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PORTUGAL

NOTÍCIAS
07 Abril / Maio / Junho 2010
Publicação Trimestral • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER
O que esconde a Europa?
Visto à lupa, o continente europeu perpetua uma triste realidade: a discriminação

MULHERES COMUNIDADE CIGANA


O fim de uma campanha e o início Em entrevista, Olga Mariano defende
de um novo ciclo para a Amnistia novas políticas de integração
ÍNDICE
03. 21. 29.
EDITORIAL EM ACÇÃO APELOS MUNDIAIS
INTERNACIONAL Na Arábia Saudita, no Laos, no
México e na Suazilândia há seis
04. Com o fim da campanha “Acabar com
pessoas que precisam de si.
a Violência sobre as Mulheres”, é altura
ENTREVISTA de tirar conclusões e projectar o futuro
Conheça-os e envie os apelos em seu
nome! A sua assinatura pode fazer a
Olga Mariano, da Associação para
diferença
o Desenvolvimento das Mulheres e
Crianças Ciganas Portuguesas, luta 23.
há vários anos para que ciganos
e não ciganos deixem de viver de
EM ACÇÃO NACIONAL 32.
costas voltadas Conheça os novos órgãos sociais da
secção portuguesa e saiba tudo sobre
AGENDA
o Prémio da Amnistia Internacional no
07. IndieLisboa 2010 33.
RETRATO CARTOON
Sauro Scarpelli coordenou o final da 26. No ano Europeu do Combate
campanha “Acabar com a Violência
sobre as Mulheres”, da Amnistia
EM ACÇÃO JOVEM à Pobreza e à Exclusão Social
é fundamental lembrar a
Internacional Portugal saiu do Mundial 2010, Discriminação
mas cada um de nós ainda pode
ser Campeão
09. 34.
EM FOCO 27. CRÓNICA
PRESTAÇÃO DE CONTAS Luís Silveira, Presidente da
Comissão Nacional de Protecção
10. de Dados, desmistifica a premissa
DOSSIER 28. de que a protecção de dados
pessoais é adversa à luta contra a
Discriminação: O que esconde a BOAS NOTÍCIAS discriminação
Europa?
No ano Europeu do Combate à
Pobreza e à Exclusão Social, é
importante perceber o que um
continente tido como exemplar
nem sempre revela

FICHA TÉCNICA de Fundos e Financeiro, José Bernardino,


Lucília-José Justino, Luís Novais Lingnau da
• Propriedade: Amnistia Internacional Silveira, Pedro Manaças, Sara Coutinho
Portugal • Revisão: Cátia Silva, Irene Rodrigues, Avenida Infante Santo, 42 – 2.º
• Director: Presidente da Direcção, Luísa Marques, Pedro Krupenski 1350-179 Lisboa
Tel.: 213 861 652
Lucília-José Justino • Concepção Gráfica e Paginação: Fax: 213 861 782
• Equipa Editorial e Redacção: Cátia Complementar, Lda. Email: boletim@amnistia-internacional.pt
Silva, Irene Rodrigues, Pedro Krupenski • Impressão: Relgráfica-Artes Gráficas Os artigos assinados são da exclusiva responsa-
• Colaboram neste número: Cláudia bilidade dos seus signatários.
Fotografias na Capa de: Rocío Cameros, UNHCR/F. Pagetti, Amnesty Interna-
Pedra, Departamento de Angariação tional Hong Kong/Jerome Yau, PA/AP Photo/Bogdan Maran, musicman
Notícias • Amnistia Internacional 03

EDITORIAL
De que falamos quando falamos de discriminação?
Por Lucília-José Justino, Presidente da Direcção

garanta um tratamento sem discrimina- destas formas de discriminação, falá-


ção, em matéria de emprego, de crença, mos com pessoas da área: a ILGA, para
religião, idade, orientação sexual, defi- a orientação sexual, a Associação para o
ciência. Não é inédito enviar ao Conselho Desenvolvimento das Mulheres e Crian-
propostas como esta: em 2000 foi apro- ças Ciganas Portuguesas, relativamente
vada a Directiva da Igualdade Racial, à discriminação étnica, a Associação
cuja avaliação permitiu comprovar que a Portuguesa de Deficientes para a dis-
sua implementação teve, na altura, um criminação da deficiência, a AGE, uma
impacto muito positivo. organização internacional, para a dis-
criminação etária, a UMAR, para a dis-
Apesar disso, desde que a proposta da
criminação de género, com o Sheik Munir
© Privado nova Directiva foi apresentada pela
para a discriminação religiosa.
primeira vez (Julho de 2008), a Alemanha
São múltiplas as formas de discriminação encabeçou a oposição à mesma e con- Mas temos mais motivos de interesse, do
com que o mundo de hoje se depara. E vai seguiu bloqueá-la até agora – embora no INDIE à protecção de dados pessoais, por
reparando, embora menos do que deveria, país exista legislação anti-discriminação, exemplo, numa crónica de Luís Silveira,
atendendo à gravidade de muitas delas. ela só se aplica (atenção!) aos alemães. presidente da Comissão Nacional de Pro-
E essa menor atenção e solidariedade, tecção de Dados.
contribuem para que essa situação não É um problema sério, este estabeleci-
seja devidamente reparada pelos poderes mento de níveis distintos de protecção É de tudo isto que falamos ao falar de
instituídos. à discriminação, consoante os grupos discriminação. Poderíamos alargar o âm-
envolvidos. Mas não é, longe disso, um bito do conceito, mas ficamos, por ora,
O diferente, o (mais) desconhecido, a problema apenas alemão. por aqui.
estranheza, sempre suscitaram reacções
e comportamentos de afastamento, de Se consultarmos o Eurobarómetro, vere- Boa leitura! E muita acção contra a dis-
negatividade, de medo e de rejeição, mos que a percepção de mais de metade criminação!
em casos extremos. Alguns fenómenos, dos portugueses é que, no nosso país,
como o 11 de Setembro, podem aguçar a discriminação é relativamente gene-
a desconfiança latente em muitas co- ralizada por orientação sexual (58%),
munidades e a exploração do medo e da razões étnicas (57%), deficiência (57%),
ignorância podem exprimir-se de forma ou idade (53%); mais de um terço
preocupante até em países com níveis acham que é generalizada a discrimi-
de desenvolvimento e cultura acima da nação de género (35%); e mais de um
média – de que são sinais, por exem- quarto reconhecem como generalizada
plo, a significativa subida de expressão ou significativa até a discriminação por
eleitoral de forças políticas extremistas religião ou crença (27%). Parece evi-
defensoras de exclusão, seja na Europa dente que a discriminação persiste, para
de Leste, na Holanda, ou noutros países. lá de imposições legais, sendo necessário
coerência nas políticas que assegurem
Aproveitando a circunstância de se estar uma atenção adequada à educação, in-
a celebrar o Ano Europeu do Combate à formação e sensibilização públicas. Nós
Pobreza e à Exclusão Social, a Amnistia também faremos a nossa parte, entre a
Internacional apresentou recentemente sociedade civil organizada.
um abaixo-assinado subscrito por 50 mil
pessoas, a favor da proposta da Comis- O Dossier desta revista procura abordar
são Europeia de aprovação de uma nova várias formas de discriminação, entre
Directiva Contra a Discriminação, que as acima enunciadas. Para cada uma
04 Notícias • Amnistia Internacional

ENTREVISTA
Olga Mariano, Presidente da Associação para o Desenvolvimento das
Mulheres e Crianças Ciganas Portuguesas (AMUCIP)
As pessoas de etnia cigana são as que mais sofrem com o racismo em Portugal. Um facto que o “Notícias
da Amnistia Internacional Portugal” foi tentar perceber melhor, nesta edição dedicada à Discriminação,
com Olga Mariano, Presidente da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres e Crianças Ciganas
Portuguesas (AMUCIP)
Por Cátia Silva

AI: A discriminação e o racismo que


se provou existirem têm melhorado ou
piorado nos últimos anos?
OM: Sinto muito mais agora do que há
20 ou 30 anos atrás, embora seja preciso
não esquecer que somos um povo com
500 anos de perseguições, aqui em Por-
tugal... Sem contar com o caminho que
fizemos ainda antes...
AI: Mas por que diz que hoje sente mais
discriminação?
OM: Penso que pode estar ligado ao
maior fluxo de imigração que Portugal
tem sofrido e que estejam a meter a co-
munidade cigana no mesmo saco. Não
vejo outra razão. Se há 30 anos atrás,
salvo raras excepções, uma pessoa era
tratada consoante a atitude que tivesse:
ou seja, se era educada era recebida
© Amnistia Internacional Portugal
com boa educação e se era mal-educada
também era mal recebida, agora não é
Amnistia Internacional (AI): Numa AI: Sendo assim, não ajudaria a co- assim. Não interessa ser bem-educada
edição em que falamos sobretudo de munidade cigana ser reconhecida ou não. Vestir-me de maneira diferente
discriminação, impõe-se referir que como “minoria nacional”? Porque este é o suficiente para a discriminação ser
num estudo lançado no ano passado, conceito não existe na legislação por- um facto.
pela Amnistia Internacional e pelo tuguesa, nem para etnias, nem para
Númena-Centro de Investigação em religiões, nem para minorias de outra AI: Será então o desconhecimento ou a
Ciências Sociais e Humanas, se conclu- natureza. ignorância que estão por detrás desta
iu que a comunidade cigana está entre discriminação?
OM: Eu não quero ser reconhecida como
os grupos que mais sofrem de racismo OM: Não, não diria desconhecimento,
minoria, mas como portuguesa. Se pen-
e xenofobia em Portugal. Concorda? mas as pessoas não quererem conhecer.
sarmos nos Açores, e em algumas terri-
Olga Mariano (OM): Sim. Sente-se per- nhas no Norte do país, temos até línguas E isso é o que mais me dói. Ouço em
feitamente bem e por várias questões. diferentes e maneiras de falar diversas. algumas reuniões e tertúlias que faço
Porque apesar de sermos portugueses, Nós [comunidade cigana] somos ci- dizerem: «a cigana tal ou tal, minha
somos muitas vezes misturados com os dadãos portugueses com uma cultura vizinha, é uma maravilha, mas os outros
imigrantes. E se os imigrantes sofrem na diferente. Com uma forma de estar dife- ciganos...». No fundo, essa pessoa não
pele por serem imigrantes, nós sofremos rente. Tal como os alentejanos, os algar- deixa de ter o preconceito.
por sermos portugueses diferentes. vios, os nortenhos...
Notícias • Amnistia Internacional 05

AI: Um preconceito que, como refe- cantinho. E é por isso que, por exemplo, cigana não dá valor à escola, quando a
rimos, é especialmente sentido pela a comunidade cigana não gosta quando restante sociedade a considera indis-
comunidade cigana. Será porque têm uma mulher cigana se junta a um não pensável. É verdade?
tradições que entram particularmente cigano. Sabemos que se ele deixar de
OM: Sim, é verdade. Os nossos valores
em choque com os valores de muitas gostar dela, larga-a. Na nossa cultura
também não passam por um percurso
pessoas não ciganas? Penso, por exem- não é assim. Quando uma mulher se
escolar completo. É muito bom saber
plo, nas questões relacionadas com as junta com alguém, passa a ser a sua
ler e escrever. Os rapazes normalmente
mulheres... mulher para o resto da vida. E tem de ser
estudam para depois poderem tirar a
respeitada até ao final dos seus dias.
OM: A comunidade cigana valoriza muito carta de condução e irem para o negócio.
mais a mulher. Para o bem e para o mal. “Vestir-me de maneira diferente é o Mas para que queremos um diploma?
A mulher tem de ser respeitada pelos suficiente para a discriminação ser Para ir para a feira? Porque nós ciganos
outros homens da comunidade. No en- um facto” não somos aceites pelas entidades em-
tanto, na óptica da cultura cigana, se a pregadoras...
mulher desrespeitar essa mesma cultura AI: Não é realmente assim que muitas AI: Sentirão muito provavelmente que o
é preciso haver um processo moroso de vezes é visto o papel atribuído à mulher vosso destino está traçado à nascen-
aceitação. pela comunidade cigana. Até porque ça?
AI: Compreende que isso pode ser há outros exemplos de tradições que
OM: Exactamente. É preciso perceber
chocante para parte da sociedade por- chocam com a cultura maioritária,
tudo isto e ver que a culpa não está só
tuguesa? Porque essa cultura não é como o facto de as raparigas ciganas
no nosso lado. A culpa nunca é só de um
vista como uma forma de valorização não poderem ir à escola depois de atin-
lado.
da mulher, mas como uma limitação da girem a puberdade. É mesmo verdade?
sua liberdade... AI: Mas acredita que a culpa é nor-
OM: Até ao quarto ano de escolaridade as
malmente atribuída aos ciganos e ra-
OM: Eu não encontro esse ponto da liber- raparigas têm 10 anos e andam na esco-
ramente se questiona se pode estar a
tação da mulher... A mulher cigana pode la com colegas da sua idade, mas quan-
começar precisamente na sociedade
fazer o caminho que quiser e fazer-se do passam para o ensino Secundário vão
não cigana, é assim?
respeitar pela opção que tomou. Quando encontrar miúdos com 15 ou 16 anos, que
me tornei Presidente da AMUCIP, nos não as respeitam como é o nosso respeito OM: Sim. Nunca descascam a ceboli-
primeiros anos levei muita “pancada”. pela mulher. Como na cultura maioritária nha... Ao descascarem vão vendo o
Tanto dos ciganos, que diziam que eu é simples agarrar uma rapariga e fazer porquê das coisas.
me estava a passar para a outra banda, o que se quiser com ela, essa falta de
AI: Um bom começo seria não colocar,
como dos não ciganos, que diziam que respeito pelo corpo da mulher é temida
como disse, “tudo no mesmo saco”,
lhes estava a tentar roubar os postos pelos ciganos.
até porque a comunidade cigana difere
de trabalho. Foi um processo moroso. Já AI: Ainda no que diz respeito à escola, muito, de país para país, de região para
lá vão 11 anos e hoje estou a ser reco- e continuando a tentar desmitificar região... Não é assim?
nhecida pela minha comunidade e pela os preconceitos, refira-se que num
comunidade maioritária [não ciganos]. OM: Sim. Cada terra tem os seus usos.
estudo publicado em 2001 pelo antigo
Mas foram precisos 11 anos e não um Nós portugueses temos uns valores, se
ACIME (Alto Comissariado para a Imi-
ano e meio. Tive de demonstrar aos não for a Espanha são diferentes e se for a
gração e Minorias Étnicas), hoje ACIDI
ciganos que existimos [a AMUCIP] para países de Leste ainda são mais dife-
(Alto Comissariado para a Imigração e
deixarmos de viver de costas voltadas e rentes. E esses valores estão muito liga-
Diálogo Intercultural), se conclui que
à minha comunidade que trabalhamos dos ao crescimento do próprio país. Nós,
“os alunos de origem cigana apresen-
para que não nos olhem da forma como portugueses, ainda estamos a anos-luz
tam invariavelmente maiores taxas de
costumam olhar. de Espanha. E no Leste estão a anos-
insucesso escolar”. Mais uma imagem
-luz de nós. Não se pode dizer que existe
AI: No entanto, como disse, não foi só negativa que se associa à comunidade.
uma comunidade cigana, mas há as
discriminada pela comunidade não Consegue explicar?
comunidades ciganas. Diferem do ponto
cigana, mas também pelas próprias OM: Não é que os ciganos sejam menos geográfico onde estão inseridos, do meio
pessoas de etnia cigana, que temeram inteligentes do que os outros, porque te- económico e social e da forma de estar
que passasse “para a outra banda”. mos de tudo, mas porque ao morar em dos pais e dos antepassados.
Não concorda que, por vezes, são os determinados locais, e quando os seus
próprios ciganos que se excluem da AI: É interessante que refira a questão
pais têm uma vida profissional de no-
restante sociedade? do meio onde os ciganos estão inseri-
madismo – em que hoje estão numa feira
dos, porque é preciso não esquecer que
OM: É uma forma de defesa e não uma no Norte do país e amanhã no Algarve –,
grande parte vive em bairros sociais...
maneira de se excluírem. Nós sabemos as crianças acabam por perder o seu
que quando vamos “para lá” [fora do percurso escolar normal. OM: Claro. Já não é só a cultura cigana,
ciclo da comunidade] levamos tantas mas também a cultura de bairro. Há o
AI: A crítica normalmente associada
que mais vale ficarmos quietos no nosso isolamento desses locais. As dificul-
a estes dados é que a comunidade
06 Notícias • Amnistia Internacional

