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PORTUGAL

NOTÍCIAS
04 Abril/Maio/Junho 2009
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER
O Mundo dos Migrantes
Não coloque os refugiados, os imigrantes, os requerentes de asilo, os
deslocados internos, os apátridas e os retornados todos no mesmo
barco. Saiba distingui-los!
© Fotografia de A. Rodríguez, do ACNUR

POLUIÇÃO NA NIGÉRIA ANTÓNIO GUTERRES


Os impactos da exploração petrolífera nos Entrevista com o Alto Comissário das Nações
direitos humanos das populações Unidas para os Refugiados
ÍNDICE
03. 19. 29.
EDITORIAL EM ACÇÃO APELOS MUNDIAIS
INTERNACIONAL Escreva em nome da etíope
Birtukan Mideksa, do iraniano
04. O Delta do Níger, no sul da Nigéria, é
Mansour Ossanlu, do mexicano Raúl
palco de uma das maiores tragédias
ENTREVISTA de direitos humanos provocadas pelo Hernández e do paquistanês Atiq-ur
impacto da exploração petrolífera no Rehman
António Guterres, Alto Comissário das
Nações Unidas para os Refugiados, ambiente
fala sobre a protecção internacional
a estas populações e as tendências
32.
xenófobas actuais 21. AGENDA
EM ACÇÃO NACIONAL
07. O Núcleo de Leiria da Amnistia
Internacional Portugal, a Assembleia
33.
RETRATO Geral anual e os vencedores do Prémio CARTOON
Kate Gilmore, Secretária-Geral da AI no festival de cinema IndieLisboa O Dia Mundial do Refugiado, por
Adjunta da Amnistia Internacional, 2009 Álvaro (FecoPortugal)
antecipa o que estará em cima da
mesa na reunião internacional bienal
do movimento 25. 34.
EM ACÇÃO JOVEM CRÓNICA
David Justino, Professor da
09. Universidade Nova de Lisboa, escreve
EM FOCO 27. sobre a Dignidade e a Ética Global
PRESTAÇÃO DE CONTAS no âmbito da campanha da AI “Exija
Dignidade”
11.
DOSSIER 28.
O Mundo dos Migrantes e as BOAS NOTÍCIAS
diferenças e semelhanças entre
Novidades sobre o caso da russa Anna
os Refugiados, os Imigrantes, os
Politkovskaya e do moçambicano
Requerentes de Asilo, os Deslocados
Abranches Penicelo
Internos, os Apátridas e os
Retornados

FICHA TÉCNICA Amnistia Internacional Portugal, David


Justino, Departamento de Angariação de
• Propriedade: Amnistia Internacional Fundos e Financeiro, Lucília José Justino,
Portugal ReAJ, Sara Coutinho
• Director: Presidente da Direcção, • Revisão: Cátia Silva, Irene Rodrigues, Avenida Infante Santo, 42 – 2.º
Lucília José Justino 1350-179 Lisboa
Luísa Marques, Pedro Krupenski Tel.: 213 861 652
• Equipa Editorial: Cátia Silva, Irene • Concepção Gráfica e Paginação: Maria Fax: 213 861 782
Rodrigues, Pedro Krupenski João Arnaud, com o apoio de Marta Gon- Email: boletim@amnistia-internacional.pt
• Colaboram neste número: Álvaro José çalves Os artigos assinados são da exclusiva respon-
Teixeira Santos, Co-Grupo da China da • Impressão: Relgráfica Artes Gráficas sabilidade dos seus signatários.
Notícias • Amnistia Internacional 03

EDITORIAL
Refugiados e Nós
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção

trangeiras, traficantes, bandidos, ou da desconfiança e discriminação em relação


seca, fome, ou outras catástrofes. Tecni- aos refugiados.
camente não são refugiados, mas quase
nada distingue as populações que vivem “Não há maior dor no
em campos miseráveis, estejam elas no
Darfur, ou no vizinho Chade. Em nome mundo que a perda
da “soberania”, as próprias agências da sua terra natal”
humanitárias são impedidas de assistir
Eurípedes, 431 AC
essas populações carentes, quando não
directamente visadas, como acontece na
Somália, ou no Paquistão. Veja-se a Itália de Berlusconi, em que o
© Privado Parlamento acaba de aprovar um “pacote
Apesar da concessão de asilo ser uma de segurança”, através do qual o Estado
Refugiado é, segundo as Nações Unidas, obrigação internacional dos Estados, a se exime às suas obrigações internacio-
uma pessoa que receando com razão ser maioria dos refugiados muito dificilmente nais, criminalizando a chamada imigra-
perseguida por motivos de raça, religião, consegue ter condições de aceder à Euro- ção ilegal a um nível tal que remonta a
nacionalidade, pertença a certo grupo pa e submeter o seu caso às autoridades. práticas do fascismo de Mussolini, in-
social ou expressão de opiniões políticas, Antes tem que escapar do controlo “por cluindo a intervenção de milícias civis
se encontre fora do seu país e a ele não procuração” das forças de segurança de contra os “indesejáveis”. Para além de
possa regressar sem arriscar a prisão outros países, como o Senegal ou a Líbia, multas (de cinco mil a dez mil euros), os
injusta, a tortura, ou a morte. Há mais que os tentam impedir de chegar a Es- indocumentados podem perder os seus
de 42 milhões de pessoas nesta situa- panha ou Itália – e os podem devolver direitos mais básicos, incluindo cuidados
ção, dos quais quase 15,2 milhões são aos seus algozes. Sujeitam-se a perder a sociais, de saúde ou educação – outras
refugiados. vida na travessia, em barcos sem segu- populações vulneráveis, como os ciganos,
rança, e muitos morrem. E podem passar também estão na mira da lei. Os médicos
As razões são múltiplas: guerras e con- ainda grandes tormentos: a exploração, a podem mesmo ser acusados de cumpli-
flitos, ditaduras cruéis, crises económi- discriminação, a ilegalidade, a prisão e a cidade se não denunciarem as situações
cas, tragédias naturais e ambientais. As expulsão, ou a oportunidade de percorrer de que tenham conhecimento no exercício
vítimas são, geralmente, as populações os imensos labirintos burocráticos mon- das suas funções.
mais pobres e, entre estas, as mulheres e tados para “nos proteger”.
crianças. Ao contrário do que se pensa, a A oposição denunciou, a Igreja Católica
maioria não vai para a Europa, mas foge Evidentemente, os Estados têm o direito condenou, a Comissão Europeia consi-
para os países mais próximos, normal- de controlar a imigração ilegal, de preve- dera que essa Lei contraria as normas
mente, países pobres - mais de 3 milhões nir a segurança interna e reprimir o crime da União. Avizinham-se novas campa-
de afegãos vivem no Paquistão e no Irão, internacional, ou o tráfico de seres huma- nhas contra a discriminação. Em Portu-
mais de 1 milhão na Síria ou na Jordânia, nos e nem sempre há condições de serem gal, o número de requerentes de asilo é
mais de um milhão de zimbabueanos na recebidos todos. Mas os direitos humanos reduzido. Mas a recepção de meia dúzia
África do Sul. não podem ser violados em nome da xeno- de detidos de Guantánamo constitui, apa-
fobia, da ignorância ou do medo. rentemente, um assunto politicamente
Muitos, que não conseguiram atraves-
A Europa tem que ultrapassar o actual tão delicado que os seus advogados nem
sar fronteiras, pelo menos 26 milhões de
estado de esquizofrenia em que se toma conseguiram uma audiência com as nos-
pessoas, são os chamados deslocados in-
como modelo de direitos humanos e al- sas autoridades. Desse e doutros assun-
ternos, fugindo da violência de exércitos,
tos valores, mas cuja prática constitui tos trata esta revista. Boa leitura. Muitas
milícias étnicas, mercenários, grupos
um péssimo exemplo de duplicidade, acções, pelos direitos humanos!
de oposição, forças de intervenção es-
04 Notícias • Amnistia Internacional

ENTREVISTA
António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados
Em Junho de 2005 António Guterres foi nomeado 10º Alto Comissário das Nações Unidas para os
Refugiados. Esteve à frente do governo português entre 1995 e 2002, mas antes ainda, em 1991, ajudou
a fundar o Conselho Português para os Refugiados. Quatro anos passados desde que lidera uma das
maiores organizações intergovernamentais do mundo, António Guterres falou com o “Notícias da Amnistia
Internacional Portugal”
Por Cátia Silva

çando uma realidade em que as pessoas


não têm outra alternativa senão fugir.
AI: Talvez assim se explique que no
UNHCR Statistical Yearbook de 2007
se falasse de 31 milhões de pessoas
sob a alçada do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR). É toda essa diversidade de
realidades que apontou?
AG: No trabalho do ACNUR temos aqueles
que protegemos e apoiamos de acordo
com o nosso mandato. Esses são os
“O factor mais preocupante refugiados e os apátridas. E mais re-
é o desenvolvimento de centemente temos vindo a assumir res-
tendências xenófobas em ponsabilidades crescentes para com
várias partes do mundo” os internamente deslocados. As novas
© ACNUR / B. Bannon tendências do deslocamento forçado de
António Guterres fala com uma família de refugiados no campo de Dadaab, no Quénia, em Junho de 2008. que falei vão para além disso, nomeada-
mente em relação às alterações climáti-
Amnistia Internacional (AI): Começando diversas razões, são obrigados a deixar cas e às pessoas obrigadas a desloca-
por esclarecer conceitos, é importante as suas casas, as suas comunidades, as rem-se por causa delas. Não há neste
que as pessoas percebam o que é ser suas famílias, quer se desloquem no in- momento nenhum quadro institucional
refugiado... terior do seu país – e aí o nome técnico é definido para os apoiar e não há nenhum
internamente deslocado –, quer cruzem conjunto de mecanismos jurídicos para
António Guterres (AG): Posso dar em
fronteiras. além das normas gerais dos direitos do
primeiro lugar uma definição legal de
refugiado, de acordo com a Convenção AI: No fundo, os refugiados e os deslo- Homem.
de 1951 [relativa ao Estatuto dos Refu- cados são pessoas perseguidas. Mas AI: Todas estas situações, porém, são
giados], que é alguém que com um con- há mais razões para fugir? bem diferentes da imigração, apesar
solidado receio de perseguição, quer por de muitos confundirem este conceito
AG: Aquilo a que temos assistido re-
parte de um Estado, quer por agentes com o de refugiados?
centemente é a uma tendência para um
não estatais, se vê obrigado a deixar o
conjunto de factores se interligarem, AG: São dois conceitos diferentes, em-
seu país e a pedir asilo num outro. Estas
aumentando cada vez mais o número de bora verifiquemos que, em certas situa-
situações estão ligadas a conflitos ou a
pessoas obrigadas a moverem-se. Não ções, nem sempre é fácil distinguir. O
perseguições de que as pessoas são víti-
apenas por conflitos e perseguições, mas que assistimos em todo o mundo hoje é
mas directamente. Mas na linguagem
também devido a alterações climáticas à presença de fluxos mistos de migração.
comum, o conceito de refugiado tem-se
ou à extrema pobreza. E cada vez mais Isto é, quando um barco tenta desem-
generalizado a todos aqueles que, por
estas situações se associam entre si tra- barcar no Iémen, ou nas Ilhas Canárias,
Notícias • Amnistia Internacional 05

ou noutro local, porventura a bordo estão que têm tido uma enorme generosidade, imediato à hospitalidade, até porque
várias pessoas cuja solicitação essen- recebendo centenas de milhar (quando não são dos mais desenvolvidos...
cial é económica, procurando uma vida não milhões) de refugiados em circuns-
AG: Estes são precisamente os países
melhor num país mais desenvolvido [ou tâncias particularmente difíceis e que
que receberam enormes fluxos de refu-
seja, imigrantes], mas estão também dão o seu melhor para garantir a sua
giados vindos dos Estados vizinhos. O
refugiados ou requerentes de asilo, ou segurança.
Paquistão ainda hoje tem 1,2 milhões
podem estar mulheres ou crianças víti-
AI: Mas essa generosidade não di- de refugiados afegãos e mesmo assim
mas de tráfico. Portanto, torna-se indis-
minuiu com a guerra ao terrorismo que tem mantido a disponibilidade para con-
pensável criar mecanismos de acesso
começou depois do ataque às Torres tinuar a acolher um elevado número de
aos territórios e garantir que aqueles que
Gémeas de Nova Iorque, em 2001? pessoas. Este tipo de generosidade dos
têm efectiva necessidade de protecção a
países em desenvolvimento deveria ser
encontram. AG: As regras não são as mesmas em
meditado por aqueles que ficam muito
toda à parte. É verdade que os mecanis-
AI: Isso porque os refugiados acabam preocupados quando algumas centenas
mos de segurança, em certas situações,
por chegar aos territórios onde vão de refugiados se dirigem a um país mais
dificultaram o acesso [dos refugiados a
pedir asilo da mesma forma que os imi- desenvolvido.
alguns territórios], mas eu diria que o
grantes, quando as condições deveriam
factor mais preocupante não é esse, mas AI: Mas estará esta generosidade ape-
provavelmente ser outras?
é o desenvolvimento de certas tendências nas ligada à necessidade, ao facto de
AG: Temos verificado crescentes difi- xenófobas em várias partes do mundo, estarem junto a Estados em conflito?
culdades de acesso aos territórios para usando uma atitude muito negativa em
AG: Eles podiam fazer deportações
aqueles que procuram livremente pro- relação à imigração e baralhando muitas
maciças e não o fazem. Isto revela que
tecção e essa é uma das dificuldades vezes a imigração com o asilo, metendo
existe um compromisso com a solidarie-
que mais nos preocupa. Infelizmente, em todos os estrangeiros no mesmo saco e
dade em países, como o Paquistão e a
muitas circunstâncias os refugiados são criando um clima desfavorável à con-
Síria, que nem sequer são signatários da
obrigados a utilizar os mesmos mecanis- cessão de asilo a quem dele necessita.
Convenção de 1951.
mos que se têm vindo a generalizar para
a chamada imigração irregular, nomea- AI: Entre os signatários, e falando ago-
“O que assistimos em todo o ra de países desenvolvidos, foi interes-
damente ligado ao contrabando de seres
humanos. É por isso que é extremamente mundo hoje é à presença de sante ver no UNHCR Statistical Year-
preocupante a tendência para crimina- fluxos mistos de migração” book de 2007 que a Alemanha é dos
lizar a entrada irregular, que pode difi- Estados que mais acolhe refugiados.
cultar ainda mais o acesso de quem tem AI: Uma tendência que em Portugal se AG: A Alemanha recebeu um grande
necessidade de protecção a essa mesma fez sentir um pouco quando o Ministro número de refugiados aquando da crise
protecção. dos Negócios Estrangeiros se mostrou nos Balcãs e isso fez aumentar muito o
AI: E quem precisa de protecção tem disponível para acolher prisioneiros número de refugiados que procuraram
apenas o asilo como solução viável? de Guantánamo. Esclareça-se: estes asilo em território alemão, mas neste
presos enquadram-se no estatuto de momento o país que mais pedidos de
AG: Quando uma pessoa é vítima de refugiado? asilo recebe na Europa é a França. E
perseguição ou conflito deve ter direito a
AG: A situação é muito variável de caso depois há um conjunto de países que
ser reconhecida como refugiado, deve ter
para caso, na medida em que para se ser têm uma tradição de reinstalação, isto
acesso ao direito de asilo, ou, em certas
refugiado é preciso não cair na alçada é, de receber refugiados que vivem num
situações, pelo menos às formas subsi-
de nenhuma das chamadas “condições primeiro país de asilo, normalmente um
diárias de protecção.
de exclusão” e quando as pessoas par- país em desenvolvimento, e que procura-
AI: Mas o problema é que o asilo pode ticiparam em determinado tipo de actos, mos [no ACNUR] que sejam aceites em
ou não ser concedido pelos países, o ou quando tal se pode colocar, é preciso países mais desenvolvidos. Neste con-
que faz parecer que o Estado de aco- analisar. Haverá casos em que o direito texto há três países que têm uma enorme
lhimento é que decide... de asilo é relevante, haverá outros em tradição: os Estados Unidos da América,
que outras formas de protecção subsi- a Austrália e o Canadá. Mais recente-
AG: Não, não. O asilo é um direito das
diária são adequadas e haverá casos que mente, um grupo de países europeus
pessoas, consagrado na Convenção de
se podem justificar apenas por razões de veio a aderir também a Programas de
1951, que atribui responsabilidade aos
natureza humanitária. Reinstalação, incluindo Portugal, com
Estados.
uma pequena quota mas com um valor
AI: Mas então como há países que não AI: Voltando à generosidade de que fa- simbólico muito importante.
respeitam esse direito, não estão a lava, é interessante notar que, segundo
o UNHCR Statistical Yearbook de 2007, AI: Mas Portugal continua a ser o país
cumprir aquela que é uma obrigação
entre os países que mais têm conce- da Europa com menos pedidos de asi-
internacional?
dido asilo estão o Paquistão, a Síria e lo... Como é que isto se explica?
AG: A situação é muito diferente de zona
o Irão. Estados que não associamos de AG: É natural, por causa da localização
para zona, de país para país. Há países
06 Notícias • Amnistia Internacional

