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| SÉRIE ESPECIAL |

Controle de roedores
na suinocultura moderna
Profª Dra Masaio Mizuno Ishizuka
Professora Titular Emérita de Epidemiologia das Doenças
Infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da USP

parte 1
A PorkWorld inicia a publicação de um artigo inédito
e de vital importância para a Suinocultura brasileira,
destacando um dos maiores problemas de perdas em
granjas e depósitos de empresas: a ação dos ratos. Os
roedores convivem com os seres humanos desde os
tempos das cavernas e chegam a devorar em um ano
comida suficiente para alimentar quase 100 milhões de
pessoas. Você vai saber mais sobre esses animais, seus
principais hábitos, os tipos que mais causam prejuízo
no Brasil, como mantê-los longe das rações, o momento
exato para exterminá-los, os venenos mais utilizados e
como agir adequadamente.

Nesta primeira parte do artigo, a professora-doutora


Masaio Mizuno Ishizuka fala sobre os prejuízos causados
pelos roedores, os danos para a Saúde Pública e
para a Suinocultura, como eles agem, onde são mais
encontrados e a importância do trabalho do médico
veterinário dentro das granjas.

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u Introdução u Importância Estatística sobre prejuízos eco-


econômica e de nômicos são de difícil avaliação,

A
humanidade luta perma- saúde pública mas, cada criador pode ter a sua
nentemente contra roedo- estimativa, considerando não ape-
res que ainda permanecem nas que um roedor ingere aproxi-
como um grande desafio. Em 1968, estimava-se que as per- madamente 10% de alimento em
As formas de exploração econômica das atribuídas à destruição anual relação ao peso corpóreo, mas que
desenvolvidas pelo homem têm fa- causada pelos ratos seriam sufi- sempre que destrói uma embala-
vorecido a instalação e proliferação cientes para alimentar 85.000.000 gem de cereal ou ração, o prejuízo
de roedores. A maioria das espécies de pessoas. Os EUA consideram os corresponde ao valor total da em-
de roedores é de hábito silvestre, roedores como a principal praga, balagem e, conseqüentemente, a
vivendo em harmonia com a natu- destruindo cerca de 1/6 do dinheiro lucratividade da produção, que fica
reza que lhes fornece alimentos e circulante. Outros dados indicam seriamente comprometida.
proteção. Algumas espécies (Rattus que roedores devoram alimentos
e Mus) adaptaram-se às formas de armazenados pelo homem (inge- Roedores estão diretamente
exploração econômica desenvolvi- rem, diariamente, alimentos equiva- associados à Saúde Pública em
das pelo homem, que têm favore- lente a 10% de seu peso corpóreo), decorrência de serem reservatórios
cido a instalação e proliferação de patrimônios como animais (leitões para agentes de zoonoses (doenças
roedores, fornecendo água, alimen- recém nascidos) e instalações (cons- naturalmente transmitidas entre
to e abrigo. São conhecidas como truções de madeira, maquinários, o homem e animais) e de doenças
sinantrópicos e pesquisas arqueoló- cabos elétricos, cabos telefônicos), dos animais. Dentre as zoonoses,
gicas comprovaram fosseis de ratos causando avarias (curto circuito) e mencione-se alguns exemplos
juntos aos restos alimentares dos incêndios pelos hábitos de roedura. como:
homens das cavernas. Desvalorizam alimentos estocados,
contaminando com urina e fezes. Viroses: coriomeningite linfocitá-
Com os homens, os ratos viaja- Estes hábitos já se tornaram natural ria, hantavirose.
ram em caminhões, embarcações, para os roedores, pois o homem
de trem, cruzaram fronteiras e tem oferecido a eles condições de Bacterioses: leptospirose, tifo
alcançaram todas as partes do defesa, reprodução e disseminação murino, salmonelose, febre da
planeta. São transportados den- para a perpetuação da espécie. mordedura do rato (febre de Ha-
tro de móveis, eletrodomésticos, veihill), peste (bubônica, pneumo-
alimentos brutos, vestimentas, Não existem dados quantitativos nica e septicêmica).
madeiras, ferramentas e o mais precisos na literatura sobre os pre-
variados compartimentos. O sinan- juízos econômicos, mas, estima-se, Parasitoses: triquinelose,
tropismo dessas espécies murinas que seja da ordem de 4 a 8% da toxoplasmose.
deve-se à extraordinária capacida- produção agrícola nacional (milho,
de de adaptação e proliferação sob soja, cana, trigo, sementes e raí- Para os suínos, atuam como reserva-
variadas condições adversas. Além zes). Por outro lado, desconhecem- tórios de salmoneloses, doença de
disso, são habilidosos e resistentes, se os prejuízos na estocagem (de Aujeszky, toxoplasmose ou atuam
e a seleção de meios de controle cereais); na destruição de papéis, como carreadores de agentes etioló-
eficientes, principalmente em am- papelão e filmes que compõem gicos de pasteureloses, erisipelose,
bientes de criação animal, requer o grande parte das embalagens disenteria suína etc. A urina dos ro-
conhecimento de sua biologia e de alimentícias; nas instalações, per- edores tem um odor forte e bastan-
seu comportamento. furando madeira, metais macios, te desagradável, que impregna todo
plásticos, alvenaria pouco resis- e qualquer produto ou material
tente; nas redes de transportes de próximo, tornando-os inaptos para
alimentos; na indústria de transfor- uso ou consumo e comprometen-
mação; e na rede de comércio. do o bem estar do homem pelo
desconforto que causa. As fezes, em

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formato de cíbalas, são deixadas em sentimentalismo de querer prote- mente 500 espécies, dentre as quais
todo percurso e tornam o ambiente ger os animais em detrimento da o Rattus norvegicus (Berkenhout)
desagradável e depreciado. saúde humana; em desejar prote- e o Rattus rattus (Linnaeus), que
ger sua criação, esquecendo-se que apresentam distribuição geográ-
u Responsabilidade os roedores, por serem silvestres e fica cosmopolita. Ao gênero Mus
pelo controle de habilidosos para sobreviverem, pro- pertencem cerca de 130 espécies
liferam em qualquer local onde en- de CAMUNDONGOS, sendo o Mus
roedores contre alimento e abrigo, devendo musculus (Linnaeus) o únco adapta-
ser destruídos nas áreas que cer- do ao meio urbano e erradamente
Por suas habilidades, os roedores cam as granjas e outras instalações. denominado rato. Sinonímia:
não conhecem nem respeitam De outro lado, pela carência de um
quaisquer fronteiras. Movem-se adequado e contínuo programa de Rattus rattus: rato preto,
entre casas, propriedades, gran- educação em saúde de toda popu- rato do telhado, rato do forro
jas e, por isso, a responsabilidade lação humana, despertando para ou rato do navio.
é de todos aqueles que direta uma responsabilidade individual
ou indiretamente possibilitam a e coletiva, não apenas retirando a Rattus norvegicus: ratazana, gabi-
sua instalação e proliferação. Um disponibilidade de abrigo e alimen- ru, rato do esgoto, rato norueguês,
adequado programa de controle ou tos como, também, notificando as rato pardo.
de prevenção de roedores em uma autoridades sanitárias competentes
granja, ou em certa área geográfi- (Centro de Controle de Zoonoses Mus musculus: camundongo,
ca, implica, obrigatoriamente, no local) sobre a presença de roedores catita, ratinho, rato da gaveta, rato
conhecimento de suas necessidades na área geográfica em que vive. caseiro, muricha.
ambientais, hábitos alimentares, Nas criações de suínos, a prevenção
capacidade reprodutiva, compor- e/ou controle de roedores é respon- 2. Distribuição geográfica de
tamentos, sentidos, movimentos, sabilidade do Médico Veterinário roedores no Brasil
dinâmica populacional e estrutura que reúne, pelo próprio curriculum
social. Ressalte-se que ambas as acadêmico, conhecimentos para Nas zonas rurais do Brasil, exis-
medidas (prevenção e controle) de- executar esta atividade, pois o tem, além das 3 espécies citadas,
vem estar integradas para não cau- diagnóstico se faz pela inspeção habitando paióis, silos e criações
sar desequilibro que, normalmente, permanente e contínua de sua intensivas de animais de produção
favorece ao roedor, conduzindo à presença, para que se tomem as (aves, suínos, bovinos confinados
uma superpopulação, com sérias medidas profiláticas imediatas. etc.), outras espécies de roedores,
conseqüências para o homem. É geralmente de pequeno porte
preciso ter sempre em mente que u Espécies de roedores e conhecidos como “ratos da
roedores são animais silvestres e seu de interesse lavoura” ou “ratos do campo”. Nas
simples afastamento de criações ou plantações de arroz, trigo, cana,
instalações conduzem a situações
econômico e em cacau, dendê etc. são encontrados
que podem se tornar quase sempre saúde pública o Holochilus brasiliensis, Orizomys
inacessíveis pelas ações sanitárias sp e Mastomys natalensis. O “rato
privadas ou oficiais. Indícios de 1. Espécies de roedores sinantró- do capim” (Bolomys lasiurus) é o
superpopulação já são perceptíveis picos comensais: principal reservatório do hantavírus
pela observação de roedores vivos no Brasil. Esses roedores vivem em
durante o dia em muitos ecossiste- Os ratos e os camundongos perten- perfeito equilíbrio com a natureza
mas urbanos e rurais. cem à ordem Rodentia (reúne mais e tornam-se problemas de saúde
de 3.000 espécies dos denominados pública quando o homem elimina
O homem é o maior responsável roedores), subordem Sciurognathi, deliberadamente seus predadores
pela proliferação de roedores em família Muridae, subfamília Muri- naturais (coruja, cobras, gaviões,
seu domicílio, nas criações animais nae. A denominação RATO é cor- raposas, certos felinos etc.) e/ou
e arredores. De um lado, pelo retamente aplicada a aproximada- produz alimentos de sua preferên-

