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NOTÍCIAS
04 Abril/Maio/Junho 2009
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75
DOSSIER
O Mundo dos Migrantes
Não coloque os refugiados, os imigrantes, os requerentes de asilo, os
deslocados internos, os apátridas e os retornados todos no mesmo
barco. Saiba distingui-los!
© Fotografia de A. Rodríguez, do ACNUR
EDITORIAL
Refugiados e Nós
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção
ENTREVISTA
António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados
Em Junho de 2005 António Guterres foi nomeado 10º Alto Comissário das Nações Unidas para os
Refugiados. Esteve à frente do governo português entre 1995 e 2002, mas antes ainda, em 1991, ajudou
a fundar o Conselho Português para os Refugiados. Quatro anos passados desde que lidera uma das
maiores organizações intergovernamentais do mundo, António Guterres falou com o “Notícias da Amnistia
Internacional Portugal”
Por Cátia Silva
ou noutro local, porventura a bordo estão que têm tido uma enorme generosidade, imediato à hospitalidade, até porque
várias pessoas cuja solicitação essen- recebendo centenas de milhar (quando não são dos mais desenvolvidos...
cial é económica, procurando uma vida não milhões) de refugiados em circuns-
AG: Estes são precisamente os países
melhor num país mais desenvolvido [ou tâncias particularmente difíceis e que
que receberam enormes fluxos de refu-
seja, imigrantes], mas estão também dão o seu melhor para garantir a sua
giados vindos dos Estados vizinhos. O
refugiados ou requerentes de asilo, ou segurança.
Paquistão ainda hoje tem 1,2 milhões
podem estar mulheres ou crianças víti-
AI: Mas essa generosidade não di- de refugiados afegãos e mesmo assim
mas de tráfico. Portanto, torna-se indis-
minuiu com a guerra ao terrorismo que tem mantido a disponibilidade para con-
pensável criar mecanismos de acesso
começou depois do ataque às Torres tinuar a acolher um elevado número de
aos territórios e garantir que aqueles que
Gémeas de Nova Iorque, em 2001? pessoas. Este tipo de generosidade dos
têm efectiva necessidade de protecção a
países em desenvolvimento deveria ser
encontram. AG: As regras não são as mesmas em
meditado por aqueles que ficam muito
toda à parte. É verdade que os mecanis-
AI: Isso porque os refugiados acabam preocupados quando algumas centenas
mos de segurança, em certas situações,
por chegar aos territórios onde vão de refugiados se dirigem a um país mais
dificultaram o acesso [dos refugiados a
pedir asilo da mesma forma que os imi- desenvolvido.
alguns territórios], mas eu diria que o
grantes, quando as condições deveriam
factor mais preocupante não é esse, mas AI: Mas estará esta generosidade ape-
provavelmente ser outras?
é o desenvolvimento de certas tendências nas ligada à necessidade, ao facto de
AG: Temos verificado crescentes difi- xenófobas em várias partes do mundo, estarem junto a Estados em conflito?
culdades de acesso aos territórios para usando uma atitude muito negativa em
AG: Eles podiam fazer deportações
aqueles que procuram livremente pro- relação à imigração e baralhando muitas
maciças e não o fazem. Isto revela que
tecção e essa é uma das dificuldades vezes a imigração com o asilo, metendo
existe um compromisso com a solidarie-
que mais nos preocupa. Infelizmente, em todos os estrangeiros no mesmo saco e
dade em países, como o Paquistão e a
muitas circunstâncias os refugiados são criando um clima desfavorável à con-
Síria, que nem sequer são signatários da
obrigados a utilizar os mesmos mecanis- cessão de asilo a quem dele necessita.
Convenção de 1951.
mos que se têm vindo a generalizar para
a chamada imigração irregular, nomea- AI: Entre os signatários, e falando ago-
“O que assistimos em todo o ra de países desenvolvidos, foi interes-
damente ligado ao contrabando de seres
humanos. É por isso que é extremamente mundo hoje é à presença de sante ver no UNHCR Statistical Year-
preocupante a tendência para crimina- fluxos mistos de migração” book de 2007 que a Alemanha é dos
lizar a entrada irregular, que pode difi- Estados que mais acolhe refugiados.
cultar ainda mais o acesso de quem tem AI: Uma tendência que em Portugal se AG: A Alemanha recebeu um grande
necessidade de protecção a essa mesma fez sentir um pouco quando o Ministro número de refugiados aquando da crise
protecção. dos Negócios Estrangeiros se mostrou nos Balcãs e isso fez aumentar muito o
AI: E quem precisa de protecção tem disponível para acolher prisioneiros número de refugiados que procuraram
apenas o asilo como solução viável? de Guantánamo. Esclareça-se: estes asilo em território alemão, mas neste
presos enquadram-se no estatuto de momento o país que mais pedidos de
AG: Quando uma pessoa é vítima de refugiado? asilo recebe na Europa é a França. E
perseguição ou conflito deve ter direito a
AG: A situação é muito variável de caso depois há um conjunto de países que
ser reconhecida como refugiado, deve ter
para caso, na medida em que para se ser têm uma tradição de reinstalação, isto
acesso ao direito de asilo, ou, em certas
refugiado é preciso não cair na alçada é, de receber refugiados que vivem num
situações, pelo menos às formas subsi-
de nenhuma das chamadas “condições primeiro país de asilo, normalmente um
diárias de protecção.
de exclusão” e quando as pessoas par- país em desenvolvimento, e que procura-
AI: Mas o problema é que o asilo pode ticiparam em determinado tipo de actos, mos [no ACNUR] que sejam aceites em
ou não ser concedido pelos países, o ou quando tal se pode colocar, é preciso países mais desenvolvidos. Neste con-
que faz parecer que o Estado de aco- analisar. Haverá casos em que o direito texto há três países que têm uma enorme
lhimento é que decide... de asilo é relevante, haverá outros em tradição: os Estados Unidos da América,
que outras formas de protecção subsi- a Austrália e o Canadá. Mais recente-
AG: Não, não. O asilo é um direito das
diária são adequadas e haverá casos que mente, um grupo de países europeus
pessoas, consagrado na Convenção de
se podem justificar apenas por razões de veio a aderir também a Programas de
1951, que atribui responsabilidade aos
natureza humanitária. Reinstalação, incluindo Portugal, com
Estados.
uma pequena quota mas com um valor
AI: Mas então como há países que não AI: Voltando à generosidade de que fa- simbólico muito importante.
respeitam esse direito, não estão a lava, é interessante notar que, segundo
o UNHCR Statistical Yearbook de 2007, AI: Mas Portugal continua a ser o país
cumprir aquela que é uma obrigação
entre os países que mais têm conce- da Europa com menos pedidos de asi-
internacional?
dido asilo estão o Paquistão, a Síria e lo... Como é que isto se explica?
AG: A situação é muito diferente de zona
o Irão. Estados que não associamos de AG: É natural, por causa da localização
para zona, de país para país. Há países
06 Notícias • Amnistia Internacional
geográfica e também por causa do nível AI: Associamos muito os deslocados a aterrorizador e as situações concretas
de desenvolvimento. Na generalidade dos países africanos, mas a Ásia é o con- que encontramos, quer de vítimas de
casos, o asilo deve ser pedido no primeiro tinente que tem maior número destas violência por parte dos grupos armados,
país de entrada na União Europeia (UE) populações, não é assim? quer até muitas vezes jovens obrigadas à
e Portugal [pela sua posição geográfica] prostituição pelas próprias famílias (em
AG: Há um conjunto de crises que ten-
só num número muito reduzido de casos grande carência económica), são porven-
dem a estar interligadas – muitas vezes
será esse Estado. tura o que mais me tem impressionado e
associadas a problemas de segurança
chocado...
AI: Essa é, aliás, uma das muitas me- globais – e que começam na chamada
didas restritivas criadas pela UE com Ásia do Sul, nomeadamente no Paquistão AI: Para terminar, e tentando sumari-
vista a dificultar o acesso ao asilo. As e Afeganistão, e englobam o Iraque, a zar, no início da entrevista dizia que
pessoas têm de pedir asilo no primeiro Palestina, o Sudão, a Somália... Por- vamos, com as alterações climáticas e
país onde chegam, mas depois nem to- ventura a larga maioria dos refugiados a pobreza extrema, ter cada vez mais
dos os Estados têm a mesma generosi- está associada a este conjunto de cri- pessoas a precisar de ajuda. Por ou-
dade e muitas vezes as zonas onde é ses. Depois existe uma multiplicação de tro lado, muitos Estados estão menos
mais fácil aceder têm piores práticas problemas, em países como a República generosos na concessão de asilo e os
de acolhimento. Uma arbitrariedade Democrática do Congo, o Sri Lanka, a campos são situações muito precárias.
que é grave quando falamos de pes- Colômbia, entre outros, sendo verdade Perante tudo isto, qual poderá ser a
soas que precisam de ajuda... que África tem, provavelmente, o maior solução para o futuro?
número dessas situações.
AG: Essa é uma das questões que mais AG: O essencial é a prevenção. É pre-
nos preocupa e que está no centro do ciso aumentar muito a capacidade da
nosso diálogo. É imprescindível que no comunidade internacional para prevenir
quadro de um espaço onde se circula crises e prevenir os efeitos, por exemplo,
livremente [como acontece no Espaço das alterações climáticas. Evitar que
Schengen] haja uma harmonização das tais coisas aconteçam. E, em segundo
legislações e das práticas de asilo. Isto lugar, é necessário manter bem vivo o
levou-nos mesmo [enquanto ACNUR] espírito de solidariedade. E não apenas
recentemente a dizer que os países não por razões de generosidade, mas até por
devem reenviar requerentes de asilo, por um egoísmo inteligente, na medida em
exemplo, para a Grécia, porque em nossa que se estas situações não encontram
opinião a probabilidade de aí encontra- devida protecção e devido apoio, isso
rem protecção é muito pequena. pode transformar-se num enorme factor
de instabilidade à escala global.