geográfica e também por causa do nível AI: Associamos muito os deslocados a aterrorizador e as situações concretas
de desenvolvimento. Na generalidade dos países africanos, mas a Ásia é o con- que encontramos, quer de vítimas de
casos, o asilo deve ser pedido no primeiro tinente que tem maior número destas violência por parte dos grupos armados,
país de entrada na União Europeia (UE) populações, não é assim? quer até muitas vezes jovens obrigadas à
e Portugal [pela sua posição geográfica] prostituição pelas próprias famílias (em
AG: Há um conjunto de crises que ten-
só num número muito reduzido de casos grande carência económica), são porven-
dem a estar interligadas – muitas vezes
será esse Estado. tura o que mais me tem impressionado e
associadas a problemas de segurança
chocado...
AI: Essa é, aliás, uma das muitas me- globais – e que começam na chamada
didas restritivas criadas pela UE com Ásia do Sul, nomeadamente no Paquistão AI: Para terminar, e tentando sumari-
vista a dificultar o acesso ao asilo. As e Afeganistão, e englobam o Iraque, a zar, no início da entrevista dizia que
pessoas têm de pedir asilo no primeiro Palestina, o Sudão, a Somália... Por- vamos, com as alterações climáticas e
país onde chegam, mas depois nem to- ventura a larga maioria dos refugiados a pobreza extrema, ter cada vez mais
dos os Estados têm a mesma generosi- está associada a este conjunto de cri- pessoas a precisar de ajuda. Por ou-
dade e muitas vezes as zonas onde é ses. Depois existe uma multiplicação de tro lado, muitos Estados estão menos
mais fácil aceder têm piores práticas problemas, em países como a República generosos na concessão de asilo e os
de acolhimento. Uma arbitrariedade Democrática do Congo, o Sri Lanka, a campos são situações muito precárias.
que é grave quando falamos de pes- Colômbia, entre outros, sendo verdade Perante tudo isto, qual poderá ser a
soas que precisam de ajuda... que África tem, provavelmente, o maior solução para o futuro?
número dessas situações.
AG: Essa é uma das questões que mais AG: O essencial é a prevenção. É pre-
nos preocupa e que está no centro do ciso aumentar muito a capacidade da
nosso diálogo. É imprescindível que no comunidade internacional para prevenir
quadro de um espaço onde se circula crises e prevenir os efeitos, por exemplo,
livremente [como acontece no Espaço das alterações climáticas. Evitar que
Schengen] haja uma harmonização das tais coisas aconteçam. E, em segundo
legislações e das práticas de asilo. Isto lugar, é necessário manter bem vivo o
levou-nos mesmo [enquanto ACNUR] espírito de solidariedade. E não apenas
recentemente a dizer que os países não por razões de generosidade, mas até por
devem reenviar requerentes de asilo, por um egoísmo inteligente, na medida em
exemplo, para a Grécia, porque em nossa que se estas situações não encontram
opinião a probabilidade de aí encontra- devida protecção e devido apoio, isso
rem protecção é muito pequena. pode transformar-se num enorme factor
de instabilidade à escala global.
AI: Serão estas medidas restritivas de © ACNUR / S. Hopper
acesso aos territórios responsáveis AI: O que se percebe facilmente, porque
pelo aumento de deslocados internos, AI: Numa entrevista que deu à Rádio Re- as pessoas se ficarem sem soluções,
uma vez que as pessoas não conse- nascença, em 2007, dizia que a maioria vão encontrar formas alternativas de
guem sair do seu país de origem? dos refugiados é muçulmana, é assim? entrar nos Estados. Existe uma maior
AG: É verdade, sim. xenofobia, como disse, mas as pes-
AG: Eu não diria que há uma relação di-
soas esquecem-se que, quer queiram,
recta entre as duas coisas. Os desloca- AI: Ainda quanto aos deslocados, muitos quer não, este é um problema que vai
dos internos têm-se verificado sobretudo ficam a viver em campos. Nas visitas acabar por afectá-las directamente...
em países em vias de desenvolvimento, que tem feito a estes locais, o que mais
em que os conflitos se generalizam de tal o tem impressionado? AG: Não peço a toda a gente que seja
forma que as pessoas tendem a abando- generosa, mas peço aos egoístas que ao
nar as suas comunidades mas procuram AG: Em primeiro lugar, nem todas as menos não sejam estúpidos.
não ir para longe, sempre na perspectiva pessoas deslocadas estão em campos.
de poderem regressar, ou então quando No Paquistão menos de 20% dos deslo- Entrevista completa em:
as distâncias para países limítrofes são cados estão em campos. A maior parte www.amnistia-internacional.pt (Aprender/Re-
demasiado grandes e o clima nesses é acolhida pelas comunidades. O que é vista da Amnistia Internacional)
mesmos Estados pode não ser o mais mais chocante para mim nos contactos
acolhedor. que tenho tido com estas situações de
vulnerabilidade das populações desloca-
“Quando uma pessoa é das têm sido os problemas de violência
sexual e o drama de muitas mulheres e
vítima de perseguição ou jovens, que são vítimas de forma par-
conflito deve ter direito ticularmente dramática. Se olharmos Para perceber melhor a diferença entre re-
fugiado, deslocado interno, apátrida, reque-
a ser reconhecida como para o que se tem passado no Darfur, rente de asilo, entre outros conceitos, não
refugiado” ou na República Democrática do Congo, perca o “Dossier” desta revista.
por exemplo... O número de violações é
Notícias • Amnistia Internacional 07

RETRATO
Kate Gilmore, Secretária-Geral Adjunta da Amnistia Internacional
Um olhar sobre o futuro do movimento
Há oito anos ao lado de Irene Khan na liderança da Amnistia Internacional, Kate Gilmore recorda ao
“Notícias da AI Portugal” o caminho traçado e revela os passos que o movimento de defesa e promoção
dos direitos humanos se prepara para dar, pelo menos, até ao ano 2016
Por Cátia Silva

O exemplo dos pais levou a então jovem tretanto normal”. Um conceito que, um
Kate a tornar-se voluntária em várias ano depois, em 1987, Kate Gilmore viria
organizações comunitárias, voltadas novamente a adoptar quando se envolveu
para os jovens, para os indígenas, para na criação da Victorian Foundation for
os desempregados, para os toxicodepen- Survivors of Torture, uma fundação des-
dentes, entre outros. Neste trabalho per- tinada às vítimas de tortura.
cebeu que “a menos que seja adoptada
uma abordagem sensível ao género, as
preocupações específicas de mais de A ENTRADA NA AMNISTIA
51% da população, ou seja, das mu- INTERNACIONAL
lheres, são ignoradas e as preocupa- O trabalho na área social e os interesses
ções dos homens prevalecem”. Assim multifacetados de Kate Gilmore levaram-
se tornou, “com orgulho” – como faz -na, no seguimento de um anúncio pu-
questão de frisar –, uma activista em blicado num jornal, a candidatar-se ao
nome das mulheres. Tudo isto enquanto lugar de Director na secção australiana
© Amnistia Internacional
estudava Psicologia e Sociologia, Tra- da Amnistia Internacional, muito mo-
balho Social e Desenvolvimento Comuni- tivada pelos seus amigos. “Até então
Aos 51 anos de idade, Kate Gilmore é o tário. “Ainda estava a tentar perceber pensava que a AI não era suficiente-
braço direito de Irene Khan1, enquanto o que queria fazer, mas sempre soube mente relevante no seu trabalho pelos
Secretária-Geral Adjunta da Amnistia In- que queria juntar-me às pessoas que direitos humanos das mulheres e por
ternacional (AI). Nascida em Melbourne, estavam a tentar fazer deste um mundo isso nunca me juntei [ao movimento]”,
na Austrália, cresceu numa família de mais leal, mais justo e menos intole- confessa. Porém, aos 38 anos de idade
activistas, que lutaram nos movimentos rante”. considerou que devia seguir o conselho
anti-apartheid e anti-Guerra do Vietna- Com 28 anos, Kate Gilmore teve a sua de Mahatma Gandhi e “que seria inte-
me, onde a ajuda ao próximo fazia parte primeira oportunidade para tentar mu- ressante fazer parte do esforço da AI
do dia-a-dia. Os seus pais patrocinavam dar o mundo, quando foi referenciada em «ser a mudança que deseja ver no
os estudos de jovens da então Rodésia, para criar o Centro Contra a Agressão mundo»”. Ou seja, iria tentar, dentro da
que mais tarde vieram a ter um papel Social, no Royal Women’s Hospital, ainda organização, melhorar a acção em prol
fundamental na independência do Zim- em Melbourne, na Austrália. Com or- das mulheres.
babué. Uma herança familiar que influ- gulho, conta que este “viria a tornar-se A experiência na direcção da AI Austrália
enciou Kate, que enveredou pela área so- no primeiro centro baseado nos direi- correu tão bem que quatro anos depois
cial, conta. “Nunca mais me abandonou tos das vítimas (ou sobreviventes) de Kate Gilmore estava a candidatar-se ao
o choque que senti na minha infância agressões sexuais”, transformando-se recém-criado cargo de Secretária-Geral
ao descobrir que o mundo parece tão rapidamente num exemplo a seguir. “A Adjunta da Amnistia Internacional, ape-
simplesmente aceitar que algumas ideia de que os direitos humanos têm sar do cariz (supostamente) temporário
pessoas nascem privilegiadas, enquan- lugar nos cuidados de saúde e nas res- do lugar e da mudança exigida para
to outras nascem para a exclusão, a postas legais que são dadas às mulhe- Londres, onde está sediado o Secreta-
discriminação e a privação”. res sujeitas a violência tornou-se en- riado Internacional2. Como explica Kate
08 Notícias • Amnistia Internacional

humanos são centrais à sua erradica-


ção”; 2) as migrações, sejam refugiados,
vítimas de tráfico humano ou migrantes
“irregulares”; 3) as vítimas dos conflitos
armados e de outras formas de violência,
como a comunitária e a doméstica e 4)
os que sofrem de falta de liberdade de
expressão e de associação.
Se “o mundo mudou à nossa volta e
nós estamos e somos desse mundo,
nós também mudámos”, conclui Kate
Gilmore, ao mesmo tempo que revela o
desejo de ficar na organização para po-
der ver ser concretizado este futuro hoje
projectado.

1. Irene Khan é desde 2001 a Secretária-Geral da


Amnistia Internacional, ou seja, é quem lidera o
movimento.
2. O Secretariado Internacional é a sede da Amnis-
© Peter West/AUSPIC tia Internacional, em Londres (Reino Unido), onde
Kate Gilmore discursa no lançamento da campanha “Acabar com a Violência sobre as Mulheres” na Austrália, em 2004. se encontra uma equipa de profissionais dividi-
dos por diversos programas (para cada região do
mundo) e departamentos. A Secretária-Geral e a
Gilmore, “a ideia era ajudar na passa- Sobre o evento, Kate Gilmore explica que sua Adjunta lideram toda a equipa e “dão a cara”
gem de pasta entre o Secretário-Geral a RCI ocorre a cada dois anos4 e que pelo movimento.
cessante, Pierre Sané, e a nova Secre- pretende ser o espaço onde se tomam as 3. A Reunião do Conselho Internacional da Am-
tária-Geral, Irene Khan, que ocorreu mais importantes decisões para o mo- nistia Internacional tem três objectivos princi-
no ano 2001”. Contudo, depois “fui ex- vimento, à semelhança do que acontece pais: definir a orientação estratégica da AI para
tremamente afortunada e fiquei muito na Assembleia Geral que se realiza em os próximos anos; manter a responsabilização ou
honrada quando a Irene me pediu que Portugal. Durante uma semana, cerca accountability das secções e das estruturas da AI
e do Comité Executivo Internacional face ao tra-
continuasse como sua Adjunta”, conta. de 300 pessoas – entre delegados das balho realizado; e eleger os novos nove elementos
Uma proposta irrecusável, que levou 50 secções e das nove estruturas da AI que nos próximos dois anos irão compor este úl-
a australiana a mudar-se de malas e e membros do Comité Executivo Inter- timo organismo.
bagagens para Londres. nacional5 – reúnem-se para discutir os 4. No espaço de tempo que medeia os dois anos
mais variados assuntos. de intervalo das Reuniões do Conselho Interna-
cional, as principais decisões relacionadas com a
Um dos mais importantes neste ano de
O PLANO PARA OS PRÓXIMOS SEIS ANOS Amnistia Internacional são tomadas pelo chama-
2009 é a aprovação do Plano Estraté- do Comité Executivo Internacional, composto por
Há mais de oito anos na Amnistia Inter- gico Integrado para a organização para nove membros da AI de todo o mundo, que tra-
nacional, Kate Gilmore acaba por fazer os anos 2010 a 2016. Ao “Notícias da balham voluntariamente.
de tudo um pouco, explica. “A Irene é Amnistia Internacional Portugal”, a 5. A Amnistia Internacional divide-se em duas
a principal porta-voz da AI, a principal Secretária-Geral Adjunta da AI antecipou partes principais. Uma primeira deliberativa, cons-
assessora política, a principal execu- algumas das novidades. Primeiro, a nível tituída por voluntários, a que se dá o nome de
tiva do Secretariado Internacional e é organizacional, com: 1) uma abordagem Comité Executivo Internacional. Uma segunda de
a líder do movimento”. A Adjunta subs- às violações aos direitos humanos mais cariz essencialmente operacional, a que se chama
titui-a em todas estas tarefas, quando Secretariado Internacional. Este, por sua vez, está
centrada nas pessoas do que em te- representado em várias partes do mundo através
necessário, mas é à parte organizacio- mas; 2) uma maior abertura a parcerias de secções, ou seja, de delegações nacionais. Es-
nal do trabalho da Secretária-Geral que com outras entidades e organizações e tas dividem-se ainda em estruturas, ou seja, em
Kate Gilmore dedica especial atenção. 3) uma distribuição diferente dos ren- representações locais, normalmente asseguradas
“Assisto-a nas áreas do planeamento dimentos da AI, apostando mais nos por voluntários. Em Portugal existe uma secção
estratégico e operacional, na avalia- da Amnistia Internacional, sediada em Lisboa, e
países do hemisfério Sul do que nos do
quase quatro dezenas de estruturas (ver na parte
ção de impacto e na responsabilidade Norte, apesar de serem estes que anga- “Em Acção Nacional” e “Em Acção Jovem” desta
pública [da Amnistia Internacional]”. riam a maioria dos fundos. revista).
Tarefas que terão como momento fulcral
Em segundo lugar, a Amnistia Interna-
a chamada Reunião do Conselho Inter-
cional vai seguir a mudança dos tempos
nacional (RCI)3 , que se realiza entre 9 e
e trabalhar em quatro temas-chave: 1)
14 de Agosto, na Turquia.
a pobreza, mostrando que “os direitos
Notícias • Amnistia Internacional 09

EM FOCO
IRÃO mas acredita-se que os valores reais se-
jam ainda superiores.
que fizeram os seus antecessores. A pe-
tição está disponível para assinatura em
MANTÊM-SE AS VIOLAÇÕES AOS www.amnistia-internacional.pt (Apren-
DIREITOS HUMANOS A juntar ao número de feridos, estima-se
der/Revista da Amnistia Internacional).
terem resultado das manifestações pelo
Participe!
menos três dezenas de mortos. Muitos
dos assassinatos são atribuídos à milí-
cia basij, que se juntou às forças polici-
ais para tentar travar os manifestantes.
NICARÁGUA
Vários vídeos na Internet mostram o PROIBIÇÃO TOTAL DO ABORTO
método utilizado: homens em cima de
motorizadas a “varrerem” os manifes-
tantes das ruas com tacos e bastões de
basebol. Há, porém, também registo de
pessoas mortas a tiro.
Nos últimos dias, os protestos acalma-
ram e a indignação internacional volta-se
agora para os relatos de torturas durante
© AP/PA Photo as detenções e para os julgamentos, que
Apoiantes de Mousavi em protesto nas ruas de Teerão, começaram a 1 de Agosto, de mais de
15 de Junho de 2009. uma centena de pessoas detidas durante
as manifestações. Os réus são acusados
Nos últimos meses, o principal país em de agir contra a segurança nacional, de © Ipas
foco nos noticiários de todo o mundo perturbação da ordem pública e de ac-
foi o Irão, devido aos protestos que se tos de vandalismo. A imprensa oficial
Uma médica aconselha uma paciente num hospital público da
Nicarágua.
seguiram às eleições presidenciais de informa que alguns podem ser condena-
12 de Junho, considerado o maior movi- dos à morte. Na sala de audiências só A Amnistia internacional apontou o dedo
mento popular no país desde a Revolução podem entrar os órgãos de comunicação à Nicarágua no passado mês de Julho,
Islâmica de 1979. Os manifestantes estatais. O antigo presidente do país, uma vez que a revisão ao Código Penal
ergueram-se contra o resultado eleitoral Mohammad Khatami, já veio denunciar do país proíbe o aborto para todo o tipo
que deu a vitória ao ultraconservador que os julgamentos estão a decorrer sem de situações. Isto incluiu mulheres ou
Mahmoud Ahmadinejad, presidente do que alguns advogados de defesa sejam crianças vítimas de incesto ou violação.
país desde 2005. Os iranianos alegam autorizados a participar e sem que os Todas ficam sujeitas a penas de prisão,
que havia mais boletins de voto que réus tenham acesso às acusações de que mesmo que tenham sofrido um aborto
votantes e apoiam o líder da oposição: o são vítimas. A Amnistia Internacional espontâneo e sempre que não puderem
reformista Mir Hossein Mousavi. está a acompanhar de perto a situação. provar que este não foi provocado. As
Quatro dias após o início dos confrontos, sanções estendem-se aos profissionais
a comunicação social estrangeira foi ex- de saúde que executem abortos ou que
pulsa do país e só as novas tecnologias SUÉCIA realizem tratamentos que podem colocar
permitiram ao mundo manter-se infor- os fetos em risco de vida, mesmo que
NOVA PRESIDÊNCIA DA UNIÃO seja contra doenças como o cancro, a
mado sobre as violações aos direitos hu- EUROPEIA
manos que ocorriam no Irão. Durante os malária ou o VIH/SIDA. Saiba mais pelo
meses de Junho e Julho, foram surgindo A 1 de Julho a Suécia assumiu a presidên- relatório “The Total Abortion Ban in Nica-
relatos dos confrontos com a polícia, que cia da União Europeia e a Amnistia Inter- rágua: Women’s lives and health Endan-
respondeu aos protestos com detenções nacional lançou um apelo mundial dirigi- gered, medical professionals criminali-
arbitrárias. Jornalistas, advogados e polí- do ao primeiro-ministro do país, Fredrik zed” e participe na petição da Amnistia
ticos proeminentes contam-se entre as Reinfeldt, apelando a que assuma a tor- Internacional que visa banir esta lei da
368 pessoas detidas que foram contabi- tura como tema preponderante durante Nicarágua. Ambos estão disponíveis em
lizadas pela Amnistia Internacional. Os os seis meses que vai estar a liderar a www.amnistia-internacional.pt (Apren-
números oficiais falam de 475 presos, instituição europeia, contrariamente ao der/Revista da Amnistia Internacional).
10 Notícias • Amnistia Internacional

