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Alessandro Almeida

Filomena Luciene Cordeiro

História Medieval i

Montes Claros/MG - 2014


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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

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Ficha Catalográfica:

2014
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Pró-Reitor de Ensino/Unimontes Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes


João Felício Rodrigues neto Anete Marília Pereira

Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Chefe do Departamento de História/Unimontes


Jânio Marques dias Francisco Oliveira Silva
Jânio Marques dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
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Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais
Helena Murta Moraes Souto

Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes


Carlos Caixeta de Queiroz
Autores
Alessandro Almeida
Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, mestrado em
História pela Universidade Federal de Uberlândia
- UFU- Doutorando em História pela mesma Universidade, com ênfase na área de desenho,
videogame, ficção, história e imagens.

Filomena Luciene Cordeiro


Graduada em História pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, pós-graduação
lato Sensu em Ciências Sociais pela Unimontes e Gestão da Memória: Arquivo, Patrimônio
e Museu pela Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG - mestrado em História pela
Universidade Severino Sombra. Professora do Departamento de História da Unimontes.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Idade média: introdução e debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 A idade média: preconceito, origem e caracterização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.3 O imaginário Medieval e os contos/desenhos animados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Os reinos e impérios medievais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.2 Concepções do termo “bárbaras” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.3 Os bárbaros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2.4 Império Bizantino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.5 Os Árabes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
O(s) Feudalismo(s) Ocidental(is): Constituição e características . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.2 O sistema Feudal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.3 Características gerais do modo de produção Feudal na Europa Ocidental . . . . . . . . 46

3.4 Alguns legados da idade média - Feudalismo Ocidental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49

3.5 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . 57

Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
História - História Medieval I

Apresentação
Caro(a) acadêmico(a):

O caderno didático de História Medieval I dará continuidade ao aprendizado e às discussões


que você começou na disciplina “História Antiga I e II”. Esta disciplina permite ao estudante viajar
na história dos tempos medievais e conhecer como as pessoas pensavam, sentiam e viviam na-
quela época.
Nesse sentido, a disciplina História Medieval I tem como objetivos:
• Refletir sobre os processos e fatores da decadência do mundo clássico ocidental e as origens
da Idade média;
• Analisar o contexto de formação dos reinos bárbaros, seu desenvolvimento econômico, po-
lítico e sociocultural;
• Identificar as estruturas socioeconômicas do Império Carolíngio, Bizantino e da civilização
árabe;
• Delimitar o arranjo estrutural do mundo medieval ocidental, bem como suas diversas com-
plexidades.
Para tanto, organizamos os conteúdos em três unidades. Na Unidade I, Idade Média: in-
trodução e debate, abordamos os preconceitos referentes ao mundo medievo, a reflexão con-
cernente ao imaginário medieval e a sua importância, para pensarmos sobre representações
cinematográficas e animadas que demonstram a importância das representações simbólicas
do mundo medieval para a contemporaneidade. Na Unidade II, Os reinos e impérios medievais,
apresentamos os reinos bárbaros, entre eles os quais destacamos os francos. Por último, na Uni-
dade III, O(s) feudalismo(s) ocidental(is): constituição e características, apresentamos a constitui-
ção e as principais características do feudalismo ocidental.
A proposta deste material contempla conhecer e compreender a idade média, enfatizando
noções básicas, assim como a constituição e características do feudalismo ocidental. Serão tra-
balhados também os reinos e impérios medievais, entre eles, o Império Carolíngio, bizantino e
Árabe.

Bom trabalho!
Os autores

9
História - História Medieval I

Unidade 1
Idade média: introdução e debate

1.1 Introdução
Nesta primeira unidade, lançaremos as bases para uma boa análise do mundo medieval. In-
troduziremos discussões acerca dos preconceitos gerados em torno do mundo medieval, bem
como do imaginário desses preconceitos. Após essa discussão introdutória, apresentaremos me- DICA
todologias de análises acerca de materiais cinematográficos medievais, que poderão ser traba-
Na mitologia grega,
lhados em sala de aula. Sendo assim, nosso foco principal é teorizar acerca das discussões que Europa era o nome
envolvem o mundo medieval. de uma bela princesa
fenícia, raptada por
Zeus, que a levou à ilha
de Creta. Ali se uniram

1.2 A idade média: preconceito, e geraram filhos, entre


os quais Minos, o futuro
rei de Creta. Não há

origem e caracterização uma tese segura que


explique as razões pe-
las quais o continente
europeu adquiriu esse
nome. Até que ponto,
Pensar em Idade Média nos remete a imagens de bruxas, castelos, dragões e uma sociedade estamos reconstruin-
camponesa que, mesmo permeada de romances, leva-nos muitas vezes a afirmar: “é realmente a do essa mitologia em
idade das trevas”. Tais símbolos desafiam a periodização e o tempo, demonstrando-nos que a dis- nossas salas de aula,
cussão sobre o mundo medieval faz-se necessária para compreendermos significados que mar- quando somente rei-
cam a nossa história do “presente”. É com a perspectiva de Marc Bloch, historiador e analista da teramos uma História
Eurocêntrica? Ou seja,
sociedade feudal, de que a história é a disciplina do presente que iniciaremos nossas reflexões. é nosso fim maior.
Em primeiro lugar, devemos desde já desconstruir qualquer tipo de fórmula como: idade Estamos sendo críticos
média = feudalismo. É preciso antecipar que a idade média é muito mais abrangente que o feu- o suficiente para dar à
dalismo ocidental. Assunto a ser tratado com detalhe na Unidade III. Europa o devido lugar?

◄ Figura 1:
Representação de Vila
Medieval.
Fonte: Disponível em
http://www.meionorte.
com/danielcristovao/
densidade-demografica-
na-primeira-idade-me-
dia-77799.html. Acesso
em 23/11/2010

11
UAB/Unimontes - 3º Período

Figura 2: Castelo ►
construído no período
medieval
Fonte: Disponível em
http://www.historiadetu-
do.com/idademedia.jpg.
Acesso em 23/11/2010

DICA
No período medieval,
representantes da es-
colástica apropriavam-
se da cultura clássica
(greco-romana) para
defenderem a fé cató- Acerca da Idade Média (V-XV), é conveniente frisar que existe uma generalização preconcei-
lica. Com o desenvol- tuosa que vincula esse período ao atraso. A esse respeito, a historiografia destaca que o termo
vimento do comércio medieval é tido como pejorativo,assim como o próprio apelido de “idade das trevas”, ambos cria-
e a urbanização, surgiu dos por renascentistas e até mesmo defendidos por historiadores até o século XIX. Os primeiros
o Renascimento (XIV),
e a maior parte dos detinham a percepção preconceituosa de que aquele momento do passado havia regredido, até
renascentistas eram mesmo por não deter as obras clássicas da antiguidade romana e grega. Seria uma sociedade
intelectuais da própria na qual a servidão estava aparente e os meios de produção eram os mais rudimentares, além do
Igreja Católica que, com fato de as vilas serem isoladas e não desenvolvidas. Povoados imensos se resguardavam atrás de
a mudança de realida- seus castelos e de bosques “mal assombrados”. Portanto, o sentido básico mantinha-se renascen-
de histórica, construí-
ram uma “nova lógica tista: a “Idade Média” teria sido uma interrupção no progresso humano inaugurado pelos gregos
burguesa” que condu- e romanos e retomado pelos homens do século XVI. Percebamos, portanto, que a significação
ziu o mundo ocidental. do período medieval como atrasado foi elaborada por um conjunto de pensadores que queriam
Para tanto, construíram afirmar o ideal de uma sociedade predominantemente burguesa, dita como “moderna”, como
o ideal de Idade Média um período de maior desenvolvimento, cujo tempo realidade é caracterizado entre os séculos
como “idade das trevas”
ou “noite dos mil XV e XVIII.
anos”. A partir de tais Em termos de periodização, a Idade Média é dividida em Alta Idade Média (V ao X) e Baixa
informações, convém Idade Média (XI ao XV). A disciplina Medieval I privilegiará a ascensão e constituição do feuda-
problematizarmos: De- lismo, enquanto Medieval II (outra disciplina) dará ênfase à crise feudal, característica da Baixa
vemos transmitir para Idade Média (XI ao XV). Logo, o estudo do mundo medieval ocidental leva-nos a analisar a Euro-
nossos alunos a Idade
Média como “idade das pa após a decadência de Roma (séc. V), ocasionada a partir das invasões bárbaras. Considerando
trevas”? Qual a impor- que essas invasões se seguem pela Alta Idade Média (V-X), é conveniente perceber que o mundo
tância das mudanças feudal ocidental constitui-se a partir desses conflitos.
históricas para alterar- Após essa breve situação vocabular e histórica, atenhamo-nos ao final da sociedade roma-
mos nossa maneira de na: Quais os fatores que desencadearam a queda do Império Romano? O que contribuiu para
pensar? Como as elites
constroem seu predo- a chegada da sociedade medieval? Quais os limites e projeções do feudalismo? Esse é o nosso
mínio, “seu mundo” por trabalho neste momento.
meio da educação e da O Império Romano, com o passar dos anos e das conquistas, encaminhava-se à chamada
história? Pax romana (III), período de diminuição de guerras e, consequentemente, de diminuição dos
aprisionamentos de escravos adquiridos nas mesmas. A crise da escravidão, os excessivos gastos
com guerras e a tentativa de manutenção dos privilégios aos burocratas provocaram a retração
da produção e a aceleração do processo inflacionário, fatores que fizeram com que a crise econô-
mica se generalizasse.
Segundo Perry (1989), em Passagens da Antiguidade ao Feudalismo, a crescente expansão
de Roma trouxe mais conquistas e menos controle das áreas conquistadas. Com o distanciamen-
to das terras, aliado ao crescente volume cultural, e com a chegada das primeiras ondas de inva-
sões bárbaras e as constantes trocas de imperadores, o fim do grandioso Império aproximava-se
tanto quanto o passar dos anos:
Mediante imigrações pacificas ou invasões, diversos povos germânicos (que os romanos
chamavam de bárbaros) foram ocupando o Império Romano do Ocidente. As invasões germâ-

12
História - História Medieval I

nicas desencadearam transformações profundas que marcaram a formação da Europa medieval


(COTRIM, 2007). GLOSSÁRIO
Nesse caminho, podemos listar outros agravantes como: Arianismo: Esta
• esgotamento das terras devido a técnicas inadequadas; religiosidade tem seu
• a produção agrícola decai, assim como a produção livre; princípio no Cris-
• impostos elevados em todo o império, sufocando, sobremaneira, a população; tianismo Primitivo,
sendo sustentado pelos
• ascensão do cristianismo. Em meio à crise do império e do escravismo, ocorre o fortaleci-
seguidores de Arius
mento da religiosidade cristã que, em alguns momentos, foi até utilizada como meio de for- (bispo de Alexandria).
talecimento do Império; O princípio do Arianis-
• o trabalho corporal visto como indigno, uma vez que o principal intuito dos grandes ho- mo era a negação da
mens seria ter, suficientemente, escravos para alcançar a ociosidade e, assim, a sua intelec- consubstancialidade
entre Jesus e Deus, ou
tualidade e seu status;
seja, o primeiro era
• as cidades perdem prestígio, iniciando a fuga da população urbana para o campo. subordinado ao se-
gundo e não a mesma
entidade. Ao mesmo
tempo, afirmava que
Deus seria um gran-
de e eterno mistério,
oculto em si mesmo, e
que nenhuma criatura
◄ Figura 3: Fortificação
conseguiria revelá-lo,
dos castelos: muros
visto que Ele não pode
altos e torre
revelar a si mesmo. O
Fonte: Disponível Concílio de Nicéia (325
em http://www.
d.C) condenou esta
paliodeinorma nni.com/
images/PIAZZA/feudo_67. doutrina após uma
jpg. Acesso em 23/11/2010 grande controvérsia e
declarou-a herética. No
entanto, visões seme-
lhantes e, em alguns
casos, revivificação do
nome ocorreram desde
então. Uma carta de
Auxentius, um bispo
de Milão do século IV,
referindo-se ao missio-
nário Ulfila, apresentou
uma descrição clara da
teologia ariana sobre
a Divindade. Deus, o
Pai, nascido antes do
tempo e Criador do
mundo, era separado
de um Deus menor, o
Logos, Filho único de
Deus (Cristo) criado
pelo Pai. Este, traba-
lhando com o Filho,
1.2.1 A importância das invasões bárbaras para a formação do criou o Espírito Santo,
que era subordinado
Mundo Feudal ao Filho e, tal como o
Filho, era subordinado
do Pai. Segundo outros
Um dos fatores que determinaram a crise do Império Romano no século V foram as inva- autores, para Ário, o
sões bárbaras. A partir de então, muitos livros didáticos tratam as invasões com um dado fixo e Espírito Santo seria
“morto” que, como fato, se restringiria ao momento da decadência de Roma. Porém, tratando a uma criatura do Logos
(Filho). Por causa de
história como processo, o historiador Marc Bloch, em A sociedade feudal destaca que o conjunto
propensos conflitos
de invasões acumuladas entre os séculos V e IX foi fundamental para entendermos o processo políticos, Constantino I
de feudalização da Europa Ocidental que ocorre de forma gradual. Nesse prisma, a compreensão (IV) reafirma o Aria-
desses conflitos é fundamental para entendermos o mundo medievo e a sociedade feudal. nismo como herético,
Segundo Perry Anderson (1989), o período compreendido entre os séculos III e IV abarca as muito embora tenha se
convertido ao final de
primeiras invasões bárbaras. Na primeira onda de invasão, algumas regiões passam a se desvin-
sua vida.
cular do poderio de Roma, muito embora o legado romano ainda seja utilizado em grande parte
da Europa. Destaca-se que, nessas primeiras invasões, surge um dualismo em várias esferas: na
política, a lei romana confrontava-se com as tradições de oralidade bárbaras, principalmente dos
germanos. Na religião, o monoteísmo católico duelava com o politeísmo bárbaro, fato que fun-

13
UAB/Unimontes - 3º Período

damentou, por exemplo, o surgimento do arianismo. A força das “armas” condicionava uma redis-
tribuição de terra desigual. Diferentemente, a segunda onda de invasões demarca ainda mais os
contornos iniciados pela primeira. A população dividida passa a fugir para o campo e refugiar-se
dos conflitos. O medo “do saque e da violência” leva os nobres a firmarem pactos de vassalagem.
Nesse momento devemos lembrar nossa afirmação inicial: muito embora seja adotado o feuda-
lismo analogamente com o período do ano V ao X, intitulado como Alta Idade Média, ele só re-
ceberá contornos visíveis a partir do século IX, após o governo de Carlos Magno. Na sequência,
percebamos, de maneira objetiva, as principais contribuições das invasões para a constituição do
feudalismo ocidental mais bem identificado entre os séculos IX e XI:

Figura 4: ►
Representação das
invasões Bárbaras em
Roma
Fonte: Disponível em
http://upload.wikimedia.
org/wikipedia/com-
mons/9/95/Vandalen.jpg.
Acesso em 23/11/2010

No aspecto político, em consequência das invasões, o medo, as guerras, as construções de


fortalezas e castelos são marcantes para a compreensão do mundo feudal. Na primeira onda de
invasões, os bárbaros (povos que não seguiam as leis e costumes romanos) desestruturaram o
exército do Império Romano. Dessa forma,
muitos guerreiros romanos e bárbaros de-
sistiram de defender as cidades e passaram
a defender possessões de terras que, poste-
Figura 5: O germano e ►
sua família
riormente, seriam entendidas como feudos. A
Fonte: Disponível em
construção de castelos em lugares distantes
http://educaterra.terra. poderia garantir aos indivíduos de maiores
com.br/voltaire/artigos/ posses segurança, visto que o medo de um
pimage/gemanos1.jpg
Acesso em 23/11/2010
possível conflito era constante.
Em termos econômicos, as guerras cons-
tantes geraram o êxodo urbano e a ruralização
da economia, pois as primeiras invasões oca-
sionaram a crise da escravidão e do comércio
romano. Estruturava-se, portanto, uma vivência
social em que o apreço ao trabalho nas terras
dos senhores “feudais” condicionava toda uma
nova sociedade que irrompia. Além disso, os
bárbaros, povos que, em sua maioria, tinham
tradições rurais e não possuíam um sistema mo-
netário muito organizado, passaram a impor seu
modo de vida. A economia na Europa ocidental,

