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Daniel A. Stariolo
Departamento de Física
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2013
i
Sumário
3 Estatísticas quânticas 23
3.1 Sistemas de partículas indistinguíveis . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 Gases ideais quânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.2.1 O gás de Maxwell-Boltzmann e o limite clássico . . . . . 28
3.2.2 Estatística de Bose-Einstein . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.2.3 Estatística de Fermi-Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
ii
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 iii
Fundamentos da Mecânica
Estatística
1
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 2
dqi ∂H(p, q)
=
dt ∂pi
dpi ∂H(p, q)
= − (1.1)
dt ∂qi
H(p, q) = E. (1.2)
Como V0 é arbitrário
dρ ~
+ ∇ · (~v ρ) = 0 (1.6)
dt
Mas
~ · ~v = ∂ q̇ + ∂ ṗ
∇
∂q ∂p
3N
X ∂ ∂H ∂ ∂H
= + − =0 (1.7)
i=1
∂qi ∂pi ∂pi ∂qi
Então:
∂ρ ~ = 0.
+ ~v · ∇ρ (1.8)
∂t
A equação anterior se conhece como o Teorema de Liouville. Diz que a de-
rivada total, ou derivada convectiva de ρ é nula para qualquer ponto e qualquer
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~ = q̇ ∂ρ ∂ρ ∂H ∂ρ ∂H ∂ρ
~v · ∇ρ + ṗ = − = {ρ, H} , (1.9)
∂q ∂p ∂p ∂q ∂q ∂p
onde {ρ, H} é o parêntese de Poisson entre ρ e H, podemos reescrever o Teorema
de Liouville da seguinte forma:
∂ρ
= − {ρ, H} . (1.10)
∂t
Em equilíbrio, ρ naõ depende explicitamente do tempo e então {ρ, H} = 0. Esta
condição se pode satisfazer, por exemplo, se ρ for uma função explícita de H,
ou seja, se ρ(p, q) ≡ ρ[H(p, q)]. O caso mais simples corresponde a ρ = cte.
Agora estamos em condições de enunciar o Postulado Fundamental da Mecâ-
nica Estatística. Para formular o mesmo de forma transparente conceitualmente,
vamos relaxar a condição que a energia seja estritamente constante, permitindo
então que flutue entre dois valores próximos E e E + ∆, com ∆ ≪ E. Isto pode
ser justificado pelo fato de, na realidade, não existirem sistemas perfeitamente iso-
lados. A posteriori vamos ver que esta condição não afeta os resultados, que serão
independentes de ∆.
onde Z
Γ(E) = dp dq (1.12)
E≤H(p,q)≤E+∆
A hipótese ergódica
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 5
τR 1 Γ(R)
Z
lim ≡ hφiT = φ(p, q) dp dq = (1.17)
T →∞ T Γ(E) E≤H(p,q)≤E+∆ Γ(E)
onde Omn = hφm |Ô|φn i são os elementos de matriz do operador Ô na base consi-
derada. Em um sistema formado por muitos corpos existirão muitos microestados
Ψi (q) compatíveis com os vínculos macroscópicos, e estes serão a base para defi-
nir um ensemble. Explicitamente:
X
Ψi (q) = cin φn (q) (1.20)
n
e X
hΨi |Ô|Ψi i = Omn cin ci∗
m (1.21)
m,n
tal que X
hÔi = ρnm Omn (1.24)
m,n
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 7
Com esta definição, a média no ensemble de um operador Ô pode ser escrita como
X
hÔi = ρ̂Ô = T r ρ̂Ô = T r Ô ρ̂ (1.26)
nn
n
Notemos que
X X X X
T r ρ̂ = ρnn = pi |cn |2 = pi = 1, (1.27)
n i n i
onde
c1
..
i .
Ψ = e Ψi† = (c∗i , . . . c∗l , . . .) (1.29)
cl
..
.
Os microestados satisfazem a equação de Schroedinger ih̄∂Ψi /∂t = ĤΨi . Trans-
pondo e tomando o complexo conjugado obtemos:
∂Ψi†
−ih̄ = Ψi† Ĥ † = Ψi† Ĥ (1.30)
∂t
onde usamos o fato que Ĥ é hermitiano. Com este resultado e a definição (1.28)
pode-se mostrar que ρ̂ satisfaz
∂ ρ̂ h i
ih̄ = − ρ̂, Ĥ (1.31)
∂t
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9
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= S1 (E1 , V1 , N1 ) + S2 (E2 , V2 , N2 )
Resta verificar se a definição de Boltzmann satisfaz a segunda condição. Para isto
suponhamos que removemos a parede adiabática e permitimos que os subsistemas
troquem energia (parede diatérmica). Desta forma a energia de cada subsistema
poderá variar entre 0 e E, tal que E1 + E2 = E em todo momento. O número de
microestados do sistema total, de energia E, pode ser escrito como
Γ(E, E1 ) 1
W (E, E1 ) = 3N
= 3N Γ1 (E1 )Γ2 (E − E1 ) (2.4)
h h
O número total de microestados compatível com a energia E será dado pela soma
de W (E, E1 ) para todos os valores de E1 entre 0 eE. Se dividirmos o espectro de
energias em intervalos de largura ∆, então
E/∆
X
Γ(E) = Γ1 (Ei )Γ2 (E − Ei ) (2.5)
i=1
ou
E
ln Γ1 (E 1 )Γ2 (E 2 ) ≤ ln Γ(E) ≤ ln + ln Γ1 (E 1 )Γ2 (E 2 ) (2.7)
∆
Pj = c WR (E0 − Ej ) (2.30)
onde a última linha corresponde à variação de primeira ordem. Como esta é arbi-
trária se obtém
α0 α1
ρnn = exp −1 + En (2.38)
kB kB
Da condição de normalização obtemos
X
α0 α1
exp 1 − = exp En = ZN (α1 ) (2.39)
kB n
k B
e−β Ĥ
ρ̂ = (2.44)
T r e−β Ĥ
Já para um sistema clássico a densidade de probabilidade é dada por
e−βH(p,q)
ρ(p, q) = (2.45)
ZN (T, V )
onde
dp dq
Z
ZN (T, V ) = exp {−βH(p, q)} (2.46)
h3N
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onde
dp dq
Z
g(E) = (2.58)
H(p,q)=E h3N
é conhecida como densidade de estados. g(E)dE é o número de estados com
energias entre E e E + dE. Em particular, se f (H) = Θ(E − H), onde Θ(x) é a
função degrau, obtemos
Z E
Σ(E)
I = 3N = g(E ′)dE ′ (2.59)
h 0
Então
1 ∂Σ(E) w(E)
g(E) = = = eSm (E)/kB (2.60)
h3N ∂E h3N
onde Sm é a entropia microcanônica correspondente à energia E. Por tanto, po-
demos escrever a função de partição na forma
Z ∞
ZN (T ) = e−βE g(E)dE (2.61)
0
kB ln ρ̂ = (α0 − kB ) + α1 Ĥ + α2 N̂ (2.70)
ou
α0
α1 α
−1 Ĥ+ k 2 N̂
ρ̂ = e kB
e kB B (2.71)
Usando a normalização da matriz densidade, definimos a função
α1 α2
α
1− k 0
Z ≡e B = T r exp Ĥ + N̂ . (2.72)
kB kB
A função Z é conhecida como grande função de partição. Para fixar os valores
das constantes α1 e α2 multiplicamos (2.70) por ρ̂ e tomamos o traço:
(α0 − kB ) + α1 U + α2 N + S = 0 (2.73)
ou
−kB T ln Z + α1 T U + α2 T N + T S = 0 (2.74)
Agora identificando α1 = −1/T , α2 = µ/T e definindo a função grande poten-
cial:
Ω(T, V, µ) = −kB T ln Z (2.75)
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 22
obtemos:
Ω(T, V, µ) = U − T S − µN (2.76)
Então
Z(T, V, µ) = e−βΩ(T,V,µ) = T r e−β(Ĥ−µN̂ ) (2.77)
e
1 h i
ρ̂ = exp −β(Ĥ − µN̂) . (2.78)
Z
Das relações anteriores podemos obter, por exemplo,
∂Ω ∂Ω
S=− N =− (2.79)
∂T V,µ ∂µ T,V
Estatísticas quânticas
23
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onde,
P de forma geral, o conjunto de números de ocupação deve satisfazer o vínculo
k nk = N. Este vínculo torna o cálculo explícito da função de partição uma
tarefa complicada em geral. A dificuldade se reduz se considerarmos o ensemble
grande canônico. A grande função de partição é dada por:
∞
X
Z(T, µ, V ) = T r e−β(Ĥ−µN̂ ) = z N Z(T, N, V ) (3.18)
N =0
∞
X X
= eβµN exp (−βn1 ǫ1 − βn2 ǫ2 − · · · )
N =0 {nk }
∞ X
X
= exp (−β(ǫ1 − µ)n1 − β(ǫ2 − µ)n2 − · · · )
N =0 {nk }
Como N está somado entre zero e infinito, e os n′k s estão sujeitos ao vínculo já
visto, a última linha é equivalente a somar os n′k s sem restrições:
X
Z(T, µ, V ) = exp (−β(ǫ1 − µ)n1 − β(ǫ2 − µ)n2 − · · · )
n1 ,n2 ,...