CHINA 2009
UM ANO DE ANIVERSÁRIOS
Por Co-Grupo da China da Amnistia Internacional Portugal
Este ano completam-se 60 anos da fundação da República Popular da China (RPC), 50 dos e os monges obrigados a assistir a
anos da revolta no Tibete e 20 anos do massacre da Praça de Tiananmen. Estes acon- sessões de “educação patriótica” que
tecimentos, marcantes, não são independentes uns dos outros, são marcos visíveis de ainda hoje persistem. Desde então, a
uma evolução consistente na China colonização do Tibete torna-se evidente
e tem como eixos: a ocupação pela RPC,
a destruição da identidade tibetana
(língua e religião), a implantação no
território de uma maioria de população
han, deslocada da RPC, e a pilhagem dos
recursos naturais do Tibete.
Na China, o regime permite o desenvol-
vimento de um capitalismo selvagem em
que reina a corrupção e onde a liberdade
de expressão e de associação são repri-
midas. O mal-estar instala-se, os estu-
dantes universitários, apoiados pela res-
tante população, reúnem-se a partir de
Março de 1989 na Praça de Tiananmen,
para pedir o fim da corrupção e a de-
© Hu Jia e Zeng Jinyan mocratização do regime. A resposta foi
A polícia chinesa na Praça de Tiananmen, em Pequim, China, em Junho de 2006.
a violenta repressão de 3 e 4 de Junho
de 1989, com o assassinato de inúmeros
Em 1911 a China proclama a República, - Deng Xiaopeng abre a China ao capi- manifestantes pacíficos e a perseguição
saindo do período imperial. Durante este talismo externo. Graças à mão-de-obra das suas famílias. Este foi um aconteci-
longo período, o país domina o mundo e barata e à ausência de direitos humanos mento que ficará na memória colectiva
nele florescem a ciência e a tecnologia fundamentais (sindicais, de expressão, e que continua, hoje, a motivar deten-
(usa vacinas, máquinas de calcular, de reunião) as empresas privadas pros- ções daqueles que exigem que se faça
combate pragas com insectos, inventa a peram, o nível médio de vida aumenta, justiça.
pólvora, o ferro fundido e o aço, etc.). No formam-se a classe média e alta, à custa Assim, os aniversários que se celebram
entanto, a população vive escravizada da exploração desenfreada dos operári- este ano mostram-nos que a RPC é um
pelos senhores feudais e morre de fome, os, muitos oriundos de zonas rurais onde regime ferozmente repressivo, cujo de-
aos milhares. Em 1927, a República não encontram meios de subsistência. senvolvimento fulgurante resulta da
chinesa assiste a lutas políticas que Os trabalhadores migrantes vivem nas brutal repressão dos direitos dos seus
conduzem à cisão entre nacionalistas cidades em condições deploráveis, não cidadãos, e que pratica uma colonização
e comunistas. Estes, com Mao Zedong, são abrangidos pelo sistema de saúde e descarada em relação a povos etnica-
vencem a guerra civil e a 1 de Outubro de os seus filhos não têm direito à educa- mente minoritários, como os tibetanos e
1949 fundam a RPC. ção. São mais de 200 milhões e são os os uigures.
grandes obreiros do “milagre económico
O regime estabelecido diz apoiar-se nos
chinês”.
camponeses, proclama a reforma agrária
e desenvolve a indústria pesada. Mas o O Exército de Libertação Nacional (ELN)
desenvolvimento económico sofre avan- entra no Tibete em Outubro de 1950. É
ços e recuos, alguns devido a erros es- afirmado, mas não cumprido, o propósito
tratégicos e com consequências trágicas de cooperação com os tibetanos. A “mão
para as vidas humanas. Mais uma vez as de ferro” da RPC vai-se fazendo sentir e
liberdades individuais são inexistentes e em 1956 os Khampas (tibetanos do Les-
os cidadãos peões de uma política apa- te) insurgem-se contra os ocupantes. Em
rentemente centrada neles, mas que é a Março de 1959 a revolta propaga-se a
emanação da vontade cega dos chefes. todo o Tibete e é reprimida pelo ELN. A 19
Ainda em 1949, a RPC reivindica a so- de Março o Dalai Lama foge para a Índia
berania sobre o Tibete. com milhares de tibetanos. Muitos dos
© Jeff Widener/AP/PA Photos
que ficam são mortos, outros internados
O desenvolvimento prossegue, levando à
em “campos de trabalho”, os mosteiros Um homem tenta deter sozinho os tanques que se dirigem à
necessidade de interacção com o exterior Praça de Tiananmen para um dos maiores massacres da história
são destruídos, os objectos de culto pilha- da China, em Junho de 1989.
Notícias • Amnistia Internacional 11

DOSSIER
O Mundo dos Migrantes
A 20 de Junho assinalou-se mais um Dia Mundial dos Refugiados e um pouco por todo o mundo estas
populações foram recordadas. No entanto, inúmeras pessoas continuam a confundir os refugiados
com os imigrantes e até com a imigração ilegal. Para desmistificar tudo isto, o “Notícias da Amnistia
Internacional Portugal” vai neste dossier procurar clarificar conceitos, para que se perceba quem é
quem neste complexo mundo dos migrantes

© Privado

No Norte do Sri Lanka, milhares de pessoas tiveram de deslocar-se em 2008 quando começaram os confrontos entre o Exército e o grupo armado Tigres de Libertação da Pátria Tamil.

Ser Refugiado na Bobadela, em Loures, Portugal. Recor-


dar o passado não é fácil para nenhuma
transformado em apátridas. Optaram,
pela proximidade e urgência, em fugir
A história de Mohammed (nome fictício), destas pessoas, mas Mohammed aceitou para a Síria, país fronteiriço que acolhe
de 62 anos, podia ser semelhante à de fazê-lo uma vez mais, para tentar trans- hoje 424 mil palestinianos, sendo um
muitos outros refugiados, não fosse o mitir um pouco do que é Ser Refugiado. dos Estados que mais refugiados recebe.
facto de ter fugido do seu país não uma O povo da Palestina é também o que há
vez, mas já duas vezes na vida. Uma mais anos vive nesta condição, pois até
A primeira fuga hoje não está resolvido o seu problema
procura incessante pela liberdade e pela
dignidade de que todos os seres huma- Nascido na Palestina em 1947, de Pátria. Uma realidade que dura há
nos precisam, que o refugiado relatou Mohammed tinha apenas um ano quan- seis décadas e que todos os anos leva
ao “Notícias da Amnistia Internacional do a sua cidade, Salvat, se tornou par- milhares de palestinianos a procurarem
Portugal” numa conversa que decorreu te do recém-criado Estado de Israel. Os um lar noutros países do mundo. (conti-
no local onde hoje se sente em casa: o seus pais tiveram então 48 horas para nua na página 14)
Centro de Acolhimento para Refugiados, mudar de vida, porque a História os tinha
12 Notícias • Amnistia Internacional

Os países em
desenvolvimento
abrigam 80% dos
refugiados do
mundo

LEGENDA América do Norte e o Caríbe

Refugiados
Requerentes de Asilo
Deslocados Internos
Apátridas
Retornados
América Latina

ZONAS GEOGRÁFICAS Refugiados Requerentes Deslocados  Apátridas Retornados**


de Asilo Internos*
África Central e Grandes Lagos 9,6% 2,1% 13,4% sem dados 27.5%
África Oriental e Corno de África 7,3% 4,2% 26% 1,5% 15%
África Ocidental 1,7% 1,1% 5% sem dados 2.5%
África Austral 1,5% 29,1% sem dados sem dados 2.1%
Norte de África 1,2% 0,8% sem dados sem dados 1.2%
Médio Oriente 21% 3,4% 19,1% 10,5% 4%
Sudoeste Asiático 26% 0,6% 2,7% sem dados 46%
Ásia Central 0,1% 0,1% sem dados 0,6% sem dados
Sul da Ásia 3,2% 0,6% 3,5% 12,2% 0.3%
Ásia Oriental e o Pacífico 4,6% 3,5% 0,5% 65% 0,05%
Europa de Leste 0,2% 0,4% 6,9% 1,8% 0.01%
Sudeste Europeu 1,3% 0,08% 2,5% 0,5% 0,5%
Europa Central e Estados do Báltico 0,4% 3% sem dados 7,5% sem dados
Europa Ocidental 13,6% 30,3% sem dados 0,5% sem dados
América do Norte e o Caribe 4,3% 14,7% sem dados sem dados sem dados
América Latina 3,3% 6% 20,8% 0% sem dados

NÚMERO DE MIGRANTES NO MUNDO PAÍSES QUE MAIS PRODUZEM REFUGIADOS (Dados de final de 2008)
(Excluindo os imigrantes. Dados de final
de 2008) Territórios Palestinianos Ocupados = gerou 4,7 milhões de refugiados
Afeganistão = gerou 2,8 de refugiados
Refugiados = 15,2 milhões Iraque = gerou 1,9 milhões de refugiados
Requerentes de Asilo = 827 mil Somália = gerou 561 mil refugiados
Deslocados Internos = 26 milhões Sudão = gerou 419 mil refugiados
Apátridas = 6,6 milhões Colômbia = gerou 374 mil refugiados
Retornados = 604 mil (só em 2008) República Democrática do Congo = gerou 368 mil refugiados
Notícias • Amnistia Internacional 13

Europa Central e Estados Bálticos

Europa de Leste

Europa Ásia Central


Sudeste
Ocidental Europeu

Norte de África
Médio
Sudoeste
Oriente
Asiático Ásia Oriental
África
Sul e o Pacífico
Ocidental
da Ásia
África Oriental
e Corno de África
África Central e
Grandes Lagos

África Austral

Excluindo a situação nos Territórios Palestinianos


Ocupados, um em cada quatro refugiados do mundo
é do Afeganistão
Todos os dados usados na realização deste mapa
PRINCIPAIS PAÍSES DE ACOLHIMENTO PARA ESTAS POPULAÇÕES (Dados de final de 2008) foram retirados do relatório do Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados, 2008 Global
Trends: Refugees, Asylum-seekers, Returnees,
Paquistão = abriga 1,8 milhões de refugiados
Internally Displaced and Stateless Persons, de Junho
Síria = abriga 1,1 milhões de refugiados de 2009.
Irão = abriga 980 mil refugiados * Percentagens apenas com base nas pessoas
Alemanha = abriga 583 mil refugiados protegidas pelo ACNUR.
Jordânia = abriga 500 mil refugiados ** Percentagens apenas com base nos refugiados
Chade = abriga 330 mil refugiados retornados, deixando de lado os deslocados internos
que regressam às suas casas e que são difíceis de
Tanzânia = abriga 322 mil refugiados contabilizar.
14 Notícias • Amnistia Internacional

© ACNUR
Sobreviventes de um ciclone que ocorreu em Maio de 2008, no Myanmar, abrigam-se nas ruínas do que outrora foi a sua casa. São alguns dos muitos “refugiados/deslocados ambientais” existentes no mundo.

Muitos dos Estados da Organização das este último título que Mohammed adqui- cidiu refazer a sua vida. Os documentos
Nações Unidas cedo perceberam que não riu cedo, ao recusar a ida à tropa. Tinha pessoais tinham há muito sido confis-
podiam ficar de costas voltadas para então 20 anos e frequentava o primeiro cados, por isso a única possibilidade de
esta população, até porque esta iria, ano da Faculdade. Na altura, “foi julga- sair do país era recorrer a uma rede de
muito provavelmente, procurar refúgio do e condenado a três anos de prisão tráfico humano. Uma opção frequente
nos seus respectivos territórios. Em pou- por um Tribunal Militar”. O que não entre os refugiados, que tem ajudado
co tempo reuniu-se vontade política para sabia então é que ficaria marcado para a que sejam confundidos com os imi-
criar um organismo específico para pro- sempre. grantes, lamenta António Guterres, Alto
teger estas pessoas e encontrar soluções Comissário das Nações Unidas para os
para o seu problema. Assim nasceu, em Refugiados.
1950, a Agência das Nações Unidas de A segunda fuga
Assistência aos Refugiados da Palesti- As ideias políticas de Mohammed, bem A Protecção Temporária
na no Médio Oriente e pela primeira vez diferentes das defendidas pelo regime A protecção temporária não é muito
se falou formalmente em “refugiado”. sírio, fizeram com que durante quase expressiva em Portugal, mas foi uti-
Mohammed, os seus pais e os seus ir- 35 anos fosse perseguido e detido pela lizada aquando do conflito no Kosovo,
mãos enquadravam-se no conceito, uma polícia secreta. “Vinham uns homens em 1999, quando foram acolhidos
vez que tinham deixado a Palestina em vestidos à civil e levavam-me”, conta, no nosso país vários kosovares. O
consequência da guerra que deu origem enquanto diz que não era preciso sequer objectivo deste regime é, a título ex-
a Israel. um mandato. A sua família também cepcional e provisório, providenciar
Em poucos meses, a família estabele- deixou de necessitar de aviso, uma vez um lar a pessoas que fogem em mas-
ceu-se na República Árabe da Síria, onde que os desaparecimentos se tornaram sa de um país, normalmente devido
Mohammed cresceu. Foi também aqui frequentes. “Ficava cá fora seis meses, a um conflito armado ou a violên-
que o refugiado se tornou um activista, sete meses, um ano... Depois era outra cia generalizada. A urgência da situ-
pois nunca concordou com o regime dita- vez detido”, recorda. Um entra e sai da ação exige que estas pessoas sejam
torial que há largas décadas caracteriza prisão que não permitiram ao refugiado acolhidas, durante algum tempo,
este país. “Eu tenho ideias de paz e não levar uma vida dita “normal”, como seria num outro Estado, regressando de-
casar e ter filhos. pois a casa quando a situação está
acredito na Guerra”, diz, enquanto la-
solucionada. Foi o que aconteceu no
menta: “para eles [as autoridades], ou Aos 58 anos, Mohammed desistiu dos
caso do Kosovo.
se é como eles, ou é-se um traidor”. Foi seus ideais políticos para a Síria e de-
Notícias • Amnistia Internacional 15