AI: Serão estas medidas restritivas de © ACNUR / S. Hopper
acesso aos territórios responsáveis AI: O que se percebe facilmente, porque
pelo aumento de deslocados internos, AI: Numa entrevista que deu à Rádio Re- as pessoas se ficarem sem soluções,
uma vez que as pessoas não conse- nascença, em 2007, dizia que a maioria vão encontrar formas alternativas de
guem sair do seu país de origem? dos refugiados é muçulmana, é assim? entrar nos Estados. Existe uma maior
AG: É verdade, sim. xenofobia, como disse, mas as pes-
AG: Eu não diria que há uma relação di-
soas esquecem-se que, quer queiram,
recta entre as duas coisas. Os desloca- AI: Ainda quanto aos deslocados, muitos quer não, este é um problema que vai
dos internos têm-se verificado sobretudo ficam a viver em campos. Nas visitas acabar por afectá-las directamente...
em países em vias de desenvolvimento, que tem feito a estes locais, o que mais
em que os conflitos se generalizam de tal o tem impressionado? AG: Não peço a toda a gente que seja
forma que as pessoas tendem a abando- generosa, mas peço aos egoístas que ao
nar as suas comunidades mas procuram AG: Em primeiro lugar, nem todas as menos não sejam estúpidos.
não ir para longe, sempre na perspectiva pessoas deslocadas estão em campos.
de poderem regressar, ou então quando No Paquistão menos de 20% dos deslo- Entrevista completa em:
as distâncias para países limítrofes são cados estão em campos. A maior parte www.amnistia-internacional.pt (Aprender/Re-
demasiado grandes e o clima nesses é acolhida pelas comunidades. O que é vista da Amnistia Internacional)
mesmos Estados pode não ser o mais mais chocante para mim nos contactos
acolhedor. que tenho tido com estas situações de
vulnerabilidade das populações desloca-
“Quando uma pessoa é das têm sido os problemas de violência
sexual e o drama de muitas mulheres e
vítima de perseguição ou jovens, que são vítimas de forma par-
conflito deve ter direito ticularmente dramática. Se olharmos Para perceber melhor a diferença entre re-
fugiado, deslocado interno, apátrida, reque-
a ser reconhecida como para o que se tem passado no Darfur, rente de asilo, entre outros conceitos, não
refugiado” ou na República Democrática do Congo, perca o “Dossier” desta revista.
por exemplo... O número de violações é
Notícias • Amnistia Internacional 07
RETRATO
Kate Gilmore, Secretária-Geral Adjunta da Amnistia Internacional
Um olhar sobre o futuro do movimento
Há oito anos ao lado de Irene Khan na liderança da Amnistia Internacional, Kate Gilmore recorda ao
“Notícias da AI Portugal” o caminho traçado e revela os passos que o movimento de defesa e promoção
dos direitos humanos se prepara para dar, pelo menos, até ao ano 2016
Por Cátia Silva
O exemplo dos pais levou a então jovem tretanto normal”. Um conceito que, um
Kate a tornar-se voluntária em várias ano depois, em 1987, Kate Gilmore viria
organizações comunitárias, voltadas novamente a adoptar quando se envolveu
para os jovens, para os indígenas, para na criação da Victorian Foundation for
os desempregados, para os toxicodepen- Survivors of Torture, uma fundação des-
dentes, entre outros. Neste trabalho per- tinada às vítimas de tortura.
cebeu que “a menos que seja adoptada
uma abordagem sensível ao género, as
preocupações específicas de mais de A ENTRADA NA AMNISTIA
51% da população, ou seja, das mu- INTERNACIONAL
lheres, são ignoradas e as preocupa- O trabalho na área social e os interesses
ções dos homens prevalecem”. Assim multifacetados de Kate Gilmore levaram-
se tornou, “com orgulho” – como faz -na, no seguimento de um anúncio pu-
questão de frisar –, uma activista em blicado num jornal, a candidatar-se ao
nome das mulheres. Tudo isto enquanto lugar de Director na secção australiana
© Amnistia Internacional
estudava Psicologia e Sociologia, Tra- da Amnistia Internacional, muito mo-
balho Social e Desenvolvimento Comuni- tivada pelos seus amigos. “Até então
Aos 51 anos de idade, Kate Gilmore é o tário. “Ainda estava a tentar perceber pensava que a AI não era suficiente-
braço direito de Irene Khan1, enquanto o que queria fazer, mas sempre soube mente relevante no seu trabalho pelos
Secretária-Geral Adjunta da Amnistia In- que queria juntar-me às pessoas que direitos humanos das mulheres e por
ternacional (AI). Nascida em Melbourne, estavam a tentar fazer deste um mundo isso nunca me juntei [ao movimento]”,
na Austrália, cresceu numa família de mais leal, mais justo e menos intole- confessa. Porém, aos 38 anos de idade
activistas, que lutaram nos movimentos rante”. considerou que devia seguir o conselho
anti-apartheid e anti-Guerra do Vietna- Com 28 anos, Kate Gilmore teve a sua de Mahatma Gandhi e “que seria inte-
me, onde a ajuda ao próximo fazia parte primeira oportunidade para tentar mu- ressante fazer parte do esforço da AI
do dia-a-dia. Os seus pais patrocinavam dar o mundo, quando foi referenciada em «ser a mudança que deseja ver no
os estudos de jovens da então Rodésia, para criar o Centro Contra a Agressão mundo»”. Ou seja, iria tentar, dentro da
que mais tarde vieram a ter um papel Social, no Royal Women’s Hospital, ainda organização, melhorar a acção em prol
fundamental na independência do Zim- em Melbourne, na Austrália. Com or- das mulheres.
babué. Uma herança familiar que influ- gulho, conta que este “viria a tornar-se A experiência na direcção da AI Austrália
enciou Kate, que enveredou pela área so- no primeiro centro baseado nos direi- correu tão bem que quatro anos depois
cial, conta. “Nunca mais me abandonou tos das vítimas (ou sobreviventes) de Kate Gilmore estava a candidatar-se ao
o choque que senti na minha infância agressões sexuais”, transformando-se recém-criado cargo de Secretária-Geral
ao descobrir que o mundo parece tão rapidamente num exemplo a seguir. “A Adjunta da Amnistia Internacional, ape-
simplesmente aceitar que algumas ideia de que os direitos humanos têm sar do cariz (supostamente) temporário
pessoas nascem privilegiadas, enquan- lugar nos cuidados de saúde e nas res- do lugar e da mudança exigida para
to outras nascem para a exclusão, a postas legais que são dadas às mulhe- Londres, onde está sediado o Secreta-
discriminação e a privação”. res sujeitas a violência tornou-se en- riado Internacional2. Como explica Kate
08 Notícias • Amnistia Internacional
EM FOCO
IRÃO mas acredita-se que os valores reais se-
jam ainda superiores.
que fizeram os seus antecessores. A pe-
tição está disponível para assinatura em
MANTÊM-SE AS VIOLAÇÕES AOS www.amnistia-internacional.pt (Apren-
DIREITOS HUMANOS A juntar ao número de feridos, estima-se
der/Revista da Amnistia Internacional).
terem resultado das manifestações pelo
Participe!
menos três dezenas de mortos. Muitos
dos assassinatos são atribuídos à milí-
cia basij, que se juntou às forças polici-
ais para tentar travar os manifestantes.
NICARÁGUA
Vários vídeos na Internet mostram o PROIBIÇÃO TOTAL DO ABORTO
método utilizado: homens em cima de
motorizadas a “varrerem” os manifes-
tantes das ruas com tacos e bastões de
basebol. Há, porém, também registo de
pessoas mortas a tiro.
Nos últimos dias, os protestos acalma-
ram e a indignação internacional volta-se
agora para os relatos de torturas durante
© AP/PA Photo as detenções e para os julgamentos, que
Apoiantes de Mousavi em protesto nas ruas de Teerão, começaram a 1 de Agosto, de mais de
15 de Junho de 2009. uma centena de pessoas detidas durante
as manifestações. Os réus são acusados
Nos últimos meses, o principal país em de agir contra a segurança nacional, de © Ipas
foco nos noticiários de todo o mundo perturbação da ordem pública e de ac-
foi o Irão, devido aos protestos que se tos de vandalismo. A imprensa oficial
Uma médica aconselha uma paciente num hospital público da
Nicarágua.
seguiram às eleições presidenciais de informa que alguns podem ser condena-
12 de Junho, considerado o maior movi- dos à morte. Na sala de audiências só A Amnistia internacional apontou o dedo
mento popular no país desde a Revolução podem entrar os órgãos de comunicação à Nicarágua no passado mês de Julho,
Islâmica de 1979. Os manifestantes estatais. O antigo presidente do país, uma vez que a revisão ao Código Penal
ergueram-se contra o resultado eleitoral Mohammad Khatami, já veio denunciar do país proíbe o aborto para todo o tipo
que deu a vitória ao ultraconservador que os julgamentos estão a decorrer sem de situações. Isto incluiu mulheres ou
Mahmoud Ahmadinejad, presidente do que alguns advogados de defesa sejam crianças vítimas de incesto ou violação.
país desde 2005. Os iranianos alegam autorizados a participar e sem que os Todas ficam sujeitas a penas de prisão,
que havia mais boletins de voto que réus tenham acesso às acusações de que mesmo que tenham sofrido um aborto
votantes e apoiam o líder da oposição: o são vítimas. A Amnistia Internacional espontâneo e sempre que não puderem
reformista Mir Hossein Mousavi. está a acompanhar de perto a situação. provar que este não foi provocado. As
Quatro dias após o início dos confrontos, sanções estendem-se aos profissionais
a comunicação social estrangeira foi ex- de saúde que executem abortos ou que
pulsa do país e só as novas tecnologias SUÉCIA realizem tratamentos que podem colocar
permitiram ao mundo manter-se infor- os fetos em risco de vida, mesmo que
NOVA PRESIDÊNCIA DA UNIÃO seja contra doenças como o cancro, a
mado sobre as violações aos direitos hu- EUROPEIA
manos que ocorriam no Irão. Durante os malária ou o VIH/SIDA. Saiba mais pelo
meses de Junho e Julho, foram surgindo A 1 de Julho a Suécia assumiu a presidên- relatório “The Total Abortion Ban in Nica-
relatos dos confrontos com a polícia, que cia da União Europeia e a Amnistia Inter- rágua: Women’s lives and health Endan-
respondeu aos protestos com detenções nacional lançou um apelo mundial dirigi- gered, medical professionals criminali-
arbitrárias. Jornalistas, advogados e polí- do ao primeiro-ministro do país, Fredrik zed” e participe na petição da Amnistia
ticos proeminentes contam-se entre as Reinfeldt, apelando a que assuma a tor- Internacional que visa banir esta lei da
368 pessoas detidas que foram contabi- tura como tema preponderante durante Nicarágua. Ambos estão disponíveis em
lizadas pela Amnistia Internacional. Os os seis meses que vai estar a liderar a www.amnistia-internacional.pt (Apren-
números oficiais falam de 475 presos, instituição europeia, contrariamente ao der/Revista da Amnistia Internacional).