X X
= e−β(ǫ1 −µ)n1 e−β(ǫ2 −µ)n2 . . .
n1 n2
YX
= exp [−β(ǫk − µ)nk ] (3.19)
k nk
P
Como também hNi = k hnk i, obtemos para o número de ocupação médio do
estado k:
hnk i = z e−βǫk (3.29)
Os resultados anteriores são válidos para qualquer espectro de energias ǫk . No
caso de partículas livres, os níveis de energia são dados pela solução da equação
de Shroëdinger:
ĥφk (q) = ǫk φk (q) (3.30)
onde
p̂2 h̄2 d2
ĥ ==− (3.31)
2m 2m dq 2
em uma dimensão espacial. A extensão para mais dimensões é imediata. Os
autoestados são ondas planas
ikq h̄2 k 2
φk (q) = C e com ǫk = (3.32)
2m
Suponhamos que as partículas estão em um recipiente de dimensão linear L, e
vamos exigir condições de contorno periódicas, isto é, φk (q) = φk (q + L), de
onde obtemos que eikL = 1. Esta condição determina os possíveis valores do
vetor de onda:
2π L L
k= n com n = 0, ±1, ±2, . . . ± −1 , (3.33)
L 2 2
No limite termodinâmico L → ∞ o espectro tenderá a ser continuo, de forma que
dk
X Z
f (k) → f (k) (3.34)
k
(2π/L)
onde em três dimensões k 2 = kx2 + ky2 + kz2 . A função grande potencial é dada por:
hnk i ≈ 0 (3.43)
com o que X
ln ZF D (T, µ, V ) = ln {1 + exp [−β(ǫk − µ)]} (3.45)
k
Lembrando que X
hNi = hnk i (4.3)
k
33
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dk
X Z
··· → 3
··· (4.5)
k
(2π/L)
g3/2 (0) = 0
∞
X 1
g3/2 (1) = 3/2
= ζ(3/2) = 2.612 . . . (4.10)
k
k=1
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3
g3/2(z)
g5/2(z) 2.612
1.342
0
0.0 .5 1.0
onde a função ζ(x) é a função zeta de Riemann. A derivada da g3/2 (z) diverge
para z → 1 e da expansão em série para z ≪ 1 se obtém que g3/2 (z) ∼ z para
valores pequenos de z, como se observa na figura 4.1.
A equação de estado (4.7) é uma equação implicita para a fugacidade z em
função de ρ e T . Mas é fácil observar que o lado esquerdo pode tomar valores arbi-
trariamente grandes para T suficientemente pequena ou ρ suficientemente grande.
Então, se λ3T ρ > 2.612 a equação não tem solução real, já que z ≤ 1. Concluimos
que deve haver alguma inconsistência no nosso cálculo anterior. Uma forma de
ver onde pode residir o problema é ver o comportamento do número médio de
partículas no estado fundamental, ou seja, quando ǫ = 0:
z
hn0 i = (4.11)
1−z
Notamos que limz→1hn0 i = ∞. Por tanto, o número de partículas no estado
fundamental diverge para z → 1 no limite termodinâmico. Vamos então analizar
em mais detalhe a forma como foi feito o limite termodinâmico no cálculo da
equação de estado. Para isso começamos por separar a contribuição do estado
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 36
1.0
V = 10
V = 100
1 z V = 1000
V 1− z
.5
0.0
0.0 .5 1.0
z
É possível mostrar que o limite inferior na última integral pode ser extendido a
zero sem afetar o resultado no limite termodinâmico, obtendo a equação de estado
na forma:
λ3 z
λ3T ρ = T + g3/2 (z) (4.13)
V 1−z
Na figura 4.2 vemos o comportamento do primeiro termo da equação (4.13)
para diferentes valores de V . Notamos que, sempre que V seja finito, a função
do lado direito de (4.13) diverge e z nunca atinge o valor máximo de um para
qualquer valor de T e ρ, por causa da divergência, como se mostra na figura 4.3(a).
Somente quando T → 0 ou ρ → ∞ então z → 1 e, consequentemente hn0 i → ∞,
como é de se esperar pois nestas condições todas as partículas devem estar no
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z
5 2
1 1
O O
V V
3
λ3T z 2.612
+ g3/ 2 (z) 1
V 1− z
2
λ3T ρ
1
g3/ 2 (z)
0 0
0.0 .5 z 1.0 0.0 .5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0
z
λ z 3 2.612 λ3T ρ
T
V 1− z
λ3T z
λ3T ρ ≈ + g3/2 (1) (4.14)
V 1−z
de onde podemos agora isolar para z(V ):
ρ0 V 1
z(V ) ≈ ∼1− (4.15)
1 + ρ0 V ρ0 V
onde ρ0 é uma quantidade que não depende de V . Assim, vemos que as soluções
para λ3T ρ ≥ 2.612 tendem para z = 1 quando V → ∞. A fugacidade de um gás
de Bose-Einstein, no limite termodinâmico é, por tanto:
0
λ3T ρ
0 1 2 3 4
2.612
0
0 1 T / Tc
hn0 i ρ0 1
= = 1 − 3 g3/2 (1) (4.20)
hNi ρ ρλT
3 3/2
λTc T
= 1− 3 =1− (4.21)
λT Tc
A função g5/2 (z) também é monótona crescente valendo g5/2 (0) = 0 e g5/2 (1) =
ζ(5/2) = 1.342 . . . e é mostrada na figura 4.1. Vejamos o comportamento do
primeiro termo da (4.24). Se z < 1 então é evidente que limV →∞ (1/V )(1 − z) =
0. Por outra parte, para z → 1:
1
lim ln (1 − z(V )) = 0 (4.26)
V →∞ V
T3
T2
T1
Yc(T2) Y
Figura 4.6: Isotermas do gás ideal de Bose-Einstein para três temperaturas T1 <
T2 < T3 . A linha tracejada corresponde à curva Pc (vc ).
ou seja, quando
λT 1/3
1/3
= g3/2 (1) ≈ 1, 377 (4.35)
v
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3.0
2.5
2.0
Cρ / (kBρ)
1.5
1.0
.5
0.0
0 Tc 1 2 3
kB T z hNikB T
P ≈ 3
= ρkB T = (4.38)
λT V
45
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onde 3/2
1 2m
D(ǫ) = 2 ǫ1/2 (5.14)
4π h̄2
e
1
f (ǫ) = (5.15)
eβ(ǫ−µ) + 1
é a função distribuição de Fermi-Dirac. Cambiando variáveis e integrando por
partes a expressão para a pressão do gás de Fermi (5.10) obtemos:
Z ∞
2U 2
P = = g ǫ D(ǫ) f (ǫ) dǫ (5.16)
3V 3 0
49
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Se o sistema possui invariância translacional então Cnn (~x1 , ~x2 ) ≡ Cnn (~x1 − ~x2 ).
