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ARTIGO

Terræ atica
Faustinoni J.M., CarneiroDidC.D.R.

Movimentos da crosta e relações entre Tectônica e


dinâmica atmosférica
Crustal movements and relationship between Tectonics and atmospheric dynamics

Jackeline Monteiro Faustinoni1, Celso Dal Ré Carneiro2

1-Graduanda em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. e-mail: faustinoni@gmail.com
2-Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.

Manuscrito: ABSTRACT: On a global scale, large uplifted areas play a fundamental role in the
Recebido: 14/07/2014 dynamics of fluid spheres of Earth. The rising air cools in mountainous areas and the
Corrigido: 06/07/2015 moisture condenses, causing orographic rainfall and generating aridity in shadow
Aceito: 21/07/2015 zones. Long mountain ranges also increase the tortuosity of tropospheric winds,
participate in the control of the planetary albedo and influence the global energy
Citation: Faustinoni J.M., Carneiro C.D.R.. balance. This literature review focuses on effects on atmospheric circulation caused
Movimentos da crosta e relações entre by large-scale relief features and borders of land masses (continents). Endogenous
Tectônica e dinâmica atmosférica. Terræ processes interfere with weathering and erosion and, therefore, in land and water
Didatica, 11(3):173-181. <http://www. cycles of chemical elements such as carbon and nitrogen. Consensus does not exist in
ige.unicamp.br/terraedidatica/>. the understanding of such dynamics: many researchers attribute to Plate Tectonics a
decisive role in global climate change over geological time, while others identify just a
Keywords: Geology, atmospheric cir- simple but intriguing connection. The article presents a proposal for a didactic activity
culation, oceans, orogenesis, teaching- for visualizing interactions between land surface and atmosphere.
learning.

Introdução
Compensações isostáticas da crosta terrestre enquanto o alívio de peso pode induzir emergência
controlam tanto os processos de soerguimento do terreno (soerguimento).
associados à elevação de cadeias de montanhas Tanto a criação de cadeias montanhosas (oro-
(denominada atividade orogênica ou orogênese), gênese) quanto a formação de bacias (tafrogênese)
quanto a subsidência e geração de depressões e são respostas a movimentos de placas tectônicas
bacias sedimentares pela atuação de falhas (tafro- e/ou deformações que ocorrem no interior das
gênese). Raramente tais conceitos são abordados placas. A depender da característica predominante
em textos de divulgação científica, embora sejam do regime tectônico (compressão ou distensão)
indispensáveis para a compreensão adequada da tem-se, respectivamente, o soerguimento ou a
correlação entre movimentos da crosta e dinâmica subsidência do terreno.
atmosférica. A presente síntese bibliográfica relaciona as
A isostasia é, essencialmente, o equilíbrio ver- alterações topográficas regionais causadas por esses
tical da crosta terrestre (litosfera) sobre o substrato processos e sintetiza sua interferência direta nos
mantélico, controlado pela diferença de densidade padrões de circulação atmosférica e oceânica. Os
das rochas que compõem a crosta e o manto. O efeitos globais das criação de novas feições de relevo
relevo (topografia) resultante das diferenças de de dimensões continentais e da alteração de limites
densidade na crosta é variável devido a mudanças das terras emersas incluem a modificação dos pro-
de espessura dos pacotes litosféricos: o acúmulo cessos de denudação (intemperismo e erosão) em
de material gera sobrepeso e, consequentemen- escala global bem como mudanças nos ciclos do
te, ocorre afundamento da região (subsidência), carbono e de outros elementos químicos.
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Movimentos da crosta e relações entre Tectônica e dinâmica atmosférica

