Sie sind auf Seite 1von 6

Paul Johnson: “O terrorismo internacional (…) é um problema especifico e identificável em

si mesmo”

O texto que vai abaixo foi publicado no Estadão em 7 de outubro de 1979. Reparou na data? Pois bem. Leia o texto e
se assuste ao lembrar o que aconteceu 22 anos depois:
Os sete pecados mortais do terrorismo
Uma equivocada abordagem do terrorismo é vê-lo como um dos muitos sintomas de uma grave
doença de nossa sociedade, parte de um padrão de violência que inclui a delinqüência Juvenil, a elevação das
taxas de criminalidade, os distúrbios estudantis, o vandalismo, a fraude no futebol e tudo o mais que pode ser
atribuído à sombra ameaçadora da bomba atômica, aos divórcios cada vez mais freqüentes, aos serviços de
bem-estar social inadequados e à pobreza. Esta analise geralmente termina na conclusão sem sentido e
derrotista de que a própria sociedade deve ser acusada: “Somos todos culpados”.
O terrorismo internacional não é parte de um problema geral humano. É um problema especifico
e identificável em si mesmo. E porque é específico e identificável, porque pode ser isolado do contexto que o
engloba, é um problema que tem soluções. Este é o primeiro ponto que deve ficar claro. Dizer que o
problema tem soluções não significa subestimar seu tamanho e seu perigo. Ao contrário: é quase impossível
exagerar a ameaça que o terrorismo representa para nossa civilização. Como o assassínio de lorde
Mountbatten e de 21 outras pessoas pela ala provisória do IRA nos fez recordar, a ameaça é mais imediata —
e, portanto, de certa forma mais grave — que o risco da guerra nuclear, da explosão demográfica, da poluição
global ou da exaustão dos recursos naturais. Estas ameaças à nossa civilização podem ser, têm sido ou foram
contidas. Mas isso não aconteceu com o terrorismo. Muito ao contrário. O terrorismo está cada vez mais
presente, e uma razão pela qual ele constitui um perigo tão grave e crescente é que muito poucas pessoas no
mundo civilizado — governos e parlamentares, televisões e jornais, o público, em geral — levam o terrorismo
suficientemente a sério. A maioria das pessoas, a quem falta um adequado conhecimento da história, tende a
subestimar a fragilidade de uma civilização. Elas não percebem que as civilizações declinam, da mesma forma
como se desenvolvem. As civilizações podem ser, e têm sido, destruídas por forças malignas. Em nossa
história documentada houve ao menos três idades tenebrosas. Uma ocorreu no terceiro milênio antes de
Cristo e esmagou a civilização do Antigo Império egípcio, a cultura que construiu as pirâmides. Outra
aconteceu perto do final do segundo milênio antes de Cristo e destruiu a Grécia Micênica, a Creta Minoana,
o Império Hittta e muito mais. Estamos mais familiarizados com a terceira, que destruiu o Império Romano
do Ocidente no quinto século depois de Cristo. A Europa levou 800 anos para se recuperar do desastre, em
termos de organização, capacidade técnica e padrão de vida. Houve um fator comum a todas essas grandes
catástrofes. Elas ocorreram quando a divulgação da tecnologia dos metais e a disponibilidade de matérias-
primas possibilitaram às forças do barbarismo igualar ou superar as forças civilizadas na qualidade e
quantidade de suas armas. Porque, em última instância, a civilização se mantém ou perece não pelos seus
pactos, mas pela espada.
Édward Gibbon escreveu no fim de seu grande livro, O Declínio e a Queda do Império Romano:
As nações selvagens do globo são o inimigo comum da sociedade civilizada, e podemos bem nos perguntar
com ansiosa curiosidade se a Europa ainda está ameaçada pela repetição de tais calamidades que antigamente
oprimiram os exércitos e as instituições de Roma. Escrevendo na década de 1780, no limiar da revolução
industrial, Gibbon pensou poder responder sua própria indagação com uma negativa razoavelmente
confiante. Ele considerou corretamente que o poder do mundo civilizado aumentaria, e acreditou que os
princípios científicos e racionais sobre os quais tal poder se apoiava estavam-se tornando cada vez mais
firmemente estabelecidos, ano após ano. Agora, aproximadamente 200 anos depois, não podemos estar
seguros disso. Os princípios da ciência objetiva e da razão humana, a noção do primado da lei, a supremacia
da política sobre a força, estão sendo submetidos, em toda parte, a um desafio intencional e encarniçado. As
forças da selvageria e da violência que constituem esse desafio tomam-se mais audaciosas, mais numerosas e,
sobretudo, melhor armadas. As armas à disposição dos terroristas, sua capacidade e, não menos importante,
as técnicas organizacionais com as quais eles empregam tais armas e habilidades, estão-se aperfeiçoando
aceleradamente — a um nível mais rápido do que as contramedidas de que lança mão a sociedade civilizada.
