclusão dessa informação no sistema SIAB
(Sistema de Informação de Atenção Básica)” (Brasil, 2001).

Outro fator que encobre o problema é a própria postura do usuário de drogas que

não reconhece isto como motivo para buscar auxílio nos serviços de saúde, sendo que a

detecção do mesmo dependerá do olhar e da “escuta” atenta do profissional para

compreender quando a questão se apresenta:

“Então o usuário entra no sistema por conta de outros problemas, e


a questão se manifesta. Mas com certeza os dependentes químicos
procuram muito pouco o serviço de saúde”. (P-03)
“Na minha área tem um alcoólatra, ele viu que “tava” tendo
convulsões, tendo uma série de problemas de saúde, daí ele
começou a procurar o centro de saúde(...). Não adianta a gente
marcar consulta se eles não querem”(Entrevista Coletiva).
42

Conforme dados oficiais, esta realidade se reproduz em todo o país:

“Apesar da alta prevalência, o alcoolismo ainda não é


diagnosticado nas consultas e internações com a freqüência
esperada. Um profissional de saúde, alertado para o problema,
deveria identificar aproximadamente um alcoolista a cada dez
pacientes atendidos. Isto proporcionaria uma atenção mais
completa na área da saúde, sem custos adicionais ao Estado ou
instituição onde os profissionais atuam em termos diagnósticos”
(BRASIL, 1994).

Segundo pesquisa do CEBRID realizada nas 107 maiores cidades do país,

totalizando 47.045.907 habitantes, representativos de 41,3% da população brasileira,

confirmou-se que o consumo de drogas licitas no país, principalmente álcool e tabaco é

maior do que o das drogas ilícitas. Revelou-se que 11,2% da população pesquisada é

dependente de álcool e que 9% é dependente de tabaco (CEBRID, 2001). Cabe salientar

que no Relatório Mundial de Saúde da Organização Mundial de Saúde, o consumo de

bebidas alcoólicas obteve o primeiro lugar dentre todos os principais fatores de risco para

morte, doenças e ferimentos devido a acidentes e violência em nosso país (SENAD, 2004).

A percepção dos profissionais de saúde coincide com estes dados, já que identificam a

prevalência do uso abusivo de álcool, em relação ao consumo de outras drogas:

“Aí a dependência química desde o álcool, que é o mais


prevalente, e as outras drogas ilícitas” (P-02).

“No Brasil o álcool (...) é disparado o que incomoda muito mais


porque atinge um número maior de brasileiros. É quase que uma
epidemia é um problema de saúde pública diferente da cocaína, do
crack e outros (...). Então aqui (no bairro) não é diferente, porque
a gente tem bastante gente alcoolista” (P-04).

Apesar de não existir dados quantitativos sobre a questão, os entrevistados

relataram que o uso abusivo de álcool e outras drogas e suas conseqüências, estão presentes
43

na comunidade que convive com o aumento da violência, do tráfico de drogas e da

criminalidade, como observamos nas seguintes falas:

“Nós observamos que tem aumentado bastante a violência, e com


certeza está relacionado com o trafico de drogas; apesar de ter
muita gente transitando facilmente pelo bairro” (P-02).

“As pessoas acabam envolvidas de um jeito ou de outro, poucas


conseguem fugir dessa rede. Tanto para trabalho como para
consumo” (P-03).
Neste sentido, são observados reflexos na família, e conseqüentemente nas

relações sociais:

“Bem, os familiares sentem bastante, as esposas sentem bastante


(...) Então atinge a família e a organização familiar diretamente,
(...) e desestruturando a família, tem reflexo nas diversas ações,
perda de trabalho, perda de sociabilidade, as pessoas se afastam, os
colegas se afastam” (P-04).

Com base em Cavalcanti (1997), dizemos que a família certamente abala-se como

fato de um de seus membros estar envolvido com drogas. Não é raro que isso gere conflitos

e distanciamento dentro do núcleo familiar. Especialistas como Marlott e Gordon (1993)

afirmam que quando há um dependente na família, ela está dependente também.