10 Notícias • Amnistia Internacional
CHINA 2009
UM ANO DE ANIVERSÁRIOS
Por Co-Grupo da China da Amnistia Internacional Portugal
Este ano completam-se 60 anos da fundação da República Popular da China (RPC), 50 dos e os monges obrigados a assistir a
anos da revolta no Tibete e 20 anos do massacre da Praça de Tiananmen. Estes acon- sessões de “educação patriótica” que
tecimentos, marcantes, não são independentes uns dos outros, são marcos visíveis de ainda hoje persistem. Desde então, a
uma evolução consistente na China colonização do Tibete torna-se evidente
e tem como eixos: a ocupação pela RPC,
a destruição da identidade tibetana
(língua e religião), a implantação no
território de uma maioria de população
han, deslocada da RPC, e a pilhagem dos
recursos naturais do Tibete.
Na China, o regime permite o desenvol-
vimento de um capitalismo selvagem em
que reina a corrupção e onde a liberdade
de expressão e de associação são repri-
midas. O mal-estar instala-se, os estu-
dantes universitários, apoiados pela res-
tante população, reúnem-se a partir de
Março de 1989 na Praça de Tiananmen,
para pedir o fim da corrupção e a de-
© Hu Jia e Zeng Jinyan mocratização do regime. A resposta foi
A polícia chinesa na Praça de Tiananmen, em Pequim, China, em Junho de 2006.
a violenta repressão de 3 e 4 de Junho
de 1989, com o assassinato de inúmeros
Em 1911 a China proclama a República, - Deng Xiaopeng abre a China ao capi- manifestantes pacíficos e a perseguição
saindo do período imperial. Durante este talismo externo. Graças à mão-de-obra das suas famílias. Este foi um aconteci-
longo período, o país domina o mundo e barata e à ausência de direitos humanos mento que ficará na memória colectiva
nele florescem a ciência e a tecnologia fundamentais (sindicais, de expressão, e que continua, hoje, a motivar deten-
(usa vacinas, máquinas de calcular, de reunião) as empresas privadas pros- ções daqueles que exigem que se faça
combate pragas com insectos, inventa a peram, o nível médio de vida aumenta, justiça.
pólvora, o ferro fundido e o aço, etc.). No formam-se a classe média e alta, à custa Assim, os aniversários que se celebram
entanto, a população vive escravizada da exploração desenfreada dos operári- este ano mostram-nos que a RPC é um
pelos senhores feudais e morre de fome, os, muitos oriundos de zonas rurais onde regime ferozmente repressivo, cujo de-
aos milhares. Em 1927, a República não encontram meios de subsistência. senvolvimento fulgurante resulta da
chinesa assiste a lutas políticas que Os trabalhadores migrantes vivem nas brutal repressão dos direitos dos seus
conduzem à cisão entre nacionalistas cidades em condições deploráveis, não cidadãos, e que pratica uma colonização
e comunistas. Estes, com Mao Zedong, são abrangidos pelo sistema de saúde e descarada em relação a povos etnica-
vencem a guerra civil e a 1 de Outubro de os seus filhos não têm direito à educa- mente minoritários, como os tibetanos e
1949 fundam a RPC. ção. São mais de 200 milhões e são os os uigures.
grandes obreiros do “milagre económico
O regime estabelecido diz apoiar-se nos
chinês”.
camponeses, proclama a reforma agrária
e desenvolve a indústria pesada. Mas o O Exército de Libertação Nacional (ELN)
desenvolvimento económico sofre avan- entra no Tibete em Outubro de 1950. É
ços e recuos, alguns devido a erros es- afirmado, mas não cumprido, o propósito
tratégicos e com consequências trágicas de cooperação com os tibetanos. A “mão
para as vidas humanas. Mais uma vez as de ferro” da RPC vai-se fazendo sentir e
liberdades individuais são inexistentes e em 1956 os Khampas (tibetanos do Les-
os cidadãos peões de uma política apa- te) insurgem-se contra os ocupantes. Em
rentemente centrada neles, mas que é a Março de 1959 a revolta propaga-se a
emanação da vontade cega dos chefes. todo o Tibete e é reprimida pelo ELN. A 19
Ainda em 1949, a RPC reivindica a so- de Março o Dalai Lama foge para a Índia
berania sobre o Tibete. com milhares de tibetanos. Muitos dos
© Jeff Widener/AP/PA Photos
que ficam são mortos, outros internados
O desenvolvimento prossegue, levando à
em “campos de trabalho”, os mosteiros Um homem tenta deter sozinho os tanques que se dirigem à
necessidade de interacção com o exterior Praça de Tiananmen para um dos maiores massacres da história
são destruídos, os objectos de culto pilha- da China, em Junho de 1989.
Notícias • Amnistia Internacional 11
DOSSIER
O Mundo dos Migrantes
A 20 de Junho assinalou-se mais um Dia Mundial dos Refugiados e um pouco por todo o mundo estas
populações foram recordadas. No entanto, inúmeras pessoas continuam a confundir os refugiados
com os imigrantes e até com a imigração ilegal. Para desmistificar tudo isto, o “Notícias da Amnistia
Internacional Portugal” vai neste dossier procurar clarificar conceitos, para que se perceba quem é
quem neste complexo mundo dos migrantes
© Privado
No Norte do Sri Lanka, milhares de pessoas tiveram de deslocar-se em 2008 quando começaram os confrontos entre o Exército e o grupo armado Tigres de Libertação da Pátria Tamil.
Os países em
desenvolvimento
abrigam 80% dos
refugiados do
mundo
Refugiados
Requerentes de Asilo
Deslocados Internos
Apátridas
Retornados
América Latina
NÚMERO DE MIGRANTES NO MUNDO PAÍSES QUE MAIS PRODUZEM REFUGIADOS (Dados de final de 2008)
(Excluindo os imigrantes. Dados de final
de 2008) Territórios Palestinianos Ocupados = gerou 4,7 milhões de refugiados
Afeganistão = gerou 2,8 de refugiados
Refugiados = 15,2 milhões Iraque = gerou 1,9 milhões de refugiados
Requerentes de Asilo = 827 mil Somália = gerou 561 mil refugiados
Deslocados Internos = 26 milhões Sudão = gerou 419 mil refugiados
Apátridas = 6,6 milhões Colômbia = gerou 374 mil refugiados
Retornados = 604 mil (só em 2008) República Democrática do Congo = gerou 368 mil refugiados
Notícias • Amnistia Internacional 13
Europa de Leste
Norte de África
Médio
Sudoeste
Oriente
Asiático Ásia Oriental
África
Sul e o Pacífico
Ocidental
da Ásia
África Oriental
e Corno de África
África Central e
Grandes Lagos
África Austral
© ACNUR
Sobreviventes de um ciclone que ocorreu em Maio de 2008, no Myanmar, abrigam-se nas ruínas do que outrora foi a sua casa. São alguns dos muitos “refugiados/deslocados ambientais” existentes no mundo.
Muitos dos Estados da Organização das este último título que Mohammed adqui- cidiu refazer a sua vida. Os documentos
Nações Unidas cedo perceberam que não riu cedo, ao recusar a ida à tropa. Tinha pessoais tinham há muito sido confis-
podiam ficar de costas voltadas para então 20 anos e frequentava o primeiro cados, por isso a única possibilidade de
esta população, até porque esta iria, ano da Faculdade. Na altura, “foi julga- sair do país era recorrer a uma rede de
muito provavelmente, procurar refúgio do e condenado a três anos de prisão tráfico humano. Uma opção frequente
nos seus respectivos territórios. Em pou- por um Tribunal Militar”. O que não entre os refugiados, que tem ajudado
co tempo reuniu-se vontade política para sabia então é que ficaria marcado para a que sejam confundidos com os imi-
criar um organismo específico para pro- sempre. grantes, lamenta António Guterres, Alto
teger estas pessoas e encontrar soluções Comissário das Nações Unidas para os
para o seu problema. Assim nasceu, em Refugiados.
1950, a Agência das Nações Unidas de A segunda fuga
Assistência aos Refugiados da Palesti- As ideias políticas de Mohammed, bem A Protecção Temporária
na no Médio Oriente e pela primeira vez diferentes das defendidas pelo regime A protecção temporária não é muito
se falou formalmente em “refugiado”. sírio, fizeram com que durante quase expressiva em Portugal, mas foi uti-
Mohammed, os seus pais e os seus ir- 35 anos fosse perseguido e detido pela lizada aquando do conflito no Kosovo,
mãos enquadravam-se no conceito, uma polícia secreta. “Vinham uns homens em 1999, quando foram acolhidos
vez que tinham deixado a Palestina em vestidos à civil e levavam-me”, conta, no nosso país vários kosovares. O
consequência da guerra que deu origem enquanto diz que não era preciso sequer objectivo deste regime é, a título ex-
a Israel. um mandato. A sua família também cepcional e provisório, providenciar
Em poucos meses, a família estabele- deixou de necessitar de aviso, uma vez um lar a pessoas que fogem em mas-
ceu-se na República Árabe da Síria, onde que os desaparecimentos se tornaram sa de um país, normalmente devido
Mohammed cresceu. Foi também aqui frequentes. “Ficava cá fora seis meses, a um conflito armado ou a violên-
que o refugiado se tornou um activista, sete meses, um ano... Depois era outra cia generalizada. A urgência da situ-
pois nunca concordou com o regime dita- vez detido”, recorda. Um entra e sai da ação exige que estas pessoas sejam
torial que há largas décadas caracteriza prisão que não permitiram ao refugiado acolhidas, durante algum tempo,
este país. “Eu tenho ideias de paz e não levar uma vida dita “normal”, como seria num outro Estado, regressando de-
casar e ter filhos. pois a casa quando a situação está
acredito na Guerra”, diz, enquanto la-
solucionada. Foi o que aconteceu no
menta: “para eles [as autoridades], ou Aos 58 anos, Mohammed desistiu dos
caso do Kosovo.
se é como eles, ou é-se um traidor”. Foi seus ideais políticos para a Síria e de-
Notícias • Amnistia Internacional 15
Ser Apátrida
À primeira vista pode parecer estranho,
mas dados do Alto Comissariado das Na-
ções Unidas para os Refugiados indicam
que há no mundo 6,6 milhões de apátri-
das. Em Portugal, o Conselho Português © ACNUR/N.Behring
Os oito que pediram asilo a Portugal não Detidos do Campo 4 da Baía de Guantánamo, em 2005.