dades de acesso às principais escolas e AI: Uma vez mais podemos aqui voltar se deveria assumir, ao invés de con-
aos transportes públicos... ao preconceito, porque muitas pessoas tinuarmos de costas voltadas?
diriam que estes dados que ligam a
AI: Além disso, pelo menos em Portugal OM: O que me têm pedido no bairro da
comunidade cigana à pobreza não são
a comunidade cigana não parece ser Cucena [concelho do Seixal], onde a
verdadeiros, porque o que acontece é
tão fechada como as pessoas pensam. AMUCIP está sedeada, é que seja feita
que os ciganos não fazem descontos,
A Olga Mariano é até um bom exemplo, uma escola para raparigas. É jogar a fa-
nem pagam impostos. É até por isso que
porque tirou a carta de condução aos vor da cultura que já existe, porque passa
há críticas sobre ficarem com as habi-
18 anos, hoje trabalha e sabemos tam- por aí a abertura de mentalidades. Se eu
tações sociais quando não as merece-
bém que escolheu o seu marido. Se hoje estiver numa formação que me dê outros
riam... O que diz a estas pessoas?
uma rapariga cigana quiser estudar horizontes, os meus horizontes mudam.
mais consegue fazê-lo, por exemplo? OM: Ver para querer. É muito bom dizer Vou perceber que posso não casar aos
isso assim, de fora, mas vamos lá trocar 16 anos e posso concluir o Secundário.
OM: Com as acções de formação e os
de casa. Venham para o bairro social e Os rapazes podem ficar mais instruídos
Cursos de Formação Profissional que
eu vou para a vossa casa. Vamos tro- e depois preferirem que as suas próprias
existem e que dão equivalências, muitas
car de ordenado. Vamos trocar de lugar. mulheres sejam mais instruídas...
mulheres ciganas já têm o 9.º ano.
Ponham-se na pele do outro. Não falem
AI: Era contribuir para a mudança sem
de costas quentes, porque é bom falar do
“Eu não quero ser reconhecida como ser pela aculturação, como se tem ten-
que é desconhecido.
minoria, mas como portuguesa” tado fazer até aqui, sem grande êxito...
AI: E a verdade é que poucas pessoas
OM: Exactamente. Ao invés de quererem
sabem o que é viver em bairros soci-
AI: É algo que elas querem ou que é im- tirar uma pessoa do seu habitat e pô-la
ais...
posto pela Segurança Social? noutro, onde vai morrer à míngua, vamos
OM: Quando se fala nos bairros sociais trabalhar as coisas para darem resul-
OM: Muitas hoje querem trabalhar de fico arrepiada. Para além de serem gue- tado. De raiz. Tem de haver alicerces. E
outra forma que não na venda ambulan- tos, não fomentam a aproximação da co- a mudança tem de partir das políticas.
te, porque as feiras, as praças e os mer- munidade cigana com os não ciganos. O Tem de ser por aí.
cados estão a acabar. A grande afluência nosso Governo devia pensar duas vezes
de chineses e indianos e dos grandes AI: É até importante frisar que a cultura
antes de criar bairros sociais. Devia rea-
hipermercados vieram fazer com que maioritária devia perceber de uma vez
bilitar casas nos meios urbanos para que
a venda ambulante tenha os seus dias por todas que esta abertura e diálogo
a vizinhança fosse mista, para que dia-
contados. É preciso ter uma segunda seriam essenciais não apenas para a
logássemos e deixassem de existir mitos
ferramenta. comunidade cigana, para seu benefí-
e preconceitos. Era apostar na inserção e
cio, mas para o bem de todos. Francis-
AI: Podemos então dizer que a comuni- não na exclusão.
co Monteiro, da Pastoral dos Ciganos,
dade cigana está a mudar? AI: Considera então que a solução para disse no Programa “Rua Europa 27”
OM: Está. Na AMUCIP divulgámos que estes problemas passa por melhorar as da Antena 1: “Não pode haver paz na
íamos fazer acções de formação e re- políticas sociais? E seriam depois estas Europa sem a inclusão dos ciganos”.
cebemos cento e tal inscrições. Homens que ajudariam a mudar mentalidades... Concorda que integrar a comunidade
e mulheres. Entre os 18 e os 60 anos. A cigana é uma necessidade?
OM: Eu penso que sim, que uma coisa
comunidade está a querer mudar, mas anda com a outra. As mentalidades le- OM: Claro que sim. Tem de haver um res-
agora falta o outro lado. Tem de haver vam séculos a mudar. É das coisas mais peito mútuo. É na partilha que se ganha.
entidades empregadoras a aceitarem difíceis... As políticas de inserção, que Uma ponte faz-se de duas margens e
estas pessoas. estão a ser propostas a nível europeu, estas têm de ser unidas de um lado ao
AI: Uma mudança que é, na verdade, seriam muito importantes. outro, senão caímos ao rio.
também uma necessidade. No pro- AI: A associação que criou no ano 2000, Entrevista completa em: www.amnistia-interna-
grama “Rua Europa 27”, da Antena 1, a AMUCIP, pretende exactamente pro- cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Inter-
dizia-se que há em Portugal 60.000 nacional)
mover essa inserção. Como é feito?
ciganos e que a maioria se encontra
em situação de pobreza. Concorda? OM: Um dos objectivos principais é dar a
palavra à mulher e a grande aposta é no
OM: Sim. Nunca vi tanta pobreza em percurso escolar das crianças.
Portugal entre os ciganos como agora.
Durante 25 anos fui vendedora ambu- AI: No fundo, vocês ao invés de criti-
lante e nunca tive problemas em pagar carem o facto de as raparigas não po-
as minhas contas. Nunca fui rica, mas derem ir à escola, como faz a restante
Saiba mais sobre a discriminação sentida
dava para o dia-a-dia. Hoje tenho muitas sociedade, criaram condições para que pela comunidade cigana na parte do “Dos-
dificuldades... possam estudar, respeitando a sua cul- sier” desta revista.
tura. Era essa a postura que se calhar
Notícias • Amnistia Internacional 07

RETRATO
SAURO SCARPELLI, Coordenador da Campanha “Acabar com a Violência
Sobre as Mulheres”
Nasceu com o sonho de ser jogador de futebol, mas uma missão de voluntariado na Bósnia selou o
seu destino. Hoje trabalha para a Amnistia Internacional e adora o que faz. A pouco tempo de fechar
definitivamente a campanha “Acabar com a Violência Sobre as Mulheres”, falou com o “Notícias da
Amnistia Internacional Portugal”
Por Sara Coutinho

seu trabalho voluntário é um ingrediente Após o seu trabalho como voluntário,


que entende ter sido um bom terreno de Sauro começou como investigador assis-
partida para o trabalho na Amnistia In- tente na equipa da ex-Jugoslávia ou
ternacional – “o contexto de mudanças equipa dos Balcãs3, em função da sua
sociais e o activismo ligam-se muito anterior experiência na Bósnia e Herze-
bem ao trabalho da Amnistia”. govina.
Em seguida, Sauro foi Coordenador de
A Missão na Bósnia e um segundo Campanhas na equipa de Segurança
contacto com a AI Militar e Policial, tendo assumido a coor-
© Carolina Penafiel / Control Arms
Quando terminou os estudos, Sauro denação da Campanha “Controlar as
Scarpelli rumou à Bósnia e Herzegovina Armas”4.
Sauro Scarpelli nasceu em Florença,
para uma missão de voluntariado de dois De todas as experiências, aquela que
Itália, a 23 de Maio de 1968. “Sempre
anos, na altura do imediato pós-guerra
adorei viajar e sempre quis trabalhar guarda com mais carinho, é precisa-
(1995). Sauro vivenciou várias situações
em questões internacionais e organiza- mente esta – “Estive envolvido desde
de violação dos Direitos Humanos em
ções internacionais”, revela. Enquanto o início, desde a conceptualização, a
primeira mão, que solidificaram ainda
jovem universitário, no curso de Ciên- estratégia, o desenvolvimento da Cam-
mais o seu interesse pelo trabalho na
cias Políticas, desenvolveu um grande panha, trabalhando com os parceiros
área, em particular, pelo trabalho da
interesse por Direitos Humanos, Política (...) foi uma experiência maravilhosa
Amnistia Internacional – “nos últimos
Internacional e Ciências Sociais, e che- desde o início e teve momentos muito
meses em que lá estive, trabalhei com
gou mesmo a colaborar com um Grupo de marcantes como entregar a petição
um colega que acabara de tirar uma
Estudantes1 da Amnistia Internacional “Um Milhão de Rostos”5 a Kofi Annan
licença sabática do Secretariado In-
(AI). Sente-se activista por natureza. ternacional2 da Amnistia Internacional nas Nações Unidas. Foi muito impor-
e com quem conversei muito sobre a tante para mim e muito emocional”.
Activismo organização e o quanto ele gostava Da Campanha “Controlar as Armas”,
Sauro Scarpelli começou a fazer volun- do seu trabalho (...) e foi através dele Sauro Scarpelli foi convidado a juntar-se
tariado enquanto jovem universitário. A que ganhei um verdadeiro interesse à recta final da primeira grande cam-
princípio, a sua colaboração com o Grupo em mudar-me para Londres [onde está panha global de longo termo da Amnistia
de Estudantes da Amnistia Internacional situado o Secretariado Internacional]”, Internacional – a Campanha “Acabar
da sua universidade em Florença “não explica Sauro. com a Violência Sobre as Mulheres” (Stop
foi um envolvimento massivo, apenas Este contacto selou o seu destino para os Violence Against Women, conhecida pela
algumas pequenas coisas mas, durante anos seguintes – em Dezembro de 1997 sigla inglesa SVAW)6 –, como coordena-
o meu percurso académico, desenvolvi Sauro Scarpelli juntou-se ao Secretari- dor de campanha e na qual trabalhou
um grande interesse pelas questões ado Internacional como voluntário. durante o último ano.
internacionais dos Direitos Humanos”,
recorda. Além disso, Sauro Scarpelli foi Longo percurso O trabalho na SVAW
também um jovem muito activo do ponto “A campanha foi um modelo na medida
de vista político, tendo estado envolvido Desde que se juntou ao Secretariado In-
ternacional como voluntário, há mais de em que foi a primeira campanha global
em actividades partidárias. A conjuga- a longo termo e mudou o enfoque do
12 anos, Sauro Scarpelli desempenhou
ção entre o seu activismo político e o discurso da organização dos direitos
várias tarefas diferentes.
08 Notícias • Amnistia Internacional

1. A Amnistia Internacional é, acima de tudo, um


movimento de activistas. Estes reúnem-se, mui-
tas vezes, em grupos de voluntários que têm como
função apoiar as secções nacionais a promover
e proteger os Direitos Humanos. Os mais jovens
juntam-se, acima de tudo, nos chamados Grupos
de Estudantes, normalmente associados a uma
determinada instituição de ensino.
2. Secretariado Internacional é o nome por que é
conhecida a sede da Amnistia Internacional, em
Londres.
3. No Secretariado Internacional (ver nota anterior)
mais de 400 profissionais desenvolvem o trabalho
de defesa e promoção dos Direitos Humanos, di-
vididos em equipas, de acordo com diferentes áreas
geográficas e diversas temáticas.
© Sol Aramedi / Control Arms 4. As chamadas Campanhas da Amnistia Inter-
nacional ilustram as prioridades do movimento e
Sauro Scarpelli fala com a comunicação social durante uma acção de rua da campanha “Controlar as Armas”.
desenvolvem-se a longo prazo, por se tratarem de
situações em que a mudança é um processo lento e
civis e políticos para os direitos soci- Internacional] todos os dias e dos meus gradual. Estas Campanhas resultam em três situa-
ções distintas: as campanhas globais, que todo o
ais, económicos e culturais”, explica colegas”, justifica. movimento adopta como prioridade principal; as
Sauro. campanhas temáticas, adoptadas pelas secções
Quando lhe perguntámos o que gostaria nacionais em função das diferentes realidades; e
Apesar de não ter acompanhado a cam- de fazer se pudesse escolher, Sauro as campanhas tácticas, desenvolvidas como res-
panha desde o início, Sauro Scarpelli vê Scarpelli confessa que gostaria de tra- posta a determinadas situações, como a que visa
“Combater o Terrorismo com Justiça”. A Campanha
como muito gratificantes os desenvolvi- balhar noutra área, ou até mesmo noutro “Controlar as Armas” é uma campanha temática
mentos trazidos por esta campanha, não país – “O meu sonho seria trabalhar que surgiu em Outubro de 2003 através de uma
parceria estabelecida com a IANSA (International
apenas a nível interno, mas também dos nas Nações Unidas em Nova Iorque”. Action Network on Small Arms) e com a OXFAM,
objectivos alcançados nas várias reali- uma organização não-governamental. Um dos ob-
dades nacionais que teve que enfrentar B.I. jectivos principais é persuadir os Estados das Na-
ções Unidas a aderirem a um Tratado de Comércio
– “Foi intimidante entrar em alguns de Armas que regule este negócio que, anualmente,
Sauro Scarpelli nasceu com o sonho de
países como uma organização com leva à morte de milhares de pessoas, na medida
ser jogador de futebol. Não o faz profis- em que fomenta a pobreza e situações de conflito.
muito dinheiro e muitos recursos para
sionalmente, mas fá-lo por lazer sem- Mais informações em www.amnistia-internacional.
trabalhar numa área em que o conheci- pt (Campanhas/Controlar as Armas).
pre que pode, apesar de admitir que
mento era ainda um pouco limitado (...) 5. A petição “Um Milhão de Rostos” foi uma pe-
não se considera um grande jogador.
mas a Amnistia é hoje uma organização tição visual, desenvolvida em 2003 no âmbito da
No seu tempo livre, gosta de fazer trek- campanha “Controlar as Armas” (ver nota ante-
respeitada e frequentemente consul-
king (caminhadas em trilhos naturais) rior) e que consistia na angariação de um milhão
tada”. de fotografias de rostos de activistas para serem
e adora viajar. Sempre que pode, vai ao entregues em 2006 nas Nações Unidas por ocasião
Actualmente, e uma vez que a campa- cinema e, mais recentemente, descobriu de mais uma discussão de um tratado de regulação
nha já terminou (desde Março de 2010), o teatro, área que lhe tem dado muito do comércio de armas.
Sauro está envolvido na elaboração de prazer e na qual tem feito formação. 6. “Acabar com a Violência Sobre as Mulheres” foi
a primeira campanha global da Amnistia Interna-
um relatório de avaliação do impacto da
Tem uma companheira de longa data cional (saiba mais na rubrica “Em Acção Interna-
campanha que evoluirá para um projecto cional” desta revista). Actualmente, a campanha
com quem tem um filho de um ano de global do movimento intitula-se “Exija Dignidade”
de implementação das lições retiradas
idade. e tem como objectivo contribuir para quebrar o ciclo
da campanha, tarefa que lhe ocupará os de pobreza, solucionando as violações dos Direitos
próximos meses. Como sempre quis conhecer Lisboa, Humanos que estão na sua origem e que são per-
Sauro esteve com a secção portuguesa petuadas por decisões políticas e de outros actores.
Mais informações em www.amnistia-internacional.
O que vem a seguir no passado dia 12 de Junho, juntando pt (Campanhas/Exija Dignidade).
o útil ao agradável: conhecer Lisboa e
O seu lugar permanente no Secretariado
jogar futebol.
Internacional é na equipa de Segurança
Militar e Policial e é lá que pretende con- Sauro Scarpelli é um exemplo de como
tinuar o seu trabalho. Apesar disso, Sau- o voluntariado pode ser uma porta de
ro já pensou várias vezes em regressar a entrada para descobrir paixões – a
Itália e colaborar com a secção italiana, sua natureza activista e o seu grande
acrescentando que já teve oportunidade envolvimento pessoal com as causas
de o fazer mas “a situação política em em que acredita foram os ingredientes
Itália é tão complicada e deprimente daquela que é, actualmente, uma longa
que a ideia de voltar é muito difícil e preenchida carreira na área dos Direi-
no momento e tenho a certeza de que tos Humanos. Esperamos continuar a
teria saudades do ambiente internacio- receber boas notícias deste percurso e a
nal que respiramos aqui [Secretariado contar com pessoas assim.
Notícias • Amnistia Internacional 09

EM FOCO
Nos últimos meses, dois territórios destacaram-se pelas piores razões. A Faixa de Gaza voltou a abrir
telejornais quando o ataque israelita se voltou contra a ajuda humanitária. No Quirguistão podemos estar
perante um novo Ruanda

FAIXA DE GAZA QUIRGUISTÃO


Um pesadelo sem fim Continua o banho de sangue
No último mês o mundo voltou a focar atenções na Faixa de Gaza, depois de a 31 de O mês de Junho fechou com um autêntico
Maio as forças israelitas terem atacado um barco com ajuda humanitária que resultou banho de sangue a inundar o sul da an-
na morte de dez pessoas. Os activistas que seguiam a bordo pretendiam protestar con- tiga república soviética do Quirguistão. A
tra o bloqueio israelita ao território, que começou em Junho de 2007 e que diariamente violência teve início a 10 de Junho, quan-
põe em causa a vida de milhares de palestinianos. do grupos rivais de quirguizes e uzbeques
entraram em confronto. Em pouco tempo
Recorde-se que a Faixa de Gaza conta com uma longa história de ocupação militar e os conflitos escalaram e testemunhos de
cultural, que se estende por vários milénios, e que, ainda hoje, é o pomo de discórdia no sobreviventes davam conta de estar a
Médio Oriente. Com o final da Guerra Israelo-Árabe, no armistício assinado entre Israel e ocorrer um verdadeiro genocídio em Osh,
o Egipto em 1949, Gaza conheceu um grande influxo de refugiados árabes e manteve-se a segunda maior cidade do país, habi-
sob o controlo das forças egípcias. Em 1967, com a eclosão da Guerra dos Seis Dias, Is- tada por uma forte comunidade uzbeque.
rael ganhou o controlo sobre o território, que manteve até aos Acordos de Oslo de 1993, Segundo relatos, grupos de jovens ale-
que deveriam levar à total transferência de poder para as autoridades palestinianas. A gadamente do Quirguistão vagueavam
administração palestiniana de Gaza esteve, até 2007, a cargo do partido político Fatah, pela cidade, expulsando os residentes,
que perdeu o poder nas eleições de 25 de Janeiro de 2006 para o mais radical Hamas. matando-os quando estes fugiam, quei-
mando as suas casas e pilhando os seus
Uma vitória que fez com que Israel impusesse um embargo ao território, como alegada
objectos pessoais. O alvo parecem ser
“medida de protecção” contra a ameaça terrorista representada pelo Hamas. Uma me- exactamente os cidadãos de origem uz-
dida que foi complementada por uma operação militar que durou de Dezembro de 2008 beque e os ataques estenderam-se já a
a Janeiro de 2009, tendo ceifado a vida a cerca de 1.300 palestinianos. Uma acção que outras cidades do sul do Quirguistão.
empurrou a crise humanitária na Faixa de Gaza para níveis catastróficos.
O bloqueio, que se mantém até hoje, tem impedido quaisquer esforços de reconstrução.
Os poucos bens de primeira necessidade que chegam às populações, através de or-
ganizações internacionais de auxílio, estão sujeitos a estritos limites e os atrasos nas
entregas são frequentes. O número de refugiados que vivem em condições de extrema
pobreza na Faixa de Gaza triplicou desde que o bloqueio teve início e a Amnistia Inter-
nacional alertou já para o facto de os principais visados estarem a ser as populações © UNHCR /S. Schulman
mais vulneráveis – crianças, idosos e doentes – e não o Hamas ou os grupos armados. Farooz e o seu filho frente ao que restou da sua comunidade, no
Pedimos-lhe, por isso, que nos ajude a tentar mudar esta realidade. Participe nas sul do Quirguistão.

petições que a Amnistia Internacional está a promover em www.amnistia-interna- Refira-se que esta era a zona do país de
cional.pt (Aprender/Revista da Amnistia Internacional). onde era originário Kurmanbek Bakiev,
presidente deposto no passado dia 7 de
Abril quando diversos manifestantes in-
vadiram o complexo governamental, por
alegada corrupção. Era também no Sul
do Quirguistão que o dirigente tinha a
sua principal base de apoio.
Pela proximidade com o Uzbequistão, as
vítimas da violência estão a passar em
massa para o país vizinho. A Amnistia
Internacional tem feito pressão para que
as fronteiras continuem abertas à entra-
© Associated Press da de refugiados e pede ajuda humani-
Raparigas palestinianas atravessam uma rua inundada, após uma forte chuva que se abateu sobre o campo de refugiados onde vivem. tária urgente para o território.
10 Notícias • Amnistia Internacional

DOSSIER
Discriminação: O Que Esconde a Europa?
Naquele que é o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, o “Notícias da Amnistia
Internacional Portugal” foi ouvir diversos protagonistas, para tentar perceber o que o “velho Continente”
continua a encobrir: a discriminação. Fomos auscultar a situação no que diz respeito aos seis fundamentos
existentes para um tratamento diferenciado

© Amnesty International Hong Kong/Jerome Yau


Um casal de lésbicas durante uma Marcha Pride em Hong Kong.