Tomemos o exemplo mais recente: a Irlanda do Norte. A ala provisória do IRA e o grupo
terrorista marxista INLA agora estão matando membros das forças de segurança à razão de dez por mês. A
última vez que as forças de segurança mataram um terrorista foi em novembro de 1978. Existem duas razões
para isso. A primeira é a substituição da velha estrutura amadorística do IRA por aquilo que o
correspondente da BBC para assuntos de defesa chama de “uma moderna força clandestina, bem organizada
e bem equipada, com uma clássica estrutura celular, forte e quase impossível de ser penetrada ou quebrada”.
A segunda é que o alcance e a qualidade das armas agora usadas pelos terroristas irlandeses está-se tornando
formidável. A qualidade desse arsenal e da organização ficaram plenamente demonstradas no dia 27 de
agosto. Pelo menos nesse teatro, o barbarismo está conquistando terreno à civilização.
Os sete pecados
Esses ameaçadores aperfeiçoamentos do terrorismo tornaram-se possíveis graças à
disponibilidade de apoio internacional, abastecimento e serviços de treinamento para os terroristas. O
terrorismo já não é mais um fenômeno puramente nacional, que pode ser destruído a nível nacional. É uma
ofensiva internacional — uma guerra aberta e declarada contra a própria civilização — que apenas pode ser
derrotada por uma aliança ativa entre as potências civilizadas. O impacto do terrorismo — não apenas sobre
os indivíduos, não apenas sobre as nações isoladas, mas sobre a humanidade como um todo — é
intrinsecamente mal. E assim é por um número de razões demonstráveis que eu chamarei de os sete pecados
mortais do terrorismo.
Primeiro, o terrorismo é a exaltação deliberada e fria da violência sobre todas as formas de
atividade política. O terrorismo moderno emprega a violência não como um mal necessário, mas como uma
desejável forma de ação. Existe um claro antecedente intelectual na presente onda de terrorismo. Este surge
não apenas da justificação leninista e trotsquista da violência, mas do pós-guerra, da filosofia da violência
derivada de Nietzsche, através de Heidegger, e largamente popularizada por Sartre, seus colegas e discípulos.
Desde 1945, ninguém influenciou mais os jovens do que Sartre e ninguém fez mais para legitimar a violência
da esquerda. Foi Sartre quem adaptou as técnicas lingüísticas, comuns na filosofia alemã, de identificação de
certos sistemas políticos com o equivalente de “violência”. Assim justificando a violência de correção ou as
respostas. Em 1962, ele disse: “Para mim, o problema essencial é rejeitar a teoria segundo a qual a esquerda
não deve responder à violência com a violência”.
Algumas pessoas influenciadas por Sartre foram muito mais além —principalmente Franz
Fanon. Sua mais influente obra, “Les Damnés de La Terre” que tem um prefácio de Sartre, provavelmente
desempenhou um papel maior na divulgação do terrorismo no Terceiro Mundo do que qualquer outro
tratado. A violência é apresentada como libertação, um fundamental tema sartreano. Para um negro, escreve
Sartre em seu prefácio, “atirar em um europeu é matar dois pássaros com uma cajadada, porque destrói um
opressor e o homem que ele oprime ao mesmo tempo”. Matando, o terrorista renasce —livre. Fanon pregou
que a violência é uma forma necessária de regeneração social e moral para o oprimido. “Apenas a violência”,
ele escreveu, “a violência cometida pelo povo, a violência organizada e instruída pelos seus líderes, possibilita
às massas compreender as verdades sociais e fornece-lhes sua chave”. A noção da “violência organizada e
instruída”, conduzida pelas elites, é a fórmula para o terrorismo. Fanon vai além: “Ao nível dos indivíduos, a
violência é uma força purificadora. Ela liberta o oprimido de seu complexo de inferioridade e de seu
desespero e inação”.
É precisamente esta linha de pensamento, de que a violência é positiva e criativa, que capacita os
terroristas a cometer os atos horríveis pelos quais são responsáveis. O mesmo argumento — quase que
palavra por palavra — foi usado por Hitler que repetia, interminável, “a virtude está no derramamento de
sangue”. Portanto, o primeiro pecado mortal do terrorismo é a justificação moral do assassínio, não apenas
como um meio para um fim, mas por si mesmo.
