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eletrônico ou impresso, inclusive fotocópias sem préviviaa autorização e consentimento da editora.
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ANARQUISMO
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INDÍCE
Introdução ......................................................................... 7
'R]HSHQVDGRUHVTXHLQÀXHQFLDUDPDVYHUWHQWHVDQDU-
quistas ............................................................................... 43
As armadilhas autoritárias.............................................. 57
2Q]H¿OPHVSDUDHQWHQGHUR$QDUTXLVPR..................... 71
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Introdução
Im an antichrist, I’m an anarchist
Don’t know what I want
But I know how to get it
I wanna destroy the passerby
‘Cause I want to be anarchy
No dog’s body
“Anarchy in the U.K”, Sex Pistols
P
rofessor da disciplina de História na cidade de Palo
Alto, condado de Santa Clara, Califórnia, Estados
Unidos da América, o pesquisador e escritor Ron Jones
tinha uma ideia fixa na cabeça: para Jones, mesmo em sociedades
democraticamente consolidadas, com relativa paz social e estabilidade
econômica, o fenômeno do nazifascismo, com sua fúria totalitária e
ódio ao Outro, poderia surgir a qualquer momento. Como forma de
explicar sua teoria ele desenvolveu, ao longo de mais de trinta anos de
ensino, o método da Terceira Onda, no qual gradualmente inoculava
nos alunos valores e práticas semelhantes ao dos regimes avessos à
liberdade de expressão e à democracia representativa dentro dos
moldes contemporâneos. Seu experimento causou evidente estranheza
e irritação entre pais, colegas e moradores, mas deixou o alerta para
os perigos da manipulação das massas, sobretudo quando elas passam
a defender ardorosamente uma ideologia de caráter extremista, com a
constante presença de uma liderança do tipo carismática.
7
ANARQUISMO
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Bem, não é preciso ter um pós-doutorado em Filosofia Política,
tampouco ser um politólogo e jurista com a grandeza intelectual
do italiano Norberto Bobbio (1909-2004), para saber duas coisas
elementares sobre as ideias, digo, preconceitos do professor Wieland:
1) ele só admite uma forma de democracia, qual seja, a burguesa, de
linhagem liberal-conservadora, representativa e “racional-burocrática”,
para ficarmos no termo do sociólogo, economista, filósofo, cientista
político e historiador Max Weber (1864-1920); 2) ele desconhece, ou
então entende e detesta, os princípios anarquistas.
Quem assistiu o longa-metragem sabe das consequências dessa
decisão e das atitudes posteriores de Reiner Wenger. Quem não viu, não
vou entregar o desenrolar do enredo de bandeja. Nada de spoilers. O
importante mesmo, neste ponto, é reter a informação essencial para este
livro. Ao contrário de outros cursos e temas, lecionados por especialistas
titulados na área e com larga vivência, atuação e pesquisa, cursos de
Anarquismo são oferecidos deliberadamente por profissionais com o
objetivo de desconstruí-lo. Assim como nessa escola fictícia de A onda,
em instituições reais de ensino, em nível colegial ou superior, a Anarquia,
quando não é omitida, é tratada de maneira debochada, ligeira, negativa e
infantilizada, coisa de jovem inconsequente que rabisca muros, provoca
arruaças e empunha armas de fabricação caseira para disparar contra
policiais ou fachadas de redes de fast-food. São uns “desocupados”,
“vadios,” “que nada sabem da vida real”. Existem exceções no circuito
educacional. Exceções louváveis, porém raríssimas. Eventualmente
as pesquisas sobre a Anarquia e as práticas libertárias ficam restritas a
grupos de estudo bastante isolados dentro da comunidade acadêmica.
É assim nos EUA, na Alemanha, na França ou no Brasil. E mesmo em
eventos históricos nos quais os anarquistas exerceram papel heroico e
significativo – entre os quais a Revolução Russa de 1917 e a Guerra
Civil Espanhola nos anos 1930 –, sua participação têm sido ignorada ou
minimizada. Um absurdo da perspectiva dos fatos e testemunhos.
Na visão limitada de muita gente, seja da esquerda marxista-
leninista ou da direita conservadora, Anarquismo é sinônimo de baderna
e, na melhor das hipóteses, de uma utopia intelectualmente pueril e
sem maior crédito. A campanha jornalística, bastante intensa nos anos
1980, contra o punk rock, trilha sonora e modelo estético favorito de
um certo tipo de anarquista, contribuiu para essa gravíssima distorção
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ANARQUISMO
Sex Pistols
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Sex Pistols
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O TERROR E O ISLAMISMO
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Anarquismo: A utopia
1
da ordem sem coerção
A Razão cria mitos
que nos tiram os olhos.
Derrubemos
os seus monumentos,
os seus Palácios,
os seus Reinos!
Salvemos a nossa espécie
dessa loucura! Merecemos
um mundo de plenitude,
um Mundo Real Poético!
A Revolução? Ela será poética,
ou não será! Manifestemos
o Mundo Real Poético!
Jesus Lizânio (1931-2015), poeta anarquista
nascido em Barcelona.
D
R JUHJR DQDUNKRV SDODYUD FXMR VLJQL¿FDGR SRGH
VHU GH¿QLGR FRPR ³VHP JRYHUQR´ RX ³VHP SRGHU´
o Anarquismo, enquanto movimento relativamente
organizado, desenvolveu-se ao longo do século XIX, por meio das
WHRULDV H SUiWLFDV HODERUDGDV SRU DXWRUHV FRPR R ¿OyVRIR IUDQFrV
3LHUUH-RVHSK3URXGKRQVREUHWXGRHPVHXSDQÀHWR2TXH
é a propriedade? (1840), e pelo revolucionário russo Mikhail Bakunin
(1814-1876).
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ANARQUISMO
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Karl Marx
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ANARQUISMO
Sonhos de liberdade:
As (verdadeiras) origens do anarquismo
16
etc. – criados pela sociedade por meio de seus representantes legais.
De acordo com Edilene Toledo, para a doutrina anarquista “O Estado
é desnecessário e (...) existem alternativas viáveis de organização
voluntária. Para a verdadeira libertação da sociedade seria necessário
destruir o capitalismo e as igrejas. Os anarquistas opunham-se à
participação nas eleições e aos parlamentos, pois consideravam a
democracia liberal uma farsa, negando qualquer forma de organização
hierarquizada” (2013, p. 18). Era o que pensavam Proudhon, Bakunin
H VHXV VHJXLGRUHV PDV ¿FD FODUR TXH HVWD FRQFHSomR UHIHUHVH D XP
movimento historicamente determinado, que ainda encontra eco no
mundo contemporâneo, mas nem por isso é a única forma anarquista
SRVVtYHOPXLWRPHQRVRPDUFRLQLFLDOGRVRQKRGHOLEHUGDGH$¿QDO
QRPHDU FODVVL¿FDU H RUJDQL]DU QmR VLJQL¿FDP GHWHU R PRQRSyOLR GH
algo que, por natureza, é adaptável, livre de amarras, antidogmático.