Se olharmos para o ranking do último Por tudo isto, e por muitos outros dados O tratamento menos favorável de pes-
Índice de Desenvolvimento Humano, de que poderíamos referir, a Europa é fre- soas ou grupos tendo por base a sua
2007, anunciado no ano passado pelo quentemente tida como uma referência orientação sexual, a sua etnia ou raça, a
Programa das Nações Unidas para o De- em termos de qualidade de vida. Para sua deficiência, a sua idade, o seu géne-
senvolvimento, dos 38 Estados e regiões além disso, as instituições criadas no ro ou a sua religião ou crença é proibido
com melhor desenvolvimento humano seu seio – de que são exemplo a UE e o globalmente, pela Declaração Universal
(“Muito Elevado”) 23 são da Europa, 19 Conselho da Europa – e os Tratados até dos Direitos Humanos, e na Europa, por
pertencentes à União Europeia (UE). Os hoje produzidos têm permitido que o con- Tratados e Directivas [ver caixa “O que
oito em falta para completar os 27 Esta- tinente seja considerado um bastião do dizem as Leis”]. Traçar o retrato global
dos-membros da instituição estão entre respeito pelos Direitos Humanos. Há, no destas discriminações, sentidas em todo
os que tem um Índice de Desenvolvimento entanto, um outro lado nesta nobre Eu- o mundo, era tarefa impossível, por isso
Humano “Elevado”. Em termos de pobre- ropa, que tem ficado esquecido à medida vamos neste Dossier dedicar-nos apenas
za, o país da UE com valores mais altos é que outras prioridades vão surgindo, àquele que é o “nosso” continente: a Eu-
a Roménia, com 5,6% de pobres, quando como a tão falada “crise económica”. ropa, e particularmente aos países que
o valor mais grave é 59,8%, no Afega- Para muitos autores, a discriminação compõem a União Europeia. Até porque
nistão. A mesma tendência verifica-se se é hoje um dos mais sérios abusos aos 2010 é o Ano Europeu do Combate à Po-
olhamos, por exemplo, para questões de Direitos Humanos a ocorrer na Europa. breza e à Exclusão Social e é fundamental
Saúde, uma vez que a esperança média Pouco visível, pouco mensurável, mas percebermos que estes flagelos são, na
de vida na maioria dos países da UE é de muito sentida por quem a sofre, tem sido verdade, causa e efeito da discriminação
mais de 70 anos, quando no Afeganistão silenciada até pelas próprias vítimas, e que eles afectam, efectivamente, todos
é de 36 e na Serra Leoa de 37. por medo ou porque sabem que pouco nós!
podem fazer.
Notícias • Amnistia Internacional 11

1. Discriminação
com base na Orientação
Paulo Côrte-Real, Presidente da Direcção
da ILGA Portugal, associação que de-
fende os direitos das pessoas LGBT, lem-
A forma mais comum de discriminação
na educação é o bullying, frequentemente
traduzido em ofensas verbais que podem
bra que no Leste “há uma herança que ser proferidas por alunos, ou, como res-
Sexual pesa, pois a história da União Soviética salva o dirigente da ILGA Portugal, “às
Para os portugueses, a discriminação em relação às pessoas LGBT foi muito vezes são os professores ou os auxilia-
com base na Orientação Sexual é, dos negativa”, com várias a serem colocadas res de educação a fazerem (ou incenti-
seis tipos de fundamentos na base da em gulags (campos de trabalho). Recor- varem) os comentários homófobos”.
discriminação referidos no artigo 19.º da da até que ainda hoje, em alguns países
O insulto parece ser, aliás, a forma mais
Versão Consolidada do Tratado sobre o fora da Europa, a homossexualidade é
generalizada de discriminação com base
Funcionamento da União Europeia, a que crime, sendo punível - imagine-se – com
na orientação sexual, referem as con-
mais amplamente se sente no nosso país. pena de morte, de que é exemplo o Irão.
clusões do “Estudo sobre a População
Cientificamente não há estudos que pos- Apesar disso, o dirigente não desvaloriza
LGBT em Portugal”, tornadas públicas
sam comprovar a veracidade desta opi- a discriminação que lésbicas, gays e
em Maio pela Universidade do Minho
nião, mas ela foi defendida por 58% dos bissexuais continuam a sentir na União
com o apoio da CIG-Comissão para a Ci-
inquiridos pelo Eurobarómetro de 2009, Europeia, apelidada de homofobia ou
dadania e a Igualdade de Género. O mais
publicado pela Comissão Europeia. Um simplesmente discriminação com base
grave é que, acrescenta a Agência dos
pouco diferente é a percepção ao nível da na orientação sexual. Esta começa nor-
Direitos Fundamentais da UE, em países
restante União Europeia, pois os cidadãos malmente bem cedo, ainda na escola.
como o Chipre, Grécia, Itália, Letónia,
europeus consideram esta discriminação Foi isso que comprovou o Observatório de Lituânia, Malta, Polónia e Roménia, nos
apenas a quarta mais sentida no conti- Educação LGBT, da associação de jovens últimos anos os insultos homófobos
nente. Além disso, a divisão de opiniões é rede ex aequo, que num relatório publica- têm sido proferidos por líderes políticos
evidente: 47% dos inquiridos dizem que do em 2008 indicava que a homofobia se e figuras religiosas. Sendo assim, não
este tipo de discriminação está genera- sente de forma particular nas Universi- será talvez demasiado chocante revelar
lizada na Europa e 43% afirmam que é dades, podendo começar ainda antes, no que o bullying está também presente
rara. Facto é que os assuntos relativos Secundário. Paulo Côrte-Real explica: “é no mercado de trabalho, apesar de no
à comunidade LGBT (lésbica, gay, bis- nessa altura que muitos adolescentes ano 2000 os países da União Europeia
sexual e transgénero) são dos que mais assumem a sua homossexualidade”. terem assinado a chamada Directiva da
fragmentam o “velho continente”. Igualdade no Emprego [ver caixa “O que
Portugal está no círculo (ainda restrito) Direitos LGBT defendidos em dizem as Leis”], que proíbe esta forma de
dos sete países europeus que aprovaram discriminação, e de em Portugal a orien-
português
o casamento entre pessoas do mesmo tação sexual estar protegida pelo Código
sexo, do qual faz parte a Bélgica, Es- A Amnistia Internacional Portugal tem de Trabalho.
panha, Holanda, Islândia e Noruega (os um grupo de voluntários que se dedica a
Paulo Côrte-Real conhece bem as leis,
dois não pertencentes à UE) e Suécia. promover e defender os Direitos Humanos
mas sabe que é difícil apresentar queixa
Por outro lado, o Eurobarómetro de 2006 de lésbicas, gays, bissexuais e transgé-
“quando não se sabe o que se vai en-
procurava perceber quais os que mais neros. Conhecedores dos problemas vivi-
contrar, a nível dos Sindicatos e até
dificilmente aprovariam estas uniões e dos nos países do mar Báltico, alguns
em termos da segurança de saber que
entre eles estavam a Roménia, a Letónia elementos deste Núcleo LGBT viajaram
correrá tudo bem”. Talvez isso ajude
e o Chipre. Foram até precisamente os entre os dias 6 e 8 de Maio para Vilnius,
a explicar outra das conclusões do já
cidadãos do Leste da Europa que no na Lituânia. Ali juntaram-se a centenas
referido relatório da Agência dos Direitos
ano passado afirmaram que esta dis- de activistas, de vários países do mundo,
Fundamentais, quando este indica que
criminação se sente pouco no seu país, para pressionarem as autoridades do
“a maioria das pessoas lésbicas, gays
especialmente na Bulgária, Eslováquia país a permitirem a realização daquela
e bissexuais estão relutantes em reve-
e Estónia. Uma opinião que contrasta que é conhecida como a Marcha Baltic
lar a sua orientação sexual no local de
com o relatório “Homophobia and Dis- Pride. A concentração de defensores dos
trabalho”. O estudo da Universidade do
crimination on Grounds of Sexual Ori- Direitos LGBT, que ocorre todos os anos
Minho acrescenta mesmo que tal acon-
entation and Gender Identity in the EU num país báltico, tem sido consecuti-
tece no dia-a-dia e que a orientação
Member States”, da Agência dos Direitos vamente proibida. No entanto, todos os
sexual só é normalmente revelada aos
Fundamentais da UE, que indica que na anos a pressão exercida pela Amnistia
amigos mais íntimos. Paulo Côrte-Real
Bulgária, Letónia, Lituânia, Polónia e Internacional e por outras organizações
sabe bem que é assim e concorda com
Roménia as marchas de Orgulho LGBT acaba por surtir o efeito desejado. Este
a conclusão da Agência dos Direitos
têm sido nos últimos anos proibidas. ano repetiu-se o fado e a concentração
Fundamentais da UE: “desde cedo que
Contrariamente, na Áustria, Espanha, acabou por ser autorizada na Lituânia,
as palavras depreciativas ensinam [as
França, Holanda e Suécia os ministros sob o olhar atento dos elementos do Nú-
pessoas LGBT] a manterem-se invi-
e partidos políticos participam também cleo LGBT português.
síveis. A invisibilidade é uma «estraté-
nas chamadas Marchas Pride. gia de sobrevivência»”.
12 Notícias • Amnistia Internacional

Importante é também perceber que ela atribuída à nascença. Até hoje, qualquer do que vimos em relação à população
não é apenas perpetuada por lésbicas, pessoa que não se identifique com o LGBT, também no que diz respeito à dis-
gays e bissexuais, mas é também a res- sexo com o qual nasceu pode mudar fi- criminação étnica ou racial há divisão no
tante sociedade que insiste em mantê- sicamente, mas a lei portuguesa depois seio do continente (embora menos vin-
-los na clandestinidade. Veja-se o que não permite alterar os documentos iden- cada). Holandeses, franceses, húngaros
se descobriu no ano passado: que os tificativos. Isto faz com que uma mulher e suecos estão entre os que mais dizem
homossexuais são excluídos da doação possa ter o nome de um homem, ou vice- sentir esta forma de discriminação, com
de sangue. Perceba-se o que se passa -versa, com os problemas que isso acar- quase 80% a referir a sua existência. Na
na ginecologia ou urologia, onde há reta, no emprego, nos serviços públicos Lituânia, Polónia e Letónia apenas 20
“uma ignorância generalizada quando e até numa simples compra com cartão ou 30% dos cidadãos acreditam que a
a pessoa revela a orientação sexual”, multibanco. Uma realidade que levou já discriminação étnica ou racial está dis-
acusa Paulo Côrte-Real. Para o dirigente, a União Europeia a considerar os trans- seminada e na Bulgária e Estónia 12%
a explicação é bem simples: “durante géneros como um dos grupos que mais dizem mesmo que nem sequer existe.
muito tempo, e ainda hoje, se estuda sofre discriminação no continente eu-
com base no pressuposto de que só ropeu. José Soeiro, deputado português Em Leiria luta-se pelo fim da
existem pessoas heterossexuais”. Uma do Bloco de Esquerda, quer mudar esta discriminação racial
premissa que, para o Presidente da ILGA, realidade e a 18 de Junho apresentou ao
está no cerne da discriminação com base Parlamento português um Projecto-lei A Amnistia Internacional Portugal está
na orientação sexual. É ela que faz com que prevê a possibilidade de os transgé- representada em vários pontos do país
que nos cafés os empregados peçam aos neros adquirirem nova identidade. Até à através dos chamados Grupos Locais.
casais do mesmo sexo que não mostrem sua aprovação, diz Paulo Côrte-Real, “o Um deles preocupa-se de forma particu-
afecto. É também ela a responsável, por Estado não reconhece que estas pes- lar com a situação da comunidade ciga-
exemplo, por nos lares não se assumir que soas existem” e por isso toda a discrimi- na e acredita que é fundamental para o
dois idosos possam ser homossexuais ou nação que lésbicas, gays e bissexuais já país resolver a pobreza em que muitos
lésbicas. Paulo Côrte-Real propõe uma identificaram, ainda não se aplicam se- vivem. Conhecido por Grupo Local 32, da
conta bem simples: se pelo menos 10% quer a este género inexistente. cidade de Leiria, realizou uma parceria
da população é lésbica, gay ou bissexual, com a NAKI-Nossa Associação Kalons
Íntegros (Ciganos Íntegros), porque sabe

2.
ao entrar numa sala é preciso perceber
que uma em cada dez pessoas terá essa que é fundamental promover o diálogo
orientação sexual. Discriminação com entre ciganos e não ciganos. Neste âm-
base na Etnia ou Raça bito fomenta aulas de dança flamenca,
realiza exposições para desmistificar o
Quando se fala em discriminação, a as- modo de vida desta comunidade, entre
sociação mais imediatamente feita é muitas outras acções que visam romper
talvez ao racismo e à xenofobia. No en- de uma vez por todas com os estereótipos
tanto, ambas se referem apenas a um existentes e contribuir para a existência
tipo específico de discriminação, “funda- de uma só sociedade portuguesa.
da na raça, cor, ascendência na origem
nacional ou étnica”, refere a Convenção
Aqui é importante referir que o Euro-
Internacional sobre a Eliminação de To-
barómetro se baseia em inquéritos feitos
das as Formas de Discriminação Racial,
à população da UE. Será, por isso, inte-
de 1965. Dos seis fundamentos para a
ressante comparar as suas percentagens
discriminação, referidos no artigo 19.º
com as de um outro estudo, feito em 2009
da Versão Consolidada do Tratado sobre
pela Agência dos Direitos Fundamentais
o Funcionamento da União Europeia, a
da UE, cujo questionário é desenvolvido
que tem por base a etnia ou raça con-
© Kåre Viemose junto das vítimas da discriminação e
tinua a ser a que a média dos cidadãos
Um casal gay na Marcha Baltic Pride deste ano, na Lituânia. apenas nos países onde esta é mais
dos Estados-membros defendem estar
acentuada. “EU-MIDIS: European Union
Enquanto tal não for naturalmente assu- mais generalizada, com 61% a sentir
Minorities and Discrimination Survey” é o
mido, o dirigente diz ter a “sensação de a sua presença, refere o Eurobarómetro
nome da investigação e um dos primeiros
que está tudo por fazer, pois até agora de 2009, publicado pela Comissão Euro-
grupos analisados foi a comunidade
não existíamos sequer”. É nesse ponto peia.
cigana, também chamada romani, pre-
que está um outro grupo comummente Os portugueses concordam que esta for- cisamente porque “relataram os níveis
associado à população LGB mas que, ao ma de discriminação está disseminada, mais elevados de discriminação entre
contrário desta, pode não ter uma orien- mas não acreditam que esteja mais do os grupos investigados”. Além disso, os
tação sexual diferente: os transgéneros, que a que tem por base a orientação ciganos são a maior minoria étnica da
cuja diferença está, na verdade, na sua sexual. O mesmo acontece noutros países UE, com uma população de entre 10 a 12
identidade, que não corresponde à que foi da Europa, uma vez que, à semelhança milhões de cidadãos europeus.
Notícias • Amnistia Internacional 13