Objetivos e métodos decisivamente na formação de grandes cadeias de


montanhas que, por sua vez, determinam a dis-
Este artigo tem três objetivos principais: (a) tribuição das precipitações orográficas. Em áreas
sintetizar conhecimentos fundamentais do campo ativas da crosta, as transformações de longo prazo
teórico da Tectônica vinculados à origem de gran- são também influenciadas pelo tectonismo local.
des cadeias de montanhas e relacioná-los com a Desse modo, graças à acentuação de desníveis topo-
dinâmica externa do planeta e padrões climáticos gráficos, aparecem inúmeros registros da influência
mundiais; (b) reunir bibliografia especializada e da tectônica na evolução do relevo. São processos
de apoio sobre os seguintes tópicos: ciclos oroge- que ocorrem em escalas temporais mais curtas
néticos, causas da orogênese, Tectônica de Placas do que os grandes ciclos acima referidos, porém
e dinâmica externa do planeta; padrões climáticos constituem, igualmente, fatores importantes de
globais; influência de eventos tectônicos de soer- redirecionamento das massas de ar.
guimento, isostáticos ou orogênicos, na dinâmica Do ponto de vista dos fenômenos químicos, é
atmosférica ou vice-versa; (c) idealizar e sugerir bem conhecida a interferência da Tectônica no ciclo
atividade prática para ser aplicada em sala de aula do carbono – com seus feedbacks positivos e nega-
com a finalidade de ajudar o estudante a visualizar tivos – que determinam variações das quantidades
as interferências das alterações crustais sobre a de carbono atmosférico na Terra, tanto pela adição
dinâmica atmosférica ou vice-versa. quanto pela remoção de CO2, graças aos processos
Ao longo da pesquisa, foi realizada síntese dos de metamorfismo, vulcanismo ou intemperismo de
assuntos relativos ao objeto de investigação, envol- rochas silicáticas (Ruddiman 1997).
vendo contínua identificação de material biblio- A construção e destruição da crosta terrestre
gráfico de interesse e fichamento sistemático. O é determinada por processos tectônicos que pro-
fichamento dos textos que embasam a pesquisa foi movematividade sísmica, vulcânica, metamórfica,
extremamente útil para confrontar modelos e ideias orogenética e movimentos isostáticos. Devido à
ainda não consolidados acerca dos padrões gerais de abrangência do tema, optamos por caracterizar
circulação das esferas fluidas da Terra, deriva conti- especificamente os processos de soerguimento/
nental, Tectônica de Placas e, principalmente, suas subsidência (isostáticos e orogênicos) para ao final
inter-relações. Algumas referências bibliográficas sintetizar o conhecimento e, em seguida, estudar a
listadas inicialmente não ofereceram contribuição relação entre tectônica e dinâmica climática.
direta para a pesquisa, mas ajudaram a formar visão A movimentação tectônica é fenômeno glo-
panorâmica dos textos que se ocupam estritamen- bal que envolve ciclos de aglutinação e fissão de
te do tema proposto. Por este motivo, a literatura supercontinentes (Hasui 2012a, 2012b). Mudan-
foi dividida de acordo com uma classificação de ças lentas, porém radicais, modificam a disposição
bibliografia de referência (específica) e de apoio. da crosta e reconfiguram a distribuição de massas
O fichamento da bibliografia de referência continentais e oceânicas. O registro deixado pelas
contribuiu sobretudo para o desenvolvimento alterações é cada vez mais escasso, quanto mais
da atividade prática, na medida em que permitiu nos aprofundamos no passado geológico; por esse
avaliar os principais conceitos envolvidos e iden- motivo as evidências mais abundantes datam da
tificar tanto algumas questões elementares, como era Cenozoica (65,5 Ma ao Recente, ver Gradstein
os principais paradoxos e dificuldades que podem et al. 2004).
emergir na aprendizagem do tema pesquisado.
Junto a isso, foram pesquisados modelos de ati-
vidades lúdico-práticas e outras técnicas didáticas Fundamentação Teórica
utilizadas na difusão do conhecimento geológico Vivenciamos um intervalo interglacial, no
no ensino básico. Holoceno, em que coexistem grandes capas de
gelo na Antártida e na Groenlândia e no cume de
Principais visões sobre o tema algumas áreas montanhosas; tais condições são
típicas apenas para breves intervalos (da ordem de
Os processos tectônicos modificam a mor- apenas 10%) dos últimos milhões de anos. Assim,
fologia e a composição da superfície terrestre, o clima do Holoceno não é o mais adequado para
interferindo física e quimicamente na atmosfera. ser tomado como referência do clima terrestre
Em termos físicos, a dinâmica das placas participa (Hay et al. 1997).

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Segundo Hay et al. (2002), Molnar et al. (1990) atmosfera pelo soerguimento de montanhas o mais
e Ruddiman (1997), a compreensão do conceito de perceptível é o fenômeno das chuvas orográficas,
soerguimento é imprescindível para desenvolvi- em que se intensifica a quantidade de precipitação
mento dos estudos acerca da interação entre Tec- a barlavento da montanha, enquanto que a sota-
tônica de Placas e Clima. É necessário diferenciar vento forma-se uma área seca denominada zona
nas áreas de estudo se o soerguimento foi real ou de sombra.
aparente, ou melhor, orogênico ou isostático, para Superfícies que foram soerguidas atingem
avaliar se o fator determinante da reconfiguração níveis mais altos da atmosfera e são, obviamente,
da dinâmica terrestre foi a Tectônica ou a mudança mais frias; sob essas condições há maior preservação
climática. de áreas cobertas por neve, interferindo também no
A isostasia é, essencialmente, o equilíbrio ver- albedo planetário e no balanço energético (Molnar
tical da crosta terrestre (litosfera) sobre o substrato et al. 1990).
mantélico, controlado pela diferença de densidade Mudanças climáticas podem ser fruto de alte-
dos dois componentes. O modelo explicativo da rações da composição atmosférica. A Tectônica de
isostasia consiste na integração dos modelos de Placas pode influenciar esse parâmetro na medida
Airy e Pratt (Watts 2001). A alteração topográfica em que as taxas de CO2 são controladas, dentre
resultante das diferenças de densidade é variável outros fatores, pelo metamorfismo e magmatis-
devido a mudanças da espessura dos pacotes litos- mo, ambos fortemente relacionados a ambientes
féricos: o acúmulo de material gera sobrepeso e, geotectônicos ativos (zonas de subdução e dorsais
consequentemente, ocorre afundamento da região oceânicas). Nos processos metamórficos, o dióxido
(subsidência), ao passo que o alívio de peso provoca de carbono, oriundo da subdução de carbonatos,
a elevação do terreno. é liberado na atmosfera por meio de exalação por
O soerguimento orogênico – entenda-se a vulcanismo. Já sua remoção ocorre quando do
criação de cadeias montanhosas (elevação da cros- soterramento de carvão orgânico ou por intem-
ta) por movimentos tectônicos – ocorre, mais perismo de rochas silicáticas para a formação de
comumente, nos limites de placas convergentes carbonatos (Toniolo & Carneiro 2010, Raymo et
(áreas de colisão e subdução). Em oposição ao al. 1988, apud Hay et al. 2002 p.752). A remoção
soerguimento existe o movimento de subsidência ou liberação do gás na atmosfera não determina
da crosta – rebaixamento da superfície terrestre – se haverá resfriamento ou aquecimento global,
comum em eventos tectônicos de distensão regio- considerando-se que o que é de fato relevante para a
nal, falhamento e formação de grandes bacias e definição de um ou outro acontecimento é o balan-
rift-valleys. A alteração topográfica ocasionada pelos ço entre feedbacks positivos e negativos (Berner &
fenômenos acima gera efeitos macroclimáticos, Berner 1997, apud Hay et.al. 2002).
ou seja, de grande amplitude, que modificam os
padrões regionais de circulação atmosférica. Em Desafios e contradições
grande escala, quando a mudança topográfica é
A partir das evidências, dados e estudos sobre
subaquática, como nas cadeias oceânicas, as novas
a contemporaneidade do possível surgimento de
barreiras assim criadas alteram os padrões de circu-
cadeias de montanhas recentes e os fenômenos de
lação das correntes oceânicas profundas em escala
glaciação que ocorreram durante o Cenozoico (van
mundial. Em escala menos abrangente, variações
Anden 1994) pode-se perceber quão complexas e
microclimáticas promovem o resfriamento regional
intrigantes são suas inter-relações de causa e efeito. A
de áreas soerguidas, como, por exemplo, depois da
história geológica do Cenozoico permanece obscura
elevação de uma dada superfície a níveis mais frios
tendo em vista as contradições e os conflitos aponta-
da atmosfera, ou na criação de zonas de alta e baixa
dos pela maioria dos autores, e que se individualizam
pressão (Liccardo 2010).
nas obras de Ruddiman (1997) e Molnar et al. (1990).
Feições topográficas de grande magnitude,
Para o primeiro, o soerguimento recente de terrenos
como platôs e montanhas, por funcionarem como
montanhosos é a principal causa da mudança climá-
obstáculos, geram irregularidades na circulação
tica. Já para os segundos autores, o soerguimento
atmosférica, resultando no aumento da força dos
é aparente, causado por compensações isostáticas,
ventos, bloqueio de fluxos zonais, intensificação
caracterizando assim o ciclo climático como desen-
dos meandros das correntes de jato (Ruddiman
cadeador de mudanças no Sistema Terra.
1997). Dentre todos os efeitos diretos causados na
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Movimentos da crosta e relações entre Tectônica e dinâmica atmosférica