“Liberdade, igualdade e fraternidade”. O tripé de valores que
formaram o lema da Revolução Francesa, que jamais foi adotado de
forma integral por qualquer governo, seja ele de esquerda ou direita,
são premissas do pensamento anarquista/ libertário mesmo antes dessa
corrente ser assim nomeada. Existem antecedentes muito importantes
para a consolidação do anarquismo e eles despontaram em várias
sociedades, ao longo dos séculos. O taoísmo de matriz chinesa, em
HVSHFLDOD¿ORVR¿DGH/DR=LGHVFULWDQRVpFXOR;,D&XWLOL]RFRPR
referência o calendário do Ocidente cristão) já apontava algumas
diretrizes que, posteriormente, seriam adotadas pelos defensores
da liberdade e da associação voluntária. Na Grécia Antiga, cínicos
e estoicos, entre eles Zenão de Cítio (333 a.C-263 a.C), trataram de
temas sobre a condição humano que muito se assemelhariam à doutrina
comunista. Também é indispensável, para quem deseja conhecer a
fundo o assunto, passar pelos textos de Platão, Aristóteles, Santo
Agostinho (354 d.C- 430 d.C), Thomas Moore (1478-1535), de Utopia
(1516), Adam Smith (1723-1790) e os contratualistas Thomas Hobbes
(1558-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau
DOpPGRLOXPLQLVWDVDWtULFR9ROWDLUH(FRPR
esquecer John Stuart Mill (1806-1873), contemporâneo dos anarquistas,
com seu clássico Sobre a liberdade (1859)? Para ser sincero, não dá
para ignorar nenhum pensador que precedeu aos primeiros tratados
VLVWHPiWLFRVGR$QDUTXLVPRGRVpFXOR;,;,PDJLQHGHVFRQVLGHUDUDV
contribuições Immanuel Kant (1724-1804) e Georg Friedrich Wilhelm
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ANARQUISMO
Mary Wollstonecraft
18
Hegel (1770-1831)! Ou de teólogos muçulmanos que transformaram
DVVROXo}HVGHFRQÀLWRVFRPEDVHQDDQiOLVHGHFDVRVGHFDGDSHVVRD
como o comerciante de sedas e jurista Abu Hanifa (700-767). Cada
qual a sua maneira, esses homens de ideias brilhantes desenvolveram
teses econômicas, políticas, éticas e morais sobre trocas monetárias,
propriedade privada, liberdade, fraternidade, caridade e igualdade que
seriam futuramente aceitas ou refutadas conforme o ângulo de análise
GHFDGDJUXSRTXHVHDWULEXLRSUH¿[R³DQDUFR´
Para os anarquistas cristãos, ou cristão libertários, desdobramento
ideológico que não vê incompatibilidade entre a anarquia e a ideias de
QDWXUH]DUHOLJLRVDDSULPHLUD¿JXUDKLVWyULFDPtWLFDDVHUUHSXWDGDFRPR
anarquista é Jesus Cristo. Suas lições de caridade, de amor ao próximo,
revolucionaram a sociedade de sua época, provocaram mudanças no
monoteísmo, e despertaram a ira dos governantes que o pregaram na
Cruz. Não vamos aqui dissertar sobre o épico de sua ressureição, mas sim
nos apegar à sua atitude perante às autoridades. Acreditar nele como um
Messias, ou transformá-lo herege, são apenas maneiras de interpretar
seu legado. Os cristãos libertários preferem observar e privilegiar seu
papel de inconformista, rebelde, ainda que essa visão seja combatida
pelo ateísmo e minimizada por aqueles que comungam nas Igrejas e
comunidades cristãs conservadoras. Ao institucionalizar sua trajetória,
a Igreja Católica, representada pelo poder da Santa Sé de Roma, Estado
GR9DWLFDQRWDOYH]WHQKDGDGRXPSDVVRGHVDMHLWDGRHLQIHOL]'HWRGR
modo, é quase impossível não vê-lo como um insubordinado. E todo
insubordinado, todo homem ou mulher que se posicionou contra os
governantes, colocou seu tijolo no edifício do anarquismo. É como certa
YH]D¿UPRXR¿OyORJR¿OyVRIR¿OKRHQHWRGHSDVWRUOXWHUDQR)ULHGULFK
Wilhelm Nietzsche (1844-1900), autor de O anticristo (1895): “o
último cristão morreu na Cruz” ou “O Evangelho morreu na Cruz”. Tal
como sacralizados pelos preceitos bíblicos e pelas bulas pontifícias, o
Cristianismo seria um erro de interpretação. Uma vez institucionalizado
e regrado, ele não representa a mensagem renovadora de Jesus de
Nazaré, completariam os libertários de orientação cristã. Estes procuram
mostrar, em seus fanzines, páginas na internet e encontros que, apesar
GHWHUFHUWDUD]mR)ULHGULFK1LHW]VFKHVHSUHFLSLWRXDRD¿UPDUDPRUWH
do autêntico espírito cristão.
Em função de suas características de conteúdo – inquestionável
GHQVLGDGH¿ORVy¿FD±HHVWLOR±¿UPHHVHPPHLDVSDODYUDV±RSHTXHQR
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ANARQUISMO
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com semelhanças ao modelo planejado pelos anarquistas cerca de dois
VpFXORV GHSRLV 2 DWR VXEYHUVLYR RFRUUHX HP PHLR jV FRQÀDJUDo}HV
SROtWLFRVRFLDLVGD*XHUUD&LYLO,QJOHVDLQLFLDGDHP9HPGDLR
uso da expressão “anarchist”, como conotação pejorativa, ao puritanos
da burguesia e camponeses, contra os desmandos absolutistas do rei
Carlos I (1600-1649). Eles eram os “Cabeças Redondas”, por não
usarem perucas no Parlamento. As campanhas de Gerrard Winstanley e
seus parceiros pertenciam a esse mesmo contexto político de mudanças
profundas em terras britânicas.
Continuamos a trajetória do anarquismo no Reino Unido.
Agora para falar de um dos fundadores do anarquismo moderno, ou
melhor, o pensador anti-governo que precedeu a Proudhon, Bakunin
FLDRQRYHOLVWDMRUQDOLVWDWHyORJRH¿OyVRIRSROtWLFRGHRULHQWDomR
utilitarista William Godwin (1756-1836). Oriundo de uma família da
dissidência calvinista, e casado com a escritora Mary Wollstonecraft
(1759-1797), lendária ativista pelos direitos das mulheres, Godwin
é uma das referências básicas em qualquer biblioteca anarquista,
em especial seu livro Inquérito acerca da justiça política (1793), um
ataque duríssimo contra as injustiças sociais, o Estado, suas instituições
políticas e a sociabilidade regrada por leis – incluindo o casamento
FRPR XPD FRQYHQomR 1D YLVmR GR ¿OyVRIR WRGD IRUPD GH JRYHUQR
é corrompida, danosa para a coletividade e destrói os laços sociais. O
WH[WR GH *RGZLQ LQÀXHQFLRX DQDUTXLVWDV KXPDQLVWDV FRPXQLWiULRV H
socialistas e já estava inserido no período que o historiador marxista
Eric Hobsbawm (1917-1848) denominou de “a era das revoluções”
(1789-1848). No entendimento do geógrafo anarco-comunista russo
Piotr Koprotkin (1842-1921), este um dos mais coerentes e respeitados
anarquistas de todos os tempos, William Godwin, mesmo sem batizar
assim o seu modo de pensar, foi um pioneiro do pensamento político-
social anarquista, ainda que o pensador britânico fosse um indisfarçável
apreciador da obra do conservador Edmund Burke (1729-1797),
opositor da Revolução Francesa.
(Q¿PDQRVVDEUHYHKLVWyULDGR$QDUTXLVPRFKHJDDRFDORURVR
VpFXOR;,;8PDpSRFDGHLQWHQVDPRELOL]DomRGHWUDEDOKDGRUHVWHyULFRV
SROtWLFRVHSULQFLSDOPHQWHGRVHXÀRUHVFLPHQWRFRPRXPDPLUtDGHGH
ideias e práticas aparentadas ao socialismo libertário. Étienne de La
%RpWLH:LOOLDP*RGZLQHRV¿OyVRIRVLOXPLQLVWDVPDLVHVSHFL¿FDPHQWH
Jean-Jacques Rousseau, com suas concepções de moral, liberdade e
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ANARQUISMO
22
Pyotr Kropotkin
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ANARQUISMO
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de baixo para cima, em que todos seriam ao mesmo tempo proprietários
e trabalhadores – um modo de produção baseado no cooperativismo, ou
PHOKRUQRPXWXDOLVPR9RFrGHYHHVWDUSHQVDQGRPDVRVFRPXQLVWDV
não pregavam o mesmo? Sim, sim e sim. Aliás, em muitos momentos
anarquistas e os pregadores do socialismo/ comunismo estabeleceram
alianças. Segundo o sociólogo Renato Cancian, em artigo para o Portal
UOL, “a crítica da propriedade privada e do Estado burguês feita
pelos ideólogos anarquistas resultou no desenvolvimento do trabalho
de conscientização e mobilização das massas proletárias (ou seja, o
operariado). Em muitos aspectos, a ideologia anarquista se assemelhava
à ideologia socialista - principalmente no tocante a luta de classes,
a defesa das classes oprimidas, a crítica da propriedade privada, da
sociedade e do Estado burguês. Por conta disso, durante décadas os
anarquistas e os comunistas se aliaram na organização dos movimentos
revolucionários.” (2007, s/p).