Se tudo isto não fosse suficiente para impressões digitais das pessoas desta fende, enquanto explica: “se alguma
justificar centrarmo-nos neste Dossier etnia com propósitos pouco claros; e dis- pessoa cigana estiver qualificada para
na etnia cigana, refira-se que a Amnistia cursos racistas proferidos por políticos determinado emprego e for chamada
Internacional também considera que é locais e nacionais, que têm estimulado para uma entrevista, assim que notam
a comunidade que mais privações sofre a agressividade entre os italianos face a que é cigana dizem logo que o lugar
na Europa. O Númena-Centro de Inves- estes cidadãos, muito alimentada pelos está preenchido”. Um facto compro-
tigação em Ciências Sociais e Humanas meios de comunicação social. vado pelo estudo da Agência dos Direitos
e a Amnistia Internacional Portugal con- Fundamentais da União Europeia, que
Para além destes exemplos mais extre-
cluíram em 2009 que, efectivamente, os em sete países analisados identificou o
mos, a discriminação em relação à co-
que mais sofrem de racismo e xenofobia emprego como uma das áreas onde mais
munidade cigana sente-se na Europa
no nosso país são os ciganos e os negros. se sente discriminação, a par com os
particularmente em três áreas, identi-
Além disso, a população cigana é um serviços privados.
ficadas pelo Fórum Ibérico sobre Etnia
bom exemplo dos aspectos que o Euroba-
Cigana, que decorreu em Lisboa a 8 e 9 Por último, o Fórum Ibérico referiu a
rómetro não consegue auscultar, pois
de Abril. O primeiro é a educação, em- habitação como um problema para a
enquanto neste inquérito apenas 33%
bora Olga Mariano, Presidente da As- maioria dos ciganos e Olga Mariano não
dos polacos referiam a existência de dis-
sociação para o Desenvolvimento das pode deixar de concordar. “Se quiser
criminação étnica ou racial, no “EU-MIDIS”
Mulheres e Crianças Ciganas Portugue- alugar uma casa, não alugam porque
59% dos ciganos do país garantem
sas, refira que não sente aqui “as mes- sou cigana. Se mantiver o contacto
terem-na sentido na pele. Além disso, o
mas margens de discriminação” que com a proprietária telefonicamente,
local onde esta forma de discriminação é
noutras áreas. Até porque os casos de não há problema. Quando chegamos
mais sentida é na República Checa e não
discriminação na educação têm chegado e vêem que sou cigana dizem: «peço
na Holanda, França, Hungria ou Suécia.
ao conhecimento público e prendem-se desculpa mas o meu marido só agora
A Amnistia Internacional confirma os da- com a formação de turmas específicas me disse que a casa já estava aluga-
dos e ao longo dos anos tem denunciado que agregam (ou segregam) alunos de da»”. A activista conta ainda que uma
incidentes graves ligados à comunidade minorias étnicas. Uma segregação que amiga acabou por alugar exactamente a
cigana na Bulgária, Eslováquia, Repúbli- em nada se assemelha à que ocorre na mesma casa que lhe tinha sido recusada
ca Checa e Roménia. Em todos eles é uma Eslováquia ou na República Checa, onde porque quem foi tratar do aluguer foi
constante a violência policial excessiva a Amnistia identificou escolas de ensino uma pessoa não cigana. Na compra de
sobre os ciganos e a impunidade quando especial para crianças com problemas casa, o estigma mantém-se, refere a
há crimes cometidos contra esta popula- mentais, onde 80% dos alunos são ciga- activista: “nem que leve uma carteira
ção. Um país que importa também desta- nos sem qualquer tipo de deficiência. cheia de dinheiro, dizem que «já estão
car, ainda pela negativa, é Itália, que todos vendidos». Porque se vender um
Voltando novamente às conclusões do
desde 2007 tem vindo a adoptar aquilo a andar a um cigano, já ninguém compra
Fórum Ibérico, o emprego é a segunda
que chama de “medidas de segurança”, o resto dos andares”.
área identificada como problemática
que incluem: o desalojamento forçado
e aqui Olga Mariano é bem mais pe- Realidades que contribuem para as es-
de comunidades ciganas; a recolha de
remptória. “Está mesmo à vista”, de- tatísticas mencionadas pela programa

© Zsuzsanna Ardó
Crianças brincam num depósito municipal de resíduos existente junto da sua comunidade, na Roménia.
14 Notícias • Amnistia Internacional

“Rua Europa 27” da Antena 1: dos tal. A nível nacional, o Census de 2001 como o acesso ao crédito bancário
60.000 ciganos portugueses, a maio- referia 634.408 pessoas com deficiência para compra de habitação”.
ria encontra-se em situação de pobreza. (6,1% dos portugueses). Para a maioria,
Para Humberto Santos, na base de tudo
Olga Mariano explica que a alternativa a forma mais sentida de discrimina-
isto está “a falsa ideia de confundir de-
para o povo cigano tem sido viver ex- ção prende-se com os Seguros, revela o
ficiência com doença”. Além disso, cri-
cluído da sociedade em bairros sociais, “Relatório Anual sobre a Prática de Ac-
tica: “o principal problema, no que às
porque ao contrário do que acontece com tos Discriminatórios em Razão da Defi-
pessoas com deficiência diz respeito, é
a orientação sexual, a etnia está bem ciência e do Risco Agravado de Saúde”,
a atitude paternalista, do «coitadinho»
vincada nas suas vestes, na fala e, por publicado em 2009 pelo Instituto Nacio-
que não pode ou não consegue. Este
vezes, nas feições. Em alguns países nal para a Reabilitação. Na altura, 56%
sentimento é muito negativo, na medida
da Europa, como a Eslováquia, Itália e das queixas registadas relacionavam-se
em que as pessoas com deficiência são
República Checa, esta comunidade tem com seguros e a principal acusação era a
vistas como incapazes”. Isto quando,
sido “depositada” em estabelecimen- “recusa ou penalização na celebração
acrescenta, “são os obstáculos [cria-
tos informais, muitas vezes sem acesso de contratos”. Uma discriminação que
dos], e não as pessoas, que impedem
a água potável. Os seus Governos es- tinha sido proibida em 2006, mas voltou
esta ou aquela acção”. Uma opinião
quecem que são cidadãos nacionais e a ser permitida em 2008, com o Decreto-
corroborada pelo Instituto Nacional para
solucionam o problema desalojando con- -Lei 72/2008, de 16 de Abril.
a Reabilitação, que no segundo lugar da
forme as necessidades. A União Europeia
Humberto Santos, Presidente da Di- lista de principais queixas apresentadas
tem apelado a que sejam adoptadas
recção da Associação Portuguesa de De- refere as acessibilidades. Para Humberto
medidas de integração, pois percebeu
ficientes, aponta uma das muitas conse- Santos, esta “é uma questão transver-
já que o continente só poderá viver em
quências desta forma de discriminação: sal, que tem implicações em activi-
harmonia quando resolver os problemas
“a aquisição de habitação impõe como dades tão diversas como a educação,
associados à comunidade cigana.
condição um seguro de vida”, recorda. a formação, o trabalho, a saúde, a

3.
“A recusa ou agravamento do seguro cultura, o lazer, a participação cívica”.
impede a pessoa com deficiência de Para que se perceba, refira-se que ain-
Discriminação com usufruir do regime bonificado, pelo que da há senhorios e condóminos que não
base na Deficiência tem de optar pelo regime geral, ficando permitem realizar obras para adaptar
Os cidadãos da União Europeia têm prejudicada”. Assim se explica que as os edifícios às deficiências, provocando
adquirido maior consciência face à principais queixas referidas no relatório o isolamento. Na rua, muitos trans-
discriminação com base na deficiên- do Instituto Nacional para a Reabilitação portes públicos não estão adaptados.
cia e se em 2008 já havia, em média, denunciem também a “recusa ou condi- Nos serviços, cegos e surdos não têm,
45% a defenderem que se sentia de cionamento de venda, arrendamento por vezes, informação acessível na sua
forma abrangente, no ano passado o ou subarrendamento de imóveis, bem linguagem. Entre muitas outras inaces-
valor subiu para 53%, refere o Euro-
barómetro, publicado em 2009 pela
Comissão Europeia. Uma tendência que
Portugal tem acompanhado, com 57%
dos portugueses a afirmarem que esta
discriminação se sente fortemente (uma
percentagem igual à registada para a
discriminação étnica ou racial e apenas
ultrapassada pela que tem por base a
orientação sexual). No entanto, esta não
é uma forma de discriminação consen-
sual e malteses, turcos, irlandeses, aus-
tríacos e dinamarqueses estão entre os
que menos assinalam a sua existência.
Fica por perceber se tal se prende com
o facto de, efectivamente, esses países
terem ultrapassado o problema.
Seja como for, a discriminação com base
na deficiência pode afectar mais de 50
milhões de europeus (10% da população
da UE), que segundo o Fórum Europeu
de Deficiência será o número de pes-
soas que sofrem de alguma forma de © Arquivo do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão
deficiência: motora, sensorial ou men- A atitude paternalista, do “coitadinho”, é um dos principais obstáculos à igualdade.
Notícias • Amnistia Internacional 15

© Arquivo do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão


É na área dos Seguros que as pessoas portadoras de deficiência mais sentem a discriminação.

sibilidades que se sentem “mesmo nos centando que “a prática da inclusão cial destas pessoas” e o conhecimento
equipamentos mais essenciais, como nas escolas regulares é o melhor meio da realidade deveria ser essencial para a
centros de saúde, centros de emprego, de combate à discriminação e de pro- criação de políticas.
repartições de finanças, etc.”, acusa moção da eficiência e da optimização
Mais uma situação que contribui para a
Humberto Santos. de recursos”. António Vieira, professor
verdadeira bola de neve que foi criada
da Universidade Portucalense, veio a 7
Voltando ao relatório anual do Instituto em torno da discriminação com base
de Junho trazer a público mais um dado
Nacional para a Reabilitação, importa na deficiência, pois “não pode haver
preocupante relativo a Portugal: há de
referir que foram também registadas igualdade no acesso ao emprego se
momento 10.000 surdos que estão sem
queixas relativas à educação e à saúde, não há igual acesso à educação, se o
acompanhamento escolar por falta de
embora numa percentagem pouco si- meio ambiente e os transportes forem
professores que comuniquem em lingua-
gnificativa: 5% e 3%, respectivamente. inacessíveis, se as ajudas técnicas não
gem gestual. Tudo isto contribui natu-
Números que, para Humberto Santos, forem disponibilizadas e por aí em di-
ralmente para o abandono escolar, que
não espelham a total dimensão do pro- ante”. Para tudo isto, como vimos, a lei
somado à falta de informação disponível
blema, porque embora não se possa hie- não tem sido uma ajuda muito preciosa
para muitas pessoas com deficiência
rarquizar formas de discriminação que e o arquivamento de 67 (em 74) queixas
promove uma vez mais o isolamento.
são igualmente atentatórias, frisa, im- apresentadas no ano de 2008, torna-se
porta referir que “o direito à educação Quanto ao emprego, que não era sequer ainda menos inspirador.
e ao emprego são fundamentais para a referido nas queixas do relatório do Ins-
inclusão das pessoas com deficiência.
Caso estes não estejam assegurados,
estas pessoas dificilmente atingem a
tituto Nacional para a Reabilitação, há
números que falam por si: um sexto da
população da UE em idade activa possui
4. Discriminação com
base na Idade
plena cidadania”. alguma forma de deficiência e, destes,
78% estão fora do mercado de trabalho, A discriminação com base na idade ou
Começando pelas escolas, para o diri-
revela o Fórum Europeu de Deficiência. discriminação etária era, em 2009, uma
gente a situação não é tão satisfatória
A este nível, a Directiva da Igualdade realidade para mais de metade da popu-
como parece mostrar a percentagem de
no Emprego [ver caixa “O que dizem as lação portuguesa, mais concretamente
queixas apresentadas, uma vez que é
Leis”], aprovada pelos Estados da União para os 53% que consideravam que
bastante grave “[o Decreto-Lei 3/2008,
Europeia no ano 2000, deveria ter trazido esta se sente de forma generalizada,
de 7 de Janeiro] criar escolas onde, a
a solução, mas Humberto Santos revela indica o Eurobarómetro. Mesmo assim
pretexto de existirem os meios mais
que “teve pouco impacto na emprega- os lusos consideram que não é das for-
adequados, se concentram os alunos
bilidade das pessoas com deficiência”. mas mais propagadas de discriminação,
com deficiência”. Uma segregação com
Até porque, critica, “não há estudos nem colocando-a atrás da que tem por base
a qual o dirigente não concorda, acres-
estatísticas fiáveis sobre a situação so- a orientação sexual, a etnia ou raça e a
16 Notícias • Amnistia Internacional

deficiência. Ao nível da União Europeia o não significa que esta discriminação não até porque, por razões demográficas,
sentimento é um pouco diferente, pois, existisse antes disso, até porque é uma estão em maior número. “A população
em média, são 58% os cidadãos que forma de diferenciação facilmente dis- da União Europeia passou de predomi-
consideram que a discriminação com simulada. Anne-Sophie Parent diz mesmo nante nova para predominantemente
base na idade está muito propagada que ainda hoje “muitas pessoas não se velha”, refere a Directora. Uma realidade
na região, sendo apenas superada pela apercebem de que estão a ser vítimas que tende a aumentar, uma vez que se
que tem por base a raça ou etnia. No de discriminação com base na idade”. estima que em 2050 a percentagem de
entanto, uns e outros são unânimes em Para que tal não aconteça, é importante pessoas com 65 anos ou mais cresça em
referenciar a proliferação desta forma de esclarecer que esta existe sempre que 70%. Factos que a maioria dos Gover-
discriminação. houver “diferença de tratamento, nega- nos tem escolhido ignorar, ao invés de
ção de direitos ou oportunidades ou o aproveitar “o enorme recurso cultural,
Para a Plataforma Europeia AGE, que
uso de imagens estereotipadas tendo social e profissional que este grupo
reúne cerca de 150 organizações que tra-
por base apenas a idade da pessoa”, representa”, refere Anne-Sophie Parent.
balham os problemas das pessoas com
diz a dirigente da AGE. As consequências, essas, são inevitáveis
mais de 50 anos, “as percepções sobre
e a elas os Estados não têm conseguido
a discriminação com base na idade têm Tudo isto é mais facilmente identificável
voltar as costas.
[efectivamente] vindo a aumentar”, diz quando falamos de pessoas mais velhas
a Directora, Anne-Sophie Parent. Os da- e é por isso que normalmente se associa Nos últimos tempos, é comum ouvir-se na
dos do Eurobarómetro confirmam a mu- a discriminação com base na idade aos comunicação social que centenas de pes-
soas com mais de 45 anos são despedi-
das e vivem de subsídios de desemprego
até à idade da reforma, porque ninguém
lhes dá novo emprego. Para Elizabeth
Drury, investigadora, o desemprego pre-
maturo e a diferenciação no recrutamen-
to são duas das formas de discrimina-
ção com base na idade identificadas no
seu estudo “Age Discrimination Against
Older Workers in the European Union”.
Encontrá-las é até bem simples, bastan-
do abrir a parte dedicada ao emprego de
muitos jornais e verificar as limitações
etárias referidas sem subterfúgios. Isto,
refira-se novamente, quando desde o
ano 2000 os Estados da União Europeia
se comprometeram a impedir esta forma
de discriminação através da Directiva da
Igualdade no Emprego [ver caixa “O que
© Sanjit Das
dizem as Leis”].
No cerne da discriminação com base na idade estão estereótipos como o que identifica todas as pessoas mais velhas como incapazes. Se esta fosse aplicada, seria impensável
sequer imaginar que os desempregados
dança, que tem sido bastante expressiva: reformados. No entanto, Anne-Sophie mais velhos fossem retirados das es-
em 2008 a maioria dos europeus (52%) Parent alerta que “pode ser sentida tatísticas relativas ao desemprego, mas
defendia que esta forma de distinção era em qualquer idade – ou porque se é a verdade é que Elizabeth Drury refere
rara e só 42% reconhecia a sua expres- demasiado novo, ou porque se é visto que tal continua a acontecer. Comum é
sividade. Além disso, em 2009 o Euro- como sendo demasiado velho e isto também estas pessoas ficarem excluí-
barómetro registou, em todos os países pode começar aos 45 anos ou mesmo das de programas específicos para quem
da União Europeia (excepto Portugal), mais cedo”. O relatório “Study on dis- procura emprego e, mesmo empregados,
um aumento de pelo menos 10%, face crimination on grounds of religion and serem colocados de lado quando as em-
a 2008, no número de pessoas que re- belief, age, disability and sexual orien- presas apostam na formação dos seus
conheciam o crescimento da idade como tation outside of employment”, realizado trabalhadores. Tudo isto, diz Anne-Sophie
fundamento de discriminação. em 2008 pelo EPEC-European Policy Parent, tem na sua base um mesmo
Evaluation Consortium, acrescenta que pressuposto, ou melhor, estereótipo: “as
Para o Eurobarómetro, este facto é expli-
a discriminação etária afecta também pessoas mais velhas são vistas como
cado pela crise económica que assolou
adolescentes com menos de 19 anos ou conservadoras, resistentes à mudança
a Europa, pois “uma das consequên-
jovens com menos de 25 anos. e a novas ideias, incapazes de serem
cias mais sentidas da crise é que os
empregos dos europeus mais velhos Para a AGE, as consequências mais criativas, dependentes, difíceis e fisi-
estão menos seguros”. No entanto, tal graves sentem-se entre os mais velhos, camente débeis, o que as torna quase
incapacitadas”.
Notícias • Amnistia Internacional 17

5. nas situações de assédio sexual”, entre


Uma imagem que, para a dirigente da
Plataforma Europeia AGE, está bem gra- Discriminação com outras, defendem.
vada na mente da sociedade europeia.
E tal reflecte-se, afirma, não apenas no base no Género Uma realidade que o estudo “Caracte-
rização e Evolução da Pobreza em Por-
emprego, que é “a área que capta maior Para os Portugueses, a discriminação tugal”, coordenado por Maria Eduarda
atenção política”, mas “em todas as com base no género não é particular- Ribeiro, já tinha espelhado em 2007 ao
esferas da vida e do desenvolvimento mente grave e apenas 35% acredita que indicar: “as mulheres são mais pobres,
político e em áreas tão diversas como se sente de forma generalizada, indicam entre outras razões, porque recebem
as pensões, a inclusão social, a saúde, os dados do Eurobarómetro, publicado no em média salários mais baixos, mesmo
os transportes, o desenvolvimento ur- final de 2009 pela Comissão Europeia. para qualificações idênticas, e ocupam
bano, a habitação, a investigação, a Nos restantes países da União Europeia empregos menos qualificados”. Manuela
educação, a cidadania, etc”. Para dar a percepção não é muito diferente e, em Góis e Manuela Tavares ajudam a expli-
alguns exemplos concretos, diz que é pre- média, só 40% dos cidadãos considera car o fenómeno: “no contexto das rela-
ciso lembrar que no acesso a cuidados que a discriminação com base no género ções sociais que se estabelecem no
de saúde os mais velhos raramente têm é comum, existindo 53% a afirmarem que sistema patriarcal, as actividades mais
prioridade e que em termos de serviços é rara. Manuela Góis, vice-presidente da destacadas e privilegiadas encontram-
sociais os mais novos têm sempre pri- UMAR-União de Mulheres Alternativa -se identificadas com os homens e as
mazia. Isto para já não falar nos casos e Resposta, e Manuela Tavares, da Di- menos prestigiadas com as mulheres”.
extremos de “maus tratos físicos e psi- recção da mesma organização defensora Segundo a Campanha do Milénio das
cológicos” que sabemos acontecerem dos Direitos das mulheres, alertam: “as Nações Unidas, 60% das mulheres de
em vários locais. discriminações sobre as mulheres per- todo o mundo efectuam trabalho não re-
Para terminar, é ainda importante referir sistem por todo o mundo e a Europa munerado ou mal pago.
um outro dado do Eurobarómetro: quando não é excepção”.
Uma desigualdade que está também re-
se perguntou aos inquiridos se estariam Deixando de lado muitas das denúncias flectiva no facto de, para as mulheres,
confortáveis com alguém com menos de feitas pela Amnistia Internacional relati- ser mais difícil do que para os homens
30 anos ou com mais de 75 anos ocu- vas a países não europeus – por exemplo, progredirem na carreira. Isto traduz-se
par um cargo político elevado no país, a no que diz respeito à ausência de cuida- na sua fraca representação em funções
maioria demonstrou grande desconforto, dos de saúde materna em países como a de chefia e poder, seja em empresas pri-
especialmente no último caso. O mais Nicarágua e a Serra Leoa; em relação à vadas ou instituições públicas. De acor-
interessante é que foram exactamente pena de morte, que em alguns Estados do com Manuela Góis e Manuela Tavares,
as pessoas mais velhas a revelarem o islâmicos afecta de forma particular as “as mulheres continuam a ser minori-
estigma para com os seus pares. Assim, mulheres; no que diz respeito à maior tárias nos Governos, nos Parlamentos,
uma vez mais se prova que a discrimi- vulnerabilidade feminina em cenários nas autarquias locais”. Olhando para
nação com base na idade está, acima de Guerra; entre outros –, é importante o relatório “Mulheres na Política 2010”,
de tudo, na mente das pessoas e que é alertar que “nos países europeus exis- realizado pela União Interparlamentar
sentida de forma muito mais forte do que te, actualmente, uma linha comum de e divulgado em Março, Portugal nem é
aquela que é declarada e anunciada. Por discriminações”, referem as dirigentes dos piores países, ocupando o 30.º lugar
outro lado, a idade - ao contrário de ou- da UMAR. Entre as mais comummente no ranking dos 186 Estados do mundo
tros fundamentos para a discriminação - apontadas estão as sentidas no mercado analisados. Mais triste é constatar que
não pode ser escondida ou ocultada, nem de trabalho, “em função da materni- esta posição foi alcançada tendo o Par-
com recurso a cirurgias. dade, no acesso a cargos de chefia,