A instituição que lidera, criada no seio


das Nações Unidas em 1949, visa prote-
ger estas populações em todo o mundo.
Os Refugiados Ambientais
Mohammed é um deles. Em 2005 aban-
A 26 de Dezembro de 2004 o mundo des- frequentes secas e cheias, pois os espe-
donou tudo e partiu sozinho, 22 dias es-
pertou para uma realidade que muitos cialistas garantem que as piores con-
condido na casa das máquinas de um
especialistas vinham já a anunciar nos sequências virão do sobreaquecimento
barco, como o faria qualquer imigrante global. Uma realidade que para muitos
últimos anos: as alterações climatéricas.
ilegal. O que os distingue, frisa, é que é ficção, mas que começa a ser comum-
Quando a terra tremeu no Sudeste Asiáti-
“quem foge não pode escolher o desti- mente aceite: no futuro haverá zonas do
co e provocou ondas gigantes que atingi-
no” e é o dinheiro pago que determina o globo que vão ficar desertas e ilhas que
ram vários países repletos de turistas, os
local de chegada. irão desaparecer graças à subida do ní-
cidadãos de todo o mundo começaram a
Além disso, os refugiados não deixam o perceber o alcance do problema. O que a vel médio da água do mar.
seu país voluntariamente, nem procuram maioria esquece é que o drama vai muito Previsões que levaram já a Organiza-
melhores condições económicas, como para além do número inicial de mortos e ção das Nações Unidas a estimar que
muitos imigrantes. São pessoas que feridos, uma vez que de cada catástrofe até 2050 o número de pessoas em fuga
receiam ser “perseguidas em virtude natural saem centenas de novos deslo- por razões ambientais deve subir para
da sua raça, religião, nacionalidade, cados que, muitas vezes, não recebem os 200 milhões. Mito ou realidade, hoje
filiação em certo grupo social ou pe- qualquer forma de protecção ou assis- o Alto Comissariado das Nações Unidas
las suas opiniões políticas”, de acordo tência. para os Refugiados fala já em cerca de
com a Convenção de Genebra relativa 25 milhões de pessoas nestas condições.
ao Estatuto dos Refugiados, de 1951. São pessoas que não fogem de proble-
Nenhuma delas, ressalve-se, recebe pro-
Uma condição na qual Mohammed se mas financeiros, como é comum nos imi-
tecção ou assistência de organizações
enquadrava, pelas detenções de que foi grantes, nem receiam perseguição pelas internacionais, uma vez que não há, por
alvo, mas que tinha agora de provar para razões apontadas pela Convenção de enquanto, nenhuma instituição voltada
conseguir obter asilo (ver “Ser Requeren- 1951, como é o caso dos refugiados. No para estas populações e nenhum esta-
te de Asilo”). Como a maioria dos refu- entanto, são também forçados a deixa- tuto definido para aqueles que, em 1985,
giados, o palestiniano chegou a Portugal rem as suas casas e as suas formas de o egípcio Essam ElHinnawi já apelidava
sem nada, ou seja, sem documentos para subsistência porque estas foram, pura de “refugiados ambientais”. Todos eles
demonstrar sequer a sua identidade. e simplesmente, “engolidas” pela Mãe ficam dependentes dos seus próprios
Entrou então num processo judicial que Natureza. Não se pense, no entanto, que Governos e estes não têm, muitas vezes,
durou um ano e que o refugiado prefere estes novos migrantes são apenas resul- capacidade (ou vontade) de os proteger.
não lembrar. tado das chamadas catástrofes natu- Para onde irão então estas pessoas?
rais, como o tsunami e as cada vez mais
Ser humano
Apesar das dificuldades iniciais,
Mohammed conseguiu adquirir o estatu-
amigos. Quando ingenuamente pergun-
tamos a Mohammed se recorda esse mo- Ser Requerente
to de refugiado e hoje é um dos cerca de
300 asilados a viver em Portugal, segun-
mento, da chegada a Portugal, sorri com
a calma de quem sabe que só quem
de Asilo
do dados facultados pelo Conselho Por- “Os refugiados necessitam de alimen-
viveu situações semelhantes consegue
tuguês para os Refugiados. Nem todos, tos, água, abrigos ou cuidados médi-
compreender. Com serenidade responde:
porém, adquiriram o referido estatuto, cos, mas a necessidade essencial é
podendo estar em solo português ao abri- “Claro. Foi o dia do meu nascimento”. a obtenção de asilo”, defende Mónica
go do regime especial denominado “pro- “Como?”, perguntamos nós. A resposta Frechaut, do Conselho Português para os
tecção humanitária”, esclarece Mónica deixa-nos desarmados: “Tenho duas da- Refugiados (CPR). Só assim estas pes-
Frechaut, da instituição mencionada, tas de nascimento. Como carne e osso soas podem refazer as suas vidas, num
enquanto explica que esta é “proposta nasci em 1947, como ser humano em local seguro. Obter asilo exige, porém,
para conceder refúgio a pessoas que, 2005. Em Portugal encontrei três coi- ser reconhecido como refugiado pelos
embora não reunindo os critérios es- sas que nunca tive: a minha Dignidade; Estados e isso implica provar, tal como
tabelecidos para adquirir o estatuto de a Pátria que estava à procura e encon- Mohammed (ver “Ser Refugiado”), que
refugiado, carecem de apoio especial reúne três condições: 1) que no seu país
trei-me a mim próprio como Ser Huma-
por terem fugido de zonas de conflito de origem receava ser perseguido; 2) que
no, porque fui sempre tratado como um
ou de abusos de direitos humanos”. tem razões fundadas para esse receio e
animal”. 3) que na base da perseguição estava a
Em todas estas situações é fundamental
sua raça, a sua religião, a sua nacionali-
perceber que há pessoas reais, que são
dade, a sua filiação a certo grupo social
obrigadas a começar a sua vida do zero
ou as suas opiniões políticas.
e a esquecer, muitas vezes, familiares e
16 Notícias • Amnistia Internacional

Reunindo estas condições, o processo co-


meça junto do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras (SEF), ou de qualquer autorida-
de policial que o remeta para este local,
onde é apresentado o pedido de asilo. O
solicitante torna-se então um “Reque-
rente de Asilo” e o Conselho Português
para os Refugiados, em Portugal, e o Alto
Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados, em Genebra, devem ser
alertados para o seu caso. Importante é
perceber que até esta fase o requerente
de asilo estava ilegal no país de acolhi-
mento, como qualquer imigrante, apesar
das suas circunstâncias serem muito es-
peciais (ver “Ser Refugiado”).
Bem diferente é a realidade dos que che-
gam a Portugal ao abrigo do denominado
Programa Nacional de Reinstalação, que
viajam de outros países já com o estatuto
de refugiado adquirido ou com a forma de
© ACNUR/L.Taylor
protecção que irão receber previamente
Enquanto os confrontos se mantêm na Serra Leoa, centenas de refugiados procuram, com muito poucas condições, manter uma vida
acordada. Normalmente são pessoas que “normal” do outro lado da fronteira, no campo de Katkama, na Guiné.
alcançaram primeiro um outro Estado e
este, como não teve condições para os
No ano passado, 34 nacionalidades dife- do então naquilo a que hoje se chama de
acolher mas reconheceu a sua necessida-
rentes procuraram acolhimento em Portu- “deslocado interno” ou “pessoa deslo-
de, acordou com outro país a sua reins-
gal, mas a maioria dos pedidos de asilo cada internamente”, que pode estar na
talação. Uma situação ideal, mas ainda
continuou a chegar de pessoas provenien- mesma situação que um refugiado, mas
pouco frequente. Para que se perceba a
tes do Sri Lanka e da Colômbia. É também não adquire este estatuto porque não
diferença, refira-se que em 2008 foram
de assinalar que Portugal tem hoje uma deixou o seu país de origem.
apresentados 161 pedidos de asilo junto
taxa de admissibilidade muito superior há
do SEF, por pessoas que chegaram pelos Mónica Frechaut, do Conselho Português
de algumas décadas, tendo em 2008, dos
seus próprios meios a Portugal, e apenas para os Refugiados, explica: “são pesso-
161 pedidos de asilo, sido atribuídos 12
três pessoas, da Eritreia, foram reinsta- as que abandonaram as suas casas por
estatutos de refugiado e 70 autorizações
ladas. razões iguais às dos refugiados, mas não
de residência por razões humanitárias.
atravessaram as fronteiras do seu país
A avaliação do pedido de asilo pelo Mi-
– talvez porque montanhas ou rios os
nistério da Administração Interna pode
impeçam de o fazer ou porque fugiram
demorar quatro meses, um ano, ou mais,
para relativamente perto, na esperança
variando muito de caso para caso. Em
todo o mundo, o Alto Comissariado das
Ser Deslocado de poderem rapidamente regressar”.
Nações Unidas para os Refugiados es-
timava, no final de 2008, que estavam
Interno Era isso que acontecia a Ibrahim, até ao
dia em que ouviu dizer que a irmã estava
A história de Ibrahim pode ler-se no site num campo para refugiados no Chade.
à espera de resposta ao seu pedido de
oficial do Alto Comissariado das Nações Tinham passado quase dois anos desde
asilo 827 mil pessoas. No caso português,
Unidas para os Refugiados (ACNUR). Ti- o ataque à sua aldeia. Com pouca infor-
enquanto aguardam, os requerentes de
nha 14 anos quando homens armados mação mas muita esperança, o deslocado
asilo podem ficar a residir no Centro de
atacaram a vila onde morava, Tandous- partiu numa viagem épica em busca da
Acolhimento para os Refugiados do CPR,
sa, no Darfur, Sudão. Vivia com o pai, a família perdida. Chegou ao país vizinho
em Loures, onde usufruem de vários ser-
mãe e a irmã mais velha, Salga, que na em Dezembro de 2005, com 16 anos, e ao
viços e actividades, como: aulas de língua
altura, em 2004, tinha 18 anos. O ataque fim de três semanas de emotiva procura
portuguesa e de informática, actividades
causou o pânico entre os moradores, que conseguiu localizar a sua irmã, agora
desportivas, orientação profissional, apoio
correram para diferentes lados tentando casada e com um filho de colo.
jurídico, acesso à educação e a cuidados
salvar as suas vidas. Passada a confu- Salga, como muitas outras pessoas que
de saúde, entre outros.
são, Ibrahim percebeu que ficara sozinho. não encontram abrigo em casas ou cen-
Apesar destas condições, Portugal conti- Sem rumo, fixou-se numa vila próxima, tros de acolhimento, vivia há dois anos
nua a ser dos países da Europa que recebe Forbaranga, e começou a trabalhar no refugiada num dos 12 campos que o
menos pedidos de asilo. No entanto estes mercado local, para sobreviver, enquanto ACNUR e o Comité Internacional da Cruz
são, segundo o CPR, muito heterogéneos. procurava a sua família. Tinha-se torna- Vermelha estão a gerir no Chade. O país
Notícias • Amnistia Internacional 17

tem, para além de 218 mil refugiados


oriundos do Darfur, cerca de 90 mil des-
locados internos. Grande parte vive em
campos, em condições precárias que
têm chegado ao conhecimento do mundo
através de filmes e documentários. Pi-
lhagens, violações e o recrutamento de
crianças soldado são apenas alguns dos
muitos atentados aos direitos humanos
perpetuados pelas autoridades e pelos
grupos rebeldes nestes locais. Uma re-
alidade que atinge hoje muitos dos 26
milhões de deslocados internos que o
Conselho Norueguês para os Refugia-
dos estima existirem no mundo, sendo
apenas 14,4 milhões deles protegidos
pelo ACNUR, em 22 países. Os princi-
pais produtores de deslocados internos
continuam a ser o Sudão, a Colômbia e
o Iraque.

Ser Apátrida
À primeira vista pode parecer estranho,
mas dados do Alto Comissariado das Na-
ções Unidas para os Refugiados indicam
que há no mundo 6,6 milhões de apátri-
das. Em Portugal, o Conselho Português © ACNUR/N.Behring

para os Refugiados (CPR) refere números


do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Após cinco anos de exílio no Paquistão, Mahmood Saber (à esquerda) retorna a casa, em Cabul, no Afeganistão.

que apontam para a existência de 273


apátridas no nosso país. “Um número
estável desde 1999, o que provavelmen-
dem originar milhares de apátridas.
O Alto Comissariado das Nações Uni-
Ser Retornado
te significa que não existem novos casos das para os Refugiados refere, no livro Quando alguém se vê obrigado a fugir
de apátridas no nosso país”, refere Móni- A Situação dos Refugiados no Mundo e se torna refugiado, o seu objectivo
ca Frechaut, do CPR, acrescentando que 1995 – Em Busca de Soluções, que “na de vida passa a ser encontrar uma so-
muitos dos casos remontam às décadas maioria das situações as pessoas tor- lução duradoura para a sua situação.
de 70 e 80 e aos processos de descoloni- nam-se apátridas porque os Estados Pode então procurar asilo num país ou
zação portuguesa. não aprenderam a conviver com, nem ficar a viver em condições precárias em
De acordo com o dicionário, são apátridas a tolerar, as suas minorias”. Mónica campos de refugiados ou em instituições
as pessoas que não têm Pátria, ou seja, Frechaut, do Conselho Português para os criadas para o efeito. Porém, todos eles
que não são cidadãos de nenhum Estado Refugiados, acrescenta que os apátridas gostariam um dia de poder dizer que são
e que, como tal, não têm um Governo que também podem surgir por questões me- “retornados”, pois, como o nome indica,
as proteja, necessitando de protecção in- ramente jurídicas, uma vez que por vezes significaria que regressaram ao seu país
ternacional. Uma designação que parece os Estados desintegram-se ou adquirem de origem.
impossível acontecer nos dias de hoje, independência e os cidadãos não tratam No entanto, o repatriamento só é possí-
até porque histórias (reais) como a que atempadamente dos novos documen- vel quando as condições que originaram
retrata o filme “Terminal de Aeroporto”, tos de cidadania, tornando-se, assim, a fuga estão totalmente solucionadas.
de Steven Spielberg – em que um passa- apátridas. Uma realidade que se torna Nalguns casos, como o de Mohammed
geiro fica confinado ao aeroporto de Nova menos estranha se pensarmos que em (ver “Ser Refugiado”), isso poderá demo-
Iorque porque o seu país de origem, du- muitos países há pessoas, normalmente rar muitos e longos anos, noutros poderá
rante o voo, deixou de existir – parecem- nas zonas rurais, que não têm sequer um nunca chegar a acontecer. Há, no entan-
-nos demasiado romanceadas. No en- bilhete de identidade. to, alguns números que são inspiradores,
tanto, se recordarmos a desintegração como os do Alto Comissariado das Na-
da ex-União Soviética, no início dos anos ções Unidas para os Refugiados, que em
90, começamos a perceber que os confli- 2008 conseguiu ajudar 604 mil pessoas
tos armados e as questões étnicas po- a voltarem às suas casas.
18 Notícias • Amnistia Internacional

E os Prisioneiros o podem fazer: primeiro, porque na Síria


“as pessoas são rotineiramente tortu-
em Agosto que Portugal irá receber dois
cidadãos sírios. Como refere Irena Sa-
de Guantánamo? radas, especialmente se tiverem sido
acusadas de terrorismo”, revela Ahmed
bic, agora é “preciso não complicar. Se
houver vontade política, há forma” de
Ghappour, também advogado de pri- acolher estas pessoas.
Em 2001, Ismael Al Bakush, um líbio de sioneiros de Guantánamo, em segundo
33 anos, foi preso numa pousada no Pa- Seja como refugiados, como exilados po-
lugar, porque na Líbia houve, em 2007,
quistão pela polícia nacional e vendido líticos ou ao abrigo da protecção huma-
dois ex-detidos que desapareceram ao
aos Estados Unidos da América (EUA). nitária, o “importante é não esquecer
regressarem ao país. Até hoje, continua
A morar no Afeganistão há vários anos, que todos eles são pessoas reais e que
sem se saber do seu paradeiro, informa o
uma vez que na Líbia havia sido alvo precisam que lhes seja encontrada uma
advogado Alexandros Papanikolaou.
de perseguição religiosa pelo regime de casa rapidamente”, continua a advo-
Khadafi, fugiu para o Paquistão após os gada. Ahmed Ghappour salienta que,
ataques de 11 de Setembro, perante a enquanto aguardamos, há detidos em
Próximo destino: Portugal
iminência de uma guerra violenta. Está Guantánamo a serem alvo de torturas,
há quase sete anos na prisão norte-ame- Não sendo possível o regresso ao país de como o seu cliente, Jihad Dhiab, de 37
ricana de Guantánamo, sem qualquer origem, oito prisioneiros pediram então anos, que todos os dias é amarrado a uma
tipo de acusação. O mesmo acontece a acolhimento a Portugal quando o Minis- cadeira e alimentado à força pelo nariz,
Abdul Nasser e Muhammed Khan Tuma- tro dos Negócios Estrangeiros, Luís Ama- porque optou por fazer greve de fome em
ni, pai e filho, que não se vêem desde o do, surpreendeu o mundo ao anunciar, sinal de protesto pela sua situação. Vio-
momento da detenção. Na altura, este de forma pioneira, que estava disponível lações graves aos direitos humanos que
último tinha apenas 17 anos. Hoje com para receber detidos de Guantánamo. se perpetuam e que levam a Coligação
25, passou os melhores anos da sua vida Estávamos a 10 de Dezembro de 2008 de organizações não governamentais da
na prisão de alta segurança localizada e até hoje nenhum aterrou em Portugal. qual a Amnistia Internacional faz par-
na ilha cubana, muitas vezes em solitá- Justificações, houve muitas. Primeiro, te – que reúne todos os advogados de
ria. constrangimentos do Espaço Schengen, detidos de Guantánamo referidos neste
que conta com países com diferentes artigo –, a lançar agora um apelo mun-
O ex-Presidente paquistanês, Pervez opiniões no que diz respeito ao acolhi- dial dirigido ao Ministro dos Negócios Es-
Musharraf, vangloriou-se ao anunciar mento de ex-detidos da prisão da ilha trangeiros português. É preciso garantir
que metade dos detidos da prisão de cubana. Depois, porque o Governo norte- o respeito total pelos direitos humanos!
Guantánamo foram vendidos pelo seu americano não havia enviado um pedido Participe em “Apelo em Nome dos Pri-
Governo aos EUA. Ranjana Natarajan, formal de ajuda. Obstáculos que estão já sioneiros de Guantánamo”, disponí-
advogada de um dos prisioneiros de ultrapassados, tendo a mesma fonte go- vel em www.amnistia-internacional.pt
Guantánamo, revela que só 5% foram vernamental, juntamente com o Ministé- (Agir Já/ WebActions).
capturados pelos norte-americanos. Os rio da Administração Interna, garantido
outros foram comprados, alguns por
5.000 dólares. Pelas ruas do Paquistão,
proliferavam na altura panfletos que
prometiam “dinheiro suficiente para
tomar conta da sua família, da sua vila,
da sua tribo, para o resto da sua vida”.
Um anúncio apelativo, num país caren-
ciado, que levou até Guantánamo cente-
nas de pessoas que hoje se sabe esta-
rem inocentes, entre elas os oito detidos
que procuram asilo em Portugal: quatro
de origem líbia e quatro sírios. Pessoas
(entre elas as acima mencionadas) que
estavam no sítio errado, à hora errada.
A provar a sua inocência está o facto de,
até hoje, nenhum dos oito prisioneiros ter
sido acusado de nada. Permanecem em
Guantánamo “vítimas da sua naciona-
lidade”, explica a advogada Irena Sabic,
indicando que outros detidos, nacionais
de outros Estados, puderam regressar ao
seu país de origem mal se percebeu que
tinham sido alvo de um erro tremendo. © US DoD

Os oito que pediram asilo a Portugal não Detidos do Campo 4 da Baía de Guantánamo, em 2005.
Notícias • Amnistia Internacional 19

Delta do Níger: O impacto da poluição nos direitos humanos


Décadas de poluição e danos ambientais, provocados pela indústria petrolífera, resultaram em violações
sistemáticas do direito a padrões de vida adequados, incluindo alimentação e água, violações do direito
ao trabalho e do direito à saúde. O Delta do Níger, no sul da Nigéria, é actualmente local de uma das
maiores tragédias de direitos humanos provocadas pelo impacto da exploração petrolífera no ambiente
Por Sara Coutinho

© Kadir van Lohuizen/NOOR

Mulheres carregam madeira para poderem cozinhar e caminham ao lado de um oleoduto. A proximidade entre a exploração petrolífera e as populações tem ajudado a agravar a situação de pobreza de muitos
nigerianos.