Notícias • Amnistia Internacional 19
Mulheres carregam madeira para poderem cozinhar e caminham ao lado de um oleoduto. A proximidade entre a exploração petrolífera e as populações tem ajudado a agravar a situação de pobreza de muitos
nigerianos.
Desenvolver a ciência e a tecnologia, do- países em desenvolvimento. Ao longo esta aparente riqueza, a região é tam-
minar a natureza em proveito do Homem, das últimas três décadas, temos assis- bém uma das mais pobres do mundo,
aumentar a produção e proporcionar o tido a um aumento do interesse global sendo que a vasta maioria dos seus ha-
maior conforto material possível sempre pela poluição ambiental e pelo seu im- bitantes não tem acesso a água potável
foram ideais perseguidos pelas socie- pacto ao nível dos direitos humanos, que ou a cuidados médicos.
dades ao longo dos tempos. No entanto, o tem vindo a ganhar relevância desde a
A exploração de petróleo na região do
crescimento meramente quantitativo das Conferência das Nações Unidas Sobre
Delta do Níger começou em 1958, com
forças produtivas da sociedade chocou Ambiente Humano (1972).
a Shell British Petroleum (agora Royal
com a mais dura realidade relativa-
Dutch Shell), em parceria com o Governo
mente ao equilíbrio ambiental: é impos-
nigeriano. Actualmente, só a subsidiária
sível manter o mesmo nível de produção POLUIÇÃO AMBIENTAL
Shell Petroleum Development Company
para toda a Humanidade sem que haja A região do Delta do Níger, no sul da Ni- (SPDC) explora cerca de 31 mil quilóme-
um colapso ecológico. géria, é extremamente importante: além tros quadrados de terreno e a grande
A gestão desadequada dos processos de ser lar para mais de 31 milhões de maioria das infra-estruturas está locali-
de extracção de matérias-primas, como pessoas e de ser um dos principais ecos- zada junto das casas, quintas e fontes de
o petróleo, tem sido uma das principais sistemas marinhos e pantanosos, é local água das comunidades. A Carta Africana
causas de poluição e degradação em de um dos maiores depósitos mundiais de Direitos Humanos e dos Povos, da
muitas comunidades, especialmente em de petróleo. No entanto, e apesar de toda qual a Nigéria é um Estado parte, obriga
20 Notícias • Amnistia Internacional
o governo nigeriano a tomar medidas no a sua proximidade em relação às explo- envolvidos na destruição do ambiente.
sentido de um desenvolvimento ecológico rações. “Se quisermos ir pescar, temos As comunidades envolvem-se em actos
sustentável e de prevenção da poluição, que remar durante horas ao longo de de vandalismo e sabotagem e as milícias
mas as obrigações são frequentemente vários rios até chegar a um sítio onde representam uma ameaça significativa
suplantadas por interesses económicos. se consiga apanhar peixe e o derrame para a segurança dos funcionários das
seja mais pequeno...alguns dos peixes petrolíferas, havendo relatos de compor-
Os derrames de petróleo, o despejo de re-
que apanhamos, quando lhes abrimos tamento agressivo por parte de ambos.
síduos e a queima de gás são as formas
a barriga, cheiram a crude”, conta um
de poluição resultantes da exploração Apesar de não haver uma explicação
pescador local.
petrolífera mais frequentes na região. única para a situação conflituosa no
Provocam danos ao nível do solo, dos Os relatos frequentes de derrames que Delta do Níger, as acções dos grupos
lençóis de água e da qualidade do ar. se prolongam durante meses, sem que armados e das comunidades não po-
Prejuízos estes que a Natureza necessi- sejam tomadas quaisquer medidas por dem ser utilizadas pelo Governo e pelas
taria de muito mais tempo para reverter parte das petrolíferas ou do Governo, multinacionais como forma de desviar a
do que aquele permitido pelas exigências multiplicam-se. A falha destas empre- atenção das suas próprias falhas e más
da exploração. Em comunidades em que sas e dos reguladores em lidar com os práticas. A falta de responsabilização e
cerca de 60% da população depende di- derrames de forma rápida e a falta de a incapacidade dos afectados em aceder
rectamente da pesca e da agricultura, limpezas eficazes exacerbam os impactos à justiça ou receber compensações per-
como principais meios de subsistência, humanos e ambientais dos derrames. petuou o contexto de violações dos direi-
os prejuízos causados pela poluição são tos humanos e encorajou que estes se
catalisadores de uma situação de pobre- repetissem indefinidamente. Uma reali-
za já muito acentuada. EVADINDO RESPONSABILIDADE dade que tem estimulado a violência por
Durante décadas, a indústria petrolífera parte das populações.
no Delta do Níger tem operado sem Enquanto a impunidade pelos abusos
IMPACTO SOBRE AS COMUNIDADES
qualquer regulação ou monitorização. do ambiente e dos direitos humanos
A situação do Delta do Níger é, acima de Não por falta de leis ou regulamentos: permanecer generalizada, assim per-
tudo, uma violação dos direitos humanos a lei nigeriana proíbe a poluição do solo manecerão a pobreza e os conflitos que
da população local. O comprometimento e da água, exige que as empresas de- assolam a região do Delta do Níger.
sistemático dos meios de subsistência senvolvam “boas práticas no terreno” e Apenas quando houver responsabilização
das comunidades em troca de receitas que cumpram com as normas interna- efectiva e acesso à justiça, e quando as
comerciais, os riscos para a saúde da cionais. No entanto, várias companhias populações tiverem acesso à informação
população, a ausência de qualquer tipo petrolíferas têm explorado as fraquezas e ao espaço necessários para participar
de monitorização do impacto destas ac- do sistema de regulação, cujas opera- nas decisões que afectam directamente
tividades nas comunidades e no ambiente ções têm sido caracterizadas pela falha as suas vidas, será possível começar a
e a falha em providenciar compensações em tomar medidas preventivas e correc- remediar a tragédia ambiental e de direi-
às pessoas afectadas, são situações que tivas apropriadas relativamente à polui- tos humanos que se vive no Delta do
ilustram o claro desrespeito, quer do ção e aos danos ambientais. Níger. Infelizmente, esta região é apenas
Governo nigeriano, quer das petrolíferas, um exemplo do que se passa em muitas
Infelizmente, a questão não é sempre a
pelos direitos da população e pelas outras partes do mundo.
existência ou não de leis mas possuir a
obrigações internacionais.
capacidade e os recursos para garan-
A Amnistia Internacional publicou re- tir que sejam cumpridas. Os requisitos SAIBA MAIS
centemente, no âmbito da sua nova cam- necessários para tomar todas as medi- Para mais informações sobre a situação no
panha “Exija Dignidade”, um relatório das necessárias e proporcionar compen- Delta do Níger consulte o relatório da Amnis-
sobre esta situação no Delta do Níger. sação são insuficientes para proteger tia Internacional “Petroleum, Pollution and
Certos de que a única forma de erradi- os direitos humanos, particularmente Poverty in the Niger Delta”, publicado em
Junho de 2009 e acessível em www.amnis-
car a pobreza é a correcção de todos os num contexto em que a capacidade de
tia-internacional.pt (Aprender/ Revista da
factores que para ela contribuem, foram regulação do governo é muito fraca e a Amnistia Internacional). No mesmo local
elencadas várias situações em que a população é, na sua vasta maioria, po- assista a um vídeo sobre esta realidade.
poluição provocada pela exploração bre, altamente dependente do ambiente
petrolífera comprometeu directamente e com poucos recursos para desafiar as
as populações da zona, deixando-as sem multinacionais do petróleo. O QUE PODE FAZER!
comida ou água e gravemente doentes. A Amnistia Internacional tem disponíveis
dois apelos que visam mudar a situação
Vários membros de organizações da so- do Delta do Níger. É urgente que as autori-
JUSTIÇA E REPARAÇÃO
ciedade civil e de comunidades locais dades reconheçam que viver num ambiente
relataram aos investigadores da Am- A situação na região do Delta do Níger saudável é um direito humano fundamental.
nistia Internacional, que estiveram na é complexa. Enquanto as falhas do Go- Participe enviando os postais que se encon-
região entre Março e Abril de 2008, as verno nigeriano e das petrolíferas são evi- tram no interior desta revista. PRECISAMOS
DE SI!
dificuldades com que se deparam dada dentes, estes não são os únicos actores
Notícias • Amnistia Internacional 21
NACIONAL
A Amnistia Internacional Portugal vista à lupa
Neste número do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” vamos falar-lhe de algumas das activi-
dades desenvolvidas nos últimos meses pela secção portuguesa da Amnistia Internacional. Começamos
por lhe dar a conhecer mais um dos nossos grupos locais, que tem estado a mobilizar a cidade de Leiria.
Em seguida, resumimos as principais conclusões da Assembleia Geral anual, para todos os que não pu-
deram comparecer. E a fechar falamos com os vencedores do Prémio da Amnistia Internacional Portugal
no festival de cinema IndieLisboa 2009
GRUPO LOCAL 32 – LEIRIA tos Humanos, a que “o grupo dá grande Mais recente é a terceira área de ac-
UMA DEDICAÇÃO DIÁRIA AOS DIREITOS HUMANOS ênfase”, revela, até porque foi numa tuação do Grupo Local 32, pela qual
escola que tudo começou, há nove anos este tem, nos últimos anos, ficado par-
atrás. Maria Fernanda Ruivo era então ticularmente conhecido: a promoção dos
professora de História e estava a ensi- direitos das pessoas de etnia cigana. Um
nar o que é a escravatura. Como defende trabalho que começou por coincidência,
que se aprende melhor de forma lúdica, quando a 10 de Dezembro de 2002 (Dia
decidiu criar uma peça de teatro, mas Internacional dos Direitos Humanos) Ma-
aquela que era uma actividade de rotina ria Fernanda Ruivo conversou com um
acabou numa representação que pôs em dos elementos desta comunidade. Per-
palco 60 alunos, da pré-primária ao 9.º cebeu então que a AI tinha um papel a
ano. Foi assim que Maria Fernanda che- assumir na integração destas pessoas
© Grupo Local 32-Leiria gou à AI, em busca de informações para na sociedade leiriense e desde então é a
Elementos do grupo local na I Maratona Carlos Lopes.
a sua peça teatral. Na altura “pouco isso que o grupo se tem dedicado, com
Quando o Verão terminar, o Grupo Lo- sabia sobre a organização”, confessa, acções que vão desde os cursos EFA às
cal 32 da Amnistia Internacional (AI) mas foi então criado um laço – consoli- aulas gratuitas de flamenco.