O ponto da discórdia entre os grupos estava na estratégia a ser
DGRWDGD ± RV DQDUTXLVWDV HQWHQGLDP TXH R VRFLDOLVPR FLHQWt¿FR R
marxismo, seguido pelo marxismo-leninismo – centralizava demais as
ações na estrutura hierarquizada do Partido e possuía etapas que no
¿QDOGDVFRQWDVGHVYLUWXDULDDFDXVDHWUDQVIRUPDUVHLDHPXPPRQVWUR
tirânico. Bem...Não dá para dizer que eles não tinham razão, não é? O
VRFLDOLVPRUHDOGRVpFXOR;;QDXIUDJRXQDEXURFUDFLDQRDXWRULWDULVPR
e na repressão, de Stalin a Mao, de Ceaucescu a Pol Pot. Ex-adepta do
bolchevismo, a anarquista lituana Emma Goldman (1869-1940), logo
após a Revolução Russa de 1917, diante do calor dos fatos, já denunciava
o (des) caminho dos bolcheviques rumo a um regime autoritário e
burocratizado. Bakunin tinha opinião similar. E ela tinha respaldo para
criticar: a ativista foi perseguida, presa, deportada, mas mesmo assim
seguiu com suas convicções de apoio aos trabalhadores e desvalidos até
os últimos anos de vida, quando participou, já sexagenária, da Guerra
Civil Espanhola, entre 1936 e 1939, lado a lado com os militantes
anarquistas. Goldman teve ainda papel de honra na luta feminista.
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ANARQUISMO
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James Guillaume
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ANARQUISMO
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1901) e, até certo ponto, de Hubert Lagardelle (1874-1958) – este último
passou gradualmente para a direita de linhagem conservadora até tornar-
se, por ironia do destino, em um dos principais integrantes do regime
FRODERUDFLRQLVWDGH9LFK\JRYHUQRDGPLQLVWUDGRGHIDFWRSRU$GROI
Hitler durante a ocupação da Alemanha nazista ao território francês de
1940 a 1944. A virada ideológica de Lagardelle, porém, não pode ser
tomada como exemplo daquilo que se sucedeu nas primeiras décadas do
VpFXOR;;(QWUHRVGLDVHGHDJRVWRGHSRUH[HPSORRFRUUHX
em Amsterdam, na Holanda, o Congresso Internacional Anarquista,
com a presença das delegações de catorze países e a participação de
Emma Goldman e Errico Malatesta, em que discutiu-se muito qual
seria o papel dos sindicatos no engajamento libertário. Malatesta não
FRQ¿DYD WRWDOPHQWH QD FDSDFLGDGH GRV VLQGLFDWRV GH SURPRYHU Do}HV
revolucionárias. Novamente, o dissenso deu as cartas e várias arestas
não foram aparadas. De todo modo, o anarcossindicalismo chegou, via
imigrantes espanhóis e italianos, aos países da América Latina.
Dez anos após o Congresso de Amsterdam, os anarquistas,
¿HLV DRV VHXV SULQFtSLRV DQWLLPSHULDOLVWDV EDWDOKDUDP QDV PHVPDV
WULQFKHLUDV GRV EROFKHYLTXHV OLGHUDGRV SRU 9ODGLPLU /HQLQ
1924), contra o czarismo e em favor de operários e camponeses. Eles
GHVFRQ¿DYDPGRVFRPXQLVWDVPDVGHQWURGDTXHOHFRQWH[WRHUDSUHFLVR
escolher um lado. A triunfante Revolução Russa de 1917 teve duas fases
bem distintas. A primeira, em fevereiro, derrubou o czar Nicolau II
(1868-1918). Parecia alvissareira. Em outubro daquele ano, porém, os
partidários de Lenin deram um golpe de Estado no Governo Provisório
e assumiram o poder, com seus ideias centralistas. A democracia direta
H DXWRQRPLD GRV WUDEDOKDGRUHV ¿FDUDP QD XWRSLD 6HJXLXVH HQWmR D
Guerra Civil Russa, entre 1918 e 1922, em um período complicado – a
Primeira Guerra Mundial [1914-1918] ainda fumegava, com seu rastro
GHGHVWUXLomRHPLOKDUHVGHPRUWHV$FRQÀDJUDomRHQWUHRMiSRGHURVR
([pUFLWR 9HUPHOKR EROFKHYLTXH H DV PLOtFLDV DQDUTXLVWDV ([pUFLWR
Negro) e contou com a participação de czaristas saudosos (Exército
%UDQFRHQDFLRQDOLVWDV([pUFLWR9HUGH
Presos, torturados, perseguidos e expulsos pelos bolcheviques
hegemônicos, os anarquistas contrários aos desmandos do grupo de
Lenin rumaram para a Ucrânia, onde, no denominado Território Livre,
tentaram organizar as forças de resistência. Nascido em território hoje
pertencente à Ucrânia, o anarco-comunista Nestor Makhno (1888-1934)
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Antonio Gramsci
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ANARQUISMO
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se de táticas do anarquismo cristão para a sua causa, ainda que fosse
considerado um moderado. Dentro da tradição do anarquismo cristão,
dois nomes de peso são o escritor Leon Tolstói (1828-1910), escritor de
obras-primas como Guerra e paz (1865-1869) e Ana Karenina (1875-
1877), e Henri-David Thoureau (1817-1862), simplesmente o autor de
A desobediência civil (1849), leitura de cabeceira de Luther King e
Mahatma Gandhi (1869-1948), dois dos seres humanos mais amados
da História. Tolstói rejeitou o quanto pode o rótulo de anarquista, talvez
por conta da (má) reputação contida no rótulo. Entretanto, é inegável
que seus escritos, somados à passagens do Evangelho, servem como
HOHPHQWRVYLWDLVSDUDDUHÀH[mRGHFULVWmRVOLEHUWiULRV2QRUWHDPHULFDQR
7KRXUHDX XP LQFODVVL¿FiYHO SROtWLFR VHJXQGR R SUySULR QDVFHUD HP
berço huguenote, grupo protestante perseguido pelo governo da França.
0HVPRTXHGHVHMDVVH7KRXUHDXQmRWHULDFRPRGHL[DUGHLQÀXHQFLDU
os libertários cristãos. Para saber mais sobre o tema, convém a leitura
GH$QDUTXLVPRHFULVWLDQLVPRGHGR¿OyVRIRHWHyORJRIUDQFrV
Jacques Ellul (1912-1994).
Agora, antes de abordar o ideário dos anarcocapitalistas,
YDPRVSHQVDUXPSRXTXLQKRQDGH¿QLomRGH$QDUTXLVPRWDOFRPRR
formulado pelos teóricos inseridos na conjura pós-revoluções política
e industrial e integrantes (meio indesejável, a bem da verdade) da
Associação Internacional de Trabalhadores. O ódio ao Estado burguês,
ao capitalismo industrial, à propriedade privada, sobretudo dos meios
de produção, uniam cabeças tão diferentes. Já os capitalistas, por serem
em tese liberais, defendem a economia de mercado, a livre concorrência
e a propriedade privada. Então está estabelecido o problema: como
situar os anarquistas vinculados ao capitalismo, ao individualismo e
ao livre-mercado dentro desse conjunto de ideias? Edilene Toledo nos
recorda que Malatesta, no Programa Anarquista (1903), “argumentava
que os anarquista queriam mudar radicalmente o mundo, substituindo o
ódio pelo amor, a concorrência pela solidariedade, a busca exclusiva do
próprio bem-estar pela cooperação, a opressão pela liberdade” (2013,
p.21).