14
História - História Medieval I

gradativamente (entre os séculos V e IX), tornava-se predominantemente agrária e vinculada à sub-


sistência. O trabalho era realizado pelos servos das terras senhoris, e a escravidão perdia espaço e
convivia com a servidão.
Em termos de religião, o politeísmo hegemônico dos bárbaros, a pluralidade religiosa e o
constante ambiente de medo proporcionado pelas invasões condicionavam a emergência da
Igreja Católica que, progressivamente, ganhava espaço nas relações espirituais (religiosas) e tem-
porais (políticas). Esses fatores, conjugados e somados às fragilidades das instituições políticas,
faziam com que a Igreja Católica ganhasse força no mundo medieval. Nos reinos Merovíngio e
Carolíngio, por exemplo, os líderes políticos Clóvis e Carlos Magno buscaram apoiar seus impé-
rios nas práticas e na ajuda de membros da Igreja Católica. A partir de então, a influência da Igre-
ja se ampliou e, mesmo com a decadência desses impérios, os papas empunhando “a cruz ou
a espada” tornavam-se figuras fundamentais na sociedade feudal. Como a maior detentora de
terras, a instituição Igreja Católica passou a julgar e coordenar a maioria dos povos que vivia no
período feudal. Procurando utilizar o ambiente de medo a seu favor, o poderio da Igreja Católica
teve um de seus momentos de ápice no período medieval, fato condicionado pelas invasões.
Como podemos perceber, a compreensão do conjunto de invasões entre os séculos V e IX
condicionou a formação da sociedade feudal. Até as particularidades do sistema feudal nas dife-
rentes regiões da Europa são também condicionadas pela pluralidade de povos que invadiram
o Império Romano e a Europa. Reiteramos, portanto, que a sociedade feudal, cujo esplendor se
deu entre os séculos (IX-X), se formou a partir das invasões.
Segundo Enzensberger (1995), toda migração – qualquer que tenha sido o fator a desen-
cadeá-la ou sua motivação subjacente, seja ela voluntária ou involuntária e seja qual for a escala
que assume – leva a conflitos. A defesa dos interesses locais e a xenofobia são constantes an-
tropológicas que precedem qualquer racionalização. A distribuição universal desses traços indica
que são mais antigos que todas as sociedades conhecidas [...] Os movimentos migratórios em
grande escala sempre levam à disputa pela distribuição dos recursos. [...] Ninguém emigra sem a
promessa de uma vida melhor (ENZENSBERGER, 1995).
Na sequência, apresentamos algumas características e definições de novas formas de rela-
ções do mundo germânico e romano.
a. Germânico
• Comitatus: Em troca de serviços militares, os guerreiros recebiam terras de seus chefes e
tinham autonomia para administrá-las. Esse processo era consolidado por meio de um jura-
mento de lealdade e contribuiu para o surgimento da suserania e vassalagem.
• Direito Consuetudinário: Sistema de leis herdadas de antepassados e transmitidas oral-
mente.
• A agricultura e o pastoreio: Tradição que contribuiu para a ruralização da economia.

b. Romano
• O sistema de colonato: O colono ou camponês era obrigado a se fixar na terra, sob a tutela
do proprietário. Essa relação contribuiu para o surgimento da servidão.
• Villas: Com as invasões bárbaras, as villas (grandes propriedades rurais) passaram a ser o
centro das atividades econômicas e um refúgio para os camponeses, fato que contribuiu
para a servidão e descentralização.
• Igreja Católica: Com a desestruturação do Império Romano, a Igreja Católica passou a do-
minar o cenário político, cristianizando bárbaros, controlando territórios, interferindo em
guerras, monopolizando o conhecimento e determinando até sucessões monárquicas.

◄ Figura 6:
Representação
organizacional de um
feudo
Fonte: Disponível em
http://www.professoracla-
ra.com/imagens/feudal/
feudo-des.JPG. Acesso em
23/11/2010

15
UAB/Unimontes - 3º Período

1.3 O imaginário Medieval e os


contos/desenhos animados
Em meio à escassez de fontes para se analisar as
formas de viver, sentir e pensar do medievo, inúme-
Figura 7: Os Irmãos ►
Grimm. ros historiadores se depararam com a necessidade
Fonte: Disponível em de utilizar signos, símbolos e imagens que poten-
http://acmlp.pt/bib/ cializariam a (re) significação do mundo medieval.
wp-content/uploads/ Baczko (1985), estudando sobre o imaginário social,
2008/04/grimm4.jpg
Acesso em 23/11/2010 afirma que, no mundo medievo, assim como em vá-
rias civilizações antigas, a utilização de imagens sa-
cras, mitos e ritos foi fundamental para o domínio de
grupos privilegiados “tecnicamente” sobre determi-
nadas sociedades. Nesse viés, a distribuição de pro-
priedade, o prestígio, as hierarquias e a submissão
eram conduzidos por aqueles que dominavam a ma-
nipulação de símbolos, fato que solidificava domínio
social. Em termos de Idade Média, é conveniente destacar que reis, nobres e representantes da
Igreja Católica buscavam dominar a população por meio do domínio da imaginação social. Po-
rém, vários contos populares fizeram-se presentes e se perpetuaram no decorrer da história, ilus-
trando fatos em produções cinematográficas ou desenhos animados.
Na atualidade, o uso de instrumentos audiovisuais, projetados pela televisão em sala de
aula, é ainda um desafio, porém deve ser enfrentado. Pensando nas produções televisivas como
documentos históricos, o professor e historiador Marcos Napolitano, perguntado em entrevista
sobre o seu livro: Como usar a televisão em sala de aula, afirma:

A minha perspectiva é mostrar que os conteúdos veiculados pela televisão


aberta, pela TV a cabo, pelos comerciais mesmo podem ser usados em sala
de aula para discutir os mais variados conteúdos escolares tradicionais, va-
mos dizer assim. Há fontes interessantes em várias disciplinas e a idéia é que
a televisão seja uma grande geradora de questões a serem discutidas e, ao
mesmo tempo, um documento a ser analisado e mais bem compreendido
pelo aluno. A proposta que perpassa todo o livro é a da “alfabetização visual”
para ver TV, porque é fundamental formar um espectador crítico (NAPOLITA-
NO, 2006, p. 98).

Em busca da construção deste “espectador crítico”, o professor/historiador deve estar atento


aos seguintes aspectos:
• expor a historicidade do documento em análise (contexto histórico da produção);
• analisar a produção (autores, vida, intenções, entrevistas, etc.);
• ficar atento à periodicidade da temática expressa na produção;
• ficar atento ao público ao qual a produção audiovisual se dirige.
Conforme afirma Le Goff (1998), nenhum documento é inócuo, ele sempre é produzido por
pessoas que têm interesses diferen-
tes em tempos diferentes. Portanto,
Figura 8: A mídia na ► de maneira parecida com a análise de
sala de aula
um documento “antigo”, o historiador
Fonte: Disponível em
http://populo.weblog. deve estar atento ao lugar, tempo e
com.pt/ arquivo/tele- espaço de produção e de recepção
visao2.jpg. Acesso em das fontes produzidas, sejam elas es-
11/2010
critas, sejam audiovisuais, sejam de
qualquer espécie. Evidentemente
que as produções audiovisuais pos-
suem algumas especificidades; po-
rém, tais características são marcadas
pelo seu tempo de produção, fato
que legitima a análise historiográfica.

16
História - História Medieval I

◄ Figura 9: Cena do filme


Gladiador
Fonte: Stúdio Dreamworks,
2000

Atividade
Observe uma sugestão
de análise:
Objeto: Filme “O Gla-
diador”
Delimitação da análi-
se: tema específico de
aula: Crise do Império
1º. passo - Explicar aos alunos o contexto de produção do filme: o ano de 2000. ‘Destacar Romano e Invasões
que, após a queda da URSS e os avanços da globalização, inúmeros problemas como a intolerân- Bárbaras
cia, corrupção e violência marcaram as vidas de inúmeros “cidadãos do mundo”. Nesse contex- Época de produção do
filme: Ano 2000
to, há a saga de “Maximus” – o Gladiador– lutando contra o imperador de Roma. (È importante
lembrar-se de que George W. Bush, por exemplo, estava sendo eleito no “Império Americano” e
acusado de corrupção).
Obs: Perceber que apenas a comparação “Queda do Império Romano versus Queda do Im-
pério Americano” já daria uma aula.
2º. passo - Após contextualizar a produção do filme, apresentá-lo pedindo aos alunos para
prestarem atenção nos aspectos que geraram a decadência de Roma, apesar de o filme fazer re-
ferência aos Imperadores que governam o Império no Principado (Século II d.c).
3º. passo - A partir da exposição dos alunos sobre os problemas de Roma, iniciar uma expo-
sição da matéria.
4º. passo - Propor um exercício em forma de redação para que os alunos estabeleçam um
diálogo entre a produção (período em que o filme é lançado) e a matéria (decadência do Império
Romano).
Obs: Caso considere o filme longo, é interessante selecionar trechos. Porém, na propos-
ta de aula sugerida, era imprescindível que o aluno assistisse ao filme. Assim sendo, o filme
ganhará mais sentido, e os alunos poderão perceber a História como disciplina marcada pela
criticidade.

◄ Figura 10: Hagar, o


Horrível, o sempre
atrapalhado e corajoso
vicking.
Fonte: Disponível em
http://hq.cosmo.com.br/
images/hqcoisa/h0066_
hagar_close.jpg. Acesso
em 23/11/2010

17
UAB/Unimontes - 3º Período

Grandes historiadores já fizeram análises com o


Figura 11: Marc Bloch ► que acreditavam ser anedotas ou fatos que ninguém
Fonte: Disponível em creditava importância, como é o caso do historiador
http://api.ning.com/files/
gWlIW1oPwUhTC*gbcDjG-
Marc Bloch. Ele analisou um fato curioso que se arras-
m9zDoLvHNyc3aCBez7B- tou do século XII ao XVII na França e até o século XVIIII
dAoLDQHZC9cE9qdw56y- na Inglaterra: a cura de escrófulas (adenite tuberculosa)
VymiMukXMg0ONGqzKa-
moYNu*GjOA jrBRoYFcUD/
por meio do toque das mãos dos reis. Participante do
Bloch.jpg. Acesso em movimento dos Annales, ou grupo dos Annales, este
23/11/2010 historiador francês foi um dos primeiros fundadores da
“escola” com o seu livro Os Reis Taumaturgos. Nas pala-
vras de Bloch (1993), (...) pensei que esse desvio no ca-
minho merecia ser seguido e, com a experiência, acre-
ditei perceber que ele levava bem longe. Julguei que se
podia fazer história com aquilo que, até o presente, era
só anedota.
Em O grande massacre de gatos e outros episódios
da História Cultural Francesa, Robert Darnton apresenta,
além do episódio que carrega em seu título, uma aná-
lise acerca de vários contos, como os publicados pelos
Figura 12: Robert ► famosos Irmãos Grimm.
Darnton Nesse contexto, o autor nos demonstra que muitos
Fonte: Disponível em contos seriam mitos contados desde a Idade Média e
http://br.librarything.com/ foram substancialmente modificados para a sociedade
author/darntonrobert.
Acesso em 23/11/2010 francesa do século XVI e ainda mais reelaborados para
a utilização em nossa sociedade atual. Há análises des-
de contos como Chapeuzinho vermelho, João e o pé de
feijão, A mamãe ganso e, até mesmo, A Cinderela, con-
to que, segundo a indicação de pesquisas, há registros
de uma história análoga na China do século IX. Darnton
(1988) nos chama a atenção de que boa parte dos con-
tos apresenta a comida em abundância como reflexo
de uma sociedade faminta que seria a França do século
DICA XVIII.
Outros, como é o caso de A Cinderela, apresentam
Hobin Hood: Produto
da sociedade medieval uma família em que aparece sempre a figura da ma-
em crise (Inglaterra, drasta má, fato que se origina da grande mortandade entre as mulheres, ocasionando grande
séculos XII e XIII), este número de filhos órfãos e maridos propensos a amasiarem-se. A sexualidade inicial exagerada
personagem dos dese- apresentada no conto de Chapeuzinho vermelho original é extirpada para a apresentação aos
nhos, filmes e demais, olhares infantis de uma garota doce com um fim trágico em algumas tradições e/ou um final feliz
nasceu em meio a um
contexto poucas vezes em outras.
levado à tona. Injustiça-
da no governo de João
“O sem Terra”, em meio Figura 13: ►
a confiscos, derrotas Representação das
em batalhas e a conse- diversas personagens
quente confecção da femininas dos contos
Magna Carta (docu- infantis, retratadas
mento que restringia homonimamente no
os poderes dos reis), a filme Shrek (da esq.
população inglesa pas- p/a dir.: Cinderela,
sa a transmitir a história Branca de Neve,
de um inglês simples Fiona, Rapunzel, Bela
que almejava uma luta Adormecida)
contra o autoritarismo Fonte: Disponível em
e a favor da liberdade http://www.themovieblog.
e do fim dos privilégios com/archives/Shrek-3-
do clero e da nobreza. -Princesses.jpg. Acesso em
23/11/2010

Poderíamos citar inúmeros outros exemplos, principalmente no que diz respeito a filmes.
Seria possível apresentar uma vasta filmografia que retrata as mais variadas passagens e fatos

18
História - História Medieval I

históricos. Como quase sempre os filmes apresentam uma visualização mais facilitada (muito
embora alguns carreguem romances que, geralmente, chamam a nossa atenção para outros as-
pectos que não os de aproximar a História teórica, textual de imagens e ações contextualizadas
epicamente), resolvemos apresentar, aqui, um desenho animado cujo foco seria a faixa etária
infantil. Na série Shrek, vários contos são retratados em uma abordagem crítica e atual; porém,
pressupostos do imaginário medieval, como o medo, os “castelos” distantes, as insurreições po-
pulares e mesmo a caracterização mítica do Ogro, são fundamentais para a produção do filme.

◄ Figura 14: Personagens


do filme Shrek. Ao
meio, encontra-se
o protagonista que
dá nome ao longa
metragem (da esquerda
para a direita: O Burro,
Shrek, Gato de Botas)
Fonte: Disponível em
http://www.imotion.
com. br/imagens/data/
media/61/Shre k1_www.
imotion.com.br.jpg. Acesso
em 23/11/2010

A trilogia apresenta-nos uma crítica, na qual os diversos contos conhecidos no mundo in-
fantil tomam rumos nunca pensados. Príncipes tornam-se vilões, fadas são maldosas, e monstros,
como o próprio Shrek, um ogro, chegam ao ponto de se tornarem um príncipe, ao menos politi-
camente. Apesar da estranheza que nos salta aos olhos, um misto de medievalidade e contem-
poraneidade dá um ar sarcástico aos diversos personagens das histórias infanto- juvenis.

◄ Figura 15: Reino de “Tão


Tão Distante “(DREAM-
WORKS, 2007)
Fonte: Disponível em
http://www.imotion.
com.br/imagens/data/
media/61/Shrek1_ www.
imotion.com.br.jpg. Acesso
em 23/11/2010

Ineditismo à parte, podemos fazer a seguinte análise acerca do terceiro filme intitulado
Shrek Terceiro:

19
UAB/Unimontes - 3º Período

QUADRO 1
Terceiro filme intitulado Shrek Terceiro

SHREK TERCEIRO IDADE MÉDIA (V-XV)


Contos Leis Consuetudinárias: Com a decadência do Império
Romano, os valores medievais foram constituídos através
A série cinematográfica da valorização da oralidade (tradição dos bárbaros, princi-
Shrek baseia-se em contos palmente dos germanos). Assim, passou a ser comum a tra-
DICA que destacam um cenário dição de inventar contos que destacassem as dificuldades
característico do período existentes nas florestas ou bosques (às vezes chamadas de
Assista ao filme Shrek
Terceiro e, diante de
medieval. mansos comunais).
seus conhecimentos O reino “Tão Tão Distante” Após a desestruturação do Império Romano, Merovíngio
prévios, faça a análise
histórica do filme.
e Carolíngio, a política feudal, em meados do século IX,
passou a ser descentralizada. Com isso, os reinos ficaram
“tão tão distantes”, sob o risco de ataques inimigos, prin-
cipalmente nas florestas que os cercavam.
A invenção do “Ogro” (Shrek) Devido à distância e à rivalidade dos reinos que são
originados de povos bárbaros diferentes, surgiu a necessi-
As árvores assustadoras, bruxas dade da suserania e vassalagem (relação de produção e
más. defesa entre os senhores feudais) e a criação de mitos
assombrosos que impediam as pessoas de se arriscarem
nas florestas.
O capitão Gancho Reinos bárbaros, sobretudo de origem Viking ou anglo-
-saxônica, tinham a prática da pirataria.
A revolta do príncipe Ao convocar os “vilões desprivilegiados” a lutar contra
“Encantado” “Fiona e Shrek”, podemos relembrar as inúmeras revoltas
ocasionadas pela disputa do trono, como a dos jacqueries,
que significa “João ninguém” ou camponeses.
As princesas a espera de seu A mística da bravura dos cavaleiros medievais e a necessi-
príncipe Encantado dade de relação política entre os reinos propiciaram o surgi-
mento do famoso enredo em que os príncipes enfrentam
os perigos da floresta para salvarem a princesa.
O príncipe Artie (o rei Arthur) Devido à tradição oral, não existem registros que
comprovem objetivamente a existência do rei Arthur.
Porém, a mística arturiana destaca entre suas versões a
história de um jovem bretão que assume o trono com a
ajuda de Merlin. Apesar de poder afirmar a existência de
Arthur, a história é contada principalmente entre os séculos
VII e XII, e as suas características condizem com o contexto
medieval. Lembremo-nos da Guerra dos Cem Anos e da
Revolução de Avis no século XIV, onde a disputa pelo
trono era a tônica.
Fonte: (DREAMWORKS, 2007)

Assim, nesse quadro, é possível perceber várias características que permeiam o imaginário
medieval. Os reinos distantes, a tradição oral, as relações entre nobres, as revoltas populares, o
constante medo de conflitos e a valorização das tradições e das posses de terras são constan-
temente percebidas nas “brincadeiras” que a série Shrek faz com outros contos tradicionais. Ao
propormos tal reflexão, buscamos evidenciar a possibilidade de aprender características do mun-
do medievo de desenhos ou filmes, fato que facilita a dinâmica de sala de aula. Ou seja, um es-
tudioso/estudante do período medieval pode se valer das produções audiovisuais para lecionar
e apresentar características da Idade Média ou do feudalismo ocidental de forma mais atrativa
para seu alunado.