Desenvolver a ciência e a tecnologia, do- países em desenvolvimento. Ao longo esta aparente riqueza, a região é tam-
minar a natureza em proveito do Homem, das últimas três décadas, temos assis- bém uma das mais pobres do mundo,
aumentar a produção e proporcionar o tido a um aumento do interesse global sendo que a vasta maioria dos seus ha-
maior conforto material possível sempre pela poluição ambiental e pelo seu im- bitantes não tem acesso a água potável
foram ideais perseguidos pelas socie- pacto ao nível dos direitos humanos, que ou a cuidados médicos.
dades ao longo dos tempos. No entanto, o tem vindo a ganhar relevância desde a
A exploração de petróleo na região do
crescimento meramente quantitativo das Conferência das Nações Unidas Sobre
Delta do Níger começou em 1958, com
forças produtivas da sociedade chocou Ambiente Humano (1972).
a Shell British Petroleum (agora Royal
com a mais dura realidade relativa-
Dutch Shell), em parceria com o Governo
mente ao equilíbrio ambiental: é impos-
nigeriano. Actualmente, só a subsidiária
sível manter o mesmo nível de produção POLUIÇÃO AMBIENTAL
Shell Petroleum Development Company
para toda a Humanidade sem que haja A região do Delta do Níger, no sul da Ni- (SPDC) explora cerca de 31 mil quilóme-
um colapso ecológico. géria, é extremamente importante: além tros quadrados de terreno e a grande
A gestão desadequada dos processos de ser lar para mais de 31 milhões de maioria das infra-estruturas está locali-
de extracção de matérias-primas, como pessoas e de ser um dos principais ecos- zada junto das casas, quintas e fontes de
o petróleo, tem sido uma das principais sistemas marinhos e pantanosos, é local água das comunidades. A Carta Africana
causas de poluição e degradação em de um dos maiores depósitos mundiais de Direitos Humanos e dos Povos, da
muitas comunidades, especialmente em de petróleo. No entanto, e apesar de toda qual a Nigéria é um Estado parte, obriga
20 Notícias • Amnistia Internacional

o governo nigeriano a tomar medidas no a sua proximidade em relação às explo- envolvidos na destruição do ambiente.
sentido de um desenvolvimento ecológico rações. “Se quisermos ir pescar, temos As comunidades envolvem-se em actos
sustentável e de prevenção da poluição, que remar durante horas ao longo de de vandalismo e sabotagem e as milícias
mas as obrigações são frequentemente vários rios até chegar a um sítio onde representam uma ameaça significativa
suplantadas por interesses económicos. se consiga apanhar peixe e o derrame para a segurança dos funcionários das
seja mais pequeno...alguns dos peixes petrolíferas, havendo relatos de compor-
Os derrames de petróleo, o despejo de re-
que apanhamos, quando lhes abrimos tamento agressivo por parte de ambos.
síduos e a queima de gás são as formas
a barriga, cheiram a crude”, conta um
de poluição resultantes da exploração Apesar de não haver uma explicação
pescador local.
petrolífera mais frequentes na região. única para a situação conflituosa no
Provocam danos ao nível do solo, dos Os relatos frequentes de derrames que Delta do Níger, as acções dos grupos
lençóis de água e da qualidade do ar. se prolongam durante meses, sem que armados e das comunidades não po-
Prejuízos estes que a Natureza necessi- sejam tomadas quaisquer medidas por dem ser utilizadas pelo Governo e pelas
taria de muito mais tempo para reverter parte das petrolíferas ou do Governo, multinacionais como forma de desviar a
do que aquele permitido pelas exigências multiplicam-se. A falha destas empre- atenção das suas próprias falhas e más
da exploração. Em comunidades em que sas e dos reguladores em lidar com os práticas. A falta de responsabilização e
cerca de 60% da população depende di- derrames de forma rápida e a falta de a incapacidade dos afectados em aceder
rectamente da pesca e da agricultura, limpezas eficazes exacerbam os impactos à justiça ou receber compensações per-
como principais meios de subsistência, humanos e ambientais dos derrames. petuou o contexto de violações dos direi-
os prejuízos causados pela poluição são tos humanos e encorajou que estes se
catalisadores de uma situação de pobre- repetissem indefinidamente. Uma reali-
za já muito acentuada. EVADINDO RESPONSABILIDADE dade que tem estimulado a violência por
Durante décadas, a indústria petrolífera parte das populações.
no Delta do Níger tem operado sem Enquanto a impunidade pelos abusos
IMPACTO SOBRE AS COMUNIDADES
qualquer regulação ou monitorização. do ambiente e dos direitos humanos
A situação do Delta do Níger é, acima de Não por falta de leis ou regulamentos: permanecer generalizada, assim per-
tudo, uma violação dos direitos humanos a lei nigeriana proíbe a poluição do solo manecerão a pobreza e os conflitos que
da população local. O comprometimento e da água, exige que as empresas de- assolam a região do Delta do Níger.
sistemático dos meios de subsistência senvolvam “boas práticas no terreno” e Apenas quando houver responsabilização
das comunidades em troca de receitas que cumpram com as normas interna- efectiva e acesso à justiça, e quando as
comerciais, os riscos para a saúde da cionais. No entanto, várias companhias populações tiverem acesso à informação
população, a ausência de qualquer tipo petrolíferas têm explorado as fraquezas e ao espaço necessários para participar
de monitorização do impacto destas ac- do sistema de regulação, cujas opera- nas decisões que afectam directamente
tividades nas comunidades e no ambiente ções têm sido caracterizadas pela falha as suas vidas, será possível começar a
e a falha em providenciar compensações em tomar medidas preventivas e correc- remediar a tragédia ambiental e de direi-
às pessoas afectadas, são situações que tivas apropriadas relativamente à polui- tos humanos que se vive no Delta do
ilustram o claro desrespeito, quer do ção e aos danos ambientais. Níger. Infelizmente, esta região é apenas
Governo nigeriano, quer das petrolíferas, um exemplo do que se passa em muitas
Infelizmente, a questão não é sempre a
pelos direitos da população e pelas outras partes do mundo.
existência ou não de leis mas possuir a
obrigações internacionais.
capacidade e os recursos para garan-
A Amnistia Internacional publicou re- tir que sejam cumpridas. Os requisitos SAIBA MAIS
centemente, no âmbito da sua nova cam- necessários para tomar todas as medi- Para mais informações sobre a situação no
panha “Exija Dignidade”, um relatório das necessárias e proporcionar compen- Delta do Níger consulte o relatório da Amnis-
sobre esta situação no Delta do Níger. sação são insuficientes para proteger tia Internacional “Petroleum, Pollution and
Certos de que a única forma de erradi- os direitos humanos, particularmente Poverty in the Niger Delta”, publicado em
Junho de 2009 e acessível em www.amnis-
car a pobreza é a correcção de todos os num contexto em que a capacidade de
tia-internacional.pt (Aprender/ Revista da
factores que para ela contribuem, foram regulação do governo é muito fraca e a Amnistia Internacional). No mesmo local
elencadas várias situações em que a população é, na sua vasta maioria, po- assista a um vídeo sobre esta realidade.
poluição provocada pela exploração bre, altamente dependente do ambiente
petrolífera comprometeu directamente e com poucos recursos para desafiar as
as populações da zona, deixando-as sem multinacionais do petróleo. O QUE PODE FAZER!
comida ou água e gravemente doentes. A Amnistia Internacional tem disponíveis
dois apelos que visam mudar a situação
Vários membros de organizações da so- do Delta do Níger. É urgente que as autori-
JUSTIÇA E REPARAÇÃO
ciedade civil e de comunidades locais dades reconheçam que viver num ambiente
relataram aos investigadores da Am- A situação na região do Delta do Níger saudável é um direito humano fundamental.
nistia Internacional, que estiveram na é complexa. Enquanto as falhas do Go- Participe enviando os postais que se encon-
região entre Março e Abril de 2008, as verno nigeriano e das petrolíferas são evi- tram no interior desta revista. PRECISAMOS
DE SI!
dificuldades com que se deparam dada dentes, estes não são os únicos actores
Notícias • Amnistia Internacional 21

NACIONAL
A Amnistia Internacional Portugal vista à lupa
Neste número do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” vamos falar-lhe de algumas das activi-
dades desenvolvidas nos últimos meses pela secção portuguesa da Amnistia Internacional. Começamos
por lhe dar a conhecer mais um dos nossos grupos locais, que tem estado a mobilizar a cidade de Leiria.
Em seguida, resumimos as principais conclusões da Assembleia Geral anual, para todos os que não pu-
deram comparecer. E a fechar falamos com os vencedores do Prémio da Amnistia Internacional Portugal
no festival de cinema IndieLisboa 2009

GRUPO LOCAL 32 – LEIRIA tos Humanos, a que “o grupo dá grande Mais recente é a terceira área de ac-
UMA DEDICAÇÃO DIÁRIA AOS DIREITOS HUMANOS ênfase”, revela, até porque foi numa tuação do Grupo Local 32, pela qual
escola que tudo começou, há nove anos este tem, nos últimos anos, ficado par-
atrás. Maria Fernanda Ruivo era então ticularmente conhecido: a promoção dos
professora de História e estava a ensi- direitos das pessoas de etnia cigana. Um
nar o que é a escravatura. Como defende trabalho que começou por coincidência,
que se aprende melhor de forma lúdica, quando a 10 de Dezembro de 2002 (Dia
decidiu criar uma peça de teatro, mas Internacional dos Direitos Humanos) Ma-
aquela que era uma actividade de rotina ria Fernanda Ruivo conversou com um
acabou numa representação que pôs em dos elementos desta comunidade. Per-
palco 60 alunos, da pré-primária ao 9.º cebeu então que a AI tinha um papel a
ano. Foi assim que Maria Fernanda che- assumir na integração destas pessoas
© Grupo Local 32-Leiria gou à AI, em busca de informações para na sociedade leiriense e desde então é a
Elementos do grupo local na I Maratona Carlos Lopes.
a sua peça teatral. Na altura “pouco isso que o grupo se tem dedicado, com
Quando o Verão terminar, o Grupo Lo- sabia sobre a organização”, confessa, acções que vão desde os cursos EFA às
cal 32 da Amnistia Internacional (AI) mas foi então criado um laço – consoli- aulas gratuitas de flamenco.
Portugal, da cidade de Leiria, promete dado oficialmente em Outubro de 2001 –,
Para além das três áreas referidas, a
uma rentrée em grande. Primeiro, vai que nunca mais se desfez.
coordenadora explica que o grupo se
retomar um programa que tinha sido A estrutura da AI também não deixou dedica a muitas outras, que surgem in-
feito em tempos no Rádio Clube de Leiria mais a Educação para os Direitos Hu- formalmente. “Trabalhamos com casos
para falar sobre direitos humanos. Em manos, até porque alguns dos alunos concretos de pessoas que nos pedem
segundo lugar, vai procurar dar segui- de então fazem parte dos 15 elementos ajuda”, diz. É por isso que defende que
mento aos cursos EFA, de Educação e que compõem o grupo, embora apenas para fazer parte desta estrutura da AI
Formação para Adultos, voltados para a metade forme o chamado “núcleo duro”, não é preciso muito tempo, mas acima
população cigana. Em terceiro, fica pro- refere a coordenadora. Para além da for- de tudo “interesse pela vida do outro e
metida a aposta nas novas tecnologias, mação de crianças e jovens, ou melhor, a acreditar que em grupo se pode cres-
com a criação de um blog onde todos vão par dela, está o trabalho do Grupo Local cer muito mais do que sozinho”.
poder conhecer, atempadamente, as ac- 32 que liga Leiria a um pequeno país do
tividades programadas pelo grupo para a Corno de África: a Eritreia. Maria Fernan-
cidade de Leiria. Maria Fernanda Ruivo, da Ruivo esclarece: “na altura, quando
FICHA TÉCNICA
coordenadora da estrutura da AI desde a Grupo Local 32 – Leiria
era criado um grupo local, a sede da AI
sua origem, levanta um pouco mais o véu em Londres propunha que ficássemos
e anuncia um festival de cinema sobre COORDENADORA: Maria Fernanda Ruivo
a tratar de um país”. Isto implicava (e
Direitos Humanos, numa parceria com o implica) escrever apelos em nome dos LOCAL DE ENCONTRO: Na sede ou em
Núcleo do Oeste da AI Portugal. muitos prisioneiros existentes no ter- casa dos elementos do grupo.
A par destas inovações, a coordenadora ritório, “porque há um Governo que não PERIODICIDADE DAS REUNIÕES: Sempre
promete continuar o trabalho nas três tolera oposição”, e tornar públicas as que necessário.
principais áreas de acção do Grupo Local violações aos direitos humanos que aí
são cometidas. CONTACTO: fernanda.ruivo@sapo.pt
32. Desde logo, a Educação para os Direi-
22 Notícias • Amnistia Internacional

ASSEMBLEIA GERAL DA PODE CONTACTAR OS GRUPOS E NÚCLEOS DA

AMNISTIA INTERNACIONAL
AMNISTIA INTERNACIONAL ATRAVÉS DE:
(grupo, localidade, coordenador, email, blog)

PORTUGAL
GRUPO LOCAL 01 (Lisboa)
grupo1.aiportugal@gmail.com; http://grupo1aipor-
tugal.blogspot.com/
GRUPO LOCAL 03 (Oeiras)
Como acontece todos os anos, realizou-se No terceiro ponto da ordem de trabalhos Lucília José Justino: zjustino@gmail.com
GRUPO LOCAL 06 (Porto)
já a Assembleia Geral Ordinária de 2009 estiveram os Estatutos da AI Portugal, Virgínia Silva: aiporto6@gmail.com; http://aiporto.
da Amnistia Internacional (AI) Portugal, onde também foram feitas alterações de blogspot.com
com o intuito de discutir os principais fundo, como: a mudança da designação GRUPO LOCAL 14 (Lourosa)
documentos e as posições a assumir pelo abreviada de AISP (Amnistia Internacio- Valdemar Mota: aigrupo14@gmail.com
GRUPO LOCAL 16 (Ribatejo Norte)
movimento. Decorreu a 28 de Março na nal Secção Portuguesa) para AI Portugal; Yvonne Wolf: yvonne_wolff@adsl.xl.pt
Escola Superior de Comunicação Social, a conversão do Conselho Fiscal em Con- GRUPO LOCAL 18 (Braga)
em Lisboa, mas a extensa ordem de tra- selho de Responsabilização e Controlo; José Luís Gomes: ai18braga@gmail.com
GRUPO LOCAL 19 (Sintra)
balhos permitiu apenas, nesta reunião a criação da figura de Director Execu- Fernando Sousa: ai.grupo19@gmail.com; http://
de membros da AI, aprovar os Relatórios tivo e alterações exigidas pela coerência blog-19.blogspot.com
de Actividades e de Contas referentes a necessária entre os Estatutos e as res- GRUPO LOCAL 24 (Viana do Castelo)
Luís Braga: luismbraga@sapo.pt
2008, bem como os Planos Operacional tantes normas internas. GRUPO LOCAL 32 (Leiria)
e Estratégico para 2009 e o orçamento Maria Fernanda Ruivo: fernanda.ruivo@sapo.pt
No final da Assembleia Geral Extraor-
disponível para estas actividades. GRUPO LOCAL 33 (Aveiro)
dinária foram discutidos dois documen- Joana Valente: amnistiaveiro@gmail.com; http://
A troca de ideias e de opiniões conti- tos. No primeiro, “Uma posição da AI amnistiaveiro.blogspot.com/
nuou depois, a 30 de Maio, na Batalha, Portugal sobre o casamento civil entre
NÚCLEO DE ALMADA
onde teve lugar a Assembleia Geral Ex- pessoas do mesmo sexo”, a discussão Marlene Oliveira da Conceiçã: ai.nucleoalmada@
traordinária. A Ordem de Trabalhos pre- estendeu-se, não tanto pelo conteúdo do gmail.com; http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/
via a discussão e aprovação de normas documento mas acerca do momento para NÚCLEO DE ARCOS DE VALDEVEZ
Rui Mendes: rbritomendes@gmail.com
internas que estavam desactualizadas o tornar público. Isto porque a questão
NÚCLEO DE CASTELO BRANCO
face às evoluções da secção, tendo o faz parte do programa eleitoral do Parti- (a designar): ai_nucleo_castelobranco@yahoo.
primeiro sido o regulamento eleitoral da do Socialista e se a AI Portugal apresen- com; http://amnistiacastelobranco.blogspot.com/
AI Portugal. Embora se tenham mantido tasse publicamente a sua posição agora, NÚCLEO DE CRIANÇAS (Vila Nova de Famalicão)
Vitória Triães: vitoriatriaes@msn.com
algumas opções, como as candidaturas poderia ser entendida como apoio ao NÚCLEO DE ESTREMOZ
para os órgãos sociais serem por lista partido. Não houve conclusões, pelo que Fátima Crujo: amnistiaetz@gmail.com
e não nominais, foram realizadas alte- ficou de se desenvolver o debate. NÚCLEO DE GUIMARÃES
Cristina Lima: amnistia.guimaraes@gmail.com
rações nos prazos e processos de apre-
Por fim, foi apresentado o documento “AI: NÚCLEO DE MATOSINHOS
sentação das candidaturas e nos tipos Otília Gradim Reisinho: amnistia.matosinhos@
um olhar crítico”, subscrito por um grupo
de voto (presencial, por correspondência gmail.com; http://nucleodematosinhos.blogspot.
de membros da AI Portugal, que contesta com/
e por delegação).
algumas das evoluções do movimento, NÚCLEO DO OESTE / CALDAS DA RAINHA Teresa
O segundo ponto da ordem de trabalhos que, na sua opinião, o têm descarac- Mendes: ai.nucleooeste@gmail.com
NÚCLEO DO PORTO
foi a revisão das Normas de Enquadra- terizado. Grande parte do texto colheu o André Rubim Rangel: nucleo.ai.porto@gmail.com
mento e Relacionamento das Estruturas apoio da maioria dos presentes, contudo, NÚCLEO DE TORRES VEDRAS
Operacionais da AI Portugal (NEREOP), como se pretende levá-lo à consideração Ana Lopes: aitorresvedras@gmail.com; http://blog.
comunidades.net/aitorresvedras/
nas quais foi feita uma arrumação sis- internacional (por exemplo, na Reunião
témica. Na versão original eram referi- do Conselho Internacional, em Agosto GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS
dos de forma desarticulada “grupos” e – ver rubrica “Retrato” desta revista), HUMANOS
Fernanda Sousa: mfpsousa@gmail.com
“núcleos”, pelo que optou-se por usar deverá ser mais debatido e consensuali-
CO-GRUPO DA CHINA
sempre a expressão “estruturas”, ex- zado. Para esse efeito tem sido discutido Maria Teresa Nogueira: nogueiramariateresa@
cepto quando se regula especificamente no Conselho Geral (que reúne duas vezes gmail.com
algum tipo de estrutura. Em muitas por ano e é composto pelo Presidente CO-GRUPO DA PENA DE MORTE
Raul Gaião: raullealg@gmail.com
partes das NEREOP faltava referência da Assembleia Geral, pelos Presidente e GRUPO DE JURISTAS
aos ”Co-grupos”, que agora foi incluída. Tesoureiro da Direcção, pelo Presidente Sónia Pires: sonia.c.pires@gmail.com
Embora estivesse também prevista a re- do Conselho de Responsabilização e Con- NÚCLEO LGBT
Manuel Magalhães: lgbt.amnistia@gmail.com
visão da norma que regula as finanças trolo e por delegados dos grupos locais).
das estruturas (propondo-se eliminar as Se ainda não existe um grupo da Amnistia Interna-
várias contas bancárias para centralizar Conheça melhor as conclusões da Assembleia Geral cional Portugal perto de sua casa, pode sempre ser
Ordinária e Extraordinária em www.amnistia-interna- pioneiro e começar o activismo na sua localidade.
tudo numa só conta), não foi reunido
cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Internacional Fale connosco pelo boletim@amnistia-internacio-
consenso, pelo que foi criado um grupo Portugal) nal.pt ou ligando 213 861 652.
de trabalho para encontrar alternativa.
Notícias • Amnistia Internacional 23