© Marie Dorigny
Sessão de terapia para vítimas de violência doméstica, que é a maior causa de morte e invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 anos.
18 Notícias • Amnistia Internacional

6.
lamento português uma representação muneração, pois muitas mulheres depen-
feminina de apenas 27,4% (63 dos 230 dem financeiramente dos companheiros, Discriminação
lugares), sendo a média mundial ainda tornando-se frágeis e vulneráveis. E tudo
mais baixa (18,8%). isso contribui para as estatísticas: “a vi- com base na Religião ou
olência contra as mulheres no espaço Crença
Números que, pelo menos em Portugal,
doméstico é «a maior causa de morte e O único fundamento para a discrimina-
deveriam ter aumentado com a Lei da
invalidez entre mulheres dos 16 aos 44 ção, dos mencionados no artigo 19.º da
Paridade, que desde 2006 prevê a re-
anos, ultrapassando o cancro, os aci- Versão Consolidada do Tratado sobre o
presentação mínima de 33% de cada um
dentes de viação e a guerra»”, afirmam Funcionamento da União Europeia, a que
dos géneros. No entanto, esta “produziu
as dirigentes da UMAR, citando a Reco- ainda não nos dedicámos neste Dossier
alguns efeitos, mas diminutos”, afir-
mendação 1582, de 2002, da Assembleia é o que se baseia na Religião ou Crença.
mam as dirigentes da UMAR, enquanto
Parlamentar do Conselho da Europa. E este continua a fomentar tratamen-
reconhecem que “nas últimas três dé-
cadas houve uma grande evolução Tudo isto ajuda a explicar mais um dado tos diferenciados, apesar da Declara-
na legislação portuguesa [ao nível da dramático divulgado pela Campanha do ção Universal dos Direitos Humanos, de
igualdade de género]”. O problema, con- Milénio das Nações Unidas: três quintos 1948, referir no seu artigo 18.º que “toda
tinuam, “é o fraco nível de aplicação da população pobre de todo o mundo são pessoa tem direito à liberdade de pen-
das leis”, porque é preciso, em primeiro mulheres. O Programa Alimentar Mundial samento, de consciência e de religião;
lugar, criar “condições sociais para o acrescenta que sete em cada 10 pessoas este direito implica a liberdade de
exercício da paridade”. E isso passa, com fome são do sexo feminino. E a isto mudar de religião ou de convicção, as-
dizem, por exemplo, “pela partilha de podemos somar: o menor acesso a cui- sim como a liberdade de manifestar a
tarefas e responsabilidades” famili- dados de saúde, que faz com que uma religião ou convicção (...) pelo ensino,
ares, uma vez que “continuam a ser as mulher morra a cada minuto por compli- pela prática, pelo culto e pelos ritos”.
mulheres a assegurar maioritariamente cações relacionadas com a gravidez ou o Na opinião da maioria dos europeus, tal
as tarefas domésticas, realizando, em parto; a exclusão do acesso à Justiça em Direito não tem sido muito violado, indica
média, mais 17 horas semanais de tra- vários países; entre muitas outras situa- o Eurobarómetro de 2009, que refere que,
balho não remunerado”. ções. Até porque, acreditam Manuela em média, 53% dos cidadãos da UE de-
Góis e Manuela Tavares: “as discrimi- fendem que a discriminação com base na
Uma visão tradicional do papel das religião ou crença é rara. Os portugueses
nações alimentam-se umas às outras,
mulheres que, segundo Manuela Góis e estão até abaixo desta média, com ape-
contribuindo para a sua reprodução”.
Manuela Tavares, ainda não se perdeu. nas 27% a garantirem a disseminação
Um ciclo que só termina quando cair
Pior ainda, acrescentam, é perceber-se desta forma de discriminação.
“o pano de fundo que persiste de uma
que estes preconceitos continuam a ser
mentalidade sexista e conservadora No seio da União Europeia, os que mais
transmitidos nas escolas portuguesas,
que se faz sentir em determinados mo- fortemente defendem a maior presença
onde “a linguagem sexista, a invisibi-
mentos de forma muito expressiva”. No desta discriminação são 59% dos ho-
lização das mulheres na História e os
entanto, acrescentam as dirigentes, há landeses, 58% dos franceses, 55% dos
manuais escolares com estereótipos
também motivos para sorrir, porque as dinamarqueses e 54% dos belgas. O
de género, reproduzem um quadro dis-
mulheres têm hoje uma maior consciên- Eurobarómetro explica o fenómeno: “são
criminatório que vai ter efeitos na for-
cia dos seus Direitos.
matação de mentalidades baseadas no
binarismo de género”. Isto quando em
Portugal são mais as mulheres do que os
homens a licenciarem-se, ao contrário do
que acontece em muitos países do mun-
do. Até porque, segundo a Campanha do
Milénio das Nações Unidas, as mulheres
representam ainda dois terços dos 960
milhões de adultos que não sabem ler
em todo o mundo e, globalmente, 70%
das crianças do sexo feminino não vão
sequer à escola.
Tudo isto acarreta consequências graves,
que se sentem em todo o Planeta e às
quais Portugal não consegue fugir. Desde
logo, a violência doméstica, que se ba-
seia exactamente “no desequilíbrio de
poderes entre mulheres e homens”, re-
forçam Manuela Góis e Manuela Tavares. © Linda Horowitz
Um bom exemplo disso é a questão da re- Um centro para acolhimento de mulheres agredidas.
Notícias • Amnistia Internacional 19

países onde as questões de imigração


marcam o debate público”. Uma con-
clusão que reflecte uma das maiores
dificuldades quando se fala em discrimi-
nação com base na religião ou crença: a
confusão com a imigração. O já mencio-
nado estudo “EU-MIDIS: European Union
Minorities and Discrimination Survey”,
da Agência dos Direitos Fundamentais
da UE, refere esta dificuldade ao analisar
a comunidade muçulmana: “quando era
pedido aos inquiridos para que identi-
ficassem o fundamento da discrimina-
ção de que tinham sido alvo, apenas
10% disseram ter sido claramente por
razões religiosas ou de crença. Quase
metade seleccionou ainda a opção
«étnica ou imigração»”.
Uma outra confusão muito ligada à dis-
criminação com base na religião ou cren-
ça é a que foi identificada pela Amnistia
Internacional no relatório “Dealing with
Difference: A Framework to Combat Dis-
crimination in Europe”, de 2009, ao in-
vestigar os dois grupos mais fortemente
discriminados a este nível: os judeus e os
muçulmanos. Em ambos os casos, os in-
vestigadores perceberam que a discrimi-
nação pode ter também na sua origem
“as presumidas convicções políticas e
a responsabilidade em eventos mundi-
ais”. Isto porque o anti-semitismo parece
ter aumentado na Europa com a ofensiva
israelita na Faixa de Gaza, que começou
em 2008, e o tratamento diferenciado
de muçulmanos, chamado islamofobia,
associa-se muito ao 11 de Setembro de
2001. Associações que judeus e muçul-
manos dizem não se aplicar à realidade
portuguesa. © UNHCR/F. Pagetti
A burka não é uma questão religiosa, mas uma vestimenta utilizada por cultura ou tradição.
Esther Mucznik, vice-presidente da Co-
munidade Israelita de Lisboa, defendeu
numa conferência da Amnistia Interna-
cional que decorreu no ano passado que que “no pós-11 de Setembro se criou que a levou a despedir-se. O relatório da
“o racismo é um fenómeno antigo” uma certa tensão”, mas ressalva que Amnistia Internacional diz mesmo que
e que ”ultrapassa de longe o conflito “foi acalmando e a sociedade por- “a discriminação de muçulmanos no
israelo-palestiniano”. Acrescenta ainda tuguesa conhece bem a comunidade emprego, particularmente no caso das
que a discriminação é visível nos emails islâmica”. No entanto, o líder religioso mulheres que usam vestuário religioso,
“verdadeiramente assassinos” que diz é forçado a admitir que teve já conheci- está disseminado por toda a Europa”.
receber na sua caixa de correio elec- mento de casos de discriminação religio- Isto apesar de Sheikh Munir frisar que
trónico, mas acrescenta que até hoje não sa, particularmente no que diz respeito a maioria dos europeus estão até mais
têm passado disso. Uma realidade que ao emprego e à relação entre vizinhos, habituados a estas vestimentas que os
contrasta com a de alguns países da Eu- diz. Um deles é o de uma muçulmana portugueses, porque “enquanto um eu-
ropa, como França, onde só em Janeiro que foi “claramente discriminada no ropeu é capaz de ver diariamente 100
de 2009 se registaram 352 ataques anti- emprego depois de começar a usar o
mulheres de burka e lenço, nós vemos
-semitas a pessoas e sinagogas. lenço na cabeça (chamado hijab)”. Os
uma ou duas”.
insultos verbais diários de que foi alvo
No caso dos muçulmanos, Sheikh Munir, chegaram ao ponto de ser apelidada Uma rotina que não impediu as mais re-
Imã da Mesquita de Lisboa, reconhece de talibã. Uma situação incomportável centes polémicas relativas à proibição do
20 Notícias • Amnistia Internacional

uso de véus que cubram a face em países que deu às muçulmanas”, ou seja, o véu dos”. Políticas erradas que podem muito
como a Bélgica, França ou Itália. O Imã que deixa a cara destapada. Apesar de bem ser mais “perigosas” que o uso da
da Mesquita de Lisboa esclarece: “uma defender tudo isto, o Imã teme que as burka e fazer regredir a multiculturali-
coisa é o lenço, o hijab, pois a burka proibições impostas levem ao isolamento dade que o líder religioso diz reconhecer
não é religiosa, é cultural” e começou das mulheres que querem usar burka. nos jovens de hoje: “eles convivem, não
a ser usada em países onde “poderia Até porque, recorda, contrariamente ao ligam nenhuma à diferença”.
haver razões para isso, como forma de que aconteceu em Portugal, “em alguns
protecção da mulher”. Na Europa não países do resto da Europa, como Ingla-
é essencial, reconhece, enquanto acres- terra ou França, foram criados guetos
centa que “o vestuário que Deus deu às para os muçulmanos e isso fez com que
mulheres judias e às cristãs é o mesmo se isolassem e hoje vivam marginaliza-

o que dizem as leis


A discriminação é genericamente proi- Em termos de combate à discriminação, documento único, a que se tem dado o
bida, desde logo, por um dos mais im- é no seio da Europa que se têm desen- nome de Directiva da Igualdade ou Di-
portantes documentos internacionais: a volvido documentos legais mais especí- rectiva Anti-Discriminação, que reúna os
Declaração Universal dos Direitos Huma- ficos. Todos com base no artigo 19.º da seis fundamentos para a discriminação
nos, de 1948, que no seu artigo 7.º diz: Versão Consolidada do Tratado sobre o e que, ao mesmo tempo, vá para além
“todos são iguais perante a lei e, sem Funcionamento da União Europeia (ex- do emprego, abordando, entre outros, a
distinção, têm direito a igual protecção -artigo 13.º do Tratado da Comunidade igualdade nos cuidados de saúde, edu-
da lei. Todos têm direito a protecção Europeia), que refere os seis fundamen- cação, acesso e fornecimento de bens
igual contra qualquer discriminação tos para a discriminação analisados ao e serviços (que inclui habitação). Neste
que viole a presente Declaração e con- longo do Dossier. E são três os documen- momento a Alemanha é o país que mais
tra qualquer incitamento a tal discrimi- tos até hoje aprovados, dois deles espe- fortemente se opõe ao texto do documen-
nação”. Ainda em termos mundiais, há
cíficos para: a discriminação racial – Di- to, que para ser adoptado exige unanimi-
mais dois instrumentos dignos de men-
rectiva da Igualdade Racial 2000/43/EC dade. A Amnistia Internacional tem, por
ção, que protegem dois dos fundamentos
– e discriminação de género – Directiva isso, feito campanha para pressionar a
que podem estar na base da discrimina-
ção: a Convenção Internacional sobre a da Igualdade de Género 2004/113/EC. Ministra alemã para a Família, Cidadãos
Eliminação de Todas as Formas de Dis- Há ainda uma terceira Directiva, mais Seniores, Mulheres e Juventude para que
criminação Racial e a Convenção sobre genérica em termos de fundamentos ponha um fim à oposição ao documento.
a Eliminação de Todas as Formas de Dis- para a discriminação, mas específica
criminação contra as Mulheres. Também para a área do trabalho: Directiva da
a Organização Internacional do Trabalho Igualdade no Emprego 2000/78/EC. Por
aprovou Convenções sobre a igualdade tudo isto, discute-se agora no seio da
no emprego. Comissão Europeia a aprovação de um

© Sanjit Das

Numa Europa cada vez mais envelhecida, os Governos deviam aproveitar o recurso cultural, social e profissional que os mais velhos representam, ao invés de os colocarem à margem.
Notícias • Amnistia Internacional 21

ACABAR COM A VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES:


DO FIM DA CAMPANHA À CONTINUIDADE DO TRABALHO
Chegado o fim da campanha lançada em 2004 pela Amnistia Internacional, “Acabar com a Violência
Sobre as Mulheres”, é tempo de balanço
Por Sara Coutinho

Sendo a violência sobre as mulheres um


problema grave em Portugal, a secção
portuguesa deu particular enfoque a esta
área de trabalho, realizando diversas acti-
vidades, nomeadamente, a publicação de
um relatório sobre o panorama português,
campanhas de sensibilização públicas e
um trabalho constante de sensibilização
para a discriminação de género através da
Educação para os Direitos Humanos.