O representante do COMEN ao ser questionado como a situação se apresentava no

município de Florianópolis, relatou o seguinte:

“No município tudo ocorre em relação ao uso de drogas, o tráfico,


o uso, drogas novas (sintéticas), drogas elaboradas , todo tipo de
droga, contrabando tudo ocorre no nosso município. É a
dependência. Aqui como em qualquer outro município tem
dependência química . Isso incluem moradores de rua, incluem
pessoas que usam determinados tipos de tranqüilizantes. Tem a
violência em relação a dependência química”.
44

4.2. Enfrentamento do Fenômeno

As respostas dos profissionais de saúde referentes ao enfrentamento da questão

foram agrupadas em duas categorias de análise: a importância da intersetorialidade e a

necessidade de implementação de políticas públicas.

Segundo Costa (2000) intersetorialidade é:

“a articulação entre sujeitos de setores sociais diversos e, portanto,


de saberes, poderes e vontades diversos, para enfrentar problemas
complexos”.

Devido à complexidade da questão do uso e abuso de álcool e outras drogas, os

profissionais de saúde, relataram que o enfrentamento não depende apenas do setor saúde,

mas de todos os setores do setor público e da sociedade civil:

“Entendo que não é só questão dos profissionais de saúde. A


educação contribui, as associações de moradores contribuem. (...)
Então, dependência química não se trata só de saúde, mas sim
de segurança pública, educação...” (P-01).

“O problema com as drogas é de todos, da saúde, da polícia,da


família,da escola,de todos”(Entrevista Coletiva).

A Coordenadora de Saúde Mental do Município tem o mesmo entendimento que

os demais profissionais entrevistados:

“(...) exige toda uma articulação da saúde, educação,


desenvolvimento social né? Por que cada vez mais fica claro que a
questão do abuso de drogas (não do uso) e da questão grave que
tem a droga hoje, da criminalidade, (...) tá relacionado com a
questão social, a questão do desemprego, da falta de espaços de
inserção social, uma escola cada vez, mais decadente, sem
possibilidades... A questão do desemprego, questão muito séria,
tem que ter articulação”.
45

O entendimento dos entrevistados vem ao encontro do princípio básico da Política

Nacional Antidrogas que é a responsabilidade compartilhada entre o Estado e Sociedade

Civil e, conseqüentemente, com o Ministério da Saúde em sua Política de Atenção Integral

a Usuários de Álcool e outras Drogas quando afirma que:

“(...) uma política de prevenção, tratamento, e de educação para o


uso abusivo/dependência em álcool e outras drogas
necessariamente terá que ser construída na interface de Programas
do MS, com outros Ministérios, em especial o da Justiça, o das
Cidades, o da Educação, o da Promoção Social, bem como a
Secretaria Especial de Direitos Humanos e Secretaria Nacional
Antidrogas” (BRASIL, 2003).

Assim, a segunda categoria abordada pelos profissionais de saúde para o

enfrentamento da demanda é a necessidade de implementação de políticas públicas efetivas,

pois se sabe que são inúmeros os fatores de risco que podem levar o ser humano ao uso e

abuso de drogas. Salienta-se que:

“Fatores de risco são aquelas circunstâncias sociais ou


características da pessoa que a tornam mais vulnerável a assumir
comportamentos arriscados, como usar drogas; e fatores de
proteção são aqueles que contrabalançam as vulnerabilidades,
tornando a pessoa com menos chance de assumir esses
comportamentos” (SENAD, 2004).

Destacam-se as seguintes falas:

“Mas necessita mesmo são políticas em relação à educação,


principalmente, se você quer fazer prevenção e promoção, você
tem que começar a trabalhar mais a questão da educação. Tem que
haver escolas de melhor qualidade, onde as crianças possam ficar
na escola, de repente ter escola integral; creches para que os pais
possam trabalhar” (P-02).
46

“Porque a dependência ocorre em todos os níveis econômicos e


culturais, mas no nível econômico mais baixo, existe sempre
aquela possibilidade da pessoa que está sem emprego ser utilizada
como mão de obra” (P – 03).

“Mas acho que uma mudança significativa na redução do uso só


com mudanças sociais mais profundas” (P-04).

“(...) geração de opções de alternativas para que esses jovens façam


outras coisas. Não adianta falar, falar, falar e eles sábado e
domingo não ter o que fazer. É o lazer programado, lazer dirigido,
né? (...) se as escolas abrissem sábado e domingo para gerar uma
opção para que essas crianças e adolescentes não passassem sábado
e domingo na rua, sem fazer nada. Tem que ter opções (...)”
(COMEN).

O uso e abuso de álcool e outras drogas é um problema de saúde pública que não

pode ser encarado de forma isolada. Condições de vida adversas, violência, desemprego,

auto-estima baixa, exclusão social, são situações potenciais de risco para o uso de drogas.