Portugal, da cidade de Leiria, promete dado oficialmente em Outubro de 2001 –,
Para além das três áreas referidas, a
uma rentrée em grande. Primeiro, vai que nunca mais se desfez.
coordenadora explica que o grupo se
retomar um programa que tinha sido A estrutura da AI também não deixou dedica a muitas outras, que surgem in-
feito em tempos no Rádio Clube de Leiria mais a Educação para os Direitos Hu- formalmente. “Trabalhamos com casos
para falar sobre direitos humanos. Em manos, até porque alguns dos alunos concretos de pessoas que nos pedem
segundo lugar, vai procurar dar segui- de então fazem parte dos 15 elementos ajuda”, diz. É por isso que defende que
mento aos cursos EFA, de Educação e que compõem o grupo, embora apenas para fazer parte desta estrutura da AI
Formação para Adultos, voltados para a metade forme o chamado “núcleo duro”, não é preciso muito tempo, mas acima
população cigana. Em terceiro, fica pro- refere a coordenadora. Para além da for- de tudo “interesse pela vida do outro e
metida a aposta nas novas tecnologias, mação de crianças e jovens, ou melhor, a acreditar que em grupo se pode cres-
com a criação de um blog onde todos vão par dela, está o trabalho do Grupo Local cer muito mais do que sozinho”.
poder conhecer, atempadamente, as ac- 32 que liga Leiria a um pequeno país do
tividades programadas pelo grupo para a Corno de África: a Eritreia. Maria Fernan-
cidade de Leiria. Maria Fernanda Ruivo, da Ruivo esclarece: “na altura, quando
FICHA TÉCNICA
coordenadora da estrutura da AI desde a Grupo Local 32 – Leiria
era criado um grupo local, a sede da AI
sua origem, levanta um pouco mais o véu em Londres propunha que ficássemos
e anuncia um festival de cinema sobre COORDENADORA: Maria Fernanda Ruivo
a tratar de um país”. Isto implicava (e
Direitos Humanos, numa parceria com o implica) escrever apelos em nome dos LOCAL DE ENCONTRO: Na sede ou em
Núcleo do Oeste da AI Portugal. muitos prisioneiros existentes no ter- casa dos elementos do grupo.
A par destas inovações, a coordenadora ritório, “porque há um Governo que não PERIODICIDADE DAS REUNIÕES: Sempre
promete continuar o trabalho nas três tolera oposição”, e tornar públicas as que necessário.
principais áreas de acção do Grupo Local violações aos direitos humanos que aí
são cometidas. CONTACTO: fernanda.ruivo@sapo.pt
32. Desde logo, a Educação para os Direi-
22 Notícias • Amnistia Internacional
AMNISTIA INTERNACIONAL
AMNISTIA INTERNACIONAL ATRAVÉS DE:
(grupo, localidade, coordenador, email, blog)
PORTUGAL
GRUPO LOCAL 01 (Lisboa)
grupo1.aiportugal@gmail.com; http://grupo1aipor-
tugal.blogspot.com/
GRUPO LOCAL 03 (Oeiras)
Como acontece todos os anos, realizou-se No terceiro ponto da ordem de trabalhos Lucília José Justino: zjustino@gmail.com
GRUPO LOCAL 06 (Porto)
já a Assembleia Geral Ordinária de 2009 estiveram os Estatutos da AI Portugal, Virgínia Silva: aiporto6@gmail.com; http://aiporto.
da Amnistia Internacional (AI) Portugal, onde também foram feitas alterações de blogspot.com
com o intuito de discutir os principais fundo, como: a mudança da designação GRUPO LOCAL 14 (Lourosa)
documentos e as posições a assumir pelo abreviada de AISP (Amnistia Internacio- Valdemar Mota: aigrupo14@gmail.com
GRUPO LOCAL 16 (Ribatejo Norte)
movimento. Decorreu a 28 de Março na nal Secção Portuguesa) para AI Portugal; Yvonne Wolf: yvonne_wolff@adsl.xl.pt
Escola Superior de Comunicação Social, a conversão do Conselho Fiscal em Con- GRUPO LOCAL 18 (Braga)
em Lisboa, mas a extensa ordem de tra- selho de Responsabilização e Controlo; José Luís Gomes: ai18braga@gmail.com
GRUPO LOCAL 19 (Sintra)
balhos permitiu apenas, nesta reunião a criação da figura de Director Execu- Fernando Sousa: ai.grupo19@gmail.com; http://
de membros da AI, aprovar os Relatórios tivo e alterações exigidas pela coerência blog-19.blogspot.com
de Actividades e de Contas referentes a necessária entre os Estatutos e as res- GRUPO LOCAL 24 (Viana do Castelo)
Luís Braga: luismbraga@sapo.pt
2008, bem como os Planos Operacional tantes normas internas. GRUPO LOCAL 32 (Leiria)
e Estratégico para 2009 e o orçamento Maria Fernanda Ruivo: fernanda.ruivo@sapo.pt
No final da Assembleia Geral Extraor-
disponível para estas actividades. GRUPO LOCAL 33 (Aveiro)
dinária foram discutidos dois documen- Joana Valente: amnistiaveiro@gmail.com; http://
A troca de ideias e de opiniões conti- tos. No primeiro, “Uma posição da AI amnistiaveiro.blogspot.com/
nuou depois, a 30 de Maio, na Batalha, Portugal sobre o casamento civil entre
NÚCLEO DE ALMADA
onde teve lugar a Assembleia Geral Ex- pessoas do mesmo sexo”, a discussão Marlene Oliveira da Conceiçã: ai.nucleoalmada@
traordinária. A Ordem de Trabalhos pre- estendeu-se, não tanto pelo conteúdo do gmail.com; http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/
via a discussão e aprovação de normas documento mas acerca do momento para NÚCLEO DE ARCOS DE VALDEVEZ
Rui Mendes: rbritomendes@gmail.com
internas que estavam desactualizadas o tornar público. Isto porque a questão
NÚCLEO DE CASTELO BRANCO
face às evoluções da secção, tendo o faz parte do programa eleitoral do Parti- (a designar): ai_nucleo_castelobranco@yahoo.
primeiro sido o regulamento eleitoral da do Socialista e se a AI Portugal apresen- com; http://amnistiacastelobranco.blogspot.com/
AI Portugal. Embora se tenham mantido tasse publicamente a sua posição agora, NÚCLEO DE CRIANÇAS (Vila Nova de Famalicão)
Vitória Triães: vitoriatriaes@msn.com
algumas opções, como as candidaturas poderia ser entendida como apoio ao NÚCLEO DE ESTREMOZ
para os órgãos sociais serem por lista partido. Não houve conclusões, pelo que Fátima Crujo: amnistiaetz@gmail.com
e não nominais, foram realizadas alte- ficou de se desenvolver o debate. NÚCLEO DE GUIMARÃES
Cristina Lima: amnistia.guimaraes@gmail.com
rações nos prazos e processos de apre-
Por fim, foi apresentado o documento “AI: NÚCLEO DE MATOSINHOS
sentação das candidaturas e nos tipos Otília Gradim Reisinho: amnistia.matosinhos@
um olhar crítico”, subscrito por um grupo
de voto (presencial, por correspondência gmail.com; http://nucleodematosinhos.blogspot.
de membros da AI Portugal, que contesta com/
e por delegação).
algumas das evoluções do movimento, NÚCLEO DO OESTE / CALDAS DA RAINHA Teresa
O segundo ponto da ordem de trabalhos que, na sua opinião, o têm descarac- Mendes: ai.nucleooeste@gmail.com
NÚCLEO DO PORTO
foi a revisão das Normas de Enquadra- terizado. Grande parte do texto colheu o André Rubim Rangel: nucleo.ai.porto@gmail.com
mento e Relacionamento das Estruturas apoio da maioria dos presentes, contudo, NÚCLEO DE TORRES VEDRAS
Operacionais da AI Portugal (NEREOP), como se pretende levá-lo à consideração Ana Lopes: aitorresvedras@gmail.com; http://blog.
comunidades.net/aitorresvedras/
nas quais foi feita uma arrumação sis- internacional (por exemplo, na Reunião
témica. Na versão original eram referi- do Conselho Internacional, em Agosto GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS
dos de forma desarticulada “grupos” e – ver rubrica “Retrato” desta revista), HUMANOS
Fernanda Sousa: mfpsousa@gmail.com
“núcleos”, pelo que optou-se por usar deverá ser mais debatido e consensuali-
CO-GRUPO DA CHINA
sempre a expressão “estruturas”, ex- zado. Para esse efeito tem sido discutido Maria Teresa Nogueira: nogueiramariateresa@
cepto quando se regula especificamente no Conselho Geral (que reúne duas vezes gmail.com
algum tipo de estrutura. Em muitas por ano e é composto pelo Presidente CO-GRUPO DA PENA DE MORTE
Raul Gaião: raullealg@gmail.com
partes das NEREOP faltava referência da Assembleia Geral, pelos Presidente e GRUPO DE JURISTAS
aos ”Co-grupos”, que agora foi incluída. Tesoureiro da Direcção, pelo Presidente Sónia Pires: sonia.c.pires@gmail.com
Embora estivesse também prevista a re- do Conselho de Responsabilização e Con- NÚCLEO LGBT
Manuel Magalhães: lgbt.amnistia@gmail.com
visão da norma que regula as finanças trolo e por delegados dos grupos locais).
das estruturas (propondo-se eliminar as Se ainda não existe um grupo da Amnistia Interna-
várias contas bancárias para centralizar Conheça melhor as conclusões da Assembleia Geral cional Portugal perto de sua casa, pode sempre ser
Ordinária e Extraordinária em www.amnistia-interna- pioneiro e começar o activismo na sua localidade.
tudo numa só conta), não foi reunido
cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Internacional Fale connosco pelo boletim@amnistia-internacio-
consenso, pelo que foi criado um grupo Portugal) nal.pt ou ligando 213 861 652.
de trabalho para encontrar alternativa.
