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FLORIANÓPOLIS – SC
JANEIRO, 2006
ADRIANA MARIA SCHEFFER
BRUNA GRIGGIO DE SOUZA
JURANDYR VEIGA MELLO FILHO
LUCIANA DE OLIVEIRA PLAZA
SUZANA VALDA VIDAL
FLORIANÓPOLIS – SC
JANEIRO, 2006
“Uma Coisa é por mil coisas no papel,
outra coisa é lidar com gente de
carne e mil misérias”.
Guimarães Rosa
SCHEFFER, ADRIANA M.; SOUZA, BRUNA; FILHO, JURANDYR; PLAZA,
LUCIANA; VIDAL, SUZANA V. A Política do Ministério da Saúde para
Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas e a sua interface
com o Programa de Saúde da Família: compreendendo tal realidade na
unidade local de saúde do bairro Saco Grande no município de Florianópolis.
– UFSC. 2006. 61f. Monografia (Especialização Multiprofissional em Saúde
da Família) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
RESUMO
Abstract: This work is a qualitative research, based on health the professionals speeches
that belong of the family health program (PSF) of the city hall of the Florianópolis in a
local health unit of the Saco Grande district. Try to know when and how the health
ministry politic about tottaly attention with alcohool and other drugs user´s has been
implemented in Florianópolis city, as well as to identify the concept of the health
professionals about drugs and chemical depedence, their knowledge about current
legislation to verified what are the limits and the possibility of the service this demand in
the basics health units, if have had archieved preventive activities on the base of PSF
perspectives and if the professionals are able to care about. The answers of the research
were crossreference with the literature conceptions about it. The research showed that
process – implementation of the health ministry politic about totally attention with
alcohool and other drugs is very few presence in florianópolis city, but there are projects,
including for development of the all health attention basical professionals and themselves
interest to care this demand.
Lista de Siglas......................................................................................................................8
1 – Introdução ....................................................................................................................9
2- Objetivos..........................................................................................................................28
3 – Metodologia ..................................................................................................................29
4 – Resultados e Discussão..................................................................................................34
5 – Considerações Finais.....................................................................................................57
6 – Referências.....................................................................................................................60
Anexos..................................................................................................................................64
ANEXO 1 – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa com seres
humanos.
ANEXO 2 – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos participantes da
pesquisa.
ANEXO 3 – Pauta para as entrevistas e grupo focal
8
LISTA DE SIGLAS
1 – INTRODUÇÃO
“Droga”, na língua portuguesa, de acordo com KOOGAN e HOUAISS (1995), pode ser
a “designação geral de toda substância usada em química, farmácia, etc.; nome dado aos
narcóticos ou entorpecentes; coisa que nada vale ou que se estragou”. Conforme a Organização
Mundial de Saúde (OMS), droga é toda e qualquer substância que, introduzida num organismo
saúde este termo ainda pode ter outros significados, muitos dos quais assimilados do substantivo
inglês “drug”, o qual, conforme STEDMAN (2003), pode significar: “agente terapêutico,
diagnóstico, alívio, tratamento ou cura de uma doença; droga; termo genérico dado a qualquer
narcótico”. Na mesma obra, também consta a expressão “addictive drug”, significando “qualquer
droga (substância) que crie um certo grau de euforia e tenha forte potencial dependente”.
“droga”, “fármaco” e “medicamento”. Como droga, entende-se toda substância que, ao ser
grego pharmakon que representava simultaneamente remédio e veneno, traduzindo assim efeitos
fármacos juntamente com outras substâncias, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou
culturas e com as mais variadas finalidades, não significa que essa convivência tenha sido
pacífica, nem tenha trazido benefícios para toda a humanidade. A existência de rituais religiosos
nos quais se emprega algum tipo de droga para alterar o estado de consciência está presente já em
comunidades primitivas, justamente por ser o sagrado à experiência da presença de uma potência
ou de uma força sobrenatural que habita algum ser (CHAUÍ, 2004), experiência esta que seria
facilitada com o emprego de tais substâncias. As várias sociedades permitem o uso social ou
religioso de certas drogas. Estas, cujo emprego é aceito social e legalmente, são as drogas lícitas,
como o fumo e o álcool nas sociedades ocidentais. Outras drogas não são aceitas, sendo, portanto,
ilícitas.
“hippie”, quer como forma de contestação, quer como alienação. Desde então, o consumo só tem
crescido.
A origem das drogas pode ser natural, semi-sintética ou sintética. As naturais estão
neste grupo constam exemplos daquelas cujo registro de uso pelo homem é o mais antigo.
laboratório e não dependem para sua confecção de substâncias vegetais ou animais como matéria-
prima. Como exemplo temos o ácido lisérgico (LSD) e o Ecstasy. Atualmente, a diversidade de
Os efeitos sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) são diversos. Há drogas depressoras,
que diminuem a atividade do SNC, resultando em letargia, demora nas respostas, podendo causar
drogas estimulantes são aquelas capazes de acelerar a atividade cerebral, aumentando o estado de
bicarbonato de sódio ou amoníaco e água) pertencem a esta categoria. Por fim, ainda há as drogas
alucinações e delírios. Como exemplo temos a maconha e o haxixe, alucinógenos como o LSD e
satisfazer alguma necessidade, como o prazer, mesmo que espúrio, ou o alívio de uma dor física
ou psicológica. Dessa forma, buscam neutralizar uma carência ou ansiedade, reencontrar ou ter a
desencadear artificialmente uma fantasia que é vivida como certeza por que a experimenta. Os
social, aliadas a uma fragilidade pessoal, um estímulo ao uso de drogas, na tentativa de sua
resolução.
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BÜCHELE (2001) apresenta razões semelhantes pelos quais algumas pessoas passam a
usar repetitivamente drogas, até que, segundo a autora, se instala o fenômeno da dependência:
“(...) pelo menos em curto prazo, [as drogas] provocam, num primeiro
momento, prazer, removem ou afastam uma grande variedade de
sentimentos desagradáveis, tais como angústia, depressão, raiva entre
outras, todavia se usadas moderadamente. Algumas drogas, num
determinado momento, podem funcionar como uma “poção mágica” e
fornecer a ilusão de que os problemas foram superados ou mesmo
resolvidos. (...) O alívio ou prazer provocado é temporário tendo, às
vezes, a dose que ser aumentada freqüentemente. Na falta disto as
pessoas que se acostumaram a consumi-la, quando não obtém a
substância (álcool, por exemplo), dependendo do nível de dependência,
podem ser invadidas por sintomas como nervosismo, inquietação,
ansiedade ou até mesmo um impulso incontrolável de obtê-la novamente.
(...) O que a princípio parecia uma solução, começa a caracterizar-se
como problema, constituindo-se um círculo vicioso constante, sem a
consciência do usuário dependente.”
Já BAPTISTA NETO e OSÓRIO (2002) afirmam que até hoje não se encontrou uma
personalidade.
Embora nem todas as substâncias psicoativas levem à dependência, assim como nem
todas as pessoas que fazem uso eventual de drogas desenvolvem dependência, este fenômeno é o
grande problema associado ao uso de drogas. O usuário dependente vive numa relação muito
estreita com a droga de sua preferência e as conseqüências são, geralmente, ruptura com todos os
vínculos anteriores o que freqüentemente produz muito sofrimento quase sempre conduzindo a
A OMS (CONEN, 2001) considera que uma pessoa só pode ser considerada como
dependente se o seu padrão de consumo apresentar ao longo dos últimos doze meses, pelo menos
tolerância,
Usuário habitual: faz uso freqüente da droga. Em sua vida já se observam sinais
de rupturas afetivas, profissionais e sociais. Aparenta ainda estar bem, embora
haja prejuízos.
de forma direta na saúde pública e exigem políticas voltadas para ações no nível da promoção da
Durante décadas a questão das drogas foi tratada apenas com ações de repressão e de
forma marginalizada, não sendo reconhecida como questão de saúde pública. Quando um cidadão
A primeira legislação sobre drogas instituída no Brasil foi através da lei n.o 6368 de
1976, tendo estado em vigência por 26 anos, período em que o tráfico internacional e interno teve
um crescimento grande.
com o objetivo de organizar, articular e integrar as atividades do setor público para prevenir o uso
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indevido de drogas, reduzir os danos decorrentes desse uso, tratar e reinserir os usuários e
dependentes de drogas e reprimir a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito.
redução da demanda. No mesmo ano criou-se a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), cujo
sendo que um dos princípios básicos passou a ser o de responsabilidade compartilhada entre
consolidar um modelo de atenção a usuários de álcool e outras drogas, que garantisse seu
atendimento pelo SUS e considerasse seu caráter multifatorial (e não apenas problema de saúde),
4. Educar a população;
16
Como resposta às pressões sociais, no mesmo ano é sancionada a Lei 10.216, que se
integralidade e a descentralização.