Para lidar com essa questão na sociedade atual, é necessário compreender os diferentes

contextos que as mantêm. Para enfrentar a problemática das drogas, faz-se necessário

ampliar as redes sociais e buscar a melhoria de condição de vida e a promoção geral de

saúde, com políticas públicas nas três esferas do governo comprometidas com a promoção

do bem-estar físico, emocional e social da população.

4.3. Papel do Programa Saúde da Família frente à demanda

O Programa Saúde da Família tem como uma das premissas básicas o

desenvolvimento de um novo modelo de práxis pautado na interdisciplinaridade e não


47

apenas na multidisciplinaridade, onde não encontramos o “cliente” ou o “paciente”, mas

sim, o cidadão que procura o serviço de saúde (BRASIL,1999). Estrutura-se na Unidade

Básica de Saúde com base nos princípios filosóficos e organizativos do SUS que são:

integralidade, eqüidade, universalidade, resolutividade, descentralização, hierarquização,

complementaridade, e participação social (BRASIL, 1990); sendo que o Programa Saúde

da Família está inserido no primeiro nível de ações e serviços do sistema local de

assistência, denominado atenção básica.

O referido Programa adota como pressupostos básicos: acolhimento, vínculo,

abordagem interdisciplinar, visitas domiciliares, estímulo à participação e controle social,

planejamento e avaliação das ações. Assim, o PSF, enquanto estratégia adotada para

trabalhar com as questões de saúde no nível primário de atenção, atuando diretamente junto

às comunidades, tem papel primordial na efetivação da Política do Ministério da Saúde para

Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, visto que tal política preconiza a

articulação com outros programas com enfoque no município e nas comunidades locais,

principalmente na realidade da família.

Tal importância é reafirmada no art. 3º da portaria 2.197/GM de 2004, referindo-se

ao componente da atenção básica:

“O componente da atenção básica, que se trata o inciso I do artigo


2 desta Portaria refere-se à atenção integral aos usuários de álcool e
outras drogas em unidades de atenção básica, ambulatórios não-
especializados, Programa Saúde da Família e Programa de Agentes
Comunitários de Saúde,...” (BRASIL, 2004).

Quanto ao papel do PSF no atendimento aos usuários de álcool e outras drogas,

como já foi abordado anteriormente, dependência química não é um marcador do


48

Programa. Os profissionais de saúde entrevistados relataram que não existe nenhuma

atenção específica:

“Em relação à saúde da família eu não conheço nenhuma estratégia


especifica para trabalhar com a dependência química. Em 2003
ocorreu uma formação com os profissionais neste sentido, mas foi
mais voltada a saúde mental, e abordou-se algo de dependência
química. Mas como estratégia não existe. Nós discutimos em
função de ser um problema presente, e a gente vai tentando
encaminhar as ações” (P-02).

Um dos pressupostos básicos do PSF, é o acolhimento que segundo Silveira

(2003), “ pode ser caracterizado enquanto um processo que visa a produção de relações de

escuta e responsabilizações, articuladas com a constituição dos vínculos e compromissos”.

Lembra ainda que para que o acolhimento aconteça algumas características devem estar

presentes neste profissional como o respeito, acolhendo o outro integralmente, ter a

capacidade de ser real e promover a escuta qualificada. Embora alguns membros

reconheçam a importância disso e até empreguem o termo “acolhimento”, as falas abaixo

denotam que as atividades ainda estão centradas nos consultórios e é o usuário que precisa

tomar a iniciativa e se dirigir à unidade de saúde em busca de atendimento.

“Se alguém me procura, a gente ouve. E cada caso é um caso. (...)


Isso (o acolhimento) é uma fortaleza para o paciente e a família
dele” (P-03).

“A princípio é a terapia que um médico de família pode fazer no


centro de saúde. É conversar com a pessoa, acompanhar, e com a
própria família, também” (P-02).

Para o PSF, enquanto estratégia que visa modificar a lógica biomédica de

prestação de serviços em saúde, torna-se fundamental a aproximação dos profissionais com

a comunidade, sendo a visita domiciliar um instrumento para que se (re) conheça a


49

dinâmica comunitária e familiar. Entretanto, nenhum profissional entrevistado mencionou a

importância de tal instrumental.