Ok, a confusão está armada, mas vou tentar desfazer este
emaranhado. De início, um ponto de concordância: assim como
os anarquistas cooperativistas, mais próximos da esquerda, os
DQDUFRFDSLWDOLVWDV OLEHUDLV UDGLFDLV FODVVL¿FDGRV j GLUHLWD GHWHVWDP
a instituição do Estado e seus governos, quase sempre corruptos e
33
ANARQUISMO
0DVD¿QDORTXHID]GRFDSLWDOLVWDXOWUDOLEHUDOXPDQDUTXLVWD"
A resposta, a meu ver, está no entendimento do que é o conceito de
liberdade, a base do Anarquismo: para os anarcocapitalistas, as
liberdades individuais passam necessariamente pela livre-expressão,
34
pela oportunidade de empreender, de abrir negócios sem a intervenção
de terceiros, de lucrar sem culpa, tendo a dinâmica do mercado como
fundamento do bem comum.
Murray Rothbard
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ANARQUISMO
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Matarazzo, honrado com o título de conde, construiu no Brasil um
império do capital – a Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (IRFM),
em seu auge, foi o maior complexo industrial da América Latina.
Outros preferiram o caminho da luta antifascista e anarquista. É
o caso de Giovanni Rossi (1856-1943). Nascido em Pisa, anarquista
desde a juventude, Rossi, junto com outras pessoas, chegou em 1890
à região de Palmeiras, Paraná, para tomar posse de terras. Baseada na
agricultura, no saber e nos valores autonomistas, a colônia experimental
&HFtOLD UHEDWL]DGD GH 9LOOD$QDUFKLD DWUDLX XP Q~PHUR UD]RiYHO GH
pessoas: cerca de 300 habitantes. Todavia, de acordo com a historiadora
Helena Isabel Mueller, nem tudo era pão, terra e liberdade na Colônia
Cecília. Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, Helena
0XHOOHU D¿UPD QR DUWLJR ³9LOOD$QDUFKLD´ 5+%1 TXH ³D YLGD QD
FRO{QLD&HFtOLDQmRHUDIiFLO$GL¿FXOGDGHGHFRPXQLFDomROHYRXDXP
isolamento doloroso. Foi complicada a adaptação do plantio ao solo e
ao clima diferentes do europeu: as colheitas mal davam para o sustento
de seus habitantes.” (2013, p. 22). Conforme descreve a historiadora,
parcela dos habitantes sequer partilhava dos ideias de Rossi, pois foram
enviados pelas autoridades locais. Isso provocava discórdias acentuadas.
Em 1892, muitos dos habitantes deixaram a Colônia Cecília e abalaram
de vez suas fontes de subsistência. Além disso, um dos temas libertários,
o amor livre, transformou-se em um tabu, e quando houve casos desse
tipo, prevaleceu o sofrimento, narrado com sinceridade por Giovanni
Rossi. A Colônia Cecília acabou em 1894, mas não os ideais anarquistas.
Em 1989, a Rede Bandeirantes de Televisão exibiu a minissérie Colônia
Cecília, com o ator Paulo Betti no papel de Giovanni Rossi.
Em São Paulo, por exemplo, imigrantes espanhóis e italianos
politizados transmitiam seus conhecimentos sobre socialismo e
anarquismo aos, digamos, “nacionais”, e algumas fábricas tiveram os
SULPHLURVOHYDQWHVMiQDSULPHLUDGpFDGDGRVpFXOR;;$&RQIHGHUDomR
Operária Brasileira de 1906 misturava socialistas e anarquistas –
principalmente anarquistas – e colocou o governo brasileiro, ainda em
IDVHGHVROLGL¿FDomRGD5HS~EOLFDHPHVWDGRGHDOHUWD(PMXOKRGH
GHÀDJURXVH D *UHYH *HUDO TXH DWLQJLX IXQFLRQiULRV GH IiEULFDV H GR
comércio, que padeciam com condições precárias e salários miseráveis.
As demandas anarquistas foram o estopim do confronto entre patrões,
assalariados e o governo. O abalo em São Paulo teve maior magnitude.
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ANARQUISMO
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Clube”, escrita em 2011 por Leonardo Calvano para a revista Carta
Capital, integrantes do time vazeano participam do Movimento pela
Passe Livre (MPL) e na Frente de Luta por Moradia (FLM).
Zélia Gattai
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ANARQUISMO
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e intensas. Eles são alvos de críticas severas, quase sempre amparadas
por frases feitas de quem pouco entende de história e muito conhece de
sensacionalismo. A direita, moderada ou extremista, e a esquerda mais
pragmática também não os veem com bons olhos. É disparo vindo de
qualquer lado.
Combatidos pela polícia, odiado pelos conservadores, temidos
por políticos e detonados pela grande imprensa, os anarquistas de
RULHQWDomRQmRFDSLWDOLVWDVHJXHP¿UPHVHPVHXVRQKRWmREHPGH¿QLGR
pelo poeta catalão Jesus Lizânio, não por acaso a epígrafe deste capítulo:
o sonho de um “mundo real poético”. Um mundo no qual a ordem não
precisará de coerção. Ela será conduzida pelo amor, pela poesia, pela
solidariedade.
41
ANARQUISMO
O
42
Doze pensadores
2
RVFJO҅VFODJBSBNBT
vertentes anarquistas
P
or ser o Anarquismo extremamente multifacetado,
recheado de aberturas para diálogos e disputas,
HODERUDUXPDOLVWDFRPGR]HSHQVDGRUHVLQÀXHQWHV
HP VHXV UHVSHFWLYRV PRYLPHQWRV H WHQGrQFLDV H TXH
satisfaça a todos os seus adeptos, é uma missão impossível
para Tom Cruise não botar defeito. Nesse aspecto, estou
IDGDGR DR IUDFDVVR H FRQVFLHQWH GHVVD LQVX¿FLrQFLD )D]
parte de qualquer eleição. Mas, insistente, procurei aqui
contemplar algumas das melhores cabeças e principais
variações de pensamento libertário, para demonstrar o
caráter de amplitude que sempre caracterizou a Anarquia,
dos socialistas libertários (ou anarquistas socialistas)
aos defensores do anarcocapitalismo (ou libertarismo
anarquista). O ideal é ao menos apresentar um painel
representativo com autores queridos por uns, detestados por
RXWURVPDVFRPREUDVHDo}HVVX¿FLHQWHPHQWHFRQVLVWHQWHV
SDUD HQWUDU QR URO GH LQÀXrQFLDV LQFRQWHVWiYHLV 1HP
WRGRVFRPRYRFrVOHLWRUHVSHUFHEHUmRVHDXWRGHFODUDULDP
anarquistas, embora seus livros e posturas como ativistas
e intelectuais públicos sejam profundamente inspiradores
para aqueles que brigam contra toda forma de poder.
43
ANARQUISMO
Albert Camus
'H DFRUGR FRP RV ULJRUHV GH KLVWyULD GDV LGHLDV R ¿OyVRIR
escritor, dramaturgo e militante político franco-argelino Albert Camus
(1913-1960) não poderia ser descrito como um anarquista. Mas o autor
de livros como O estrangeiro, O mito de Sísifo (os dois de 1942) e
2 +RPHP UHYROWDGR QmR GHYH MDPDLV ¿FDU GH IRUD GHVVD H
honestamente, de qualquer lista de grandes pensadores. Ele está, sim,
em qualquer biblioteca de inspiradores do Anarquismo no século
;; SRLV &DPXV p R VtPEROR GD FRUUHQWH ¿ORVy¿FD GR $EVXUGLVPR
uma síntese do Niilismo e do Existencialismo que toca em cheio nas
feridas da humanidade e nas contradições da sociedade burguesa. Sua
excepcional contribuição para a literatura rendeu-lhe o Prêmio Nobel
GHQmRUHFXVDGRGLIHUHQWHPHQWHGDDWLWXGHSRVWHULRUGR¿OyVRIRH
dramaturgo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980). Eles seriam amigos
DWpTXDQGRDÀRUDUDPDVGLYHUJrQFLDVHVWpWLFDVHSROtWLFDV
Goleiro do Racing de Argel, um bom time argelino da época,
Albert Camus precisou encurtar sua carreira futebolística aos 17 anos,
em função de uma tuberculose. Camus entregou-se, então, de corpo e
alma aos livros e à atuação política. Defendeu sua tese de doutorado
sobre Santo Agostinho. Mas, além dos livros e de sua dramaturgia, que
fazia questão de apresentar aos trabalhadores, Camus esteve envolvido
nas causas nobres de seu tempo: a Resistência Francesa contra a invasão
nazista e a luta pela descolonização da Argélia, então dominada pela
)UDQoDR¿OyVRIRHURPDQFLVWDPRUUHXGRLVDQRVDQWHVGDLQGHSHQGrQFLD
daquele país). Albert Camus defendia a autodeterminação dos povos,
mas sob a forma constitutiva do Estado, o que não casa bem com os
princípios anarquistas. Mas esta era um urgência contra o fascismo
e o autoritarismo, e lutar contra ambos é ter o espírito de um bom
combatente libertário. Por suas severas críticas ao stalinismo, Camus
sofreu represálias e alguns creditam sua morte a uma sabotagem.