A transformada de Fourier da função de correlação da densidade de dois pontos e
o chamado fator de estrutura:
Z
S(~q) = dd~x1 dd~x2 e−i~q·(~x1 −~x2 ) hn(~x1 )n(~x2 )i
= hn(~q)n(−~q)i (6.3)
onde Z X
n(~q) = dd x e−i~q·~x n(~x) = h e−i~q·~xi i (6.4)
i
as partículas não interagem entre si, exceto pela repulsão infinita que acontece
quando uma esfera tenta ocupar o espaço ocupado por outra. A energia potencial
do sistema então pode ser definida como
∞ if r < r0
U(r) = (6.7)
0 if r > r0
Se observam uma série de picos, tanto mais intensos quanto maior é a fração
de volume. O primeiro pico é o mais intenso, e reflete a presença de uma camada
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 52
de esferas que são vizinhas próximas da esfera central. As correlações com esta
primeira camada são fortes. Os sucessivos picos representam correlações com
as sucessivas camadas de vizinhos, e se percebe que a intensidade va decaindo
até atingir assintoticamente o valor 1, uma característica da definição matemática
da função de distribuição radial. O fator de estrutura tem um comportamento
semelhante no espaço recíproco.
• O sistema de esferas duras em d = 3 sofre uma transição de fase líquido-
sólido como função da densidade. O líquido com fração de volume 0.495
coexiste em equilíbrio com o sólido, que forma uma estrutura FCC (face
centered cubic) a uma f.d.v. 0.545.
• Na fase sólida a estrutura FCC apresenta uma f.d.v. de 0.7405, igual à HCP
(hexagonal close packed). Se comprimido rapidamente as esferas não con-
seguem formar uma estrutura cristalina periódica e formam uma estrutura
amorfa com “empacotamente aleatório” (random close packing). A f.d.v.
do RCP é 0.638.
• O sistema de esferas duras não é um sistema térmico, a energia térmica é
irrelevante frente a energia repulsiva da superfície. A variável relevante é a
fração de volume.
1. Uma rede de Bravais é uma arranjo infinito de pontos discretos, com uma
estrutura e orientação que aparece a mesma vista desde qualquer um dos
pontos da rede.
2. Uma rede de Bravais (tridimensional) consiste de todos os pontos cujos
vetores posição podem ser definidos como
~ = n1 ~a1 + n2 ~a2 + n3 ~a3
R (6.8)
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 53
onde ~a1 , ~a2 e ~a3 são três vetores quaisquer não coplanares e n1 , n2 e n3 são
inteiros.
Os vetores ~a1 , ~a2 e ~a3 são chamados vetores primitivos e permitem “desenvol-
ver” a rede completamente. As magnitudes dos vetores primitivos são conheci-
das como constantes de rede. Uma célula da rede determinada por um conjunto
qualquer de vetores primitivos se chama célula primitiva . Uma célula primitiva
também permite obter toda a rede por translações ao longo dos vetores primitivos.
A rede cristalina no espaço real se chama as vezes rede direta. É possível
definir uma rede recíproca no espaço de momentos, da seguinte forma:
~i · S
~j
X
H = −J S (6.12)
i,j
onde êij = ~rij /rij são vetores unitários na direção que une os sítios i e j. Notamos
que esta interação é de longo alcance, decaindo com a inversa do cubo da distân-
cia entre pares de spins. Ela também é anisotrópica, dependendo da orientação
relativa dos spins com os vetores da rede ~rij . A interação dipolar é tipicamente
4 ordens de grandeza menor que a interação de troca, e por tanto não é o fator
principal que leva ao alinhamento dos spins na fase ferromagnética. No entanto,
seu caráter de longo alcance produz campos magnéticos locais fortes, sendo res-
ponsável pela origem dos domínios magnéticos. Uma substância ferromagnética
em ausência de campo externo não apresenta, pelo geral, um alinhamento global
dos spins, mas um mosaico de domínios onde os spins apontam em diferentes di-
reções, como mostra a figura 6.4. Estas configurações são escolhidas pelo sistema
para minimizar a energia magnética global.
Em alguns cristais o efeito do potencial cristalino é forte o suficiente para
ser sentido pelos elétrons, produzindo a interação spin-órbita. Uma manifestação
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elétrons, que permitem obter diretamente imagens da estrutura magnética dos áto-
mos, como por exemplo SEMPA (Scanning electron microscopy with polarization
analysis), utilizada para obter as imagnes da figura 6.5.
Figura 6.6: Algumas moléculas que produzem fases de cristais líquidos e as tran-
sições de fases em função da temperatura.
de estrutura nestas fases tem a forma genérica descrita na figura 6.8(c) e (d).
Outro exemplo de sistema físico com uma variedade grande de fases con-
densadas são os polímeros. Por exemplo, os copolímeros de dibloco são sistemas
formados por duas cadeias poliméricas, cada uma das quais é formada por um tipo
molecular. Em função da concentração e temperaturas estes sistemas apresentam
segregação espontânea dos dois tipos moleculares, com formação de estruturas
complexas como lamelas, bolhas e faixas, similares as fases dos cristais líquidos,
porém de natureza completamente diferente. O controle da periodicidade destas
estruturas é importante para potenciais aplicações na industria de semicondutores,
onde os copolímeros podem ser utilizados como moldes para a posterior depo-
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~ = 1 ~i
X
M S (6.19)
N i
X N
X
H = −J σi σj − B σi (7.1)
hiji i=1
onde σi = ±1. Para resolver o modelo em uma dimensão é útil rescrever o Ha-
miltoniano em uma forma simétrica:
N N
X 1 X
H = −J σi σi+1 − B (σi + σi+1 ) (7.2)
i=1
2 i=1
70
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 71
Notamos que se o campo externo for nulo a magnetização também será zero para
qualquer temperatura finita. Isto elimina a possiblidade de ter uma transição de
fase para uma fase com magnetização espontânea a temperatura finita. No entanto,
também é possível ver que para T = 0 a magnetização satura no valor m = 1 in-
dependentemente do valor de B, o que indica a presença de uma transição de fase
a T = 0. Também, a partir do resultado anterior, podemos obter a magnetização
do paramagneto fazendo J = 0 → m = tanh (βB).
Para campos externos fracos B ≪ 1 podemos aproximar os senos hiperbólicos
pelo primeiro termo da série de Taylor, linear em βB, e derivando em relação ao
campo obtemos a susceptibilidade da cadeia de Ising no regime de resposta linear:
e2J/kB T
∂m
χ0 (T ) = = (7.11)
∂B T kB T
∂ ln Z(T, B = 0)
u0 (T ) = − = −J tanh (βJ) (7.12)
∂β
e o calor específico:
∂u0
c0 (T ) = = kB (βJ)2 sech2 (βJ) (7.13)
∂T
O calor específico apresenta apenas um máximo arredondado, como se pode ver
na figura 7.1, semelhante ao que acontece em qualquer sistema de dois estados, o
que é conhecido como efeito Schottky.
Como a cadeia de Ising é um sistema de spins em interação, é natural su-
por que os spins devem apresentar correlações. Vejamos como calcular funções
de correlação spin-spin neste sistema. Fixamos B = 0 e vamos permitir que a
constante de interação J = Ji seja agora função da posição, por motivos apenas
técnicos que serão esclarecidos a seguir. Além disso, vamos considerar agora uma
cadeia aberta, de forma que possui somente N − 1 pares de vizinhos próximos.
Desta forma, a função de partição do sistema pode ser escrita como:
X X NY
−1
Z(T, J1 , . . . , JN −1 ) = ··· eβJi σi σi+1 (7.14)
σ1 =±1 σN =±1 i=1
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 73
onde a última identidade se deve a que o cosh é função par e σi = ±1. Procedendo
com as somas podemos escrever uma relação de recorrência para a função de
partição:
e por tanto
N −1
1 1 X
ln Z(T ) = ln 2 + ln cosh (βJi ) (7.18)
N N i=1
De (7.14) observamos que a correlação entre um par de spins vizinhos é dada por:
1 1 ∂ 1 ∂
hσk σk+1 i = Z= ln Z (7.19)
Z β ∂Jk β ∂Jk
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 74
obtemos
S s(m) 1 1
≡ = ln 2 − (1 + m) ln (1 + m) − (1 − m) ln (1 − m) (7.28)
kB N kB 2 2
Para obter o potencial termodinâmico de interesse, f (T, m) = U(m) − T S(m),
temos que calcular a energia interna, U = hHi:
−1
U = Zm T rm H e−βH . (7.29)
f (T, m) = (U − T S)/N
1 kB T
= − Jzm2 − hm + [(1 + m) ln (1 + m) + (1 − m) ln (1 − m)]
2 2
−kB T ln 2 (7.31)
e
1 1
f (T, m) = (kB T − zJ)m2 + kB T m4 − kB T ln 2 + . . . (7.33)
2 12
Para T fixa, a função f apresenta um mínimo único em m = 0 se T ≥ zJ/kB .
Exatamente em Tc = zJ/kB a função desenvolve dois mínimos simétricos com
m 6= 0. Esta temperatura indica a presença de uma quebra espontânea da simetria
de inversão do modelo de Ising, assinatura de uma transição de fase de segunda
ordem, na temperatura crítica:
zJ
Tc = (7.34)
kB
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 78
Então
m = tanh [β(h + zJm)]. (7.36)
A quantidade h + zJm é o campo local médio, o mesmo para todos os sítios
do sistema. Ele tem uma contribuição do campo externo h e uma contribuição
proveniente do campo molecular produzido pelos vizinhos próximos de um sítio,
zJm = kB Tc m. O comportamento da equação de estado pode ser visualizado na
figura 7.3.
Expandindo a equação de estado para temperaturas baixas e campo nulo obte-
mos:
m = tanh (βzJm) ≈ 1 − 2 e−2βzJ (7.37)
e por tanto m → 1 exponencialmente rápido com T . Perto da temperatura de
transição m ≪ 1 e podemos expandir para m pequeno:
1 1
m ≈ (Tc /T )m − (Tc /T )3 m3 ≈ (Tc /T ) m − m3 , (7.38)
3 3
onde no último passo aproximamos (Tc /T )3 ∼ 1 já que o termo cúbico tende
para um mais rápido que o termo linear quando T → Tc . Notamos que m = 0 é
sempre solução. Existem outras duas soluções com m 6= 0:
zero com uma lei de potências e o correspondente expoente crítico, é uma mani-
festação genérica de transições de fase de segunda ordem, ou continuas. Todos os
sistemas/modelos cujo parâmetro de ordem apresenta o mesmo comportamento
crítico, no sentido do parâmetro de ordem ir a zero com uma lei de potências
caracterizada por um mesmo expoente, pertencem a mesma classe de universali-
dade.
Na aproximação de Bragg-Williams, como desenvolvida acima, assumimos
que o parâmetro de ordem é espacialmente uniforme hσi i = m. Esta condição
pode ser relaxada para permitir um parâmetro espacialmente variável hσi i = mi .
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 80
Esta forma é preferível para tratar casos nos quais o parâmetro de ordem não é
uniforme, como é o caso de fases moduladas em cristais líquidos, ou diferentes
tipos de ordem antiferromagnética.
Então, para que φ possa ter uma solução real e finita para T < Tc se deve
exigir que a02 = 0.
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 82
∂2f
0 se T > Tc ;
cV = −T = (7.55)
∂T 2 T a2 /(8u) se T < Tc .
onde φΛ (~x) ≡ hφΛ (~x)iΛ e f (T, φ(~x)) tem a forma da densidade de energia livre
de Landau homogênea (7.47). Agora a energia livre de Landau F [φΛ (~x)] é um
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 88
onde F [φ(~x)] é dada por (7.59) e o subíndice Λ será eliminado da notação exceto
quando o significado das expressões não seja claro.
O parâmetro de ordem na escala Λ, que para um sistema magnético é a mag-
netização local, é dado por:
1 δZ δA
hφi (~x)i = =− , (7.65)
Z δ βhi (~x) δhi (~x)
~ e
onde hφi i e hi representam a i-ésima componentes cartesianas dos vetores hφi
~h, e o símbolo δ representa uma derivada funcional. O potencial termodinâmico
obedece a seguinte identidade diferencial:
Z
dA = −S dT − dd x hφ(~~ x)i · δ~h(~x). (7.66)
δhφi (~x)i
χij (~x, ~x′ ) = , (7.67)
δhj (~x′ )
~ x).
onde i, j são as componentes i e j de um parâmetro de ordem vetorial φ(~
A função de correlação conectada representa as correlações das flutuações do
parâmetro de ordem em relação ao valor médio, e é dada por:
Gij (~x, ~x′ ) = h[φi (~x) − hφi (~x)i][φj (~x′ ) − hφj (~x′ )i]i
1 δ 2 ln Z
= (7.68)
β 2 δhj (~x′ )δhi (~x)
1 δhφi (~x)i
= = T χij (~x, ~x′ )
β δ hj (~x′ )
A Derivada funcional
Consideremos um funcional Φ[h(~x)]. A derivada funcional de Φ é definida
como:
δΦ Φ[h(~x) + ǫδ(~x − ~y )] − Φ[h(~x)]
= lim . (7.73)
δh(~y ) ǫ→0 ǫ
δΦ/δh(~y ) representa o câmbio induzido em Φ em resposta a um câmbio em h(~x)
no ponto ~x = ~y .
Utilizando esta definição é possível mostrar algumas derivadas funcionais co-
muns:
δh(~x)
= δ(~x − ~y ), (7.74)
δh(~y )
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 91
δf (h(~x)) δh(~x)
= f′ = f ′ δ(~x − ~y ), (7.75)
δh(~y ) δh(~y )
δf (g(h(~x))) δh(~x)
= f ′ g′ = f ′ g ′ δ(~x − ~y ), (7.76)
δh(~y ) δh(~y )
δf δφ(~x)
= f′ = 4φ3 (~x)δ(~x − ~y ) (7.77)
δφ(~y ) δφ(~y )
δhφi (~x)i
= δik δ(~x − ~x′′ )
δhφk (~x′′ )i
δhφi (~x)i δhj (~x′ )
Z
= dd x′ . (7.81)
δhj (~x′ ) δhφk (~x′′ )i
onde se fez uso da regra da cadeia na derivada funcional e índices repetidos estão
somados. A inversa de χij (~x, ~x′ ) é definida na forma:
Z
dd x′ χij (~x, ~x′ )χ−1 x′ , ~x′′ ) = δik δ(~x − ~x′′ ).
jk (~ (7.82)
superfície:
δ δ
Z Z
d
′
d x ∂i φ(~x)∂i φ(~x) = dd x [∂i φ(~x)∂i φ(~x)]
δφ(~x ) δφ(~x′ )
δ δφ(~x)
Z Z
d
= d x 2∂i φ(~x) ′
∂i φ(~x) = 2 dd x ∂i φ(~x)∂i
δφ(~x ) δφ(~x′ )
Z
= 2 dd x ∂i φ(~x)∂i δ(~x − ~x′ ). (7.86)
Usando
∂i [∂i φ(~x)δ(~x − ~x′ )] = ∂i2 φ(~x)δ(~x − ~x′ ) + ∂i φ(~x)∂i δ(~x − ~x′ ), (7.87)
e desprezando o termo de superfície, obtemos:
δ
Z Z
d x ∂i φ(~x)∂i φ(~x) = −2 dd x ∂i2 φ(~x)δ(~x −~x′ ) = −2∂i2 φ(~x′ ). (7.88)
d
δφ(~x′ )
Finalmente,
δ
−2∂i2 φ(~x′ ) = −2∂i2 δ(~x − ~x′ ),
(7.89)
δφ(~x)
que leva ao resultado em (7.85). O mesmo resultado pode ser obtido diretamente
aplicando a expressão geral obtida em (7.80).
Usando agora a relação (7.82), que define a inversa de χ, obtemos:
(r + 12u hφ(~x)i2 − c∇2 ) χ(~x, ~x′ ) = δ(~x − ~x′ ), (7.90)
ou, usando (7.69):
(r + 12u hφ(~x)i2 − c∇2 ) G(~x, ~x′ ) = T δ(~x − ~x′ ). (7.91)
A solução geral destas equações é complicada pela dependência em hφ(~x)i2 .
Assumindo que o sistema apresenta invariância translacional é possível resolver
para χ(~x, ~x′ ) por transformanda de Fourier:
Z
χ(~q) = dd x χ(~x) e−i~q·~x (7.92)
onde 1/2
c
ζ(T ) = (7.94)
r + 12u hφi2
é o comprimento de correlação. Usando a solução da teoria de campo médio para
hφi se obtém:
(c/r)1/2
se T > Tc
ζ(T ) = 1/2 (7.95)
(c/(−2r)) se T < Tc
Então, vemos que próximo do ponto crítico ζ ∼ |T − Tc |−ν , onde ν = 1/2 é o
expoente crítico do comprimento de correlação. Em sistemas tridimensionais o
valor real de ν está em torno de 2/3.
A existência de um comprimento de correlação é um dos conceitos centrais na
física da matéria condensada. A própria idéia de condensado implica a existência
de uma região onde as partículas estão fortemente correlacionadas. A extensão
desta região depende de parâmetros externos, como a temperatura, ou pressão.
Uma das características do fenômeno de invariância de escala no ponto crítico é a
divergência do comprimento de correlação, ou seja, todo o sistema está fortemente
correlacionado em Tc .
A forma da susceptibilidade (7.93) foi obtida pela primeira vez por Ornstein
e Zernicke na análise do ponto crítico gás-líquido. A transformada inversa de
Fourier leva a função de correlação espacial de dois pontos:
dd q ei~q·~x
Z
χ(~x) = χ
(2π)d 1 + (qζ)2
(d−2)/2
χΩd q d−1 dq 1
Z
= J(d−2)/2 (qr) (7.96)
(2π)d 1 + (qζ)2 qr
onde Kµ (x) é uma função de Bessel modificada. Para x ≫ 1, Kµ (x) ≈ x−1/2 e−x .
Então, para distâncias grandes comparadas com o comprimento de correlção, a
função de correlação de dois pontos se comporta como:
e−r/ζ
G(r) = T χ(r) ∝ (7.98)
r (d−1)/2
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 95
Figura 7.7: A parte homogênea da energia livre de Landau para o modelo O(2).
χ−1 2
k = r + 12uhφi + c q
2
(7.106)
e
r + c q 2 se T > Tc ;
χ−1
⊥ (~
q) 2 2
= r + 4uhφi + c q = (7.107)
c q2 se T < Tc .
Notamos que a componente paralela tem o mesmo comportamento que no modelo
de Ising. No entanto, na direção perpendicular a susceptibilidade ou as correlações
G⊥ (~q) = T χ⊥ (~q) têm um comportamento com lei de potência:
T
G⊥ (~q) = . (7.108)
cq 2
No espaço real as correlações também decaem algebricamente:
Como a suscpetibilidade global é dada por χij = lim~q→0 βGij (~q), o resultado
anterior implica que o sistema possui susceptibilidade transversal infinita na fase
de baixa temperatura com simetria quebrada. Ou seja, é necessário um campo
externo arbitrariamente pequeno para mudar o valor (ou melhor, a direção) do pa-
râmetro de ordem. Isto pode ser interpretado fisicamente pela estrutura da energia
livre de Landau da figura 7.7. Da figura fica evidente que f possui um número
infinito de mínimos para T < Tc , e se pode passar continuamente de um mínimo
para outro. Ou seja, não custa energia ir de um mínimo qualquer a um outro qual-
quer. No entanto, na direção paralela a situação é diferente: existe uma penalidade
energética para mudar o módulo do parâmetro de ordem.
O comportamento da componente transversal da susceptibilidade (7.107) in-
dica que, em termos de modos no espaço de Fourier, a susceptibilidade aumenta
de forma ilimitada para modos de comprimento de onda grande e é infinita para
λ → ∞. Em outras palavras, a flutuação na energia de Landau f pode ser feita
arbitrariamente pequena para flutuações de comprimento de onda suficientemente
grandes. No caso do modelo O(2) da figura vemos que existe exatamente um
modo perpendicular à direção de ordenamento com excesso de energia livre arbi-
trariamente pequena. Em geral, em um modelo com simetria O(n) haverá um
modo deste tipo por cada direção transversal, ou seja um total de n − 1 mo-
dos transversais de baixa energia, chamados modos de Goldstone. Os modos de
Goldstone se manifestam matematicamente como polos em ~q = 0 na componente
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 98
onde o vetor unitário ~n, chamado diretor de Frank, define a direção do eixo prin-
cipal de hQ̂i, e S é um escalar que determina a intensidade do alinhamento das
moléculas.
Em um sistema de coordenadas onde o diretor global está alinhado com um
dos eixos, por exemplo o eixo x, o tensor tem a forma:
2
3
S 0 0
hQ̂i = 0 − 13 S + η 0 . (7.112)
1
0 0 −3S − η
onde se η 6= 0 o tensor é biaxial, havendo duas direções preferenciais em lugar
de uma. A situação mais comum é com apenas uma direção preferencial, em cujo
caso η = 0.
Comparando as expressões anteriores é possível ainda definir S como um pa-
râmetro de ordem escalar:
1 1
S = h3(~v α · ~n)2 − 1i = h(3 cos2 θα − 1)i, (7.113)
2 2
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 100
(3 cos2 θα − 1)
S = hP2 (cos θ)i = , (7.114)
2
Vamos agora construir uma energia livre de Landau para um cristal líquido
nemático. A energia livre na fase desordenada tem que ser invariante frente a
rotações arbitrárias. Q̂ se transforma como um tensor frente ao grupo de rotações.
As únicas combinações invariantes que podemos construir com o tensor são traços
de potências arbitrárias: T r hQ̂ip , p = 2, 3, . . .. O termo com p = 1 é o traço
de Q̂ que é zero por construção. Escrevendo uma expansão até quarta ordem no
tensor obtemos:
2
1 3 2 9 3 3 2
f = r T rhQ̂i − w T rhQ̂i + u T rhQ̂i ,
2 2 2 2
1 2
= r S − w S 3 + u S 4. (7.115)
2
De forma geral, deveria aparecer outro termo de quarta ordem, proporcional a
T rhQ̂i4 . No entanto, para tensores 3 × 3 de traço nulo, os dois termos quárticos
são proporcionais. Como nas análises anteriores, vamos considerar r como função
da temperatura:
r = a(T − T ∗ ), (7.116)
em tanto que u e w serão consideradas constantes positivas independentes da tem-
peratura.
Devido ao caráter tensorial do parâmetro de ordem a energia livre possui um
termo proporcional ao cubo do tensor. Este termo era proibido no modelo de
Ising, com parâmetro de ordem escalar, devido à simetria de reflexão, ausente no
caso do tensor simétrico e de traço nulo do cristal líquido nemático. Devido ao
termo cúbico a energia livre f apresenta uma asimetria respeito da origem, e um
segundo mínimo aparece a temperaturas altas, como mostra a figura 7.9.
O valor do mínimo correspondente ao estado de líquido isotrópico, onde S =
0, tem o valor f = 0 e não varia com a temperatura. O segundo mínimo, para
S > 0, aparece a uma temperatura T ∗∗ com um valor de f > 0, e por tanto aparece
como um estado metaestável. Diminuindo mais a temperatura, uma transição de
fase acontece em Tc onde o valor de f passa a ser negativo para a solução com
S > 0. A condição que determina os valores na transição, no ponto T = Tc e
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 101
As flutuações serão desprezíveis se h(δφζ )2 i for muito menor que hφi2 na fase
ordenada, ou seja, se
Z Z
−2 d d ′ ′ −1
Vζ d x d x hδφ(~x)δφ(~x )i = Vζ dd x G(~x) < hφi2 , (7.127)
Vζ Vζ
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 104
dd q ei~q·~x
Z
χ(~x) = χ
(2π)d 1 + (qζ)2
= c−1 |~x|−(d−2) Y (|~x|/ζ), (7.128)
onde
∞
dΩd eiz cos θ
Z Z
d−1
Y (η) = z dz (7.129)
0 (2π)d [z 2 + η 2 ]
Obtemos:
Z
2
h(δφζ ) i = T Vζ−1 c−1 dd x |~x|−(d−2) Y (|~x|/ζ)
Vζ
Z Z ζ
= T Vζ−1 c−1dΩd (dr r d−1 ) r −(d−2) Y (r/ζ)
0
Z Z 1
−1 −1 2
= T Vζ c ζ dΩd dz z Y (z)
0
Ad T ζ −(d−2) |r|
= < hφi2 = , (7.130)
c 4u
onde ζ = (c/|r|)1/2 é o comprimento de correlação e Ad é uma constante que
depende da dimensão d. Definindo um comprimento de correlação microscópico
ζ(T = 0) = ζ0 = (c/aTc )1/2 e o valor do salto no calor específico na transição
∆cV = Tc a2 /8u (ver equação (7.55)), podemos reescrever o resultado anterior de
forma adimensional:
d−4 (4−d)/2
ζ T − Tc Ad
= > . (7.131)
ζ0 Tc 2∆cV ζ0d
A relação anterior nos diz que para d > 4, como ζ d−4 → ∞ quando T → Tc , a
desigualdade anterior sempre é satisfeita próximo da transição. No entanto, para
d < 4, como ζ d−4 → 0 quando T → Tc , a desigualdade nunca é satisfeita perto de
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 105
ou
ζG ∼ ζ0 (∆cV ζ0d )1/(4−d) . (7.136)
A teoria de campo médio é válida quando t > tG ou ζ < ζG .
Notar que |TG − Tc | → 0 se ζ0 → ∞ para d < 4. Isto quer dizer que o
campo médio será válido até temperaturas muito próximas de Tc se o compri-
mento de correlação microscópico for grande, mesmo para d < ds . Este é o
caso em sistemas com interações de longo alcance ou em supercondutores, por
exemplo. Quando ζ0 , ou |TG − Tc | não é pequena, se espera que aconteça um
“crossover”, ou mudança de regime, de um comportamento de campo médio para
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 106
com campo médio, e satura para temperaturas baixas. O salto no calor especí-
fico em alumínio é da ordem de 2 × 104 erg mole−1 K. O parâmetro de rede em
Al é 4Å, e o comprimento de correlação microscópico é ζ0 ≈ 1.6 × 104 Å. En-
tão, ∆cV ≈ 2 × 105 /42 erg cm−3 K −1 , resultando uma temperatura de Ginzburg
tG ≈ 10−16 ! A temperatura crítica em Al é 1.19 K e por tanto é praticamente
impossível aceder à região crítica. Neste caso, o motivo para uma TG tão pequena
é o enorme valor do comprimento de correlação microscópico em relação à cons-
tante da rede. Este comportamento é observado na maioria dos supercondutores,
o que resultou no éxito da teoria BCS. Na década dos oitenta foram descobertos
novos compostos supercondutores, chamados supercondutores de alta tempera-
tura crítica, pois a supercondutividade é observada até temperaturas da ordem de
100 K. A teoria BCS se mostrou insatisfatória para descrever esta classe de su-
percondutores. Os mecanismos microscópicos por trás da supercondutividade de
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 108
O Grupo de Renormalização
109
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 110
calar é:
1
f (T, φ) = r φ2 + u φ4 − h φ (8.1)
2
de onde obtemos a equação de estado:
h = r φ + 4u φ3 (8.2)
Vimos que, para campo nulo, o sistema desenvolve uma magnetização espontânea
para r < 0 dada por:
r 1/2
φ∗ = ± . (8.3)
4u
Assim, podemos reescrever a equação de estado na forma:
3
∗ φ ∗ 3 φ
h = rφ ∗
+ 4u(φ )
φ φ∗
" 3 #
∗ φ 4u ∗ 2 φ
= rφ + (φ )
φ∗ r φ∗
" 3 #
r 3/2 (4u)1/2 φ (4u)1/2 φ
= + (8.4)
(4u)1/2 r 1/2 r 1/2
Notar que o fator entre colchetes é adimensional e, portanto, o prefator deve ter
unidades de campo magnético. Desta forma conseguimos reescrever a equação de
estado em termos de variáveis adimensionais. Isto é muito conveniente para ana-
lizar dados experimentais ou de simulações numéricas, pois todos os parâmetros
não universais são absorvidos na definição das variáveis adimensionais. Substi-
tuindo r = a(T − Tc ) = at, podemos reescrever então a solução para o parâmetro
de ordem na forma:
(4u)1/2
a 1/2
∗ 1/2 h
φ(t, h) = φ F (t, h) ≡ t F . (8.5)
4u a3/2 t3/2
A função F (x) é uma função universal no sentido que é a mesma função para
todos os sistemas na dada classe de universalidade (neste caso classe Ising).
Seguidamente, vamos mostrar que uma relação semelhante é satisfeita pelo
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 111
a2 t2 (4u)1/2
h
f (t, h) = G , (8.7)
8u a3/2 t3/2
onde G(x) é outra função universal. Analisando a forma das expressões (8.5) e
(8.7) notamos que em lugar de obter relações entre três variáveis, φ, t e h, ou f , t
e h, no primeiro caso as variáveis relevantes são as combinações φ/t1/2 e h/t3/2 ,
e no segundo caso f /t2 e h/t3/2 , ou seja, em cada relação temos apenas duas
variáveis independentes.
A hipótese de escala consiste em assumir que o potencial termodinâmico é,
de forma geral, uma função homogênea generalizada da forma:
e
∂2f
χ(t, h) = − 2
≃ −AB 2 t2−α−2∆ G′′ (B h/t∆ ). (8.10)
∂h t
Tomando o limite h → 0 obtemos, para t < 0, a magnetização espontânea:
φ(t, 0) ≃ C |t|β , (8.11)
onde C = −ABG′< (0) e β = 2 − α − ∆. A susceptibilidade linear é dada por:
χ(t, 0) ≃ D<> |t|−γ , (8.12)
onde D<> = −AB 2 G′′<> (0) e γ = α + 2∆ − 2. Combinando os resultados
anteriores para os expoentes β e γ:
∆ = β + γ = 2 − α − β, (8.13)
de forma que
α + 2β + γ = 2. (8.14)
Esta relação entre expoentes críticos é um exemplo das chamadas relações de es-
cala e tem sido verificada experimentalmente em um grande número de sistemas.
Podemos notar que os expoentes críticos de campo médio, α = 0, β = 1/2 e
γ = 1 obedecem a relação de escala anterior.
A partir de (8.9) se pode mostrar que, ao longo da isoterma crítica t = 0, a
magnetização escala com o campo externo na forma:
φ(0, h) ≃ hβ/∆ , (8.15)
de onde obtemos uma relação para o expoente δ = ∆/β. Eliminando ∆ com as
relações obtidas anteriormente obtemos duas novas relações de escala:
α + β(δ + 1) = 2, (8.16)
e
γ = β(δ − 1). (8.17)
Combinando estas últimas obtemos:
γ = (2 − α)(δ − 1)/(δ + 1) (8.18)
O calor específico a campo nulo é dado por:
∂ 2 f
ch (t, 0) = − 2 ≃ −(2 − α)(1 − α)A |t|−αG<> (0), (8.19)
∂t h=0
onde verificamos o comportamento crítico com o expoente α.
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 113
onde Kµ (x) é uma função de Bessel modificada. Para x ≫ 1, Kµ (x) ≈ x−1/2 e−x .
Então, para distâncias grandes comparadas com o comprimento de correlção, a
função de correlação de dois pontos se comporta como:
e−r/ζ
G(r) = T χ(r) ∝ (8.21)
r (d−1)/2
Já próximo do ponto crítico, x ≪ 1 e Kµ (x) ≈ x−µ para µ > 0. Da (7.97)
obtemos que:
1
G(r) ∝ d−2 (r ≪ ξ; d > 2) (8.22)
r
Em d = 2 se obtém G(r) ∝ ln (ξ/r). Como é conhecido o resultado exato para
o modelo de Ising em duas dimensões, G(r) ∝ r −1/4 , se propõe uma relação de
escala para as correlações na região crítica que possa incluir todas as dimensões
em uma forma só:
γ = (2 − η)ν. (8.27)
Finalmente, notamos que das relações obtidas até agora não podemos concluir
que exista uma dependência explícita dos expoentes críticos com a dimensionali-
dade do sistema, embora sabemos que, de fato, eles dependem da dimensão. Va-
mos obter uma relação entre expoentes críticos e dimensão do espaço introduzindo
um argumento qualitativo novo, que não está implícito na hipótese de escala. O
argumento consiste em considerar que a medida que nos aproximamos do ponto
crítico por temperaturas acima de Tc , o comprimento de correlação ξ(t) cresce,
de onde podemos definir “domínios” correlacionados no sistema. O volume tí-
pico de um domínio é então Ω ∼ ξ d , e diverge no ponto crítico, quando t → 0.
Simultaneamente, da hipótese de escala sabemos, por (8.8), que a parte singular
do potencial termodinâmico va a zero no ponto crítico na forma f (t) ∼ t2−α .
Como f (t) é uma densidade, é razoável supor que quando t → 0 f se anula em
proporção ao crescimento do volume Ω:
dν = 2 − α (8.29)
dν = 2 − α = 2β + γ (8.30)
= β(δ + 1) (8.31)
= γ(δ + 1)/(δ − 1). (8.32)
partir dos valores σi dos spins do bloco original, de forma a preservar os valores
originais das variáveis, ou seja σi′ = ±1 se for o modelo de Ising. Após um passo
da transformação obtemos uma nova rede com um novo parâmetro de rede a′ = la
e um número
N
N′ = d (8.35)
l
de novos spins σi′ . Para manter as densidades espaciais iguais entre o sistema
original e o transformado, todas as distâncias devem ser rescaladas por um fator
l de forma que dois spins a uma distância ~r no sistema original, estarão a uma
distância
~r′ = l−1 ~r (8.36)
no sistema transformado (ver figura 8.1).
Outra forma de implementar a transformación de escala consiste em fazer um
traço parcial na função de partição do sistema:
X
Z(T, N) = exp [−βHN {σi }], (8.37)
{σi }
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 117
Se esta operação pode ser realizada com sucesso (nem sempre é possível) então
esperamos que, perto do ponto crítico, o novo sistema seja equivalente ao original,
em especial quando N, N ′ → ∞. Este processo de somar em um subconjunto dos
graus de liberdade originais se conhece como “dizimação”, e foi a base do método
proposto por K. G. Wilson para√implementar o Grupo de Renormalização. Um
exemplo de dizimação com l = 2 e d = 2 é mostrado na figura 8.2.
√
Figura 8.2: Uma transformação de escala via dizimação com l = 2 e d = 2.
A rede original (a) possui N = 36 sítios, a transformada (b) N ′ = 18. A última
deve ainda ser rescalada e girada em π/4 de forma que o resultado final será muito
parecido com a rede original no limite quando N, N ′ → ∞.
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 118
t′ = lyt t, (8.41)
h′ = lyh h, (8.42)
Além disso, para que a energia livre seja invariante por câmbio de escala se deve
verificar que:
f (t′ , h′ ) = |t′ |d/yt f˜(h′ /|t′ |∆ ), (8.47)
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 119
β = 2 − α − ∆ = (d − yh )/yt , (8.50)
γ = −(2 − α − 2∆) = (2yh − d)/yt , (8.51)
∆
δ = = yh /(d − yh ). (8.52)
β
Considerando a transformação do comprimento de correlação ζ ′ = l−1 ζ e o fato
que ζ ∝ |t|−ν , obtemos:
′ ′ −ν
ζ t
= = l−νyt , (8.53)
ζ t
o que leva ao resultado
1
ν= , (8.54)
yt
que comparado com (8.49) resulta em:
dν = 2 − α. (8.55)
Vemos aqui que, além de obter as relações de escala entre os expoentes críticos
que podiam ser obtidas com a hipótese de escala, a invariância de escala nos per-
mite também obter naturalmente relações de hiperescala, o que não era possível
obter apenas com a hipótese de escala.
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 120
η = d + 2 − 2yh . (8.58)
Figura 8.3: A cadeia de Ising com condições de contorno periódicas, pronta para
ser “dizimada” nos sítios pares.
X N/2
Y K2 ′ ′
e2K0 2 cosh K1 (σj′ + σj+1
′
) + K2 e 2 (σj +σj+1 ) .
Z(T, B) = (8.62)
{σj′ } j=1
Como N ′ = N/2, as energias livres por spin nos dois sistemas estão relacionadas
por:
1 1
f (K1 , K2 ) = − K0′ + f (K1′ , K2′ ). (8.73)
2 2
Agora, por exemplo, se considerarmos o limite T → ∞ tanto K1 , K2 quanto
K1′ , K2′ vão para zero, e então:
Como o ponto fixo físico neste modelo acontece para K1 = ∞ é útil definir
novas variáveis:
para poder analizar o fluxo na vizinhança do ponto fixo. Em termos das variáveis
u, v a equações (8.75) e (8.76) adotam a forma:
u(1 + v)2
u′ = , (8.80)
u(1 + v 2 ) + v(1 + u2 )
u+v
v′ = v . (8.81)
1 + uv
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 124
u′ ≈ 4u = 22 u. (8.83)
yt = 2. (8.84)
onde a soma indicada por hi, ji corresponde a todos os pares de vizinhos próximos
em uma rede quadrada. A rede quadrada pode ser dividida em duas subredes inter-
penetrantes, de forma que podemos tentar reproduzir o processo de dizimação que
aplicamos à cadeia de Ising para o sistema em d = 2. Na figura 8.5 vemos como
√ no entorno de um spin particular σ5 onde se escolheu um
implementar o processo
fator de escala l = 2.