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Rato de esgoto ou Ratazana corpo robusto e troncudo


comprimento: 18 a 25cm
(Rattus norvegicus) peso: 280 a 460g

orelhas pequenas,
pelos ásperos arredondadas, peludas
e pouco salientes

olhos pequenos
em relação à cabeça

membranas interdigitais

cíbalos rombudos cauda grossa e peluda


(13 a 19 x 6mm) calos lisos comprimento: 16 x 21cm
220 anéis ou menos
Fonte: Manual de Controle de Roedores. FUNASA, 2002.

cia (arroz, trigo, milho etc.). Em Mus musculus: é o menor e mais a. Rattus norvegicus (Ratazana)
uma mesma área, é possível encon- frágil dentre estas 3 espécies e são
trar as espécies mais importantes, hábeis em procurar convívio pacífi- É a espécie mais comum na faixa li-
embora seja observada intensa se- co com o homem (inimigo atávico torânea brasileira, vive em colônias
gregação entre elas, caracterizando de roedores), criando seu “habitat” de tamanho variável em função da
territórios dominantes e com carac- em gavetas, armários, fornos etc. disponibilidade de abrigo e alimen-
terísticas biológicas distintas. de residências. to no território onde se encontra. É
de hábito fossoril (hábito de cavar),
Rattus norvegicus: prefere domi- u Características pois têm preferência por abrigo
nar o nível do solo, escavando tocas dos roedores abaixo do nível do solo, ou no
e túneis onde fazem seus ninhos. interior de estruturas, locais pouco
sinantrópicos movimentados e próximos as
Rattus rattus: vivem em forros e fontes de água e alimentos. Com o
telhados das habitações, pois não Características morfológicas para auxílio de suas patas e dos den-
conseguem sobrepujar a força, identificação das espécies sinan- tes, cavam ativamente tocas e/ou
o vigor físico, a agressividade e trópicas. ninhos no solo, formando galerias
robustez da ratazana. que danificam as estruturas locais.

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São encontrados facilmente em bilidade de alimento e de abrigo e ao habitat. Por ser uma espécie
galerias de esgoto e águas pluviais, por alterações ambientais, e à de hábitos elevados, vivem em for-
caixas subterrâneas de telefone, superpopulação. A urbanização ros, telhados e sótãos de habita-
eletricidade, metrô etc. desenfreada e sem planejamento ções, onde constroem seus ninhos
da maioria das cidades de médio e descem ao solo somente para
O raio de ação (território) é relati- e grande porte do Brasil também buscar alimentos e água. Vivem
vamente curto, raramente ultrapas- tem favorecido o crescimento da em colônias de indivíduos com
sa 50 metros e, excepcionalmente, população e a dispersão das rata- laços parentais, cujo tamanho de-
percorrem longas distâncias (em zanas. Assim, mencione-se, prin- pende dos recursos existentes no
caso de necessidade). Constroem cipalmente, a expansão de favelas ambiente. Seu raio de ação tende
seus ninhos em áreas delimitadas e loteamentos clandestinos sem a ser maior que o da ratazana face
por ferormônios, para encontrar redes de esgoto e de coleta de à habilidade em escalar superfícies
alimentos e procurar e defender lixo (inadequada ou insuficiente), verticais e à facilidade com que
seus parceiros sexuais. Este terri- que têm propiciado o aumento da andam sobre fios, cabos e galhos
tório é ativamente defendido de população de ratazanas. de árvores Sua dispersão em zonas
intrusos, que são expulsos pelos urbanas tem sido facilitada pela
indivíduos dominantes da colônia. Epidemias de leptospirose ocorrem verticalização das grandes cidades,
tanto em ambientes degradados aliadas aos modelos de construção
Manifestam neofobia marcante, como em áreas adequadamente e decoração dos modernos prédios
caracterizada pela desconfiança urbanizadas e são, cada vez mais, de escritórios que possuem for-
por objetos e/ou alimentos novos freqüentes casos de mordeduras ros falsos e galerias técnicas
colocados no seu território, embora por ratazanas ou de toxinfecções para passagem de fios
este comportamento apresente va- alimentares causadas por ingestão e cabos, permitindo
riação individual e/ou populacional, de alimentos contaminados pela
sendo mais acentuado nos locais de urina e/ou fezes de roedores (Sal-
pouco movimento de pessoas e ob- monella typhimuriun). Ocorrem,
jetos. Assim sendo, as medidas de frequentemente, casos de envene-
controle são de difícil aplicação e os namento acidental de humanos e
resultados obtidos a longo prazo, animais de estimação com ratici-
em decorrência da natural aver- das e outras substâncias tóxicas
são inicial por iscas, porta-iscas e utilizadas inadequadamente no
armadilhas colocadas no ambiente. controle de roedores.
Em locais de movimento contínuo
de pessoas, objetos e mercadorias, b. Rattus rattus
a neofobia é menos acentuada ou
inexistente e os novos alimentos (is- Predominante na maior parte
cas) e objetos (armadilhas) desper- do Brasil, sendo comum nas
tam imediata atenção, facilitando propriedades rurais e peque-
seu controle. nas e médias cidades do
interior. È distinta da ra-
A dispersão das ratazanas pode tazana relativamente à
ocorrer passivamente, transporta- morfologia, aos hábi-
da em caminhões, navios, trens, tos, comportamentos
contêineres etc. Ou ativamente,
quando abandonam suas colônias
em busca de outro local para cons-
truir abrigo. A dispersão ocorre por
razões diversas e atribui-se, prin-
cipalmente, à redução da disponi-

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Rato de telhado ou rato preto corpo esguio


comprimento: 16 a 21cm
(Rattus rattus) peso: 80 a 300g

orelhas grandes, de pouca


espessura e desprovidas de pelos*

olhos grandes

focinho afilado

vibrissas

cauda fina em chicote


comprimento: 19 x 25cm
calos estriados poucos pelos
cíbalos afilados 250 anéis ou mais
(8 a 13 x 5mm)

Fonte: Manual de Controle de Roedores. FUNASA, 2002. *As orelhas dobradas alcançam os olhos.

que se abriguem e se movimentem sobre o potencial desta espécie mem ao invadir locais de colheita e
vertical e horizontalmente. Em como reservatório de doenças para estocagem de cereais. Sua associa-
algumas cidades brasileiras, como melhor fundamentar os programas ção com o homem é bastante anti-
Rio de Janeiro e São Paulo, a pre- de controle com vistas à importân- ga, quiçá alguns milhares de anos.
sença do Rattus rattus é cada vez cia em saúde pública. São de pequeno porte, raramente
mais comum e predominante em ultrapassando 25 g de peso e 18
bairros anteriormente dominados c. Mus musculus cm de comprimento (incluindo a
pela ratazana, possivelmente, pelo cauda), o que facilita o transporte
fato dos programas serem direcio- É a espécie que atinge maior nível passivo para o interior das residên-
nados ao controle desta espécie. de dispersão, sendo encontrado cias, tornando-o importante praga
praticamente em todas as regiões intradomiciliar e podendo ai per-
O papel do Rattus rattus na trans- geográficas e climáticas do plane- manecer por longo período sem ser
missão de doenças como leptospi- ta. Originário das estepes da Ásia notado, até que seja estabelecida a
rose ainda é pouco conhecido, mas Central, região onde se acredita te- superpopulação. Seu raio de ação é
seu hábito intradomiciliar permite nha se desenvolvido, inicialmente, pequeno, raramente ultrapassando
um contato mais estreito com o a agricultura que permitiu a esse a 3 m. Ninhos são construídos no
homem. É preciso melhor estudo roedor tornar-se comensal do ho- fundo de gavetas e armários pouco

camundongo, ratinho ou rato caseiro


corpo delgado
(Mus musculus) comprimento: 8 a 9cm
peso: 10 a 21g

orelhas salientes e grandes


em relação à cabeça
olhos
pequenos
e pretos
cauda sem pelos
comprimento: 8 x 10cm

patas escuras vibrissas

cíbalos em forma
de bastonetes

Fonte: Manual de Controle de Roedores. FUNASA, 2002.

