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Referencia Bibliográfica
Introdução
A seguinte ficha de leitura consiste num resumo do livro de François Laplantine, da sua obra
intitulada “ aprender a antropologia” O livro aborda a importância da antropologia, a maneira
que os estudiosos enxergavam os selvagens antes de delimitarem os conceitos desta área do
saber, fundação e desenvolvimento do saber relacionado ao homem, seus costumes e culturas.
O autor utiliza uma linguagem simples e acessível, para explicar como a antropologia se
transformou ao longo dos séculos e a maneira que o homem era estudado. A proposta do livro
é ensinar sobre a antropologia uma área complementar a outros saberes e que não precisa
estar restrito somente para quem é das Ciências Sociais, já que a antropologia pode ajudar a
entender melhor o ser humano.
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De acordo com François Laplantine, o homem sempre se interessou em observar homens,
refletir sobre seus comportamentos e a sociedade, mas foi somente no final do século XVIII
que esta ação se tornou um saber científico. A antropologia ou projeto antropológico surgiu
na Europa, pois outras regiões permaneciam inexploradas.
O autor do livro explica que nesta época, as sociedades estudadas pela antropologia eram as
que ficavam distantes geograficamente, de dimensões restritas, que tiveram poucos contactos
com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação a nossa; e nas
quais há uma menor especialização das atividades e funções sociais. Ou seja, a antropologia
estudava as populações que não pertenciam à civilização ocidental.
Todavia, como é abordado no livro, com a evolução social, essas sociedades primitivas
acabaram desaparecendo, fazendo com o que a antropologia tivesse uma crise de identidade,
graças ao seu objeto de estudo. A antropologia passou, então, a considerar as múltiplas
dimensões do ser humano em sociedade, conduzindo uma especialização do saber. A área foi
dividida em 5 campos de estudo, segundo François Laplantine:
– Antropologia Social e Cultural: tudo o que constitui uma sociedade (modos de produção
econômica, organização política, crenças religiosas, entre outros).
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Ainda segundo o autor do livro, mais do que estudar uma sociedade, a antropologia estuda
todas as sociedades humanas, suas culturas, diversidades históricas e culturais. Ao estudar
outras culturas, aprendemos mais sobre a nossa também.
Nessa parte do texto, introdutoriamente, o autor deixa claro que a ideia de antropologia surge
juntamente com o período das descobertas no Novo Mundo. Isso porque o Renascimento
surge como uma nova forma de pensar o ser humano e o mundo que o cerca.
O primeiro questionamento feito na época seria se esses povos então descobertos seriam ou
não parte da humanidade, dada a falta de critérios pormenores discutidos, adotou-se
primeiramente o critério religioso. Questionava-se se os selvagens teriam alma ou então se
seriam julgados pelos mesmos pecados que os europeus. Esse questionamento se inicia no
século XIV e só é solucionada dois séculos depois.Com a questão do descobrimento surgem
duas ideologias: a recusa do estranho e a fascinação pelo estranho. A partir disso, vários
teóricos declaram:
Las Casas: Diz que os povos selvagens seriam como os colonizadores ou até superariam
esses, não sendo inferiores a nenhum deles.
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Sepulvera: Acreditava que os mais prudentes e racionais, ainda que inferiores em força física
deveriam naturalmente, ser os senhores enquanto aqueles que superam em força física e
ignorem os outros preceitos, naturalmente sejam os servos. Esse naturalmente diz respeito,
para ele a determinação divina. Sepulvera acreditava que a determinação natural da
submissão estava pautada no direito natural e tornaria esses povos mais conformados e cultos
distanciando-os da barbárie, ainda assim, em caso de recusa desses povos, a guerra seria justa
se preciso fosse impor-lhes essa nova cultura. Mesmo hoje, depois de quatro séculos ainda
podemos encontrar resquícios essas teorias no pensamento vigente.
A figura do mau selvagem e do bom civilizado nessa perspectiva o autor afirma que é
necessário lembrar que a diversidade das sociedades nunca foi encarada como um mero fato,
e sim como uma aberração, algo que não possuía entendimento. Na antiguidade, tudo aquilo
que não fazia parte da cultura grega era tido como bárbaro. Na época do Renascimento, esses
bárbaros eram tratados como naturais ou selvagens opostos à humanidade.
A aparência física – diziam que eles não usavam roupas; o comportamento alimentar – pois
os selvagens, diferentemente dos europeus comiam carne crua; o fato de eles falarem uma
língua que não era entendida pelos europeus. Todos esses detalhes (o leque das ausências)
juntamente com a falta de alma e religião justificavam a ideia de bestialização que os
europeus tinham dos selvagens.
Na figura de boa salvagem e do mau civilizado o autor diz que “O caráter privativo dessas
sociedades sem escrita, sem tecnologia, sem sacerdotes, sem religião organizada, sem clero,
sem polícia, sem leis, sem estado acrescentar-se-á no século XX sem complexo de Édipo –
não constitui uma desvantagem. “O selvagem não é quem pensamos”. Entretanto, “a figura
do bom selvagem só encontrará sua formulação mais sistemática e mais radical, dois séculos
após o renascimento: no rousseauísmo do século XVIII, e, em seguida, no Romantismo”.