Os profissionais de saúde reconhecem a importância do vínculo com os usuários e

com a comunidade, elemento preconizado pelo PSF:

“E quando o paciente encontra vínculo com o serviço, ou com


algum profissional, daí ele volta, e se consegue fazer um bom
atendimento” (P-03).

“(...) tem que se ter a idéia que este acompanhamento depende


muito do vínculo que o profissional estabelece com o usuário e sua
família. (...). Então resgatar história de vida e, à medida que vai
surgindo vinculo, trabalhar também a família” (P-02).

O trabalho em equipe interdisciplinar é destacado no conjunto das características

do PSF, como um dos pressupostos mais importantes para a reorganização do processo de

trabalho e enquanto possibilidade de uma abordagem mais integral e resolutiva. Os

profissionais de saúde entrevistados compartilham deste entendimento:

“Esse é o tipo de atenção que não pode ser feito por um


profissional só. Como tem a Residência1 aqui, tem a assistente
social que é sempre acionada, a psicóloga, a médica. Então a gente
acaba fazendo um trabalho multiprofissional. Fazemos inter
consultas, com dois profissionais, médica e assistente social, ou
enfermeira e psicóloga” (P – 03).

“O paciente é um doente, que precisa do atendimento clínico e


precisa muitas vezes do medicamento, dependendo do caso, outros
encaminhamentos. Aqui a gente tem a psicóloga, e aciona a
psicóloga quando necessário” (P – 04).

1
O Programa Docente Assistencial é parceria da Secretaria de Saúde do Município de Florianópolis e UFSC,
sendo que a Unidade Local de Saúde do Saco Grande conta com profissionais residentes de enfermagem,
farmácia, odontologia, medicina, nutrição, psicologia, serviço social; além de contar também com estagiários
dos cursos de graduação do Centro de Ciências da Saúde.
50

“Outros, além disso, precisam também de acompanhamento


psicoterapêutico mesmo, com psicólogo, avaliação psiquiátrica” (P
– 02).

Salienta-se a diferenciação entre as práticas multiprofissionais e interdisciplinares,

onde a primeira se caracteriza por profissionais de diversas áreas atuando isoladamente,

sem cooperação e sem troca de informações, e a segunda por profissionais de diversas áreas

que interagem, gerando mudanças estruturais, reciprocidade e enriquecimento mútuo

(VASCONCELOS, 2002).

Nas falas anteriores observa-se que não há um consenso à cerca do trabalho em

equipe, não estando explícito se a equipe o entende como multi ou interprofissional.

Todos os profissionais de saúde entrevistados ressaltaram a importância da

abordagem familiar e comunitária para um atendimento integral ao usuário, tal

entendimento também é preconizado pelo PSF.

Assim, dois profissionais mencionaram:

“Mesmo que não se consiga atender o indivíduo, mas se atendemos


um familiar, um filho, e conseguimos dar apoio, e possibilitar seu
acesso, isto já é um caminho. (...). É complicado trabalhar só o
indivíduo, tem que trabalhar toda a família, e acompanhar” (P- 02).

“A família também é atendida; às vezes a mãe, o irmão mais velho.


Muitas vezes começamos atendendo o familiar, no sentido de
ouvir, e daqui a pouco ele já traz alguém junto. E com essa
possibilidade da Residência fica interessante, a gente tem feito
bastante esse trabalho de inter consultas” (P – 03).

O envolvimento com a comunidade também é valorizado nas falas:

“(...) buscando se aproximar das associações, tá fazendo palestras


conjuntas, trabalhos que valorizem a comunidade, valorizem
espaço de socialização, valorizam a aproximação da comunidade
51

com estas associações, com maneiras de se organizarem.


Buscando, com iniciativas pequenas, mas que tem reflexo, mesmo
pequenas elas ajudam no sentido de contribuir para mobilizar a
população do Saco Grande para que reflitam como vivem, a
sociedade em que estão inseridos, e que ajudam a pensar formas
alternativas, construir novas formas de ver o mundo” (P – 04).

“O planejamento da equipe envolve a comunidade, a sociedade


civil: COMOSG, Sol Nascente, curso de alfabetização. Então a
questão (dependência química) não passa despercebida pela equipe
do PSF. E tal planejamento visa envolver e estimular a participação
da comunidade” (P – 01).