Figura 1. Principais fatores controladores da dinâmica do Sistema Terra relacionados à tectônica e clima. A ilustração
esquematiza a interação entre eles, lembrando que as setas representam vetorialmente a interferência; por exemplo,
o soerguimento tectônico da superfície terrestre altera os padrões de circulação atmosférica e oceânica, que por
sua vez podem alterar ou ser alterados pelo Clima Global (Fig. modificada de Ruddiman 1997)

Um modo bastante sintético de se situar a A proposição, entretanto, não desqualifica ou


polêmica entre as duas hipóteses existentes pode invalida os processos interativos químicos e físicos
ser encontrado em Hay et al. (2002 p.746): descritos por Ruddiman (1997).
(1) a mudança climática é o resultado direto Apesar de ser consensual a existência de inter-
ou indireto do soerguimento tectônico, ou ferências entre os ciclos terrestres climático e tec-
(2) a mudança climática não tem nada a ver tônico, ainda há muitas incertezas quanto às suas
com o soerguimento, mas tem alterado os relações e a importância dos papéis que desempe-
processos superficiais da Terra, de tal forma nham, como afirmado por Hay et.al. (1996, p 433.):
a simular uma elevação generalizada. É certo que tectônica e clima estão inter-
A hipótese de número (1) corresponde à defen- relacionados; contudo, relações específicas
dida por Ruddiman (1997) que considera que os de causa e efeito e a importância relativa
dos diferentes processos ainda permanecem
efeitos da Tectônica no clima podem ser diretos
pouco claros.
ou indiretos, conforme apresentado na introdução
deste trabalho. Já a de número (2), defendida por
Molnar et.al.(1990) rejeita a hipótese de que as gla-
ciações cenozoicas sejam efeitos do soerguimento
Resultados obtidos
recente em escala global, mas estas constituíram,
antes de tudo, a causa da exumação de rochas, Bibliografia de referência
gerando uma aparente elevação da superfície terres-
Como exposto na metodologia, o fichamento
tre, como explicitado por De Conto (2009, p.11):
dos textos deu origem a uma bibliografia de refe-
O paradigma do soerguimento cenozoico rência para a pesquisa no campo das interações
causando resfriamento global e glaciação no entre Tectônica e Clima. Para facilitar a visualização
hemisfério norte foi questionado por Molnar da bibliografia utilizada foi produzido, para cada
e England (1990), que argumentam que o trabalho, um resumo simples do conteúdo do livro/
aparecimento de elevação recente em diversas artigo e a explicitação da utilidade de cada texto para
cadeias de montanhas distintas pode ser um o presente trabalho, de acordo com o padrão: Refe-
artefato da mudança climática cenozoica e não rência e Titulo/resumo e utilidade. As referências
a causa do resfriamento completas encontram-se ao final do artigo.
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Buck W.R. 1991. Modes of continental lithospheric ex- que concernem à relação entre tectônica e clima e
tension. modelos de numéricos considerando parâmetros
Apesar de sua contribuição para este trabalho como pressão atmosférica e circulação oceânica.
não ser direta, este texto se mostrou indispensável
na contraposição dos modelos principais e mais Liccardo A. 2010. Tectônica de Placas; Influências no
aceitos para o fenômeno de estiramento crustal. Clima.
Apresentação on-line que sintetiza o tema cen-
Burke K. e Crowley T.J. 1998. Tectonic boundary condi- tral da pesquisa e simplifica sua compreensão. Ofe-
tions for climate reconstructions.
rece subsídios para a criação de uma apresentação
Este é um dos livros-base da pesquisa e contém introdutória previamente à aplicação das atividades
exemplos e elucidação dos principais conceitos sugeridas neste trabalho.
envolvidos.
Lister G.S., Etheridge M.A. e Symonds P.A. 1989.
Coward M.P. 1986. Heterogeneous stretching, simple shear Detachment models for the formation of passive conti-
and basin development. nental margins.