Em 11 de janeiro de 2002, foi sancionada a Lei 10.409, que “dispõe sobre a prevenção, o
produtos, substâncias ou drogas que causem dependência física ou psíquica, elencados pelo
Ministério da Saúde”. Esta lei sucedeu a lei n. 6368/76 em apenas alguns artigos, o que originou
dupla vigência, causando problemas na área jurídica; foram mantidos em vigor os artigos 12o ao
19o, que tratam de crimes e penas. A lei 6.368/76 referia-se a “entorpecentes”, enquanto que a lei
psíquica”(SENAD, 2004). Um dos avanços trazidos pela Lei 10.409 foi o de atribuir ao
Ministério da Saúde o poder de regulamentar ações que visem a redução dos danos sociais e a
saúde.
participação da sociedade civil. Nela, cada Ministério fica responsável em criar sua política de
Outras Drogas”, tendo como marco teórico-político dessa o tratamento da questão das drogas
como um grave problema de saúde pública. A concepção de política específica baseia-se nas
Desta forma, fica garantido aos usuários de serviços de saúde, e aos que sofrem de
convívio social de seus usuários, configurando redes assistenciais mais atentas às desigualdades
Outras Drogas deve articular-se internamente com outros programas com enfoque no município,
Saúde da Família (PSF), embora, na maioria das unidades de saúde com PSF implantado, ainda
se tenham poucas ações para a demanda de usuários com transtornos mentais, sendo a internação
ampliou a atenção integral a usuário de álcool e outras drogas, no âmbito do SUS sendo que no
seu Art. 2º estabelece que o Programa de Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas
SUS, PSF e a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e
outras drogas
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado a partir da Constituição Federal de 1988
(artigo 196) e regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei n° 8080/90 e Lei n° 8142/91). O
SUS veio para substituir o antigo modelo organizado pelo Instituto de Assistência Médica e
Uma vez criado o SUS, tratou-se de buscar um modelo no qual a atenção primária à
saúde fosse o eixo norteador e organizador de todo o sistema e que fosse capaz de concretizar a
integralidade das ações e dos serviços, colocando-se como alternativa ao modelo vigente
(MENDES, 2002). O modelo idealizado como estratégia de reorganização da atenção à saúde, foi
2003).
20
estabelecem entre si efetivas relações no campo técnico ou científico. Assim, exige uma
saúde da população que reside na área de abrangência das unidades de saúde, centrando a atenção
na família, entendida e percebida a partir de seu espaço físico e social. Assim, por tomar a família
como unidade programática do cuidado, o PSF pode e deve ter que enfrentar o desafio de
compreensão, para auxiliar na difícil tarefa de prevenir e tratar as conseqüências que o consumo
Isto implica em resgatar alguns conceitos e determinantes históricos sobre a situação da família
nas últimas décadas, e sobre o ato de cuidar, transcendendo a visão de doença e buscando a visão
de desenvolvimento humano.
21
ampliação do acesso aos serviços básicos por ele proporcionada, especialmente para as
Assim, hoje, o PSF é a principal ferramenta que se tem para a melhoria da situação da
atenção primária, porém, esta melhoria está na dependência da superação de uma série de
eficazes, envolvendo ações articuladas nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal
(MENDES, 2002).
planejamento local das atividades, no cadastramento das famílias, no diagnóstico das condições
continuada, resolutiva e pautada pelos princípios da promoção da saúde, com ações intersetoriais
visando à melhoria dos indicadores de saúde e da qualidade de vida da sua população, com
práticas que estabeleçam novas relações entre profissionais, indivíduos, famílias e comunidade
com enfoque principal na família e no contexto ao qual pertence, e não somente no indivíduo. As
ações e as atividades devem privilegiar a saúde, ocorrendo não apenas nas dependências da
tendo em vista que o PSF é a estratégia adotada para trabalhar com as questões de saúde no nível
primário de atenção, atuando diretamente junto às comunidades, acredita-se que se faz necessário
verificar como a Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e
outras Drogas e sua interface com o Programa de Saúde da Família, vem sendo tratado pelos
sendo capacitados para a implementação de tais políticas. Sabe-se que a lógica do PSF ainda não
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se encontra plenamente consolidada nas práticas de saúde e, por isso, freqüentemente o estágio de
Escolheu-se como campo de pesquisa, a Unidade Local de Saúde (ULS) do bairro Saco Grande,
principalmente nos municípios e, por isso, as secretarias municipais de saúde vêm assumindo
saúde, incluindo a assistência hospitalar. Além disso, estão passando a administrar os contratos e
lacunas deixadas pelo setor público. Neste ponto, as secretarias municipais habilitam-se à
Estreito) e de alguns outros centros de atenção específica. Vale ressaltar a recente instalação do
(FLORIANÓPOLIS,2005 a).