20
História - História Medieval I

Referências
BACZKO, Bronislaw. Imaginação social. In: ROMANO, Ruggiero (org.). Enciclopédia Einaudi. Lis-
boa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda, 1985. v.5.

BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e Inglaterra.
Júlia Mainardi (trad). 2ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e geral. São Paulo: Saraiva, 2007.

DARNTON, Robert. O Grande Massacre de Gatos: e outros episódios da História Cultural Fran-
cesa. São Paulo: Graal, 1988.

ENZENSBERGER, Hans Magnus. Guerra Civil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida. São Paulo: Brasiliense, 1998.

NAPOLITANO, Marcos. A história depois do papel. In: Fontes históricas. São Paulo: contexto,
2006.

PERRY Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.
296 p.

21
História - História Medieval I

Unidade 2
Os reinos e impérios medievais

2.1 Introdução
Nesta unidade, o tema abordado será os reinos medievais, entre eles, os germanos, os esla-
vos, os escandinavos, os árabes e outros. Ao discutir os reinos medievais, deve-se levar em consi-
deração que o estudo permeará o declínio do mundo antigo e a transição do escravismo para o
feudalismo. DICA
Nesse sentido, num primeiro momento, o nosso estudo será sobre os bárbaros, com ênfase John Updiker, um
nos francos e, num segundo momento, sobre os impérios árabe e bizantino com o objetivo de romancista norte-ame-
compreender esses povos e sua atuação no período medieval. ricano do século XX,
afirma que “Homens
famintos são bons
soldados”. A partir da

2.2 Concepções do termo


discussão sobre os
povos bárbaros, reflita
sobre essa frase.

“bárbaras”
De acordo com o Dicionário Aurélio (2001, p: 88), bárbaro significa inculto, selvagem, bruto,
grosseiro, com nível cultural inferior. Já civilizado é abordado como um estado de progresso e
cultura social, com nível cultural superior (Ibid. p.157). Dica
Nessa veia, discutir esses conceitos, sobretudo o termo bárbaro, é fundamental para com- Procure se informar
preensão desta unidade. sobre quem foram os
helenos. Faça essa pes-
De acordo com Guerras (1987), o termo bárbaro é uma herança grega. Segundo Heródoto,
quisa em dicionários
os gregos chamavam “bárbaros” aqueles que falavam uma língua diferente da sua. Essa era uma históricos, internet e
prática originária grega. Então, “bárbaro”, em grego, seria aquele que possuía uma língua incom- em Perry Anderson no
preensível, que não compartilhava nem os costumes dos helenos. livro Passagem da anti-
A concepção adotada pelos romanos compreendia os “bárbaros” como os estrangeiros não güidade ao feudalismo.
assimilados, ou seja, OS OUTROS, dos quais era necessário se defender.

2.2.1 Construção da concepção de bárbaro

De acordo com Guerras (1987, p. 7), durante o Renascimento, movimento cultural datado
de 1350 a 1600, o termo bárbaro tinha sentido pejorativo, ou seja, significava inculto, selvagem,
bruto e grosseiro. Essa significação era difundida no Renascimento para designar os povos que
puseram fim ao Império Romano e iniciaram a “Idade das Trevas”.
Os motivos que remetiam a esse significado consistiam na não aceitação do diferente. O es-
trangeiro, entidade não coerente e possuidor de nível cultural inferior é antagônico: “nós – eles”.
Os homens renascentistas viviam numa época de revalorização do mundo clássico, grego e
romano, apogeu da cultura humana, e, por outro lado, consideravam a Idade Média revestida de
caráter negativo, um período de barbárie, no qual a humanidade alcançou o estado mais baixo
de cultura. Da mesma forma, a palavra invasão que acompanha os bárbaros, ou seja, “a invasão
dos bárbaros” implicava uma ideia de violência e de choque militar.
O Iluminismo e a ilustração no século XVIII reafirmam a postura do Renascimento.
No século XIX, o Romantismo resgata a Idade Média. Por isso, os povos bárbaros passaram a
ser o sopro de vitalidade frente à civilização decadente do Império Romano. Nesse novo quadro,
a palavra “invasões” também foi trocada por “migrações”. Ou seja, o Império Romano não foi as-
sassinado, mas morre de morte natural.

23
UAB/Unimontes - 3º Período

No século XX, os bárbaros eram, até recentemente, estudados em função de sua relação
DICA antagônica com o Império Romano. Atualmente, os bárbaros são vistos em sua individualidade,
Assista ao filme Átila, O portadores de uma cultura própria.
Huno, dirigido por Dick
Lowry, conta uma his-
tória que gira em torno
de Átila, relatando 2.2.2 Os povos bárbaros
como foi a sua cami-
nhada para tornar-se
um dos maiores líderes Os povos denominados “bárbaros” são:
da história. Com seus • Germanos: ostrogodos, visigodos, francos, lombardos, anglos, saxões, alamanos, turíngios,
pais mortos no início suevos e vândalos;
do filme, ele é criado • Eslavos: russos, poloneses, thecos, eslovacos, ucranianos;
pelo seu tio, que já tem
um sucessor para o • Tártaro-mongois: hunos, magiares, turcos e búlgaros.
trono. Como guerreiro, Assim sendo, depois dessa discussão, fica claro que o termo “bárbaro” não é o que a primeira
conseguiu impor medo impressão nos orienta a conceber: BÁRBAROS?
até na gigante Roma,
que, com sua crueldade
e esperteza, vai tentar
de tudo para não ser Figura 16: Os Reinos ►
atacada pelos exércitos Bárbaros
do guerreiro principal. Fonte: Disponível em
http://www.historianet.
com.br/conteudo/default.
aspx?codigo=79. Acesso
em 23/11/2010

DICA
O termo BÁRBARO
dá margem a muitos
significados. Reflita
um pouco, a partir das
leituras e do estudo

2.3 Os bárbaros
acerca desse termo, e
veja como concebê-lo
inserido no contexto da
Idade Média.

Entre os povos bárbaros, o estudo será focado no reino carolíngio por causa da sua atuação
no período medieval, que possibilita à Europa Ocidental uma nova configuração.

2.3.1 Império Carolíngio: Os Francos


DICA
Analise os mapas com De acordo com Mello (1990), as tribos francas partiram de seu berço no Vale do Rio Reno e
atenção e cuidado para se expandiram pelo território romano no século IV e V.
apreender melhor o as-
sunto e poder localizar
geograficamente onde
todos esses aconteci- Figura 17: Reino Franco ►
mentos ocorreram. Fonte: Disponível em
www.historianet.com.br/
conteudo/default.aspx.
Acesso em 23/11/2010

24
História - História Medieval I

Clóvis, rei franco, uniu as várias tribos e conquistou a


maior parte da Gália. Em 496, Clóvis se converteu ao Cris-
◄ Figura 18: Clóvis, rei
tianismo, sendo este acontecimento de grande significa-
franco.
ção para a época e para o contexto histórico. Fonte: NÉMETH-TORRES,
Diferentemente de Clóvis, vários outros reis germâ- Geovani. Antigas Origens
nicos haviam adotado o Cristianismo de Ário, bispo de do “Direito Divino dos
Reis”: Da Antiguidade
Alexandria, que negava a divindade do Filho e do Espírito Oriental à Ascensão do
Santo e só aceitava o Pai como Deus verdadeiro. Confor- Cristianismo na Idade Mé-
me previa o Concílio de Nicéia em 325, havia a Santíssima dia Européia. Disponível
em www.causaimperial.
Trindade, ou seja, Pai, Filho e Espírito Santo. org . b r /. . . / antigasori-
Nesse sentido, ao adotar o Cristianismo romano, os gens. Html. Acesso em
francos tornaram-se aliados potenciais do papado. 23/11/2010
Com a morte de Clóvis em 511, as terras francas atra-
vessam períodos difíceis como:
• Reino dividido;
• Governantes merovíngios – Meroveu, ancestral semi
-lendário de Clóvis – empenharam-se em guerras fra-
tricidas e assassinatos brutais;
• Verdadeiro governante de cada reino franco era o
Mordomo ou o Prefeito do Palácio, principal funcionário real;
• Pepino II, um desses prefeitos, denominado de o Moço, dito de Heristal (687–714), triunfou
sobre os prefeitos rivais e reunificou o reino franco. Assim, ocorre centralização do poder,
e Pepino II torna-se o fundador da Dinastia Carolíngia, nome derivado de Carlos Magno, o
maior dos Carolíngios.

2.3.2 Sucessores de Pepino II

Os sucessores de Pepino II foram:


• Carlos Martelo;
• Pepino, o Breve;
• Carlos Magno.

Carlos Martelo foi sucessor de Pepino II, o pai, e ser-


viu como Prefeito do Palácio de 717 a 741. Ele dominou a
maior parte da Gália em 732, derrotou os exércitos muçul-
manos em Tours. Dessa forma, os árabes, que haviam ocu-
pado a Península Ibérica, tiveram barrado o seu avanço
para o norte da Europa.
Pepino, o breve, sucessor de Carlos Martelo, foi o
primeiro rei e governou durante o período de 741 a 768.
Ele depôs o último rei merovíngio, Childerico III. Foi apro-
vado pelo papado e nobres, sendo coroado rei por Boni-
fácio, bispo muito importante da época. Ao aprovar a as- ◄ Figura 19: Pepino, o
censão real de Pepino, conforme Mello (1990), o papado Breve
Fonte: Disponível em oglo-
esperava um aliado na sua luta contra os lombardos, que bo.globo.com/.../ default.
haviam conquistado grande parte da Itália no século VI e asp? a=497. Acesso em
tinham ambições em relação ao território pontifício. Em 23/11/2010
753, o papa Estevão II conversou com Pepino, que o rece-
beu respeitosamente. Dessa forma, ele foi ungido como
rei dos francos e solicitou proteção contra os lombardos.
Então, Pepino invade a Itália, derrota os lombardos e en-
trega ao Papa as terras conquistadas, tornando Estevão II
governante do território entre Roma e Ravena, ou seja, os
Estados Pontificais. Com a aquisição dessas terras, a Igreja
torna-se a maior latifundiária na Europa ocidental.

25
UAB/Unimontes - 3º Período

2.3.3 Carlos Magno


Figura 20: Carlos ►
Magno
Conforme Mello (1990), Carlos Magno, sucessor de
Fonte: Disponível em
http://ogatoqueco-
Pepino, subiu ao trono em 768 e governou até 814. En-
meorato.blogspot. tre as obras e atitudes de Carlos Magno, podemos citar:
com/2009/06/carlos- • Continuou aliança entre os francos e o papado;
-magno.html. Acesso em
23/11/2010
• Continuou política carolíngia de ampliar o Reino;
• Destruiu o reino dos lombardos, do qual se declarou
rei;
• Acrescentou a Baviera aos seus domínios;
• Forçou os saxões a se submeterem e se converterem
ao cristianismo;
Figura 21: Coroação de • Conquistou uma região da Espanha, a Estremadu-
Carlos Magno ra ou Marca Espanhola, que serviu de tampão entre os
Fonte: Disponível em
atanasiano.blogspot.
francos cristãos e os muçulmanos da Espanha.
com/2009_05_01_ar- • Conforme Kosminsky [19--], Carlos Magno teve difi-
chive.html. Acesso em culdades em governar o território pelos seguintes mo-
23/11/2010
tivos:
▼ • O território era grande demais, tornando-se um obs-
táculo insuperável;
• A estrutura administrativa era carente de pessoal trei-
nado, primitiva pelos padrões islâmicos, bizantinos e ro-
manos.
Por causa dessas dificuldades, a forma encontrada
por Carlos Magno para governar foi dividir o Império
em cerca de 250 condados administrados pelos condes.
Os condes eram nobres que deviam fidelidade pessoal
ao governante e serviam de generais, juízes e adminis-
tradores, colocando em prática as decisões do rei. Para
supervisionar os condes e os condados, Carlos Magno
criou os mensageiros reais, dois leigos e um bispo ou
abade, que faziam viagens anuais a diferentes conda-
dos.
De acordo com o autor, no Natal de 800, em Roma,
o Papa Leão coroou Carlos Magno Imperador dos Ro-
manos. Essa iniciativa, conforme Mello (1990), provavel-
mente, partiu do papado, e não de Carlos Magno. En-
fim, essa coroação significava:
• Sobrevivência da tradição de um império mundial,
apesar da derrota do Império Romano do Ocidente tre-
zentos anos antes;
• Como foi o Papa quem coroou Carlos Magno, o imperador tinha uma responsabilidade espi-
ritual de disseminar e defender a fé;
• Fusão do universalismo romano com o universalismo cristão;
• Fusão de elementos germânicos cristãos e romanos. Essa é uma característica essencial da
civilização medieval;
• Fusão de tradições evidentes no plano cultural, pois Carlos Magno, um rei guerreiro, mos-
trou respeito pelo conhecimento clássico, pelo Cristianismo e pelas tradições não germâni-
cas.
Porém, o Império Franco é fraco, consistindo apenas numa sombra do Império Romano. O
Império Franco não tem a estrutura e muito menos a dimensão territorial do Império Romano.
Mas por que isso ocorre? Os motivos são os seguintes:
• Os francos não tinham o direito romano nem as legiões romanas;
• Não havia cidades que fossem centros da atividade econômica e cultural;
• Os funcionários não eram servidores civis treinados nem tinham uma visão do mundo, mas
sim chefes guerreiros sem preparo e com uma visão tribal.
Mas, mesmo assim, o Império de Carlos Magno representava a ideia de um império cristão
universal, ideia que perdurou por toda a Idade Média.