Assim como o primeiro texto referido nessa lis- Esse artigo é mais uma ferramenta na com-
tagem, este texto apresenta modelos de estiramento preensão estrutural de modelos de formação de
crustal. Foi mantido na bibliografia para garantir a bacias por estiramento crustal e analisa, também,
análise criteriosa a respeito do fenômeno, já que sua situação subsequente, a da formação de uma
ainda não existe consenso sobre como se dá a sua margem passiva.
ocorrência.
Molnar P., England P. 1990. Late Cenozoic uplift of
De Conto R. M. 2009. Plate Tectonics and Climate Chan- mountain ranges and global climate change: chicken
ge. Encyclopedia of Paleoclimatology and Ancient or egg?
Environments. Este texto apresenta o contraponto teórico,
O autor apresenta os principais efeitos diretos revelando as contradições e modelos divergentes
e indiretos da tectônica no clima, padrões de cir- dentro do tema.
culação e confronta as duas principais hipóteses
apresentadas na pesquisa. Ruddiman W.F. 1997. Tectonic Uplift and climate change.
Este é mais um livro-base da pesquisa. É extre-
Gradstein F.M., Ogg J.G., Smith A.G., Bleeker W., mamente completo no que diz respeito às teorias,
Lourens L.J. 2004. A New Geologic Time Scale, with
principais conceitos e exemplos utilizados nesse
special reference to Precambrian and Neogene.
trabalho.
Esta referência é fundamental, pois estabelece
a Escala padrão do Tempo Geológico. A versão da Twiss R.J. & Moores E.M. 1992. Structural Geology.
escala internacional publicada em 2012 é a mais Livro base utilizado na análise estrutural dos
aprimorada e expandida da série (Gradstein et al. processos tectônicos envolvidos na pesquisa e na
2012), mas contínuas atualizações são divulgadas compreensão dos artigos que tratam de casos espe-
no sítio web da International Commission on Stratigra- cíficos da movimentação crustal.
phy (http://www.kgs.ku.edu/General/Strat/internat.
html), como a versão divulgada por Cohen et al. Unrug P. 1996. The assembly of Gondwanaland.
(2013).
O artigo é uma referência central para a pes-
Hay W.W. et al. 2002. The Late Cenozoic Uplift. Climate quisa porque reconstitui a história geotectônica do
change paradox. supercontinente Gondwana.
Este texto apresenta os dois principais paradig- Watts 2001. Isostasy and Flexure of the Litosphere.
mas encontrados nesta pesquisa sendo, portanto,
um dos mais relevantes. Livro utilizado na compreensão de processos
geodinâmicos, como isostasia. Apresenta diversos
Hay W.W. 1996. Tectonics and climate. modelos flexurais e é extremamente completo,
trazendo exemplos sobre fenômenos isostáticos ao
O texto apresenta a trajetória histórica das ideias
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Movimentos da crosta e relações entre Tectônica e dinâmica atmosférica