Violência Sexual
É a forma mais brutal de violência sobre
as mulheres. Com consequências graves,
© Rocío Cameros como a incapacitação física e social das
Imagem da campanha “Acabar com a Violência Sobre as Mulheres”. vítimas, a gravidez não desejada ou a
contracção de doenças sexualmente
A Organização Mundial de Saúde clas- AS ÁREAS DA CAMPANHA transmissíveis potencialmente fatais,
sifica como violência sobre as mulheres é, infelizmente, a menos denunciada por
“qualquer acto de violência com base A Campanha “Acabar com a Violência medo dos estigmas que lhe estão asso-
no género que resulte ou possa resul- Sobre as Mulheres”, ou SVAW, como ficou ciados.
tar em mal ou sofrimento físico, sexual conhecida por entre quem a trabalhou,
ou mental para as mulheres, incluindo procurou abordar a questão da violên- A Amnistia Internacional fez uma aposta
a ameaça de tais actos, coerção ou cia sobre as mulheres nas suas diversas forte no trabalho de sensibilização públi-
privação arbitrária de liberdade, quer formas e contextos de manifestação: na ca para a discriminação de género que
ocorra na vida privada ou na vida públi- família, na comunidade, nas instituições se observou estar na base deste tipo de
ca”. e empresas, em casos de custódia e em ofensas, que contemplou também em-
situações de conflito e pós-conflito ar- presas e instituições, para a adopção de
Trata-se de uma das mais vastas e per- mado. políticas de recursos humanos não dis-
sistentes violações de Direitos Humanos criminatórias.
e manifesta-se em diversos contextos,
realidade que motivou a Amnistia In- Violência na Família
ternacional a lançar, em 2004, uma As Mulheres e a Guerra
A violência no seio familiar pode assumir
campanha global centrada na violência diversas formas, desde a agressão física As violações em massa observadas em
sobre as mulheres (SVAW – Stop Violence conflitos armados por todo o mundo
à violência psicológica e, a par com a
Against Women) que, no passado dia 31 afectam, na sua maioria, mulheres e
violência do foro sexual, é uma das for-
de Março de 2010, chegou ao fim. “Foi
mas de violência que representa mais crianças. A violência física a que são,
a primeira grande campanha global da
problemas ao nível da denúncia: o medo frequente e indiscriminadamente, sujei-
Amnistia Internacional e inscreveu as
questões de género em todas as áreas de ir contra os familiares e amigos é res- tas e a violência psicológica de se verem
de trabalho da organização, obrigan- ponsável, repetidas vezes, pelo silêncio forçadas, juntamente com as suas cri-
do-nos a alterar a forma como tra- das vítimas. A Amnistia Internacional anças, a abandonarem os seus lares e
balhávamos até então”, afirma Sauro tentou quebrar esse silêncio, alertando a desempenharem várias tarefas fisica-
Scarpelli, Director da Campanha, agora para esta realidade. mente incomportáveis para assegurar o
encarregue de avaliar todo o impacto do sustento básico da sua família, são cla-
trabalho desenvolvido. ros exemplos deste tipo de violações.
22 Notícias • Amnistia Internacional

A Amnistia Internacional procurou dar mecanismos de protecção das vítimas No entanto, houve alguns obstáculos a
visibilidade a todas estas situações que desta forma de violência. transpor no arranque da campanha: “Já
se desenrolam em países em guerra, havia várias organizações dedicadas,
pressionando as autoridades a adopta- em exclusivo, à questão dos direitos das
DO FIM DA CAMPANHA
rem medidas de combate e prevenção mulheres (...) e foi um processo moroso
face a estas situações e envolvendo a Sauro Scarpelli está actualmente a explicar que o trabalho da Amnistia,
comunidade internacional na pressão trabalhar num relatório que tem como uma organização massiva e com mem-
aos governos responsáveis. objectivo avaliar o impacto da campanha bros em todo o mundo, era diferente
“Acabar com a Violência Sobre as Mu- daquele que realizavam, na medida
lheres”, reunir os resultados obtidos ao em que se centrava mais no enquadra-
Práticas Nocivas longo de mais de seis anos de campanha mento legal das questões relacionadas
A violência contra as mulheres está en- e, principalmente, retirar lições que pos- com a mulher”, explica Luísa Marques.
raizada em quase todas as culturas sob sam ser adaptadas às restantes áreas Actualmente, ambos os directores reco-
a forma de tradições, fazendo com que de trabalho da Amnistia Internacional. nhecem que a Amnistia Internacional
não sejam encaradas como formas de Num balanço preliminar da campanha, conquistou uma posição muito própria e
violência. Alguns exemplos são os casa- Sauro Scarpelli afirma: “foi possível já é, várias vezes, consultada em matéria
mentos forçados – organizados pelos observar grandes mudanças ao nível de Direitos das mulheres, tendo também
familiares dos noivos, sem o consenti- das várias legislações e políticas na- estabelecido parcerias muito salutares
mento da noiva; os “crimes de honra” cionais, mudanças nas quais a Amnis- para o trabalho nesta área.
– actos de extrema violência, geralmente tia se revê como um agente proemi-
homicídio, perpetrados por membros de nente”. De entre as mais significativas,
uma família contra uma mulher do mes- LEGADO DA CAMPANHA
Sauro Scarpelli destaca, como exemplo,
mo núcleo (irmã, filha, esposa, etc.) por as situações do Quénia – país que regis- A Campanha “Acabar com a Violência
suposta conduta imoral e nociva para a tou mudanças muito relevantes a nível Sobre as Mulheres” provocou uma mu-
honra familiar; ou a mutilação genital do enquadramento legal das ofensas do dança interna muito importante para a
feminina (MGF). foro sexual – ou da Mongólia – em que Amnistia Internacional enquanto mo-
A Amnistia Internacional procurou alertar o Parlamento aprovou uma lei no âmbito vimento: não só alterou o discurso da
os países para a prática destas formas das questões da violência doméstica. organização – que passou a centrar-se
de violência no seio das comunidades, também nos direitos sociais, económi-
Mas porque as questões de violência
apelando ao seu reconhecimento en- cos e culturais e não apenas nos civis
sobre as mulheres não são apenas prer-
quanto ofensas criminais quando as leis e políticos; e passou a dirigir-se a no-
rogativa dos países em desenvolvimento,
nacionais ainda não o previam. vos actores, como pessoas individuais
há também progressos muito positivos
e comunidades, que a par dos Governos
a registar a nível europeu. O Director da
violam os Direitos Humanos – como ins-
Infelizmente, a MGF é uma prática cor- Campanha dá o exemplo do Reino Unido,
onde se observaram grandes melhorias, creveu, com carácter permanente, as
rente em Portugal, disseminada pelas co- questões relacionadas com os direitos
munidades de imigrantes dos países que a do ponto de vista legal, no que concerne
a mulheres requerentes de asilo ou víti- das mulheres nas restantes áreas de
praticam. A secção portuguesa integrou a
campanha europeia “Fim à MGF”, que visa mas de tráfico de seres humanos. Há trabalho. “Há cerca de dez anos, não
a adopção de uma estratégia europeia para ainda a destacar os avanços registados existia pesquisa sobre estas questões
a erradicação desta prática. Esta é uma pelas secções da Amnistia Internacional (...) agora, se olharmos para o plano
campanha que vai continuar a decorrer. do Norte da Europa, que dão conta da estratégico [da Amnistia Internacio-
criação de vários abrigos para mulheres nal] para os próximos anos, existe uma
Tráfico de Mulheres vítimas de violência sexual. “Nem todas forte presença de questões de género e
as mudanças são visíveis em tão pouco de capacitação das mulheres”, explica
Mais de 80% das vítimas de tráfico de Sauro Scarpelli. A evidenciar essa alte-
seres humanos são do sexo feminino, tempo, mas houve grandes melhorias”,
constata Sauro Scarpelli. ração de discurso e como legado directo
sendo que 70% destas mulheres são tra- da campanha está a criação, na sede
ficadas com o objectivo de virem a inte- Quanto a Portugal, a Directora de Cam- da organização, de uma nova unidade
grar redes de natureza sexual. panhas da secção portuguesa, Luísa – Unidade de Género, Identidade e Sexu-
Marques, explica: “Quando a campanha alidade – que irá continuar o trabalho
Portugal é apontado em estudos interna- começou, Portugal já tinha um en- iniciado pela campanha SVAW.
cionais como uma das principais portas quadramento legal para as questões
de entrada na Europa de vítimas de tráfico de violência sobre as mulheres satis-
de seres humanos, sendo que a maioria é fatório, porque a violência doméstica já
originária do Brasil e dos países de Leste. estava contemplada na lei como crime O QUE PODE FAZER
Esta é, por isso, uma área que continuamos público (…) o trabalho que desenvolve-
a seguir de perto. mos foi, acima de tudo, de sensibiliza- A poucos dias da próxima Cimeira Or-
ção junto do público e das instituições”. dinária da União Africana, vamos exigir
A Amnistia Internacional desenvolveu É ainda importante acrescentar que a maior atenção para o problema da Mor-
campanhas de sensibilização e divulga- Amnistia Internacional procurou dar voz talidade Materna. Participe enviando
ção desta problemática, com o intuito de às próprias vítimas, para que sentissem
aumentar a pressão sobre as autoridades o postal que encontra na parte central
que podem (e devem) fazer parte do pro- desta revista, até 21 de Julho.
dos vários países no sentido de criarem cesso de resolução dos seus problemas.
Notícias • Amnistia Internacional 23

Órgãos Sociais da Amnistia Internacional Portugal


A Amnistia Internacional é, acima de tudo, uma organização não governamental movida pela energia dos
seus voluntários. Da sua orgânica fazem parte: a Assembleia-Geral, que vota a política geral da secção
portuguesa; a Direcção, que faz a ponte com a sede da organização, em Londres, e assegura a comuni-
cação interna e externa da secção portuguesa; e o Conselho de Responsabilização e Controlo, que emite
pareceres sobre o orçamento, o relatório anual, o balanço e as contas anuais da Amnistia Internacional
Portugal. Todos são defensores dos Direitos Humanos voluntários e formam aquilo a que se chama os
Órgãos Sociais, para os quais houve no passado mês de Março eleições. Os membros da Amnistia Inter-
nacional escolheram. O “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” apresenta-lhe os rostos que vão
guiar a secção portuguesa até 2012

ASSEMBLEIA GERAL

PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE SECRETÁRIA


Joaquim José Pereira Tânia Alves Ana Filipa Mendes
Ruivo Santos

DIRECÇÃO

PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE TESOUREIRO SECRETÁRIA VOGAL VOGAL VOGAL


Lucília-José Justino Sónia Pires Ricardo Mendes Ana Sofia Monteiro Armando Paulo Paulo Pinto António Belo
Ferreira Borlido Albuquerque

VOGAL VOGAL SUPLENTE SUPLENTE SUPLENTE SUPLENTE


Joana Froes Luís Silva Fernando Sousa Melanie-Anne Morais Ana Margarida Fernando Santos
Ferreira

CONSELHO DE RESPONSABILIZAÇÃO E CONTROLO

PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE SECRETÁRIO


Fernando Faria de Victor Nogueira Alberto Fernandes
Castro Pinto
24 Notícias • Amnistia Internacional

AMNISTIA INTERNACIONAL NO INDIELISBOA 2010


Este ano, à semelhança do que acontece desde 2005, foi entregue o Prémio Amnistia Internacional no
Festival Internacional de Cinema Independente, IndieLisboa

Pelo sétimo ano consecutivo, a capital


portuguesa recebeu aquele que é re-
conhecido, em vários países, como um
importante Festival Internacional de
Cinema Independente: o IndieLisboa. A
Amnistia Internacional Portugal conti-
nua a ser sua parceira, desde a segunda
edição, atribuindo o Prémio com o mesmo
nome do movimento.
A edição de 2010 do IndieLisboa, que
© Real Ficção
decorreu de 22 de Abril a 2 de Maio, Uma das cenas do filme Ilha da Cova da Moura, de Rui Simões.
surgiu repleta de novidades, entre elas,
mais filmes, com um recorde de 276 Vencedor, Prémio Amnistia Menção Honrosa, Prémio Amnistia
sessões, e a inédita apresentação de 40 Internacional Portugal Internacional Portugal
filmes portugueses. Les Arrivants, Claudine Bories e Patrice Ilha da Cova da Moura, de Rui Simões
Na sessão de encerramento, o júri do Pré- Chagnard
mio Amnistia Internacional Portugal – a Como acontece com muitos bairros soci-
actriz Dalila Carmo, o escritor e crítico Durante 111 minutos, os realizadores ais que proliferam na Grande Lisboa, o
literário Pedro Mexia e a editora e jornalis- franceses Claudine Bories e Patrice nome Alto da Cova da Moura, na Ama-
ta Sofia Branco – entregou ao documen- Chagnard permitem em Les Arrivants dora, esteve muito associado a violência,
tário francês Les Arrivants, de Claudine que o espectador assista ao momento insegurança e tráfico de droga. Para isso
Bories e Patrice Chagnard, o galardão no dramático em que migrantes, oriundos de muito contribuíram as notícias publica-
valor de 1.250 Euros, patrocinado pela países como o Azerbaijão, a Mongólia, o das na comunicação social em 2005, que
Fundação Serra Henriques. Para os ju- Congo, o Sri Lanka ou o Iraque, procuram culminaram em Junho, no alegado “ar-
rados, foi este o filme, entre os oito que asilo num Centro de Acolhimento em rastão” na praia de Carcavelos, imedia-
disputavam a gratificação, que melhor França. Não foi fácil convencer migran- tamente associado ao bairro. Descobriu-
contribuiu para alargar a capacidade tes e assistentes sociais e deixarem-se -se mais tarde ter sido uma montagem.
de compreensão do espectador relativa- filmar nestas alturas de tensão, referem Rui Simões, cineasta, achou tudo isto
mente a um assunto relacionado com a os realizadores. O resultado final permite muito estranho, especialmente quando
Dignidade Humana. Por ter conseguido o perceber as expectativas dos primeiros, “ao mesmo tempo havia notícias de
mesmo, foi ainda distinguido com uma que tudo o que querem é começar a vida que a Cova da Moura iria ser destruída
do zero, e a frustração dos segundos, que para dar lugar a outra urbanização”,
Menção Honrosa o filme português Ilha
procuram ajudar mas estão limitados por recorda, em entrevista ao “Notícias da
da Cova da Moura, de Rui Simões.
muitas regras e poucas opções. Amnistia Internacional Portugal”. Pelo
sim, pelo não, decidiu investigar.
Um documentário que poderia ter sido
Assim começou, há cerca de quatro anos,
filmado em muitos outros países da Eu-
a ligação de Rui Simões àquela que é
ropa, pois todos têm fechado cada vez
hoje também a sua causa: o Alto da Cova
mais as fronteiras à entrada de pes-
da Moura. Os amigos cabo-verdianos
soas, mas que foi realizado em território
que lá viviam (e vivem), em maioria,
francês porque para os realizadores é
começaram a levá-lo às festas do bairro
particularmente grave “a constatação e o cineasta fazia-se acompanhar sem-
de que em França, terra do «Ilumi- pre de uma pequena câmara de filmar.
nismo», o direito ao asilo está a de- Foi bem recebido pelos habitantes, até
saparecer, esvaziado do seu sentido que há cerca de dois anos se instalou no
por um política de imigração que faz bairro durante 40 dias, com a sua equi-
de qualquer estrangeiro um potencial pa, para terminar as filmagens. No final,
suspeito”. Uma realidade que impres- Rui Simões tinha 100 horas de película
sionou o júri da Amnistia Internacional e um trabalho “doloroso” de corte pela
Portugal, que atribuiu a Les Arrivants o frente, até chegar aos 81 minutos que
© Julie Romano
Prémio com o nome da organização de estrearam, este ano, no IndieLisboa,
Uma das assistentes sociais do documentário Les Arrivants, de
Claudine Bories e Patrice Chagnard. Direitos Humanos. tendo depois passado para as salas de
Notícias • Amnistia Internacional 25

cinema nacionais. Ilha da Cova da Mou- Tudo isto foi testemunhado pela câmara
ra: foi assim que Rui Simões apelidou o de Rui Simões e registado no Ilha da Cova GRUPOS E NÚCLEOS DA AMNISTIA INTERNACIONAL
(grupo, localidade, coordenador, email, blogue)
seu filme. da Moura, que fica para memória futura.
“Quis dar um pequeno património ao GRUPO LOCAL 01 (Lisboa)
Ilha não por opção, esclarece, mas por Coordenador a designar: grupo1.aiportugal@gmail.
necessidade: “eles só se excluem [do bairro, para que, no momento em que com; http://grupo1aiportugal.blogspot.com/
resto da sociedade] para se defende- o queiram destruir, percebam o que GRUPO LOCAL 03 (Oeiras)
rem. Como não os aceitam, fecham- estão a demolir e pensem duas vezes”, Lucília-José Justino: zjustino@gmail.com
GRUPO LOCAL 06 (Porto)
-se”. A responsabilidade, acrescenta, diz o cineasta. Quis ainda contribuir para Virgínia Silva: aiporto6@gmail.com; http://aiporto.
é nossa, que “durante cinco séculos desmistificar a ideia negativa do bairro e blogspot.com
considerámos os cabo-verdianos por- para o diálogo, esperando que, em breve, GRUPO LOCAL 14 (Lourosa)
Valdemar Mota: aigrupo14@gmail.com
tugueses e hoje dizemos que não são”. a exclusão social possa fazer parte do GRUPO LOCAL 16 (Ribatejo Norte)
Além disso, só os que estão de fora é passado. O júri do Prémio Amnistia In- Yvonne Wolf: yvonne_wolff@adsl.xl.pt
que têm uma imagem negativa do Cova ternacional reconheceu a importância do GRUPO LOCAL 18 (Braga)
José Luís Gomes: ai18portugal@hotmail.com
da Moura. “Há ali seis mil pessoas. documentário, atribuindo-lhe uma Men- GRUPO LOCAL 19 (Sintra)
Aquele bairro não vive da droga, mas ção Honrosa. Fernando Sousa: ai.grupo19@gmail.com; http://blog-
19.blogspot.com ; http://grupo19aisp.no.sapo.pt
daqueles que todos os dias se levantam GRUPO LOCAL 24 (Viana do Castelo)
muito cedo para limpar os escritórios, Mais informações sobre o filme em http://ilhada- Luís Braga: luismbraga@sapo.pt
à tarde limpar as nossas casas, ao fim covadamoura.blogspot.com/. Entrevista comple- GRUPO LOCAL 32 (Leiria)
ta a Rui Simões em: www.amnistia-internacional. Maria Fernanda Ruivo: fernanda.ruivo@sapo.pt
do dia limpar novamente os escritórios. pt (Aprender/Revista da Amnistia Internacional) GRUPO LOCAL 33 (Aveiro)
A construção civil é feita por eles...”, Alexandra Monteiro: amnistiaveiro@gmail.com;
relembra. E acrescenta que apesar de A Amnistia Internacional Portugal agradece http://amnistiaveiro.blogspot.com/
terem uma vida dura mantêm aceso um GRUPO LOCAL 34 (Matosinhos)
uma vez mais à Fundação Serra Henriques o
Querubim Reisinho: amnistia.matosinhos@gmail.
espírito comunitário que Lisboa, infeliz- patrocínio do Prémio no IndieLisboa. com; http://nucleodematosinhos.blogspot.com/
mente, perdeu.
NÚCLEO DE ALMADA
Marlene Oliveira da Conceição: ai.nucleoalmada@
Avaliar para evoluir gmail.com; http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/
NÚCLEO DE ARCOS DE VALDEVEZ
Rui Mendes: rbritomendes@gmail.com
Por Cláudia Pedra NÚCLEO DE CASTELO BRANCO
Facilitadora durante a Auto-Avaliação de Desenvolvimento Organizacional (a designar): ai_nucleo_castelobranco@yahoo.com;
http://amnistiacastelobranco.blogspot.com/
Sem reflexão, análise e avaliação nin- mentes de conseguir uma nota conjunta NÚCLEO DE COIMBRA
Bárbara Barata: nucleoaicoimbra@gmail.com
guém (pessoa ou instituição) pode debate-se, argumenta-se, discorda-se NÚCLEO DE CRIANÇAS (Vila Nova de Famalicão)
evoluir, pois se é importante descobrir as veementemente e concorda-se em unís- Vitória Triães: aip.ibeji@gmail.com
fraquezas também o é enaltecer as for- sono, sobre aspectos cruciais da vida de NÚCLEO DE ESTREMOZ
ças. A Amnistia Internacional (AI) Portu- uma secção da Amnistia, desde como se Maria Céu Pires: amnistiaetz@gmail.com
NÚCLEO DE GUIMARÃES
gal cresceu mais uma vez em 2010. deve posicionar em termos da sociedade Cristina Lima: amnistia.guimaraes@gmail.com
civil, até como deve ser gerida a comu- NÚCLEO DO OESTE / CALDAS DA RAINHA
Há vários anos atrás a Amnesty Inter-
nicação interna. Debate-se também Teresa Mendes: ai.nucleooeste@gmail.com; http://
national desenvolveu uma ferramenta aioeste.blogspot.com
a relação com a sede da AI e de como
exemplar – a Auto-avaliação de Desen- NÚCLEO DO PORTO
flui a informação, e se são cumpridas André Rubim Rangel: nucleo.ai.porto@gmail.com
volvimento Organizacional (ADO). Pensa-
as responsabilidades de cada parte. É NÚCLEO DE TORRES VEDRAS
da durante anos e testada outros tantos,
uma sessão intensa, mas crucial, para Ana Lopes: aitorresvedras@gmail.com; htp://blog.
a AI Portugal foi a primeira secção do comunidades.net/aitorresvedras
qualquer entidade que pretenda evoluir,
mundo a aplicá-la e reaplicá-la. Numa GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS
pois o processo não acaba com a sessão; HUMANOS
sessão intensa, todos os participantes
esta é apenas um começo. Pós-sessão Fernanda Sousa: mfpsousa@gmail.com
da vida da secção, desde a direcção aos CO-GRUPO DA CHINA
há feedback dos participantes, do Secre-
funcionários, dos voluntários aos mem- Maria Teresa Nogueira: nogueiramariateresa@gmail.
tariado Internacional, há mudanças nos
bros dos grupos locais, têm oportuni- com
planos da AI Portugal. Há tentativas de CO-GRUPO DE CRIANÇAS
dade de avaliar o desempenho da secção
melhorar o que não correu bem, criar o Manuel Almeida dos Santos: manuelalmeidasantos@
transversalmente, tendo em vista a sua netnovis.pt
que não existe e potenciar o que já se faz
própria percepção, confrontando-a de- CO-GRUPO DA PENA DE MORTE
de bem.
pois com a informação e argumentação Coordenador a designar: ai.contrapenademorte@
gmail.com
dos outros, chegando a uma avaliação Como todos os processos não se esgota GRUPO DE JURISTAS
conjunta, obtida por consenso. Como num dia, mas há uma continuidade, uma Sónia Pires: sonia.c.pires@gmail.com
imaginam nem sempre é consensual se melhoria contínua. Por isso prossegue a NÚCLEO LGBT
uma secção conseguiu ter impacto em evolução da AI Portugal, dia a dia, com a Manuel Magalhães: lgbt.amnistia@gmail.com
termos de lóbi ou cumprir os seus objec- certeza que a próxima ADO revelará mais Se ainda não existe um grupo da Amnistia Interna-
tivos em termos de campanhas, mas o sobre a secção. Sempre. cional Portugal perto de sua casa, pode sempre ser
primor da ADO não é o resultado, mas pioneiro e começar o activismo na sua localidade.
sim o processo. Na ADO não há cargos Fale connosco pelo boletim@amnistia-internacion-
(Para consultar o relatório da ADO-Auto-avaliação al.pt ou ligando 213 861 652.
nem hierarquias – nenhuma opinião é de Desenvolvimento Organizacional, solicitar para
mais ou menos valorizada. Nos entre- o email boletim@amnistia-internacional.pt)
26 Notícias • Amnistia Internacional