26
História - História Medieval I

2.3.4 O renascimento carolíngio

De acordo com Mello (1990) e Mendonça (1985),


Carlos Magno considerou que era seu dever religioso
elevar o nível educacional do clero, para que este com-
preendesse e pudesse ensinar devidamente a fé cristã.
Para que isso pudesse acontecer, era necessário:
• Superar o analfabetismo ou semianalfabetismo dos
padres;
• Preparar escrituras sagradas com um texto unifor-
me, completo e livre de erros.
Carlos Magno também estimulou a educação, a
fim de formar administradores capazes de supervisio-
nar seus reinos e suas propriedades reais. Para que isso
pudesse acontecer, era necessário alfabetizar esses ho-
mens. Nesse sentido, para alcançar esses objetivos,
• era preciso reunir alguns dos melhores eruditos da
Europa. Entre eles, foi selecionado Alcuíno de Nor-
túmbria da Inglaterra. Ele era encarregado da Aca-
demia Palatina, frequentada pelo próprio Carlos
Magno e sua família, pelos grandes nobres e jovens

que estavam sendo treinados para servir o imperador. Alcuíno recebeu a tarefa de preparar
o texto definitivo da bíblia, a partir de várias versões em uso. Seu trabalho foi aceito com al- Figura 22:
Renascimento
gumas modificações como a versão oficial do Livro Santo durante toda a Idade Média; Carolíngio
• sabendo-se que o enfoque do renascimento carolíngio era predominantemente cristão, era Fonte: Disponível em
preciso melhorar o entendimento da bíblia e dos escritos dos pais da Igreja, bem como o deedellaterra.blogspot.
nível de conhecimento, aprimorando-o e aperfeiçoando o estilo latino. Os copistas monásti- com/2009_04_01_archive.
Acesso em 23/11/2010
cos preservaram textos antigos que, sem isso, poderiam não ter sobrevivido. Os manuscritos
mais velhos de muitas obras da antiguidade são cópias carolíngias.
Os eruditos da época contribuíram para fertilizar o florescimento cultural conhecido como o
“despertar do século XII”, ou seja, o ponto alto da civilização medieval. Porém, comparado ao pas-
sado greco-romano ou à explosão dos séculos XII e XIII, o grande renascimento carolíngio parece
insignificante porque:
• Não recapturou o espírito da Grécia e de Roma, embora redescobrisse e revivesse obras an-
tigas;
• Os eruditos carolíngios não se dedicaram à especulação filosófica independente ou à busca
de conhecimentos novos nem realizaram aquela síntese da fé e da razão que seria o apaná-
gio dos grandes teólogos dos séculos XII e XIII;
• Não se pode esquecer da pobreza cultural que predominou antes da era de Carlos Magno;
• O renascimento carolíngio inverteu o processo de decadência cultural que havia caracteriza-
do grande parte da Alta Idade Média;
• O conhecimento voltaria ao nível de declínio registrado nos séculos seguintes à queda de
Roma.
Enfim, o renascimento carolíngio deixou legados. Entre eles, é interessante ressaltar que, na
era de Carlos Magno, deitou raízes uma civilização europeia característica, que fundiu o legado
romano. De um império mundial à realização intelectual do espírito greco-romano, à preocupa-
ção cristã com o outro mundo e os costumes dos povos germânicos. Essa nascente civilização
europeia diferia das civilizações bizantinas e islâmicas, e os europeus estavam se tornando cons-
cientes dessa diferença. Mas vale lembrar que a nova civilização estava a séculos de distância de
sua frutificação.
DICA
O Império Carolíngio defendeu, também, o ideal da unificação dos povos da cristandade la-
tina numa comunidade cristã, sob um só governo inspirado a muitos (tanto clérigos como lei- Procure se informar
gos), o ideal do Estado Mundial Cristão. A cristandade atingiria o seu ponto culminante nos sé- mais sobre: MUÇUL-
MANOS; NÓRDICOS;
culos XI e XII. Mas, ante a grande diversidade dos povos europeus e o aparecimento de Estados MAGIARES.
separados e rivais, esse ideal de unificação perderia a sua atração nos séculos XIV e XV.

27
UAB/Unimontes - 3º Período

DICA 2.3.5 A fragmentação do Império de Carlos Magno


Assista ao filme Átila.
Filme italiano de 1953, Após a morte de Carlos Magno em 814, conforme Mello (1990), seu filho Luís, o Piedoso,
produzido por italianos herdou o trono. Ele pretendia preservar o Império, mas a tarefa era praticamente impossível pe-
e franceses e dirigido los seguintes motivos:
por Pietro Francisci, o
• O vigor do Império dependera mais das qualidades pessoais de Carlos Magno do que de
qual reproduz histórias
das guerras entre roma- qualquer base política ou econômica firme;
nos e hunos. Átila, o rei • O Império era grande demais e constituído de povos demais para ser governado com efi-
dos hunos, foi um dos ciência;
chefes guerreiros mais • Os nobres francos buscam aumentar seu poder às expensas do Imperador;
temidos entre todos
• Luís teve de enfrentar seus próprios filhos rebelados.
os que combateram
Roma. Esse filme conta Com a morte de Luís em 840, o Império foi dividido entre seus três filhos, ocorrendo o enfra-
como Átila cercou a quecimento da autoridade central. Os grandes latifundiários passaram a exercer um poder cada
cidade, sem invadi-la. vez maior em suas próprias regiões, bem como as invasões simultâneas procedentes de todas as
direções estimularam ainda mais esse movimento do localismo e descentralização.
Além disso, nos séculos IX e X, a Europa Ocidental e a Central foram atacadas pelos muçul-
manos, nórdicos e magiares. Esses invasores
queriam escravos, joias e metais preciosos
entesourados nos mosteiros. Então, saquea-
ram, destruíram e assassinaram: aldeias foram
devastadas, portos destruídos, população foi
dizimada, e o comércio parou. As moedas dei-
xaram de circular, e as fazendas foram trans-
formadas em desertos. A economia entrou em
colapso.
Assim sendo, a autoridade real desapare-
ceu. Os ataques intensificaram a insegurança
política e aceleraram o processo de descentra-
lização iniciado com o declínio de Roma. Os
condes passaram a considerar como proprieda-
de sua a terra que administravam e defendiam
para o rei. Os habitantes de um distrito ou con-
dado consideravam o conde ou o senhor local
como o governante, pois seus homens e suas
fortalezas os protegiam. Nessas regiões, os no-
bres exerciam o poder público que antes fora
prerrogativa dos reis, e essa nova estrutura so-
cial iria receber o nome de FEUDALISMO.
A vida cultural e o conhecimento fenece-
ram. E, quando os grandes senhores não con-
seguiam proteger os seus territórios contra os
condes vizinhos ou os invasores, o poder polí-
tico fragmentava-se ainda mais. Os nobres lo-
cais assumiam a autoridade de conde em suas
▲ áreas e, assim, em muitas regiões, A CASTELA-
NIA, área sobre a qual o castelo tinha jurisdição, ao redor de seu castelo, tornou-se a unidade
Figura 23: Condado
Carolíngio política em lugar do condado. O senhor local exercia autoridade suprema, em quem o povo bus-
Fonte: Disponível em cava proteção e justiça.
br.geocities.com/fcpe- Concluindo, a Europa ingressa na era do FEUDALISMO, cuja unidade de governo não é o REI-
dro/fragmentacao_po- NO, mas um CONDADO ou uma CASTELANIA, e o poder político é propriedade dos SENHORES
der.html. Acesso em
23/11/2010 LOCAIS.

2.4 Império Bizantino


De acordo com Burns (1981), o século VII constituiu um novo período da história das civili-
zações, ficando claro que não haveria um único império que englobasse todos os territórios vizi-
nhos ao Mediterrâneo. Mas são apresentadas três civilizações sucessoras:

28
História - História Medieval I

a) Civilização Islâmica
De origem semita (hebreus, árabes e etíopes), com descendentes de Ismael, filho de Abraão
e Agar, tendo o idealismo de uma nova dinâmica de religião.
b) Civilização Cristã Ocidental
Retardatária, pois apresentava economia menos avançada, bem como deficiências no go-
verno e na religião, tendo como base unificadora o Cristianismo e a língua latina.
c) Civilização Bizantina
A decadência do Império Romano do Ocidente deu origem ao Império Romano do Oriente,
cuja divisão foi determinada por Teodósio no século IV. É formada por Egito, Grécia, Síria-Palesti-
na, Mesopotâmia e Ásia Menor. A língua predominante é o grego.
Gibbon, de acordo com Burns (1981), menosprezava a Civilização Bizantina, a qual hoje é
vista com mais interesse.
O Império Bizantino apresenta as seguintes características:
• Não é inovador;
• Viveu sob ameaças externas e debilidades internas;
• Sobreviveu por um milênio;
• Prosperou e influenciou o mundo ao seu redor;
• Preservou o pensamento grego antigo;
• Criou obras de arte e levou a cultura a povos pagãos (eslavos).
É impossível fixar uma data precisa para o começo da Civilização Bizantina, pois constituiu o
sucessor ao Estado Romano. As datas variam de um historiador para outro.
Quando do Império Romano unificado, as características bizantinas já haviam emergido na his-
tória romana com Dioclesiano (284–
305). É Constantino quem muda a
capital Roma para Constantinopla, tor- ◄ Figura 24: Conquista de
nando-a o centro do mundo bizantino Justiniano
durante o seu governo no período de Fonte: Disponível em
306 a 337. www.historianet.com.br/
Justiniano (527–565), impera- conteudo/default.aspx .
Acesso em 23/11/2010
dor oriental, considerou-se herdeiro
de Augusto e lutou para reconquis-
tar o Ocidente. Ocorrerá, então, a
cristalização do novo modo de viver.
Heráclio ascende ao poder em 610.
Sua dinastia é oriunda do Oriente.
Ele falava grego e seguiu a política
oriental no Ocidente. Figura 25: Heráclio I
Fonte: Disponível em
maltez.info/.../500-
2.4.1 Reinado de Heráclio 999/610-19.htm. Acesso
em 23/11/2010

De acordo com Burns (1981), Heráclio governou de 610 a 642. Du-
rante o período de 610 a 1071, prevalecerá a história política e militar
com a característica de resistência às invasões vindas do Oriente.
No período em que Heráclio está no trono, a existência do Império
Bizantino é ameaçada pelos persas. Porém, há uma inversão da situação,
reduzindo a Pérsia a um estado vassalo. Heráclio governa até 641 em gló-
ria, mas, em 650, os árabes avançaram com rapidez e submeteram maior
parte dos territórios bizantinos ao poder deles. Em 677, os árabes tentam
conquistar Constantinopla, mas fracassam. Em 717, novamente, os ára-
bes tentam atacar assinalando um novo ponto baixo na fortuna do Impé-
rio. Porém, essa ameaça é neutralizada pelo Imperador Leão, o Isauriano
(717–741). Esse fato é importante porque permitiu ao Império Bizantino
durar mais alguns séculos, assim com ajudou a salvar o Ocidente.
Decênios seguintes, os bizantinos reconquistam a maior parte da
Ásia Menor e tornam a tomar dos árabes a maior parte da Síria. No sé-
culo XI, os turcos seljúcidas aniquilam os bizantinos em Manzikert (Ásia
Menor), ocupando as províncias restantes do Oriente.

29
UAB/Unimontes - 3º Período

2.4.2 Fim do Império Bizantino


DICA
Após Manzikert, o Império Bizantino conseguiu sobreviver pelos seguintes motivos:
Procure saber mais a) 1071 a 1453: Ocorre a ascensão da Europa ocidental. Os normandos expulsam bizantinos
sobre os povos persas
dos últimos redutos no sul da Itália.
desse período. Pesquise
na biblioteca e na inter- b) 1095: O imperador bizantino, Aleixo Comneno, pede ajuda ao Ocidente contra os turcos.
net. Veja acerca desse Essa atitude constitui um erro, pois esse apelo inspira as Cruzadas, uma das causas da
assunto em: GUER- queda do Império Bizantino. O que se verifica é que, na primeira cruzada, os ocidentais
RAS,1995. 86p. (Série ajudam os bizantinos e recuperam a Ásia Menor, mas se apoderam da Síria, território bi-
princípios 126).
zantino. Com o tempo, crescem os atritos com os ocidentais, cujo poderio militar é supe-
rior, e voltam os olhos para Constantinopla.
c) 1204: Os cruzados, em vez de conquistarem Jerusalém, preferem Constantinopla e aca-
bam saqueando-a. O governo bizantino debilitado sobrevive nas proximidades.
d) 1261: O governo volta a Constantinopla, mas sua existência é minguada.
e) 1453: Os turcos otomanos tomam Constantinopla. Até os dias de hoje a dominam. Hoje é
Istambul.

Figura 26: Fim do ►


Império Bizantino.
Invasões
Fonte: Disponível em:
www.trasosmontes.
com/forum/ viewtopic.
php?t=31. Acesso em
23/11/2010

2.4.3 Fatores de estabilidade do Império Bizantino

Os fatores que provocam a estabilidade do Império Bizantino são:


a) Ocasionais governantes capazes
O Estado Bizantino sobrevive por muitos séculos, apesar de forças hostis diferentes. Cons-
tata-se que a política interna é bastante tumultuada. Os governantes bizantinos tinham poderes
absolutos. A oposição ocorria somente por intriga e violência, que constituíam as revoltas pala-
cianas. Surgiam governantes habilíssimos que detinham poderes totais e eficientes, assim como
contavam com uma máquina burocrática eficaz.
b) Administração burocrática eficiente
Os bizantinos contam com mão de obra para a burocracia porque preservaram e estimula-
ram a educação do laicato, que era fundamento da atuação do governo diferente do Ocidente de
600 a 1200, cujos leigos não eram alfabetizados. Os burocratas supervisionavam a educação reli-
giosa, sobretudo a observância dos sábados. Também controlavam atividades econômicas, como
regular preços e salários, controlar exportações, regular o exército e a marinha, os tribunais e o
serviço diplomático.

30
História - História Medieval I

c) Base econômica firme


As cidades e o comércio continuavam
a florescer no Oriente, diferentemente do ◄ Figura 27: Bandeira
Ocidente, onde o comércio era realizado a bizantina do século XIII
Fonte: Disponível em
longa distância, e as cidades quase estavam http://www.portalsao-
desaparecidas. Constantinopla significava francisco.com.br/alfa/
nesse momento: imperio-bizantino/
imperio-bizantino-4.php.
• Empório comercial; Acesso em 23/11/2010
• Incentivo e proteção para suas indús-
trias;
• Estabilidade para cunhagem de ouro e
prata;
• Os centros urbanos do Império consis-
tiam em: Constantinopla (1 milhão de
habitantes), Antioquia, Tessalônica e
Trebizonda.

2.4.4 Significado da história agrícola Bizantina

A agricultura era a base da economia bizantina. Porém, apresenta uma história de luta: pe- DICA
quenos camponeses versus grandes proprietários de aristocracias e mosteiros ricos. Até o século
As descobertas arqueo-
XI, o campesinato era livre e sobrevive, mas, com a legislação estatal, os resultados são danosos.
lógicas aproximam o
Os camponeses não se interessam em resistir aos inimigos. passado do presente
A derrota de Manzikert colaborou na destruição do campesinato livre e possibilitou o do- e vice-versa. Reflita
mínio estrangeiro no comércio bizantino, como de Veneza e de Gênova, entrepostos comerciais, acerca das questões
ainda com privilégios dentro dos territórios bizantinos depois de 1204. A riqueza estava canali- suscitadas a partir da
figura 28.
zada para o exterior. O Império estava destruído por dentro (venezianos) e avassalado por fora
(turcos).

2.4.5 Religião

Conforme Burns (1981) e Roncinman (1961), a religião era o centro da sobrevivência bizan- DICA
tina. Os bizantinos brigam por obscuras questões religiosas. Os litígios religiosos eram agrava-
A figura 28 retrata uma
dos pelo fato de os imperadores tomarem parte ativa, pois eles exerciam poder na vida da Igreja. Igreja construída du-
Eram considerados “semelhantes a Deus”. Porém, os imperadores não podiam obrigar os súditos rante o Império Bizan-
a acreditar naquilo que eles criam. A paz religiosa era um refinamento de fórmulas doutrinárias tino, entre os séculos
no século VIII, mas destroçada pelas controvérsias iconoclastas. VI e VII d.C., descoberta
em uma obra para
construção de casas em
Nes Harim, a 20 km de
Jerusalém, Israel.

◄ Figura 28: Igreja


construída durante
o Império Bizantino,
Israel.
Fonte: Disponível em
www.jornalalef.com.
br/15_03_09.htm. Acesso
em 23/11/2010

31
UAB/Unimontes - 3º Período

Os iconoclastas desejam proibir o culto dos ícones. Esse movimento foi iniciado pelo Impe-
rador Leão, o Isaurino, e mantido por seu filho Constantino V (740 -775).
As motivações que levaram a essa questão foram:
DICA
a) Pontos teológicos:
Converse com os • Sabor de paganismo;
colegas, amigos, pais e
parentes sobre o que é
• Nada produzido por mãos humanas devia ser adorado;
um império. Como eles • Proibição do culto de imagens esculpidas nos dez mandamentos;
veem os impérios?De • Como Leão, o Isaurino, salvou Constantinopla do Islã, para os muçulmanos, que alegavam
quantos impérios a ser as imagens “obras de satã”, essa seria uma resposta às principais críticas do Islã ao cristia-
história nos conta? Dis- nismo.
cuta sobre a ascensão e
queda desses impérios.
b) Pontos financeiros e políticos:
Qual o maior império • Movimento religioso novo: os imperadores podem reafirmar controle sobre a Igreja e com-
dos dias atuais? Como bater força crescente dos mosteiros;
eles se comportam? • Os mosteiros defendem a causa e as imagens. Constantino V persegue os mosteiros e se
apropria de suas riquezas.
• A questão iconoclasta é resolvida no século IX, tendo, entre as suas consequências, as se-
guintes:
• Destruição, por ordens imperais, de objetos de arte religiosa. As imagens que sobreviveram
provêm da Itália e da Palestina, estando fora do alcance dos imperadores iconoclastas;
• Cisma religioso entre o Ocidente e Oriente. O Papa, até o século VIII, era aliado dos bizan-
tinos e não aceitava o iconoclasmo. Ele não aceitava e questionava os iconoclastas porque
considerava o culto dos santos, bem como as pretensões de primazia papal, baseadas na
suposta descendência de São Pedro. Logo, os papas do século VIII combatem o iconoclasmo
bizantino e se voltam para os reis francos em busca de apoio. Isso agrava as relações do Oci-
Figura 29: Pinturas em
painel portátil com a
dente e Oriente;
imagem de Cristo. • Reafirmação da tradição. As experiências com questões religiosas servem para ritualizar a
Fonte: Disponível em tradição. Essa atitude deu força à religião bizantina para pôr fim na controvérsia e na heresia,
www.patyeregina-arte- ganhando novos fiéis nos séculos IX e X, bem como inibiu a livre especulação, não só em
bizantina.blogspot.com. religião, mas em assuntos intelectuais;
Acesso em 23/11/2010
▼ • Triunfo da piedade contemplativa bizantina. Os ícones não serviam para ser adorados, mas
para levar à morte e à contemplação do mate-
rial ao imaterial.