gerencial(FLORIANÓPOLIS,2005 a).
transição com a tendência da adoção do modelo Programa de Saúde da Família – PSF - para
100% da rede básica de saúde e o Programa de Agentes de Saúde - PACS, implantado em 100%
do PSF) quanto de levantamento da situação individual e familiar pela vigilância à saúde (através
dos agentes comunitários do PACS). A rede possui também unidades com prestação de serviços
sendo que os levantamentos apontam a utilização da rede básica por aproximadamente 70% da
população, principalmente nas áreas de atenção à mulher e à criança. A porta de entrada dos
sob gestão da Secretaria de Estado da Saúde. No nível secundário a situação é mais crítica pela
escassez de oferta, pela exclusão de muitas consultas de ambulatórios hospitalares e pelo fato de
os recursos situados no município já neste nível e no nível terciário (hospitalar) atenderem a uma
(FLORIANÓPOLIS,2005 a).
A rede básica municipal está dividida em cinco regionais de saúde que são: centro,
continente, leste, norte, e sul e foram implantadas em junho de 2002. As equipes regionais são
administrativo. As regionais de saúde tem como função principal o gerenciamento da rede a nível
A ULS escolhida para a realização deste trabalho está situada na Regional Leste do
município de Florianópolis. A ULS do Saco Grande possui uma área de abrangência dividida em
três áreas com suas respectivas micro-áreas. A população adscrita é de aproximadamente 13000
De acordo com os dados coletados por na unidade, esta possui três equipes de saúde da
família (compostas por um médico, um enfermeiro e dois técnicos de enfermagem por equipe)
sendo que está para ser implantada a quarta equipe na unidade. O número total de agentes
26
comunitários é de 28; divididos em três equipes (duas com 10 agentes e uma com 08). Não está
Apresenta também atendimento odontológico, contando para isso com três dentistas e
Inserida dentro do Programa Saúde da Família (PSF), tem como ações preconizadas
vacinas, curativos, aferição de glicemia capilar e pressão arterial );visitas domiciliares; realização
A ULS é referência para as outras unidades contíguas nas áreas de pediatria, ginecologia
Saúde e a Universidade Federal de Santa Catarina nas áreas de medicina, enfermagem, nutrição,
odontologia, farmácia, psicologia e serviço social para estudantes da graduação e também para os
(FLORIANÓPOLIS,2005 b).
São realizadas interconsultas caracterizadas por uma articulação de, no mínimo, dois
desenvolver atividades de modo mais eficiente e efetivo e concentrar esforços nas situações
A comunidade local
apresenta como características: alta dependência do SUS, baixo nível de escolaridade e de renda,
deficiência na coleta de lixo, falta de saneamento básico, falta de vagas em creches públicas,
aumento dos pontos de vendas e consumo de drogas, alta rotatividade populacional, falta de áreas
2 – OBJETIVOS
3 – METODOLOGIA
44) salienta que o estudo exploratório “(...) tem como principal finalidade desenvolver,
p. 21),:
“Ela se preocupa (...) com um nível de realidade, que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde
a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização das
variáveis.”
3.2. População/sujeitos
Saúde do bairro Saco Grande - três agentes comunitários de saúde, dois enfermeiros e dois
com profissionais de saúde da ULS do Saco Grande. Conforme Selltiz (apud Gil, 1994,
pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram”.
