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DIMENSÃO SATÍRICA

A Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente segue a máxima latina Ridendo Castigat Mores, conferindo, desta
forma, dimensão satírica à peça.
A sátira utilizada cumpre o objetivo pedagógico de modificar aquilo que estava mal, recorrendo aos tipos de
cómico, às personagens-tipo, à ironia, ao sarcasmo e à crítica mordaz e acutilante.
O mundo às avessas e a crise de valores (hipocrisia, tirania, adultério, devassidão do clero, culto da
aparência) aliados ao cómico, ao riso e ao caricatural, recaem principalmente sobre as personagens de Inês
Pereira, Pêro Marques e Brás da Mata. Desta forma, a revolta de Inês e o desejo de libertação que a levam a um
casamento oposto ao almejado e posterior segundo casamento constituem cómicos de situação que ridicularizam
esta rapariga casadoura. Também o Escudeiro é alvo de crítica por simbolizar o escudeiro pelintra, fanfarrão,
pretensioso que vive das aparências e que revela a sua cobardia na hora da morte. Porém, a personagem mais
caricatural é Pêro Marques, lavrador ingénuo e inocente, que caminha desajeitadamente em busca da casa de Inês,
revela incapacidade de falar e de seduzir e leva presentes inadequados para a sua pretendente. Este cómico de
caráter atinge o auge no momento em que expõe a sua rusticidade de campónio que desconhece a função da
cadeira ou quando leva a mulher às costas, com docilidade e ingenuidade, para se encontrar com um amante.
Em suma, esta Farsa vicentina propõe-se a criticar a sociedade do século XVI através da sátira e da
comicidade.

RELAÇÃO ENTRE AS PERSONAGENS

A Farsa de Inês Pereira é uma peça de Gil Vicente pródiga em diferentes relações entre as personagens,
demonstrando, através delas, o quotidiano da época de seiscentos.
Inês estabelece quatro relações distintas ao longo da obra. Com a Mãe, a sua relação é marcada
pela hierarquia e autoritarismo desta última, fazendo a protagonista sentir-se como “cativa” dentro da sua própria
casa. Não muito diferente é a sua relação com o Escudeiro, caracterizada pela prepotência, violência e
subserviência marital. Já com Pêro Marques, existe uma desigualdade emocional, pois ele ama-a, todavia ela
desrespeita-o, sendo-lhe infiel com o Ermitão com quem estabelece uma relação amorosa. A Mãe e Lianor são
aliadas, revelando cumplicidade aquando da tentativa de casar Inês com o primeiro pretendente, personagem com
quem Lianor mantém uma relação de interesse, porque se conseguir casá-lo com Inês receberá uma recompensa
monetária. O mesmo se passa entre os Judeus casamenteiros e Brás da Mata. Finalmente, o Moço e o Escudeiro
protagonizam uma relação de autoritarismo do Escudeiro relativamente ao Moço e de crítica e lealdade do Moço em
relação ao seu amo, já que este último denuncia a situação precária em que o primeiro vive.
Concluindo, as relações entre as personagens espelham a vida epocal do autor.