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utilizados, no interior de estufas mente à neofobia do rato de telha- de telhado e camundongo tocariam
de fogões e em quintais onde do e da ratazana. Podem invadir de ou cobririam os olhos parcialmente.
são criados animais domésticos. 20 a 30 diferentes locais por noite
Cavam pequenos ninhos no solo, em busca de alimento, causando Na figura ao lado, está ilustrada
semelhantes aos das ratazanas, sérios problemas de contamina- a morfologia comparativa das 3
formando numerosos complexos ção de alimentos em despensas e espécies de interesse. A figura 2
de galerias, de acordo com a oferta depósitos em geral, além de serem ilustra as diferenças morfológicas
de alimento. de difícil controle por raticidas. entre roedores sinantrópicos.
Na prática, há dois detalhes que
São onívoros (como a ratazana e o podem nos ajudar na distinção da Na segunda parte do
rato de telhado), alimentando-se ratazana. O comprimento da cauda artigo, você vai saber
de todo tipo de alimento, embo- é visivelmente menor do que o como os ratos se
ra demonstrem preferência pelo comprimento do corpo + cabeça.
reproduzem, os hábitos
consumo de grãos e cereais. São A ratazana tem as formas corporais
animais neófilos, caracterizados mais robustas e suas orelhas, numa
sociais, como identificar a
pela curiosidade e pelo hábito de visão rápida, imaginando-as dobra- presença deles, o grau de
explorar ativa e minuciosamente o da para frente, jamais tocariam a infestação e o que mais
ambiente em que vivem, contraria- borda do olho, enquanto no rato os atraem nas instalações.

Tabela 1 – Roedores sinantrópicos segundo algumas características de diferenciação


Espécie
Característica Rattus rattus Mus musculus
Rattus norvergicus (Ratazana)
(Rato de telhado) (Camundongo)
Cabeça Rombuda Afilada Afilada
Grossa, peluda e com 220 anéis Fina, com poucos pelos e com
Cauda Fina e sem pelos
ou menos 250 anéis ou mais
Comprimento Mais longa que (cabeça +
Mais curta que (cabeça + corpo) Igual (cabeça + corpo)
da cauda corpo)
Corpo Robusto e troncudo Esguio Delicado
Corpo + cabeça = 8-9
Corpo + cabeça = 18-25 cm Corpo + cabeça = 16-21 cm
Comprimento e cm
Cauda = 16-21 cm Cauda = 19-21 cm
Peso Cauda = 8 a 10 cm
Peso = 280 a 460 g. Peso = 80 a 300 g.
Peso = 10 a 21 g.
Sem resquícios de membranas
Resquícios de membranas
interdigitais, planta larga Sem resquícios de
Pés interdigitais, planta estreita,
e com calos estriados nos membranas interdigitais.
com calos lisos e dedos longos.
dedos.
Pretos e pequenos
Grandes em relação à cabeça
Olhos Pequena em relação à cabeça em relação à cabeça e
e salientes.
salientes.
Pequenas em relação à cabeça, Grandes em relação à cabeça, Grandes, delicadas e
Orelhas arredondadas, peludas e pouco delgadas, sem pelos e salientes em relação à
salientes. salientes. cabeça.
Pelagem Grosseira e áspera Delicada Delicada e sedosa.
Dorso castanho acinzentado ou Dorso preto ou cinza chumbo.
Dorso cinza. Ventre
ruivo. Ventre mais claro. Cauda Ventre idêntico ou mais claro.
Coloração mais claro. Cauda cinza
da mesma cor e parte inferior Cauda de coloração uniforme
rosada e uniforme
bem mais clara. e igual a do corpo.

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| SÉRIE ESPECIAL |

Morfologia comparativa das espécies de roedores sinantrópicos


rato de telhado rattus rattus
ratazana jovem

mais comprida que leve,


grande grandes afilado
a cabeça + corpo delgado
compridos grande

CAUDA CORPO ORELHA OLHOS NARIZ


PÉS CABEÇA

mais curta que pesado,


pequena pequenos arredondado pequenos pequena
cabeça + corpo grosso

camundongo domÉstico
Mus musculus
ratazana rattus norvegicus

Fonte: Carvalho Neto, C. - Manual Prático de Biologia e Controle dos Roedores (Novartis – 2005)

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Controle de roedores
na suinocultura
moderna
parte 2
Profª Dra Masaio Mizuno Ishizuka
Professora Titular Emérita de Epidemiologia das Doenças
Infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da USP

Ñ Biologia dos roedores

A
PorkWorld publica nesta
edição a segunda parte
da série especial sobre os Conhecer a biologia e o comporta-
prejuízos causados pelos mento destes animais é imprescin-
ratos à Suinocultura. Na abertura dível para otimizar a profilaxia
da série, conhecemos os principais e garantir o sucesso.
danos para os criadores de suínos
e à Saúde Pública, como estes Reprodução
roedores agem, onde são mais
encontrados e a importância do O período de gestação varia de
trabalho do médico veterinário 21 a 23 dias e os filhotes nascem
dentro das granjas. Agora, che- com formação incompleta (olhos
gou a vez de sabermos mais sobre fechados, despidos de pêlos,
a biologia destes animais, que sem unhas e ouvidos tampados).
têm um corpo que é uma verda- Desenvolvem-se rapidamente e
deira máquina de sobrevivência, por volta do 14º dia iniciam seus
capaz de saltar 15 metros, nadar primeiros movimentos explorató-
3 minutos sem respirar e ter até rios ao redor do ninho. Na terceira
100 filhotes em apenas um ano. semana de vida já são capazes de
Aprenda como eles vivem, o que ingerir alimentos sólidos e na quar-
mais os atraem, como perceber a ta semana são desmamados. Por
presença deles e saber identificar volta dos 3 meses estão comple-
o grau de infestação. tamente independentes da mãe,

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quando atingem a maturidade varia, normalmente, das 17 às 19 A 2ª busca por alimentos ocorre
sexual. A longevidade do camun- horas. Quando observados vivos pela madrugada (entre 3-4 horas),
dongo é de 1 ano, do rato preto durante o dia é sinal de que se mas é menos freqüente porque
1,5 ano enquanto a ratazana pode encontram em dificuldades, pela os roedores armazenam alimento
chegar a 2 anos. Apresentam 6 a escassez de alimentos e/ou super- em seus ninhos para o 2º repasto.
8 cios por ano e 1 a 2 dias férteis. população. Percorrem sempre os Ratos e camundongos não vomi-
O tamanho na ninhada é de 7 a 12 mesmos caminhos por conhecerem tam em função de peculiaridade
filhotes, que varia segundo a pres- os locais onde se encontram os anatômica do aparelho digestório.
são social, alimentar e/ou física em alimentos preferenciais, razão pela
que vivem. qual formam trilhas nas áreas aber- Habilidades sensoriais
tas ou são visualizadas manchas de
Alimentação: gordura junto às paredes, deixadas Roedores apresentam hábitos
comportamento e pelo constante roçar das vibrissas. noturnos e a visão é deficiente,
movimentação pois os olhos não foram
O conhecimento da neofobia (des- concebidos para enxergar, mas a
São onívoros como o homem e, confiança por objetos desconhe- elevada sensibilidade à variação
portanto, ingerem qualquer tipo cidos em seu território) que apre- luminosa permite-lhes identificar
de alimento, embora tenham sentam a ratazana e o rato preto, e formas e movimentos. Sendo
suas preferências, pois, no lixo, da neofilia (curiosidade pelo novo) destituídos de células piramidais,
as ratazanas escolhem as porções determina o sucesso ou não de um os roedores não identificam
mais frescas e recentes e aceitam programa de profilaxia. Diante da cores. Tudo indica que os olhos
bem os cereais. É errôneo pensar abundância de alimentos e a inca- percebem variações de claro e
que esses animais ingerem todo pacidade de carregar grandes quan- escuro das cores. Por esta razão,
tipo de alimento, pois preferem tidades, possuem o hábito de levar as iscas podem ser elaboradas com
alimentos frescos ao invés a comida ao ninho em pequenas diferentes cores, sem afetar sua
de estragados, fermentados quantidades para posteriormente aceitação e não se pode afirmar
ou azedados. Sua dieta é ingerir tranquilamente. Este hábito que certas cores são atraentes e
razoavelmente variável, em função é mais freqüente entre fêmeas que outras não. Os órgãos do sentido
da fonte de suprimento, mas levam alimentos para a prole, ainda são muito apurados, com exceção
preferem cereais especialmente incapaz de procurar alimento. da visão (enxergam mal), embora
grãos quebrados, não aceitando apresentem boa percepção de
bem os moídos, as frutas, Relativamente ao consumo de variação luminosa.
determinados vegetais, carne, água, verifica-se que necessitam de
peixe etc. Por não apresentarem maiores quantidades a ratazana e O olfato é extraordinariamente
preferência definida, torna-se o rato preto, face à preferência por desenvolvido, capacitando-os a
difícil preparar iscas que sejam de grãos e cereais. Já o camundongo localizar determinados alimentos
agrado da maioria. Quando iscas necessita de menos água, pois reti- atraentes misturadas com outros
comerciais não são bem aceitas, ra do próprio alimento. Rato preto alimentos menos interessantes,
há que se formular localmente a e camundongos são difíceis de bem como é capaz de detectar
isca raticida, após pesquisar os serem eliminados pelo uso de iscas e interpretar diferentes odores
alimentos preferenciais. De forma comerciais naqueles locais onde como atraentes ou repulsivos.
geral, roedores ingerem iscas há abundância de alimentos como Esta característica permite ela-
comerciais formuladas com mais depósitos de grãos (silos, tulhas, borar iscas olfativas. O paladar é
de 7,0% de proteínas. paióis etc), depósitos ou indústrias igualmente apurado, permitindo
de ração animal, moinhos, depó- detectar substâncias não tóxicas
Em função de seus hábitos no- sitos de alimentos para industriali- em concentrações de até 0,5 ppm
turnos, a 1ª busca por alimentos zação, supermercados e similares. e isto dificulta algumas iscas,
ocorre ao entardecer (final do Nestes casos, há que se recorrer a pois substâncias muito letais para
período iluminado do dia) e que meios alternativos. roedores tornaram-se inúteis como

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| SÉRIE ESPECIAL |

Resumo das características de biologia dos roedores sinantrópicos


Espécie
Variável
Rattus norvegicus Rattus rattus Mus musculus
Maturidade sexual 45 dias 60 a 75 dias 60 a 90 dias
Gestação 19 a 21 dias 20 a 22 dias 22 a 24 dias
Ninhadas/Ano 5a6 4a8 8 a 12
Nº filhotes/ninhada 3a8 7 a 12 7 a 12
Idade de desmame 25 dias 28 dias 28 dias
Raio de ação Cerca de 3 m a 5 m Cerca de 60 m Cerca de 50 m
Onívoro, preferência por Onívoro, preferência por Onívoro, prefere grãos,
Alimentação
grãos e sementes legumes, frutas e grãos carnes, ovos e frutas
Difícil visualização, mas Deixam manchas de Formam trilhas no solo pelo
deixam manchas de gordura no madeirame desgaste da vegetação com
Trilhas gordura em rodapés, nas de telhados, em tubos e pegadas, fezes e pêlos. Nas
paredes e nos orifícios cabos. Presença de pêlos paredes, deixam manchas
por onde passam e fezes de gordura
Vida média 12 meses 18 meses 24 meses

rodenticidas. Além disso, são privi- O equilíbrio bem desenvolvido os b. R


 oem diferentes tipos de mate-
legiados com boa memória olfati- torna muito hábeis (principalmen- riais considerados duros como
va, pois certo sabor desagradável te, o rato de telhado ou rato pre- madeiras, tijolos, chumbo,
dificilmente poderá ser mascarado to) permitindo caminhar por fios folhas finas de alumínio e até
como ingrediente de rodenticida. e arames, escalar alturas e passar mesmo de cimentados (3 partes
por lugares poucos convencionais de areia + 1 parte de cimento).
A audição é um dos sentidos mais para outros animais. São equili-
desenvolvidos e é seu instrumento bristas habilidosos, locomovendo- c. N
 adam com facilidade em águas
de defesa, capacitando-os a detec- se, muitas vezes, pelos finos cabos abertas até 800 metros.
tar sons de amplitudes variadas, telefônicos valendo-se do peso de
desde as mais baixas até aquelas sua longa cauda, jogando-a de um d. Mergulham e nadam submersos
inaudíveis ao ouvido humano, lado para outro do corpo. até contra corrente (interior de
como as de freqüências mais tubulações de esgoto), sustando
baixas como ultra-som. O tato Habilidades físicas a respiração por até 3 minutos
talvez seja o sentido mais desen- e, freqüentemente, conseguem
volvido. Possuem longas vibrissas Suas habilidades físicas são notá- atingir residências através do
(“bigode”), próximas ao focinho, e veis, favorecendo sua sobrevivên- vaso sanitário.
os pêlos sensoriais distribuídos ao cia na natureza como espécie. Es-
longo do corpo (mais longos que ses conhecimentos devem nortear e. Sobem pelo interior de tubu-
os pêlos comuns), atuando como as construções ou reabilitação lações ou canos verticais que
verdadeiras antenas tácteis (tam- de edificações que seja a prova tenham diâmetro entre 4-10 cm
bém chamados pêlos-guardas). de roedores. Seguem algumas apoiando-se com as patas
Ambos permitem aos roedores dessas habilidades: e as costas.
movimentarem-se com desenvol-
tura em ambientes completamente a. Penetram em qualquer orifício f. S
 obem pelo exterior, abraçando
escuros, andando sempre junto ou abertura pouco superior a tubulações ou calhas verticais
a paredes e no interior de túneis 1,5 cm2, desde que a cabeça com diâmetro não superior
subterrâneos e tubulações. tenha passado. a 9,5 cm.

68 porkworld 44 mai/jun 2008 | ano 7


| SÉRIE ESPECIAL |

g. Sobem pelo exterior de tubulações ou canos que este- do passado (1080, 1081, ANTU, estricnina, arsê-
jam colocados a 7,5 cm da parede, apoiando as patas nio e outros). Eles foram retirados do mercado
no cano e as costas na parede ou vice-versa. em razão da eliminação de dominados e sobrevi-
vência dos dominantes, que não ingeriam a isca
h. C
 aminham equilibrando-se sobre qualquer tubulação por associarem a morte com a ingestão da isca e
horizontal. este comportamento era imitado pelos demais.

i. Caminham sobre fios ou cordas pouco espessas.

j. Pulam verticalmente a uma altura de até 1 metro par-


tindo de uma superfície plana.

k. P
 ulam horizontalmente até 1,2 metros em superfícies
planas, partindo da imobilidade.

l. Saltam de alturas de até 15 metros sem sofrer qual-


quer ferimento.

m. Cavam túneis verticais no solo com até 1,23 m de


profundidade.

n. A
 lcançam andares superiores de prédios em cons-
trução, valendo-se apenas da quina entre 2 paredes Dentre os roedores, as ratazanas
como apoio. são as que mais violentamente
defendem seu território da invasão
Hábitos sociais de outras espécies ou de ratazanas
Os roedores sinantrópicos são socialmente bem orga- de outras colônias, ante a escassez
nizados e vivem em colônias instaladas em territórios de alimentos.
bem definidos, cuja extensão varia com a espécie. Assim,
entre camundongos, o território é de, no máximo, 3 O invasor pode ser morto em com-
metros de raio. No caso do rato preto, atinge de 30 a 40 bate e seu cadáver ingerido pelos
metros de raio. E, em se tratando de ratazanas, não ul- demais. Diante da abundância de
trapassa a 50 metros. A estrutura social é razoavelmente alimentos, as diferentes espécies
organizada, embora não comparável ao das formigas,
abelhas e dos cupins. Existem 2 estruturas sócias repre-
sentadas pelos dominantes (adultos em idade de repro-
dução) e os dominados (mais jovens e mais velhos). Uma
toca pode ser ocupada por várias fêmeas e o macho
dominante expulsa os outros machos, que vão habitar
áreas marginais do mesmo território e se alimentam na
ausência de machos dominantes.

Diante de um alimento novo no território (e pode ser


uma isca raticida ou armadilha contendo isca), o roe-
dor dominado é estimulado a experimentar antes do
dominante. Na ausência de qualquer manifestação no
dominado, este é expulso pelo dominante, que pode se
alimentar com esse novo alimento. Este comportamento
explica a razão do insucesso de raticidas de ação aguda
| SÉRIE ESPECIAL |

podem coexistir pacificamente e áreas onde se suspeita que eles exalar um odor também “sui gene-
este fato é particularmente ob- estejam presentes, recorre-se à ris” (inesquecível).
servado em instalações de criação identificação indireta com base
com muitos cochos, que levam a na indicação de sua presença. Trilhas: podem ser encontradas fa-
não competição pelo alimento. Os indicadores mais usuais são a cilmente quando a céu aberto, pois
Nesses ambientes, os camundon- observação de roedores vivos ou a vegetação não consegue crescer.
gos preferem os depósitos de mortos nas proximidades de tocas
ração e podem constituir ninho ou esconderijos, pelas trilhas ou Marcas de gordura: manchas con-
por entre os sacos. caminhos, manchas de urina, tínuas de cor escura junto aos roda-
material de roeduras, manchas pés, próximas a cantos, sobre canos
Dinâmica populacional nas paredes, fezes e odor. Os ou caibros provocadas pela gordura
principais sinais de presença de que os ratos deixam ao roçar seu
A população de roedores presen- roedores são: corpo ou as vibrissas quando cami-
tes em um ninho é diretamente nham pelos mesmos lugares.
proporcional à disponibilidade Odor: é característico e “sui
de alimentos e abrigo. Qualquer generis”, de sorte que, quem já Sinais de roeduras: para o desgas-
tentativa de realização de censo o sentiu, poderá percebê-lo com te dos dentes incisivos que crescem
é imprecisa em decorrência da certa facilidade ao entrar em um continuamente, roem tudo que
flutuação do número de roedores. local infestado de roedores. possam auxiliar neste desgaste,
Somente seria possível em áreas como madeiras nos cantos das
muito estritas e diante de quantida- Sons/ruídos: os roedores emitem, portas e parapeitos de janelas,
des de alimentos conhecidas. Sabe- especialmente à noite, sons de guarda-roupas, cômodas, paredes
se que é muito rara a superpopu- roer, de corridas curtas e rápidas, etc. Observam-se marcas de dentes
lação, pois roedores recorrem à de bater de dentes, guinchos e em materiais roídos.
autolimitação natural pelos hábitos correrias (lutas ou acasalamento).
de canibalismo dos recém-nascidos, É muito comum de ouvir nos te- Ninhos: construídos geralmente
baixa fecundidade e fertilidade das tos, telhados ou forros de residên- de papel roído, trapos ou outros
fêmeas, supressão de cio etc., que cias infestadas. materiais macios, mas sempre
são revertidos diante da mudança com presença de grandes
das condições ambientais. Fezes: tem formas de contas quantidades de pêlos da
chamadas cíbalas, facilmente
Caso a desratização seja conduzi- observadas a olho nu e cuja forma
da erradamente, poderá ocorrer e tamanho variam segundo a
a eliminação de parte da colônia espécie. A ratazana tem as fezes
(dos dominados) com conse- grossas (6 mm de espessura) e lon-
qüente excedente de alimento e gas (13 a 19 mm de comprimento)
imediato aumento da população e a extremidade romba. O rato
de roedores pelo retorno das de telhado tem as fezes finas (até
condições fisiológicas das fêmeas 5 mm) e curtas (8 a 13 mm) e a
à reprodução. Este fenômeno é extremidade afilada. O camundon-
denominado “efeito bumerangue” go também tem as fezes finas, (até
e a população é maior que ante- 5mm), mais curtas (5 a 12 mm) e
riormente à desratização. com extremidades afiladas. Fezes
recentes são moles e brilhantes e
Ñ Sinais de presença as antigas se desfazem à pressão.
de roedores
Urina: emite fluorescência quan-
Diante da freqüente impossibili- do exposta à luz ultravioleta,
dade de se capturar roedores em mesmo depois de seca, além de