O roteiro para as entrevistas foi elaborado por pautas, permitindo certo grau de
estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai
explorando ao longo de seu curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relação
entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente
coleta de dados com os agentes comunitários de saúde (ACSs), pois era esperado um
número grande de participantes. Segundo Rodrigues et al. (1998, apud CRUZ NETO,
MOREIRA e SUCENA, 2001, p. 163), grupo focal é “uma forma rápida, fácil e prática de
se por em contato com a população que se deseja investigar”. Gomes e Barbosa (1999,
apud CRUZ NETO, MOREIRA e SUCENA, 2001, p. 163) acrescentam que “o grupo focal
suscitar um debate, onde possa ser evidenciada a opinião divergente, não possuindo como
alguns autores como insuficiente para grupo focal a atividade foi transformada em
Para a coleta dos dados, inicialmente foi realizado contato com a coordenação da
ULS do Saco Grande, que permitiu a realização da pesquisa com os profissionais daquela
unidade. Após realizou-se contato com cada profissional (elencados no item 3.2) para a
marcação da entrevista, sendo que todas foram realizadas nas dependências da própria
ULS.
Ambos concordaram que suas falas fossem identificadas, não enquanto indivíduos, mas
Para o grupo focal com os agentes comunitários de saúde contou-se com a ajuda
a presença para a participação no grupo focal, em dia e horário acordado com todos, sendo
32
que o encontro ocorreu no auditório da ULS. Foram convidados um total de dez ACSs, dos
os dados seriam tratados, sendo que os mesmos tiveram toda a liberdade em aderir ou não
ao projeto. Não houve recusa de nenhum participante solicitado e sua aceitação foi
Durante a maioria das entrevistas foi utilizado um gravador. Para isso, foi
entrevistado apresentou objeção ao uso de gravador e, neste caso específico, o registro foi
ULS ou no Programa Saúde da Família praticamente inexiste. Desta forma, são poucos os
Nesta discussão, outro limite que se pode mencionar seria o tipo de pesquisa
objetivos, mas no entanto não com um universo total. Esta constatação afirma-se, valendo
aqui lembrar, que dado o curto período de tempo para a realização deste estudo, optou-se
como a apreensão dos entrevistados em fornecer certas respostas, mediante receio de que
sua identidade fosse revelada. Foi necessário programar os horários das entrevistas , para
município, secretário de saúde, tendo sido agendado, porém desmarcado por conta de
saúde da ULS).
As falas dos profissionais serão citadas como P-01, P-02...e assim sucessivamente
para cada profissional diferente ,e o grupo focal será citado como entrevista coletiva
34
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
entendimento individual acerca dos termos drogas e dependência química. O objetivo foi o
termo droga, quando diretamente questionados, nas falas percebeu-se, implicitamente, que
drogas como sendo lícitas, citando como exemplo: álcool, tabaco, café e medicamentos, e
ilícitas:
“Algumas [vezes] (...) é uma coisa que não é prazerosa, faz mal e
causa sofrimento” (P-04).
Tais definições estão de acordo com o que Cavalcante (1997, p.22) afirma:
também, foi tratada como delito e, por isso, combatida com repressão e vista como
demanda da polícia e da justiça. Somente em 1966, a Associação Médica Americana
(AMA) passou a considerar o alcoolismo uma doença e, duas décadas depois, em 1988, a
dependência a outras drogas foi incluída como condição médica possível de tratamento
(SENAD, 2004). Atualmente, a síndrome de dependência encontra-se incluída na
Classificação Internacional de Doenças (CID 10), na categoria de Transtornos Mentais e de
Comportamento, como:
autores. Assim, para Ferreira (1995, apud BÜCHELE, 2001), caracteriza-se como
pessoa que não dispõe de recurso para promover a sua subsistência ou que vive as expensas
subordinação em que uma coisa se encontra relativamente à outra, de tal modo que sem ela
38
não poderia ser ou seria de outro modo. Verifica-se praticamente em todos os domínios da
no existir, denuncia a presença, em um oco vazio de uma plenitude, na qual se funda como
conotação moral, como, por exemplo, vício, viciado, drogado, etc. Muitas entidades,
termo dependência química para que esta condição seja tratada como um quadro clínico.
