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Pode-se perguntar, sobre qual o significado hoje, quarenta anos após a derrota da
“Primavera de Praga” e vinte anos após a auto-dissolução do socialismo real, de
retornarmos ao pensamento de Karel Kosik, intelectual que, por um lado expressa, em
grande parte, os dilemas dos intelectuais marxistas da Europa Oriental, e por outro lado,
é o autor de um dos livros mais emblemáticos do marxismo destes países nos anos da
experiência da transição socialista.
Talvez uma primeira resposta a esta questão possamos encontrar nas palavras do
marxista italiano Alessandro Mazzone, que referindo-se a um outro conjunto de
questões, observou:
Se tratava, enfim, de recomeçar desde longe. (...) E se hoje neste terreno estamos mais a
frente em certos aspectos, isto também teve um principio naquelas discussões. Como
negar, de resto, que a recuperação de critérios de análises perdidos ou obnubilados, o
abandono de esquematismo e cativas abstrações fosse, e seja ainda agora, condições
preliminares?1
Aquele “marxismo” que foi, e não é mais, foi em todos os sentidos uma cultura, um
universo de sentido, um lugar coletivo de circulação de idéias desde baixo e desde o alto.
Reconstruir um tal universo de significados, de comportamentos, e antes (porque não?) de
modos de sentir, e portanto de uma difusa consciência, que se desenvolve e se aprofunda
no diversificado agir de milhões de homens – será certo uma longa tarefa, e que parece
não existam ainda as condições.2
1
Alessandro Mazzone. Prefazione. In: Nicola Simoni. Tra Marx e Lênin La discussione sul concetto di
formazione econômico-sociale. Napoli: La Città del Sole, 10-11.
2
Idem, p. 11.
2
3
Para uma reconstrução detalhada desta polêmica, consultar entre outros: René Zapata. Luttes
Philosophiques en U.R.S.S. 1922-1931. Paris: PUF, 1983, que reproduz uma antologia de textos; Pedrag
Vranicki, História del Marxismo, Vol. 2. Salamanca: Sigueme, 1977.
4
Josef Stalin. Materialismo Dialético e Materialismo Histórico. São Paulo: Global, s.d.
3
5
Leszek Kołakowski. Główne Nurty Marksizmu. Vol. III. Varsóvia: Krąg – Pokolenie, 1988, p. 923 Nos
utilizamos igualmente da classificação das diferentes tendências filosóficas existentes nos países da
Europa Oriental desenvolvida por György Markus, no capítulo Discussões e Tendências na Filosofia
Marxista de seu livro Teoria do Conhecimento no Jovem Marx, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974, pp.
113-129.
6
É importante destacar o esforço critico desenvolvido por György Lukács e Karel Kosik em superar as
limitações, tanto da síntese filosófica oficial, como destas duas correntes então hegemônicas no ocidente:
cf. György Lukács. Wprowadzenie do Ontologia bytu społecznego (Ontologia do ser social). Vol. I. Cap.
I: Neopozytywizm i egzystencjalizm, p. 36-176, Warszawa: PWN, 1982 e Karel Kosik. Dialética do
Concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.
7
A posição extremamente critica e parcial assumida por Kołakowski, em sua obra anteriormente citada,
leva-o a desqualificar toda contribuição filosófica posterior. da pr. L. Kołakowski. Główne Nurty
4
Marksizmu, op. cit. p. 923. Esta posição marcadamente ideológica, choca-se entretanto claramente com
uma análise mais equilibrada e aprofundada.
8
Georges Labica. Dopo Il marxismo-leninismo (tra ieri e domani). Roma: Edizioni Associate, 1991.
9
Sobre o caráter da ofensiva zhdanovista na cultura em geral, e na filosofia em particular, consultar: A.
A. Zhdanov. Literatura y Filosofia a la luz del Marxismo. Montevidéu: Pueblos Unidos, 1948.
10
Uma cronologia da vida e uma bibliografia completa dos escritos de Karel Kosik se encontra a
disposição em: http://volny.cz/enelen/kkosik/.
5
11
Para um balanço do desenvolvimento da filosofia marxista na Tchecoslováquia apos a II Guerra
Mundial, consultar: Aldo Zanardo. La filosofia marxista in Cecoslovacchia negli anni 1945-1960, In:
Aldo Zanardo. Filosofia e Socialismo. Roma: Riuniti, 1974, pp. 363-419.