70 porkworld 44 mai/jun 2008 | ano 7


| SÉRIE ESPECIAL |

própria mãe, que os utiliza para esgoto. O rato de telhado escala Ñ Estimativa da
preparar a cama dos filhotes. partes mais altas, deixando trilhas população de
Freqüentemente, há restos de na madeira ou alvenaria por onde roedores
alimentos nestes ninhos. passa. O camundongo refugia-se
em armários, gavetas, frestas e
Observação visual: à noite, é orifícios dos móveis e eletrodo- A estimativa da população é ape-
possível visualizar ratos com o mésticos, conduzindo alimentos e nas no sentido de indicar se ocorre
auxílio de poderosa lanterna de deixando pêlos do corpo. baixa, média ou alta infestação. O
mão e subitamente acesa no am- procedimento de estimativa mais
biente escuro. Ratos mortos vistos Ñ Fatores que atraem aceita pela comunidade cientifi-
durante o dia podem sugerir uma e favorecem a ca é do “censo por consumo” e
infecção relativamente alta ou pode ser mascarada onde hou-
epidemia entre eles. E, se observa-
instalação de ver a oferta natural de alimento,
dos vivos, pode ser indicativo de roedores pois o método calcula o consumo
superpopulação. mensurado, em oferta crescente
Estão abaixo relatados alguns dos até a estabilização, estimando-o
Excitação de cães e gatos: naque- fatores mais importantes: em aproximadamente 15 gramas
las residências ou instalações onde por rato.
são perceptíveis odores deixados a. Instalações danificadas ou mal
no chão ou na parede, especial- construídas que favorecem a Censo por consumo
mente quando de invasão recente. entrada de roedores.
é adequado para ambientes
Outros sinais: abertura de tocas b. Lixo acumulado. fechados onde não haja abundân-
em caso de ratazanas que vivem cia de alimentos disponíveis para
nas partes baixas das edificações, c. Fiações expostas. os roedores (depósitos, fábricas,
nos subsolos, canais e tubos de armazéns e similares). Consiste
d. Entulhos acumulados. em se colocar porções diárias (em
recipientes bem fixados e com
e. Desperdícios de rações fora de bordas elevadas de ± 5,0 cm) de
comedouros. aproximadamente 30 g de cereais
“in natura” (sem adição de roden-
f. Áreas ao redor dos galpões ticida) em diferentes localizações.
abandonadas ou mal cuidadas. No dia seguinte, todo o resíduo
de cereal é pesado para avaliar
g. Sala de armazenagem de ração o consumo, retirando eventuais
sem estrados. matérias estranhas ou fezes. Reco-
locar 60 g naqueles pontos onde
h. Janelas sem proteção de telas. houver consumo total e 30 g onde
foi parcial. Repetir por vários dias
i. Portas de madeira. até que se observe estabilização
do consumo e, após estabilizado,
j. C
 riações informais ou de fundo repetir por mais 3 noites conse-
de quintal de suínos ou outros cutivas. Calcular o peso total de
animais. cereal consumido e dividir por
15g, que corresponde à média de
k. P
 roximidade de aterros sanitá- consumo diário de uma ratazana.
rios a céu aberto ou lixões. Dessa forma, há a possibilidade de
se inferir a população aproximada
l. Tulhas ou paióis abandonados. de roedores na área. Obviamente,

mai/jun 2008 | ano 7 porkworld 44 71


| SÉRIE ESPECIAL |

este método apresenta interfe- observado à noite, existem cerca pintada de branco). Em seguida,
rência se realizado em locais onde de 10 ratos ou pouco mais na área faz-se a desratização e aguarda-
exista oferta de alimento natural e (não tem amparo científico). se o tempo suficiente para a ação
não é possível de ser removida. da droga. Decorrido este período
Infestação alta: cíbalas de fezes de tempo, retorna-se aos locais
Método indireto frescas em grande quantidade, e vedam-se as tocas com terra,
presença de rastros, manchas de papel ou jornal bem amassados
Os disponíveis são aqueles censos gordura, de trilhas, mais de 3 ratos e comprimidos. No dia seguinte,
inferidos por captura, por pe- vistos à noite, alguns durante o dia procede-se a contagem de tocas
gadas, por contagem de tocas e e sinais de roedura. reabertas, que é indicativo de tocas
misto, mas que apresentam grau tratadas e com roedores ainda
de precisão menor, sendo útil Este método pode ser resumido na vivos. O cálculo é baseado na divi-
apenas para ensaios com raticidas tabela da página ao lado: são entre tocas não reabertas pelo
para determinação da sua eficácia, total de tocas fechadas. Se forem
e classifica a infestação em baixa, É um método simplificado de ava- tratadas e fechadas 100 tocas e 80
média e alta. liação de infestação, indicado para não foram reabertas, a eficácia da
desratização é igual a 80%.

Método indireto de contagem


O procedimento de estimativa de pegadas

mais aceita pela comunidade Apresenta precisão, embora, em


cientifica é do “censo por consumo” muitas circunstâncias, é o único
método aplicável. Pode ser útil
e pode ser mascarada em testes de raticidas quando se
utiliza o modelo em que a eficácia
onde houver a oferta do rodenticida é igual a: (nº de
pegadas/captura pré-censo) + (tra-
natural de alimento. tamento) + (nº de pegadas/captu-
ra pós-censo) = Eficácia.

Método indireto de captura de


Método indireto misto roedores
locais fechados como instalações
Classifica a intensidade de infesta- de porte médio e áreas externas Adequado para extensas áreas
ção em: de até 300 m2. como granjas, parques, áreas de
estocagem de alimentos. Consiste
Infestação baixa: poucos sinais, Método indireto de contagem no seguinte:
algumas cíbalas de fezes, uma de tocas
ou outra toca, nenhuma trilha ou a. Distribuir 100 (cem) ratoeiras ou
mancha de gordura.; Indicado quando se tratar de armadilhas contendo iscas ade-
roedores fossoriais (cavadores de quadas e armadas em diferentes
Infestação média: fezes em tocas e túneis). É razoavelmente locais da área sob avaliação.
pequena quantidade com aspecto preciso e consiste na contagem de
de serem antigas (secas e endure- tocas reabertas. Em um primeiro b. C
 olocar essas ratoeiras ou arma-
cidas), presença de material roído, momento, delimita-se um território dilhas às 22:00 horas e retirar
um ou outro rato visto à noite e e procede-se à contagem do maior na madrugada, às 05:00 horas.
nenhum durante o dia. Segundo número possível de tocas, marcan- Anotar o número de roedores
alguns autores, para cada rato do-as com uma estaca (idealmente, capturados.