A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral do usuário de álcool e

outras drogas também estabelece tal necessidade:

“O Ministério da Saúde considera imprescindível à inserção de tais


práticas na comunidade, sítio natural de fatores de risco e de
proteção para o uso de tais substâncias, sendo, portanto, o local
ideal para o fortalecimento efetivo destes últimos, em detrimento
dos primeiros. A atenção comunitária a estas pessoas e seus
familiares facilita processos que envolvam inclusão social, bem
como a (re) construção e (re) conquista de direitos, acesso aos
serviços e cidadania, por parte de usuários e seus familiares”
(BRASIL, 2003).

A coordenadora da Saúde Mental do Município ressaltou a importância do

atendimento à família e ao contexto social ao qual o usuário de álcool e outras drogas se

encontram inserido:

“(...) eu acredito que esta questão envolve muito a família, muito


em torno da pessoa que está com esse problema. Então se tu não
começas a tratar a família ou em torno dele, não só a família de
laços sangüíneos, a família como pessoas de convivência mais
próximas.(...) O ser humano não é partido, corpo, mente... é um ser
integral...”.
52

O PSF enquanto estratégia para o desenvolvimento da atenção primária de saúde

incorpora como pressupostos, além do tratamento, a proteção, a prevenção e a promoção da

saúde. Segundo Meirelles (2000 p.16), citando Lopes (1998), Stachtchenko e Jeniak

(1990):

“promoção à saúde se refere como um conceito multidimensional e


num sentido positivo. Já a prevenção é relativa à enfermidade,
enfocando-a como uma visão negativa. A promoção dirige-se à
vida, ao desenvolvimento e à realização do ser humano. A
prevenção segue o modelo biomédico, com ações dirigidas a
grupos específicos. A promoção é um modelo de saúde
participativo, interessado na população e seu meio ambiente total,
com estratégias diversas e complementares, exigindo ação de
grupos não profissionais, civis, governos municipais, estaduais e
nacionais para o alcance dos objetivos de promoção da saúde”.

Os profissionais de saúde entrevistados também manifestaram, através de suas

falas, a importância da promoção da saúde e da prevenção da doença, no que diz respeito ao

uso e abuso de álcool e outras drogas:

“(...) Essencialmente com trabalho educativo, de prevenção.


Prevenção é a base de tudo” (P-01).

“Nas escolas, deveria ser abordado como promoção à saúde, para


crianças e adolescentes. Conversar com professores e pais, como
pode ser feita a abordagem com a criança e o adolescente. Então o
PSF deve privilegiar a promoção e prevenção; além do
atendimento como já falei” (P – 02).

“Mas a grande questão é fazer a promoção da saúde, né. (...) A


promoção é nosso grande desafio” (P-03).

O representante do Conselho Municipal de Entorpecentes, apesar de não fazer

parte da equipe do PSF, também salientou a importância de trabalhar com a prevenção da

doença:
53

Olha, não só eu entendo, mas é um consenso do conselho que a


gente trabalha na prevenção, porque a parte da repressão, a gente
sabe que está falida.(...) A gente trabalha vislumbrando gerações
futuras. Porque a gente entende, é um entendimento do conselho,
que uma determinada geração já está comprometida para a gente
trabalhar questões de prevenção.(...) E a prevenção, ela é
basicamente educação e formação.

Para a concretização de todos estes pressupostos do PSF, torna-se fundamental

planejamento e avaliação contínuos. Todavia, somente um profissional manifestou tal

entendimento:

“Mas deve ter planejamento, né, com começo, meio e fim, e seja
avaliado” (P – 03).

O planejamento tem papel fundamental nas ações de saúde para alcançar os

objetivos comuns entre as diversas ações. Assim, a equipe atua de forma coordenada,

evitando que esforços isolados sejam desperdiçados e que o impacto do trabalho torne-se

maior.

4.4. Como os Profissionais de Saúde se sentem para atender tal demanda?

A capacitação de recursos humanos para atender os usuários de álcool e outras

drogas é tema de muitos debates, fóruns, seminários, etc., há muito tempo. Porém vale

destacar que tanto o “I Fórum Nacional Antidrogas” (1998), quanto o “Seminário Sobre

Atendimento aos Usuários de Álcool e outras Drogas na Rede SUS” (2001), tiveram como

eixos principais de discussão a formação de recursos humanos voltados para o atendimento

desta subpopulação específica.


54

Destaca-se ainda que a Política Nacional Antidrogas (2001) apresenta como

objetivos a promoção de melhorias no sistema de saúde e a qualificação dos recursos

humanos, fundamentada em conhecimentos validados, voltados para a assistência de

indivíduo com transtornos decorrentes do consumo de substâncias psicoativas.

Contudo, os profissionais de saúde entrevistados relataram que não receberam, até

o momento, nenhuma capacitação voltada para a questão e acreditam que a rede ainda não

se encontra capacitada para atender de forma efetiva a demanda. Isto é possível observar

nas seguintes falas:

“Então é uma questão muito delicada, na verdade eu acho que nós


profissionais não temos a capacitação necessária para dar conta
dessa problemática imensa (...). Então, repito, depende muito da
boa vontade do profissional. (...) Eu acho que a demanda é muito
grande, e essa questão acaba não sendo atendida não por
preconceito dos profissionais, mas por falta de organização dos
serviços e pouca capacitação. E também por ser uma questão tão
complexa acaba sendo deixada de lado” (P-03).

“Não estamos preparados para atender “essas pessoas”, mas se


tivesse capacitação acho que sim, daria para atender” (Entrevista
coletiva).

Conforme a Coordenação de Saúde Mental do município há uma proposta de

capacitação que será realizada pelas equipes de saúde mental de apoio matricial, ou equipes

de referências regionais2 (criadas no inicio deste ano), a qual também ressalta a necessidade

de investir na capacitação da atenção básica, das equipes de PSF e saúde mental, para o

próximo ano.

2
“O apoio matricial constitui um arranjo organizacional que visa outorgar suporte técnico em áreas
especificas as equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde para a população (...) As
equipes de saúde mental de apoio à Atenção Básica incorporam ações de supervisão, atendimento conjunto e
atendimento especifico, além de participar das iniciativas de capacitação” (BRASIL, 2004).
55

“(...) então, assim, uma outra questão que a gente pensa é em


investir bastante na capacitação da atenção básica, as equipes de
PSF, em saúde mental, inclusive a questão de álcool e drogas,
então, é um projeto nosso para o ano que vem, que a gente
pretende fazer valer. Eu estou tentando todas as vias de
financiamento porque é uma coisa que vai envolver gastos e a
gente pretende capacitar os Agentes Comunitários de Saúde
também”.

Outra questão abordada com os profissionais foi o conhecimento que os mesmos

têm sobre a legislação acerca da atenção integral ao usuário de álcool e outras drogas. A

maioria demonstrou desconhecimento sobre a mesma, vale ressaltar que de fato a discussão

e a implementação da Política de Atenção Integral ainda é bastante recente no cenário

nacional.

Destacam-se as falas:

“Em relação à legislação só se a gente procurar. Porque também a


gente não tem uma política municipal de saúde, de uma forma
geral. O município está carente de uma política. (...) Se a gente tem
uma família com o problema de dependência a gente tem de
descobrir os caminhos, os encaminhamentos, acompanhamentos
possíveis. Então não tem uma política nesse sentido” (P-02).

“Pelos princípios do SUS, de universalidade, acessibilidade, todas


as pessoas têm direito de ser atendida pelo Estado, então é dever do
Estado atender a essas pessoas. Então o dependente químico vem
para o atendimento no SUS como todas as pessoas vem, mas não
existe Programas, por exemplo, como para a mulher, crianças” (P-
03).

“Não, não conhecemos nenhuma lei ou programa para atender


“usuário” (Entrevista Coletiva).

“Bem pouca coisa. A gente até queria fazer um grupo de discussão


sobre álcool e outras drogas, mas não conseguiu organizar. (...)
Mas de legislação, eu não conheço nada” (P-04).
56

Já a Coordenadora da Saúde Mental do Município demonstrou domínio sobre a

legislação referente à questão:

“(...) a questão da atenção básica e da saúde mental tem a ver com


a política. Cada vez mais é assim que se trabalha em saúde mental.
Porque CAPS é para casos graves, né? Então a idéia não é esperar
que os casos fiquem graves, quando a gente for defender a idéia e
trabalhar com a prevenção do agravamento. Então, por isso que a
gente está com essa proposta no Brasil todo, a questão da atenção
básica estar qualificada para atender”.

O representante do COMEN também demonstrou ter maior domínio sobre as

diretrizes da Secretaria Nacional Antidrogas, nas Políticas de enfrentamento referentes ao

uso e abuso de álcool e outras drogas dos Ministérios da Educação e da Justiça, mas sobre a

política do Ministério da Saúde disse:

“O ministério da saúde eu tenho notícias que está deslocando


alguns recursos para os conselhos O ministério da saúde tem feito a
preparação de alguns agentes de saúde parece para trabalhar com
essa questão, mas não posso dizer o que eles fazem”.

O fato de ter conhecimento sobre a legislação, torna a pessoa mais atuante,

prepositiva e convicta de seus direitos, bem como em relação aos cidadãos beneficiários

dos serviços sejam eles na área da saúde, educação, justiça, etc. Profissionais capacitados e

conhecedores dos direitos, com certeza conseguirão envolver a comunidade na busca de

direito e de cidadania plena.


57

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as respostas dos profissionais de saúde entrevistados sobre drogas e

dependência química, refuta-se uma das hipóteses do projeto de pesquisa, a de que a

questão da dependência química ainda era entendida como “problema de polícia”. O fato

dos profissionais reconhecerem a dependência química como um problema de saúde

complexo é bastante significativo, uma vez que para trabalhar com tal questão faz-se

necessário superar preconceitos e estigmas sociais. A abordagem deste tema exige, além de

conhecimento técnico e sensibilidade humana, compreensão e reflexão (BÜCHELE, 2001).

A partir das entrevistas com profissionais da ULS Saco Grande observou-se que a

atenção aos usuários e outras drogas no nível primário em Florianópolis não está

estruturada. Apesar dos profissionais, na sua maioria, demonstrarem o entendimento que o

uso e abuso de álcool e outras drogas é uma questão que compete aos serviços de saúde,

bem como reconhecerem a existência do problema na comunidade, não existem ações

específicas para o atendimento sistematizado de tal demanda no nível primário de atenção a

saúde neste município. O atendimento ocorre na medida em que os usuários ou familiares

solicitam. O fato de não existir um marcador do PSF que dimensione tal demanda prejudica

a construção de indicadores que demonstrem a importância do planejamento de ações para

o usuário de álcool e outras drogas. Apesar do PSF preconizar a mudança da lógica

institucional para a lógica comunitária, a necessidade de responder aos marcadores

“indicados” pelo Governo Federal passa a ser prioridade na ULS e ocupa maior parte do

tempo das ações profissionais.


58

Entretanto, mesmo a dependência química não sendo um marcador, a Estratégia

Saúde da Família, enquanto dispositivo no âmbito da atenção básica, é o primeiro

componente da Política de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e outras drogas (Brasil,

2004), configurando-se como porta de entrada no SUS para o usuário de álcool e outras

drogas. Portanto, tal realidade não pode ficar à margem de outras demandas.

Neste sentido, tanto a equipe técnica, quanto os agentes comunitários de saúde,

sentem-se impotentes quando se deparam com a demanda e precisam “descobrir os

caminhos” (fala de uma das entrevistadas) possíveis, visto não existir uma rede de atenção

para esta questão.

A intersetorialidade necessária para a questão, embora bastante incipiente, ocorre

em algumas ações da Secretária de Saúde (CAPS- criança e adolescente - inaugurado em

outubro último) e da Secretaria de Desenvolvimento Social (convênio com comunidades

terapêuticas). Porém, os profissionais entrevistados não demonstraram familiaridade com

tais serviços, ficando visível o distanciamento ainda existente entre os diversos setores.

Demonstraram compreender a complexidade da questão e, por isso, não estar

restrita ao “setor saúde”, demandando ações compartilhadas e a implementação de políticas

públicas nas áreas da educação, trabalho e renda, lazer. Reconhecem também a ULS

também como portadora de um papel fundamental neste sentido, uma vez que pode

fomentar discussões que possibilitem a construção e ampliação da consciência e

organização comunitária.

Os profissionais sentem-se impotentes diante da demanda apresentada.

Consideram que não estão capacitados para atender uma questão de tal complexidade e não

sentem segurança quanto a continuidade de seu trabalho, a partir do momento em que


59

fazem a referência. Cabe salientar, que apesar de tais limitações, os profissionais

consideram que o vínculo construído com os usuários permite oferecer qualidade no

atendimento e facilita a identificação do problema.

Assim, apesar da Política de Atenção Integral ao Usuário de Álcool e Outras

Drogas ser desconhecida pelos profissionais da ULS, estes possuem o entendimento

adequado no que se refere à atenção que seve ser dada à demanda, reconhecendo a

necessidade de atendimento integral, considerando o indivíduo em seu contexto familiar e

comunitário.

Todavia não ocorre por parte da gestão pública, o empenho na implantação da

Política de Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, visto que para o

início das atividades do CAPS- transcorreram-se quatro anos. A atenção terciária não está

estruturada para tal, uma vez que os hospitais gerais não dispõem de leitos para a

desintoxicação, conforme preconiza a portaria 2.197/2004, art. 5º, sendo tal serviço

prestado no Instituto Catarinense de Psiquiatria – IPQ, contrariando o art. 5º, inciso VII, da

citada portaria.

Por fim, evidencia-se um desafio aos trabalhadores das ULS, que continuarão se

deparando com as demandas dos usuários de álcool e outras drogas, pois a eles compete dar

visibilidade as questões que se apresentam na comunidade, para sensibilização dos demais

setores do governo e sociedade civil, afim de que a rede para a atenção integral ao usuário

de álcool e outras drogas seja concretizada, fortalecida e ampliada.


60

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conclusão(Curso de Especialização Multiprofissional em Saúde da Família).Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

SOUZA, H.M. ; Saúde da Família: desafios e conquistas In NEGRI, B. ; VIANA, A, L.


D. O Sistema Único de Saúde em dez anos de desafio. São Paulo: Sobravime; Celag, 2002.

STEDMAN. Dicionário Médico, 27.ed.Rio de Janeiro: Granabara Koogan, 2003.

VASCONCELOS, E.M. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemiologia e


metodologia operativa. Petrópolis: Vozes, 2002.
64

Anexo 1
65

Anexo 2
66

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS PARTICIPANTES DA


PESQUISA

Assinado esse documento passo a consentir a minha participação na pesquisa


desenvolvida pelos alunos: Adriana Maria Scheffer, Bruna Griggio de Souza, Jurandyr
Veiga Mello Filho, Luciana de Oliveira Plaza e Suzana Valda Vidal, do curso de
Especialização Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Santa
Catarina sob orientação da Professora Rosana Isabel dos Santos.

Informo que tenho pleno conhecimento deste projeto de pesquisa o qual objetiva
analisar a intervenção do Programa Saúde da Família frente à Política do Ministério da
saúde de Atenção Integral a Usuários de álcool e outras drogas. Desta forma contribuindo
para a efetivação de ações de saúde em conformidade com o preconizado pelo SUS.

Estou ciente e concordo que os dados obtidos na entrevista poderão ser gravados e
transcritos e que não serei nominalmente identificado em qualquer registro dessa pesquisa.
No entanto, sei que se for de meu interesse e desejo, poderei solicitar que não seja gravada
alguma informação o que prontamente será atendido pelos pesquisadores.

Minha participação é voluntária e sei que posso ,em qualquer momento, desistir de
minha participação sem penalização de espécie alguma.

Tenho ciência que poderei conhecer os resultados deste trabalho caso os solicite, e
que serei esclarecido pelos pesquisadores a respeito de possíveis dúvidas sobre o teor do
estudo sobre meus direitos de participante durante o desenvolvimento da pesquisa através
dos telefones:..................................................................................

data e assinatura do(a)participante


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Anexo 3
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Pauta para as Entrevistas e Grupo Focal

1- Entendimento sobre drogas e dependência química.

2- Como tal questão se apresenta nesta comunidade?

3- Conduta (atuação profissional) frente à demanda de usuários ou dependentes


químicos.

4- Conhecimento sobre a legislação acerca do tema.

5- Conhecimento e entendimento quanto às ações municipais que possibilitam(riam) o


enfrentamento da questão da dependência química.

6- Ações do PSF realizadas neste sentido. (Sugestões)

Para o Grupo Focal com os agentes comunitários de saúde, também considerar:

7- Como vivencia na comunidade o fenômeno da dependência química?

8- Tem sido estimulado o diagnostico acerca da dependência química na comunidade?

Para entrevista com o gestor, também considerar:

 Se a política do ministério da saúde de atenção integral a usuários de álcool e


drogas está sendo implementada no município de Florianópolis?

 Em caso positivo, quanto e como está sendo implementada ?


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


CAMPUS UNIVERSITÁRIO – TRINDADE
SECRETARIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA
CEP.: 88040-970 - FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA
Fone/fax (048)3 331.5079
e-mail: saudedafamilia@ccs.ufsc.br

PARECER FINAL DA ORIENTADORA

Florianópolis, 30 de janeiro de 2006.

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Profa Rosana Isabel dos Santos, M. Sc.
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