longo do tempo geológico. interferências entre clima e Tectônica e as mudan-


ças em seus ciclos podem ser desencadeados tanto
Wernicke B. e Burchfiel B.C. 1982. Modes of exten- por um determinado fator quanto pelo outro, a
sional tectonics. justificativa para tal escolha reside no fato de que
Este artigo interpreta fenômenos extensionais. lidar com conflitos paradigmáticos é extremamente
Foi utilizado juntamente com os outros textos de útil (Martins 2014) para despertar no estudante a
análise de estiramento crustal na avaliação dos percepção de que os processos terrestres são geral-
modelos propostos por diferentes autores. mente controlados por mais de um parâmetro, que
isso é extremamente dinâmico e muitas vezes não
existe um único modelo esclarecedor para o enten-
Desenvolvimento de atividade prática dimento do que é observado.
Durante a pesquisa foi desenvolvido um rotei-
ro de atividade, a partir de modelos que vinham Atividade Prática
sendo pesquisados pelo extinto Departamento de
Geociências Aplicadas ao Ensino (DGAE) e que Atividade Prática – Movimentos da superfície
prosseguem no Programa de Pós-Graduação em terrestre e dinâmica climática
Ensino e História de Ciências da Terra (PEHCT) Publico Alvo: Ensino básico
do Instituto de Geociências (IG-Unicamp). A Questões prévias:
atividade e os procedimentos envolvidos na sua Quais são as possíveis variáveis terrestres que pode-
execução são apresentados no item seguinte. riam influenciar na dinâmica:
(a) tectônica?
Já há algum tempo vinha sendo sentida (b) climática?
necessidade de adequar a linguagem para a Conceitos envolvidos na atividade
transmissão das informações dos conteúdos
de Geociências para o ensino básico,
que acaba sendo muito técnica para o público Experimento I
alvo” (Ferreira 2008) A isostasia é o equilíbrio vertical da crosta ter-
restre sobre o substrato mantélico. O que controla
A afirmação acima foi a base para a proposta
esse fenômeno é a diferença de densidade ou peso
do exercício, cujo foco é difundir o conhecimento
dos dois componentes. Existem dois modelos expli-
geológico no ensino básico e incentivar práticas
cativos independentes para o conceito de isostasia:
em Geociências, capazes de introduzir o estudante
o de Airy e o de Pratt, sendo que a maneira mais
à metodologia científica a partir de experimentos
adequada de compreendê-lo resulta da integração
prático-lúdicos. Devido à complexidade do tema e
de ambos, conhecida como modelo Pratt-Airy. A
a necessidade do conhecimento prévio de alguns
alteração topográfica resultante das diferenças de
conceitos de Geociências, a atividade se destina a
densidade é variável devido a mudanças da espes-
estudantes do ensino médio e prioriza o estímulo
sura dos pacotes litosféricos: quando há acúmulo de
do raciocínio lógico aplicado ao Sistema Terra e o
material, gera-se sobrepeso e, consequentemente,
envolvimento do estudante, despertando assim sua
ocorre afundamento da região (subsidência),
curiosidade e facilitando o aprendizado. A inten-
enquanto o alívio de peso provoca a emergência
ção é que o experimento incentive os estudantes
do terreno.
a dar continuidade ao processo de aprendizagem,
pesquisando mais sobre o tema em outras fontes,
e fixando o conteúdo teórico assimilado. Os con- Experimento II
ceitos apresentados devem ser traduzidos para uma A criação de cadeias montanhosas (elevação da
linguagem mais simples pelo docente e utilizados crosta) por movimentos tectônicos – soerguimento
como artefato na preparação dos estudantes para orogênico – ocorre, mais comumente, nos limites
atividade, que requer uma introdução teórica. de placas convergentes (áreas de colisão e subdu-