44
Noam Chomsky
Pierre Clastres
Paul Feyerabend
46
no front oriental em 1943 e chegou a receber a condecoração Cruz de
Ferro. Tornou-se tenente, mas o maior – e mais doloroso – legado da
Segunda Guerra foram os tiros que levou, que o deixaram pelo resto
da vida apoiado em uma bengala. Há uma polêmica sobre a adesão
voluntária de Paul Feyerabend ao exército hitlerista. Seria ele, naqueles
tempos, um jovem inclinado ao nazismo? A resposta segue em aberto.
3DXO)H\HUDEHQGOHFLRQRX)LORVR¿DGD&LrQFLDVHPSUHFRPXPD
postura de combate aos modelos vigentes, nas universidades de Bristol,
Sussex, Londres e Berlim. Realizou pesquisas na London School of
Economics e, em 1958, quando foi convidado a integrar os quadros de
Berkeley, recebeu a cidadania norte-americana. Nos anos 1970, proferiu
aulas na universidade de Auckland, na Austrália. Faleceu vitimado por
um tumor no cérebro
Michel Foucault
47
ANARQUISMO
Roberto Freire
48
Albert Camus Noam Chomsky
49
ANARQUISMO
“Menos Marx, mais Mises”. Este tem sido um dos slogans dos
grupos adeptos do livre-mercado que, em manifestações pelo Brasil,
lutam pela saída da presidenta Dilma Rousseff, e do Partido dos
Trabalhadores, do Palácio do Planalto em Brasília. Em que pese o
erro de avaliação – O PT não pratica a política e o sistema econômico
proposto por Karl Marx e continua inserido na economia de mercado,
DSHVDU GD FULVH JUDYtVVLPD ± D ¿JXUD GR HFRQRPLVWD DXVWURK~QJDUR
Ludwig Heinrich Edler von Mises (1881-1973) é cultuada pelos liberais
UDGLFDLV6XDWHRULDGDDomRKXPDQDHLQÀXrQFLDVREUHDFRUUHQWHGR
Libertarianismo, sugerem que o expoente da Escola Austríaca tem
muitos seguidores – e não só no Brasil.
'RXWRU HP (FRQRPLD H SURIHVVRU QD 8QLYHUVLGDGH GH 9LHQD
partiu para os Estados Unidos em 1940 e, com o apoio da Fundação
Rockefeller, desenvolveu pesquisas e teorias respeitadíssimas. Apesar
de ser acusado de colaborar para regimes fascistas, Mises era de origem
judaica e temia pelo seu futuro na Áustria sob ocupação nazista. Ludwig
von Mises é venerado por quase a totalidade de anarcocapitalistas,
HPERUD HVVD FODVVL¿FDomR VHMD VLPSOLVWD SDUD GH¿QLOR &RP R OHPD
Liberdade, Propriedade e Paz, o site do Instituto Ludwig von Mises
Brasil tem o seguinte endereço: http://www.mises.org.br/
Friedrich W. Nietzsche
50
escritos para que ele seja reverenciado – por vezes odiado – a ponto de
VHWRUQDUXPtFRQHGDFXOWXUDSRSFRPUHÀH[RVQRFLQHPDQDVKLVWyULDV
em quadrinhos, nas artes plásticas, na literatura e na música. Sobre a
música, em especial, será que ele, que chegou a idolatrar o compositor
e ensaísta Richard Wagner (1813-1883), aprovaria as bandas punk e
heavy metal com temáticas nietzschianas? Deixo a questão para vocês
debaterem com os amigos.
9iULRVGHVHXVDIRULVPRVHRSLQL}HVFDVDPEHPFRPRHVStULWR
GR $QDUTXLVPR 3DUD TXHP GXYLGD VHJXH XPD ELEOLRJUD¿D EiVLFD
que não pode faltar em nenhuma estante anárquica: O anticristo, A
gaia ciência, Para além do bem e do mal e Genealogia da Moral. Já
Assim falou Zaratustra gera dúvida a esse respeito. Para sintetizar, seu
niilismo destruidor e reconstrutor, sua concepção de transvaloração dos
valores, defesa do individualismo, da expressividade artística e seus
disparos contra a religião, o modelo civilizacional do Ocidente europeu,
o sistema prussiano de educação e mesmo as formas existentes de
governo possuem dimensões de análise que contribuem, e não pouco,
para a discussão.
Ayn Rand
51
ANARQUISMO
HFRQRPLVWDVHSUR¿VVLRQDLVOLJDGRVDRFDSLWDO¿QDQFHLUR3UHVLGHQWHGR
Federal Reserve dos EUA entre 1987 e 2006, Alan Greenspan era um
OHLWRUHGLVFtSXORGD¿OyVRID
Murray Rothbard
2HFRQRPLVWDH¿OyVRIR0XUUD\1HZWRQ5RWKEDUGpUHYHUHQFLDGR
pelos adeptos do livre-mercado como um dos grandes nomes do
/LEHUWDULDQLVPR¿ORVR¿DSROtWLFDGHGHIHVDGDOLEHUGDGHLQGLYLGXDOH
da propriedade privada) e um dos formuladores do moderno conceito
de anarcocapitalismo. Ligado ao pensamento econômico da Escola
Austríaca, Murray Rothbard nasceu na região do Bronx, em Nova York,
em março de 1926. Graduou-se em Matemática, com mestrado em Artes
HR3K'HP)LORVR¿DH(FRQRPLDSHOD8QLYHUVLGDGHGH&ROXPELD
Rothbard lecionou no Instituto Politécnico da Universidade de
Nova York e na Universidade de Nevada. Publicou, em 1962, Man,
economy and state (Homem, economia e estado), provavelmente sua
obra mais comentada. Rothbard criou em 1976 o Centro de Estudos
Libertários e, no ano seguinte, o Jornal de Estudos Libertários. Em
1982, contribuiu para a fundação do Instituto Ludwig von Mises, do
qual seria vice-presidente acadêmico. Murray N. Rothbard faleceu em
1995. Entre suas obras publicadas no Brasil estão A anatomia do estado,
A grande depressão americana, Esquerda e direita – perspectivas para a
liberdade, Governo e mercado e A ética da liberdade.
Victor Serge
52
Discórdias com o editor marcaram sua saída do jornal. Por sua ligação
com o libertário Bando Bonnot, foi condenado a cinco anos de prisão,
cumpridas justamente no início da Primeira Guerra Mundial. Libertado
em 1915, foi para a Catalunha e, posteriormente, aderiu à Revolução
EROFKHYLTXH HP DSyV VHU PDQWLGR VRE D VXVSHLWD ± MXVWL¿FiYHO
diga-se de passagem – de ser um potencial anti-bolchevique.
9LFWRU6HUJHLQVWDODGRQD5~VVLDSyVUHYROXFLRQiULDSDUWLFLSRX
de núcleos intelectuais. Ele gostava de Lenin, e nunca deixou de
respeitá-lo, mas não poupava críticas às suas medidas. Quando Josef
6WDOLQDVVXPLXRSRGHUGD85669LFWRU6HUJHWRUQRXVHXPGHFODUDGR
membro da oposição liderada por Leon Trotsky (1879-1940) e não
KHVLWRXHPTXDOL¿FDURVWDOLQLVPRGHWRWDOLWiULR3HUVHJXLGRHH[SXOVR
GR3DUWLGR&RPXQLVWDDJUHPLDomRHPTXHVH¿OLRXSRUSUDJPDWLVPRH
pela qual nunca alimentou grandes expectativas, rumou para a França
e, com a invasão do exército nazista, partiu para o México, já com a
saúde debilitada. Escreveu romances e livros de memórias, entre eles
Memórias de um revolucionário, e faleceu em terras mexicanas, em
novembro de 1947, fulminado por um ataque cardíaco.