REPRESENTAÇÃO DO QUOTIDIANO

A Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente espelha o quotidiano da sociedade do século XVI.
No início da peça, existem duas referências fundamentais para perceber o universo feminino de então: era
prática ir à missa (principalmente as mães) e a ocupação das raparigas solteiras eram as tarefas domésticas como
bordar e coser. Estas sofriam de falta de liberdade, estando confinadas à casa da mãe e a viver sob o jugo desta,
por isso, viam no casamento um meio de sobrevivência e de fuga à submissão às progenitoras, existindo diferentes
conceções de vida e de casamento entre mães e filhas, o que levava a diferenças intergeracionais, já que para as
mães o casamento era sinónimo de segurança.
Relativamente a este assunto, era habitual o recurso a casamenteiros (como são Lianor Vaz e os Judeus)
que recebiam uma recompensa caso o evento ocorresse. Segundo a tradição, após a cerimónia do casamento
deitavam-se grãos de trigo por cima dos noivos e havia banquete. Ao contrário daquilo que as raparigas pensavam,
a mulher casada vivia em submissão ao marido o que, muitas vezes, levava ao adultério de parte a parte.
Também o modo de vida popular (protagonizado por Pêro Marques) e o modo de vida cortês (representado
por Brás da Mata) entram em confronto na peça, sendo exploradas a inércia da nova burguesia que nada fazia para
adquirir mais cultura, a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e buscava o
prestígio perdido na luta contra os mouros e a simplicidade dos lavradores que nem sabiam a funcionalidade de
uma cadeira.
Por fim, Gil Vicente não esquece a devassidão do clero e a corrupção moral das mulheres que se deixavam
seduzir por elementos do mesmo, sendo disso exemplo o episódio relatado por Lianor Vaz e o encontro amoroso
que Inês irá ter com o Ermitão.
Em suma, esta Farsa vicentina ilustra a sociedade do século XVI nas valências familiares, sociais e
religiosas.

Estado de espírito de Inês Pereira no monólogo


inicial
Ao longo do monólogo inicial da peça Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente, a
protagonista revela-se, sobretudo, revoltada com a vida que leva.
"Renego deste lavrar" é a primeira afirmação da personagem, mostrando, desde logo, o
cansaço, a frustração e a irritação que sente face ao trabalho que lhe é exigido pela mãe. Inês
considera-se injustiçada pelo facto de estar "encerrada nesta casa" enquanto "todas folgam e
[ela] não", demonstrando, talvez, um pouco de inveja da vida alheia. 
A angústia e o desespero, provenientes da falta de liberdade, fazem-na sentir-se
aprisionada mesmo por que só raramente tem "licença" para estar "à janela", sendo este o seu
único contacto com o exterior. Em resultado deste estado de espírito, Inês determina que há de
"buscar maneira d'algum outro aviamento", mostrando a sua vontade de mudar de vida. 
Em suma, as adversidades vividas pela personagem originam uma revolta interior que
leva à ambição de casar.    

Inês Pereira é uma moça casadoira que se encontra em “cativeiro”, sendo esta a razão para o
seu desespero e saturação.
            A personagem sente-se irritada e cansada porque é obrigada pela mãe a ficar em casa a
costurar, por isso afirma “Renego deste lavrar”. Assim, ela considera-se injustiçada, o que a leva
à manifestação de uma revolta interior, devido à situação em que vive, já que, segundo a sua
opinião, as outras raparigas “folgam” e ela não. Desta forma, a sua vida de clausura e de
trabalho causam-lhe desespero e um sentimento de inutilidade, afirmando que “esta vida é mais
que morta”. Imbuída deste estado de espírito, Inês decide que tem “de buscar maneira/d’algum
outro aviamento”, ou seja, mostra determinação em resolver a sua vida, sendo que essa solução
será o casamento.
            Concluindo, o desespero da protagonista resulta numa revolta em busca da liberdade.
O estado de espírito apresentado por Inês no monólogo inicial é caracterizado,
essencialmente, pela frustração sentida pela personagem.
            A protagonista mostra-se aborrecida e entediada devido à tarefa que estava a realizar,
por isso afirma “renego deste lavrar”. Pelo facto de ser obrigada a cumprir estes deveres
exigidos pela mãe, fica inibida de sair de casa, causando-lhe sentimentos de angústia,
desespero, tristeza e revolta, já que se considera “cativa” de toda aquela situação.
Consequentemente, sente-se injustiçada, na medida em que, segundo a sua opinião, as outras
moças da sua idade “folgam, e [ela] não”, ou seja, ela questiona que “pecado é o [seu]” para não
ter direito a uma vida social como as outras. Perante este cenário/esta situação, ela está
decidida a tomar uma atitude por forma a mudar de vida.
            Em suma, o sentimento de injustiça e revolta apoderam-se da rapariga, sendo, assim,
necessário “buscar maneira/d’algum outro aviamento”.

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