O questionário e o debate sugeridos surgiram ção). Em oposição ao soerguimento existe o movi-
a partir da divergência dos modelos propostos por mento de subsidência da crosta – rebaixamento da
Ruddiman (1997) e Molnar et al. (1990), apresen- superfície terrestre – comum em eventos tectônicos
tados em Hay (1996) (ver desafios do tema). Con- de distensão regional, falhamento e formação de
siderando que os mecanismos que despertam as grandes bacias.
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Feições topográficas de grande magnitude, de bolinhas que achar pertinente de cada copo e
como platôs e montanhas, por funcionarem como observar o movimento e a mudança de posição
obstáculos, geram irregularidades na circulação dos copos conforme o peso é reduzido (Fig. 2b).
atmosférica, modificando o padrão de circulação
das partículas atmosféricas. Experimento II – Relevo e Atmosfera
Longas cadeias montanhosas provocam um
aumento da sinuosidade dos ventos na troposfera Intuito: Esta atividade deverá permitir ao estu-
e constituem um dos fatores que controlam o albe- dante a visualização do comportamento das partícu-
do planetário; desse modo, influenciam o balanço las atmosféricas através da constante reconfiguração
energético global. Devido à influência sobre os topográfica terrestre.
processos erosivos e sobre fenômenos ligados a Material Necessário:
intemperismo físico e químico, as mudanças citadas - Caixa de papelão
interferem no ciclo da água na Terra e nos ciclos - Papel picado
de diversos elementos químicos, como o carbono - Ventilador pequeno
e nitrogênio, dentre outros. Como fazer: Na primeira etapa do experimen-
to o estudante deve fazer um recorte em um dos
lados da caixa, onde colocará o ventilador pelo lado
EXPERIMENTO I – ISOSTASIA de fora da caixa. Após isso se colocam os papéis
Intuito da atividade: A atividade deverá permi- picados dentro da caixa, à frente do recorte feito, e
tir ao estudante visualizar como e por qual motivo aciona-se o ventilador. Na segunda etapa o aluno
ocorrem as compensações isostáticas e quais são deverá fixar um anteparo no centro da caixa e de
seus efeitos na superfície terrestre. frente para o recorte feito para a passagem de ar.
Materiais necessários: Este anteparo pode ser um pedaço de papelão com
- Um recipiente rígido transparente (vidro ou dimensões um pouco menores do que a caixa. Após
acrílico) médio isso se deve repetir a ação com os papéis e com o
- Copos transparentes de material rígido ventilador e observar como o anteparo interferiu
- Bolinhas de gude ou de chumbo no movimento dos papéis.
- Água O professor deve propor aos estudantes um
- Pinça debate com os seguintes questionamentos:
Como fazer: Preencha até a metade o recipi- Como a Tectônica pode influenciar o clima?
ente transparente com água. Em seguida coloque Como o clima pode influenciar a Tectônica?
os copos no recipiente com água e as bolinhas nos Em que medida a geomorfologia interfere na dinâmica
copos até que estes tenham peso suficiente para que atmosférica? Cite exemplos.
cada copo toque o fundo do recipiente (Fig. 2a). Como o clima age na remoção das cargas?
Para que o experimento seja bem sucedido não se Como a modificação do relevo – seja por fatores tectô-
deve deixar cair água dentro dos copos. nicos e/ou climáticos – influencia a dinâmica atmosférica
Após essa etapa, com a pinça, o estudante deve- e no clima?
rá remover com cuidado e aos poucos o número Como a alteração da dinâmica das correntes de ar pode
alterar o clima local?
(a) (b) Podemos transportar esse modelo reduzido para esca-
las globais?