Mauricio Tragtenberg
53
ANARQUISMO
54
/XGZLJYRQ0LVHV Friedrich W. Nietzsche
55
ANARQUISMO
56
As armadilhas
3
autoritárias
N
RLQtFLRGDJUDGXDomRRVHVWXGDQWHVGH&LrQFLDV
Sociais são apresentados aos princípios
reguladores da sociedade moderna – moderna
no sentido sociológico do termo. De acordo com Émile
Durkheim, autor de As regras do método sociológico
(1895), um ato individual é, no limite, efeito causado pelo
social - e desvios de atitude provocam impactos em sua
coesão. Essa era a procura durkheimiana pelas chamadas
DQRPLDV SUHVHQWHV QR FRUSR GD VRFLHGDGH XPD ¿JXUD
GH OLQJXDJHP H[WUDtGD GD iUHD GDV FLrQFLDV QDWXUDLV
VREUHWXGR GD ¿VLRORJLD WmR SUySULD D VXD WHQWDWLYD GH
YDOLGDUHLQVWLWXFLRQDOL]DUD6RFLRORJLDFRPRXPDFLrQFLD
QR¿QDOGRVpFXORWHPSRVGRQDWXUDOLVWD&KDUOHV'DUZLQ
e seu impactante A origem das espécies (1859). Depois, os
calouros aprendem com a obra de Max Weber que o poder
se exerce baseado em instrumentos como o monopólio
GD YLROrQFLD OHJtWLPD XP GRV HOHPHQWRVFKDYH GD RUGHP
institucional.
57
ANARQUISMO
58
presentes também nas artes. Na literatura, é notório o pesadelo distópico
do livro 1984, de George Orwell. Publicado em 1949, o romance estava
em sintonia com as preocupações do pós-Segunda Guerra Mundial,
mas foi “profético”. O “Big Brother” orwelliano terminou apropriado
e carnavalizado pela televisão em programas como o reality show
homônimo da produtora holandesa Endemol, realizado no Brasil
pela Rede Globo. Eis o sintoma para um diagnóstico foucaultiano: a
vigilância tornou-se um espetáculo. Nos acostumamos ao panóptico.
O que o filósofo, cineasta, escritor e agitador Guy Debord pensaria das
nossas “inocentes” espiadinhas?
59
ANARQUISMO
Sobre a Stasilândia
60
DVUiGLRVH79HVWDWDLVGLIXQGLDPXPDYLVmRJORULRVDHWULXQIDOLVWDGD
RDA. Funder entrevistou a um desses propagandistas: o jornalista K.
(9RQ6FKQLW]OHUDSUHVHQWDGRUGR'HU6FKZDU]H.DQDO1RFDStWXOR
GHGLFDGRD9RQ6FKQLDDXWRUDUHFRUGDTXHQDpSRFDGDFRQYHUVDDQRV
D79 DOHPm H[LELD D YHUVmR ORFDO GR %LJ %URWKHU (OD ILFRX D
imaginar, com a ironia divertida característica de sua prosa, “se herr
9RQ 6FKQLW]OHU VH RIHQGHX FRP RV HFRV RUZHOOLDQRV GR SURJUDPD RX
apenas com a imbecilidade generalizada que nele impera”.
Anna Funder mergulha em sua pesquisa durante a crise no processo
de reunificação da Alemanha - e ainda são abissais as discrepâncias
entre “oriente” e “ocidente”. Moradora do trecho oriental, a jornalista
encontrou prédios sisudos e “palácios de linóleo” da época comunista
e seu olhar peca pela visão negativa e pré-concebida daquele mundo
em ruínas. Em instante algum ela faz um esforço de reflexão crítica
acerca da sociedade de controle, não cogita a hipótese de ela vigorar
em ambiente democrático, e trata tudo em termos dicotômicos, com
vantagem evidente para o bloco capitalista. No entanto, esta é apenas
uma ressalva que não pretende apagar a crueldade do estado alemão
oriental. A indignação e o horror são constatados nos episódios de
perseguição, interrogatório, tortura e paranoia coletiva de Stasilândia.
Ao folhear o livro e assistir ao filme A vida dos outros de Florian
Henckel von Donnersmarck (2006), obtemos informações suficientes
para não querer ter padecido naquele inferno.
O painel humano de Stasilândia, com seus traumas e rancores, nos
alerta para o terror de essência totalitária vivida, no caso específico, pelos
alemães orientais no período da Guerra Fria, embora, em suas lacunas
discursivas, renegue as opressões veladas do cotidiano aparentemente
tranquilo da democracia liberal. Serviços secretos, sistemas de vigilância
e códigos disciplinares vigoram nas sociedades. E a história nos conta
que o apelo à repressão pode estar sorrateiramente ao nosso lado. “As
ideologias são liberdades enquanto se fazem, opressão quando estão
feitas”, nos dizia Sartre. Sendo assim, é preciso estar atento para driblar
as armadilhas autoritárias escondidas no caminho da história.
61
ANARQUISMO
O
62
4
Biblioteca Anarquista
S
ão cem livros para começar sua coleção. A variedade
é bem bacana: obras de iniciação, ensaios densos,
URPDQFHV ELRJUD¿DV KLVWyULDV VREUH SXQN URFN H
estética e, principalmente, os livros-chaves de Bakunin,
Proudhon, Stirner, Rand e Malatesta, para quem pretende
compreender o Anarquismo e suas variantes. Há desde
autores consagrados até jovens pesquisadores com teses
UHFpPVDtGDVGRIRUQRHGLWRULDO$VDXVrQFLDVLQHYLWiYHLV
devem-se ao limite de páginas dedicadas a este capítulo.
No entanto, recomendo com entusiasmo que sejam
providenciadas buscas em livrarias, sebos e na internet
SRU REUDV GH TXDOLGDGH TXH ¿FDUDP GH IRUD 0RELOL]H RV
recursos que possuir e leia, leia, leia, leia muito, tome
QRWDVJULIHSDVVDJHQV$¿QDODVIDFXOGDGHVGHSHQVDUHR
agir estão interligadas
63
ANARQUISMO
64
TÍTULO AUTOR EDITORA
História das ideias e George Woodcock L&PM
movimentos anarquistas,
vol. 1 e 2.
Agora e depois: O ABC do Alexander Berkman Circula em traduções
Anarquismo Comunista independentes.
Curso livre de abolicionismo Edson Passetti (org.) Revan
penal
Guerra e política nas Thiago Rodrigues Educ
relações internacionais
Diálogo imaginário entre Maurice Cranston Hedra
Marx e Bakunin
Os rebeldes – Geração Beat Claudio Willer L&PM Editores
e Anarquismo Místico
Anarquismo – crítica e Murray Bookchin Hedra
autocrítica
Anarquismo literário Eugênio Giovenardi Kiron
História do anarquismo no Daniel Aarão Reis e Mauad
Brasil Rafael Borges Deminicis
(orgs)
Primeiras lutas operárias no João Batista Marçal Unidade literária
Rio Grande do Sul
Justiça restaurativa e Daniel Achuti Saraiva
Abolicionismo penal
Um amor anarquista Miguel Sanches Neto Record
(romance)
O banqueiro anarquista Fernando Pessoa Várias editoras
(ficção)
Corpos anárquicos Francisco Silva Cavalcanti CRV
Jr. (org.)
Cinema e anarquia Isabelle Marinone Azougue
A educação libertária Carmen Sylvia Vidigal UNIFESP
no Brasil. Acervo João Moraes (org.)
Penteado: Inventário de
fontes.