2.4.6 A herança de Bizâncio

Entre os legados do Império Bizantino,


podemos citar, de acordo com Burns (1981) e
Roncinman (1961):
• O Império Bizantino atuou como uma mura-
lha contra o Islã do século VII ao XI, ajudando a
preservar a independência do Ocidente. Se não
houvesse os bizantinos, que, na época, eram
prósperos e defendiam a Europa, é bem pro-
vável que a Civilização Cristã Ocidental tivesse
sido liquidada;
• Os bizantinos ajudaram a preservar o conhe-
cimento grego clássico. O Renascimento teve
constância no contato Oriente e Ocidente;
• A arte bizantina exerceu influência sobre a
arte da Europa ocidental. Podemos citar como
exemplo a Basílica de São Marcos em Veneza,
estátuas, pinturas e esculturas e a existência de
trabalhos como de Giotto e El Greco, pintores
ocidentais.

32
História - História Medieval I

2.5 Os Árabes
◄ Figura 30: Arquitetura.
De acordo com Burns (1981), o Islã é consi- Igreja de Santa Sofia
derado um fenômeno. Fonte: Disponível em
Seu ponto de origem é a vida de Maomé patyeregina-artebizanti-
na.blogspot.com/. Acesso
no século VII. A religião de Maomé representa em 23/11/10
força ponderável no mundo moderno. Os cren-
tes do Islã são conhecidos como muçulmanos
ou maometanos.
Nesse contexto, os muçulmanos abraçam
a mesma religião e o mesmo modo de viver. O
Islã exige dos fiéis certas formas de culto, assim
como um conjunto de normas sociais e cultu-
rais, possuindo a experiência em construir uma
sociedade no âmbito mundial. Sua base é a sua
identidade que demanda requisitos religiosos
e um código de existência cotidiana. Tudo isso Figura 31: Arábia
na prática tem êxito garantido durante séculos, Fonte: Disponível em
http://html.rincondelvago.
assim como apresenta características diversas com/germanos-bizanti-
de tempo e lugar, porém sempre com sentido nos-arabes.html. Acesso
de comunidade, independentemente de quais- em 23/11/2010
quer raças, línguas e localizações geográficas. ▼
O Islã tem influência na história da África,
da India, da Europa e da Ásia ocidental.

2.5.1 As condições na Arábia


antes da ascensão do Islã

Conforme Burns (1981), o Islã foi propa-


gado para muitas terras. Nasceu na Arábia, pe-
nínsula de desertos, cujos vizinhos dominantes
– romanos e persas – não se interessavam em
estender seu controle sobre esse território.
Os árabes têm a sua história vinculada ao
espaço da Península Arábica, onde primordial-
mente se fixaram em uma região tomada por
vários desertos que dificultavam a criação de
povos sedentarizados. Por isso percebemos
que, no início de sua trajetória, os árabes eram
povos de feição nômade que se intercalavam
entre as regiões desérticas e os valiosos oásis
presentes ao longo desse território.
Assim, os árabes, na sua maioria, eram
pastores nômades de camelos. Viviam do leite
de seus animais e produtos, como as tâmaras,
encontradas nos oásis. Havia, também, os ára-
bes sedentários, embora em menor quantida-
de, que viviam nos oásis e em cidades.
Conhecidos como beduínos, essa parcela
do povo árabe era conhecida pela sua religião
politeísta e a criação de animais. A realidade dos beduínos era bem diferente da que poderia ser
vista nas porções litorâneas da Península Arábica. Nesse outro lado da Arábia, havia centros ur-
banos e a consolidação de uma economia agrícola mais complexa. Entre as cidades da região,
destacava-se Meca, grande centro comercial e religioso dos árabes.
Na segunda metade do século VI, ocorre o aceleramento da vida econômica da Arábia. Os
motivos pelos quais ocorre esse aceleramento econômico são:

33
UAB/Unimontes - 3º Período

• Modificação das rotas do comércio a longa distância;


• Prolongadas guerras. As guerras entre bizantinos e
persas tornaram a Arábia um caminho mais seguro para o
trânsito das caravanas;
• Algumas cidades acabaram crescendo para dirigir e
tirar proveito do desenvolvimento comercial;
• A cidade de Meca, situada na junção de importantes
rotas comerciais, sendo o centro da religião local, tornou-
se importante. Em Meca ficava a Caaba, ou seja, o santuá-
rio de peregrinação. Ela era o centro de romarias de clãs
e tribos árabes diferentes e, no seu interior, ficava a Pedra
Negra, meteorito cultuado como relíquia divina;
• Havia a tribo de Qoreish, os coraixitas, homens que
controlavam o santuário e a vida econômica da área de
Meca, bem como era a aristocracia de mercadores e ne-
gociantes que proporcionaram à área o pouco de governo
que conhecia.

Figura 32: Caaba, em
Meca. Ao redor da 2.5.2 Maomé
Pedra Sagrada, surge a
mesquita.
Fonte: Disponível em De acordo com Burns (1981) e Giordani (1985), Maomé é o fundador do Islã. Nasceu em
conceitosetemas.blogs- Meca e pertencia a uma família da Tribo Qoreish, por volta de 570. Ele foi órfão desde peque-
pot.com/2008/04/difuso.
Acesso em 23/11/2010 no. Colocou-se a serviço de uma viúva rica que o desposou, obtendo segurança financeira. Até a
meia idade era um próspero mercador e de conduta similar aos seus conterrâneos.
Em 610, uma experiência religiosa muda sua vida e de boa parte do mundo. Maomé se con-
verte e se torna monoteísta. Ele escuta uma
voz do céu lhe dizer: “Único Deus: Alá”. Maomé
continua recebendo mensagens que se tor-
nam a base da nova religião. Aceita a vocação
Figura 33: O profeta ► de profeta para proclamar a fé monoteísta aos
Maomé, visto numa Qoreish.
pintura turca da Idade Os árabes eram, na sua maioria, poli-
Média.
teístas, mas admitiam a superioridade de um
Fonte: Disponível em
blogdasabedoria.blogspot. Deus – Alá. De início, Maomé não tem grande
com/2007/07/ hgira.html. êxito em fazer prosélitos, porque os membros
Acesso em 23/11/2010 da Tribo acreditavam que a criação de uma
nova religião haveria de privar Caaba e, con-
sequentemente, Meca de seu ponto central
na religião do lugar. Contudo, Yathrib (Medina)
não nutria tais preocupações e os represen-
tantes do lugar convidaram Maomé para emi-
grar para lá, pois ele seria o árbitro neutro de
rivalidades locais.
Em 622, Maomé e seus seguidores mi-
gram para Yathrib. Essa migração é denomi-
nada de HÉGIRA, assinalando o começo da
mudança positiva na sorte de Maomé e dos
muçulmanos. É o início de uma nova era.

2.5.3 Consolidação da religião de Maomé

Conforme Burns (1981) e Giordani (1985), Maomé muda o nome de Yathrib para Medina,
que significa a “Cidade do Profeta”, e se torna governante da cidade. Tudo isso tem um grande
significado para a história, pois Maomé começa conscientemente a organizar seus convertidos
em uma comunidade política e religiosa. Porém, Maomé necessitava encontrar um meio de sus-
tento para seus primeiros seguidores em Meca. Esses primeiros seguidores foram aqueles que

34
História - História Medieval I

migraram em 622 para Yathrib. Maomé também desejava vingar-se dos Qoreish que ainda não
haviam aderido à sua fé. Por isso, chefiava seguidores em ataques contra caravanas Qoreish que
seguiam além de Meca. Os Qoreish se esforçaram para se defender, mas o grupo de Maomé, ani-
mado de entusiasmo religioso, conseguiu derrotá-los.
Em 630, várias batalhas ocorreram no deserto, e Maomé entra triunfante em Meca. Os Qo-
reish se submetem a fé de Maomé, e a Caaba é preservada. Com a tomada de Meca, outras tribos
também aceitam a nova religião.
Em 632, Maomé morre, porém a sua fé já é bem aceita. Inclusive, Maomé consegue unificar
a Arábia através da fé islâmica.

2.5.4 As doutrinas do Islã

As doutrinas do Islã são extremamente simples. Islã significa submissão, por isso a fé islâmi-
ca exige submissão a Deus, ou seja, ao Deus único, Alá, o Deus criador todo poderoso, o mesmo
dos cristãos e dos judeus.
A crença dos muçulmanos consiste em:
• Maomé é o último e maior profeta e não o próprio Deus;
• Pregação do monoteísmo estrito, ou seja, homens e mulheres estão sujeitos a Deus, pois o
juízo divino estava eminente;
• Os mortais poderiam fazer as opções fundamentais: ou iniciarem uma vida a serviço de
Deus, uma vida bem-aventurada. Em troca, os fiéis teriam a concessão da vida eterna no pa-
raíso, canal de delícias; ou não estarem a serviço de Deus, ou seja, serem iníquos e, por isso,
condenados e mandados ao reino de fogo e de tortura eterna.
As medidas práticas para o exercício da nova religião eram:
• Os ensinamentos são encontrados no Corão, compilação das revelações feitas por Deus a
Maomé, a escritura definitiva do Islã;
• Dedicação rigorosa à retidão moral e à compaixão;
• Fidelidade aos mandamentos religiosos: regime de orações e jejuns; peregrinação a Meca e
recitação frequente de partes do Corão.

◄ Figura 34: Muçulmanos


lendo o Corão.
Fonte: Disponível em:
fraternidade-branca-se-
mente-de-luz.blogspot.
Acesso em 23/11/2010

O Islã apresenta cinco pilares que constituem cinco deveres básicos de cada muçulmano:
• Recitar e aceitar o credo (Chahada ou Shahada);
• Orar cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah);
• Pagar esmola (Zakat ou Zakah);
• Observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam)
• Fazer a peregrinação a Meca (Haj) se tiver condições físicas e financeiras.

35
UAB/Unimontes - 3º Período

2.5.5 A influência Judaíco-Cristã sobre o Islã

De acordo com Burns (1981), as semelhanças do Islã com o judaísmo e o cristianismo não é
casual. Maomé é influenciado pelas religiões anteriores, pois havia muitos judeus em Meca e Me-
dina e também conhecia o pensamento cristão.
Os principais pontos de contato entre o Islã e as duas religiões são:
• Estrito monoteísmo;
• Ênfase na moralidade e na compaixão pessoal;
• Adesão às escrituras reveladas, o Corão, suprema autoridade religiosa. O velho e o novo tes-
tamento são considerados como livros de inspiração divina.
As derivações do Islã e do Cristianismo consistem em:
• Juízo final e ressurreição do corpo;
• Recompensas e punições: céu/inferno;
• Crença em anjos;
• Pregava religião sem sacramentos ou sacerdotes. Todo crente é responsável por suas atitu-
des e comportamentos, pois é um estudioso da religião e pode comentar problemas da fé e
da lei islâmicas;
• Muçulmanos oram juntos em mesquita, nada similar à missa. Há a ausência de clero.
A similaridade entre o Islã e o Judaísmo é:
• Ligação entre a vida religiosa e sociopolítica da comunidade inspirada por Deus.
A diferença entre Islã e Judaísmo é:
• O Islã aspira ao universalismo, à unificação do mundo, que transborda a fronteira da Arábia.
• Jesus Cristo ser um profeta e não ser filho de Deus. As diferenças entre Islã e Cristianismo são:

2.5.6 A unificação da Arábia após Maomé

Com a morte de Maomé, de acordo com Burns (1981), tem início a transformação do Islã
em força mundial. Os árabes não tinham conceito claro de sucessão política, nem sabiam que a
comunidade de Maomé sobreviveria e muito menos tomaram providências futuras nesse senti-
do. Porém, os seguidores mais próximos, liderados por Abu-Bakr e um fervoroso discípulo Omar,
nomearam Abu-Bakr, califa, que significa “representante do profeta”. Abu-Bakr serviu como che-
fe religioso e político supremo dos muçulmanos. Ele, como califa, lançou campanha militar para
subjugar tribos árabes.

Figura 35: Estrutura de ►


uma mesquita
Fonte: Disponível em
http://html.rincondelvago.
com/germanos-bizantinos-
-arabes.html. Acesso em
23/11/2010

36
História - História Medieval I

2.5.7 A expansão e as conquistas Árabes

Após a morte de Abu-Bakr, conforme Burns (1981), Omar o sucede. Ele continua a dirigir in-
vasões árabes nos impérios vizinhos. Em 636, eles aniquilam o exército bizantino na Síria e do-
minam a Antioquia, Damasco e Jerusalém. Em 637, destroem o principal exército dos persas e
investem contra a capital persa, Ctesifonte. Capturado, o centro administrativo do Império Persa
deixa de oferecer resistência, após tantas lutas. Em 651, completa a conquista árabe a todo o Im-
pério Persa. O Império Bizantino tem dificuldades para dominá-lo, pois se centra em torno da
distante Constantinopla. Em 646, os árabes tomam o Egito e o norte da África dos bizantinos. Em
711, os árabes atravessam o Mediterrâneo e entram na Espanha. Em menos de um século, o Islã
conquista a antiga Pérsia e boa parte do velho mundo romano.

2.5.8 Razões da propagação do Islã

As razões de propagação do Islã, conforme


Burns (1981) e Giordani (1985), são:
• O início da expansão do Islã não foi obtido
através de uma cruzada religiosa. Os árabes
não tinham interesse em converter outros
povos, assim como esperavam que isso acon-
tecesse, pois os consideravam apenas para a
coleta de impostos;
• O entusiasmo religioso desempenhou papel
vital para os árabes, embora o móvel da ex-
pansão não fosse a religião. Os árabes aca-
tavam as ordens do Califa como vontade de
Deus;
• Os árabes saem do deserto para procurar terri-
tórios mais ricos e pilhar;
• A facilidade para acumular riquezas mantém o
avanço contínuo;
• A inspiração proporcionada pela religião che-
gou, em termos da fraqueza de seus inimigos,
no momento certo;
• Bizantinos e persas estavam exauridos pelas
prolongadas guerras e ressentiam-se contra as
exigências financeiras;
• Os árabes não exigiam conversão e cobravam
menos impostos, por isso eram preferidos.


2.5.9 Divisão entre Xiitas e Sunitas Figura 36: Estrutura
religiosa e civil do Islão.
Fonte: Disponível em
Conforme Burns (1981) e Giordani (1985), os árabes ampliam conquistas e enfrentam as pre-vestibular.arteblog.
primeiras divisões políticas de gravidade. Em 644, morre o Califa Omar, que é substituído por com.br/89/. Acesso em
Uthman. Uthman pertencia à família dos Omíadas, clã abastado de Meca que, de início, não ha- 23/11/2010
via aceitado a fé de Maomé.
Insatisfeitos com Uthman, os árabes se reuniram em torno de Ali, primo e genro do profeta e
líder apropriado para a causa. Uthman foi assassinado em 656 por amotinados. Partidários de Ali
acabam elegendo-o para Califa. Porém, a família e seguidores de Uthman não aceitam Ali. Ocorrem
muitas revoltas, e Ali acaba sendo assassinado. O grupo de Uthman sai vitorioso nesses embates.
Em 661, um membro da família Omíada assumiu a função de califa. Essa família governou
até 750. Partidários de Ali não aceitam derrota. Então, cristaliza-se um partido religioso minoritá-
rio, ou seja, os Xiitas. Os Xiitas se apresentam da seguinte forma:
• Só Ali e descendentes de Ali podiam ser Califas ou exercer qualquer autoridade sobre a co-
munidade muçulmana;

37
UAB/Unimontes - 3º Período

DICA
XIITAS E SUNITAS Figura 37: Sunitas e ►
Em face do enforca- Xiitas observam a
mento de Saddan crença e a organização
Hussein, muita gente política muçulmana de
ainda não entende a formas distintas.
diferença entre Xiitas Fonte: Disponível em
e Sunitas. A partir da http://www.mundoedu-
leitura do texto, tente cacao.com.br/curi osida-
des/sunitas-x-xiitas.htm.
rever jornais, revistas Acesso em 23/11/10
e outras fontes que
abordem o assunto,
reveja seus conceitos e
fique informado acerca
desse assunto, reveja
seus conceitos e fique
informado acerca desse
assunto.