colocado, particularmente no que diz respeito à rede de relações que se estabelece, quer
“ O jovem pensa que é moda, acha que é só uma vez, que vai
experimentar e aí vai...”(Entrevista Coletiva)
40
apresentadas no item (1) Introdução, de que “as pessoas usam drogas esperando satisfazer
drogas na Comunidade atendida pela ULS Saco Grande, os profissionais de saúde relatam
que sabem da existência do problema, mas não conhecem exatamente a extensão, pois,
O fato da dependência química não ser um marcador do PSF mantêm este assunto
“Não tem nenhum estímulo pelo PSF para a gente verificar uso de
álcool e drogas, não é um marcador...”(Entrevista Coletiva)
outras drogas é uma discussão que já existe nacionalmente, inclusive foi um dos indicativos
do “Seminário sobre o atendimento aos usuários de álcool e outras drogas na rede do SUS”:
Outro fator que encobre o problema é a própria postura do usuário de drogas que
não reconhece isto como motivo para buscar auxílio nos serviços de saúde, sendo que a
maior do que o das drogas ilícitas. Revelou-se que 11,2% da população pesquisada é
bebidas alcoólicas obteve o primeiro lugar dentre todos os principais fatores de risco para
morte, doenças e ferimentos devido a acidentes e violência em nosso país (SENAD, 2004).
A percepção dos profissionais de saúde coincide com estes dados, já que identificam a
relataram que o uso abusivo de álcool e outras drogas e suas conseqüências, estão presentes
43
relações sociais:
Com base em Cavalcanti (1997), dizemos que a família certamente abala-se como
fato de um de seus membros estar envolvido com drogas. Não é raro que isso gere conflitos
profissionais de saúde, relataram que o enfrentamento não depende apenas do setor saúde,
pois se sabe que são inúmeros os fatores de risco que podem levar o ser humano ao uso e
O uso e abuso de álcool e outras drogas é um problema de saúde pública que não
pode ser encarado de forma isolada. Condições de vida adversas, violência, desemprego,
auto-estima baixa, exclusão social, são situações potenciais de risco para o uso de drogas.
Para lidar com essa questão na sociedade atual, é necessário compreender os diferentes
contextos que as mantêm. Para enfrentar a problemática das drogas, faz-se necessário
saúde, com políticas públicas nas três esferas do governo comprometidas com a promoção
Básica de Saúde com base nos princípios filosóficos e organizativos do SUS que são:
planejamento e avaliação das ações. Assim, o PSF, enquanto estratégia adotada para
trabalhar com as questões de saúde no nível primário de atenção, atuando diretamente junto
Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, visto que tal política preconiza a
articulação com outros programas com enfoque no município e nas comunidades locais,
atenção específica:
(2003), “ pode ser caracterizado enquanto um processo que visa a produção de relações de
Lembra ainda que para que o acolhimento aconteça algumas características devem estar
denotam que as atividades ainda estão centradas nos consultórios e é o usuário que precisa
1
O Programa Docente Assistencial é parceria da Secretaria de Saúde do Município de Florianópolis e UFSC,
sendo que a Unidade Local de Saúde do Saco Grande conta com profissionais residentes de enfermagem,
farmácia, odontologia, medicina, nutrição, psicologia, serviço social; além de contar também com estagiários
dos cursos de graduação do Centro de Ciências da Saúde.
50
sem cooperação e sem troca de informações, e a segunda por profissionais de diversas áreas
(VASCONCELOS, 2002).
encontram inserido:
saúde. Segundo Meirelles (2000 p.16), citando Lopes (1998), Stachtchenko e Jeniak
(1990):
doença:
53
entendimento:
“Mas deve ter planejamento, né, com começo, meio e fim, e seja
avaliado” (P – 03).
objetivos comuns entre as diversas ações. Assim, a equipe atua de forma coordenada,
evitando que esforços isolados sejam desperdiçados e que o impacto do trabalho torne-se
maior.
drogas é tema de muitos debates, fóruns, seminários, etc., há muito tempo. Porém vale
destacar que tanto o “I Fórum Nacional Antidrogas” (1998), quanto o “Seminário Sobre
Atendimento aos Usuários de Álcool e outras Drogas na Rede SUS” (2001), tiveram como
o momento, nenhuma capacitação voltada para a questão e acreditam que a rede ainda não
se encontra capacitada para atender de forma efetiva a demanda. Isto é possível observar
capacitação que será realizada pelas equipes de saúde mental de apoio matricial, ou equipes
de referências regionais2 (criadas no inicio deste ano), a qual também ressalta a necessidade
de investir na capacitação da atenção básica, das equipes de PSF e saúde mental, para o
próximo ano.
2
“O apoio matricial constitui um arranjo organizacional que visa outorgar suporte técnico em áreas
especificas as equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde para a população (...) As
equipes de saúde mental de apoio à Atenção Básica incorporam ações de supervisão, atendimento conjunto e
atendimento especifico, além de participar das iniciativas de capacitação” (BRASIL, 2004).