Deus e o Estado Mikhail Bakunin Hedra
O indivíduo, a sociedade e o Emma Goldman Hedra
Estado, e outros ensaios
Teoria e ação libertárias Mauricio Tragtenberg, com Unesp
organização de Evaldo
Vieira.
65
ANARQUISMO
66
TÍTULO AUTOR EDITORA
Políticas de libertação Stephen Schecter Sementeira
urbana
Sobre a liberdade John Stuart Mill Hedra
Vigiar e punir Michel Foucault Vozes
Manicômios, prisões e Erving Goffman Perspectiva
conventos
Anarquismo, Estado e Wlaumir Doniseti de Souza Unesp
Pastoral do Imigrante
Anarquismo e Giuseppina Sferra Ática
Anarcossindicalismo
O sonho libertário Cristina Hebling Campos Pontes
Por uma nova liberdade – O Murray N. Rothbard Instituto Ludwig von Mises
manifesto libertário
Discurso sobre a Servidão Étienne de la Boétie Antígona
Voluntária
Watchmen Alan Moore Panini Livros
O homem e a terra Élisée Reclus Expressão e Arte
V de Vingança Alan Moore; David Lloyd Panini Livros
O mito de Sísifo Albert Camus Record
Além do Bem e do Mal Friedrich W. Nietzsche Companhia de Bolso
Estamos vencendo! – Pablo Ortellado e André Conrad
Resistência global no Ryoki
planeta.
Gargantua e Pantagruel François Rabelais Itatiaia
Negras Tormentas Alexandre Samis Hedra
Os sovietes traídos pelos Rudolf Rocker Hedra
bolcheviques
Anarquia pela Educação Élisée Reclus Hedra
O homem revoltado Albert Camus Record
O anticristo Friedrich W. Nietzsche L&PM
Ética Libertária – a novela Ivan Rodrigues Martin Revolução E-Book
ideal e a propaganda
anarquista na Guerra Civil
Espanhola
Minha anarquia social Vinícius Ricardo do Clube dos Autores
Nascimento
Cypherpunks: liberdade e o Julian Assange Boitempo Editorial
futuro da internet
67
ANARQUISMO
68
69
ANARQUISMO
O
70
5
0O[F҄MNFTQBSB
entender o Anarquismo
E
u e esse meu fascínio por compilações! Estou
pedindo para ser bombardeado com mensagens
GH OHLWRUHV UHODWDQGR DXVrQFLDV ³LQGHVFXOSiYHLV´
RX TXHVWLRQDQGR HVFROKDV ³ULVtYHLV´ 0DV SRU IDYRU
antes de apontar o dedo em denúncia, sejamos francos: na
medida em que o Anarquismo pressupõe espaços para a
liberdade de opinião, ainda que nossas supostas liberdades
não tenham rompido (ainda) com as grades de um certo
número possível de escolhas oferecidas pela ordem vigente,
¿]RPHOKRUTXHPHXVFRQKHFLPHQWRVHPFLQHPDVHMDQDV
FDWHJRULDVGH¿FomRRXGRFXPHQWiULRSHUPLWLUDP$PRD
6pWLPD$UWH(HXVHLTXHYRFrVDGRUDPWDPEpP3RULVVR
a conversa aqui está em aberto; aceito sugestões para as
eventuais próximas edições deste livro. No entanto, acredito
TXH RV ¿OPHV VHOHFLRQDGRV SRVVXHP UHSUHVHQWDWLYLGDGH H
merecem ser vistos, revistos, admirados e contestados.
71
ANARQUISMO
72
73
ANARQUISMO
)DOHFLGR HP GH PDUoR GH SRXFRV GLDV DSyV ¿QDOL]DU R
WHQVR ¿OPH 'H ROKRV EHP IHFKDGRV R FLQHDVWD URWHLULVWD H SURGXWRU
Stanley Kubrick (Nova York, 26 de julho de 1928), um garoto do Bronx,
dirigiu uma coleção de clássicos do cinema, respeitados por críticos e
DGRUDGRVSHORVHXS~EOLFR'RVR¿FLDLVWUH]HORQJDPHWUDJHQVFRPVXD
assinatura, pelo menos dez deles entrariam facilmente em uma eleição
GH FHP PHOKRUHV ¿OPHV GD KLVWyULD 1R HQWDQWR DSHVDU GH DOJXPDV
indicações, Kubrick jamais recebeu uma estatueta do Oscar, um Globo
GH2XURRXSUrPLRVQRVIHVWLYDLVGH%HUOLP&DQQHVH9HQH]DRVWUrV
de maior relevância do circuito europeu. Para não dizer que morreu de
PmRVYD]LDVJDQKRXXP/HmRGH2XURKRQRUiULRHP9HQH]D
Conhecido pelo estilo exigente e metódico, o cineasta Stanley
Kubrick, cerca de três anos após lançar 2001: uma odisseia no Espaço,
aventurou-se a adaptar para a telona o romance distópico e satírico
A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), publicado em 1962 pelo
escritor e compositor britânico Anthony Burgess (1917-1993). O livro
de Burgess, com seu anti-heroísmo, iconoclastia e linguagem baseada
em gírias mescladas do russo e do inglês, constituiu-se desde o princípio
como uma das leituras de cabeceira para anarquistas e defensores do
livre-arbítrio – mesmo que seja para contestar os argumentos de Burgess
±DLQGDTXHVHWUDWHGHXPDREUDGH¿FomR$PLVVmRGH.XEULFNHUD
LQJOyULD7UDQVIRUPDUR¿OPHWmRFXOWXDGRTXDQWRRURPDQFH$FKRTXH
ele conseguiu. Concorda?
Ao contrário do olhar amoroso e de resistência político-social –
YLVWRSRUH[HPSORQR¿OPH$)HEUHGRUDWRUHVHQKDGRQHVWHFDStWXOR
–, Laranja Mecânica esbanja sociopatia, doses de moloko, um leite
encobrindo o coquetel de entorpecentes, a experimentação, a violência
extremada, com espancamentos e estupros, de modo que nem sempre
OLYURH¿OPHVmREHPUHFHELGRVHQWUHRVFROHWLYRVDQDUTXLVWDVDGHVSHLWR
da mensagem de ódio ao sistema de leis, ao Estado e à civilização,
com suas normas e regras. Alex DeLarge, interpretado por Malcolm
McDowell, o líder da gangue, amante de música erudita, é um símbolo
GDFRQWUDFXOWXUDHWHVWDQRVVRVOLPLWHVGHWROHUkQFLD0DV¿FDDG~YLGD
dilacerante: anarquismo sob liderança despótica? Eis o problema. Isso
é bem esquisito. Anarquista ou fascista? De todo modo, as técnicas
74
³FLHQWt¿FDV´GHUHDELOLWDomR7pFQLFD/XGRYLFRDVHUYLoRGDSROtWLFD
H GD RUGHP FRQIHUHP R WRP FUtWLFR DR ¿OPH GH .XEULFN 2 URWHLUR
FLQHPDWRJUi¿FRVHJXHDHGLomRQRUWHDPHULFDQDGRURPDQFHGH%XUJHVV
e esse é um ponto de controvérsia, pois no original de Burgess existe
uma espécie de capítulo contendo certa redenção moral – o romancista
britânico era, acredite se quiser, um cristão – e Stanley Kubrick preferiu
VHJXLUDYHUVmRGDHGLWRUDGRV(8$+RXYHDWpR¿PHVWUDQKDPHQWRV
entre o diretor e o escritor. A edição brasileira do livro, desde a sua
primeira tradução, segue a estrutura original de Anthony Burgess.
A curiosidade: na Copa do Mundo de 1974, a seleção de futebol
da Holanda, comandada pelo engenhoso técnico Rinus Michels (1928-
2005) e pelo supercraque Johan Cruyff, depois treinador do “Dream
Team” do Barcelona no início dos anos 1990, recebeu o apelido de Laranja
Mecânica por seu estilo moderno, vibrante, dinâmico e revolucionário.
O estilo de vida anticonvencional, e de inteligência acima da média, de
alguns dos atletas da seleção da camisa laranja ajudava a compor essa
imagem. Para completar, uma banda de eletropop britânica tem o nome
de Moloko, homenagem à bebida maluca ingerida por DeLarge & cia.