72 porkworld 44 mai/jun 2008 | ano 7


| SÉRIE ESPECIAL |

Nível de infestação
Sinais
Baixa Média Alta
Trilhas Nenhuma visível Algumas Várias e evidentes
Manchas de gordura Nenhuma Pouco perceptível Evidentes em vários locais
Roedoras diversas Nenhuma Algumas Visíveis em vários locais
Presença de fezes Algumas cíbalas Em vários locais Numerosas cíbalas frescas
Presença tocas/ninhos Algumas (2-3/300 m2) Algumas (4-10/300 m2) Numerosas (+ 10/300 m2)
Ratos observados Nenhum Alguns (à noite) Vários à noite e alguns de dia

c. R
 epetir a mesma operação por 3 noites consecutivas.
Na última parte do artigo, você
d. Somar o total de roedores capturados. vai conhecer as principais medi-
das preventivas, como controlar
e. Proceder a avaliação:
a infestação e saber dos pro-
e1. 1
 a 5 roedores g baixa infestação. dutos químicos que podem ser
e2. 6 a 15 roedores g média infestação.
e3. 16
 a 29 roedores g alta infestação.
utilizados sem comprometer a
e4.m ais de 30 roedores g infestação maciça. produção e o meio ambiente.
| SÉRIE ESPECIAL |

Controle de roedores
na suinocultura
moderna
Profª Dra Masaio Mizuno Ishizuka
masaiomizuno@uol.com.br
Professora Titular Emérita de Epidemiologia das
Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da USP

parte 3
A Porkworld termina nesta edição
a publicação da série especial sobre
roedores. Já vimos os principais
danos causados à Saúde Pública,
a importância da presença do
Médico Veterinário nas granjas,
o funcionamento do corpo dos
ratos, o que mais os atraem e como
identificar o grau de infestação. Na
última parte de nossa série, você
vai conhecer as principais medidas
preventivas, como controlar a
infestação e saber dos produtos
químicos que podem ser utilizados
sem comprometer a produção e o
meio ambiente.

44 porkworld 45 jul/ago 2008 | ano 8


| SÉRIE ESPECIAL |

Ñ Profilaxia roedores ou colocar defensas em árvores: colocar defensas de


toda extensão. metal (forma de disco, cone ou

O
requisito fundamental para placas lisas) em todas as estruturas
o sucesso da profilaxia é c. Barreira verde: plantar vegetação de sustentação verticais ou
a Educação em Saúde da ao redor da granja é uma boa horizontais. Na figura 1, algumas
população humana para medida para evitar entrada de modalidades de defensas.
que não disponibilize alimentos roedores. Preferencialmente,
e abrigos para os roedores. arbustos que tenham ramos juntos e. Depósito de ração: instalação
A profilaxia compreende um ao solo e com espinhos. fechada e provida de estrados
conjunto de medidas que pode afastados das paredes para
ser didaticamente dividido em Medidas preventivas para permitir limpeza e visualização de
medidas de prevenção e medidas de impedir acesso de roedores nas sinais de presença de roedores.
controle. E ambas são, na maioria instalações Recomendam-se estrados com
das vezes, precedidas de medidas 40-60 cm de altura e, quando
corretivas. A prevenção objetiva a. Aberturas ou frestas necessário, os pés devem ser
impedir a entrada de roedores superiores a 0,5 cm: reparar, providos de defensas cônicas.
em criações animais, residências fechando-as para impedir que
ou outro estabelecimento. O roedores construam ninhos ou f. Reservatórios ou caixas d´água:
controle objetiva a eliminação de alcancem o interior das instalações. manter fechados.
roedores em criações animais,
residências, estabelecimentos ou b. Portas e janelas: mantê-las g. Medidas de limpeza e de
área geográfica. À somatória destas fechadas no período noturno saneamento:
medidas denomina-se Manejo e, quando necessário, instalar
Integrado de Roedores. placas ou chapas metálicas de g1. Resíduos de alimento: remover
ferro galvanizado de 0,6-0,7 mm sistematicamente.
Ñ Medidas preventivas de espessura. Entre a porta e o
piso não deve haver espaço que g2.Lixo da granja: acondicionar
Depois de um adequado permita a entrada de roedores. em vasilhames adequados para
diagnóstico de situação, instituir cada caso e sempre providos de
medidas corretivas que, geralmente, c. Dutos de ventilação ou tampa, preferencialmente, com
são aquelas voltadas às instalações abertura permanentes: devem pedal. Destinar lixo para aterro
e ao ambiente com o objetivo de ser protegidos com grades de ferro sanitário ou para compostagem
impedir a entrada de roedores na resistente à roedura. (mais recomendado). É preferível
granja e nas instalações. Entre elas a construção de lixeiras de
citem-se: d. Pilares, tubulações, cabos, alvenaria, vedando o acesso dos
encanamentos aparentes, roedores.
Medidas preventivas para
impedir acesso de roedores na
Figura 1 - Modalidades de defensas e forma de colocação
granja

a. Córregos ao redor da granja:


canalizar córregos a céu aberto,
pois dificulta sobremaneira
instalação de ratazanas em suas
margens. Procurar apoio do
Serviço público local.

b. Cercas da granja: construir


para impedir entrada de

jul/ago 2008 | ano 8 porkworld 45 45


| SÉRIE ESPECIAL |

g3. Lixo ao redor da granja: considerando o tamanho e força Obs.: O odor humano na ratoeira não
recolher e destinar física. espanta os ratos como se pensava.
adequadamente.
2. Colocar, inicialmente, a ratoeira, Vantagens das ratoeiras:
g4. Entulhos: remover entulhos, ou gaiola com isca, desarmada
restos de material de ou aberta, para que os roedores 1. Dispensam o uso de qualquer
construção e qualquer material neófobos se habituem ao objeto raticida.
indevidamente acumulado que estranho. Esta estratégia pode
possam estar servir de abrigo demandar alguns dias (2-3 dias). 2. P ermitem que o usuário observe
aos roedores. Quando for armada, serão maiores visualmente seu sucesso.
as chances de sucesso.
Ñ Medidas de controle 3. Elimina o problema de ratos
ou de combate 3. A
 localização da ratoeira varia mortos em lugares inacessíveis ou
segundo a espécie de roedor que escondidos, evitando maus odores.
Uma vez os roedores presentes se deseja combater. Assim, para
em uma granja, além das medidas eliminar ratos pretos, colocar as Obs.: O camundongo é a espécie
preventiva preconizadas, há que se ratoeiras nas partes altas e, em mais curiosa e, portanto, é a
destruí-los. Os meios de controle caso de ratazanas e camundongo, presa mais fácil das ratoeiras. Já a
são o mecânico, biológico e colocar no nível do solo ou pico. ratazana e o rato preto são muito
químico. desconfiados e o uso de ratoeira
4. Escolher iscas bastante atrativas e deve ser premeditado.
Controle mecânico testadas previamente quando da
colocação de ratoeiras desarmadas. • Captura com pasta adesiva
• Armadilha Consiste na instalação de
Foi o primeiro recurso preconizado 5. Diminuir as fontes de alimentos bandejas providas de cola especial
pelo homem e é também que não sejam as iscas das para capturar roedores. Não é
denominado ratoeira quebra-costa. ratoeiras. recomendada a sua utilização
Seguiram-se outras como as do em áreas que existam pequenos
tipo alçapão, guilhotina, gaiolas etc. 6. Colocar, preferencialmente, junto animais ou crianças. Está em desuso
porém, menos eficazes. às paredes, atrás de objetos e por recomendação da sociedade
cantos escuros, onde fazem trilhas. protetora dos animais, que
Indicação: naqueles locais quando reclamam dos animais serem levados
não é recomendado o uso de iscas 7. Colocar uma grande quantidade à morte por exaustão. Caso venha
raticidas em decorrência de riscos de de ratoeiras para aumentar a ser utilizada, a localização obedece
intoxicação humana ou de animais, possibilidade de captura e diminuir os critérios das ratoeiras e outras
em locais com poucos roedores o tempo de reconhecimento pelos armadilhas.
e em ambientes pequenos, como roedores.
depósitos e almoxarifados. • Aparelho de ultra-som
8. Prender bem a isca no gatilho, pois Abandonado, pois apenas afugenta
Requisito: a utilização de eles são hábeis na apreensão dos os roedores, que procuram outros
armadilhas requer habilidade, alimentos, roubando a isca. locais onde se proliferam.Além
dedicação e artifícios por parte disso, a freqüência de som pode
do homem por exigir algumas 9. Camuflar a ratoeira após certo tornar-me inaudível nos ninhos,
estratégias para que apresente período de uso porque eles podem como atrás de móveis e objetos.
efeito continuado como: associar o objeto com o perigo e
evitar contato, principalmente por • Barreira elétrica
1. Selecionar o tipo e tamanho da parte dos roedores que escaparam São cercas eletrificadas destinadas
armadilha segundo a espécie de uma vez. a eletrocutar roedores que tentam
roedor que se pretende eliminar, entrar em instalações específicas