PRÉMIO AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL NO


INDIE LISBOA 2009
Entre 23 de Abril e 3 de Maio decorreu na capital portuguesa a sexta edição do Festival internacional de cinema IndieLisboa 2009.
A Amnistia Internacional Portugal, com o apoio da Fundação Serra Henriques, foi uma vez mais parceira do evento, onde atribuiu o
reconhecido prémio com o nome da organização, no valor de 1.000 euros. O júri deste ano, composto pela actriz Anabela Teixeira, pelo
jornalista Paulo Moura e pelo produtor Fernando Vendrell, teve a difícil tarefa de eleger o vencedor entre as oito longas-metragens a
concurso e as quatro curtas. O objectivo era premiar o filme que melhor retratasse uma realidade relacionada com o tema da dignidade
humana e a escolha recaiu sobre Los Herederos, de Eugenio Polgovsky. No entanto, a qualidade dos filmes exigiu ainda a atribuição de
duas menções honrosas. O “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” falou, via email, com os três realizadores premiados

VENCEDOR não estivesse lá”. Talvez por isso, o docu-


mentário decorre sem diálogos ou narra-
são situações abandonadas do discurso
colectivo. Dá-me muita raiva a injustiça
Los Herederos, de Eugenio Polgovsky, ção, deixando a câmara contar a história e as desigualdades que há no meu país.
México, 2008, 90’ destas crianças, “herdeiras da pobreza e
“É um filme que tem uma beleza indis-
de uma miséria de gerações”.
cutível e que de uma forma grandiosa
Amnistia Internacional: Porquê fazer nos toca o coração e nos leva a reflectir
um filme sobre o trabalho infantil? sobre valores fundamentais para o ser
Eugenio Polgovsky: Senti uma grande humano e a relação com o social: o tra-
indignação pelas condições de pobre- balho infantil, a educação, a liberdade,
za destas crianças, mas também uma a pobreza, a cultura, a tradição”.
admiração pelas suas capacidades, ta- Anabela Teixeira, actriz, um dos elemen-
lentos e pela infinita dignidade com que tos do júri do Prémio da AI Portugal, a
lutam para sobreviver. Senti a necessi- propósito da atribuição do galardão a Los
dade de fazer o que pudesse para tornar Herederos. Leia mais em www.amnistia-
© Privado
visível a sua situação e quis fazer-lhes internacional.pt (Aprender/Revista da
Aos primeiros raios de sol, mais de um uma homenagem, uma espécie de sin- Amnistia Internacional).
milhão de crianças acordam no México fonia cinematográfica em que a sua hu-
AI: Acredita que os seus filmes podem
para um estafante dia de trabalho, ape- manidade, conhecimentos, habilidades e
mudar alguma coisa?
sar de este ser proibido até aos 14 anos talentos fiquem reflectidos.
de idade. Uma realidade que se sente EP: Talvez. Encontro frequentemente nos
AI: Mas tinha alguma intenção social ou
muito particularmente no meio rural, mas espectadores uma grande motivação e
política?
que é tolerada também na cidade. “Para energia para mudarem as coisas depois
muita gente isto é normal”, esclarece o EP: Uma criança que passa sete horas de verem os meus filmes. Creio que os
mexicano Eugenio Polgovsky, de 32 anos, diárias debaixo de sol, desnutrida, tem filmes não podem mudar nada só por si,
realizador, produtor, editor e director de um olhar sério que lhe gera um silêncio mas as pessoas podem fazê-lo e talvez o
fotografia do filme Los Herederos, vence- que só pode ser reflexo de uma injustiça cinema seja um impulsionador.
dor do Prémio Amnistia Internacional muito grande. Tendo em conta que vive-
AI: É esse o papel que os filmes devem
Portugal no Indie Lisboa 2009. mos na 15ª economia do mundo, é ina-
desempenhar?
ceitável que isto aconteça quando temos
Para Polgovsky, o trabalho infantil nada alguns dos homens mais ricos do mundo. EP: O cinema pode sensibilizar e cons-
tem de normal, pois ver crianças de seis Interessa-me ainda que os consumidores ciencializar, mas pode ajudar a prejudi-
e sete anos a dedicarem-se às lides do- se dêem conta do que consomem, da ori- car o mundo. Pode ser uma arma ou um
mésticas, a trabalharem em fábricas ou gem dos produtos. Poucos imaginam que remédio.
na construção civil e a vergarem-se na o tomate que comem pode ser cortado por
apanha do tomate ou de malaguetas, é AI: O que representa para si esta dis-
uma criança de sete anos que às vezes tinção da Amnistia Internacional Por-
“uma grande tristeza”. Um sentimento morre esmagada por um tractor.
que rapidamente “se converteu no im- tugal?
pulsionador para este projecto”, diz, ex- AI: No filme Trópico de Câncer também EP: Representa muito. Não importa tanto
plicando o que o levou a fazer este seu abordava problemas de direitos huma- o dinheiro, mas o reconhecimento e a
segundo documentário, depois de Trópico nos. Porquê estas opções? aprovação moral e ética de uma orga-
de Câncer. Para retratar o dia-a-dia des- EP: Não sei exactamente. Sinto muito res- nização como a Amnistia Internacional,
tas crianças, Polgovsky passou dois anos peito e admiração pela luta dos seres hu- tão respeitada e comprometida com os
com elas, até se tornar uma “testemu- manos em circunstâncias difíceis e in- direitos humanos. É um prémio que me
nha de instantes que acontecem como se teressa-me que mais gente a veja, já que estimula a continuar.
24 Notícias • Amnistia Internacional

Entrevista completa em www.amnistia-interna- Entrevista a Richard Brouillette em www.amnis- voltou quando Gargot assistiu à primeira
cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Interna- tia-internacional.pt (Aprender/Revista da Am- Gacaca, no Ruanda. “Ia com enorme
cional). Mais informações sobre o filme em www. nistia Internacional). Mais informações sobre o
tecolotefilms.com filme em http://encirclement.info/ expectativa, por ser outro modo de fa-
zer justiça e de promover a reconcilia-
ção”, diz. Alguns anos depois, em 2007,
MENÇÃO HONROSA “É um filme que é revelador dos misté- quando filmou os julgamentos nacionais,
L’Encerclement, de Richard Brouillette, rios que nos levam a viver desta forma Gargot já sabia que estes se tinham tor-
Canadá, 2008, 160’ e não de outra. Abre-nos o cérebro e nado muito pouco transparentes. Assim,
dá-nos luz”. se ao início o realizador “estava fasci-
Anabela Teixeira, actriz, um dos elementos nado pela justiça e pela lei como para-
do júri do Prémio da AI Portugal, a digmas civilizacionais universais”, no
propósito da Menção Honrosa atribuída final percebeu que os dois sistemas de
a L’Encerclement. Leia mais em www. justiça “estão dominados por assuntos
amnistia-internacional.pt (Aprender/ políticos”. Apesar da rápida conclusão,
Revista da Amnistia Internacional) o realizador espera, com D’Arusha à
Arusha, levantar “mais questões do que
dar respostas”.
© Privado MENÇÃO HONROSA Entrevista a Christophe Gargot em www.amnistia-
internacional.pt (Aprender/Revista da Amnistia
Se dissermos que L’Encerclement, de D’Arusha à Arusha, de Christophe Internacional)
Richard Brouillette, é um filme com quase Gargot, França/Canadá, 2008, 114’
três horas e que é feito de depoimentos,
muitos leitores ficam com certeza as- “É um filme que nos leva a rever a des-
sustados. Se acrescentarmos que se de- graça de Ruanda e da miséria que é a
bruça sobre o neo-liberalismo, a maioria violência, através de imagens e de de-
evitaria até vê-lo. No entanto, é preciso poimentos belos e fortíssimos”.
sublinhar que tem sido um sucesso e que Anabela Teixeira, actriz, um dos elemen-
o público do IndieLisboa 2009 o elegeu tos do júri do Prémio da AI Portugal, a
como o melhor entre as mais de duas propósito da Menção Honrosa atribuída a
centenas de filmes exibidos. Surpreen- © Privado D’Arusha à Arusha. Leia mais em www.
deu também o júri do Prémio Amnistia amnistia-internacional.pt (Aprender/
Internacional Portugal, que lhe atribuiu Na última década foram feitos vários Revista da Amnistia Internacional).
uma Menção Honrosa. filmes que procuraram retratar o que
foi o genocídio dos tutsis pelos hutus no
Para Richard Brouillette, o sucesso não é Ruanda, em 1994. O francês Christophe
tão surpreendente assim. “Vi audiências Gargot resolveu ir mais longe e depois
cativadas por intelectuais em palestras de vários anos como consultor nas áreas
e sempre pensei que este filme iria en- do ambiente, do desenvolvimento inter-
contrar o seu caminho até ao público, nacional e dos projectos humanitários,
porque há uma necessidade de ana- decidiu realizar o seu primeiro documen-
lisar em profundidade”. Foi isso que o tário sobre a justiça que está a tentar
realizador, produtor, editor, argumentista ser feita internacionalmente, no Tribunal
e investigador de 39 anos tentou fazer Criminal Internacional para o Ruanda
nos 12 anos que dedicou ao documen- (TCIR), e ao nível nacional, nas chama-
tário, procurando perceber a ideologia das Gacacas. Uma abordagem diferente,
neo-liberal que hoje existe, a sua origem, que levou o júri do Prémio Amnistia Inter-
as suas ideias e as suas consequências. nacional Portugal a distinguir D’Arusha
Para tudo isto entrevistou 13 dos mais à Arusha com uma Menção Honrosa.
prestigiados intelectuais do mundo, como
Noam Chomsky e Ignacio Ramonet. Tudo começou em 1999, revela Chris-
tophe Gargot, quando visitou um amigo
No final Brouillette espera que os espec- em Arusha, na Tanzânia, onde está se-
tadores percebam que “a intenção por diado o TCIR. “Assisti pela primeira A Amnistia Internacional agradece ao
detrás das reformas neo-liberais é ins- vez a um julgamento internacional”, IndieLisboa pela parceria, aos três ele-
tituir uma nova forma de colonialismo, recorda, revelando a “frustração” que mentos do júri que foram incansáveis
que não tem respeito pelos direitos sentiu ao ver que não havia público, nem na visualização dos filmes e na sua dis-
humanos (ou pelo ambiente)”. Acredita, representantes da comunidade interna- cussão e à Fundação Serra Henriques,
por isso, que L’Encerclement pode ajudar cional, quando o normal seria esperar que continua a possibilitar a existência
a despertar os cidadãos, tornando-os uma sala cheia. Em 2002, o sentimento deste prémio.
“mais activos política e socialmente”.
Notícias • Amnistia Internacional 25

JOVEM
Torna-te um activista pelos Direitos Humanos
Ainda antes do ano lectivo terminar, a Amnistia Internacional fez anos e a nossa ReAJ-Rede de Jovens foi
finalmente apresentada ao público. Fica a saber tudo sobre o evento e junta-te a este grupo de activistas
que acredita que os jovens têm um papel fundamental a desempenhar na defesa e promoção dos direitos
humanos. Acredita, há muito coisa que podes fazer! Ainda nesta secção do “Notícias da Amnistia Inter-
nacional Portugal” deixamos-te um desafio para este Verão. Contamos contigo!

REPORTAGEM DA FESTA DE Como a noite era de festa, seguiu-se o “Defender os direitos humanos é uma
APRESENTAÇÃO DA REAJ concerto dos Corsage, com um som si- das tarefas mais nobres e bonitas que
multaneamente ligeiro e melancólico, conheço, mas não é um mar de rosas.
Por Gonçalo Marcelo, Coordenador da Rede de
Jovens da Amnistia Internacional Portugal
profundo mas a espaços irónico. Foi uma Há muitos obstáculos pela frente e se-
hora muito bem passada, que captou a rão confrontados com pessoas que vos
atenção da audiência. Atingiu-se o ru- dirão que não vale a pena lutar. Irão
bro quando, já perto do final, o vocalista também deparar-se com a indiferença e
conseguiu introduzir na letra da música apatia, muitas das vezes vindas daque-
o lema dos panfletos que tínhamos dis- les que vos são próximos e de quem
tribuído – Discriminar não é humano! mais gostam.
Chegada a meia-noite e o ansiado dia O que eu aprendi é que não devemos
© ReAJ 18 de Maio, brindámos (o famoso brinde levar a mal estas atitudes. Muito pelo
à liberdade!) à Amnistia Internacional e contrário, é nestas alturas que devemos
A 17 de Maio houve um serão de Domingo comemos um bolo feito pela Sofia, um reforçar a nossa fé em nós próprios e
diferente. Contra todas as expectativas, dos membros da ReAJ. Até ao final da nos outros. Por vezes o mundo vai pare-
conseguimos encher a Fábrica Braço de noite, ainda contámos com a animação cer-vos um sítio tão aterrador que terão
Prata, em Lisboa, com activistas que vie- do convidado especial, o mágico Houdini, dúvidas sobre se realmente vale a pena
ram celebrar o 28º aniversário da secção que nos divertiu com os seus truques de serem activistas de direitos humanos.
portuguesa da Amnistia Internacional cartas. A todos deixamos um profundo É nestas alturas que pego nas Cartas a
(AI), que se assinalou a 18 de Maio, e agradecimento e contamos ver-vos nos um jovem poeta, de Rilke, e leio o que
aproveitaram para ficar a conhecer a próximos eventos da ReAJ! Mais infor- ele dizia a outro poeta sobre a necessi-
ReAJ-Rede de Jovens da organização, mações através do blog www.reajpor- dade de ser escritor, aconselhando-o a
que tinha organizado a festa e fazia as- tugal.blogspot.com ou através do mail fazer esta simples pergunta a si próprio
sim a sua apresentação pública. redejovem.amnistia@gmail.com. “tenho de escrever?”. É que caso esta
Foi uma noite animada que começou com pergunta seja afirmativa, então o escri-
um jantar de convívio entre os membros tor sabe que é isso que é suposto estar a
da ReAJ e a banda que se associou aos fazer. Aconselho-vos a fazerem-se esta
festejos – os muito promissores Corsage pergunta sempre que tenham dúvidas:
(visitem o MySpace deles, que vale a “É isto que tenho de fazer?” Eu tenho
pena:http://www.myspace.com/cor- fé que irão responder: “Sim, é isto que
sage). Findo o repasto, começou a festa tenho de fazer, é isto que quero fazer”.
propriamente dita. Eu fiz as honras da Tenham ainda sempre em conta outro
casa, servindo de anfitrião, mas houve conselho que ele dava: “tudo tem um
ainda tempo para ouvir Pedro Krupenski, tempo até ser dado à luz (...) a paciên-
Director Executivo da AI Portugal, que deu cia é tudo”.
as boas-vindas a todos, e Ana Monteiro, Mensagem de Ana Monteiro, da direcção da
da direcção da organização, que nos en- Amnistia Internacional Portugal, para todos os
corajou e motivou a sermos capazes de membros da ReAJ, transmitida no dia da apre-
manter a chama acesa (ver caixa). sentação pública do grupo de jovens.
© ReAJ
26 Notícias • Amnistia Internacional