75
ANARQUISMO
76
Randle ao descobrir que muitos pacientes estão lá por conta própria, ou
então tem o aval para saírem quando desejarem, sintetiza, em um ritmo
conduzido com maestria por Forman, as teorias foucaultianas sobre o
poder e os corpos dóceis.
3UHVHQoD FHUWD HP HOHLo}HV GH PHOKRUHV ¿OPHV GD KLVWyULD 8P
estranho no ninho recebeu cinco estatuetas do Oscar: Melhor Filme,
Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Atriz (Louise
Fletcher) e Melhor Ator (Jack Nicholson, a primeira de suas três
conquistas). A obra-prima de Forman foi nada mais, nada menos, do
que laureada nas cinco principais categorias.
77
ANARQUISMO
78
79
ANARQUISMO
80
quatro estatuetas do Oscar-2000, todas em categorias técnicas, que
disputou (Efeitos Especiais, Edição de Som, Mixagem de Som e
(GLomR1DTXHOHDQRR¿OPHWULXQIDQWHIRL%HOH]D$PHULFDQDGH6DP
Mendes, estrelado por Kevin Spacey, astro da série House of Cards, do
1HWÀL[
81
ANARQUISMO
V de Vingança (2005)
82
de junho de 2013, cujo estopim foi o aumento das passagens de ônibus,
mas que escapou ao controle. Máscaras de Fawkes eram vistas por
toda a parte. E cada um fez a sua leitura desse conjunto de elementos.
Liberais-conservadores viram ali a oportunidade de combater o governo
e o poderio do Estado, mas com um viés de direita e em defesa do
livre-mercado e dos “cidadãos de bem” – tal como um Fawkes cristão
renovado –, enquanto os anarquistas com inclinações mais à esquerda
DFUHGLWDP TXH9 GH9LQJDQoD UHSUHVHQWD D VXEYHUVmR R FDRV D QRYD
ordem, táticas e estratégicas contra o Estado e os endinheirados. Trata-
VH GH XP ¿OPH SDUD VHU YLVWR UHYLVWD DQDOLVDGR FULWLFDGR HORJLDGR
pensado.
83
ANARQUISMO
84
TXHLUDPRXQmR3LHUUHGDEDQGD&yOHUDGH¿QLXEHPRTXHVLJQL¿FDYD
ser punk ao esclarecer que eles não protestavam apenas contra a ordem
vigente, mas também contra a música que tocava nas rádios e ainda
aquela que era considerada erudita ou elitista. E eles tinham horror ao
URFNSURJUHVVLYR2SXQNEUDVLOHLURHUDXPUXtGRVRQRURGHVD¿DQGRD
letargia do cotidiano.
85
ANARQUISMO
86
mas não deixa de ser uma interessante forma de pensar a respeito das
barreiras físicas, simbólicas e morais que nos limitariam. Elas aparecem
no Dia da Independência, quando o grupo de amigos liderados por Zizo
– Como assim? Um anarquista carismático? Um Antonio Conselheiro
HQWRUSHFLGR" 4XHP p D¿QDO =L]R" ± VDL SHODV UXDV FRP EDQGHLUDV
panelas e buzinaços pedindo anarquia e sexo em meio ao sóbrio e
PRGRUUHQWRGHV¿OHPLOLWDUeRFDRVLQWHUIHULQGRQDRUGHPSDUDSHGLU
uma nova ordem/ desordem. E o direito de errar. E de sentir a “febre do
rato”.
87
ANARQUISMO
$PHQVDJHPQRVVXFLQWRVFUpGLWRV¿QDLVpHORTXHQWH³'LYXOJXH
o anarquismo!”. Por isso, o documentário Entendendo o anarquismo,
possui licença livre para compartilhamento e está espalhado no YouTube,
de maneira integral ou dividido em parte, e também em blogs e sites de
coletivos. A data do lançamento do vídeo é um tanto impreciso, mas pela
pesquisa realizada chega-se à conclusão que suas primeiras exibições, ou
melhor, compartilhamentos, são de 2011. A obra, bastante didática nas
palavras, mas com um ritmo lento e estética algo metafórica, tem como
crédito de produção “Documentarioz”, provavelmente um coletivo ou
união de coletivos anarquistas. O documentário é composto por uma
trilha sonora, imagens da natureza e textos legendados explicando as
origens, as bandeiras e os principais alicerces teóricos do movimento,
com evidente ênfase à linhagem do, por assim dizer, anarquismo de
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centrais como Bakunin, Proudhon e Malatesta.
Entendendo o anarquismo é curioso porque se trata de uma obra
extremamente elucidativa e, ao mesmo tempo, possui uma cadência que
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bem escrito e informativo, mas a sequencia de imagens e a trilha sonora
poderiam facilmente servir como soníferos. Por isso, é preciso ter
disposição – e um bom copo de café – para encarar os quase 59 minutos
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tem tudo a ver com uma contestação à forma predominante nas obras
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que precisa de gracejos, velocidade, sacadas rápidas e outros truques
para prender a atenção. Em Entendendo o anarquismo, a palavra tem
função essencial, embora os outros elementos não sejam aleatórios.
Para quem tem interesse, a trilha sonora é Shamanic Dreams,
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propriedades relaxantes. É um convite à meditação. O artista nascido
na Alemanha Anugama possui um álbum com este título, lançado
em 2000. As imagens da natureza são do documentário Natures Half
Acre, de 1951, dirigido por James Algar (1912-1998) e produzido
por Walt Disney (1901-1966), vencedor do Oscar em sua categoria. A
versão completa do documentário Entendendo o anarquismo pode ser
encontrada neste link: https://youtu.be/5QO5YdPc03M.
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ANARQUISMO
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Anarquismo na Internet
Sites e blogs
$QDUTXLVPR±$)LORVR¿DKWWSD¿ORVR¿DQRVDSRSW$QDUTXLVPRKWP
Cultura y Anarquismo: http://culturayanarquismo.blogspot.com.br/
(Espanhol)
Opinião Anarquista: http://opiniaoanarquista.blogspot.com.br/
Coletivo Anarquista Bandeira Negra: http://www.cabn.libertar.org/
Autônomos e Autonomistas FC http://www.autonomosfc.com.br/
Grupo de Estudos Educação Libertária http://libertariosufpel.blogspot.com.
br/
Núcleo de Sociabilidade Libertária – Nu-Sol http://www.nu-sol.org/
Arquivo Bakunin http://arquivobakunin.blogspot.com.br/
Encyclopaedia Britannica/ Bakunin http://global.britannica.com/EBchecked/
topic/49654/Mikhail-Aleksandrovich-Bakunin (Inglês)
Anarcocapitalismo (Wikipedia.org): http://pt.wikipedia.org/wiki/
Anarcocapitalismo
A Esquerda Libertária http://aesquerdalibertaria.blogspot.com.br/
Anarquismo /Britannica Escola: http://escola.britannica.com.br/
article/483060/anarquismo
UOL Educação – Anarquismo: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/
sociologia/anarquismo-origens-da-ideologia-anarquista.htm
Portal Anarquista: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/
Núcleo de Estudos Libertários Carlos Aldegheri: http://nelcarloaldegheri.
blogspot.com.br/
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ANARQUISMO
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Com um texto leve e objetivo, este livro tem como proposta
apresentar a vida e as principais ideias do filósofo Friedrich
Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Cultuado pela academia e
com referências à sua obra em livros, filmes, séries e músi-
cas, o martelo filosófico de Nietzsche não foi bem compre-
endido em sua época, mas que hoje é reverenciado com um
dos maiores filósofos de todos os tempos, com aforismos
geniais e um estilo incomparável.
Escrito por Daniel Rodrigues Aurélio, mestre em Ciências
Sociais pela PUC-SP, e com vários trabalhos sobre Friedrich
Nietzsche no currículo, este livro é um verdadeiro manual
de introdução aos fundamento da filosofia nietzschiana,
além de trazer entrevistas com especialistas, dicas de sites,
livros e filmes e tudo o mais para você ter um panorama
completo sobre o autor Para além do bem e do mal, entre
outros grandes trabalhos.