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Francisco Múrias

A Revolução necessária

Vamos ter a coragem de apresentar ao país a revolução que o país espera e


precisa?

Antes do mais, antes de o fazermos (e se formos capazes de o fazer…) teremos que


reformular, de raiz, a maioria dos nossos conceitos de política estratificados no
Estado Providência desde há quase duzentos anos. Teremos que ser pluralistas não
apenas para a conquista do poder, mas também na sua usança. Aceitaremos que se
não há Estado sem política — há política sem Estado e que este, como fenómeno,
aparece na história do mundo há relativamente pouco tempo, é um estado, uma
situação, um momento de política e não (como se diz) um facto social inamovível
no tempo, única organização política da Nação, passível e viável. Havemos de ser
autenticamente revolucionários. Não recear a criação de estados dentro do Estado,
dos contrapoderes naturais e necessários à diminuição e delimitação do poder
central.

Há que arrostar, neste caso, com o imobilismo preguiçoso dos políticos que se
limitam a ter como teoria do Direito e do Estado, formas da sua organização e da
sua actuação; e não vão ao fundo do problema, à contestação do próprio Estado
como único poder, como único dispensador de todos os bens morais e materiais,
como única fonte do direito e de legitimidade, como único representante de
soberania. Uma teoria pluralista — dizia um dos maiores pensadores políticos do
nosso tempo — ou é a teoria de um Estado a realizar a sua unidade pela federação
dos grupos sociais ou não é senão uma teoria da desintegração ou da refutação do
Estado. Limitada à simples liberdade pluralista de expressão é uma contradição em
termos, um não ser em si, uma praxe semeada de contradições, a ruína a curto
prazo, o golpe de estado previsível — a ineficiência do dogmatismo tenente do
poder.

Não é isso evidentemente, o que pretende o país — nem o que desejam os povos. O
que, a partir de 1820, liquidou os vários regimes democráticos nossos senhores, foi
a própria ambiguidade. Mais ou menos todos, todos partindo do revolucionarismo
abstracto de Mouzinho da Silveira, se têm limitado a agir dentro do Estado, dum
único tipo de poder. Precisamos de ir mais além, ultrapassando as formas
ideológicas de organização e actuação do Estado, que são só formas — para
atacarmos a própria substância da crise que limita e intranquiliza toda a
contemporaneidade política. Em termos rigorosos e concretos: precisamos de ser
revolucionários, recusando toda a praxe que, conservadoramente, queira apenas
conservar o Estado — Estado comunista, ou social-democrata, ou fascista, ou
corporativo, ou plutocrático, de intervenção no que é privado, e familístico, e
personalista e pela própria natureza pluralista.

Porque não foram capazes de transcender o Estado, os primeiros teorizadores do


pluralismo, Harold Laski e G. D. H. Cole, acabaram revirados para o marxismo.
Sentiram, em substância, que o Estado, fascista, social-democrático ou corporativo
não se alterava na essência por ter este ou aquele qualificativo formal; e que, não
se alterando seria levado até às suas últimas consequências lógicas no absurdo
comunista. O mesmo se irá passar com os que não estiveram aptos a ultrapassar a
dicotomia esquerda-direita, comunismo-capitalismo, meros invólucros de um estado
que é sempre o mesmo.
Destruído o Portugal antigo, tábua rasa de tudo o que nos sustentou durante mais
de quinhentos anos — vamos recomeçar de novo as formas sediças que vimos a
usar desde há muito mais de três séculos. Não seremos capazes, por uma vez, de
fazer uma revolução portuguesa, analisando a nossa especificidade e encontrando
nela os fundamentos da nossa vida?

Este é o desafio supremo que a tragédia nacional nos lança. Seremos homens para
pegar na luva? Se não formos — pereceremos.

Manuel Maria Múrias

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