Num elogio ao estado original de natureza. Léry, entre os Tupinambás, interroga-se sobre o
que se passa “aquém”, isto é, na Europa. Ele escreve, a respeito de nossos grandes usuários:
“eles são mais cruéis do que os selvagens dos quais estou falando”. E Montaigne, sobre esses
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últimos: “Podemos de fato chamá-los de bárbaros sobre as regras da razão, mas não quanto a
nós mesmos que os superamos em toda a sorte de barbáries”.
Portanto será preciso esperar o século XVIII para que se constitua o “projeto” de fundar uma
“ciência de homem”, isto é, “positivo” sobre o homem. Enquanto encontramos no século XVI
elementos que permitem compreender a pré-história da antropologia, enquanto o século XVII
interrompe nitidamente essa evolução, apenas no século XVIII é que entramos
verdadeiramente, como mostrou Foucault (1966), na modernidade. Apenas nessa época, e
não antes, é que se pode apreender as condições históricas, culturais e epistemológicas da
possibilidade daquilo que vai se tornar a antropologia.
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3 - Uma problemática essencial”: a da diferença. “A sociedade do século XVIII vive uma
crise da identidade do humanismo e da consciência europeia. Parte de suas elites busca suas
referências em um confronto com o distante.
Mesmo o século XVIII sendo essencial a elaboração dos fundamentos de uma “ciência
humana”, ainda existiam obstáculos que impediam o advento de uma antropologia científica,
os quais são:
O século XVI descobre e explora espaços até então desconhecidos e tem um discurso
selvagem sobre os habitantes que povoam esses espaços. Após um parêntese no século XVII,
esse discurso se organiza no século XVIII: ele é “iluminado” a luz dos filósofos, e a viagem
se torna viagem filosófica”. No século XVIII, […] é a época durante a qual verdadeiramente
se constitui a antropologia enquanto disciplina autônoma: a ciência das sociedades primitivas
em todas as dimensões (biológica, técnica, econômica, política, religiosa, linguística,
psicológica...)” p. 63.
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“Com a “Revolução Industrial Inglesa e a Revolução Política Francesa, percebe-se que a
sociedade mudou e nunca mais voltará a ser o que era. No século XIX, o contexto geopolítico
é totalmente novo: é o período da conquista colonial, que desembocará em especial na
assinatura, em 1885, do Tratado de Berlim, que rege a partilha da África entre potências
europeias e poe um fim as soberanias africanas. É no movimento dessa conquista que se
constitui a antropologia moderna, o antropólogo acompanhando de perto, como veremos, os
passos dos colonos... É no pensamento teórico dessa antropologia que consiste a Teoria
Evolucionista.”
Portanto segundo o autor através de BOAS (1858-1942) assistimos a uma verdadeira virada
da prática antropológica. Boas era antes de tudo um homem de campo. Suas pesquisas
totalmente pioneiras, iniciadas, a partir dos últimos anos do século XIX (em particular entre
os Kwakiutl e os Chinook de Colúmbia Britânica), eram conduzidas de um ponto de vista que
hoje qualificaríamos de macrossociológico. A partir de Boas, não se pode mais confiar nos
investigadores comum, apenas o antropólogo pode elaborar uma monografia. Pela primeira
vez o teórico e o observador estão reunidos.
Assistimos ao nascimento de uma verdadeira etnografia profissional que não se contenta mais
em coletar materiais à maneira de antiquários, mas procura detectar o que faz a unidade da
cultura que se expressa através desses diferentes materiais. Finalmente, ele foi um dos
primeiros a nos mostrar não apenas a importância, mas também a necessidade, para o
etnólogo, do acesso a língua da cultura na qual trabalha. As tradições que estuda não
poderiam ser-lhes traduzidas. Ele próprio deve reconhecê-las na língua de seus interlocutores.
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Ninguém antes dele tinha se esforçado em penetrar tanto, como ele fez no decorrer de sua
estadias sucessivas nas ilhas Trombriand, na mentalidade dos outros, e em compreender de
dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização, o que sentem os homens e as
mulheres que pertencem a uma cultura que não é a nossa.
Segundo o autor, Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma
totalidade, tal como funciona no momento mesmo que observamos. Com Malinowski, a
antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira as costas ao empreendimento
evolucionista de reconstituição das origens da civilização, e se dedica ao estudo das lógicas
particulares características de cada cultura. Hoje todos os etnólogos estão convencidos de que
as sociedades humanas tanto quanto a nossa são sociedades humanas tanto quanto a nossa,
que os homens e mulheres que nelas vivem são adultos diferentemente de nós, e não
“primitivos”, autômatos atrasados que pararam em uma época distante e vivem presos a
tradições estúpidas. Mas nos anos 20 isso era propriamente revolucionário.
Segundo o autor citando o Malinowski diz que o homem deve ser estudado através da tripla
articulação do social, do psicológico e do biológico. Compreendendo que o único modo de
conhecimento em profundidade dos outros é a participação a sua existência, ele inventa
literalmente e é o primeiro a pôr em prática a observação participante.