UMA BOA IDEIA PARA TI E PARA MARCA JÁ NA TUA AGENDA! GRUPOS DE ESTUDANTES DA
A TUA ESCOLA: 10.ª CAMPO DE TRABALHO AMNISTIA INTERNACIONAL
DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL
ACABAR COM A POBREZA NO MUNDO!
(Coordenadores e emails/blogs)

Sabias que hoje, bem como em todos os Todos os anos a Amnistia Internacional
• GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
restantes dias do ano, há pelo menos Portugal organiza quatro dias de dedica- (Fátima)
963 milhões de pessoas a passar fome? ção total aos direitos humanos, naquilo a Sandra Maurício: ai_csm@live.com.pt
E que 1.000 milhões de pessoas vivem que chama Campo de Trabalho. A ideia • GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
em bairros degradados? E que há 1.300 é juntar uma centena de jovens, com SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
milhões de pessoas que não têm acesso idades entre os 15 e os 18 anos, num Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
a cuidados de saúde básicos e 2.500 local a designar e durante quatro dias vao.org
milhões que não têm serviços sanitários realizar sessões – umas mais informa- • GE DA ESCOLA BÁSICA 2,3 NUNO
adequados? Números, entre muitos ou- tivas, outras mais lúdicas, outras mais GONÇALVES, (Lisboa)
tros que vos poderíamos apresentar, que participativas – sobre temáticas relacio- Iolanda Machado: iolandamachado@
nadas com os direitos que são de todos gmail.com
provam que em todo o mundo continuam
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
a existir milhões de pessoas a viver em nós, Seres Humanos. Sabes quais são
ALBUFEIRA
situação de pobreza. Vamos combater os 30 artigos da Declaração Universal
Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
estas violações dos direitos humanos. No dos Direitos Humanos? E quais são as amnistiainternacional@hotmail.com;
próximo ano lectivo, toma tu as rédeas principais violações de direitos huma- grupodaesaai.blogspot.com
do mundo e torna-te um activista! nos cometidas no nosso país? Questões • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
que são debatidas no Campo de Trabalho DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
O que tens de fazer? Primeiro aproveita
da Amnistia Internacional, que vai já na Fernanda Vicente: fpacvicente@sapo.pt
o Verão para pensar e planear uma ac-
sua 10ª edição e que este ano se reali- • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
tividade que possas realizar, com os teus ERMESINDE
za entre os dias 28 de Novembro e 01
amigos ou com a tua escola, no dia 17 Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt;
de Dezembro. Marca já na tua agenda!
de Outubro, Dia Internacional para a Er- www.ai-ese.pt.vu
As inscrições são em Outubro. Daremos
radicação da Pobreza. Depois, se tiveres • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
mais informações muito em breve... Está
uma boa ideia fala connosco... Vamos FERNÃO MENDES PINTO (Almada)
atento a www.amnistia-internacional.pt
ajudar-te a pô-la em prática. Lembra- Marta Reis: amreis1@hotmail.com
-te que podem ser coisas simples, como • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
uma exposição, um concerto, uma con- VILHENA (Porto)
ferência, um debate, entre milhares de Carla Ferreira: carlafariaferreira@
outras actividades que podes idealizar. O hotmail.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
objectivo tem de ser um só: alertar todas
LAMAS (Torres Novas)
as pessoas à tua volta para a questão
Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
da pobreza! É preciso que percebam que com
este é um problema que é de todos nós! • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
Indigna-te! Actua! MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
Cristina Soares: crisoaresd@hotmail.
com; amnistisiados.blogspot.com
© AI Portugal
• GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
LISBOA
Ana Matos Ferreira: nucleoai.fdul@
gmail.com
“A temática dos direitos • GE DO ISCTE
humanos cativa-me e para Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com
fazer parte de um grupo • ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEM
de estudantes da Amnis- Gonçalo Marcelo: redejovem.amnistia@
tia Internacional não pre- gmail.com; www.reajportugal.blogspot.
com
cisamos de despender de
tanto tempo assim”
Benjamin Santos, 17 anos, a pro- Se ainda não existe um Grupo da Amnis-
pósito da sua participação no tia Internacional na tua escola, podes ser
tu a criá-lo. Nós dizemos como... Escreve-
Grupo de Estudantes da Escola
-nos para boletim@amnistia-internacio-
Secundária de Ermesinde.
nal.pt ou telefona para o 213 861 652.
© AI Portugal
Notícias • Amnistia Internacional 27

Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” tornamos a apresentar uma análise da
situação financeira da secção portuguesa da organização
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro

SITUAÇÃO ECONÓMICA E em Londres), no ano de 2006, no valor dade do empréstimo contraído, bem como
FINANCEIRA total de 230.000 euros, foi efectuada já liquidar a dívida congelada ainda exis-
Como se pode observar na tabela 1, o em Junho a quarta amortização, desta vez tente (29.467 euros).
primeiro trimestre de 2009 obteve uma no valor de 25.000 euros. Assim, o valor
A AI tem presente a preocupação de pre-
diferença positiva entre receitas e despe- total de amortizações, efectuadas desde o
parar estratégias para um futuro próximo,
sas no valor total de 33.501,76 euros. início de 2008, é de 180.000 euros. fazendo face ao cenário de crise inter-
Na sequência do empréstimo contraído Dada a situação financeira actual, a Am- nacional, que poderá também afectar o
pela Amnistia Internacional (AI) Portugal nistia Internacional Portugal pretende, funcionamento desta Organização Não
ao Secretariado Internacional (sede da AI, até ao final deste ano, amortizar a totali- Governamental.

RECEITA DESPESA SALDO


CONSIGO VAMOS MAIS LONGE
JANEIRO 09 € 63.060,55 € 31.512,40 € 31.548,15
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E APOIANTES
FEVEREIRO 09 € 48.723,40 € 42.241,05 € 6.482,35
Sendo a Amnistia Internacional financia-
da sobretudo por membros e apoiantes, MARÇO 09 € 49.802,19 € 54.330,93 € -4.528,74
continua a ser com muita satisfação que SALDO final 1º trimestre € 33.501,76
verificamos um crescimento no número
de defensores de direitos humanos que TABELA 1 - Receitas e Despesas
contribuem de forma regular para o nosso
trabalho.
14.000
Apresentamos no Gráfico 1 os dados anu- 12.239
12.000 11.378
ais, que indicam apenas membros e apoi-
antes activos, ou seja, que continuam ac- 10.000 8.132

tualmente a efectuar o seu donativo. São 8.000


4.101
já referidos os dados correspondentes aos 6.000
primeiros seis meses de 2009. 4.000 1.777
2.000
Depois de ultrapassar os 12 mil mem-
Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 (até Junho)
bros e apoiantes, a AI Portugal continua

a apostar em melhorar e explorar meios de


comunicação que permitam aproximar a GRÁFICO 1: Evolução do número de membros e apoiantes activos, entre 2005 e Junho de 2009.
organização dos seus activistas, para que
todos saibam a importância do seu con-
tributo nas acções e campanhas em prol de 10.200, foram inscritos através deste mesmo período de 2008, sinal positivo
dos Direitos Humanos. Obrigada. Você faz projecto de rua. neste primeiro semestre do ano.
a diferença! Na primeira fase do Projecto “Face to O projecto “Face to Face” começa também
Face” de 2009, que decorreu entre Feve- a abordar comunidades empresariais,
reiro e Junho, as incansáveis equipas de como foi já o caso das empresas Portu-
colaboradores inscreveram 1.381 novos gal Telecom e Microsoft, que receberam
PROJECTO “FACE to FACE” apoiantes, em oito cidades do país. No o projecto nas suas instalações, como
CARA-A-CARA, CHEGANDO A TODO O PAÍS
entanto, devido ao menor número de horas forma de sensibilização dos seus colabo-
O Projecto “Face to Face”, que assinalou praticado e da crise sentida, os resultados radores e incentivo à participação. Neste
já metade do seu percurso de seis anos, obtidos foram mais baixos do que o espe- sentido, caso queira receber as equipas
continua a ser a principal fonte de ins- rado, tendo como base o plano definido “Face to Face” na sua empresa, contacte
crição de membros e apoiantes. Actual- até 2011. Apesar deste facto, a média de o Departamento de Angariação de Fundos
mente 83% do total de apoiantes e apoiantes inscritos em 2009 é superior da AI Portugal.
membros da AI Portugal, ou seja, cerca relativamente aos resultados obtidos no
28 Notícias • Amnistia Internacional

BOAS NOTÍCIAS
BRASIL policial feito a uma favela do Rio de Ja- membros e apoiantes se terem envolvido
MARCELO FREIXO RECEBE PROTECÇÃO neiro tinha descoberto uma carta, envia- no caso, Marcelo Freixo e Vinicius George
da por um chefe de uma milícia a outro receberam finalmente protecção adequa-
grupo criminoso, pedindo ajuda para o da. O Secretário de Estado da Segurança
assassinato dos dois homens. Pública acrescentou ainda que esta
será providenciada pelo tempo que for
As ameaças surgiram no seguimento da
necessário. A somar a esta boa notícia,
nomeação do deputado para presidente
chegou-nos ainda outras duas: a primei-
da Comissão Parlamentar de Inquérito
ra dá conta da detenção de 39 alegados
que durante seis meses investigou as
membros de milícias e a segunda refere
milícias do Rio de Janeiro e o nível de en-
o acordo estabelecido, a 25 de Junho,
volvimento do Governo nas actividades
© Amnistia Internacional entre o Ministro da Justiça, o Governador
ilícitas destes grupos criminosos, que,
A Amnistia Internacional criou, no pas- do Estado do Rio de Janeiro e a Polícia
recorde-se, são compostos por antigos
sado mês de Junho, um apelo urgente Federal, no sentido de desenvolverem a
polícias, agentes prisionais e bombeiros.
em nome do parlamentar brasileiro do legislação nacional por forma a melhorar
O relatório final ficou concluído em
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) o combate às milícias. Esta era uma
Dezembro do ano passado e foi enviado
Marcelo Freixo, de 42 anos, e do seu as- das medidas sugeridas pelo relatório
ao Ministério Público e ao Parlamento.
sessor, Vinicius George. Os dois tinham, da Comissão de Inquérito presidida por
nesse mesmo mês, recebido ameaças de No passado mês de Junho, depois de Marcelo Freixo.
morte. Antes ainda, em Maio, um raide a Amnistia Internacional e de os seus

MOÇAMBIQUE RÚSSIA ACTUALIZAÇÃO DE CASOS


ABRANCHES PENICELO ANNA POLITKOVSKAYA FATHI EL-JAHMI, LÍBIA

© Privado © Katja Tähjä


© Fred Abrahams/Human Rights Watch
Temos boas novidades relativamente a Temos boas notícias em relação ao caso
Infelizmente não há só boas notícias
um dos casos publicados no número 2 da jornalista russa Anna Politkovskaya,
quando se defende e promove os direitos
desta Série V do “Notícias da Amnistia por quem muitos membros e apoiantes
humanos e é disso que temos agora de
Internacional Portugal”. Referimo-nos à da AI Portugal intercederam no segui-
vos dar conta. No número 2 da Série V
situação de Abranches Afonso Penicelo, mento da última edição do “Notícias”. Os
do “Notícias da Amnistia Internacional
de 39 anos, assassinado em Agosto de quatro homens acusados do seu assas-
Portugal” pedimos a todos para inter-
2007 por agentes da Polícia de Inves- sinato, que ocorreu em Outubro de 2006,
cederem em nome do líbio Fathi el-Jahmi,
tigação Criminal moçambicana, que o tinham sido absolvidos em Novembro do
de 67 anos, detido desde 2004 por criticar
próprio conseguiu identificar antes de ano passado. A AI pedia, às autoridades,
o líder do país, Muammar Khadafi, e por
falecer. No passado dia 11 de Junho o investigação para que fossem presentes
apelar a uma reforma política. Tínhamos
Tribunal de Maputo condenou o agente à justiça os verdadeiros responsáveis pelo
na altura referido que a sua saúde era
da polícia Alexandre Balate a 22 anos de assassinato da jornalista, conhecida por
débil e que as autoridades sabiam desta
prisão pela morte do jovem e ao paga- denunciar as atrocidades cometidas pelo
situação. O prisioneiro foi mantido preso
mento à família de uma indemnização Governo russo contra o povo Checheno.
até Maio, quando foi transferido para
no valor de 13 mil euros. O juiz decretou No passado dia 25 de Junho o Supremo
um hospital na Jordânia onde acabou
ainda a abertura de processos criminais Tribunal russo decretou que os mesmos
por falecer, no dia 21 desse mesmo
contra outros sete agentes da polícia por quatro acusados seriam novamente jul-
mês. A Amnistia Internacional lamenta
participação no assassinato. Parabéns a gados, desta vez por um júri e um juiz
profundamente o sucedido. Desta vez,
todos os que participaram neste apelo diferentes. O julgamento começou a 5 de
não conseguimos fazer justiça!
e obrigada pela vossa ajuda! Agosto.
Notícias • Amnistia Internacional 29

APELOS MUNDIAIS
Na página anterior demos-lhe conta de casos que, graças à ajuda de centenas de pessoas conseguiram
ser resolvidos ou estão no bom caminho... Se cada um de nós enviar um postal, serão milhares a chegar
às autoridades. E esta é uma forma de pressão internacional que, muitas vezes, é eficaz!
Nesta revista falamos-lhe de mais quatro pessoas que precisam desta mobilização mundial. Tudo o que
tem de fazer é enviar um postal.

CONHEÇA OS CASOS E PARTICIPE!


A SI CUSTA MUITO POUCO E PARA TODAS ESTAS PESSOAS A MUDANÇA PODE SER GRANDIOSA.
ELES CONTAM CONSIGO!
30 Notícias • Amnistia Internacional

ETIÓPIA
Prisão perpétua para líder partidária

Birtukan Mideksa, líder do partido etíope União para a Democracia e Justiça, está
a cumprir pena de prisão perpétua, numa cela com dois metros quadrados, por co-
-liderança nos protestos de 2005. Na altura, centenas de pessoas saíram às ruas para
contestar os resultados das eleições que pela terceira vez indicaram Meles Zenawi
para primeiro-ministro. Nos confrontos, pelo menos 187 manifestantes e seis polícias
perderam a vida.
A líder partidária, de 35 anos, mãe de uma rapariga de quatro anos, foi sentenciada
em 2006, mas em meados do ano seguinte, junto com outros que haviam sido con-
denados nas mesmas circunstâncias, assinou uma carta de perdão e foi libertada. Já
em 2008, e após Birtukan ter revelado num encontro público na Suécia os contornos
da negociação do seu perdão, foi novamente detida, ao regressar à Etiópia. O Governo
© Amnistia Internacional
etíope concedeu-lhe então três dias para que se retractasse, o que Birtukan Mideksa se
recusou a fazer, levando a que o seu perdão fosse revogado.
Apesar de lhe serem permitidas visitas, a Amnistia Internacional teme que, devido ao seu extremo isolamento, venha a ser alvo de
maus-tratos. Junte-se a nós num apelo em nome de Birtukan Mideksa, a ser enviado ao Comissário Europeu para o Desenvolvimento
e a Ajuda Humanitária, que pode pressionar fortemente o governo etíope para a libertação da activista, uma vez que a Etiópia recebe
ajuda financeira de vários países.
Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)

IRÃO
Prisioneiro de consciência a cumprir pena não oficial

Mansour Ossanlu, sindicalista e defensor dos direitos humanos iraniano, está a cumprir
uma pena de cinco anos por “actos contra a segurança nacional” e por “propaganda
contra o regime”. Mansour, de 49 anos, casado e pai de dois filhos (de 17 e 23 anos),
trabalha como condutor de autocarros e é presidente do Sindicato de Trabalhadores da
Rodoviária de Teerão e Subúrbios.
O prisioneiro já havia sido detido anteriormente por duas vezes, num total de nove
meses, por actividades relacionadas com o sindicato e é frequentemente perseguido
pelas autoridades iranianas, dentro e fora da prisão. A Amnistia Internacional acredita
que é um prisioneiro de consciência, detido apenas pelo exercício pacífico do seu direito
de associação.
Mansour Ossanlu foi julgado em Fevereiro de 2007 e recorreu da sentença, mas esta
foi reconfirmada. No entanto, o tribunal nunca emitiu oficialmente o veredicto, o que
impossibilita os seus advogados de contestarem a decisão. A Amnistia Internacional
acredita ainda que o seu estado de saúde é débil e que não lhe está a ser disponibi-
lizado o devido acompanhamento médico. A sua esposa acrescentou que não lhe tem
© ITF sido permitido consultar os seus advogados, desde Agosto de 2008.
Junte-se a nós num apelo às autoridades iranianas pela libertação imediata e incondi-
cional de Mansour Ossanlu.
Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
Notícias • Amnistia Internacional 31