• Perseguidos com frequência eram altamente militantes;


• Tinham a convicção de que eram os únicos cumpridores verdadeiros da fé.
Há também os Sunitas, que defendiam o verdadeiro desenvolvimento histórico do califado
e vieram a comprometer com sua práxis.
Enfim, esses dois grupos, Xiitas e Sunitas, conforme abordagem anterior, dividem o Islã des-
de o século VII, quando Maomé morreu.
Após a morte de Maomé, os Xiitas acreditavam que Ali, um parente de Maomé, deveria as-
sumir a liderança da religião. Enquanto os Su-
nitas queriam que um Omar, que não era nada
de Maomé, chefiasse a religião. Assim, muçul-
manos ficam divididos.
Figura 38: Mesquita dos ►
Omíadas
Fonte: Disponível em 2.5.10 Os Omíadas
http://www.brasilcult.pro.
br/vi agem/02_siria.htm.
Acesso em 23/11/10
Em 661, os Omíadas triunfam e inauguram
um período estável na história do califado que
durou até 750. Durante o governo dos Omía-
das, foram duas orientações principais de go-
verno:
a) Representada pelo domínio dos
Omíadas e sucessores: Os primeiros concen-
travam sua força nos antigos territórios bizan-
tinos na Síria e continuaram a utilizar funcio-
nários nativos, não muçulmanos. O Califado
Omíada foi sucessor do Império Bizantino.
b) Uma orientação mais Oriental que
Ocidental: Os governos voltam suas energias
para o domínio do Mediterrâneo e para a con-
quista de Constantinopla. Porém, fracassam em
717 no ataque da capital bizantina, e reduz-se
a força dos Omíadas.

2.5.11 Os Abássidas

Em 750, conforme Burns (1981) e Giordani (1985), ocorre a ascensão de uma nova família, os
Abássidas. As características do governo dos Abássidas são:

38
História - História Medieval I

◄ Figura 39: Palácio dos


Abássidas em Bagdá
construído em 1913
Fonte: Disponível em
www.Islã.org.br/os_abas-
sidas.htm. Acesso em
23/11/2010

DICA
Procure em bibliote-
ca, internet e outros
instrumentos de busca
informações acerca da
• Realce aos elementos persas e aos bizantinos, sobretudo nas artes; literatura dos árabes.
• Mudança de capital. O segundo Califa Abássida construiu nova capital, Bagdá, no Iraque,
perto das ruínas da antiga capital persa;
• Desenvolvimento de sua própria administração muçulmana, imitando o absolutismo persa;
• Rodeamento de complexas cerimônias palacianas;
• Patrocínio de uma literatura sofisticada, cujo maior exemplo foi o conjunto de textos que
ficou conhecido, posteriormente, no Ocidente como “Mil e uma noites”.
De um ponto de vista ocidental, o Califado Abássida foi importante. A orientação oriental
amenizou a pressão sobre o Mediterrâneo. Tudo isso significou:
• Estado Bizantino conseguiu reviver;
• Os francos adquirem força própria.

◄ Figura 40: Expansão


do Califado Abássida
em 778 d. C.
Fonte: Disponível em
www.Islã.org.br/os_abas-
sidas.htm. Acesso em
23/11/2010

ATIVIDADE
Procure mais informa-
ções sobre os mongóis.
2.5.12 História política Islâmica após a queda do Império Abássida Veja sobre esse assunto
em: GUERRAS, Maria
Sonsoles. Os Povos
bárbaros. 3 ed. São
No século X, conforme Burns (1981), o poder Abássida declina, consistindo num período de
Paulo: Ática, 1995. 86 p.
descentralização. Segue-se a relação das motivações: (Série princípios 126) e
• Empobrecimento gradual de sua base econômica: a agricultura; GIORDANI, Mário Curtis.
• Os Califas Abássidas têm o hábito de se cercarem de soldados turcos, que compreenderam História dos reinos bár-
poder assumir o poder real do estado por conta do poder a eles delegado. baros: acontecimentos
políticos. Petrópolis, RJ:
Em 945, o Império Abássida esfacelou-se, no momento em que uma Tribo Turca Xiita captu-
Vozes, 1970.
ra Bagdá, tornando-se governantes nominais até seu califado ser arruinado com a destruição de
Bagdá pelos Mongóis em 1258.
De 945 ao século VI, ocorreram os seguintes fatos:
• A vida política islâmica foi marcada pelo localismo com diferentes reis fracos, geralmente
turcos, assumindo o poder em várias áreas;
39
UAB/Unimontes - 3º Período

• Descentralização do poder, diferentemente de decadência. Na verdade, a civilização islâmi-


ca prosperou, sobretudo, de 900 a 1250, época em que o seu domínio estendeu até a atual
Turquia e a Índia;
• Novo império islâmico surgiu no Ocidente, ou seja, os Turcos Otomanos.

2.5.13 O caráter da cultura e da Sociedade Islâmica

Aqueles que abordam a história islâmica com preconceitos modernos têm uma grande sur-
presa. Constata-se que, desde a época de Maomé até 1500, a cultura e a sociedade islâmica fo-
ram extremamente cosmopolitas e dinâmicas. Maomé não era árabe do deserto, mas citadino e
comerciante imbuído de ideias avançadas. Razões pelas quais a cultura islâmica era cosmopolita:
• Herdou a satisfação de Bizâncio e da Pérsia;
• Permaneceu centralizada nas encruzilhadas do comércio a longa distância entre o Extremo
Oriente e Ocidente;
• Contrabalançava a próspera vida urbana com a agricultura;
• Havia grande mobilidade geográfica, devido à importância do comércio;
• Ensinamentos de Maomé estimulavam a mobilidade social. O Corão pregava a igualdade de
todos os muçulmanos. O resultado de tudo isso consistia que, na corte de Bagdá e nos Esta-
dos Muçulmanos descentralizados, tinham oportunidades para pessoas talentosas;
• Alfabetização disseminada. Muitos subiam socialmente através da educação;
• Os cargos raramente eram vistos como hereditários, e “homens novos” podiam ascender a
eles mediante esforço e capacidade;
• Muçulmanos mostravam tolerância para com outras religiões e permitiam espaço para ju-
deus e cristãos. Os cristãos eram considerados “gente do livro”, porque a Bíblia era precurso-
ra do Corão.

Figura 41: Estrutura da ►


cidade
Fonte: Disponível em html.
rincondelvago.com/germa-
nos-bizantinos-ar... Acesso
em 23/11/2010

2.5.14 O tratamento dado às mulheres

Em relação ao tratamento dado às mulheres, conforme Burns (1981):


• Os homens de sucesso, ansiosos por preservar, enaltecer suas posições e por honra, querem
manter e/ou expandir suas propriedades materiais, inclusive as mulheres;

40
História - História Medieval I

• Mulher, valor máximo, é inviolada; DICA


• O Corão permitia a um homem casar-se com quatro mulheres; Pesquise e reflita sobre
• Os homens de posse tinham criadas e concubinas, as quais viviam em haréns, guardadas o papel da mulher
por eunucos; na sociedade árabe e
• Nos haréns, as mulheres competiam entre si, por isso se entregavam às intrigas para promo- ocidental e suas con-
ver a carreira dos filhos; quistas atuais, inclusive
levando em considera-
• Os ricos mantêm haréns; até onde possível eram imitados por todas as classes; ção as conquistas das
• As mulheres eram consideradas bens móveis. Os costumes patriarcais contribuíram para hu- mulheres mulçumanas.
milhá-las e para enfatizar atitudes de dominação na vida sexual.

◄ Figura 42: Mulheres


mulçumanas.
Fonte: Disponível em
veja.abril.com.br/.../
mulher_2006/p_048.
html. Acesso em
23/11/2010.

2.5.15 A vida religiosa Islâmica: os Ulama e os Sufis

Para os árabes, há dois caminhos para a devoção à vida religiosa:


a) Dos Ulama
Os Ulama
• Eram letrados;
• Representavam o que existia de mais parecido com o sacerdote;
• Tinham como tarefa estudar e dar conselhos sobre aspectos da religião e da lei religiosa;
• Defendiam a tradição e a observância rigorosa da fé;
• Exerciam forte influência sobre a vida pública.

◄ Figura 43: Ulamas


Fonte: Disponível em
http://naqshbandi.org/
events/SEAsia2004/In-
donesia2004/Nahdlatal.
Acesso em 23/11/2010.

41
UAB/Unimontes - 3º Período

b) Dos Sufis
Os Sufis
• Eram místicos, comparados aos monges cristãos, e diferentes, por não serem celibatários,
assim como não se retiravam da vida da comunidade;
• Valorizavam a contemplação e o êxtase;
Figura 44: Sufis: • Não tinham programa comum e, na prática, comportavam-se de forma diferente: como os
dervixes rodopiantes
com as danças;
dervixes rodopiantes com as danças; como os faquires, encantadores de serpentes; e como
faquires, encantadores os dedicados à meditação.
de serpentes; e os Enfim, coexistência dos Ulama e Sufis consistia no pluralismo cultural muçulmano.
dedicados à meditação,
respectivamente.
Fonte: Disponível em 2.5.16 A cultura Muçulmana
http://www.chaplaincyins-
titute.org/topic/world-
-religions. Acesso em A cultura muçulmana é bastante diversificada, conforme Burns (1981).
23/11/10 Vejamos o enfoque em algumas áreas:
▼ Nas artes

a) Arquitetura
• Influenciada pelos persas e bizantinos;
• Foram construídos palácios e mesquitas.
b) Escultura e pintura
• O Corão proibia a representação de seres humanos para evitar idolatria.
c) Música
• Instrumento de corda: Rebad, similar ao violino moderno e “AL ud”, ou seja, alaúde;
• Destaque médico.
d) Literatura
• Rica, de colorido variado e imaginação;
• Influência persa. Exemplos: Rubay-
yat; As mil e uma noites e Livro dos reis.
Nas Ciências
Figura 45: As mil e uma ► a) Astronomia
noites • A obra de Ptolomeu, conhecida
Fonte: Disponível em como “Almagesto”, foi traduzida;
http://site.margari-
tasemcensura.com/ • Observatórios astronômicos foram
viagem/o-alhambra-pala- fundados;
ce-luxo-da-mil-e-uma-noi- • O calendário e o sistema de álgebra
tes-em-granada. Acesso
em 20 de maio de 2009. – Al Batani, Omar e Alberuni foram de-
senvolvidos.
b) Matemática
• Utilização de algarismos “arábicos”
tomados dos hindus;
• A geometria e a álgebra foram de-
senvolvidas.
42
História - História Medieval I

c) Química
• Descoberta do álcool, fósforo, benzina, mercúrio e ácido sulfúrico. DICA
d) Medicina Assista ao filme Lawren-
• Obtenção de bastante progresso; ce da Arábia, dirigido
• Destaques: Rhazes, Averróis, filosofia comentada de Aristóteles, e Avicena. por David Lean, em
1962. Esse filme apre-
senta uma visão oci-
Na economia dental do mundo árabe
a) Agricultura e, por isso mesmo,
• Irrigação do solo; está sujeito a muitas
• Uso de nora, ou seja, roda d’água. críticas. Mesmo assim,
b) Indústria vale a pena assistir e
discutir, pois conta a
• Grande progresso; história lendária de um
• Possuía centros como Damasco, Mossul, Bagdá, Toledo e Córdova; militar e escritor inglês
• Fabricação: tapetes, tecidos de algodão e de seda, armas, vidros, porcelanas, móveis, papéis, que se apaixona pela
perfumes, açúcar e conservas. cultura árabe e passa a
c) Comércio viver no deserto com
os mercadores e suas
• Os navios árabes frequentavam os portos do Mar Vermelho, do Golfo Pérsico e do Oceano caravanas de camelos,
Índico carregados de tecidos, especiarias, perfumes, medicamentos e joias; nos primeiros anos do
• Nas transações comerciais, no início, usavam-se peças de ouro e prata dos bizantinos. Mais século XX.
tarde, cunharam-se moedas.

2.5.17 Significados da civilização Islâmica


Os significados da Civilização Islâmica são os seguintes:
• O Ocidente aprendera com o Islã técnicas de irrigação, cultivo de novos produtos agrícolas,
fabricação de papel e destilação de álcool;
• Ela preservou e expandiu o conhecimento filosófico e científico dos gregos quando estava
quase todo esquecido no Ocidente;
• Influência Islã versus Ocidente: papel de rival poderoso e estímulo à imaginação. Os ociden-
tais desprezavam os gregos bizantinos e temiam os muçulmanos. A organização flexível dos
muçulmanos possibilitou a união de povos diferentes como os árabes, persas, turcos e vá-
rias tribos africanas e os hindus, por meio de uma religião e de instituições comuns.
Enfim, no mundo islâmico, havia unidade dentro de uma multiplicidade. Essa era uma marca
islâmica. O Islã gerou uma sociedade diversificada, legando descobertas e realizações originais.

Referências
BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental. 23. ed. Porto Alegre: Globo, 1981.

DICIONÁRIO AURÉLIO. 4. ed. Nova Fronteira, 2001, p. 281, 387.

GIORDANI, Mário Curtis. História dos reinos bárbaros: acontecimentos políticos. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1970. 216 p.

__________. História do Mundo Árabe Medieval. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

GUERRAS, Maria Sonsoles. Os povos bárbaros. São Paulo: ática, 1987. 79 p.

KOSMINSKY, Eugenii Alekseevich. História da idade média. Lisboa, Porto: Centro do Livro Brasi-
leiro, [19--]. 278 p.

MELLO, José Roberto. O Império de Carlos Magno. São Paulo: Ática, 1990. 80 p.

MENDONÇA S.R. O Mundo Carolíngio. São Paulo: Brasiliense, 1985.

PERRY, Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.
296 p.

RONCINMAN. S. A Civilização Bizantina. Rio de Janeiro: Zahar, 1961.

43
História - História Medieval I

Unidade 3
O(s) Feudalismo(s) Ocidental(is):
Constituição e características

3.1 Introdução
O feudalismo é originário da crise do Império Romano, que, apesar de processual, é esta-
belecido no século V. Inúmeros povos “bárbaros”, ao invadirem o Império Romano e a Europa,
criavam um “ambiente” plural que marcaria a história dos povos europeus nos séculos posterio-
res. Desse modo, a hegemonia das leis e os costumes romanos duelavam com a diversidade dos
povos que invadiam a Europa. Nesse caminho, formavam-se “feudalismos”.
É importante perceber que as diferenciações étnicas, culturais e religiosas entre os povos da
Europa atualmente têm vínculo direto com a desestruturação do Império Romano e as invasões
bárbaras. Conforme expresso na Unidade II, os diversos reinos e impérios que se formaram na
Idade Média, em seus primeiros quinhentos anos, vão reafirmar a realidade dos “feudalismos”.
Na região ibérica e especificamente no condado portucalense (atual Portugal), por exem-
plo, o feudalismo, com as características apresentadas nos livros didáticos, praticamente não se
desenvolveu. Considerando em linhas gerais que a feudalização (ver Unidade I) se completa no
século IX, em “Portugal”, as invasões muçulmanas (invasões bárbaras) no século VIII fizeram com
que a relação de suserania e vassalagem se enfraquecesse e a centralização política e o desenvol- Figura 46: Exemplo de
vimento do comércio se dessem precocemente. Ou seja, esse é um dos fatores primordiais para divisão de terras para a
que Portugal formasse seu Estado Nacional no século XIV antes de qualquer outro país. Portanto, produção agrícola.
é importante perceber também esta diversidade de especificidades que as regiões da Europa ti- Fonte: Disponível em
nham, mesmo em época medieval. Então, por que estudamos feudalismo apenas com as carac- http://1.bp.blogspot.
com/_xVssAC1a3mk/
terísticas gerais? RvGW_KTpVcI/AAAAA-
Como a resposta se faz extensa, vamos expor três fatores: AAAADI/Iy4_nnjpgBA/
• A hegemonia cultural da Igreja Católica e a tentativa de transformar a Igreja Católica em s320/20040707a_
feudalismo_3%5B1%
uma homogeinizadora e dominadora das culturas “bárbaras”; 5D.jpg. Acesso em
• A análise de historiadores marxistas no século XX que procuraram pensar o feudalismo 23/11/2010
como modo de produção. Estudo marcante e importante, mas que mascarou algumas parti- ▼
cularidades dos feudalismos;
• A escassez de fontes.

3.2 O sistema Feudal


Apesar das peculiaridades do sistema feudal, ele detém estrutu-
ras sociais, políticas, econômicas e culturais que apresentam similitu-
des. Nesse sistema, as terras do feudo eram a unidade básica de pro-
dução, sendo os senhores feudais, na maioria das vezes, proprietários
desses domínios.
Os feudos eram constituídos por um castelo, residência do se-
nhor feudal, família e agregados; uma vila, onde moravam servos e
vilões; uma igreja; e um mercado, onde se trocavam mercadorias, ge-
ralmente aos fins de semana.
A produção nas terras era marcada no século VIII por um sistema
trienal de campos. Nele, uma das terras aráveis ficava em descanso, e
os plantios eram feitos geralmente na primavera e no outono.

