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Podemos então definir provisões como sendo custos estimados e actuais (do
exercício) correspondentes a despesas cujo montante ainda não é certo ou que são de
eventual ocorrência futura.
Quanto existem vendas a crédito (bens ou serviços) existe o risco de não se cobrar o
valor total dessas vendas pelo que as provisões para créditos de cobrança duvidosa
destinam-se a fazer face aos riscos que advêm da cobrança das dívidas de terceiros.
No entanto, algumas dessas vendas a crédito poderão não ser pagas, verificando-se
incobráveis, surgindo assim a necessidade de fazer ajustamentos aos proveitos
anteriormente contabilizados. Essas correcções de valor designam-se, actualmente,
como ajustamentos de dívidas a receber, enquanto que para efeitos fiscais têm a
designação de provisões.
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O princípio da prudência adoptado pelo Plano Oficial de Contabilidade, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 410/89, de 21 de Novembro (doravante POC), determina que as
diminuições do activo, ainda que potenciais, deverão ser relevadas
contabilisticamente. Nem todas essas diminuições, porém, serão consideradas como
custos para efeitos do apuramento do lucro tributável.
O artigo 34.º, n.º 1, alínea a), do Código do IRC, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-
B/88, de 30 de Novembro (doravante Código do IRC), estabelece que podem ser
deduzidas para efeitos fiscais as provisões (ajustamentos na nova terminologia
contabilística) que têm por fim a cobertura de créditos resultantes da actividade normal
que no fim do exercício possam ser considerados de cobrança duvidosa, e sejam
evidenciados como tal na contabilidade.
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Acórdão disponível em www.dgsi.pt
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Com o objectivo de impedir o uso abusivo das provisões para créditos de cobrança
duvidosa no sentido de diminuir o imposto a pagar, o artigo 35.º do Código do IRC,
estabelece os critérios de dedutibilidade fiscal das provisões que tiverem sido
constituídas para fazer face a créditos de cobrança duvidosa.
Nos casos previstos nas alíneas a) e b), porque se considera existir uma grande
probabilidade do crédito não ser recuperado, quer pelo facto do credor ter recorrido
aos tribunais, quer ainda por já existir um processo pendente revelador da
incapacidade do devedor solver as suas dívidas, a provisão poderá ser constituída por
100% do valor em dívida, a partir do momento em que se iniciaram quaisquer
daqueles processos.
Neste caso, à medida que o tempo vai decorrendo o risco de incobrabilidade vai
aumentando. Assim, estabelece o n.º 2 daquele artigo 35.º, as percentagens aceites
fiscalmente tendo em conta o número de meses da mora do crédito:
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O facto de um crédito se encontrar em mora há mais de 6 meses não é por si só um
factor determinante para o considerar de cobrança duvidosa. A consideração como de
cobrança duvidosa é efectuada com base na avaliação do risco de incobrabilidade,
tendo em conta as diligências efectuadas para o seu recebimento. Se, por hipótese, a
empresa considerar um crédito como de cobrança duvidosa ao fim de 24 meses em
mora, deverá registar na contabilidade como tal e constituir a respectiva provisão em
100%, sendo a mesma aceite como custo fiscal.
Para efeitos fiscais, não são considerados de cobrança duvidosa os seguintes créditos
(artigo 35.º, n.º 3, do Código do IRC):
Neste ponto vai ser analisado o processo n.º 04961/07, que correu seus termos no
Supremo Tribunal Administrativo (STA), tendo sido proferido em 2007-01-24 o
competente Acórdão.
2.2.1. Enquadramento
A empresa “A” considerou como custo dedutível para efeitos fiscais a provisão para
créditos de cobrança duvidosa em relação à empresa "C", no valor de € 4.092.438,94,
sendo que o capital social desta é detido a 83% pela sociedade "B", cujo capital social,
por sua vez, é detido a 100% pela "A”, não existindo nenhuma participação directa no
capital da sociedade “C” por parte da “A”, mas sim indirectamente, por via da
sociedade “B”.
Em resumo: “A” participa em “B” em 100% do capital e “B” participa em “C” em 83% do
capital. “A” não tem qualquer participação directa no capital de “C”.
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Posteriormente, a Administração Fiscal, em sede de procedimento externo de
inspecção, anulou a dedução fiscal daquele custo resultante da provisão constituída,
ou seja, efectuou uma correcção ao lucro tributável no valor de € 4.092.438,94.
1. Foi efectuada uma incorrecta interpretação do artigo 35.º, n.º 3, alínea d), do
Código do IRC, pois a interpretação no sentido de que o mesmo é aplicável às
participações directas e indirectas no capital da sociedade viola o princípio da
legalidade e da tipicidade fiscal, ignorando as regras da hermenêutica jurídica;
3. Da correcta interpretação do artigo 35.º, n.º 3, alínea d), do Código do IRC resulta
que o mesmo deve ser aplicável e só às sociedades participadas directamente
pela entidade que aprovisiona o crédito de cobrança duvidosa;
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2.2.3. Decisão do Tribunal
O Tribunal sustenta que são as “empresas participadas” por qualquer modo legítimo
de sobre elas conseguir exercer uma influência dominante: de modo directo ou de
modo indirecto, através de outras sociedades ou mesmo através de pessoas
singulares.
Esta é, de acordo com o STA, a interpretação imposta pela razão de ser da lei:
inaceitabilidade como custo fiscal de provisões relativas a créditos que não ofereçam
risco de incobrabilidade, como acontece evidentemente com os créditos que as
sociedades dominantes tenham sobre as sociedades de si dependentes em mais de
10% do seu capital social.
Continua o Tribunal o seu raciocínio, afirmando que não faz sentido distinguir entre
influência ou dominação de modo directo e influência ou dominação por interposta
pessoa, pois que, para efeitos de irrelevância das provisões como custos por dívidas
de cobrança duvidosa, o que à lei importa é que a influência e dominação da
sociedade participante ou dominante se faça sentir na empresa participada em mais
de 10% do capital social desta.
O Tribunal conclui que se a empresa "A" detinha uma participação de 100% sobre a
sociedade "B" que, por sua vez, detinha uma participação de 83% sobre a "C", então
existia uma participação da “A” sobre a "C" em mais de 10% do capital.
E a natureza da participação não tem relevância para efeito do disposto no artigo 35.º,
nº. 3, alínea d), do Código do IRC. Efectivamente, aquele normativo não faz qualquer
distinção entre participação directa e/ou indirecta, pelo que terá de se entender que o
legislador quis abarcar tanto a participação directa como a indirecta no normativo em
análise.
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O sujeito passivo/empresa “A” pretende que o legislador tenha dito “participadas,
apenas directamente”. Mas o legislador disse “participadas” (simplesmente). Como se
vê, o legislador disse mais do que, no caso, convinha aos interesses do sujeito
passivo.
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3. Conclusão
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BIBLIOGRAFIA
Sanches, Saldanha (2007), Manual de Direito Fiscal, Coimbra Editora, 3.ª Edição