MÉXICO
Defensor dos Direitos Humanos detido injustamente

Raúl Hernández, activista dos direitos humanos dos povos indígenas, foi detido a 17 de
Abril de 2008 quando passava por um rotineiro checkpoint militar, acusado do homicí-
dio de Alejandro Feliciano García, a 1 de Janeiro de 2008, na cidade de El Camalote,
em Guerrero, México. Fontes não confirmadas indicam que o falecido tinha ligações à
polícia e ao Exército.
Junto com Raúl Hernández, foram detidos outros quatro activistas da Organização do
Povo Indígena Me’phaa (OPIM), acusados de instigar o crime. Ao fim de 11 meses de
prisão, em Março deste ano, as acusações que pendiam sobre os quatro activistas
foram abandonadas por falta de provas e estes foram libertados. Raúl Hernández
permanece detido, com base em dois testemunhos oculares que, de tão semelhantes,
© Javier Verdin/ LA
aparentam terem sido pré-preparados. Além disso, não foram tidas em conta outras
provas importantes, como o testemunho de álibis que provam que Raúl Hernández não
estava no local do crime no dia do assassinato.
A Amnistia Internacional considera Raúl Hernández um prisioneiro de consciência e acredita que a acusação de homicídio é um cas-
tigo contra a organização a que pertence e que surge como represália pelas suas actividades legítimas de promoção dos direitos dos
Indígenas. Junte-se a nós num apelo para que Raúl Hernández seja imediata e incondicionalmente libertado.
Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)

PAQUISTÃO
Cientista desaparecido no dia do casamento

Atiq-ur Rehman, cientista paquistanês da Comissão da Energia Atómica do país, de-


sapareceu sem deixar rasto no dia do seu casamento. Atiq-ur saiu a 25 de Junho de
2004 de casa para resolver detalhes relativos à sua boda, que decorreria nessa mesma
tarde, mas não regressou. Os seus pais, as suas seis irmãs e os restantes membros
da família têm sido repetidamente interrogados pelas autoridades acerca das suas
actividades e filiações.
A família dirigiu-se à polícia no dia do desaparecimento, mas foi impedida de apresen-
tar queixa uma vez que Atiq-ur se encontraria sob custódia de uma Agência de Infor-
mações de Segurança. Foi, então, declarado como desaparecido. Os seus familiares já
se voltaram a encontrar com várias entidades públicas que, simplesmente, os remetem
para outras autoridades. Alguns oficiais do Exército, inclusive, já os alertaram para que
© Privado evitassem publicidade e procedimentos legais em torno do caso.
Desde que o Paquistão se aliou à “guerra ao terrorismo” norte-americana, centenas
de pessoas têm sido arbitrariamente detidas, suspeitas de actividades terroristas, sendo mantidas em instalações secretas, sem
qualquer acesso às famílias, advogados ou tribunais e correndo o risco de tortura e de outros maus-tratos. Junte-se a nós num apelo
às autoridades paquistanesas para que Atiq-ur Rehman seja prontamente entregue à sua família.
Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
32 Notícias • Amnistia Internacional

AGENDA
ESTE VERÃO TIRE FOTOGRA- melhores trabalhos jornalísticos sobre a EXPOSIÇÃO DE CARTOONS EM
FIAS... PELAS CRIANÇAS temática da deficiência. Os profissionais MATOSINHOS
da comunicação podem enviar reporta-
gens que tenham sido realizadas du- A todos os que não tiveram a oportuni-
rante o ano de 2008 e que promovam os dade de visitar a exposição “A Liberdade
direitos humanos, a dignidade humana é um Risco” no mês de Maio, em Lisboa,
e a inclusão social dos portadores de a AI anuncia que vai estar novamente
deficiência. Os trabalhos têm de ter sido aberta ao público entre os dias 5 e 27
publicados na imprensa, rádio ou tele- de Setembro, no Cine-Teatro Constan-
visão. A Amnistia Internacional Portugal tino Nery, em Matosinhos. Como o nome
© Nura Younis
é, pelo segundo ano consecutivo, júri do indica, a exposição integra cartoons
Prémio cujos resultados serão conheci- subordinados ao tema da Liberdade de
A 20 de Novembro assinalam-se duas Imprensa e espelha esta realidade em
décadas passadas desde a adopção dos a 21 de Fevereiro. Mais informações
em www.apd.org.pt diferentes regiões do mundo, uma vez
pelas Nações Unidas da Convenção so- que os humoristas gráficos são oriundos
bre os Direitos das Crianças. Apesar da de vários países. Uma mostra interna-
importância do documento, os Estados cional que resulta da parceria entre a AI
Unidos da América não o ratificaram. PARTICIPE NO ESTUDO SOBRE
LGBT Portugal e a FecoPortugal-Associação de
Por isso, a secção chilena da Amnistia Cartoonistas e que chega agora ao Norte
Internacional (AI) criou uma original do país pelas mãos do Núcleo de Mato-
campanha, denominada “Um Flash pe- sinhos, com o apoio da Câmara Munici-
los Direitos das Crianças”, que visa con- pal local. A não perder!
seguir que os norte-americanos adoptem
o documento internacional que prevê,
para todas as crianças do mundo, iguais FESTIVAL DE VÍDEO SOBRE
direitos civis, políticos, económicos, so- MIGRAÇÕES E DIVERSIDADE
ciais e culturais.
O que lhe pedimos a si é que este Verão
tire uma fotografia que expresse o seu
© Katja Tahja
desejo que os Estados Unidos da Améri-
ca ratifiquem a Convenção. Pode ver
Um grupo de investigadores da Escola PLURAL+ é o título de um festival bem
exemplos em http://www.facebook.com/
de Psicologia da Universidade do Minho, diferente daqueles a que nos habituá-
group.php?gid=165478840004&ref=ts.
com o apoio da Comissão para a Cidada- mos a ver neste Verão. Não tem bandas
Depois só tem de enviar a imagem, em
nia e Igualdade de Género, está a realizar de música, não tem palco ou recinto
formato digital, para ratificacion.crc@
um estudo que pretende investigar, em específico e não se paga bilhete de en-
gmail.com (com indicação do seu nome
Portugal, a discriminação em função da trada. No entanto, destina-se a todos os
e cidade/país). Em Novembro todas as
orientação sexual. O estudo está a ser jovens do mundo, com idades entre os 9
fotografias vão ser enviadas ao governo
desenvolvido com base em questionários e os 25 anos. O objectivo é que, até 30
norte-americano. Não fique fora desta
online e destina-se não apenas à popu- de Setembro, dediquem algum tempo a
acção... Um impacto significativo exige
lação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e conhecer melhor a comunidade de imi-
muitos, muitos flashes... Participe, pe-
transgéneros), mas também a heteros- grantes do país onde vivem ou nasceram,
las crianças de todo o mundo!
sexuais. Tudo o que tem de fazer é, até neste caso, Portugal. Depois só têm de
30 de Agosto, dirigir-se ao site http:// realizar um vídeo, com duração entre 1 e
estudoideiaslgbt.blogspot.com, se for 5 minutos, que demonstre os problemas
CONCURSO PARA A COMUNICA- heterossexual, ou à página http://estu- por que passam estas pessoas, as suas
ÇÃO SOCIAL dopoplgbt.blogspot.com, se for LGBT. conquistas e a sua identidade. O vídeo
Até 15 de Janeiro de 2010 estão aber- Os questionários têm um tempo médio pode expressar pensamentos, apresentar
tas as candidaturas ao Prémio Dignitas de resposta de cerca de 20 minutos. O opiniões, relatar factos, ou dar sugestões
2009, atribuído anualmente pela As- anonimato e a confidencialidade são ga- e tudo isto em formato de animação,
sociação Portuguesa de Deficientes aos rantidos. documentário, drama, música, comédia,
Notícias • Amnistia Internacional 33

entre muitas outras formas originais de jecto. Mais informações brevemente em O livro conta a história verídica da família
promover o respeito e o reconhecimento www.amnistia-internacional.pt de Pari, amiga da autora, cujos três irmãos
mundiais por estas populações. Partici- se tornaram inimigos por força da guerra, ou
pem! Representem Portugal! O vence- melhor, da Revolução Islâmica de 1979: Ab-
dor vai receber o Prémio a Nova Iorque, NÃO ESQUEÇA OS MAIS POBRES bas seguiu o exército do Xá, Javad juntou-se
ao partido comunista e Ali uniu-se ao com-
a 18 de Dezembro, Dia Internacional do No próximo dia 17 de Outubro, quando bate às tropas de Saddam Hussein. Uma di-
Migrante. O festival PLURAL+ é uma ini- se assinala o Dia Internacional para a visão interna que ocorreu em muitas famílias
ciativa da Aliança das Civilizações das Erradicação da Pobreza, a Amnistia In- iranianas e que, como disse a autora ao jor-
Nações Unidas, em parceria com a Or- ternacional Portugal vai sair para as
nal Público, ajuda “a compreender as razões
ganização Internacional das Migrações, por detrás da [actual] fúria do povo contra o
ruas de Lisboa para lembrar que em todo governo. [Esta] não foi motivada apenas pe-
entre outras entidades. Todas as infor- o mundo 963 milhões de pessoas pas- las eleições, mas pelo que se passa no Irão
mações disponíveis em www.unaoc.org sam fome todos os dias. Não esqueça a nos últimos 30 anos”.
pobreza! Fique atento a www.amnistia-
ESTUDO SOBRE A POBREZA EM internacional.pt
TOME NOTA
PORTUGAL LEITURAS • 12 de AGOSTO
No âmbito da mais recente campanha Dia Internacional da Juventude
da Amnistia Internacional denominada A GAIOLA DE OURO
“Exija Dignidade”, a secção portuguesa De Shirin Ebadi, A Esfera dos Livros • 30 de AGOSTO
vai no próximo mês de Outubro tornar 250 páginas Dia Internacional dos Desaparecidos
públicas as conclusões de um estudo Numa altura em
• 21 de SETEMBRO
que está neste momento em curso e que que o Irão continua
a abrir noticiários Dia Internacional da Paz
visa compreender qual a percepção dos
em todo o mundo,
portugueses acerca da pobreza no nosso • 5 de OUTUBRO
aconselhamos a
país. A investigação tem por base 1.250 leitura do livro A Dia Mundial do Professor
inquéritos realizados porta-a-porta nas Gaiola de Ouro,
• 10 de OUTUBRO
P.V.P. €20 escrito pela juíza
freguesias mais comummente associa-
das a uma maior incidência de pessoas iraniana Shirin Ebadi, de 62 anos, que em Dia Mundial contra a Pena de Morte
2003 recebeu o Prémio Nobel da Paz pelo tra-
em situação de pobreza. Os dados estão balho desenvolvido em prol da democracia
• 17 de OUTUBRO
a ser analisados pelo SOCIUS-Centro de e dos direitos humanos, particularmente os Dia Internacional para a Erradicação da
Investigação em Sociologia Económica e das mulheres e das crianças. Por tudo isto, Pobreza
das Organizações, do Instituto Superior tem estado na mira do Presidente iraniano
• 18 de OUTUBRO
de Economia e Gestão, parceiro da Am- Ahmadinejad, tendo já por duas vezes sido
presa. Foi ainda impedida de exercer advo- Dia Europeu contra o
nistia Internacional Portugal neste pro-
cacia durante cinco anos. Tráfego de Seres Humanos

Dia Mundial do
Refugiado, 20 de Junho
Por Álvaro José Teixeira Santos
(FecoPortugal)
34 Notícias • Amnistia Internacional

CRÓNICA
Dignidade e Ética Global
Por David Justino*

universal dos direitos humanos e a confundir conduziu ao conceito de privação relativa,


a sua expressão com a sua origem civiliza- entendida como “a falta forçada de uma
cional (“ocidental”) ou social (“burguesa”). combinação de itens relacionados com
Na segunda, tende-se a sacrificar a indivi- as condições materiais de vida, tais como
dualidade à sua condição social: “como se as condições de habitação, posse de bens
pode ser livre na miséria?”. duradouros, e a capacidade de satisfazer
as necessidades básicas”1. Se confrontar-
O problema colocado ganha especial per-
mos este indicador avançado de pobreza na
tinência nos nossos dias com a crescente
© Privado União Europeia com o mais importante dos
preocupação pelo alargamento dos direitos
objectivos de desenvolvimento do milénio
Quando em 10 de Dezembro de 1948 a As- humanos aos direitos sociais e culturais. A
esse relativismo é ainda mais chocante: “1.2
sembleia Geral das Nações Unidas aprovou alteridade globalizada e mediatizada acen-
mil milhões de pessoas por todo o mundo
por maioria a Declaração Universal dos Direi- tuou a afirmação desses direitos: hoje temos
vivem com menos de 1.25 dólar por dia (po-
tos Humanos concretizou um dos mais pro- uma consciência mais actualizada dos pro-
breza extrema). As pessoas extremamente
fundos anseios da Humanidade, com mais de blemas da pobreza, da crescente desigual-
pobres sofrem de fome e subnutrição e não
dois séculos e meio de história e que susten- dade social, das formas mais indignas de
têm possibilidade de aquisição de medi-
tou alguns dos mais marcantes movimentos exploração do trabalho, da banalização da
camentos essenciais ou de acesso a água
sociais da Modernidade. figura do menino-soldado, ou da negação
potável e saneamento básico. Residem
da própria vida humana perante a ortodoxia
Desde os contributos de John Locke e da for- em casas pouco seguras, não têm tempo
religiosa. Dia a dia entram na nossa casa
mulação pioneira do English Bill of Rights nem dinheiro para a educação e vivem
imagens de lugares recônditos, nunca an-
(1689), passando pela Virginia Declaration política e socialmente excluídas das suas
tes imaginados, que são palco violento da
of Rights (1776), que influenciou decisiva- sociedades”2 .
indignidade.
mente a Constituição dos Estados Unidos,
Ao contrário do que muitos receavam, o pro-
e a Déclaration des Droits de l’Homme et du É grande a tentação de recorrer à explicação
cesso de globalização – económica, mas
Citoyen (1789) saída da Revolução Francesa, desculpabilizante da pobreza extrema, da
também cultural – não se traduziu numa
desenvolveu-se à escala mundial um movi- exploração internacional, das desigualdades
maior homogeneização dos valores sociais
mento de afirmação dos princípios e dos va- sociais, da privação do acesso à educação,
ou religiosos, dos modelos de organização
lores inerentes à condição humana que não quando deveria ser maior a indignação
política ou de desenvolvimento social. A
tem paralelo em qualquer outro movimento pela violação objectiva dos mais elemen-
própria construção da modernidade segue
social, cultural ou religioso. tares direitos humanos. Como bem lembra
por vias múltiplas, sem sujeição a para-
Habermas, os direitos sociais e culturais de-
Os factores que nos permitem compreender a digmas pioneiros ou dominantes.
vem constituir requisitos necessários ao exer-
expressão deste fenómeno residem precisa-
cício dos direitos fundamentais, mas nunca É neste contexto de extrema diversidade e de
mente na dimensão universal, sem frontei-
os poderão substituir ou secundarizar. profundas desigualdades que importa valo-
ras civilizacionais ou distinções religiosas
rizar a urgência de uma ética global assente
ou étnicas, que esses direitos assumiram Nesta perspectiva o que poderemos designar
nos direitos fundamentais e sintetizada na
desde os textos fundadores. Em segundo lu- por relativismo social é tão ou mais pertinen-
expressão de abertura do texto fundador:
gar, considere-se o facto de esses mesmos te que o relativismo cultural. O próprio con-
“o reconhecimento da dignidade inerente
direitos se terem sustentado como naturais, ceito de pobreza, na perspectiva monetária
a todos os membros da família humana”.
ou seja, inerentes à condição humana e, dos economistas, considera a gradação que
O direito à dignidade da pessoa humana –
portanto, observáveis e inalienáveis na sua a escala internacional impõe, ao defini-la
mesmo considerando a pluralidade das suas
individualidade. pelo rendimento aquém de um limiar propor-
percepções - continua a ser a grande referên-
cional (60%) do rendimento mediano equiva-
Ainda hoje, o principal desafio que se co- cia para um ideal do século XXI.
lente de um determinado país. Isto quer dizer
loca à defesa desses direitos é não só o 1. REAPN, Documentos de Apoio, nº 8 de Fevereiro
que num país imaginado onde só existissem
desrespeito pelo seu cumprimento, como o de 2006.
“ricos”, destes, pelo menos, 40% seriam
relativismo cultural que tende a matizar a 2. ONU, Os 8 Objectivos de desenvolvimento do
considerados pobres. Maior expressão de Milénio, Campanha 2015.
sua inobservância. Uma das formas mais
relativismo decerto não existirá.
perversas deste processo de “desculpabi-
lização” dos casos de violação dos direitos Nos anos mais recentes, a discussão na * Professor Associado do Departamento de Socio-
humanos é a invocação dos “direitos cul- União Europeia sobre a necessidade de cons- logia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,
turais” ou mesmo dos “direitos sociais”. Nos truir um indicador mais adequado à medição Universidade Nova de Lisboa, escreve no âmbito
da mais recente campanha da Amnistia Interna-
primeiros, tende-se a relativizar a dimensão das diferenças entre os diferentes países, cional: “Exija Dignidade”.
-
AJUDE-NOS A DEFENDER OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO!

TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL

© AP/PA Photo/Khalid Mohammed © UNHCR/H Caux © AP/PA Photo/Halabisaz

TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!

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TODOS OS MEMBROS E APOIANTES DA AMNISTIA INTERNACIONAL RECEBEM:


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• A revista trimestral da Amnistia Internacional com notícias e reportagens relacionadas sobre as mais variadas
temáticas ligadas aos Direitos Humanos

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1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
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Quota Anual: €40 €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) tuguesa, as importâncias indicadas e com a regularidade
indicada 2. Estou informado de que os débitos poderão ser
DESEJO TORNAR-ME APOIANTE
efectuados em datas distintas 3. A Amnistia Internacional
Quantia do donativo: €25 €50 €100 €250 Outro: apenas poderá alterar os montantes após uma informação
Regularidade do donativo: Mensal Semestral Trimestral Anual prévia 4. Irei informar a minha entidade bancária, por es-
crito, caso pretenda cancelar as instruções aqui indicadas
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No valor de € por SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5
dias úteis para reclamar junto da minha entidade bancária,
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