JOVEM
Neste Mundial, torna-te um campeão!
Para além de Portugal, do Brasil, da
Argentina e das 29 outras equipas que GRUPOS DE ESTUDANTES DA
desde o dia 11 de Junho disputam o AMNISTIA INTERNACIONAL
Mundial de Futebol, na África do Sul, PORTUGAL
apresentamos-te uma outra: a Stand Up (Coordenadores e emails/blogues)
United!
• GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
À semelhança dos restantes jogadores de (Fátima)
futebol, estes 11 também lutam, ao lon- Sónia Oliveira: ai_csm@live.com.pt; aia-
go do ano, em “campeonatos nacionais” teondepodemoschegar.blogspot.com
(leia-se, causas de Direitos Humanos), • GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
apoiados por centenas de “adeptos” SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
(leia-se, activistas). Reúnem-se agora Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
neste Mundial, porque sabem que juntos vao.org
temos todos muito mais força! • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
ALBUFEIRA
A principal diferença entre a Stand Up Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
United e as restantes equipas do Mundial amnistiainternacional@hotmail.com;
de futebol é que estes 11 jogadores não grupodaesaai.blogspot.com
correm atrás de uma bola, mas lutam • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
pelos Direitos Humanos e por causas ur- DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
gentes no seu país. Além disso, arriscam Fernanda Vicente: fpacvicente@sapo.pt
a vida pelas lutas que escolheram travar • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
ERMESINDE
diariamente, porque não podiam, sim- Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt;
plesmente, fingir não as ver. www.ai-ese.pt.vu
Conhece estas causas em www.amnis- • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
tia-internacional.pt (Campanhas/Mun- FERNÃO MENDES PINTO (Almada)
dial Futebol 2010) e torna-te também um Marta Reis: amnistia.internacional@
esfmp.pt
defensor dos Direitos Humanos! Junta-te
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
à equipa! Tudo o que tens de fazer é aju- VILHENA (Porto)
dar-nos a esgotar o Estádio Virtual que Carla Ferreira: carlafariaferreira@
apoia a Stand Up United. hotmail.com
Precisamos de ti para divulgar esta • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
LAMAS (Torres Novas)
equipa! Fala da Stand Up United aos
Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
teus amigos e familiares, coloca no Fa- com
cebook, lança um Twit, anuncia no Hi5 e • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
em todas as restantes redes sociais. Es- MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
tas 11 pessoas precisam de nós! Vamos Cristina Soares: crisoaresd@hotmail.
encher o estádio até Dezembro, quando com; amnistisiados.blogspot.com
passa mais um ano desde a criação, pe- • GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
las Nações Unidas, de uma Declaração LISBOA
que protege os Defensores dos Direitos Júlia Maurício: nucleoai.fdul@gmail.com
Humanos. Eles merecem o esforço! • GE DO ISCTE
Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com
• ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEM
COMO? Gonçalo Marcelo: redejovem.amnistia@
gmail.com; www.reajportugal.blogspot.
1. Vai a http://estadiovirtual.amnistia- 4. Adiciona uma fotografia tipo passe, com
internacional.pt/. depois de redimensionada num progra- Se ainda não existe um Grupo da Amnis-
2. Clica no estádio e depois onde diz: ma de fotografia para 32x45 pixels. tia Internacional na tua escola ou univer-
“Preencha aqui o formulário”. sidade, podes ser tu a criá-lo. Nós dize-
5. Depois é só esperar que a fotografia mos como... Escreve-nos para boletim@
3. Coloca os teus dados pessoais e es- seja colocada no estádio virtual. Recebes amnistia-internacional.pt ou telefona
colhe uma bancada do estádio. um email de aviso. para o 213 861 652.
Notícias • Amnistia Internacional 27

A Amnistia Internacional Portugal agradece a todos os que apoiam este trabalho em prol dos Direitos
Humanos. É graças ao seu contínuo apoio que a nossa secção consegue chegar mais longe no combate
às violações dos Direitos Humanos, no nosso país e em todo o mundo. Muitas são as pessoas que, por
todo o mundo, contam consigo. Obrigado
Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro

RECEITAS E DESPESAS PROJECTO “FACE TO FACE” NOS


Ao nível das receitas e despesas da Consignação de 0,5% IRS AÇORES
secção, apresentamos na tabela 1 os 2008 (declarações 2006) 44.218,36 € O “Face to Face”, projecto de angari-
valores correspondentes ao primeiro tri- ação internacional de fundos percorreu,
2009 (declarações 2007) 47.742,99 €
mestre de 2010. A Amnistia Internacio- já em 2010, as ruas de Aveiro, Beja,
nal Portugal obteve um saldo positivo no 2010 (declarações 2008) 82.152,16 € Coimbra, Lisboa e Porto (com início no
valor de 50.908,36 euros. Em relação ao TOTAL RECEBIDO 174.113,51 € final de Fevereiro), com quinze colabora-
ano anterior, a secção obteve um saldo dores. No primeiro trimestre de 2010 este
superior, com valores mais elevados de TABELA 2 - Valor recebido pela consignação projecto permitiu já a inscrição de 482
receitas e despesas, um crescimento es- de 0,5% do IRS, nos últimos três anos. novos apoiantes, que fazem agora o seu
sencial para um maior trabalho de co- donativo regular à Amnistia, juntando-se
municação, campanhas e sensibilização aos mais de 2,8 milhões de apoiantes em
da causa que defendemos diariamente, Consignação de 0,5% do todo o mundo. Obrigado pelo seu apoio!
graças a si. seu IRS
Em Fevereiro de 2010, a Amnistia recebeu
o valor correspondente aos 0,5% de consi-
gnação do IRS, de todos os contribuintes
que optaram por apoiar a Amnistia (de-
2010 2009 clarações do ano de 2008, entregues em
1º Trimestre 1º Trimestre 2009). O valor recebido foi de 82.152,16
RECEITA 197.902,19 € 161.826,31 € euros, 72% mais elevado do que o recebido
no ano passado, tal como pode observar
DESPESA 146.993,83 € 130.652,66 €
na tabela 2. A Amnistia beneficia desta
© Amnistia Internacional Portugal
SALDO 50.908,36 € 31.173,65 € consignação desde 2008 (relativo às de-
clarações de 2006 entregues em 2007) Em Junho, a Amnistia levou este projecto
TABELA 1 - Receitas e Despesas
Dados comparativos do primeiro tendo recebido já um total de 174.113,51 pela primeira vez para fora do continen-
trimestre de 2009 e 2010. euros. Agradecemos a todas as pessoas te, à ilha de São Miguel, nos Açores, no
que optaram por consignar parte do seu sentido de divulgarmos o nosso trabalho
IRS à Amnistia Internacio-nal Portugal, nas ruas de Ponta Delgada, inscrevendo
sem qualquer custo. Consigo vamos mais novos apoiantes e membros! Bem-vindos
longe! a todos os novos activistas!

EVOLUÇÃO DE MEMBROS E
APOIANTES
14.000 12.464 12.553
Apresentamos a evolução do número de 12.000 11.378
membros e apoiantes activos da secção, 10.000 8.132
ou seja, de pessoas que colaboram regu- 8.000
larmente em prol dos Direitos Humanos 6.000 4.101
através de donativos e/ou quotas de 4.000
membro. O gráfico 1 mostra o cresci- 2.000
1.777
mento desde 2005 da secção, incluindo 0
o primeiro trimestre de 2010. Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 Ano 2010
(até Março)

GRÁFICO 1: Evolução de Membros e Apoiantes entre 2005 e 31 de Março de 2010.


28 Notícias • Amnistia Internacional

BOAS NOTÍCIAS
Nos últimos meses continuaram a ser cometidas violações graves aos Direitos Humanos, mas a acção dos
inconformados activistas da Amnistia Internacional trouxeram fortes argumentos para prosseguirmos

ISRAEL / TERRITÓRIOS GUANTÁNAMO


PALESTINIANOS OCUPADOS Mais dois prisioneiros libertados
Chegou ao fim o martírio de Saed sem acusação
“Queria agradecer aos membros da Mohammed al-Odaini, do Iémen, terá sido
Amnistia Internacional que tanto fi- o último dos prisioneiros da base norte-
zeram por mim e pela minha família. -americana de Guantánamo, em Cuba,
A vossa organização é generosa, pois a receber a notícia de que nos próximos
não esquece nenhum prisioneiro perdi- dias será libertado. Está preso há oito
do. Tive sorte em vir para casa. Muitos anos e na altura da detenção tinha ape-
outros foram condenados em julga- nas 18 anos. Foi em 2005 que os norte-
mentos injustos e continuam presos”, -americanos perceberam que não havia
disse o palestiniano Saed Yassin, hoje © Privado fundamento para acusar Mohammed,
com 37 anos, ao regressar a casa, nos mas mesmo assim só agora foi anun-
territórios ocupados da Cisjordânia, após Manar, só o pôde visitar raramente, não ciada a sua libertação, após a Amnistia
um martírio de mais de quatro anos. pelos seus três filhos pequenos a impe- Internacional ter feito campanha em seu
direm de viajar, mas porque entrar em nome por todo o mundo. O advogado de
A história de Saed remonta a 6 de Março
território israelita exige uma autorização Mohammed, David Remes, demonstrou
de 2006, quando foi preso pelas forças is-
difícil de obter. isso mesmo: “com o apoio da Amnistia
raelitas e levado para a prisão de Ketziot,
Internacional conseguimos persuadir o
em Israel. Sem qualquer julgamento, foi Refira-se ainda que Saed voltou a ser Governo a fazer Mr. Odaini regressar ao
condenado a seis meses de detenção por preso em Abril deste ano, uma vez mais Iémen e a reuni-lo com a sua família.
“canalizar fundos de forma ilegal”. Este sem qualquer acusação, tendo sido en- Apenas o alargado apoio público que a
era apenas o início de um longo período tretanto libertado no passado mês de Amnistia consegue pôde assegurar este
de prisão, possível graças à figura ju- Maio. Acredita-se agora que o martírio final feliz. Não vos podemos agradecer
rídica das “detenções administrativas”, vivido por Saed e pela sua família tenha o suficiente”.
que podem ser decretadas sem direito a chegado ao fim, muito graças à pressão
processo judicial. feita pelos membros da Amnistia Inter-
Estas ordens, cada uma de seis meses, nacional. Tudo aquilo por que passou
foram consecutivamente interpostas parece ter na base a organização não
até 14 de Janeiro de 2010, quando o Su- governamental da qual era Director em
premo Tribunal Palestiniano decretou a 2006, Ansar al-Sajeen (Associação dos
libertação do prisioneiro, por estar a ser Amigos dos Prisioneiros), que prestava
mantido preso ilegalmente. Saed foi en- assistência a presos palestinianos. Foi
tão presente a Tribunal Militar – que não mandada encerrar em Setembro de 2006
deveria julgar civis – a 28 de Fevereiro e pelas forças israelitas, estava já Saed na
absolvido dos crimes de: “apoio a milí- prisão.
cias” e “oposição às políticas da auto- A boa notícia é que o defensor dos Di- © Privado

ridade”. Nesse mesmo dia foi libertado. reitos Humanos está novamente em Esta boa notícia surge depois de em
Durante todo o tempo, a mulher de Saed, paz! Março um outro prisioneiro ter sido liber-
tado. O líbio Abdul Hamid al-Ghizzawi
esteve preso durante sete anos e está
agora a viver em liberdade na Geórgia,
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA que o acolheu.
Clemência para condenado
O Governador de Oklahoma, nos Estados Unidos da América, aceitou a 19 de Maio o pedido de clemência de Richard Smith, hoje com
47 anos e há 23 no corredor da morte. O condenado ia ser executado dentro de seis dias. A acusação remonta a 1986, quando Richard
foi acusado de matar um homem. Em processo de recurso, foi contratado um psicólogo que analisou a infância e adolescência contur-
badas do prisioneiro, vítima de vários abusos, e concluiu que terá uma esquizofrenia crónica. Houve desde então pedidos de clemên-
cia, a que se juntaram os apelos dos activistas da Amnistia Internacional. A pena foi finalmente comutada para prisão perpétua sem
direito a liberdade condicional, com a qual a Amnistia não concorda, mas congratula-se por Richard estar vivo.
Notícias • Amnistia Internacional 29

APELOS MUNDIAIS
“Quando organizações como a Amnistia Internacional pedem uma assinatura, assinem. Porque estão
a fazer a diferença. Quando estava no corredor da morte na Florida iam chegando faxes, emails,
postais... Eles não liam tudo, mas viam que chegavam 10.000, 20.000 e acreditem que faz a dife-
rença...
Acham que não serve para nada? Quando o meu pai falava com as secretárias do Governador da
Florida na altura, elas diziam «quem é este espanholito que faz com que tenhamos a caixa de email e
o fax bloqueados e que todas as semanas faz chegarem centenas de assinaturas. Como podem estar
todos tão interessados nele». Acreditem, as assinaturas são fundamentais”.

Foram estas as palavras proferidas pelo espanhol Joaquín José Martinez, um inocente que esteve três anos no corredor da morte na
Florida, Estados Unidos da América. Foram ditas perante dezenas de estudantes, numa conferência que decorreu em Coimbra em
Outubro de 2009.