O segundo pecado mortal é a supressão deliberada dos instintos morais do homem. Os
organizadores do terrorismo descobriram que não é suficiente fornecer a seus recrutas as justificações
intelectuais para o assassínio: a instintiva humanidade que há em nós deve ser sistematicamente embotada,
ou do contrário rejeitará o sofisma. Na Rússia dos anos 1870 e 1880, os grupos de terror Neznavhalie
favoreciam o que chamavam de “terror sem motivos” e consideravam qualquer assassínio uma “ação
progressiva”. Uma vez adotado o terror indiscriminado, o grupo sofre rapidamente a desintegração moral —
de fato, o abandono de qualquer sistema de critérios morais torna-se um elemento essencial de seu
treinamento. O fato é brilhantemente descrito na grande novela antiterrorista de Dostoievski, “Os
Possuídos”, pelo diabólico Stavrogin, que argumenta que o grupo terrorista somente pode ser unido pelo
medo e pela depravação moral: “Persuada quatro membros do círculo a matar um quinto”, ele diz, “sob a
desculpa de que ele é um delator, e você os terá amarrado em um só nó pelo sangue derramado. Eles serão
seus escravos”. Esta técnica está sendo indubitavelmente usada por alguns grupos terroristas. Neles, as
recrutas são submetidas a repetidos estupros, ou forçadas a tomar parte de atos coletivos de depravação
sexual, de forma a anestesiar os reflexos morais e a prepará-las para a brutal transformação de suas naturezas
que os seus futuros “deveres” exigirão. A teoria está baseada na presunção de que nenhum homem ou mulher
pode ser efetivamente um terrorista enquanto mantiver os elementos morais da personalidade humana. O
segundo pecado mortal do terrorismo é uma ameaça não apenas à civilização, mas à humanidade como tal.
O terceiro pecado mortal é a rejeição da política como um meio normal pelo qual as
comunidades resolvem seus conflitos. Para os terroristas, a violência não é apenas uma arma política, para ser
usada in extremis: a violência é um substituto para todo o processo político. Os terroristas árabes, o IRA, a
quadrilha Baden-Meinhof, os Exércitos e Brigadas Vermelhas do Japão e da Itália e outros, nunca
mostraram qualquer desejo de se engajar no processo político democrático. Rejeitam a noção de que a
violência é uma técnica a ser empregada como último recurso, a ser adotada apenas se falharam todas as
outras tentativas para se obter justiça. Assim fazendo, eles rejeitam a vertente do pensamento civilizado,
baseada, como boa parte de nossa gramática política, nos teóricos do contrato social do século XVII. Hobbes
e Locke trataram corretamente a violência como a antítese da política, uma forma de ação característica do
arcaico reino do estado da natureza. Eles viam a política como uma tentativa para criar um mecanismo para
evitar o barbarismo e tornar possível a civilização: a política torna a violência desnecessária e também
antinatural para o homem civilizado. A política é uma parte essencial da maquinaria básica da civilização e,
rejeitando a política, o terrorismo tenta fazer inexeqüível a civilização.
O Estado totalitário
Entretanto, o terrorismo não permanece neutro na batalha política. Não tem tendência, a longo
prazo, para a anarquia: ele leva ao despotismo. O quarto pecado mortal do terrorismo é que ele se associa
ativamente, sistematicamente e necessariamente à propagação do Estado totalitário. Os países que financiam
e sustentam a infra-estrutura internacional do terrorismo — que dão aos terroristas refúgio e abrigo, bases e
campos de treinamento, dinheiro, armas e apoio diplomático como um assunto de deliberada política de
Estado — são, sem exceção, Estados despóticos. Todos esses Estados têm governos militares ou policiais. A
noção de que o terrorismo se opõe às “forças repressivas” da sociedade é falsa — de fato, é o contrário da
verdade. O terrorismo internacional, e os vários movimentos terroristas a seu serviço, é inteiramente
dependente da boa vontade e do apoio ativo de Estados policiais.