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 125
Desta forma podemos somar todos os spins de uma subrede de forma a ficar com
a metade dos spins originais. No final, obteremos uma expressão para Z com
muitos termos da forma anterior, e o problema agora consiste em encontrar uma
forma equivalente à função de partição original para quaisquer valores dos spins
σ2 , σ4 , . . . = ±1. Com um pouco de análise é possível mostrar que não é possível
obter uma equivalência completa entre as expressões original e dizimada em ter-
mos apenas de interações entre vizinhos próximos. No entanto, se acrescentarmos
interações entre segundos vizinhos e entre grupos de quatros spins poderemos
acomodar todas as possíveis combinações dos spins restantes. Isto equivale a es-
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 126
crever:
1
2 cosh [K(σ2 + σ4 + σ6 + σ8 )] = exp K0′ + K ′ (σ2 σ4 + σ2 σ6 + σ4 σ8 + σ6 σ8 )
2
+L (σ2 σ8 + σ4 σ6 ) + M ′ σ2 σ4 σ6 σ8 ]
′
(8.87)
Analizando todas as possíveis combinações dos quatros spins envolvidos nos ter-
mos acima obtemos:
1 1
K0′ = ln 2 + ln cosh 2K + ln cosh 4K, (8.88)
2 8
1
K′ = ln cosh 4K, (8.89)
4
1
L′ = ln cosh 4K, (8.90)
8
1 1
M′ = ln cosh 4K − ln cosh 2K. (8.91)
8 2
Assim, após a primeira iteração a função de partição pode ser escrita na forma
′ ′
X X X X
Z(T ′ , N ′ ) = eN K0 exp {K ′ σi′ σj′ + L′ σi′ σj′ + M ′ σi′ σj′ σl′ σm
′
}.
{σj′ } 1viz 2viz quad
(8.92)
com N ′ = N/2.
Neste ponto, resulta razoável redefinir o sistema original em termos de outro
com interações entre segundos vizinhos e entre grupos de quatro spins, com uma
função de partição da forma (8.92) com L = M = 0, tal que:
′K′
Z(N, K, 0, 0) = eN Z(N ′ , K ′ , L′ , M ′ ), (8.93)
Rl (K∗ ) = K∗ . (8.102)
Podemos notar que as equações (8.96) implicam que ζ(K∗) = l−1 ζ(K∗) e, como
consequência, no ponto fixo ζ(K∗) somente pode ser zero ou infinito ! Este é
um resultado importante, pois sabemos que um comprimento de correlação nulo
corresponde a um sistema de partículas independentes, o que corresponde ao li-
mite de temperatura infinita de um sistema com interações. O outro caso é mais
interessante, pois um comprimento de correlação infinito surge, como vimos, no
ponto crítico.
Analizemos as consequências de um ponto fixo K∗ com ζ(K∗) = ∞. É de
se esperar que alguns pontos genéricos K acaben fluindo, após uma sequência de
transformações do tipo (8.100), para um ponto fixo K∗ . Na sequência de trans-
formações, o comprimento de correlação só pode diminuir como consequência da
(8.101). Mas como no ponto fixo ζ(K∗) = ∞, então deve ser infinita também no
ponto K, assim como em todos os pontos intermediários do fluxo de renormali-
zação. Então, de forma genérica, irá existir no espaço vetorial K uma superfície,
chamada superfície crítica, formada por pontos que irão fluir para um ponto fixo
após uma sequência de transformações do grupo de renormalização, como ilus-
trado na figura 8.6. O ponto fixo K∗ pode ter componentes que não correspondem
as interações originais do sistema, e por tanto, não necessariamente correspon-
derá ao ponto crítico Kc . O ponto crítico pode ser identificado como um ponto
na superfície crítica que possua exatamente o conjunto de parâmetros do sistema
original. Como o comprimento de correlação de todos os pontos sobre a superfí-
cie crítica é infinito, então o ponto Kc terá todas a propriedades do ponto crítico
físico. No entanto, as propriedades críticas do sistema são determinadas pelo
comportamento do fluxo de renormalização na vizinhança do ponto fixo K∗ .
Vamos então proceder a uma análise do padrão de fluxo na vizinhança do
ponto fixo, escrevendo:
K = K∗ + k, (8.103)
de forma que
K′ = K∗ + k′ = Rl (K∗ + k), (8.104)
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 129
e por tanto:
k′ = Rl (K∗ + k) − K∗ . (8.105)
Supondo que {kα } e {kα′ } sejam pequenas, podemos linearizar a relação anterior
e obtemos:
k′ = A∗l k, (8.106)
onde A∗l é uma matriz que surge ao linearizar o operador de renormalização Rl no
entorno do ponto fixo K∗ . Sejam λi e φi os autovalores e autovetores do operador
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 130
u′i = λi ui , i = 1, 2, . . . (8.108)
e
f (u1, u2 , . . .) = l−nd f (λn1 u1 , λn2 u2 , . . .). (8.112)
Identificando u1 com t e lembrando a definição do expoente ν obtemos:
u−ν n n −ν
1 = l (λ1 u1 ) , (8.113)
Pela mesma argumentação usada na seção 8.2.1, podemos concluir que f deverá
ter a forma:
f (t, h, . . .) = |t|dν f˜(h/|t|∆ , . . .), (8.119)
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 132
onde
y2
∆= . (8.120)
y1
Da definição do expoente crítico α obtemos:
d
2 − α = dν = , (8.121)
y1
e os outros expoentes podem ser facilmente determinados com as relações de es-
cala:
β = (2 − α) − ∆, (8.122)
γ = 2∆ − (2 − α), (8.123)
δ = ∆/β, (8.124)
η = 2 − (γ/ν). (8.125)
com autovalores:
√ √
λ1 = (2 + 10)/3, λ2 = (2 − 10)/3, (8.134)
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 134
e correspondentes autovetores:
√ √
2 + 10 2− 10
φ1 ∝ , φ2 ∝ . (8.135)
2 2
Os campos de escala são dados por:
√ √
u1 ∝ [2k1 + ( 10 − 2)k2 ], u2 ∝ [2k1 − ( 10 + 2)k2 ]. (8.136)
crítica é dada pela condição u1 = 0, o que resulta (na vizinhança do ponto fixo)
no segmento de reta mostrado na figura 8.7. Para determinar o ponto crítico fí-
sico, devemos fazer L = 0, pois essa interação não existe no sistema original. Por
Daniel A. Stariolo - IF-UFRGS - 2013 135
tanto o ponto crítico Kc deverá estar na interseção entre a curva crítica e o eixo
K. Uma aproximação simples para obter o valor de Kc é extender o segmento
de reta (válido apenas na vizinhança do ponto fixo) até o cruzamento com o eixo
horizontal. Obtemos:
Kc ≈ 0.3979, (8.137)
que deve ser comparado com o valor exato KcOnsager = 0.4407 (valor da apro-
ximação de campo médio Kc = número de coordenação = 4). Podemos obter
também o valor do expoente ν:
√
ln l ln 2
ν= = √ = 0.6385, (8.138)
ln λ1 ln [(2 + 10)/3]
136