46 porkworld 45 jul/ago 2008 | ano 8


| SÉRIE ESPECIAL |

como depósito de rações. Apresenta para roedores, homem e animais e ilegalmente comercializados,
limitações em razão do custo domésticos e seu uso inadequado como o 1080 (Monofluoracetato
elevado, de acidentes e problemas ou inadvertido pode conduzir a de sódio) e o arsênico, que são
relacionados à manutenção. sérias intoxicações, principalmente extremamente tóxicos e não
entre crianças e animais de dispõe de antídotos.
Controle biológico estimação.
d. Classificação dos rodenticidas
O conceito de utilização de b. Advertência: antes de selecionar, ou raticidas:
predadores naturais é razoavelmente conhecer detalhadamente o grupo
antigo e muitos consideram que ao qual pertence, mecanismo d1. Raticidas de ação aguda (estão
seja uma opção ecologicamente de ação, modo de aplicação, proibidos no Brasil): surgiram
correta porque possibilita o equilíbrio os antídotos eventualmente ao longo da incessante luta do
biológico, é menos dispendioso, existentes, o grau toxicológico homem para o controle dos
seguro e eficiente. Em se tratando e as medidas de precaução. roedores e, entre eles, temos Sila
de roedores cuja população cresce São informações que devem vermelha, Estricnina, Arsênico,
continuamente, é de supor que o estar disponíveis no rótulo. Antú, Castrix, 1080, 1081, Sulfato
número de predadores teria que Recomenda-se utilizar rodenticidas de Tálio, Norbomida, Piriminil-
ser relativamente elevado, podendo sob orientação de um Médico uréia e Fosfeto de zinco. Foram
conduzir a transtornos. Gatos e cães Veterinário. usados em todo o mundo e
são popularmente considerados por muito tempo. Atualmente
inimigos dos roedores, mas é uma c. Legislação: todos os raticidas estão proibidos embora,
falácia, pois, freqüentemente, são devem estar registrados na ocasionalmente, sejam detectados
observados em convívio intimo, DISAD – Divisão de Saneantes casos de uso indevido, acidental
partilhando alimentos. É preciso que Domissanitários, da Secretaria ou criminoso. Provocam a morte
se ressalte que gatos são hospedeiros Nacional de Vigilância Sanitária/ do roedor logo após a sua
definitivos do Toxoplasma gondii, ANVISA, do Ministério da Saúde. ingestão e o tempo pode variar de
zoonose de relevância em nosso Todo raticida somente pode ser alguns segundos a algumas horas.
meio e em roedores. Este protozoário produzido, comercializado e/ou Algumas características destes
pode persistir por várias gerações utilizado em território brasileiro se antigos e ultrapassados
por transmissão transplacentária. devidamente registrado e liberado rodenticidas são:
Gatos, ao ingerirem roedores vivos por este órgão. Ainda é
ou mortos, podem se infectar e possível adquirir raticidas
eliminar oocistos do parasito que, clandestinamente
por sua vez, infectaria suínos. A fabricados
suinocultura tecnificada foi uma das
grandes responsáveis pela redução
da toxoplasmose humana adquirida
através carne suína.

Controle químico

a. Conceito: consiste
em se utilizar drogas
especialmente
desenvolvidas e
preparadas para
provocar a morte do roedor
e são denominadas raticidas ou
rodenticidas. Todas são tóxicas

jul/ago 2008 | ano 8 porkworld 45 47


| SÉRIE ESPECIAL |

Estricnina e Arsênico: são insípido, incolor, inodoro e, progressivamente até o 4º dia.


alcalóides de sabor amargo embora eficaz no combate a Excepcionalmente, os resultados
e eram freqüentemente roedores, apresentava também são obtidos mais tarde.
rejeitados pelo roedor e também elevado risco para o manipulador.
responsável por graves acidentes Também já foi usado e banido. Vantagens: estão no mercado
com morte de outros animais. desde 1948 e apresentam
Ainda hoje são produzidos Piriminil-uréia: conhecido como uma série de vantagens
raticidas com este princípio ativo, Vacor, foi lançado no Brasil e comparativamente a outros,
de forma clandestina, e que rapidamente retirado por motivo o que os torna recomendáveis
de acidentes em humanos, para uso rotineiro. Algumas das
embora tivesse se revelado seguro vantagens são:
“A isca deve estar bem em cães, gatos e outros animais
domésticos. a. Os roedores “não associam”
presa no gatilho porque a morte na ninhada com a
os ratos são hábeis d2. Raticidas de ação crônica
Assim denominados por
ingestão da isca e, assim, são
totalmente eliminados.
na apreensão dos causarem a morte do roedor
depois de alguns dias da ingestão. b. Não desperta “medo pelas
alimentos e conseguem São todos anticoagulantes iscas”.
roubar a isca.” e provocam a morte por
hemorragia de órgãos interna c. A dose letal é muito baixa e
(mesentério, intestinos e pulmões) somente é eficaz se ingerida por
facilmente são reconhecidos, pois e eventualmente externa. vários dias. Por exemplo, a dose
sua apresentação geralmente é Atualmente, cerca de 90% do letal da warfarina é igual a 0,
na forma liquida, a qual não é controle de roedores no mundo 005%.
permitida para nenhum raticida utilizam raticidas anticoagulantes
legal produzido e comercializado. por serem seguros e dispor de d. São pouco tóxicos
antídoto (Vitamina K confiável na para animais domésticos,
1080 (Monofluoracetato de reversão do quadro). principalmente nas
sódio): sua livre produção e concentrações comercialmente
comercialização foram permitidas Grupos de rodenticidas apresentadas.
até 1979, e entre 1979 e 1982 anticoagulantes: os derivados
liberado apenas para utilização da cumarina (chamados de e. Acidentes por ingestão
em campanhas de saúde cumarínicos ou warfarínicos) e podem ser controlados pela
pública. A partir desta data, os derivados da indadiona. Os administração de vitamina K.
foi definitivamente banido em warfarínicos são os utilizados no
razão de sua periculosidade Brasil e estão subdivididos em Falhas observadas no
(líquido insípido e inodoro e sem dois grupos, segundo a forma de combate aos roedores:
antídoto para neutralizá-lo). Era utilização: dose múltipla e dose linhagens de roedores resistentes
o mais agudo e eficaz raticida, única. ao princípio ativo podem surgir
mas eram freqüentes acidentes quando do uso indiscriminado
fatais, inclusive em humanos, ou d3. Raticidas de ação crônicas e e carência de controle/inspeção
quando carreado pelas chuvas ou dose múltipla como:
descartado imprudentemente, Princípio: devem ser ingeridos
contaminando mananciais de por 2 a 5 dias consecutivos por a. Não observação de efeito
água. apresentarem efeito acumulativo. mesmo diante de iscas que
Então surgem os sinais do são consumidas: ocorre
Sulfato de Tálio: era envenenamento, por volta frequentemente da falta de
apresentado na forma de pasta, do 2º dia, que se acentuam manutenção e renovação

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das iscas; quantidade de iscas Se esses fatores forem corrigidos a 12 dias da ingestão. É preciso
insuficiente proporcionalmente ao e a isca não retornar è eficácia considerar que muitos roedores
tamanho da população de ratos; esperada, solicitar apoio técnico podem não ter ingerido a isca
reposição de iscas a intervalos do Serviço de Vigilância local ou e torna-se necessária uma nova
superiores a 2 dias; distribuição de uma empresa especializada e iscagem após 8 dias da primeira.
sem critério das iscas, permitindo idônea no mercado.
que apenas uma parte da colônia Vantagem: dispensa renovação
tenha acesso à elas; invasão de Rodenticidas de dose múltipla de iscas comparativamente ao de
ratos moradores das adjacências. são também denominadas de dose múltipla.
1ª geração:
b. Não ocorre consumo de Desvantagens: tempo mais
iscas: isca comercial de baixa a. Hidroxicumarina: warfarim, prolongado para que a morte
qualidade; outras fontes de cumacloro, cumatretalil e ocorra e o principio ativo é mais
alimentos no local; localização cumafuril (fumarina). tóxico que os de dose múltipla,
das iscas inadequadas para a b. Indandioses: Piral (pindona), não sendo indicado para
espécie; sabor ou odor alterado difacinoca e clorofacinona. utilização em larga escala.
decorrente de contaminação da
isca por outros produtos; sabor d4. Raticidas de ação crônica e de Rodenticidas de dose única
inadequado de princípio ativo de dose única são também denominadas de
baixa qualidade; apresentação 2ª geração são:
imprópria para iscas raticidas, Princípio: manifesta efeito letal
por exemplo, como sob forma de após a ingestão de apenas uma a. Difenacoun (anticoagulante de
farelados. dose e é observado depois de 8 transição).
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b. Bromadiolone. ISCA podem alterar o rodenticida,


c. Bromadifacoum. reduzindo sua eficácia e provocando
d. Flocoumafen. Finalidade: atrair o roedor e, desperdício. Obedecer às instruções
e. Difelialine. portanto, deve ser suficientemente contidas no rótulo da embalagem.
palatável para induzi-lo a ingerir
Ñ Toxicidade para mesmo diante de outros alimentos Ingredientes adicionais: alguns
roedores disponíveis no ambiente. Esta é objetivam acentuar a atração pelas
uma característica fundamental, iscas como o açúcar (cerca de
Medida pela DL50 (dose mínima letal que confere importância à isca para 5%), óleos vegetais ou minerais (3
capaz de matar 50% dos animais alcançar a eficácia do raticida. a 8%), porém os resultados são
testados) encontra-se resumida na discutíveis. Outros ingredientes são
tabela 1: Cuidado: utilizar formulações que adicionados para tentar prolongar
contenham produtos exóticos nas o tempo de conservação das iscas,
iscas para torná-los mais palatáveis como inseticidas, fungicidas e
Tabela 1 - Rodenticidas segundo o pode não contribuir para o sucesso antioxidantes, mas podem piorar os
princípio ativo e DL50 para ratazanas dos raticidas. resultados. Eméticos (provocadores
DL50 oral para de vômito) têm sido estudados para
Princípio Ativo
ratazanas Granulometria: roedores não aumentar a segurança em casos de
CUMACLORO 187 mg/kg aceitam bem alimentos farelados acidentes com crianças e animais
CUMAFENO
186 mg/kg ou sob forma de pós. Pellet é uma domésticos.
(warfarina)
solução interessante e deverá
CLOROFACINONA 20 mg/kg
apresentar tamanho ideal para cada Teor de proteína: pode ter
CUMATETRELIL 16,5 mg/kg
DEFENACOUM 1,8 mg/kg espécie de roedor a ser combatido. importância na qualidade das iscas,
BROMADIOLONE 1,125 mg/kg pois os roedores preferem alimentos
BRODIFACOUM 0,26 mg/kg Coloração: não interfere na com concentração acima de 5% de
aceitação da isca, favorecendo proteína. Lembrar que níveis altos
apenas a apresentação e auxiliando em proteínas favorecem a oxidação
Ñ Apresentações na localização e controle destas e ransificação e essas iscas são
(formulações) iscas. rejeitadas pelos roedores.