O que nos traz ao quinto pecado mortal. O terrorismo internacional não representa perigo para o
Estado totalitário. Esta espécie de Estado sempre pode-se defender através do assassínio judicial, da prisão
preventiva, da tortura de prisioneiros e suspeitos, e do completo controle das atividades terroristas. Estes
Estados não têm de se limitar ao primado da lei ou a qualquer outra consideração de humanidade ou ética. O
terrorismo apenas pode fincar pé em um Estado onde o Poder Executivo sofre alguma espécie de restrição
legal, democrática e moral. O regime do Xá do Irã foi derrubado —e os terroristas tiveram um papel
importante na operação — não porque ele era implacável, mas porque hesitou em ser implacável. O efeito
destas vitórias terroristas não é a expansão, mas contração da liberdade e da lei. O Irã agora é um Estado
totalitário, onde o primado da lei não mais existe, e um Estado a partir do qual os terroristas podem operar
com segurança e com ativa assistência oficial.
Assim, o quinto pecado mortal é que o terrorismo discrimina entre o Estado de Direito e o
Estado totalitário, em favor deste último. Ele pode destruir a democracia, como destruiu o Líbano, mas não
pode destruir um Estado totalitário.
A base do terrorismo está no mundo totalitário — é de lá que vem seu dinheiro, treinamento,
armas e proteção. Mas, ao mesmo tempo, ele apenas pode operar efetivamente na liberdade de uma
civilização liberal. O sexto pecado mortal do terrorismo é que ele explora o aparelho de liberdade das
sociedades liberais e portanto o ameaça.
Ao defrontar-se com a ameaça do terrorismo, uma sociedade livre deve armar-se. Mas o simples
processo de se armar contra o perigo interno, ameaça as liberdades, decoro e padrões que fazem uma
sociedade civilizada. O terrorismo é uma ameaça direta e contínua a todos os instrumentos protetores de uma
sociedade livre. É uma ameaça à liberdade de imprensa. É uma ameaça ao primado da lei, necessariamente
atingido pela legislação de emergência e pelos poderes especiais. É uma ameaça ao habeas corpus, ao
processo de humanização dos códigos penais e da civilização de nossas prisões. É uma ameaça a qualquer
sistema de controle dos excessos da polícia, das autoridades carcerárias ou de quaisquer outras forças
restritivas da sociedade. Já o sétimo pecado mortal do terrorismo opera, paradoxalmente, na direção oposta.
Uma sociedade livre que reage ao terrorismo pelo recurso aos métodos autoritários se prejudicará
necessariamente. Mas um perigo muito maior — e muito mais comum hoje em dia — é que tais sociedades
livres, em sua ansiedade para evitar os excessos autoritários, deixam de se armar contra a ameaça terrorista, e
assim abdicam à sua responsabilidade de manter a lei. Os terroristas têm êxito quando conseguem provocar a
opressão, mas triunfam quando encontram o apaziguamento. O sétimo e mais mortal dos pecados do
terrorismo é que ele solapa a vontade de uma sociedade civilizada de se defender. Temos visto isso acontecer.
Encontramos governos negociando com terroristas — negociações que visam não a destruição ou
desarmamento dos terroristas, pois tais negociações podem por vezes ser necessárias, mas negociações cujo
resultado inevitável é ceder em parte às exigências dos terroristas.
Encontramos governos providenciando dinheiro de resgate para terroristas, ou permitindo que
cidadãos privados o façam, até mesmo auxiliando no processo pelo qual esse dinheiro chega às mãos dos
terroristas. Encontramos governos libertando criminosos condenados, em resposta a exigências de terroristas;
concedendo a terroristas o status, direitos, vantagens e, acima de tudo, a legitimidade de interlocutores em
negociações.
Encontramos governos concedendo a terroristas condenados o status oficial e privilegiado de
prisioneiros políticos, o que é sempre uma asneira e uma rendição. Encontramos governos se submetendo às
exigências — uma parte invariável da estratégia terrorista — de inquéritos oficiais, ou investigações
internacionais, sobre alegados maus tratos a terroristas suspeitos ou condenados. Encontramos jornais e redes
de televisão — e, freqüentemente, redes estatais de televisão — colocando governos democráticos e
terroristas em um nível de igualdade moral.
Encontramos governos se omitindo em seu dever de persuadir o público de que os terroristas não
são políticos desencaminhados. Eles são criminosos. Eles são criminosos extraordinários, de fato, de vez que
representam uma ameaça não apenas para os indivíduos que assassinam sem compaixão, mas para toda a
matriz da sociedade. Mas mesmo assim continuam criminosos.
Em suma, o sétimo e mais mortal pecado do terrorismo é que ele tenta induzir a civilização a
cometer o suicídio.
 

Das könnte Ihnen auch gefallen