45
UAB/Unimontes - 3º Período

QUADRO 2
DICA
Sistema trienal de campos
Os servos não tinham a
propriedade ou a posse 1º ANO 2º ANO 3º ANO
da terra e estavam pre-
sos a ela, ou seja, não Campo I trigo cevada pousio
podiam ser vendidos,
como se fazia com Campo II cevada pousio trigo
os escravos, mas não
tinham liberdade para Campo III pousio trigo cevada
abandonar as terras Fonte: PEDRO, LIMA, 2004.
onde haviam nascido.
Em número reduzido,
os vilões descendiam A hierarquia social era definida pela posse de terra, expressão de riqueza, influência, autori-
dos pequenos pro- dade e poder político. A sociedade era predominantemente estamental (pouca mobilidade so-
prietários romanos. cial). Nessa medida, a sociedade era dividida em dois grupos: senhores (nobreza palaciana e cle-
Caracterizavam-se rical) e servos e vilões.
por terem entregado
suas propriedades a A principal característica do modo de produção feudal era a relação de servidão. Os servos
um senhor em troca trabalhavam para sua subsistência. Ou seja, por não possuírem terras, deviam obrigações rotinei-
de proteção; contudo, ras a seus senhores e a Igreja. Os feudos eram autossuficientes. Assim, além da produção rural,
não estavam presos às vários objetos eram produzidos artesanalmente. O excedente de produção nutria o desenvolvi-
terras onde passaram a mento do mercado/comércio.
trabalhar.
Segundo Karl Marx, a crise feudal seria proveniente da evolução do próprio sistema. Ou seja,
uma possível ampliação do excedente de produção poderia fazer com que a busca por riquezas
se desse pela busca do lucro e não apenas pela produção nas terras. Dessa maneira, afirmou que
“o modo de produção se desenvolve e este desenvolvimento é o germe de sua própria crise”.

3.3 Características gerais do modo


de produção Feudal na Europa
Ocidental
Figura 47: Organização ►
da sociedade feudal.
Fonte: PEDRO e LIMA, 2004

DICA
Observe que, segundo
Perry (1989), o modo
de produção feudal
define-se pelo Princípio
Jurídico de proprie-
dade escalonada ou
3.3.1 Política e sociedade
condicional. Portanto,
não havia propriedade
privada absoluta e Na Alta Idade Média (V-X), a política feudal, principalmente após a morte de Carlos Magno,
incondicional. consolida-se como descentralizada. Nela, os nobres ou senhores feudais detêm a autoridade nos
limites do seu feudo. O processo de suserania e vassalagem marca a política feudal. Nele, o suse-
rano, que doa a terra a um vassalo, transfere a responsabilidade da administração para ele. Em
46
História - História Medieval I

troca, após um juramento de fidelidade, o vassalo deve ao suserano obrigações


administrativas e militares, passando a proteger a população existente naquele
feudo. Um fator interessante é que o rei detinha um poder apenas nominal; po-
rém, ao contrário dos demais nobres, deveria ser sempre o suserano. Assim, em
momentos de guerra, quando a figura do rei era ameaçada, ocorria uma centrali-
zação política.
Como é perceptível, a posse de terra definia a divisão social; dessa forma,
destacam-se duas classes:
• Os senhores feudais (proprietários):
eles poderiam ser leigos ou eclesiásticos;
• Os servos (não proprietários): trabalhadores rurais, desamparados de
qualquer defesa jurídica ou militar. Não podiam ser vendidos, nem expulsos
da terra, nem escravizados.
Na sociedade feudal, não havia entre esses dois grupos sociais mobilidade,
pois a condição deles era dada segundo a hereditariedade. Assim, a sociedade
feudal era estamental. A estaticidade dessa sociedade balizava-se, sobretudo,
nos princípios divulgados pela Igreja, que defendia a ideia de que a ordem das
pessoas na sociedade era demarcada por Deus. Observe tal pensamento:

Assim, pois, a cidade de Deus, que é tomada como uma, na


realidade, é tripla. Alguns rezam, outros lutam e outros traba-
lham. As três ordens vivem juntas e não podem ser separa-
das. O serviço de cada uma dessas ordens permite trabalhos
das outras duas e cada uma, por sua vez, presta apoio às de-
mais. Enquanto esta lei esteve em vigor, o mundo ficou em
paz, mas, agora, as leis se debilitam e toda a paz desaparece
(FRANCORUM. In: PINSKY,1986, p.54).

Desprotegido pela jurisdição e sem proteção militar, o servo (camponês) tra-


balhava para o senhor feudal submetido a uma série de obrigações como o (a):
Corveia: Trabalho gratuito nas terras do senhor feudal por alguns dias da se-
mana.
Capitação: Pagamento cobrado por cada membro da família.
Talha: Pagamento de uma parte da produção do manso servil ao senhor, na ▲
forma de produtos agrícolas ou pecuários. Figura 48: Vestimenta
Banalidades: Pagamento pelo uso das instalações que estavam sob o controle do senhor. de um camponês
Mão-morta: Pagamento dos herdeiros de um servo morto para garantirem sua permanên- medieval.
cia na terra. Fonte: Disponível em
http://www.mascaril
Formariage: Taxa cobrada quando o camponês se casava. ha.pt/imagens/produ-
Albergagem: Obrigação de alojamento e fornecimento de produtos ao senhor quando via- tos/7025_grande.jpg.
javam. Acesso em 23/11/10
Tostão de Pedro: Imposto pago para a Igreja Católica.

◄ Figura 49: Ilustração de


Corvéia.
Fonte: Disponível em
http://www.professoracla-
ra.com/imagens/feudal/
feudo-dia-dia.JPG. Acesso
em 23/11/2010

47
UAB/Unimontes - 3º Período

Segundo Franco Jr (1985), os servos compreendiam a maior parte da população campone-


DICA sa. Realizavam trabalhos necessários à subsistência da sociedade. A sua condição de servo im-
Bloch (1993) afirma plicava uma série de restrições à liberdade. Ele podia ser vendido, trocado ou dado pelo senhor,
acerca dos princípios não podia testemunhar contra homem livre, não podia tornar-se clérigo e devia diversos encar-
da nobreza: A própria gos. Porém, ao contrário do escravo clássico, tinha reconhecida sua condição humana, podia ter
vocação do nobre bens e recebia proteção do senhor.
lhe proibia qualquer Contudo, sabe-se que não havia apenas servos trabalhando. Existiam também trabalhado-
atividade econômica
direta. Ele pertence res livres que eram chamados de vilões (pequenos proprietários que usavam mão de obra fami-
de corpo e alma à sua liar).
função própria: a do Outro grupo interessante também na sociedade era o dos cavaleiros que tinham principal-
guerreiro [...] um corpo mente duas origens sociais: a nobre e a mais
ágil e musculoso não é humilde. Entre os cavaleiros nobres, também
o bastante para fazer o
cavaleiro ideal. É preci- existia a relação de suserania e vassalagem.
so ainda acrescentar a
coragem. E é também
porque proporciona a
esta virtude a ocasião
3.3.2 Economia
de se manifestar que
a guerra põe tanta
alegria no coração dos A economia entre os feudos era de subsis-
homens, para os quais tência, ou seja, nessas grandes propriedades
a audácia e o desprezo produzia-se o que se necessitava. O que faltava
da morte são de algum obtinha-se nas feiras medievais, em outros feu-
modo, valores profis- dos ou nas aldeias. Para evitar o esgotamento
sionais.
dos campos, existia o sistema trienal, em que
a terra era explorada por meio de um reveza-
mento existente entre três campos de cultivos
distintos.
A divisão dos feudos era feita da seguinte
Figura 50: Organização ► maneira:
Fonte: Disponível em Manso senhorial: (terras do senhor): Nes-
http://2.bp.blogspot.com/_ se espaço, localizavam-se os castelos. A produ-
lO Se7CxJx6Q/SWY7S-
6SicLI/AAAAAAAAAJg/ ção nessas terras pertencia ao senhor.
Ka5DSV_foYo/s320/Feudo. Manso servil: Era dividido em lotes (te-
jpg. Acesso em 23/11/10 nência) entre os camponeses que produziam
para o seu sustento.
Manso comunal: Era utilizado pelo se-
DICA nhor e pelos servos, composto por bosques,
Alguns romanos recém- florestas e pastagens.
cristianizados atribuíam
as invasões bárbaras à
sua própria deslealdade
para com as divindades 3.3.3 Cultura e religião
pagãs. Os líderes da
Igreja replicavam dizen-
do que os bárbaros A Igreja foi a instituição mais influente du-
representavam castigo rante a Idade Média. Seus membros dividiam-
divino pelos pecados
de Roma.
se em dois grupos: o do alto clero e o do baixo
clero. O primeiro era constituído por membros
da nobreza, ou seja, por senhores feudais, en-
quanto o segundo era composto por servos. Os
membros do alto clero eram, em geral, bispos,
Figura 51: ► arcebispos e abades. Pertenciam ao alto clero
Representação de os poucos membros da sociedade feudal que
Inquisição feita pela
sabiam ler e escrever. Essa intelectualidade fa-
Igreja católica no
período medieval. cilitava-lhes o exercício de forte influência so-
Fonte: Disponível em bre o resto da população.
http://arrastao.weblog. O caráter estamental da sociedade feudal
com.pt/ arquivo/spa- está ligado a essa influência. O clero legitimava
nish_inquisition_court.jpg.
Acesso em 23/11/10 as diferenças entre os grupos sociais por meio
da argumentação que cada um tem sua função
na sociedade, que era dividida em três ordens:

48
História - História Medieval I

a ordem dos que rezam (clero), dos que trabalham (servos e vilões) e a dos que combatem (no-
breza). Porém, cabe ressaltar que os indivíduos do “baixo clero” tinham, muitas vezes, uma con-
dição um pouco melhor do que a de um servo “comum”, fato que apresenta uma fragilidade na
dinâmica social, colocando em “xeque” a ideia de sociedade estamental. Em contrapartida, a Igre-
ja Católica procura impor as suas ideias às camadas, divulgando a premissa de que cada pessoa
tem um importante papel na sociedade e de que não havia a possibilidade de troca de responsa-
bilidades, já que essa era a vontade divina. Tínhamos, assim, o controle por parte da Igreja não só
no imaginário social, como também através do Tribunal da Santa Inquisição.

3.4 Alguns legados da idade GLOSSÁRIO


Escolástica: Filosofia

média - Feudalismo Ocidental fundamentada em


Aristóteles e São Tomás
de Aquino, seguida
oficialmente pela Igreja
Católica.
Agora, percebamos alguns legados importantes da Idade Média e do Feudalismo Ociden-
tal para a História. A filosofia que detinha resquícios clássicos e helenísticos começou a receber
influências cristãs e judaicas. Podemos listar alguns temas que não faziam parte das discussões
como: “Fé”, “Salvação”, “Providência e Revelação Divina” e “Criação a partir do nada” e que passa-
ram a fazer parte de temáticas filosóficas a partir de então.

3.4.1 Filosofia

A partir do século V, os pensado-


res cristãos perceberam a necessidade
de elaboração e de aprofundamento
intelectual, em razão da fé. A filosofia
que detinha resquícios clássicos e he-
lenísticos começou a receber influên-
cias cristãs e judaicas. Podemos listar
alguns temas que não faziam parte das
discussões como: “Fé”, “Salvação”, “Pro-
vidência e Revelação Divina” e “Criação
a partir do nada” e que passaram a fa-
zer parte de temáticas filosóficas a par-
tir de então.
A partir do século IX, temos o de-
senvolvimento da escolástica. Em seu
início, seu princípio seria a discussão
da razão com bases notadamente da
fé cristã. Utilizava-se do neoplatonis-
mo. No século XIII, Tomás de Aquino,
considerado um dos maiores doutores
da Igreja Católica, amplia as discus-
sões filosóficas com a incorporação de
elementos aristotélicos. Essa última linha dá uma maior ênfase na razão, embora não negue a fé. ▲
Já a primeira versão da escolástica, remanescente do Século V e descendente direta de Agosti- Figura 52: Universidade
nho, subjuga a razão pela fé. na Idade Média
Fonte: Disponível em
http://www.brasilescola.
com/upload/e/universi-
3.4.2 Arte dades-idade-media.jpg.
Acesso em 23/11/10

Comumente, os artistas retratavam, em suas pinturas, idealizações do paraíso ou do inferno.


Elas consistiam nas melhores formas de transmissão dos princípios cristãos e numa das melhores
formas de sermão.

49
UAB/Unimontes - 3º Período

Uma das maiores importâncias do período


medieval deve-se às artes. Muito influenciadas
e voltadas para o público cristão, as artes eram
responsáveis por demonstrar aquilo que a po-
pulação, maioria iletrada, não alcançava pelas
leituras. As diversas representações em vitrais e
pinturas demonstravam desde o paraíso às do-
res do inferno.
Com a invasão dos bárbaros, boa parte
das técnicas desenvolvidas pelos gregos, prin-
cipalmente a perspectiva, foi perdida. Por isso,
muitos artistas, principalmente renascentistas,
consideraram a arte medieval como rústica,
pobre de expressão, sem gênero definido. Tal-
vez se deva ao fato de que os artistas medie-
vais não estavam primariamente preocupados
com o realismo. A intenção de veicular uma
mensagem religiosa pedia imagens claras e
didáticas, em vez de figuras desenhadas com
precisão fotográfica.
Com a pintura, a tapeçaria foi a mais im-
portante forma de arte medieval. Isso decorre
em muito por sua utilidade ao manter o calor
interno dos castelos, construídos de pedra, no
inverno. A mais famosa tapeçaria medieval é o
ciclo de A senhora e o unicórnio.
Na arquitetura, os principais estilos foram
o estilo românico das catedrais e, mais tarde, o
estilo gótico. Há, também, a formação das cor-
porações de ofícios por artesãos. Essas corpo-
rações tiveram importante papel ao permitir a
aproximação entre artistas e, principalmente
no período medieval mais findo, o financia-
▲ mento de obras por famílias com alto poder aquisitivo. Isso influenciou sobremaneira os artis-
Figura 53: tas do período, ao possibilitar o desenvolvimento de técnicas e, também, um amplo campo de
Representação do trabalho, uma vez que não ficavam mais restritos aos trabalhos artísticos encomendados pelas
diabo em uma pintura Igrejas.
do período medieval.
Fonte: Disponível em
http://www.geocities.
com/evidencia _99/
prim12.jpg. Acesso em
23/11/2010

Figura 54: Símbolo ►


da arquitetura gótica.
Catedral de Notredame,
França.
Fonte: Disponível em
http://www.destina-
tion360.com/europe/
france/images/s/france-
-notre-dame-cathedral.
jpg. Acesso em 23/11/10

50
História - História Medieval I

3.4.3 Ciência e tecnologia

No início da era medieval, a vida cultural


concentrou-se nos mosteiros.
Mais uma vez, as invasões foram respon-
sáveis pela perda de materiais como tratados
científicos. Restaram apenas algumas tradu-
ções em latim dos originais gregos, versões
que eram muito resumidas ou deturpadas. Os
únicos que detinham o acesso ao conhecimen-
to ou ao desenvolvimento intelectual eram os
monges. Com suas vidas totalmente voltadas
para a religião e para as leituras, eles foram os
únicos responsáveis pela vivência do mundo
intelectual. Um ponto relevante se refere ao
fato de que suas leituras eram voltadas para a
religião, ficando, em último caso, ou nem mes-
mo aparecendo, o desenvolvimento intelectual
em relação à Física ou demais ciências.
Por volta do século IX, há a diminuição e
contenção das últimas ondas invasoras, culmi-
nando num renascimento científico por volta
do século X. Por volta de 1100 d. C., ocorre uma
revolução que combinou renascimento urbano
e comercial, ampliação de culturas e fronteiras
agrícolas, crescimento econômico, desenvolvi-
mento intelectual e grandes evoluções tecno-
lógicas. Começam a ser abertas novas escolas
ao longo de todo o continente, inclusive em
cidades e vilas menores. ▲
A partir de 1200, aparecem as primeiras Universidades em cidades como Paris, Coimbra, Bo-
Figura 55: Mosteirode
lonha e Oxford. Por volta do ano de 1500, registros apontam mais de 70 universidades. Começa Santa Cruz, um
um forte movimento de tradução de documentos em língua árabe e grega, que torna o conheci- mosteiro da ordem dos
mento do mundo antigo novamente disponível para os eruditos europeus. Tudo isso possibilitou Cónegos Regrantes
um grande progresso em conhecimentos como Astronomia, Matemática, Biologia e Medicina. de Santo Agostinho,
localizado em Coimbra,
É possível listar algumas grandes descobertas:
Portugal. Fundado
1. Óculos em 1285; em 1131, nele se
2. Prensa móvel em 1448; encontram enterrados
3. Melhoramento com as técnicas de serralheria e incisão de pedras; os dois primeiros reis
4. Fundição de ferro; de Portugal: D. Afonso
Henriques e D. Sancho I.
5. Avanços nas técnicas de construção aplicadas ao estilo gótico.
Fonte: Disponível em
Na parte agrícola, o desenvolvimento http://fotocache02.
teve um papel fundamental: desenvolvi- stormap.sapo.pt/fot
mento de ferramentas como a charrua, ostore02/fotos//10/
d6/4e/12695_000e8qw5.
melhorias em carroças e carruagens e em jpg. Acesso em 23/11/10
arreios para animais de carga e a utiliza-
ção de moinhos d’água.
Outro ponto que contribuiu, princi- ◄ Figura 56: O período
que vai do ano 1100 a
palmente, com a posteridade foi o desen- 1300 já foi chamado de
volvimento de instrumentos de navega- Revolução Industrial da
ção, pois ferramentas, como a bússola e o Idade Média.
astrolábio, o melhoramento na confecção Fonte: Disponível em
de mapas e a invenção das caravelas tor- http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Maciejowski_
naram possível a expansão marítimo-co- Tower_of_Babel.jpg.
mercial europeia, na Idade Moderna. Acesso em 23/11/10
Todos esses pontos foram de grande
valia, até mesmo para a sociedade con-
temporânea. Muitas descobertas foram e
são utilizadas até hoje. Ao pensarmos, por