Notícias • Amnistia Internacional 23
Entrevista completa em www.amnistia-interna- Entrevista a Richard Brouillette em www.amnis- voltou quando Gargot assistiu à primeira
cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Interna- tia-internacional.pt (Aprender/Revista da Am- Gacaca, no Ruanda. “Ia com enorme
cional). Mais informações sobre o filme em www. nistia Internacional). Mais informações sobre o
tecolotefilms.com filme em http://encirclement.info/ expectativa, por ser outro modo de fa-
zer justiça e de promover a reconcilia-
ção”, diz. Alguns anos depois, em 2007,
MENÇÃO HONROSA “É um filme que é revelador dos misté- quando filmou os julgamentos nacionais,
L’Encerclement, de Richard Brouillette, rios que nos levam a viver desta forma Gargot já sabia que estes se tinham tor-
Canadá, 2008, 160’ e não de outra. Abre-nos o cérebro e nado muito pouco transparentes. Assim,
dá-nos luz”. se ao início o realizador “estava fasci-
Anabela Teixeira, actriz, um dos elementos nado pela justiça e pela lei como para-
do júri do Prémio da AI Portugal, a digmas civilizacionais universais”, no
propósito da Menção Honrosa atribuída final percebeu que os dois sistemas de
a L’Encerclement. Leia mais em www. justiça “estão dominados por assuntos
amnistia-internacional.pt (Aprender/ políticos”. Apesar da rápida conclusão,
Revista da Amnistia Internacional) o realizador espera, com D’Arusha à
Arusha, levantar “mais questões do que
dar respostas”.
© Privado MENÇÃO HONROSA Entrevista a Christophe Gargot em www.amnistia-
internacional.pt (Aprender/Revista da Amnistia
Se dissermos que L’Encerclement, de D’Arusha à Arusha, de Christophe Internacional)
Richard Brouillette, é um filme com quase Gargot, França/Canadá, 2008, 114’
três horas e que é feito de depoimentos,
muitos leitores ficam com certeza as- “É um filme que nos leva a rever a des-
sustados. Se acrescentarmos que se de- graça de Ruanda e da miséria que é a
bruça sobre o neo-liberalismo, a maioria violência, através de imagens e de de-
evitaria até vê-lo. No entanto, é preciso poimentos belos e fortíssimos”.
sublinhar que tem sido um sucesso e que Anabela Teixeira, actriz, um dos elemen-
o público do IndieLisboa 2009 o elegeu tos do júri do Prémio da AI Portugal, a
como o melhor entre as mais de duas propósito da Menção Honrosa atribuída a
centenas de filmes exibidos. Surpreen- © Privado D’Arusha à Arusha. Leia mais em www.
deu também o júri do Prémio Amnistia amnistia-internacional.pt (Aprender/
Internacional Portugal, que lhe atribuiu Na última década foram feitos vários Revista da Amnistia Internacional).
uma Menção Honrosa. filmes que procuraram retratar o que
foi o genocídio dos tutsis pelos hutus no
Para Richard Brouillette, o sucesso não é Ruanda, em 1994. O francês Christophe
tão surpreendente assim. “Vi audiências Gargot resolveu ir mais longe e depois
cativadas por intelectuais em palestras de vários anos como consultor nas áreas
e sempre pensei que este filme iria en- do ambiente, do desenvolvimento inter-
contrar o seu caminho até ao público, nacional e dos projectos humanitários,
porque há uma necessidade de ana- decidiu realizar o seu primeiro documen-
lisar em profundidade”. Foi isso que o tário sobre a justiça que está a tentar
realizador, produtor, editor, argumentista ser feita internacionalmente, no Tribunal
e investigador de 39 anos tentou fazer Criminal Internacional para o Ruanda
nos 12 anos que dedicou ao documen- (TCIR), e ao nível nacional, nas chama-
tário, procurando perceber a ideologia das Gacacas. Uma abordagem diferente,
neo-liberal que hoje existe, a sua origem, que levou o júri do Prémio Amnistia Inter-
as suas ideias e as suas consequências. nacional Portugal a distinguir D’Arusha
Para tudo isto entrevistou 13 dos mais à Arusha com uma Menção Honrosa.
prestigiados intelectuais do mundo, como
Noam Chomsky e Ignacio Ramonet. Tudo começou em 1999, revela Chris-
tophe Gargot, quando visitou um amigo
No final Brouillette espera que os espec- em Arusha, na Tanzânia, onde está se-
tadores percebam que “a intenção por diado o TCIR. “Assisti pela primeira A Amnistia Internacional agradece ao
detrás das reformas neo-liberais é ins- vez a um julgamento internacional”, IndieLisboa pela parceria, aos três ele-
tituir uma nova forma de colonialismo, recorda, revelando a “frustração” que mentos do júri que foram incansáveis
que não tem respeito pelos direitos sentiu ao ver que não havia público, nem na visualização dos filmes e na sua dis-
humanos (ou pelo ambiente)”. Acredita, representantes da comunidade interna- cussão e à Fundação Serra Henriques,
por isso, que L’Encerclement pode ajudar cional, quando o normal seria esperar que continua a possibilitar a existência
a despertar os cidadãos, tornando-os uma sala cheia. Em 2002, o sentimento deste prémio.
“mais activos política e socialmente”.
Notícias • Amnistia Internacional 25
JOVEM
Torna-te um activista pelos Direitos Humanos
Ainda antes do ano lectivo terminar, a Amnistia Internacional fez anos e a nossa ReAJ-Rede de Jovens foi
finalmente apresentada ao público. Fica a saber tudo sobre o evento e junta-te a este grupo de activistas
que acredita que os jovens têm um papel fundamental a desempenhar na defesa e promoção dos direitos
humanos. Acredita, há muito coisa que podes fazer! Ainda nesta secção do “Notícias da Amnistia Inter-
nacional Portugal” deixamos-te um desafio para este Verão. Contamos contigo!
REPORTAGEM DA FESTA DE Como a noite era de festa, seguiu-se o “Defender os direitos humanos é uma
APRESENTAÇÃO DA REAJ concerto dos Corsage, com um som si- das tarefas mais nobres e bonitas que
multaneamente ligeiro e melancólico, conheço, mas não é um mar de rosas.
Por Gonçalo Marcelo, Coordenador da Rede de
Jovens da Amnistia Internacional Portugal
profundo mas a espaços irónico. Foi uma Há muitos obstáculos pela frente e se-
hora muito bem passada, que captou a rão confrontados com pessoas que vos
atenção da audiência. Atingiu-se o ru- dirão que não vale a pena lutar. Irão
bro quando, já perto do final, o vocalista também deparar-se com a indiferença e
conseguiu introduzir na letra da música apatia, muitas das vezes vindas daque-
o lema dos panfletos que tínhamos dis- les que vos são próximos e de quem
tribuído – Discriminar não é humano! mais gostam.
Chegada a meia-noite e o ansiado dia O que eu aprendi é que não devemos
© ReAJ 18 de Maio, brindámos (o famoso brinde levar a mal estas atitudes. Muito pelo
à liberdade!) à Amnistia Internacional e contrário, é nestas alturas que devemos
A 17 de Maio houve um serão de Domingo comemos um bolo feito pela Sofia, um reforçar a nossa fé em nós próprios e
diferente. Contra todas as expectativas, dos membros da ReAJ. Até ao final da nos outros. Por vezes o mundo vai pare-
conseguimos encher a Fábrica Braço de noite, ainda contámos com a animação cer-vos um sítio tão aterrador que terão
Prata, em Lisboa, com activistas que vie- do convidado especial, o mágico Houdini, dúvidas sobre se realmente vale a pena
ram celebrar o 28º aniversário da secção que nos divertiu com os seus truques de serem activistas de direitos humanos.
portuguesa da Amnistia Internacional cartas. A todos deixamos um profundo É nestas alturas que pego nas Cartas a
(AI), que se assinalou a 18 de Maio, e agradecimento e contamos ver-vos nos um jovem poeta, de Rilke, e leio o que
aproveitaram para ficar a conhecer a próximos eventos da ReAJ! Mais infor- ele dizia a outro poeta sobre a necessi-
ReAJ-Rede de Jovens da organização, mações através do blog www.reajpor- dade de ser escritor, aconselhando-o a
que tinha organizado a festa e fazia as- tugal.blogspot.com ou através do mail fazer esta simples pergunta a si próprio
sim a sua apresentação pública. redejovem.amnistia@gmail.com. “tenho de escrever?”. É que caso esta
Foi uma noite animada que começou com pergunta seja afirmativa, então o escri-
um jantar de convívio entre os membros tor sabe que é isso que é suposto estar a
da ReAJ e a banda que se associou aos fazer. Aconselho-vos a fazerem-se esta
festejos – os muito promissores Corsage pergunta sempre que tenham dúvidas:
(visitem o MySpace deles, que vale a “É isto que tenho de fazer?” Eu tenho
pena:http://www.myspace.com/cor- fé que irão responder: “Sim, é isto que
sage). Findo o repasto, começou a festa tenho de fazer, é isto que quero fazer”.
propriamente dita. Eu fiz as honras da Tenham ainda sempre em conta outro
casa, servindo de anfitrião, mas houve conselho que ele dava: “tudo tem um
ainda tempo para ouvir Pedro Krupenski, tempo até ser dado à luz (...) a paciên-
Director Executivo da AI Portugal, que deu cia é tudo”.
as boas-vindas a todos, e Ana Monteiro, Mensagem de Ana Monteiro, da direcção da
da direcção da organização, que nos en- Amnistia Internacional Portugal, para todos os
corajou e motivou a sermos capazes de membros da ReAJ, transmitida no dia da apre-
manter a chama acesa (ver caixa). sentação pública do grupo de jovens.
© ReAJ
26 Notícias • Amnistia Internacional
UMA BOA IDEIA PARA TI E PARA MARCA JÁ NA TUA AGENDA! GRUPOS DE ESTUDANTES DA
A TUA ESCOLA: 10.ª CAMPO DE TRABALHO AMNISTIA INTERNACIONAL
DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL
ACABAR COM A POBREZA NO MUNDO!
(Coordenadores e emails/blogs)
Sabias que hoje, bem como em todos os Todos os anos a Amnistia Internacional
• GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
restantes dias do ano, há pelo menos Portugal organiza quatro dias de dedica- (Fátima)
963 milhões de pessoas a passar fome? ção total aos direitos humanos, naquilo a Sandra Maurício: ai_csm@live.com.pt
E que 1.000 milhões de pessoas vivem que chama Campo de Trabalho. A ideia • GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
em bairros degradados? E que há 1.300 é juntar uma centena de jovens, com SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
milhões de pessoas que não têm acesso idades entre os 15 e os 18 anos, num Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
a cuidados de saúde básicos e 2.500 local a designar e durante quatro dias vao.org
milhões que não têm serviços sanitários realizar sessões – umas mais informa- • GE DA ESCOLA BÁSICA 2,3 NUNO
adequados? Números, entre muitos ou- tivas, outras mais lúdicas, outras mais GONÇALVES, (Lisboa)
tros que vos poderíamos apresentar, que participativas – sobre temáticas relacio- Iolanda Machado: iolandamachado@
nadas com os direitos que são de todos gmail.com
provam que em todo o mundo continuam
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
a existir milhões de pessoas a viver em nós, Seres Humanos. Sabes quais são
ALBUFEIRA
situação de pobreza. Vamos combater os 30 artigos da Declaração Universal
Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
estas violações dos direitos humanos. No dos Direitos Humanos? E quais são as amnistiainternacional@hotmail.com;
próximo ano lectivo, toma tu as rédeas principais violações de direitos huma- grupodaesaai.blogspot.com
do mundo e torna-te um activista! nos cometidas no nosso país? Questões • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
que são debatidas no Campo de Trabalho DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
O que tens de fazer? Primeiro aproveita
da Amnistia Internacional, que vai já na Fernanda Vicente: fpacvicente@sapo.pt
o Verão para pensar e planear uma ac-
sua 10ª edição e que este ano se reali- • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
tividade que possas realizar, com os teus ERMESINDE
za entre os dias 28 de Novembro e 01
amigos ou com a tua escola, no dia 17 Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt;
de Dezembro. Marca já na tua agenda!
de Outubro, Dia Internacional para a Er- www.ai-ese.pt.vu
As inscrições são em Outubro. Daremos
radicação da Pobreza. Depois, se tiveres • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
mais informações muito em breve... Está
uma boa ideia fala connosco... Vamos FERNÃO MENDES PINTO (Almada)
atento a www.amnistia-internacional.pt
ajudar-te a pô-la em prática. Lembra- Marta Reis: amreis1@hotmail.com
-te que podem ser coisas simples, como • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
uma exposição, um concerto, uma con- VILHENA (Porto)
ferência, um debate, entre milhares de Carla Ferreira: carlafariaferreira@
outras actividades que podes idealizar. O hotmail.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
objectivo tem de ser um só: alertar todas
LAMAS (Torres Novas)
as pessoas à tua volta para a questão
Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
da pobreza! É preciso que percebam que com
este é um problema que é de todos nós! • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
Indigna-te! Actua! MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
Cristina Soares: crisoaresd@hotmail.
com; amnistisiados.blogspot.com
© AI Portugal
• GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
LISBOA
Ana Matos Ferreira: nucleoai.fdul@
gmail.com
“A temática dos direitos • GE DO ISCTE
humanos cativa-me e para Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com
fazer parte de um grupo • ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEM
de estudantes da Amnis- Gonçalo Marcelo: redejovem.amnistia@
tia Internacional não pre- gmail.com; www.reajportugal.blogspot.
com
cisamos de despender de
tanto tempo assim”
Benjamin Santos, 17 anos, a pro- Se ainda não existe um Grupo da Amnis-
pósito da sua participação no tia Internacional na tua escola, podes ser
tu a criá-lo. Nós dizemos como... Escreve-
Grupo de Estudantes da Escola
-nos para boletim@amnistia-internacio-
Secundária de Ermesinde.
nal.pt ou telefona para o 213 861 652.
© AI Portugal
Notícias • Amnistia Internacional 27
Nesta edição do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” tornamos a apresentar uma análise da
situação financeira da secção portuguesa da organização
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro
SITUAÇÃO ECONÓMICA E em Londres), no ano de 2006, no valor dade do empréstimo contraído, bem como
FINANCEIRA total de 230.000 euros, foi efectuada já liquidar a dívida congelada ainda exis-
Como se pode observar na tabela 1, o em Junho a quarta amortização, desta vez tente (29.467 euros).
primeiro trimestre de 2009 obteve uma no valor de 25.000 euros. Assim, o valor
A AI tem presente a preocupação de pre-
diferença positiva entre receitas e despe- total de amortizações, efectuadas desde o
parar estratégias para um futuro próximo,
sas no valor total de 33.501,76 euros. início de 2008, é de 180.000 euros. fazendo face ao cenário de crise inter-
Na sequência do empréstimo contraído Dada a situação financeira actual, a Am- nacional, que poderá também afectar o
pela Amnistia Internacional (AI) Portugal nistia Internacional Portugal pretende, funcionamento desta Organização Não
ao Secretariado Internacional (sede da AI, até ao final deste ano, amortizar a totali- Governamental.
BOAS NOTÍCIAS
BRASIL policial feito a uma favela do Rio de Ja- membros e apoiantes se terem envolvido
MARCELO FREIXO RECEBE PROTECÇÃO neiro tinha descoberto uma carta, envia- no caso, Marcelo Freixo e Vinicius George
da por um chefe de uma milícia a outro receberam finalmente protecção adequa-
grupo criminoso, pedindo ajuda para o da. O Secretário de Estado da Segurança
assassinato dos dois homens. Pública acrescentou ainda que esta
será providenciada pelo tempo que for
As ameaças surgiram no seguimento da
necessário. A somar a esta boa notícia,
nomeação do deputado para presidente
chegou-nos ainda outras duas: a primei-
da Comissão Parlamentar de Inquérito
ra dá conta da detenção de 39 alegados
que durante seis meses investigou as
membros de milícias e a segunda refere
milícias do Rio de Janeiro e o nível de en-
o acordo estabelecido, a 25 de Junho,
volvimento do Governo nas actividades
© Amnistia Internacional entre o Ministro da Justiça, o Governador
ilícitas destes grupos criminosos, que,
A Amnistia Internacional criou, no pas- do Estado do Rio de Janeiro e a Polícia
recorde-se, são compostos por antigos
sado mês de Junho, um apelo urgente Federal, no sentido de desenvolverem a
polícias, agentes prisionais e bombeiros.
em nome do parlamentar brasileiro do legislação nacional por forma a melhorar
O relatório final ficou concluído em
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) o combate às milícias. Esta era uma
Dezembro do ano passado e foi enviado
Marcelo Freixo, de 42 anos, e do seu as- das medidas sugeridas pelo relatório
ao Ministério Público e ao Parlamento.
sessor, Vinicius George. Os dois tinham, da Comissão de Inquérito presidida por
nesse mesmo mês, recebido ameaças de No passado mês de Junho, depois de Marcelo Freixo.
morte. Antes ainda, em Maio, um raide a Amnistia Internacional e de os seus
APELOS MUNDIAIS
Na página anterior demos-lhe conta de casos que, graças à ajuda de centenas de pessoas conseguiram
ser resolvidos ou estão no bom caminho... Se cada um de nós enviar um postal, serão milhares a chegar
às autoridades. E esta é uma forma de pressão internacional que, muitas vezes, é eficaz!
Nesta revista falamos-lhe de mais quatro pessoas que precisam desta mobilização mundial. Tudo o que
tem de fazer é enviar um postal.
ETIÓPIA
Prisão perpétua para líder partidária
Birtukan Mideksa, líder do partido etíope União para a Democracia e Justiça, está
a cumprir pena de prisão perpétua, numa cela com dois metros quadrados, por co-
-liderança nos protestos de 2005. Na altura, centenas de pessoas saíram às ruas para
contestar os resultados das eleições que pela terceira vez indicaram Meles Zenawi
para primeiro-ministro. Nos confrontos, pelo menos 187 manifestantes e seis polícias
perderam a vida.
A líder partidária, de 35 anos, mãe de uma rapariga de quatro anos, foi sentenciada
em 2006, mas em meados do ano seguinte, junto com outros que haviam sido con-
denados nas mesmas circunstâncias, assinou uma carta de perdão e foi libertada. Já
em 2008, e após Birtukan ter revelado num encontro público na Suécia os contornos
da negociação do seu perdão, foi novamente detida, ao regressar à Etiópia. O Governo
© Amnistia Internacional
etíope concedeu-lhe então três dias para que se retractasse, o que Birtukan Mideksa se
recusou a fazer, levando a que o seu perdão fosse revogado.
Apesar de lhe serem permitidas visitas, a Amnistia Internacional teme que, devido ao seu extremo isolamento, venha a ser alvo de
maus-tratos. Junte-se a nós num apelo em nome de Birtukan Mideksa, a ser enviado ao Comissário Europeu para o Desenvolvimento
e a Ajuda Humanitária, que pode pressionar fortemente o governo etíope para a libertação da activista, uma vez que a Etiópia recebe
ajuda financeira de vários países.
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
IRÃO
Prisioneiro de consciência a cumprir pena não oficial
Mansour Ossanlu, sindicalista e defensor dos direitos humanos iraniano, está a cumprir
uma pena de cinco anos por “actos contra a segurança nacional” e por “propaganda
contra o regime”. Mansour, de 49 anos, casado e pai de dois filhos (de 17 e 23 anos),
trabalha como condutor de autocarros e é presidente do Sindicato de Trabalhadores da
Rodoviária de Teerão e Subúrbios.
O prisioneiro já havia sido detido anteriormente por duas vezes, num total de nove
meses, por actividades relacionadas com o sindicato e é frequentemente perseguido
pelas autoridades iranianas, dentro e fora da prisão. A Amnistia Internacional acredita
que é um prisioneiro de consciência, detido apenas pelo exercício pacífico do seu direito
de associação.
Mansour Ossanlu foi julgado em Fevereiro de 2007 e recorreu da sentença, mas esta
foi reconfirmada. No entanto, o tribunal nunca emitiu oficialmente o veredicto, o que
impossibilita os seus advogados de contestarem a decisão. A Amnistia Internacional
acredita ainda que o seu estado de saúde é débil e que não lhe está a ser disponibi-
lizado o devido acompanhamento médico. A sua esposa acrescentou que não lhe tem
© ITF sido permitido consultar os seus advogados, desde Agosto de 2008.
Junte-se a nós num apelo às autoridades iranianas pela libertação imediata e incondi-
cional de Mansour Ossanlu.
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
Notícias • Amnistia Internacional 31
MÉXICO
Defensor dos Direitos Humanos detido injustamente
Raúl Hernández, activista dos direitos humanos dos povos indígenas, foi detido a 17 de
Abril de 2008 quando passava por um rotineiro checkpoint militar, acusado do homicí-
dio de Alejandro Feliciano García, a 1 de Janeiro de 2008, na cidade de El Camalote,
em Guerrero, México. Fontes não confirmadas indicam que o falecido tinha ligações à
polícia e ao Exército.
Junto com Raúl Hernández, foram detidos outros quatro activistas da Organização do
Povo Indígena Me’phaa (OPIM), acusados de instigar o crime. Ao fim de 11 meses de
prisão, em Março deste ano, as acusações que pendiam sobre os quatro activistas
foram abandonadas por falta de provas e estes foram libertados. Raúl Hernández
permanece detido, com base em dois testemunhos oculares que, de tão semelhantes,
© Javier Verdin/ LA
aparentam terem sido pré-preparados. Além disso, não foram tidas em conta outras
provas importantes, como o testemunho de álibis que provam que Raúl Hernández não
estava no local do crime no dia do assassinato.
A Amnistia Internacional considera Raúl Hernández um prisioneiro de consciência e acredita que a acusação de homicídio é um cas-
tigo contra a organização a que pertence e que surge como represália pelas suas actividades legítimas de promoção dos direitos dos
Indígenas. Junte-se a nós num apelo para que Raúl Hernández seja imediata e incondicionalmente libertado.
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
PAQUISTÃO
Cientista desaparecido no dia do casamento
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
32 Notícias • Amnistia Internacional
AGENDA
ESTE VERÃO TIRE FOTOGRA- melhores trabalhos jornalísticos sobre a EXPOSIÇÃO DE CARTOONS EM
FIAS... PELAS CRIANÇAS temática da deficiência. Os profissionais MATOSINHOS
da comunicação podem enviar reporta-
gens que tenham sido realizadas du- A todos os que não tiveram a oportuni-
rante o ano de 2008 e que promovam os dade de visitar a exposição “A Liberdade
direitos humanos, a dignidade humana é um Risco” no mês de Maio, em Lisboa,
e a inclusão social dos portadores de a AI anuncia que vai estar novamente
deficiência. Os trabalhos têm de ter sido aberta ao público entre os dias 5 e 27
publicados na imprensa, rádio ou tele- de Setembro, no Cine-Teatro Constan-
visão. A Amnistia Internacional Portugal tino Nery, em Matosinhos. Como o nome
© Nura Younis
é, pelo segundo ano consecutivo, júri do indica, a exposição integra cartoons
Prémio cujos resultados serão conheci- subordinados ao tema da Liberdade de
A 20 de Novembro assinalam-se duas Imprensa e espelha esta realidade em
décadas passadas desde a adopção dos a 21 de Fevereiro. Mais informações
em www.apd.org.pt diferentes regiões do mundo, uma vez
pelas Nações Unidas da Convenção so- que os humoristas gráficos são oriundos
bre os Direitos das Crianças. Apesar da de vários países. Uma mostra interna-
importância do documento, os Estados cional que resulta da parceria entre a AI
Unidos da América não o ratificaram. PARTICIPE NO ESTUDO SOBRE
LGBT Portugal e a FecoPortugal-Associação de
Por isso, a secção chilena da Amnistia Cartoonistas e que chega agora ao Norte
Internacional (AI) criou uma original do país pelas mãos do Núcleo de Mato-
campanha, denominada “Um Flash pe- sinhos, com o apoio da Câmara Munici-
los Direitos das Crianças”, que visa con- pal local. A não perder!
seguir que os norte-americanos adoptem
o documento internacional que prevê,
para todas as crianças do mundo, iguais FESTIVAL DE VÍDEO SOBRE
direitos civis, políticos, económicos, so- MIGRAÇÕES E DIVERSIDADE
ciais e culturais.
O que lhe pedimos a si é que este Verão
tire uma fotografia que expresse o seu
© Katja Tahja
desejo que os Estados Unidos da Améri-
ca ratifiquem a Convenção. Pode ver
Um grupo de investigadores da Escola PLURAL+ é o título de um festival bem
exemplos em http://www.facebook.com/
de Psicologia da Universidade do Minho, diferente daqueles a que nos habituá-
group.php?gid=165478840004&ref=ts.
com o apoio da Comissão para a Cidada- mos a ver neste Verão. Não tem bandas
Depois só tem de enviar a imagem, em
nia e Igualdade de Género, está a realizar de música, não tem palco ou recinto
formato digital, para ratificacion.crc@
um estudo que pretende investigar, em específico e não se paga bilhete de en-
gmail.com (com indicação do seu nome
Portugal, a discriminação em função da trada. No entanto, destina-se a todos os
e cidade/país). Em Novembro todas as
orientação sexual. O estudo está a ser jovens do mundo, com idades entre os 9
fotografias vão ser enviadas ao governo
desenvolvido com base em questionários e os 25 anos. O objectivo é que, até 30
norte-americano. Não fique fora desta
online e destina-se não apenas à popu- de Setembro, dediquem algum tempo a
acção... Um impacto significativo exige
lação LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e conhecer melhor a comunidade de imi-
muitos, muitos flashes... Participe, pe-
transgéneros), mas também a heteros- grantes do país onde vivem ou nasceram,
las crianças de todo o mundo!
sexuais. Tudo o que tem de fazer é, até neste caso, Portugal. Depois só têm de
30 de Agosto, dirigir-se ao site http:// realizar um vídeo, com duração entre 1 e
estudoideiaslgbt.blogspot.com, se for 5 minutos, que demonstre os problemas
CONCURSO PARA A COMUNICA- heterossexual, ou à página http://estu- por que passam estas pessoas, as suas
ÇÃO SOCIAL dopoplgbt.blogspot.com, se for LGBT. conquistas e a sua identidade. O vídeo
Até 15 de Janeiro de 2010 estão aber- Os questionários têm um tempo médio pode expressar pensamentos, apresentar
tas as candidaturas ao Prémio Dignitas de resposta de cerca de 20 minutos. O opiniões, relatar factos, ou dar sugestões
2009, atribuído anualmente pela As- anonimato e a confidencialidade são ga- e tudo isto em formato de animação,
sociação Portuguesa de Deficientes aos rantidos. documentário, drama, música, comédia,
Notícias • Amnistia Internacional 33
entre muitas outras formas originais de jecto. Mais informações brevemente em O livro conta a história verídica da família
promover o respeito e o reconhecimento www.amnistia-internacional.pt de Pari, amiga da autora, cujos três irmãos
mundiais por estas populações. Partici- se tornaram inimigos por força da guerra, ou
pem! Representem Portugal! O vence- melhor, da Revolução Islâmica de 1979: Ab-
dor vai receber o Prémio a Nova Iorque, NÃO ESQUEÇA OS MAIS POBRES bas seguiu o exército do Xá, Javad juntou-se
ao partido comunista e Ali uniu-se ao com-
a 18 de Dezembro, Dia Internacional do No próximo dia 17 de Outubro, quando bate às tropas de Saddam Hussein. Uma di-
Migrante. O festival PLURAL+ é uma ini- se assinala o Dia Internacional para a visão interna que ocorreu em muitas famílias
ciativa da Aliança das Civilizações das Erradicação da Pobreza, a Amnistia In- iranianas e que, como disse a autora ao jor-
Nações Unidas, em parceria com a Or- ternacional Portugal vai sair para as
nal Público, ajuda “a compreender as razões
ganização Internacional das Migrações, por detrás da [actual] fúria do povo contra o
ruas de Lisboa para lembrar que em todo governo. [Esta] não foi motivada apenas pe-
entre outras entidades. Todas as infor- o mundo 963 milhões de pessoas pas- las eleições, mas pelo que se passa no Irão
mações disponíveis em www.unaoc.org sam fome todos os dias. Não esqueça a nos últimos 30 anos”.
pobreza! Fique atento a www.amnistia-
ESTUDO SOBRE A POBREZA EM internacional.pt
TOME NOTA
PORTUGAL LEITURAS • 12 de AGOSTO
No âmbito da mais recente campanha Dia Internacional da Juventude
da Amnistia Internacional denominada A GAIOLA DE OURO
“Exija Dignidade”, a secção portuguesa De Shirin Ebadi, A Esfera dos Livros • 30 de AGOSTO
vai no próximo mês de Outubro tornar 250 páginas Dia Internacional dos Desaparecidos
públicas as conclusões de um estudo Numa altura em
• 21 de SETEMBRO
que está neste momento em curso e que que o Irão continua
a abrir noticiários Dia Internacional da Paz
visa compreender qual a percepção dos
em todo o mundo,
portugueses acerca da pobreza no nosso • 5 de OUTUBRO
aconselhamos a
país. A investigação tem por base 1.250 leitura do livro A Dia Mundial do Professor
inquéritos realizados porta-a-porta nas Gaiola de Ouro,
• 10 de OUTUBRO
P.V.P. €20 escrito pela juíza
freguesias mais comummente associa-
das a uma maior incidência de pessoas iraniana Shirin Ebadi, de 62 anos, que em Dia Mundial contra a Pena de Morte
2003 recebeu o Prémio Nobel da Paz pelo tra-
em situação de pobreza. Os dados estão balho desenvolvido em prol da democracia
• 17 de OUTUBRO
a ser analisados pelo SOCIUS-Centro de e dos direitos humanos, particularmente os Dia Internacional para a Erradicação da
Investigação em Sociologia Económica e das mulheres e das crianças. Por tudo isto, Pobreza
das Organizações, do Instituto Superior tem estado na mira do Presidente iraniano
• 18 de OUTUBRO
de Economia e Gestão, parceiro da Am- Ahmadinejad, tendo já por duas vezes sido
presa. Foi ainda impedida de exercer advo- Dia Europeu contra o
nistia Internacional Portugal neste pro-
cacia durante cinco anos. Tráfego de Seres Humanos
Dia Mundial do
Refugiado, 20 de Junho
Por Álvaro José Teixeira Santos
(FecoPortugal)
34 Notícias • Amnistia Internacional
CRÓNICA
Dignidade e Ética Global
Por David Justino*
TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL
TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!
PODE AJUDAR-NOS:
• Tornando-se membro (e passando a participar nas reuniões e assembleias da Amnistia Internacional Portugal)
• Tornando-se um apoiante regular
• Enviando um donativo esporádico
• E participando activamente nas actividades que lhe propomos durante todo o ano
1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
DESEJO TORNAR-ME MEMBRO (SDD), a pedido da Amnistia Internacional - Secção Por-
Quota Anual: €40 €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) tuguesa, as importâncias indicadas e com a regularidade
indicada 2. Estou informado de que os débitos poderão ser
DESEJO TORNAR-ME APOIANTE
efectuados em datas distintas 3. A Amnistia Internacional
Quantia do donativo: €25 €50 €100 €250 Outro: apenas poderá alterar os montantes após uma informação
Regularidade do donativo: Mensal Semestral Trimestral Anual prévia 4. Irei informar a minha entidade bancária, por es-
crito, caso pretenda cancelar as instruções aqui indicadas
DESEJO FAZER UM DONATIVO PONTUAL 5. Tenho conhecimento de que, caso algum débito (efectuado
No valor de € por SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5
dias úteis para reclamar junto da minha entidade bancária,
QUERO APENAS A REVISTA TRIMESTRAL (poupando sobre o preço da capa) que me devolverá o montante em causa.
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