NAS PRÓXIMAS PÁGINAS APRESENTAMOS-LHE MAIs seis PESSOAS QUE AINDA PRECISAM DA SUA AJUDA.
CONHEÇA OS CASOS E PARTICIPE!
A SI CUSTA MUITO POUCO E PARA TODOS ELES PODE SIGNIFICAR O FIM DE UMA INJUSTIÇA!
30 Notícias • Amnistia Internacional

México
Mais dois desaparecimentos forçados

A 14 de Novembro de 2008, Carlos Guzmán Zúñiga (30 anos) e José Luis Guzmán Zúñi-
ga (32 anos), dois irmãos residentes na cidade de Juárez, no México, perto da fronteira
com os Estados Unidos da América, foram subitamente raptados por membros do exér-
cito e das forças policiais sem qualquer justificação. Os vizinhos viram os dois irmãos
a serem levados em veículos militares. Até hoje, não voltaram a ser vistos.
Quando soube do desaparecimento dos seus filhos, Javier Antonio Guzmán Márquez fez
de tudo para saber do seu paradeiro e da sua situação legal, mas nem as autoridades
militares, nem o oficial do Ministério Público conseguiram dar-lhe respostas. A 19 de
© Privado
Novembro de 2008, a família dos dois irmãos levou o assunto à Comissão Nacional de
Direitos Humanos, que encontrou provas do envolvimento do exército na detenção ilegal
dos irmãos, mas as autoridades continuam silenciosas.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos tem, nos últimos anos, denunciado nume-
rosas situações de abusos por parte das forças militares, incluindo desaparecimentos
forçados, execuções extrajudiciais, tortura, detenções arbitrárias e buscas domici-
liárias, que têm sido feitas no contexto do aumento da violência relacionada com o trá-
fico de droga na região. Aqueles que têm feito denúncias destas violações de Direitos
Humanos têm sido sujeitos a perseguição e ameaças de violência.
Mais de um ano e meio depois, a família de Carlos Guzmán Zúñiga e José Luis Guzmán
© Privado
Zúñiga continua sem saber do que são acusados, nem se ainda continuam vivos.
Ajude-nos a acabar com estes abusos e com a total falta de respeito pela dignidade
humana. Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)

LAOS
Dois guias locais de jornalistas ainda se encontram presos

Thao Moua, de 34 anos, e Pa Fue Khang, de 40 anos, cidadãos da etnia Hmong, en-
contram-se presos por trabalharem como guias para dois jornalistas europeus que
levavam a cabo uma investigação clandestina sobre as condições de vida das comuni-
dades étnicas Hmong, que vivem escondidas nas selvas do Laos e em constante risco
de perseguição pelas forças militares do país, da etnia dominante Lao.
Os membros da expedição – os dois jornalistas, um intérprete e os dois guias – foram
capturados e o seu material confiscado a 4 de Junho de 2003. Foram julgados a 30 de
Junho, resultando na deportação dos jornalistas, a 9 de Julho, na condenação do intér-
prete, que conseguiu fugir da prisão, e Thao Moua e Pa Fue Khang, que não dispunham
© Privado de representação legal, foram condenados, respectivamente, a penas de prisão de 12
e 15 anos.
Antes ainda do julgamento há relatos de que foram agredidos pelas forças policiais
e obrigados a confessar a posse de armas, de explosivos e de drogas. Os prisioneiros
de etnia Hmong são normalmente sujeitos a um tratamento mais agressivo e correm
maior risco de tortura e negação de assistência médica.
Já condenados, foram transferidos para a Cadeia de Samkhe, onde alegadamente
foram mantidos em solitária durante meses. Depois disso, não foram divulgadas mais
informações sobre os prisioneiros, desconhecendo-se o seu paradeiro.
A Amnistia Internacional acredita que se tratou de um julgamento injusto, politica-
© Privado mente motivado.
Ajude-nos a libertar Thao Moua e Pa Fue Khang, que não cometeram qualquer crime à
luz das normas de direito internacional. Participe! Contamos Consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
Notícias • Amnistia Internacional 31

Arábia Saudita
Execução iminente de jovem prisioneiro

Suliamon Olyfemi, de 32 anos, cidadão nigeriano, foi detido na Arábia Saudita durante
uma vaga de detenções em massa de cidadãos africanos – provenientes da Somália,
Gana e Nigéria – que decorreu em Setembro de 2002, depois da morte de um agente
policial durante uma alegada disputa com trabalhadores imigrantes.
Segundo o detido, tudo aconteceu a 28 de Setembro, quando um grupo de homens,
entre eles um polícia, chegou à zona onde vários africanos trabalhavam na limpeza de
carros e exigiram dinheiro. Começou uma luta que resultou na morte do polícia. No dia
seguinte, ocorreram centenas de detenções.
© Privado Suliamon Olyfemi manteve sempre a sua inocência e foi submetido a um julgamento
injusto conduzido em árabe, língua que não compreende, sem qualquer representação
legal ou mesmo o auxílio de um intérprete. Foi obrigado a assinar documentos cujo
conteúdo desconhecia, através de impressões digitais, que depois foram usados contra si.
Acabou por ser condenado à morte no final de 2004 e a Comissão de Direitos Humanos da Arábia Saudita declarou, em 2007, que
Suliamon Olyfemi esgotou todas as instâncias de recurso, podendo ser executado a qualquer altura. Refira-se que mais nenhum dos
detidos em 2002 recebeu semelhante punição, tendo a maioria sido deportados. Alguns receberam penas de prisão e castigos físicos
(chicotadas).
Nos primeiros três meses de 2010 foram executadas pelo menos oito pessoas na Arábia Saudita, incluindo um cidadão estrangeiro.
Teme-se agora pela vida de Suliamon Olyfemi, preso desde os seus 24 anos.
Ajude-nos a acabar com esta injustiça e com este desnecessário sacrifício da vida humana. Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)

Suazilândia
Activista sob ataque cerrado

Na Suazilândia, um dos mais pequenos países africanos, ladeado pela África do Sul e
por Moçambique, um activista político, Wandile Dludlu, de 30 anos, tem sido persegui-
do pela polícia desde que, em 2008, a organização política de que era membro, Con-
gresso da Juventude da Suazilândia, foi banida ao abrigo da Lei para a Supressão do
Terrorismo, por ser considerada “terrorista”.
O último ataque registou-se a 1 de Maio deste ano, quando vários activistas políticos
foram presos durante um comício. Wandile Dludlu esteve detido durante várias horas
e depois foi libertado sem acusação. Refira-se que, em 2009, o activista tinha já apre-
sentado duas queixas à polícia da Suazilândia por incidentes de que foi vítima.
O primeiro teve lugar a 4 de Setembro de 2009, quando o activista regressava de um
protesto na África do Sul. O seu carro foi parado pela polícia e Wandile Dludlu levado
© Privado
à força. Esteve preso durante algumas horas e depois foi levado para uma zona de
floresta, onde foi interrogado sob tortura. Foi depois largado, sem acusação, a sangrar,
desidratado e em estado de choque.
Poucas semanas depois, a 21 de Setembro, Wandile Dludlu juntou-se a outros activistas e a vários jornalistas para aguardar a li-
bertação do activista político Mario Masuku junto a um Centro de Correcção. Sem qualquer aviso, os guardas prisionais atacaram o
grupo, tendo o activista sido agredido.
As queixas apresentadas não tiveram até hoje qualquer desenvolvimento e os ataques de que Wandile Dludlu continua a ser alvo
fazem acreditar que não terá paz tão cedo. É por isso urgente mostrar que estamos atentos. Participe! Contamos consigo!

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e
a data. Depois basta enviar por correio.)
32 Notícias • Amnistia Internacional

AGENDA
A AMNISTIA NOS FESTIVAIS particular, a acção que neste momento internacional de sucesso. No entanto,
DE VERÃO decorre em torno do Mundial de futebol. tornou-se conhecida não apenas pela
Para saber mais, nada melhor que dar sua beleza, mas porque revelou ter sido
Ainda mal se tinha dado o solstício de um pulinho a um destes Festivais de vítima de mutilação genital feminina
Verão e já começava a ser anunciado o Verão e juntar o agradável ao que pode aos cinco anos. Desde então tem lutado
início da época dos Festivais. Nesta al- ser muito útil. Se não puder assistir como contra esta prática, que foi trazida para
tura, que Maomé dificilmente vai à mon- fã da música e da dança, não há descul- Portugal por imigrantes dos países onde
tanha, a Amnistia Internacional resolveu pas: junte-se à nossa equipa e siga como esta é tradição. Um filme que já estreou,
que a montanha tem de ir a Maomé. É voluntário da Amnistia Internacional. To- com o apoio da Amnistia Internacional
este o espírito que tem levado a secção dos os interessados devem escrever para Portugal. A não perder.
portuguesa da Amnistia, nos últimos boletim@amnistia-internacional.pt.
anos, a percorrer os Festivais de Verão à
procura de activistas entre os amantes
da música. O DRAMA DA MUTILAÇÃO
Este ano não será excepção e a Amnistia GENITAL FEMININA
Internacional Portugal vai estar em si- Nos dias mais quentes de Verão, a Am-
multâneo em dois extremos do país. De nistia Internacional propõe que se re-
28 a 31 de Julho marcará presença bem fresque num cinema perto de si. O filme
a Norte, no Festival Paredes de Coura, e que aconselhamos não é refrescante, é
também no Sul, para o Festival Músicas verdade, mas é uma violação grave aos
do Mundo, que decorre em Sines. Com Direitos Humanos da qual todos deve-
a chegada do mês de Agosto a Amnis- mos estar bem conscientes, até porque
tia estreia-se num festival diferente, o existe em Portugal. Flor do Deserto é um
Andanças, que, como o nome indica, se filme de Sherry Horman, que retrata a
dedica principalmente a danças. Será de história verídica da modelo Waris Dirie,
2 a 8 de Agosto, em São Pedro do Sul. nascida na Somália em 1965. Depois de
Em todos estes locais vai ser divulgado o fugir para Londres, foi descoberta por
trabalho da Amnistia Internacional e, em um fotógrafo e embarcou numa carreira

ATÉ 31 DE JULHO
É MAIS FÁCIL FAZER UM DONATIVO
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Notícias • Amnistia Internacional 33

DEBATER A POBREZA o facto de faltarem apenas cinco anos inclui temáticas como a Democracia, as
para terminar o prazo, estabelecido pe- Minorias e os Movimentos Indígenas, a
Sendo 2010 o Ano Europeu do Combate los Estados-membros da organização Pobreza e a Desigualdade, entre outros.
à Pobreza e à Exclusão social, está a mundial em 2000, para o cumprimento A formação destina-se a investigadores,
decorrer desde o passado mês de Junho dos oito Objectivos de Desenvolvimento estudantes universitários, professores,
um ciclo de quatro encontros temáticos do Milénio. Um concurso, dirigido a ama- jornalistas, diplomatas, consultores e
sobre: “Pobreza é ficar indiferente! dores e profissionais de fotografia, que restantes interessados na temática. As
Juntos por uma Sociedade para Todos”. pretende mostrar o que de positivo se inscrições devem ser feitas até 1 de Se-
O próximo tema, que será discutido a 23 tem feito um pouco por todo o mundo. As tembro e têm um custo de 75 Euros. Mais
de Setembro, é dedicado aos mais velhos, imagens vencedoras vão estar expostas informações pelo 21 790 39 56 ou em
sob o título “Idosos: O Futuro Continua”. durante a Cimeira do Milénio que de- www.cies.iscte.pt.
Segue-se depois, a 21 de Outubro o de- corre em Setembro, em Nova Iorque. Mais
bate “Contra as Barreiras da Indiferen- informações em http://picturethis.undp.
ça” e a 18 de Novembro, para encerrar org. WORKSHOPS NA ÁREA DA SAÚDE
o ciclo, fala-se sobre “A Minha Casa é a E DA EDUCAÇÃO
Rua”. Os debates decorrem sempre entre
as 16 horas e as 17h30, no Auditório do A sexologia é uma das áreas temáticas
ISS, na Rua Castilho, n.º 5–R/C, em Lis- dos Workshops que estão a ser promovi-
boa. A entrada é gratuita, mas exige ins-
CURSO DE VERÃO dos pela APF-Associação para o Pla-
crição pelo 21 318 49 89 ou ISS-CRC@ neamento da Família. Sobre este tema,
seg-social.pt. Uma iniciativa do Centro a organização propõe falar de “Abuso e
de Recursos em Conhecimento do Insti- Violência Sexual”, nos dias 27 e 28 de
tuto da Segurança Social. Setembro, e sobre Orientação Sexual e
Transexualidade, com o workshop “No
Segredo dos Deuses”, a 18 e 19 de Ou-
UMA IMAGEM PODE VALER tubro. Ambos decorrem entre as 18 e as
MAIS QUE MIL PALAVRAS Compreender a realidade e a actuali- 21 horas, no Centro Bebés à Vista, em
Os amantes de fotografia têm até ao dade latino-americana é o objectivo do Coimbra. Esta é apenas uma das mui-
próximo dia 16 de Julho para participa- Curso de Verão “América Latina Hoje”, tas áreas temáticas propostas pela APF,
rem no concurso “Picture This: We Can que vai decorrer entre os dias 6 e 10 de neste ciclo de Workshops que são pagos
End Poverty”, promovido pelo Programa Setembro, no ISCTE-Instituto Superior de consoante o número de horas frequen-
de Desenvolvimento das Nações Uni- Ciências do Trabalho e da Empresa, em tadas. Os principais destinatários são
das. O objectivo é alertar o mundo para Lisboa. O curso, de formação intensiva, os profissionais e estudantes das áreas
da Saúde e Educação. Mais informações
em APF Centro, pelo 23 982 58 50 ou em
www.apf.pt.
A Discriminação
Por Pedro Miguel Silva Manaças (FecoPortugal)

TOME NOTA
• 17 de Julho
Dia Mundial da Justiça Internacional

• 9 de Agosto
Dia Internacional dos Povos Indígenas

• 12 de Agosto
Dia Internacional da Juventude

• 23 de Agosto
Dia Internacional da Recordação do
Tráfico Negreiro e da sua Abolição

• 30 de Agosto
Dia Internacional dos Desaparecidos

• 21 de Setembro
Dia Internacional da Paz
34 Notícias • Amnistia Internacional

CRÓNICA
DISCRIMINAÇÃO E DADOS PESSOAIS
Por Luís Novais Lingnau da Silveira
Presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados

exigem mais protecção: dados relativos A justificação seria a de que se teria em


à raça, convicções políticas e religiosas, vista, no âmbito de um propósito de dis-
filiação sindical, saúde, orientação so- criminação positiva, organizar eventos e
cial, e também dados genéticos. festas especialmente destinadas a tais
trabalhadores.
A especial protecção que estes dados
sensíveis merecem resulta, precisa- Sem discutir a veracidade deste objecti-
mente, do facto de eles poderem facilitar vo, considerou-se, de todo o modo, que
discriminações, que se pretende evitar. mais do que ele pesava a discriminação
negativa que poderia resultar da recolha
Ou seja: o tratamento de dados sensíveis e tratamento conjuntos de tais informa-
pode dar origem a discriminações. ções – razão por que se recusou essa
operação.
© Privado
E são precisamente as especiais regras
de protecção respeitantes a tais dados Também pode discutir-se, ainda, a
Fico satisfeito com esta oportunidade que têm em vista evitar as discrimina- relevância de dados pessoais que não
que me é dada para tentar desfazer uma ções que podem originar. são sensíveis em matéria de discrimina-
ideia bastante divulgada – a de que a ção.
protecção de dados pessoais dificulta, ou A Comissão Nacional de Protecção de
é mesmo adversa, à luta contra a dis- Dados, onde trabalho, tem tido oportuni- Há dias, a Comissão dividiu-se, ao dis-
criminação. dade de apreciar várias situações deste cutir se a nacionalidade poderia gerar
tipo, de diversa natureza. discriminação no âmbito do marketing.
Antes de mais, convém assentar no que
são os dados pessoais - afinal informa- Pode apontar-se, por exemplo, a inclusão, Tratava-se de uma empresa que preten-
ções, de qualquer natureza, relativas a em boletins de matrícula escolares, dia saber da nacionalidade dos clientes,
pessoas singulares, identificadas ou de perguntas relativas à qualidade de para adaptar em função desse dado a
identificáveis. “luso” ou “não luso”, ou ainda de “imi- publicidade que lhes viesse a enviar.
grantes”, dos pais dos alunos.
Ora, não é de facto raro ouvir (ou ler) afir- A decisão acabou por ser positiva, mas
mar que a protecção de dados pessoais A justificação apresentada foi a de assim alguns dos membros da Comissão sus-
prejudica a comprovação de situações se poder prestar a esses alunos um me- tentaram que desse modo se autorizava
de discriminação, e, consequentemente, lhor acompanhamento. uma forma de discriminação.
o combate a esta fonte de corrosão das
sociedades. Mas não pôde aceitar-se o tratamento de Em suma, creio não ser errado sustentar
tais dados sensíveis, relativos à “vida que a protecção de dados pessoais não
Para manifestar a falta de exactidão privada”, e que poderiam dar origem a favorece a discriminação.
deste ponto de vista convém atentar em discriminação.
que, para demonstrar a eventual existên- Bem ao contrário, tal protecção é apta a
cia de discriminação, e sua amplitude, Outra situação clara de indevida recolha evitar, na sua raiz, diversas modalidades
basta apresentar meros dados estatísti- e tratamento de dados sensíveis de- de discriminação.
cos – que não são dados pessoais. parou-se-nos quando sucursais de em-
presas sediadas nos EUA pretenderam,
Mas mesmo considerando verdadeiros de entre os dados de trabalhadores seus
dados pessoais, o erro daquela perspecti- a enviar para a empresa-mãe, incluir os
va ressalta, desde logo, da consideração relativos à orientação sexual.
dos chamados dados sensíveis, os que
-
AJUDE-NOS A DEFENDER OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO!

TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL

© AP/PA Photo/Khalid Mohammed © UNHCR/H Caux © AP/PA Photo/Halabisaz

TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!

PODE AJUDAR-NOS:
• Tornando-se membro (e passando a participar nas assembleias da Amnistia Internacional Portugal)
• Tornando-se um apoiante regular
• Enviando um donativo esporádico
• E participando activamente nas actividades que lhe propomos durante todo o ano

TODOS OS MEMBROS E APOIANTES DA AMNISTIA INTERNACIONAL RECEBEM:


• Informação periódica sobre as Acções e Campanhas da Amnistia Internacional, nas quais pode participar
• A revista trimestral da Amnistia Internacional com notícias e reportagens relacionadas sobre as mais variadas
temáticas ligadas aos Direitos Humanos

CONCORDANDO COM A ACÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL


1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
Desejo tornar-me membro
(SDD), a pedido da Amnistia Internacional - Portugal, as
Quota Anual: €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) €40 importâncias indicadas e com a regularidade indicada 2.
Desejo fazer um donativo regular (sistema de débito directo*) Estou informado de que os débitos poderão ser efectuados
em datas distintas 3. A Amnistia Internacional apenas
Valor do donativo: €10 €25 €50 €100 €250 Outro: poderá alterar os montantes após uma informação prévia
Regularidade do donativo: Mensal Trimestral Semestral Anual 4. Irei informar a minha entidade bancária, por escrito, caso
pretenda cancelar as instruções aqui indicadas 5. Tenho
Desejo fazer um donativo pontual conhecimento de que, caso algum débito (efectuado por
No valor de € SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5 dias
úteis para reclamar junto da minha entidade bancária, que
Quero apenas a revista trimestral (poupando sobre o preço da capa) me devolverá o montante em causa.
Assinatura por 1 ano (4 números) = €6 Assinatura por 2 anos (8 números) = €12

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