Conclusões
O desenvolvimento da pesquisa confirmou a
decisiva influência dos fenômenos ligados à Tec-
tônica de Placas na dinâmica climática da Terra, ao
Figura 2. (Fig. 1 da atividade). Neste experimento a água longo do Tempo Geológico. O principal interesse
representa o substrato mantélico e os copos, a científico da Geologia, bem como uma de suas
crosta terrestre. (a) Notar que os copos devem tocar mais importantes contribuições ao conhecimento
o fundo do recipiente. (b) A remoção das cargas
deve gerar a elevação dos copos, representando um humano (van Loon 1999), decorre do fato de que
soerguimento isostático a Terra é afetada, desde sua origem, por grandes

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Movimentos da crosta e relações entre Tectônica e dinâmica atmosférica

mudanças ambientais (Hoffman 2009). São abso- lúdica em Geociências: Reflexões sobre o Jogo da
lutamente constantes na história da Terra tanto a Memória e Oficinas pedagógicas como método de
mudança climática, como as variações na disposição ensino de Minerais e Rochas nas escolas de Ensi-
e morfologia de continentes e oceanos. no Básico. URL http://www.geografiaememoria.
ig.ufu.br/downloads/303_Marcus_Romero_An-
Longas cadeias montanhosas provocam aumen-
drade_Ferreira_2008.pdf . Acesso 20.07.2012.
to da sinuosidade dos ventos na troposfera; repre-
Gonçalves P.W., Carneiro C.D.R. 2008. La danza de
sentam um fator que controla o albedo planetário los continentes en el tiempo geológico. Rev. de la
e influencia o balanço energético global. Devido Enseñanza de las Ciencias de la Tierra, 16(1):107-
à interferência nos processos erosivos e em fenô- 116. URL: http://www.raco.cat/index.php/ECT/
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mento bibliográfico, diferentes modelos teóricos
Gradstein F.M., Ogg J.G., Smith A.G., Bleeker W.,
para a relação entre Tectônica de Placas e o clima Lourens L.J. 2004. A New Geologic Time Scale,
global. Alguns autores entendem que a Tectônica with special reference to Precambrian and Neo-
de Placas é responsável direta por alterações cli- gene. Episodes, 27(3):83-100.
máticas ao longo do Tempo Geológico, enquanto Hasui Y. 2012a. Evolução dos continentes. In: Hasui
outros pesquisadores reconhecem tão somente a Y., Carneiro C.D.R., Almeida F.F.M.de, Barto-
existência de uma intrigante ligação entre ambos relli A. eds. 2012. Geologia do Brasil. São Paulo:
os fatores. O grande desafio que o tema oferece Ed. Beca. p. 98-111. (ISBN 978-85-62768-10-1).
reside precisamente em compreender quais são as Hasui Y. 2012b. Tectônica de Placas. In: Hasui Y.,
Carneiro C.D.R., Almeida F.F.M.de, Bartorelli A.
variáveis atuantes e quão determinantes elas são.
eds. 2012. Geologia do Brasil. São Paulo: Ed. Beca.
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RESUMO : Longas cadeias montanhosas exercem papel fundamental na dinâmica das esferas fluidas da Terra, pois o ar ascendente
se resfria em zonas montanhosas e a umidade se condensa, causando precipitação orográfica e gerando aridez em zonas de sombra.
Grandes áreas elevadas também aumentam a sinuosidade dos ventos na troposfera, participam do controle do albedo planetário
e influenciam o balanço energético global. Esta síntese bibliográfica focaliza os efeitos na circulação atmosférica causados pela
mudança dos limites das terras emersas e do relevo, em escala continental. Processos endógenos interferem nos padrões de de-
nudação e nos ciclos da água e de elementos químicos como carbono e nitrogênio. Não há consenso, entretanto, no entendimento
dessa dinâmica: vários pesquisadores atribuem papel decisivo da Tectônica de Placas nas alterações climáticas globais ao longo do
Tempo Geológico, enquanto outros identificam apenas uma singela, porém intrigante, ligação. Apresenta-se proposta de atividade
didática para visualização das interações entre o relevo e a atmosfera.

PALAVRAS-CHAVE: Geologia, circulação atmosférica, oceanos, orogênese, ensino-aprendizagem.

TERRÆ DIDATICA 11-3,2015 ISSN 1679-2300 181

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