As indústrias produtoras de Embalagem: deve ser de material


rodenticidas utilizam um mesmo apropriado e impermeável para não
princípio ativo para a preparação adulterar o odor e sabor. Existem
de iscas em várias formas de embalagens de diferentes
apresentação, baseados no tamanhos logo, é bom
conhecimento da apurada percepção evitar adquirir grandes
dos roedores. A utilização de um porções, pois
tipo, ou a combinação de vários, embalagens
pode auxiliar na solução do problema abertas
de aceitação de raticidas até então
em desuso, e de boa margem de
segurança. O local de colocação do
raticida orienta também na escolha
do tipo de apresentação (interior de
instalações ou a céu aberto).

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BLOCO SÓLIDO em água, podendo ser usado a céu Ñ Métodos de aplicação


aberto e com maior aderência ao de raticidas
Recomendação: para locais pelo.
contaminados, alta umidade Juntamente com a evolução dos
e dispersão diante de outros Precaução: os roedores podem raticidas, as técnicas de utilização
ingredientes naturais. São menos carrear o pó raticida aos locais também foram sendo aprimoradas e
atrativas, pois sua composição com de armazenagem de alimentos, são relatados alguns procedimentos:
parafina ou resina exala menos odor, provocando sua contaminação. São
sendo menos aceitas. reservados para uso profissional. Pré-iscagem: consiste em se colocar
o ingrediente atrativo, sem o princípio
Formato: a forma cubóide, PREMIX (CONCENTRADOS) ativo, com o objetivo de contornar
com orifício para amarração, e o medo e alimentar-se dela.
sua composição com materiais Princípio: consiste em adicionar Particularmente indicado para raticida
impermeáveis oferecem condições raticida ao alimento que o roedor está de dose única. A isca em ratoeiras
para o uso em locais de condições habituado a ingerir, principalmente desarmadas também é exemplo de
adversas, como a céu aberto, em pré-iscagem.
tubulações ou submerso em esgotos.
Possui consistência que permite
ao rato roer. Não desmancha,
“Raticidas de Iscagem: consiste na colocação das
iscas em locais próximos às tocas
favorecendo o uso em locais de
difícil acesso para monitoramento e
ação crônica e onde os roedores sentem maior
segurança e evitam se afastar do seu
reposição. de dose única território. Distribuir a isca em vários
locais aumenta a oportunidade do
PÓ DE CONTATO manifestam contato e conseqüente ingestão.
O monitoramento do consumo e a
Recomendação: para aquelas efeito letal após reposição da isca são fundamentais
condições em que o uso de raticidas para aquelas de efeito acumulativo.
de ingestão através de iscas não é até 12 dias de Toda isca deve ser encontrada antes
efetivo como os locais onde a oferta
de alimento é abundante e sua
ingestão.” do alimento natural no ambiente.

diversidade é grande. Neste caso, Cocho protetor: caixa apropriada


estes roedores jamais seriam atraídos que protege as iscas das intempéries
por uma isca. quando os roedores que se deseja e as pessoas (especialmente crianças)
combater revelam preferências de acidentes, além de oferecerem
Formulação: pó finíssimo para ser que dificilmente mudam. Ocorre, melhor condição de vigilância por ser
polvilhado na soleira das tocas, ao freqüentemente, em galpões de Posto Permanente de Envenenamento
longo das trilhas, nas passagens e estocagem de rações, em granjas (PPE). Construído com materiais
nos pontos mais freqüentados pelos e confinamentos de animais. resistentes ao tempo e, muitas
roedores. Carreiam aderidos ao pêlo vezes, lacrados para evitar acesso
e a ação ocorre dentro das tocas Aplicação: raticidas sob forma de outros animais, deixando apenas
e ninhos, durante as práticas de de pó fino (sem cheiro e sem pequenas aberturas que permitam
higiene corporal pela lambedura(e gosto) é misturado a uma porção os ratos atravessarem. Colocar
conseqüente ingestão do raticida). do alimento habitual e distribuído estrategicamente vários cochos ao
Portanto, não é objetivo atrair ou de maneira estratégica, como longo de trilhas, próximos de tocas
que seja ingerido com os alimentos. nas trilhas e proximidades das e locais suspeitos. Pode-se empregar
Uma formulação moderna do pó de tocas. Recomendável que tenham raticidas do tipo pó de contato ou
contato conferiu característica pouco orientação profissional para sua outros e requer monitoramento
higroscópica, tornando-o não solúvel aplicação. periódico. Indicado para manter

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vigilância em áreas erradicadas de os alimentos e dificultando o seu A dinâmica da população dos


roedores e que se deseja evitar a reconhecimento (fragmentada e até roedores é estabelecida na
reinvasão. descaracterizada). proporção direta de disponibilidade
de alimentos, abrigo e água no
Emprego de blocos Estocagem: em local especialmente ambiente específico. Quando o
impermeáveis: sua consistência destinado a esta finalidade, pois homem interfere nesta população de
rígida facilita a colocação em alguns deles apresentam aspecto de maneira errônea afeta o equilíbrio,
locais estratégicos visto que os alimentos destinados aos animais favorecendo, na maioria das
roedores têm seu raio de ação domésticos, e até mesmo humano, vezes, o aumento da população.
e comportamento definidos. e pessoas distraídas ou com Intervenção errada no ambiente
Se pendurados às estruturas de dificuldade visual poderão causar significa eliminação parcial de
sustentação, atraem ratos de telhado; acidentes. roedores, que são via de regra, os
pendurados nos poços de visitação dominados. Assim, os dominadores
ou inspeção, favorecem o combate Cuidados durante manuseio: voltam a proliferar pelo retorno do
das ratazanas de esgoto e assim por requer uso de luvas, máscaras anti- cio das fêmeas, com conseqüente
diante. Descobrir a via de acesso pó e cuidado para que o ambiente aumento da natalidade e explosão
do roedor ao ponto de invasão é não seja contaminado. da população. Este fenômeno é
fundamental para o sucesso do denominado “Efeito Bumerangue”.
controle. Recolhimento de sobras: de iscas
íntegras ou danificadas ao final do Ñ Acidentes (tratamento
Gaseisificação: apresenta tratamento é muito importante para médico)
praticamente valor histórico, proporcionar maior confiança ao
pois sempre há o risco de escape ambiente e controle da ação prática. Todos os raticidas são tóxicos em
acidental e requer muita experiência Recolher com auxílio de pinças, luvas maior ou menor grau. Aqueles
e conhecimento técnico. Os gases ou sacos plásticos vestidos na mão. registrados no órgão oficial
que foram utilizados são o brometo competente são os anticoagulantes
de metila, cianogás/gás cianídrico e Destino das iscas recolhidas e, em caso de acidentes, o antídoto
a fosfina. O. Foi utilizado em tocas e e dos cadáveres de roedores: é a vitamina K. Intoxicações
ninhos com uma abertura apenas. recomendado o enterramento ou acidentais deverão ser encaminhadas
a incineração. Monitorar todos os ao profissional da área de saúde
Ñ Medidas de precaução pontos onde iscas foram colocadas (Médico. Ou Médico Veterinário, em
e segurança e, se possível, com identificação caso de animais) imediatamente.
dos Pontos Permanentes de E de preferência acompanhado da
Medidas gerais: quando as Envenenamento com etiquetas embalagem para que providências
instruções do fabricante indicam que informando que contém veneno. corretas sejam tomadas.
o produto é seguro, está implícito que
o usuário do produto irá obedecer Ñ Antiratização
as recomendações da bula como
também se pressupõe conhecimento Objetivo: procedimento que objetiva
de algumas informações de domínio a manutenção da área em que foram Você pode ler o
público. Jamais desconsiderar a eliminados os roedores. As medidas artigo especial sobre
informação de que todo raticida é são idênticas às mesmas acima
tóxico para todos os animais e para o mencionadas como preventivas.
roedores na íntegra,
homem. Todo local sob tratamento entrando no site de
deve apresentar placas informativas Ñ Inversão de efeito do sua revista Porkworld
ou os moradores e/ou visitantes rodenticida ou efeito www.porkworld.com.br
advertidos previamente de que os
roedores carreiam parte das iscas a
bumerangue
outras localidades, contaminando

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