55
têm sobre a legislação acerca da atenção integral ao usuário de álcool e outras drogas. A
maioria demonstrou desconhecimento sobre a mesma, vale ressaltar que de fato a discussão
nacional.
Destacam-se as falas:
uso e abuso de álcool e outras drogas dos Ministérios da Educação e da Justiça, mas sobre a
prepositiva e convicta de seus direitos, bem como em relação aos cidadãos beneficiários
dos serviços sejam eles na área da saúde, educação, justiça, etc. Profissionais capacitados e
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
questão da dependência química ainda era entendida como “problema de polícia”. O fato
complexo é bastante significativo, uma vez que para trabalhar com tal questão faz-se
necessário superar preconceitos e estigmas sociais. A abordagem deste tema exige, além de
A partir das entrevistas com profissionais da ULS Saco Grande observou-se que a
atenção aos usuários e outras drogas no nível primário em Florianópolis não está
uso e abuso de álcool e outras drogas é uma questão que compete aos serviços de saúde,
solicitam. O fato de não existir um marcador do PSF que dimensione tal demanda prejudica
“indicados” pelo Governo Federal passa a ser prioridade na ULS e ocupa maior parte do
2004), configurando-se como porta de entrada no SUS para o usuário de álcool e outras
drogas. Portanto, tal realidade não pode ficar à margem de outras demandas.
caminhos” (fala de uma das entrevistadas) possíveis, visto não existir uma rede de atenção
tais serviços, ficando visível o distanciamento ainda existente entre os diversos setores.
públicas nas áreas da educação, trabalho e renda, lazer. Reconhecem também a ULS
também como portadora de um papel fundamental neste sentido, uma vez que pode
organização comunitária.
Consideram que não estão capacitados para atender uma questão de tal complexidade e não
adequado no que se refere à atenção que seve ser dada à demanda, reconhecendo a
comunitário.
Política de Atenção Integral aos Usuários de Álcool e Outras Drogas, visto que para o
início das atividades do CAPS- transcorreram-se quatro anos. A atenção terciária não está
estruturada para tal, uma vez que os hospitais gerais não dispõem de leitos para a
desintoxicação, conforme preconiza a portaria 2.197/2004, art. 5º, sendo tal serviço
prestado no Instituto Catarinense de Psiquiatria – IPQ, contrariando o art. 5º, inciso VII, da
citada portaria.
Por fim, evidencia-se um desafio aos trabalhadores das ULS, que continuarão se
deparando com as demandas dos usuários de álcool e outras drogas, pois a eles compete dar
setores do governo e sociedade civil, afim de que a rede para a atenção integral ao usuário
REFERÊNCIAS
CARVALHO B.G. ; Martin G.B.; JUNIOR L.C. A organização dos Sistemas de Saúde no
Brasil. In: Andrade, S.M.; Soares, D.A.; Júnior. LC, organizadores. Bases da Saúde
Coletiva. Londrina: UEL, 2001. p 27-59.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5º ed. São Paulo: Atlas, 1999.
Anexo 1
65
Anexo 2
66
Informo que tenho pleno conhecimento deste projeto de pesquisa o qual objetiva
analisar a intervenção do Programa Saúde da Família frente à Política do Ministério da
saúde de Atenção Integral a Usuários de álcool e outras drogas. Desta forma contribuindo
para a efetivação de ações de saúde em conformidade com o preconizado pelo SUS.
Estou ciente e concordo que os dados obtidos na entrevista poderão ser gravados e
transcritos e que não serei nominalmente identificado em qualquer registro dessa pesquisa.
No entanto, sei que se for de meu interesse e desejo, poderei solicitar que não seja gravada
alguma informação o que prontamente será atendido pelos pesquisadores.
Minha participação é voluntária e sei que posso ,em qualquer momento, desistir de
minha participação sem penalização de espécie alguma.
Tenho ciência que poderei conhecer os resultados deste trabalho caso os solicite, e
que serei esclarecido pelos pesquisadores a respeito de possíveis dúvidas sobre o teor do
estudo sobre meus direitos de participante durante o desenvolvimento da pesquisa através
dos telefones:..................................................................................
Anexo 3
68
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Profa Rosana Isabel dos Santos, M. Sc.
70