51
UAB/Unimontes - 3º Período

exemplo, nos microscópios e telescópios, não devemos nos esquecer de que grande contribui-
ATIVIDADE ção estes devem à descoberta dos óculos do período medieval. Assim como eles, as variadas téc-
nicas, como a agrícola, a lida com o ferro e, principalmente, as técnicas de navegação.
Pesquise acerca dos
diversos esportes do
período medieval. A
título de exemplifica- 3.4.4 Guerra e armamento
ção, na figura 59 temos
o esporte conhecido
como Justa. É importante lembrar que boa parte do imaginário do cavaleiro é deste período. Em um pe-
ríodo cercado de lutas constantes por causa das invasões, o cavaleiro adquire um posto digno
de status como nunca antes visto. Por isso, é de presumir que foi de grande desenvolvimento,
DICA além das técnicas, a lida com armas de guerra. O Médio Oriente e a Península Ibérica, pelo fato
O Mundo Feminino: As de terem sido locais de grandes batalhas, foram as áreas responsáveis por boa parte do desen-
mulheres desempenha- volvimento bélico.
ram funções importan- Com a contenção das invasões no século IX, o povo europeu continua a conviver novamen-
tes na sociedade me-
te com as batalhas violentas das Cruzadas do período da Baixa Idade Média. Quando da invasão
dieval. As camponesas
auxiliavam sua família da Península Ibérica por parte das hostes mouras, o povo dominante eram os Visigodos, cujos
nas tarefas agrícolas exércitos se apoiavam, essencialmente, numa infantaria pesada e muito lenta. Os exércitos mou-
cotidianas, enquanto as ros, todavia, utilizavam uma cavalaria extremamente veloz, com armamento defensivo muito
pertencentes às famí- ligeiro, o que lhes permitia uma rápida evolução no terreno e que deu a estes exércitos a van-
lias nobres se encarre-
tagem, pelo menos numa fase inicial, e permitiu a conquista da maior parte da península a um
gavam da tecelagem e
da organização da casa, ritmo apenas observado nos conflitos contemporâneos.
orientando o trabalho
das servas. Muitas eram
artesãs. Nos grandes
feudos da Idade Média,
existiam oficinas,
produtos como: pentes,
cosméticos, sabão e
vestuário com mão de
obra inteiramente fe-
minina. Mas, todas elas,
desde as servas até as
mulheres da alta nobre-
za, estavam submetidas
aos pais e maridos.

Figura 57: Armamento ►


medieval.
Fonte: Disponível em
http://lh5.ggpht.com/_iO-
yOe_yRIcI/RvXL7ylMgsI/
AAAAAAAAIbU/7nmbc8O
Ai2I/2%C2%B0+Encontro
+Medieval+Brasil+083.jpg.
Acesso em 23/11/10

3.4.5 Gastronomia

Os conventos católicos influenciaram substancialmente a vida medieval com o incentivo do


consumo de frutas e legumes, enfim, de refeições muito simples. A partir dos séculos VII e IX, há
a sofisticação da comida: incluem-se massas, ovos recheados, carne e peixe. Com as cruzadas do
século XI e XIII, o contato com o Oriente e suas especiarias sofisticam ainda mais as refeições.
Produtos, como: trigo-sarraceno, açúcar, anis, cominho, canela, gengibre, noz-moscada, açafrão,
cebolinha e ameixa, passam a ser utilizados. Com esse contato, impulsionam-se as técnicas de
surgimento e desenvolvimento de salsichas, vinagres e molhos.

52
História - História Medieval I

◄ Figura 58: Especiarias


na Idade Média, como:
pimenta do reino,
cominho, e até mesmo o
açúcar, eram alimentos
refinados, cujo acesso
era permitido somente
aos que detinham maior
poder aquisitivo.
Fonte: Disponível em
http://3.bp.blogspot.
com/_teCZFFxAFy8/
SYLgJdsRPpI/AAAAAAA-
AAj4/n1ALUSEwrg4/s320/
Povo+idade+m%C3%A9
dia.jpg. Acesso em
23/11/10

Segundo nos aponta Grieco (1998), um fato curioso era o de que, ao observarmos a mesa da
sociedade no final da Idade Média para o início do Renascimento, notaríamos que, quanto mais
subíamos na escala social, mais refinada era a mesa e mais recursos eram destinados aos pratos
refinados. Ele percebeu que isso poderia ser visto claramente na diferenciação no consumo de
pães. Algo em torno de 32% do orçamento de capatazes eram destinados aos alimentos; de 47%
para os boieiros e arrieiros; e chegava a 52% entre os pastores. Logo, o autor afirma que:

Quanto mais baixa a posição social do indivíduo, mais o pão representava uma
parte importante do regime alimentar e, inversamente, essa proporção dimi-
nuía à medida que se subia na escala social (GRIECO, 1998, 883p).

3.5 Considerações finais


O intuito das considerações expressas sobre o período medieval era de apresentar caracte- ATIVIDADE
rísticas e discussões importantes que circundam a temática, apresentando-a como importante Pesquise acerca das
para a compreensão do mundo contemporâneo. Com tal premissa, não tínhamos como propos- técnicas militares da
ta apresentarmos “todo o conteúdo”, mas demonstrarmos que é possível estudarmos o passado antiguidade e das de-
senvolvidas no período
pelos nossos incômodos presentes. A partir disso, apresentamos as dificuldades de fontes para o
medieval.
estudo do mundo feudal, as principais discussões teóricas, a diversidade dos reinos e impérios da
Idade Média e a contribuição do imaginário medieval para nossos dias. Nesse contexto, espera-
mos que a leitura desperte novos incômodos, novas inquietações e perguntas, pois a História é
construída a partir de questionamentos, e não de verdades absolutas.

◄ Figura 59: Na
contemporaneidade,
a rememoração dos
jogos medievos são
motivos da presença de
inúmeros turistas nos
locais que ainda detêm
parte dos monumentos
e representações do
período medieval.
Fonte: Disponível em
http://www.cm-obidos.
pt/_DI/NEWS/644_700_
mercado- medieval-01.jpg
.Acesso em 23/11/2010

53
UAB/Unimontes - 3º Período

O War (Grow, EUA, 1952) é um dos jogos de tabuleiros mais famosos no mundo, no qual,
a partir de um mapa mundi, cada jogador recebe uma carta com um determinado objetivo e
quem completá-lo primeiro e declará-lo cumprido é o vencedor. Em suas várias versões, o jogo
apresenta sempre uma temática específica, em que o jogador, estrategicamente, encaminha seu
jogo. Em 2007, foi lançada no Brasil a versão War: Império Romano, uma versão que trata do Im-
pério Romano em seu apogeu:

Figura 60: O War ►


Fonte: Disponível em
http://ciscocosta.com/filis-
teu/wpcontent/uploads/
2007/08/ warimperioroma-
no.JPG. Acesso em 23/11/10

Referências
BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e Inglaterra.
Júlia Mainardi (trad). 2ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

FRANCORUM, Carmem Ad Rotbertum Regem. In: Jaime Pinsky (org). Modo de produção feudal.
4. ed. São Pualo: Global, 1986.

FRANCO, Jr. Hilário. O Feudalismo. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.

GRIECO, Allen F.In: FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo (org). História da Alimenta-
ção. São Paulo: Estação Liberdade, 1998, 883 p.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História da civilização ocidental. São Paulo: FTD,
2004.

PERRY, Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.
296 p.

54
História - História Medieval I

Resumo
Unidade I
Nesta unidade você aprendeu:
• que a sociedade medieval surgiu da crise do Império Romano que impulsionou diversos fa-
tores até o ponto de dar os contornos que a Alta e Baixa Idade Média viveram;
• que o preconceito gerado, às vezes de forma inocente ou imperceptível, levava-nos à crença
de que a humanidade passou por longos anos obscuros. Anos estes que chegavam a ser co-
nhecidos como Idade das Trevas;
• Que as características da idade Média muitas vezes são vinculadas ao feudalismo. E que,
mesmo que não seja algo aparente, são duas coisas distintas, uma completa a outra;
• que as diversas representações midiáticas ou orais relacionadas ao período, são importan-
tes meios de ensino e aprendizagem. E, dessa forma, você aprendeu como trabalhar com o
imaginário medieval e os contos/desenhos animados de forma a tornar o ensino de História
mais sensível ao mundo do “fazer História”.

Unidade II
Nesta unidade você aprendeu:
• que os povos bárbaros não devem ser compreendidos como incultos, selvagens, brutos e
grosseiros. Os motivos que remetiam a esse significado consistiam na não aceitação do dife-
rente ou o estrangeiro;
• que, entre os povos denominados “bárbaros”, havia os francos, que construíram um grande
império na Idade Média no ocidente;
• que o Império Bizantino atuou como uma muralha contra o Islã do século VII ao XI, ajudan-
do a preservar a independência do ocidente;
• que o Ocidente aprendeu com o Islã em várias esferas, sobretudo na esfera econômica, as-
sim como preservou e expandiu o conhecimento filosófico e científico dos gregos quando
estava quase todo esquecido no Ocidente. No Mundo Islâmico havia unidade dentro de
uma multiplicidade. Essa era uma marca islâmica. O Islã gerou uma sociedade diversificada,
legando descobertas e realizações originais.

Unidade III
Nesta unidade você aprendeu:
• a diversidade de características do feudalismo na Europa, que varia em relação ao tempo e
lugar. Fato que vinculasse as invasões bárbaras.
• quais as características e nomenclaturas do Modo de Produção Feudal, enquanto política,
Sociedade, economia, Cultura e Religião;
• que a crise do modo de produção feudal foi impulsionado por sua própria forma de exis-
tência.

55
História - História Medieval I

Referências
Básicas

BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: o caráter sobrenatural do poder régio, França e Inglaterra.
Júlia Mainardi (trad). 2ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental. 23. ed. Porto Alegre: Globo, 1981.

GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Árabe Medieval. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1985.

GUERRAS, Maria Sonsoles. Os povos bárbaros. São Paulo: ática, 1987. 79 p.

PERRY, Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.
296 p.

RONCINMAN. S. A Civilização Bizantina. Rio de Janeiro: Zahar, 1961.

Complementares

DARNTON, Robert. O Grande Massacre de Gatos: e outros episódios da história cultural france-
sa. São Paulo: Graal, 1988.

GIORDANI, Mário Curtis. História dos reinos bárbaros: acontecimentos políticos. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1970. 216 p.

KOSMINSKY, Eugenii Alekseevich. História da idade média. Lisboa, Porto: Centro do Livro Brasi-
leiro, [19--]. 278 p.

MELLO, José Roberto. O Império de Carlos Magno. São Paulo: Ática, 1990. 80 p.

MENDONÇA S.R. O Mundo Carolíngio. São Paulo: Brasiliense, 1985.

PEDRERO-SANCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhas. São


Paulo: UNESP, 2000.

PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História da civilização ocidental. São Paulo: FTD,
2004.

Suplementares

DUBY, G. As três ordens: o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982.

HISTÓRIA VIVA, Revista. Idade Média desconhecida. Ano I. nº 5. São Paulo: Duetto. Março 2004.

MONTEIRO, Hamilton M. O Feudalismo: Economia e Sociedade. 2. ed. São Paulo: Ática, 1995.

SILVA, Francisco C. Teixeira da. Sociedade Feudal, 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.

57
História - História Medieval I

Atividades de
Aprendizagem - AA
1) A partir do debate construído acerca do (pré)conceito da Idade Média, disserte sobre suas ex-
periências como cidadão “leigo”, após o contato com todo o debate historiográfico.

2) A Idade Média é basicamente dividida em, respectivamente,


a. ( ) Alta e Média Idade Média.
b. ( ) Baixa e Alta Idade Média.
c. ( ) Média e Baixa Idade Média.
d. ( ) Alta e Baixa Idade Média.
e. ( ) Média e Alta Idade Média.

3) Faça um exercício mental retrospectivo e cite os vários contos e/ou desenhos animados, filmes
ou telenovelas que fizeram parte da sua percepção acerca do período medieval.

4) Marque o principal motivo da queda do Império Romano.


a. ( ) O feudalismo.
b. ( ) As invasões bárbaras.
c. ( ) A Igreja Católica Oriental.
d. ( ) Os cercamentos.
e. ( ) O modo de produção feudal.

5) O conceito do termo bárbaro é bastante complexo quando se refere ao período medieval.


Nesse contexto, disserte acerca do significado de bárbaro.

6) O Reino Franco constituiu um grande império na Idade Média. Acerca do Império Franco, mar-
que V (verdadeiro) ou F (falso).
a. ( ) As tribos francas partiram do Vale do Rio Reno e se expandiram pelo território grego
nos séculos IV e V.
b. ( ) Clóvis uniu as várias tribos francas e conquistou a maior parte da Gália.
c. ( ) Ao aprovar a ascensão real de Pepino, o papado esperava um aliado na sua luta contra
os lombardos, que haviam conquistado grande parte da Itália no século VI e tinham ambi-
ções em relação ao território pontifício.
d. ( ) Apesar de o Império Franco possuir um território grande demais, era fácil governá-lo,
pois havia uma estrutura adequada para esse fim.
e. ( ) Após a morte de Carlos Magno em 814, seu filho Luís, o Piedoso, herdou o trono. Ele
pretendia preservar o Império, mas essa tarefa era possível pelo vigor do Império.

7) Após a leitura e estudo do texto e de outras bibliografias, discorra sobre a importância do Im-
pério Bizantino para o Ocidente.

8) Com relação aos legados da Civilização Islâmica, marque a alternativa CORRETA.


a. ( ) Havia unidade dentro de uma multiplicidade no mundo islâmico. Essa era uma marca
islâmica. O Islã gerou uma sociedade diversificada, legando descobertas e realizações origi-
nais.
b. ( ) Preservou e expandiu o conhecimento filosófico e científico dos egípcios quando es-
tava quase tudo esquecido no Ocidente.
c. ( ) O Islã influenciou o Ocidente. A organização frouxa dos muçulmanos possibilitou a
união de povos diferentes, como: os árabes, persas, turcos e várias tribos africanas e os hin-
dus, por meio de uma religião e de instituições comuns.
d. ( ) O Ocidente aprendeu com o Islã na esfera social, pois tinha todo um aparato burocrá-
tico e administrativo impecável para tal fim.
e. ( ) Em relação à vida religiosa islâmica, pode-se citar a presença dos Ulama e Sufis.

59
UAB/Unimontes - 3º Período

9) Como estava organizada a estrutura da sociedade feudal?

10) Marque a alternativa INCORRETA.


a. ( ) A Igreja Católica Romana foi responsável pelo desenvolvimento da sociedade medie-
val desde seu início.
b. ( ) Durante todo o período medieval, a tão combatida usura nunca existira, uma vez que
esta faz parte do modo de produção capitalista.
c. ( ) O Vassalo, em troca de segurança e terras para produzir, servia ao Suserano e pagava-
lhe de diversas maneiras nos vários impostos.
d. ( ) Os altos valores de cobrança de impostos pelo Império Romano, bem como o enfra-
quecimento ocasionado pelas Invasões Bárbaras, deram cabo ao período conhecido como
Antiguidade Clássica.
e. ( ) Na primeira onda de invasão bárbara, houve o que se poderia dizer de dualidade so-
cial, econômica e política em partes da Europa.

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