12
Guido D. Neri. Karel Kosik. Filosofia e política tra il 56 e il 68 cecoslovacco. In:, 12 Guido D. Neri.
Aporie della realizzazione. Filosofia e Ideologia nel socialismo reale. Milão: Feltrinelli, 1980, p. 131.
13
Antonin Liehm. Trois generations Entretiens sur le phénomène culturel tchécoslovaque. Paris:
Gallimard, 1970, p. 322.
14
Para uma análise do gradual distanciamento de Karel Kosik da filosofia oficial consultar o livro já
citado de Guido D. Neri. Sobre a trajetória da filosofia marxista no leste europeu, consultar ao lado do
livro já citada de Guido Neri, o artigo de Johann P. Arnason. Perspectivas e problemas do marxismo
critico no Leste europeu. In: Eric J. Hobsbawm. História do Marxismo Vol. XI. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1989, pp. 163-245.
15
Karel Kosik. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969. (A partir de agora citado como
DK).
16
Johann P. Arnason. Perspectivas e problemas, op. cit., p. 213.
6
17
Para a crítica de Heidegger, cf. DK. em particular: o Capítulo II: Economia e Filosofia.
18
DK. p. 13. Optamos por traduzir o referente tcheco a “die Sache selbst” por “coisa mesma”, no lugar de
“coisa em si” utilizado na tradução brasileira.
19
DK. p. 11.
20
Para a análise de O Capital, cf. DK. em particular: o Capítulo III: Filosofia e Economia: A
Problemática de “O Capital” de Marx.
21
DK. p. 198.
22
DK. p. 197ss. Neste mesmo sentido consultar: Karel Kosik. Gramsci et la philosophie de la “práxis”.
In: Karel Kosik. La Crise des Temps Modernes Dialectique de la Morale, Paris: Les Éditions de la
Passion, 2003. pp. 89-90.
7
23
Karel Kosik. La Nostra Crise Attuale. Roma: Riuniti, 1969.
24
Ibidem, p. 79.
25
Karel Kosik. La Crise Actuelle. In: op. cit., p. 75.
8
Ao longo desta comunicação, procuramos indicar como Kosik, que toda a sua
obra, se caracterizou pela tentativa de elaborar um pensamento crítico que interrogasse
os grandes problemas postos, e não resolvidos, pela história do século XX.
26
Karel Kosik. “Je suis mort, et em meme temps, je vis ...” In: Karel Kosik. La Crise des Temps
Modernes Dialectique de la Morale, Paris: Les Éditions de la Passion, 2003, p 95-98. Em 1975, após uma
revista na casa de Kosik, a Policia apreendeu os referidos manuscritos, “Sobre a Verdade” e “Sobre a
Prática”. Na detalhada cronologia da vida Karel Kosik, que se encontra a disposição em:
http://volny.cz/enelen/kkosik/bio.html, faz referência também a apreensão, ao lado daqueles escritos,
igualmente um outro dedicado ao “Supercapital”.
27
Para maiores informações sobre este trabalho e as razões para a sua dedicação exclusiva a filosofia: cf.
Karel Kosik. Filosofia y política: diálogo con Fernando de Valenzuela. In: Claves de razón prática nº 34,
1993, p. 58s.
28
A única coletânea, em língua ocidental, dos artigos de Kosik publicados nos últimos quinze anos de sua
vida foram reunidos em: Karel Kosik. La Crise des Temps Modernes. Dialectique de la Morale, op. cit.,
prefaciado por Michel Löwy e Horacio Tarcus. Do conjunto desta obra tardia se encontra traduzido para o
português apenas: Karel Kosik: O Século de Grete Samsa, In: Matraga, Revista do Instituto de Letras da
UERJ, no 9, Rio de Janeiro: 1995. (Tradução de Leandro Konder).
29
Karel Kosik. Sept escales d’ automne. In: Karel Kosik. La Crise des Temps Modernes. op. cit., p. 220-
221.
30
Karel Kosik. Capitali, Api e Mendicanti. In: Il Manifesto, Milano, 15-16 de julho 2000, p. 12.
9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS